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DOENÇAS PERIODONTAIS
São infecções iniciadas pelos micro-organismos que habitam o biofilme e sua severidade varia conforme a resposta
imunológica do hospedeiro ao desafio microbiano;
São diferentes doenças do periodonto, cada uma com padrões clínicos, microbiológicos, patológicos, bioquímicos e
imunológicos próprios.
Definição – Complexas e distintas entidades patológicas, causadas pela interação do biofilme dentário com o hospedeiro.
Essa interação pode resultar em destruição do osso alveolar de suporte e do tecido conjuntivo;
A periodontite, doença inflamatória associada com o biofilme, é atualmente a principal causa de perda de dentes no
mundo;
Incluem gengiva, inserção gengival, ligamento periodontal, cemento radicular e osso alveolar de suporte gengivite,
periodontite, infecções bacterianas crônicas.
ADESINAS
Localizadas nas superfícies externas dos micro-organismos, podem estar presentes nas fimbrias e proteínas associadas as
células bacterianas.
As adesinas encontram receptores específicos nas células do hospedeiro ou na superfície dentária.
Dentre os constituintes teciduais, podem atuar como receptores: resíduos galactosil, resíduos de ácido siálico, proteínas
ricas em prolina, estaterina, colágeno tipos I e IV, laminina e fibronectina.
A adesão às superfícies sólidas pelos micro-organismos representa o primeiro passo na formação do biofilme dentário.
COAGREGAÇÃO
Caracteriza-se pela aderência entre células bacterianas em culturas mistas (biofilmes) e ocorre pela união entre receptores
e adesinas existentes entre as bactérias.
Essa associação é altamente específica e ocorre de acordo com as diferentes espécies presentes no biofilme.
Cada espécie e cepa exibem diferentes graus de coagregação com a mesma espécie ou com outras espécies/cepas.
MULTIPLICAÇÃO
Após coagregação, ocorre adaptação da espécie microbiana ao ambiente do sulco gengival, o qual representa um nicho
ideal para crescimento de grande quantidade de micro-organismos.
Diversos fatores essenciais para a fisiologia dos micro-organismos são encontrados no periodonto, possibilitando a
reprodução do mesmo.
INVASÃO TECIDUAL
A invasão tecidual de micro-organismos nos tecidos periodontais ocorre em casos de gengivite necrosante aguda (GNA),
periodontite juvenil e periodontite crônica do adulto.
Fusobactérias e espiroquetas foram os primeiros micro-organismos identificados no interior do tecido periodontal com
doença, por meio de microscopia eletrônica de transmissão.
Outras bactérias também apresentam potencial de invasão, como:
o Porphyromonas gengivalis;
o Prevotella intermedia;
o Aggregatibacter actinomycetemcomitans;
o Actimomyces naeslundii.
Os micro-organismos podem invadir os tecidos periodontais através do epitélio da bolsa ou outros epitélios gengivais, bem
como através dos espaços intercelulares alargados ou pela penetração nas células.
Essa invasão bacteriana contribui para a destruição do tecido epitelial, conjuntivo e crista óssea alveolar.
RESPOSTA INFLAMATÓRIA
Representada por alterações vasculares e celulares em resposta aos micro-organismos e/ou seus produtos presentes no
sulco gengival.
As alterações da microcirculação, principalmente aumento de permeabilidade vascular, são devidas a liberação de
histamina, cininas, componentes do complemento, prostaglandinas, fatos de avaliação de plaquetas (PAF) e interferon-
gama.
O aumento da permeabilidade vascular resulta em aumento do fluxo de fluido gengival (sinal clínico mais precoce de
alteração inflamatória dos tecidos periodontais).
O fluido gengival favorece o acúmulo e o crescimento de bastonetes Gram-negativos e espiroquetas, dependentes de
fatores séricos essenciais, como hemina e aminoacidos.
Em resposta a estímulos bioquímicos específicos, derivados de bactérias e seus produtos (antígenos), células inflamatórias
migram para os tecidos do periodonto, como leucócitos polimorfo nucleares (principalmente neutrófilos), macrófagos,
linfócitos e mastócitos.
ATIVAÇÃO DO COMPLEMENTO
Todos os componentes do complemento são encontrados nos tecidos periodontais.
