The Truth - Traduzido

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TRANSPARÊNCIA COMPLETA
Este livro cobre um período de aproximadamente quatro

anos, durante a maior parte dos quais minha vida foi um rolo
montanha-russa e muitas promessas de anonimato foram
exigidas, principalmente de homens que destruíram seus
vida da família e mulheres cujas vidas eu destruí. Dentro
para comprimi-lo em um tamanho gerenciável, reduzir a
complexidade, chegar à verdade dos relacionamentos,
e preservar o anonimato, incidentes, pessoas, locais e
situações foram movidos, removidos, compostos ou
compactados, e certos detalhes de identificação, incluindo nomes,
foram alterados. Se você é
lendo isso e acredite que você se reconhece,
pense de novo. Sua história é a mesma da maioria
outros neste livro: Você trapaceou e foi pego.
DEDICAÇÃO
Para minha mãe e meu pai.

Dizem que o amor de um pai é incondicional.
Vamos torcer para que isso ainda seja verdade depois que você
ler este livro.
EPÍGRAFE
AS PESSOAS SÃO FEITAS

PRECISAR UM DO OUTRO.
MAS NÃO APRENDERAM
A VIVER UM COM O OUTRO.
—RAINER WERNER FASSBINDER

As Lágrimas Amargas de Petra von Kant
AVISO
As páginas a seguir contêm uma das palavras mais

aterrorizantes e obscenas da língua inglesa: compromisso.
Especificamente o tipo de
compromisso que muitas vezes precede ou segue o amor
e sexo.
Falta de compromisso, muito compromisso,

um compromisso mal escolhido, e mal-entendidos sobre
o compromisso levaram a
assassinatos, suicídios, guerras e muito sofrimento.
Eles também levaram a este livro, que é uma tentativa

de descobrir para onde tantas pessoas vão
errado, de novo e de novo, quando se trata de
relacionamentos e casamento - e se há uma melhor
maneira de viver, amar e fazer amor.
Essa, no entanto, não é uma jornada que foi empreendida

para fins jornalísticos. É uma dolorosa
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relato honesto de uma crise de vida que me foi imposta

como consequência do meu próprio comportamento.
Como a maioria das jornadas pessoais, ela começa em
um lugar de escuridão, confusão e tolice.
Como tal, requer compartilhar muitas coisas das quais

não me orgulho – e algumas coisas das quais sinto que
deveria me arrepender muito mais do que realmente
me arrependo. Porque, infelizmente, eu não sou o herói
desta história. Eu sou o vilão.
AVISO PARA
INGRID
Se você está lendo isso, por favor, pare
agora.
NÃO vire a página.

Ingrid,
Se este é você, realmente, não leia isso.
Você não tem e-mail para verificar ou algo assim? Ou você

viu o vídeo com aquele gato que está fazendo uma coisa
humana? É hilário - talvez você devesse assistir. Este livro
não é muito bom mesmo. Escrevi dez outros que são muito
melhores. Vá ler um desses.
Sério, pare de ler agora. ESTA É A SUA ÚLTIMA CHANCE.

CONTEÚDO
Dedicação
Epígrafe
PRÓLOGO: A Mão que Você Recebeu Rosto

Baixa
Porta 1
INFIDELIDADE
Uma Jornada Misteriosa ~ Um Desafio no Mar
~ Um Contrato Impossível ~ O Sexo Um oréxico ~ O desejo
de morrer de uma mãe ~ Exorcismo
Porta 2
EXCLUSIVIDADE
Uma maçã vermelha brilhante ~ A chave da confiança ~
Ciclope optando por anúncios ~ Enfrentando o pelotão de fuzila
O Cérebro de um Pervertido ~ Uma Investigação Perigosa
~ Uma Fenda no Espaço-tempo
Porta 3
ALTERNATIVAS
A Deusa Poli ~ Ofertas Generosas ~ Garotas Har
em ~ A Pior Orgia de Todas ~ Violência na
Comuna do Amor ~ E Então Lá
Were Three ~ A Precisa Arte do Design de Bebês
~ Um Encantamento Poderoso ~ Um Traiçoeiro
Abertura
Porta 4
ANHEDONIA O
Conselho de Anciãos ~ Navegação
questionável ~ O Fim do Destino ~ Guerra ~
O Anjo que Tira Sangue ~ A Dádiva do Amor
~ Animais vs. o Universo
Porta 5
LIBERDADE
O Sobrevivente ~ A Rainha e o Elefante ~
Peças do Puzzle ~ As Consequências da Verdade ~
Matando o Monstro ~ Metamorfose ~ A
Sepultura rasa para um amigo raso ~ A
Escolha
EPÍLOGO: Quando o curinga é jogado, ainda é selvagem?
Sobre o autor
Também por Neil Strauss
Créditos de imagem adicionais
direito autoral
Sobre a editora
Toda família tem um esqueleto no armário.

Você pode conhecer o esqueleto de sua família. Você pode
até ser esse esqueleto. Ou você pode pensar que sua família é
diferente, que é a exceção, que você é um dos sortudos com um
par perfeito de pais e sem segredos familiares obscuros. Se sim,
então você ainda não abriu a porta certa do armário.
Durante a maior parte da minha vida, eu também acreditei

que era um dos normais. Mas então eu encontrei a porta certa do
armário.
Estava no quarto do meu pai. A porta era branca, com pintura
lascada ao longo da borda externa e uma maçaneta de latão
polida pela mão grande de meu pai. Girei a maçaneta, encorajada
pela esperança de encontrar pornografia, minha mão sobre a
marca do meu pai.
Eu era uma virgem no final da adolescência, meus pais
estavam fora, e eu ansiava pela pele feminina que eu tão
desesperadamente não tinha acesso na vida real. Eu já tinha
encontrado uma Playboy e uma Pent house na pilha de revistas
do meu pai antes, então era lógico que em um recesso mais
profundo de seu quarto existia uma forma superior de pornografia:
o tipo que se move. Pornô de verdade.
No fundo de seu armário, sob fileiras de camisas de algodão-
poliéster azul com monogramas
bolsos, quase brancos devido a anos de lavagem, encontrei três

sacolas marrons cheias de fitas VHS. Sentei-me no chão e examinei
cada um cuidadosamente, tomando cuidado para devolvê-los
exatamente na ordem inversa em que os havia retirado.
Não havia vídeos rotulados como pornográficos, mas eu sabia

que meu pai não seria tão estúpido com minha mãe por perto. Então
eu coloquei de lado todas as fitas não marcadas. Como eu nunca tive
permissão para ter um aparelho de televisão próprio, levei os vídeos
para a sala da família, onde havia uma pequena TV e videocassete,
presentes antigos de um velho tio.
Senti como se estivesse prestes a explodir.

Carreguei o primeiro vídeo e fiquei desapontado ao encontrar um
concerto de jazz de Dizzy Gillespie gravado na PBS. Eu pressionei
para frente, esperando que fosse apenas uma camuflagem para uma
cena nupcial loira com loira. Mas o que veio a seguir foi um episódio
de Newhart, seguido de Masterpiece Theatre. Era espetacularmente
não masturbatório.
A próxima fita era uma gravação de The Phil adelphia Story,

seguida por uma partida de tênis, e depois nada além de estática.
Coloquei a terceira fita de vídeo no videocassete e a observei

afundar lentamente na máquina. Apertei o play, e assim que vi o que
estava naquela fita, meu
a excitação instantaneamente se esvaiu, minha pele ficou fria e

minha imagem de meu pai como um homem de negócios manso e
passivo mudou para sempre.
Vi imagens que nem sabia que existiam neste mundo.
E de repente, como se tivesse acidentalmente aberto uma

cortina de teatro para revelar o aparelhamento, percebi que a
realidade da minha família era muito diferente da fachada.
“Prometa que não vai contar a ninguém, nem mesmo a seu

irmão ou seu pai,” minha mãe instruiu quando eu perguntei a ela
sobre o que eu tinha encontrado.
"Eu prometo", eu a tranquilizei.
E nunca contei a ninguém o que aprendi naquele dia sobre a
vida secreta de meu pai.
Isto é, até aquele segredo se tornar um ácido, corroendo
meus relacionamentos. Até que isso queimou direto no meu senso
de certo e errado, me deixando sozinha e desprezada. Até que me
desembarcou em uma instituição psiquiátrica, onde me disseram
que para minha própria sanidade, liberdade e felicidade, eu
precisava quebrar minha promessa e revelar o conteúdo daquela
fita.
E então enfrentei uma decisão: até onde eu iria para proteger
meus pais? É melhor trair as pessoas responsáveis pela minha
existência ou trair a própria existência?
É uma decisão que todos, em algum momento da vida,

devem tomar.
A maioria faz o errado.
Talvez seu pai esteja vivendo uma vida dupla. Talvez sua
mãe seja. Talvez um deles seja secretamente gay ou
travesti ou tendo um caso ou pagando prostitutas ou indo a
clubes de strip ou assistindo pornô na Internet ou
simplesmente não apaixonado. Talvez ambos sejam. Talvez
não sejam seus pais, mas você ou a pessoa que você ama.
Mas em algum lugar, há um esqueleto. E esse esqueleto tem u
E isso vai foder sua vida.
Do outro lado do corredor de mim no avião é uma garota magra

com cabelo preto. Ela poderia ter de sete a vinte e três anos. E
ela tem : delineador escuro,
cílios postiços, uma pequena tatuagem redonda na parte inferior das costas,
fones de ouvido rosa, e o beicinho permanente de
alguém que está com raiva do papai, mas vai foder qualquer
idiota sensível que a lembre do papai.
Ao meu lado está uma mulher de meia-idade com grandes
óculos de sol de grife de imitação e um vestido de verão
mostrando decote branco leitoso. Em apenas vinte minutos de
conversa, e com o posicionamento astuto de um
cobertor de companhia aérea de cortesia, talvez eu pudesse ter
minha mão lá dentro.
Na minha frente está uma ruiva magra com uma surra
enfrentar. Provavelmente um alcoólatra. Não é meu tipo, mas eu
gostaria.
Dentro da minha cabeça, há um mapa. E nesse mapa,
há uma pequena lâmpada LED marcando onde todas as
mulheres razoavelmente atraentes ou levemente sexualmente
atraentes estão sentadas. Antes que o avião tenha atingido o cruzei
altitude, já pensei em maneiras de abordar cada um, despi-a,

imaginei sua técnica de boquete e transei com ela no banheiro
ou no carro alugado ou no quarto dela naquela noite.
É isso: a última vez que posso cobiçar, a última vez que

posso até mesmo entreter o pensamento de dormir com uma
nova mulher. E minha mente está ficando louca. Estou atraída
por todos. Não que eu nunca tenha sido, mas desta vez dói em
algum lugar profundo – no âmago de quem eu sou, da minha
identidade, da minha razão de viver.
Não tenho nada comigo: sem computador, sem celular, sem

tecnologia. Eles não têm permissão para onde estou indo.
Parece libertador ficar sozinho com meus pensamentos – a
maioria dos quais envolve debater se devo iniciar uma conversa
com a mencionada garota, possivelmente isca de prisão na
fileira à minha direita ou com a ruiva com cara de varíola na
minha frente.
Quando o avião para no portão, um homem de óculos se
levanta e segue para o corredor. Ele olha a garota de cabelos
pretos de cima a baixo.
Ele não está dando em cima dela; ele a encarou por muito
tempo para isso. Ele está capturando a imagem, gravando-a em
sua memória para salvá-la para mais tarde, quando puder usá-la.
Por que estou me submetendo a isso? Eu me pergunto.

Este é um comportamento masculino normal. Esse cara é
provavelmente pior do que eu.
Enquanto ando pelo terminal, tiro um pedaço de papel dobrado
do bolso: Seu motorista irá encontrá-lo assim que você passar pela
segurança. Ele estará usando um crachá com um D, para não
identificar para onde você está indo.
De repente, um cara na casa dos vinte – pelo menos 1,80m,

musculoso, queixo quadrado, basicamente o oposto do que vejo
quando olho no espelho – congela na minha frente. Sua boca cai
aberta, como se ele tivesse visto um fantasma. Eu sei o que está
prestes a acontecer, e quero me livrar dele. Ele não é meu motorista.
“Oh meu Deus, você está. . .”

Por alguma razão, ele não consegue tirar as próximas palavras
de sua boca. Espero que ele cuspa, mas nada acontece.
"Sim", eu digo a ele.

Silêncio.
“Bem, prazer em conhecê-lo. Eu tenho que ir encontrar um
amigo.” Porra, isso é mentira. Jurei parar de mentir. As mentiras
rolam da língua muito mais fácil do que a verdade às vezes.
"Eu li o seu livro", diz ele.

"Recentemente?" Eu pergunto, por algum motivo. Afastar-

me de pessoas que demonstram interesse não é um dos meus
pontos fortes. É por isso que estou aqui. Junto com a mentira.
“Não, há três anos.”

"Isso é ótimo." Ele não parece o tipo de cara que sempre
precisou do meu conselho.
“Conheci minha esposa por sua causa. Eu devo tudo a
você.”
"Isso é ótimo", eu digo novamente. Penso na perspectiva
de me casar com alguém, de passar o resto da minha vida com
ela, de não poder foder com mais ninguém, de ela envelhecer
e perder o interesse por sexo e eu ainda não poder transar com
mais ninguém. E as próximas palavras simplesmente escapam
da minha boca: “Você está feliz?”
"Ah, sim, totalmente", diz ele. "Seriamente. Li The Game
enquanto estava no Exército no Iraque, e isso realmente me
ajudou.”
“Você planeja ter filhos?” Não tenho certeza do que estou
fazendo. Acho que estou tentando assustá-lo. Quero que ele
demonstre um pouco de medo, hesitação ou dúvida, apenas
para provar a mim mesma que não sou louca.
“Minha esposa está realmente prestes a dar à luz nossa
filho”, diz. “Estou voando para casa para vê-la.”
Sua resposta me atinge exatamente onde dói: na minha
auto-estima. Aqui estou eu, incapaz de ter um
relacionamento e começar uma família, e esse cara leu um

livro que escrevi sobre pegar mulheres e três anos depois
ele descobriu sua vida inteira.
Eu me desculpo e o deixo ali parado, sem dúvida
pensando: Ele é muito mais baixo do que eu imaginava.
Do outro lado da segurança, vejo um homem com um

anel de cabelo grisalho em volta da cabeça e um distintivo
com um D nele. Ele deve ver todos os tipos de pessoas
rolando para fora do avião, meio mortas ou bêbadas ou
tentando fingir que são um adulto normal, que é, eu acho,
o que estou fazendo.
Me sinto uma impostora. Tem gente que precisa ir para
esse hospital psiquiátrico nível 1 porque sem ele vai morrer.
Eles vão beber ou cheirar ou se injetar até a morte.
Tudo o que fiz foi trair minha namorada.

Los Angeles, seis meses antes
Dizem que quando você conhece alguém e sente que é amor

à primeira vista, corra na outra direção. Tudo o que aconteceu
é que sua disfunção se misturou com a disfunção deles. Sua
criança interior ferida reconheceu sua criança interior ferida,
ambas esperando serem curadas pelo mesmo fogo que as
queimou.
Nos contos de fadas, o amor atinge como um relâmpago.
Na vida real, raios queimam. Pode até te matar.
Minha namorada está sentada no chão da casa de
hóspedes onde moramos, fazendo as malas para ir comigo
a Chica go hoje. É aniversário dela. Ela vai conhecer minha
família.
Eu olho para ela e aprecio cada centímetro dela, por
dentro e por fora. "Estou animada, querida", diz Ingrid. Ela é
pura alegria, me tirando do meu mundo sombrio e solipsista
todas as manhãs. Ela nasceu no México, mas de pai alemão,
e de alguma forma acabou morando na América e parecendo
uma pequena loira russa.
E assim ela incorpora todos os elementos: a intensidade do fogo, a

força da terra, a jovialidade da água, a delicadeza do ar.
"Eu sei. Eu também."

Eu tento empurrar a noite anterior para fora da minha cabeça.
Não há evidência disso em nenhum lugar; Eu me certifiquei disso. Eu
tomei banho. Verifiquei o interior do carro. Inspecionei cada item da
minha roupa para ver se havia fios de cabelo.
A única coisa que não posso limpar é a minha consciência.
“Devo trazer esses sapatos?”
“São apenas cinco dias. De quantos pares você precisa?”
Às vezes fico irritado com o tempo que ela leva para ficar pronta,
a quantidade de roupas que ela precisa levar até mesmo para as
viagens mais curtas, a maneira como seus saltos altos nos impedem
de andar mais do que alguns quarteirões quando saímos. Mas no
fundo, eu amo sua feminilidade. Eu sou um desleixado e ela me dá
graça.
Quando eu disse a ela ontem à noite que eu tinha que ir ver Mar ilyn
Manson, uma musicista com quem eu escrevi um livro, sobre um
novo projeto, eu olhei para o verde avelã de seus olhos e vi amor,
felicidade, inocência, Paz.
Ainda assim, eu passei por isso.

"Então, como foi a noite passada?" ela pergunta enquanto luta
com o zíper de sua mala.
“Foi meio frustrante. Não fizemos muito

trabalho.” Isso é certeza.
Enquanto ela coloca uma mão pequena e confiante
em cima da bolsa estofada e empurra as duas fileiras de
zíper por dentes em contato, não posso deixar de pensar
em duas vidas separadas sendo forçadas a se unir – e
como, se apenas um elemento aparecer do lugar, tudo
começa a sair dos trilhos.
“Ah, querida, você pode dormir no meu colo no
avião, se quiser.”
Ela está revivendo o relacionamento de sua mãe
com seu pai traidor. Estou revivendo a vida sexual
secreta do meu pai. Estamos repetindo um padrão
transmitido por gerações de idiotas mentirosos,
trapaceiros e pobres tolos que confiam neles.
"Obrigado", eu digo a ela. "Eu te amo." Pelo menos eu
acho que a amo. Mas você pode realmente amar alguém se
você acabou de foder uma de suas amigas no estacionamento
de uma igreja, e agora seis horas depois você está mentindo
para ela sobre isso? Minha mente está tão nublada com
culpa, eu não sei mais. De alguma forma, eu duvido.
Lá chega um momento na vida de um homem

em que ele olha em volta e percebe que estragou tudo.
Ele cavou um buraco tão profundo que não só
ele não pode sair, mas ele nem sabe mais qual caminho é
para cima.
E esse buraco para mim é, e sempre foi, relacionamentos.
Não só porque eu traí Ingrid, mas porque mais um conto de
fadas está à beira de um final infeliz.
O último conto de fadas terminou com minha ex se

trancando em seu apartamento com uma arma e gritando que
ela ia espalhar seus miolos por toda a parede e que eu não
deveria ir ao seu funeral.
Mas esse é diferente. Ingrid não é louca, não é ciumenta,
não é controladora, nunca me traiu e é talentosa e
independente, trabalhando em uma imobiliária durante o dia e
desenhando maiôs à noite. Estou arruinando isso sozinho.
E isso porque eu sou o rei da ambivalência.

Quando estou solteiro, quero estar em um relacionamento.
Quando estou em um relacionamento, sinto falta de estar
solteira. E o pior de tudo, quando o relacionamento termina e
meu amante-captor finalmente segue em frente, me arrependo
de tudo e não sei mais o que quero.
Já passei por esse ciclo muitas vezes para perceber que,
nesse ritmo, vou envelhecer sozinho: sem esposa, sem filhos,
sem família. Eu vou morrer e levará semanas até que o cheiro
fique forte o suficiente para que alguém
me encontra. E toda a merda que passei minha vida acumulando

será jogada no lixo para que outra pessoa possa ocupar o espaço
que desperdicei. Não deixarei nada para trás, nem mesmo dívidas.
Mas qual é a alternativa?

A maioria das pessoas casadas que conheço não parece ser
mais feliz. Um dia Orlando Bloom, um ator sobre quem escrevi um
perfil na Rolling Stone , veio me visitar.
Na época, ele era casado com uma das mulheres mais bem-
sucedidas e bonitas do mundo, a supermodelo da Victoria's Secret
Miranda Kerr, tornando-o um dos homens mais invejados do planeta.
E a primeira coisa que saiu de sua boca? “Não sei se o casamento
vale a pena. Não sei por que alguém faz isso. Quero dizer, quero
romance e quero estar com alguém, mas acho que não funciona.”
Meus outros amigos casados não se saíram muito melhor.

Alguns até parecem contentes, mas depois de um pouco de
sondagem admitem sentir-se frustrados. Vários lidam com a
infidelidade, outros se entregam, muitos se rendem passivamente
ao seu destino, e alguns simplesmente vivem em negação. Mesmo
os raros amigos que permaneceram felizes em seus casamentos
admitem, quando pressionados, terem sido infiéis pelo menos uma
vez.
Esperamos que o amor dure para sempre. No entanto, até 50
por cento dos casamentos e ainda mais novos casamentos terminam
em divórcio. Entre os casados, apenas 38

por cento realmente se descrevem como felizes em
aquele estado. E 90 por cento dos casais relatam uma diminuição
na satisfação conjugal após o primeiro
filho. Falando nisso, mais de 3% dos bebês não são filhos do pai
do sexo masculino que
acha que sim.*
Infelizmente, só está piorando. Graças a
tecnologia, agora temos mais namoro e conexão
opções do que em qualquer outro momento da história humana,
com inúmeros homens e mulheres desesperados a apenas um clique
ou deslize para longe, fazendo fidelidade - ou mesmo cometendo
em primeiro lugar - ainda mais um desafio. Em uma pesquisa
recente da Pew Research, quatro em cada dez pessoas
acreditavam que o casamento era uma instituição obsoleta.
Talvez, então, o problema não seja só eu. Talvez
Eu tenho tentado me conformar com uma norma social antiquada
e antinatural que não atende verdadeiramente – e tem
nunca atendidas - as necessidades de homens e mulheres
igualmente.
Então eu estou aqui, fazendo as malas para Chicago, cheio de
culpa e confusão, com um pé no melhor relacionamento que já
tive e um pé fora dele, me perguntando: é mesmo natural ser fiel
a uma pessoa por
vida? E se for, como faço para evitar que a paixão e o romance
desapareçam com o tempo? Ou existem
alternativas à monogamia que levarão a melhores

relacionamentos e maior felicidade?
Vários anos atrás, eu escrevi um livro chamado The Game
sobre uma comunidade underground de artistas de pickup
que eu entrei em busca de uma resposta para a maior questão
que assolava minha vida solitária na época: Por que as
mulheres que eu gosto nunca gostam de mim?
Nas páginas que se seguem, tento resolver um dilema de
vida muito mais difícil: o que devo fazer depois que ela gostar
de mim de volta?
Como o próprio amor, o caminho para responder a essa
pergunta será tudo menos lógico. As consequências não
intencionais de minha infidelidade me levarão a comunas de
amor livre, a haréns modernos e a cientistas, swingers,
anoréxicas sexuais, sacerdotisas, famílias de couro, ex-atores
infantis, curandeiros milagrosos, assassinos e, o mais
aterrorizante de todos. tudo, minha mãe. Vai desafiar e,
finalmente, revolucionar tudo o que eu achava que sabia sobre
relacionamentos – e a mim mesmo.
Se você estiver interessado em tirar mais proveito dessa
odisseia, observe as palavras e os conceitos que mais o
excitam ou o repelem. Cada reação instintiva conta uma
história. É uma história sobre quem você é e no que você
acredita. Porque, muitas vezes, as coisas às quais somos
mais resistentes são exatamente o que precisamos.
E as coisas das quais temos mais medo de abrir mão são

exatamente as que mais precisamos abrir mão.
Pelo menos, será assim comigo.
Esta é a história de descobrir que cada verdade que eu
desesperadamente me agarrei, lutei, fodi e até amei está
errada.
Apropriadamente, começa em um manicômio moderno,
algum tempo antes de eu escapar contra o conselho
médico. . .
3
Um homem peludo de uniforme verde de hospital pega
meu bagageiro, estica um par de luvas de látex sobre
os punhos e começa a procurar contrabando.
“Não permitimos livros aqui.”
O único outro lugar onde estive onde livros são confiscados
é a Coreia do Norte. Tirar livros é uma tática de ditadores e
outros que não querem que as pessoas tenham um pensamento
original. Mesmo na prisão, os presos podem ter livros.
Mas este é o meu castigo, digo a mim mesmo. Estou aqui

para ser treinado novamente, para aprender a ser um ser
humano decente. Eu machuquei pessoas. Eu mereço estar
neste hospital, nesta prisão, neste asilo, neste lar de
convalescentes para homens e mulheres fracos que não podem diz
Eles tratam todos os vícios aqui: álcool, drogas, sexo,
comida, até exercício. Muito de qualquer coisa pode ser uma
coisa ruim. Até amor.
Sua especialidade é o vício do amor.
Mas eu não sou um viciado em amor. Quem me dera ser.
Isso soa muito mais socialmente aceitável. Há
provavelmente um lugar especial no céu para viciados em amor,

junto com todos os outros mártires.
A atendente coloca meu cortador de unhas, pinça, navalha e
lâminas de barbear em um envelope pardo. "Eu vou ter que levar
isso também."
“Posso me depilar primeiro? Eu não tive tempo para depilar isso
manhã."
“Os recém-chegados não podem usar lâminas de barbear por
três dias enquanto vigiam o suicídio. Depois disso, você precisa da
permissão do seu psiquiatra.”
“Mas como você pode cometer suicídio com cortadores de
unhas?” Não sou muito bom com regras. Essa é outra razão pela
qual estou aqui. “O meu nem tem um arquivo anexado.”
Ele está em silêncio.
Você não pode resolver a maioria dos problemas com regras,

não mais do que com leis. Eles são muito inflexíveis. Eles quebram.
O bom senso é flexível. E eu estou claramente em um lugar
desprovido disso. “Se eu quisesse me matar, eu apenas usaria meu
cinto. E você não aceitou isso.”
Digo isso com um sorriso, para mostrar que não estou com
raiva. Eu só quero que ele saiba que este sistema não funciona.
Ele me olha de cima a baixo, não diz nada, então escreve algo na
minha pasta. Eu nunca vou pegar aquela navalha de volta.
“Venha comigo”, insiste uma mulher de avental verde – magra e

musculosa, com cabelos loiros despenteados e pele danificada pelo sol.
Ela se apresenta como técnica de enfermagem e me conduz a uma sala
privativa.
Ela envolve um manguito de pressão arterial em volta do meu braço.
"Precisamos tomar seus sinais vitais quatro vezes por dia durante os
próximos três dias", diz ela. Seus olhos estão opacos, as palavras são
mecânicas. Isso é o que ela faz o dia todo, todos os dias.
"Por que é que?" Eu pergunto. Muitas perguntas. Eu posso dizer

que eles não gostam deles aqui. Mas estou apenas tentando entender.
Não era assim que eu pensava que as coisas deveriam acontecer.
Quando visitei a reabilitação para ver um guitarrista de rock com quem
estava escrevendo um livro, parecia um cruzamento entre um clube de
campo e um acampamento noturno.
“Recebemos muitas pessoas se retirando e queremos ter certeza de
que vão ficar bem”, explica ela.
Ela ouve meu pulso e me avisa que minha pressão arterial está alta.
Claro que é fodidamente alto, eu quero dizer a ela. Eu nunca estive

tão desconfortável na minha vida. Você está tirando todas as minhas
merdas e me tratando como se eu fosse morrer. Retirar-se do sexo não
vai me matar.
Mas eu fico quieto. E eu submeto. Como um bom trapaceiro.
Ela me dá um pager que devo usar o tempo todo, caso precisem

de mim no posto de enfermagem.
Então ela empurra um formulário após o outro na minha frente –
direitos do paciente, privacidade, responsabilidade e as regras.
Mais malditas regras. Um parágrafo me proíbe de fazer sexo com
qualquer paciente, enfermeira ou membro da equipe.
O próximo diz que os pacientes não podem usar biquínis, tops ou
shorts – e devem usar sutiãs o tempo todo.
"Então eu tenho que colocar um sutiã?" Eu brinco, tentando inutilmente

mais uma vez para mostrar como suas regras são estúpidas.
“É meio bobo”, admite a enfermeira, “mas nós
tem viciados em sexo aqui.”
As palavras escapam de sua boca com desprezo e medo, como
se esses viciados em sexo não fossem pacientes normais, mas
predadores assustadores para tomar cuidado. E de repente percebo
que os alcoólatras e viciados não têm nada contra mim: eles prejudicam
apenas seus próprios corpos. Estou atrás dos corpos dos outros. Eu
sou o pior dos piores. Outros viciados não encontram drogas na
reabilitação, mas minha tentação está aqui. Está em todo lugar. E
qualquer um na distância de flerte deve permanecer vigilante, para
que eu não os ataque.
“Você tem pensamentos suicidas?” ela pergunta.
"Não."
Ela clica em uma caixa no computador e um formulário ap
peras intitulado Promessa de não cometer suicídio.
Ela empurra um pequeno bloco digital e uma caneta para me

proteger e me pede para assinar o formulário.
“O que você vai fazer se eu me matar? Me expulsar por
mentir?”
Ela não diz nada, mas noto que ela crava a unha do dedo
indicador no polegar. Acho que estou irritando ela. São as
perguntas. As malditas perguntas.
Eles não gostam deles aqui. É porque as perguntas são poderosas:
a pergunta certa pode expor as falhas do sistema.
Mas eu assino. E eu submeto. Como um bom trapaceiro.

Ela examina meu arquivo no computador, vê algo que
evidentemente a surpreende, depois vira o monitor para longe de
mim e digita rapidamente algumas palavras. Estou aqui há apenas
vinte minutos, considerando um comportamento relativamente
bom, e já estou na casinha do cachorro. E está tudo bem para
mim, porque até agora eu odeio todo o processo. Não se trata de
me fazer melhor. Trata-se de cobrir suas próprias bundas de ações
judiciais, para que possam dizer à família da vítima: “Bem, ele nos
prometeu que não se enforcaria. Veja, temos a assinatura dele
aqui, então não é nossa culpa se ele mentiu para nós.
“Você tem algum pensamento homicida?” ela pergunta.

"Não." E nesse momento, tenho um pensamento homicida.

É como dizer: “Não pense em um elefante rosa”.
Ela passa para a próxima pergunta. "O que você está

aqui para?"
"Traindo."
Ela não diz nada. Eu penso nessa palavra. Parece manco.
Estou numa porra de um hospital psiquiátrico porque não
consegui dizer não a um novo parceiro sexual. Então
acrescento a outra razão pela qual estou lá: “E acho que para
aprender a ter um relacionamento saudável”.
Penso em Ingrid, cujo coração quebrei, cujos amigos
ameaçaram me matar, que nunca fez nada de errado além de
me amar.
A enfermeira olha para cima para me encarar. É a primeira
vez que ela faz contato visual. Eu vejo algo amolecer. Não
sou mais pervertido. Eu disse a palavra mágica R:
relacionamento.
Seus lábios se abrem e umedecem; todo o seu
comportamento é diferente agora. Ela realmente quer me
ajudar. “Claro”, ela diz, “a primeira parte disso é encontrar
alguém para namorar que seja saudável”.
"Eu encontrei essa pessoa", eu suspiro. “Ela é totalmente
saudável. Foi isso que me fez perceber que sou só eu.”
Ela sorri com simpatia e continua olhando minha pasta
de entrada. Eu pergunto a ela se ela acha
Eu sou realmente um viciado. “Não sou especialista em vícios”,

diz ela. “Mas se você está traindo seu relacionamento, se está
visitando sites pornográficos ou se masturbando, isso é vício em
sexo.”
Ela abre uma gaveta, retira um quadrado vermelho de papel
e escreve meu primeiro nome e a inicial do sobrenome nele com
marcador preto. Em seguida, ela o enfia em uma pequena manga
de plástico e passa um longo pedaço de barbante branco por
ele. É o colar mais feio que eu já vi.
"Você está no vermelho dois", diz ela. “Você é obrigado a
usar seu crachá o tempo todo.”
“O que significa dois vermelhos?”
“As etiquetas são codificadas por cores. Vermelho é para viciados em sexo.
E o grupo vermelho dois está em terapia com” – ela faz uma
pausa e abre um sorriso breve e desconfortável – “Joan”.
Não sei dizer se é medo ou pena em sua expressão, mas

por alguma razão o nome me enche de um pavor rastejante.
Ela então pega um grande cartaz do chão e o segura em

cima da mesa, de frente para mim.
Há oito palavras enormes nele:
ALEGRIA
DOR
AMOR
RAIVA
PAIXÃO
TEMER
CULPA
VERGONHA
"Isso é chamado de check-in", diz ela. “Você terá que

checar quatro vezes por dia e relatar quais emoções você está
sentindo. Quais você está experimentando agora?”
Examino a tela em busca de pavor rastejante, de total

inutilidade, de confusão total, de arrependimento intenso, de
frustração de ódio às regras, do impulso de pular e fugir e mudar
meu nome para Rex e me mudar para a Nova Zelândia para
sempre.
“Não consigo encontrar minhas emoções na lista.”
“Estas são as oito emoções básicas”, ela explica com
paciência praticada. “Toda emoção está em uma dessas
categorias. Então selecione os que você sente mais agora.”
Eu não entendo isso. Eu sinto que alguém acabou de

inventar essa merda. É completamente arbitrário. Isso me faz sentir
.
"Raiva."
Ela digita no meu arquivo. Agora sou oficialmente institu
nacionalizado. Sinto outra emoção chegando.
“Qual é a diferença entre culpa e vergonha?” Eu pergunto.
“A culpa é apenas sobre o seu comportamento. Vergonha é

sobre quem você é.”
“E vergonha.” Muita vergonha.
Ela me leva de volta ao balcão da recepção, onde vejo uma
mulher com o braço engessado em fibra de vidro azul sendo
levada para fora de um posto de enfermagem: outra nova rival.
Ela tem a pele pálida, cabelos preto-azulados, muitos piercings
e o olhar de um vampiro que seduz os homens para sua
perdição. E eu sou instantaneamente atraído.
Da outra direção, uma mulher ainda mais atraente, com
longos cabelos loiros saindo de um boné de beisebol rosa,
passeia até a recepção. Ela está vestindo uma camiseta preta
apertada que se agarra a cada contorno de seu corpo. E penso
o que sempre penso, o que todo homem sempre pensa. Para
que servia a puberdade senão para pensar esses pensamentos?
Para que serve a testosterona senão para sentir uma súbita
onda de substâncias químicas que estimulam os neurorreceptores
na área pré-óptica medial do cérebro agora mesmo, impelindo-
me para a ação?
"O que você está aqui para?" Eu pergunto a loira. A etiqueta
dela é azul.
“Vício em amor”, ela responde.
Perfeito. Pergunto se ela quer jantar.
Entrada: culpa.
E paixão.
4
Meu colega de quarto também tem uma etiqueta vermelha no pescoço.
Assim que entro pela porta, ele me olha de cima a baixo, e
instantaneamente uma onda de inferioridade toma conta de mim. Ele
é bronzeado e musculoso; Eu não sou. Seu rosto é esculpido; o meu é
macio e fraco. Ele foi o jogador mais valioso em um campeonato de
futebol, se acreditarmos em sua camiseta; Eu sempre fui escolhido por
último para times esportivos na escola.
"Eu sou Adam", diz ele e esmaga minha mão na dele.

Ele fala com confiança; minha voz está nervosa e rápida.
“Neil.” Eu solto minha mão. "Então, o que você está fazendo?" Eu

pergunto com facilidade forçada. Se eu me parecesse com Adam, teria
tido namoradas - ou pelo menos algum tipo de contato sexual - no
ensino médio e provavelmente não estaria cobiçando todas as mulheres
na rua, no avião, na reabilitação, em um apartamento de cinquenta
metros. raio de onde quer que eu esteja. Eu teria uma porra de auto-
estima.
"Neil, eu vou te dizer." Ele se senta na cama e suspira.

“Estou aqui pela mesma razão que você, pela mesma
razão que todo cara está: fui pego.”
Ou talvez eu ainda não tivesse auto-estima. De
repente, eu gosto dele. Ele fala a minha língua.
O quarto é esparso: três pequenos berços, três
armários trancados e três despertadores baratos de plástico.
Eu reivindico uma cama e um armário enquanto Adam conta sua história.
A cama é tão baixa que seus joelhos estão quase no peito.
Adam é um homem americano patriótico, trabalhador,

temente a Deus e recortado de um anúncio de revista de
1950 para loção pós-barba. Casou com a namorada da
faculdade, comprou uma casinha em Pasadena, vende
seguros, tem dois filhos e um cachorro, vai à igreja aos doming
“Mas minha esposa”, ele está dizendo, “ela não cuida
de si mesma. Ela fica deitada em casa o dia todo e não faz
nada. Chego em casa do trabalho e ela fica sentada lendo
uma revista. Perguntarei se ela quer ouvir a versão de
cinco minutos do meu dia e ela dirá: 'Não, obrigado.' Ela
nem tem o jantar pronto para as crianças.” Ele deixa cair o
queixo nas mãos e respira fundo em seus pulmões de
atleta provavelmente perfeitos.
“Não é que eu queira que ela seja uma dona de casa ou
qualquer coisa, mas estou exausta. Então eu vou fazer o
jantar para todos e ela nem limpa. Você sabe,
Neil, ligo para ela todas as tardes e digo que a amo.

Eu mando flores para ela. Faço de tudo para mostrar a ela que me
importo.”
“Mas você se importa ou está apenas cumprindo um dever?”
“É só isso.” Ele ansiosamente torce sua aliança de casamento.
“Eu jogo futebol e ajudo a administrar as ligas locais, e há essa
mulher que começou a treinar um dos times, e havia algo entre nós.
Foi talvez sete meses antes de qualquer coisa acontecer, mas quando
aconteceu, deixe-me dizer-lhe, Neil, eu não estou brincando, foi o
melhor sexo que eu já tive. Era paixão real e se desenvolveu em
amor real. Mas então minha esposa contratou um detetive particular
e isso foi o fim de tudo.”
Talvez o casamento seja como comprar uma casa: você planeja

passar o resto da vida lá, mas às vezes quer se mudar — ou pelo
menos passar uma noite em um hotel. “Então, se você estava tão
feliz com essa outra mulher e tão infeliz com sua esposa, por que
você simplesmente não se divorciou?”
"Não é tão fácil. Tenho um relacionamento maduro e estabelecido

com minha esposa. E nós temos filhos, e você tem que pensar neles.”
Ele se empurra para fora da cama e se levanta. "Quer continuar
falando enquanto corremos?"
Eu olho para as pernas dele, construídas por algum estoque

super genético e, provavelmente, por um pai rígido que o amava
apenas quando ele marcava gols. Levaria quatro passos para
acompanhar apenas um dos dele.
"Está tudo bem. Tenho planos para o jantar.
"Vejo você por aí, então." Ele começa a sair da sala, então se
vira. “Alguém já te avisou sobre Joan?”
“Joana?” E então eu me lembro.

“Ela comanda nosso grupo. Um verdadeiro ballbuster. Você vai
ver."
E lá vai Adam — saudável, saudável e fodido.
No refeitório, não há açúcar ou cafeína, apenas comida que não deixa

ninguém chapado. Em uma mesa no canto, sete mulheres com
distúrbios alimentares sentam-se com um conselheiro da equipe, que
garante que elas engulam suas calorias alocadas e não expulsem no
banheiro.
Até agora não vi nenhuma mulher com etiquetas vermelhas.
Evidentemente, as mulheres têm distúrbios alimentares, os homens
têm vício em sexo. Suponho que ambos compartilham a mesma
obsessão: os corpos das mulheres.
Sento-me ao lado do viciado em amor, que está com o vampiro
de braços quebrados na recepção. Acontece que eles são colegas de
quarto. O viciado em amor apresenta
ela mesma como Carrie; o vampiro como Dawn, um viciado em

drogas alcoólatra e indiscriminado. Sempre que Dawn precisa de
mais sobremesa sem açúcar ou café sem cafeína, Carrie pega para
ela, até que o conselheiro da mesa de jantar se aproxima.
"Pare de pegar comida para outras pessoas", ele a repreende.

“Isso é codependência, e é contra as regras aqui. Chega de
cuidados! Entendi?"
Depois que ele sai, Carrie me dá um olhar impotente.
“Mas o braço dela está quebrado! O que eu deveria fazer?"
“Você está habilitando meu vício em elenco,” brinca Dawn.
E rimos como se tudo estivesse normal. Mas quando fazemos isso,
olho para baixo e vejo a etiqueta vermelha pendurada sobre meu
plexo solar como uma letra escarlate. E começo a vacilar, a ficar
nervoso, a me perguntar se eles perceberam que, de todas as
pessoas com quem conversar aqui, eu as escolhi — as mais jovens,
as mais atraentes, as únicas duas que eu não deveria estar sentado
com.
Se eles ainda não sabem o que significa este emblema
vermelho, eles saberão em breve: Mantenha-se afastado. Este
homem é um pervertido.
5
Em um quadro de avisos do lado de fora da área de
recepção, há uma lista de reuniões de doze passos
acontecendo naquela noite: Alcoólicos Anônimos,
Narcóticos Anônimos, Viciados em Sexo e Amor
Anônimos, Comedores Compulsivos Anônimos, Jogadores
Anônimos, Metanfetamina Anônima, Co-Dependentes
Anônimos. Um menu de disfunções para escolher.
Nunca fui a nenhuma dessas reuniões, então escolho
a mais relevante: Viciados em Sexo e Amor Anônimos.
Está na sala do paciente, que serve principalmente como
uma biblioteca de quebra-cabeças de mesa para manter
os pacientes obsessivo-compulsivos ocupados
desperdiçando suas vidas. Em um círculo de sofás e
cadeiras no outro extremo da sala, há um grupo de três
homens e três mulheres, incluindo Carrie, liderados por
um homem grisalho triste, mas digno, com um fichário aberto
Ele parece um locutor que está passando por tempos difíceis.
“Meu nome é Charles e sou um viciado em sexo

depressivo e codependente com TEPT e TOC”, diz ele ao
grupo.
“Oi, Carlos.”
“Fui tratado por vício em sexo há dez anos e depois tive
uma recaída há dois meses. Como não queria criar filhos em
torno do meu vício, perdi a chance de ter filhos com minha
esposa. Nós dois estamos muito velhos agora, e eu realmente
lamento isso. E tenho medo que ela venha para a semana da
família, porque não quero perdê-la.”
Quando ele termina, ele olha para Carrie. Ela está vestida
com outra camiseta apertada. Este diz BENS DANIFICADOS
nele.
“Meu nome é Carrie, e sou uma viciada em amor e
sobrevivente de traumas.” Olá, Carrie. “Acabei de chegar aqui
hoje. Passei os últimos dois anos perseguindo um cara
abusivo que nem estava interessado em mim. Se um cara me
dá um pouco de atenção, fico obcecada. Não me sinto bonita,
e o vejo como um desafio. E porque eu quero tanto aprovação
e amor, eu faço sexo antes que eu deveria – e muitas vezes
quando eu não deveria.”
O pensamento ocorre antes que eu possa impedi-lo:
Esses grupos são um ótimo lugar para conhecer mulheres.
Carrie está sentada aqui divulgando a estratégia exata pela
qual ela pode ser seduzida. Não há nada de um homem com baix
estima ama mais do que uma mulher bonita que não sabe que
é bonita.
Eu preciso controlar minha mente. Acho que é por isso que
estou aqui.
O próximo é um homem de cinquenta e poucos anos:
cabelos grisalhos, barba grisalha, barriga pequena, bochechas
vermelhas, como um Papai Noel mais magro e viciado em sexo.
Ele olha para seu estômago e lentamente, relutantemente,
conta sua história. “Comecei indo a clubes de strip, mas depois
fui para Tijuana e encontrei esse bordel e comecei a ir lá o
tempo todo.”
Ele suga uma lufada de ar como se fosse fumaça de cigarro,
e solta o suspiro mais triste que eu já ouvi.
“E eu peguei uma DST.” Ele faz uma pausa, como se estivesse
pensando em compartilhar o resto da história, então fecha os
olhos por um momento e balança a cabeça de um lado para o
outro. “E eu ainda não contei à minha esposa sobre isso.” Ele
espera por uma reação, mas está tão quieto que você pode
ouvir uma seringa cair. “Vou fazê-la vir para a semana da família
e dizer a ela então, eu acho. Vinte e cinco anos de casamento
e todo o castelo de cartas está prestes a desmoronar.
Ele parece que seu pescoço está em uma guilhotina e ele

está esperando a lâmina cair. Ninguém parece ter muito
problema em trapacear aqui, apenas em ser pego. Muitos
homens se mataram no
cabeça ao invés de enfrentar as consequências do que ele fez em

sua vida secreta.
No entanto, as consequências raramente são a morte, a violência
ou a prisão. As consequências são que outras pessoas saberão sobre
isso e terão sentimentos e emoções sobre isso que ele não pode
controlar. A esposa do Papai Noel não vai matá-lo. Ela vai ficar muito,
muito, muito chateada. Mentir é controlar a realidade de outra pessoa,
esperando que o que ela não sabe não te machuque.
De repente, percebo que os olhos de todos estão em mim.

“Meu nome é Neil.”
“Oi, Neil,” todos eles ecoam categoricamente.
E então eu hesito. Se eu entrar como viciado em sexo, isso pode
arruinar minhas chances com Carrie.
Mas estou aqui para arruinar minhas chances com Carrie. Estou
aqui para arruinar minhas chances com todos. Se eu fizer sexo na
reabilitação, então estou realmente condenado.
Mas Carrie à parte, eu sou mesmo uma viciada em sexo? Eu sou
um caralho. Os homens gostam de fazer sexo. Isso é o que fazemos.
Colocar uma mulher bonita em um vestido apertado em um bar em
uma noite de sábado, e é como jogar carne crua em uma cova de
lobos.
Mas eu comi a carne enquanto estava em um relacionamento.
E eu menti e machuquei alguém que me ama, ou me amava — não
tenho mais certeza. Eu suponho
é isso que os viciados fazem: eles querem tanto algo que estão
dispostos a machucar os outros para obtê-lo.
“E eu sou uma viciada em sexo e amor.”
Ok, então eu suavizei um pouco.
Todo mundo está ouvindo, ninguém está julgando. Todos eles
têm seus próprios problemas. “Nunca pensei que estaria em um
lugar como este. Mas tomei algumas decisões ruins e traí a mulher
que amo. Então acho que estou aqui para descobrir por que faria
algo assim e a machucaria tanto. E porque eu quero me tornar
saudável o suficiente para ter um relacionamento comprometido,
espero que com ela. Não quero acabar destruindo um casamento
e traumatizando meus filhos porque traí”.
Papai Noel balança a cabeça e seus olhos se enchem de

lágrimas.
Eu paro lá. Decido não mencionar a outra opção que estou
debatendo: apenas dizer “foda-se, essa é a minha natureza”, e não
entrar em outro relacionamento monogâmico, ser livre para sair
com quem eu quiser, quando eu
querer.
Desde a adolescência, fomos treinados como homens — por
nossos amigos, por nossa cultura, por nossa biologia — para
desejar mulheres. Parece irracional esperar que simplesmente o
desliguemos para sempre quando chegarmos
casado. As pernas são longas, os seios são macios e para

sempre é muito tempo.
Depois que todos compartilham, Charles pergunta se alguém
está participando de sua primeira reunião. Eu levanto minha mão
e ele passa uma moeda para mim. Já vi amigos viciados pegarem
essas moedas por sobriedade e tratá-las como medalhas de ouro
olímpicas. Agora eu tenho um. Eu olho para isso. Não significa
nada para mim, exceto que hoje me tornei um deles. Um dia
sóbrio.
Nunca em minha vida pensei que seria um paciente em um
lugar como este. Na verdade, sempre achei que era normal, que
tinha sorte de ter pais que ficavam juntos e nunca me batiam,
que o segredo do meu pai não tinha nada a ver comigo, que eu
não tinha utilidade nem tempo para terapeutas, que eu era um
jornalista que escreveu sobre os problemas de outras pessoas.
Eu não tenho certeza do que me fez finalmente perceber que eu
era o único que estava louco.
Talvez fosse Rick Rubin.

6
Oceano Pacífico, cinco meses antes
Então deixe-me ver se entendi: você ama sua namorada, mas

você foi fazer sexo com outra pessoa?
Sim.
E você sabia que isso iria machucá-la, então você mentiu para
ela sobre isso?
Sim.
Bem, olhe pelo lado positivo: se ela descobrir e terminar com
você, você não está realmente em um relacionamento de qualquer
maneira. Com todas as mentiras, você esteve em seu próprio
mundo o tempo todo.
Rick e eu estamos pedalando no Oceano Pacífico. Ele é um
dos melhores produtores musicais do mundo, e por alguma razão
ele me colocou sob sua asa. No começo eu pensei que ele fosse
meu amigo para que eu escrevesse sobre ele na Rolling Stone,
mas logo percebi que nada poderia estar mais longe da verdade.
Ele não gosta de ser escrito, de ir a festas ou de estar em qualquer
situação fora de sua zona de conforto. Ainda
ao mesmo tempo, ele não tem nenhum problema em dizer a bandas

como o U2 que alguma música nova que eles gravaram é uma droga.
Então você acha que eu deveria apenas contar a ela o que
aconteceu?
É claro. Se você tivesse se comprometido a sempre dizer a
verdade a ela em primeiro lugar, você teria pensado duas vezes antes
de traí-la. Então comece agora, e talvez não seja tarde demais para
incluí-la em seu relacionamento.
Eu não acho que posso fazer isso. Iria machucá-la demais.
Bem, valeu a pena?

Definitivamente não.
Todos os dias no ano passado, Rick e eu remamos de Paradise
Cove a Point Dume para conversarmos sobre nossas vidas. Ele é
mais velho que eu, mas mais rápido, sempre algumas braçadas à
frente. Sem camisa, com uma longa barba grisalha, ele parece uma
espécie de místico da água liderando um jovem acólito.
Nossos remos juntos estão muito longe de minhas conversas

com Rick alguns anos atrás. Naquela época, ele era 135 quilos mais
pesado e raramente saía do sofá. Cada movimento parecia um
trabalho árduo para ele. Agora, todos os dias ele está se exercitando,
praticando paddleboarding ou experimentando algum novo regime de
exercícios. nunca vi ninguém passar por uma situação dessas
transformação rápida. E hoje, suponho que ele esteja tentando me

ajudar a fazer o mesmo.
Você sabe que tipo de pessoa não consegue controlar seu
comportamento, mesmo quando não gosta mais desse comportamento?
Pessoas fracas?
Viciados.
Eu não acho que sou um viciado. Eu sou apenas um cara. Não é
como eu faço isso o tempo todo.
Falou como um verdadeiro viciado. Você não acabou de me
dizer que mente para as pessoas que ama para conseguir sua dose,
que você nem fica mais chapado com isso, mas ainda faz isso?
Sim. Mas e se Ingrid não for a pessoa certa para mim? Se ela
fosse, talvez eu não trapaceasse. Ela me dá nos nervos às vezes, e
ela pode ser muito teimosa.
Você teve o mesmo tipo de reclamações sobre sua última

namorada. Quando as coisas ficam difíceis para você, você começa
a culpar a pessoa com quem está. Nada disso tem a ver com ela. Só
você. Você consegue ver isso?
Não sei.
Ele revira os olhos.
Às vezes eu sinto que sou um experimento de Rick, que ele
gosta de persuadir as pessoas a fazer exatamente o que
oposto do que eles gostam, que esta é uma tentativa sádica de ver
se ele pode fazer o cara que escreveu O Jogo largar o jogo.
Eu vou tão longe a ponto de dizer que você provavelmente

nunca experimentou uma conexão verdadeira, sexualmente ou
não, antes em sua vida. A reabilitação pode ser exatamente o que
você precisa para curar seu medo.
Que medo?
Que em um relacionamento monogâmico saudável,
você não é suficiente para a pessoa com quem está.
Ou isso ou ele está realmente tentando me ajudar.
Vou ter que pensar nisso.
Você não tem tempo para pensar. Se você quiser ser
verdadeiramente feliz nesta vida, precisa reconhecer que está
usando o sexo como uma droga para preencher um buraco. E
esse buraco é a sua auto-estima. No fundo, você se sente indigno
de amor. Então você tenta fugir desse sentimento conquistando
novas mulheres. E quando você finalmente vai longe demais e
machuca Ingrid, tudo o que vai fazer é reforçar sua crença original
de que você não é digno de amor.
Enquanto fala, Rick parece quase messiânico.
Seus olhos brilham e ele parece estar recebendo a verdade de
algum lugar mais alto, um lugar onde eu nunca estive. Já o vi ficar
assim antes — e quando mais tarde peço para repetir o que disse,
ele geralmente não consegue se lembrar.
Eu vejo o que você está dizendo. Mas também gosto de

experimentar coisas novas. Adoro viajar, comer em restaurantes
diferentes e conhecer novas pessoas. O sexo é a mesma coisa: gosto
de conhecer mulheres diferentes, experimentar como elas são na
cama, conhecer seus amigos e familiares e ter as aventuras e
lembranças.
Encha o buraco e faça sexo quando estiver inteiro, então veja
como se sente.
Talvez você esteja certo. Não faria mal tentar isso.
Há um lugar que eu conheço onde você pode ir para o vício em
sexo. É um programa de um mês. Se você for agora — e escrever para
Ingrid da reabilitação, contar a verdade e explicar que está lidando com
o seu problema — acho que ela o perdoaria.
Eu não posso ir agora. Eu tenho um par de linhas mortas

realmente grandes chegando.
Se você fosse atropelado por um carro hoje e ficasse no hospital
por um mês, não perderia nada por não poder escrever durante esse
período.
Essa desculpa é apenas a doença ter rédea solta com você. Nada vai
mudar até que você tome uma ação deliberada e comprometida para
mudar isso.
Prometo a mim mesmo que serei fiel a Ingrid de agora em diante,
que vou garantir que ela nunca descubra o que fiz e que vou provar a
Rick que não sou um viciado. No entanto, ao mesmo tempo, há uma
voz dentro de mim,
me dizendo que em algum lugar por aí, como o Pé Grande ou o Monstro

do Lago Ness, existem mulheres inteligentes, atraentes e estáveis que
querem compromisso sem exigir exclusividade sexual.
Ouça, há muita verdade no que você está dizendo.

E eu vou pensar sobre isso e tentar fazer a coisa certa. Mas eu realmente
não acho que sou um viciado em sexo.
Não é como se eu estivesse gastando todo meu dinheiro com prostitutas
ou coroinhas acariciando ou qualquer coisa.
Talvez você ainda não esteja pronto. Como um viciado, você precisa
chegar ao fundo do poço primeiro.
7
Há dez cadeiras encostadas na lateral e
paredes de trás da sala, cada uma cheia de um homem
quebrado, incluindo meu colega de quarto Adam. Charles, que
liderou a reunião de doze passos na noite anterior, está aqui.
Assim como o Papai Noel, caído em sua cadeira, a testa
enrugada de estresse, os olhos apertados.
Ele está na sala apenas de corpo. Sua mente está em outro
lugar, sofrendo. Contra a parede da frente há uma cadeira com
rodinhas, uma escrivaninha e um arquivo cheio de pecados de
incontáveis viciados em sexo.
Na parede há um grande gráfico intitulado “O Ciclo do
Vício”, com quatro termos – preocupação, ritualização, atuação
e vergonha e desespero – dispostos em um círculo. As setas
apontam de uma palavra para outra em um loop sem fim.
Enquanto estou estudando, a porta se abre e uma

mulher alta com um corpo em forma de pêra entra. Ela
tem cabelos castanhos, sujos e presos em um coque
apertado. Ela está vestindo um top florido solto sobre
calças marrons e sapatos baixos. Os cantos de seus
lábios são puxados ligeiramente para baixo em uma carranca
Ela examina o grupo, tomando cuidado para não fazer
contato visual com ninguém ou reconhecer sua
individualidade. Qualquer que seja o oposto do sexo, ela o in
Ela aterrissa com um baque na cadeira giratória.
Vasculhando uma pilha de pastas de papel pardo, ela não
mostra ternura, humanidade, humor. Ela é nossa médica
e juíza, a mãe severa que fodemos
mulheres para tentar escapar e a esposa amarga que nos

pegou.
O nome dela é Joana. E sua mera presença ondula
através da carne de cada homem na sala como um frio
violento.
“Você completou sua missão?” ela pergunta a um
homem de trinta e poucos anos. Ele é magro e loiro, com
um rosto doce e infantil, bochechas coradas e o início de
uma barriguinha estranhamente incongruente.
"Sim", ele diz nervosamente. “Devo ler?” Seu crachá
vermelho o identifica como Calvin.
"Por favor." Não há calor ou carinho em sua voz,
apenas autoridade e uma gota de condescendência. Na
verdade, tudo o que ela faz e diz é tão medido que sua
personalidade parece artificial, como uma máscara que
ela coloca antes de entrar em uma sala para enfrentar
dez homens viciados em sexo. E ela teme que, se o
deixar cair, se desistir de algum terreno, perderá o controle
desses animais predadores que deve domar e civilizar.
“Estas são as maneiras pelas quais meu vício sexual
prejudicou minha vida”, Calvin começa. “Perdi minha casa
e meu irmão. Reservei uma viagem ao redor do mundo
com ele e escapuli para ver acompanhantes em quase
todas as cidades. Gastei um total de cento e vinte e cinco
mil dólares ao longo da minha vida em acompanhantes.
“Você está contando tudo o que gastou?”

"Eu penso que sim." Ele se prepara como se estivesse prestes a
ser atacado.
“Você incluiu sua conta de internet?”
"Não."
“Você usa a Internet para encontrar acompanhantes?”
"Sim."
“Então inclua sua conta de internet. E sua conta de telefone, se
você ligou para alguma dessas mulheres, você desumanizou.” Ela
cospe a última palavra como um pregador condenando-o ao inferno.
“Inclua o dinheiro que você gastou em táxis para ver essas mulheres
e o dinheiro que você gastou em preservativos e o custo total de
qualquer viagem onde você as viu.”
"Ok, então talvez sejam duzentos e cinquenta mil?"
Um quarto de milhão de dólares ainda não é suficiente para

Joan. Enquanto ela o pressiona a somar cada centavo, mesmo que
perifericamente envolvido na busca por sexo, penso em como ganhei
a vida com meu chamado vício em sexo. Meu vício em sexo paga
meu telefone, aluguel e seguro de saúde. Ele paga café da manhã,
almoço e jantar; para filmes, livros e o computador em que estou
escrevendo; para meias, roupas íntimas e sapatos. Porra, eu não
podia me dar ao luxo de estar aqui recebendo tratamento sem isso.
Quando olho para trás na minha infância, vejo um nerd

desnutrido usando óculos baratos de plástico de aro preto,
grandes demais para meu rostinho, mas pequenos demais para
minhas orelhas gigantes. E vejo cabelos castanhos oleosos
cortados desajeitadamente curtos – a meu pedido. Eu odiava meus
Todo mundo tinha cabelo liso e eu queria me encaixar. Até
minha própria mãe me chamava de seguidora.
Minha série de derrotas continuou não apenas durante o
ensino médio – onde meu par de formatura deixou o baile com
outro cara e minhas interações mais longas com mulheres
atraentes foram durante os cortes de cabelo – mas durante a
faculdade e meus vinte anos. Sentei-me à margem, observando
outras pessoas se divertirem. Eventualmente, fiz disso um
trabalho em tempo integral e comecei a escrever perfis de
músicos para ganhar a vida. Quando as coisas ficavam
particularmente solitárias nas longas secas entre namoradas e
eu ansiava por um toque feminino, eu ia a uma casa de
massagem asiática. E mesmo ali, tive a sensação de que eles
estavam tirando sarro do meu constrangimento pelas minhas costa
Mas um dia, tudo mudou. Eu me incorporei aos maiores
homens autoproclamados mulheres do mundo, na esperança
de mudar minha série de derrotas.
Depois de viver com eles e viajar pelo mundo com eles por dois
anos, finalmente desenvolvi a confiança para conversar com as
mulheres que me atraíam e, pela primeira vez na minha vida, a
capacidade de atraí-las para mim.
O livro que escrevi sobre minha educação nas mãos desses

improváveis Lotários tornou-se tão infame que eclipsou tudo
o que eu havia feito antes. E então minha busca por sexo
não destruiu minha vida, mas fez minha carreira.
Como é frustrante, então, encontrar-me na reabilitação
cerca de cinco anos depois, tentando desaprender tudo que
gastei tanto tempo e energia aprendendo.
“Você percebe que está prejudicando essas mulheres
quando usa seus corpos para se masturbar?” Joana adverte
Calvino. Ela sente que ele está à beira das lágrimas, então
tenta levá-lo ao limite. “Eles não se importam com você.
Estas são mulheres feridas e abusadas. E você está
reencenando o trauma de infância deles.
Você é o pai deles, o primeiro namorado deles, o predador
ou quem violou sua inocência.”
E é isso. Calvino acabou. Sua cabeça rola para baixo e
ele cobre os olhos com as palmas das mãos enquanto as
lágrimas caem. Vitoriosa, Joan dá uma volta verbal pela sala,
pedindo a diferentes pacientes que relatem o que seu vício
sexual lhes custou, derrubando cada uma de suas defesas,
despojando-os do último vestígio de ego e orgulho que
retiveram de qualquer caso ou aventura ou transação.
Quando um paciente magro e descontraído, com cabelo

preto espesso e rosto cheio de crateras, menciona uma
garota com quem teve um caso, Joan recua e passa dez minuto
ensinando-o sobre o uso da palavra G. “Como terapeuta,

quando ouço a palavra garota, tenho que automaticamente
presumir que você está falando de uma menor. E sou obrigado
a denunciar isso.”
O ar na sala fica espesso com confusão e desconforto. Por
fim, o acusado responde: “Também sou terapeuta de vício em
sexo. Eu tenho praticado por quinze anos de adolescência. E
eu nunca ouvi essa interpretação da palavra garota antes na
minha vida.”
Joan levanta a cabeça como uma cobra prestes a atacar:
“Se eu ouvir você usar essa palavra novamente, vou denunciá-lo.
E você não chegará ao seu décimo sexto ano como CSAT.”
Isso o cala. Outro homem caído.

Um CSAT é um terapeuta certificado de vício em sexo, uma
designação inventada por Patrick Carnes, o Johnny Appleseed
do vício em sexo. Enquanto trabalhava com criminosos sexuais
nos anos setenta, ele começou a ver o sexo como um vício
como o álcool e acreditava que poderia ser tratado com o
mesmo programa de doze passos. Assim, nas décadas que se
seguiram, ele começou a dar palestras, escrever livros,
estabelecer centros de tratamento, estudar milhares de viciados
sexuais e suas famílias e fazer uma cruzada para fazer os
psiquiatras reconhecerem o vício em sexo como um transtorno
mental.
Na parede sobre a mesa de Joan, há uma pequena

fotografia emoldurada do próprio Saint Carnes em um
majestoso terno escuro e gravata listrada, a testa brilhando
abaixo da calvície como a auréola de um anjo, a mão
esquerda consagrada com aliança de casamento
descansando em primeiro plano. Ele está sorrindo torto e
olhando beatificamente para a sala de viciados em sexo
prostrados diante dele.
Com exceção de Calvin, que nunca teve uma
namorada séria e está aqui porque engravidou uma
prostituta brasileira, todos os outros pecadores parecem
estar no quarto para trair – alguns regularmente por
décadas, outros uma ou duas vezes. E assim eles vêm
aqui, tentando livrar-se dos pecados da carne e esperando
que São Carnes possa realizar um milagre e salvar a
família que é sua maior conquista e seu maior fardo.
Olhando para o abjeto Adam e o assustado Papai

Noel e o penitente Charles, penso: preciso resolver esse
problema agora. Porque senão eu estarei de volta aqui
como eles depois que eu me casar, lutando para manter
minha família unida.
Quando Joan nos libera, eu me levanto para ir ao
refeitório, mas ela me impede. "Você precisa ficar e
assinar alguns papéis." Ela não faz contato visual.
Em vez disso, ela se vira para o computador e abre meu

arquivo, então o estuda com cuidado.
“Então, há quanto tempo você está tomando Zoloft?” ela
pergunta.
“Eu nunca tomei Zoloft.”
"Diz aqui em seu arquivo que você faz."
“Bem, isso é provavelmente um erro. Eu nunca tomei
nenhum medicamento psiquiátrico na minha vida.”
“Então você não toma Zoloft?” Suas sobrancelhas se
erguem credulamente e ela digita no meu arquivo: “Nega
tomar Zoloft”.
É interessante como alguém acredita em um documento
mais do que em um ser humano — mesmo que as palavras
não tenham entrado no documento sozinhas. Pelo resto da
minha vida e mesmo depois dela, sempre que as pessoas
vasculharem meus registros, elas pensarão que eu tenho um
desequilíbrio químico de humor por causa desse hack.
Ela fecha meu arquivo, então chama outro documento.

Eu olho por cima do ombro dela. A impressão em negrito no
topo da tela congela meu coração: CONTRATO DE CELIBACIA/
ABSTINÊNCIA.
Evidentemente estou prestes a me tornar um padre.
Ela lê com firmeza.
EU VOU DESISTIR DO
SEGUE:
Masturbação
Material pornográfico implícito ou explícito
Comentários ou comportamentos paqueradores,

sedutores, românticos ou sugestivos
Traje sedutor
Contato sexualmente explícito ou encoberto com

outra pessoa ou comigo mesmo Fantasia sexual
secreta: Vou relatar objetificação, fantasia ou

obsessão para os funcionários apropriados E
travestismo.
“Este contrato é válido por doze semanas”, ela me informa.
"Mas eu só deveria estar aqui por quatro semanas."
Ela fixa os olhos nos meus. Suas pupilas são marrons e

vítreas, com tanta empatia quanto uma concha de caracol.
“Isso é para seu próprio benefício. Leva três meses para seu
cérebro voltar ao normal depois de todos os desequilíbrios
causados pela constante alta do sexo.”
"Então eu não posso nem fazer sexo quando eu for para casa?"
“Não se você quiser se recuperar.”
Eu assino o contrato. Como um bom trapaceiro.

"Obrigada", diz ela secamente, acenando para mim para fora da
quarto.
Check-in: a sensação que suas bolas têm quando você

pular em um lago muito frio.
8
São Francisco, um mês antes
Estou na esteira de bagagens em São Francisco

quando chega a ligação. Acabei de tirar minha mala de
rodinhas do carrossel.
“Recebi um e-mail de Juliet”, diz Ingrid.
O sangue escorre do meu rosto e meus ossos
parecem ocos. Algo em mim acabou de ser solto.
É medo. É pânico. É tristeza. É culpa. É dor. É cada emoção
ruim de uma vez. Sou leve como algodão, mas não tenho
forças para me mover.
“Tem alguma coisa que você precisa me dizer?” ela pergunta.
Posso ouvir a dor em sua voz, o choque, a descrença.
Seu mundo acaba de desmoronar pelas costuras.
O que ela pensava ser fio de ouro acabou sendo
poliéster. Ela precisa que eu diga que não é verdade.
E, mais do que tudo, quero dar a ela mais uma mentira
reconfortante para manter o tecido da nossa realidade
costurado.
Abro a boca para falar e nada sai. Não posso agravar a

lesão com mais um engano. Mas também não consigo
admitir a verdade. Eu só tenho uma outra opção.
"Posso te ligar de volta?" Se a verdade não está do meu lado,

pelo menos o tempo pode estar. “Meu avião atrasou e estou atrasado
para minha palestra.”
Estou falando em uma grande empresa de tecnologia
sobre meus livros. E agora, parece tão sem importância,
toda essa escrita, todo esse tempo gasto debruçado sobre
uma tela brilhante, tudo isso me convencendo de que tudo
isso importa. As pessoas são o que importa, não as coisas.
E eu destruí a pessoa que importa
mais para mim.
Na noite anterior, Ingrid me mandou uma foto. Ela

estava no palco de um bar, segurando um imenso troféu
no alto, um enorme sorriso bobo no rosto enquanto a
multidão a aplaudia. De alguma forma, ela ganhou um
campeonato anual de pedra-papel-tesoura contra uma
centena de outras pessoas, embora ela mal tivesse jogado
o jogo antes. Olhando para aquela imagem, eu me senti tão
animado como se ela tivesse ganhado um Oscar. Essa é
minha namorada. Ela é uma campeã. Ela pode descobrir
qualquer coisa e esmagá-la.
Bem, agora ela me descobriu.
Enquanto estou dirigindo para a palestra, com o coração

acelerado e a mente acelerada, Ingrid encaminha a mensagem
que recebeu de Juliet. Eu olho para ele, vejo “nós fizemos sexo
no carro dele, na minha cama e no meu chuveiro”, e não
consigo mais ler. Tudo o que posso imaginar é como Ingrid
deve ter se sentido ao ler essas palavras.
Essa pausa, essa procrastinação do inevitável, é como o
pavio de uma bomba. Eu a vejo queimando e estou lutando
para encontrar uma maneira de apagá-la antes que ela atinja o
detonador. Mas há muitas evidências que Juliet pode fornecer:
datas, horários, textos, técnicas. Eu não sei o que me fez
acreditar que eu poderia sair impune ou por que eu me coloquei
e Ingrid nessa posição. A primeira vez eu fiz isso por desejo.
Na segunda vez, fiz isso por culpa. Na terceira vez, fiz isso por
medo: ela ameaçou contar a Ingrid.
Então eu não fiz isso na quarta vez.
E foi aí que os portões do inferno se abriram.
Em um prédio de escritórios genérico, um homem genérico
em uma camisa genérica me leva a uma sala genérica cheia de
mais de cem funcionários genéricos. Respiro fundo e passo a
próxima hora dizendo a eles para aproveitarem suas vidas e
serem o melhor de si, enquanto em meu peito sinto minha vida
desmoronar.
Quando chego ao meu quarto de hotel, ligo meu celular

moribundo na parede. O fio é curto, então tenho que deitar no
chão embaixo da mesa.
“Acabei de falar ao telefone com Juliet”, diz Ingrid quando
atende. "Ela me contou sobre sua marca de nascença." Minha
marca de nascença é uma mancha de saliências vermelhas
levantadas, como os seis em um dado, no lado esquerdo da
minha bunda. Quando eu tinha dez anos, li o livro The Omen e
me convenci de que minha marca de nascença era a marca do
Anticristo. Ingrid teve uma interpretação mais positiva: uma vez
ela pegou um marcador preto fino e conectou as saliências
como ilhas em um mapa do tesouro de pirata, com um X no final.
“Também conversei com Luke”, diz ela. Luke é um amigo

nosso. Juliet é sua ex-namorada. “Ele está realmente chateado.”
“Eu sei, eu sei, eu posso explicar,” eu protesto fracamente.
“Neil, estou tão magoada e em choque. Estou indo embora.
E eu não quero te ver de novo. Não quero falar com você
novamente. É isso."
Então ela desliga e eu desabo chorando no chão. Apenas
soluçando alto. Lágrimas escorrem dos meus olhos e meu
estômago se revira. Eu estraguei tudo. Eu estraguei tudo. Eu
estraguei tudo.
E então chegam as mensagens: Luke diz que vai me dar
um soco na cara quando eu chegar em casa. de Ingrid
namoradas me querem morto. E estou preocupado que seus

meio-irmãos vão me dar uma surra.
Não que eu não mereça ser desfigurado. Pelo menos o
meu exterior pode corresponder a como me sinto por dentro.
Não é apenas a dor de perder Ingrid, é a dor de saber que a
machuquei. Nesta vida, não encontramos muitas pessoas que
realmente nos amam, que nos aceitam por quem somos, que
nos colocam antes de si mesmos. Talvez um ou dois pais, se
tivermos sorte, talvez alguns parceiros anteriores. Então, que
tipo de pessoa recompensa o amor de alguém com mentiras,
traição e dor?
Uma pessoa egoísta. Uma pessoa de coração frio. Uma
pessoa sem pensamentos. Um idiota. Um mentiroso. Um
trapaceiro. Um cara que pensa com o pau. Eu.
Assim que recupero uma aparência de controle sobre
minhas funções motoras, a próxima ligação que faço é para
Rick para perguntar o nome do programa que ele recomendou.
9
Enquanto ando por um corredor amarelo sem graça até o
refeitório, sinto uma dor na virilha, uma dor induzida
psicologicamente. Assinei minha alma para Joan e transformei
meu pau em um apêndice, condenado a balançar
desoladamente entre minhas pernas e apenas mijar de vez
em quando.
"Deixe-me perguntar a você", eu cutuco Charles, juntando-
me a ele na fila da comida. “Você acha que é a natureza
masculina que nos faz querer dormir com outras pessoas ou
é realmente um vício?”
"É definitivamente um vício", diz Charles com autoridade.
“E o dia em que finalmente admiti que era impotente foi o dia
mais feliz da minha vida.
De repente eu não era mais responsável. Se eu visse uma
mulher bonita na rua e me sentisse atraído, sabia que não
era minha culpa. Eu apenas desviei o olhar e disse: 'Isso é
uma doença e eu sou impotente sobre isso'”.
Em uma mesa perto da cafeteira sem cafeína, vejo uma
morena elegantemente vestida com uma etiqueta vermelha.
Ela é a primeira mulher viciada em sexo que eu vi. Então de
claro que me sento ao lado dela. Ela é alta e graciosa, como um

gato siamês, mas com uma testa grande e brilhante como um
espelho de carro. Seu nome, de acordo com sua tag, é Naomi.
Ela está sentada ao lado de uma mulher corpulenta com cabelo

preto curto, um moletom encaroçado e vários queixos e protuberâncias
no rosto. Charles se recusa a sentar conosco.
“Nós assinamos um contrato”, Charles me adverte.
“Nós não estamos dando em cima deles. Estamos apenas
comendo com eles.”
“Não devemos falar com pacientes do sexo feminino.”
"Quem disse? Não está nem no contrato.”
"Você está ameaçando minha sobriedade", ele avisa.
Naomi ri enquanto Charles se afasta, indignado. É a primeira
música que ouço desde o check-in. O riso de uma mulher é alto em
si.
Enquanto comemos, pergunto a Naomi sobre sua história. Ela
diz que traiu o marido dezessete vezes. “Lembro-me da primeira vez
que dormi com outra pessoa. Consegui meu primeiro cliente sozinho
no trabalho e meu chefe me levou para me parabenizar. Começamos
a beber, e ele se inclinou e ficou comigo. Essa aceitação foi como
uma alta para mim. Minha cabeça estava apenas girando. Eu
trapaceei desde então procurando aquela alta novamente, e é
sempre a mesma situação: querer a aceitação de homens poderosos.”
Enquanto ela fala, penso em como seria fácil transar com

ela. Ela tem um corpo bonito e parece ter um lado selvagem.
Merda, agora eu definitivamente quebrei o contrato. Talvez

Charles estivesse certo. Um arrepio de remorso me percorre: por
que estou tentando consertar as coisas com Ingrid quando ainda
claramente não sou capaz do compromisso que ela espera? Mas
suponho que é por isso que estou aqui: para me tornar capaz.
Check-in: vergonha.
A culpa é sobre quebrar as regras. Vergonha é estar
quebrado.
“Meu terapeuta me deu uma visão muito grande hoje”, a
pessoa que eu acidentalmente fantasiei está dizendo. “Eu sempre
coloco muito pensamento e cuidado nas roupas que uso. Mas
ela me disse que se vestir para chamar atenção é uma forma de
atuação e faz parte da minha doença.”
Esses terapeutas devem ser parados. Se eles conseguirem

intimidar as mulheres a se vestirem lindamente, podemos nos
mudar para o Irã.
“Ela explicou que o vício em sexo é diferente para as
mulheres”, continua Naomi. “O vício em sexo feminino geralmente
é sobre buscar o amor.”
Ela me diz que cerca de 90% dos viciados em sexo que
entram em tratamento são homens porque os caras tendem a
para agir, enquanto cerca de 90 por cento das pessoas com

transtornos alimentares são mulheres porque tendem a agir.
A mulher ao lado dela, Liz, tem uma etiqueta roxa, que ela
diz ser para transtorno de estresse pós-traumático.
Como Naomi é a única mulher viciada em sexo aqui, elas estão
no mesmo grupo. “Eles me diagnosticaram como anoréxica
sexual”, diz Liz.
Eu nunca ouvi o termo antes, então Liz explica que isso
significa que ela evita sexo. Ela nos diz que foi criada em um
culto e repetidamente estuprada por gangues. Eventualmente,
ela fugiu. E desde então, ela comeu muito compulsivamente,
negligenciou o cuidado de si mesma e se vestiu de forma
desleixada para manter os homens afastados. Todos esses
queixos podem parecer macios por fora, mas na verdade eles
servem como um escudo forte, mantendo seu corpo seguro.
Depois do almoço, enquanto ando pelo caminho para os
dormitórios, o terapeuta viciado em sexo do grupo de Joan me
vê e me aponta com o dedo.
“Seu sobrenome é Strauss, certo?” ele pergunta quando eu

junte-se a ele no gramado. Seu crachá diz TROY.
"Hum, sim."
“Eu li seu livro.”
"Faça-me um favor e não diga a ninguém quem eu sou",
eu imploro. “É muito irônico.”
“Então por que você está aqui, cara? Eu pensei que você
estaria fora vivendo a vida.”
"Eu era. Aprendi tudo isso e foi divertido. Mas em algum
momento eu quero me casar e ter uma família, então tenho que
desligar se quiser fazer isso.”
“Vou te dizer uma coisa,” Troy sussurra conspiratoriamente.
“Como terapeuta sexual, ouvi todas as histórias que existem por
aí.” Ele gesticula para longe com o braço direito. Não importa para
qual direção ele esteja apontando: todos os caminhos levam daqui
para o mundo real. “E depois de quinze anos neste trabalho, não
sei se acredito na monogamia.”
Eu bato nas costas dele e respiro um suspiro de re

mentira. "Vamos falar um pouco mais sobre isso", digo a ele.
Encontrei aqui um aliado na verdade ou um parceiro no crime.
10
Estou sentado nesta sala com Joan há três dias seguidos e

mal falei uma palavra ou aprendi alguma coisa. Hoje, Calvin
está em apuros novamente. Enquanto isso, um novo paciente
se juntou a nós: um viciado gay em metanfetamina de Las
Vegas chamado Paul. Ele está sentado em sua cadeira,
barba por fazer, coçando seu cabelo castanho curto,
provavelmente se perguntando por que ele está aqui quando
Calvin diz a Joan: , mulher, lá. Carrie."
"Oh cara, esse é o meu modelo de excitação bem aqui",

Troy murmura, dando um tapinha em seu peito.
O pescoço de Joan de repente fica vermelho. “Você está
ciente de que despir alguém com os olhos é uma violência
sexualizada encoberta?” Ela não grita – isso significaria uma
perda de controle. Sua arma é a severidade. Ela sabe
exatamente como reduzir um homem a um menino: tornar-se
sua mãe em seu pior dia.
“Desculpe, estou ciente disso,” Troy diz obedientemente.
Eu, porém, não tenho conhecimento disso. Quero

perguntar a ela: desde quando pensar se tornou um ato de
violência? Se você vir uma caixa de banco contando uma
pilha enorme de notas e imaginar pegá-la quando ela não
estiver olhando, isso é um assalto a banco disfarçado? E
quais são as acusações?
“Vá em frente, Calvin,” ela diz friamente, “diga a todos
como você pornificou Carrie.”
"Não sei. Eu só notei que ela estava com botas de
montaria e estava falando sobre como ela gostava de
cavalos, e eu também. Então eu estava fantasiando sobre ir
a cavalo com ela e me casar.”
Sempre pensei que viciados em sexo seriam criminosos
lascivos, não garotos crescidos que fantasiam em se casar
com mulheres que compartilham seus interesses. A primeira
vez que ouvi falar de vício em sexo foi quando vi uma
reportagem na adolescência. Seguiu-se um viciado em sexo
que dirigia pela cidade em uma van com um colchão na
parte de trás e de alguma forma convenceu as mulheres a
ficarem com ele lá. Ele tinha uma aparência muito comum e
estava vestido com simplicidade, e eu tinha inveja de que
sua pura determinação de fazer sexo pudesse realmente
produzir resultados quando meu desejo não estava me
levando a lugar nenhum com as mulheres.
Acho que a moral é: tenha cuidado com o que deseja.
Quando eu sintonizo de volta na sala, Charles e

Troy estão brigando sobre pronomes. Joana pede-lhes
sentar em cadeiras um de frente para o outro e conversar usando
o que ela chama de limite de comunicação. Ela
segura um cartaz que lê:
Quando EU
viu/ouviu
____________.
A história que eu contei a mim mesmo sobre isso

foi ____________.
E eu sinto ____________.
Então eu gostaria de pedir que

____________.
Charles tenta: “Quando ouvi você dizer que 'estamos

não monogâmico por design', a história que contei a mim mesmo
sobre isso foi que não é verdade para mim. Eu estou aqui para
melhorar. E eu sinto raiva. Então, eu gostaria de solicitar que
no futuro, você use I para se referir a si mesmo
em vez de nós.”
“Muito bem”, diz Joan. Então ela se volta para Tróia,
sua voz doce açucarada: “Agora você precisa responder usando
o limite da comunicação.”
Olho em volta e vejo Calvin adormecendo novamente,

sem dúvida fantasiando com Carrie. Eu vejo Adam sentado
ao lado dele, provavelmente imaginando como convencer sua
esposa de que ele foi curado. E vejo o Papai Noel se tratando
ainda mais em seu inferno mental, desesperado por atenção
e conselhos. Os problemas de ninguém estão sendo
resolvidos. Eles vão sair da reabilitação da mesma forma que
entraram, apenas com mais culpa e uma maneira estranha de
se comunicar. Eu não aguento mais.
Minha voz falha quando abro a boca para falar pela
primeira vez, e a pergunta se espalha desajeitadamente:
“Como isso é útil para nós?”
“A forma como estamos nos comunicando aqui é como
as pessoas deveriam se comunicar com seus cônjuges”, Joan
responde friamente.
"E isso vai impedi-los de dormir com outras mulheres?"
É uma pergunta séria, mas todos riem.

