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PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1.PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EXPRESSOS


NO CAPUT DO ART. 37 DA CF/88 (referido artigo trata
especificamente da Administração Pública)

Princípios administrativos são os postulados fundamentais que


inspiram todo o modo de agir da Administração Pública. Assim,
podemos dizer que os princípios administrativos (ou princípios da
Administração Pública) são as diretrizes, as ideias centrais que
regem (informam) a atuação da Administração. Todo ato praticado
sem a observância de tais princípios é inválido, ilegal e poderá ser
anulado pela Administração Pública ou pelo Poder Judiciário.

Devemos observar que todos os princípios administrativos


aplicam-se não apenas ao Poder Executivo, mas, também, ao
Legislativo e ao Judiciário, bem como a todas as esferas de
Governo, quais sejam, federal, estadual, distrital e municipal, uma
vez que todos exercem atividades administrativas (função
administrativa).

1.1.Princípio da Legalidade
Ao particular é lícito fazer tudo, desde que a lei não proíba (é a
chamada “autonomia da vontade”). Porém, a Administração Pública
só pode fazer o que a lei determina ou autoriza, vez que a vontade
da Administração será aquela decorrente da lei.
Toda e qualquer atividade administrativa deve ser determinada
ou autorizada por lei. Não o sendo, a atividade é ilícita.
Referido princípio tem por origem mais próxima a instituição do
“Estado de Direito” (onde o Estado cria as regras e todos devem
obedecê-las, incluindo o próprio Estado). É uma proteção contra
atos abusivos, arbitrários, da Administração uma vez que ela não
faz o que quer, mas o que manda ou autoriza a lei.
Conforme leciona Maria Sylvia Zanella di Pietro,“...a
Administração Pública não pode, por simples ato administrativo,
conceder direitos de qualquer espécie, criar obrigações ou impor
vedações aos administrados; para tanto, ela depende de lei”.
Assim, quando vemos a Administração Pública impondo obrigações
ao particular através de um ato administrativo é porque ela está
embasada em alguma lei (elaborada no Poder Legislativo)
preexistente ao ato administrativo obrigacional.
Algumas provas citam certas “restrições” ao princípio da
legalidade, quais sejam:

a) Medidas Provisórias: são atos expedidos pelos chefes do


executivo e que têm a denominada “força de lei”, que só serão
obedecidos pela Administração se editados nos parâmetros
constitucionais da relevância e urgência. Tais medidas produzem,
ao ser editadas, pelo menos dois efeitos: o inovador da ordem
jurídica e o provocador do Congresso Nacional para que este
delibere acerca da medida.

b) Estado de Sítio e de Defesa: representam restrições ao


princípio da legalidade vez que são instituídos por Decreto
Presidencial (ao invés de ser pelo legislativo), e acabam por inovar
na ordem jurídica (como se fossem leis propriamente ditas).
Através das funções estatais básicas primeiramente criam-se as
leis administrativas para, posteriormente, serem executadas.
Assim, a execução da lei pressupõe, necessariamente, a existência
prévia dela. Portanto, só se concebe atividade administrativa diante
dos parâmetros instituídos previamente pela lei. Conclui-se, desta
forma, que só é legítima a atividade administrativa que estiver
condizente com a lei.
Cumprir friamente a lei, não significa simplesmente atendê-la.
Deve-se observar, também, o “espírito”, a “função social” da
mesma, de forma que ao legal deverá ajuntar-se o honesto, o justo
e o conveniente aos interesses sociais. Desse pensamento, surgiu a
teoria da moralidade administrativa.
A legalidade não se subsume apenas à observância da lei, mas
a todo o sistema jurídico. Conforme expressamente prevê o art. 2º,
parágrafo único, I, da Lei 9.784/99 (Lei que trata do processo
administrativo), “nos processos administrativos serão observados,
entre outros, os critérios de atuação conforme a lei e o direito.
Referido princípio não poderá ser afastado em hipótese alguma
(nem mesmo em se tratando de atos discricionários, conforme
veremos mais adiante).
Não se pode dizer que há um escalonamento hierárquico entre
os princípios. Desta forma, não se pode afirmar que o princípio da
legalidade é mais ou menos importante que os demais princípios
que serão abaixo estudados. Assim, não há um princípio superior e
outro inferior, sendo todos igualmente relevantes para a
Administração Pública. O que pode vir a acontecer é o fato de um
princípio incidir em grau maior do que os demais numa
determinada situação específica, mas sem que um deles venha a
anular os demais, uma vez que todos devem ser obrigatoriamente
observados.
Em toda atividade desenvolvida pelos agentes públicos, o
princípio da legalidade é o que precede todos os demais princípios.

