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Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão

PJe - Processo Judicial Eletrônico

16/09/2020

Número: 0801616-73.2018.8.10.0007
Classe: RECURSO INOMINADO CÍVEL
Órgão julgador colegiado: 1ª Turma Recursal Cível e Criminal de São Luis
Órgão julgador: Gabinete do 2º Cargo da 1ª Turma Recursal Cível e Criminal de São Luis
Última distribuição : 03/10/2019
Valor da causa: R$ 22.619,26
Processo referência: 0801616-73.2018.8.10.0007
Assuntos: Indenização por Dano Material
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
GABRIEL BARROS DE RESENDE (RECORRENTE) GABRIEL BARROS DE RESENDE (ADVOGADO)
SERVO PIRES DOS SANTOS (RECORRIDO) SANDRA REGINA REIS DA COSTA DINIZ (ADVOGADO)
DANUZA FERNANDES COUTO (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
77358 15/09/2020 10:21 Voto do Magistrado Voto
67
VOTO

Cuida-se de recurso inominado interposto em ação de conhecimento processada sob o RITO

SUMARÍSSIMO.

Seguimento da etapa postulatória com contestação após revés da conciliação.

Audiência de conciliação, instrução e julgamento, ultimando-se o feito com a prolação de sentença com

dispositivo a seguir transcrito:

(...) Ante o exposto, julgo parcialmente procedente o pedido para condenar o


promovido, GABRIEL BARROS DE RESENDE, a pagar ao promovente,
SERVO PIRES DOS SANTOS, a importância de R$ 12.849,22 (doze mil,
oitocentos e quarenta e nove reais e vinte e dois centavos) , concernente à
indenização por danos materiais, sendo tal valor acrescido de juros de 1% ao
mês a partir da citação e correção monetária, a contar da data do efetivo
prejuízo, conforme prevê a Súmula 43, do STJ. Condeno-o ainda a pagar ao
promovente a quantia de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), a título de
compensação por danos morais, com juros de 1% (um por cento) ao mês e
correção monetária pelo INPC a partir da publicação da presente sentença.
(...)

Os fatos foram assim descritos na sentença:

(...) Narra o autor que em Julho de 2016, foi procurado por uma pessoa de
nome Ester, a qual lhe informou que teria um valor para receber, referente a
um RPV, junto a um processo que tramitava na Justiça Federal. Aduz que
essa pessoa o apresentou ao requerido, o qual informou ser advogado e que
auxiliaria o requerente a receber a quantia de R$ 14.849,22 (quatorze mil
oitocentos e quarenta e nove reais). Afirma que no dia 15/07/2016, dirigiu-se
à Caixa Econômica Federal na companhia do requerido e presenciou o
momento em que o caixa entregou a quantia descrita no RPV para este.
Segue alegando que, ao saírem do banco, o promovido repassou-lhe apenas
a quantia de R$ 2.000,00 (dois mil reais), afirmando que daria o restante
posteriormente e que pagaria a quantia de R$ 250,00 (duzentos e cinquenta
reais) a Ester. O requerente informa que até o momento o promovido não
devolveu a quantia devida, pelo que ingressou em Juízo com a presente
ação, requerendo a devolução do valor corrigido, bem como indenização por
danos morais. (...)

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Ao final, o recurso interposto trouxe os seguintes pedidos:

(...) Diante de todos os elementos que foram demonstrados, requer o


recorrente que se dignem Vossas Excelências a:

· Deferir da gratuidade de justiça em favor do Recorrente.

· Conhecer o presente recurso, eis que tempestivo e presentes as demais


condições e pressupostos de admissibilidade e lhe deem provimento julgando
improcedente todos os pedidos do Autor contidos na inicial, visto que não
apresentou os meios de prova de constituição do seu direito.

· Contudo, se outro for o entendimento desta Corte pede, subsidiariamente


para declarar a nulidade da sentença prolatada em primeiro grau em
decorrência do cerceamento de defesa, determinando o juízo a quo que outra
seja prolatada, observando-se o exaurimento da instrução processual, em
todos os seus termos, proporcionando-lhe o direito do contraditório e da
ampla defesa. (...)

Contrarrazões legais.

Feito com desenvolvimento regular e com observância do contraditório.

Das preliminares

Sobre o cerceamento de defesa, alega o recorrente:

(...) O Recorrente tomou conhecimento do processo e foi citado no dia


14/01/2019 para audiência designada dia 22/01/2019 no 2º Juizado Especial
Cível e das Relações de Consumo de São Luís.