O rosto de Joan treme por um momento, como se estivesse
nervosa por ela estar prestes a perder o controle da sala. Mas
então ela recupera a compostura e responde: “Você aprende
a se amar aprendendo a se relacionar um com o outro”. Ela
enfatiza a palavra relacional como se fosse uma pomada
mágica de cura.
Eu não entendo completamente a resposta dela, mas

parece um conceito importante. “Não sei se entendi o que
você quer dizer com 'relacional'.”
“Ser relacional é estar no momento – no aqui e agora –
com outra pessoa. Aqui está uma ferramenta que você pode
usar: Sua mente só pode fazer duas coisas ao mesmo tempo.
Então, se você puder sentar e sentir sua respiração entrar e
sair enquanto ouve outra pessoa, você está no momento, em
ação. E quando você não está em ação, você não é relacional:
você está em reação.”
Finalmente, ela parece estar nos ensinando algo relevante.
“Então você está dizendo que, se formos relacionais com as
pessoas, não vamos querer trapacear?”
Ela me avalia por um segundo, tentando verificar se sou
uma ameaça ou não. É a primeira vez que ela realmente me
olha nos olhos. “O que estou dizendo é que, se você tiver
verdadeira intimidade com seu parceiro, não precisará procurar
sexo fora do relacionamento.”
Ela me mantém em seu olhar por mais um momento,
então lentamente examina a sala. “Esta é a razão pela qual
todos vocês acabaram aqui. Se você é viciado em sexo,
provavelmente é co-viciado em outra coisa, como drogas,
trabalho ou exercício, e isso é porque você tem medo da
intimidade e tem medo de seus sentimentos.”
Estou tentando tirar algo disso. Eu realmente sou. Mas as
acusações e diagnósticos voam por aí
rapidamente que é difícil aceitá-los apenas pela fé.

Você entra como um alcoólatra ou viciado em sexo, e sai como um
viciado em sexo alcoólatra codependente, que evita o amor com TEPT,
TOC e TDAH. Estamos todos sofrendo de baixa auto-estima, então não
vejo como nos tornar DSMs ambulantes ajuda.
Joan escreve as palavras SEXO SEGURO no quadro negro. A

sigla foi criada por Patrick Carnes, explica ela, e significa que o sexo
nunca deve ser “secreto, abusivo, uma maneira de alterar sentimentos
ou vazio de um relacionamento íntimo comprometido”.
Antes que eu possa perguntar o que há de errado com o sexo

casual e sensual, Joan anuncia que uma conselheira chamada Lorraine
vai falar conosco depois do almoço sobre algo chamado raiva erotizada.
Então ela secamente nos dispensa para comer.
“Eu guardei isso para mim, mas havia mais para o meu
fantasia,” Calvin sussurra enquanto nos levantamos para sair.
"O que é isso?" Eu pergunto.
“Estou feliz por não ter contado a ela sobre o piquenique.”
No corredor, Adam e Troy estão esperando por mim.

"Ei, cara, eu gosto do jeito que você enfrentou Joan"
Troy diz baixinho. “Todos nós temos essas perguntas, e é legal que
você as esteja fazendo.”
"Obrigado." Do canto do olho, noto Charles conversando

com Joan na sala de terapia. Tenho certeza que ele está me
contando. Algumas pessoas vivem para dizer: “Eu avisei”.
“Não ceda a ela,” Troy me encoraja enquanto nos dirigimos

para o refeitório. “Ela vai tentar quebrar você para que você
possa ser como Charles. Mas você tem que nos defender.”
“Por que vocês não falam por si mesmos?”
“Sabe, nós só queremos chegar até o final do programa.”

Ele e Adam trocam olhares. Troy está aqui porque sua esposa o
pegou tendo um caso com uma modelo importada que ele
conheceu em um site para mulheres em busca de papais de
açúcar. “Joan, ela não esquece. E quando nossas esposas vêm
para a semana da família, não precisamos que ela torne as
coisas mais difíceis para nós, se você entende o que quero dizer.
Ouvi outros caras aqui mencionarem a semana da família

como se fosse o equivalente a uma auditoria do IRS, então
pergunto a eles sobre isso. Eles explicam que o programa é
dividido por semanas aqui. Na primeira semana, você faz sua
linha do tempo; na segunda semana, você passa por uma
viagem psicológica conhecida como trabalho na cadeira; na
terceira semana, pais e esposas visitam para que seu terapeuta pos
sistema familiar; e na última semana, você elabora um plano de

recuperação para quando sair.
Para viciados em sexo, o processo da semana da família inclui
algo chamado divulgação, que exige vir
limpo com um parceiro sobre assuntos passados e transgressões.
Idealmente, uma vez que essas feridas finais cicatrizem, o
casal pode construir um novo relacionamento a partir de um lugar de
verdade e intimidade. No entanto, com um terapeuta que não tem
tato ou que tem uma agenda oculta, a revelação pode rapidamente
se transformar em desastre – e o próximo
vez que o viciado vir sua esposa estará no tribunal.
11
Los Angeles, duas semanas antes
Eu não fui capaz de chorar desde que isso aconteceu.

Eu continuo tentando. Meus amigos choraram por mim,
mas eu não posso. Eu dei a ele meu coração e minha
alma e. . . tudo.
Esta é a primeira vez que vejo Ingrid desde que ela disse
que nunca mais queria me ver. Foram necessários inúmeros
e-mails, flores e persuasão de amigos em comum para trazê-
la para a terapia de casais. E agora que ela está aqui, posso
ver o que fiz. Ela está pálida e emaciada. Seus olhos fitam
vagamente e sua pele parece desprovida de terminações
nervosas, como uma veterana de combate com transtorno
de estresse pós-traumático.
Você acha que pode confiar nele de novo?
Eu não confio nele. Eu simplesmente não. Eu me sinto sem esperança.
E me despedaça saber que eu era o estresse traumático.
Você confiava nele antes de tudo isso acontecer?

Sim claro. Eu tinha 150 por cento de confiança nele antes.

Achei que nosso relacionamento foi a melhor coisa que já me
aconteceu. Era como se eu estivesse em ec stasy todos os dias. Eu
estava andando em uma nuvem.
E como você se sentiu, Neil?
Eu me senti do mesmo jeito.
Ingrid balança a cabeça lentamente e um distante
voz dentro de suas respostas.
Isso não é possível. Deve ter havido algo errado para você fazer
isso.
Não havia, eu juro. Não tinha nada a ver
vocês. Eu acabei de receber . . . fraco.
Ingrid, o que você precisaria para considerar estar nesse
relacionamento novamente?
Eu só preciso de três coisas.
O que são aqueles?
Honestidade, confiança e lealdade.
O terapeuta se vira para mim. Eu sei o que ela vai perguntar.
A única pergunta que eu não quero
responda.
Você acha que é capaz de dar a ela essas coisas?

É isso: devo fazer uma escolha. A verdade ou a mentira. Apenas
uma palavra de qualquer maneira. Se eu escolher a verdade, corro
o risco de perdê-la para sempre. Se eu escolher a mentira, posso
ficar com ela, mas continuo vivendo no engano e corro o risco de
machucá-la novamente.
Eu começo a falar. É difícil tirar as palavras.

É difícil porque optei pela verdade.
Não posso dizer com certeza que ainda sou forte o suficiente
para resistir a todas as tentações por aí. É por isso que vou para
a reabilitação. Para que eu possa trabalhar em mim mesmo e
garantir que isso nunca aconteça novamente. Eu preciso entender
como eu poderia ter feito isso com alguém que eu amo tanto.
De repente, Ingrid me abraça e nos abraçamos com força,
com tanta dor quanto paixão. Lágrimas brotam de nossos olhos
e fazem trilhas nas bochechas do outro.
As primeiras lágrimas são de tristeza. A segunda é o alívio.

E as terceiras são as mais perigosas de todas: são a esperança.
12
Lorraine é uma mulher parecida com um pássaro na casa dos

cinquenta, com longos cabelos grisalhos desgrenhados, lábios
tensos, um bico grande e botas pretas até a coxa incongruentes.
As feridas de qualquer luta pela qual ela passou ainda aparecem
nas linhas de seu rosto.
“Estou aqui para lhe dizer que o vício em sexo vai embora”,
ela nos anuncia. “A compulsão para.
Não é como o álcool. Você pode superar isso. A recuperação,
se você trabalhar nisso, levará de três a cinco anos.”
A princípio, as palavras soam tranquilizadoras. Mas então
eu percebo que se você trabalhar duro o suficiente em quase
qualquer comportamento, ele pode ser mudado em três a cinco
anos. Suponho que outro termo para recuperação seja apenas
modificação de comportamento. Pode haver programas de doze
passos para roer as unhas, cutucar o nariz, dizer “sinto muito”
quando você não está realmente arrependido e, talvez mais
perigoso do que trair um cônjuge, enviar mensagens de texto
enquanto dirige.
Lorraine nos diz, como ela provavelmente disse a todos os
viciados que passaram por aqui na última década,
que seu pai alcoólatra a trancava em um armário por horas

quando ela tinha três anos; que ela foi molestada por um padre
aos doze anos; e que ela passou a maior parte de sua vida adulta
como codependente, presa em um casamento com um marido
abusivo e alcoólatra. Ela era uma daquelas mulheres que não
podiam deixar o homem que a espancava, até que ele bebeu até
a morte.
Quando Lorraine esteve aqui vinte anos atrás, sua etiqueta
era azul.
“O que acabei de apresentar a você foi minha linha do
tempo”, explica ela. “E todos vocês vão fazer seus próprios
cronogramas esta semana. Quem aqui tem trauma de infância?”
Todos levantam a mão, exceto eu, Adam e Papai Noel, que

provavelmente não ouviu a pergunta.
Lorraine nos encara incrédula. “O trauma vem de qualquer

abuso, negligência ou abandono.
Pense assim: toda vez que uma criança tem uma necessidade e
não é atendida adequadamente, isso causa o que definimos
como trauma.”
“Mas por essa definição, existe alguém na
mundo que não tem trauma?” Eu pergunto a ela.
"Provavelmente não", ela responde rapidamente. “Nós
vinculamos e armazenamos qualquer experiência que nos traga
medo ou dor porque precisamos reter essa informação para sobreviv
Tudo o que você precisa fazer é tocar um fogão quente uma

vez e seu comportamento em torno de fogões quentes muda
pelo resto de sua vida - se você se lembra de ter se queimado
ou não. Portanto, pense em qualquer coisa em sua infância que
tenha sido menos do que estimulante como um fogão quente, e
quando você se deparar com algo semelhante quando adulto,
isso pode desencadear sua resposta de sobrevivência aprendida.
Temos um ditado aqui: se é histérico, é histórico”.
Olho ao redor da sala. Todo mundo parece estar absorvendo
isso. Acho que estamos todos quebrados de alguma forma,
quer optemos ou não por admitir isso para os outros — ou para
nós mesmos.
“A maioria das pessoas pensa no trauma como resultado
de uma agressão séria, desastre ou tragédia”, continua Lorraine.
“Mas um pequeno trauma, como um pai criticando você dia
após dia, pode ser tão prejudicial porque está acontecendo
regularmente. Pense desta forma: se um trauma de T grande é
dez na escala e um trauma de T pequeno é um, então dez
pequenos traumas podem ser tão poderosos quanto um grande
trauma.”
Lorraine é direta e severa, talvez até mais do que Joan,
mas há algo na maneira como ela fala que eu confio. Ela não
parece ter um chip em seu ombro, nem soa como um membro
da Maioria Moral. E pelo menos eu estou
finalmente aprendendo alguma coisa, embora ainda não tenha

certeza de como isso me ajudará a ser fiel a Ingrid.
“Quando as crianças vivenciam um trauma, elas tendem a
absorver os sentimentos de seus agressores e armazená-los em
um compartimento em sua psique que chamamos de núcleo da
vergonha. Ele contém as crenças de que sou inútil, não sou amado,
não mereço. Toda vez que você se sente inferior – ou inferior – a
alguém ou se sente superior – ou superior – essas são falsas
crenças geradas pelo seu núcleo de vergonha. Porque, na
realidade, todas as pessoas no mundo têm o mesmo valor e valor.”
Charles interrompe: “Mas estou pensando em você como

melhor do que eu porque você é um especialista neste assunto e
sabe muito mais do que eu. Então, o que eu deveria fazer?"
— E como você se sente sobre isso? Lorena pergunta.

“Estou aqui, uma viúva de meia-idade, dizendo a você como viver
sua vida. Estou lhe dizendo que sei mais do que você e sou um
com você.
“Sinto raiva”, diz Charles.
"Exatamente. Para sobreviver a crenças e sentimentos
dolorosos, muitas vezes os mascaramos com raiva. Dessa forma,
não precisamos sentir a vergonha por trás disso.”
Olho para Joana. Ela está olhando para Lorraine com uma
carranca, batendo o lápis contra os nós dos dedos. “A recompensa
da raiva é domínio, controle ou poder”
Lorena continua. “Então, a raiva faz você se sentir melhor e

mais forte. E quando você usa o sexo para restaurar o poder
ou se sentir melhor consigo mesmo de maneira semelhante,
isso é conhecido como raiva erotizada”.
Oitenta e oito por cento dos viciados em sexo, ela nos
conta, vieram de famílias emocionalmente desvinculadas.
Setenta e sete por cento vieram de famílias rígidas ou rígidas.
E 68% dizem que suas famílias eram distantes e rígidas.
“Ser supercontrolado quando criança faz com que você

minta quando adulto”, conclui ela. “Então, a teoria do vício em
sexo é que quando você se sente fora de controle ou sem
poder, você se esgueira e age sexualmente para restabelecer
o controle e recuperar seu senso de si mesmo.”
É aqui que ela me perde. “Você pode dar um exemplo
específico?” Eu pergunto.
"Bem", ela responde com o que parece ser um toque de
condescendência, "qual é a sua história?" Ou talvez não seja
condescendência, é carinho, e meu núcleo de vergonha está
apenas queimando.
“Eu traí minha namorada.”
“Mãe rígida?”
"Sim."
“Mamãe não estava emocionalmente disponível, então
você está tirando seu pau e usando-o para procurar amor.
E o sexo está curando a raiva da mamãe por não ser
acessível." Ela fala com rapidez e confiança, como se minha história

fosse exatamente o que ela sabia que seria.
"Então eu fodo outras mulheres para se vingar da minha mãe?"
“E ter uma maneira emocionalmente segura de obter o carinho,
a aceitação e o conforto que você nunca recebeu da mamãe.”
"Não sei. Parecia que minha mãe estava sempre lá para mim.”
Ela acaricia seu cabelo, que é tão prodigioso e grosso quanto a

barba de Rick Rubin, e faz uma pergunta que vai alterar toda a minha
compreensão da minha infância: “Ela estava lá para você? . . ou
você estava lá para ela?”
13
Chicago, trinta anos antes
Você conhece o exercício, certo?

Sim mãe.
Então vamos repassar novamente.
Meu irmão mais novo e eu estamos na mesa da cozinha,
comendo cereal. Minha mãe está sentada em uma cadeira
encostada na parede, suas pernas descombinadas
penduradas em seu vestido em diferentes alturas do chão.
Ela nos observa atentamente enquanto falamos, tentando
verificar se podemos confiar em nós.
Se você morrer, não podemos contar a ninguém.
O que você faz se o tio Jerry ligar?
Não diga nada até depois.
Certo.
Então vamos te cremar.
E se papai lhe disser que devo ser enterrado? Ele quer
isso, você sabe. Ele não se importa.
Não o ouvimos. Nós garantimos que você seja cremado. Em

seguida, colocamos as cinzas em uma caixa de Marshall Field.
E depois?
Levamos a caixa para o Lincoln Park e espalhamos as cinzas.
Certo. E nenhum funeral. Nenhum obituário. Sem sepultura.

Nada. Não conte a ninguém que morri até que esteja feito, para o
caso de tentarem impedi-lo.
Podemos ficar com a caixa?
Sim, pode ficar com a caixa.
E então vamos encontrá-lo na livraria, certo?
Nos encontraremos no Kroch's & Brentano's em Water Tower.

No corredor da revista.
Devemos nos encontrar nas revistas masculinas ou nas revistas
femininas?
Qualquer um está bom.
Vou dar uma olhada nas revistas de música, ok? Eu vou esperar
por você o dia todo. Caso você esteja atrasado.
Você pode não saber que eu estou lá, mas eu estarei lá. Vou
tentar encontrar alguma maneira de informá-lo.
Eu a imagino como um fantasma, em outro plano onde ela pode
me ver, mas eu não posso vê-la. E espero que, se ficar alerta, serei
capaz de sentir sua presença em um
rajada de ar frio ou um farfalhar repentino de páginas de

revistas ou . . .
Talvez você possa sussurrar algo no meu ouvido.
Vou tentar fazer isso. Agora apresse-se e lave os
pratos. O ônibus escolar estará aqui em dez minutos e
você está sempre atrasado.
Sim mãe.
Nunca se esqueça do que eu te disse hoje.
14
Quando Lorraine termina sua palestra, os lábios de Joan se
curvam em algo parecido com um sorriso. Ela caminha até a
frente da sala, então nos deixa relaxar por um momento
sabendo que agora não somos apenas viciados em sexo, mas
viciados em raiva. Nós fodemos mulheres porque odiamos
nossas mães.
Embora satisfeita com o efeito da conversa, Joan também
parece ressentida com o comando fácil de Lorraine e sua
influência sobre nossas mentes. Ela acena bruscamente para
Lorraine sair, então se vira para nós e fala. “Um dos outros
terapeutas me disse que os viciados em sexo masculino têm
conversado com sua viciada em sexo feminino. Eu disse a ela
que não pode ter sido meus caras, deve ter sido o paciente
dela. Mas então” – ela ergue as sobrancelhas fingindo choque
– “me foi dito por um membro deste grupo exatamente o que
aconteceu e quem foi o responsável.”
Lanço um olhar sujo para Charles e me viro para sentir o

brilho de Joan aquecendo meu rosto. “Você vê as mulheres como
seres humanos ou você os vê como uma coleção de partes do

corpo?” ela pergunta.
É uma pergunta tão carregada e crítica que não sinto
vontade de respondê-la. Fico em silêncio para ver se consigo
fingir que é retórica, mas ela apenas repete a pergunta. Então
eu digo a ela: “Eu os vejo como seres humanos. Eu não sou
um serial killer.”
“Eu discordo”, ela responde, como se realmente
acreditasse que transar com os olhos de alguém deveria ser
punido com injeção letal.
Eu quero ser uma pessoa melhor. Quero ter um
relacionamento saudável. Eu não quero enganar e mentir e
causar dor. Mas fora da palestra de Lorraine, a cura salva-
vidas e as lições de intimidade que Rick disse que eu
experimentaria aqui não estão em lugar algum.
Estou tentando ter uma mente aberta, mas Joan continua
enchendo-a de lixo.
“Como consequência do seu comportamento”, Joan
continua, “vou ter que tomar medidas mais extremas com
todos vocês.”
Ela segura vários pedaços de papel, cada um com as
palavras APENAS PARA HOMENS . “Estou exigindo que
todos vocês usem isso em seu crachá, exibido com destaque
em todos os momentos. A partir deste momento, você não
tem permissão nem para dizer oi para uma mulher.
E se ela disser oi primeiro? Eu me pergunto. Mas Joan já

fechou as brechas, com exceção de uma: Paul, o único membro
gay do grupo, também tem um distintivo que diz APENAS
HOMENS. “Apenas aponte para o seu crachá se eles disserem
alguma coisa.” Ela bate a caneta na mesa. “Se algum de vocês
for visto conversando com uma mulher, eu vou ouvir sobre isso.”
Agora não temos apenas a letra escarlate, fomos

amordaçados. É difícil dizer se eles estão curando nosso núcleo
de vergonha aqui ou aumentando.
"E você?" Carlos pergunta. "Você é uma mulher. Temos
permissão para falar com você?”
E essa é a gota d'água para mim. Eu não sou como
Charles. Não posso obedecer cegamente. Precisa fazer sentido
pra mim. É como ir a uma igreja para ser uma pessoa melhor,
mas depois ouvir que a única maneira de fazer isso é adorando
um deus em que você não acredita.
Talvez eu tenha vindo ao lugar errado para aprender a ser
íntimo e decidir se um relacionamento sexualmente exclusivo é
certo para mim. Até agora, este programa é tão eficaz no ensino
da monogamia quanto as prisões são no ensino da moralidade.
“O princípio subjacente de tudo isso é a ideia de que, se

tivermos verdadeira intimidade em nosso relacionamento, não
buscaremos fora do sexo?” pergunto a Joana.
“Sim,” ela diz, com alguma satisfação que eu pareço estar entendendo.
Eu pergunto novamente, só para ter certeza. Quero que todos na sala

ouçam exatamente o que ela está dizendo. O conselho anterior de Troy
ecoa na minha cabeça: não vou deixar ela me quebrar. Eu vou ser a voz da
sanidade. Da realidade.
“Se você tivesse verdadeira intimidade em seus relacionamentos”, ela

repete, “você não estaria procurando sexo fora de seus relacionamentos”.
“Eu tenho essa coisa que está passando pela minha cabeça o dia
todo. Tudo bem se eu perguntar?”
"Por favor." A palavra goteja com desdém.
“Está tudo bem em usar o quadro-negro?” Não conheço outra forma
de explicar.
Suas costas endurecem. Ela sente que algo imprevisível pode estar
prestes a acontecer. Ela me lança um olhar severo, tentando derreter minha
determinação enquanto me aproximo do quadro-negro.
Minha mão começa a tremer quando pego um pedaço de giz. Escrevo

as palavras dela no quadro:
Se a verdadeira intimidade, então nada de sexo fora.

"Essa é a sua teoria", eu começo. “Se você reduzir
para a ideia básica por trás disso, o que você obtém é isso. . .”
Se verdadeiro X, então não fora de Y.
“E o problema é que essa equação simplesmente não é

verdadeira.” Na escola, nunca pensei que teria que usar
álgebra na vida real. Eu estava errado. “Mesmo se você fizer
X e Y exatamente a mesma variável, ainda não funciona.”
Continuo escrevendo:
Se verdadeiro X no relacionamento, então não há X fora
do relacionamento.
“Digamos, por exemplo, que sua esposa seja a melhor
cozinheira do mundo. Então, de acordo com o que você está
dizendo, você nunca mais vai querer comer em outro lugar.”
Joan permanece quieta, me observando, me deixando
escrever em seu quadro-negro, me sacudindo com sua falta
de reação.
Se é verdade cozinhar no relacionamento, então nada de
cozinhar fora do relacionamento.
“Mas isso não é verdade. Às vezes você quer ir a um
restaurante para variar.”
Os caras estão assistindo atentamente. Calvin está na
ponta da cadeira. Troy tem um grande sorriso no rosto.
As sobrancelhas de Charles estão profundamente franzidas.
É isso. Este é o momento em que eu refuto todas as
besteiras que Joan está nos alimentando. Ela pode ter sua
vingança depois, seja ela qual for.
“Agora vamos voltar à sua premissa original. E vamos
torná-lo ainda mais forte.”
Se a verdadeira intimidade, então não há intimidade externa.

“Mesmo essa afirmação não é verdadeira. Você busca intimidade
com seus pais, irmãos e amigos. Não importa como você olhe, o que você
está nos dizendo não faz sentido.”
Ela não diz nada. Eu pressiono.

“A outra questão é que você está nos dizendo que intimidade e sexo
estão relacionados assim. . .
“Mas para os homens – e não apenas os caras aqui, mas todos os

homens que eu conheço – eles são assim. . .
"Então, o que devemos fazer com todo o resto de nossas

necessidades sexuais?"
Os caras estão olhando boquiabertos agora, grandes
sorrisos idiotas em seus rostos, exceto por Charles, que está
olhando para Joan implorando. Devo estar interferindo em sua
recuperação novamente.
"Aqui está o que estou começando a pensar", eu pressiono.
“As pessoas estão sob a falácia lógica de que quando seu
parceiro quer sexo fora do relacionamento, é prejudicial à sua
intimidade juntos. Estamos todos aqui porque não acreditamos
que isso seja verdade, mas acreditamos que a mentira e o
engano prejudicam a intimidade. Então, em vez de sermos
treinados novamente para aceitar um relacionamento nos
termos de nossos parceiros, poderíamos facilmente retreiná-los
para aceitar o relacionamento nos nossos termos.”
Troy se atreve a aplaudir. Calvin dá um soco no ar em

solidariedade.
Joan não muda sua expressão. Ela é fria como pedra. “Cruz
para fora se intimidade, então nenhuma intimidade externa,” ela me
instrui. Eu faço como ela diz. “Agora risque, se estiver cozinhando,
então nada de cozinhar fora.” Eu faço isso.
“Agora volte para o seu lugar.” Eu faço isso também.
Ela olha para o quadro. "Estou processando", diz ela.
A sala está completamente silenciosa. É como um xadrez

Combine. E todos estão se perguntando se é xeque-mate.
Finalmente, Joan se vira para mim. “Você precisa definir
intimidade.”
“Você gostaria que eu fizesse isso agora?”
“Você pode fazer isso no seu próprio tempo.”
Estou decepcionado, porque eu sei a resposta. Ouvi isso
recentemente na sala dos pacientes, onde alguém estava citando
Pia Mellody, que é o Patrick Carnes da codependência: Intimidade
é compartilhar sua realidade com outra pessoa e saber que você
está seguro, e eles podem compartilhar sua realidade com você e
também ser seguro.
“A definição não tem qualquer influência sobre o que eu disse,

de qualquer maneira,” digo a ela.
“Acho que você está intelectualizando para poder controlar o
vício em geral”, ela responde.
Isso é tudo que ela tem: me dizer para parar de usar meu
cérebro? “É o que dizem ditadores como Pol Pot, Hitler e Stalin.
Eles queimam livros e matam intelectuais para que ninguém
possa questioná-los.”
A resposta sai mais conflituosa do que deveria ser. Não
estou tentando me rebelar. Todos os meus relacionamentos
foram desastres e algo claramente precisa mudar. "Então me
ajude", eu acrescento, sendo suplicante. “Eu quero estar errado.
Eu quero me recuperar.
Mas preciso conciliar essa contradição. O que você está nos
ensinando precisa realmente fazer sentido para mim.”
"Este é o seu viciado lutando contra a recuperação e não

deixando ir", diz ela bruscamente. Ela olha para o relógio e se
levanta. "Vocês estão todos atrasados para o jantar."
Ela caminha até a mesa e começa a juntar papéis,

mantendo a cabeça erguida como se tivesse vencido. No
entanto, todos, possivelmente até mesmo Charles, estão
cientes de que ela não apenas falhou em defender sua tese,
mas muito possivelmente não conseguiu.
“Neil,” sua voz soa quando estou saindo, alto o suficiente
para todos ouvirem, “por que você não apresenta sua linha do
tempo para o grupo amanhã?”
15
No jantar sentamos todos juntos, os demônios vermelhos do
mesa redonda. Estamos ligados agora na fraternidade, no
celibato, na vergonha, na doença, na punição, na vitória e
pelo fato de estarmos todos usando placas que dizem
APENAS HOMENS em volta do pescoço.
Perto vejo as anoréxicas em suas roupas de ginástica;
Carrie, a viciada em amor; Dawn, a alcoólatra; e Naomi, a
viciada em sexo feminino. E eles são fantasmagóricos para
mim, criaturas em uma dimensão alternativa com as quais
não consigo me comunicar.
O clima em nossa mesa só de homens é jubiloso e
conspiratório. Se os caras pudessem me carregar nos
ombros, eles o fariam. Eu sou seu cavaleiro branco, seu
cordeiro sacrificial, seu pau em látex brilhante. Enquanto
isso, na minha perspectiva, algo mudou. Toda essa noção
de vício em sexo está se desfazendo para mim. E muito
possivelmente para todos os outros. Eu vim aqui com
expectativas tão altas de Rick, mas tudo que a reabilitação
fez até agora é me deixar ainda mais ambivalente sobre
relacionamentos e monogamia.
“Sabe, estive pensando em como Joan me fez somar

todo o dinheiro que gastei”, diz Calvin.
No mundo exterior, ele é um day trader que escreve sobre
teorias da conspiração online. “E a maior parte valeu a
pena. Eu estava com uma estrela pornô da Sérvia uma
vez. Ela era dez. Custou mil dólares — e ela trabalhou
comigo. Foi a melhor experiência da minha vida. Não troco
isso por nada.” Ele faz uma pausa e reflete. “Provavelmente
gastei mais dinheiro com comida ruim.”
“E encontros ruins”, acrescenta Troy, o terapeuta

sexual. Ele abre três sacos de substituto de açúcar e os
coloca em seu substituto de café.
"Ok, aqui está a minha principal pergunta sobre este
lugar", eu começo. “Acho que nos ajudar a entender nossas
infâncias e curar nossas feridas, isso ajudará nossos
relacionamentos. Mas não sei se compro a ideia de que
querer dormir com outras pessoas é uma resposta doentia
a esse trauma. Quer dizer, eles me disseram quando eu
fiz o check-in que se eu me masturbei, eu era um viciado
em sexo.”
“Deixe-me dizer-lhe, Neil, fique feliz por não estar em
um dos programas de vício em sexo administrados pela
igreja”, diz Adam. “Minha esposa me fez ir a um desses
antes de eu vir aqui. Eles consideram você um viciado em
sexo se você faz sexo antes do casamento.”
Troy abre um grande sorriso. “Nós somos caras. Nós gostamos de sexo.
Para onde quer que você vá, você vê fotos de mulheres lindas que
parecem querer satisfazer todos os seus desejos. E depois? Se
você pensa em dormir com eles, de repente você está doente e
doente?
Adão assente. “Sabe, não acho que existam muitos caras que,
se estivessem sozinhos em um hotel e uma mulher bonita quisesse
fazer sexo com eles, recusariam.”
De repente, Charles dá um tapa na mesa, como se tentasse

nos tirar de um transe. “Esta é a sua doença falando agora, pessoal.
Você não pode confiar em seus pensamentos. Seu vício dirá
qualquer coisa para continuar controlando você.”
“Quantos anos tem sua esposa, Charles?” pergunta Tróia.

"Ela tem quarenta e oito."
— E você a acha atraente?
"Não sei. Ela é uma pessoa bonita.”
"Então, quando foi a última vez que você fez sexo com ela?"
"Oito anos atrás. Mas eu trouxe isso para mim.”
“Adão, e você?” pergunta Tróia.
“As coisas estavam bem no começo”, diz Adam. “Mas quando
tivemos filhos, tudo mudou. Ela simplesmente se deixou levar.
Tentamos ter noites de encontro uma vez por mês, mas tudo o que
ela fazia era se preocupar com as crianças. Então
paramos de fazer isso também. E” – ele hesita – “vou lhe dizer

honestamente: eu gosto de sexo que é excitante, você sabe,
e às vezes um pouco áspero. E ela fica lá uma vez a cada
três meses, e basicamente me deixa fazer sexo com ela.”
E eu me pergunto: essa é a realidade para a qual estou

aqui treinando? Cortar meu pau em um casamento sem sexo
e depois me patologizar como um viciado em sexo se eu
quebrar uma noite e dormir com uma mulher no escritório ou
uma ex-namorada enquanto estou viajando ou até mesmo
uma prostituta, só para consegue lembrar como é ter meu pau
chupado?
“Então, o que eles esperam?” A exasperação empurra as
palavras para fora de mim com uma força inesperada. “É
apenas bom senso. Se o seu parceiro não faz sexo com você
há um ano, você deve ter permissão para fazê-lo em outro
lugar sem ter que jogar fora todo o seu relacionamento.”
"Sexo não é algo que você tem direito apenas porque

você quer", Charles me adverte. “Fingir assim é senso comum
e natural é uma forma de negação. Se você quer alguma
esperança de superar isso, precisa reconhecer e intervir em
seu pensamento distorcido. Quando vejo outra mulher, por
exemplo, digo a mim mesma: Maçã vermelha brilhante, pomar
errado”.
Enquanto os caras riem do pomar de Charles, sou tomada por uma

ansiedade esmagadora. Uma visão se forma na minha cabeça antes que
eu possa impedi-la. Pego meu caderno e desenho para os caras. Eles se
reúnem para olhar:
O DILEMA MASCULINO
1. O sexo é ótimo.
2. Os relacionamentos são ótimos.
3. Os relacionamentos crescem com o tempo.
4. O sexo envelhece com o tempo.
5. Ela também.
6. Assim, o problema.
É uma coisa horrível escrever ou mesmo pensar. Ninguém jamais

poderia dizer isso na sociedade normal. Eles seriam destruídos por isso.
Mas parece ser a razão pela qual a maioria desses caras de meia-idade
está aqui. “Isso resume tudo,” Adam diz tristemente.
Troy balança a cabeça resolutamente. “Você quer ouvir algo trágico?

Eu ainda estava fazendo sexo com minha esposa quatro vezes por semana
quando comecei meu caso”.
“E esse é o problema com o que Joan está nos contando.” Calvin abre
um grande sorriso culpado. “O sexo nem sempre é sobre intimidade. Às
vezes você só quer um pouco de sexo sujo.”
Charles pula da cadeira e anuncia: “Isso não é bom para

minha recuperação”. Ele pega sua bandeja e vai embora,
procurando outra mesa sem
mulheres.
O conselheiro que supervisiona as anoréxicas se vira e

faz uma careta para nós, então reduzimos a um sussurro.
Somos insurgentes de reabilitação planejando uma revolução.
“Querer variedade é natural,” Troy diz baixinho enquanto os
caras se aproximam.
Penso em um dos livros que o atendente confiscou

quando fiz o check-in: Ulisses, de James Joyce.
O personagem principal é um vendedor de publicidade com
uma linda esposa em casa. E ele vagueia por Dublin,
preocupado que ela esteja traindo enquanto ele fica
boquiaberto e fantasia com mulheres de todas as idades,
formas e tamanhos. A certa altura, ele começa a se perguntar
qual é o seu problema, até concluir com muita simplicidade:
“O novo que eu quero”.
Papai Noel ergue os olhos de sua comida e fala pela
primeira vez hoje, reconhecendo melancolicamente: “É por
isso que continuei indo para Tijuana. Você poderia andar em
um clube com sessenta mulheres e ter qualquer uma delas. E
as coisas que eles podiam fazer. . .” Então ele abaixa a cabeça
novamente.
“Você sabe quem seria a melhor namorada?”

Calvin interrompe, seus olhos se iluminam como se ele tivesse
acabado de fazer o piquenique perfeito. “Aquela mutante dos
X-Men que pode se transformar em quem ela quiser. Eu nunca
me cansaria dela! Você poderia fazer sexo com Megan Fox
uma noite e Hillary Clinton na próxima.”
“Hillary Clinton?!” Troy pede por todos nós.
"Por que não? Apenas pela experiência”, diz Calvin.
“Não me diga que você nunca pensou nisso.”
Nenhum de nós tem.
Estou intoxicado com a discussão. Mas no fundo da minha
mente, eu me pergunto: somos um bando de viciados em
negação – viciados se unindo por nossa droga favorita – ou
isso é apenas um subproduto natural da alta testosterona?
Em um livro sobre evolução que li uma vez, o escritor citou
pesquisas que afirmam que as mulheres gays têm menos de
dez parceiros em média em suas vidas, enquanto os homens
gays têm mais de cem. Então eu pergunto a Paulo sobre isso.
“Já estive com mais de mil caras”, ele confirma. Sua voz
é rouca e áspera, e ele tem o olhar permanente de alguém que
teve uma noite difícil de festa. “Mas é diferente em nosso
mundo, porque todo mundo quer fazer sexo casual. Então,
literalmente, os caras vinham até a minha casa e, em vez de
ficarem, eles ficavam online e convidavam mais pessoas. Eu
teria
uma dúzia de caras fodendo uns aos outros na minha sala às

vezes.”
“Uma vez entrevistei uma mulher que estava passando
por uma mudança de sexo para se tornar um homem”, digo a ele.
“E ela me disse que assim que a terapia com testosterona
começou, ela de repente entendeu os homens, porque ela
queria foder tudo o que se movia.”
“Imagine se as mulheres fossem conectadas como os homens,” Calvin
diz sonhadoramente.
“Seria um pandemônio sexual,” Troy responde com um
grande sorriso.
Faço a pergunta final: “Então, se sua esposa permitisse
que você dormisse com outras mulheres, você permitiria que
ela dormisse com outros homens?”
E para minha surpresa, todos os caras, exceto Adam,
dizem que sim. “Eu não gostaria, mas acho que teria que
engolir isso”, diz Troy.
Adam parece desconfortável. Podemos ter ido longe
demais para ele. Ao contrário do resto de nós, ele não anseia
por sexo casual ou variedade; ele só quer o amor e a paixão
que faltam em seu casamento. "Aqui está a coisa que você
está perdendo", diz ele, colocando suas mãos enormes sobre
a mesa. “Nós não estamos aqui porque fizemos sexo. Estamos
aqui porque mentimos, porque queríamos tanto sexo que
violamos nossos próprios valores morais”.
Ele tem um ótimo ponto. Ninguém está aqui por

promiscuidade. Eles estão aqui apenas para trapacear.
Exceto por Calvin, é claro, e por Paul, que veio para largar a
metanfetamina, mas foi colocado em nosso grupo quando
mencionou festas de sexo em sua entrevista de admissão.
“Você está certo,” digo a Adam. “Se fôssemos solteiros e
tivéssemos exatamente o mesmo, não estaríamos aqui. Não
seria considerado um vício. Se a regra fosse que você não
pode comer sushi depois de casado, estaríamos todos aqui
como viciados em sushi.”
“Então, talvez a resposta para o seu dilema masculino
seja que você se sacrifique”, Adam responde. “Você resiste
e fica ao lado de sua esposa, para o bem ou para o mal,
como uma escolha que você é levado pela fé em sua família
e em Deus.”
“Mas por que você deveria fazer esse sacrifício?” Eu
pergunto. “Um relacionamento deve ser sobre o que vocês
dois querem, não sobre o que vocês dois não querem que o
outro tenha. Deve haver alguma maneira pela qual possamos
ter liberdade e nossos parceiros possam ter segurança – ou
todos nós podemos ter liberdade e segurança.”
Troy aponta um dedo comprido para mim. “Veja, esse é

o tipo de pensamento que eles querem parar por aqui.” Ele
estica um braço ao longo das costas da cadeira vazia de
Charles. “O problema com a terapia é que eles tentam
normalizar todos e mantê-los no meio do caminho. Mas se você

faz isso com uma sociedade, não há inovação. Nada de novo é
criado. Você precisa daquele homem das cavernas que disse:
'Não podemos ficar esperando que um raio caia toda vez que
precisamos de fogo. Nós mesmos temos que fazer fogo. Eles
provavelmente pensaram que ele estava louco, esfregando
pedras e gravetos. Hoje o diagnosticariam como obsessivo-
compulsivo. Mas então ele lhes deu fogo e, de repente, todos
estavam fazendo isso. Você não pode chegar a lugar nenhum
como civilização sem esse tipo de pensamento e foco originais.
São as pessoas com comportamentos compulsivos que mudam
o mundo.”
Enquanto Calvin dá um soco em Troy, eu me pergunto se

talvez a vida me trouxe aqui não para curar meu suposto vício
em sexo, mas para assumir uma missão para melhorar meus
colegas e o mundo: redesenhar relacionamentos para que as
necessidades de ambos sexos podem ser encontrados. Porque
eles não parecem estar funcionando como estão.
16
Chicago, vinte e oito anos antes
Suspirar. Você é o único com quem posso falar por aqui.

E os seus amigos?
Eu não posso confiar neles.
Nem mesmo Denise?
Ela é a pior de todas. Nunca diga nada a ela.
Ela não consegue ficar de boca fechada.
OK.
Estou deitada na cama vestindo um pijama de Guerra nas
Estrelas , uma revista em quadrinhos e uma lanterna debaixo das cobert
Minha mãe está sentada em uma pequena cadeira puxada para
o lado da cama. Às vezes, quando ela está realmente irritada
com meu pai e não tem mais ninguém com quem conversar, ela
vem até mim. Este é um desses momentos.
Acabei de chegar aqui com seu pai.
É por isso que vocês estavam brigando?
Você ouve o jeito que ele me xinga – na frente de você e seu
irmão? Ele é um monstro. Acho que ele não tem sentimentos.
Ele deve ter sentimentos.

Ele não. Ele é como uma rocha. Lembro que voltei da
minha lua de mel e perguntei à minha mãe se podia me
divorciar dele. E ela disse que não me deixaria voltar para
casa se eu fizesse isso. Então eu fiquei com ele, aquele
bastardo egoísta.
Você não tem que ficar com ele agora, no entanto.
Você é um adulto.
Para onde vou? Quem vai cuidar de mim?
Eu cuidarei de você.
Você não tem idade suficiente. Onde você vai conseguir
o dinheiro?
Não sei. Talvez você possa encontrar outra pessoa com
mais dinheiro do que o papai. Então você pode ser feliz.
Talvez quando eu era mais jovem. Eu tinha muita
confiança então. Até participei de um concurso de beleza.
Muitos homens queriam namorar comigo, se você pode
imaginar isso. Mas seu pai me arruinou. Você sabe que ele
só conseguiu duas vezes: uma para você e outra para seu irmã
Sério?
Sério. Ouça-me, Neil: faça o que fizer, nunca cresça
para deixar alguém tão infeliz quanto seu pai me faz.
17
Depois do jantar, atravesso os jardins até a sala de arte
para trabalhar na minha linha do tempo. Devo apresentar
a história da minha vida desde o nascimento até os oito
anos de idade, que Joan, sem dúvida, planeja usar para
me patologizar como viciado em sexo e encrenqueiro. E
se essa é a verdade, que assim seja. Vou dar a ela tudo o
que ela precisa.
Pego uma longa folha de papel pardo e um marcador
preto. Então eu li um folheto com instruções. Devo escrever
minha mensagem de família no topo do papel de
açougueiro; palavras descrevendo os diferentes membros
da minha família nas laterais; e, na parte inferior, uma lista
das regras da minha família, meu sentimento mais
prevalente ao crescer e o papel que desempenhava no
meu sistema familiar.
Depois, devo desenhar uma longa linha horizontal de
um lado ao outro do papel e escrever memórias positivas
acima e memórias negativas abaixo em ordem cronológica.
Carrie está sentada a duas cadeiras de mim trabalhando em

sua própria linha do tempo, seus mamilos praticamente saindo
pela camisa. “Como vai, Neilio?” ela pergunta com um sorriso
amigável.
Eu mostro a ela o pedaço de papel no meu distintivo e traço
uma lágrima falsa do meu olho. Ela finge pegá-lo e colocá-lo no
bolso. Isso parece muito com um flerte.
Eu me afasto instantaneamente, exercitando muito pouco

autocontrole tarde demais. Ao meu lado, um homem de rosto
largo e queixo largo, de camiseta branca e jeans, trabalha
febrilmente com um lápis de carvão. Parece que ele poderia
interpretar o protagonista romântico em um filme de Hollywood,
exceto por sua testa e sua postura. O primeiro está profundamente
sulcado, como se seu cérebro estivesse com dor; o último é rígido,
quase eriçado, como se o menor toque o levasse a um ataque de
lágrimas ou violência ou ambos.
Eu olho para o desenho dele. É uma representação muito
detalhada de um rosto demoníaco e infantil atrás das grades. E é
muito bem feito - bom o suficiente para vender para crianças góticas.
Ele percebe que eu a admiro e evito meus olhos. Tarde demais.
“Você já ouviu a história sobre o garoto que vagueia pela

floresta e é capturado por uma bruxa?” ele pergunta, sua voz
monótona.
“João e Maria?”
“Não, esse garoto foi amarrado com um cordão de ouro. E

quando ele se libertou e contou às pessoas, ninguém acreditou
nele.”
— Acho que não sei, mas. . .”
"Esse sou eu", diz ele laconicamente, apontando para
o rosto infantil assustador. “As barras são o que me
separa de todos os outros. E ninguém pode ver através
deles o monstro que estou escondendo dentro.”
Sua etiqueta é roxa para transtorno de estresse pós-
traumático. O nome dele é Henrique. Está claro que
alguém fez algo horrível com Henry – provavelmente
repetidamente – e ninguém acreditou nele quando ele
procurou ajuda.
Henry diz que dirige uma empresa de fabricação de
móveis. Enquanto discutimos nossas vidas, estou ciente
de que Carrie está por perto, ouvindo cada palavra. E
embora eu esteja falando com Henry, também estou
falando em benefício dela. Estou seguindo as regras, mas
perdendo o ponto.
“Homens não dão tiro no coração”
Henry está me dizendo. “Eles dão um tiro na cabeça porque
estão tentando calar o cérebro.”
Eu tento me concentrar na minha linha do tempo. Escrevo
algumas palavras descrevendo como vi minha mãe quando
criança, depois algumas palavras sobre meu pai.
MÃE
Punir
Rigoroso
Secreto
Reclamando
Sofrimento
PAI
Distante
Sem emoção
Egoísta
Temperamental
Sozinho
Enquanto reviso a lista, percebo que minha família se

encaixa perfeitamente no molde de viciados em sexo que
Lorraine nos ensinou: a mãe é rígida e punitiva (ou seja,
rígida) e o pai é distante e sem emoção (ou seja, desengajado
Prossigo, anotando meu sentimento mais
prevalente ao crescer (“incompreendido”) e meu papel
familiar (“a ovelha negra”). Em seguida, devo listar as
regras da minha família.
E é aí que eu fico preso. Não porque não consigo
pensar em nenhuma regra, mas porque havia muitas
delas. Muitas regras para pensar agora.
Sinto uma onda de ansiedade e decido adiar esta
parte da tarefa. Enquanto isso, começo a preencher a
linha do tempo com memórias de infância que
teve um forte impacto ou impressão. Até explorar o armário

do meu pai, nunca pensei na minha infância como
particularmente ruim ou incomum. Embora meus pais fossem
rígidos e às vezes excêntricos, eles me amavam e me
sustentavam. Mas, quando começo a desempacotar minhas
memórias, uma pequena nuvem negra surge na imagem
idílica.
Lembro-me que alguns dias minha mãe me disse para
nunca ser como meu pai; mas outras vezes, quando ela
estava com raiva de mim, ela dizia que eu era como meu pai.
E este era um homem que ela aparentemente odiava. Ela
reclamou do jeito que ele cheirava, do jeito que ele relaxava,
do jeito que ele mastigava a comida, até mesmo do jeito que
ele colocava as mãos nos bolsos. Ela o chamaria de
temperamental, egoísta, desajeitado, embaraçoso e um
perdedor sem amigos.
De repente, percebo que suas constantes advertências
de que eu sou como meu pai não são apenas a raiz dos
meus problemas de auto-estima, mas que cada palavra que
usei na linha do tempo para descrevê-lo era uma palavra que
também costumava usar. descrever minhas qualidades
negativas: distante, sem emoção, egoísta, temperamental, sozinh
Por um momento, tudo na sala fica em silêncio, e sinto
uma velha ferida começar a se abrir. Eu me livro disso e tento
focar minha atenção em outro lugar, como em Carrie.
"Estou organizando uma reunião hoje à noite para

sobreviventes de incesto e estupro, se você quiser vir", uma
voz monótona diz ao meu ouvido. É Henrique. E de repente
minha pequena nuvem preta parece um pequeno fio branco
comparado ao grande T Trauma.
"Ok." Qualquer coisa para evitar ter que pensar sobre
essas coisas.
Enquanto guardo meus suprimentos e me preparo para
sair com Henry, Carrie escreve algo em um pedaço de papel
e me entrega.
Li instantaneamente: “Quando estou em LA, temos que
sair.”
Eu aceno sim. E então eu percebo: se eu não consigo
me controlar perto dela, então talvez eu tenha um vício. Esta
é a minha chance de demonstrar que não sou impotente.
Resolvo não dar meu número a Carrie e resistir a fazer
qualquer outra coisa que viole meu contrato de celibato pelo
resto do tempo que estiver aqui.
Eu saio correndo da sala de arte com Henry como Lot
escapando de Sodoma. Se eu olhar para trás, vou virar um
pilar de viciado.
Quando chegamos à reunião, duas mulheres já estão lá:

Dawn, minha outra tentação, e uma morena sardenta de
aparência doentia na casa dos trinta.
Henry nos arruma em um quadrado de quatro cadeiras. Ele
pega um fichário com instruções e leituras para reuniões de doze

passos e depois o coloca de lado. "Não vamos fazer isso", diz
ele, falando devagar, como se cada palavra exigisse esforço para
ser proferida. “Vamos apenas conversar. Eu posso começar.”
Ele faz uma pausa de cinco longos segundos, os cantos de
sua boca tremendo, então continua. “Fui para a rua ontem à noite.
Fiquei ali e olhei para os carros que passavam no escuro. E
pensei em me jogar na frente de um. Fiquei lá uma hora. Eu
queria tanto acabar com tudo. Não exigiria muito esforço. Basta
um pouco de coragem para dar esse salto.”
Não só ele quase se matou, eu acho, ele quase foi

processado por violar o formulário de Promessa de Não Cometer
Suicídio que ele assinou.
“Você não se preocupa em perder sua vida quando você não
tem uma, quando ela foi tirada de você,” ele continua. Ele fica
em silêncio novamente por vários segundos, sua testa franzindo
e abrindo. “Lembro-me da primeira vez que meu irmão me
estuprou. Eu estava no meu quarto, e ele entrou e me segurou.
Ele me sufocou enquanto fazia isso e disse que ia me matar se
eu fizesse um som ou contasse a alguém.”
Henry continua falando sobre uma noite, anos depois,

quando seu pai o pegou molestando um cavalo no celeiro e o
espancou. “Por muito tempo, procurei
prostitutas, geralmente homens, para me chicotear e me bater”,

continua ele. “Me envolvi em algumas situações perigosas.
Minha esposa não sabe nada disso. Nem mesmo sobre meu
irmão. Quando eu disse a ela que iria para a reabilitação para
transtorno de estresse pós-traumático, ela apenas olhou para
mim e disse: 'Isso explica tudo'. Isso realmente me machucou.”
Dawn se voluntaria para falar em seguida. A história dela

também é assustadora. Ela nos conta sobre duas lembranças
de seu pai acariciando-a. Uma década depois, ele foi preso por
abusar sexualmente de outras meninas menores de idade. Ela
testemunhou contra ele e agora ele está cumprindo pena na prisão
Então a mulher sardenta nos conta como seu pai adotivo
chegava em casa bêbado, cambaleava até seu quarto e a
molestava.
“Liguei para ele ontem à noite e pedi que viesse para a
semana da família para me ajudar a me curar”, diz ela, seus
olhos e nariz se enchendo de lágrimas e muco. "E ele realmente
concordou em vir."
Como cultura, consumimos vorazmente filmes de terror
sobre vampiros, fantasmas, zumbis e outros seres sobrenaturais.
Mas as pessoas são muito mais assustadoras do que qualquer
monstro que possamos inventar. Não são apenas os atos de
horror que perpetram uns contra os outros, mas mesmo quando
poupam a vida da pessoa, ainda levam sua alma, seu espírito,
sua felicidade. Esses
infratores são o tipo de pessoa que eu costumava pensar quando alguém

mencionava viciados em sexo, não caras como Adam e Calvin.
“Eu só me quero de volta,” Henry está dizendo, seus olhos vermelhos.

“Quero saber quem sou.”
Então ele olha para mim e espera. Eu sou o único que não falou. E
não fui vítima de incesto ou estupro. Mas então me lembro: um dia, quando
eu estava na sétima série, o valentão da escola me acariciou e depois
tentou fazer sexo anal comigo. No dia seguinte, ele e seus amigos
começaram uma campanha de bullying implacável contra mim. Eu vivi em
terror pelo resto do ano letivo.
“Eu não devo falar com mulheres,” digo ao grupo. “Mas acho que está
tudo bem.” Eu então compartilho a história, que eu nunca contei a uma
única pessoa antes. Foi minha primeira experiência sexual, concluo, e
talvez minha obsessão mais tarde na vida pela sedução tenha sido uma
maneira de compensar e provar a mim mesma que eu era heterossexual.
Enquanto os três respondem de forma solidária, ainda me sinto uma

impostora: meu trauma é lamentavelmente inadequado em comparação
com o deles.
Mesmo aqui, em um hospital de desajustados, eu não me encaixo.
18
Chicago, vinte e seis anos antes
Tire seus sapatos.

Eu sei, mãe.
E coloque-os no tapete, não no tapete como da última vez.
Sim mãe.
Agora vá lavar as mãos antes de tocar em qualquer
coisa. É muito difícil para mim continuar limpando suas
impressões digitais sujas das paredes.
Ok, bjus.
E não se esqueça: o jantar é às seis em ponto.
Não se atrase ou você não terá sobremesa.
Vou para o meu quarto para lavar as mãos. Não há
televisão lá, nem telefone, nem tecnologia, exceto um
pequeno aparelho de som. Antigamente eram os Beatles cuja
música me acalmava, mas agora que estou um pouco mais
velho e minha voz está começando a mudar, o hardcore
parece se adequar melhor ao meu temperamento.
Estou com vontade de tocar “Smash It Up” do Damned, mas

quebrei o disco em um acesso de raiva depois que fiquei de
castigo por um fim de semana por colocar meus pés no balcão da
cozinha. Então, em vez disso, coloco o Suicid al Tendencies o
mais alto que posso sem ter problemas: “Eles continuam me
incomodando e continuam me incomodando e isso se acumula
por dentro”.
E lavo as mãos. Como um bom filho.
Poucos minutos antes das seis, ouço a voz da minha mãe:
Hora do jantar.
Entro na cozinha e a vejo sentada na ponta da mesa, meu
pai à sua esquerda e meu irmão na ponta mais próxima de mim.
Sou o último a chegar, como sempre. A ovelha negra. Sento-me
em meu assento designado.
Neil, cotovelos fora da mesa. Ivan, você também!

Sua voz é suave para mim, mas dura para meu pai. Ele é a
ovelha mais negra. Eu me sinto mal por ele.
Mas minha mãe constantemente me diz: “Você é o favorito do
seu pai”, como se isso fosse uma coisa ruim, então eu tento não
demonstrar nenhuma simpatia.
Você nunca vai acreditar no que seu pai fez comigo desta
vez. Ele disse a Robin em seu escritório que iríamos passar férias
em Sarasota. Eu tenho meia mente para
basta cancelar a viagem. Vocês dois não contaram a ninguém, não é?
Nenhuma mãe. Claro que não. Mas não é. . .

Quando todos na escola se gabam de onde estão viajando nas
férias de Natal, é difícil não dizer a eles para onde estou indo. Mas
minha mãe proíbe. Ela está preocupada que, enquanto estivermos fora,
alguém invada a casa. Antes de cada viagem, ela liga luzes a
temporizadores para enganar todos os criminosos que ela imagina à
espreita do lado de fora. Meu pai e eu saímos de casa e fingimos
despedir-me da minha mãe e do meu irmão. Depois, eles esperam até
que a costa esteja limpa, então pegam um táxi para nos seguir.
Mesmo na minha idade, sei que temos muito pouco a roubar: apenas
dois pequenos aparelhos de televisão, dois aparelhos de som e um
videocassete.
Também não tenho permissão para saber a idade de minha mãe,
onde ela estudou, quais foram seus empregos anteriores ou por que
sua perna está deformada. E não tenho permissão para ter as chaves
da casa — e nunca terei — porque ela está preocupada que eu as
perca. No entanto, às vezes é confiado ao meu irmão as chaves da
casa. Não parece muito. . . . . . feira. Sam vai para a Jamaica e pode
contar a todos.
Sempre tive ciúmes de Sam. Seus pais são divorciados

e ele é um garoto de chave, o que significa que ele recebe
as chaves de sua casa. Ele também pode ficar acordado até
tarde quando quiser. Até recentemente, minha hora de dormir
era sete e meia.
Bem, os pais de Sam não se importam com o que
acontece com ele. E ele é como seus pais. Não quero você
saindo com Sam, Neil. Ele tem uma boca grande.
Qualquer coisa que você diga a ele, todos na vizinhança vão
saber. Você me entende?
Sim mãe.
Ele não é seu amigo de verdade de qualquer maneira.
Agora, o que eu te disse sobre mudar o garfo para a outra
mão depois de cortar a carne?
...
Isso é melhor. Quem é sua mãe que te ama muito?
Tu es.
Enquanto escrevo as regras da família na minha linha do tempo,

de repente percebo: Não é à toa que odeio a monogamia. É
apenas mais uma regra irracional que eu tenho que aturar.
19
Na sala de arte, na manhã seguinte, termino rapidamente
minha última regra — “Não confie em outras pessoas: elas
querem te machucar” — e corro para me juntar aos caras
na terapia em grupo. Joan entra na sala alguns minutos
depois carregando uma impressão grampeada. Minha foto
está nele. Ela olha para mim e diz: “Você está aqui para pesqui
"Pesquisar?"
“Eu procurei você online. Eu sei quem você é."
Ela parecia meramente não gostar de mim antes, mas agora
ela pode realmente me odiar. Ela sabe o que escrevi: artigos
e livros sobre roqueiros loucos por sexo, estrelas pornô e
jogadores. A obra de um viciado em sexo. E evidentemente
ela pensa que meu único propósito aqui é subjugá-la.
"Estou cem por cento aqui para mim", digo a ela com
sinceridade. O que eu não digo a ela é que se eu fosse
descoberto escrevendo sobre vício em sexo, eu não estaria
neste campo de detenção genital. Eu estaria com os viciados
em sexo no mundo real – me divertindo em bares tailandeses,
termas brasileiros e clubes alemães FKK.
“A verdade é que esta é a última chance para eu ter um

relacionamento normal,” continuo. “Se não consigo me convencer
de que a monogamia é natural e saudável, e querer estar com
várias mulheres é um sintoma de disfunção e trauma, acho que
nunca vou querer um casamento regular.”
Os braços de Joan estão cruzados. Ela estuda cada micro-

expressão minha de perto, esperando para ver se eu vou sorrir ou
quebrar o contato visual ou mostrar algum sinal de que estou mentindo
Quando eu não faço isso, ela cacareja bruscamente: "Você está
ciente de que qualquer homem que corteja uma mulher com o
objetivo de fazer sexo é um viciado?"
Digo a ela que não sabia disso, e ela continua explicando que
os casais devem ter dezessete encontros e se conhecer
completamente antes de iniciar qualquer contato físico.
Mas sexo, eu acho, faz parte de conhecer alguém. E se você

se comprometer com um relacionamento e ela for horrível na cama,
cheirar a vinagre balsâmico e se recusar a fazer boquetes?
Ela espera que eu a desafie, mas desta vez guardo meus

pensamentos para mim mesma. Ela então descruza os braços e
acena com a cabeça. “Vá em frente e apresente sua linha do
tempo.”
Desenrolo o papel pardo – é do tamanho que eu tinha quando
tinha dez anos – e me sento no chão ao lado dele. eu digo
ela sobre as regras, a paranóia, as punições — e a babá dura,

mas compassiva, que veio morar conosco quando eu tinha dois
anos e se tornou uma segunda mãe para mim. Quando chego à
história sobre o desejo de minha mãe de que meu irmão e eu a
cremamos e não deixemos nenhum memorial, meu rosto incha e
sinto as lágrimas se aproximando.
Joan responde à possibilidade de lágrimas no quarto como

um tubarão ao cheiro de sangue na água.
"O que você está sentindo?" ela pergunta, como se me convidasse
a chorar. Ela me tem exatamente onde ela me quer: submissa,
vulnerável, aberta.
"Dor", eu digo a ela. “Porque só de dizer isso me faz perceber
o quão triste ela deve estar por dentro, o quão solitária e vazia ela
deve se sentir que ela só quer desaparecer do mundo sem
nenhum vestígio de sua existência deixado para trás.”
Eu inalo, reprimi minhas emoções e tento sugar as lágrimas

pelos lados dos meus olhos. Darei a história a Joan, mas não lhe
darei minha alma.
Eu não confio nela.
Quando nos mudamos para a minha adolescência, conto a
ela sobre meus pais nunca confiarem em mim com as chaves da
casa, não me deixarem ir no meu primeiro encontro e me deixarem
de castigo durante a maior parte dos meus anos de ensino médio.
E então, de repente, paro de apresentar meu

Linha do tempo. Cheguei na parte que temia.
“Eu tenho um esqueleto de família no armário aqui,” eu explico.
“Mas prometi à minha mãe que nunca contaria a ninguém sobre isso.
Então não sei o que fazer. Não quero mentir ou quebrar essa
promessa.”
“Esta é a sua recuperação”, Joan responde. “E você é tão doente
quanto seus segredos. Você não pode manter velhas promessas se
elas não forem saudáveis para você.”
“Sim, mas tenho meu próprio sistema de valores. Assim como
fizemos uma promessa de anonimato aqui, jurei segredo à minha
mãe.”
"Então todos nós faremos uma promessa de segredo para você",
diz ela. E todos eles prometem.
“Mais uma coisa,” eu acrescento.
"Apenas diga", ela retruca, irritada.
Faço mais perguntas, ganhando tempo para poder determinar
o que é certo. Eu anseio pela libertação, mas temo a traição. E então,
quando olho para os rostos dos outros caras que compartilharam
seus segredos nesta sala, decido que, depois de duas décadas, só
preciso deixar para lá.
Talvez esteja me segurando, me mantendo preso no passado e cheio
de confusão. E então compartilho o que nunca contei a ninguém —
nem a Ingrid, nem mesmo ao meu irmão.
"Ok. Então, um dia, eu estava no armário do meu pai

procurando pornografia.” As palavras começam devagar, como
se estivessem acordando de um sono profundo. “E eu encontrei
esta fita de vídeo. A primeira coisa foi um jogo de tênis com
pessoas em cadeiras de rodas. Em seguida, havia um clipe de
um filme com uma mulher em uma cadeira de rodas implorando
nas ruas por troco. Então uma corrida de natação com essas
pessoas sem membros apenas se contorcendo na água. E no
final estavam todos aqueles clipes de filmes antigos de”—é
difícil continuar; todos ficam em silêncio — “amputados. Todos
esses modelos em trajes de banho com pernas faltando e merda.
Foi quando eu percebi” – novamente, minha garganta tenta
engolir as palavras de volta – “meu pai tem uma queda por
aleijados.”
As palavras voam entre lágrimas e saliva. “E minha mãe é
uma maldita aleijada. Ela não tinha ideia de que ele tinha essa
obsessão quando ela se casou com ele. É por isso que ela o
odeia tanto. Ela acha que é como o prêmio da coleção dele.”
Conto ao grupo que, depois que encontrei o vídeo,

perguntei à minha mãe. Ela parecia aliviada por ter alguém
com quem conversar sobre isso e me contou o que já sabia
sobre a obsessão dele, como as fotos que encontrara de meu
pai quando ele era mais jovem, dobrando os membros para
trás para parecer um amputado. Eventualmente, começamos
a investigá-lo
juntos, e encontramos inventários detalhados que ele fez

de sua coleção de fotos de homens e mulheres com
diferentes amputações e defeitos congênitos.
Todos na sala estão em silêncio, até mesmo Joan.
Prossigo, dizendo a eles que minha mãe nunca disse ao
meu pai que ela sabe sobre isso, que ela me fez prometer
nunca dizer uma palavra sobre isso a ninguém, que ela
constantemente me liga para discutir novas evidências
que encontrou, que ela é paranóica que ele tem câmeras
escondidas em casa para gravá-la, que ela acredita que
ele se encontra regularmente com um clube secreto de
homens que compartilham sua fixação, que ela acha que
ele traz fotos dela e de pessoas com deficiências
aleatórias que ele fotografa nas ruas, que ela tem um
sentimento de vergonha tão avassalador que não se
permite ser fotografada e pensa que qualquer um que a
encare deve ter uma queda por sua perna ruim.
“Ela até encontrou um filme da lua de mel que ele
editou de modo que continha apenas cenas dela
mancando.” Eu falo e falo e não paro de falar. “Eu tento
dizer à minha mãe que se ela fosse uma loira com seios
grandes, as pessoas olhariam e tirariam fotos e ela não
teria um complexo sobre isso, então ela deveria pensar
nisso como uma característica atraente.”
E, finalmente, quando a história está tão exausta
quanto eu, paro e volto ao meu corpo.
“Isso foi tão ruim?” Joana pergunta.

Eu quero responder: Sim, foi tão ruim assim. Não me sinto
aliviado de jeito nenhum. Ainda estou carregando o segredo; a
única diferença é que agora nove mentirosos comprovados
também sabem disso. Sinto-me vulnerável e doente do estômago.
“Você está ciente de que o vício em sexo tem um
componente?" ela continua.
"Não sei." Eu gostaria de não ter dito a ela: ela já está
usando isso contra mim. Assim como minha mãe me avisou que
as pessoas fariam.
"Eu sei", diz ela com firmeza, como se um ponto tivesse
sido provado. “No entanto, há um problema aqui que é ainda
maior do que o vício do seu pai e ele vazando essa energia por
toda a casa.”
"O que você quer dizer?" Meu rosto está vermelho de
medo, culpa, estresse, fadiga.
“É o seu vínculo com sua mãe – o jeito que você guarda
segredos para ela, o jeito que vocês dois o investigam juntos.”
Posso perceber o tênue contorno de algo importante no horizonte
de suas palavras, mas não consigo identificá-lo. “Se você juntar
o que acabou de compartilhar com todas as outras peças de sua
infância, surge um padrão claro.”
“Qual é o quê?”
Ela começa a falar, então para. “Eu não sei como você vai
levar isso.”
"Apenas diga", eu estalo, imitando-a, apenas para ser um

idiota.
Isso dá a ela a determinação que ela precisa. Ela suga uma
lufada de ar, então exala. "Ok, eu vou apenas dizer isso."
A pausa é longa, a sala está silenciosa, meu coração está
martelando, e então ela diz isso. “Sua mãe quer estar em um
relacionamento com você.”
Isso me atinge como uma tonelada de tijolos. Sento-me
atordoado, e um vento frio sopra de algum lugar dentro de mim.
Imagens da minha vida flutuam na corrente, cada uma delas
um fragmento perturbador de evidência: por que outra razão
minha mãe entraria no meu quarto à noite e me contaria todos
os seus problemas? Por que mais ela não me deixaria ir no
meu primeiro encontro? Por que mais eu estava de castigo o
tempo todo e diziam que meus colegas não eram realmente meus
Por que mais não me permitiram as chaves da casa quando
meu irmão foi? Por que mais ela cortou todo o suporte e
comunicação quando fui morar com minha primeira namorada,
mesmo eu tendo vinte e poucos anos? E o que eu era em toda
essa investigação do meu pai se não seu parceiro íntimo?
As lágrimas vêm rápido agora. A afirmação parece tão

absurda, mas algo em meu corpo reconhece a verdade nela.
Joan me pegou. Ela ganhou. O orgulho, o ego, as defesas,

as equações algébricas se foram. Eu sou
à mercê dela. E é aí que ela martela mais uma vez na estaca

que acabou de colocar em mim: “É por isso que você não
consegue ter um relacionamento saudável.”
“Agora faz sentido porque havia um padrão duplo entre meu
irmão e eu,” eu sufoco entre soluços, regredindo a cada um.
“Tipo, depois da faculdade, ele poderia fazer suas namoradas
passarem a noite na casa dos meus pais, mas eu nunca
consegui. Até hoje.”
“E por que foi isso?”

“Ela disse que eles nunca foram bons o suficiente para mim.
Que eu escolhi mal.”
“Não é que você escolheu mal.” Ela encontrou o sangue na
água agora. “É que você não escolheu a mamãe.”
Minha cabeça está girando. Minha mãe não fez isso

intencionalmente, tenho certeza, mas foi inconsciente. Ela
odiava papai, ela não confiava em seus amigos, e eu era o
homem mais velho e confiável ao redor. Então ela provavelmente
me queria só para ela, ou pelo menos com segurança sob seu
controle.
“Quando sua mãe é emocionalmente dependente de você e
tem discussões íntimas com você que ela deveria ter com seu
cônjuge, há um nome para isso.” Joan olha para mim como um
boxeador medindo um
oponente atordoado, então acerta seu golpe final. “Isso se

chama incesto emocional.”
E eu terminei.
20
Cidade do México, muitos anos antes
"Pronta para a escola, princesa?" seu pai perguntou.

Ela olhou para ele. Ele estava vestindo um terno escuro
e parecia uma estrela de cinema. Um ator. Ela odiava quando
ele falava com ela assim. Ele não tinha direito.
Ele raramente estava por perto e nunca a tinha levado para
a escola antes.
Ele se abaixou e encontrou a mão dela. Ela o deixou
repousar frouxamente no dele, como massa em um forno. Ela
não conseguia se lembrar de sentir o calor da mão dele antes.
Em vez de levá-la até a porta da frente da escola, ele a
levou para um beco ao lado do prédio, onde conheceu uma
morena de cabelos curtos com uma saia lápis e salto alto. Ele
a beijou, mas não do jeito que a avó da garota beijava as
pessoas. Eles se beijaram como amantes nos filmes.
Nos dias que se seguiram, ela realizou uma investigação

de seu pai, como nos programas de detetive que ela viu na
TV. Em uma caixa de evidências embaixo dela
cama, ela pegou o bip do pai, cheio de mensagens de mulheres

aleatórias; seu livro de agendamento, documentando
compromissos com eles; e, finalmente, gravações em fita que
seu pai fazia secretamente de sua mãe falando ao telefone.
Quando ela estava pronta para fazer seu caso, ela sentou
sua mãe e entregou-lhe a caixa. A garotinha estava nervosa,
não por causa do efeito que isso teria sobre sua mãe, mas
porque as gravações telefônicas continham evidências de que
ela e seu irmão estavam pregando peças no açougueiro. (“Olá...
você tem pés de porco?” “Sim.” “Por que você não os lava!”
Clique.)
Sua mãe não disse uma palavra enquanto examinava a
caixa. Primeiro ela parecia confusa, depois desconfortável, e
finalmente começou a chorar.
No dia seguinte, sua mãe começou sua própria
investigação. Além de descobrir que seu marido tinha várias
namoradas ao lado, ela descobriu que não apenas ele nunca
se divorciou de sua esposa anterior, mas na verdade ainda
morava com ela – e tinha mais filhos com ela. Então ela
confrontou o marido sobre sua vida dupla e disse a ele que
estava tudo acabado entre eles.
Naquela noite, a garotinha foi acordada por gritos e um

estrondo alto vindo do quarto de seus pais. Ela correu
até a porta e a empurrou, mas foi bloqueada por um cabo de

vassoura. A maçaneta havia caído algumas semanas atrás,
então ela olhou pelo buraco para ver o que estava acontecendo.
Seu pai estava sentado em cima de sua mãe, o rosto

vermelho e contorcido como se estivesse possuído. Suas
mãos estavam sobre a boca e o nariz de sua mãe, apertando
com força. Ela lutou para respirar, suas mãos agarrando as
dele. Seus olhos, grotescamente ampliados, pareciam se
voltar para a garotinha, implorando: “Ajude-me!”
“Por favor, não a mate!” a garotinha gritou entre soluços
enquanto tentava abrir a porta. Ela correu para o quarto de
seu irmão mais velho e o acordou, e ele correu para o corredor
e bateu seu corpo contra a porta. Uma e outra vez.
Quando a porta se abriu, seu pai soltou o aperto do rosto

de sua mãe e recuou, dizendo a seus filhos que eles estavam
apenas brincando. Sua mãe cambaleou em sua direção –
ofegando violentamente, seu rosto azul pálido, seus olhos
vermelhos de sangue – e a garotinha agarrou sua mão e
correu para o banheiro com ela. Ela trancou a porta e os dois
choraram juntos.
O menino correu para o telefone para ligar para os irmãos

de sua mãe. Eles eram todos homens grandes e muito
protetores de sua irmã. Mas enquanto o menino gritava “Socorro!”
o fone, seu pai arrancou o fio da parede, abriu a janela do

apartamento do quarto andar e jogou o telefone para fora.
Dez minutos depois, a garota saiu do banheiro. A casa

estava completamente quieta. Ela ouviu música clássica
vindo da cozinha. Lá, ela viu seu pai sentado à mesa, as
pernas cruzadas graciosamente. Ele estava segurando um
copo de conhaque, girando-o lentamente, olhando para
ele com um olhar de completa paz enquanto respirava as
notas da bebida, a música, o ar da noite.
Ela arrancou a agulha do disco. "O que você está

fazendo?!" ela gritou, furiosa, confusa, aterrorizada.
“Estou esperando minha morte chegar,” ele disse
calmamente.
Essa foi a última vez que Ingrid viu seu pai.
21
Acordo sozinho no dormitório da reabilitação, o sol se

difundindo por uma pequena janela coberta de terra, o som abafa
cantos de acasalamento de pássaros e cigarras anunciando mais
uma manhã, e uma ereção furiosa pressionando contra
minha cueca boxer.
Minha mente vagueia para uma imagem de Carrie e a maneira
sugestiva como ela me entregou seu bilhete. Eu lembro
ela é colega de quarto de Dawn e eu começo a imaginar um
trio com eles. Penso em como suas qualidades de cuidado devem
se estender ao quarto e imagino-a usando os seios de maneira
atenciosa. Algum
caras são homens de bunda; outros estão em seios, pernas ou
rostos. Minha teoria é que tem a ver com o sexo
posição que preferir. Se você gosta do estilo cachorrinho e
você está olhando para a bunda de uma mulher quando você goza,
você vai associar seu prazer sexual com
aquela parte do corpo dela. Se você gosta de missionário, talvez
você é um cara cara. E se você gosta dela no topo, você já
geralmente tem um eyeful e um punhado de seios quando
você orgasmo. E se . . . porra, acabei de fazer uma bagunça

minha cueca boxer.
Vou até o banheiro e me enxugo. Sinto-me como
um alcoólatra que contrabandeou um quinto de vodka para a
reabilitação e bebeu.
Enquanto me preparo para o dia, penso em um livro
Rick Rubin uma vez me mostrou. Era sobre uma comuna de sete
laços chamada Família Fonte, que foi
dirigido por um ladrão de banco, dono de restaurante vegetariano,
e aspirante a estrela do rock conhecido como Pai Yod. No
livro, havia uma foto dele - parecendo estranhamente
Rick – sentado ao ar livre em sua comunidade em Holly Wood
Hills com treze de suas esposas e amantes hippies reunidas ao
seu redor, pelo menos duas delas grávidas de seus filhos.
E eu me pergunto como seria viver em um ambiente de

sexualidade aberta e irrestrita, com amigos e amantes
entrando e saindo livremente, ninguém reivindicando a posse
do corpo do outro como se fosse uma posse pessoal.
É quando eu percebo porque hoje, de todos os dias, minha

mente está girando fora de controle: é domingo e a grade está
chegando. A força da luz, monogamia, estabilidade, casamento,
filhos e uma vida normal estão a caminho. E agora minha
“doença” está florescendo como mofo.
Entrada: culpa. E vergonha.
A culpa é sobre cometer um erro. Vergonha é ser um erro.
E medo.
Dois dias antes, quando eu estava deitado em uma poça em
terapia de grupo, fervendo com a violência da frase incesto
emocional, Joan sugeriu algumas coisas. A primeira foi que eu
liguei para Ingrid e contei a ela o que eu aprendi sobre mim e por
que eu a traí. A segunda foi que eu pedi aos meus pais que
viessem para a semana da família para trabalhar na cura de nossos
traumas e relacionamentos disfuncionais um com o outro.
Enquanto eu me masturbava, Ingrid estava dirigindo centenas

de quilômetros para me ver pela primeira vez em semanas e falar
sobre meus problemas de intimidade recentemente diagnosticados.
Eu penso nela dirigindo tão longe sozinha, e eu estou tocado que
ela faria isso por mim depois do que eu fiz com ela. E como
demonstro minha gratidão? Traçando orgias.
Não sou uma má pessoa, digo a mim mesma. Só tenho medo
da intimidade.
Ao contrário de entrar em contato com Ingrid, ligar para meus
pais e dizer que estava em reabilitação por vício em sexo não era
passível de ser recebido com o mesmo grau de apoio. Então, como
qualquer pessoa que se depara com algo emocionalmente difícil,
deixei para mais tarde.
Todos os domingos, todos os pacientes são obrigados a
comparecer à formatura da semana da família. Então atravesso a
propriedade até uma grande sala de aula, onde uma dúzia de
viciados e sobreviventes de traumas sentam-se com suas famílias na f
do quarto. Um após o outro, filhos, filhas, pais, irmãos e

cônjuges se levantam e falam sobre como a semana começou
um processo de cura muito necessário para eles.
“Muitas vezes, as pessoas de uma família pensam que é

apenas uma pessoa que causa todos os problemas”, Lorraine,
a terapeuta que nos deu uma palestra sobre trauma, está
dizendo à assembléia. “Mas uma família é um sistema, e uma
pessoa doente é o produto de um sistema doente.”
À medida que a cerimônia continua, sinto um rangido seco
e pegajoso no cabelo do meu umbigo. Evidentemente, não lavei
bem os meus pecados. Olho em volta para ver se é possível
escapar, mas então a mulher sardenta da reunião de estupro e
incesto de Henry se levanta da cadeira e se vira para nós. Ela
está vestindo calça preta e um cardigã azul, e parece muito
menos pálida do que antes – quase otimista, beirando o
carismático.
Ela está de pé ao lado de um homem de quase sessenta anos
com um grande rosto vermelho, um corpo suíno e mãos
enormes e rachadas. É o pai adotivo que a molestou.
Eu não sinto nenhum ódio dela, nem qualquer calor. Alguém
olhando para uma foto dos dois poderia pensar que era de um
professor dando a um velho zelador um prêmio por quarenta
anos de serviço dedicado.
“Se alguns de vocês se lembram, quando eu cheguei,

eu estava muito deprimida e chorei muito e pensei em me
matar”, ela está dizendo. “Acho que não falei com ninguém
nos meus primeiros dois dias aqui. Mas graças à semana da
família, sinto-me como um ser humano novamente.”
Ela se vira para o pai e todos ficam parados, esperando

para ouvir o que ele tem a dizer. “Foi muito difícil para mim
tomar a decisão de vir para cá”, diz ele. Sem merda: você
está olhando para uma sala cheia de sobreviventes de
trauma que te odeiam. “Eu me sinto muito mal com o que
fiz. E acho que Laura é uma mulher incrivelmente corajosa
por estar aqui e por me permitir estar aqui. Eu sei que nada
que eu possa fazer ou dizer vai apagar o passado, mas
estou feliz que Laura possa ter um futuro agora. Acho que
cresci mais como pessoa com os terapeutas aqui do que em
toda a minha vida.”
Ao ouvi-lo, resolvo ligar para meus pais.
Desde o dia em que saí de casa para a faculdade, ligo para
minha mãe quase todos os domingos; nas poucas vezes
que eu não fiz, ela me deu uma viagem de culpa para
lembrar. E é um domingo.
Além disso, se essa mulher pode convidar o monstro
que a molestou para vir, então certamente posso pedir a
uma mulher que simplesmente me deixou de castigo. Não
só seria bom para os meus pais enfrentarem o
verdade — minha mãe e eu nunca dissemos a meu

pai que conhecemos seu segredo —, mas talvez a
cura da família me alivie de tudo o que está pairando
sobre minha cabeça e impedindo um relacionamento
feliz e honesto.
22
Reabilitação, uma hora depois
Você não é um viciado em sexo, você é um homem. Se alguém quiser

brincar com você, você não vai se afastar. O que você é, um idiota?
Você vai jogar de volta.
A voz pertence à minha mãe.