1.2.Princípio da Impessoalidade
Impessoal é “o que não pertence a uma pessoa em especial”.
A finalidade de todo ato administrativo é o interesse público e não o
interesse pessoal ou de terceiros.
Como se aplica o princípio em relação aos administrados?
Deverá haver uma igualdade de tratamento pela Administração
em relação aos administrados que se encontrem em idêntica
situação jurídica (equidade). A Administração deverá tratar
igualmente os que se encontrem em uma mesma situação jurídica
e desigualmente os que se encontrem em situações jurídicas
desiguais. Vejamos um exemplo: numa prova de conhecimentos
teóricos para a Polícia Rodoviária Federal, homens e mulheres farão
o mesmo teste contendo idênticas questões (devem ser tratados
igualmente, pois estão em uma mesma situação jurídica). Porém,
no teste de aptidão física (TAF), os homens terão que correr mais
do que as mulheres, pois entre ambos existe uma desigualdade
física considerável.
Como se aplica o princípio em relação à própria Administração
Pública? A responsabilidade dos atos não deve ser imputada ao
agente público, e sim, à pessoa jurídica na qual ele exerce suas
atividades. Por esta razão, o §1º do art. 37 da CF proíbe que conste
o nome, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal
de autoridade ou servidores públicos em publicidade de atos,
programas, obras, serviços e campanhas. Assim, os atos
administrativos são imputáveis não aos agentes que os praticam,
mas às entidades administrativas em nome dos quais agem os
mesmos. Desta forma, se afirmamos que a presidenta Dilma
construiu a ponte e alguém perguntar “quem construiu a ponte?”
devemos responder sem medo de ser feliz: “foi a União (pessoa
jurídica)!” e não a pessoa física, o agente público, Dilma.
Para que haja impessoalidade, deve a Administração voltar-se
exclusivamente para o interesse público, ficando refletida a
aplicação do princípio da finalidade, segundo o qual o alvo da
Administração é somente o bem comum. Se assim não for,
cometer-se-á uma ilicitude denominada de desvio de finalidade.
As regras descritas no Código de Processo Civil e na Lei
9.784/99 relativas a situações de impedimentos e suspeições são
aplicadas aos agentes públicos como corolário do princípio da
impessoalidade.
Assim, podemos concluir que, pelo princípio da
impessoalidade, deverá o agente administrativo agir sempre em
conformidade com o interesse público e seus atos devem ser
imputados à pessoa jurídica na qual ela atua.

1.3.Princípio da Moralidade
Trata-se de uma moral jurídica, onde o agente deve distinguir
o Bem do Mal, o honesto do desonesto, o conveniente do
inconveniente, o justo do injusto, não desprezando o elemento
ético de sua conduta.
A moralidade administrativa constitui pressuposto de validade
de todo ato administrativo e atinge as relações entre a
Administração e o administrado e entre a Administração e seus
agentes públicos.
O ato administrativo obedecerá à lei jurídica e à lei ética da
instituição.
Acórdão do TJSP, RDA 89/134: “O controle jurisdicional se
restringe ao exame da legalidade do ato administrativo; mas por
legalidade ou legitimidade se entende não só a conformação do ato
com a lei, como também com a moral administrativa e com o
interesse coletivo”.
Em relação à conduta do agente para com a própria
instituição, a moral administrativa é imposta ao agente para sua
conduta interna, segundo as exigências da instituição a que serve e
segundo a finalidade de sua ação.
São meios constitucionais de controle da moralidade:
a) Ação Popular (utilizada para desconstituir atos lesivos à
moralidade, sendo subscrita por cidadão, independentemente de ter
havido ou não lesão patrimonial, em consonância com o art. 5º,
LXXIII, da CF/88);
b) Ação Civil Pública (art. 129, III, CF/88) e
c) Ação de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/92).
Segundo HLM, “tanto infringe a moralidade administrativa o
administrador que, para atuar, foi determinado por fins imorais ou
desonestos como aquele que desprezou a ordem institucional e,
embora movido por zelo profissional, invade a esfera reservada a
outras funções, ou procura obter mera vantagem para o patrimônio
confiado à sua guarda. Em ambos os casos, os seus atos são infiéis,
pois violam o equilíbrio que deve existir entre todas as funções, ou,
embora mantendo ou aumentando o patrimônio gerido, desviam-no
do fim institucional, que é o de concorrer para a criação do bem
comum.”