O complemento pode ser ativado no sulco gengival tanto pela via clássica quanto pela alternativa (ativado pelo LPS que
penetra no epitélio intacto do sulco gengival).
Entre os efeitos da ativação do complemento podemos citar:
a) lise bacteriana e celular;
b) liberação de fatores quimiotáticos para neutrófilos e macrófagos (C3a, C5a);
c) liberação de fatores inflamatórios (C3a, C5a);
d) opsonização.
PRODUÇÃO DE ANTICORPOS
Nos tecidos gengivais foram detectados anticorpos das classes lgG, lgA, lgM e lgE, sendo mais abundante no fluido sulcular
de indivíduos com doença periodontal.
GENGIVA SADIA
Cocos e bacilos sem mobilidade representam cerca de 95% da microbiota da gengiva sadia, sendo 15 a 20% anaeróbios e
aproximadamente 85% facultativos.
Os principais micro-organismos relacionados com gengiva sadia estão representados por:
o Actinomyces (A. naeslundii, A. odontolyticus e A. meyeri);
o Streptococcus (S. sanguis, S. mitis e S. oralis);
o Veillonella (V. parvulla);
o Rothia (R. dentocariosa).
COMPLEXO VERMELHO: Constituído por Porphyromonas gingivalis, Tannerella forshytia e Treponema denticola,
consideradas como agentes etiológicos da periodontite crônica.
DOENÇAS GENGIVAIS
São representadas por uma família de complexas e distintas entidades patológicas encontradas na gengiva, resultantes de
variadas etiologia.
Características comuns para todas as doenças gengivais:
o Sinais clínicos de inflamação;
o Sinais e sintomas confinados a gengiva;
o Reversibilidade da doença quando da remoção dos fatores etiológicos;
o Presença de biofilme dentário como iniciador ou exacerbador da severidade da doença.
A gengivite está associada com mudança na microbiota Gram-positiva, predominantemente de estreptococos, para uma
microbiota mais complexa incluindo bactérias anaeróbias Gram-negativas e formas espiraladas.
A gengivite inicia-se com a substituição de Streptococcus para a predominância de:
o Actinomyces;
o Prevotela intermedia;
o Porphyromonas gengivalis;
o Tannerella forsythia (Bacteroides forshytus);
o E espécies de Fusobacterium aumentam em número.
Com o tempo, a microbiota torna-se mais diversa, predominando anaeróbios em mais de 50% das bactérias isoladas. *
Moore et al. (1987) enfatizaram o conceito de que a gengivite é decorrência de colonização sequencial de diferentes
espécies de micro-organismos, muito mais que um simples aumento de biofilme dentário.
PERIODONTITES
As periodontites caracterizam-se por perda de inserção conjuntiva e reabsorção óssea com formação de bolsa periodontal.
A microbiota da periodontite é predominantemente Gram-negativa, anaeróbia (&0% dos cultiváveis) e com mobilidade.
Como a maioria das espécies que estão relacionadas à periodontite podem ser isoladas de biofilme dentário de indivíduos com
saúde periodontal, a periodontite é considerada uma infecção oportunista.
A proporção de micro-organismos Gram-negativos e anaeróbios se eleva significantemente com o aumento da severidade
da doença periodontal.
ABCESSO PERIODONTAL
Caracteriza-se por uma infecção purulenta localizada nos tecidos periodontais, geralmente ocorrendo como progressão de
periodontite moderada ou avançada (Meng, 1999).
Os micro-organismos que colonizam primariamente o abscesso periodontal são bacilos Gram-negativos anaeróbios.
Streptococcus spp. dos grupos mutans, salivarius, mitis e anginosus são os micro-organismos mais frequentemente
isolados, principalmente quando cultivados em aerobiose.
São isolados frequentemente, apesar de não obrigatoriamente, Phorphyromonas gingivalis, Prevotella intermedia,
Fusobacterium nucleatum, Campylobacter rectus e Capnocytophaga ssp.
A microbiota encontrada em abscessos periodontais é similar à encontrada em bolsa periodontais profundas.
ANAFILAXIA LOCAL: O mecanismo da anafilaxia (hipersensibilidade tipo II) pode ser dividido em:
Sensibilização: Nesta fase ocorre produção de anticorpos (IgE) antígeno-específicos em resposta à primeira exposição ao
antígeno. Os antígenos são englobados pelas células apresentadoras de antígeno, processados e apresentados aos
linfócitos T, que liberam citocinas favorecendo a proliferação de linfócitos B e a produção de anticorpos IgE antígeno-
específicos.