Sim, mas não quando estou em um relacionamento.
No meu livro, é assim que os homens fazem. Eu acredito em
honestidade nos relacionamentos, mas se você vai trair, você tem que
manter isso para si mesmo. Como mulher, fui convidada para tomar
um café algumas vezes e digo não, obrigada. Mas isso é porque sou
mulher e essa não é a minha natureza. Embora se ele fosse um
multimilionário e não fosse casado, talvez eu tomasse um café com
ele.
Enquanto a ouço falar, fico chocada. Eu nunca ouvi suas opiniões

sobre fidelidade antes, exceto quando ela está divulgando as últimas
provas que sustentam sua convicção de que meu pai está tendo um
caso. No entanto, aqui está ela no telefone, fazendo exatamente

o mesmo argumento que eu tenho feito a semana toda, exceto
que ela está fazendo do jeito dela.
Ela continua. . .
Acho que você não precisa de tratamento. Tudo sobre
você vai estar nos arquivos do hospital pelo resto de sua vida
e o mundo vai saber disso. Tudo em que você é viciado é a
vida e vivê-la.
É tarde demais agora. Mas estou aprendendo algumas
coisas que vão ajudar minha vida. E na semana seguinte, eles
têm uma coisa chamada semana da família, quando os pais
das pessoas aqui visitam. Isso realmente completa o processo
de cura e eu queria ver se vocês dois poderiam vir para isso.
Ir para lá seria inútil.

Eu realmente preciso de você e papai aqui. Significaria
muito para mim. E isso me ajudaria muito.
Ouça, você é uma pessoa incomum, mas normal. Se
fosse uma situação de vida ou morte, faríamos.
Meu pai também está ao telefone, mas não diz uma
palavra, exceto para se desculpar quando minha mãe diz que
ele está respirando muito alto no fone.
Não é à toa que tenho medo do casamento. Sempre que
alguém que estou namorando começa a me tratar pior do que
trata um estranho, esse é sempre o começo do fim para mim.
E se eu tiver um terapeuta daqui ligando para você e explicando

por que é importante?
Não se atreva a dar a ninguém o meu número de telefone.
OK. Por favor, mãe. Eu não sei o que dizer.
Não há nada que você possa dizer. Fisicamente, é muito difícil
viajar.
Se eles têm terapeutas em Chicago que eles recomendam,
podemos ir ver um juntos?
Eu não acho. Não há nada que possamos fazer ou acrescentar.
Nós não sentimos que você tem um problema. Qualquer que seja
o problema que você tenha, você sabe e nós sabemos.
Isso nos ajudaria a nos conectar. Lembra da minha ex-
namorada Lisa? Quando ela nos viu juntos, ela disse que não
parecia haver nenhum calor ou amor entre nós.
Lisa estava conosco apenas para uma refeição. Eu não estava

confortável com ela. Ela não era amigável ou sorridente. Ela não se
relacionava com a gente.
As palavras de Joan ressoam em minha cabeça enquanto ela
fala: outro exemplo das mulheres com quem namoro não serem
boas o suficiente para minha mãe. A mensagem implícita é que
sexo e casos são legais, mas não arranje uma namorada de verdade
porque isso seria competição.
Eu tento usar sua própria arma contra ela: culpa.
Como mãe, seria uma das melhores coisas
você poderia fazer por mim.
Como isso o ajudaria exatamente?

Isso me ajudaria a ser mais feliz, mais saudável e capaz
de ter um relacionamento funcional e começar minha própria
família.
Charlie Aaron não se casou antes dos setenta anos, e
nunca foi tão feliz. E ele não precisava de filhos.
Minha respiração fica presa na garganta. Nunca ouvi

falar de uma mãe que não quisesse ser avó. Cada palavra
que sai de sua boca parece apoiar o diagnóstico horrível de
Joan.
Mas lembre-se de Irvin do ensino médio? Ele disse que
nem sabia o significado da palavra amor até se tornar pai.
Irvin era amigo do seu irmão?

Não, ele era meu amigo.
Isso não é possível. Você era um idiota. Você não tinha
amigos.
Por que uma mãe diria isso ao filho? Eu me pergunto.
Então percebo que aprendi recentemente a resposta: ela
está me mantendo no meu lugar. Eu imploro e imploro para
que eles venham, contestando objeção após objeção, até
que ela diz categoricamente. . .
Tenho algumas razões realmente válidas para não
podermos ir. Nós te amamos, e faríamos qualquer outra
coisa por você.
Difícil acreditar nisso agora.

Só o papai pode vir então?
De jeito nenhum, José.
Ele não diz nada. Ele não tem voz no relacionamento.

Eu tento um último ângulo, meu ás na manga: prometendo
manter o segredo.
O que quer que você esteja preocupado, e eu acho que
sabe o que é, não temos que discutir isso.
Eu sei quem eu sou. Eu sei quem são meus pais. Tive
uma infância idílica. Acho que me tornei uma ótima mãe
com dois filhos maravilhosos. Eu não te trocaria um grama.
Mas se você não estiver satisfeito com você, então você
pode ajudá-lo sozinho. Não venho por motivos pessoais —
muito pessoais — e pronto! Diga-lhes para não ligarem.
As palavras caem como uma marreta, quebrando o

chão ao meu redor, me isolando, me mandando para o
espaço sozinha. Eu alcanço uma tábua de salvação.
Posso pedir-lhe que me envie apenas uma cópia das
chaves da casa? Eles disseram que me daria uma sensação
de fechamento se eu pudesse usá-los no pescoço como
um símbolo de que posso ser confiável.
Percebo que desde que saí de casa para a faculdade,
sempre tive uma estranha fixação por chaves. Eu nunca
joguei um fora, mesmo em dormitórios antigos, carros e
apartamentos.
Desculpe, Charlie. Não é você, sou eu. Eu não me sinto seguro.

E, além disso, você está distraído. Você perdeu aquele gravador
quando tinha doze anos e um milhão de outras coisas. E não posso
pôr em perigo o meu sentimento de segurança.
Ok, obrigado por ouvir. Tchau mãe.

Podemos contratar duas pessoas e enviá-las para a família
semana em vez disso, se você quiser.
Tudo bem.
Aproveite o seu encarceramento.
O mundo que um dia conheci, aquele em que pensei ter crescido
— rigoroso, sim, mas cheio de amor e sacrifício dos pais que me
conceberam, cuidaram e apoiaram — se foi. O que ela está dizendo,
em última análise, é que os problemas dela são mais importantes do
que o meu bem-estar. E sempre foram.
Mas poderia ser pior. Pelo menos ela tem senso de humor.
23
Eu tomo banho pela segunda vez, certificando-me de
usar uma toalha, sabão e pressão, então me arrasto para
um círculo masculino em andamento no gramado. Os
trinta ou mais caras lá estão usando o que chamam de
bastão falante, e apenas a pessoa que segura o pedaço
de madeira do tamanho de um pau ereto pode falar.
Quando ele termina, ele diz “aho”, que é algum tipo de
som machista nativo americano, e entrega o pau de
madeira para o próximo lunático.
“Oi, eu sou Calvin e sou uma viciada em sexo. E estou
sentindo muito medo agora, mas também alegria, porque
Mariana” – a prostituta brasileira que ele engravidou – “só me
disse que quer ficar com o bebê.
Ah!”
Ele me entrega o bastão. É minha vez de fazer o check-in
e quero acabar logo com isso: “Sou Neil e estou cansado de
rótulos e estou bem. Ah!”
Todo mundo suga o ar ou exclama “ooooh” como
Acabei de pisar na merda.
"O que?" Eu pergunto.
Charles gesticula para que eu lhe entregue o bastão. Eu

balanço minha cabeça em aborrecimento e entrego a ele.
Regra idiota.
“Fine significa fodido, inseguro, neurótico,
e emocional”, diz.
“Está certo.”
Os homens me encaram com uma acusação silenciosa:
falei sem segurar o bastão falante. Você pensaria que acabei
de atirar em alguém.
Charles me entrega o pau falante e eu o coloco no chão ao
meu lado. “Eu amo como alguém pode simplesmente inventar
uma porra de uma regra aleatória e todos vocês seguirem como
ovelhas,” digo a eles enquanto me afasto. “Eu estive em um
maldito círculo de homens a semana toda de qualquer maneira. Ah!”
Ninguém responde porque ninguém está segurando o
bastão falante.
Estou ciente, enquanto me afasto, que não estou realmente
brava com eles. E não estou bravo com o bastão falante.
Na verdade, é uma regra decente. Se eu tivesse a chance de
falar ininterruptamente quando criança e me expressar e
realmente ser ouvido, provavelmente seria muito mais saudável.
O que me irrita é que os pais de algumas pessoas não
podem vir à semana da família porque estão mortos ou falidos
ou na prisão, mas meus pais simplesmente não vão. Um cara
que molestou sua filha tem coragem de mostrar
aqui em cima. Quanto ao meu pai, ele nem tem coragem de falar
por si mesmo ao telefone.
Check-in: fodido, inseguro, neurótico e emocional. E repensando
tudo o que eu achava que sabia sobre minha infância, minha vida e
quem eu sou.
O estado de espírito perfeito para ver Ingrid depois de todo
esse tempo separados.
24
Ela é pura demais para este lugar.
Ela fica na área das enfermeiras, onde agora só posso
usar minha navalha ocasionalmente sob supervisão. Ela está
vestindo uma camisa xadrez azul que está aberta para revelar
um triângulo de pele impecável, e jeans pretos que param logo
acima de seus saltos altos. Ninguém usa salto alto neste lugar.
Não é saudável para as libidos frágeis daqui.
Ela endurece quando me vê e tudo surge de uma vez em

seu rosto - o amor, o ódio, o desejo, o medo, a esperança, a
mágoa - e empurra através da crosta que cobre tudo.
As palavras “Oh meu Deus” escapam de sua boca.

Então as lágrimas rolam. Quando nos abraçamos, parece que
ela está se dissolvendo em mim. Mas quando eu sinto sua
camisa esfregando contra meu umbigo machucado, uma
sensação de indignidade toma conta de mim. Aqui estou eu,
desejando cada paciente internada levemente atraente que
vejo, enquanto ela veio até aqui esperando que eu tenha
mudado. Acho que estou aqui porque quero ser uma pessoa tão bo
O que estou sentindo agora é outro sintoma do meu trauma.

É vergonha de novo. Eu estou me colocando para baixo.
Onde eu pertenço.
De repente, um fragmento do meu passado volta correndo.
Sou uma adolescente deitada na cama, imaginando como será
minha vida no futuro. É sempre o mesmo
cena:
Meu irmão está morando em uma grande casa suburbana
com um grande gramado verde e uma linda esposa loira. Eu
visito e pergunto se posso ficar um pouco porque não tenho para
onde ir. Minhas roupas estão sujas e amassadas, e meu rosto
não está barbeado. Afundo no sofá dele, exalando um cheiro
esquisito e assistindo TV, até que um dia sua esposa
perfeitamente arrumada lhe pergunta, com toda a educação
possível: “Seu irmão algum dia vai conseguir um emprego? Ele
não pode ficar neste sofá para sempre.”
E agora, duas décadas depois, eu realmente consigo
alcançar a vida feliz que nunca pensei ser possível – uma casa,
um emprego, uma namorada estranhamente parecida com a
esposa com quem imaginei meu irmão – e arruino tudo. É como
se a previsão não se tornasse realidade, então eu desejei que
fosse. Eu fodi isso para a vida.
"O que você pensa sobre?" Ingrid pergunta.
“Estou feliz por você estar aqui.”
Há uma energia entre nós. É uma sensação mais forte do

que eu tenho com qualquer outra pessoa, como a atração de dois
ímãs ligeiramente separados. “O que está na sua mão?” ela
pergunta.
“É minha linha do tempo. Eu quero explicar para você, então
você pode saber quem eu sou.”
Caminhamos até o gramado e sentamos na grama perto de
onde estava o círculo dos homens. É logo abaixo da sala de
pacientes e noto os viciados em sexo agrupados ao longo dos
bancos ao ar livre acima. Eles também parecem atraídos pelo
magnetismo de Ingrid. Eu me pergunto se eles estão pensando
em ficar com suas esposas ou em traí-las.
Ingrid ouve atentamente enquanto eu a acompanho em cada

evento na minha linha do tempo. Mas quando eu revelo a piada –
incesto emocional – ela se esforça para entender.
“Como é esse incesto?”
"Eu sei. Eu odeio o termo. Tudo é diagnosticado como algum
tipo de transtorno psicológico incapacitante aqui.” É tão bom estar
conversando com ela, compartilhando com ela, cheirando-a
novamente que, apesar do assunto, estou tonta de felicidade. “Mas
isso é o que nos diz respeito: eles dizem aqui que, se você contar
a eles que tipo de relacionamento você teve com seu pai do sexo
oposto quando criança, eles podem dizer que tipo de relacionamento
romântico você terá como
um adulto. A menos que você seja gay, nesse caso seria o

pai do mesmo sexo.”
"Não sei. Isso soa muito simplificado.”
“Talvez seja. Eu não tenho mais ideia do que é verdade.”
Desde que apresentei minha linha do tempo, minha cabeça
está uma bagunça. Então explico a Ingrid o que aprendi
desde aquela tarde. . .
Dizem aqui que existem três maneiras de criar filhos. O
primeiro é o vínculo funcional, no qual os pais ou cuidadores
primários amam, nutrem, firmam, estabelecem limites
saudáveis e cuidam das necessidades da criança. Viro minha
linha do tempo e desenho para ela:
Isso cria uma criança que tem um eu saudável e seguro

estima e relacionamentos.
Mas então há negligência, quando um cuidador abandona, se

separa ou não nutre adequadamente a criança. Isso pode variar
de um pai que
não está fisicamente presente, para um pai que está fisicamente
presente, mas emocionalmente distante, para um pai que
não fornece cuidados ou segurança adequados, a um dos pais
perdido em um trabalho, sexo, jogo, álcool ou outro vício. Se você
cresceu se sentindo indesejado ou sem importância para um dos
pais, isso é um sinal de que a negligência provavelmente
ocorreu:
Isso faz com que crianças feridas, muitas vezes deprimidas e

indecisas, se vejam como falhas e
menos valiosos do que outros, e sentem que não podem enfrentar o
mundo sozinho. Nos relacionamentos, eles tendem a ter
o que é chamado de apego ansioso. Eles podem se sentir como
não são suficientes para seus parceiros; tornam-se tão envolvidos

em seus relacionamentos que perdem de vista suas próprias
necessidades e valor próprio; e sejam emocionalmente intensos,
passivo-agressivos ou que precisem de garantia constante de que
não estão sendo abandonados.
Aqui, eles chamam esse tipo de pessoa de viciado em amor.
Enquanto Ingrid escuta atentamente, procuro qualquer
reconhecimento em seus olhos. Afinal, ela foi abandonada pelo pai
durante toda a infância, mesmo antes de ele tentar matar sua mãe
e escapar por pouco de seus tios. Quando não vejo nenhum, passo
a explicar o terceiro tipo de parentalidade: emaranhamento. Esta é
a minha educação.
Em vez de cuidar das necessidades da criança, o pai integrador

tenta fazer com que suas próprias necessidades sejam atendidas
por meio da criança. Isso pode assumir várias formas: um pai que
vive através das realizações de uma criança; quem torna a criança
um cônjuge substituto, terapeuta ou cuidador; quem está deprimido
e usa emocionalmente a criança; quem é autoritário ou
supercontrolador; ou que é excessivamente emocional ou ansioso
sobre uma criança. Se você cresceu sentindo pena ou sufocado por
um dos pais, este é um sinal de que o enredamento provavelmente
ocorreu:
No processo, as crianças enredadas perdem seu senso

de identidade. Como adultos, eles geralmente evitam que
alguém se aproxime demais e sugue a vida deles
novamente. Onde os abandonados muitas vezes são
incapazes de conter seus sentimentos, os enredados
tendem a ser isolados deles, sendo perfeccionistas e
controladores de si mesmos e dos outros. Embora possam
buscar um relacionamento pensando que querem conexão,
uma vez que estão na realidade de um, muitas vezes
erguem paredes, se sentem superiores e usam outras
técnicas de distanciamento para evitar a intimidade. Isso é
conhecido como apego evitativo – ou, como eles colocam
aqui, evitação amorosa. E a maioria dos viciados em sexo,
de acordo com essa teoria, evita o amor.
Digo a Ingrid que perguntei se havia uma quarta
categoria para paternidade física ou sexualmente abusiva,
mas foi dito que isso poderia ser registrado em uma criança
como negligente ou emaranhado. Eles explicaram que uma
regra prática a ser usada é que quando o abuso de um pai
enfraquece uma criança, isso é negligência; quando é
falsamente empoderador, isso é emaranhado.
Ingrid pisca para conter as lágrimas, coloca sua mão de
pedra-papel-tesoura calorosamente sobre a minha e diz: “Eu
desistiria de qualquer coisa para vê-la curada e livre do
emaranhado que está impedindo você de viver”.
No passado, eu teria pensado que esta era a coisa mais
bonita do mundo para se dizer. Agora, em vez disso, me
preocupo que querer desistir de “qualquer coisa” pela felicidade
de outra pessoa seja um sintoma disfuncional de vício em amor
e co-dependência. Então eu me preocupo que estar assustado
com seu cuidado altruísta seja um sintoma de minha própria
evitação ao amor. Eles estão realmente estragando minha
mente aqui.
"Estou trabalhando duro nisso", digo a ela. Espere, isso
não é completamente verdade. “Algumas das coisas aqui são
um pouco exageradas para mim, no entanto.” Isso é melhor.
“Acho que isso vai ser a melhor coisa que já aconteceu
com você”, ela responde. E pela primeira vez desde que a traí,
vejo a luz retornar aos seus olhos.
"Você acha mesmo?"

"Eu sei isso. Eu nunca te disse isso, mas estive em

reabilitação por dois anos.”
25
“Então , tudo o que você realmente quer em um relacionamento é de graça
dom?” Ingrid pergunta enquanto caminhamos para o refeitório para

jantar mais tarde naquele dia.
"Sim, acho que sim."
"Eu gostaria de lhe dar mais liberdade, então."
"Sério?"
“Sim, começando agora.” Ela pega meu jeans de brincadeira e
começa a puxá-lo para baixo. “É assim que se sente a liberdade!” Um
sorriso travesso, do qual senti muita falta, se espalha por seu rosto.
“Por que você não mostra a todos aqui sua liberdade?” ela zomba,
puxando em seguida minha cueca boxer.
Eu puxo o cós para cima para não me expor: se Joan visse isso,
ela provavelmente adicionaria exibicionista compulsivo ao meu
registro permanente. Mas Ingrid continua lutando para tirar minha
roupa, gritando “Liberdade!” no topo de seus pulmões.
Entramos no refeitório, sorrindo de orelha a orelha.

Ela está fazendo uma piada sobre o assunto que todos nós, demônios
vermelhos, temos nos amarrado.
Talvez a melhor cura seja apenas clarear. Eu não preciso de Zoloft.

eu tenho ela.
"Senhorita, você vai ter que abotoar sua camisa mais alto", o
conselheiro do refeitório e alimentador anoréxico late quando a vê,
como se os viciados em sexo fossem entrar em masturbação
pública espontânea quando virem aquele centímetro extra de
clivagem.
Cada um de nós pega um prato de pedaços de frango sem
sabor sobre arroz com sabão e caminhamos até a mesa dos
viciados em sexo. Troy me dá um tapinha nas costas e diz
idiotamente: “Você não nos disse o quão gostosa ela era.” Talvez
o conselheiro estivesse certo, afinal.
Charles não sai da mesa quando nos sentamos, o que significa
que os visitantes estão presumivelmente isentos da regra de
“somente homens”. Ingrid pergunta a cada cara do grupo sobre sua
história e cada um fala livremente de seus pecados, exceto Charles.
Em seguida, ela conta a história de sua família: “Meu avô

sempre traiu minha avó, mas ela sempre o amou. Depois que ele
morreu, ela começou a ter pesadelos recorrentes sobre ele traindo.
Então, todas as manhãs, ela vai ao quarto dele e grita para suas
cinzas: 'Dios mío! Mesmo na morte você ainda está me traindo.
Você não pode me deixar em paz, seu velho sujo?'” Os caras riem
muito conscientemente.
“Então, algumas horas depois, ela volta, pede desculpas,

espana o quarto e refresca as flores em sua mesa de

cabeceira.”
E assim, mesmo na morte, na relação com uma
memória, a balada do viciado em amor e que evita o amor
continua.
A mãe de Ingrid era tão obsessiva quanto uma
viciada em amor. “Ela costumava ser bonita e independente
e tinha seu próprio programa de TV no México, mas
quando nos mudamos para a América, ela se tornou uma
escrava doméstica do meu padrasto”, diz Ingrid aos caras.
“Eu tentava convencê-la a deixá-lo porque ele era tão
emocionalmente abusivo, mas ela sempre dizia: 'Não
posso. O que vou fazer quando vocês dois fizerem dezoito
anos? Vou ficar sozinho.'”
“Talvez esse seja o dilema feminino”, interrompe Troy.
“Ela se casa com alguém que está lhe dando amor e
romance, mas com o tempo ela é desprezada ou
transformada em empregada doméstica ou se torna uma
fábrica de bebês ou é traída. Não há uma única
necessidade emocional dela que seja preenchida pelo
marido. Então ele tem a coragem de reclamar que ela não
é sexual ou atraente quando ele drenou a vida dela.”
Enquanto os rapazes acenam em triste reconhecimento,
Ingrid rapidamente resume seus anos de adolescência,
alguns dos quais ela nunca compartilhou comigo antes:
Seu padrasto a tratou pior do que uma criada – fazendo-a
trabalho árduo, recusando-se a deixá-la jantar à mesa com o

resto da família e dando-lhe uma garagem sem aquecimento
e sem móveis como quarto.
Ingrid logo passou de uma aluna nota A para uma aluna nota
F.
Eventualmente, ela fugiu, começou a usar metanfetamina
e passou dois anos morando na reabilitação porque seu
padrasto não a deixou voltar para casa. Ela acabou se
tornando a porta-voz da juventude do centro de tratamento,
aparecendo nos noticiários e falando em eventos com o
prefeito.
No entanto, apesar de se separar de sua família e realizar
tanto sozinha depois, ela ainda seguiu os passos de sua mãe
e avó e se apaixonou por um traidor.
Depois do jantar, a anoréxica diz secamente à In grid que

o horário de visita acabou. Quando voltamos para a recepção,
Henry, meu novo amigo da sala de arte, acompanha-nos e
começa a falar em seu tom monótono e lento, ignorando
Ingrid. “Eles falam sobre como existem oito emoções aqui,
mas acho que são nove.”
“Qual é o outro?”
“A nona emoção é a emoção da morte. É simplesmente
não sentir nada.”
Nós somos seres frágeis, eu penso quando vejo a dor em

a cara dele. Mesmo quando o corpo cura, a alma permanece
cicatrizado. Enquanto conversamos, ele lentamente percebe a
presença de In grid e pergunta se ela é minha namorada.
Eu me viro para Ingrid e nossos olhos procuram um no outro
para uma resposta. Eu fiz minha penitência e mostrei um
vontade de mudar fazendo check-in aqui; ela é
mostrou seu perdão dirigindo aqui para me ver e
compartilhando seus próprios segredos.
"Sim", ela diz a ele. "Eu sou."
Alívio e gratidão fluem através de mim. terminei
fantasiando sobre as mulheres aqui. me foi dado um
segunda chance de não ser o pai e o avô de Ingrid — ou ser eles
e perpetuar o padrão multigeracional de enganar homens e
mulheres
quem os ama. Os pecados dos pais são os destinos de seus filhos.
A menos que as crianças acordem
e fazer algo sobre isso.
“Eu confio no seu namorado,” Henry diz. “Eu sinto que eu
pode falar com ele”.
Claro que ele pode, eu acho. devo dar alguns
tipo de sinal de enredamento, deixando todos saberem
eles podem confiar sua merda louca em mim. É provavelmente por
isso que acabei traçando o perfil de estrelas do rock para a Rolling
Stone, por que todas aquelas celebridades desconfiadas se
sentiram à vontade para divulgar pensamentos privados para mim que e
nunca compartilhei com mais ninguém, por que meus editores

me bateram nas costas depois e colocaram a história na capa.
Traumas de infância podem aparecer por trás e foder você

na bunda quando você crescer, mas pelo menos deixa uma
gorjeta na mesa de cabeceira.
“Quem era aquele pobre rapaz?” Ingrid pergunta enquanto
Henry se afasta, falando sobre seu último plano de suicídio: ele
identificou o paciente mais perigoso aqui e está planejando
brigar com ele.
“Ele fez sexo com um cavalo.”
“E o cavalo ficou com ciúmes e contou para a esposa?” ela
piadas, embora haja uma farpa lá que eu ignoro.
Enquanto nos despedimos na recepção, tento imprimir a
suavidade de seus seios contra meu peito, as cristas de sua
coluna sob meus dedos, o calor de sua bochecha contra a
minha, para que eu possa lembrá-los quando ficar fraco.
“Meu maior desejo é que você encontre seu

paz e felicidade,” ela diz enquanto se afasta.
"Obrigado por acreditar em mim", digo a ela - minha
namorada, minha amante, meu carcereiro.
Depois que ela sai, sento em um banco do lado de fora da
sala de pacientes e lágrimas vêm aos meus olhos. Ela parece
me amar incondicionalmente, mas temo que a ame
condicionalmente. Eu olho para ela às vezes e me preocupo
que ela vai ter quadris largos como a mãe dela, ou eu me

pergunto se ainda serei capaz de fazer amor com ela
quando ela estiver gorda e enrugada. Outras vezes,
desmonto suas feições existentes, procurando falhas e
imperfeições. O triste é que eu certamente tenho muito
mais imperfeições que ela poderia separar: sou baixinha,
careca, ossuda e de nariz grande, com enormes poros
gordurosos. Tenho sorte de tê-la. E eu me pergunto: eu
sou capaz de amar? Já amei alguém de verdade?
Não sei dizer se minhas lágrimas são pela beleza de
seu amor ou pela tristeza de minha incapacidade de me
sentir digna dele.
26
Como jornalista, conheci muitos dos chamados especialistas.
A maioria são apenas pessoas com um pouco de experiência e
muita confiança que se deram um título com o qual podem enganar
os sugestionáveis e os estúpidos.
Mas de vez em quando, encontro alguém que tem a experiência, o
conhecimento e o chamado para ser não apenas um professor
distribuindo informações, mas um guia que conduz os outros a si
mesmos. E Lorraine parece ser uma delas.
“Autodepreciação ainda é auto-adoração”, ela está dizendo a

Calvin. “É o outro lado da mesma moeda. Ainda é sobre si mesmo.”
É a nossa segunda semana aqui e a equipe nos dividiu em

grupos menores para experimentar uma Gestalt como terapia que
eles chamam de trabalho na cadeira. Adam, Calvin, Troy e eu — os
encrenqueiros — fomos, para nosso alívio, colocados sob os
cuidados de Lorraine em um prédio próximo.
E ela está nos preparando para passar por essa forma intensa de
cura de traumas.
“Eu sou péssimo em autodepreciação,” sussurro para Calvin.
Lorraine ouve e diz severamente: “Lembre-se de que o humor é

uma parede. É uma forma de negação, o mesmo que repressão,
racionalização, globalização e minimização”.
Sim, eu acho que ela é uma dessas especialistas. Está claro que
ela lidou com pessoas inteligentes e estúpidas o suficiente para que
ela possa me ler como um livro.
Naquela tarde, Lorraine abre a mente de todos. Enquanto ela dá
palestras sobre a psique humana, os rostos dos viciados em sexo se
iluminam intermitentemente, como fogos de artifício, à medida que
percebem as origens de seus comportamentos, seus sentimentos e
as crenças que os mantiveram distantes dos outros e, em última
análise, de si mesmos.
Ao contrário da terapia de conversa tradicional, na qual um
terapeuta fica com um cliente em um consultório por uma hora toda
semana durante anos ou mesmo décadas, o tratamento do vício
precisa mudar as pessoas rapidamente. Vidas estão em jogo. Essa
próxima bebida pode levar a uma veia estourada; que a próxima
injeção pode ser quente. O que importa é o que funciona hoje, não o
que foi estudado e aceito pela comunidade psiquiátrica convencional.
E então alguns dizem que as técnicas aqui, muitas delas adaptadas
do trabalho de décadas de uma ex-enfermeira, Pia Mellody, que
neste momento nem tem sua própria entrada na Wikipedia, são
problemáticas; outros dizem que
são o ápice da transformação pessoal — se você tiver a sorte de

conseguir o conselheiro certo.
E tivemos a sorte de pegar Lorraine, a única pessoa que
encontrei aqui até agora que não parece esgotada ou amargurada
pela tarefa de Sísifo de curar mentes danificadas que ela não pode
tocar ou
Vejo.
Conforme Lorraine explica o modelo que eles usam aqui, ela

nos pede para respirar fundo, ouvir com atenção e voltar à forma
como víamos nossos pais — e o mundo — aos oito ou doze anos
e não como os entendemos agora. E é isso que ouvimos. Talvez,
se você optar por fazer o mesmo, reconheça alguém que
conhece. . .
TUDO QUE ESTÁ ERRADO COM

SEU COMPORTAMENTO E POR QUE EM 1.800
PALAVRAS OU MENOS
No início . . .
Você nasceu.
E como todos os bebês, você era completamente vulnerável
e dependente, com um novo cérebro em desenvolvimento e
nenhuma compreensão do mundo.
Em um mundo perfeito. . .
Seus pais seriam perfeitos. Eles se dedicariam em
tempo integral a cuidar de suas necessidades físicas e
psicológicas, sempre tomando as decisões certas,
estabelecendo os limites mais saudáveis e protegendo-o
de todos os danos, enquanto o prepara para eventualmente
cuidar de suas necessidades sem eles.
Mas no mundo real. . .

Ninguém é perfeito. Nem seus pais, nem as outras pessoas
que desempenham um papel em sua educação. Portanto, ao
longo do caminho, algumas de suas necessidades de
desenvolvimento não são atendidas.
E o problema é. . .
Quando uma de suas necessidades não é atendida, seja
grande ou pequena, pode deixar uma ferida.
Essas feridas são conhecidas como traumas de infância.

Cada instância ou padrão de trauma pode criar
principais questões pessoais e desafios de relacionamento - e
se estes não forem tratados, é provável que você passe o seu
feridas para a próxima geração. Uma vez que este trauma
ocorre no início da vida, pode afetar o desenvolvimento social,
emocional, comportamental, cognitivo e moral.
Nem sempre é evidente ou intencional. . .

Mais comumente, as pessoas pensam que o trauma vem
de perpetradores odiosos que são conscientemente e totalmente
abusivos. Mas mesmo os pais que pensam em si mesmos
como amorosos ou bem-intencionados cometem erros, cruzam
limites, ou simplesmente fazem o seu melhor com as limitações internas
recursos que possuem. E esse abuso encoberto, muitas vezes não
reconhecido, pode, por sua constante repetição, deixar
feridas tão profundas quanto as criadas por um único ato malicioso.
Pode ser uma cicatriz emocional. . .

Em seus primeiros anos, você é o centro do universo. Tudo
gira em torno de você. Então as feridas podem
vêm de cuidadores que estão fora de controle ou
completamente separado de suas emoções ao seu redor.
Quando mamãe está sempre cheia de ansiedade enquanto

amamenta, papai chega em casa furioso toda vez que tem uma
dia difícil no trabalho, ou padrasto está deprimido por sua
problemas de dinheiro durante os raros momentos que ele passa
com você, você absorve essas emoções como uma esponja,
muitas vezes assumindo erroneamente a culpa ou a responsabilidade por
eles. Mesmo que um dos pais adoeça e falece, pode
parece abandono ou algo que você fez acontecer se você é muito
jovem para entender a morte.
Pode ser físico. . .

A maioria das pessoas entende que não há problema em machucar
fisicamente ou mesmo bater em uma criança. Mas aqui está um exemplo
isso não é tão óbvio: qualquer procedimento médico invasivo -
mesmo algo tão comum como uma circuncisão ou pontos - pode
registrar exatamente o mesmo
como abuso físico se você experimentar em seus primeiros
anos de vida. Você pode até começar a desconfiar de seus
cuidadores por trazê-lo para um lugar desconhecido e não
mantendo você seguro.
Muitas vezes é intelectual. . .

Após os primeiros anos de vida, você começa a se separar
de seus pais. Neste período, é seu trabalho ajudar
você se torna sua própria pessoa e se mantém confiante

seus próprios pés no mundo. Aqui, um novo conjunto
de problemas podem surgir - especialmente quando os pais tentam
controlá-lo demais, criticá-lo habitualmente ou esperar, sem razão, que
você seja perfeito. Outras famílias aderem
regras tão rígidas que qualquer manifestação da individualidade de uma
criança é imediatamente atacada como uma ameaça. Todos estes
pode levar a problemas de estima mais tarde na vida.
Ou pode assumir toda a sua identidade. . .

Dentro de um sistema familiar disfuncional, cada criança
tende a desempenhar um papel diferente que ajuda a família a sobreviver
e diminui seus problemas reais. Estes podem incluir
o herói reverenciado , o bode expiatório problemático , o
criança perdida negligenciada , o apaziguador que agrada às pessoas e
o mascote que levanta o humor . Mais tarde na vida, esses papéis (como
bem como a ordem de nascimento) pode levar a problemas de
personalidade correspondentes, seja o perfeccionismo crítico do herói, a
raiva explosiva do bode expiatório, a
baixa auto-estima, a negação do apaziguador das necessidades pessoais,
ou a irresponsabilidade impulsiva do mascote.
Mas não é fácil ver seus próprios problemas centrais. . .

Suas crenças, comportamentos e adaptações mais antigas

não foram apenas reforçadas por décadas de hábito, mas estão
profundamente enraizadas na arquitetura do seu cérebro, que
está ocupado construindo novas conexões neurais em um ritmo
surpreendente no início da vida. Como diz o ditado: “Células que
disparam juntas, ligam juntas”. Portanto, tentar se ver com
qualquer objetividade pode ser como tentar tocar o cotovelo
direito com a mão direita.
Mas se você puder se desapegar um pouco de si mesmo,
perceberá que as coisas que você faz e pensa não surgem do
nada. Aqui estão algumas técnicas e ferramentas que você pode
usar para entender melhor como seu passado pode interferir em
sua felicidade, seus relacionamentos e sua vida hoje.
Você pode trabalhar para trás. . .

Você está se esforçando incansavelmente para ter sucesso
e se martirizando quando falha? Talvez seja porque, quando você
era adolescente, seus pais faziam você sentir que seu valor como
ser humano dependia de suas notas, aterrissagens ou realizações.
Você está fora de contato com suas emoções porque seu

padrasto sempre lhe disse para endurecer quando chorasse?
Você sente no fundo como se não importasse porque
você foi muitas vezes ignorado crescendo? Você está sempre

tentando salvar ou cuidar dos outros porque nunca conseguiu
salvar a mamãe de sua depressão ou vício?
Você está em completa negação de que algo estava errado
com sua família porque papai agiu como se fosse infalível e
devesse ser obedecido inquestionavelmente, então criticá-lo
seria como blasfemar contra Deus?
Você já está pegando o jeito disso?
Você pode desculpar minha linguagem. . .

Alguns de vocês têm um grande saco de merda que estão
carregando. E toda vez que você se depara com uma situação
em que você pode ter mais merda para colocar na bolsa, você
a pega e a enfia dentro. Você vai até ignorar todos os diamantes
brilhando nas proximidades, porque tudo que você pode ver é
a merda.
Essa merda é conhecida como “as histórias que você conta a si mesmo”.
Exemplos incluem generalizações como “tomo decisões
erradas”, “se as pessoas me vissem de verdade, não gostariam
de mim” ou, inversamente, “ninguém é bom o suficiente para
mim”. Cada uma dessas crenças pode ser formada na infância,
respectivamente, por pais que criticam, pais que abandonam e
pais que colocam você em um pedestal.
Como resultado, você pode passar grande parte de sua

vida interpretando mal as situações e achando que encontrou mais
evidências para apoiar essas falsas conclusões formadas em
infância. Uma maneira de reconhecer quando você está preso
sua própria história é sempre que você se sente inferior ou melhor
do que outros.
Você pode examinar este gráfico. . .
Ferido Adaptado Funcional

Criança (emo Adolescente Adulto
cionalmente 0-5) (emocionalmente (emocionalmente maduro
6-18)
Inútil Arrogante Estimado de
Dentro de
Extremamente Invulnerável Saudável

Vulnerável Limites
Extremamente Desnecessário Comunica
Carente Precisa
Sentimentos Mau/ Sente-se sem culpa / Honesto e próprio
Danadinho Perfeito Consciente
Fora de controle Hipercontrole Flexível e

Moderado
Medos Medos Sufocamento Interdependente

Abandono
Procura atenção Procura intensidade Vive com integridade
e Harmonia
Idealiza o Cuidado Desiludido por Na realidade sobre
compradores/parceiros
Cuidadores/ Cuidadores/
Parceiros Parceiros
Então pergunte a si mesmo: em uma determinada semana, você

apresenta algum dos comportamentos feridos de crianças ou adolescentes aqui?
Se assim for, você pode ter ficado preso em algum lugar ao longo
do caminho em seu desenvolvimento emocional ou comportamental,
ou certas situações estão fazendo com que você volte a essas
idades.
Sempre que você reage exageradamente a alguma coisa –
desligando-se, perdendo a paciência, de mau humor, sentindo-se
sem esperança, surtando, dissociando-se ou qualquer um dos
inúmeros outros comportamentos disfuncionais – geralmente é
porque uma velha ferida foi desencadeada. E você está regredindo
ao estado de infância ou adolescência que corresponde a esse
sentimento.
Observe que a criança ferida tende a internalizar diretamente

as mensagens que os cuidadores transmitem; o adolescente
adaptado tende a reagir contra eles.
No entanto, nem todos reagem ao mesmo trauma da mesma

maneira. . .
E as crianças nascem com diferentes predisposições e
resiliências.
Então, se você permanecer leal a pessoas que o abusam e o
tratam mal, isso é chamado de vínculo de trauma.
Se você só se sente normal se estiver fazendo alguma coisa
extremo ou de alto risco, isso é a excitação do trauma.
Se você desenvolveu uma auto-aversão intensa, você tem
vergonha do trauma.
Se você encontrar maneiras químicas, mentais ou tecnológicas
de entorpecer a si mesmo e seus sentimentos, isso é bloqueio de
trauma.
E isso continua indefinidamente. Um padrão de trauma; muitas
respostas possíveis a ele. Nós apenas arranhamos a superfície.
Mas pelo menos você conhece o modelo com o qual estamos
trabalhando aqui.
Não se trata de culpar, mas de compreender. . .

Em resumo, cada um de nós passa a vida adulta rodando

em um sistema operacional único que levou cerca de dezoito
anos para programar e está cheio de bugs distintos e usos de
vírus. E quando reunimos todas essas diferentes teorias de
apego, imaturidade no desenvolvimento, estresse pós-
traumático e sistemas familiares internos, eles formam um
corpo de conhecimento que nos permite executar uma
varredura de vírus em nós mesmos e, a qualquer momento,
olhar em nossos comportamentos, nossos pensamentos e
nossos sentimentos, e descobrir de onde eles vêm.
Essa é a parte fácil. A parte difícil é colocar o vírus em
quarentena, reconhecer o falso eu e restaurar o verdadeiro
eu. Porque é só quando começamos a desenvolver um
relacionamento honesto, compassivo e funcional com nós
mesmos que podemos começar a experimentar um
relacionamento saudável e amoroso com os outros.
“E isso”, conclui Lorraine, “é o trabalho da

cadeira”.
27
Na reunião dos viciados em sexo e amor anônimos naquela
noite, Carrie se joga no sofá ao meu lado, seu braço nu
descansando suavemente contra o meu. Eu afasto meu
braço. Este é o novo eu.
"Eu não posso acreditar que essa cadela ainda não vai deixar você
falar comigo", diz ela.
“É para sua própria segurança. Eu sou muito perigoso para as
mulheres.”
Charles, que está sentado à minha frente, faz um
movimento cortante sobre o pescoço. Ele tem razão. Até
esse pouco é demais. Saio da sala, volto alguns momentos
depois e sento em outro lugar. Embora pareça uma coisa
sensata e respeitosa com Ingrid, esse tipo de comportamento
distante e desinteressado provavelmente só fará Carrie
gostar mais de mim.
Isto é, até ela ouvir o meu check-in.
"Eu quebrei meu contrato no domingo de manhã",
confesso quando chega a minha vez. “Me sinto estranho
dizendo isso na frente de todo mundo, mas me masturbei.
Acabei de acordar em uma certa condição e não pude evitar.”
As palavras ressoam na minha cabeça: “Eu não pude

evitar.” Isso soa exatamente como algo que um viciado diria.
Para me tranquilizar, pergunto se mais alguém se masturbou.
Há um silêncio total e então uma mão ovelha se levanta.

“Eu tenho,” Calvin sussurra.
De repente, sou a viciada em sexo mais descontrolada
da sala. Calvin provavelmente estava se masturbando sobre
seu piquenique. “Percebi depois”, continuo, “que estava me
masturbando porque estava com medo de minha namorada
vir me visitar. No entanto, acabou sendo incrível tê-la aqui e
me fez querer levar minha recuperação mais a sério e me
tornar uma pessoa melhor.”
Quando saímos da sala após a reunião, Charles me

acompanha. “Deixe-me dar alguns conselhos para que você
não quebre seu contrato novamente”, diz ele. “Acredite,
comporte-se, torne-se: acredite em você e em Ingrid.
Comporte-se para Ingrid. Torne-se uma família nuclear.”
É um bom conselho. Os três passos.

“Se você decidir admitir que é impotente diante do seu
vício, você pode me procurar em Los Angeles quando sair,”
ele continua magnanimamente. “Posso te colocar em um
grupo de terapia particular com um dos melhores CSATs de
LA”
Evidentemente eu disse a coisa certa na reunião de hoje.

Decido perguntar a ele como ele recaiu, já que ele compartilhou
os detalhes de sua história com o grupo antes de eu chegar.
“Eu estava na Nova Zelândia, onde a prostituição é legal”, ele
responde. Sua voz é melancólica, mas apesar de si mesmo,
um sorriso culpado se arrasta em seu rosto.
Joan chama isso de recordação eufórica. “E acabei indo para
um lugar onde eles tinham um cardápio de serviços e faziam
um trio com duas mulheres muito atraentes por quatrocentos
e cinquenta dólares.”
Ficamos em silêncio na beira do dormitório por um
momento, ambos ajustando o visual, um estalo de desejo
aparecendo na austeridade de Charles. "E isso foi ruim", eu
digo. "Muito mal."
“Sim, muito ruim.”
Naquela noite, sonho que Ingrid e eu estamos em um quarto

de hotel em Las Vegas com um padre que estamos pagando
por hora.
“Agora os declaro marido e mulher”, diz o padre.
Assim que as palavras saem de seus lábios, uma mortalha

fria de medo me envolve. Algo irreversível aconteceu em
apenas alguns segundos e me arrependo porque sei que não
posso retribuir o que Ingrid
sentimentos. Acordo com uma sensação de maldição pairando sobre

minha cabeça.
As palavras de Charles ressoam em minha cabeça: “Torne-se uma
família nuclear”.
O que há de tão bom em uma família nuclear? Eu me pergunto,
antes que eu possa me impedir. Tudo o que a palavra nuclear me faz
sentir é medo da aniquilação.
28
Chicago, vinte e três anos antes
Anel. Anel.
Olá.
O Todd está aí?
É uma garota chamando pelo meu irmão mais novo. Eles
sempre chamam por ele. Nunca para mim.
Não, ele está fora.
Esta é Raquel.
Ei.
Estou com Julia e estávamos ligando para convidá-lo.
Estamos fazendo uma festa especial. Julia, por que você
não conta a ele sobre isso?
Ambos riem. É um som que apenas adolescentes podem
fazer. É o seu chamado de acasalamento.
Sim, Jonas e Craig terminaram, mas eles não conseguem
mais levantar.
O que você quer dizer? O que vocês estão fazendo?
Estamos muito excitados. Quer vir?
É isso: finalmente, uma chance de perder minha virgindade.

E eu preciso me tornar um homem antes da faculdade.
Há apenas um problema.
Não posso. Estou de castigo.
Nós vamos fazer valer a pena.
Como?
Nós lhe daremos — e aqui ela sussurra — um boquete.
Juntos?
Se você quiser. Nós vamos fazer você tão certo se você nos
fizer certo.
Deus, eu quero tanto vir.
Eu não posso acreditar que eles estão se oferecendo para
ter um trio comigo. Este seria o Super Bowl de experiências
sexuais adolescentes. Mas eu fiquei fora até tarde uma noite sem
ligar para minha mãe, então fiquei de castigo por dois meses.
Passei a maior parte da minha adolescência castigada. No ano
anterior, minha mãe de alguma forma descobriu que eu tinha ido a
um show de rock que eu não tinha permissão para ir, então ela me
deixou de castigo por seis meses.
Pressa. Julia quer fazer sexo com você.
Sério?
Ela quer você, Neil.
Porra, eu a quero também. Mas acho que não consigo hoje.
Ou qualquer dia nas próximas sete semanas.

Por que não?

Eu te disse. Estou de castigo.
Basta sair de fininho.
Não posso. Não tenho as chaves da casa.
Você não é engraçado.
Espere.
Vamos ligar para Alex. Ei, você tem o número de Alex?
Olhando para trás naquele telefonema - a única vez que recebi propostas
no ensino médio ou na faculdade -, não sei por que nunca me rebelei, por
que nunca saí de qualquer maneira, por que, mesmo naquela idade,
aguentei ser constantemente preso . Último ano do ensino médio, segundo
semestre, quando você já foi aceito na faculdade — essa deveria ser a
melhor época da sua vida. Pelo menos para os adolescentes que não
estão enredados.
29
Lorraine cola várias folhas de papel pardo na parede
e me pergunta sobre meus parentes desde meu
bisavô. Enquanto falo, ela mapeia minha árvore
genealógica, diagramando tudo o que sei sobre cada
parente, desde a ordem de nascimento até as
tragédias em suas vidas e o equilíbrio de poder em
seus casamentos. Isso é chamado de genograma.
Ela está procurando padrões. E ela encontra vários.
“Faço isso há muito tempo, e esta é uma das
mães mais narcisistas que já conheci”, ela me diz
quando chegamos aos meus pais e ao meu histórico
de relacionamento. “Ela sufocou você, então você
montou uma parede com ela que você manteve no
lugar através da raiva e se esgueirando pelas costas
dela. E você ainda está usando aquela parede para
não ser sufocada por Ingrid.
Tudo o que ela diz cai na minha cabeça como
uma vassoura, derrubando teias de aranha e
revelando células cerebrais perdidas, como os anos de r
arrependimento que eu nutria por estar de castigo e perder

minha única oportunidade sexual no ensino médio.
"Há uma coisa que está me incomodando", digo a Lorraine.
“Não consigo entender por que nunca me defendi contra o rigor
dela e apenas me rebelei ou fugi?”
Ela olha para o meu genograma por um momento, depois

responde: “Porque seu exemplo foi seu pai, e ele nunca se
defendeu. E seu pai também não enfrentou sua mãe.”
O resto dos caras concordam com a cabeça enquanto eu

me pergunto se meu avô também tinha uma vida sexual secreta.
Provavelmente. “E você notará,” ela continua, “que eles não
modelaram um relacionamento saudável para você. Não é à
toa que você tem medo quando se trata de Ingrid.
Você não quer acabar em um relacionamento como o que seus
pais têm.”
Ao crescer, muitas vezes desejei que meus pais tivessem
casos. Quando minha mãe e eu encontramos fotos de meu pai
com uma mulher que não reconhecíamos, fiquei feliz por ele
aparentemente ter encontrado algum romance e excitação fora
de seu casamento desolado. Não é à toa que a traição veio tão
naturalmente para mim. Eu me dei permissão muito antes de
ter uma namorada.
Lorraine passa o resto da manhã e a maior parte da tarde

fazendo os genogramas de todos. Quando ela termina,
ela nos diz que antes de começarmos nosso trabalho na
cadeira amanhã, ela quer nos ensinar sobre a relação
entre o viciado em amor e o que evita o amor – ou, como
ela prefere dizer, o codependente e o contradependente.
“Se você pensa em intimidade como eu vejo e

compartilho isso com você – isso é intimidade”, começa
Lorraine.
Tenho ouvido a palavra intimidade constantemente
aqui, falada como se fosse o Santo Graal. E todas essas
coisas divertidas — de sexo a drogas, ambição e até
mesmo vestir-se de forma atraente, ler romances ou ter
pensamentos intelectuais — deveriam ser eliminadas
porque são barreiras para isso.
“Problemas de intimidade vêm da falta de amor
próprio”, ela continua. “Alguém que teme a intimidade
pensa, inconscientemente, se você soubesse quem eu
realmente era, você me deixaria.”
“Eu sempre acho isso!” Calvin diz, levantando a mão
para um high five. Vai sem tapas.
"Eu classificaria todos vocês como pessoas que
evitam a intimidade", ela insiste. “O esquivo é muito bom
em seduzir, no sentido de que ele tem uma capacidade
incrível de descobrir o que sua parceira precisa e dar a ela.
Como ele geralmente estava enredado, ele obtém seu valor e valor
cuidando de pessoas necessitadas.”
“Então, os caras adoram evitar e as mulheres adoram viciados?”
pergunta Calvino.
“Não, eu vi os dois. O que acontece em ambos os casos é que
escolhemos parceiros que estão na nossa idade de desenvolvimento
emocional e maturidade, e cujos problemas são complementares aos
nossos. Suas esposas podem pensar que o mandaram aqui porque
você está doente e eles são normais, mas eu nunca trabalhei com um
casal em que um deles tivesse tudo junto e o outro fosse uma merda.
Eles têm tantos problemas quanto você. Prova disso é o fato de que
eles ainda estão com você.”
"Posso, por favor, ligar para você ao telefone com minha esposa
para dizer isso a ela?" Adão pergunta.
“É exatamente disso que estou falando”, responde Lorraine. “Essa
é a criança emaranhada em você falando. Você deveria estar em
recuperação por você, não por ela.
E isso é típico do seu casamento como um todo. Porque quando um
que evita o amor e um viciado em amor começam um relacionamento,
ocorre um padrão previsível: o que evita dá e dá, sacrificando suas
próprias necessidades, mas nunca é suficiente para o viciado em
amor. Assim, o evitante fica ressentido e procura uma saída fora
do relacionamento, mas ao mesmo tempo se sente muito

culpado de deixar de cuidar do necessitado”.
"Por saída, você quer dizer um caso?" Adão
interrupções.
“Pode ser”, diz Lorraine. “Mas também pode ser exercício
obsessivo ou trabalho ou drogas ou viver na
borda ou qualquer coisa de alto risco. Ele também vai
compartilhar mentalizá-lo porque o segredo ajuda a chutar esse
nível de tensão. Enquanto isso, à medida que as paredes da
formiga evitante ficam cada vez mais altas, o viciado em amor usa
negação de segurar a fantasia e começa a aceitar
comportamento inaceitável”.
Enquanto ela fala, penso em um dos mais clássicos
mitos de nossa civilização: A Odisseia. Ulisses
trapaceia desenfreadamente em sua viagem de volta para casa
da Guerra de Tróia, até mesmo morando com uma ninfa por sete
anos, sabendo muito bem que sua esposa, Penelope, é
Esperando por ele. Enquanto isso, Penelope permanece pura por
vinte anos, embora ela pense que ele está morto. Ainda
Ulisses é o herói do conto e até mata
todos os 108 pretendentes de Penélope por ousar cortejá-la.
Aqui, eles diagnosticariam Ulisses como uma formiga que evita
o amor – fora de aventuras, guerrear e buscar intensidade – e
Penélope como uma viciada em amor, vivendo na fantasia.
Essa relação é tão antiga quanto o tempo.
“Mas o comportamento do evitante tem consequências”,

Lorraine continua, “e o principal deles é algo com o qual a
maioria de vocês está familiarizada: ser pego. E isso acaba
com a fantasia da viciada em amor, que vive seu maior
pesadelo: o abandono, que replica sua ferida original.”
Uma coisa que Odisseu fez certo é que ele não foi pego.
Isso porque eles não tinham paparazzi, redes sociais,
telefones celulares e internet naquela época. Era mais fácil
compartimentar.
“A dor e o medo são tão intensos para a viciada em
amor que muitas vezes ela também desenvolve sua própria
vida secreta. Onde o evasivo quer os altos, o viciado
normalmente vai para os baixos. Ela quer benzodiazepínicos,
álcool, romances, compras até cair, ou qualquer coisa que
deprima o sistema nervoso central. Se ela age sexualmente
ou tem um caso emocional, não é por intensidade, mas
para anestesiar a dor e fugir da dor agonizante. Logo, o
relacionamento não é mais sobre amor por nenhum dos
parceiros, mas sobre fuga da realidade.”
Lorraine desenha um diagrama do relacionamento

doentio que ela vem descrevendo:
“Todo mundo é um ou outro?” pergunta Calvino. “Sinto que sou

os dois.”
É uma boa pergunta: sempre me vi mais ambivalente em meus
relacionamentos do que evasiva, mas talvez a dúvida seja apenas
uma forma de evasão, porque me impede de me comprometer
totalmente com alguém.
“Algumas pessoas têm elementos de ambos ou desempenham

papéis diferentes em momentos diferentes”, responde Lorraine.
Ela então desenha uma imagem de um relacionamento saudável:
“Um relacionamento saudável é quando dois indivíduos

os adultos decidem ter um relacionamento e isso se torna
uma terceira entidade. Eles nutrem o relacionamento
e o relacionamento os nutre. Mas eles não são
excessivamente dependentes ou independentes: Eles são
interdependentes, o que significa que eles cuidam da
maioria de suas necessidades e desejos por conta própria, ma
quando não podem, não têm medo de perguntar a seus
parceiro para ajudar.” Ela faz uma pausa para deixar tudo afundar,
então conclui: “Somente quando nosso amor por alguém excede
nossa necessidade por eles é que temos uma chance de um
relacionamento genuíno juntos”.
"Posso fazer uma pergunta?" eu desabafo. Por alguma razão,
sempre que alguém começa a me dizer o que é certo e o que é
errado, ou a fazer a vida parecer tão em preto e branco, fico
desconfortável. Meus companheiros demônios vermelhos dão uma
olhada uns nos outros. Eles sabem onde isso geralmente leva. Eu
ando até o quadro-negro enquanto Calvin esfrega as mãos
alegremente.
Em seu modelo de relacionamento doentio, apago as setas e
as palavras carência e ressentimento. Então eu apago a outra
pessoa, até que tudo o que resta é uma pessoa em uma caixa com
uma excitação
seta mento:
“Se eliminarmos metade do relacionamento disfuncional, a

disfunção desaparece”, explico.
“O que resta é um cara solteiro curtindo a vida e seus prazeres. Por
que a opção com duas pessoas em um relacionamento de nutrição
recíproca é melhor do que isso?
opção?"
“Se não estiver fora do seu sistema de valores e houver
não há consequências negativas, então viva isso”,
Lorena responde. “Mas eu questionaria por que você
escolha a intensidade sobre a intimidade.”
“Porque a intensidade é mais divertida.”
Desta vez, devolvo o high five de Calvin enquanto pego meu
assento. Não estou fazendo um trabalho muito bom em levar minha
recuperação mais a sério, mas em sua descrição de um
relacionamento, todos os altos e picos de experiências da vida
devem ser sacrificados em nome da intimidade. E
isso não parece ser um objetivo que valha a pena aspirar.
“Eu estaria disposto a apostar que após a alta da intensidade,
há uma queda, e você não se sente tão
ótimo e você precisa do próximo golpe de intensidade,” Lor raine
responde friamente. “Então, em última análise, você pode viver
sua vida como um hamster em uma roda, perseguindo o
próximo golpe para se manter girando. Ou você pode perceber
que no final das contas é tudo uma distração para evitar a dura
realidade que você não está conectado a si mesmo.”
O júbilo na sala diminui. Seus golpes são bem direcionados

e fortes. Ao contrário de Joan, Lorraine não parece estar
tentando vencer, mas sim ajudar — e sua posição não é apenas
menos dogmática, mas também faz sentido.
“Há uma parte inconsciente de nós mesmos que queremos

defender”, continua ela, “e tem sido útil e nos ajudou a sobreviver
às coisas difíceis pelas quais passamos com mamãe ou papai,
o padre ou o treinador.
Mas não queremos que ele dirija mais o carro.” Ela olha para
mim e Troy e Adam e Calvin, então conclui: “A vida não vale a
pena ser vivida se você está vivendo a vida de outra pessoa.”
Calvin começa a chorar.

30
Hoje eu me vi. Talvez pela primeira vez na minha vida.
No dia seguinte à palestra de Lorraine, entramos na sala de

tratamento e encontramos seis cadeiras cuidadosamente arrumadas.
Há duas cadeiras perto de uma parede. A primeira é para Lorraine,
a segunda para sua primeira vítima – que logo descubro que sou
eu. Há uma terceira cadeira vazia de frente para a minha do outro
lado da sala. Os assentos para o resto de meus irmãos libidinosos
estão alinhados contra a parede do meu lado esquerdo, como se
estivessem fora do alcance do fogo.
Cada cadeira tem uma caixa de Kleenex ao lado.

“Vocês vão querer imaginar que estão vestindo roupas de
mergulho,” Lorraine diz ao resto dos caras. "E feche-os bem,
porque vai ficar muito emocionante aqui e eu não quero nenhum
de vocês afetado."
Eu me preparo para o que está por vir quando ela me diz:
“Antes de começarmos esse processo, gostaria que você soubesse
que existem homens casados que não são apenas fiéis, mas nem
pensam em trair”.
Antes que a adolescente adaptada em mim possa

responder com algo cínico como: “E também nascem
homens com onze dedos nos pés”, ela me diz para fechar
os olhos e desligar meus pensamentos. “Preste atenção à
sensação de seus pés no chão e a suave entrada e saída
de sua respiração”, diz ela, sua voz diminuindo e
suavizando. “Observe como cada vez que você expira,
você fica mais relaxado.”
Eu sei o que ela está fazendo: ela está me colocando
em transe. E eu confio nela, então tento relaxar e deixar ir.
Ela me pede para imaginar meu eu de oito anos sentado ao
meu lado, observando os eventos que estão prestes a
acontecer. Enquanto tento visualizar aquele garoto magrelo
e desajeitado com os óculos baratos, lembro de Joan dizendo
que fan tasizing é uma defesa contra a intimidade. Então eu
me pergunto o que ela teria a dizer sobre isso.
Merda, eu preciso parar de pensar criticamente para que isso
funcione.
Concentre-se na respiração, volte ao momento.
Lá.
“Eu quero que você imagine que seu pai está do lado
de fora da porta. Imagine-o como ele era quando você
estava crescendo.”
Convoco uma imagem do meu pai: ele é careca,
vestindo uma camisa azul desbotada com monograma
enfiada em calças pretas. Há uma gentileza em sua
rosto, mas também um olhar distante, como se não estivesse

completamente presente. Resumindo, eu o vejo exatamente como ele era
quando eu tinha oito anos.
“Chame-o para a sala e peça-lhe para se sentar na cadeira à sua
frente.”
Faço o que ela diz e tento imaginar meu pai entrando na sala. É
estranho como é fácil sentir que posso vê-lo. A imaginação é uma coisa
poderosa. Claro, eu tive muita prática com isso, mas geralmente envolve
aquele trio que eu perdi
sobre.
"O que ele está fazendo?" ela pergunta.

“Ele está apenas sentado lá, meio desconectado.”
“Eu gostaria que você falasse com ele. Repita o que eu digo: hoje eu
estou chamando você para esta sala e responsabilizando você pela
maneira como você me criou.” Ela fala as palavras em voz alta e com
força — como se ela fosse a mãe e meu pai a criança, como se ela fosse
o juiz e ele o acusado. Eu tento igualar o tom dela, repetir suas palavras,
e não soar muito ridículo na frente dos meus companheiros viciados em
suas roupas de mergulho imaginárias.
"Isso não é sobre você, pai" , diz ela. “Isso é sobre mim.”
Eu repito.
“Isso é sobre seus comportamentos, não sobre quem você é como
pessoa.”
Repito, e ela insiste: “Mais alto! Realmente fale e repreenda-

o.” Ela muda para sua voz acusatória. “Você nunca esteve lá
para mim, pai. Quando mamãe me puniu, você escolheu ficar
em silêncio, mesmo sabendo que as punições dela eram
arbitrárias e injustas.
Eu tento possuir cada frase, senti-la o mais profundamente

que posso, liberá-la da forma mais explosiva possível. E
continua: “Você nunca me protegeu”.
“Você me negligenciou.”
“Eu não vou mais agir por você, pai.”
“Não vou mais medicar seduzindo mulheres.”
Eu jogo as palavras com força no meu pai, mas quando eu

faço isso, uma voz na minha cabeça diz: “Espere um minuto.
Trabalhei duro para aprender a seduzir mulheres!”
Ela continua me alimentando: “Não vou medicar
mais com sexo barato em algum banheiro de clube.”
Repito, mas a voz na minha cabeça fica mais alta.
“Ei, essas estão entre minhas experiências de vida mais
preciosas. O que ela está implantando em mim enquanto estou
em transe?” Então outra voz me lembra: “Vá com isso. É por
isso que você está aqui.” Tantas vozes. Joan pode adicionar
transtorno dissociativo de identidade ao meu arquivo agora.
E a provocação continua:
“Estou com raiva.”

“Grite: 'Estou com raiva!'” Eu tento, mas não é suficiente para
ela. Ela me faz gritar repetidas vezes até que eu esteja realmente
invocando a ira e arremessando-a nele.
“Conte ao seu pai como foi ser punido por ele!”
Faço o que ela instrui: “A única vez que você me puniu foi
quando me deu uma surra porque eu fiz você se atrasar para
assistir a um programa de TV. Eu era apenas uma criança e
estava me divertindo na caminhada para casa. Você não me puniu
para me tornar uma pessoa melhor. Provou tudo o que mamãe
disse sobre você ser egoísta.
“Isso foi errado, pai!” ela me faz repetir. Meus olhos se
encheram de lágrimas, com a tristeza que nunca me permiti
demonstrar na época. Ela está me pegando. “Você foi sem
vergonha! E eu lhe devolvo sua vergonha!”
Enquanto eu o repreendo por não ser pai, por ser examinado,

por nunca me defender, ouço Calvin soluçando ao fundo.
Evidentemente, ele não fechou o zíper de sua roupa de mergulho
alto o suficiente. Quanto a mim, não tenho roupa de mergulho.
Estou no momento, gritando com meu pai, expulsando a solidão e
a tristeza da infância. É como se uma carga pesada estivesse
sendo levantada de cima de mim.
"Você tinha uma vida secreta, pai", estou dizendo a ele agora.
“Você mentiu para todos nós e não foi justo. Você
desaparecia às quintas-feiras e ninguém sabia onde você estava ou o

que estava fazendo. Você trocou fotos com um grupo de caras que
compartilhavam sua obsessão. Você o manteve no armário e era mais
importante para você do que qualquer um de nós.”
"Deixe ir", ela me encoraja. “Diga a ele como foi vergonhoso ele
ensiná-la a mentir, esgueirar-se e esconder coisas.”
A próxima palavra não sai da minha garganta.

Tudo o que surge é um soluço repentino e incontrolável.
Não me lembro da última vez que chorei tanto.
"O que acabou de acontecer?" ela pergunta.
"Eu percebi por que ele tem essa obsessão", eu digo, cada palavra
escapando depois de um suspiro no meu peito. “Porque é assim que ele
se sente por dentro, como um aleijado. Ele é emocionalmente aleijado.”
E então eu realmente desmorono.

Quando me recupero, ela me diz para devolver seus problemas,
comportamentos, emoções e negligência a ele, para que eu possa
encolher meu núcleo de vergonha. Ela pergunta como ele está
recebendo tudo isso, e quando eu respondo que ele aceitou o melhor
que pode, ela me pede para deixar o
quarto.
“Agora eu gostaria que você imaginasse sua mãe parada do lado

de fora da porta,” ela diz.
A ansiedade explode em meu peito e zune por

todos os nervos do meu corpo como um enxame de
insetos. Este é o momento que eu temia.
31
É muito mais difícil imaginar minha mãe do lado de fora, porque há
poucos dias ela se recusou a vir aqui. Então eu sei que ela nunca
entraria em uma sala cheia de estranhos para expor problemas
pessoais.
“Peça-a entrar, então,” Lorraine instrui. “Diga a ela que ela não
tem escolha.”
Faço o que ela diz e, eventualmente, vejo minha mãe mancando
no quarto.
"O que ela está fazendo?"
“Ela está sentada e ela tem um tipo de rosto alegre e feliz. Mas
é apenas uma máscara.”
“Podemos ver através dele?”
“É bastante convincente.”
“Vamos ver como isso se sustenta. Diga a ela que ela lhe contou
coisas que não deveria contar a uma criança.
Eu faço como ela instrui, mas por algum motivo, não soa muito
assertivo.
"Você me fez sua esposa substituta", ela sugere
Eu.
Repito suas palavras e tento igualar seu tom, mas soa oco.
"Você me enredou, mãe."

Não consigo encontrar força interior e convicção para gritar
com ela sobre tudo isso. Além disso, ela não sabe o que significa
emaranhado. Eu nem me conhecia até uma semana atrás.
“Você cometeu incesto emocional.”

É aqui que eu traço a linha. “Não posso dizer incesto.
Posso chamar isso de abuso emocional?”
"Isso é bom. Mas há mais alguma coisa errada?”
“Sim, enquanto estou dizendo essas coisas, estou ouvindo a voz
dela na minha cabeça me dizendo: 'Eu fiz o meu melhor para criar
você. E eu falei com você porque não tinha mais ninguém a quem
recorrer.'”
“Essas coisas são verdadeiras?” Lorena pergunta.
“Eles são para ela.”
"Eles são para você?"
"Não."
“Então diga a ela como foi crescer com ela. Se for mais fácil
para você, simplesmente liste as coisas que ela fez.”
Eu sugo o ar e me preparo. Desde que apresentei minha linha

do tempo, o fio que une os primeiros dezoito anos da minha vida foi
completamente rasgado, com fios girando
minha memória, tentando se aglutinar em torno da nova narrativa

que Joan e Lorraine veem tão claramente. Então, eu apenas deixei
tudo para fora.
A sala, e o mundo, parecem congelar enquanto eu vomito
cada memória de ser supercontrolada, sobrecarregada e
compartilhada com: Os constantes aterramentos. Os avisos de que
todos queriam me machucar. As críticas de todos os meus amigos
e namoradas. O menosprezo do meu pai como marido e amante.
A proibição dos meus primeiros encontros.
A retenção das chaves da casa. A insistência de que eu me

apresente no quarto dela depois de voltar para casa à noite para
contar tudo o que fiz. O abandono quando escolhi viver com uma
namorada. O pedido para não trazer namoradas quando visitei
casa. A recusa em deixá-los ficar na casa quando eu o fiz. Os
comentários de que ela prefere viver para ver meu próximo livro do
que ver um neto. As advertências constantes de que não cuido das
coisas e perco tudo e não posso confiar em mim e assim por diante
e fodendo.
Eu paro. “Há mais, mas isso parece suficiente por enquanto.”
"Diga a ela o que você pensa de tudo isso", diz Lorraine.
A narrativa é perturbadoramente clara. “Eu não queria acreditar

nos conselheiros aqui no começo, mãe, porque
é tão estranho, mas você tem tentado me manter só para você. E

já que você não pode mais fazer isso fisicamente, você continua
fazendo isso emocionalmente. Por que?"
"Você quer saber por que?" Lorena pergunta.
"Por favor."
“Ela quer um relacionamento monogâmico com você.
Então, quando você está em um relacionamento com outra pessoa,
você está sendo infiel a ela. E se você não tomar sua vida emocional
de volta, você estará em um relacionamento com sua mãe até o dia
de sua morte.”
Ela me faz gritar com ela: “Que vergonha, mãe, por assustar
as mulheres para que você pudesse me ter para você!”
Apesar de tudo que aprendi, ainda me sinto culpado por

machucar minha mãe dessa maneira e por estourar sua bolha.
Mas Lorraine continua me encorajando a derrotar minha resistência
com volume, até que eu estou rugindo suas palavras: “Esta é a sua
dor que eu tenho carregado, mãe! Estou devolvendo sua dor para
você.” Minha voz enche a sala até parecer que não há espaço para
ar. "Eu estou muito irritado. E eu tenho o direito de estar com raiva!”
“Diga a ela como se sentiu quando ela lhe disse para nunca
deixar ninguém tão infeliz quanto seu pai a faz.”
“Isso me fodeu, mãe. Isso me fez evitar relacionamentos e me

fez temer o futuro. Isto me fez
com medo de tornar alguém que eu amava avarento, que eu

era ruim para eles, que acabávamos nos odiando como você
e papai.”
E de repente eu desabo em lágrimas. Porra.
"O que você está sentindo?" Lorena pergunta.
“Eu não tenho me conectado com Ingrid.” As lágrimas vêm
com mais força. Eu não posso acreditar que estou chorando
assim. Novamente. “Toda vez que faço sexo com ela, estou
pensando em alguma mulher aleatória com quem não fiz sexo.
Eu não vou deixá-la entrar.” Estou amassado no meu lugar
agora. Eu posso ouvir Calvin e os outros caras chorando. Sinto
o apoio e encorajamento de todos os maníacos sexuais na sala.
“Não é justo com ela.”
"Sabe por que isso acontece?"
"Não."
— Porque sua mãe lhe ensinou a temer as mulheres.
Então você evita a intimidade por não estar presente e
conectado quando está com Ingrid.”
Antes que eu possa processar esse conceito, ela me faz
gritar: “Não vou mais deixar você me assustar com as mulheres,
mãe. Eu vou amar quem eu quiser, e você pode encontrar outra
pessoa para ser sua confidente.”
É absurdo, mas eu realmente sinto que minha mãe está

sentada lá e estou dizendo a ela todas essas coisas.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Até este momento, eu
manteve uma pequena reserva de ceticismo sobre o conceito

de incesto emocional. Mas agora não há dúvida. Eu sinto a
verdade disso em cada célula do meu corpo.
"Eu não vou mais ter medo de intimidade por você, mãe!"
E quando parece que tudo acabou, que não há mais

lágrimas e ranho dentro, Lorraine pergunta se eu tenho mais
alguma coisa para contar à minha mãe.
"Sim." Respiro fundo e digo a última coisa: “Não vou mais

guardar seus segredos para você, mãe.” E foda-se se eu não
quebrar novamente.
Lorraine pergunta o que estou vivenciando. Digo a ela:
“Percebo que ela se sente por fora como papai se sente por
dentro: como se ela fosse deformada”. E então eu tenho uma
porra de um colapso dentro do colapso. Não compartilho
desta próxima epifania, mas reconheço que eles pertencem
um ao outro: dois aleijados ligados a traumas que estão
confortáveis em suas paredes de segredo e sofrimento
silencioso, que têm ainda mais medo da intimidade do que
eu, e que são mortalmente aterrorizado de alguém saber
quem eles são.
Acontece que não fui eu quem era a ovelha negra. Essa
escuridão veio deles. É assim que eles se sentem por dentro,
por baixo da máscara.
Eu pensei que as lágrimas estavam prontas e secas, mas elas

voltaram. Desta vez, porém, eles são acompanhados por uma
sensação de leveza e liberdade no meu peito. Não me lembro da
última vez que vi a verdade.
Isso é mais catártico do que qualquer experiência com drogas que já
tive. Toda a minha ansiedade, medo e culpa desapareceram, como
se fossem camadas de roupas que eu não sabia que estava usando.
Eu pensei que eles eram parte da minha pele o tempo todo, mas
acontece que eles eram de outra pessoa.
Então é isso que eles querem dizer com meu falso eu.
Eu costumava pensar que a inteligência vinha dos livros, do
conhecimento e do pensamento racional. Mas isso não é inteligência:
é apenas informação e interpretação.
A verdadeira inteligência é quando sua mente e seu coração se
conectam. É quando você vê a verdade de forma tão clara e
inconfundível que não precisa pensar sobre isso.
Na verdade, tudo o que o pensamento fará é levá-lo para longe da
verdade e logo você estará de volta à sua cabeça, tateando com uma
lanterna no escuro novamente.
“Como sua mãe está se sentindo agora?” Lorena pergunta.
“Isso chegou até ela. Suas paredes estão desmoronando e ela

está percebendo que não era uma boa mãe, afinal.” De alguma
forma, sinto-me livre pelo pensamento de que fui ouvido e
compreendido. Para o cérebro, o
diferença entre realidade e imaginação pode ser menor.

Afinal, a informação viaja por vias neurais semelhantes.
Então eu suponho que não importa que ela realmente não
tenha ouvido nada e talvez nunca entenda. Meu cérebro acha
que ela fez, e isso é bom o suficiente.
Lorraine me instrui a mandar minha mãe para fora da

sala, então me faz dizer ao meu eu de oito anos, que está
sentado ao meu lado e assistindo o tempo todo, que estou
demitindo os pais dele - e que de agora em diante eu estou
cuidando dele. Ela me guia através de uma visualização em
que eu imagino encolhendo-o até que ele possa caber na
palma da minha mão e colocá-lo no meu coração.
“Agora que você re-criou sua criança interior, você vai

protegê-lo e cuidar dele – e deixá-lo brincar com a criança
interior de Ingrid,” Lorraine em estruturas. Ela me dá alguns
momentos para imaginar isso, então gentilmente diz: “Você
pode abrir os olhos quando estiver pronto”.
Há uma coisa pela qual tenho lutado toda a minha vida:

com sexo, com escrita, com surf, com festas, com tudo e
qualquer coisa. E isso é ser livre. É o único sentimento que
eu nunca tive enquanto crescia.
Quando abro os olhos, sinto-me livre como nunca me
senti antes. Eu vejo os caras sentados contra a parede, seus
bochechas brilhando com lágrimas, e eu posso dizer que eles

estiveram neste passeio comigo. Então vejo Lorraine, sorrindo
para mim como um anjo. E eu digo a ela: “Você está fazendo a
obra de Deus”.
As palavras saem da minha boca antes que eu tenha a
chance de pensar sobre elas. Eu nunca usei a palavra Deus em
minha vida em um contexto espiritual. Na verdade, na semana
anterior, eu até tive um debate de uma hora com o conselheiro
espiritual aqui, tentando dissuadi-lo da crença de que existe um
poder superior que se preocupa com o destino de cada indivíduo.
Uma vez eu quis escrever um romance chamado O Grande

Livro da Negatividade. Seria sobre como a vida realmente é, a
verdade dura e fria. Mas neste momento, estou tão cheio de luz,
esperança e positividade que não conseguiria colocar uma única
palavra no papel. Eu nem consigo mais me conectar com a ideia.
Preciso segurar o cordão de ouro que, neste momento, está

conectando meu cérebro ao meu coração e iluminando o caminho
para o meu eu autêntico – ou, como a cantora e poetisa Patti
Smith disse uma vez, “o ser humano limpo que Eu era criança.”
“Parece que você está flutuando em um pé de ar”

Calvino me diz.
Tecnicamente, esse processo é chamado de terapia pós-
indução. Outros chamam isso de integração do estado do ego. Joana
chama isso de trabalho de redução de sentimento. E Lorraine

chama isso de experiencial. Mas esses são eufemismos para
o que realmente é: um exorcismo. Um exorcismo de demônios
da infância.
“Você tem deixado o adolescente de castigo controlar sua
vida,” Lorraine diz enquanto eu me levanto, cambaleante. “E
ele quer compensar a perda de sua adolescência fazendo
todas as coisas e tendo todas as mulheres que ele nunca teve.
Mas é hora de ser um adulto.” Ela me entrega uma caixa de
Kleenex.
“Vai te cansar se você não viver sua vida autêntica.”
Peço licença para sair do quarto para tomar um pouco de

ar fresco. Enquanto estou do lado de fora, sentindo o calor do
sol e o frescor do vento e o cheiro das árvores através dos
sentidos reabertos, penso, mal posso esperar para me conectar
com Ingrid. Para olhar em seus olhos e deixá-la ver em mim -
todo o caminho - e não ter medo do que ela poderia encontrar
lá.
*Fontes para esses e outros fatos neste livro podem ser

encontradas em www.neilstrauss.com/thetruth.
O problema com o tempo é que ele não vai

para trás.
Cada palavra, cada passo, cada ação é irreversível. Se
pisarmos na frente de um carro em movimento, se assinarmos um
contrato que não lemos, se traímos a pessoa que
amor, o melhor que podemos fazer é tentar limpar a bagunça.
Mas não importa o quanto esfreguemos, a mancha na
realidade nunca sairá. A palavra que você acabou de ler pode
nunca deixe de ser lido.
E assim estou de volta ao aeroporto onde estive quinze
dias antes, a caminho do avião que
me leve de volta a Ingrid, piscando à luz de uma realidade que
não é mais a mesma.
Em vez de vislumbrar indivíduos anônimos correndo, vejo
diferentes produtos arquetípicos de maus
paternidade. Aquele velho manso com o olhar vazio
provavelmente foi espancado por seu pai; o cara obeso de
aparência triste em uma camiseta pequena pode ter
cresci com uma mãe que expressava apenas amor
através de sua culinária; o empresário tenso foi
provavelmente criado por pais rigorosos que nunca permitiram que ele
ser imperfeito. De repente, parece haver muito poucos
adultos do mundo, apenas crianças sofredoras e supercompensando
adolescentes.
Quando vejo uma juba tentadora de loiro ou preto
cabelo, tento não virar a cabeça e “pornificar” esse ser humano ou vê-
la como “uma coleção de partes do corpo”.
Se os papéis de descarga na minha bagagem forem
acreditava, sou um homem muito doente.
De acordo com minha avaliação psiquiátrica, tenho
“Transtorno sexual do Eixo I, síndrome de ansiedade generalizada e
transtorno depressivo”, além de
“problemas com o grupo de apoio primário” e “problemas relacionados
ao ambiente social”. Como o golpe de
grâce, tenho uma classificação do Eixo V de cinquenta em cem - uma
pontuação reservada para casos de cabeça que são
suicidas ou tão deficientes funcionais que são incapazes de
formar amizades básicas. Este diagnóstico é seguido por
uma lista de três páginas de medicamentos e tratamentos que eu
supostamente dado na reabilitação, incluindo um enema,
nenhum dos quais eu tinha tomado ou mesmo solicitado.
Eu me pergunto por um momento se minha mãe estava certa.
Essas opiniões médicas, em sua maioria compostas por
alguém que claramente tem seus próprios problemas psicológicos,
estão agora em meu registro permanente, onde eles
poderia voltar para me assombrar a qualquer momento. eu começo a
imagine passar por um julgamento de divórcio no futuro e um

advogado mostrando essa avaliação ao juiz como prova de que eu
não deveria ter a guarda dos meus filhos.
Saí da reabilitação AMA – contra conselho médico.