1.4.Princípio da Publicidade
Regra: os atos praticados pela Administração são públicos.
Exceções: quando referidos atos digam respeito à: a) segurança
da sociedade ou do Estado (segurança nacional), b) intimidade, c)
investigações policiais ou d) em casos de interesse superior da
Administração (em procedimento previamente declarado sigiloso).
Conforme assevera Maria Sylvia Z. di Pietro, “...pode ocorrer
que, em certas circunstâncias o interesse público esteja em conflito
com o direito à intimidade, hipótese em que aquele deve prevalecer
em detrimento deste, pela aplicação do princípio da supremacia do
interesse público sobre o individual.” Porém, é de se observar que,
dependendo do caso concreto, poderá o direito à intimidade
prevalecer sobre o princípio da publicidade.
Publicidade é a divulgação oficial de ato administrativo para
informação, conhecimento e controle da sociedade. Com a
publicidade iniciam-se os efeitos externos do ato. O princípio
abrange não só as divulgações oficiais dos atos administrativos,
mas também a possibilidade de conhecimento por qualquer pessoa
dos atos internos da Administração, como pareceres, despachos,
providências, processos, procedimentos administrativos, atas de
julgamentos das licitações etc.
É permitida a publicidade de atos, programas e obras somente
com objetivo educativo, informativo ou de orientação.
São importantes remédios (ações) Constitucionais que visam
assegurar o respeito ao princípio da publicidade: a) Habeas Data
(art. 5º, LXXII, CF/88) e b) Mandado de Segurança, art. 5º,
LXIX, CF/88.
A publicidade não é elemento formativo do ato, mas requisito
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de eficácia e moralidade do mesmo.
O princípio abrange os atos concluídos e os em formação. Ex:
algumas fases de certos procedimentos exigem publicidade, tais
como os editais de concursos públicos.
O princípio da publicidade pode ser reclamado
administrativamente através:
a) do Direito de Petição – art.5º, XXXIV, “a”, CF/88 (para
formular qualquer postulação aos Órgãos Públicos) e
b) Certidões – art. 5º, XXXIV, “b”, CF (podem ser requeridas por
qualquer pessoa; visam registrar a verdade dos fatos
administrativos e se prestam para a defesa de direitos ou
esclarecimento de situações).
Conforme assevera Hely Lopes Meirelles, “a publicação que
produz efeitos jurídicos é a do órgão oficial da Administração, e não
a divulgação pela imprensa particular, pela televisão ou pelo rádio,
ainda que em horário oficial. Por órgão oficial entendem-se não só
o Diário Oficial das entidades públicas como, também, os jornais
contratados para essas publicações oficiais. Vale ainda como
publicação oficial a afixação dos atos e leis municipais na sede da
Prefeitura ou da Câmara, onde não houver órgão oficial, em
conformidade com o disposto na Lei Orgânica do Município”.
A publicidade assegura a transparência da conduta
administrativa.

1.5.Princípio da Eficiência
Inserido pela Emenda Constitucional nº. 19/98, denominada
de “Reforma Administrativa do Estado”.
Significa que não basta agir apenas dentro do aspecto da
legalidade, mas também com presteza, perfeição e rendimento
funcional.
Mesmo sendo estável, o agente administrativo é
constantemente avaliado, podendo vir a perder o cargo se não for
aprovado.
Os contratos de gestão (mais adiante estudados), por
exemplo, se prestam a tornar a Administração mais eficiente.
Visa aperfeiçoar os serviços e as atividades prestados,
buscando otimizar os resultados e atender o interesse público com
maiores índices de adequação, eficácia e satisfação.
O princípio alcança os serviços prestados à coletividade
(externos) e os serviços prestados no âmbito da própria
Administração (internos), visando obter a qualidade total da
execução das atividades.
A EC 45/2004, ao dispor que no âmbito administrativo é
resguardado a todos o direito à razoável duração do processo e os
meios que garantam a celeridade de sua tramitação, já demonstra
a preocupação do legislador em garantir a observância do princípio
da eficiência.

2. PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NÃO


EXPRESSOS NO CAPUT DO ART. 37 DA CF/88

Atenção! Embora os princípios abaixo estudados não


estejam expressos no caput do artigo 37 da Constituição
Federal, poderão estar expressos em outras leis, como a
9.784/99 (que trata do processo administrativo na esfera
federal) e a 8.666/93 (que trata das licitações e contratos),
por exemplo. Outros princípios não estão expressos no
artigo 37, mas em outros artigos da própria Constituição,
tais como: contraditório e ampla defesa, devido processo
legal, economicidade, probidade etc.