Latência: Durante o período de latência (2-3 semanas), ocorre ligação dos anticorpos (IgE) aos receptores específicos
(FcεRI) na superfície de mastócitos e basófilos.
Reintrodução do antígeno e ativação das células: Quando houver a reintrodução do alérgeno (segundo contato) e
interação com os anticorpos (IgE) ligados às células, ocorrerá a ativação das células e a liberação dos mediadores químicos.
Todas as respostas mediadas por anticorpos IgE envolvem a liberação de mediadores dos mastócitos (tecidos) e basófilos
(circulação sanguínea), entretanto, as manifestações clínicas podem ser diferentes, dependendo da dose do antígeno
(alérgeno) e da sua via de entrada (inalação, ingestão ou injeção).
Liberação dos mediadores químicos: Os mediadores químicos podem atuar na célula endotelial causando vasodilatação,
aumento da permeabilidade vascular e edema, podem atuar na musculatura lisa e, ainda, podem recrutar leucócitos,
principalmente eosinófilos, após poucas horas, que refletirá a fase tardia da anafilaxia.
REAÇÕES CITOTÓXICAS (HIPERSENSIBILIDADE TIPO II): Ocorrem quando anticorpos IgG ou IgM reagem com componentes
antigênicos de uma célula ou antígenos ligados a uma célula ou um tecido. O dano celular pode ocorrer por dois mecanismos:
a) ativação do sistema complemento pela via clássica levando à lise celular e também à geração de fatores quimiotáticos (C5a),
anafilatoxinas (C3a e C5a) e opsoninas (C3b) com efeitos pró-inflamatórios;
b) ligação e ativação de células efetoras, que possuem receptores para a porção Fc dos anticorpos (IgM ou IgG), como é o caso das
células NK, que reagem com os anticorpos ligados à célula-alvo para produzir citólise, e dos macrófagos e neutrófilos, que possuem
também receptores para C3b, potencializando a fagocitose das células-alvo.
Envolvem, portanto, a combinação de lgG ou lgM com determinantes antigênicos sobre a membrana de células do periodonto,
podendo, nessas situações ocorrer:
a) lise ou inativação celular pela ativação do complemento nos tecidos periodontais;
b) fagocitose da célula-alvo com ou sem ativação do complemento;
c) citotoxicidade mediata por células T citotóxicas ou células NK.
Os antígenos celulares podem ser representados por componentes naturais das células (p. ex., polissacarídeos) ou por antígenos
que se incorporam à superfície celular. Esses antígenos associados à célula incluem aqueles derivados de bactérias, drogas ou
componentes teciduais alterados.
REAÇÕES DEPENDENTES DE COMPLEXOS ANTÍGENO-ANTICORPO: Acontecem em decorrência da deposição de imunocomplexos
Ag-Ac nas paredes dos vasos do periodonto, ocorrendo a fixação do complemento (hipersensibilidade tipo III).
Os imunocomplexos são formados pela ligação do anticorpo a um antígeno e, em geral, são removidos pelo sistema
fagocitário mononuclear, entretanto, eventualmente, podem causar danos aos tecidos ou órgãos quando há depósito de
imunocomplexos em determinados sítios teciduais (formação de agregados com o antígeno solúvel).
Esses imunocomplexos tendem a se depositar nas paredes dos vasos sanguíneos ou na membrana basal dos tecidos, onde
podem ativar o sistema complemento ou os leucócitos, pela ligação aos receptores Fc presentes nessas células, e causar
lesão tecidual.
Reação de hipersensibilidade do tipo III: É o dano mediado pelo sistema complemento ou pelos leucócitos.
O imunocomplexo formado promove a ativação do sistema complemento gerando anafilatoxinas (C3a e C5a), que
estimulam a liberação de histamina dos mastócitos e basófilos, e o C5a, que é quimiotático para basófilos, eosinófilos e
neutrófilos. O complexo pode também ligar-se a plaquetas através da porção Fc do anticorpo e causar agregação
plaquetária com formação de microtombos e liberação de aminas vasoativas.