Não havia razão para ficar. Depois do trabalho na cadeira com
Lorraine, voltamos com Joan para a semana da família. Como meus
pais não viriam, e Joan disse que não era necessário que Ingrid
voltasse, e até mesmo Charles admitiu que a última semana
principalmente em administradores envolvidos tentando vender o
programa de pós-tratamento do hospital, não parecia haver muito
ponto em gastar o dinheiro para ficar por aqui. Os outros caras que
não tinham famílias para salvar – Calvin e Paul – disseram que
planejavam fugir mais cedo também.
Antes de sair, parei no escritório de Lorraine para obter suas

informações de contato, caso eu precisasse entrar em contato com
ela em caso de emergência. Ela me deu uma hora de bons conselhos
sobre a reentrada em meu relacionamento, explicando, o mais
importante, que para ser emocionalmente livre para me comprometer
com Ingrid, preciso limitar o contato com minha mãe. “Fique com
notícias, esportes e clima,” ela aconselhou com um sorriso.
Então me despedi de Joan, cujas únicas palavras

quando ela fechou meu arquivo foram um desdenhoso “boa sorte”.
Ao embarcar no avião, estou animada para usar o que aprendi

sobre mim mesma para curar meu relacionamento com Ingrid
e reconquistar sua confiança. No entanto, quando estou
afivelando o cinto de segurança, vejo partes do corpo: um par
de pernas bronzeadas, longas e tonificadas, encimadas por
shorts jeans apertados. Olho para cima e vejo um suéter
cinza esfiapado e folgado que, apesar de sua folga, revela a
linha de seios claramente grandes. A parte do corpo acima
deles tem cabelos castanhos esvoaçantes e um rosto dourado
com muito pouca maquiagem. O efeito da soma de todas
essas partes é tão naturalmente sexual que nem mesmo um
traje de palhaço poderia esconder.
Tento me recostar na cadeira com Lorraine e imaginar
minha criança interior brincando com a de Ingrid.
Mas é muito tarde. Aqui fora, há muita realidade: luzes,
cores, telas, placas, rostos, embalagens de fast food, calças
de ioga. Meu cérebro está trabalhando tão duro apenas para
acompanhar, que não tem tempo para parar e pensar nas
consequências. E agora essa mulher entrou. Já estou
imaginando ficar com ela e enfiar a mão em seu suéter. Isso
é violência sexualizada encoberta. Eu preciso me parar.
E então eu penso, maçã vermelha brilhante, pomar

errado – e eu desvio o olhar. Maldito seja, Charles, esse foi
realmente um conselho decente.
Percebo outro efeito colateral da reabilitação: não me

sinto mais atraído ou excitado por mulheres aleatórias; em
vez disso, sou acionado por eles. É a mesma coisa, mas ser
atraído é um impulso humano natural; ser desencadeado é
um mergulho doentio no ciclo do vício, no comportamento
compulsivo, nos gráficos e diagramas pendurados no escritório
de Joan.
Este pode ser o primeiro passo na minha espiral descendente.
E eu nem estou livre há três horas.
Na esteira de bagagem do LAX, eu a vejo. Ela está vestindo

uma roupa que a teria banido da reabilitação: top sem sutiã e
jeans apertados, com uma onda de cabelo loiro caindo sobre o
lado esquerdo do rosto. A princípio, ela recua um passo —
talvez por timidez, talvez por medo. Então a alegria toma conta
de seu rosto, como se um holofote tivesse sido aceso no alto,
e ela corre em minha direção.
"Estou pronta para começar algo novo com você", ela

sussurra. O calor de sua respiração enche meu ouvido, trazendo
consigo a expectativa implícita de que estou curado.
"Eu também", eu respondo. E espero, pelo bem de nós

dois, que eu tenha mudado.
Nós dirigimos pela Pacific Coast Highway ouvindo música
eletrônica e inventando letras para cada instrumental. O sol
caleidoscópios no oceano, que se estende infinitamente para a
esquerda, a silhueta da Ilha Catalina visível fracamente no
distância como a promessa de algo novo e transitório.
Nosso destino: a pousada de dois quartos em Malibu

que costumávamos dividir. No dia em que descobriu que eu
estava traindo, Ingrid ligou para duas amigas para ajudá-la
a se mudar, e está morando com elas desde então. Antes
de sair, seus amigos pegaram um marcador preto
permanente e desfiguraram não apenas os livros que eu
publiquei, mas amostras de capa para aqueles que ainda não h
"Eu tenho algo especial para você", diz Ingrid com um

sorriso largo e cheio de dentes enquanto entramos. Ela tira uma
pequena chave de latão de sua bolsa. "Todo mundo merece
uma segunda chance."
"O que é isso?"
“Sua mãe não te deu as chaves da casa dela quando você
estava na reabilitação, então estou te dando minha chave.”
"Para quê?"
“Para o meu arquivo no trabalho.”
“Por que não sua casa?”
“Eu tenho que sair logo porque o contrato de aluguel do meu amigo
está terminando.”
Ela pega uma pequena corrente de metal, enfia-a na chave
e delicadamente a prende em volta do meu pescoço como um
amuleto para curar feridas de infância. Ninguém que eu namorei
jamais fez algo tão significativo para
Eu.
“Esta chave”, digo a ela, “servirá como um lembrete

que posso ser confiável e que posso dizer a verdade.”
Na cama naquela noite, enquanto seguro Ingrid contra mim e

corro minhas mãos ao longo de sua pele, tento me soltar
completamente, respirar e permanecer no momento, estar aberta
e vulnerável.
"Nós deveríamos?" ela pergunta.
"Não sei. Você decide."

“Eu não quero que você quebre seu contrato.”
“Bem, nós realmente não vamos fazer isso por mais dez
semanas?”
“Posso tentar esperar.”
Neste ponto, estamos nus e nossos corpos não estão nos
ouvindo. Quando entro nela, uma onda de produtos químicos
inunda meu cérebro e banha meu corpo. É tão aliviador e animador,
como se eu estivesse chapado, um alcoólatra tendo sua primeira
dose após a reabilitação. Mas, ao contrário de antes, acho mais
fácil ficar com Ingrid, permanecer conectado e olhar em seus olhos
e em seu ser – fazer amor e não apenas fazer sexo.
Faz muito tempo que não vejo e sinto Na grade tão

poderosamente, e por isso meu amor é passageiro. Assim que
libero, meu corpo se dissolve em euforia sem peso. Eu não tenho
certeza se o sexo é um vício ou se é simplesmente incrível.
Quando tomamos banho juntos depois, Ingrid começa a me

beijar. Ela me esfrega contra seu clitóris — o que acredito
qualificaria, nas palavras de Joan, como masturbação usando meu
corpo. No entanto, eu não sou duro o suficiente para fazer sexo
com ela novamente.
"Eu ainda não vim", ela faz beicinho, tentando colocá-lo. É
justo que ela também saia. Então eu olho para o corpo dela e tento
“pornificá-la”. Quando isso não
trabalho e vejo a angústia crescente de Ingrid, decido

recorrer a medidas mais extremas: penso na mulher do
avião.
Estou fazendo isso por Ingrid, digo a mim mesma.
E eu imagino Short Shorts sentada ao meu lado no
avião, colocando um cobertor de avião sobre nós para
que ela possa guiar minhas mãos para suas pernas
bronzeadas lisas, sussurrando para nos encontrarmos
no banheiro. Está começando a funcionar. Penso em
entrar no banheiro e vê-la esperando por mim, sentada
no vaso sanitário sem o suéter e o botão do short
desabotoado, a braguilha aberta apenas o suficiente
para revelar a calcinha. Ela desliza a mão sob o cós e
começa a se tocar enquanto me olha nos olhos. . . e,
Deus, agora estou duro o suficiente, agora posso foder
Ingrid. Estou fazendo isso por ela. Para ela.
3
De manhã, pego meu telefone de seu lugar de descanso na
minha gaveta de meias. Eu insiro a bateria, espero que ganhe
vida e digito a senha. Um longo desfile de textos e e-mails rola
pela tela.
Uma empreendedora de tecnologia asiática-americana,
com quem minha amiga Melanie uma vez tentou me arranjar,
escreve que quer entrar no Skype para “me distrair”. Uma
garota australiana com quem fiquei em uma turnê de
lançamento diz que quer acabar com seis meses de celibato
comigo. Uma atriz pornô com quem fiz sexo horrível uma vez
no banheiro diz que sente minha falta. Uma amiga da rede
social da França que eu nunca conheci pergunta quando
estarei em Paris em seguida e anexa uma foto dela nua em um
jardim. E assim por diante: mulheres enviando sinais de sonar,
esperando por um ping de volta para saberem qual é sua
posição.
As mulheres com quem você dormiu, as que você nunca
fez, mas se preparou para um encontro futuro, as que pareciam
interessadas, mas de repente pararam de enviar mensagens
de texto: a menos que você faça algo terrivelmente errado, elas
nunca desaparecer completamente. Uma noite solitária, um

namorado traidor, um rompimento repentino, um ataque de
baixa auto-estima, um ataque de alta auto-estima - qualquer
coisa pode, do nada, mandá-los rolar pela agenda de endereços
em busca de validação, de segurança. idade, pela conversa,
pela adoração, pela fantasia de você preenchendo algum
espaço vazio na vida deles.
Agravando esse problema, incluí meu endereço de e-mail
por capricho em um dos meus primeiros livros, principalmente
porque achava que ninguém o leria. E assim novas tentações
chegam à caixa de entrada quase que diariamente.
O que me impede hoje é de uma mulher chamada Raidne que
diz que adoraria me conhecer. Infelizmente para minha
sobriedade, ela anexou uma foto. Ela é de uma etnia melhor
descrita como Las Vegas: construída artificialmente para fazer
cada célula do cérebro visual masculino pulsar de desejo - uma
mistura de quem sabe-que nacionalidades, regimes de beleza
e cirurgias, resultando em um bronzeado perpétuo e seios
falsos. que pegam a luz como o Natal de bronze
enfeites.
Olho para a chave de Ingrid. E olha de volta para mim.
Dizem que um homem é tão fiel quanto suas opções, e
neste momento eu sei que é verdade. Então eu desligo o
telefone. É muito. Mesmo Jesus teve apenas três tentações.
4
Animais de estimação são a droga de entrada para as crianças. Como
regra geral, quando uma mulher com mais de 25 anos tem um cachorro,
significa que ela está pronta para começar uma família.
Quase três semanas depois do meu retorno, Ingrid e eu estamos no
West Valley Animal Shelter, onde uma bola de pêlo preto e branco doente
está se equilibrando nas patas traseiras e descansando delicadamente as
patas dianteiras na rótula de Ingrid.
Este é bom: ele sabe exatamente como conquistar o coração dela.

Não importa que ele tenha apenas um olho funcionando, uma gosma
marrom infectada escorrendo de ambas as orelhas e um fedor pior do que
um sem-teto no metrô de Nova York. O negócio é logo fechado. Este
nanico de cinco quilos, criado para ser fiel a quem o alimenta, foi salvo.
Normalmente, o canil mantém cães adotados para que possam ser

castrados antes de serem transferidos para o novo dono, mas a
recepcionista apenas nos dá este. Ela está tão ansiosa para se livrar dele.
Ele tem tanto
muitos problemas de saúde, ela sugere

todo o resto consertado antes de castrá-lo.
No caminho para casa, verifico minha caixa postal. Ao
lado, entre as notas e as tralhas, há um envelope quadrado
endereçado a mim. Eu reconheço a caligrafia feminina nele
como sendo da minha mãe.
Estou chocado quando abro para encontrar este cartão:
Então eu li a mensagem dentro:

Até recentemente, eu costumava pensar que era apenas seu

senso de humor quando ela se chamava de longanimidade. Agora
vejo que toda piada vem com uma passagem de primeira classe
para uma viagem de culpa. Claramente ela não está feliz que eu
abandonei minhas obrigações de telefonema de domingo após a
reabilitação.
Já faz um tempo desde que eu falei com ela, então quando
voltamos para casa, eu obedientemente pego o telefone e disco
o número dela. A conversa começa casualmente, mas logo
começa a parte sobre a qual Lorraine me avisou.
“Estou preocupada com as coisas que eles te contaram

na reabilitação,” ela diz. Sua voz é otimista, como se estivesse
prestes a começar a cantar. “As pessoas saem da psicoterapia
pensando que têm problemas que não têm.” Ela parece estar
montando uma defesa contra o que quer que eu esteja
aprendendo, como um publicitário tentando controlar um
escândalo.
“Na verdade, tem sido muito útil, e sou inteligente o
suficiente para separar o bom do ruim.” Gostaria que ela
fosse receptiva o suficiente para discutir o que aprendi, mas
você não pode esperar que a mesma pessoa que o feriu o
cure. Então, pego uma dica da minha última conversa com
Lorraine e sugiro: “Vamos falar de outra coisa”.
"Uma coisa primeiro", diz ela. “Quero que você saiba que
seu pai não esteve envolvido em sua infância.
Marg” – a babá – “e eu criei você. Eu estava em casa o tempo
todo para você, a menos que eu tivesse que sair para alguma
coisa. Sua voz é quente e sufocante, vindo para mim em uma
torrente de palavras que não consigo parar. Minhas mãos e
pulsos se apertam, como se me dissessem que preciso lutar
para me salvar.
Notícia. Esportes. Tempo.
“As pessoas sempre dizem o quão legal e doce seu pai
é. Eu acho, se você soubesse que ele é apenas um pedaço
de terra. Ele não tem a capacidade de amar ou cuidar. Isso é
um ato. Eu estava no computador dele outro dia e vi que ele estava

procurando por uma deformidade congênita na perna. Ele é terrível.”
“Como está o tempo em Chicago?” Parece que estou lutando

para tirar um saco plástico da cabeça antes de asfixiar.
“Você e seu irmão são as melhores coisas que já aconteceram

comigo,” ela continua, falando sobre a pergunta como se ela nunca
tivesse ouvido. “Eu desperdicei minha vida, é o que eu realmente
fiz. Então, se tudo é por nada, então pelo menos eu tenho vocês
dois.”
Eu preciso terminar essa conversa. Ela pode pensar que está
me dizendo o quanto me ama, mas o que estou ouvindo é que, ao
não ligar para ela aos domingos, estou matando-a lentamente. Um
dos maiores indicadores de enredamento, segundo Lorraine, é
quando uma mãe diz aos filhos que vive apenas para eles.
"Ei, eu tenho que pular o telefone agora."

"Por que?"
“Eu tenho um monte de trabalho para terminar antes que o dia
termine.”
“E isso é mais importante do que sua mãe?”
“Mãe, eu tenho que ir, ok?!”
"Ok." O tom dela mudou. Agora é triste,
machucado, à beira das lágrimas em vez do riso.
“Está tudo bem, mãe?”

“Agora não vou conseguir dormir esta noite. Você sabe
como eu...” A culpa é como um gás cancerígeno, penetrando
pelos orifícios do receptor do telefone, descendo pelo meu
canal auditivo e em direção às dobras e
fendas do meu cérebro.
“Tem que falar adeus!” Eu desligo o telefone.
Aquela passou perto. Eu não posso deixá-la voltar para
minha mente. Já tenho problemas suficientes lá.
5
Eu me junto a Ingrid no sofá, onde ela está sentada
ao lado de nosso novo shih tzu usado e maltratado.
Eu o acaricio e ele mal reage fora de soprar ranho
de seu nariz, borrifando meu braço. Eventualmente,
ele se levanta, estica as patas dianteiras, dá alguns
passos, mija no sofá, anda em círculos apertados e
sem sentido para que a urina caia em suas patas,
depois volta a cair no queixo, exausto por isso
evidentemente. esforço hercúleo.
Enquanto pego um rolo de papel toalha para limpar a
bagunça, sugiro chamá-lo de Hércules. Ingrid olha
arrebatada para o rosto preto e branco dele. “Eu o amo”,
diz ela. “Eu amo Hércules.”
E penso: não acredito como é fácil para ela se
apaixonar.
E então eu penso: Por que isso não é trapaça?
E então penso: agora ela vai castrá-lo.
Por alguma razão, estou perturbada ao ouvir a palavra
amor sair de sua boca com tanta rapidez e facilidade.
Especialmente quando eu tenho trabalhado tanto para ser
digno disso. Talvez o amor não seja tão sagrado se pudermos

ligá-lo a qualquer coisa peluda com batimentos cardíacos, mau
hálito e nenhum controle da bexiga.
Ela pega o cachorro nos braços e corre para o quarto para
tirar uma soneca. Agora ela está dormindo com ele. Isso ainda
é monogamia?
Pego meu computador, encontro uma imagem da bandeira
mexicana e a imprimo. Tenho uma pequena editora na
HarperCollins e decidi recentemente entrar em contato com
dois blogueiros de notícias anônimos no México para escrever
um livro sobre a guerra às drogas lá. Como os cartéis
mexicanos estão tentando descobrir quem são e executá-los,
os jornalistas querem que eu verifique minha identidade. Então
eles me pediram para enviar uma foto minha segurando uma
bandeira mexicana em uma mão e um jornal com a data de
hoje na outra. Lorraine diria que essa é uma forma de encontrar
tensão fora do relacionamento sem trapacear.
E talvez ela esteja certa.

À medida que a imagem da bandeira é impressa, começo
a pensar em nosso novo shih tzu, o que me faz pensar na
Ásia, que me faz pensar em mulheres asiáticas, que me faz
pensar no empresário de tecnologia que queria me falar no
Skype. Resolvo pesquisar na Internet para ver como está sua
start-up e encontro uma foto dela de biquíni. Cinco minutos
depois, estou
PornHub assistindo a vídeos de mulheres asiáticas que parecem

como ela enquanto me acariciava.
Eu sei que não deveria estar fazendo isso. É claramente
compulsivo. Mas é tarde demais para parar: é assim que as
compulsões funcionam. Além disso, fui para a reabilitação por traição, não
para pornografia. E não estou quebrando nenhuma promessa ao In
grid. Não há nada de errado em se masturbar de vez em quando.
Toda a noção de que eu só posso ter um
orgasmo com a participação de Ingrid pelo resto da minha
a vida é ridícula. Eu estive em casa e bem comportado
por quase um mês. Eu mereço isso. estou sendo
interdependente.
Eu deveria enviar esta imagem para o mexicano
jornalistas.
Um link abaixo de um dos clipes me leva a um
menina excessivamente perfurada com cabelos loiros descoloridos
que parece uma versão emo de Ingrid. De repente eu
ouvir a voz sonolenta de Ingrid me chamando: “Babe?”
Rapidamente fecho o zíper, fecho meu navegador, pego meu
computador e entro no quarto. Mas alguma combinação de minhas
bochechas coradas, expressão excessivamente inocente e o laptop
na minha mão me denuncia.
“Você estava assistindo pornografia?”
Ela não está perguntando com julgamento, mas me sinto acusada.
Fui para a reabilitação para parar de trair, e até agora consegui. Eu
tenho trabalhado no meu olho errante, e
isso está indo bem. Estou diminuindo com sucesso minha luxúria,
um pecado de cada vez. E hoje, essas mulheres são minha
metadona sexual.
“Você estava ou não estava?”
Esta é a minha chance de ser honesto e íntimo. Se não há
nada de errado em assistir pornografia, então eu não deveria ter
vergonha de contar a Ingrid sobre isso.
"Sim, eu estava. Achei que você estava dormindo e não queria te
acordar.
Ela rola, pega Hércules do chão e o abraça contra o peito.
Acho que ela já ama essa coisa mais do que eu.
E parece que ela o está enredando.

"Você terminou?" ela pergunta.
“Não, eu não fiz.”
E aqui vem. A faca no estômago, vomitando culpa quente por
todo o meu interior: "Você faz amor com essas garotas mais do
que faz amor comigo!"
"Isso não é verdade." Meu coração aperta, minha respiração
fica superficial, e o que parece ser hastes de aço quente se unem
longitudinalmente do meu antebraço ao meu pulso.
“Esta é a primeira vez que assisto essas coisas desde que voltei.”
Ela pega Hércules e sai da sala. E estou frustrado porque

não deveria ter que me defender se quero ter um orgasmo sem
sua. Às vezes, minha criança interior vai querer brincar consigo

mesma.
De repente, chega ao meu telefone uma mensagem de
Belle, a australiana que quer encerrar sua experiência de
celibato comigo: “Hoje é meu aniversário. Eu gostaria que
você estivesse me desembrulhando agora.
E eu respondo: “Eu gostaria de estar também”.
Instantaneamente, estou cheio de remorso. Não sei por
que acabei de fazer isso. É porque estou me sentindo sufocada
por Ingrid? É porque eu me sentiria culpado por decepcionar
Belle em seu aniversário? Ou é porque eu preciso de mais
intensidade na minha vida? Seja qual for o caso, foi uma coisa
estúpida de se fazer. E se não é trapaça técnica, é
definitivamente uma violação da confiança de Ingrid em mim.
O que o faria trapacear.

Porra.
Eu não posso acreditar como foi fácil escorregar. Aquele
momento de clareza ofuscante durante meu trabalho na
cadeira com Lorraine já parece tão distante, como uma
lembrança da inocência da infância, e me pergunto se não foi
realmente uma cura, mas outra alta.
Quando estou de pé no quarto com a vergonha na mão,
Ingrid volta a entrar, me encara por um momento com uma
expressão magoada e pergunta: “O que há de errado comigo?
Eu sou feio?"
"Não, você não é. Você é linda." E ela realmente é linda: A

garota emo para quem eu me masturbei tinha um corpo igual ao dela.
"Então por que você não quer dormir comigo?"

"Eu faço. Eu estava apenas procrastinando meu trabalho, e
senti que cheirava mal e... não sei, não queria incomodá-lo.
“Você continua dizendo coisas diferentes.”

“Não, eu não. São todas verdadeiras.”
Eu sei que ela precisa de segurança. Ela precisa de mim para
pegá-la e levá-la ao chão e fazer um amor louco e apaixonado
reconectando com ela. Mas agora não posso. Eu me sinto muito
culpado. Estou entrando no meu núcleo de vergonha como um
garimpeiro de petróleo que fez merda.
No entanto, ela tem um bom ponto: por que eu preferiria me
masturbar com uma garota que se parece com Ingrid do que
realmente fazer sexo com ela em carne e osso? Isso é evitação de
intimidade ou apenas fantasia masculina normal?
E é aí que eu percebo por que fui supersensível à afeição de
Ingrid por Hércules, por que estou cobiçando essas mulheres que
não são um décimo da pessoa que Ingrid é, por que estou colocando
em risco meu relacionamento por uma única mensagem estúpida. É
uma reação inconsciente à minha conversa com minha mãe. Estou
fazendo buracos no saco plástico selado a vácuo do meu
relacionamento para não sufocar. As reações fisiológicas a
As reclamações de Ingrid sobre mim eram quase as mesmas

que eu tinha com as reclamações de minha mãe sobre meu pai.
Eu caio na cama e explico isso para Ingrid se desculpando,
junto com meu medo de ficar preso em um casamento como o
dos meus pais. Lentamente, ela começa a descongelar,
eventualmente sentando na cama ao meu lado e acariciando
minha cabeça como se eu fosse Hércules, uma criatura indefesa
para se ter pena.
"Seu problema é que você se preocupa demais com o
futuro", diz ela, sua voz confiante, seus olhos sábios, sua mão
delicada. “Você pode morrer em um acidente de carro, ou pode
haver um terremoto agora e a casa pode desabar em cima de
nós. Não há guaran tee estaremos aqui amanhã. Então vamos
nos amar neste momento e apreciar um ao outro neste
momento. Podemos lidar com o futuro quando chegarmos lá.”
Ela propõe fazer uma viagem juntos quando puder tirar

uma folga do trabalho, algum lugar onde possamos curtir a paz,
a natureza e um ao outro. “Eu sempre quis fazer a Trilha Inca
para Machu Picchu”, ela sugere.
“Então vamos fazer!”
Ela sorri, aperta a chave pendurada no meu pescoço e
pronuncia as palavras mais bonitas que ela falou desde antes
da minha infidelidade rasgar nosso mundo
à parte: “Eu realmente confio em você agora. Eu não acho que você
nunca fez nada para me machucar.”
Uma onda de alegria enche meu coração, mas bate
instantaneamente na margem da culpa. Acabei de mandar uma
mensagem para aquela mulher australiana. Se Ingrid visse meu telefone
devastado.
6
Malibu, um dia depois
Você saiu da reabilitação mais cedo?
Não fazia sentido ficar mais tempo.

E você quebrou seu contrato de celibato para dormir com Ingrid?
Ela é minha namorada e ela queria fazer sexo.

E você fantasiou com outra pessoa?
Só para agradar Ingrid.
Tudo o que ouço são desculpas para ir apenas pela metade. Não é
à toa que você ainda está trapaceando.
Rick e eu estamos em seu Range Rover, discutindo meu texto
idiota. Estacionamos na entrada de cascalho de uma casa disponível
para aluguel. Parece o tipo de gigantesca casa na árvore hippie em que
o padre Yod e suas esposas teriam morado.
Eu posso explicar.
Sou todo ouvidos.
Falado com um sorriso irônico, como se estivesse se preparando para

se divirta profundamente com o que eu disser a seguir.
Havia duas escolas de pensamento na reabilitação. Um foi

ensinado por uma mulher muito compassiva chamada Lorraine: Com
ela, aprendemos que não estávamos lá para nossos parceiros, mas
para nós mesmos. E o objetivo é nos separarmos de nossos pais e de
nossas feridas para que possamos viver nossas vidas autênticas.
E o outro?
A outra escola de pensamento era mais puritana. Foi ensinado
por uma mulher muito rigorosa chamada Joan.
E ela acredita que masturbação, pornografia, sedução, fantasia e
sexo casual não são saudáveis.
E que basicamente qualquer coisa que não seja monogamia ao longo
da vida é um sintoma de vício sexual e evitação de intimidade.
Por que os dois não podem estar certos?

Você deve estar brincando comigo. Então quase todos os homens
do país deveriam estar em reabilitação.
Quem vai para a reabilitação e apenas escolhe o que gosta? Eu
acho que você tem uma falsa crença sobre como os homens são que
você está usando como uma forma de não se sentir castrado no
mundo. Você estava infeliz antes em seus velhos hábitos quando era
solteiro e está infeliz agora em um relacionamento. Você pode
continuar assim por cinco ou dez anos, e tudo o que fará é perder
muito tempo sentado em cima do muro.
Então, o que eu deveria fazer? Estou tão confuso.

Eu vejo o olhar de pena nos olhos de Rick, como se eu fosse

algum tipo de forma de vida menor, uma criatura bidimensional
tentando entender o conceito de três dimensões.
Aqui está o que eu sugiro: vá para a recuperação do vício

em sexo o tempo todo. A partir de hoje, tudo o que um especialista
lhe disser, apenas faça sem desafiá-lo. Mesmo que tudo o que
você encontre sejam terapeutas como Joan, com quem você não
concorda, entregue o controle de qualquer maneira. Se eles
disserem que você não faz sexo por noventa dias, então não faça
sexo por noventa dias. Se eles disserem que não há masturbação
ou pornografia, então corte essas coisas.
Eu sei que preciso fazer algo drástico, mas. . .
Você quer que eu aceite até mesmo as coisas mais extremas
que essas pessoas dizem, sem pensar se elas fazem algum
sentido lógico ou são verdadeiras para mim mesmo?
Sim, exatamente. Como você acha que eu perdi 135 quilos?

Tentei perder peso durante anos, mas não consegui até que
finalmente entreguei o controle a um nutricionista e a um treinador.
Eu não pensei se alguma coisa que eles disseram era verdade.
Eu nem acreditei que iria funcionar. Mas eu apenas me submeti
ao processo e o fiz sem julgamento.
Lembro-me do momento de clareza que tive na cadeira

com Lorraine. O que essa versão aberta de mim mesma me
aconselharia a fazer?
Ele diria para deixar ir e amar Ingrid.
Ok, vou tentar.
Não tente. Faça isso. Realmente entre em recuperação e
sinta isso por pelo menos noventa dias. E se no final desse
tempo você ainda não estiver feliz, então faça o que achar
certo. Encontre um relacionamento aberto, enlouqueça, faça
todo o sexo com todas as pessoas que quiser e veja como se
sente. O objetivo não é a monogamia ou a não-monogamia. É
para você estar vivendo uma vida que lhe traz felicidade.
Isso soa como uma ótima maneira de sair da cerca antes

que eu foda meu relacionamento novamente.
Pode ser sua última chance. Se você não pode ficar com
isso, talvez Deus encontre uma maneira de você ficar com ele.
O que isso deveria significar?
Isso significa que se você não pode controlar sua luxúria,
o universo cuidará disso para você.
Ele diz isso ameaçadoramente, como se um raio fosse
atingir meu pau ou ficar preso em um liquidificador se eu não
mantê-lo fechado.
7
E assim estou de volta: enfrentando o pelotão de fuzilamento.
Desta vez, as balas estão sendo carregadas por Sheila

Cartwright, a terapeuta de Charles, supostamente a melhor em Los
Angeles para o vício em sexo. Ela é uma mulher mais velha com
dreadlocks e contas no cabelo como uma torta de quadril
adolescente, mas ela está sentada em uma grande poltrona com
um cobertor sobre as pernas como uma velha. No espírito de Joan
e Lorraine antes dela, ela é outra mulher solteira cercada por
viciados em sexo masculino.
Adam também está aqui. Assim é Calvino. Evidentemente, eles
foram espertos o suficiente para manter contato com Charles e se
juntar ao seu grupo de terapia particular imediatamente após a
reentrada. Há também cinco trapaceiros que não conheço, três dos
quais estão no grupo há mais de dez anos.
“É uma pena que não exista uma mulher que vai deixar você
fazer o que quiser e ainda te amar.”
Calvin diz, me cutucando nas costelas, enquanto nos sentamos
em cadeiras descombinadas adjacentes na sala de terapia.
É bom estar com meus amigos disfuncionais novamente,

só que desta vez, eu preciso ser mais como Charles e seguir
todo o programa.
A reunião começa com cada adicto fazendo check-in e
contando a Sheila como foi sua semana. Em vez de nos dar
sermões como Joan, ela sente por nós, no que parece ser uma
tática para nos colocar mais em contato com nossos próprios
sentimentos. Como Calvin nos conta que está pensando em
voltar ao Brasil para estar com sua prostituta quando ela der à
luz seu filho, ela exala lenta e melo dramaticamente, e olha
para ele com olhos grandes e suaves, como se tentasse
absorver a dor e o magoado que ele nem está ciente de que
ele tem.
“Eu estava sozinho com minha esposa ontem à noite,
então perguntei se ela queria brincar”, diz Adam durante seu
check-in. “Ela ficou muito brava e me disse que era inapropriado
e não íntimo e não do jeito que ela gosta de ser proposta.
Então se transformou em uma explosão completa.”
Depois que Sheila se emociona com Adam e o aconselha

a começar com as mãos dadas, é minha vez de fazer o check-
in. Conto ao grupo sobre a mulher no avião, as tentações da
minha caixa de entrada, a mensagem de texto para Belle e
renovando meu compromisso com recuperação.
A resposta de Sheila é um silvo de ar escapando e uma
expressão triste de cachorrinho. Ela parece estar tentando
para me enviar amor. E, por alguma razão, isso me deixa

desconfortável. Não tenho certeza se é porque ela parece
insincera ou se, embora eu esteja acostumada a sexo sem
compromisso, não estou acostumada a emoções sem
compromisso.
Quando sorrio desajeitadamente para ela, Sheila
finalmente fala, muito devagar: “O que você está fazendo é
um entesouramento sexual. Quando há um problema em
seu relacionamento, você sente vergonha — como se algo
estivesse errado com você — e há uma reação imediata a
isso chamado de grandiosidade defensiva. E é aí que você
começa a verificar seu tesouro de mensagens.” Ela se mexe
na cadeira e o cobertor desliza de seu colo. “E isso é
alimentado pela raiva, porque afasta Ingrid e faz você sentir
que tem poder.”
Sheila examina uma cópia do arquivo da reabilitação
listando todas as minhas doenças, reais e imaginárias. Ela
se levanta lentamente, colocando seu cobertor de volta na
cadeira, então retira um livro de uma prateleira e o entrega
para mim. O título é Silenciosamente Seduzido.
“Leia isso”, ela recomenda. "É você."
Charles se inclina para a frente em sua cadeira e me
diz: “Da próxima vez que você vir uma mulher como aquela
no avião, use a regra dos três segundos”.
Estou atordoado. A regra dos três segundos foi algo que
aprendi durante meu tempo com a picape
artistas: Significa que quando você vê uma mulher você está

atraído, você tem três segundos para se aproximar
ela - caso contrário, ela notará você olhando ou
você vai ficar muito nervoso para falar com ela. “Você quer dizer que eu
deveria começar uma conversa com ela?”
"Não!" ele diz, horrorizado. “A regra dos três segundos
significa que assim que você vê alguém e começa a objetá-lo
ou fantasiar sobre ele, você tem um
máximo de três segundos para se concentrar em algo
mais antes que o pensamento comece a ficar muito forte e
conduzi-lo ao ciclo do vício. Lembre-se” – ele
sacode um dedo – “maçã vermelha brilhante, pomar errado”.
Enquanto eu ando de volta para o meu carro após a reunião, eu viro
através do livro que Sheila me deu e li uma passagem.
O autor, Dr. Kenneth Adams, escreve: “O segredo do desejo
ocorre quando uma criança se torna objeto da afeição, amor,
paixão e preocupação dos pais. o
Os pais, motivados pela solidão e vazio criados por um
casamento ou relacionamento cronicamente conturbado, fazem
do filho um parceiro substituto. . . . Para o
filho, o amor dos pais parece mais confinante do que
libertador, mais exigente do que dar, e mais invasivo do que
nutrir”.
De repente, uma memória perdida volta para mim. Chega
primeiro como um cheiro de petróleo doce, depois uma visão
de creme branco. Quando a maioria dos meus colegas
iam para a cama às dez ou onze da noite, minha hora de

dormir era sete e meia. No entanto, minha mãe me deixava ficar
acordado e assistir TV até as oito se eu massageasse suas
mãos ou pés. Eu bombeava hidratante nas palmas das mãos,
depois acariciava sua pele verde-oliva e cheia de veias.
Quando eu terminava, ela me dizia: “Você é muito melhor que
seu pai nisso”. Na época, tomei isso como um elogio, mas agora
um arrepio de desgosto me percorre.
Como resultado dessa dinâmica confusa, continua Adams,

quando a criança cresce, os relacionamentos de dez começam
com “compromisso imediato e total”, mas isso logo é “seguido
por incerteza e ambivalência”. E, muitas vezes, “ter um caso é
uma maneira de se livrar da luta com o compromisso”.
Quando fecho o livro, vejo Charles ao meu lado. Não faço

ideia de quanto tempo ele está lá.
Agradeço a ele por me colocar no grupo. Em resposta, ele
abre uma bolsa que está carregando e tira uma cópia de O Jogo.
“Alfred Nobel”, diz ele.

Aguardo o resto da frase. Mas evidentemente é isso. "E
ele?"
"Conhecê-lo?"
"Pessoalmente não."
“Alfred Nobel, o mesmo cara que inventou o

namite, passou a criar o Prêmio Nobel da Paz.”
Ele olha para mim, tentando ter certeza de que seu ponto
foi acertado. E lentamente o que ele está tentando dizer me
ocorre: que um livro sobre aprender a conhecer mulheres é
destrutivo, e um livro sobre aprender a parar de conhecê-las
seria bom para o mundo. E irônico.
"Eu entendo", eu digo a ele.

Ele guarda o livro e me entrega um folheto para os viciados
em sexo e amor anônimos. A primeira frase diz: “Nós da SLAA
acreditamos que o vício em sexo e amor é uma doença
progressiva que não pode ser curada, mas que, como muitas
doenças, pode ser detida”.
"Deixe-me perguntar uma coisa", diz Charles bruscamente,

me observando. “Você finalmente reconheceu que tem uma
doença?”
Digo a ele, honestamente: “Posso reconhecê-lo como uma
doença em um sentido metafórico”.
“Não, é uma doença real. Porque não é uma escolha.
Pode começar como uma escolha, mas se você fizer qualquer
coisa para lidar com o estresse ou a dor, a estrutura do cérebro
muda e o comportamento pode passar de um impulso a um
vício.”
"Se isso se qualifica como uma doença", eu respondo, lembro

fazendo minha promessa a Rick, “então acho que consegui”.
Charles não parece convencido. “Deixe-me fazer um favor e
provar a você que isso é uma doença. Vou apresentá-lo a um amigo
meu, Dr. Daniel Amen.
Ele é um especialista em cérebro especializado em vícios. Ele
escaneará seu cérebro gratuitamente e mostrará exatamente onde a
doença está em sua cabeça e como tratá-la.”
E eu penso, isso é loucura. Mas eu digo: “Obrigado”.
8
O Dr. Daniel Amen é um homem pequeno e calvo – filho de
um magnata libanês do mercado – que se tornou, de acordo
com o Washington Post, “o psiquiatra mais popular da
América”.
Na sala de espera do lado de fora de seu escritório, um
programa de TV da PBS com o bom médico é reproduzido
em loop infinito. Eu tento desligar sua conversa bem
roteirizada sobre o uso de varreduras cerebrais para
avaliação e modificação de comportamento enquanto eu
tomo coragem para repassar as mensagens que tenho
ignorado no meu telefone.
Percorro a lista e começo a responder educadamente
a cada mensagem tentadora, certificando-me de mencionar
minha namorada.
Belle, a australiana que eu não desembrulhei no
aniversário dela, diz que vai ficar presa em Los Angeles em
uma escala noturna e quer saber se eu estarei na cidade.
Eu digo a ela: “Ainda não sei. Mas eu tenho um namorado,
então posso vê-lo apenas como um amigo.”
Anne, minha tentação online da França,

mandei outra foto nua, essa dela dançando no poste, o corpo se
curvando no ar
o fogo da minha vida de fantasia. Escrevo de volta: “Tenho gostado
de me corresponder com você. Queria ter te conhecido em
pessoa, mas em um relacionamento agora.”
Cada resposta é dolorosa, como martelar um prego
meu escroto. Mas eu faço isso: porque eu acredito. Porque
Estou me comportando. Porque eu quero me tornar.
Sou interrompido por uma recepcionista magra e sensual que
me chama para me encontrar com Amém. Sua equipe de escritório parece
consistir apenas de mulheres atraentes em seus vinte e trinta
anos. Começo a me perguntar se ele tem alguma compulsividade
sexual não diagnosticada.
Quando entro no escritório de Amen, ele está sentado em uma
cadeira giratória de espaldar alto, engolido por roupas grandes
como se seu corpo não importasse, apenas seu cérebro. o
paredes são decoradas com fotos de pinguins, que
tem algo a ver com um livro infantil que ele
escreveu sobre reforço positivo. Em suas mãos, ele está
segurando um maço de papéis com manchas verdes
aquelas que parecem as manchas de ranho de Hércules. Eles são,
coletivamente, meu cérebro, e fica assim:
Embora Amen se especialize em um tipo de varredura cerebral

que envolve a injeção de um isótopo radioativo em pacientes, optei
por um teste de EEG com som mais seguro, que foi realizado
anteriormente por um neurocientista alto e loiro usando leggings de
cintura alta.
"Isso é o cérebro de um pervertido?" Eu pergunto Amém.
“Você já foi nocauteado?” ele pergunta,
ignorando a pergunta — ou talvez respondendo.
"Apenas uma vez." Conto a ele sobre uma tarde mais de uma
década antes, quando um grupo de caras me atacou sem motivo
aparente enquanto eu caminhava para meu apartamento em
Manhattan.
"Onde exatamente eles bateram em você?"
“Acho que o golpe que me nocauteou foi aqui.”

Eu toco o lado superior esquerdo do meu crânio.
“Isso pode ser importante.”
“De que forma?”
“Seu cérebro é muito macio e seu crânio é muito duro, e dentro
de seu crânio há um monte de cristas. A incidência de traumatismo
craniano em viciados em sexo é enorme, e ninguém sabe disso
porque a maioria dos viciados consulta terapeutas. E o problema
com os terapeutas é que eles contam tudo sobre o seu cérebro,
mas nunca olham para ele.”
"Então, eu tenho danos cerebrais?" Porra, outro item

para adicionar à lista de compras do que há de errado comigo.
"Seu exame mostrou alguma evidência leve de no júri." Ele
estuda as imagens novamente, decodificando uma linguagem que
poucos entendem. “Você também tem, e isso é meio engraçado,
atividades de ondas lentas altas. Você conhece o TDAH?”
"Eu sei sobre isso."

"Alguém já sugeriu que você tinha?"
"Não nunca."
“Eu acho que muito do seu comportamento é coisa clássica de
DDA, especialmente a busca de excitação e o conflito. Querer estar
com novas mulheres é um impulso biológico para manter a espécie,
mas é totalmente
destrutivo quando você não pode se relacionar adequadamente

e depois se envolver na criação de uma família”.
Enquanto ele fala, percebo que esse é exatamente o
problema: esses dois desejos evolucionários contraditórios —
por variedade e por família — têm me dilacerado.
E na jornada para reconciliá-los, não só não estou conseguindo,
mas estou descobrindo que sou louco.
Dois meses atrás, eu era apenas um idiota que traiu a
namorada e me senti muito mal por isso. Eu nunca tinha visto
ou mesmo queria ver um terapeuta na minha vida.
Agora, de repente, tenho síndrome de ansiedade generalizada,
transtorno depressivo, problemas de socialização, danos
cerebrais, DDA, vício em sexo, raiva erotizada, transtorno de
trauma de desenvolvimento, síndrome de incesto emocional,
comprometimento do Eixo V e quem sabe mais o quê. É um
milagre que eu possa funcionar na sociedade.
“Também estou notando aqui que quando seus olhos
estavam abertos, a parte de trás do seu cérebro acendia muito mai
O que é uma coisa ruim.”
"Por que é que?" Eu não acho que posso ter outro distúrbio.
Eu poderia muito bem fazer uma lobotomia neste momento.
“Porque isso significa que você percebe todo mundo que

passa.”
"Sim, isso tem sido um problema."
“Quando seu centro visual está ligado o tempo todo, pode

ser doloroso para seu parceiro se você não tomar cuidado.” Ele
ri. Eu ri. Estamos atrasados.
Nós somos homens. Eu olho para baixo e noto seu anel de
casamento. “Como sua namorada reage quando você sai e faz
isso?”
“Ela tem sido boa sobre isso, mas eu realmente não tenho
feito isso ultimamente. Exceto . . .” Conto a ele sobre meus lapsos
recentes.
“Bem, parte disso é padronização”, ele responde. “Você
trabalhou tão duro para descobrir as mulheres que você ainda é
como um caçador. Está tão profundamente arraigado que você
não será capaz de simplesmente sair daqui e pará-lo. O outro
problema é que seu córtex pré-frontal, a parte do cérebro que
deveria atuar como freio, é um pouco fraco. Então, quando você
vê uma garota muito bonita e vai, eu adoraria fazer sexo com ela,
seu lobo frontal então se manifesta.”
Está confirmado: eu tenho uma mente como um site de

streaming de pornografia. Tenho um futuro como um velho sujo
para esperar quando meu córtex pré-frontal se deteriorar ainda
mais com a idade. “Então meu cérebro sugere vício em sexo?”
Ele folheia meus resultados de EEG e conclui: Meu córtex

pré-frontal está fraco, tornando difícil reprimir meus instintos; meu
giro cingulado anterior
(que ele descreve como um câmbio de marchas que ajuda o cérebro

a alternar entre diferentes pensamentos e atividades) fica travado,
tornando-me obsessivo com as mulheres que encontro; e meus lobos
emocionais são hiperativos, então posso ser facilmente provocado a
agir por algo que Ingrid diz ou faz — mesmo que eu não tenha
consciência do gatilho exato.
Finalmente, ele diz sombriamente: “O cérebro tem circuitos de

segurança que se formam quando experimentamos cuidados físicos
e emocionais repetitivos de figuras nutridoras, previsíveis e seguras.
Se sua mãe é deficiente e teve que contratar uma babá depois de
não cuidar de você sozinha, isso significa que provavelmente há
pouca ou nenhuma formação de circuito de segurança em seu
cérebro. Então você pode se apaixonar a curto prazo, mas o apego
emocional a longo prazo pode ser mais difícil de alcançar e sustentar.”
Em outras palavras, além de tudo, metade dos lobos e circuitos

do meu cérebro estão fodidos. “Você acha que há alguma verdade
no ditado de que um homem é tão fiel quanto suas opções?” Eu
pergunto, esperando por um pequeno adiamento.
"Eu não acho que isso seja verdade", ele responde com firmeza.
“Você é tão fiel quanto decide ser se seu cérebro estiver saudável.
Se seu cérebro não é saudável, então você é tão
fiel como suas opções. E vamos deixar seu cérebro saudável.”
Ele então prescreve um longo regime para curar minha cabeça

estragada: neurofeedback para treinar meu cérebro, suplementos de
ervas para melhorar o funcionamento do meu lobo frontal, uma dieta
saudável para manter meu açúcar no sangue equilibrado, ômega-3 e
vitamina D para reduzir meus desejos, e, sim, mais terapia de vício em
sexo.
Ele me manda embora com uma caixa de papelão cheia de seus
livros, programas de áudio e suplementos de marca. Quando volto para
casa, procuro reuniões locais sobre vício em sexo para participar, peço
um kit de recuperação Patrick Carnes, pesquiso médicos de
neurofeedback e ligo para Charles para encontrar um patrocinador.
Esta é a minha nova vida.

9
Avance rapidamente por dez meses de reuniões e
grupos de estudo passo a passo, trabalhando para conter minha luxúria com meu
companheiros ex-namoradores. Dez meses de grupo
terapia, aprendendo a ser emocional e impotente
com Sheila Cartwright. Dez meses de um a um
terapia, relatando todos os meus pensamentos carnais a um
terapeuta adicional de vício em sexo. Dez meses de
neurofeedback e suplementos e tudo mais
Daniel Amém prescreveu. Dez meses de preenchimento
Os livros de exercícios de Patrick Carnes e a leitura de seu diário
meditações e conversando com patrocinadores e deixando ir
poderes superiores e fazer inventários da minha vida sexual.
E onde estou?
O sol está se pondo e eu estou fazendo uma pequena pausa
da leitura Enfrentando o Vício do Amor de Pia Mellody,
que meu terapeuta de vício em sexo recomendou terminar antes
de nossa próxima sessão, para atender uma ligação de
Adão. De repente, ouço os passos de Ingrid lá fora. Puramente
alto. Cada pisada detestável de seus saltos em
a madeira forma uma palavra em uma frase: “Estou . . .
chegando . .são . casa

. . . fazendo
. . . Pare .. . . . . qualquer que seja . . . . .
e . . . pagar . Eu!" vocês . . . atenção . . . para . . .
Adam e eu temos conversado todas as noites, e

Passei a admirá-lo. Eu não acho que ele é mesmo
olhou duas vezes para outra mulher desde que saiu da reabilitação.
Ele está apenas tentando fazer com que sua esposa olhe para ele.
Ele está no meio de me dizer que seu futebol
equipe estava praticando com uma das equipes femininas,
e mesmo que não houvesse nada inapropriado
sobre isso, sua esposa viu isso, ficou com ciúmes e virou
Fora. Ela disse que não confia mais nele para jogar
futebol.
"Então o que você vai fazer?"

“Sabe, Neil, eu olhei para minha esposa e entendi. Eu
pensei, como alguém poderia querer ser
comigo depois do que eu fiz? Eu sempre penso, como
posso devolver a ela o que eu tirei dela por
meu caso? Então eu vou parar de jogar futebol por um
enquanto. Eu quero mostrar a ela que nosso relacionamento é
o que é mais importante para mim.”
Agora Ingrid está batendo - mesmo que eu tenha dado a ela
as chaves da casa quando ela se mudou. O rap é
sem parar. Não é educado, como um vizinho, nem mesmo sou
educado, como alguém entregando um pacote. É apenas
irritante, como alguém batendo em um cano com um martelo

quando você está tentando dormir.
“Eu tenho que ir, Adam. Mas não acho que você deva
parar de fazer as coisas que ama só porque ela se sente
ameaçada por elas. Vamos conversar depois."
Coloco o telefone no bolso e vou até a porta para deixar
Ingrid entrar.
“Quer assistir The Twilight Zone?” ela pergunta, explodindo
por dentro, sorrindo de orelha a orelha. Ela coloca seus cules
no chão e pisa em círculos ao redor dele, tentando me fazer
rir.
"Não agora. Tenho que ler um pouco.”
Seu rosto cai. Seguindo o conselho de Silently Seduced,
tenho feito um esforço para colocar minhas necessidades em
primeiro lugar no relacionamento para evitar me sentir enredado.
Mas até agora tudo o que parece estar fazendo é intensificar
os medos de abandono da própria grade, porque agora ela
acha que estou me desapaixonando por ela e está
constantemente buscando segurança.
"Skittykitts?" ela gorjeia. É um jogo de cartas que um
amigo nosso inventou.
"Quando eu terminar este capítulo, ok?" Acho fácil dizer
não uma vez, mas depois de dois ou três pedidos, começo a
me sentir culpado e perco a determinação.
Sheila me diz que cumprir continuamente
as prioridades de outra pessoa em detrimento das minhas é

chamada de acomodação patológica.
"Ok!" Ela me abraça. Eu a abraço de volta. Em cada ponto
em que seu corpo faz contato com o meu, uma terminação
nervosa congela e endurece. A reação em cadeia chega ao
meu coração até que, finalmente, ela me liberta.
Quando Ingrid e eu estávamos em um bar na cobertura

na semana passada, ela estava bêbada e pegajosa – e eu fui
tomado por um impulso inexplicável de me jogar sobre o
divisor e no vazio abaixo. Foi quando entendi por que algumas
pessoas pulam espontaneamente de telhados, pontes e
parapeitos de janelas: elas fazem isso porque é mais fácil do
que quase tudo na vida.
É mais fácil pular do que se divorciar de sua esposa, mais
fácil pular do que tentar reconquistar uma namorada, mais
fácil pular do que pedir um aumento ao seu chefe, mais fácil
pular do que lidar com sua pilha crescente de contas não
pagas, mais fácil pular do que enfrentar seus esposa e filhos
depois de decepcioná-los, mais fácil pular do que passar
todos os dias em reuniões e terapia tentando ser alguém que voc
É mais fácil — e mais rápido. Ele resolve todos os problemas
com certeza, rapidez e finalidade.
Sento no sofá e continuo lendo o livro, esperando que
Ingrid entenda a dica. Em vez disso, ela se senta ao meu
lado, estica a cabeça por cima do meu ombro e lê
a página em voz alta, sua voz histriônica e staccato, tentando ser

engraçada: “Ressentimento é a raiva que o Evitante sente por
pensar que ele ou ela foi vitimado pela carência do parceiro ou
pelas 'exigências' do parceiro por conexão no relacionamento. ”
Ela tenta fazer contato visual, que eu não retorno. “Você se

sente assim?”
Meu padrinho me aconselhou a ser sempre honesto e
vulnerável, por mais difícil que seja. Então eu digo a Ingrid: “Estou
sentindo isso agora”. Eu forço um sorriso para que as palavras
não pareçam muito duras.
Ela toca sua têmpora e fecha os olhos por um
momento, absorvendo-o. "Posso lhe fazer uma pergunta?"
"Não sei. Pode esperar?” Seu rosto começa a cair.
Eu não posso aceitar uma discussão agora, então eu me
acomodo patologicamente. “Ok, o que é?”
“Por que esse relacionamento é diferente do seu outro
er aqueles?”
Parece não apenas uma necessidade de reafirmação, mas
uma acusação. “Porque eu gosto de estar com você. Eu aprecio
você por dentro e por fora. E você me faz rir.”
Ela cruza os braços sobre o peito. “Então eu só faço você rir.

É isso?”
"Não, eu te amo." E eu realmente quero. Apenas não está certo

agora.
“O que você ama em mim?”

“É um sentimento. Eu recebo no meu coração quando estou com
vocês." Só não agora.
Ela está em silêncio.
"Qual é o problema? Sinto que estou sendo interrogado, mas

não sei do que estou sendo acusado.”
Ela morde o lábio inferior e olha para baixo em seus cules.

Então ela me bate com isso: “Então, por que você está trabalhando
tão duro para permanecer nesse relacionamento?”
É uma boa pergunta. Uma que eu tenho me perguntado
ultimamente. Eu penso nas minhas namoradas anteriores: eu terminei
com Kathy porque ela estava constantemente com ciúmes. Eu
terminei com Katie porque ela continuou me traindo. E terminei com
Lisa, meu relacionamento mais sério antes disso, porque ela começou
a me lembrar de minha mãe.
Mas com Ingrid, não consigo encontrar nada irremediavelmente

errado com ela, qualquer maneira de usar seu comportamento ou
falhas como uma desculpa para fugir. Claro, ela está sendo um pé no
saco agora. E ela se fecha quando está com raiva, me sufoca com
carinho, exige minha atenção quando quero trabalhar, pode ser
carente devido a seus problemas de abandono e tem alguns
inseguranças compreensíveis porque eu trapaceei. Mas essas são

todas as coisas com as quais um cara pode viver.
Portanto, se não consigo encontrar nada de significativamente
errado com ela, devo aceitar a única outra conclusão disponível: o
problema ainda sou eu. E depois de meses trabalhando em mim, estou
uma bagunça maior do que estava quando tudo começou. Quando eu
estava namorando Ingrid e traindo pelas costas dela, tudo estava em
estase. Ela estava feliz. Eu estava feliz o suficiente.
Estávamos vivendo em êxtase ignorante.

Essas eram as boas e velhas mentiras.
Mas agora, tudo o que eu achava que gostava em mim se
transformou em um sintoma de algo errado comigo. Os especialistas
em vícios me dizem repetidamente para não confiar em nada que eu
diga, pense ou sinta. Eles me dizem que preciso construir a auto-estima
a partir de dentro. No entanto, para fazer isso, tenho que aceitar que
estou quebrado, despedaçado, estigmatizado, doente e traumatizado -
e tudo o que faz é me fazer querer me jogar de um telhado para começar
tudo de novo.
E assim, em vez de ser curado, tornei-me cru, nervoso, irritável e

mal-humorado. O sangue que corre em minhas veias parece estar cheio
de areia e cacos de vidro. E minha sexualidade está fervendo. Apesar
de usar a regra dos três segundos, sinto-me atraído por qualquer
mulher com menos de trezentos quilos e alguns personagens

de desenhos animados de carros. Eu me sinto como o bêbado
que não consegue beber nada, então começa a beber
enxaguante bucal e álcool. Estou pronto para raspar o fundo do
barril. E Ingrid tornou-se tão sensível ao meu humor que tenho
certeza que ela está ciente disso.
"Bem por que?" ela pergunta novamente. Já não lhe disse
trinta vezes que queria um tempo sozinho para ler? Como devo
cuidar das minhas necessidades quando ela não me ouve?
Enquanto estou tentando descobrir como responder sem

criar uma cena pior, meu telefone emite um bipe. Eu verifico
rapidamente: é uma mensagem de Calvin, que acabou de voltar
do Brasil e enviou uma foto de seu filho. Eu devolvo o telefone
ao meu bolso sem responder.
"Quem era aquele?"

“Aquele era Calvino. Do meu grupo de terapia.”
Ela franze a testa e aperta os olhos para mim. "Parece que
você está escondendo alguma coisa.”
"Não, eu só achei que seria rude responder a ele enquanto
estávamos conversando."
"Bem, parecia sorrateiro."
Eu quero dizer a ela para me dispensar, para lembrá-la de
que ela disse que confiava em mim, para pedir para ver a porra
do telefone dela. Mas eu consigo ficar - apenas por pouco - no
adulto funcional. “Realmente era Calvin. Você pode verificar

meu telefone. Eu tenho sido totalmente bom.” Na verdade, acho
que estou no estado de ego de adolescente punido.
“Eu não preciso fazer isso.”
Ela acaricia meu rosto levemente, tão suave que parece
mais irritante do que calmante, como uma mosca zumbindo ao
redor da minha bochecha. "Sinto muito", diz ela, olhando nos
meus olhos, esperando algo em troca.
Mas tudo o que sinto é uma maré crescente de repulsa.
Nos últimos dez minutos, passamos por uma mininovela inteira
de amor, suspeita e reconciliação. Estou emocionalmente
exausto.
Eu olho em seus olhos e tento impedir que o monstro
enredado dentro de mim assuma o controle, mas é tarde demais.
O amor que vejo brilhando ali é como uma armadilha de urso,
fechada em minha alma para evitar que eu me desvie. Eu sou
um prisioneiro do medo. E nesse momento, percebo que o
impulso autodestrutivo que tive ultimamente não é realmente
querer me machucar. É sobre liberdade. É sobre não querer
viver sob escrutínio constante, ser responsável por seus
sentimentos, sentir-se culpado se acontecer de eu ter um
pensamento sexual que não seja sobre ela, sentir que cada
palavra ou expressão minha é uma marca em brasa que pode
machucá-la.
Mais uma vez, minha namorada virou minha mãe: Ingrid
não confia em mim, ela não me dá
espaço, e sua felicidade parece depender quase inteiramente do meu

comportamento.
As coisas poderiam ser piores, eu inutilmente tento me consolar.
Pelo menos Ingrid me confia as chaves da casa.
Eu vou para o banheiro para ficar sozinha por alguns momentos,

primeiro colocando o telefone na mesa para que Ingrid não pense que
eu estou escondendo nenhuma mensagem lá. Eu fecho a porta e fico
na frente do espelho, olhando fixamente para o rosto olhando
fixamente para mim. Há pés de galinha se formando ao redor dos
meus olhos; as rugas de preocupação em minha testa estão
começando a se transformar em rugas reais; e estou ficando com
cabelos grisalhos na minha barba. Talvez eu tenha passado do meu
pico. O processo de decomposição começou.
Quando essa recuperação do vício em sexo começará a

funcionar? Não posso continuar assim para sempre. Muito em breve,
estarei velho demais para ser um bom pai que ainda pode se
relacionar com seus filhos e jogar bola com eles. Já faz quase um
ano e eu definitivamente não estou feliz. Parece mais que estou
reprimindo meu eu autêntico do que me tornando ele.
Quando volto do banheiro, Ingrid está sentada na mesa da

cozinha com meu telefone na mão.
Seus olhos estão em chamas e sua mandíbula está para fora, mas eu
não tenho ideia de por que ela parece tão brava. Eu não fiz nada de
errado.
“Quem é Bela?”
Exceto por isso. Tenho uma sensação de vazio na boca do
estômago. As senhas são inúteis quando você tem uma namorada
suspeita que gosta de ler por cima do ombro.
"O que você está fazendo olhando para o meu telefone?" EU

foto. Se ao menos ela tivesse me deixado ler em paz.
"Quem é ela?" Ingrid pergunta novamente. Mais irritado, mais
alto, mais abrasivo. Eu tento responder, mas minha respiração fica
presa na garganta e queima de vergonha.
A culpa é sobre a maneira como você respira. Vergonha é sobre
o fato de você respirar.
"Ela é apenas uma garota com quem eu dormi há muito tempo,
antes de conhecer você", eu finalmente consigo dizer. “Não sei por
que mantive contato com ela. Eu sinto muito. Foi realmente burro. Eu
tenho um córtex pré-frontal fraco.”
“Devolva minha chave.”

"Não não Isso!" A chave em volta do meu pescoço, o símbolo
de confiança. Qualquer coisa menos isso.
“Eu não posso acreditar que você faria isso, Neil. Dê-me a minha
chave.”
Ela pega o colar e puxa com força a corrente, tentando quebrar
o fecho.
"Ok, ok, apenas deixe ir."

Ela está certa. Eu não mereço. Eu não a mereço.
Não estou mais zangado. Pelo menos não para ela. Eu estou
chateado comigo mesmo. Eu removo o colar e dou a ela
a chave de seu armário de arquivo de volta. Eu disse a Belle que estava em um
relacionamento, mas ela continuou enviando mensagens de
paquera. E embora eu não a encorajasse novamente, eu
também não fez o suficiente para desencorajá-la - e eu
definitivamente fantasiava muito com ela. Eu deveria tê-la ignorado
ou bloqueado o número dela, e ter tido a coragem de me desculpar
imediatamente com Ingrid depois de transar com ela.
até a primeira vez.
Talvez os relacionamentos sejam como uma cirurgia cardíaca:
Mesmo o menor erro pode ser fatal. E agora eu tenho
desfeito quase um ano para recuperar a confiança de Ingrid.
Deve ter sido meu emaranhado ou patológico
acomodação ou vício em sexo ou ADD ou cérebro danificado ou
todos eles trabalhando juntos em uma sinfonia de auto-sabotagem.
Ingrid pega a chave, sai correndo de casa,

entra no carro e vai embora.
E agora realizei meu desejo: estou sozinho. Eu posso
respirar. Eu consigo ler. Eu posso fazer o que eu quiser.
E é uma merda.
10
“Eu não posso continuar assim,” digo a Calvin enquanto nos sentamos em uma
Restaurante de curry japonês uma semana depois, discutindo a
situação.
“Eu passei por muitas emoções sobre essas coisas também,”
Calvin responde. “Não há fim para isso. Não é como, 'Vá fazer
este trabalho por alguns meses ou anos, então você ficará
melhor.' Eles querem que estejamos em reuniões e terapia pelo
resto de nossas vidas.”
Ele enfia a mão no bolso de trás de sua calça jeans e
puxa um pedaço de papel dobrado. "Veja isso."
É uma impressão de um artigo sobre um cara chamado
Robert Weiss que dirige um centro de tratamento em Los
Angeles chamado Instituto de Recuperação Sexual.
“Não é outro lugar.”
“Leia-o,” Calvin insiste. “Troy me enviou por e-mail.
Rob Weiss costumava trabalhar com Patrick Carnes, mas seus
egos entraram em conflito ou algo assim, então ele se separou
e começou seu próprio centro.”
Li que o Instituto de Recuperação Sexual foi vendido para a
Elements Behavioral Health, uma grande rede de reabilitação,
e eles estão planejando levar o instituto de Weiss para

todo o país, com centros de vício em sexo de luxo em todo
o país para, como diz o artigo, “viciados em sexo ricos” e
programas ambulatoriais de duas semanas “para aqueles
com menos recursos”.
“Você não consegue ver o que está acontecendo?” Calvino pressiona.
“Pense nisso: se você somar todas as pessoas que
trapacearam em seus relacionamentos, são dezenas de
milhões de clientes apenas nos EUA. Agora adicione a
isso o número ainda maior de pessoas que assistem
pornografia, e este é o plano de negócios mais inteligente
do mundo. Se eles transformarem ser homem e ter tesão
em algum tipo de câncer no cérebro coberto pelo seguro
de saúde, eles serão bilionários.”
"Seria uma coisa se o tratamento funcionasse", eu
reclamo. “Mas tomou conta de toda a minha vida. Na
metade do tempo, estou ocupado demais indo a reuniões
e lendo livros sobre intimidade para realmente ter intimidade
com Ingrid.”
Depois de encontrar as mensagens com Belle, Ingrid
passou a noite dormindo no sofá de seu escritório. Embora
tenhamos conversado por horas quando ela finalmente
chegou em casa, ela não mostrou sinais de perdoar ou
esquecer.
“Não é brincadeira,” Calvin responde. “Existem vários
sites sobre isso. Lembra quando Joan fez
somar todo o dinheiro que gastei em sexo? Bem, se eu

continuar fazendo isso, vou acabar gastando ainda mais
dinheiro na recuperação.”
Eu odeio que tudo o que ele está dizendo faz sentido. . .
e estou aliviado que tudo o que ele está dizendo faz
senso.
“A maioria das pessoas que vão para a reabilitação
recaem”, ele continua. “Então qual é o ponto? E Sheila não
quer que eu traga Mariana e Flávio” – seu brasileiro e o
bebê deles – “para cá, porque não é bom para minha
recuperação. Mas esse é o meu filho, e eu tenho que fazer
o que está no meu coração. Isso não pode estar errado, certo?”
“Eu não sei mais o que é certo, cara. Não sei. Mas,
apesar da minha frustração, devo dizer que a coisa do
emaranhado realmente se encaixa em mim como uma luva.”
“Essa parte pode ser verdade, mas lembre-se: esta é a
mesma profissão que disse que a homossexualidade era
uma doença e deu aos gays tratamento de eletrochoque e
lobotomia. E, você sabe o que, naquela época, os terapeutas
provavelmente culpavam as mães sufocantes também.
Talvez sejamos apenas diferentes sexualmente, mas o
mundo ainda não aceitou.”
Ele está fazendo um bom argumento, muito perigoso
para ser considerado. Quando eu cresci, havia duas
mulheres na minha vida: minha mãe e uma babá. Então
talvez seja natural eu querer várias mulheres
cuidadores. E quem pode dizer que essa definição ampla de

vício em sexo que estamos aprendendo não é apenas
charlatanismo moderno, com Carnes como o Kevorkian da libido
masculina?
Os médicos costumavam dizer que havia uma doença
chamada drapetomania - um distúrbio em que os escravos eram
tomados pelo desejo irracional e patológico de serem libertados
de seus senhores. São apenas palavras, compostas por pessoas
com diplomas, para impor
normas.
"Você pode estar certo", eu respondo evasivamente.
“Pode ser apenas a maneira como estamos conectados.”
Talvez o vício em sexo seja o novo TDA ou síndrome de
Asperger. É muito real para algumas pessoas, mas também é
massivamente superdiagnosticada e qualquer pessoa que não
se encaixe em um certo padrão de comportamento irreal é
rotulada com isso. Muito em breve, assim como há crianças de
seis anos tomando Ritalina e Adderall, alguma criança pobre
que desnuda uma boneca Barbie estará recebendo tratamento
para vício em sexo.
“Fomos sugados para uma pseudociência estranha e
marginal.” Calvin enfia um garfo em sua costeleta de frango.
“A maioria dessas coisas nunca foi comprovada. Fale com os
cientistas. Fale com os médicos. Converse com outros terapeutas.
Fale com qualquer pessoa, exceto Patrick Carnes e seus
asseclas. Mesmo aquele médico do cérebro que você foi
não é levado a sério pela maioria da comunidade médica.”
Rick me disse para confiar nos especialistas, mas talvez eu

tenha escolhido os errados.
“Vício em sexo não está nem no DSM,” Calvin continua, seu
rosto ovóide vermelho quente. “Foi considerado e completamente
rejeitado! Estamos perseguindo um fantasma.”
11
Um dos benefícios de escrever para a Rolling Stone é que

posso falar com qualquer pessoa no telefone. Então, depois
de conversar com Calvin, entro em busca de conhecimento,
contatando o maior número possível de especialistas em
relacionamentos do mundo para obter seus pontos de vista
sobre as questões que discutimos.
Começo com a antropóloga Dra. Helen Fisher.
Por mais de duas décadas, ela vem estudando amor, sexo
e casamento através de culturas, espécies e tempo –
tornando-se, no processo, indiscutivelmente a pesquisadora
viva mais citada na ciência dos relacionamentos.
Sua conclusão: “Somos um animal adúltero”.

Em seu livro Anatomia do Amor, ela explica as origens
desse comportamento: “Durante nossa longa história
evolutiva, a maioria dos machos buscou encontros para
espalhar seus genes, enquanto as fêmeas desenvolveram
duas estratégias alternativas para adquirir recursos:
algumas mulheres optaram por ser relativamente fiéis a um
homem solteiro para colher muitos benefícios dele; outros envo
sexo clandestino com muitos homens para adquirir recursos de

cada um. Esse cenário coincide aproximadamente com as
crenças comuns: o homem, o playboy natural; mulher, a madona
ou a prostituta.”
Com base em sua pesquisa atual, no entanto, Fisher se sente
um pouco diferente sobre essa passagem do livro. “Acho que
mudaria isso se pudesse escrevê-lo agora”, ela me diz. “Entre
homens e mulheres com menos de quarenta anos hoje, as
mulheres são tão adúlteras quanto os homens.”
Fisher explica que nossos ancestrais se uniram infielmente

por tempo suficiente para conceber e criar uma criança até que
ela desenvolvesse algum grau de autonomia, então eles passaram
a criar uma criança com (e trair) outra pessoa. Ela descreve isso
como uma estratégia reprodutiva dupla: monogamia serial mais
adultério clandestino.
Então, acho que enquanto ela explica tudo isso, se meu

objetivo é estar em um relacionamento que seja fiel ao meu eu
autêntico, então trair Ingrid foi a maneira de fazê-lo. Agora tudo o
que preciso fazer é me casar com ela, ter dois filhos, começar a
trair de novo, ser traído e me divorciar.
Isso é evidentemente amor entre o Homo sapiens. Chame isso
de fauxnogamia.
No entanto, mesmo que a teoria de Fisher seja verdadeira,
há um problema com esse estilo de vida no mundo moderno. Como
os demônios vermelhos e eu infelizmente descobri,

causa muita dor, destrói qualquer esperança de intimidade,
e traumatiza todos na família. Além disso
às questões éticas, com software de captura de teclas, contas
de telefone, extratos de cartão de crédito e perfis de redes
sociais com fotos marcadas facilmente acessíveis, é quase
impossível para um trapaceiro não
deixar um rastro tecnológico de lodo por um determinado
parceiro para descobrir.
Então, pergunto a Fisher como superar melhor nosso
passado evolutivo e ter um relacionamento duradouro e bem-
sucedido hoje. Ela responde explicando que nós
desenvolveu três sistemas cerebrais primários diferentes para
acasalamento: um para o sexo, outro para o amor romântico e um
terceiro para fixação profunda. E depois da tensão inicial de um
novo relacionamento, nosso romance e sexo
impulsos muitas vezes se voltam para outras pessoas, enquanto
nosso impulso de apego permanece conectado ao nosso
parceiro.
No entanto, antes que eu possa tirar qualquer conclusão,
Fisher diz que esse refluxo natural de romance e
sexualidade pode ser prevenida. A solução, ela detalha, é que
os casais façam coisas novas e excitantes juntos (para liberar
dopamina e obter o romance
pressa), fazer amor regularmente (para liberar ocitocina e
vínculo sexual), cortaram-se da traição
oportunidades e, em geral, certifique-se de que seus parceiros

sejam “continuamente empolgantes” o suficiente para manter todos
três unidades zumbindo.
"Uau, isso é pedir muito de duas pessoas", digo a ela.
“Sim, e mesmo assim você ainda pode querer dormir
com outras pessoas do lado”, retruca Fisher. "Então se
você vai trapacear, pelo amor de Deus, não seja pego.”
É isso, então: Helen Fisher, líder mundial
especialista em acasalamento, me deu permissão para trapacear.
Estou chocado que este seja o consenso científico predominante
sobre relacionamentos. Eu tenho trabalhado tanto para
aceitar a premissa de que meu desejo por outras mulheres
é uma doença para toda a vida e apenas a fé em um poder superior
pode colocá-lo em remissão. Mas talvez não seja o emaranhado,
o trauma ou o vício em sexo que torna a noção de monogamia
vitalícia tão desagradável. É apenas,
como eu disse inicialmente a Rick, faz parte de nossa natureza.
Mesmo Sigmund Freud e Carl Jung, os pais
da psicoterapia moderna, parecem ter tido casos: o primeiro com
a irmã de sua esposa, o segundo com
um paciente. “O pré-requisito para um bom casamento, é
me parece, é a licença para ser infiel”, Jung
escreveu em uma carta a Freud. E Bill W., o co-fundador dos
Alcoólicos Anônimos, era tão notório
por trair sua esposa com mulheres atraentes que
participou de reuniões de sobriedade que seus colegas mais tarde
começou a chamar esse tipo de luxúria de décimo terceiro

passo.
Pelos padrões de Carnes, eles seriam viciados. Por Fish
er, eles seriam Homo sapiens bem-sucedidos. Pela sociedade,
eles seriam arrepiantes. É tudo muito confuso.
Nos próximos dias, mergulho mais fundo na ciência do

acasalamento. Mas não consigo encontrar um único item
confiável em todo o cânone da literatura evolutiva e
antropológica que apoie a afirmação de que os seres
humanos devem escolher um parceiro e depois permanecer
fiel e exclusivamente com essa pessoa por toda a vida.
Além de tudo, eu estava me sentindo tão culpada por

evitar a intimidade com Ingrid fantasiando. Mas, ao que
parece, um estudo sobre fantasias sexuais realizado por
pesquisadores da Universidade de Vermont concluiu que
98% dos homens (e 80% das mulheres) relatam ter fantasias
sexuais com outras pessoas além de seus parceiros.
Então é claro que é uma luta focar 100% da minha

atenção e desejo sexual em Ingrid. Estou fodidamente
normal. Há algo de libertador nesse pensamento. Porque
estou cansado de me bater todos os dias.
Mesmo quando finalmente consigo encontrar um grupo de

pesquisadores estudando os benefícios da monogamia para a
sociedade – historicamente, aumentou o número de mulheres
disponíveis e reduziu o número de homens solteiros, levando a
menos competição por parceiros e redução do crime e da
violência – eles admitem que não apenas sua definição de
monogamia não impede a trapaça, mas também não acreditam
que a monogamia seja natural.
“Se fosse tudo genético, se os humanos apenas por

natureza acasalassem para a vida e houvesse um vínculo muito fo
O professor Peter J. Richerson explica: “então não precisaríamos
de todos esses costumes matrimoniais”.
Quanto ao casamento em si, a historiadora Stephanie
Coontz, autora de Marriage, a History, me diz que a tradição
nunca deveria ser sobre intimidade. Durante a maior parte de
sua história, o casamento foi uma instituição econômica e
política, principalmente sobre a fusão de recursos, a formação
de alianças ou a criação de uma linhagem para herança, explica
ela.
Somente no final do século XVIII as pessoas se casaram por
amor. E demorou até o final do século XX para que o casamento
começasse a se tornar uma parceria íntima em vez de uma
instituição patriarcal.
Hoje, Coontz acredita que a tradição está mudando mais
uma vez. “As pessoas querem ser monogâmicas ou
promíscuos, eles querem filhos ou não querem filhos, eles

querem isso ou eles querem aquilo”, diz ela. “Durante
séculos, eles tiveram que esconder essas preferências e
aceitar tudo como um pacote. Agora você não precisa: é
literalmente escolher. Recorte e cole o tipo de vida que
você quer. A vida familiar e os relacionamentos amorosos
estão se tornando essencialmente um modelo de construção p
Talvez Calvin estivesse certo, penso quando saio da
casa de Coontz naquela noite. Talvez tenhamos sofrido
uma lavagem cerebral. Ou isso ou estamos vivendo em
uma cultura do século XXI que está se movendo
rapidamente, mas presa em instituições do século XX que
mudam muito lentamente.
Por outro lado, não importa qual seja o seu ponto de vista,
você sempre pode encontrar alguém com um Ph.D para
apoiá-lo.
12
E então me vejo, quase um ano depois de voltar da

reabilitação, preso entre uma escola de pensamento me
dizendo que tenho uma doença psicossexual incurável que
preciso tratar diariamente, e outra fazendo um argumento
muito convincente de que mais de duzentos mil anos de a
cultura e a evolução sustentam meu comportamento como
perfeitamente natural.
Enquanto isso, meu relacionamento com Ingrid se
tornou uma montanha-russa. Em um minuto estamos rindo
juntos e olhando amorosamente nos olhos um do outro, no
próximo estamos discutindo ou não falando. Na maioria
das noites, acabo dormindo no sofá. Enquanto isso,
Hércules de alguma forma passou de dormir no chão ao
lado da cama para dormir no edredom na parte inferior da
cama para dormir em um travesseiro na cabeceira da cama
para ficar de conchinha com Ingrid.
Uma tarde, para um artigo da Rolling Stone que estou
escrevendo, a cantora britânica Ellie Goulding me encontra
em Malibu para tocar uma música em que está trabalhando.
Nós pedalamos no oceano e discutimos sua arte
e sua vida. Quando Ingrid chega em casa do trabalho com Hércules

a tiracolo, eu a informo sobre o dia.
“Conversamos muito sobre abandono, porque o pai dela
abandonou ela e a mãe dela”, recapitulo.
“Um dia ela estava se sentindo muito triste, então ela mandou uma
mensagem para ele e perguntou: 'Você ainda me ama?' Mas a nova
esposa de seu pai mandou uma mensagem de volta e disse para
deixá-lo em paz e parar de incomodá-lo. É tão cruel. Nós dois
estávamos praticamente chorando.”
Ingrid endurece e diz secamente: "Ah, então vocês dois choraram
juntos?"
É um tom de voz que já ouvi antes — como um trovão em um
dia ensolarado, trazendo consigo uma tempestade.
Ela sai da sala com raiva e volta segundos depois, me bombardeando
com perguntas: “Por que você trocou números com ela?” "O que fez
você convidá-la aqui?" "E por que ela veio enquanto eu estava no
trabalho?"
Ingrid tem certeza de que eu tinha segundas intenções, o que

neste caso raro eu não tinha. Ela ouve com irritação enquanto eu
explico isso, então ela pronuncia as quatro palavras que são o beijo
da morte para qualquer relacionamento: “Mostre-me seu telefone”.
Enquanto Ingrid analisa cada palavra das minhas trocas de ex
com Goulding, olho para Hércules, que está dormindo de costas na
cama. Seu pequeno órgão enrugado está pendurado lá, roubado de
sua função e
propósito para que ele possa ser um servo cujo único trabalho é
dar carinho e aceitação incondicional à sua senhora. Parece
errado roubar qualquer coisa viva da alegria do sexo.
Quando Ingrid termina de mexer no meu telefone, passamos

meia hora discutindo sobre Goulding.
Esta é a primeira vez que ela me acusou de algo que eu realmente
não fiz e se recusou a acreditar na verdade. E é horrível: isso não
é apenas uma consequência direta de todas as vezes que eu
quebrei a confiança, mas não pode ser fácil namorar alguém que
tem que trabalhar tanto para não traí-la.
Nenhuma mulher quer um viciado em sexo como parceiro, ex

exceto talvez um viciado em amor.
Eventualmente, Ingrid desmaia na cama ao lado de Hércules
e cai em um silêncio carrancudo e lacrimoso. No primeiro ano de
nosso relacionamento, ela estava sempre sorrindo, rindo e ocupada
com projetos criativos.
Uma das razões pelas quais me apaixonei por ela foi que ela
lançou um raio de sol que penetrou até os cantos mais escuros
dos meus pensamentos. Mas agora sua luz e criatividade parecem
ter se extinguido completamente.
Ela nem fala mais com os amigos porque eles não aprovam que
ela namore comigo.
Enquanto eu olho para o rímel rasgado pelas lágrimas ao
redor dos olhos de grade, a carranca profunda em seu rosto, e o
trágica bola fetal que ela forma em torno de Hércules,

o aviso de minha mãe ecoa em minha cabeça:
“Nunca cresça para deixar alguém tão infeliz quanto
seu pai me faz”.
13
Quando ela entra no carro, usando um vestido vermelho com
suas sempre presentes botas pretas, fico aliviada em vê-la.
De todos os profissionais que conheci, ela é a única que
realmente parece ver os fios invisíveis emaranhados que
guiam o comportamento humano.
E as primeiras palavras que saem da boca de Lorraine
não apenas me chocam, mas são exatamente o que eu
preciso ouvir agora. “Tivemos uma discussão quando você
saiu da reabilitação”, diz ela. "E nós não achamos que você é
um viciado em sexo."
"Sério?"
“Você tem uma compulsividade sexual e é um dos muitos
sintomas de sua educação.”
"Obrigada."
Não tenho certeza de qual é a diferença exata entre um
vício e uma compulsão, e não me importo. Suas palavras são
o último ferrolho que se abre e me liberta de toda a vergonha,
repressão e luta do ano passado. É o melhor elogio que
alguém me deu desde que comecei todo esse processo.
Depois da minha discussão com Ingrid, enviei um e-mail

para Lor raine, que provavelmente me conhece em um nível
mais profundo do que qualquer um, para perguntar se terminar
seria uma decisão saudável para Ingrid e eu ou um erro do qual
nos arrependeremos pelo resto de nossas vidas. Ela respondeu
que estava vindo para a cidade em breve para realizar um
workshop em Orange County e então poderíamos discutir isso
pessoalmente. Então eu a convidei para jantar comigo e com Rick.
Quando entramos no restaurante italiano Giorgio Baldi,
vemos Rick sentado sozinho em uma camiseta branca.
Raramente o vi usar qualquer outra coisa. Ele sorri e acena
com a cabeça em uma saudação gentil enquanto eu o apresento
a Lorraine.
Depois de fazermos o pedido, deixo Rick saber que estou
pronto para jogar a toalha nessa ideia de aceitar tudo que um
especialista em vício em sexo diz. “Já faz um ano e ainda não
estou feliz. Segui tudo ao pé da letra e aprendi muito. Mas não
apenas meu relacionamento está por um fio agora, o que não
mudou é meu desejo de estar com outras pessoas e minha
crença de que deveria.”
Eu estudo o rosto de Rick para uma reação. Ele absorve e

fecha os olhos levemente como se estivesse chegando a um
pensamento – ou, mais precisamente, deixando um pensamento
chegar até ele.
Mas antes que ele possa responder, Lorraine me pergunta:

“Isso está fora do seu sistema de valores?”
"Não."
“Então eu não vejo o que há de errado com isso. Depois que
meu marido morreu, decidi que não queria mais viver com ninguém.
Eu moro sozinho e sou feliz, e não quero ninguém nesse espaço.
E é isso que é certo para mim. O que é ótimo hoje é que existem
muitas opções diferentes e você pode escolher qualquer uma que
seja fiel a você.”
Estou surpreso por encontrá-la tão aberta. Parece que ela

mudou suas crenças desde a reabilitação, então eu pergunto a
ela sobre isso.
“Tudo o que eu lhe disse durante seu trabalho na cadeira era
verdade”, diz ela. “No entanto, Joan é a diretora do programa e ela
tem diretrizes muito rígidas sobre tolerar qualquer comportamento
sexual fora de um relacionamento monogâmico comprometido,
então nem sempre posso dizer tudo o que penso lá.”
"Então você realmente acredita que é possível ter intimidade

fora da monogamia?" Eu pressiono, apenas para ter certeza de
que estou entendendo corretamente.
“Existem alguns casais que têm um relacionamento vitalício
e filhos, e concordam em ter um casamento aberto. Desde que
ambas as pessoas sejam verdadeiras
e íntimos e operando com integridade, não vou julgá-los.”
Eu olho para as rugas de pó em seu rosto, as dobras de pele

ameaçando puxar seu pescoço para baixo e a inteligência conquistada
em seus olhos. E eu penso, obrigado pela compreensão.
Estou surpreso com o quanto sua aprovação significa para mim.