2.1. Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos


A prestação dos serviços, mesmo descentralizada ou delegada,
deve ser obrigatória, contínua e sem interrupção.
Com base nesse princípio, há uma vedação ao particular
contratado, dentro de certos limites, de opor a exceptio non
adimpleti contractus, evitando paralisar obras e serviços, exceto
disposição legal expressa ou nos casos de aplicação das teorias da
imprevisão e do fato do príncipe. Este assunto será melhor
abordado quando no estudo da lei de licitações e contratos (lei
8.666/93).
O princípio é a regra, embora não tenha caráter absoluto, pois
é permitido paralisar temporariamente o serviço para reparos
técnicos ou diante de inadimplemento do usuário do serviço público
(após aviso prévio), ou em situações de emergência
(independentemente de aviso prévio), conforme dispõe a lei
8.987/95 (lei que trata das concessões e das permissões de
serviços públicos).
A EC 19/98 dispôs que o direito de greve será exercido nos
termos e nos limites definidos em lei específica (art. 37). Assim,
caberá à lei específica (que até o momento não foi editada) tratar
especificamente do tema, visando resguardar a continuidade dos
serviços públicos. Observe-se que a Lei Federal 7.783/89
regulamentou o direito de greve para os trabalhadores em geral (da
iniciativa privada), definindo como serviços essenciais praticamente
os serviços públicos comuns, declarando em seu art. 16 que
referida lei não se aplica aos servidores da Administração direta,
indireta e fundacional. Contudo, através do MI 708, de 25.10.2007,
o STF determinou a aplicação temporária ao setor público, no que
couber, da lei de greve retro citada até que o Congresso Nacional
edite a lei regulamentadora exigida no art. 37, VII, da Constituição
Federal;
Maiores detalhes deste princípio serão estudados no capítulo
dos “serviços públicos”.
2.2.Princípio da Motivação
O art. 50 da Lei 9.784/98 exige a motivação (ou justificativa),
com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos que ensejam a
prática do ato pela Administração, quais sejam: atos que negam,
limitam ou afetam direitos ou interesses; impõem ou agravam
deveres, encargos ou sanções; decidem processos administrativos
de concurso ou seleção pública; decidem recursos administrativos
etc.
Há atos administrativos que não necessitam obrigatoriamente
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de motivação, tais como os de nomeação ou exoneração para o
exercício de cargo comissionado ou de função de confiança.
Portanto, podemos afirmar que a motivação é a regra geral,
embora não tenha caráter absoluto.
Segundo Hely, “pela motivação, o administrador público
justifica sua ação administrativa, indicando fatos (pressupostos de
fato) que ensejam o ato e os preceitos jurídicos (pressupostos de
direito) que autorizam sua prática. Claro está que em certos atos
administrativos oriundos do poder discricionário a justificação será
dispensável, bastando apenas evidenciar a competência para o
exercício desse poder e a conformação do ato com o interesse
público, que é pressuposto de toda atividade administrativa. Em
outros atos administrativos, porém, que afetam o interesse
individual do administrado, a motivação é obrigatória...”.
Motivação aliunde é aquela que consiste na declaração de
concordância com fundamentos de anteriores pareceres,
informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte
integrante do ato (§1º do art. 50 da Lei 9.784/99).
É princípio implícito na CF/88 e explícito na Lei 9.784/99.