Esses mediadores químicos promovem aumento da permeabilidade vascular, edema (formação de exsudato) e estimulam a
migração de leucócitos para o local de deposição do complexo imune.
Os leucócitos (fagócitos) ligam-se ao complexo por meio de seus receptores para Fc do anticorpo e para C3b.
A lesão dos tecidos ocorre devido à liberação de enzimas lisossomais e radicais oxigenados pelos fagócitos durante uma
tentativa fracassada de fagocitar o imunocomplexo, que geralmente está depositado sobre superfícies teciduais.
IMUNIDADE CELULAR
As reações de hipersensibilidade celular (tipo IV), também chamada de hipersensibilidade tardia, desenvolvem-se após 12
horas, podendo durar dias, e são mediadas por linfócitos T especificamente sensibilizados, ao contrário das reações
imediatas (tipos I, II, III), que são mediadas por anticorpos.
A hipersensibilidade tardia se diferencia da imediata por:
a) evolução lenta;
b) pelo acúmulo progressivo de linfócitos T e macrófagos no local da reação (não ocorre liberação de histamina nem afluxo de
polimorfonucleares);
c) só pode ser transferida mediante a injeção de células linfoides de um doador sensibilizado e não pelo soro.
Os linfócitos T são sensibilizados em um primeiro encontro com o antígeno e quando esse antígeno é introduzido no
organismo pela segunda vez, ele é internalizado por uma célula apresentadora de antígeno, onde será processado e
expresso na superfície celular.
Esse antígeno é reconhecido pelos linfócitos Th1 antígeno-específicos, que liberam quimiocinas e citocinas como IFN-γ, que
recrutam macrófagos para o local de deposição do antígeno, e TNF-α e TNF-β, que destroem os tecidos.
Os macrófagos ativados liberam seus mediadores, enzimas lisossômicas e radicais oxigenados, que contribuem para o dano
tecidual.
As reações de hipersensibilidade celular podem envolver também as células T CD8, que reconhecem peptídeos processados
dentro do citosol da célula e causam danos aos tecidos matando as células ou secretando citocinas (INF-γ).
Linfócitos T são encontrados em maior número no periodonto com doença. Na lesão periodontal os linfócitos T estão relacionados
com a destruição de fibroblastos (citotoxicidade medida por células).
Dentre as inúmeras linfocinas produzidas são importantes na patogenia da doença periodontal:
a) interleucinas: IL-1, lL-2, lL-3, lL-6;
b) interferon- alfa (lNF-α);
c) fator de ativação de macrófagos (MAF);
d) fator de inibição de macrófagos (MIF);
e) linfotoxinas.
AUTOIMUNIDADE
Em certas situações a harmonia da autotolerância é quebrada ocorrendo autoimunidade, que pode levar ao
desenvolvimento das doenças autoimunes.
Possíveis mecanismos para explicar a falha na autotolerância são:
o Liberação de antígenos sequestrados: Alguns antígenos próprios não entram em contato com o sistema imune
por estarem anatomicamente isolados ou ocultos dentro de uma proteína. Um contato ocasional poderia levar a
uma resposta imune contra tais antígenos.
o Falhas nos mecanismos de tolerância: Qualquer anormalidade no sistema imune poderia permitir o surgimento
de linfócitos autorreativos responsivos.
o Alteração estrutural de autoantígenos: Os autoantígenos podem sofrer alterações por métodos físicos, químicos
ou biológicos e não serem mais ignorados pelo sistema imune.
o Ativação policlonal: Alguns micro-organismos são capazes de estimular muitos clones de células B ou T e dessa
forma alguns clones autorreativos poderiam ser estimulados.
o Antígenos de reatividade cruzada: Alguns micro-organismos apresentam antígenos e sequências de aminoácidos
que são muito semelhantes às do hospedeiro e isto poderia estimular células autorreativas.
Evidências de autoimunidade nas doenças periodontais incluem:
a) produção de autoanticorpos direcionados aos colágenos tipos I e III;
b) autoanticorpos contra fragmentos de IgG e fragmentos de DNA;
c) linfotoxicidade direcionadas as células do epitélio bucal e fibroblastos gengivais;
d) linfotoxicidade frente a componentes da matriz extracelular (proteoglicanos e colágeno tipo I).