Talvez seja porque minha permissão para ser um ser sexual foi tirada
de mim na reabilitação. Foi minha punição por abusar desse direito
em meu relacionamento, por prejudicar alguém inocente com ele.
E agora, depois de um ano de liberdade condicional, finalmente estou

recebendo a custódia provisória de novo.
“Sinto que estou pronta para explorar outros estilos de
relacionamento, mas estou um pouco assustada”, digo a Lorraine.
“Eu tenho acordado todas as manhãs esta semana cheio de ansiedade
por perder Ingrid. Estou preocupado em não conseguir encontrar essa
qualidade de amor novamente e estou arruinando o que pode ser
minha única chance de um futuro feliz e uma família.”
Eu sou tão ruim em compromisso, eu não posso nem me

comprometer a ser descomprometido.
Ambivalência. Esse é o meu poder superior. Todos saúdam a
Ambivalência, destruidora de relacionamentos.
Enquanto isso, Rick fica em silêncio, ouvindo o
conversa, acenando com a cabeça e coletando pensamentos.
"Você perguntou a Ingrid se ela está aberta a outro tipo de

relacionamento?" Lorraine sugere quando a comida chega.
“Essa seria a solução perfeita. Eu só não acho que ela iria gostar
disso, no entanto.”
"Você pode se surpreender", diz ela.
Assim como temos uma família de origem à qual estamos presos,
podemos criar uma família de escolha que selecionamos livremente. E,
de certa forma, parece que estou sentado com a mãe e o pai funcionais
que escolhi.
É quando Rick finalmente abre a boca para falar. “O que eu desejo
para você,” ele começa, medindo cada palavra para ter certeza de que
aterrisse da forma mais poderosa possível, “é que você se comprometa
a viver este estilo de vida aventureiro que você quer, sem qualquer
outra opção. Porque você precisa chegar ao lugar onde tem todas as
mulheres que deseja e descobrir que isso não resolve sua solidão ou
sua necessidade de conexão ou sua dor.”
Estou chocado com a severidade de suas palavras. Achei que

tínhamos um acordo de que eu tentaria cada caminho sem julgamentos.
“Não foi assim que você colocou quando discutimos isso pela primeira
vez.”
“Bem, eu tinha um pouco mais de esperança para você então. Mas
isso parece ser o que você queria o tempo todo.”
Lorraine o observa falar. Eu sinto uma crescente sensação de

ansiedade que ela vai concordar com ele.
“Se você realmente vai seguir em frente com sua decisão”, ela
finalmente diz, arbitrando, “vou pedir que você resolva um mistério.”
“Qual é o mistério?”
“O mistério é se o caminho em que você está embarcando é
autêntico ou se você está operando a partir de uma ferida.”
“Como vou saber a diferença?”

“As feridas trazem drama e trauma. Não trazem conforto.” Ela
faz uma pausa para ter certeza de que eu entendi, então elabora.
“Todos nós temos seis necessidades principais: emocionais,
sociais, intelectuais, físicas, sexuais e espirituais. E se eles estão
sendo atendidos e aprimorados, então você está fazendo a coisa
certa.”
“Se esta escolha vem de um lugar saudável, então você
descobrirá que ela leva à felicidade duradoura.”
acrescenta Rick. Parece menos que ele está recuando e mais
como se ele decidiu me deixar aprender por mim mesma onde
esse caminho vai levar.
“Espero que sim,” digo a eles. “Talvez eu consiga
encontrar alguém que compartilhe minhas crenças e valores.”
Enquanto as palavras saem dos meus lábios, eu me preocupo
em acabar com o destino que eu mereço: uma mulher que é como
Eu.
“Lembre-se”, insiste Lorraine, como se lesse meus

pensamentos, “qualquer coisa que não o traga vivo é muito
pequeno para você.”
“E o que quer que você faça”, Rick acrescenta
ameaçadoramente, “espero que você faça de forma limpa e
honesta, sem bagagem”.
14
"Este é o melhor relacionamento que eu já tive", eu digo
sua. “Nunca amei tanto alguém.”
Estamos deitados em nosso quarto de hóspedes,
que Ingrid decorou e chamou de Sala da Nave Espacial.
Há quatro colchões juntos no chão e lençóis pretos
cobrindo o teto e as janelas. Um projetor reproduz
vídeos de galáxias na parede, outro projeta constelações
no teto e uma lua de brinquedo iluminada paira sobre
nossas cabeças. A sala em si é uma prova da
criatividade lúdica de Ingrid, e outra razão pela qual a
admiro. No entanto, mesmo assim, estou prestes a
partir o coração dela. E meu.
“E esse é o problema,” continuo.
"O problema?"
Eu começo a gaguejar. É difícil para mim cuspir as
palavras que vêm a seguir. Lágrimas bem em seus olhos. Ela
sabe o que está por vir.
"Eu não quero perder você", diz ela. No entanto, ela
sabe que vai.
Ficamos em silêncio por um momento, então ela

continua. “Sinto que todos os nossos problemas ultimamente
foram culpa minha porque não me senti segura e isso me
deixou distante e desconfiada.”
Eu quero deixá-la acreditar nisso, mas não é a verdade.
“Não, sou eu,” digo a ela. Me sinto horrível, me sinto

egoísta, me sinto culpada, me sinto defeituosa. “Não sei,
mas talvez possamos tentar como experimento um tipo de
relacionamento menos tradicional, só por um tempinho, para
tirar as coisas do meu sistema.”
Quem estou enganando? Essas coisas nunca vão sair
do meu sistema. Eu tentei.
“Para tirar o que do seu sistema?”
Eu respiro fundo. Eu começo a tremer. Estou nervoso
para dizer o que vem a seguir. “Acho que nunca serei capaz
de reconquistar sua confiança.” Longa pausa. “Porque eu
acho que nunca vai parecer certo para mim não estar com
mais ninguém. Para o resto da minha vida."
Lá. Eu disse isso. Eu olho para seus olhos prismáticos,
suas maçãs do rosto salientes, o delicado duplo V de seu
pescoço e omoplatas, e aquela qualidade intangível de sua
alma que é mais bonita e duradoura do que tudo isso. Não
quero que ela tenha um corpo como aquela mulher no avião
ou que me deixe em paz quando chega em casa do trabalho
ou que pare de ler meu
ombro. Estou envergonhado por ter tido esses pensamentos. E

eu me pergunto: Por que ela não é suficiente?
Por que não posso ser feliz com ela? E meus olhos
comece a regar.
Ela não fica com raiva. Ela não para de chorar. Ela me olha
nos olhos e diz, com ternura: “Talvez você queira dormir com
outras pessoas, mas eu não quero fazer isso. Não consigo me
imaginar fazendo sexo com alguém com quem não me importo.”
“Talvez pudéssemos tirar três meses de folga e usar o

tempo para decidir o que está certo em nosso coração.” Como
eu estou fazendo a sugestão, eu sei que ela nunca vai concordar
com isso.
“Se pararmos, se fizermos uma pausa, é isso. Foram
realizadas. Eu nunca vou ver você ou falar com você novamente.”
Suas palavras são amorosas, mas firmes, não a hesitação de
uma ambivalente.
É isso, então: devo tomar uma decisão. Uma vida inteira de
monogamia com a mulher que amo. Ou uma vida inteira de
namoro com quem eu quiser, de fazer o que eu quiser, de ter
total e completa liberdade. Isso não significa que nunca terei
uma namorada, um filho ou uma família. Significa apenas que
vou tê-los em meus termos, não aqueles desta sociedade
repressiva que espera que você corte suas bolas assim que
disser “sim”.
Estou em silêncio. Eu não posso fazer isso. Isso é o que eu

venho dizendo que é tão natural, mas agora não consigo me deixar
ir. Temos uma viagem marcada para Machu Picchu em alguns
meses, e inúmeras outras aventuras que planejamos e imaginamos.
Passei toda a minha vida sonhando em estar com alguém como
Ingrid: alguém que eu respeito, em quem confio, com quem ri
constantemente, com quem acordo ao lado, olho e sorrio, grata ao
universo por trazer alguém tão adorável e amoroso em minha vida.
Mas . . .
O silêncio é mais doloroso do que as palavras para ela.

As lágrimas vêm agora, lentamente. "Você precisa ir em sua busca",
diz ela. “E é um que eu não posso continuar com você.
Você tem que ir sozinho.”
"Não sei. Isso é ridículo? Nós amamos cada um
outro tanto. Estamos cometendo um erro?”
“Não,” ela diz. "Você tem que fazer isso . . . para ti também
seja feliz." Felizmente, um de nós é forte.
“Você quer se separar?”
"Não. Estou fazendo isso por você.”
E é aí que eu perco. Eu a abraço, lágrimas encharcando
nossos rostos. “Obrigada por me ensinar a amar e por me ensinar
o que é o amor”, diz ela.
“Você tem o maior coração de todos que eu conheço.” Não acredito
nessas palavras nem vejo como ela pode acreditar nelas. No
entanto, ela faz.
Nós nos abraçamos em silêncio, até que ela diz

baixinho: “Eu queria ter filhos com você”.
No teto e nas paredes, galáxias estão em movimento,
pequenas réplicas de planetas e estrelas movendo-se em
suas próprias órbitas. E penso: Estamos mudando o
universo agora. Esta pequena decisão vai significar que
essas crianças não vão nascer neste mundo. E não seremos
os pais de Ingrids e do neurótico Neils.
Um barulho retumbante sacode a janela, como um

tremor de terremoto ou uma violenta rajada de vento, e me
pergunto se é um sinal do universo de que estamos
cometendo um erro. Ou talvez sejam sicários mexicanos
vindo para me matar por trabalhar naquele livro sobre a
guerra às drogas. Rick Rubin uma vez me disse que em
seus leitos de morte, as pessoas não pensam em seu
trabalho ou em suas experiências de vida ou nos itens que
permanecem em sua lista de tarefas. Eles pensam em amor
e família. E estou jogando fora. Eu posso genuinamente
estar transformando aquele pesadelo que eu tive quando
eu era criança – de ser um caloteiro preguiçoso, falido e
mal amado dormindo no sofá da casa da família suburbana
perfeita do meu irmão – em uma realidade desta vez.
Mas eu realmente quero esse sonho: uma casa no
subúrbio, uma rotina doméstica que nunca muda, um estilo
de vida onde ir ao cinema é uma espécie de
grande aventura, crianças ingratas como eu que culpam os pais

por todos os seus problemas? Talvez meu coração não seja tão
grande quanto Ingrid diz que é. Ou talvez seja grande, mas só
porque está com fome e constantemente tentando consumir mais
para não passar fome.
Estou no limiar da liberdade com a qual tenho fantasiado no
ano passado, mas agora parece que estou caindo da beirada
daquele bar na cobertura.
Ingrid acaricia minha cabeça de forma tranquilizadora e diz:
“Sinto que peguei um lindo pássaro na natureza e o coloquei em
uma gaiola, só para eu olhar”.
Eu escuto. Ela sabe. Ela me entende.
“A gaiola fica perto da janela e o pássaro fica olhando para
fora e pensando na vida lá fora.
E eu preciso abrir a gaiola e deixá-la ir, porque ela pertence à
natureza.”
Então seu rosto cai, seus olhos ficam vermelhos e as lágrimas
começam a vir mais rápido. Eu não posso deixar ir, mas ela pode.
Entre soluços, ela balbucia seu último pensamento, as seis
palavras que me assombrarão para sempre: “Mas os pássaros
morrem na natureza”.
Eu estou livre.
Eu posso ficar selvagem. Eu posso namorar qualquer mulher que eu quiser.

Posso enviar mensagens de texto para qualquer pessoa a qualquer momento.
Posso começar a procurar o último relacionamento livre.
Mas por alguma razão, não é isso que estou fazendo.
Em vez disso, estou relaxando na solidão. Eu nem sabia que tinha
perdido a mim mesma.
Terminei um livro ontem à noite e estou mergulhado em outro
esta manhã. Fazia anos que não lia tanto, ou gostava tanto. A
cama parece limpa e espaçosa, o sol quente e reconfortante, o
Cinnamon Toast Crunch cheio de alma e decadente.
Rick diz que eventualmente vou me tornar um daqueles velhos

solitários que gritam com crianças felizes. Mas tenho meus livros
para ler. Eu tenho minha cama quentinha. E eu tenho meus cereais
matinais. Enquanto eu tiver isso, nunca estarei sozinho.
Ingrid saiu com tudo o que ela possuía em sacos de lixo duas
noites atrás. Foi doloroso: nenhum de nós
conseguia parar de chorar. Ela deixou para trás apenas uma planta
ficus e uma nota:
Obrigado por me deixar ver seu coração. Você sempre disse

que estava cheio de escuridão, mas o que eu via era brilhante
e quente, cheio de vida. É a coisa mais linda, como andar
dentro de uma caverna com uma vela e encontrar esse
incrível tesouro escondido. Acho que é por isso que você tem
o mapa do tesouro gravado em você. Você me disse que sua
mãe deu seu peixinho dourado quando você era jovem
porque ela disse que você não podia cuidar das coisas. Então
estou deixando minha planta com você. Eu o chamo de
Sobrevivente porque quando o ganhei, ele ficou meses sem
água e ainda continuou crescendo. Então agora é seu, cheio
de vida, provar que você pode cuidar das coisas.
Suas palavras perfuram meus órgãos mais vulneráveis: meu

coração e meu núcleo de vergonha, que estou começando a pensar
que podem ser a mesma coisa. O amor é tão difícil de encontrar como
é, é insano dizer a alguém para parar de te amar – possivelmente sem
uma boa razão. Especialmente alguém tão genuíno e atencioso como
Ingrid. Mas foi o que eu fiz.
Sinto solidão às vezes, tristeza ocasionalmente, e

uma sensação de destruição sem Ingrid, assim como
culpa por sujeitá-la a todas as minhas dúvidas,
ressentimentos e luta por nada. Mas, ainda assim, sou
mais feliz sozinho. Só eu e o Sobrevivente. Pelo menos
o Sobrevivente me deixará regar outras plantas.
Viro o cartão para encontrar um pós-escrito: “Por
favor, não responda a isso e não me ligue. Estarei
tentando me curar. Se você precisar me contatar em
uma emergência, sua palavra-código é 'Freeeeeeedom!'
Você só pode usá-lo uma vez e eu estarei lá para você.”
Eu ando até a cozinha para jogar minha tigela de
cereal suja na pia. Eu não limpo. Eu não escovo meus
dentes. Eu nem sequer tomei banho ou lavei meu rosto
esta manhã.
Carrego uma prancha de surf no meu Durango e
dirijo até a praia. O sol está escaldante, a vista da
montanha é majestosa e as ondas são limpas. Sinto-me
culpado por desfrutar de tudo isso. Talvez as pessoas
que mais te machucam quando vão embora sejam
aquelas com quem você não deveria estar, porque
fazem isso sem compaixão. Ingrid saiu com nada além
de compaixão.
Quando volto para casa, visto jeans e um moletom
fino. No balcão da cozinha, vejo Silenciosamente
Seduzido me encarando. Eu o folheio e
leia algumas das passagens que sublinhei: “Assuma o

compromisso total de permanecer em seu relacionamento se
achar que isso é bom para você”, escreve Adams. “Separe as
necessidades insaciáveis da criança interior das necessidades
de intimidade realistas do adulto. Lamentavelmente, todas as
necessidades de desenvolvimento perdidas para o
relacionamento incestuoso não serão totalmente satisfeitas em nen
Entro em pânico por um momento, preocupado que tenha
cometido um erro horrível, que minha adolescente de castigo
tenha terminado com o filho abandonado de Ingrid. Mas então
eu acho que se minhas necessidades não podem ser atendidas
por uma parceria de qualquer maneira, então definitivamente
estou fazendo a coisa certa ao tentar satisfazê-las por meio de
várias parcerias. Talvez o dano seja irreparável e eu só precise
encontrar uma maneira de viver com ele, fazer amizade com
ele, abraçar a sombra em vez de lutar contra ela.
Quando o sol se põe, vou ao mercado para comprar meio

quilo de carne de porco desfiada e um pouco de salada de
repolho. Enquanto estou sentado em casa, comendo nos
recipientes de plástico e assistindo a trailers de filmes online,
sinto uma sensação de paz interior que não me lembro de ter
tido em muito tempo. Eu posso me mover em qualquer direção
que eu quiser sem que ninguém me detenha, me segure, me
machuque, ou até mesmo pergunte para onde estou indo ou
espere por ela.
Eu pensei com certeza que agora estaria chamando

alguém para passar a noite, só para sentir um novo corpo
pressionado contra o meu e extinguir a solidão. Mas, em vez
disso, estou gostando de ser eu de novo.
Ou eu tinha me perdido e não estava realmente cuidando das
minhas necessidades no relacionamento como eu pensava
que estava. Ou não é de Ingrid que me sinto livre, mas da
culpa e repressão incessantes do mundo do vício em sexo.
Enquanto estou deitado na cama naquela noite lendo

Zorba, o grego (“o traseiro da esposa do moleiro, isso é razão
humana”, observa o personagem de mesmo nome), minha
mente continua se voltando para Ingrid e repetindo coisas que
ela costumava dizer e fazer. Do jeito que ela costumava
abaixar minhas calças e gritar “Liberdade!” e tentar me
empurrar para fora da porta. Ou a forma como ela comprava
bebidas com sabor ridículo como refrigerante de bacon ou
refrigerante de milho doce, e as apresentava para mim como
um locutor apresentando boxers. Ou a maneira como ela
tentava me impedir de entrar em nosso quarto, alegando ser
um segurança e exigindo ver meu passe VIP. Tenho saudades
do meu melhor amigo.
Certa vez perguntei a Dave Navarro, um guitarrista de
rock com quem escrevi um livro, por que ele estava sabotando
seu casamento com Carmen Electra, que na época era um
dos maiores símbolos sexuais do mundo. “É como viver com
meu melhor amigo”, reclamou. E eu respondi: “Isso parece

ótimo. Quem não gostaria de viver com seu melhor amigo a vida
toda?” Agora eu sei a resposta: quando você mora com seu
melhor amigo, seu pau fica solitário.
Linda, uma garota que namorei no passado, liga. É como se

ela tivesse um radar ou, mais provavelmente, estivesse me
perseguindo online. Eu fui o primeiro de Linda, e sempre que
estamos entre relacionamentos – e ocasionalmente quando não
estamos – nós ficamos. Quando digo a ela que terminei com
Ingrid, ela responde gatinha: “Bom, agora você pode ter um
bebê comigo”.
“Talvez possamos fazer isso algum dia. Mas não quero ser
monogâmico.”
Eu me pergunto por que sinto que não consigo lidar com o
casamento, mas consigo lidar com a paternidade. Acho que é
porque não é a responsabilidade que me importa, é a exclusividade
Você pode criar um filho e ainda ter um, dois ou dez outros
filhos. E crescer e se separar é a natureza desse relacionamento,
então com o tempo cada um ganha mais liberdade.
Linda e eu conversamos sobre como o arranjo funcionaria

de uma forma saudável para a criança, mas no final das contas
é apenas uma fantasia de role-playing. Especialmente porque
ela tem namorado, então não tenho ideia de por que ela está
me ligando. Tudo o que sei é que não preciso me sentir culpado por
atender a ligação.
Fecho os olhos e afundo de volta no conforto da minha cama, pronta
para acordar para outro dia sem limites, livre para me espalhar em
qualquer direção que eu escolher. Qualquer realidade pode ser minha.
Posso ter um bebê com alguém como Linda. Posso criar uma comunidade
de amor livre como o padre Yod. Eu posso encontrar um relacionamento
sem limites e sem limites. Eu posso ser verdadeiro comigo mesmo.
E talvez isso seja liberdade: estar em uma sala circular cercada de

portas abertas, sabendo que posso passar por qualquer uma delas e
antecipando a nova aventura que está além de cada uma delas.
Posso sentir falta da Ingrid, mas estou pronta.

Entrada do diário de Ingrid

DIA 1
13:00
Hércules e eu fomos ao parque de cães juntos. Eu me sinto
estranha e estranha, meio tímida quando falo com caras que
se aproximam de mim. Sinto que estou em um mundo
totalmente novo. Até agora eu realmente não pensei muito
sobre Neil. Esperando a noite chegar. É a noite que me
assusta.
Todos no parque de cães acham que Hércules é um
doce. Ele geralmente se mantém sozinho e gosta de cheirar
a grama.
Eu me sinto muito sensível. Não quero que as pessoas se
aproximem de mim ou falem comigo. Eu quero ficar sozinho. Eu
me sinto solitário e triste.
9:00 da noite
Esperando do lado de fora da casa da [minha amiga] Melissa.
Encontrando-a para uma bebida. Eu preciso perguntar a ela
como ela superou sua separação. No meu caminho de volta
para o escritório do parque de cães, parei no Rocket Fizz
para alguns refrigerantes com sabor divertido. Mas todos os

sabores me lembravam Neil porque experimentamos
praticamente todos os refrigerantes de lá. Encontrei alguns
novos sabores, mas depois pensei: Hmm, se for bom, gostaria
de compartilhar com ele. Então saí sem comprar nada.
Tenho saudades do meu melhor amigo. Minha família. Meu

tudo.
Posso fazer isso?
Quando Melissa vai sair? Meu Deus! Estive aqui fora por
mais de trinta minutos.
A lua está brilhando esta noite. A lua está me acariciando
com sua luz suave. Espero que Neil esteja do lado de fora para
que a lua possa nos tocar e nos conectar com sua luz.
Eu amo-o. Sem dúvida.

Em um bar com Melissa agora. Ela está falando com um
cara que ela conhece. Ele quer me apresentar ao barman.
3
Charles está chateado porque sua esposa ficou brava com ele
novamente, trancou-o para fora de casa e disse à família que ele
a traiu com prostitutas.
Adam parou de jogar futebol, mas sua esposa ainda não está
descongelando. Um guitarrista de rock abatido chamado Rod
confessa que está indo a casas de massagem asiáticas pelas
costas de sua esposa.
E todo mundo está gritando comigo.
Esta é minha última sessão de terapia em grupo, e Sheila
quer que eles “processem” minha partida. Na semana anterior,
eles fizeram o mesmo com Calvin, que deixou o grupo depois de
decidir trazer Mariana e seu filho para Los Angeles para uma
longa estadia para ver se eles conseguiriam se unir em família.
— Então o que você vai fazer agora? Charles me pergunta,

como se a vida sem tratamento para vício em sexo fosse
inconcebível.
“O que eu quero fazer é dedicar algum tempo para explorar
diferentes relacionamentos alternativos, para que eu possa
encontrar o que é certo para mim.”
“O que você quer dizer com relacionamentos

alternativos?” Adam pergunta, perplexo. Ele parece não ter
idéia de que há opções na vida além do casamento
monogâmico.
“Escrevi alguns critérios para o tipo de relacionamento
que estou procurando.” Eu pego meu telefone e
li uma nota que escrevi na noite anterior:
1. Não pode ser sexualmente exclusivo, o que

exclui a monogamia.
2. Tem que ser honesto, o que exclui
adultério.
3. Deve ser capaz de desenvolver apego
romântico e emocional,
que exclui ser permanente
solteiro.
4. Deve ser capaz de evoluir para um

família com filhos saudáveis e bem
ajustados, o que exclui parceiros instáveis
e estilos de vida.
Há um silêncio constrangedor quando termino.

Finalmente, Charles fala: “Eu tinha esperança de que você fos
viciado em dois carros na garagem, que recebe tratamento
e se recupera antes de perder tudo.” Ele treme
sua cabeça em decepção. Seu Alfred Nobel
acabou por ser um Robert Oppenheimer. “Mas agora parece

que você vai ter que chegar ao fundo do poço.”
“Você tem uma doença no cérebro!” um gerente de
construção do grupo grita, como um padre da Idade Média me
dizendo que estou possuído pelo diabo. Ele está aqui porque
sua esposa o pegou drenando sua conta bancária para pagar
o tempo com garotas da webcam. “Você não é capaz de
decidir nada por si mesmo. Sua cabeça te colocou nessa
bagunça, então como você acha que essa mesma cabeça vai
te tirar disso?”
Começo a me defender, mas Sheila levanta a mão para

me calar. “Ouça primeiro o feedback de todos”, ela instrui.
Rod é o próximo. “Alguns dos meus amigos tentaram

relacionamentos abertos”, ele começa. “E eles não funcionam.
É natural que você queira um porque você é um homem e é
um viciado. Mas nenhuma mulher normal vai sair com você
se você disser a ela que não pode ser fiel, exceto alguém que
é tão fraco que vai aceitar isso.
Mas quem decide o que é natural e normal, eu me

pergunto? E se for simplesmente a pressão cultural que os
homens constantemente recebem sobre ser uma boa menina,
salvar sua virgindade e encontrar uma, combinada com uma
preponderância de abandonar os pais ?
criando viciados em amor pegajoso, que as pessoas

interpretam erroneamente como uma disposição feminina
inerente à monogamia feliz para sempre? Estou começando
a acreditar que toda a noção de classificar certos
comportamentos como normais e anormais prejudica as
pessoas mais do que as ajuda.
Quando todos terminam de me condenar, Sheila respira
fundo algumas vezes, as palmas das mãos viradas para
cima subindo e descendo a cada aspiração, até diminuir a
energia na sala. Então, com uma voz tão amorosa quanto
ela pode reunir, ela me condena: “Você está em recaída
agora. O que você está fazendo é fazer planos para evitar
a dor emocional do rompimento e a dor de saber que você
não pode dar a Ingrid o que ela precisa em um
relacionamento.”
Eu sento lá tentando entender o que ela está dizendo,
mas parece ser um completo absurdo. Felizmente, Adam,
que parece estar entendendo o conceito de um
relacionamento alternativo, vem em socorro: “Vamos ser
sinceros: o que Neil queria não é o que Ingrid quer. Ele foi
honesto com ela e isso é um grande passo à frente. Não
sei se algum de nós foi tão honesto com nossas esposas.
Pelo menos ele está descobrindo tudo isso antes de se
casar.”
“Você não vê, Adam, que esta é sua raiva erotizada?”
Sheila o adverte.
Quero dizer que usar o termo raiva erotizada como uma

condenação geral de toda não-monogamia e sexo casual é
um ato de raiva em si mesmo, uma tentativa de envergonhar
qualquer um que não compartilhe suas opiniões pessoais e
sua moral. Ela poderia facilmente patologizar minha escrita,
descartá-la como uma reação traumática ao sentir-se
incompreendida quando criança e me dizer que, para ter
intimidade, preciso ter uma comunicação bidirecional e
passar por um programa de doze passos para acabar com
essa solidão. forma de masturbação de conversação.
Mas fico de boca fechada — até Sheila me dar
permissão para responder e me despedir no final da sessão.
A princípio, quero perguntar por que ninguém está atacando
Rod por ir a casas de massagem, mas quando olho para
ele caído pateticamente em sua cadeira, entendo a resposta:
ele admite que tem uma doença sobre a qual é impotente,
enquanto eu ainda não acredito que a doença exista para a
maioria de nós e estou prestes a iniciar uma exploração do
sexo extra-relacional. Então, se eu não acabar morto ou de
alguma forma destruído, isso ameaçaria a crença de todos
nessa quase religião e, portanto, seu tênue controle sobre
seus desejos.
Então eu luto contra minha refutação, que só validaria

a acusação de raiva de Sheila, e simplesmente agradeço e
digo para manter contato. Mas quando ela
me dá seu olhar triste de Sheila e diz que está sofrendo

para mim, fica um pouco mais difícil manter a estrada.
“Não se preocupe comigo,” digo a ela. “Esse é o seu próprio
dor e tristeza que você está sentindo, não a minha. Estou bem."
Fodido, inseguro, neurótico e. . . en iluminou. Porque eu
cansei de sentar aqui com esses
homens covardes, a maioria dos quais nem gosta do
casamentos que eles estão lutando tanto para salvar.
Temos vivido na idade das trevas dos relacionamentos. Foi a
Igreja Católica que iniciou uma campanha implacável para tornar
a monogamia e
casamentos instituições invioláveis no século IX. É hora de entrar
em uma era iluminada de amor,
sexualidade e apego. Alguém tem que desfazer o
cadeado que a sociedade colocou em nossos genitais - mesmo que
significa ser queimado na fogueira por Sheila,
Charles, Joan, Patrick Carnes e milhões de outros
que têm pavor da mudança, da liberdade e, em última análise, do
prazer.
Então, adeus, grupo de vício em sexo, olá, sexo grupal.
4
DIA 4
Eu sempre fico emocionalmente abandonado. Meu pai
foi embora e todos os homens da minha vida também.
Eu pensei antes, caras são idiotas. Então me corrigi e
pensei: Bem, eu os escolho, então sou um idiota.
Não quero mais ser um idiota. Estou tão magoado
que meu coração está dormente. Neil não me quer e
provavelmente está feliz por não estar comigo.
Tento esquecer para não doer. Um dia de cada vez.
Amanhã é outro dia com um pouco menos de dor. Eu
ficarei bem. Há uma luz que me segue e garante que
estou bem.
Neil me esqueceu tão cedo? Eu não o esqueci.
Não quero que ele saiba que me machucou. Ele deixou

eu vou.
5
Eu disse que eu era o vilão nesta história.
6
Latas de cerveja e sacolas plásticas rangem sob os pneus
enquanto estaciono perto do endereço que Shama Helena me deu
Fileiras de pequenas casas desiguais se alinham na rua, cada
uma com seu próprio gramado moribundo. Os moradores mais
abastados distinguem-se pelos portões baixos de metal que
separam sua propriedade da de seus vizinhos.
A casa que procuro é de um andar de estuque amarelo.
Atrás dele, há uma garagem e um galpão de jardim, cada um
alugado como um apartamento. Estou aqui para ver o inquilino
que mora na garagem.
Não é o melhor bairro do Vale. E não tenho certeza se
estou fazendo a coisa certa ao vir aqui. Mas eu tenho que
começar em algum lugar. Então por que não com Shama
Helena?
O primeiro lugar em que comecei a procurar alternativas à
monogamia depois da minha última sessão de terapia em
grupo foi a comunidade online de poliamor. Onde a poligamia
historicamente se refere a alguém casado com várias pessoas
simultaneamente - poliandria se for uma mulher com vários
homens, poliginia se for um homem com
múltiplas mulheres – poliamor é um termo mais recente e

muito mais amplo que significa “muitos amores”. Foi
cunhado no início dos anos noventa por Morning Glory Zell-
Ravenheart, um escritor da Nova Era cujo nome
praticamente incorpora o pós-hippieness da comunidade
poli original. Seu neologismo se espalhou rapidamente
porque, entre outras razões, é muito mais gracioso do que
dizer “relacionamentos pluralistas” ou “relacionamento com
múltiplos parceiros”.
Enquanto procurava online por grupos de encontro de
poliamor locais, me deparei com o nome de Shama Helena.
Além de liderar um dos grupos, ela também publicou um
livro chamado Polyamory 101 e treina os recém-chegados
ao mundo dos relacionamentos alternativos. Então entrei
em contato com ela para discutir minhas opções e os
melhores lugares para encontrar parceiros de mente aberta.
Bato de leve na porta da garagem de Shama Helena,
animada para começar minha jornada no mundo dos
relacionamentos alternativos e encontrar meu não-
monogâmico — ou uns. Evidentemente, a julgar pelo seu
local de trabalho, ensinar as pessoas a ter mais amantes
não compensa tanto quanto ensiná-las a ter menos.
Shama Helena me cumprimenta em calças largas com
cordão e uma regata com decote enorme saindo dela. Ela
parece estar na casa dos cinquenta, com cabelos ruivos,
franja longa e uma
rosto de bruxa atraente, mas com um nariz que é largo em vez

de afiado. O bom senso me diz para sair; a curiosidade me leva
adiante.
A garagem foi convertida em dois quartos.
A feiticeira peituda do Vale Central me leva para o de trás, no
qual uma cama foi espremida longitudinalmente entre as paredes.
Ela se senta de pernas cruzadas na cabeceira do colchão. Este
é o escritório dela.
Aparentemente eu deveria sentar em frente a ela no pé da
cama. Eu me pergunto que tipo de mulher deixaria um estranho,
que a contatou pela Internet, entrar em sua casa e em sua cama
em segundos.
Então eu percebo que é exatamente o tipo de mulher que eu vim
aqui procurando.
No século XVI, uma mulher como Shama Helena
provavelmente teria sido queimada na fogueira - não
necessariamente por causa de sua aparência ou pelas velas,
incenso e cortinas vermelhas espalhadas pela casa, mas porque
as mulheres que eram abertamente sexuais eram consideradas
ser bruxas possuídas pelo diabo. Percorremos um longo caminho
como cultura em quinhentos anos. Agora, em vez de chamá-las
de bruxas e matá-las, nós as chamamos de vadias e matamos
suas reputações.
Os homens têm uma relação conflituosa com a sexualidade

feminina: quando um homem é solteiro, ele quer que as mulheres
ser tão fácil e sem discernimento como estrelas pornô. Mas, ao mesmo
tempo, ele fica apavorado com esse comportamento, porque acha que
se uma mulher dorme com ele com tanta facilidade, é claro que ela
dormirá com qualquer um e, portanto, não será fiel em um relacionamento.
Temos tantas crenças contraditórias, repressivas e autolimitantes sobre
a sexualidade — e quase todas elas decorrem de uma necessidade
patológica de ditar a outra pessoa o que ela é e não pode fazer com seu
corpo e coração.
“Então, em que posso ajudá-lo?” Shama Helena pergunta.
Começo a contar minha história para ela, mas, enquanto falo, algo
começa a desmoronar dentro de mim. Faço uma pausa e fecho os olhos
para fortalecer as paredes do meu coração, e Shama Helena, a que tudo
vê, me pega.
"O que há de errado?" ela pergunta.
Eu chupo uma lufada de ar carregado de incenso. “Eu estava
pensando em Ingrid, minha ex.” É estranho chamá-la de minha ex, como
se ela tivesse sido excluída da minha vida.
“Reservamos essa viagem para Machu Picchu juntos, e fiquei triste
pensando em ir sem ela.”
Em uma voz lenta que é um pouco ofegante, como se ela tivesse
estudado Marilyn Monroe cantando “Happy Birth day” para John F.
Kennedy, ela me diz que acredita que existem três tipos de homens: até-
morte-nos-
parte caras que querem ficar com uma pessoa pelo

resto de suas vidas; Tipos de Peter Pan que nunca
querem crescer e só querem acumular pontos no cinto;
e homens maduros que querem ter relacionamentos
íntimos com vários parceiros.
Enquanto a escuto, sentindo-me como uma
combinação dos três tipos, começo a imaginar como
deve ser sua vida sexual. Eu a vejo nua, rugas por toda
parte, peitos caídos no peito, e com um enorme sorriso
radiante, sendo apalpada por caras com cabelos
grisalhos no peito e com torsos como uma extensão de
colinas. Por alguma razão, a cena não é nojenta; parece ale
Shama Helena se levanta e caminha até uma chapa quente em
uma prateleira a alguns metros de distância - presumivelmente sua
cozinha - para servir uma xícara de chá para si mesma. Ela me oferece
um pouco, mas eu me preocupo que possa ter um afrodisíaco nele,
então eu passo.
Quando ela volta para a cama — presumivelmente
também para a mesa de jantar — pergunto sobre os
tipos mais comuns de poliamor. A partir de sua longa
resposta, eu consigo juntar esses três relacionamentos
estruturas:
1. Ter um parceiro primário, com cada pessoa

livre para negociar ou entrar em
relacionamentos secundários e terciários
separados.
2. Criar uma tríade, na qual três pessoas estejam

envolvidas romanticamente. Isso pode assumir
a forma de três pessoas em um relacionamento
igual (um “triângulo”); uma pessoa namorando
simultaneamente duas outras que não são tão
próximas uma da outra (um “V”); ou um casal
compartilhando o mesmo secundário (que ela
não nomeia, mas suponho que seria um “T”).
3. Formar uma relação de grupo de quatro ou mais

pessoas.
“Onde o swing cairia nisso?” Eu pergunto.

Ela faz uma careta como se tivesse acabado de engolir
uma hemorroida sangrando. “O estilo de vida swinger é
apenas 'vamos transar'. O estilo de vida poli é 'Gostaria de
conhecer você'”.
Suponho que se o poliamor fosse tudo sobre sexo, seria
chamado de policoito. Na palestra que segue, Shama Helena
explica que, para a maioria das pessoas, poliamor significa
ter múltiplos relacionamentos amorosos românticos em que
todos os parceiros se conhecem. A palavra chave aqui é
amar. Um relacionamento que permite apenas sexo casual
ao lado não se qualificaria tecnicamente. A outra distinção é
a honestidade. Ter uma amante secreta ou estar em um
A relação “não pergunte, não conte” também não seria

verdadeiramente poliamorosa. E poli não necessariamente
vem com liberdade. Muitos relacionamentos, explica Shama
Helena, exigem exclusividade sexual para alguns ou todos
os membros do grupo – ou, como é chamado, polifidelidade.
“Seja qual for a situação, o que você quer é uma parceria

que lhe dê uma base para voar”, ela me diz. “Existe um
conceito chamado comparação. E isso significa que se seu
parceiro tem outro amante, em vez de ficar com ciúmes, você
está feliz por ela porque ela está feliz.”
De repente, a realidade afunda. Se eu posso fazer o que

quero, então é claro que quem eu namorar também deve ser
livre para fazer o que quiser. E como vou me sentir se estou
sozinho em casa trabalhando enquanto ela está passando a
noite na casa de algum amante - ou um fim de semana
prolongado em um resort tropical cinco estrelas com algum
arrojado Romeu treinado nas artes do Kama Sutra?
Tradicionalmente, o adultério tem sido um privilégio
reservado principalmente aos homens. A antropóloga Gwen
Broude pesquisou 112 sociedades diferentes e descobriu
que 56% permitiam sexo extraconjugal para maridos,
enquanto apenas 12% permitiam para mulheres. Mesmo na
Bíblia, e nas sociedades de hoje, onde eles enterram as
pessoas até o pescoço e as apedrejam para
morte, são tipicamente mulheres adúlteras (e muitas vezes seus

amantes) que são punidas, raramente homens casados que traem
com mulheres solteiras.
No entanto, a liberação para apenas uma pessoa em um
relacionamento não é verdadeiramente liberdade; é totalitarismo.
Então eu vou ter que aprender a deixar ir e engolir isso.
“E se a compersão não for uma emoção que vem naturalmente
para mim?”
“Como tudo, dá trabalho”, responde Shama Helena,
arqueando as costas. Apesar de sua bruxaria, a exibição me
excita. O incenso deve estar subindo à minha cabeça. Ainda bem
que não bebi o chá. “Para ser verdadeiramente poliamoroso, você
terá que passar pelo caminho do desconforto. Apenas saiba que
você vai sentir ciúmes, e saiba que é sobre você, não ela. Portanto,
permita-se ser vulnerável. Não tenha medo de mostrar seus
sentimentos e necessidades, e trabalhe com eles. No final, você
descobrirá que o verdadeiro amor é querer que sua parceira tenha
o que ela quiser – quer você aprove ou não.”
Eu inalo cautelosamente. É um excelente conselho. E acho

que posso fazer isso. Imagino Ingrid fazendo sexo com outra
pessoa, e acho que, contanto que eu soubesse que era a principal
dela, eu poderia eventualmente aprender a lidar com quaisquer
sentimentos que surgissem. Talvez até fosse
inspirar-me a ser melhor na cama em vez de ser preguiçoso e

fantasiar sobre outras mulheres.
Faltam poucos minutos para a sessão.
E eu tenho duas perguntas urgentes com as quais ainda preciso
de ajuda. Nos meus momentos mais desafiadores com Ingrid,
uma imagem continuava voltando para mim: a foto do padre
Yod vivendo com todos os seus amantes hippies felizes.
Então eu pergunto: “E se eu quiser criar uma comunidade
de pessoas vivendo juntas em um único relacionamento aberto?”
Eu ganho grandes pontos com Shama Helena para esta

questão. É o sonho dela também. Ela diz que quer adquirir uma
propriedade e fazer com que todos de sua “tribo” morem lá em
casas diferentes. Tento imaginá-la alugando todas as garagens
do bairro.
Pergunta dois: “Como sei que tipo de relacionamento é o
certo para mim?”
Ela recomenda mergulhar meu dedo do pé na água indo à
Conferência Mundial da Associação Mundial de Poliamor, que
ela descreve como o maior e mais estabelecido evento da
comunidade. “Não se apresse antes de decidir qual estilo de
relacionamento é o certo para você”, acrescenta ela. “Explore
as diferentes opções que este mundo tem a oferecer primeiro.
Veja algumas modelagens boas e veja algumas modelagens
ruins. Fique no
fora e esteja em um lugar de investigação, mas observe para o

que você gravita.”
Ao encerrar nossa sessão, sinto-me energizado e otimista,
com uma melhor compreensão de como seguir em frente e o que
procurar.
No entanto, enquanto deslizo para fora da cama e saio de
seu covil, Shama Helena levanta lentamente a mão e aponta um
dedo torto para mim: “Só mais uma coisa.”
A respiração se foi. Sua voz é severa. Eu me preocupo por um
momento que ela vai me transformar em um sapo ou um vibrador
ou algo assim. “Você precisa ser sincero com todos que conhece.
Porque se você namora uma mulher monogâmica, ela vai querer
estar em um relacionamento monogâmico. Não é justo com ela.
Então, se você está falando sério sobre isso, eu quero que você
me prometa que não terá parceiros monogâmicos.”
Isso estreita massivamente o campo de jogo. Isso excluiria

todos os meus parceiros anteriores, para não mencionar a maioria
da população da América do Norte.
No entanto, se aquele canibal maluco na Alemanha conseguiu
encontrar alguém disposto a ser comido vivo, posso pelo menos
encontrar algumas mulheres que me deixem namorar outras pessoas
Então . . .
"Eu prometo."
"Bom. Você precisa encontrar alguém no paradigma.

Por exemplo, sou um tântrico e não namoro ninguém que
não seja tântrico.”
Então ela é uma bruxa, eu acho que quando eu lhe dou
cinquenta dólares por, como ela diz, “uma oferenda”. Nunca
confiei em pessoas que misturam espiritualidade com
negócios, e não tenho certeza se Shama Helena é uma
exceção a essa regra. Mas para meu primeiro pequeno
empreendimento no mundo do poliamor, não foi tão ruim.
Estou ansioso para seguir seu conselho e, para começar,
procurar na Conferência da Associação Mundial de Poliamor
por novos parceiros em potencial.
Enquanto eu saio e faço meu caminho de volta pelo
caminho, Shama Helena pergunta quando eu vou para
Machu Picchu. "Mês que vem", digo a ela, imaginando todas
as mulheres em forma de poli ioga que vou conhecer na conferê
Versões mais jovens de Shama Helena.
Mas então ela me chama: “Deixe-me saber se você tem
alguma experiência ET no Peru!”
E algo dentro de mim despenca. Acho que é esperança.
Talvez Rod esteja certo: esperar encontrar mulheres sãs
nesta comunidade pode ser irreal.
Eles são como extraterrestres benevolentes, anjos da guarda
e deuses nórdicos – criaturas imaginárias, produtos da
fantasia, sintomas de um desejo de não estar sozinho no
universo.
7
DIA 7
Sinto-me muito melhor.
8
Em casa, no dia seguinte, me inscrevo para a
Conferência Mundial da Associação de Poliamor, que
acontece nas mesmas datas em que deveria estar no
Peru, então adia a viagem. Então encomendo uma pilha
de livros da Amazon, os clássicos no campo da não-
monogamia consensual — The Ethical Slut, Opening
Up, Sex at Dawn, Polyamory: The New Love Without
Lim its —, bem como um livro menos conhecido de um
perspectiva terapêutica, Amor em Abundância:
Conselhos de um Conselheiro sobre Relacionamentos
Abertos, de Kathy Labriola. Falo com ela brevemente, e
ela explica que acredita que “o relacionamento com
múltiplos parceiros é uma orientação sexual tão fixa quanto
Como tenho um mês até a conferência de poliamor,
faço algo que venho reprimindo no último ano. Eu volto a
me envolver com as mulheres que estavam enviando
mensagens de texto e e-mail durante meu relacionamento
com a In grid. Mesmo que Ingrid e eu não estejamos mais
namorando, ainda sinto que de alguma forma a estou traindo.
Infelizmente, minhas primeiras experiências de namoro

vão muito bem. Faço uma viagem para passar um tempo com
Raidne, o Las Vegan aumentado que me enviou um e-mail
depois que voltei da reabilitação. Mas depois de apenas duas
noites juntos, ela pergunta: "Você está dormindo com mais alguém
É evidente pelo seu tom de voz que esta não é uma pergunta
inocente, mas um ultimato.
Então, com muita clareza e compaixão, explico a ela:
“Quando ouço sua pergunta, parece que você acredita que
uma experiência com outra pessoa prejudicaria o que estamos
desenvolvendo juntos.
Mas não seria melhor permitir que esse relacionamento defina
seu próprio curso sem tentar controlá-lo ou limitar um ao outro?
A exclusividade sexual não deve ser um critério para decidir se
se importa com alguém ou não.”
Raidne ouve atentamente, piscando seus cílios postiços,

absorvendo cada palavra e pesando seu significado
cuidadosamente. Então ela responde sem rodeios: “Eu não
sou esse tipo de garota.”
Maçã monogâmica brilhante, pomar errado.
Uma semana depois, Elizabeth, a empresária que queria
me distrair no Skype quando eu estava namorando Ingrid, me
convida para um jantar de negócios que ela está tendo com
investidores. Depois, acabamos nos beijando no apartamento
dela. Ela chupa meu dedo em sua boca,
em seguida, desce minhas calças. De repente, porém, ela

se desvencilha e diz: “Estou tão atraída por você. Mas eu
tenho um filho. E se eu fizer sexo com você, você tem que
se casar comigo.
Suas palavras me chocam: como se sexo fosse algo
para trocar em troca de compromisso, como se o amor fosse
um acordo comercial a ser negociado e registrado em
cartório, como se a buceta dela fosse uma porra de uma
startup e meu pau fosse o investidor anjo que vai financiá-lo.
Ainda mais chocante, ela já está em um relacionamento de
longo prazo com um advogado de alto nível. Talvez ela
esteja planejando abandonar o navio. Existe um termo
chamado hipergamia, que é quando as pessoas se casam
com alguém de status mais alto, então suponho que isso seria h
Enquanto dirijo para casa, desanimado, percebo que já

cometi meus primeiros erros. Relacionamentos monogâmicos
estão esperando na parte rasa do mundo do namoro como
redes de pesca. Apenas um movimento errado, e eu me
enrosco novamente. E terminar com Ingrid apenas para
terminar em outro relacionamento exclusivo não seria apenas
uma caricatura, mas nem Elizabeth nem Raidne, apesar de
todos os seus atributos positivos, têm sequer uma fração da
qualidade do coração, senso de humor ou alegria. de vida
que Ingrid tem. Shama Helena estava certa. Você não pode
simplesmente namorar pessoas aleatoriamente e depois espera
lentamente os leve a um relacionamento não-monogâmico.

Você tem que estar à frente desde o início.
Eu passo o resto da semana analisando minhas opções e
eliminando todos que são monogâmicos, já namorando alguém,
ou claramente não material de relacionamento, deixando três
fortes possibilidades.
Há Violet, uma escritora bissexual com quem tive muitas
aventuras sexuais; mas quando ligo para ela, ela me diz que
está experimentando a monogamia.
Há Anne, a francesa que enviou fotos nuas por e-mail

enquanto eu estava com Ingrid. Ela é uma curandeira e
acupunturista, e suas postagens nas redes sociais sugerem
um estilo de vida alternativo. Então eu começo a conversar
com ela e eventualmente faço planos para visitá-la depois da
conferência de poliamor.
E depois há Belle, a coquete australiana que continuou
mandando mensagens enquanto eu estava com Ingrid. Quando
eu conheci Belle, eu trouxe ela e uma skatista fofa de volta
para o meu quarto de hotel para passar a noite, então ela é
claramente não monogâmica.
“Lembra daquela noite?” Eu pergunto quando ligo para ela.
Ela ri; ela lembra. Depois de uma conversinha, continuo: “Não
sei se você conhece o poliamor, mas é a ideia de que o amor
não é uma
tipo de recurso escasso que pode fluir apenas para uma única
pessoa”.
Faço uma pausa e espero por uma objeção bem
fundamentada ou um discurso verbal. Quando ela não diz nada,
eu elaboro, balbuciando nervosamente. “Assim como uma
pessoa pode amar pais, filhos, animais de estimação e todos os
tipos de músicas e filmes ao mesmo tempo, também pode amar
diferentes parceiros sem que as emoções de um prejudiquem
as emoções do outro. Então eu estou-"
Finalmente ela fala, misericordiosamente me interrompendo.
“Você quer montar um harém, não é, Sr.
Strauss?
Eu não tinha pensado nisso dessa forma. Acho que o padre
Yod vivia com homens e mulheres, cada um com seus próprios
maridos e esposas. Mas quem não quer um harém? E há uma
cadência na voz de Belle. É flerte e ela não desligou ou disse
que eu sou um monstro.
Estes são bons sinais.
A última coisa que eu quero, no entanto, é algum tipo de
culto ou família patriarcal mórmon. Então eu explico: “Um harém,
para mim, é um bando de mulheres controladas por um cara.
Prefiro viver em uma atmosfera de grupo de aprendizado e
crescimento, onde todos sejam iguais e livres.”
“Quem são essas outras mulheres com quem você quer
viver?” De repente, a cadência muda para um agudo,
chave menor suspeita. Por trás de cada sim, sempre há um não

esperando para arruinar toda a diversão.
“Ainda não sei. Mas se você estiver interessado em talvez se
juntar a mim nesta exploração, eu vou me certificar de que eles sejam
pessoas legais com quem nós dois nos daríamos bem.”
De alguma forma, a palavra exploração parece mais segura do
que relacionamento. Menos compromisso, mais fácil para ela desistir.
E ainda não nos conhecemos muito bem. Mas pelo menos estou sendo
sincero desta vez.
"Não tenho certeza do que você está fazendo, Sr. Strauss, mas
acredito que será interessante." A cadelinha está de volta. Isso não foi
muito difícil. Se eu conseguir que mais algumas mulheres digam sim,
estarei vivendo uma fantasia que quando adolescente nem sonhava
ser possível. Achei que levaria anos para montar algo como o
relacionamento grupal do Padre Yod.
— Em quanto tempo você pode chegar aqui? Eu pergunto.

“Tenho uma folga em três meses.”
"Vejo você então."
Agora estou comprometido.
E já está na minha cabeça.
Felizmente, tenho tempo para aprender a nadar. A Conferência
da Associação Mundial de Poliamor está acontecendo em breve. E lá
eu posso encontrar não apenas as ferramentas para fazer isso
funcionar, mas pessoas que pensam da mesma forma com
conhecimento, experiência e, espero, interesse em
juntando-se a mim. Porque se a monogamia não é natural

e a traição não é moral, então as pessoas lá devem ser
os seres mais corajosos, mais éticos e mais esclarecidos
no mundo dos relacionamentos.
9
"Meu nome é Sasha", diz ele.
Então ele se despe e corre ao redor do interior de
um círculo de homens. Depois, os caras ali parados – a
maioria deles grisalhos, de pele solta e pálidos – tiram
suas roupas mal ajustadas e caminham para o centro.
Há peitos de homem, bundas caídas e pênis balançando
em todos os lugares.
A única pessoa ainda vestindo roupas, segurando
firme como o último representante do círculo
desmoronado, sou eu. Achei que a Conferência da
Associação Mundial de Poliamor seria um evento bem
organizado de trabalho em rede, palestra e workshop
que me ensinaria a administrar relacionamentos não
monogâmicos e viver com vários parceiros. Em vez
disso, estou em um resort de nudismo hippie dos últimos
dias chamado Harbin Hot Springs, cercado por homens
nus excessivamente felizes que não consigo imaginar
funcionando efetivamente no mundo exterior. Dito isto, pelo
Realmente, realmente grátis.
Para iniciar a conferência, nos separamos em um círculo de

homens e um círculo de mulheres. Em seguida, cada participante
foi convidado a se apresentar e fazer um gesto para que todos
os outros imitassem. Um cara girou.
Outro acenou. Eu me curvei. E a boa e velha Sasha — uma
enérgica senhora de setenta anos com um sorriso contagiante e
profundas linhas de sorriso — simplesmente teve que se despir.
Sasha também é um dos fundadores da Associação Mundial
de Poliamor junto com sua esposa, Janet, que mais tarde explica
que o poliamor foi um presente dado à nossa civilização por
alienígenas do planeta Nibiru. Lembro-me, aflita, das palavras de
despedida de Shama Helena. A ideia de poliamor está tão
distante que apenas pessoas que acreditam em alienígenas
podem grocá-la?
Talvez a conexão venha do clássico livro de ficção científica
Stranger in a Strange Land, no qual um homem nascido em
Marte vem à Terra e inicia um culto de amor livre. “O código diz:
'Não cobiçarás a mulher do teu próximo'”, escreveu o autor
Robert A. Heinlein em 1961. “O resultado? Castidade relutante,
adultério, ciúme, amargura, golpes e, às vezes, assassinato,
lares desfeitos e filhos pervertidos. . . .
Não há necessidade de você cobiçar minha esposa - ame-a!

Não há limite para o amor dela.”
Após o círculo de boas-vindas, uma mulher de cabelos
grisalhos com uma voz extremamente suave - eles parecem pensar
aqui, falar baixinho significa ser espiritual – conduz o grupo

por meio de um exercício no qual criamos um campo de energia
ao nosso redor e um parceiro tenta senti-lo e entrar nele. Até
agora, nada disso parece ter nada a ver com poliamor.
“Você precisa de um parceiro?” uma voz ressoa.

Olho para cima e vejo um homem alto e barbudo pairando
sobre mim. Ele parece assustador. Na verdade, não há nada
que um cara nu possa me dizer agora que não pareça
assustador. Especialmente quando ele parece um Abraham
Lincoln barrigudo. Dou um passo para trás e digo a ele que
estou passando essa.
Encontro um ponto imperceptível contra a parede e me
pressiono contra ele. Perto dali, uma grande mulher de meia-
idade está deitada de bruços, a gravidade achatando seus
depósitos em excesso contra o tapete. Uma criança
extremamente pálida, de cabelo encaracolado, que parece ser
vinte anos mais nova e 40 quilos inferior, está deitada ao lado
dela em uma toga, o pacote pendurado do lado de fora do
lençol enquanto ele massageia a carne de seus ombros.
Os polys terminam a sessão da manhã realizando uma

dança de contato. Eles rolam pelo chão como troncos —
cruzando, colidindo e tocando, tocando, tocando. Não tenho
certeza se gostaria de fazer isso mesmo com pessoas pelas
quais me sentia atraída.
Eu terminei com Ingrid por isso?

Até agora, a conferência parece mais bissexual
Softcore New Age balançando do que poliamor.
Quando Sasha anuncia uma pausa para o almoço, corro
para o bufê. Acho que se eu for o primeiro na fila da comida, os
pelos pubianos de ninguém vão acabar no meu hambúrguer
vegetariano. Eu carrego meu prato, então encontro um assento
em um banco de piquenique ao ar livre. Ao lado, há uma banheira
de hidromassagem na qual uma mulher nua sorridente flutua de
costas, expondo-se arrebatadamente aos raios do sol.
Nu Abraham Lincoln se senta ao meu lado e inicia uma
conversa. Ele me diz que ficou recentemente viúvo. Parece
estranho que a primeira coisa que ele faz depois que ela morre
é ir a uma conferência de poliamor para jogar jam jam com um
bando de estranhos, mas, novamente, foi o que fiz assim que
Ingrid e eu terminamos. Ele é o futuro eu.
Logo somos acompanhados por um casal que se apresenta

como Martin e Diana. Martin é um pintor bronzeado e musculoso
da França; sua esposa, Diana, é uma mulher latina com enormes
seios naturais. Ela diz que gostaria que o marido não fosse poli,
mas aceita e tem seu próprio secundário. No entanto, ela
acrescenta, lançando-lhe um olhar: “Eu desistiria de tudo em um
segundo se meu marido decidisse ser monogâmico”.
Um casal tímido de Sacramento está sentado ao lado deles.

O homem quer se abrir, mas sua esposa tem reservas. Esses
relacionamentos parecem exatamente o oposto dos casamentos
em reabilitação: em vez de uma esposa esperar monogamia de
um marido que não gosta, o homem espera não monogamia de
uma mulher que não se sente confortável com isso. Talvez as
mulheres aqui sejam simplesmente versões menos teimosas de
Ingrid, os homens versões mais obstinadas de mim. Eu me
pergunto como uma esposa trairia nessa relação inversa: não
dormindo com mais ninguém?
Lincoln me disse que esta costumava ser uma grande

conferência com quase duzentos participantes, mas um dos
principais voluntários deixou o cargo. Ela tinha três amantes e
corria o risco de perder a custódia de seus filhos por causa de
seu estilo de vida, então ela teve que começar a agir de forma
mais monogâmica.
Sua história é desanimadora: se alguém que tem mais de
um parceiro é visto pelo governo como imoral e inadequado
como pai, então essa revolução tem inimigos muito maiores
para combater do que a indústria do vício em sexo.
Somos interrompidos por um rabino nu que vive em um

polikibutz em Israel e está de alguma forma namorando a
mulher que está dormindo, morta ou meditando na banheira de
hidromassagem. Ele se levanta, serve uma taça de vinho e
canta uma oração sobre ele em uma voz profunda e bonita

enquanto seu pau balança no ar como um metrônomo.
É nesses momentos que mais sinto falta de Ingrid.
Solidão é segurar uma piada porque você não tem com quem
compartilhá-la.
Após o almoço, voltamos para a área de conferências. Mais
alguns participantes chegaram e eu os examino, na esperança
de encontrar uma mulher que me atraia. Mas mesmo com meus
padrões baixos, vejo apenas uma pessoa: um nerd loiro baixo e
curvilíneo com óculos pretos grossos.
O próximo palestrante, um coach de relacionamento com
longos cabelos grisalhos chamado Scott Catamas, ensina algo
chamado os quatro ajustes. Para tornar as relações saudáveis e
harmoniosas, diz ele aos polis reunidos, é preciso:
1. Transforme o julgamento em compaixão e

aceitação.
2. Transforme a vergonha em segurança.
3. Transforme a crítica em apreciação.
4. Substitua a culpa pela compreensão.
É a primeira informação útil que tenho aqui até agora, e

lembra os princípios do comportamento adulto funcional que
Lorraine ensinou na reabilitação. Mais tarde, noto um grupo de
polis sentados em círculo
e passando um bastão falante, discutindo sobre serem

autênticos e gritando “Aho!” Talvez todas essas pessoas
também sejam refugiadas de reabilitação para viciados em sexo.
Justo quando estou prestes a descartar a conferência
como uma perda de tempo, um grupo de oito pessoas irrompe
pela porta. Eles são relativamente jovens, geralmente estão
em forma, são razoavelmente atraentes e estão agrupados
em torno de uma mulher magra como se ela fosse seu pai
Yod. Ela tem um rosto angular e um corte de cabelo bob. De
um ponto de vista, ela parece fofa; de outro, ela parece severa;
de outro, ela parece um homem.
"Quem é aquele?" Eu pergunto ao Honesto Abe.
“Essa é Kamala Devi. Ela é muito grande. Ela tem uma

lista de correspondência de quatro mil pessoas”, diz ele com
temor.
Kamala caminha até a frente da sala e cumprimenta a

multidão admirada com um “Namastê”, apertando as palmas
das mãos e segurando-as sobre a cabeça e então seu coração
enquanto seu casulo de admiração se reúne ao seu redor.
Todo mundo que conheci até agora veio aqui sozinho ou em
casal. Esse grupo de homens sem camisa e mulheres de tops
e calças de ioga é, na verdade, a primeira constelação poli
que eu vi até agora - e, ao contrário dos casais com quem
almocei, a mulher está no comando e claramente envolvida.
Kamala fica com perfeita postura de ioga na frente

quarto, o cabelo repartido no alto da testa,
pele tão tensa que cada contorno de seu crânio parece
visível. Ela começa sua palestra liderando uma conferência em
tendas em um canto de om. Depois, ela apresenta
ela mesma como uma “deusa” e apresenta sua “polifamília”, que
parece consistir em seu marido, seu amante, outro casal, o
amante.
da mulher do casal e dois amantes flutuantes. É difícil de seguir.
A monogamia serial por si só nos deu um cenário complicado de
famílias fraturadas e misturadas; um mundo de famílias

polivalentes em expansão e fragmentação seria um pesadelo
burocrático. Talvez essa seja uma razão pela qual a poligamia é
ilegal: caso contrário, algum ladino empreendedor
poderia se casar com hordas de mulheres estrangeiras, levá-las aos EUA
cidadanias e reivindicar milhares de isenções fiscais.
Enquanto Kamala fala, sua cápsula fica entrelaçada com
ela e um ao outro em uma exibição massiva de poli
PDA. Menos a conversa esquisita da Nova Era, seu estilo de vida
parece muito divertido.
Ao concluir sua palestra, Kamala diz que para fazer um
grupo desse grande trabalho, ela tem que ser uma
“ditador benevolente” e, às vezes, um “controlador
cadela." Eu me pergunto se esse é o segredo do poliamor: um
yin-yang da espiritualidade fraca e do fascismo repressivo.

Espero que não.
Shama Helena me aconselhou a observar de fora e
perceber para onde gravo. Então, naquela noite, gravito
em direção ao casulo de Kamala, vasculhando o retiro até
encontrar três de seus homens sentados na banheira de
hidromassagem obrigatória do resort com a garota nerd.
Um é o marido de Kamala, Michael; outro é um de seus
amantes casados, Tahl; e o terceiro é um de seus amantes
em órbita. “Nós vamos ter uma festa especial em nosso
quarto mais tarde,” o orbitador diz para a garota nerd.
“Você pode vir assistir – ou participar, se quiser.”
Entro na banheira de hidromassagem e puxo uma
conversa com eles. Michael me conta que conheceu
Kamala em um puja em San Diego há mais de uma
década. Um puja é um ritual hindu no qual os adoradores
honram e comungam com uma divindade. E pelo que
entendi, os polys transformaram isso em uma meditação
erótica guiada e uma festa dançante.
Tahl me disse que sua esposa inicialmente não tinha
interesse em poliamor. Assim, para abrir o casamento, ele
a encorajou a namorar outras pessoas enquanto ele
permanecia fiel. Depois de deixá-la desfrutar dessa
liberdade por mais ou menos um ano, ele gradualmente
começou a namorar também – e foi quando conheceu
Kamala, que convenceu o casal a morar com ela.
Suas palavras são uma revelação. Quando eu estava com In

grid, eu esperava minha liberação sexual. Mas uma maneira muito
melhor de encorajar um parceiro a abrir um relacionamento é
começar dando a ele a liberdade que você deseja para si mesmo.
Pergunto ao orbitador qual é a sua história. Apertando Tahl no

ombro, ele responde: “Nós namoramos, mas não somos gays”.
"Como isso é possível?" Eu pergunto.

“A nova cena poli jovem é em grande parte bissexual”,
Miguel explica. “Todo mundo em nosso pod é bi, exceto eu. Eu sou
apenas bi-sensual.”
Este é o futuro do amor livre: nenhuma barreira à sexualidade,
incluindo idade, tipo de corpo e gênero.
Enquanto os colegas falam sobre um reality show em que estão

trabalhando e um hotel poliamor que querem construir, uma voz de
repente grita sobre a água: "Vocês estão prontos?"
Olho para cima e vejo um garanhão de ioga da cápsula de Kamala.

"Você reuniu mais garotas?" o orbitador pergunta a ele.
Kamala Devi e Shama Helena disseram que poliamor era sobre

relacionamentos amorosos, não sexo casual. Mas esses caras
parecem mais com artistas de nível superior, vindo a essas
conferências com a intenção de
sugando qualquer mulher disponível em sua poderosa

realidade.
Embora eu suponha que se você é um super-ser evoluído
espiritualmente, você existe em um estado constante de amor,
então não existe sexo casual. Se você ama cada um, todo
sexo é poliamor.
“Não, mas você vai perder a surra de aniversário
se você não se apressar! Kamala está esperando.
Os caras saem da banheira, levando a nerd com eles. “Se
você quer realmente aprender mais, você deveria vir a este
evento que estamos organizando chamado Tantra Palooza,”
Michael diz ao sair, oferecendo-me um prêmio de consolação.
“É sexo em todos os lugares com todos.”
Eu os observo partirem, impressionados por terem criado

não apenas seu próprio relacionamento alternativo, mas sua
própria realidade alternativa. Eles estão levando o namoro a
um nível totalmente novo: por que ir a bares ou vasculhar
perfis online para conhecer mulheres? Basta montar hotéis e
festivais com temas sexuais, e eles se reunirão às centenas.
Se você construir, eles vão gozar.

10
Na noite seguinte, três dúzias de homens e mulheres com

partes do corpo caindo de sarongues, xales, togas e
agasalhos coloridos se reúnem na sala de conferências,
ansiosos pelo que está prestes a acontecer.
Este será meu primeiro puja.
“Eu tenho um anúncio a fazer,” uma mulher de cabelos
grisalhos chamada Evalena Rose diz antes. Os folhetos na
mesa de boas-vindas a identificam como uma praticante de
cura multidimensional, recuperação da alma e recuperação
de vícios. “Algumas das mulheres reclamaram que nos
pujas os cavalheiros estavam ficando competitivos e
agressivos para as damas. Por favor, respeite os limites
apropriados nos pujas.”
Ela entrega o microfone para Catamas, que começa

pedindo a todos que dancem livremente e deixem de lado
suas inibições. Pelo que vi, não tenho certeza de quais
inibições ele poderia estar se referindo.
Ele então nos instrui a sentar em círculo e fazer contato
visual um com o outro. eu olho nos olhos velhos
que são tristes, alegres, inquietos, assustados e assustadores,

e nos olhos uniformemente jovens e brilhantes de todos no
casulo de Kamala.
“Sinta a Mãe Terra abaixo de você e o Pai Céu acima, e
permita que eles se encontrem em seu coração e fluam amor
em suas veias”, continua Catamas.
Quando ele nos pede para tocar nossos corações e
balançar para frente e para trás, respirando profundamente
para inalar a luz, começo a me perder no momento, a relaxar
e suspender o julgamento, a me sentir conectada a todos os
outros respirando e balançando na sala. Então, de repente,
ouço a voz inconfundível de Kamala Devi no microfone:
“Lembre-se de que você está a apenas três respirações do
orgasmo”.
E, inesperadamente, começo a rir. Suas palavras são
um completo non sequitur, desajeitadamente jogadas para
lembrar a todos que o sexo ainda está no menu desta noite.
Evalena Rose me lança um olhar desagradável como se eu
estivesse estragando o puja. Então eu fecho minha boca
para conter o riso e ele começa a escapar pelo meu nariz.
Assim que estou começando a me controlar novamente,
Kamala declara que está entrando como a “sacerdotisa” da
sala e eu me perco novamente. Suponho que rir é apenas a
minha maneira de administrar o desconforto que estou sentindo.
“Gostaria que agora você tocasse a fonte de sua energia
do saco vermelho e fizesse uma conexão com ela,” Kamala
entoa. Coloco a palma da mão sobre o coração, mas

todos os outros colocam a mão sobre o lixo. Claramente
eles sabem algo que eu não sei.
Movo minha mão para minha virilha sagrada e olho
para os diversos polys, sua fome um pelo outro crescendo
através dessas preliminares espirituais. E minha virilha me
diz: “Por favor, Neil, não faça isso comigo. Não quero que
nenhuma dessas pessoas me toque.”
Então eu digo a minha virilha: “Ouça, você é quem
queria amor de graça. Você é que achou linda a imagem
de Shama Helena brincando nua. Bem, é isso. Você
chegou. Não é hora de começar a agir como um esnobe
preso a coisas superficiais. Saímos daquele mundo.
Devemos amar todas as pessoas.”
“Como aquela amazona coberta de verrugas ali?”

minha virilha responde com medo. “E aquele doce
septuagenário enrugado do planeta Nibiru? E até mesmo
aquele viúvo nu Abraham Lincoln?
Suspirar. Minha virilha e eu estamos fora.
Saio do círculo, sento-me no meu lugar seguro contra
a parede e tento passar despercebida enquanto Kamala
arranca o desejo tácito do ar e continua a transição de
uma sala cheia de estranhos para uma sala cheia de
fornicadores.
Um minuto, todos estão no chão fazendo a geléia. No

próximo, os homens estão se abraçando bis sualmente. Logo uma
Tantrika de cabelos pretos, em forma de pêra, muito volumosa,
de cinquenta e poucos anos, está jogando os braços para o ar e
gemendo alto.
Meu estômago ronca faminto. Eu estava tão preocupado em
ter certeza de ver o puja hoje à noite que não jantei.
“Agora caminhe pela sala e permita-se olhar e apreciar os

pés que você vê”, instrui Kamala. “Se você quiser, pode pedir
permissão para tocar seu pé no de outra pessoa.”
Ela continua, dizendo-lhes para olhar e tocar uma sucessão

de partes do corpo cada vez mais íntimas, como um pudim
malandro. Da segurança da parede, é um espetáculo agradável.
Enquanto Tahl pega a mão da Tantrika de cabelos negros e a
gira em uma dança de salão feliz, eu gostaria de ser tão livre
quanto ele, capaz de celebrar a alegria e a beleza que há em
todos. Mas mesmo que todos na sala parecessem uma
supermodelo, eu ainda ficaria muito estranha para participar.
Preciso aproveitar esta oportunidade para descobrir por que isso
acontece.
Vou na ponta dos pés até a mesa do bufê para procurar

comida, mas tudo o que resta é um saco de pipoca de azeite orgânic
Tecnicamente, a pipoca é um vegetal com infusão de ar e
azeitonas são uma fruta, então não é uma refeição tão insalubre.
E o pacote diz orgânico. Então eu agarro e volto para o meu
poleiro.
“Agora olhem para os lingams um do outro e
yonis,” Kamala está dizendo.
Os homens e mulheres vagam pela sala, olhando
amorosamente para as virilhas um do outro enquanto Kamala os
lembra: “Aprecie a beleza de sua catedral sagrada”. Os homens
mais velhos começam a se aglomerar famintos perto das
mulheres mais jovens como se fosse um jogo de cadeiras
musicais, e quando Kamala parar de falar, eles vão apalpar o
corpo mais próximo.
Até agora, os pujas parecem ser a forma definitiva de
intimidade para os que evitam a intimidade. Para alguns desses
homens, é uma forma de experimentar amor e conexão sem
apego ou compromisso; para algumas das mulheres, uma
maneira de ter encontros sexuais aleatórios sem se sentir suja,
usada ou insegura.
Em teoria, isso deveria ser o paraíso para o viciado em
sexo que Rick pensa que eu sou. Então, por que estou tão
desconfortável? Por que o cara que queria tanto a liberdade
.
sexual sentado contra a parede está se sentindo assim. . limitado?
Eu alcanço o saco de pipoca e pego um punhado de jantar.

O amassado da embalagem chega aos ouvidos de Kamala e ela
se concentra no som como um
gato. Ela se esgueira em minha direção, agacha-se até que seu

rosto esteja a poucos centímetros do meu e sussurra: “Isto é um templo
Nós não comemos no templo.”
“Desculpe, eu não sabia que isso era um templo.” Eu tento dizer
isso com sinceridade, mas sai sarcasticamente. E talvez seja porque
estou totalmente confuso.
Quando exatamente eles transformaram essa sala de
conferência genérica em um santuário sagrado? E se é apenas
tempo de faz-de-conta, então por que minha pipoca não pode ser o
equivalente do templo a uma hóstia de comunhão? E como ela sabe
que não é pipoca sagrada, ungida com azeite de oliva virgem?
Mas eu não digo nada. Beijo a bolsa com ternura e a coloco

silenciosamente aos pés da benevolente sacerdotisa.
Adeus, pipoca, nosso puja juntos acabou. Estávamos a apenas três
grãos do orgasmo.
Kamala se afasta e instrui os polys a formar grupos de quatro,
selecionar uma pessoa para ser mimada e fazer uma massagem a
três.
Ainda tenho alguns pedaços de pipoca na mão, então coloco
no lugar certo: na boca. Não é uma necessidade dietética, mas um
pequeno ato de rebelião, o vestígio de um ego masculino que
realmente não pertence aqui.
Eu sou um ladrão de comida no templo.
Em um flash, Kamala está agachada na minha frente novamente,
seu rosto um pouco perto demais do meu. "Eu te disse
uma vez para não comer aqui,” ela sussurra em staccato, as

veias em seu pescoço fino salientes com raiva. “Você precisa
tirar essa comida daqui e comer na cozinha.”
Eu me levanto de má vontade e ela observa enquanto eu
devolvo a pipoca ao seu devido lugar de descanso no altar do
bufê. Pego outro punhado para saciar minha fome e... Quem
estou enganando? Não estou levando a comida porque estou
com fome. Estou tomando porque odeio regras irracionais,
restritivas e desnecessárias. Essa é a razão pela qual eu deixei
Ingrid e o mundo da monogamia em primeiro lugar. E agora
estou em um mundo onde as regras são ainda mais irracionais
e mais ridículas.
Kamala não é uma boa sacerdotisa para homens enredados.

Ouço sua voz ressoando pelo templo metafórico: “Se você
gosta da varinha de alguém e quer tocá-la, não seja tímido”.
Quando volto da cozinha, quase todos os panos caíram no

chão. Varinhas flácidas e catedrais peludas estão por toda parte.
Toda essa conversa de sacerdotisas, templos e lingams parece
apenas uma desculpa chique para fazer sexo casual – fingindo
que é um negócio sério.
Talvez assim como existem cultos em torno da religião,

também existem cultos em torno da intimidade. Mas em vez de
monoteístas, panteístas e ateus, existem
monógamos, poliamoristas e celibatários. Cada sistema de

crenças vem com seus próprios rituais, sejam eles
sejam doze passos, pujas, exclusividade, adultério ou
discussões sobre dinheiro todas as noites. E pessoas como
Patrick Carnes, Helen Fisher e Kamala Devi são
fanáticos que acreditam ter encontrado o verdadeiro
intimidade.
Eu tento parar meu pensamento crítico, usar os quatro
ajustes e transformar o julgamento em compaixão, para
reconhecer a beleza de todas essas relações sexuais sem vergonha
revolucionários conectando e transformando um ordinário
espaço em algo sagrado. Talvez um puja não seja
diferente - e muito mais saudável - do que beber álcool em
um encontro. É uma maneira de as pessoas diminuirem suas
inibições e se soltarem um pouco umas das outras.
E é aí que eu entendo do que se trata:
Obrigado, Scott Catamas. Há uma disparidade
entre o desejo masculino de sexo, que tende a
ser carnal e baseado no ego, e o desejo feminino de
sexo, que pode ser mais emocional e espiritual. Então se
balançar é para homens com tesão, então essa cena é para
mulheres sensuais. Orgias são para putas éticas; pujas são
para deusas.
Mesmo destino, ritual diferente.
Eu olho para baixo e noto alguns pedaços de pipoca
no chão. Eu não posso deixar esses sacrilégios
alimentos em piso santificado. São virgens. Eles não pertencem

aqui.
Pego-os e procuro um lugar para jogá-los fora, mas não
quero perturbar o puja novamente.
Eu poderia comê-los, embora não queira o fungo do dedo do
pé de Abraham Lincoln no meu sistema digestivo. Olho para
ele e sua boca está aberta, gemendo apreciativamente
enquanto o velho Tantrika o massageia.
Eu escondo a pipoca ofensiva no meu bolso, e
instantaneamente o ditador retorna. No entanto, ela se
esqueceu de trazer a benevolência. "Eu disse para você não
comer aqui!" Seus olhos saltam de seu crânio e perfuram os
meus com o que parece ser ódio. Ela mudou de forma de
sacerdotisa para demônio. Devi, eu percebo, está a apenas
uma carta de Devil. “Você não está respeitando meu puja! Sua
energia está interferindo na minha experiência e na energia
da sala, então vou ter que pedir para você sair.
“Eu estava limpando o chão do templo.” Eu seguro seu

olhar. “E o que há de errado com minha energia? Não é como
se eu pudesse controlar isso.” Eu nunca tive ninguém
insultando minha energia antes. Na verdade, acho que é pior
do que ser chamado de feio. Afinal, você não pode esconder
sua energia ou fazer uma dieta energética ou alterar sua
energia cirurgicamente. Mesmo em uma sala cheia de pessoas
cegas, você ainda é um monstro.
“Podemos discutir isso amanhã. Mas agora,

você precisa sair!"
Eu quero ficar e ver o que acontece a seguir, mas eu
suspiro e me ponho de pé. Ela está certa. Esses
as pessoas precisam se sentir confortáveis ficando nuas e
estranho juntos sem um jornal excessivamente vestido é comer
besteira no canto e zombar deles silenciosamente.
Este é realmente o dia mais negro da minha vida: eu estive

expulso de uma orgia por comer pipoca.
Eu me levanto e saio para as mesas de piquenique
no pátio. Felizmente, existem grandes janelas de vidro. Eu não
posso ouvir as pessoas lá dentro, mas pelo menos eu posso
vê-los. Então eu sento desamparado em cima de uma mesa e assisto,
o ar frio da noite mordendo meu rosto. eu sou um aterrado
adolescente novamente, enviado para o meu quarto sem jantar e
proibido de brincar com garotas.
Gradualmente as massagens tornam-se mais eróticas.
Kamala começa a girar e dançar pela
quartetos se contorcendo em êxtase, os braços esticados como
se ela fosse Julie Andrews em The Sound of
Música. Por um momento, o espetáculo parece outro mundano
e transcendente. Mas quando o orbitador I
conheceu na banheira de hidromassagem saca o pau e se
masturba em cima de Diana, uma das esposas poli relutantes,
até ele gozar em seus seios enormes, o
toda a fachada de sacralidade desaba para mim. Parece

mais uma cena de um filme pornô gonzo.
Se isso é poliamor, então não é para mim. Não só eu

preferiria a monogamia com Ingrid a fazer o hokey pokey
sexual com um monte de divindades auto-nomeadas
todas as noites, mas eu provavelmente seria banido da
cena completamente depois de mais alguns pujas. Porque
eu fiz algumas coisas desesperadas na minha vida para
transar, mas eu nunca fingi uma crença espiritual.
11
"Você deveria ter falado comigo primeiro", diz Lawrence.