Em decorrência da extrema proximidades das datas dos atos processuais,


ocorreu que a Audiência foi realizada enquanto Recorrente estava em viagem
para outro Estado, visto que a sua citação ocorreu um dia antes da viagem
realizada em 15/01/2019 à 27/01/2019, conforme o check-in de embarque
anexo.

Por este justificável motivo, amparado no Inciso II, do Art. 362 do NCPC, o
Recorrente não compareceu no dia da audiência, onde cumpre mencionar
que a passagem já estava comprada desde o ano passado, pois o Recorrente
iria encontrar seu pai que está com a saúde debilitada pela idade.(...)

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Verificando os autos, percebo que o recorrente, mesmo ciente (14/01/2018, id.3672114) da

designação da data de audiência de instrução e julgamento, nada comunicou ao juízo, só vindo a reclamar da existência

do impedimento após prolação de sentença.

Pontuo, ainda, não se aplicar ao procedimento dos juizados (Lei 9.099/95) o prazo mínimo de 20 dias

previsto no Código de Processo Civil e tampouco trouxe a recorrente qualquer outro impedimento para invalidar a

intimação realizada ou para justificar a sua ausência no ato designado.

Ademais, são princípios básicos da teoria das nulidades, que nenhum ato será anulado sem que se

tenha demonstrado prejuízo, bem como não se pronunciará em favor da parte que lhe deu causa.

A postura da parte que, ao dar causa a nulidade, revela conduta que não se coaduna com os

princípios da lealdade, ética e cooperação que regem o processo civil.

Afasto a preliminar levantada.

Dito isso, não existem outras preliminares obstativas ao conhecimento do meritum causae pelo que

possibilita o enfrentamento da matéria de fundo.

Recurso, próprio, tempestivo e bem processado.

Presente, também, a sucumbência. Possível, pois, o conhecimento.

Do mérito

No mérito recursal, a questão versa sobre: responsabilidade civil contratual decorrente da

contratação dos serviços de advocacia.

Assentado esse ponto, no tocante ao contrato de mandato, noto ser o tema assim mencionado por

MARIA HELENA DINIZ (in, Curso de Direito Civil Brasileiro, v.3, p. 397):

(...) Mandato é o contrato pelo qual alguém (mandatário ou procurador)


recebe de outrem (mandante) poderes para, em seu nome, praticar atos ou
administrar interesses (CC, art. 653).

É uma representação convencional, em que o representante pratica atos que


dão origem a direitos e obrigações que repercutem na esfera jurídica do

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representado. Realmente, o mandatário, como representante do mandante,
fala e age em seu nome e por conta deste. Logo, é o mandante que contrai
as obrigações e adquire os direitos como se tivesse tomado parte
pessoalmente no negócio jurídico. Possibilita, assim, que pessoa interessada
na realização de certo ato negocial, desde que não seja personalíssimo, que
não possa ou não saiba praticá-lo, o efetue por meio de outra pessoa.(...)

Sobre inadimplemento contratual acarreta a responsabilidade de indenizar as perdas e danos, nos

termos do art. 389 do Código Civil.

Nesse caminhar, a legislação cível pátria distinguiu as duas espécies de responsabilidade, acolhendo a

teoria dualista e afastando a unitária. Disciplinou a extracontratual nos arts. 186 a 188, sob o título "Dos atos ilícitos",

complementando a regulamentação nos arts. 927 e s., a contratual, como conseqüência da inexecução das obrigações,

nos arts. 395 e s. e 389 e s., omitindo qualquer referência diferenciadora. No entanto, algumas diferenças podem ser

apontadas: a) na responsabilidade contratual, o inadimplemento presume-se culposo. O credor lesado encontra-se em

posição mais favorável, pois só está obrigado a demonstrar que a prestação foi descumprida, sendo presumida a culpa

do inadimplente; na extracontratual, ao lesado incumbe o ônus de provar culpa ou dolo do causador do dano; b) a

contratual tem origem na convenção, enquanto a extracontratual a tem na inobservância do dever genérico de não lesar

outrem; c) a capacidade sofre limitações no terreno da responsabilidade contratual, sendo mais ampla no campo

extracontratual.

Em relação à responsabilidade civil do advogado, pontuo decorrer ela especificamente do contrato de

mandato firmado entre as partes, sendo o o advogado obrigado a usar de sua diligência e capacidade profissional na

defesa da causa, mas sem se obrigar pelo resultado, que sempre é falível e sujeito às vicissitudes intrínsecas ao

processo.