2.3. Princípio da Supremacia do Interesse Público Sobre o


Particular
Dentre todos os princípios administrativos, dois são
extremamente importantes, quais sejam: o “princípio da
supremacia do interesse público sobre o interesse
particular” e o “princípio da indisponibilidade”. Para Celso
Antonio Bandeira de melo, todos os demais princípios decorrem
destes dois.
Pelo princípio da supremacia do interesse público, podemos
verificar que a Administração deve buscar, sempre, na prática de
todos os seus atos, o interesse público. E para que o ato alcance
este interesse público, basta que o agente cumpra todas as normas
jurídicas estabelecidas para a prática dele. Assim, toda vez que a
Administração cumprir com as normas jurídicas (conjunto de regras
e princípios) estará, automaticamente, alcançando o interesse
público almejado pela coletividade ou, conforme diz a doutrina, o
interesse público primário. Pelo contrário, se o agente
manifestar uma vontade própria não coincidente com a da norma
jurídica, estará alcançando interesse público secundário, o que
deve ser rechaçado pela coletividade, pois expressa uma vontade
que não aquela “escolhida” expressa ou implicitamente pela norma.
Vejamos um exemplo: Se a AMT multa o infrator da norma de
trânsito, estará alcançando o interesse público primário, afinal,
referido ato (a multa), tem esta finalidade expressamente
determinada em lei, em especial, no Código de Trânsito Brasileiro.
Por outro lado, se o prefeito deixa de conceder certo benefício ao
servidor público, quando deveria, por entender que o interesse
público assim o exige, estará alcançando interesse público
secundário (neste caso, embora o intuito do administrador tenha
sido o do interesse público, houve uma vontade exclusiva dele e
não da coletividade, pois a vontade da coletividade é aquela
determinada expressa ou implicitamente na norma jurídica). Se o
interesse público primário é o que coincide com as normas, então é
a ele que se dará supremacia máxima, e não ao interesse público
secundário (que é criticável e que deve ser questionado
juridicamente visando à anulação do ato). E entre o interesse
público primário e o do particular, por óbvio que se dará prioridade
(supremacia) ao primeiro.
Referido princípio é irrenunciável. Não há faculdade de atuação
ou não do Poder Público, mas sim “dever” de atuação (é o chamado
poder-dever-de agir). Os exemplos citados a seguir demonstram
algumas situações onde há a predominância do Princípio: a
existência legal de cláusulas exorbitantes nos contratos
administrativos; restrições ao direito de greve dos agentes públicos
e o exercício do Poder de Polícia pela Administração, dentre outros
institutos.
Mesmo quando age em vista de algum interesse estatal
imediato, o fim último deverá ser o interesse público, sob pena
do administrador agir com desvio de poder (ou de finalidade).
Este princípio inspira o legislador quando da elaboração da
norma e vincula a Administração em toda a sua atuação.

2.4.Princípio da Autotutela da Administração Pública


A Administração pode autotutelar-se (controle interno da
Administração):
a) anulando atos ilegais praticados por ela (controle interno de
legalidade) ou
b) revogando atos válidos quando considerados inconvenientes ou
inoportunos (controle interno de mérito).
A competência para revogar é exclusiva da Administração,
porque é a ela que pertence o direito de valoração interna que
configura o mérito do ato administrativo.
Vide as súmulas do STF nº. 346 (“A Administração Pública pode
declarar a nulidade dos seus próprios atos”) e 473 (“A
Administração pode anular os seus próprios atos, quando eivados
de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam
direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em
todos os casos, a apreciação judicial”).
A autotutela poderia ser interpretada, também, como um
dever de zelo, de cuidado que a Administração deve para com os
seus interesses e, inclusive, patrimônios.

2.5.Princípio da Razoabilidade
É difícil distinguir o princípio da razoabilidade com o da
proporcionalidade. Por esta razão, parte da doutrina emprega os
dois termos indistintamente, como sinônimos.
É princípio implícito na CF/88 e expresso na Lei 9.784/99.
O princípio tem como objetivo aferir a compatibilidade entre os
meios adotados pela Administração e os fins alcançados por ela,
visando evitar restrições desnecessárias ou abusivas do Poder
Público.
Segundo Lúcia Valle, a razoabilidade deverá ser aferida
segundo os valores do homem médio.
O princípio assume grande importância quando a
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Administração Pública atua no exercício do seu Poder de Polícia
(que será estudado no próximo capítulo) e diante dos atos
discricionários.
Ato que atende ao princípio da razoabilidade é ato:
a) adequado, b) necessário e c) proporcional
A conduta da Administração deverá se adequar aos padrões
normais de aceitabilidade.
Ato ofensivo ao princípio da Razoabilidade será,
indiscutivelmente, ilegal.

2.6.Princípio da Proporcionalidade
É princípio implícito na CF/88 e expresso na Lei 9.784/99.
O princípio tem como objetivo aferir a compatibilidade entre os
meios e os fins, visando evitar restrições desnecessárias ou
abusivas do Poder Público.
Assume grande importância quando a Administração Pública
atua no exercício do seu Poder de Polícia e diante dos atos
discricionários.
Para parte dos doutrinadores, prevalece a noção de que o
princípio da proporcionalidade está inserido no princípio da
razoabilidade.
Este princípio surge de idéias como:
a) Limitação de direitos (“todo direito pressupõe a noção de limite”)
e
b) Proibição do excesso de poder.
O poder público deve intervir com equilíbrio, sem excessos e
proporcionalmente ao fim a ser atingido.
Para Celso Antonio Bandeira de Mello “este princípio enuncia a
ideia de que as competências administrativas só podem ser
validamente exercidas na extensão e intensidade correspondentes
ao que seja realmente demandado para cumprimento da finalidade
de interesse público a que estão atreladas”.