“Eu teria avisado você para ficar longe da Associação
Mundial de Poliamor ou qualquer um desses tipos de
eventos. Eles são organizados por essas pessoas da
Nova Era de Maui, e os tipos malucos se infiltram neles.”
Lawrence é professor de meditação e sexualidade.

Ele é alto com a cabeça raspada e é tão saudável que
seu rosto brilha como se ele tivesse engolido uma
lâmpada. Eu o conheci uma vez antes em uma festa,
onde o apresentei à minha amiga Leah, uma garota da
porta ao lado com um rosto saudável que você poderia
olhar por horas. Leah me ligou depois e disse que em
seu primeiro encontro com ele, ela teve a melhor noite de
orgasmos de sua vida. Não os vi desde então, mas
evidentemente aqueles orgasmos produziram tanta
oxitocina que, quatro anos depois, eles ainda estão namoran
“É meu primeiro relacionamento aberto,” Leah me diz,
radiante. Eu pergunto a eles como isso se desenvolveu, e
acontece que, assim como Tahl com sua esposa, Lawrence
inicialmente deu - e continua a dar - a Leah mais liberdade

do que ele mesmo tem para que ele possa ensinar a ela a
falta de medo e possessividade pelo exemplo.
Estamos sentados no pátio de uma pizzaria em Los
Angeles, onde estou participando do meu primeiro grupo de
encontro de poliamor. Voltei para casa da conferência
desapontado e desencorajado, mas depois de cavar mais
fundo descobri que há mais na cena do poliamor do que
pujas e sacerdotisas.
E neste encontro, esse é certamente o caso.
Mais da metade dos participantes são de um ramo poli
completamente diferente: a cena BDSM (escravidão e
disciplina, dominação e submissão e sadismo e masoquismo).
Como os participantes da conferência, a maioria das pessoas
aqui tem mais de quarenta anos. Mas em vez de usar togas
e cangas, eles estão vestidos de vinil e couro. Em vez de
deusas e sacerdotisas, são mestres e senhoras. Em vez de
adorar a luz, eles adoram as trevas.
Para minha surpresa, entre eles estão Lawrence e Leah,

que vieram conhecer um dos alunos de Lawrence.
Então eu tenho perguntado a eles sobre a conferência de
poliamor, tentando ter alguma perspectiva sobre em que
plano eu estava.
“Não entendo o que pujas têm a ver com poliamor”,

digo a Lawrence. “Não importa se os participantes estão
em relacionamentos ou não.”
“No final das contas, o que você viu ali é um tipo
específico de poliamor”, explica. “Tantra poliamor”.
Antes da conferência, eu achava que o Tantra era a

prática de manter um orgasmo durante o sexo na esperança
de uma alta maior, melhor e mais longa. Desde a
conferência, não tenho ideia do que seja. Kamala Devi
definiu o Tantra como “a própria vida”. E o orbitador
definitivamente não estava negando a si mesmo a liberação
quando atirou em todos os seios daquela mulher.
“Então, em poucas palavras, o que é Tantra para essas pessoas?”
“O que eles chamam de Tantra é basicamente um
fenômeno americano, inventado como uma forma de falar
sobre sexo sem usar a palavra sexo.” Até agora, Lawrence
é a primeira pessoa que conheci neste mundo com quem
sinto que posso me relacionar, que não inicia conversas
com “namastê” e as termina perguntando sobre ETs. “Por
causa de todas as conotações imorais do sexo, eles o
transformam em algo divino e educado em vez de físico e
apaixonado. Acho que isso ocorre porque muitos gurus
sabem que a maioria das mulheres precisa de uma conexão
emocional para fazer sexo, e a espiritualidade é o caminho
mais rápido e profundo para chegar lá.”
“Infelizmente”, acrescenta Leah, “algumas das mulheres

estão apenas substituindo um tipo de predador por outro.
Lawrence costumava trabalhar com um guru do sexo tântrico
que dizia às mulheres que seu pau era a Divindade, e elas
tinham que se abrir e receber para serem despertadas.
Ele chamou seu esperma de néctar dos deuses. Depois da
enfermaria, muitas mulheres se sentiram enganadas e usadas.”
Desde a conferência, eu estava me sentindo culpada por
apenas mergulhar meu dedo do pé na água da cena ao invés de
me imergir antes de formar uma conclusão.
Afinal, pujas são a coisa mais próxima que já vi do amor livre na
minha vida. Mas depois de conversar com Leah e Lawrence, fica
claro que o que eu vi não representava realmente o poliamor,
apenas uma de suas muitas ramificações.
Mas pelo menos aprendi que existem comunidades acessíveis
onde o sexo e o amor são vistos como livres e alegres, não
possessivos e patológicos.
Enquanto estamos falando, um africano corpulento e de
voz profunda, um americano que está por perto, estende a mão
grossa e se apresenta como Orfeu Black. Ele está com três
mulheres: uma que ele apresenta como sua escrava, outra como
sua companheira e uma terceira como uma de suas três esposas.
Ele me diz que, como casar com várias pessoas pode resultar
em uma sentença de prisão de um ano na Califórnia, ele se
comprometeu com duas dessas esposas em um ritual pagão
conhecido como cerimônia de casamento.
Com suas esposas, namoradas e submissas, Orfeu parece

um Mestre Yod. Por isso, respeitosamente, atiro nele com
perguntas, na esperança de descobrir o que eu queria na
conferência. "Estou tentando montar uma casa como a sua",
explico. “Você tem algum conselho sobre como fazer isso
funcionar?”
Ele solta uma risada longa e baixa, então se inclina em
conspiração. “É um trabalho em tempo integral. Você tem que
ser o líder. Você não pode mostrar nenhuma fraqueza ou dúvida,
ou será comido vivo.”
Isso não parece muito divertido. "Mas se você não pode
mostrar vulnerabilidade, então você realmente não tem nenhuma
intimidade", eu respondo, soando um pouco demais como Joan.
“E se, em vez de uma coisa de mestre/escravo, eu quiser que
todos sejam iguais?”
“Não importa como você faça isso, todas as mulheres
precisam ser iguais em algum nível”, responde Orfeu. “A chave
é ter certeza de que você não tem mais sentimentos por um do
que pelo outro. A outra chave é vendê-los no conceito do futuro,
mas fundá-los na realidade.”
“Então, qual é o futuro?”

"Família." Ele diz a palavra com força, depois cruza os
braços sobre o peito e acena com a cabeça com profunda
segurança. “Você tem que garantir que todos saibam que você
é uma família e nada substitui o
família. O mantra deve fazer o que é melhor para a comunidade,

não para o indivíduo.”
A relação que ele está descrevendo parece ainda mais
restritiva do que monogâmica. Talvez seja porque restrições,
regras, punições e poder são parte integrante da comunidade
BDSM. E embora amarrar porcos, chicoteá-los e levá-los para
passear com coleira e coleira possa ser divertido pela variedade,
eles não são o meu fetiche. Eu não sou um top ou um bot tom.
Eu sou um meio.
Por que é que, para escapar da monogamia, tenho que olhar

tão longe nas margens? Ou há muito mais pessoas fazendo isso,
mas se escondendo de vergonha, com medo das consequências
para sua carreira, família ou reputação se forem denunciados?
Eu dirijo para casa desanimada, preocupada que eu nunca

vá encontrar o que estou procurando ou um lugar onde eu me
encaixe ou mais pessoas para minha cápsula com Belle.
Naquela noite, sonho que estou na última fila de um show de

mágica com Rick Rubin. Ingrid está lá, mas ela está na primeira
fila. Depois, sento no meu carro, esperando Ingrid chegar para
conversarmos sobre a apresentação. Mas ela nunca aparece.
Acordo coberto de suor e com medo de ter tomado uma

decisão ruim, de ter perdido Ingrid
para todo sempre. Toda a dor que nunca senti depois que Ingrid
se mudou de repente me oprime. Eu olho para o Sobrevivente,
sobrevivendo no meu parapeito como prova de que tenho um
coração, e afundo em uma profunda melancolia.
Apontei oficialmente para o outro lado da ambivalência:
em vez de me perguntar se deveria deixar Ingrid, agora estou
me perguntando se deveria ter ficado. Eu considero estender a
mão e dizer a ela que quero esquecer toda essa busca e
apenas ficar com ela, que a segurança da jaula é melhor do
que a liberdade da natureza. Mas aprendi o suficiente para
saber que esses são apenas os pensamentos de uma
ambivalência, manifestações de medo e solidão do meu fracasso
até agora em encontrar o que deixei para procurar. Tudo o que
aconteceria é que começaríamos o ciclo de evitar o amor
novamente.
Para a maioria dos homens, o que é mais difícil do que
terminar é o momento em que sua ex finalmente se desapaixona
por eles e os deixa ir, talvez porque isso desencadeie um medo
infantil – um terror psicológico – de perder a primeira mulher de
quem eles precisavam: sua mãe. .
E assim, como Sheila recomendaria, deixei-me sentir a dor, a
solidão e o medo, usando todas as minhas forças com o passar
dos dias para não ceder e estender a mão para Ingrid.
Enquanto isso, continuo participando de eventos ocasionais

de poliamor e sexo positivo, mas sem
muita sorte ou qualquer aventura que eu realmente gostaria de ter

à medida que a dor se transforma em luto e o
o luto se transforma em aceitação, eu decido parar de ir
a eles completamente.
E é aí que finalmente encontro a cena que estou procurando:
não em um encontro de poliamor, mas no quarto seco da casa
de Seth MacFarlane.
12
CARTA NÃO ENVIADA
Caro Neil,
eu esperava que nos encontrássemos no final desta
estrada difícil. Mas com o passar dos dias, vejo que
nossas estradas não vão se encontrar novamente. Eu
estava com medo, esperando que você pudesse me
salvar e me tirar desta estrada para a sua. Mas isso não aconteceu
Eu não achava que isso fosse algo que ia acontecer,
mas eu conheci alguém. Conhecer essa nova pessoa foi
um acidente completo. Não sei o que é, mas gosto muito
dele. No começo, pensei que poderia me divertir com ele
e nada aconteceria. Talvez eu me canse dele e pare de
atender suas ligações. Mas enquanto estou passando
tempo com ele, percebo que esta é uma pessoa que não
posso simplesmente usar como uma boneca de pano.
Posso dizer que ele gosta muito de mim. Parece muito
cedo para saber, mas minha intuição é muito forte. Eu
gostaria de dar uma chance a ele.
Para ser honesto, estou completamente apavorado.

Eu não quero estar em outro relacionamento por um tempo.
Mas, ao mesmo tempo, parece certo para alguns
razão.
Às vezes eu gostaria que você viesse e me levasse,

mas conforme as horas passam, eu olho para trás e vejo
você tão longe, quase como um borrão na distância.
Lamento que tenhamos passado por isso. Eu

realmente te desejo o melhor da vida e espero que você
encontre alguém que possa te fazer tão feliz quanto você
me fez. E eu quero dizer isso. Com você eu fui o mais feliz
que já fui.
Adeus,
Ingrid
13
Nicole me lembra uma versão mais curta, mais conservadora e
ainda mais magra de Ingrid. Ela tem 1,60m e está usando o que
parece ser um vestido de baile azul, suas omoplatas projetando-
se sobre o topo como a moldura de uma pipa. Ela é uma
advogada que vem de São Francisco.
O tipo de garota com quem você se casa e leva para a mamãe
— a menos que sua mãe seja como a minha.
E eu a conheço há apenas meia hora. Estamos em um
restaurante japonês com um amigo em comum, um produtor de
cinema chamado Randy. Ele e sua esposa nos convidaram
para jantar com eles, seguido de uma festa na casa de Seth
MacFarlane, o criador de Uma Família da Pesada, em Hollywood
Hills. A esposa de Randy, Jessica, é naturalmente cheia de
lábios e voluptuosa. Fumegante seria uma palavra para
descrevê-la. Apertado seria outro.
Quando digo a eles que estou procurando um parceiro de

mente aberta, ela faz uma careta e intervém: “Eu nunca faria
um trio”.
"Por que?" Sua veemência me pega de surpresa.
“É só que Randy e eu nos amamos muito, e nosso amor é real. E

esse não é o tipo de coisa que você faz quando está casado.”
Suas palavras enviam um arrepio na minha espinha. Ela verbalizou

meu medo: que o casamento signifique o fim da diversão, que as coisas
que uma mulher fará com um cara aleatório que ela conhece em Cabo
são na verdade mais divertidas do que as coisas que ela fará com o
homem que passa o resto da vida com ele. sua. Minha cabeça cai em
minha mão antes que eu possa pará-la. Randy parece tão desapontado
quanto eu, mas esconde um pouco melhor.
"O que há de errado?" ela pergunta.

“Olhe para Randy. Ele está morrendo por dentro. Ninguém quer
ouvir que sua vida sexual com você seria melhor se ele não tivesse se
casado com você. Randy evita contato visual com ela – e a briga que
ocorrerá mais tarde se ele concordar comigo. "Então, se você não fosse
casado, você - se as circunstâncias estivessem certas e isso simplesmente
acontecesse - teria um trio?"
Ela não diz nada, mas um sorriso pisca em seus lábios. "Você
poderia!" eu exclamo. Algo em mim está tentando provar um ponto.
“Então deixe-me perguntar a você: se a necessidade de variedade sexual
de um homem não é atendida no casamento, quais necessidades suas
não são atendidas em seu relacionamento?” Até a palavra casamento
soa mais
como uma sentença de prisão do que uma livre escolha motivada

pelo amor.
“Eu diria que as necessidades que a maioria das mulheres
não satisfazem são de conexão emocional e apoio emocional. Mas
eu não procuro que essas necessidades sejam totalmente
atendidas por Randy.”
“Veja, e é aí que estou tendo um problema! Pelo menos você
pode satisfazer essas necessidades tendo conexões emocionais
com a família e amigos fora do seu relacionamento. Mas com as
necessidades sexuais, você fica preso tentando fazer com que
todas sejam atendidas por apenas uma pessoa.
E se você tentar obtê-los de qualquer outra pessoa, você é a
escória do lago.”
É quando Nicole se vira lentamente, olha para mim com olhos
azuis suaves e diz baixinho: “Eu não poderia concordar mais”.
"Sério?"
“Eu só pareço uma boa garota por fora”, ela me diz.
“ Seria ótimo se você pudesse falar com minha esposa em um

trio,” Randy sussurra enquanto andamos pelo quintal de MacFarlane
uma hora depois. Não é uma festa pequena: há esculturas de gelo,
porta-pinicos, uma orquestra completa e um monte de coisas finas,
desajeitadas, de um metro e oitenta de altura.
mulheres.
Nicole fica perto de mim o tempo todo. E aos poucos o ar ao

nosso redor cobra: Ela faz um pouco mais de contato visual do
que precisa e ri até mesmo das piadas ruins que eu faço. Estes
são conhecidos no jogo como indicadores de interesse. E pela
primeira vez desde que terminei com Ingrid, eles estão vindo de
uma mulher que pode estar aberta a. . . sendo aberto.
Eu pego sua mão e a levo para um sofá ao ar livre enquanto

MacFarlane canta “Luck Be a Lady” na frente da orquestra. Por
alguma razão, Randy nos segue e se senta ao lado de Nicole. Eu
não tenho certeza se ele está lá para protegê-la ou se ele está
completamente alheio. Enquanto sussurrava no ouvido de Nicole,
eu cutuco a perna de Randy com minha mão para sinalizar para
ele sair. Ele fica ali sentado, sem reação, como se estivesse
absorvido por algo que está pensando.
"Você acha que ele vai sair para que possamos nos beijar?"
Eu pergunto a Nicole.
"Eu não acho que ele iria embora se começássemos a foder",

ela responde.
O que é raro em Nicole é que ela não parece ter nenhum
problema com sexo. E esse é o tipo de mulher que espero
encontrar: uma que esteja livre da vergonha sexual que os pais
acumulam nas filhas assim que têm idade suficiente para perguntar
por que os meninos parecem diferentes lá embaixo.
Lembro-me de uma noite em que estava sentado em uma

banheira de hidromassagem com um homem divorciado que
estava reclamando de suas dificuldades de namoro enquanto
suas duas filhas pré-adolescentes brincavam ao redor dele. “Os
meninos são estranhos”, disse o mais velho em resposta a um
comentário que ele fez. Ele olhou para ela com aprovação e me
disse: “Eles não estão namorando ninguém até os trinta anos”.
Sua filha mais nova respondeu: “Vou ser uma pug solteira!” E foi
aí que percebi que os caras trazem seus problemas de namoro
para si mesmos. Eles programam sua filha com uma aversão a
homens e sexo por medo de que ela conheça alguém como seu
pai, então eles conhecem a filha de outra pessoa e esperam que
ela simplesmente pule na cama sem ansiedade ou reservas.
Eu corro minha mão pelo cabelo de Nicole e começamos a

nos beijar. À medida que o beijo se intensifica e as mãos
começam a vagar, Randy continua sentado ao nosso lado como
uma espécie de escultura de Rodin: O Voyeur.
Eu tiro meus lábios dos de Nicole e digo a Randy: “Nós
vamos dar uma volta, então vamos todos embora.”
Dentro da casa de MacFarlane, Nicole e eu tentamos as
maçanetas de vários cômodos, mas todos estão trancados. Esta
claramente não é sua primeira festa. Então vejo uma janela de
vidro e, através dela, uma lavanderia. Felizmente a porta está
destrancada.
Entramos e fechamos a porta atrás de nós. Apago a luz

para que ninguém possa ver pela janela. Então eu jogo Nicole
contra a porta, enfio a mão sob seu vestido e a massageio
através de sua calcinha. Ela arqueia as costas e geme, então
começa a mexer nos botões da minha calça. Comparado ao
sexo sagrado na Conferência da Associação Mundial de
Poliamor, o sexo sujo, furtivo e espontâneo parece muito mais
significativo.
Muitas mulheres pensam que, se saírem rápido demais, o

parceiro não as respeitará. Este não é o caso. Não se trata de
esperar uma certa quantidade de tempo antes de fazer sexo,
trata-se de esperar por uma certa qualidade de conexão. E eu
já gosto de Nicole o suficiente para esperar que ela considere
ser minha parceira primária consensualmente não monogâmica,
poliamorosa, pluralista, multi-relacionada. Talvez ela esteja
interessada em se mudar para a casa do amor livre com Belle
e eu.
Quando ela se ajoelha e desce em cima de mim, eu enfio

a mão no bolso de trás e tiro uma camisinha. E é quando isso
acontece.
Ela remove os lábios, olha para mim inocentemente e diz:
"Eu não posso fazer sexo com você a menos que meu
namorado esteja aqui."
Leva um momento para que o significado das palavras seja

registrado em meu cérebro. Não é uma frase que eu já ouvi
antes. Estou mais acostumada a alguém dizer: “Não posso fazer
sexo com você porque tenho namorado”.
Repito a palavra como um grito de dor: “Namorado?!”
Outra pessoa já está vivendo meu sonho com ela.
“Estamos em um relacionamento aberto. Mas eu não tenho
permissão para foder ninguém sem ele lá. A decepção no meu
rosto deve ser clara, porque ela acrescenta: “Mas quando
transamos, vai ser muito, muito bom”.
Ela desliza sua boca em volta de mim novamente. “Está tudo

bem se eu for?” Eu pergunto. Não sei por que estou verificando
a permissão. Talvez eu precise ligar para o namorado dela e ter
certeza de que está tudo bem com ele também.
“Claro”, ela responde. Boa resposta.
Eu a observo trabalhar, mas estou tão confuso e decepcionado
que é difícil ficar no momento. Lembro-me de assistir ao
documentário Anatomia do Sexo. Isso explica que quando o pênis
está flácido, é quando está realmente tenso. Os músculos estão
contraídos. Quando fica excitado, o pênis relaxa. E isso permite
que o sangue entre, o que expande o tecido esponjoso e cria a
ereção. Então você precisa estar relaxado para ficar duro. Você
não pode ficar duro quando está tenso. E eu sou
tensa, porque eu finalmente encontrei alguém de mente aberta que eu

posso me ver namorando – e ela está conquistada.
Incapaz de executar, eu fecho.
"Acho que eu deveria conhecê-la", digo a ela enquanto saímos da
sala. “Tenho pensado muito em relacionamentos abertos ultimamente.”
“Você está no estilo de vida?” ela pergunta, falando as palavras

cautelosamente, sondando.
“O que você quer dizer com estilo de vida?”
“Eu odeio esse nome. Está balançando.”
“Eu não precisaria de uma namorada para balançar?”
"Não necessariamente. Você conhece o Life style Lounge?”
"Não."
“É um site ao qual meu namorado e eu pertencemos. Você
pode encontrar alguém lá.”
"É onde todos os sãos estão se escondendo?"
“Eles estão realmente se escondendo em Bliss. E eles são muito

quentes. Estamos indo em algumas semanas. Você deveria vir conosco.”
“Haverá pujas lá?” Eu pergunto, apenas para fazer

claro.
“O que são pujas?”

“Ótimo, estou dentro.”
14
“Obrigado novamente por ontem à noite e por respeitar
meus limites”, escreve Nicole enquanto embarca em um avião
casa para San Francisco no dia seguinte. “Estou ansioso para
nos reunirmos novamente, desta vez com
James."
Eu esperava estar do outro lado do relacionamento - e não
tenho certeza se estou confortável com um
cara na sala, mesmo que ele esteja apenas assistindo.
Especialmente se ele estiver assistindo. Mas Shama Helena aconselho
me para observar algumas relações, e isso pode ser um
chance de fazer isso.
Infelizmente, eu tenho a chance mais cedo do que eu
esperava. Duas horas depois, Nicole manda uma mensagem e diz que
precisa falar.
Nunca é um bom sinal quando alguém que você acabou de ter
contato sexual com necessidades de falar. A única coisa que eu
posso imaginar é que ela tem uma DST que ela não me contou
cerca de.
Eu ligo e pergunto o que há de errado. “Acabei de ter uma

discussão sobre confiança com James, e cruzei alguns
limites com você que eu não deveria ter,” ela me diz, perturbada.
— Achei que você tivesse um relacionamento aberto. Pode ser

seu relacionamento não é realmente aberto, mas apenas entreaberto.
“Na verdade, nosso acordo era que eu não deveria fazer sexo
ou sexo oral”, ela confessa. “Não achei que seria um problema tão
grande para ele, mas quando comecei a contar o que aconteceu,
ele ficou muito chateado. Sinceramente, acho que isso pode ser o
fim. Porque ele não estava lá, não estava tudo bem. Ele diz que se
eu o amasse, eu não teria feito isso. O fato de ter começado na
lavanderia fez com que parecesse mais barato para ele, e ele está
bravo por eu ter prejudicado o relacionamento dessa maneira.” Ela
faz uma pausa. “E o que piora é que somos advogados, então os
contratos são importantes.”
Uma hora depois, ele manda uma mensagem: “Neil, James

aqui. Você não deveria se sentir mal por nada que fez.” Eu não.
“Preciso pensar em algumas coisas. A confiança incondicional é
vital quando você vive a vida da maneira que escolhemos.
Nicole violou minha confiança e isso é algo que preciso processar.”
Até agora, parece que o relacionamento aberto deles tem tanto

drama quanto um relacionamento fechado. E o drama é sobre a
mesma coisa: confiança. Talvez a razão pela qual as amizades
tendem a durar mais do que
relacionamentos é que a maioria deles não vem com regras rígidas e

cláusulas de exclusividade.
Um minuto depois, James manda uma mensagem novamente:
“Eu não tenho certeza de onde isso vai dar (e eu não sei onde você
quer que isso vá). Isso é apenas algo que todos nós precisamos
descobrir juntos. Vou enviar uma mensagem para você assim que
tiver trabalhado com isso do meu lado.”
A palavra juntos me parece estranhamente inclusiva.
Quase soa como se eu tivesse a opção de estar envolvido em seu
relacionamento.
Seja qual for o caso, espero que não tenha arruinado minhas
chances de ir para Bliss.
15
Swinging é uma vítima de seu próprio sucesso.
Quando a maioria das pessoas pensa em um casamento
com liberdade sexual, swing é a primeira palavra que vem à
mente. No entanto, a campanha de relações públicas contra
o swing foi tão completa e completa que a palavra por si só
evoca escárnio em vez de concupiscência. Até groupies de
rock têm uma reputação melhor.
Os principais golpes contra o swing são, em primeiro

lugar, sua representação apócrifa como uma atividade
principalmente para casais suburbanos velhos, fora de forma,
vestidos sem bom gosto e, de outra forma, maçantes. E,
segundo, a ideia de que os clubes de swing estão cheios de
doenças. Em parte por essas razões, os adeptos tentaram
mitigar o estigma renomeando sua cena como Estilo de Vida .
Na defesa do swing, o julgamento de que apenas pessoas
bonitas podem ter prazer é mais uma condenação do acusador
do que do acusado. Quanto às DSTs, os pesquisadores dizem
que o HIV não tem sido mais prevalente entre os swingers do
que os
população geral. Como disse um pesquisador: é usado

como um argumento moral, mas não é um argumento científico
1.
Se todas as festas fossem como Bliss, no entanto, os swingers
seria invejado em vez de ridicularizado.
Nicole está sentada em um restaurante chinês no Las Ve
gas Palms Casino ao lado de um homem que presumo ser
James. Ele faz contato visual forte e aperta minha mão com
firmeza. É uma saudação excessivamente masculina, formal
e ligeiramente autoconsciente. Evidentemente, é costume que
estranhos que compartilharam a mesma mulher se
cumprimentem como pistoleiros antes de um tiroteio.
Embora ele esteja em seus trinta e poucos anos, James está
vestido mais como se estivesse em seus vinte e poucos anos,
com uma camiseta berrante justa e jeans desbotados de fábrica.
Ele é alto, com cabelos loiros curtos e uma estrutura sólida e
ampla, que parece ser mais um resultado da genética do que da
academia. Então, embora ele seja grande, ele não parece durar
muito em uma briga – o que é um bom sinal, já que ele pode não
estar feliz por Nicole e eu termos trocado mensagens
constantemente desde que nos conhecemos. Por respeito, no
entanto, fiz questão de enviar uma mensagem de texto para ele
uma vez a cada cinco que ela e eu enviamos.
"Eu só quero que você saiba que não há nenhum
conflito entre você e eu", diz ele. “Como resultado
do que aconteceu, Nicole e eu realmente melhoramos
nossa comunicação e fortalecemos nosso relacionamento.”
Bem, estou feliz que isso esteja resolvido, para que eu possa fazer sexo
com sua namorada agora.
Logo somos acompanhados por dois casais, cada um
com homens que se vestem muito jovens para sua idade e
mulheres que parecem ter saído das páginas de Maxim.
Uma é uma mulher esculpida, escultural, de cabelos negros.
A outra é uma boneca Barbie viva que se apresenta como
Chelsea.
Chelsea é bronzeado, tingido de loiro e tonificado. Ela
fez uma cirurgia, levando-a a um copo D; o resto vem do
trabalho duro. Logo descubro que ela é o produto de pelo
menos cinco horas por dia de dedicação à sua aparência,
365 dias por ano, nos últimos quinze anos de sua vida. São
mais de 27.375 horas de perfeição e centenas de milhares
de dólares em maquiagem, manicure, roupas, sapatos,
médicos, cabeleireiros, esteticistas e treinadores.
Beleza como essa é um vício, atendendo a uma fantasia

masculina que só fica mais impossível de igualar a cada
década como pintura de fotos, depois escovação de ar,
depois Photoshop, depois aplicativos de edição de fotos
continuam elevando a fasquia na interminável corrida
armamentista da perfeição feminina .
Eu sou claramente o elo fraco aqui – e, como homem

solitário, talvez até persona non grata. Felizmente,
Nicole levou um velho amigo dela para a cidade que,
ela diz com um sorriso sugestivo, pode ser meu
“encontro especial”.
Enquanto todos se acomodam, James pergunta
sobre meu último relacionamento. Parece que ele está
me testando, tentando avaliar que tipo de pessoa eu
sou, determinando se sou alguém digno de dormir com
sua namorada. Digo a verdade: que queria abri-lo, mas
Ingrid não se interessou.
“Acho que o erro que você cometeu com ela,” Nicole
salta, “é que você fez tudo sobre querer estar com
outras pessoas. Você deveria ter feito isso em vez de
querer ter aventuras sexuais juntos. Dessa forma, você
pode incluí-la em vez de fazer parecer uma falha da
parte dela. Foi isso que funcionou comigo.”
Ela está certa: eu fui egoísta com Ingrid. Eu só

queria meu próprio prazer, independentemente de
quanta dor isso causaria a ela. Talvez se, em vez disso,
eu quisesse fazer algo que acrescentasse à vida dela e
ao nosso relacionamento, ela estaria mais aberta a isso.
Ou talvez não. Mas definitivamente teria sido uma
maneira melhor de fazer isso.
Como muitas pessoas no estilo de vida, James e Nicole me

dizem que nunca pensaram que fariam parte disso. Cresceram
acreditando no mito do casamento: exclusivo, feliz e até a morte.
Então, antes mesmo de se conhecerem, eles se casaram com
outras pessoas, mas acharam a realidade disso mais
desgastante do que afirmativa da vida.
“Todo mundo nesta mesa, e quase todo mundo que conheço
no estilo de vida, está divorciado ou saiu de um relacionamento
tradicional muito longo de antemão”.
diz Nicolle. “Você meio que precisa tirar aquele primeiro
casamento ou relacionamento importante do seu sistema antes
que você possa chegar à verdade de que fazer sexo com outra
pessoa não tem efeito no seu amor um pelo outro. Se alguma
coisa, pode adicionar a isso.”
Ela me disse que conheceu James no escritório de
advocacia onde eles trabalham. Depois que eles namoraram
por alguns meses, ele a levou para um clube de strip para seu
aniversário, que ex a citou o suficiente para querer tentar
balançar. No início, eles iam a clubes públicos de swing, mas
tinham dificuldade em encontrar casais de quem gostassem.
Então eles começaram a explorar os encontros de swinger,
onde encontraram casais com quem gostavam de passar o tempo d
E, finalmente, eles descobriram o Bliss, que exige que os casais
enviem fotografias e um pedido de revisão antes de permitir o
acesso ao
festas só para membros que ele organiza em mansões, clubes e

resorts.
“Ninguém com quem trabalhamos sabe que fazemos isso”, diz
James. “Se alguém encontrasse meu telefone, eles surtariam se
vissem as mensagens. Metade deles são de caras do Lifestyle
falando sobre o ciclo menstrual da namorada e dizendo que não
podem sair para festejar por alguns dias.”
Quando uma garçonete chega para anotar nosso pedido, James

pergunta: “Devemos apenas compartilhar tudo?”
"Eu não estou com vontade de compartilhar", diz a mulher de
cabelos negros enquanto seu namorado se senta amuado ao lado dela.
É a primeira vez que ela fala desde que cheguei. "Coloque nós dois
em um cheque separado."
James se inclina e sussurra para mim: “Eles estiveram discutindo
o dia todo, então não podemos levá-los para sair conosco esta noite.
Na comunidade swinger, você verá casais brigando, jogando bebidas
um no outro ou correndo às cegas para a rua. A coisa sobre o swing
é que fortalece os bons relacionamentos e destrói os ruins.”
Chelsea e seu noivo, Tommy, um atleta de cabelos espetados

vestindo uma camisa cor de vinho para fora da calça, parecem mais
prontos para a aventura da noite. “Somos novos no estilo de vida,
mas não vamos mais a clubes ou festas de baunilha”, Chelsea me
diz enquanto Tommy
olha avidamente para ela, aparentemente cometendo

violência sexualizada encoberta. “Nos eventos Lifestyle,
todo mundo fica mais legal, mais divertido e mais confortável
consigo mesmo. E as garotas não são maliciosas e invejosas
umas das outras, como no mundo baunilha.”
Essa palavra baunilha surge com frequência na
conversa, sempre com desdém. O termo refere-se a pessoas
que não estão no Estilo de Vida. Quando é mencionado, eu
rio e brinco de volta sobre aquelas vãs idiotas que estragam
tudo. Mas por dentro eu me pergunto: eu sou baunilha?
Penso em Belle, a australiana que vem ficar comigo. Eu

provavelmente poderia compartilhá-la.
E vou conhecer Anne, a nudista, em Paris em algumas
semanas. Eu poderia trocá-la por Chelsea. Mas sentado
aqui, olhando para James e Tommy, eu simplesmente não
consigo imaginar sentir compersão enquanto os vejo violar
todos os orifícios de Ingrid enquanto ela jorra com orgasmo
após orgasmo.
Lembro-me de minha conversa com Shama Helena: Se
eu quiser a verdadeira liberdade, preciso aceitar que o
caminho que conduz a ela será de desconforto e
vulnerabilidade.
"Então, onde está o meu encontro?" Eu pergunto a Nicole.
"Ela está vindo. Você vai ver."

A antecipação está me matando. Encontros às cegas são

bastante estranhos, mas encontros às cegas são ainda mais
estressantes. Eu me pergunto como devo cumprimentá-la:
“Estou ansioso para compartilhar você esta noite”?
Enquanto nos movemos pelo saguão depois do jantar,
Nicole e James cumprimentam várias mulheres com aparência
de estrelas pornô - todas elas membros do Bliss, andando
com uma arrogância mortalmente confiante que realmente faz
os turistas ao redor deles parecerem baunilha. Alguns
frequentadores de clubes não Lifestyle estão usando roupas
igualmente reveladoras, mas as pessoas do Bliss parecem
possuir sua sexualidade em vez de apenas experimentá-lo durant
O casal pária se separa para lidar com seu drama
enquanto pegamos o elevador para a suíte de Chelsea para
que as mulheres possam se trocar. Eu não posso imaginar
como eles poderiam ficar mais sexy – até eu ver o quarto, que
parece uma loja da Victoria's Secret. Há lingerie, maquiagem,
perfume, sapatos e loções em todos os lugares. Tommy está
no negócio de brinquedos sexuais, então suas contribuições
para o quadro são mochilas e pastas cheias de suas
mercadorias, além de uma câmera em um tripé com
equipamento de iluminação profissional ao lado. Tudo
envergonhado na reabilitação está aqui em pleno esplendor.
“Parece um set pornô,” digo a James.

"O que você vai ver esta noite é melhor do que isso", ele
responde. “Você nunca mais vai querer assistir pornografia.”
Chelsea dá a Nicole um saco de presente da Victoria's

Secret enquanto Tommy abre o champanhe. Isso são
preliminares de swinger. Embora Tommy pareça um pouco
fanático, estou muito mais confortável nesta cena do que no
puja. Em vez de vestir sexo em adoração e religião, eles estão
vestindo lingerie e champanhe.
De repente, há uma batida na porta.

"É ela", diz Nicole em uma voz cantante.
Meu coração salta na minha garganta. E se ela não estiver
atraída por mim? E se eu não estiver atraído por ela?
E se ninguém se sentir atraído por nós? E se, e se, e se “Não
. . . acrescenta Nicole intuitivamente. “É a primeira
se preocupe”,
vez dela em uma dessas festas também.”
Instantaneamente me sinto melhor.

A porta se abre, revelando uma mulher alta com cabelos
ruivos metálicos que parece pertencer à capa de uma revista
de moda. Ela tem feições de duende com uma camada quase
imperceptível de sardas, sombra preta esfumaçada e lábios
carnudos e sensuais. Seu cabelo é cortado curto e varrido
logo acima do olho direito. É uma beleza poderosa que é
simultaneamente mainstream e alternativo, linha masculina

e feminina, jovem e velha. O mais impressionante de tudo,
eu a conheço.
"Sábio?" Eu pergunto. Eu a tinha visto apenas uma
vez antes, mas nunca a esqueci. Eu estava entrevistando
uma banda em Nova York para a Rolling Stone, e ela
estava saindo com eles. Mal trocamos uma palavra, mas
ela tinha um brilho angelical, como uma santa padroeira
dos astros do rock alcoólatra, que me assombrou muito
tempo depois.
Ela grita de prazer, envolve os braços em volta do meu
pescoço e pressiona seu corpo contra o meu. Ou ela se
lembra de mim também ou ela é muito simpática. Eu
respiro seu calor, seu hidratante, seu cabelo po feito. Esta
vai ser uma boa noite.
16
Enquanto Chelsea, Sage e Nicole desfilam para o clube do
cassino em seus saltos altos e microssaias, todas as cabeças
se voltam - até os negociantes estica o pescoço para dar uma
olhada. Não está claro se eles estão procurando porque
acham que as mulheres são atraentes ou prostitutas ou
ambos, mas não importa. Neste momento, somos Vegas.
Eu os acompanho com James e Tommy, que estão

curtindo o velório que seus parceiros estão criando.
"Deus, olhe para ela", diz Tommy, cobiçando Chelsea. Ele
passa a mão pelo cabelo preto-obsidiana, que está tão
gelificado que praticamente posso ouvi-lo enrugar. “Vou me
casar com ela. Eu não posso acreditar o quão sortudo eu
sou.”
Um homem assustadoramente alto e sua esposa
embelezada caminham ao nosso lado. “Minha garota e eu
nos casamos há dezesseis anos e estivemos no estilo de
vida o tempo todo”, ele nos diz com orgulho. “Dê uma olhada no
Que belo corpo!”
Swinging é definitivamente um passo mais perto da solução

Estou procurando por. Em vez de cobiçar outras mulheres,
esses caras ainda cobiçam aquela com quem estão.
E em vez de se deixar levar, os casais
ficar em forma porque eles sabem que vão ficar nus na frente
de estranhos. Talvez balançar seja o
fonte da juventude: uma fórmula para escapar da monotonia
de envelhecer juntos e da perda da sexualidade que vem com
o trabalho, a paternidade, a familiaridade,
e aumentando as responsabilidades. Porque apesar da
probabilidades, depois de anos juntos, esses casais parecem
ter todos os três impulsos de Helen Fisher — por sexo, amor
romântico e apego profundo — ainda funcionando
fortes um com o outro.
Logo, chegamos ao nosso destino: uma danceteria
com uma longa fila do lado de fora. Enquanto uma bela
promotora do Bliss nos leva pelas cordas de veludo, o swinger
alto que se juntou a nós suplica a sua esposa: “Querida, aqueles
duas garotas de quem eu falei já estão lá dentro. Eu posso
transar com eles esta noite?
Ok, talvez eles ainda cobicem outras mulheres.
Mas pelo menos eles obtêm permissão primeiro.
Casais no estilo de vida não vão apenas para clubes
e hotéis. Em vez disso, eles encenam o que chamam
aquisições. Trata-se de invadir um espaço público
com energia sexual desenfreada e chocando o
baunilhas. Enquanto eles não trocam lá, eles fazem

planos e convites seguros para encontros depois da ala - e sinta-se legal
e um só nesse meio tempo. O verdadeiro balanço hoje à noite, James me
diz como
nos juntarmos a um enorme círculo de membros do Bliss dentro,
estar ocorrendo em festas particulares em hotel selecionado
quartos mais tarde.
Na pista de dança, uma loira de vestido justo e de lantejoulas

vestido prateado está ondulando tão sugestivamente que meu
a frequência cardíaca aumenta instantaneamente. Pegue o mais rico, mais
homem confiante e mais famoso do mundo - e ele é
não é páreo para uma bela mulher no meio de um
dança que exala energia sexual. É por isso que as fortunas
são perdidos, famílias são despedaçadas e guerras são travadas.
"Eu me sinto confortável aqui", diz James. "Estes são
meu tipo de gente.”
Dentro de momentos, nossas datas se juntaram à cantora na pista
de dança. A feminilidade convencional parece amplificada aqui, enquanto
a masculinidade convencional é temperada. Entre seus companheiros
swingers,
as mulheres se sentem mais seguras sendo sexuais - e sendo apreciadas
por isso - do que em eventos de baunilha: os caras não são
cobiçando ou tateando ou perseguindo ou batendo neles. E,
como disse Chelsea, as mulheres não estão fazendo cara feia para elas como se
eles são concorrência.
Meus olhos travam em Sage, que está dançando com as pernas

abertas e seus quadris possuídos, como se convidasse a luxúria a
entrar sem bater. Momentos depois, ela se aproxima com a feiticeira
da pista de dança a tiracolo. "Oh meu Deus, sua garota é tão sexy", diz
a loira. Suas mãos estão sobre Sage. Ela aponta para uma mulher
baixinha em um véu de noiva que está de pé por perto com um homem
ainda mais baixo em um smoking. “Vê meus amigos lá? Eles vão se
casar amanhã. Você pode fodê-la com força esta noite? Ela precisa ser
fodida.”
“Vamos ver o que a noite traz”, respondo, certa de que morri e fui
para o paraíso dos relacionamentos.
Infelizmente, eu não seria o único cara em Las Vegas a ter fodido uma
despedida de solteira na noite anterior ao seu casamento.
Enquanto a loira se afasta, Sage se aproxima, até que sua
bochecha está roçando a minha. “Se estou namorando alguém”, diz
ela, “não quero estar com outros caras”.
"Sério?" Estou chocado. Espero que ela não seja outra

um monogâmico.
“Se alguém com quem eu estou permitisse que isso acontecesse,
eu consideraria isso pouco masculino.”
— Então por que você veio aqui?
“Acabei de sair de um relacionamento e não vejo

Nicole há uma eternidade. Então ela me trouxe aqui para
me divertir e ver a cena.”
“Na verdade, acabei de terminar também.”
Sua língua voa sedutoramente entre os lábios e ela
me conta sobre seu último relacionamento. Ela namorou
um cara que estava tentando criar o que ele chamava de
círculo — uma relação de grupo que consistia nele, Sage
e duas outras mulheres. Parece muito com o padre Yod.
No entanto, ele acabou ficando obcecado por uma das
mulheres, terminou com todos os outros, começou a
namorar com ela exclusivamente e se casou com ela
recentemente. Evidentemente, uma linha era preferível a
um círculo para ele.
Estou aliviado que Sage esteja realmente aberto a
relacionamentos alternativos. De repente, o mundo do
escritório de Joan parece muito distante. Aqui, há um tipo
diferente de normal, onde é Joan quem ficaria
envergonhada – por ser tão agressivamente baunilha,
uma contra-revolucionária sexual.
Levo Sage a um sofá para que possamos nos
conhecer melhor. Conto a ela sobre trair Ingrid e ir para a
reabilitação, e ela me conta sobre trair seu namorado poli.
Quando ele descobriu, ele disse que só havia uma
maneira de ela fazer as pazes com ele: marcar um
encontro com o outro cara em um bar, ir atrás dela.
namorado no banheiro primeiro, e então, quando ela conhecer o cara,

beijá-lo, cuspir o esperma do namorado na boca do cara, e dizer a ele o
que era.
“Ainda me sinto muito mal por ter feito isso”, diz ela. “Mas na época,
eu me senti tão culpado por trair, eu teria feito qualquer coisa para
compensá-lo.”
"Entendo. Eu me senti do mesmo jeito."
Se o swing é ou não para mim, pelo menos encontrei um mundo de
pessoas com quem me sinto confortável, que parecem ter intimidade e
abertura. Além disso, encontrei Nicole, Chelsea e Sage — e não preciso
escolher entre elas, o que é ideal para uma ambivalente. Nem tenho que
manter distância de alguém por quem me sinto atraída só porque ela
está em um relacionamento no momento. Embora a trapaça seja um
pouco preocupante, quem sou eu para julgar? Pelo menos essa cena é
mais sensata do que a vida após a reabilitação sexual, quando as
mulheres eram gatilhos a serem evitados em vez de pessoas a serem
desfrutadas.
Enquanto falamos, James corre e nos diz que o grupo está saindo
para ir a uma festa só para convidados com o tema De Olhos Bem
Fechados . “Mas primeiro,” ele anuncia, “eu trouxe alguns favores de
festa.”
Paramos em seu quarto, onde ele abre uma sacola de produtos de
higiene pessoal e tira uma garrafa de GHB. Eu nunca fiz GHB, embora
eu me lembre de ter lido um artigo perturbador
sobre uma mulher que foi escorregada como uma droga de

estupro em um navio de cruzeiro. Seu sistema ficou tão lento
que ela desmaiou, parou de respirar e morreu.
“Como eu sei que dose tomar?” Eu pergunto a James.

Ele corta o ar em um padrão X com um colírio como um
Zorro fraco. “Não se preocupe: você está em boas mãos.”
"Então faça a minha metade da dose que você está pensando

em me dar." GHB é inodoro e insípido: se ele quer se vingar do
incidente na lavanderia com Nicole, agora seria a oportunidade
perfeita.
“Você vai gostar. É como estar bêbado, mas sem o desleixo.”
“Estou vendido.” Nervoso, mas vendido. Na reabilitação,

Troy e Adam me perguntaram se eu tinha algum problema de
abuso de substâncias, e eu disse a eles que não gostava de
bebida ou drogas. “Se eu perco o controle, sinto que a pessoa
que sai do armário é desagradável, então tento manter o
controle”, expliquei. E Troy deu um tapa nas costas de Adam e
proclamou: “Veja, eu te disse. Ele é definitivamente um viciado
em sexo.”
Eu não tinha certeza se ele estava se referindo ao meu
autocontrole ou minha auto-estima, mas talvez permitir que eu
me soltasse um pouco fosse bom para mim.
James suga um pouco de GHB no conta-gotas, espreme-o na

tampa da garrafa e me dá para beber em algum tipo de ritual erótico
de swinger. Depois de quinze minutos, sinto uma leve tontura. E
então eu me lembro de algo que eu queria perguntar.
“Como um cara, isso vai afetar meu, você sabe, desempenho?”
"Venha comigo", responde James.

Eu o sigo até uma mesa onde há um pequeno frasco de remédio
cheio de uma calda fina. “Isso é Viagra líquido”, explica ele. “Ele só
está aprovado para testes em animais no momento, mas consegui
alguns online e é ótimo porque você pode medir a dosagem exata.
Quer um pouco?"
“E não há mais nada nele? Não vai me fazer tropeçar nem

nada?” Eu me pergunto por que os animais querem ereções mais
longas.
“Isso só vai ajudá-lo a ter uma noite muito divertida.”
“Ok, mas não me dê muito. Não quero machucar ninguém.”
Ele joga o Viagra na minha boca, e tem um gosto horrível.

Estamos prontos para balançar. Basicamente, esses caras são
ravers, mas com sexo em vez de música.
Eu me pergunto o que estou fazendo comigo mesma. Suponho
que no final dos anos sessenta, o amor livre normalmente carregava
com ele a implicação de drogas gratuitas. E pelo menos isso

é muito mais divertido do que sair com os polis Tantra. Talvez
todas essas subculturas, desde antes do bêbado Roman
Bacchanalia, tenham seu próprio ritual pré-sexo, concebido
como uma forma de afrouxar as inibições. Eu me pergunto por
que fui tão resistente aos ritos sagrados do povo poli, mas
estou tão aberto às misturas químicas ilícitas que os swingers
estão me dando. É definitivamente uma falha moral da minha
parte.
Flutuamos no corredor em uma semi-euforia e paramos em algumas

festas bem agitadas até que, finalmente, com o efeito do GHB já
desaparecendo, atravessamos para a Torre da Fantasia do hotel
para a festa de Olhos Bem Fechados .
Dentro da suíte de dois quartos, há um DJ, um poste de

stripper e, no centro da sala, uma mesa redonda chamativa com
um lençol branco por cima.
Ao redor estão quase três dúzias de homens e mulheres sem
camisa usando elaboradas máscaras de carnaval.
Eu nunca vi mais seios falsos na minha vida, mesmo em um filme
pornô. Estranhamente, ninguém está fazendo sexo.
Perto da entrada da sala, há uma grande caixa de papelão
cheia de fantasias. Sage seleciona uma máscara de olho preto
com penas de pavão coloridas salientes
dos cantos. Pego uma máscara branca com um nariz comprido de

Laranja Mecânica e um gorro de bobo por cima.
"Vamos completar", diz James. Ele mede um limite de GHB
para cada um de nós. E então esperamos. Para que algo aconteça.
Parece que todos estão esperando. Há um constrangimento não
reconhecido na sala, como um baile de formatura do ensino médio
sem ninguém na pista de dança.
De repente, ouço uma voz masculina grave e comprimida.

“Ei, cara, é Neil Strauss.”
Eu me viro para ver uma figura inconfundível em um roupão
vermelho e uma máscara branca. Eu posso dizer por sua postura
furtiva e pela linha do maxilar bem formada por baixo da máscara
que é Corey Feldman.
“O que você está fazendo na minha festa?”
"Esta é a sua festa?"
Não vejo Corey, mais conhecido como teen act ou em Stand
by Me and The Lost Boys, há pelo menos sete anos. Eu o conheci
enquanto escrevia um livro com Marilyn Manson, que tinha uma
pequena obsessão por Feldman que envolvia principalmente
zombar dele.
"O que você está fazendo aqui?" ele pergunta, igualmente
chocado.
Enquanto lhe digo que sou nova na cena, na minha visão
periférica, vejo a feiticeira loira do clube. Ela está completamente
nua, exceto por um Lone
Máscara de Ranger . Ela caminha até a mesa redonda, vira-se,

senta-se nela e abre bem as pernas. Ela então recua e coloca
os pés na beirada da mesa, abrindo ainda mais as pernas. Ela
congela lá sozinha, como se estivesse se preparando para
sugar todo o quarto em sua vagina.
"Então você está nisso apenas pelos números?" pergunta

Corey.
É uma pergunta capciosa. Os homens, ao que parece,
gostam de testar outros homens nesta cena para ter certeza
de que estão nela pelos motivos certos, sejam eles quais
forem. Pois felizmente não estou aqui para acumular entalhes
no meu cinto. “Estou nisso para encontrar outra maneira de
viver além da monogamia convencional”, respondo.
“Então este é o extremo final”, Corey responde com
entusiasmo. Evidentemente eu passei. Na minha visão
periférica, noto um homem se aproximar da mesa, cair de
joelhos e enterrar o rosto com reverência entre as pernas do
loiro.
"Por que é que?"
“Porque ver a pessoa que você ama com outra pessoa é o
cúmulo da paixão.”
“Sim, mas geralmente a paixão que desperta nas pessoas
é assassina.”
“Esse é o ponto: é algo difícil de lidar. E normalmente você
sentiria ciúmes e
raiva. Mas se você pode controlá-lo” – ele pressiona a palma

da mão do coração para a virilha como se resistisse a um
peso enorme – “e transformá-lo em paixão, torna-se uma
experiência muito conectada”.
Um coro de grunhidos e gemidos enche a sala, e eu
olho para cima para ver três casais ao redor da mesa
circular. Duas das mulheres estão debruçadas sobre o tab
letop enquanto os caras as batem por trás. Todos deviam
estar esperando alguém com coragem para começar a
festa. No entanto, não parece um encontro de troca gigante
ou pilha de sexo, apenas casais fazendo sexo em torno de
outros casais fazendo sexo. Na verdade, houve mais trocas
no puja. Talvez o ponto alto do swing para alguns seja
apenas estar em uma atmosfera de decadência sexual.
De repente, a segunda dose de GHB me atinge. Não é

uma tontura suave como antes, mas uma aquisição mais
agressiva do meu sistema. Estou tonta, tonta e quase feliz
o suficiente para realmente querer fazer um puja.
“Coloquei aquela mesa ali de propósito,” Corey diz com

orgulho, gesticulando para os casais copulando contra ela.
“Havia um de vidro, mas pedimos para que eles o
removessem e trouxessem este em vez disso.”
Eu tento focar meu cérebro e parar meus globos oculares
de girar o tempo suficiente para responder: “Isso foi, hum,
muito pensativo." Mas, pela minha vida, não consigo entender

por que uma mesa circular é a chave para uma orgia.
"Eu sei o que estou fazendo", ele responde sem modéstia.
“Eu não uso drogas, mas compenso com sexo. Ontem à noite,
fiz sexo com seis mulheres diferentes.”
Pensando nas minhas entrevistas com Feldman, ele também
foi enredado por sua mãe. Além de fazê-lo esfregar os pés dela,
pentear seu cabelo e preparar seus banhos quando ele era
criança, ela o usou para realizar suas próprias ambições de fama
- chegando ao ponto de colocá-lo em pílulas dietéticas quando
ele tinha quatorze anos.
Rick me diria que estou em uma casa de crack sexual agora.
Os três sinais de vício, de acordo com Joan, são que é crônico, é
progressivo e tem consequências prejudiciais à vida. Eu não
acho que isso seja crônico para mim ainda, mas é definitivamente
um progresso. Quanto às consequências prejudiciais à vida, a
noite ainda é uma criança.
Um homem sem camisa está sentado ao nosso lado. Seu

parceiro, uma loira corpulenta com os seios falsos que são
evidentemente necessários aqui, abre o zíper da calça e começa
a fazer um boquete.
— Estou impedindo você de participar? Eu pergunto a Corey
através da neblina, na esperança de escapar.
“Não, eu sou muito exigente,” Corey responde. Ele passa a
me contar sobre uma noite que ele e uma namorada passaram em
quarto de hotel de Pamela Anderson, tentando sem sucesso

seduzi-la. “Pamela Anderson nunca ficou com uma garota
antes”, continua ele. “Você pode acreditar nisso? E ela me
disse que quando ela estava usando cocaína, então deve ser
verdade.”
Meu casulo de swinger aparece ao nosso lado, e eles
parecem impacientes e prontos para fazer algo louco. “Não se
preocupe comigo,” Corey diz. "Vai se divertir."
Murmuro um estranho “prazer em vê-lo de novo” e volto a
juntar-me ao grupo. Instantaneamente me sinto melhor agora
que não tenho que esconder o fato de que estou tão chapado.
Está na hora: Esta é uma orgia da qual eu realmente
quero participar, especialmente agora que tenho um parceiro
com quem me sinto confortável. E não consigo me ver sendo
expulso, especialmente porque conheço o anfitrião e não há
pipoca à vista.
Eu me inclino para beijar Sage, mas o nariz da minha
máscara cutuca seu rosto. Não tenho certeza se é apenas o
design da máscara ou minha tontura. Ela ri e inclina a cabeça
para o lado para evitar o obstáculo. Quando seus lábios se
aproximam dos meus, as penas de sua máscara fazem
cócegas no meu nariz. Quero me perder em nosso primeiro
beijo, mas sinto que vou espirrar.
Eu me afasto e as extensões pontudas do meu chapéu de
bobo cutucam James nos olhos. Enquanto isso, sua máscara
é tão elaborada que ele não pode beijar ninguém.
Sage e Chelsea começam a se beijar, mas suas máscaras

atingem Tommy e eu, então nos afastamos.
Em De Olhos Bem Fechados e todos os outros filmes

com um baile de máscaras decadente, os convidados se
misturam com graça, fluidez e sensualidade. Mas, na
verdade, é impossível beijar alguém sem vários narizes,
penas, chifres e sinos cutucando, fazendo cócegas e
obstruindo. O resultado é mais como uma comédia pastelão.
“Vamos tirar essas máscaras estúpidas”, Nicole
finalmente diz.
A vida real nunca é como os filmes.
17
Quando começo a tirar minha máscara, Sage sussurra para mim:
“Deixe-o ligado.” Não tenho certeza se devo tomar isso como um
insulto ou um elogio — provavelmente um insulto —, mas obedeço.
Sage agarra minha virilha e começa a me esfregar através da

minha calça, então eu alcanço sua saia. Eu enfio meu dedo
indicador dentro dela e, em poucos minutos, um som sibilante
escapa de entre suas pernas junto com um fluxo de fluido.
“Ela é uma esguichadora,” Chelsea exclama. E sud

Denly todo mundo tem as mãos no meu encontro.
“Eu vou procurar um lugar mais confortável,” James oferece.
À medida que o GHB se intensifica, olho para cima e vejo

casais transando por toda parte. A maioria das máscaras está
desligada agora por razões práticas. À medida que as swingettes
caem sobre os caras com quem estão ou sentam em cima delas,
elas estão fazendo mais do que apenas fazer sexo, estão se
apresentando para todos os outros na sala.
James estava certo: isso é muito melhor do que pornografia.
"Encontrei uma cama livre", diz James. Entramos em um

dos quartos da suíte. Não sei o que está prestes a acontecer,
mas entre o GHB, o champanhe, o Viagra líquido, os casais
copulando por toda parte, as pernas de Nicole, os seios de
Chelsea e os orgasmos de Sage, eu não poderia estar mais
excitada. Eu só queria que houvesse alguma maneira de se
livrar dos dois caras. Não sei quais são as expectativas deles.
Eu caio na cama, grata pela suavidade. Acalma a tontura.

Sage sobe em cima de mim e começa a se esfregar em mim,
enquanto Chelsea se despe apenas com roupas íntimas e
pastéis em forma de coração.
Tommy e James estão presos em pé desajeitadamente
ao lado da cama, então eu deslizo para dar espaço para eles.
Eu não sei por quê. Estou no meio de três mulheres não-
monogâmicas seminuas e prontas para ir. Por que diabos eu
deveria me importar com o conforto desses caras? Eu teria
pago cada centavo no banco por essa experiência dez anos
atrás, se eu soubesse que era possível. Agora, em vez de me
divertir, estou me transformando em um lanterninha de teatro.
Chelsea está deitada na cama, pequena e dourada com

abdominais esculpidos, seus pastéis empurrados para o teto.
"Cuide dela para mim", Tommy me diz.
“Defina , cuide-se.” Esta é minha primeira festa swinger
de verdade, então não tenho certeza da etiqueta. eu não quero
começar a fodê-la, então descobrir que ele só queria dar-lhe um

travesseiro.
"Faça o que quiser", explica James. “Você é o principal cão
de trenó aqui.”
"Apenas fique seguro, ok?" Tommy sussurra em meu ouvido.
Eles estão literalmente oferecendo suas garotas para mim.
Quando eu estava aprendendo o jogo, trabalhei tanto por uma
oportunidade com apenas uma mulher como esta. Agora há três,
e nada de jogos estúpidos e medos de você ainda me respeitará
pela manhã. Estou tão intoxicado por todas as possibilidades que
sinto que vou explodir de excitação, desejo, gratidão, luxúria. Ou
talvez seja apenas o GHB e o Viagra. Não sei. Eu não me importo.
É a coisa mais próxima do céu que eu já experimentei.
"Acordar!" uma voz masculina está gritando no meu ano.

Acho que é James.
"Eu não estou dormindo", eu ouço minha voz dizer. "Não
estou dormindo."
Eu olho para cima. Minha cabeça parece estar cheia de papel
higiênico molhado. Porra, acho que desmaiei. Sage está sentada
em cima de mim. Chelsea está do meu lado. Ela sussurra
sensualmente no meu ouvido: "Posso ajudá-lo com alguma coisa?"
Isso é tão hospitaleiro da parte dela. Ela é como uma

garçonete do Hooters. “Eles têm comida aqui?”
Ela se inclina mais perto, seus seios esfregando contra meu

peito, e diz ainda mais sensualmente: "O que você quiser."
“Na verdade, apenas um pouco de água seria bom.” Eu sorrio

agradecida.
Ela não vai a lugar nenhum nem faz um movimento para
pegar água, porque claramente (pelo menos para quem não está
drogado) ela quer me ajudar com outra coisa. Na penumbra da
minha mente, uma célula cerebral começa a se iluminar: “Pastéis”,
digo a ela. A palavra parece sair da minha boca em câmera lenta.
Ela me olha confusa. “São pastéis deliciosos.

Onde você os conseguiu?”
Por que estou fazendo conversa fiada? Eu deveria dizer a ela
que preciso de ajuda com meu pau ou algo assim. O regulador
saiu do meu cérebro. É por isso que eu não gosto de drogas.
Eles fazem todo mundo legal, menos eu. Pelo menos Sage está
abrindo minhas calças agora. Isso é reconfortante—
"Acordar!" É aquela voz de novo, perfurando meu
orelha.
— Por que você continua dizendo isso? Eu pergunto. Meus

olhos focam na direção do barulho, revelando James novamente.
Eu olho para cima e Sage ainda está em cima de mim, mas ela
está rindo.
“Você adormeceu em cima dela,” James me diz. “Você estava
roncando.”
"Você deveria ter vergonha de si mesmo, adormecer em uma

mulher bonita como essa", repreende Tommy.
"Você está brincando?"

"Não", Sage confirma. “Eu estava caindo em cima de você, e
você adormeceu e começou a roncar.”
Eu não tenho absolutamente nenhuma memória de adormecer.
Isso é assustador. Agora eu vejo porque isso é uma droga de estupro.
Quero perguntar o quão alto eu estava roncando, mas tenho medo da
resposta. Em vez disso, estupidamente pergunto a ela: "Fiquei duro?"
"Sim."
“Uau, esse Viagra realmente funciona.”
Percebo uma fila de caras encostados na parede em frente à
cama, apenas nos observando. Não só eu não os notei antes, mas eu
não vi outras pessoas sendo encaradas descaradamente aqui.
Saio da cama e aceno com a cabeça, tentando limpar o papel

higiênico, que está girando mais rápido lá dentro. Percebo que minha
máscara não está colocada. Eu me pergunto onde foi. James murmura
algo que não consigo entender, mas posso ver que ele está me
entregando uma tira de respiração dobrada. Talvez minha respiração
esteja fedendo.
Ele começa a colocá-lo na minha boca, mas parece um pouco
íntimo demais. "Eu posso fazer isso sozinho", eu insisto, tirando isso
dele.
"Cuidadoso." Ele guia minhas mãos em direção à minha boca para

que eu não a deixe cair.
São duas orgias que terminam em desastre. Eu sou como o
arruinador da orgia. O mais triste é que tenho mais ação aqui
dormindo do que acordado. Lembro-me agora de uma outra parte
daquele artigo sobre o GHB: O escritor advertiu para não misturá-
lo com álcool.
Quando começamos a sair, um dos caras que estava
assistindo mais cedo se apresenta. “Eu administro as festas Bliss”,
diz ele. “Conheço seu trabalho. Acho que você achará esta
comunidade muito interessante.”
Ele aponta outro cara que estava assistindo.
“Na verdade, ele está aqui por causa dos seus livros.”
E eu percebo, toda aquela fila de pessoas contra a parede –
não apenas eles estavam me vendo me humilhar, mas eles sabem
quem eu sou. Digo a mim mesma que talvez seja legal desmaiar
em uma orgia. Como eu já estive em tantos na minha vida, eles
me entediam.
O promotor começa a falar comigo sobre como ele procura
talentos para essas festas: ele vai a clubes, assiste a casais e
suas dinâmicas juntos, então os recruta seletivamente. “A fórmula
é garotas gostosas”, explica ele. “E contanto que o cara não seja
um sapo e não tenha ciúmes, ele está bem.”
Talvez esta seja a minha cena, penso enquanto James me

puxa para longe. Apenas ser capaz de fazer sexo
férias decadentes como essa alguns fins de semana por ano

provavelmente seriam suficientes para tornar a monogamia
suportável o resto do tempo. Tipo como o dia da fraude em uma
dieta. Esta era supostamente uma das funções das antigas orgias
ritualísticas também: servir como uma válvula de liberação
psicológica aliviando a dor da separação humana.
"Devemos ir conferir algumas outras festas?"

James pergunta.
"Acho que terminei a noite", digo a ele.
“Como você vai dormir no E?”
“Eu simplesmente não vou fazer nada.”
“Tarde demais para isso.”
"O que você quer dizer?"
“Você acabou de pegar um pouco.”
"O que?" Como eu poderia ter tomado ec stasy? A não ser
quando eu estava desmaiado. . . Mas isso
seria foda, me dosar enquanto estou dormindo.
“Na faixa de respiração. Pensei que você soubesse."
“Achei que fosse pela minha respiração.”
"Não se preocupe. É realmente puro. O único problema é que
enquanto você está nele, você não pode levantá-lo. E é perigoso
misturar com muito Viagra.”
“Então por que estamos fazendo isso?!” Estou começando a
pensar que James pode ser completamente louco, como o Coringa
nos quadrinhos do Batman . Isso não faz sentido. "Isso não

arruina todo o sentido de estar aqui?"
“Não, porque as garotas gostam e ainda podem ficar
excitadas.”
“Então, quanto tempo isso vai durar?”
“Provavelmente cinco horas.”
Oh Deus, o que eu fiz?
18
Saímos da sala, descemos o elevador e entramos em uma esteira
rolante. Assim que saímos, eu sinto isso. Estou rolando.
Eu toco as costas de Sage, então minha mão sobe para seu

ombro e começa a apertar. Eu preciso tocar em algo sólido. Ela
parece irritada.
"O que há de errado?" ela pergunta, encolhendo minha mão.
Instantaneamente minha mão retorna ao seu ombro. Devo

espremer. “Estou totalmente rolando. Você sente alguma coisa?”
"Não."
“Você tomou alguma?”
“Sim, mas eu já fiz muito antes.”
“Quanto é muito?”
"Vamos apenas dizer que eu fiz isso por via retal."
Voltamos ao hotel central e vagamos pelos corredores
procurando outra festa que James quer conferir. O tapete se
desenrola na frente dos meus olhos. Lembro-me de todas as outras
vezes em que fui fodido no gás Ve, e minha única lembrança são
esses tapetes de hotel.
Eles se estendem para sempre nos mesmos padrões

repetitivos. Para sempre e sempre. Sem fim. Tapete.
Chegamos a uma porta. Um cara sem camisa abre.
Há bastões luminosos por toda parte, incluindo dois sendo
girados por uma loira baixinha com seios falsos gigantescos.
"Tire essa jaqueta", diz o cara. “Vocês todos estão

vestindo roupas demais.”
Ficamos parados, contemplando a cena. Há adesivos
brilhantes afixados nas paredes, no aparelho de som, na
geladeira, em todos os lugares. Em um quarto logo depois
da entrada, há pornografia passando na TV. “Por que eles
têm pornografia nessas coisas?” Eu pergunto a Nicole. “Isso
o torna pouco sexy. Como se pornô fosse falso e isso fosse real
“Não sei por quê. Não é elegante.”
“Eles deveriam tocar, tipo, CNN,” eu continuo. “Isso seria
sexy. Porque nós olhávamos para a TV e pensávamos: Olhe
para essas pessoas chatas. Estamos nos divertindo muito
mais do que eles. Eles estão todos morrendo e merda, e nós
estamos, tipo, fodendo as esposas um do outro.”
Quando algumas pessoas se fodem, elas se tornam a
vida da festa. Outros ficam agressivos, promíscuos ou
superemotivos. Eu só fico neurótico e nerd. Especialmente
em drogas psicoativas, quando todos os filtros saem. Esse é
quem eu sou. Eu preciso aceitá-lo, mesmo que ninguém
mais possa.
“Você quer passear?” Sábio pergunta.

Eu agarro o braço dela. "Fique comigo!" Com a outra mão
estou pendurado na beirada de uma mesa para salvar a vida.
“Eu não quero entrar lá. Tem pornografia!”
“Então o que você quer fazer?”
Estou perdendo. Preciso de mais ancoragem. “Você pode
colocar as mãos na minha cabeça e, tipo, fazer alguma coisa?”
Ela segura minha careca em suas mãos como se fosse um

ovo frágil.
“Não, tipo, amasse .”
Ela começa a amassar. Eu me sinto mais ancorado.
"Não pare de fazer isso", eu ordeno a ela. E enquanto sua
mão quente massageia meu couro cabeludo, me pergunto se já
o encontrei: meu não-monogamato. Desde o momento em que
Nicole nos apresentou, parecia que eu já a conhecia. Na
verdade, eu já a conhecia. Mas a questão é que estamos
flutuando juntos nessa experiência como um casal que já está
em um relacionamento confortável. E ela não tem sido possessiva
com Chelsea e Nicole. Talvez eu peça a ela para morar com
Belle e comigo. Ela já tem experiência. Isto é perfeito. Ela é
perfeita.
Talvez isso seja apenas o êxtase falando. Eu tenho que me

controlar. Preciso ter certeza de que não me empolgo, professo
meu amor eterno por ela e
assustá-la. É muito cedo. Provavelmente estou me recuperando.

Ela provavelmente está se recuperando. Tudo está se recuperando.
Percebo um cara corpulento em uma camiseta pequena

desmaiado no sofá – perdendo tudo e alheio a tudo.
“Você tem que estar bem alto para desmaiar durante uma
orgia,” digo a Sage. "Que idiota."
Ela me olha como se eu fosse louco. E eu sou. Estou muito
alto.
James diz que estamos saindo. Eu não tenho ideia do porquê
vamos, mas sei que é a coisa certa a fazer.
Saímos com Sage ainda amassando minha cabeça. Não sei
por que ainda estamos procurando por festas depois.
Somos seis comedores de tiras de êxtase no auge de nossas
vidas sexuais. Nós somos a festa. Eu digo isso a eles.
“Estou totalmente sentindo isso”, digo a Nicole enquanto Sage con
continua a amassar minha cabeça.
“Eu sei,” ela diz.
Eu me pergunto como ela sabe. É tão óbvio?
“Por que ninguém mais está tão alto?”

Nicole sorri para mim com simpatia.
“Porra, eu sou aquele cara, não sou? Eu sou tão amador.”
Outro sorriso pálido. “Ei, se você não estiver fazendo nada, você
pode amassar minha cabeça? É importante agora.”
Enquanto continuamos pelo corredor, não quero que essas duas

mulheres tirem as mãos da minha cabeça. Não consigo sentir meus
dentes. O êxtase está ficando mais forte. Eu digo a eles.
“Está chutando para outro nível.”

“Está tudo bem,” Nicole diz suavemente, como se fosse para uma
criança com medo de trovão.
E assim seguimos o tapete em silêncio. Sempre o tapete.

Desenrolando em corredores infinitos. Sem começo. Sem final.
Nenhuma escapatória.
Finalmente, uma porta aparece. Está aberto. Um piso de madeira
no interior. Sim.
Nós entramos. Eu ainda estou sendo amassado. Isso é bom,
porque meu corpo está se sentindo cada vez menos substancial.
Vejo um sofá do outro lado da sala. É macia. Isso é
acenando. Ele me quer.

"Devemos ir para o sofá?" Eu pergunto aos meus amassadores
de cabeça.
Então eu me preocupo que talvez eles pensem que eu estou
tentando colocá-los em algum tipo de situação sexual lá.
"Não, não, isso seria ruim", acrescento rapidamente. “Talvez
devêssemos ficar aqui.”
Então me lembro que entrar em situações sexuais é a razão de
estarmos aqui. “Não, não, tudo bem.
Vamos para o sofá.”
Caminhamos até o sofá e nos sentamos. Muito melhor.

Estamos descansando confortavelmente agora. Daria uma bela
foto. “Talvez devêssemos tirar uma foto,” sugiro. "Onde está a
câmera?"
"Vou pegar o tripé", Tommy oferece um pouco ansioso
demais.
De repente, um cenário dele se afastando enquanto todos
nós fazemos sexo em grupo passa pela minha cabeça.
Essa é a última coisa que eu preciso na Internet. Mesmo que
ele apenas publique em seu perfil de rede social, se for
embaraçoso o suficiente, outras pessoas irão compartilhá-lo,
blogs irão buscá-lo, e ele se espalhará por toda parte até se
tornar meu maior sucesso no Google.
Em um mundo em que tudo está conectado e
arquivados, seus erros duram mais do que você.
"Não, não", eu digo. "Deixa para lá."
“Vamos todos tomar um pouco de chocolate, então,” Tommy
sugere. "Você vai amar. Será a experiência mais sensual que
você já teve.”
Ele quebra quadrados de uma barra de chocolate exótica e
dá uma para cada pessoa. Uma experiência de chocolate
quente é o que eu preciso agora, para me aterrar. Mas quando
eu coloco na minha boca, parece errado. Eu não tenho um
corpo, então comer algo que deveria passar pelo meu sistema
digestivo não faz sentido. Eu acabei de
senti-lo flutuando inutilmente em minha boca, como um raio-X em

que você vê uma moeda no estômago de alguém.
"Isso não está funcionando para mim", eu digo, cuspindo na
mão livre de Sage sem avisá-la. “Eu não posso comer.
Meu corpo não pode processar alimentos agora.”
Ela olha para mim, depois para a mão e não diz nada. Acho
que essa foi a gota d'água para ela. Eu estava começando a
pensar que eu não precisava mais fazer essa jornada sozinho, que
eu teria Sage ao meu lado como uma primária – vindo comigo para
conhecer Anne em Paris, planejando a casa do Father Yod com
Belle e eu, e indo para jantar com Rod e Charles para mostrar a
eles que a felicidade pode ser encontrada fora da norma
socialmente aceita. Mas acabei cuspindo na mão dela uma gosma
marrom parcialmente mastigada, quase toda derretida e cheia de
saliva.
"Devemos beber suco de laranja", sugiro. “A vitamina C

intensifica a alta.” Essa é a última coisa que quero fazer. Eu não
tenho idéia por que eu mencionei isso. Ou estou tentando me
encaixar ou meu córtex pré-frontal está ainda mais tenso do que
Daniel Amen pensava. Talvez eu precise passar pelo trabalho na
cadeira novamente. Não, eu definitivamente preciso. O que quer
que eu esteja fazendo, não acho que seja saudável. A menos que
este seja o meu eu autêntico. Isso seria patético.
Chelsea e Tommy estão falando sobre sua lua de mel. Eles

estão convidando Sage e eu para participarmos, como se
fôssemos um casal.
"Você deve usar totalmente o meu lugar em St. Kitts", digo a
eles. O país dá cidadania a pessoas que compram certas
propriedades, então gastei um livro inteiro adiantado comprando
um apartamento lá por algum motivo paranóico com o qual não
consigo me conectar agora. “E não estou dizendo isso apenas
porque estou em ecstasy. Eu realmente quero dizer isso."
Eles riem. Eles não acreditam em mim.

"Realmente", eu insisto. "Eu vou te enviar um e-mail amanhã
confirmando isso."
Há um silêncio constrangedor. Eu sou aquele cara. Minhas
palavras ecoam na sala, altas e estridentes. Todo mundo só quer
fazer sexo e tudo que eu ouço é minha voz dizendo: “Eu sou tão
leve”.
“Estou sendo engraçado ou irritante?” Eu pergunto a Sábio.
Eu realmente não quero a resposta. Eu só quero ter certeza de
que ela ainda gosta de mim e eu não estou fazendo papel de
idiota. Sage olha para mim como se estivesse com muito medo
de responder.
"Ou um pouco de ambos?" Eu ofereço, para tornar mais fácil
para ela responder.
"Sim", diz ela, sorrindo fracamente. "Um pouco dos dois."
As palavras me cortam como uma faca. Sim, eu acho, acho

que no fundo sou um perdedor desajeitado. Então vou encobrir
esse fato dando uns amassos nessas duas garotas sentadas ao
meu lado.
Esse pensamento resume muito bem a última década da
minha vida.
Eu fico com Sage. Eu fico com Nicole. Sinto uma agitação
em minhas calças. Eu me viro e digo a James: “Aquela coisa que
você disse sobre ecstasy – felizmente não é verdade.”
"O que você está falando?" ele pergunta.

"Tudo bem." Porra, todo mundo está irritado comigo.
Eu sou o pior cara a trazer para uma orgia. Estou prestes a ser
expulso desta também.
"Estou cansado", diz Sage. Ela para de massagear minha
cabeça e se joga no sofá. Eu não posso deixar isso acontecer. Se
ela dormir, vamos desconectar. Eu não vou tê-la como minha
segurança. Ela deve ficar acordada.
Só há uma maneira de salvá-la. eu começo a esfregar
ela através de sua calcinha.
"Sua unha está cavando em mim", ela reclama.
Por que ela está sendo tão mal-humorada e sensível demais?

Eu não tenho sido nada além de legal com ela - se alguma coisa,
muito legal. E então eu percebo que estou em êxtase,
completamente alheio à realidade, e meu dedo provavelmente está

cavando nela. Eu paro instantaneamente.
"Quer ver Chelsea montar o Sybian?" Tommy pergunta.
"Claro." Quem não quer ver uma bela mulher ter um orgasmo de
tremer a terra em cima de uma sela mecânica?
Tommy começa a desfazer as malas de brinquedos. Ele é, em

partes iguais, caixeiro-viajante e Papai Noel sexual, puxando
vibradores, lubrificação e acessórios. Algo emocionante vai acontecer
e eu tenho um assento na primeira fila.
Só há um problema: minha cabeça. Precisa em

tenção e segurança.
"Você pode apenas amassar minha cabeça novamente enquanto
assistimos?" Eu pergunto a Sábio.
"Eu realmente deveria ir", ela responde.
Porra, eu arruinei completamente isso. Eu e minha cabeça
estúpida. Estamos assustando o amor não-monogâmico da minha
vida. Mas podemos salvar isso: “Vou acompanhá-lo até o seu quarto”.
"Não, está tudo bem. Eu posso chegar lá sozinho.”

Ou talvez não possamos.
Ela parece ter se transformado em um centavo esta noite, de
sexual e divertida para fria e irritadiça. Realmente é preciso um talento
especial para ser capaz de fazer
alguém que está tomando ecstasy, a droga do amor e da

empatia, sinta repulsa por você. Eu sinto baunilha. Tão
fodidamente baunilha.
Eu tive tudo esta noite. E eu perdi.
"Eu vou voltar para o meu quarto também", eu anuncio.
“Tem certeza que não quer ficar e assistir?”
Tommy pergunta. Ele parece mais desapontado por eu ir
embora do que quando Sage disse que ela tinha que ir.
“Eu deveria ir para a cama antes do sol nascer.” Viro-me
para Nicole, que não apenas fez essa aventura acontecer, mas
também tem sido tão paciente comigo, e digo a ela: “Você tem
sido uma ótima anfitriã e guia em tudo isso. E não estou
dizendo isso apenas porque estou em ecstasy agora.”
"Obrigada."
Ela soa desdenhosa. Talvez ela não acredite em mim.
Como posso convencê-la de que não é a droga falando, sou
eu? Eu sei.
"Sério. Vou te enviar um e-mail amanhã confirmando.”
Enquanto tento dormir naquela noite, me pergunto se

James me drogou propositalmente como vingança pelo incidente
do quarto seco. Talvez ele tenha planejado intencionalmente
me humilhar na frente de sua namorada e de todos os outros.
Quando acordo, recebo minha resposta. No meu telefone, há

uma mensagem dele. Foi enviado às 5h13 , depois que eu saí.
“Cara”, ele escreve, “gostaria que você estivesse na nossa cama
agora. Da próxima vez, precisamos de um tempo apenas com nós
três.”
Evidentemente, tudo está perdoado. E ele não tinha intenção
de me humilhar. Eu fiz isso comigo mesmo.
19
“Agora, quando você vai para o inferno, você sabe o que vai acontecer
ser como”, diz Rick quando eu concluo minha história
sobre Felicidade.
Estamos sentados na varanda de sua casa, bebendo

chá de gengibre. Como o próprio Rick, o ambiente é
quieto, calmo, sereno. É tudo Las Vegas
não é. “Mas há um lado positivo nisso,” digo a ele.
“Essas pessoas descobriram uma maneira de
bolo e comê-lo também. Eles estão em relacionamentos íntimos
e amorosos, mas em vez de ter casos e compartilhar
mentalização, eles escolheram ter suas aventuras sexuais juntos.”
“Eles não sabem o que é o bolo deles! Eles estão operando

puramente por vício, hábito e tentando
preencher um vazio. Só uma pessoa muito doente iria para Vegas
em um calor de cento e dez graus. é um desesperado
lugar para começar, e isso soa como uma convenção de baixa
auto-estima.”
Rick é como minha consciência. E neste momento uma
fraude é a última coisa que preciso. Sempre que fecho meu
olhos, vejo lampejos do carnaval da sexualidade que

vislumbrei, e isso me dá esperança. Espero que os céticos
estejam errados e que haja muitos adultos funcionais não
monogâmicos no mundo, mulheres pelas quais me sinto
emocional, física e intelectualmente atraídas, mulheres que
não se chamam sacerdotisas e falam com alienígenas,
mulheres tão legais como Sábio.
Assim que voltei para casa de Bliss, enviei um e-mail
para Chelsea para confirmar a oferta de lua de mel em St.
Kitts e eu enviamos um e-mail para Nicole para confirmar
que ela era uma boa anfitriã - só para provar que eu
realmente quis dizer isso. E Nicole, anfitriã que ela é, disse
que queria me dar um jantar em São Francisco para me
apresentar a mais amigos dela na cena.
“Não se esqueça de que o objetivo era ver qual caminho
leva à felicidade”, protesto para Rick. “Se essa cena é ou
não certa para mim, pelo menos está me levando a uma
direção mais feliz. Já não me sinto constantemente culpado.
E não estou machucando ninguém.”
“Exceto você mesmo”, responde Rick. “Você está usando
drogas que não são boas para você, das quais você nem
gosta. E veja mais de perto o que aconteceu. Um problema
básico surgiu enquanto você estava chapado: você descobriu
que vive em uma realidade em que não se sente bem
consigo mesmo. E o sexo, para você, é uma droga para
escapar temporariamente desse sentimento.”
"Tu podes estar certo. Mas o tratamento do vício em sexo

não resolveu nada. Sinto que essas experiências estão me
aproximando de algo verdadeiro e honesto.
Então vou continuar seguindo minha felicidade e ver onde ela
me leva. Tudo isso é completamente novo e faz apenas alguns
meses, então é claro que vou cometer erros.”
Rick balança a cabeça. “Eu acho que você deveria ter

ficado na reabilitação.”
Depois de sair do Rick's, ligo para Adam para fazer o check-in.