São as referências legais relacionadas à solução do mérito recursal: artigos 389 e 391 do Código Civil,

assim como o artigo 32 da Lei 8.906/94.

Delineados esses elementos, passo a análise dos autos e dos argumentos suficientes para a formação

da convicção deste relator.

Por meu voto, nego provimento ao recurso.

Com efeito, o recurso apresentado pelas partes aponta como questões de fato é de direito relevantes

são as seguintes: a) saber se houve ato ilícito, concernente na apropriação da quantia de R$ 12.849,22 (doze mil,

oitocentos e quarenta e nove reais e vinte e dois centavos), referente ao RPV ; b) saber se houve culpa do agente; c)

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saber se houve danos; d) saber se houve nexo de causalidade.

Eis, em resumo, o contexto fático em que se arrimam as pretensões deduzidas, voltadas para a

obtenção de tutela jurisdicional da correção de error in judicando apontado em sentença prolatada nos autos.

Estabelecidas estas balizas, constato que os autos revelam as seguintes premissas fáticas com as

correspondentes compreensões e teses jurídicas.

Entendo que a sentença NÃO merece reparo, estando bem fundamentada e tendo examinado, de

forma minuciosa, todos os fatos alegados e as provas produzidas nos autos, assim como todas as teses formuladas

pelas partes, englobando integralmente a matéria de direito deduzida na inicial e na resposta, com evidenciado acerto.

Nada obstante, vale lembrar que, no procedimento sumaríssimo instituído pela Lei n° 9.099/95, o

Estado-Juiz não é obrigado a rebater especificamente todas e quaisquer alegações das partes, pois a dialética do ato

decisório não consiste apenas no revide dos argumentos deduzidos em juízo, mas no percurso próprio e independente

que se tem de seguir, no exercício do poder-dever de aplicar o direito no caso concreto, respeitando-se, naturalmente,

os limites da lide.

Logo, a irresignação da recorrente não deve prosperar, eis que a sentença recorrida foi prolatada nos

exatos termos da legislação pertinente, tornando absolutamente despiciendo tecer maiores comentários sobre o

assunto, diante do permissivo do art. 46 da Lei 9.099/95, com a consequente confirmação da referida decisão, por seus

próprios fundamentos.

Art. 46, O julgamento em segunda instância constará apenas da ata, com a indicação suficiente do

processo, fundamentação sucinta e parte dispositiva. Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a

súmula do julgamento servirá de acórdão.

Ademais, não merece reparo algum o valor arbitrado, a título de indenização por danos morais, pois o

juízo a quo fixou o quantum de forma moderada, levando em consideração as peculiaridades do caso concreto e

observando a dupla finalidade de compensar os transtornos sofridos pela vítima, sem que tal valor constitua fonte de

enriquecimento ilícito, bem como para punir o ofensor pela falta praticada, a fim de se inibir novas incursões na esfera

jurídica alheia, estando de acordo com o entendimento desta Turma e conforme parâmetros do STJ.

Ademais, das provas apresentadas, anoto:a) detalhamento de conta da CEF - id 3672108; b)

reclamação no MP - id 3672109; c) termo de representação no OAB - id 3672109; d) prova testemunhal - id 3672116.

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A pretensão recursal não guarda acolhida.

Diante das premissas fáticas levantadas, bem como das compreensões jurídicas articuladas, os demais

argumentos sustentados pelas partes, contrários a esta conclusão, não são relevantes. Logo, deixo de manifestar-me de

forma pormenorizada e individual em relação a eles (STJ. EDcl no MS 21.315/DF) (Info 585).

Isso posto, e suficientemente fundamentado (CF, art. 93 IX e CPC, art.11), na forma do artigo 487,

inciso I do NCPC, conheço do presente recurso inominado e nego-lhe provimento, devendo a sentença ser mantida por

seus próprios fundamentos com os acréscimos acima postos.

Pela parte recorrente, custas e honorários advocatícios que, em face do CPC, art. 85, §2º, arbitro em

15% (quinze por cento) do valor da condenação.

Por ser a parte recorrente beneficiária da gratuidade da justiça, as obrigações decorrentes de sua

sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco)

anos subsequentes ao trânsito em julgado desta decisão, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de

insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações

do beneficiário (CPC, artigo 98, §§ 2º e 3º).

É como voto.

São Luís/MA, 02 de setembro de 2020.

Juiz ERNESTO GUIMARÃES ALVES

Relator

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