2.7.Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público


Aos agentes administrativos, no desempenho de suas funções,
não é lícito dispor desse interesse ou fazer prevalecer seu próprio
interesse ou sua vontade psicológica, porque do interesse público
os agentes da Administração só detém a guarda, e não a
titularidade. A consequência imediata da indisponibilidade é que os
direitos concernentes a interesses públicos são em princípio
inalienáveis, impenhoráveis, intransigíveis, intransferíveis a
particulares, ou, em uma palavra: indisponíveis.
A Administração Pública agirá, sempre, buscando um fim
desejado pela lei, qual seja, “o bem da coletividade”, para que o ato
seja legítimo.
A busca de finalidade não almejada pelo legislador enseja
desvio de finalidade.

2.8.Princípio da Presunção de Legitimidade (ou Presunção


de Validade)
Presunção de que os atos da Administração são concretizados
em conformidade com a lei. Qualquer irregularidade deverá ser
provada pelo particular.
Referida presunção é relativa (presunção juris tantum), pois
cabe prova em contrário. O ônus da prova de que o ato da
Administração não foi realizado em conformidade com os ditames
da lei caberá a quem o alega.
Este princípio será melhor estudado no capítulo dos atos
administrativos, no item “dos atributos dos atos administrativos”,
momento em que veremos a possibilidade de tratarmos o assunto
através de princípios distintos, autônomos, quais sejam: 1)
presunção de legitimidade (ou validade) e 2) presunção de
veracidade.

2.9.Princípio da Auto-Executoriedade
Prerrogativa da Administração Pública de converter em atos
materiais suas pretensões jurídicas, sem precisar se socorrer do
Poder Judiciário ou Legislativo. Este princípio será mais bem
estudado no capítulo dos atos administrativos, no item “dos
atributos dos atos administrativos”.

2.10.Princípio da Hierarquia
A hierarquia ocorre entre órgãos de uma mesma pessoa
jurídica.
Não há hierarquia entre pessoas jurídicas diferentes.
Este princípio será melhor estudado no capítulo “poderes da
administração pública”.

2.11.Princípio da Segurança Jurídica


É princípio implícito na CF/88.
Está expresso na Lei 9.784/99 (art. 2º).
Por esse princípio, fica vedada a aplicação retroativa de nova
interpretação da norma administrativa.
O princípio não impede a Administração de anular atos
inválidos (contrários à lei), vez que, nestas situações, não há
mudança de interpretação do ato, mas tão somente a necessária
declaração de ilegalidade dele.
A Administração poderá mudar a interpretação da lei. Porém,
seus efeitos não serão retroativos. Sendo uma decisão que não
retroage ao tempo, diz-se que seu efeito é ex nunc.05 Se
retroagisse, seu efeito seria denominado de ex tunc.
Por este princípio, a nova lei não poderá afetar o ato jurídico
perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido (estes institutos são
comumente estudados em direito constitucional).
A lei proíbe a aplicação retroativa em qualquer hipótese,
mesmo que a nova interpretação seja mais benéfica ao
administrado, pois o princípio da segurança jurídica visa assegurar
um mínimo de estabilidde às relações jurídicas advindas do ato.
Conclusão: Uma vez praticado um ato pela Administração
Pública, quando vigente certo posicionamento administrativo sobre
a aplicação de uma norma, não poderá uma nova interpretação,
construída posteriormente à produção do ato, vir a alcançá-lo
visando desfazê-lo, independente de a nova interpretação
beneficiar ou prejudicar o administrado.
Este princípio está relacionado à estabilidade das situações
jurídicas entre Administração e administrado, protegendo a
confiança do administrado na Administração.

2.12. Observações da Lei nº. 9.784/99


Referida Lei trata do Processo Administrativo na esfera
Federal.
Traz, em seu artigo 2º, os princípios da legalidade, finalidade,
motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla
defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e
eficiência.

2.13. Observações da Lei 8.666/93 (Lei que trata dos


Contratos e das Licitações Públicas)
Traz em seu bojo princípios específicos relacionados às
licitações e contratos, que serão estudados juntamente com
referida Lei.

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