Embora eu não sinta falta da terapia de grupo, sinto falta de
alguns dos caras nela.
Adam me diz que seu casamento piorou. “Sou como um
chicoteado. Estou fingindo que estou feliz, mas na verdade não
estou nada feliz. Sempre parece que ela não quer ficar comigo.
Perguntei a ela quando foi a última vez que ela perguntou como
eu estava, e ela nem se lembrava.”
O incrível não é que Adam teve um caso,

mas que ele não teve outro.
Quando sua esposa está cansada de se esforçar para
entendê-lo, quando ela está cansada de ouvir as mesmas
histórias saindo de sua boca, quando ela guarda tanto
ressentimento que envenena cada conversa, quando ela é mais
gentil com os operadores de telemarketing do que ela
é para você, quando a única vez que ela está mais

apaixonada é quando ela está criticando você — é quando
você quer uma amante. Alguém cujos olhos brilham de
atração quando ela olha para você, cujas orelhas se animam
quando você fala, cujas mãos desejam sentir sua pele, cujas
coxas umedecem quando você a beija – alguém que
realmente aprecia sua presença e a trata como um presente
em vez de uma punição.
Alguém que vai ver você do jeito que sua esposa o viu antes
de ficar tão fodidamente doente de vê-lo.
Como Troy disse quando lhe perguntei por que ele, de

todas as pessoas, traiu: Um caso te enche de volta quando
o casamento te esvazia.
“Ela não percebe que está montando o cenário exato
que o levou a trapacear?” Eu pergunto a Adão.
"Eu sei", ele suspira. “Eu poderia viver sem sexo, mas
você precisa pelo menos sentir que alguém gosta de você.
Já faz mais de um ano e ela nem vem à igreja comigo. Ela
ainda está me fazendo repassar cada detalhe do caso. E,
você sabe, sempre que eu verifico meu e-mail, tudo está na
pasta lida porque ela já passou por tudo.”
“Essa é uma maneira horrível de viver – para você e para

ela. Você sabe como Lorraine chama isso?
"Não."
“Compras dolorosas. Ela não está sendo curada por isso.
Ela está apenas sendo retraumatizada.”
“Isso é exatamente o que ela está fazendo. Até meu pai
está chateado. Ele diz que sente pena de mim. Ele não pode
acreditar que eu fiquei tanto tempo no casamento.
“Então por que você não vai embora?”
A frustração em sua voz se transforma em resignação.
“Há uma parte de mim que simplesmente não pode fazer isso,
você sabe. Vou sentar aqui e levar uma surra pelo resto da
minha vida, em vez de me divorciar. Por causa das crianças.”
Eles têm quatorze e dezesseis anos. “Estou aqui para servi-los.
Talvez seja disso que se trata.”
Isso não pode ser o que o casamento é para a maioria das
pessoas: dois indivíduos envelhecidos acorrentados juntos em
crescente ressentimento e indiferença. Se os seres humanos
são a culminação de algum tipo de plano – seja evolução, uma
centelha divina ou um experimento de poliamor alienígena –
então por que não fomos construídos para nos darmos melhor
com aqueles que escolhemos para criar uma família e perpetuar
a vida? espécie com? A menos que estejamos fazendo errado.
“Mas você realmente acha que está servindo aos seus

filhos por ficar juntos em um casamento infeliz?” Eu desafio
Adam. “Que tipo de relacionamento você está modelando para
eles?”
Enquanto ele dança em torno da pergunta, começo a

entender por que a história de Adam me deixa tão
emocionada: porque sou seus filhos. Fui criado por pais
que raramente se davam bem e que despertavam o pior
um no outro. No entanto, por algum motivo, eles nunca se
divorciaram. Então eu cresci esperando que eles se
separassem e encontrassem parceiros que os fizessem
mais felizes. Talvez eu esteja tentando encerrar
encorajando Adam a fazer o que meu pai nunca conseguiu.
“Então, o que estou perdendo no grupo?” Eu mudo de
assunto. “Alguma atualização interessante dos outros
caras?”
“Eu não deveria dizer nada, mas você
realmente deveria ligar para Charles.”
20
Reunidos ao redor da mesa em um restaurante mexicano na

Missão não estão apenas casais no Estilo de Vida, mas também
famílias de couro e outras pessoas poli não-New Age que Nicole
e James querem que eu conheça.
Eu tenho tentado ligar para Charles a semana toda sem
sucesso, então no fundo da minha mente eu tenho imaginado
cenários horríveis do que poderia ter acontecido com ele.
No momento em que chego, Chelsea me cumprimenta com
um beijo poderoso nos lábios. Despojada de sua roupa de clube
de Las Vegas, ela parece formal e doméstica. Saltos de agulha,
um vestido justo, cílios postiços e maquiagem bem aplicada são
talvez a coisa mais próxima da verdadeira magia nos dias de
hoje, capazes não apenas de transformar uma mulher, mas
todos os homens ao seu redor - independentemente de sua
aparência, porque, em última análise, os homens são mais
atraídos pela disponibilidade sexual do que pela beleza.
Tommy, com seu cabelo espetado e uma camisa justa para
fora da calça, parece exatamente a mesma de Las Vegas.
Na verdade, ele pode estar usando as mesmas roupas. Sentado
ao lado dele está um cavalheiro grande e carismático chamado
Stefanos, que está vestido como um gangster da era da Lei

Seca. Nicole me conta que ele filma festas fetichistas semanais
no San Francisco Armory, que foi comprado por um magnata
da pornografia e se transformou em um enorme labirinto de
sets de filmagem para um site pervertido.
Ao olhar ao redor da reunião, sinto que cheguei ao limiar
de algo grande, algo que procurei por toda a minha vida.
— Você já conversou com Sage? Nicole me pergunta.

“Não, você tem?” Ela nunca me deu seu número de telefone.
“Eu não tenho notícias dela desde Vegas.”

Ela deve ter passado por momentos horríveis. E eu era
realmente se apaixonando por ela também.
Embora, é claro, eu estivesse em êxtase, então eu poderia

facilmente ter me apaixonado por uma maçaneta particularmente
brilhante.
Eu escolho o único lugar vazio, que fica ao lado de James,
e pergunto a ele sobre a mensagem que ele enviou no final
daquela noite. Ainda não tenho certeza se ele estava dando
em cima de mim ou me oferecendo Nicole, mas logo descubro
que foi o último: “Fui abandonada pelo meu pai, então quero a
aprovação de outros homens e faço isso compartilhando
minhas amigas gostosas com eles.”
Suas palavras me surpreendem, e percebo que há mais
no swing do que qualquer coisa que já li sobre isso antes. EU
sempre pensei que, para os homens, o Estilo de Vida era sobre

foder outras mulheres. Mas para caras como James, trata-se
também de mostrar a mulher que eles amam: olha o que eu
consegui. E ela me ama, então devo ter valor.
E se você me tratar com bastante respeito e admiração, eu a
compartilharei com você — mas não muito, porque não quero
perder o controle sobre ela. Isso me faria sentir dor e questionar
meu frágil senso de auto-estima.
Talvez Rick estivesse certo, eu acho que James continua na

corte.
“Se eu fosse gay, ficaria muito feliz”, ele está dizendo, “porque
tudo que eu quero é o amor de outros homens.
Quando Nicole e eu namoramos outra garota por um tempo, a
melhor parte não era o trio, era entrar em um clube com duas
mulheres gostosas e ganhar a admiração masculina.”
De repente, a maneira como os caras jogam suas namoradas

em mim no Bliss faz muito mais sentido. Swap ping é o máximo
em vínculo masculino.
Digo a eles que vou a Paris na semana que vem e pergunto se
eles têm alguma conexão no estilo de vida lá.
“Eles levam isso a um nível totalmente novo em Paris”,
James me diz. “Nossos amigos chamam isso de troca, e não é
realmente uma coisa de casais. É mais aberto do que isso.
Há uma garota na cena com a qual vamos ligar para você.

Ela também é escritora e é linda.”
"Isso seria fantástico", digo a ele. Ao fazer isso, noto
Tommy e Chelsea olhando para mim e sussurrando um
para o outro.
“Não se fixe na ideia de que balançar é sua única
opção só porque é tudo o que você experimentou”, uma
voz calma e autoritária avisa da ponta da mesa. Viro-me
para ver o único convidado do jantar com quem não falei:
uma criatura pálida e afiada com longos cabelos negros,
uma gargantilha preta e olhos suaves e vagos.
Ele se apresenta como Pepper e se identifica como
um gótico queer-friendly que gosta de poli e S&M. Assim
como aconteceu na reabilitação, um rótulo de diagnóstico
parece funcionar como um ímã, atraindo outros até que as
pessoas não possam se apresentar sem parecer que
estão lendo uma lista de compras.
Pepper me disse que seus pais estavam em um
relacionamento aberto. Depois de tentar sem sucesso a
monogamia, ele seguiu seus passos. Hoje ele vive com
sua primária de oito anos, tem duas namoradas secundárias
de quatro anos cada e está namorando quatro amantes terciá
Sua namorada principal tem apenas um outro amante,
que ela quer mudar para a casa, e Pepper está bem com
isso.
Isso é amor na era de ter tudo.
"Então, existem regras específicas que ajudam as coisas a

funcionar para você?" Eu pergunto.
“As pessoas que praticam poli ou qualquer tipo de
não-monogamia há anos tendem a ter intenções em
vez de regras”, ele responde. A distinção ressoa bem
com meu adolescente interior punido. “Para mim, a
intenção é respeitar os parceiros do meu parceiro e não
fazer algo que possa desencadear o ciúme do meu
parceiro.”
“Como você lida com o ciúme quando ele surge?”
“Uma vez que o medo da perda é eliminado, você

supera o ciúme.” Ele fala em um tom monótono quase
acadêmico, com muito pouco sentimento. Talvez a
razão pela qual o ciúme não seja um problema para ele
é que ele não nasceu com uma gama emocional
completa. “Por exemplo, se alguém termina comigo, eu
sei que é porque o relacionamento não está mais
funcionando entre mim e eles. Nunca é porque eles
encontraram alguém melhor, já que o contrato
monogâmico foi substituído por um novo contrato que
não envolve alguém tendo que fazer uma escolha entre
duas pessoas. Eles podem ter os dois.”
"Eu gosto dessa maneira de pensar", digo a ele.
“Mas para pessoas que não cresceram em um ambiente
como o seu, acho difícil mudar o antigo contrato.
Alguns dos meus amigos casados achariam mais fácil trair

do que dormir abertamente com outra pessoa, porque se
a esposa soubesse o que eles estavam fazendo, eles
sentiriam que a estavam machucando.”
“Na verdade, a maioria das pessoas leva alguns anos
para lidar com esses poderosos sentimentos de culpa e
deslealdade”, responde Pepper. “Então, eu diria que a
coisa mais importante para você ao expandir seus
relacionamentos será a comunicação aberta e honesta
com seus parceiros.”
Como quando conheci Lorraine, confio em Pepper
como uma autoridade – mesmo depois de saber que seu
sobrenome é Mint. Ele é um glossário ambulante de termos
que eu nunca ouvi antes. Ele me fala sobre o período de
queima, que é o período de tempo (geralmente dois anos)
que os casais que se abrem para lidar com os problemas
e desafios que ocorrem como resultado disso. Aprendo
sobre as alegrias da não-monogamia teórica, que é quando
duas pessoas dizem que estão em um relacionamento
aberto - mas em vez de realmente dormir com outras
pessoas, elas simplesmente se sentem livres sabendo que
têm a opção de fazê-lo. Há o teste do ciúme, no qual você
passa se for capaz de ter um relacionamento sério com
alguém que está dormindo com outras pessoas ou
apaixonado por outra pessoa. Depois, há a ligação fluida,
que se refere a parceiros que se sentem seguros tendo
sexo desprotegido um com o outro e poder de veto, o que

significa que um parceiro pode pedir a outro para terminar um
relacionamento externo - um acordo que Pep per sente pode
causar mais problemas do que resolver.
Finalmente, há os cansativos caubóis e vaqueiras que entram
na cena polida, namoram o parceiro de alguém e depois tentam
amarrar essa pessoa a um relacionamento monogâmico.
Eu aprendo mais em uma conversa de meia hora com

Pepper do que em toda a conferência de poliamor. Depois do
jantar, agradeço-lhe o conselho e certifico-me de obter o seu
número de telefone.
"É uma pena", comenta Tommy enquanto o jantar
festa se desfaz. “Nós mal tivemos tempo de nos recuperar.”
“Eu sei, mas logo estarei de volta.”
“O que você vai fazer mais tarde esta noite? Pensamos
em dar a você a chance de assistir Chelsea montar o Sy bian,
já que você perdeu em Las Vegas. Ele entrega o convite
casualmente, como se estivesse oferecendo uma tira de
respiração atada com êxtase.
Por mais atraente que Chelsea seja, há algo em Tommy
que me deixa desconfortável. Talvez seja porque ele está
tentando empurrar sua noiva para cima de mim desde a noite
em que nos conhecemos. É o equivalente a alguém
constantemente incomodando você porque quer te dar dinheiro
grátis: depois de um tempo, você começa a
sentir que ele tem uma agenda oculta. Então, novamente, estou aqui para
observar relações alternativas, e esta é definitivamente uma
oportunidade para fazê-lo de perto.
"Eu tenho que dirigir para casa amanhã cedo", eu respondo.
"Vamos ver o que acontece."
O que acontece é que o Tommy se convida
de volta ao apartamento que estou alugando para o fim de semana.
E eu não protesto.
21
Tommy e Chelsea chegam do lado de fora do apartamento em uma

van serial-killer branca quase sem janelas. Depois de estacionar, ele
puxa as pastas e malas que eu vi em seu quarto em Las Vegas. Ele
abre uma pasta para exibir uma coleção de dildos que variam de rosa
médio a preto gigantesco. Há algo sinistro em dois homens parados na
rua à noite e olhando para uma caixa de falos.
“Esses são os brinquedos que você vende?” Peço para quebrar o

silêncio constrangedor.
"Aluguel", ele me corrige.
"Você aluga brinquedos sexuais?"
É possivelmente a pior ideia de negócio que já ouvi. Você teria

que ser um swinger bem destemido para querer um brinquedo sexual
usado que tivesse os sucos possivelmente doentes de alguém por toda
parte.
“Nós os limpamos e desinfetamos após cada uso, é claro.”
"É claro."
Enquanto Tommy explica seu negócio, começo a

entender que ele não está nisso pelo dinheiro. A recompensa
real é que ele é constantemente contratado para participar
de festas de sexo, onde ele se instala como um show de
medicina itinerante, incentivando as mulheres a testar os
brinquedos até que a sala se transforme em uma festa
Tupperware XXX. Seus brinquedos sexuais usados, por mais
nojentos que pareçam, são o equivalente aos pujas de
Kamala: a faísca do gás da antecipação.
Depois de transportar seu equipamento para a sala,
Tommy me diz que está tudo pronto. E é aí que eu percebo:
eu não conheço esse cara. Eu nem sei o quão bem Nicole e
James o conhecem. Em Vegas, o Chelsea disse que era
novo no
cena.
Ele abre uma sacola cheia de gadgets extraordinariamente
não sensuais que parecem ter sido roubados de um
laboratório de pesquisa dos anos 1950. Seu único objetivo,
explica ele, é dar graus variados de choques elétricos aos
masoquistas que procuram um novo tipo de dor. Ele também
tem uma mochila cheia de comprimentos variados de corda
de nylon preta grossa. Todo o conjunto é como algo saído de
um filme de terror. Pelo que sei, posso ter convidado
assassinos em série para entrar na casa. Psicopatas oscilantes.
A joia da coroa de sua coleção é o Sybian.
Com preço de mais de mil e trezentos dólares, é o
Cadillac de brinquedos sexuais. Ele estende um cobertor no

chão como se estivéssemos prestes a fazer um piquenique ou
enrolar meu cadáver nele. Ele cuidadosamente coloca seu
Sybian sobre ela, então cobre a sela com uma pequena
almofada de borracha que tem o que parece ser uma grande
borracha de lápis saindo dela.
De outra pasta, ele retira vários quadrados meticulosamente
dobrados de filme plástico, abre um e o coloca em cima do
bloco. Não tenho ideia se o plástico é uma barreira eficaz contra
patógenos, mas felizmente não vou sentar nele.
Chelsea levanta a saia e monta o Sybian.

“Olha essa bunda!” Tommy me incentiva.
Graças à minha conversa no jantar com James, eu entendo
que esta é a minha deixa para dar a ele a aprovação masculina
que ele precisa. “Uma obra de arte,” digo a ele.
“Você controla.” Ele aponta para uma pequena caixa
quadrada com um mostrador que vai de zero a cem. Ele fica no
chão, preso ao Sybian por um cordão preto.
Lentamente trago o nível de vibração para vinte e cinco e,

à medida que o bloco se move em movimentos mais rápidos e
menores do que qualquer coisa que o dedo masculino é capaz,
Chelsea começa a gemer. O som é um intoxicante.
Instantaneamente, o sangue corre da minha cabeça, onde tudo
o bom senso e a cautela residem, em meus lombos, onde nada

mais que o instinto e o momento vivem.
Enquanto eu lentamente trago o mostrador para trinta, seu
corpo cora e ela inclina a cabeça para o céu como se estivesse
vendo a face de Deus. O que quer que ela esteja sentindo,
estou com ciúmes. Acho que não sou biologicamente capaz de
experimentar esse tipo de prazer — a menos que haja um
equivalente Sybian para homens, talvez algum tipo de aspirador
de pó cheio de gelatina e paredes macias que fica dizendo que
você é o maior e o melhor que existe. já esteve com.
Tommy se ajoelha atrás de Chelsea e massageia suas
costas e ombros, ocasionalmente adicionando um tapa
retumbante em sua bunda. “Por que não trocamos de lugar?”
ele se vira para mim e sugere depois de alguns minutos.
Isso parece ser uma rotina que eles estão executando.
Eles sabem exatamente para onde a noite está indo – e espero
que não seja em nenhum lugar que envolva me amarrar e usar
a coleção de vibradores. Tenho certeza de que esses dois
podem deixar qualquer um sozinho e vulnerável com todo
aquele “Quer ver minha namorada usar um brinquedo sexual
caro?” rotina.
Dou os controles a Tommy e observo enquanto ele chega
a cinquenta. É violentamente rápido, e Chelsea é lançada em
um estado alterado de prazer.
“Você pode tocá-la se quiser.”
Eu cautelosamente esfrego suas costas e braço através de

sua blusa. Ela agarra minhas mãos e as esmaga em seus seios
enquanto o Sybian a leva mais alto.
Tommy diminui a velocidade para que Chelsea possa tirar
a blusa e o sutiã, depois aumenta até cem e os seios falsos de
Chelsea estão disparando como pistões. Eu não posso mais
dizer se ela está gemendo de prazer ou dor. Mas quando Tommy
começa a pedalar novamente, a palavra “mais” escapa da boca
maravilhosamente aberta de Chelsea. A pele de seu rosto e peito
explode com todos os tons de rosa. De repente, sua mão se
lança como uma cobra e agarra minha virilha através do meu
jeans.
Olho para Tommy pedindo permissão para que ele saiba que
o que quer que esteja acontecendo, está sendo feito com respeito
por ele. "Ela é demais para mim", ele responde, balançando a
cabeça como se fôssemos irmãos nesta aventura juntos.
“Uma vez ela veio quatorze vezes em uma noite. É por isso que
eu aprecio o que você está fazendo.”
Apesar de toda a decadência de Vegas, nunca fiz sexo com
a namorada de outro homem na frente dele.
Este está prestes a ser meu primeiro swing de verdade – ou
meio swing.
Depois de mais alguns minutos, Chelsea desmonta e deita
na cama. Tommy pega um pedaço de corda de uma de suas
malas. Eu me afasto apenas para estar seguro e
observe como ele amarra as mãos de Chelsea sobre sua cabeça.
“Você tem alguma luva de látex?” Tommy pergunta depois.
Quando digo a ele que não trouxe nenhum, ele me dá um

preservativo e me diz para colocá-lo no dedo indicador para que eu
possa tocá-la. Este é o amor livre no século XXI. É higiênico,
eletrônico e sanitário.
Depois de um orgasmo manual antiquado, Chelsea pergunta

baixinho, quase mansamente: "Qual de vocês quer entrar em mim?"
"Você não conseguiu ir da última vez, então é a sua vez"

Tommy diz magnanimamente, como se ela fosse um passeio em
um parque de diversões.
"Tudo bem." Eu não deveria estar fazendo isso. Parece
compulsivo, impulsivo, até um pouco repulsivo. Todos os pulsivos.
Eu massageio o peito de Chelsea por alguns minutos, ganhando

tempo. Enquanto ela aperta seus quadris e geme, eu volto ao
momento: Foda-se. Por que estou me segurando de novo? Ele quer
que eu faça sexo com ela. Seria um insulto pessoal para ambos se
eu não o fizesse.
É por isso que eles estão aqui. Além disso, estou tentando ter
relacionamentos livres que não impeçam ninguém desse tipo de
aventura. Isso é exatamente o que eu disse
todos, de Joan a Ingrid, em quem eu acreditava: o sexo como um

fim em si mesmo.
Então eu peço a ele outro preservativo.
“Tudo bem se eu filmar?” Tommy pergunta.
"Não!" Eu grito instintivamente. Essa é a última coisa que
preciso vazar por toda a Internet.
"Por que?" ele pergunta, como se minha resposta não fizesse
nenhum sentido lógico.
“Vamos apenas saborear as memórias.”
Enquanto tento me recuperar, começo a me preocupar que ele
tenha uma câmera escondida em algum lugar.
A tecnologia fica menor e mais fácil de esconder a cada dia.
“Você não está filmando, está?” Eu verifico duas vezes.
"Não senhor", diz ele. “Mas eu tenho gravado áudio.”
Eu pensei que estava começando a entender a cena do swing,

mas isso não faz absolutamente nenhum sentido. O que diabos
ele vai fazer com a gravação de áudio? Jogá-lo no carro em viagens
longas?
"Você pode desligar?"
"Tem certeza? Às vezes eu gosto de ouvir os gemidos.”
Esse cara é uma aberração. Eu absolutamente não deveria

foder a namorada da boneca Barbie dele que está nua na
minha frente.
Então eu abaixo minhas calças apenas o suficiente para
tirar meu pau sem mostrar muita bunda e pele, caso haja uma
câmera escondida em algum lugar, e entro nela.
Enquanto eu entro, Tommy encosta um travesseiro na

parede e fica ali, observando. "Você gosta do jeito que se
sente?" ele pergunta a ela. "Você gosta do jeito que ele está
fodendo você?"
"Mm-hmmm", ela articula.
Presumo que ele esteja tentando se manter envolvido e
no controle de alguma forma. Eu tento sintonizar sua voz,
fechar sua forma da minha visão periférica, me mover mais
rápido e me perder em Chelsea.
"Uau, olhe para você ir!" ele exclama. “É como uma
britadeira.”
Agora ele está comentando a coisa toda como uma porra
de um locutor esportivo. Eu o ignoro e começo a moer meu
osso púbico contra seu clitóris para excitá-la novamente.
"Isso é interessante", diz Tommy. “Eu não vi esse antes.

Esse é o seu estilo?”
Este é um momento terrível para uma discussão sobre
técnica. "Não sei. Apenas improvisando enquanto eu vou.” Isso é
não é fácil foder alguém enquanto tenta manter uma conversa com
seu noivo. É como tentar pilotar uma moto enquanto manda
mensagens de texto.
Tommy fica em silêncio por mais ou menos trinta segundos
abençoados, então ele desamarra Chelsea e anuncia: “Verificação de
camisinha”.
Estou preocupado que ele queira senti-lo para ter certeza de que
ainda está ligado. Então eu me abaixo, confirmo que está
completamente confortável e digo a ele que está tudo em ordem.
"Mostre a ele aquela coisa que você faz com seus quadris", ele
instrui Chelsea, que levanta os quadris e começa a se mover
rapidamente para cima e para baixo ao longo do meu eixo.
Quando eu a viro, o Sr. ESPN diz: “Eu gosto disso.
Essa é boa."
Ele não parece estar ficando excitado assistindo. Ele parece mais
um observador imparcial estudando os hábitos de acasalamento dos
gorilas. E toda vez que mudo de posição, ele faz um novo comentário
como se estivesse à beira de alguma descoberta evolutiva. Espero
que isso não seja narração para uma gravação de áudio.
É hora de puxar a cortina neste show. Eu me forço a gozar,

tomando cuidado para não fazer barulho no caso de Tommy estar
gravando.
Aliviada por ter acabado, eu puxo, removo o preservativo, coloco-
o no chão e deito ao lado de Chelsea.
Enquanto eu acaricio seu cabelo e tento aproveitar o brilho,
Tommy, é claro, fala e estraga o momento. Não consigo

entender as palavras exatamente, mas elas soam como “Vamos
ver o suco”.
“Preciso ver a camisinha para ter certeza
pegou tudo”.
Quero perguntar a ele como ele vai saber se pegou tudo
ou não. Talvez ele tenha uma balança de medição de sêmen
em sua mochila que ele usa para pesar a carga.
Eu procuro a borracha no chão e a seguro para que ele

possa ver. Eu realmente não quero que ele toque no meu
preservativo usado.
"Isso é bom", ele aprova. Coloco-o de volta no chão e rezo
silenciosamente para que ele não o pegue antes de sair e o
coloco em um frasco de formaldeído em uma de suas pastas.
Tommy volta para o lado de Chelsea, a beija suavemente

e diz a ela: “Eu te adoro, querida”.
“Você foi incrível,” eu a elogio – por ele.
Enquanto eles estão deitados lá, eu faço uma conversa de

travesseiro de swinger e pergunto há quanto tempo eles estão
fazendo isso. Eles estão namorando há cinco anos, eles me
dizem. Mas um ano e meio atrás, eles colocaram um anúncio no
Craigslist e selecionaram um cara, então foram até a casa dele e ela
ele um trabalho de mão. Ela deu ao próximo cara um boquete.

Finalmente, eles encontraram um casal de swingers no
Lifestyle Lounge, mas Chelsea ficou doente de ciúmes
enquanto assistia Tommy estuprar outra mulher. Levou uma
dúzia de oscilações até que Chelsea se sentisse confortável
o suficiente para deixar Tommy interagir com outras mulheres
novamente.
A história deles me lembra a de Tahl e Lawrence.
Se você deseja abrir seu relacionamento, é necessária a
etiqueta adequada: as damas primeiro.
Dou-lhes boa noite e convido-os a dormir no sofá-cama,
se quiserem.
Enquanto deito na cama, reflito sobre minhas experiências
com Chelsea, Nicole e seus amigos. Swinging é a melhor
alternativa que vi até agora. E gosto da maneira como alguns
dos casais formam relacionamentos íntimos de longo prazo
com outros casais, tornando-se melhores amigos e amantes.
Mas não sou como Tommy ou James ou Corey Feldman. Eu
não gosto de ver outros caras suando na minha namorada.
Tenho certeza de que há tantos homens que estão no

Estilo de Vida simplesmente por sua própria gratificação e
variedade sexual, e dispostos a tolerar deixar sua esposa
transar com outro homem em troca. Mas se o sexo se torna
apenas um serviço a ser negociado, isso não é liberdade. Isso é
comércio.
Em última análise, balançar é uma relação tradicional

com uma escotilha de escape, uma maneira de experimentar
a estratégia reprodutiva dupla de Helen Fisher sem engano.
Se a monogamia é como só poder comer em casa, como eu
disse a Joan, então balançar é como ter permissão para
comer onde quiser, desde que seu parceiro aprove o
restaurante e coma com você.
Ainda é uma forma de possessão, só que a corrente se

estende alguns metros a mais. Na verdade, se a maneira
como caras como Tommy falam sobre suas namoradas é
uma indicação, os parceiros são tratados mais como posses
do que como monogamia.
Talvez seja hora de criar o mundo que eu quero, em vez
de tentar me encaixar na cena de outra pessoa, ir até o fim
da liberdade, terminar de construir minha casa dos sonhos
de amor livre. Com sorte encontrarei o resto das pessoas
que procuro em Paris. Estou ficando sem tempo: Belle estará
aqui em apenas cinco semanas.
22
Enquanto dirigia de volta para Los Angeles, tento falar com

Charles novamente. Desta vez, ele atende o telefone.
"Você está bem?" Eu pergunto. “Eu estive preocupado com
você.”
"Sinto muito", ele responde em voz baixa e hesitante.
“Eu estive fora da cidade. Meu mundo inteiro virou de cabeça
para baixo e eu tenho tentado entender isso.”
"O que aconteceu?"
“Descobri que minha esposa está me traindo.” Ele
levanta a voz. “Nos últimos doze anos!”
Estou tão chocada que sou incapaz de formar uma resposta
articulada. Estávamos todos tão ocupados tentando reconquistar
a confiança de nossos parceiros na reabilitação que nunca
pensamos em questionar sua integridade.
A história que Charles passa a contar é fragmentada.
Mas da melhor forma que posso juntar, ele estava olhando para
o telefone de sua esposa quando uma mensagem chegou de
um segurança em seu prédio. Dizia: “Eu te dei meu coração por
doze anos”.
Só para ter certeza de que estava interpretando a mensagem

corretamente, ele respondeu: “Uma coisa é certa, nós definitivamente
tivemos um ótimo sexo juntos.”
“Sim”, veio a resposta, “eu sinto falta”.
Procurando mais, Charles mandou uma mensagem: “Você se
lembra da primeira vez que fizemos isso?”
“No seu carro.”
Charles continuou comprando dor: “Isso mesmo, eu chupei seu
pau.”
E o segurança respondeu: “Você não fala assim. Quem é?"
Neste ponto, Charles estava tremendo com uma emoção além

da dor. Ele deixou a conversa de lado e passou obsessivamente pelo
telefone e e-mails de sua esposa. Logo, ele juntou a história por trás:
quase todas as tardes, sua esposa e o guarda estavam saindo para
um encontro na hora do almoço – por mais da metade do casamento.
"Oh meu Deus, como você reagiu?" Eu pergunto. Conheço

pessoas — principalmente viciados em amor — que ficariam menos
magoados se seus cônjuges morressem do que se traíssem.
Eles até prefeririam o primeiro, porque pelo menos não poderiam
levar para o lado pessoal. Mas a resposta de Charles é a última que
eu esperaria.
“O lançamento era impossível de descrever.”
"Porque você estava com tanta raiva?"
“Não, fiquei aliviado!”

"Você está brincando."
“Neil, toda a minha vergonha e culpa simplesmente derreteram de mim.”
Ele faz uma pausa. “Quando ela descobriu que eu tinha uma
recaída, ela me jogou debaixo do ônibus, como se ela fosse
tão pura e perfeita. Ela disse a todos os nossos amigos que eu
a traí de novo e que eu era um terrível viciado em sexo. Ela me
trancou para fora de casa e ameaçou tirar tudo o que eu tinha
e colocou minha própria família contra mim. E eu me senti tão
mal comigo mesmo por tanto tempo.”
Sua voz começa a tremer. “Mas o que ela estava fazendo eu
. . . simplesmente não entendo como ela pode ser tão cruel.”
Eu me pergunto quantas outras pessoas passam por anos

de terapia de vício em sexo e reuniões tentando fazer as pazes,
apenas para descobrir que seu parceiro também está traindo.
Ou pior ainda, eles nunca descobrem e vão para o túmulo
pensando que são pecadores e seu parceiro é um santo. Um
dos infelizes axiomas do comportamento humano é que o que
os outros mais envergonham as pessoas geralmente é o que
eles mesmos estão fazendo em segredo. Afinal, uma acusação
é muito mais poderosa do que uma negação: é uma maneira
de parecer bem quando você está realmente se sentindo mal.
“Então você vai ficar em recuperação?” Eu pergunto.

Há um longo silêncio do outro lado da linha. “Bem, eu saí

por alguns dias com meu patrocinador para me acalmar e
determinar a coisa certa a fazer.” Uma inspiração profunda. “E
eu vou me divorciar.”
Uma longa expiração. “E então eu vou começar a foder alguma
coisa todos os dias.”
Este não é o Charles de quem tenho pena e admiração. É
um lado de Charles que eu nunca conheci. E então eu tenho
a chance de contar a ele uma versão do que ele vem me
dizendo no ano passado: “Isso não pode ser o que seu
patrocinador recomendou. Parece mais com a sua doença
falando. Tome cuidado."
“Neil, sou um homem de cinquenta anos que está livre de
um casamento de vinte e dois anos, metade do qual era uma
mentira total. Eu só quero . . . Não sei. Não sei mais o que é
verdade.” Um soluço pesado explode no telefone, seguido
pelo som abafado de choro.
Algumas pessoas vivem em um relacionamento
interminável de idas e vindas com o controle. Ou eles estão
tentando exercer isso sobre suas vidas – ficando obsessivos
com uma dieta, um sistema de crenças, uma fobia, um hobby,
uma necessidade de ordem, um programa de doze passos –
ou estão completamente fora de controle, fazendo uma
bagunça de suas vidas. E parece que Charles está à beira de
uma confusão. A sombra que ele estava reprimindo se soltou.
E posso me atrasar: o meu também. Mas como qualquer bom tera
vai te dizer, você não deveria reprimir a sombra em primeiro lugar.

É quando coisas ruins acontecem. O objetivo é integrá-lo. E eu
espero que esse seja o caminho que nós dois estamos seguindo.
Quero perguntar a Charles se ele ainda acha que é viciado

em sexo ou se acha que sua esposa é, ou se acha que a doença
era contagiosa e ela a contraiu dele. Mas agora não é hora de
provar um ponto.
“O que quer que você decida fazer”, digo a ele, “certifique-se de
processar primeiro em grupo.”
"Eu vou", diz Charles, sufocando suas lágrimas. “Então, como
você está se sentindo sem Ingrid em sua vida? Voce sente falta
dela?"
É a única pergunta que ninguém fez. E nos momentos de
decadência, conexão e extrema estranheza com os swingers,
consegui não pensar nela. Mas em todos os outros momentos,
senti a presença dela em algum lugar — em minha mente, meu
coração, minha casa, minha consciência.
“Constantemente,” digo a ele.

23
Para onde quer que eu olhe enquanto viajo para Paris, vejo
jovens casais empurrando crianças adormecidas em
carrinhos, carregando bebês embrulhados em cobertores
em seus braços, correndo com bebês em mochilas de super-
heróis. Cada família me faz pensar em Ingrid e no futuro
que arruinei. Eu me pergunto o que Ingrid está fazendo,
com quem ela está fazendo, e se ela está mais feliz vivendo
sem meus olhos errantes e meu coração ambivalente. Um
dos muitos perigos do rompimento é que leva anos não
apenas para encontrar o amor novamente, mas para
descobrir se ele é real, estável e sustentável.
Em Paris, porém, tudo vai mudar. Vou encontrar o resto
da minha cápsula. E talvez, assim como vários traumas
pequenos somam um grande T trauma, vários pequenos
amores podem somar um grande amor L.
Primeiro, há Ana. Ela está esperando no quarto do hotel
quando eu chego. Ela é esbelta e tonificada, com cabelos
loiros sujos na altura dos ombros, maquiagem mínima e
roupas de menino. Quando me aproximo dela, ela olha
profunda e silenciosamente para mim com olhos castanhos trêm
olhos. Dou um passo em direção a ela, afasto seu cabelo e

nos beijamos.
Nós nos despimos. Vá para a cama. Fazer amor. Colher.
E então ela diz saudação. É a primeira palavra que trocamos.
Depois, há a amiga de James e Nicole, Camille.

“Oi Nil. Vou conhecer minha amiga Laura, que é americana
como você”, ela manda uma mensagem. “Ela quer ir a um
grande clube de troca e eu prometi que teria problemas com
ela. Você quer vir conosco?"
"Tudo bem se eu estiver com um encontro?"
“Despeje a garota. Haverá muitas datas para você lá! E
todos eles querem fazer sexo :)”
Este clube de troca soa como uma mina de ouro de
mulheres solteiras de mente aberta. O único problema: quero
trazer Anne.
“Se você tiver que trazê-la, use a técnica 'Vamos apenas
tomar uma bebida e assistir'”, Camille cede.
“Foi assim que meu namorado me colocou lá em primeiro
lugar, e olhe para mim agora! O clube é de Mont Martre. Me
ligue depois do jantar.”
No meu relacionamento no ano passado, meu credo era
dizer não. Só dizendo não aos outros eu poderia proteger o
coração de Ingrid. Mas agora estou dizendo sim — a todos, a
tudo, à vida. Porque todo sim é a porta de entrada para uma
aventura. O que quer que eu esteja dirigindo
em direção, é uma relação que opera a partir de um lugar de sim.
No jantar daquela noite, faço exatamente como Camille me

instruiu. Anne e eu estamos com duas mulheres que conheci em uma
turnê de imprensa pela Europa alguns anos antes: uma fotógrafa de
moda alemã e uma estilista sueca. Eles passam a maior parte da
refeição fofocando sobre pessoas que eu não conheço.
“Nós não temos que fazer nada,” eu explico para Anne. "Vamos
apenas planejar tomar uma bebida e assistir, e podemos sair
imediatamente se for manco."
"Estou um pouco cansada", ela responde, sua voz quase
inaudível. Ao longo do dia, ela mal falou.
Em vez disso, ela se apegou a mim energicamente, olhando para mim
quase constantemente com olhos grandes, vulneráveis, mal piscando.
Tenho a sensação de que ela quer algo de mim ou já pode estar
recebendo de mim. “Tudo bem se eu voltar para o hotel?”
“Podemos vir?” os fashionistas interrompem.

“Você pode ir com eles se quiser,” Anne me diz suavemente.
É difícil ler Anne. Não tenho certeza se ela está legitimamente

cansada ou apenas desconfortável com a sugestão. — Tem certeza
de que está tudo bem eu ir?
"Eu não me importo", ela responde.
Eu estudo seu rosto para ter certeza de que ela é sincera,

que não é um teste para ver se vou escolhê-la. Ela parece
plácida e despreocupada. Peço mais três vezes só para ter
certeza.
"Ela disse que você poderia ir!" o fotógrafo alemão estala
para mim.
Sim, ao que parece, não é um princípio fácil de se viver.
Eu me pergunto por que, depois de conhecer Anne por apenas
um dia, já sinto que é errado fazer isso sem ela.
Talvez o problema não seja que as pessoas com quem
namoro queiram me possuir, é que depois do sexo eu dou a
elas a propriedade por culpa. Estou repetindo um roteiro de
enredamento, patologicamente acomodado à monogamia. Se
eu realmente acreditasse que a possessão sexual era errada
e agisse de acordo, eu não teria concordado em um
relacionamento exclusivo com Ingrid em primeiro lugar e teria
poupado muito sofrimento para nós dois. Na vida, quem tem a
realidade mais forte vence.
Perca sua certeza moral e perca o terreno em que está.
Deixamos Anne no hotel, ela me dá um beijo profundo e

vai embora. É um bom sinal: deixar seu amante ir a um clube
de sexo sozinho é na verdade uma façanha de mente muito
mais aberta do que ir com ele. Enquanto o táxi acelera, a
fotógrafa alemã enlaça seu braço no meu.
Estou determinado a não estragar esta orgia como todas as

outras. Meu estômago está cheio, então não vou comer pipoca. E
não toquei em uma única substância que altera o humor, nem
pretendo. Até cortei as unhas.
Chegamos ao clube pouco depois da meia-noite. Eu localizo

Camille instantaneamente. Ela tem longos cabelos castanhos
dignos de um comercial de xampu e pele tão lisa e impecável que
uma metáfora para um objeto inanimado, como uma pérola,
dificilmente faria justiça.
Ela está de pé com duas outras mulheres: Laura, sua amiga
americana, que parece uma vela acesa — longa e estreita, com
um terninho branco e uma mecha de cabelo loiro curto. E Veronika,
uma beleza altiva de Praga com lábios como almofadas cilíndricas
de sofá, cabelos castanhos esvoaçantes, nariz superdesenvolvido
e um corpo alto, magro e sensual que me lembra a atriz Jane Birkin.
“Temos que colocar roupões ou toalhas quando entrarmos?”

Pergunto a Camille, sem saber qual é o protocolo para lugares
como este.
Camille me olha como se eu fosse louca. “Não, nós apenas
vestimos nossas roupas.”
Isso é um alívio. Apesar do meu desejo de ser aberta, evoluída
e livre de vergonha sobre sexo, ainda não estou totalmente
confortável com a visão do meu próprio corpo.
A primeira vez que fiz sexo, fiquei com vergonha de tirar a

camisa. E a segunda e a terceira vezes também.
Atrás de nós na fila, há um francês com um terno brilhante

e cabelo penteado para trás. Ele parece um empresário obscuro
que cheira muita cocaína.
"Já que você tem tantas garotas, tudo bem se eu for com você?"
ele pergunta.
O clube tem uma regra que todos os machos devem entrar
com uma fêmea – e eu estou lá com cinco deles como um
glutão. Acho que era disso que eu sentia falta quando estava
namorando Ingrid: opções, variedade, aventura, descoberta,
novidade, o desconhecido. Como diria Lorraine, intensidade.
“Eu não sei,” digo a ele. “É a minha primeira vez aqui.”
Enquanto esperamos, Camille e Laura discutem sobre

compartilhar brinquedos, ou seja, meninos. “Seu namorado
vem?” pergunto Camila.
"Não."
— Ele sabe que você está aqui? Estou pedindo para não
julgá-la, mas porque estou curioso para saber como funciona o
relacionamento deles.
"Não." Ela sorri com culpa. Claramente, ter um relacionamento
aberto não é cura para a infidelidade. Primeiro Nicole, depois a
história de Sage sobre seu ex-namorado, agora
Camila. Talvez o problema com a maioria dos relacionamentos

seja que as regras começam a se tornar mais importantes do
que os valores que deveriam ser.
representando.
Eventualmente, dois dos brinquedos de Camille chegam, ambos em
jaquetas de grife e gravatas skinny. Eles apresentam
eles mesmos como Bruno e Pascal. Bruno parece um
atleta universitário de corte limpo, enquanto Pascal, com
óculos de armação fina, cachos apertados e lento, bem-educado
gestos, parece um dândi intelectual.
Ao contrário da multidão altamente sexualizada em Bliss, o
homens e mulheres aqui não são divorciados guerreiros de
fim de semana vestidos como estrelas pornô. Além do
empresário de cabelo liso atrás de nós, eles são todos jovens,
quadril, bem vestido e sem silicone. Eles não parecem
muito diferente do que a multidão fora de um exclusivo
Boate. Evidentemente, depois de uma noite na cidade, eles
venha aqui para a sobremesa. À medida que a linha começa a se mover,
Laura fica com pena do cara liso e o convida para
entre com ela.
“Você sabe como posso dizer que essas pessoas são
bárbaros?” o fotógrafo alemão diz a ela
amigo. “Olhe para os sapatos deles. Eu não desejaria um único
par no meu pior inimigo.”
Parece que cometo um erro crítico em cada orgia,
e os fashionistas podem ser os arruinadores dessa orgia. Mas
é tarde demais para escapar deles: estamos sendo deixados

entrar.
Quando entramos, uma recepcionista nos pede para
checarmos nossas jaquetas (o que por algum motivo leva a
risadinhas das fashionistas), depois me dá um cartão que
ela explica que servirá como minha conta da noite. Veronika
tira o blazer para revelar um vestido folgado e sem costas
que, quando seu passo é longo, a deixa presa. "Ela será
minha primeira transa hoje à noite", Pascal me diz com
confiança enquanto eu olho em silêncio para a extensão
bronzeada das costas de Veronika.
Descemos as escadas para uma pista de dança vazia e
mal iluminada, pontilhada de bastões de stripper. As cerca
de vinte pessoas na sala estão aglomeradas contra um bar,
bebendo suas inibições. "I Kissed a Girl" de Katy Perry está
tocando. Parece tão . . . óbvio.
No final da ante-sala, há uma porta preta que leva à
diversão. Depois que seus amigos entraram nos quartos
atrás dele, Camille pega minha mão e se oferece para me
mostrar o lugar. “E meus amigos?”
Eu pergunto.
“Eles vão ficar bem. Você está vindo ou não?"

Olho e eles parecem imersos em uma conversa
sarcástica, escondendo seu desconforto aumentando sua
arrogância. Eu deveria convidá-los para se juntar a nós,
especialmente desde que os trouxe aqui. A última coisa que eu
quero fazer, no entanto, é andar pela orgia com eles fazendo

comentários irritantemente altos sobre como as técnicas sexuais
de todos estão tão no ano passado.
Sinto-me culpado por deixá-los para trás, assim como deixei
Anne para trás. Mas eu digo: “Sim”.
24
Atrás da porta preta, Camille e eu vagamos lentamente
por salas de estar rebaixadas e pequenos aposentos com
vigias, todos em uso abundante, até chegarmos a um
espaço que consiste apenas em uma cama enorme e uma
passagem estreita ao longo da parede da frente.
A maioria das mulheres na megacama está
completamente nua, enquanto os homens ainda estão
vestindo camisas sociais, gravatas e calças. No entanto,
suas calças estão todas abertas ou abaixadas e seu lixo está
Os paus estão por toda parte. Mesmo os caras que não
estão com mulheres estão andando pela sala com pênis
expectantes balançando no ar caso alguém precise deles.
Eu sou o único cara que está fechado. Até Bliss, eu
raramente tinha visto um cara nu antes. E aqui, com mais
pessoas em menos espaço, parece um poço de cobras.
No canto inferior direito da cama, Laura está de quatro

com o vestido para cima. Bruno sai dela e estaciona na
boca de Camille enquanto Pascal, fiel à sua palavra, fode
Veronika contra a parede. Ela é
de pé, de frente para a frente com uma perna levantada e o

rosto corado, numa pose que, se fotografada, incitaria um
milhão de noites pegajosas.
Não sei o que fazer, como me envolver, ou quais são as
regras. Pelo menos James e Nicole explicaram o que estava
acontecendo na Bliss e fizeram questão de me incluir. Mas
aqui é muito mais extremo: o mais próximo de um vale-tudo
que eu já vi.
Sento-me no espaço vazio do colchão na frente de Laura,
que ainda está posando sobre as mãos e joelhos na
expectativa. "Obrigado por me deixar vir aqui com vocês",
digo a ela, porque sinto que preciso dizer alguma coisa.
"Esta é a sua primeira vez em um clube de troca?" ela

pergunta astutamente. Este é provavelmente o lugar mais
estúpido que eu tentei conversar desde a última orgia.
"Bastante."
Enquanto estamos conversando, o empresário assustador
de fora do clube se materializa atrás de Laura e acaricia sua
buceta. Então ele passa por baixo dela como se estivesse
consertando um carro e começa a comê-la.
"Isso é legal com você?" Eu pergunto a ela. "Eu posso dizer a
ele para parar se você não estiver confortável." Lá vou eu de novo:
cuidando das necessidades de todos, menos das minhas.
"Isso é tão americano de você dizer", ela ri.
"O que você quer dizer? Como é isso americano?” Eu nem

entendo o comentário: ela mesma é americana.
“Ninguém nunca me perguntou isso antes.”

“Mas eu pensei que talvez—”
“Eu só quero um pau em mim.”
Esse é o tipo de mulher com quem fantasiava na adolescência:
uma mulher indiscriminada. E mais do que os pujas e Bliss, isso
parece sexo de graça – porque não há bagagem espiritual,
bagageiro de drogas ou mesmo muita bagagem de relacionamento
em torno disso.
Na verdade, não há bagagem ou ônus, apenas partes do corpo
que se cruzam aleatoriamente. E agora que estou no meio disso,
estou apavorado. É tão chocante. . . abrir.
Não é a sociedade que nos retém, somos nós mesmos.

Nós apenas culpamos a sociedade porque não só é mais fácil, mas
é um peso quase impossível de se mover. Dessa forma, não
precisamos realmente mudar. Achei que estava lutando contra o
sistema, mas tudo o que tenho feito é lutar contra mim mesmo:
primeiro minhas compulsões, agora minhas inibições.
Enquanto isso, o cara de cabelo liso para de lamber

Laura e parece estar indo para um home run.
"Você pode ter certeza que ele coloca uma camisinha?" ela
pergunta.
"Ok", eu respondo com entusiasmo, grata pela oportunidade.
Tenho um trabalho a fazer agora. Uma proposta. Eu sou

a polícia do preservativo. Eu o observo cuidadosamente para
ter certeza de que ele coloca a borracha. Então eu me
preocupo que eu estou assustando ele. Mas não serei
desviado do meu dever muito importante: sem proteção, sem
serviço. Isso mesmo, senhor, role até o fim. Caso contrário,
vou ter que lhe pedir para sair da cama.
"Está ligado", digo a ela com um ar de autoridade.
Enquanto ele empurra dentro dela, o rosto de Laura
balança mais perto do meu. Agora é minha chance, eu acho,
e começo a ficar com ela.
E é aí que eu percebo: ninguém mais aqui está dando uns
amassos. Quantos paus ela teve nessa boca esta noite?
Então eu me afasto. É hora de dizer sim e descompactar.

Eu me ajoelho para que minha virilha fique no nível da cabeça
dela. E com certeza, o poder do pau bem na frente da cara é
forte demais para negar. Ela o pega em suas mãos, guia-o em
sua boca e começa a chupar.
Eu percebo que isso é muito grosseiro, mas a história se

passa em um clube de sexo. O que mais devo descrever? Os
lustres? Não há nada acontecendo aqui além de sexo.
"Do que você gosta?" Laura faz uma pausa para perguntar.
Boa pergunta. Eu gosto disso. O que é melhor do que um
boquete? Ou ela quer instruções mais específicas? Talvez eles
tenham nomes para diferentes boquetes aqui - o spit-shine, o
round-the-world, o americano confuso.
Como qualquer coisa, suponho que a liberdade sexual seja

uma arte aprendida. Eu ainda preciso de mais experiência para
ficar confortável.
De repente, vejo a cabeça de Pascal aparecer sobre a minha.
Ele sussurra em meu ouvido: "Veronika quer você."
É música para meus ouvidos, especialmente porque as coisas
com Laura parecem estranhas. Eu sei que ela tem uma atitude
de qualquer galo, mas eu tenho uma suspeita de que meu pau
não está bem.
Quando o empresário termina, Laura foge. Mas em vez de
Veronika aparecer, Ca mille se ajoelha na minha frente e toma o
lugar de Laura com mais entusiasmo. Não estou totalmente
presente porque fiquei preso na parte superior da cabeça, então
olho ao redor da sala e noto uma mulher de aparência exótica
deitada na minha frente. Eu pego sua mão e começo a massageá-
la, e ela massageia minha mão de volta. Eu movo minha mão
entre suas coxas e começo a brincar com ela. Ela está encharcada.
Ainda bem que cortei minhas unhas.
Estou começando a ficar confortável aqui. Finalmente, sou

realmente parte de uma orgia – acordado, aceito, vivo. Eu me
ergo e olho ao redor. Todo mundo está fodendo e chupando.
Talvez meus desastres anteriores nas cenas de swing e

poli tenham sido realmente experiências necessárias para me
sentir confortável nessas coisas, aprendendo lições no caminho
para o domínio da orgia.
De repente, ouço a voz de um cara exclamar em voz alta:
“Tu es sur ma jambe”.
Quase todos na megacama começam a rir.
Evidentemente estou ajoelhada na perna de um cara. Eu
deslizo para fora do seu caminho e percebo Veronika
rastejando em minha direção no colchão. Eu bebo em seu
amálgama único de beleza devastadora e inocência estranha,
e eu instantaneamente endureço.
Eu fico com ela apaixonadamente. Não sei por que
continuo tocando os lábios imundos das pessoas, mas anseio
a intimidade e a conexão mais do que o sexo anônimo. Talvez
eu seja poliamoroso - porque não é apenas sexo livre que
estou procurando, é romance livre, conexão livre,
relacionamentos livres, ficar nu de graça com alguém-que-
você-gosta-e-que-goz-de-você-e então- conhecer-se-ainda
melhor depois.
Eu realmente preciso gargarejar com Listerine quando sair deste

lugar.
Enquanto isso, Bruno apareceu do nada e começou a fazer sexo
com a exótica
mulher.
Eu me afasto e olho para o rosto de Veronika, e ela morde o

lábio inferior em resposta. Há tanto calor entre nós e acabamos de
nos conhecer. Espero que não seja porque ela foi abandonada pelo
pai.
Eu corro um dedo em seus lábios e ela o suga em sua boca
e. . . oh Deus, eu sinto que estou prestes a. . .
Mas eu não quero que isso acabe, então eu saio da boca de
Ca mille.
"Deixe-me chupar você!" ela implora.
Esta é a melhor noite da minha vida.
A cena nesta cama é basicamente o que os mártires muçulmanos
são prometidos na vida após a morte, exceto com virgens. Mas o
paraíso é aqui. Agora.
Finalmente entrei no mundo sobre o qual tenho lido em revistas
pornográficas e assistido em filmes adultos desde a puberdade.
Assim como as mulheres são treinadas pela mídia e pela sociedade
para procurar seu príncipe encantado, os homens são condicionados
a procurar sua puta desagradável. Não para um casamento, mas
apenas para uma aventura. Ambos são contos de fadas, mas um
Príncipe Encantado é quase impossível de encontrar, porque é uma
vida inteira
ilusão para sustentar. Leva apenas alguns minutos para desempenhar o

papel de vagabunda desagradável.
A única coisa que me impede de desfrutar plenamente deste paraíso
sexual é a culpa: que Anne está no hotel preocupada, que as fashionistas
estão com raiva, e porque estou gostando tanto disso, significa que sou
uma viciada em sexo, como é todo mundo aqui. Os conselheiros da
reabilitação realmente fizeram um número na minha cabeça. Eu
costumava me preocupar apenas com doenças sexualmente
transmissíveis, mas elas transformaram o sexo em uma doença.
E agora, sempre que estou me entregando ao prazer, ouço a voz de

Joan no fundo da minha cabeça me dizendo que estou evitando a
intimidade.
Assim como prometi a Rick que faria o tratamento de vício sem
dúvida, preciso entrar em liberdade sem culpa. A resposta ficará clara
com o tempo: ou chego ao fundo do poço, como Charles previu, ou
encontro uma solução que funcione para minha vida, como espero. Eu
preciso sair da minha cabeça e estar presente para essa experiência. E
para lembrar por que estou aqui: não para fazer muito sexo, mas para
encontrar minha orientação de relacionamento e parceiros que pensam
como eu.
Quando meus olhos encontram os de Veronika novamente, noto um

pau pendurado na minha visão periférica como uma nuvem cobrindo o
sol. Seu dono me diz em um francês grosso
sotaque, "Todas as garotas aqui, elas estão chupando seu pau."
"Eu acho."
"Você gosta de ter seu pau chupado?"
Parece uma pergunta óbvia, mas eu respondo assim mesmo:
“Sim”. Eu tento não fazer contato visual. Esta conversa
definitivamente não está ajudando meu poder de permanência.
"Você gostaria que eu chupasse seu pau?"

“Ah, não, obrigado.” Não sei porque, mas o local
parece exigir polidez. "Estou bem."
Suponho que se eu tecnicamente quisesse liberdade total,
eu o deixaria ir para a cidade. Mas, eu percebo, o objetivo não é
a anarquia sexual. É que eu quero que as regras em torno da
minha sexualidade sejam auto-impostas, não impostas externamente
Essa é a principal diferença — talvez em tudo.
O objetivo, então, é a liberação: ser o mestre do meu
orgasmo. Não quero que meu parceiro seja dono disso, o que
seria monogamia, mas também não quero que o ou gasm seja
dono de mim, o que seria um vício.
Meu novo admirador inadvertidamente me deu um presente.
Embora ele não diga mais nada, continuo vendo seu pau - no
meu lado direito, depois no meu esquerdo, depois um pé acima
de mim - como se ele esperasse que, apenas balançando-o ao
meu redor, em algum momento eu decida para mostrar meu
apreço. Parece que é assim que as coisas
trabalho aqui. Talvez seja aqui que todas as mulheres que

realmente gostam quando os caras mandam fotos de seus
paus.
Uma Valquíria com longos cabelos loiros e seios de
mísseis sobe na cama com o namorado. Eu olho para ela
para voltar ao espírito da orgia.
Ela segura meu olhar. Mas antes que eu tenha a chance de
fazer algo sobre isso, Bruno aparece do nada e começa a
fodê-la.
Eu não sei como ele faz isso. Esta deve ser sua décima
mulher. De repente me lembro que Camille esteve lá embaixo
me chupando por meia hora seguida. Coloco uma camisinha,
me deito e a coloco em cima de mim.
Camille me monta enquanto Veronika se posiciona sobre

meu rosto. Estou sufocado em mulher. Se isso está
acontecendo agora porque minha mãe me sufocou, então eu
devo a ela um sério obrigado.
De repente, uma voz alta e condescendente em alemão
enche a sala: “Onde ele está?”
Eu inclino minha cabeça para trás e vejo uma imagem
de cabeça para baixo das fashionistas de pé contra a parede,
olhando para a massa de corpos.
“É típico dele fazer isso com a gente!”
Eu tento me proteger debaixo das mulheres para que os
fashionistas não me vejam.
“Vamos embora sem ele.”

Suas vozes cortam a sala, matando toda a sexualidade em
seu caminho.
"Tão egoísta."
Por um milissegundo, considero parar. Eu provavelmente
deveria voltar para o hotel e verificar Anne de qualquer maneira.
Então eu penso: Não. Isso é incrível. Eu não quero parar com

isso. Então eu sou egoísta. Deixe-me ser egoísta. Eles podem sair
e eu vou lidar com isso mais tarde. Estou aprendendo a cuidar de
minhas próprias necessidades para uma mudança.
Em momentos como esses, a verdadeira natureza da alma é
revelada.
“Vamos trocar”, sugere Veronika. Afinal, este é um clube de
troca, então eu saio de Camille para que ela possa trocar de lugar
com Veronika. No entanto, assim que o orifício inferior do Ca mille
estiver livre, Bruno está lá. O cara nunca perde uma oportunidade.
Tenho certeza que ele é um grande empresário no mundo exterior.
Veronika desliza seu corpo sobre o meu, sua pele roçando

minha roupa, suas costas arqueadas para que possamos ver o
rosto um do outro. Troco de camisinha e entro lentamente nela.
Nós nos movemos um contra o outro sensualmente.
O tempo desacelera. Saímos de sincronia com o resto do clube e
entramos um no outro.
Eu olho profundamente para o mundo nos olhos de Veronika

e ela nos meus – e parece amor. Não o amor que é um
pensamento que vem com expectativas de compromisso e medo
de abandono, mas o amor que é uma emoção que não exige e
não conhece medo. Eu encontrei, por um momento, amor em um
clube de swing.
O sexo conectado é uma experiência espiritual, mas não da

forma como os polis do Tantra o descrevem. É espiritual porque
é uma libertação do ego, uma fusão com o outro, uma
desincorporação nos átomos que vibram ao nosso redor, uma
conexão com a energia universal que se move através de todas
as coisas sem julgamento ou preconceito.
Assim, o orgasmo é a única prática espiritual que une quase

todos no planeta, e talvez seja por isso que haja tanto medo e
bagagem em torno dele. Porque acertaram tanto na reabilitação
quanto no puja: é sagrado.
E cada orgasmo. É em si um ato de fé. Uma tentativa de

chegar. E só por um momento. Alivie nossa separação. Fuja do
tempo. E tocar a eternidade. E sim!
Enquanto ela encharca o colchão, eu encho o preservativo.

Não só encontrei o amor em uma orgia, acho que encontrei a
iluminação.
25
"Devemos ir tomar uma bebida?" Eu pergunto a Veronika enquanto
escorregar da cama. O que realmente deveríamos tomar é um
banho.
“Preciso de um cigarro”, diz Camille, rastejando para longe de
Bruno, que foge rapidamente, sem dúvida procurando outra
oportunidade de negócio.
De volta ao salão, não sinto mais culpa. Não sobre a
experiência, que foi incrível. Não sobre Anne, que é responsável
por suas próprias decisões. Não sobre os fashionistas, que optaram
por permanecer separados de todos e provavelmente estão de
volta ao hotel falando merda sobre como a marca de nascença na
minha bochecha esquerda parece um símbolo falso da Gucci ou
algo assim.
Subimos as escadas até uma sala de fumantes, e

Veronika e eu finalmente temos a chance de conversar. É
como o encontro perfeito ao contrário: primeiro faça sexo,
depois se conheça.
Ela é uma estudante de pós-graduação em artes visuais com
uma veia ferozmente independente, uma paixão por aprender
coisas novas e uma leve melancolia usada sob a pele para

isolamento. Ela fala com um forte sotaque tcheco, cortante e
direto. Há uma frieza nisso que provavelmente vem de
gerações de ancestrais que congelaram e morreram de fome
e sofreram e sobreviveram contra todas as probabilidades
para que ela pudesse estar aqui hoje, fodendo um bando de
estranhos em um clube moderno de Paris.
“Foi a minha primeira vez”, ela me diz. "Eu gostei."
"Quer dizer que você não esteve aqui antes?"
"Não. Estou visitando um cara em Paris. Eu disse a ele
que só viria como amigo, mas quando eu não quis transar
com ele, ele ficou bravo. Camille mora na casa ao lado,
então ela disse que me levaria para sair hoje à noite sem ele.
"Você não quer dormir com ele, mas você fez sexo com
todos esses caras aleatórios?"
“Isso é para a experiência. Esse cara é muito insistente.
Ele ameaçou me expulsar quando eu não o beijaria hoje.
“Se você quiser, pode ficar comigo. Estou aqui por mais
alguns dias.”
"Eu gostaria disso", diz ela, sem sorrir, mas sorrindo.
Enquanto continuamos falando, lembro-me de uma frase de
uma música clássica dos anos sessenta: “Eu poderia estar
apaixonado por quase todo mundo / acho que as pessoas
são a maior diversão”.
E é isso que estou descobrindo desde que saí do In grid. Seja

Nicole ou Sage, Anne ou Veronika,
cada mulher é um mundo maravilhoso para si mesma. E
monogamia? É como escolher viver em uma única cidade
e nunca viajando para experimentar a beleza, a história e o encanto
de todos os outros lugares únicos e maravilhosos do mundo. Por que
o amor tem que
nos limitar?
Talvez não. Só o medo é restritivo. O amor é
expansivo. E eu me pergunto, já que o medo do enredamento
nos impele a evitar o compromisso e o medo do abandono nos torna
possessivos, que tipo de
relacionamento pode emergir uma vez que essas feridas são
curado?
Pela primeira vez, Ingrid está começando a recuar em
minha mente, para se tornar uma bela lembrança, um
comovente vítima da minha tentativa equivocada de
monogamia. Na minha frente, um mundo de infinitas possibilidades
relacionais e sexuais está se abrindo. Atras do
mim, uma luta está terminando. Mesmo que alguém seja seu
combinação perfeita, é improvável que funcione se seus valores
principais forem diferentes.
Quando Veronika menciona um documentário que viu
recentemente chamado The Workshop, sobre um retiro em
quais participantes ficam nus e fazem sexo em grupo para
curar sua vergonha e encontrar a iluminação, decido contar a

ela sobre a casa poli que estou montando.
"Isso parece divertido", ela responde e descansa a cabeça
no meu ombro. "Eu estaria interessado em tentar isso com
você, dependendo de quando você fizer isso." Meu coração dispara
Se as coisas derem certo depois de passar mais tempo juntos,
talvez eu tenha um V.
O resto dos amigos de Camille logo aparecem e nos
separamos do lado de fora do clube, todos trocando números.
Quando volto ao hotel, Anne me abraça — não com medo,
alívio, ciúme ou preocupação, mas com aceitação. Ela se
aninha alegremente em meu ombro e sussurra: “Quero ser uma
mulher experiente”.
E é aí que percebo que fiz isso: estou vivendo em um
mundo de mulheres liberadas e sexualidade livre. Está se
tornando meu estilo de vida. Minha realidade. Estou encontrando
minha tribo.
Agora é hora não apenas de fazer sexo com vários
parceiros, mas também de construir relacionamentos íntimos
com eles. Hora de descobrir se esse modo de vida é realmente
sustentável para mim e pode levar a um tipo melhor de amor,
um tipo de família mais forte e uma sensação mais plena de
felicidade.
26
No fundo de nossa natureza, somos forrageadores. E a
vida é um processo de reunir os recursos que precisamos
de um planeta grande e conectado. Está tudo lá fora: cada
cor, tonalidade, sabor e mutação de vida e experiência. O
que quer que estejamos procurando, encontraremos — se
não nos encontrar primeiro. No entanto, o resultado não
será o que procuramos conscientemente, mas o que
procuramos inconscientemente.
E assim o que queremos nunca será nada parecido com o
que esperamos. É a lei da forrageadora: você pode encontrar o
arbusto da baga, mas não pode controlar sua produção.
Saio de Paris com planos de morar com três amantes:
Anne, que estava muito feliz com a perspectiva de se
reencontrar tão cedo; Veronika, com quem passei três
dias felizes em Paris depois que Anne partiu; e Belle, que
manteve contato constante esse tempo todo. Eu havia
conhecido cada um deles em circunstâncias aventureiras
que correram bem, então não demorou muito para eles
concordarem em continuar a aventura.
Eu me pergunto como Shama Helena chamaria esse

relacionamento. É muita gente para um V. Eu acho
seria um quadrilátero — ou um W de uma perna só, talvez um pé
tridáctilo. Seja qual for
esquina
o caso,de
estou
observar
animado
relacionamentos
para finalmente
não-virar a
monogâmicos para estar neles.
Já que estou caminhando para o desconhecido, faço o meu melhor

preparar. Eu falo com as três mulheres quase
diariamente depois de retornar a Los Angeles, conhecendo
eles melhor. E a cada mensagem e chamada, a conexão cresce e
floresce. Tem a sensação de um novo
romance, cheio de esperança e expectativa, imaculado
pela realidade. É claramente prematuro morarmos juntos,
e é por isso que concordamos em experimentá-lo por duas semanas
inicialmente para ver como fica. É uma pena que eu estraguei as coisas
com Sage, porque ela é a única mulher que eu fui
com até agora quem tem experiência em um relacionamento de grupo
como este.
Porque a pousada que alugo é muito pequena para
quatro pessoas, eu chamo o dono do grande, dilapidado
casa na árvore que eu olhei com Rick quando eu estava namorando
Ingrid. Infelizmente, não está disponível, então eu procuro
para outras opções, mandando fotos dos meus lugares favoritos para
as meninas.
“Por que você não faz isso aqui em São Francisco?”
Nicole sugere quando eu a informo sobre meus planos.
“Não há lugar no mundo mais tolerante a relacionamentos

alternativos. Todos aqueles livros sobre poliamor que você
está lendo — a maioria desses autores mora aqui. E posso
colocar você em todas as festas subterrâneas.
Nicole tem sido minha Beatrice nesse novo paradigma e

ainda não me decepcionou. Acho que ela gosta de assumir o
papel de guia turística de relacionamentos alternativos para
novos recrutas. Então eu concordo em tentar esse novo
relacionamento em algum lugar novo.
Alguns dias antes de Belle, Anne e Veronika chegarem,
encontro um aluguel de temporada com preço decente perto
de Fisherman's Wharf. É um apartamento de dois andares
com três quartos, o que permitirá que cada uma das minhas
amigas tenha seu próprio quarto, armário e banheiro. O ideal
é que as mulheres construam relacionamentos correspondentes
umas com as outras e todos nós acabaremos dormindo no
mesmo quarto. Mas na pior das hipóteses, posso simplesmente
passar a noite com cada um separadamente em uma rotação
regular, que é presumivelmente como a maioria dos polígamos
faz.
Veronika está programada para chegar primeiro; O avião
de Belle aterrissa sete horas depois; e na tarde seguinte, Anne
chega à cidade.
Então, é com igual espanto e ansiedade que espero
Veronika no aeroporto, preparando-me para
transformar o que parecia uma fantasia de relacionamento

impossível em uma realidade diária. Eventualmente, eu a
vejo sair da alfândega. Ela é cinco centímetros mais alta do
que eu e provavelmente 15 quilos mais leve, usando salto
alto, jeans skinny, uma camiseta amarela apertada e a
tristeza comovente que nunca sai de seus olhos. Seu
sotaque corta forte e sedutor a multidão, com r's trinados
que me fazem pensar em um espião da Guerra Fria.
Três horas depois, estamos deitados na cama, satisfeitos

na luz da tarde de São Francisco, tendo uma conversa pós-
coito sobre linguagem corporal. Eu tento tirar uma foto
instantânea do momento em meu coração para que eu
possa me lembrar da sensação emocionante de ter passado
de estranhos a amantes para parceiros domésticos em
questão de semanas. Se eu tivesse ficado com Ingrid, eu
nunca teria experimentado isso.
Meu telefone apita com uma mensagem de Anne, que
diz que está fazendo as malas e ansiosa para me abraçar.
Eu mando uma mensagem de volta e a informo que as
meninas e eu estamos ansiosos para abraçá-la também –
apenas para lembrá-la de que, como Orfeu disse, isso é
sobre família. Alguns minutos depois, Belle me manda uma
mensagem para me avisar que ela pousou em um voo mais
cedo e se “brigou” por mim. Não faço ideia do que isso significa
ela parece quente e nós vamos buscá-la imediatamente.
Quando Bela responde que vai ser mais fácil para ela pegar
um táxi até o apartamento, Veronika suspira, exasperada. Ela
sai da cama, enrola uma toalha no corpo, abre a mala e começa
a pendurar as roupas no armário. Há uma leve violência no som
de cada cabide batendo na barra de latão.
"O que há de errado?" Eu pergunto.

"Nada."
“Nada sempre significa alguma coisa. Estou aberto a falar
sobre isso.”
“Estou bem, de verdade.” Ela desempacota seus artigos de
toalete e os leva para o banheiro. Uma geada suave acompanha
a brisa de cada movimento dela.
“Fine significa fodido, inseguro, neurótico e emocional.”
Ela não se diverte. “É desrespeitoso manter tex

tingir garotas quando você está comigo,” ela estala.
E eu penso: ela está certa. Aí eu penso: estou fodido.
Há apenas uma mulher na casa agora e já estamos tendo
problemas de ciúmes. A emocionante sensação de domesticidade
desaparece instantaneamente. Mas é para isso que estou aqui:
para estar na realidade sobre esse estilo de vida. É fácil fazer
sexo com as esposas e namoradas de outras pessoas, mas
aprender a realmente ser
relacional (como Joan diria) com vários parceiros é muito mais

desafiador porque não são apenas partes do corpo que se
cruzam, são sentimentos. Vale tudo em um clube de troca entre
dois estranhos, mas aqui no mundo real como dois amantes,
tudo agora significa alguma coisa.
Então preciso escolher minhas próximas palavras com

cuidado e maturidade se quiser que a experiência corra bem.
Porque não é apenas sobre algumas semanas, é sobre o meu
futuro. "Eu estava enviando mensagens de texto para combinar
com as meninas que estão vindo para ficar conosco", digo a ela.
“Mas de agora em diante, a menos que estejamos fazendo
planos para esse dia, vamos todos tentar ignorar o telefone
quando estivermos juntos para que possamos estar no momento
um com o outro.”
Ela balança a cabeça e sorri, satisfeita com a diplomacia.
Eu costumava pensar que um bom relacionamento significava
sempre se dar bem. Mas o segredo, eu percebo, é que quando
uma pessoa se desliga ou tem um ataque, a outra precisa
permanecer no estado de ego adulto. Se ambas as pessoas
descem para a criança ferida ou adolescente adaptado, é
quando todas as forças do drama e da destruição do
relacionamento são desencadeadas. Compartilho isso com
Veronika e a ensino sobre os diferentes estados de ego. Em
breve, estamos conectados novamente.
“Já estou aprendendo coisas por estar aqui, e é por isso

que vim”, diz ela alegremente.
Uma hora depois, Bela chega. Ela é pálida e pequena,
vestindo uma saia xadrez, um cardigã azul marinho, uma
blusa branca, óculos vermelhos descolados e tranças loiras
como mel. É um visual de colegial projetado para levar os
homens à loucura com luxúria e culpa simultaneamente.
"Este é o seu antro de pecado, Sr. Strauss?" ela pergunta
brincando enquanto nos abraçamos na porta.
Eu a levo até a sala para conhecer Veronika.
Então eu os deixo sozinhos por alguns minutos e dou a eles a
chance de se conhecerem sem mim. Depois de um tempo,
ouço risadas. Um bom sinal. Volto e Veronika me diz que vai
dar uma volta.
Assim que ela sai, Belle pula no meu colo e começa a tirar
minhas roupas. Imagino que eles tenham feito um acordo
entre eles. Já, o impossível está acontecendo aqui.
Mulheres como Chelsea fazem um esforço extraordinário

para tentar se parecer com as fotos adulteradas que veem
nas revistas. Mas mais excitante e mais proibido do que esse
ideal feminino impossível é a nudez da carne tenra que não
deve ser descoberta, a pele tão pálida e fina que parece que
a exposição à luz e ao ar a danificará, a carne
que parece tremer por conta própria simplesmente de ser

olhado.
Este é o corpo da Bela.
Só é prejudicado quando descubro o que ela quer dizer
com vajazzle: é uma vagina deslumbrante, com lantejoulas
coloridas presas onde costumavam estar os pelos pubianos.
É tão inútil quanto parece.
Minutos depois de vestirmos nossas roupas, Ver onika
retorna. Eu observo seu rosto e movimentos cuidadosamente.
Ela não parece chateada.
Preparamo-nos para o jantar, depois descemos para o
meu Durango, equilibrando-nos num fio de união. Esse fio
ameaça se romper assim que chegamos ao carro, onde
encontro o primeiro desafio de um relacionamento grupal.
Ambas as mulheres estão na frente da porta do passageiro

eriçadas de ansiedade, esperando que eu tome uma decisão.
“Já que não pegamos Belle no aeroporto, ela deveria

sentar na frente,” digo a Veronika. “Então você pode ficar no
banco da frente a caminho de casa.”
É embaraçoso ouvir essas palavras saindo da minha boca.
Parece algo que meu pai poderia ter dito para mim e meu
irmão quando eu tinha doze anos. Não me lembro de ninguém
ensinando vários
arranjos de assentos de parceiros na Conferência

da Associação Mundial de Poliamor.
Tenho a súbita sensação de que nada nesta
experiência vai ser como eu esperava. Estou
vivendo sob a lei do forrageador.
27
Belle se senta no jantar em sua roupa de colegial, admirada
por todos os pervertidos no restaurante.
"Oh meu Deus", ela está dizendo, jogando de volta sua
terceira bebida da noite. “Eu fui em uma maratona total de
compras de lingerie antes de vir aqui. Eu quero modelar tudo
para você esta noite.”
Normalmente, esta seria a conversa ideal para o jantar.
No entanto, há um problema: ela está olhando apenas para
mim quando fala. Na verdade, ela está agindo como se
Veronika nem estivesse na mesa. Posso sentir a geada
começando a cobrir a pele de Veronika.
Quando Veronika vai ao banheiro, lembro a Belle:
“Certifique-se de incluir Veronika quando falar.”
"Eu não me importo com ela", ela responde. "Eu só me

importo com você."
Suas palavras me derrubam. “Mas não é por isso que
estamos em São Francisco. Discutimos a exploração do
poliamor aqui, e isso significa que mais do que apenas nós
dois estamos envolvidos.”
"Eu sei." Ela suspira e olha para sua bebida, como uma
criança disciplinada por fazer algo que ela sabia que era
errado em primeiro lugar.
Reunir amantes pode evidentemente ser como introduzir
gatos. Tudo deve ser feito com cuidado, pensamento e
precisão, caso contrário eles nunca vão se dar bem.
Depois do jantar, eu os levo a um bar clandestino no

Tenderloin chamado Wilson & Wilson, esperando que uma
mudança de cenário promova mais camaradagem. Mas a
cada coquetel, Belle fica mais falante e Veronika fica mais
irritada, até que ela está olhando para a mesa quando Belle
fala. E evitar o contato visual com as pessoas é pior do que
dizer diretamente a elas que elas o incomodam: é a sua alma
dizendo à alma delas que isso incomoda você.
Isso já está à beira do desastre, e Anne ainda nem chegou.

Padre Yod parecia viver em harmonia com catorze esposas
diferentes em seu auge, então certamente posso fazer as
coisas funcionarem com apenas duas.
Eu flash de volta para a reabilitação. Os caras do meu

grupo eram todos muito diferentes, mas o que nos permitiu
formar conexões profundas rapidamente foi discutir nossas
linhas do tempo e infâncias. Talvez seja hora de acabar com
a conversa fiada e realmente conhecer um ao outro.
"Estou curioso", digo a Belle, mudando de assunto.
“Como eram seus pais quando você estava crescendo?”
“Eles foram perfeitos. Eles me amavam muito.”

Ela toma um gole de seu coquetel, então olha para nós, um grande
sorriso vermelho cobrindo a verdade como uma máscara de látex.
Sempre que as pessoas idealizam seus cuidadores, as
chances são muito boas de que o oposto seja verdadeiro.
Então, às vezes, essa ilusão é criada pelos pais, que insistem
de maneira divina que são perfeitos e que a criança lhes deve
obediência porque são responsáveis por sua existência. Outras
vezes, a ilusão é criada pela criança como estratégia de
sobrevivência, desconectando-se da realidade para evitar a dor
de crescer em um ambiente tóxico.
Então eu faço uma tentativa imprudente de romper as

paredes de Belle. Explico essa teoria para ela, concluindo:
“Nenhum pai é capaz de ser perfeito.
Eles só são capazes de dizer aos filhos que são.”
“E você pode obter coisas boas de pais ruins”

Veronika acrescenta, permitindo-se se envolver com Bela.
Ela quer ajudar. Já estamos nos aproximando.
“Meu pai nunca esteve por perto quando eu era criança e
minha mãe sempre trabalhou. Então, eu andava de ônibus
sozinho pela cidade quando tinha apenas oito anos.
É por isso que sou tão independente agora.”
Eu me pergunto se libero um feromônio de enredamento

que atrai mulheres abandonadas. Ou se é que a maioria
dos pais são tão merdosos que a maioria das mulheres foi
abandonada por eles de alguma forma.
Enquanto continuamos com nossas histórias, Belle
bate sua bebida na mesa e grita tão alto que as cabeças
se voltam. “Tudo bem, minha mãe é uma vadia narcisista
e autoritária!” Então seu rosto se contorce e as lágrimas
caem. “Não vá mais lá, ok? Só não vá lá! Você continuou
empurrando – e agora você está lá.”
E assim, nosso momento de conexão íntima estourou.
Ou tem?
Pelo menos Belle chegou à realidade. Agora sabemos
quem ela é. Assim como algumas pessoas têm um vício
em drogas ou sexo, ela tem um vício em palavras. Ela
constrói um muro de palavras para se proteger de
sentimentos desconfortáveis. No entanto, quando alguém
está envolvido com um dos pais do mesmo sexo, isso
pode dificultar a formação de amizades íntimas do mesmo
sexo. Então, isso pode ser uma grande barreira para nós com
Em uma nota mais encorajadora, agora que
compartilhamos nossas vulnerabilidades, Veronika
realmente começou a olhar nos olhos de Belle novamente qu
Lição do dia: O caminho mais rápido para poli
harmonia — e vida entre o resto dos feridos ambulantes — é

verdade e compreensão.
Ao sairmos, Veronika coloca os braços em volta de mim e
beija minha nuca. Então ela move meu braço ao redor de Belle
e todos nós saímos juntos. Beijo cada um deles nos lábios. E
pela primeira vez naquele dia, eu tenho esperança. Sentimo-nos
como um V.
Quando voltamos para casa, Veronika diz que quer tomar
banho. Entro em um dos banheiros para me limpar e me
preparar para o culminar de nossa primeira noite juntos.
Mas enquanto eu estou lá, Belle entra atrás de mim, acaricia

minha orelha provocativamente com sua língua e sussurra: “Eu
quero foder você. Mas eu quero que você se vire primeiro e
coloque seu pau bem fundo na minha garganta.
"Eu gostaria tanto de fazer isso", digo a ela. "Mas nós

preciso esperar até que Veronika saia do banho.
Eu a levo para o quarto de Veronika, e nós deitamos na
cama e conversamos enquanto esperamos. Mas depois de
alguns minutos, Belle começa a ficar inquieta. Então ela de
repente pula e corre pela casa, rindo e rindo.
E minha esperança, mais uma vez, despenca. Belle parece

ter enlouquecido. Não tenho certeza se é o álcool, o jet lag, o
nervosismo, a ferida da mãe que
cutucada, petulância por ter que esperar por Veronika, ou algum

tipo de flerte mal orientado para me fazer persegui-la.
Veronika sai do banheiro e se deita na cama ao meu lado.

O som de Belle batendo nas paredes, rindo histericamente,
depois ofegando como se tivesse asma, enche a casa.
“O que essa garota está fazendo agora?” Veronika pergunta,

sua voz gotejando com condescendência.
"Eu honestamente não tenho idéia." Quando conheci Belle,
ela era tímida, cerebral e bem-humorada. Este é um lado dela
que eu nunca vi. Na verdade, estive com mais mulheres bêbadas
do que gostaria de admitir e isso é algo que nunca experimentei
ou sequer imaginei antes. Tudo o que sou capaz de simpatizar
agora são as paredes.
A vida tem um senso de humor doentio: uma das razões

pelas quais me senti tão presa com Ingrid foi que eu me ressentia
dela por me impedir de dormir com Belle.
Mas agora tudo que eu quero é uma pausa dela - e não foram
nem doze horas. Talvez o segredo da fidelidade seja saber que
a grama é mais louca do outro lado.
Bela corre de volta para o quarto, pula na cama e tenta
beijar Veronika. Mas Veronika vira a cabeça sem dizer nada.
Belle congela por um momento, então se levanta e tropeça para
fora da sala.
Nós a ouvimos correndo loucamente pela casa novamente,

abrindo e fechando as portas do armário, até que finalmente
ela corre para o banheiro, fecha a porta e a tranca.
“Talvez ela esteja tomando um medicamento que reage

mal ao álcool”, peço desculpas a Veronika.
"Talvez ela seja", ela responde desapaixonadamente,
então rola e pega seu diário e uma caneta da mesa de
cabeceira. Eu me pergunto o que ela está escrevendo. Eu
provavelmente deveria pedir a todos para manter um diário de
sua experiência aqui para que possamos desembaraçá-lo mais ta
Deito-me em silêncio ao lado dela, esperando que esta
noite seja uma aberração, que Belle tenha ficado nervosa
demais e bebido demais, que por algum milagre Veronika
perdoe e esqueça. Esta não deveria ser nossa noite de lua de
mel, eu me lembro, mas simplesmente o primeiro encontro.
Quando eu acordo de manhã, Belle está de volta na cama

e nós três estamos de conchinha.
É aí que descubro mais um desafio do poliamor: é difícil
levantar e ir ao banheiro sem incomodar ninguém quando
você está espremido entre duas mulheres adormecidas.
Mas pelo menos ainda há esperança para essa relação

de grupo. Afinal, as coisas não podem ficar mais estranhas do
que na noite passada.
28
Trechos do Diário de Veronika
Acabei de chegar ao aeroporto e estou esperando para

passar pela alfândega. Estou tão feliz que ele me pediu
para vir aqui. A última vez que nos vimos, eu o amava,
pelo menos por algumas horas até minha mente assumir o
controle. Acho que ele tem muitas garotas como eu. Assim
como eu tenho meus outros potenciais. Para mim não é
um problema. Deixe estar.
Desde o dia em que nasci, minha vida tem sido uma
aventura. Não tenho certeza de como era possível que
tantas coisas acontecessem comigo o tempo todo. Acho
que fui boba, descuidada e extrema, e também não havia
ninguém para cuidar de mim. Meu pai estava a maior parte
do tempo bêbado ou no trabalho ou ambos, e minha mãe
estava sempre ocupada cuidando do jardim e dos animais
e ela tinha algum tipo de trabalho em algum lugar também.
...
O que aprendi sobre relacionamentos é que o mais
importante é falar. Se duas ou mais pessoas têm um
relacionamento, elas devem ser capazes de
falar uns com os outros sem hesitação sobre seus

sentimentos. Por exemplo, fiquei chateado com suas
mensagens de texto e não disse nada. Mas ele me
entendeu e começou a falar comigo mesmo. Eu disse a
ele o que estava sentindo e desde aquele momento, tudo
tem sido diferente. Mudamos nosso comportamento e
encontramos um compromisso. Foi muito surpreendente
porque não foi nada difícil. Estou tão feliz que ele fez isso.
...
Cardigan esticado, camisa branca, saia xadrez, sapatos
pretos de plataforma alta, óculos, rabo de cavalo Pippi
Long, australiano. Roupa de colegial total.
Muito pornô. Barato. Mas ainda assim interessante. E eu acho
que os homens definitivamente adoram isso. Mas ele escolheu
uma garota assim para fazer parte disso. Terrível!
Acho que devo ter aceitado essa ideia só porque
queria passar mais tempo com ele. Acho que não
conseguia imaginar como as coisas seriam aqui. Fui bobo,
mas estou aprendendo com isso. E isso é bom.
...
Já estou farto dessa garota. Ela fala tanto! Parece que ela
não vai parar nunca.
E eu não olho mais para ele com aquele olhar de
“estou apaixonado”. Sinto que ele não é capaz de sentir
sentimentos sinceros. Eu sinto que tudo são jogos mentais
para que ele possa tornar sua ideia realidade. Se ele realmente
se importasse comigo, ele não faria isso comigo. Ele

está planejando foder todos nós apenas um após o outro?
O que ele está pensando? Ele sente que pode tudo. E,
ao mesmo tempo, demos a ele permissão para isso.
A diferença entre homens e mulheres é que fazemos

coisas que às vezes não queremos por algo melhor.
Nós lhe demos permissão por causa do amor.
Esperávamos que um dia ele fosse nosso. Mas talvez
nós apenas o tenhamos entregado.
...
Agora a garota australiana ficou tão desesperada que
ela age como uma louca. Ela ri o tempo todo muito alto,
mas acho que no fundo ela está chorando. Não há
lógica em seu comportamento. Ela está muito bêbada
e procurando por ele nos armários.
Parece que esta situação faz com que todos nós agimos um pouco
engraçado.
Amanhã vem a terceira menina. Ela é francesa.
Espero que ela seja mais normal, não como esta aqui.
29
De manhã, Veronika faz ovos no buraco
para nós três e nos sentamos ao redor da mesa do café da
manhã conversando. Agora que Belle está sóbria, há
realmente uma aparência de domesticidade confortável.
Eu não tenho certeza se Veronika vai respeitar Belle
depois da noite passada, mas pelo menos ela está tolerando ela
Espero que Anne, com sua energia calma e centrada, seja o
tecido conjuntivo que está faltando.
Quando dirigimos para o aeroporto, Veronika fica no
banco da frente desde que fez o café da manhã. Eu sei, é
um absurdo.
Quando chegamos, vejo Anne esperando do lado de fora
do terminal, com o dedo do nosso pé tridáctilo faltando,
parecendo tão frágil que explodiria se um caminhão passasse
rápido demais. Seus olhos, brilhando como faróis, parecem
ocupar um quarto de seu rosto, o resto do qual é obscurecido
por mechas de cabelo loiro despenteado. Quando eu salto
para cumprimentá-la, ela me abraça por um minuto tranquilo
e de conexão. Então ela sobe em
no banco de trás e eu os levo em um mini-tour pela cidade.
“Ela é incrível”, Veronika me diz quando voltamos para

casa. “Acho que há muito que posso aprender com ela.”
Respiro aliviado. Talvez esta seja a dose de ar fresco e

energia pacífica que precisávamos para o equilíbrio.
Talvez este quad realmente funcione agora.
Naquela noite, nos juntamos a James e Nicole no clube
Supper, seguido de uma festa no loft de Nicole com seis outros
casais de swingers e BDSM, incluindo os inescapáveis Chelsea
e Tommy.
Seu loft é a versão swinger de um apartamento de solteiro.
Há torres de andaimes com luzes e alto-falantes, todos
controlados remotamente de seu computador; um poste de
stripper no centro da sala; até mesmo uma mesa redonda
inexplicável como a da suíte de hotel do homem Corey Feld.
Veronika e Anne se sentam no sofá e discutem sobre o

centro de cura na França, onde Anne faz acupuntura para
ganhar a vida. Eu coloco um braço em volta deles e entro na
conversa. Belle, que pegou algumas bebidas, senta do meu
outro lado e pega minha mão livre. Por um momento, somos
uma relação funcional.
Então Belle se aproxima de mim e tenta dar uns amassos.

Não parece um ato de paixão espontânea, mas uma tentativa
de provar aos outros que ela é a namorada número um.
Quando eu me afasto, Belle sai correndo, então dança

eroticamente no poste de stripper e fica com Nicole. "Ela só
está fazendo isso para obter sua aprovação"
Veronika comenta secamente. “Podemos ir para casa em breve?”
E agora somos um relacionamento disfuncional.
"Deixe-me verificar com todos os outros", digo a ela.
Estou começando a me perguntar se quanto mais pessoas
há em um relacionamento, menos liberdade cada pessoa
realmente tem.
Falo com a Belle e, claro, ela quer ficar.
Volto para o sofá e discuto isso com Veronika enquanto
os swingers ao nosso lado olham para a mesa circular como
se fosse o monólito de 2001. De repente, Anne vira a cabeça
suavemente para mim, seus olhos gentis e suplicantes, e
pergunta: Eu falo com você em particular?”
Digo a Veronika que já voltamos e vou com Anne até a
entrada do apartamento. Ela fica em silêncio no início, como
se estivesse com muito medo de falar, até que finalmente as
palavras saem aos tropeções. “Eu não entendo por que você
está sempre assim com todo mundo,” Anne diz, agitada. Para
demonstrar, ela agarra meu braço esquerdo com
surpreendente aspereza e esfrega as mãos
ao longo dela espasticamente. “Na França, quando as pessoas

fazem isso, não é apenas uma coisa amigável. Significa algo.
Então eu não entendo.” Ela faz uma pausa e balança a cabeça
enquanto eu tento entender o que ela está dizendo. “Em casa,
nós simplesmente não fazemos isso.”
Fico ali parada por um momento, perplexa. Quando seu ponto
de vista fica claro, meu último lampejo de esperança morre: ela já
está com ciúmes. Ela acha que estou dando em cima de Veronika
e Belle.
“Todo mundo que eu toco, eu já dormi”
Eu digo a ela. “Assim como eu tenho um relacionamento com
você, eu tenho um relacionamento com eles. Eu expliquei isso
para você antes de virmos, lembra?
Ela acena que sim, mas ainda parece descontente. Claramente
não era a resposta que ela esperava. E estou em choque. Eu
conheci Veronika em um clube de troca onde ela estava fodendo
todo mundo à vista; Anne presumivelmente sabia para onde fui e
o que estava fazendo naquela noite; e quando dormi com Belle
pela primeira vez, tínhamos outra mulher na cama conosco. Eu
conheci cada uma delas em circunstâncias não monogâmicas e
disse claramente a elas que estaríamos vivendo com duas outras
mulheres em um relacionamento de grupo.
E agora cada uma delas, com a possível exceção de

Veronika, parece me querer para ela.
Talvez o que a esposa de Randy disse no jantar onde eu
conheceu Nicole é realmente verdade para a maioria das pessoas: a

experimentação sexual é divertida – até que você esteja com alguém
por quem tenha sentimentos.
São esses malditos sentimentos. Eles são os culpados. Por que
é que assim que eles descem em cima de alguém, eles trazem a
propriedade com eles no banco do passageiro? Um conselho de
relacionamento que Lorraine ensinou na reabilitação soa
ameaçadoramente na minha cabeça: “Expectativas não ditas são
ressentimentos premeditados”.
Quando voltamos para a festa, Belle corre para o meu lado.
“Nicole é tão gostosa,” ela diz. “Fiquei com ela a noite toda.”
Ela engancha o braço no meu, e eu me preocupo que Anne veja

isso e fique chateada. “Eu não sei se podemos fazer isso na frente de
Anne,” digo a ela. “Ela precisa de algum tempo para se sentir
confortável com todos os toques.”
Belle se vira e sai pisando forte de novo, agarrando o braço de
James para me irritar. Estou preso em um jogo de xadrez emocional
que está muito além da profundidade de alguém que não experimentou
nada além de monogamia durante toda a vida. Se eu tocar em alguém,
alguém vai ficar chateado.
Mas se eu não tocar em ninguém, alguém vai ficar chateado.
Não me sinto mais um amante, mas um árbitro.

Parece que a festa está prestes a começar aqui, mas não
podemos fazer parte dela. eu reúno meu
parceiros e sair, tentando descobrir como criar o sentimento de

família que Orpheus Black falou.
Quando Anne sobe no banco da frente sem checar com as
outras mulheres, que trocam olhares irritados, eu me consolo
com o pensamento de que talvez estejamos realmente agindo
como uma família típica.
De volta à casa, visito Veronika em seu quarto e lhe desejo boa

noite. "Volte", ela implora. Digo a ela que vou tentar.
Então eu visito Bela. "Isso não está funcionando para mim",

ela reclama. “Eu quero ser capaz de tocar em você quando eu
quiser.”
"Precisamos ficar juntos como uma equipe para fazer isso
funcionar", eu a lembro.
“Sou uma garota e tenho emoções”, ela responde.
“E embora minha cabeça diga que somos um time, eu ainda
quero estar só com você.”
E então eu visito Anne. Mas quando ela me pede para
ficar um pouco, eu olho para ela deitada ali, faminta de
conexão e segurança depois de sua longa viagem, e desisto.
É justo: eu já dormi uma vez com cada um dos outros.
Enquanto tiro suas roupas, estou animada para sentir mais
uma vez as pernas de corredora, o abdômen de nadadora e
os seios de bailarina que ela mantém escondidos sob suas
roupas informes.
Ainda assim, não posso passar a noite porque isso vai

machucar as outras garotas.
Quando dou a notícia um pouco depois, Anne pergunta
simplesmente: “Você já sentiu amor verdadeiro antes?”
É um estranho non sequitur, então eu digo a ela: “Eu me
apaixonei”.
“Mas amor verdadeiro?”
"Qual é a diferença?"
“Amor verdadeiro é quando você é mãe e sua filha nasce. É
muito amor e você sente isso o tempo todo.”
“Então está se sentindo assim a cada segundo de cada dia

para sempre?”
"Sim. Você está tão apaixonado que não quer estar com outras
pessoas.”
"Eu não sei", eu respondo. “Você já sentiu amor verdadeiro
antes?”
“Não antes de te conhecer.”
Meu sangue congela. Eu pensei que isso era apenas conversa
de travesseiro doce. Eu não posso acreditar que ela se apegou tão
rapidamente. Convidei um viciado aqui: um viciado em amor,
conectando-se em uma névoa de fantasia. “Quando você é mãe e
seu segundo filho nasce, você ainda sente tanto amor quanto
quando seu primeiro filho nasceu,” digo a ela. Falo o mais devagar
possível, para que ela entenda. “Não é um sinal de amor verdadeiro
quando você só
quero sentir isso com uma pessoa que você acabou de

conhecer e ainda não conhece. Isso é mais como obsessão.”
Ela está em silêncio.
"Voce entende?"
"Sim", diz ela, me beijando com ternura. "Eu entendo."
E espero que ela o faça.

Subo as escadas e procuro nos armários por cobertores
extras, mas tudo que consigo encontrar é um único lençol
sobressalente. Eu o pego e verifico o sofá da sala para ver se
ele se desdobra em uma cama. Infelizmente não.
Então eu jogo as almofadas de trás no chão para abrir um
pouco mais de espaço, deito no sofá estreito e espalho o
lençol sobre mim.
É frio, apertado e desconfortável. A única coisa que me
mantém aquecida é minha frustração. Estou morando com
três mulheres que namoro e vou passar a noite sozinho no
sofá. Esta é definitivamente a última coisa que eu pensei que
estaria fazendo na minha casa dos sonhos do Pai Yod.
30
Assim que acordo, faço uma chamada de emergência para
Pepper, explique a situação em que estou e implore por
adendo.
"Você está tentando correr antes de poder andar", ele
responde.
“Quantas pessoas estão na casa?”
"Quatro de nós."
“Então matematicamente são seis relacionamentos. E
é difícil o suficiente para fazer um relacionamento funcionar.”
Eu tinha pensado nisso como um único relacionamento, ou
três no máximo. Mas eu faço as contas - a fórmula de Gauss
de poliamor* — e ele está certo.
"Mas havia esse cara, o padre Yod", eu protesto,
“que teve quatorze esposas e funcionou para ele eu . ..
acho." Percebo que não sei muito sobre como o padre Yod
administrava seus relacionamentos. Na verdade, nunca li o livro
que Rick me mostrou. acabei de olhar
as fotos.
“Quem é o padre Yod?”
“Ele é como Charles Manson, mas sem matar.” Na verdade,

isso não é totalmente verdade. Lembro-me de ter lido on-line depois
que o padre Yod era um especialista em judô que assassinou duas
pessoas com as próprias mãos em legítima defesa.
“O que posso dizer é que uma situação de vida compartilhada

é o que chamamos de habilidade avançada”, explica Pepper. “Mas
acredite em mim, pode funcionar. Acabei de sair de férias de uma
semana para o Havaí com minha parceira e o namorado dela. E foi
totalmente tranquilo porque nós três passamos muito tempo juntos.”
“No momento, não consigo nos ver chegando a esse ponto.”

Suponho que depois de alguns anos, a pessoa pode se acostumar
com qualquer coisa.
— Você quer que eu vá até eles e fale com eles?
"Por favor!"
Quando Pepper chega uma hora depois, nos reunimos na sala,

desesperados por um milagre. Não me atrevo a sentar no sofá, caso
pareça que estou favorecendo qualquer mulher que se deite ao meu
lado, então pego uma poltrona. Veronika e Pepper sentam-se nas
outras cadeiras enquanto Belle e Anne dividem o sofá.
Apresento Pepper às mulheres e conto a ele sobre a noite

anterior. Ele ouve com atenção, depois responde como se estivesse
dizendo a crianças em idade pré-escolar para brincarem bem com
um outro. Ao contrário da monogamia, nossa cultura não

oferece nenhuma instrução sobre como fazer um
relacionamento grupal funcionar, nenhum modelo real para se e
poucos - se houver - amigos a quem recorrer para obter conselhos. Mesmo em
filmes, quando os casais decidem abrir o casamento,
os resultados são geralmente desastrosos e a moral da
a história é ficar com o que você tem.
“Aqui está sua primeira lição sobre sair juntos,”
ele começa. Sua voz é tão lenta e medida que é
difícil imaginar algo menos que um maníaco empunhando
um facão o irritando. Eu me pergunto se ele sempre foi
esta calma e deliberada ou se é algo que ele
aprendi com anos de gerenciamento de múltiplos
relacionamentos. “Você precisa conversar antes de sair e ter um
plano para o protocolo do partido. Se alguém se cansar, faça
eles pegam um táxi para casa sozinhos ou vocês vão todos
juntos? E se for uma situação sexual, decida antes
tempo se você quer assistir ou sair ou se juntar ao
pilha de sexo.” Isso faz todo o sentido, mas nunca me
ocorreu: a arte das relações grupais é a logística. “Quero
encorajá-lo a fazer pequenos check-ins
uns com os outros constantemente, com o conhecimento
que vocês não se conhecem muito bem. Deste jeito
você pode começar a construir um sentimento de equipe juntos.”
Concordamos com a cabeça. Acho que fui ingênuo para
assumir que todos nós nos apegariamos instantaneamente
e viver juntos em utopia relacional. Eu cometi erros em todos os

relacionamentos monogâmicos que tive,
mas aprendi com eles e isso tornou o próximo relacionamento melhor.
Então faz sentido que meu primeiro
relacionamento de múltiplos parceiros não vai ser um grande sucesso.
É preciso experiência e fracasso para obter
bom em qualquer coisa. Esta é a minha oportunidade de aprender.
“Quero acrescentar algo importante”, continua Pep per. “Você” –
ele aponta para mim – “é o fulcro. Esta é uma situação poli há muito
conhecida. O fulcro é a única pessoa em um relacionamento com cada
parceiro, mas por causa disso, você acaba rasgado em muito

de diferentes direções. É muito desconfortável
coisa, porque você está empoderado e desempoderado
ao mesmo tempo." Ele se volta para as mulheres. "Então eu
gostaria de recomendar que todos tentem descentralizar Neil um
pouco.”
Eu dou um suspiro de alívio esperançosamente imperceptível. EU
assisti vários documentários em poly pods antes
vindo aqui, e muitos eram liderados por pessoas com
A necessidade patológica deve ser o ponto focal da vida de todos.
Ame. Eles não pareciam se importar com os sentimentos que
doer enquanto o espaço vazio em seu próprio coração
foi mantido cheio. Mas, para mim, não é divertido ser o centro das
atenções quando isso resulta em danos colaterais
aos sentimentos de outras pessoas.
“Então, como vamos me descentralizar?” Eu pergunto a Pimenta.

“Vocês três” – ele gesticula para as mulheres – “devem sair
sem ele e também começar a negociar decisões que não
precisam passar por ele primeiro. A parte fácil da situação é você
e Neil, e você e Neil, e você e Neil” – aqui ele aponta para cada
mulher. “A parte difícil da situação são seus relacionamentos uns
com os outros. Eu tenho um ditado: Poly funciona ou falha na
confiança entre metamours.”
“O que é um metamour?” pergunta Verônica.

“Um metamour é o parceiro de um parceiro. Então, se Neil e
eu estivéssemos namorando você, Neil seria meu metamour. E
dá certo entre ele e eu, porque temos a parte difícil, mas não as
coisas boas.
Então, quando você constrói a confiança entre os metamouros,
tudo se junta e o grupo começa a funcionar. Isso faz sentido?"
Estávamos no escuro antes. Esse gótico pálido é a luz. Ele

é um pioneiro do relacionamento, mapeando novos domínios no
espaço interpessoal.
“Então, o que eu faço se eu quiser passar um tempo sozinha
com Neil?” Bela pergunta. “Toda vez que tento fazer isso, ele diz
que é rude com outra pessoa.”
“Tente não fazer o pedido para Neil. Faça isso para Anne e
Veronika. E se ambos dizem que está tudo bem,
então você pode fazer o que quiser com Neil.” Os cantos da

boca de Belle se curvam em um sorriso reprimido sem
sucesso. Pepper percebe isso e acrescenta sabiamente:
“Mas esteja disposto a ouvir um não”.
Veronika suspira e descruza as pernas. “É tão difícil
compartilhar uma pessoa”, diz ela. “Seria mais fácil se não
tivéssemos sentimentos fortes. Mas sempre haverá essa luta
mental para tê-lo.”
Embora ter três mulheres atraentes brigando por mim
possa parecer uma viagem do ego, na realidade é de partir
os nervos. Qualquer interesse que eles tivessem em mim
antes de chegarem parece ter sido exacerbado pela
competição. De acordo com um exemplar da revista O que li
certa vez na sala de espera de Sheila, homens polígamos
vivem nove anos a mais, em média, do que homens
monogâmicos. Mas eu me pergunto como Oprah poderia
estar certa. Porque isso definitivamente não é bom para
minha pressão arterial.
Pepper se vira para mim: “O que você pode fazer para
que eles ultrapassem esse ponto é tranquilizá-los. Já vi
pessoas muito invejosas e pessoas com muitos problemas
de abandono superarem suas merdas quando o medo da
perda desaparece. Um bom grupo não-monogâmico é como
um bando de gansos, o que quer dizer que se separa e volta
a se reunir.”
Anne abre a boca para falar. As palavras escapam suaves e

inseguras. Todos se inclinam para fazer
certeza de que eles os pegam. “Para mim, fiquei realmente surpreso
ontem à noite porque quando todo mundo estava se tocando,
estava me machucando.” Ela faz uma pausa tão longa que parece
como um intervalo. “Tenho uma família complicada
história, então talvez eu fique mais possessivo. Mas eu entendo agora
que temos que fazer as coisas funcionarem, então isso
pode ser um relacionamento.”
A conversa de Pepper parece estar endireitando todo mundo
Fora. Os metamours estão lembrando que eles
não veio aqui para participar de uma competição de bacharel , mas
para viver, aprender e crescer em um relacionamento maduro juntos.
“Eu recomendaria deixar ir
de expectativas e tentando chegar a um lugar de aceitação com tudo”,
Pepper diz a ela. “Se as coisas
estranho, deixá-los ser estranhos. Se todos vocês podem chegar a um alto
nível de comunicação, e aprender o processo de negociação e
estabelecer limites e falar através
desconforto, isso vai começar a funcionar muito melhor para
todos vocês."
Antes de Pepper sair, nós quatro concordamos em
reuniões em casa todos os dias, durante as quais cada pessoa
terá a chance de falar ininterruptamente - como no
círculo de falas que eu zombava na reabilitação.
À medida que uma sensação de calma e compreensão

toma conta da casa depois, Veronika faz sanduíches de
salada de ovo e nos sentamos ao redor da mesa, todos na
mesma página pela primeira vez. Depois, com a Anne a
ocupar o banco da frente do carro sem incidentes, visitamos
Alcatraz. Enquanto caminhamos da balsa para a prisão da
ilha, Belle segura meu braço esquerdo enquanto Anne segura
o outro. Veronika anda atrás, tirando fotos.
“Sinto que sou um terceiro filho cuja mãe não tem mãos
suficientes para segurar”, diz Veronika enquanto nos alcança.
Ela pega a mão de Anne na sua enquanto um grupo de

garotos da fraternidade passa e me dá um sinal de positivo.
Pela primeira vez, há uma energia de grupo nos conectando.
Talvez todos nós apenas precisássemos deixar de lado nossas
expectativas como Pepper recomendou, ajustar-nos a estar
em um lugar novo e permitir que o relacionamento defina seu
próprio curso.
E é aí que algo inesperado acontece: sou dominado por

uma poderosa sensação de indignidade.
Não parece justo que essas mulheres tenham que me dividir.
Qualquer um deles poderia facilmente escolher os caras aqui
que ficam olhando para nós. Mas, em vez disso, eles estão se
contentando com pedaços de minha afeição – as migalhas de
uma migalha.
Quando imaginei viver em uma comunidade de amor

livre enquanto estava namorando Ingrid, pensei que estaria
à deriva em um mar feliz de prazer, excitação e energia
feminina. Mas, em vez disso, sinto-me envergonhado por
estar monopolizando três corações.
Passei minha infância faminto pelo amor de minha mãe
e babá, sentindo que a maior parte de sua positividade foi
para meu irmão e sua negatividade para mim.
Então, estar em uma posição em que estou realmente
recebendo tanto carinho feminino positivo é uma experiência nov
Talvez o verdadeiro propósito desse relacionamento
quádruplo para mim seja romper minhas paredes e me sentir
digno de amor – ou seja lá o que for.
31
No carro a caminho de casa, digo às meninas que Nicole e James
nos convidaram para uma festa de brincadeiras chamada Kinky
Salon. Enquanto uma festa de swinger é geralmente para casais
que desejam trocar, uma festa de brincadeira é basicamente
qualquer evento de sexo alternativo onde as pessoas se reúnem
para jogar. E o Kinky Salon é uma das festas mais divertidas de
todas: uma cena legal e criativa com mulheres bonitas, descolados
fantasiados e sem fator rastejamento.
“Todo mundo está confortável indo?” Eu pergunto.

“Vou ficar em casa”, diz Anne.
É a mesma coisa que ela disse na França. E, secretamente,
sou grato. Desde a palestra de Pepper, ela parece ter deixado
sua neblina de vício em amor e aceitado nossa quádrupla. E
agora, finalmente, somos um bando de gansos.
Até Veronika e Bela parecem estar se dando bem. Assim que
chegamos em casa, Bela pergunta a ela: “Posso vestir você? Você
é tão bonita e eu tenho algumas roupas que você vai adorar.”
O elogio parece ser uma tentativa sincera de se conectar.

E como as mulheres que experimentam as roupas umas das
outras são um sinal universal de irmandade, deixo-as em
paz para criar laços. Talvez eles só precisassem de tempo –
e da segurança de Pepper – para se sentirem confortáveis
um com o outro ao invés de se sentirem forçados a serem
amigos.
Quando eles ressurgem, Veronika está usando um
vestido justo listrado rosa e branco com decote profundo e
um espartilho de couro preto. Ela está deslumbrante, então
Bela fica no banco da frente como recompensa por sua
generosidade. Ainda é ridículo, eu sei.
Apropriadamente, Kinky Salon está dando uma festa
temática de harém. Quando chegamos ao apartamento do
armazém com James e Nicole, vemos homens usando
turbantes e fumando narguilés enquanto mulheres de véus
e sutiãs dourados de lamê sentam em seus colos, transando
com eles enquanto a música árabe toca suavemente pelos
quartos. Em todas as festas que fui até agora, as mulheres
parecem estar no controle de quando a ação começa e com
quem, mas uma vez que as coisas estão em andamento,
elas tendem a desempenhar papéis submissos. Não vejo
nenhuma sultana, por exemplo, adorada por meninos de harém.
A sala dos fundos é como uma versão barata do clube
francês de troca. Está cheio de colchões empurrados
juntos, mas em vez de um livre para todos, as pessoas estão agrupadas

em duplas e trios.
Enquanto nos sentamos e assistimos, Belle sussurra para mim:
"Por que você e Veronika não fazem sexo?"
“Você quer se juntar a nós se ela estiver aberta a isso?”
“Eu não acho que ela goste tanto de mim. Vá em frente.
Eu te pego mais tarde.”
"Tem certeza?" Eu não posso acreditar que isso está acontecendo.
É praticamente um milagre. Na verdade, vou arriscar e dizer que é um
milagre. Os deuses polis sorriram para nós hoje.
"Tenho certeza."
Entre a conversa estimulante de Pepper e a falta de álcool em sua

corrente sanguínea, Belle é outra pessoa esta noite. Deixo-a com Nicole
e James, depois levo Veronika para o único lugar desocupado na pilha
de colchões, que fica a poucos metros de uma mulher empalada no colo
de um homem de turbante roxo. Logo Veronika está em cima de mim,
cavalgando para orgasmo após orgasmo, seus lábios separados em
êxtase, suas costas arqueadas eletricamente, seus quadris buscando
ritmo e pressão perfeitos, e nós dois mais uma vez desfrutando do
êxtase que experimentamos juntos pela última vez em Paris.
Quando voltamos ao grupo, Belle corre para o meu lado e pergunta:

"Posso passar a noite com você esta noite?"
"Então esse era o seu plano?" Parece razoável, mas então

penso: E quanto a Anne?
Eu verifico meu telefone e há uma mensagem dela: “Preciso
e adoraria passar a noite com você.”
O que agora?
Não posso passar a noite com Anne, porque Belle vai ficar
chateada. E não posso gastá-lo com Belle, porque Anne vai se
machucar. E não posso gastá-lo com Veronika, porque assim
tanto Belle quanto Anne ficarão com raiva. É o paradoxo do
poliamor.
E de qualquer forma, Pepper não disse a eles que eles
deveriam negociar isso um com o outro, não comigo?
Eu explico a situação em particular para James e pergunto o

que ele recomenda fazer. Ele balança a cabeça e faz uma careta.
“Não há resposta certa. Tentei namorar outra garota com Nicole
e aconteceu uma coisa parecida.
Você quer esses relacionamentos múltiplos, mas acaba
machucando todo mundo. É um monte de trabalho. A quantidade
de comunicação necessária é cansativa e alguém sempre se
sente excluído.”
Estou aliviada em saber que não sou só eu que tenho esses
problemas, que isso provavelmente teria acontecido com qualquer
mulher com quem eu escolhesse viver, a menos que fossem
muito poliexperientes.
“Acho que balançar funciona porque todas as mulheres com

quem você está dormindo estão em outros relacionamentos, então
elas não são uma ameaça para o seu parceiro.”
"Exatamente", diz ele, sorrindo. “É luz de poliamor.”
Enquanto reunimos nossos parceiros e partimos, James me
avalia por um momento, como se estivesse decidindo se eu mereço
o favor que ele está prestes a conceder. Então ele coloca o braço
em volta de mim e sussurra: “Quero que você conheça um amigo
nosso chamado Reid Mihalko. Ele é o Yoda das festas de sexo. Se
alguém pode ajudar essas mulheres a se soltarem e entrarem na
mesma página, é ele”.
De volta ao apartamento, faço as rondas. Eu coloco todos na
cama, discuto como eles estão se sentindo e os ajudo a entender
por que não posso passar a noite com eles. Então me acomodo
para outra noite desconfortável no sofá.
Foi um bom dia. O melhor ainda. Mas ainda estou dormindo

no sofá. No entanto, ao contrário da noite anterior, desta vez estou
dormindo com esperança. Fizemos grandes avanços hoje. E se
Reid Mihalko tem metade da experiência e ajuda de Pepper, toda
essa ideia maluca pode realmente funcionar.
32
Na manhã seguinte, os metamouros seguem mais os
conselhos de Pepper e têm uma aventura sem mim.
Nicole os pega e os leva para fazer compras, depois os
presenteia com um brunch chique. E assim como Pepper
previu, eles retornam cheios de energia positiva e um
surpreendente senso de camaradagem. Estou começando
a me descentralizar.
Eles também retornam com um corpo extra. Ele é um
gigante gentil de ombros largos e crânio grande, com
cabelos loiros arenosos, óculos de armação de arame e
dentes grandes. Ele está vestindo jeans e uma camiseta
roxa um pouco abaixo do tamanho, esticada em sua barriga
barriguda com as palavras SEX GEEK estampadas nela.
“Conheça Reid Mihalko,” Nicole anuncia.
Reid, ela explica, é uma das principais figuras da cena
sexual positiva de São Francisco. Ele dormiu com, segundo
sua própria estimativa, mil homens e mulheres. E ele dá
cursos sobre tudo, desde beijar até amarrar (quando uma
mulher coloca uma cinta e a insere em um homem).
“Vim aqui em missão”, diz ele. “James me contou

tudo.”
Ele fala devagar e de modo libertino, com um canto
da boca subindo mais alto que o outro. Ele é um
cruzamento entre Clark Kent, John Malkovich e alguém
se recuperando de um derrame leve. Ele diz que quer nos
observar fazendo check-in e então ele tem algo importante
para discutir.
Tomamos nossos lugares na sala de estar. Como de costume,
escolho uma cadeira apenas por segurança.
Pela primeira vez, cada check-in é positivo. Belle diz
que teve uma epifania ontem à noite no Kinky Salon que
os relacionamentos são sobre dar, não receber. Anne
explica que sua mente e seu coração estão começando
a se abrir para essa experiência. E até Veronika se
aqueceu.
“A vibração não é mais tão tensa,” ela diz. “Sinto que
estamos realmente conectados e podemos aprender um
com o outro agora, então estou muito feliz com isso. Eu
realmente gostei de ontem à noite e gostaria de fazer isso
mais algum tempo, sim?” Ela ri.
Quando terminamos, Reid nos pede para respirar
fundo e expirar ruidosamente. Isso me lembra algo que
Sheila faria. Então, em uma voz bem lenta e didática, ele
nos diz: “Além de fazer festas de afago, que são oficinas
não sexuais em torno
toque e carinho, desde 1999 faço festas e espaços para

adultos brincarem e explorarem sua sexualidade. E esta
noite estou dando uma festa para um amigo que está
hospedado comigo e que não fez sexo em um ano.
Meu objetivo é fazer com que ela transe. E estamos tendo

cerca de trinta pessoas vindo para sair e jogar, o que quer
que pareça para eles.
“Então, estou aqui para determinar, primeiro, se é bom
para todos vocês como grupo. E, dois, se for uma boa ideia
para minha comunidade. Quero criar um espaço que pareça
muito seguro e genuíno porque me especializei nesse tipo
de dinâmica.”
Mais uma vez, estou em dívida com James e Nicole:
Onde Pepper nos ajudou a negociar os limites emocionais,
parece que Reid está aqui para nos ajudar a negociar os
limites físicos.
Reid então faz a cada um de nós uma série de
perguntas destinadas a nos abrir para experiências positivas
que temos negado a nós mesmos: “O que você tem medo
de pedir a outras pessoas?”
“O que você acha que não merece?”
“Se você pudesse experimentar qualquer coisa nos
próximos dias juntos, o que seria?”
São as perguntas certas, e permitem que cada
metamour seja ouvido e se sinta compreendido em vez de
do que julgado. Logo Belle está falando sobre querer fazer

sexo com dois homens, e Veronika está dizendo que quer ser
fodida por uma garota com um strap-on. Até Anne, à sua
maneira, diz que quer participar: “Quero me sentir livre junto
sem me machucar”.
Suponho que este seja mais um dilema feminino: sentir-
se livre para seguir os desejos do coração e do corpo sem se
machucar ou envergonhar depois. Eu nunca conheci um
homem que não quisesse experimentar suas fantasias sexuais
na vida real, mas conheci muitos homens que disseram que
não se sentiriam à vontade experimentando os cenários em
que se masturbam.
para.
"E você?" Reid me pergunta. “Quais são suas intenções

para os próximos dias?”
“Tudo o que eu quero é que nós três rimos muito,
aproveitemos nossos dias juntos e depois durmamos
confortavelmente na mesma cama.”
“Você pode ser mais preciso? Há alguma coisa
você gostaria que acontecesse especificamente naquela cama?”
“Sabe, isso nem importa. Essa é a minha esperança para
nós. Provavelmente mais agora que estou dormindo no sofá
todas as noites.”
"Obrigada." Ele olha cada um de nós nos olhos com
apreço. É difícil dizer se ele está realmente se conectando
ou realizando um gesto ensaiado.
Mas de qualquer forma, funciona. “Meu convite para cada

um de vocês é passar mais tempo pedindo o que quer, em
vez de perguntar a todos o que eles querem”, conclui. “Você
acelerará seu crescimento sendo egoísta. Então imagine
que as pessoas que você está olhando podem realmente
cuidar de si mesmas. E se você pedir o que quer e confiar
que a outra pessoa dirá sim ou não com força, isso tornará
as coisas muito interessantes.”
A vida é uma habilidade aprendida, mas em vez de

ensiná-la, nossa cultura enche de força as mentes em
desenvolvimento com longas divisões e capitais – até que,
no final do período obrigatório de escravidão que é
hiperbolicamente chamado de escola, somos enviados ao
mundo sabendo pouco sobre isso. E assim, deixados
sozinhos para descobrir as partes mais importantes da vida,
cometemos erros por anos até que, quando aprendemos o
suficiente com nossos tropeços para sermos seres humanos
eficazes, é hora de morrermos.
Em outras palavras, se eu não tivesse conhecido
professores como Pep per e Reid, que pelo menos se
destacaram em uma área desta curta peregrinação em
direção ao túmulo, eu teria desistido deste quadrilátero e da
possibilidade de algum trabalhar. Mas agora vejo minha
responsabilidade pelos problemas que temos tido. Como
sempre, tenho tentado agradar a todos e sacrificado minhas pró
E não foi isso que terminei com Ingrid. Na verdade,

ao tentar cuidar de todo mundo, acabei não cuidando
de ninguém.
Olho para Nicole e ela acena de volta para mim
como se estivesse lendo minha mente. Reid respira
fundo e exala com entusiasmo. Não é um suspiro,
mas sim uma exibição. “Se eu fosse convidar todos
vocês para a festa da peça, levantem a mão se quiserem
As mãos de todos se levantam. Mesmo, sempre tão mansamente,
de Anne.
33
Quando partimos para a casa de Reid em Oakland várias horas depois,
Anne sobe para a posição de rainha no carro como se fosse dela por
direito. Faço uma nota mental para falar com ela sobre isso na próxima
reunião da casa.
Em seguida, pegamos Nicole, que voltou para seu apartamento para
tomar banho e se trocar.
"James está vindo?" Eu pergunto quando ela se senta no banco de
trás, vestindo uma blusa de seda preta e uma saia cinza justa.
"Não, ele tem que trabalhar", diz ela.

Meu quadrilátero se transformou em um pentagrama.
"Vamos discutir o protocolo do partido", sugiro, seguindo o conselho
de Pepper. O carro está rastejando pelo tráfego típico de São Francisco,
então temos bastante tempo para negociar.
Nicole fala primeiro: “Só posso assistir, porque James e eu temos

uma regra de que só jogamos juntos”.
Parece que o relacionamento deles ficou mais restrito desde que ela
quebrou as regras na lavanderia.
A confiança é uma corrente que fica mais longa quanto menos você a
puxa.
“Para mim”, diz Veronika, “todo mundo pode fazer o que quiser. Eu
não me importo.”
"O mesmo aqui", acrescenta Belle. “Contanto que Neil não faça
sexo com ninguém na minha frente.”
Quando conheci Belle, fiz sexo com outra mulher na frente dela e
ela não se importou. Mas foi quando ela pensou que nunca mais me
veria. De acordo com a teoria evolucionária, os homens devem ficar mais
aborrecidos quando uma mulher faz sexo com outra pessoa porque seus
genes não serão transmitidos se ele criar filhos que não são seus; as
mulheres supostamente evoluíram para ficarem mais chateadas quando
um homem tem um caso emocional por causa do medo de perder seu
apoio e proteção. Claro, temos testes de DNA e independência econômica
agora, então a evolução precisa se atualizar.
"Vocês todos podem fazer o que quiserem também", digo a eles.
A única pessoa que não fez check-in é Anne, que está vestindo
calça de poliéster, sapatos pretos sem salto, uma camisa de botão dura
e um xale azul-marinho gigante.
Ela parece agressivamente não sexy.
"Quais são seus limites esta noite?" Repito a pergunta para ela.
Ela olha pela janela por um minuto como se não tivesse ouvido,
então, sem se virar, responde: “Não estou confortável”.
“Não está confortável com o quê?”

Ela fala tão baixinho que os metamouros no banco de trás se
inclinam para ouvir. “Com você fazendo sexo.”
Leva alguns segundos para que as palavras sejam registradas.

Então eles me acertaram como um blackjack. “Com Belle e
Veronika? Ou com as outras pessoas lá?”
Tudo parecia estar indo tão bem hoje.
"Com qualquer um."
Pelo amor de Deus. Na reunião da casa depois do meio-dia,
dissemos a você para onde estávamos indo e o que faríamos lá.
Você levantou a mão e disse que queria ir. E agora você está
mudando as regras?
Isso é o que eu quero dizer.

Em vez disso, tento não reagir. Onde há reatividade, há uma
ferida. Parece que eles estavam certos sobre tudo na terapia do
vício em sexo, exceto a parte do sexo.
Percorro meu cérebro, procurando a resposta certa. Tento

seguir o conselho de Reid – acelerar meu crescimento sendo
egoísta e ver Anne como uma adulta que pode cuidar de si mesma.
Meu objetivo aqui é ser
honesto. Para permitir desconforto. Para comunicar abertamente.

Ela precisa estar preparada para aceitar um não.
"Eu não posso prometer a você o que vai ou não vai
acontecer esta noite", digo a ela. “Eu posso simplesmente ficar lá
e observar as pessoas e não fazer nada, ou eu posso fazer sexo
com todo mundo. Eu não faço ideia."
Ana não responde.
"Você ainda quer ir se isso acontecer?"
Silêncio. Talvez ela esteja vasculhando seu cérebro para a
resposta certa. Ou talvez ela esteja desligando.
Ela murmura alguma coisa.

"O que?"
Resmungar.
"Você pode dizer isso mais alto?" Estou lutando para ficar no
adulto funcional.
Por fim: “Se acontecer, quero ir para casa”.
“De volta para casa?”
“De volta à França.”
Eu achava que os franceses eram assuntos de mente aberta,
liberais e tolerados. Achei que Anne sabia o que estava
acontecendo quando eu fui a esses clubes. Eu claramente preciso
parar de assumir que qualquer coisa é verdade.
“Você ficaria mais confortável se eu limitasse minha
eu para apenas beijar ou abraçar na festa?”
“Não,” ela diz.
O clima no carro diminui à medida que cada uma de nossas

fantasias para a noite se espatifa como um bando de gansos contra
uma janela panorâmica. Isso está além do meu pior cenário para o
nosso relacionamento de grupo de amor livre: agora eu não posso
nem segurar a mão de alguém em uma fodida orgia?
Irritação rasteja em minha voz. “Antes de você vir aqui, eu lhe
disse que estaríamos morando com outras duas amigas e indo a
festas de sexo como a que eu fui em Paris. Então você tem que
entender que eu não posso simplesmente fingir que só vou ficar com
você.”
E ela está muda novamente.
Eu olho para Nicole suplicante, meus olhos piscando um sinal
de socorro.
“Existem muitas pessoas que não acreditam que seja natural
ficarem com uma pessoa pelo resto de suas vidas”, explica Nicole
pacientemente. “Eles acreditam que sua sexualidade não deve ser
possuída ou controlada por outra pessoa e que, se fizerem sexo com
outra pessoa, isso não muda a maneira como se sentem em relação
ao parceiro. Este é o tipo de pessoa que vai estar nesta festa.”
Anne não reage, então Nicole continua: “Pense assim. Quando

as pessoas têm amigos, eles têm diferentes tipos de relacionamentos
com cada um deles. Mesmo que tenham um melhor amigo, isso não
significa que não possam ter outros amigos. E esse é o
como as pessoas nesta festa pensam em relacionamentos sexuais.”
Depois de um silêncio longo e desconfortável, durante o qual ela

parece tomar uma decisão, Anne se vira para mim. “Em Paris, nos
conectamos nesse nível.” Ela aponta para sua cabeça, seu coração e
sua virilha. “Mas desta vez meus sentimentos por você são diferentes.
Meu corpo e minha mente estão mudando.”
Eu não entendo exatamente o ponto dela, mas parece que ela

está terminando comigo à sua maneira, o que é um alívio. "Eu me sinto
da mesma maneira", digo a ela. “Você é uma pessoa linda por dentro
e por fora.
Mas somos muito diferentes e queremos coisas diferentes.
Então talvez seja melhor se formos apenas amigos.”
Quando digo isso, seu rosto cai. Evidentemente eu entendi mal.
"O que há de errado?" Eu pergunto.
“Eu disse que meus sentimentos por você mudaram.”
"Eu sei."
“Eles ficaram mais fortes.”
E agora meu rosto cai.
34
“Eu desisti de fazer sexo na festa ontem à noite e hoje é a
minha vez,” Belle desabafa enquanto nos aproximamos do
loft de Reid. “Estou cansada de todo mundo” – ela procura
a palavra – “bloqueio de vagina”.
Esta é a minha chance de parar de cuidar das
necessidades dos outros e focar nas minhas. Anne e eu
nunca concordamos em ser exclusivos. O acordo era que
estaríamos em um relacionamento de grupo. Então é ela
quem está quebrando as regras. Pela primeira vez, vou fazer
exatamente o que disse aos caras da reabilitação que
deveríamos fazer: treinar um parceiro para aceitar um
relacionamento nos nossos termos, em vez de aceitarmos
nos termos deles. E, mais importante, fazê-lo honestamente.
“Aqui está o que eu sugiro,” digo a Anne. “Haverá um
círculo de boas-vindas onde todos falarão sobre suas
expectativas para a festa. E sugiro sair da sala após o círculo
de boas-vindas. Se você quiser saber mais tarde se eu fiz
alguma coisa, você pode me perguntar e eu te direi a
verdade.”
Ela acena em uma direção que parece sim. Está claro que
ela ainda não está completamente confortável, mas essas são
suas emoções para se preocupar, não as minhas. Não posso
me envolver aqui.
Entramos no loft de Reid. É um grande espaço quadrado
com um palco na frente, um enorme tapete no meio, uma
varanda que envolve três das paredes e uma multidão melhor
descrita como pansexual: homens heterossexuais, homens
gays, homens bi, mulheres bi, butch lésbicas, batom les bians,
e provavelmente nenhuma mulher completamente heterossexual,
além de talvez Anne.
Nós nos acomodamos em um canto ao lado de um homem
que se apresenta como superintendente do prédio de Reid.
Ele está lá com uma mulher que ele descreve como sua
“namorada principalmente lésbica” e sua amante. Somente na
área da baía o homem de manutenção de alguém também
seria poli e em festas de sexo. Agora entendo porque Nicole
me encorajou a alugar um lugar aqui. Estamos em um território
livre onde a revolução sexual já foi combatida e vencida.
Enquanto Nicole manda mensagens para James, Reid

comanda o círculo de boas-vindas. Ele dá palestras primeiro
sobre sexo seguro, depois sobre como pedir permissão para
tocar em alguém e, finalmente, sobre como se sentir à vontade
para dizer não. Ele nos pede para praticar o seguinte diálogo
com nossos vizinhos:
Participante da orgia 1: Posso _______ você?
Participante de orgia 2: Não.
Orgy Participante 1: Obrigado por cuidar de si mesmo.
Supostamente ninguém nasce com grandeza. São

necessárias, segundo a teoria, dez mil horas de experiência
para dominar alguma coisa. E Reid claramente colocou em
suas dez mil horas de orgias. Quando ele termina sua palestra
– que serve como preliminares da mesma forma que a adoração
à divindade fez no puja – todos se sentem seguros, confortáveis
e prontos para libertar seus líbidos de seus espartilhos
socialmente amarrados. Todos, isto é, exceto Anne — e Nicole.
“Você sabe a que horas vamos sair?” Nicole pergunta.
“Eu não sei, realmente. Acabamos de chegar.”

"Porque se for mais de uma hora, vou pedir para James vir
me buscar."
Não entendo por que ela veio até aqui conosco se queria ir
para casa imediatamente. “Duvido que demore mais de uma
hora, mas não tenho certeza. Eu nem sei o que está prestes a
acontecer.” Estou ficando sobrecarregado. "Porra. Por que isso
Importa?"
“James está nervoso por eu estar aqui.”
— Então por que você veio?
“Ele disse que estava tudo bem, desde que eu não jogasse
com ninguém.”
“Então não brinque com ninguém.”
“Eu sei, mas ele está chateado porque se sente excluído.
Então eu só quero ir para casa logo, ok?”
Até agora, nenhum relacionamento alternativo que observei de
perto parece ser livre, íntimo e saudável. Na comunidade de viciados
em sexo, eles queriam que controlássemos nossos corpos para que
nossos corações pudessem se conectar; nesta comunidade, eles
querem que controlemos nossos corações para que nossos corpos
possam se conectar. Mas talvez esperar ter tudo — a intimidade
mais profunda e a luxúria mais desenfreada — seja uma busca
irreal, como esperar que um ser humano seja perfeito. Tudo o que
você pode fazer é trabalhar para chegar o mais próximo possível do
impossível.
Depois de instruir a assembléia a respirar fundo, Reid conclui o

círculo de boas-vindas perguntando a seus convidados o que eles
querem experimentar durante a festa.
“Quero ver o casal ao meu lado fazendo sexo.”

“Eu quero ficar com todas as mulheres aqui por sete minutos
cada.”
“Quero que outra mulher use uma cinta em mim.”
“Eu quero ir atrás do meu namorado com outro cara.”
Anne ainda está sentada ao meu lado. Ela não está tanto segurando
minha mão, mas agarrando-se a ela para salvar sua vida.
"Voce quer ir embora?" Eu pergunto a ela quando o círculo de boas-

vindas termina.
Silêncio.
Uma mulher na nossa frente tira a camisa da namorada e enterra o
rosto nos seios. Um cara atrás de nós tira as calças. Ele está vestindo
blackies apertados e meias pretas na altura do joelho. Uma avalanche
está rolando para proteger a psique de Anne.
"Você realmente deveria sair agora", eu a advirto.

Duas mulheres que estão com o homem da meia no joelho começam
tirando suas roupas. Uma pilha de sexo está se formando.
Eu chamo Reid. Ele é o Yoda das orgias. Ele saberá o que fazer.
“Você sempre tem que ir com a pessoa que tem menos conforto”, ele
aconselha. “Então, se você tem que sentar aqui e apenas assistir, então
é isso que você tem que fazer.”
Estou confuso com seu conselho. Parece exatamente o oposto do

que ele disse na casa esta tarde sobre ser egoísta. Talvez ele não
entenda a situação. “Mas o que não é justo é que ela não queira que mais
ninguém me toque ou segure minha mão, mas ela faz essas coisas
comigo.” pareço estar dentro
Jardim da infância. “E ela sabia que estava vindo aqui para estar em
um relacionamento de grupo.”
“Se for esse o caso, então ela precisa entender que você não é
exclusivo dela, e que você precisa cuidar de si mesmo e ela precisa
cuidar de si mesma.”
Ele fez um total de 180 novamente. Agora não tenho ideia do

que é certo. Minha bússola moral perdeu o norte verdadeiro. Eu
tenho que olhar para dentro para obter respostas.
Meu adulto funcional diz que devo engolir e não fazer nada para
não machucar essa flor murcha. Mas minha criança interior quer
brincar. Ele está cansado de ser contido pelas emoções das pessoas
ao seu redor.
Eu assisto com inveja enquanto o cara com as meias na altura
do joelho gosta de seu trio. Seus corpos, mãos e línguas habilmente
deslizam um sobre o outro em uma miríade de posições mutáveis,
cada uma natural, sem esforço, criativa. Esta foto era o que eu
esperava entrar com a casa aqui. No caso dele, está claro que as
mulheres gostam mais umas das outras do que ele – e talvez seja
por isso que está funcionando tão bem.
Enquanto isso, Anne está desesperadamente agarrada a mim

como um sinal de pare por diversão. Belle está sussurrando tentações
sexuais em meu ouvido. Nicole está perguntando quando podemos
ir. E Veronika está sentada em uma cadeira, ou de mau humor ou
apenas sendo ela mesma.
Eu sinto que estou vestindo um terno com pregos; qualquer

movimento que eu fizer vai machucar alguém.
Este é o momento da verdade poli: preciso ser homem e assumir
o comando. Eu preciso ser Orfeu Black. Preciso canalizar Kamala Devi.
Preciso colocar o padre Yod neles. Meu problema esse tempo todo é
que tenho tentado governar por consenso. E todo relacionamento de
grande grupo que eu vi ou ouvi falar foi dirigido, como disse Kamala,
por um ditador benevolente. Essas garotas estão procurando por um
papai, então, por mais repugnante que toda essa dinâmica seja, talvez
seja hora de intensificar e ser esse papai. Não o pai que abandona ou
o pai que se envolve, mas o pai funcional com um senso do que é
certo. E o que não está certo é que Anne está violando os acordos que
ela fez e os direitos das outras mulheres do grupo de também terem
um relacionamento comigo.
“Nicole, leve Anne para o carro,” eu ordeno.

“Eles podem esperar no meu apartamento, se quiserem”, oferece
o superintendente do prédio.
“Quanto tempo você acha que vai ficar?”
Nicole me pergunta enquanto ele fecha as calças e as leva para fora.
"O tempo que for preciso", eu digo a ela.

Veronika permanece sentada na cadeira. Ela teve sua vez ontem
à noite. Justo é justo. uma vez falei com
Barbara Williamson, cofundadora do Sandstone Retreat, uma

das mecas swinger mais famosas dos anos setenta, e ela
disse que foi apresentada ao Lifestyle logo após seu
casamento, quando o marido transou com outra mulher na
frente dela. Embora fosse doloroso no momento, depois que
ela viu que isso não afetava o relacionamento de forma
alguma, ela percebeu que não era grande coisa. Talvez eu
devesse ter dormido com cada uma das mulheres na frente
das outras no dia em que Anne chegou, só para acabar com a
dor e a possessividade de todos.
Pego a mão de Belle e caminhamos pela orgia, bebendo o

espetáculo. Ao contrário das festas em que estive até agora,
aqui as luzes nem são apagadas.
Não há vergonha. E embora os casais se pareçam mais com
os da conferência de poliamor, a cena é tão bonita quanto a
de Bliss. É aí que eu entendo que não é a beleza física que
torna essas festas bonitas ou feias – é honesto e aberto nas
intenções. A hipocrisia é feia.
No andar de cima, há uma maldita máquina. (Não uma

maldita máquina , mas uma maldita máquina — um vibrador
movido a um motor a pistão.) Uma garota asiática está deitada
na frente dela como uma grande mulher hippie que reconheço de
a conferência de poliamor liga, então massageia os seios da

garota enquanto ela é fodida por um robô.
Perto dali, um casal está rolando pela sala fazendo sexo
em uma grande bola circular com estribos e alças. O loft de
Reid é como um parque de diversões para adultos excitados. E,
por mais excitante que seja, é difícil focar. Quanto mais andamos
por aí, mais culpada me sinto por Anne e Nicole. Mesmo que
eles renegassem o plano, ainda era falta de consideração da
minha parte bani-los como uma espécie de déspota de orgia.
As pessoas têm permissão para mudar de ideia.
Uma mulher de cabelo preto agarra Bela e pede permissão

para beijá-la. Eles começam a se beijar, mas assim que eu fico
excitada, Belle foge e diz a ela: “Onde está seu namorado?
Você deveria ir encontrá-lo.”
Ela me quer para ela mesmo em uma orgia.

Belle me arrasta para um ponto ao longo da varanda.
A 2 metros de distância, Reid está fodendo um indie-rocker fofo
mulher.
Belle e eu nos beijamos enquanto a esfrego até a umidade.
Então ela desabotoa minha calça e desce em cima de mim.
Uma vez que estou duro, ela se levanta, se afasta de mim e
agarra a grade da varanda do loft, sua bunda no ar. Enquanto
coloco a camisinha, começo a pensar em Anne novamente. Eu
me preocupo que ela esteja sofrendo no
apartamento do superintendente, me imaginando no meio

de uma pilha de sexo. Ao lado dela, Nicole provavelmente
está estressada no telefone, sendo gritada por James por
ficar aqui sem ele. E eu me sinto como um idiota egoísta. Eu
não posso acreditar que eu realmente os expulsei do
apartamento de Reid só para que eles não atrapalhassem
minha diversão. Ontem à noite, Veronika e eu tivemos
permissão. Esta noite, Belle e eu não.
Percebo um casal próximo observando. Até as pessoas
lá embaixo parecem estar olhando para cima. Parece que
seus olhos estão nos julgando, nos acusando de violar o
protocolo poli.
A cadeira em que Veronika estava sentada está vazia.
Eu procuro por ela no quarto, mas ela não está à vista.
Então, ou ela decidiu participar ou também ficou brava e
saiu do loft. Eu me sinto atraído e esquartejado emocionalmente
Fecho os olhos, respiro fundo e tento me concentrar na
parte lisa, pálida e bem torneada do corpo à minha frente.
Eu empurrei uma vez e imagino isso penetrando no coração
de Anne como uma adaga. Eu empurrei uma segunda vez e
seu coração se parte. Eu empurrei novamente e não sobrou
nada dela, apenas uma concha vazia. Eu empurrei até a
metade e acho que se Anne algum dia trabalhar na cadeira,
isso estaria em sua lista de traumas.
Eu não posso continuar.
Eu puxo para fora e é completamente macio. Eu cambaleio

para trás em uma cadeira e Belle tenta realizar a RCP genital.
Mas está morto.
"Eu me sinto muito culpada", digo a ela.
Ela não fala. O olhar em seu rosto diz o suficiente. Não é
raiva ou tristeza. É o olhar de uma criança fazendo beicinho:
“Não é justo”.
Em um súbito lampejo de clareza, vejo a verdade: tomei a
decisão errada. Quando Reid disse ser egoísta, ele não estava
me dando permissão para ferir os sentimentos das pessoas.
Ele estava me dando permissão para pedir o que eu queria. E
não era Anne que precisava se sentir confortável ao ouvir um
não, era Belle e eu, porque a pessoa em um relacionamento
com o mínimo de conforto estabelece os limites - mesmo que
ela continue mudando as regras e colocando em antolhos
para o que realmente está acontecendo. Anne ouviu o que
queria ouvir para poder estar aqui em São Francisco comigo.
E da mesma forma, ouvi o que queria ouvir para poder ter meu
harém de amor livre.
Eu sou tão ruim quanto ela. Talvez nós pertencemos um

ao outro.
E assim me sento cercado de prazer, descendo
em uma espiral de vergonha gigante.
A culpa é sobre o que você faz com seu pau. Vergonha é
ser um idiota.
"Vamos", eu gemo, derrotado.

"Multar!" Belle me segue ressentida.
Quando chegamos ao final da escada, Nicole corre até nós
em pânico. “Eu tenho tentado encontrar você! Todo mundo está
muito chateado.”
“Todo mundo ou Anne?”
"Todos. E Anne está com muita dor.”
“Era disso que eu tinha medo.” Ser egoísta e ter
consciência não são uma boa combinação. É como ter uma
arma com balas que, não importa em que direção sejam
disparadas, sempre acabam acertando na cabeça.
“Eu deveria ter deixado James vir me buscar,”

Nicole desabafa enquanto nos apressa para a porta da frente. “Ele
está enlouquecendo.”
Saindo do apartamento de Reid, vemos Veronika no
corredor caminhando rapidamente em nossa direção. Seus
olhos travam nos meus, então se afastam com desgosto. “Achei
que era durona”, ela diz amargamente. “Mas você realmente
não tem sentimentos.”
Suas palavras me enviam mais fundo na minha espiral de vergonha.
Quando cuido de todos os outros no relacionamento, fico infeliz.
Quando eu cuido de mim, ainda sou miserável. Não consigo
ver nenhuma maneira de fazer isso funcionar.
Esta é a pior orgia da minha vida.
E talvez seja esse o problema: eu não deveria estar

arrastando meu quadrilátero para brincar em festas. Isso é
exatamente o que um viciado em sexo faria. Tenho certeza de
que o padre Yod não precisava levar suas esposas para festas
de sexo. Eles tinham tudo o que precisavam em casa. Mesmo
que eu vá até o fim, a questão é me comprometer com um
relacionamento mais aberto, não para satisfazer todos os desejos c
No mínimo, cuidado, compreensão e confiança precisam ser
estabelecidos primeiro.
A impaciência é inimiga da intimidade.
Belle e eu caminhamos com Nicole e Veronika até o
apartamento do zelador como detentos em um tribunal. “Eu
tenho que entrar?” Belle pergunta quando nos aproximamos.
“Sim, você tem. Talvez você devesse entrar na minha frente,
no entanto, para não chegarmos juntos e esfregar tudo. Uma
crítica que Rick certa vez me deu passa pela minha mente: você
cria a imagem de que você é uma boa pessoa ao invés de
realmente ser uma boa pessoa.
Espero do lado de fora mais alguns segundos, depois entro.

A primeira coisa que vejo é Anne sentada no chão, envolta
profundamente em seu xale. Ela parece uma daquelas crianças
puxadas pela polícia de debaixo da cama depois de testemunhar
o brutal assassinato de seus pais.
Peço desculpas a ela e ela não diz nada.

Enquanto caminhamos para o carro, Belle corre à frente e se

posiciona na frente da porta do passageiro. “Vamos lá,” digo a ela,
exasperada, mostrando pouca consideração tarde demais. “Seja
respeitoso com Anne e deixe-a sentar na frente.”
O estúpido banco da frente. O automóvel moderno

mobile foi claramente projetado por monogâmicos.
A noite caiu, mas não está tão escura quanto o clima no carro
enquanto voltamos para São Francisco. Pepper disse que o objetivo
era me descentralizar, e neste momento sinto que realmente perdi
meu centro. Não tenho ideia do que dizer ou como navegar nisso.
“Alguém quer fazer o check-in?” pergunto debilmente.

Ninguém diz uma palavra. Nem mesmo Nicole.
"Eu vou começar, então," eu falo para o silêncio. “Resumindo,
tomei a decisão errada aqui, e eu...”
“Você tomou a decisão errada?” Bela estala.
"Por que?"
Porra, agora eu piorei. Belle acha que estou dizendo que
cometi um erro ao escolher ficar com ela. “Talvez não tenha havido
uma decisão certa,” continuo.
“Durante toda a semana conseguimos sobreviver garantindo que
todos estivessem confortáveis, mesmo que isso significasse que
alguns de nós não conseguiriam o que queríamos. Mas Reid nos
disse em casa que deveríamos ser egoístas, que todo mundo vai
cuidar de si mesmo se você cuidar
você mesma." Estou balbuciando agora, inventando desculpas. “E

talvez eu devesse ter ido com o que eu sentia, mas ele parecia saber
o que estava dizendo, então isso realmente me tirou do sério.”
“Talvez você devesse pensar por si mesma em vez de fazer o

que as outras pessoas dizem a você,” Veronika fala friamente.
Ela está absolutamente certa. Mal, mas certo. Estou perdendo:

já é difícil machucar uma pessoa em um relacionamento monogâmico,
mas hoje machuquei quatro pessoas.
Poliamor não é apenas ter espaço no coração para mais amor, é
também ter espaço para mais dor e culpa. Se o amor dói, o poliamor
mata.
“Eu não acho que isso funcione se as pessoas não tiverem

consideração pelos outros, e eu violei isso hoje. Eu realmente cruzei
uma linha.” Pareço um assassino tentando convencer a família de
uma vítima a sentir pena dele. “Sinto muito, Anne, e também sinto
muito, Belle. Desculpe, todo mundo.
Esse é o meu check-in.” Eu dou um suspiro profundo.
"Mesma emoção", diz Belle. “Esse é o meu check-in.”
“Veronika, há algo que você queira dizer?” Eu pergunto,

lembrando como a comunicação nos salvou no passado.
"Não." Sua voz é plana e sem paixão. Nem a

comunicação pode nos ajudar agora.
“Ana?”
Silêncio.
A única mulher que ainda fala comigo no carro é o
sistema de navegação GPS, que fala por todos nós quando
diz “Recalculando”.
“Sem mais festas de sexo, ok? Eu nem me importo se
tivermos mais sexo. Como vocês se sentiriam se
passássemos o resto desse tempo tentando nos conhecer
melhor? Eu pergunto.
Ninguém responde. Anne olha pela janela do
passageiro silenciosamente, seus sentidos não registrando
nada, em linha reta, a personificação de Henry da
misteriosa nona emoção da reabilitação: a sensação de morte
Nesse momento, eu a odeio. Eu a odeio por não dizer
nada. Eu a odeio por sofrer silenciosamente, assim como
minha mãe. Eu a odeio por não ouvir uma palavra que
dissemos na reunião da casa antes, ou uma coisa que eu
disse ao convidá-la para morar conosco. Eu a odeio por ter
expectativas completamente irracionais de mim. Eu a odeio
por não considerar meus sentimentos em nada disso. Eu a
odeio por ter sido ferida quando eu estava tentando cuidar
de minhas próprias necessidades pelo menos uma vez. Eu
a odeio por me amar, por querer me possuir, por incorporar
tudo o que estou tentando escapar.
E, acima de tudo, eu a odeio porque me sinto culpado.

Eu esmaguei o coração já frágil de alguém em pedaços.
35
Trecho do Diário da Bela
Essa experiência tem sido, para dizer o mínimo, uma
montanha-russa emocional.
Quando cheguei, senti como se pela primeira vez
na vida eu estivesse livre para ser eu mesma, longe
do julgamento e potencial decepção de minha família.
Então, na segunda noite, quando eu disse ao Neil

que não estava funcionando para mim, foi uma
combinação de sentimentos. Eu senti que o estava
decepcionando e não contribuindo do jeito que ele
queria, e parecia que ele e as outras garotas não me
queriam lá. Eu também estava confuso pra caralho
que havia regras diferentes para pessoas diferentes, e
isso me surpreendeu: por que ele pode beijar os outros
na minha frente e não o contrário? Fiquei desapontado
por não conseguir fazer o que queria com ele (foda-se
sem sentido). Afinal, foi por isso que vim.
Então o drama de Anne aconteceu esta noite. Eu
podia entender de onde ela estava vindo, mas era
frustrante! Eu podia ver que ela tinha alguns
sentimentos profundamente enraizados por Neil. Então, por que

ela se colocou nessa situação?
Depois da conversa com Reid, Nicole e eu tentamos
dizer a Anne para não ir à festa de brincar.
Dissemos a ela que ela se machucaria se viesse.
Vou presumir que ela estava pensando: se eu fizer isso e
seguir em frente, Neil ficará feliz comigo e vou conseguir o
que quero da situação.
Basicamente, ela decidiu se machucar e ir contra tudo que
ela acreditava para pegar o cara.
Todo o cenário me confunde, para ser honesto: como
ela conseguiu esses sentimentos por Neil e como diabos
ele não os viu?
Toda aquela situação explodiu e eu fiquei feliz em ir
embora – embora um pouco a contragosto. Eu poderia
dizer que ele não estava afim e eu ainda concordei com isso.
Ele nunca precisou de mim para deixá-lo duro antes.
Inicialmente pensei que talvez fosse a situação de estar
cercado de pessoas. Então ficou óbvio: ele estava fazendo
algo que não estava gostando ou não queria fazer, o que
está tudo bem.
Eu admito que eu realmente não queria entrar naquela
sala onde Anne estava depois. Deus, nada parecia mais
assustador e emocionalmente fodido do que entrar naquela
sala. Mas ele me implorou, então eu fui. E, sim, eu plantei
um sorriso falso no meu rosto. Eu me senti estranho e
como um valentão. Eu era o cara mau, e isso é tão contra
a minha natureza. Eu não saio do meu caminho para
machucar as pessoas ou ser
egoísta, e eu fiz. Eu me senti muito, muito escroto,

especialmente naquela volta de carro para casa. Quando
ninguém estava falando e eu senti a raiva deles, foi um
momento de merda .
Anne veio e falou comigo em casa depois. Eu não
queria falar com ela. Tive emoções desconfortáveis e senti
que a havia machucado consciente e voluntariamente.
Essa foi uma conversa difícil. Ela só queria continuar
falando e porque eu me sentia culpado, eu escutei e
estava lá para ela. Ela falou sobre ter sido estuprada por
seu primeiro namorado e eu perguntei se Neil sabia. Ela
disse não. Eu disse que Neil não a teria colocado nessa
situação se soubesse, e que ela precisava de ajuda
profissional, e que esconder e fingir que não aconteceu
obviamente não estava ajudando sua vida.
Estou, por sua vez, chateado por não ter conseguido

o que queria com isso – pular em seus ossos. Mas ganhei
outras coisas e insights sobre mim mesmo. E aprendi
como o sexo é uma grande parte de quem eu sou,
provavelmente um vício. E isso me leva a fazer coisas ou
agir de uma certa maneira para obtê-lo. Eu preciso
trabalhar para removê-lo de seu pedestal e não deixá-lo
ser algo que é todo-poderoso e consumidor, pois acredito
que é um lugar insalubre para estar.
Não estou desejando não ter vindo e acho que não

quero ir embora. Estou apenas tentando aceitar
que esta situação é muito diferente das minhas

expectativas. Tudo é tão complicado: quatro pessoas
diferentes com quatro conjuntos diferentes de
necessidades e algumas pessoas tão relutantes em se compro
Tudo é um pouco demais para lidar de uma só vez
agora.
36
Depois de deixar Nicole, voltamos para casa em silêncio.
Enquanto subimos as escadas para o apartamento, cada
um em seu próprio inferno pessoal, penso em fazer
minhas malas, enfiá-las no carro, ir embora e deixar as
meninas lá. Isso seria um final engraçado pra caralho
para esse relacionamento de grupo: apenas abandoná-
los.
Tenho uma esposa e duas outras esposas em São
Francisco, Jack / Saí para dar uma volta e nunca mais
voltei.
Eu costumava fantasiar quando eu era uma
adolescente virgem sobre ser o único homem na terra e
todas as mulheres querendo dormir comigo. Mas agora
eu acho que seria um pesadelo: ter todas aquelas
pessoas competindo e manipulando e criando drama,
então ferindo tantos sentimentos sempre que você
escolhe dormir com apenas um ou dois. Você seria
assassinado antes de ter a chance de se divertir.
Talvez esse seja o preço de tornar suas fantasias realidade.

Você percebe rapidamente que eles eram mais divertidos de
imaginar.
Uma amiga minha, Tina Jordan, namorou Hugh Hefner, que
é conhecido por viver com várias mulheres. No primeiro encontro,
enquanto ele a cortejava com champanhe e morangos em seu
quarto, suas outras namoradas ficaram com ciúmes, foram até a
porta e começaram a bater nela. Então eles invadiram, gritando
com Hefner e Jordan.
Ao longo de seu relacionamento, Jordan diz, mesmo sendo

tecnicamente poliamoroso, Hefner de dez anos se esgueirou,
traiu, quebrou as regras – e quase sempre foi pego por suas
namoradas. Ele parecia gostar do drama, ela notou. Ter mulheres
brigando por ele o fazia se sentir querido. Talvez seja o tipo de
cara que gosta de ser o fulcro.
"Eu preciso falar com você", diz Anne enquanto os outros

desaparecem sem palavras para seus quartos.
"Não agora, ok?" Eu respondo, evitando olhar
contato.
Vou até o banheiro, escovo os dentes e me preparo para
mais uma noite no sofá. Nenhum de nós jantou, mas estou
emocionalmente exausta demais para pensar nisso. Eu só quero
me desconectar de cada um. Estar sozinho comigo mesmo.
Enquanto estou de costas para a porta aberta, eu me preparo

para a faca de cozinha na espinha ou o martelo no crânio. Quem
precisa se preocupar com cartéis mexicanos quando você tem
amantes ciumentos por perto? Eles terminarão o trabalho muito
mais rápido e com mais entusiasmo.
Enquanto escrevo isso, há uma história no noticiário sobre

um homem nigeriano com seis esposas. Ele foi atacado com
facas e paus por cinco deles por dar muita atenção ao sexto. De
acordo com o artigo, as cinco esposas descontentes exigiram
que ele fizesse sexo com todas elas e depois o “estupraram até
a morte”.
Enquanto lavo o rosto, sinto a presença fria de Veronika
atrás de mim, lançando uma sombra sinistra.
Aí vem: o ataque. "Podemos falar?" ela pergunta.
É um ataque emocional. O tipo mais perigoso. E agora
preciso de um tempo para mim mesma antes de dizer ou fazer
qualquer outra coisa de que me arrependa. "Não agora, ok?"
Ela gira sem palavras, passa por mim e toma banho

enquanto eu me retiro para minha área de quarentena no sofá e
pego meu computador para fazer anotações. Para mim, a melhor
maneira de entender o que realmente aconteceu em qualquer
situação é escrever sobre isso até que a verdade apareça.
Enquanto estou digitando, ouço o baque dos saltos de

Belle no chão atrás de mim. Eu a sinto cair ao meu lado.
Eu a sinto sentada lá, falsamente paciente, esperando que eu
levante os olhos. Irritação serpenteia pelo meu corpo enquanto
mantenho minha cabeça baixa. Agora sua mão está no meu
joelho, sugando meu calor, minha energia, minha alma, e
deixando em seu lugar apenas um vazio escuro e frio. Depois
de um minuto interminável, ela fala: “Preciso falar com você”.
Eu me sinto como se estivesse em um filme de terror,
preso em uma casa cheia de zumbis. E a cada poucos passos
que dou, um está pulando para mim ao virar da esquina. Mas
em vez de dizer “cérebros”, eles estão dizendo “preciso falar
com você”. E de certa forma é o mesmo desejo: consumir meu
cérebro. Talvez o último seja ainda pior.
Pelo menos eu posso fugir de zumbis. Não há como escapar
das emoções. Mas eu posso tentar.
"Podemos falar depois? Eu preciso de um tempo para mim
agora.”
“Acho que racionalmente entendo isso. Irracionalmente
Eu não. Vou tentar não deixar que isso machuque meus sentimentos.”
Suas palavras são agulhas de absurdo cutucando meus
tímpanos. “Como isso está ferindo seus sentimentos? Quero
dizer, quando eu tenho algum tempo sozinho? É insano."
"Tudo bem se eu abraçar você enquanto você escreve,
então?"
"De agora em diante, estou fora dos limites", eu estalo.

Imagino Anne subindo as escadas e nos vendo. “Na verdade,
ninguém pode me tocar!”
Cruzo as mãos no ar, formando um X para “fora dos limites”.
O que era para ser um casulo de poli selvagem se transformou
em um maldito convento.
Ela permanece plantada ao meu lado teimosamente. Então
eu a encaro com toda a força da minha irritação e raiva,
perfurando profundamente em suas órbitas, tentando afastá-la.
Ela veio para cuidar de seus sentimentos e, em vez disso, eles
estão sendo demolidos ainda mais.
Tudo sobre essa situação me lembra os meses finais do
meu relacionamento com Ingrid, quando cada toque e expressão
carente dela faziam minha pele arrepiar. Liberte-se para realizar
meus sonhos mais molhados, estou de volta na mesma situação.
Só que é três vezes pior.
“Posso ter apenas um abraço?” Bela persiste. Esses zumbis

têm uma arma maior do que a força de rasgar carne: chama-se
culpa. E então eu levanto meus braços e os deixo envolvê-la,
embora meus nervos coçam e meu coração bata e cada célula
do meu corpo fuja na direção oposta. Apesar dessa revolta,
tento dar a ela o carinho que ela precisa. Ao fazê-lo, percebo
que não tenho ideia de qual é o limite entre cuidar de minhas
emoções, desejos e necessidades e cuidar de mim.
as emoções, desejos e necessidades dos outros. Parece que

estou sempre fora do alvo em uma direção ou outra.
Após o abraço da morte, Belle vai embora, contente.

Cometo o erro de pensar que o pesadelo acabou. Mas dez minutos
depois, como a cena após os créditos finais de um filme de terror,
Veronika se levanta da água do banho, me persegue na cozinha e
ataca: “Belle acabou de pedir comida chinesa, mas só para ela.
Como vou comer?”
Que porra é essa: eu sou responsável pela dieta e nutrição de

todos agora? Ela descobriu como comer antes de me conhecer.
“Você é uma garota crescida. Descubra por si mesmo!”

Essas mulheres simplesmente não param de ir atrás umas
das outras.
Ela balança a cabeça e diz: “Isso foi malvado”.
Mais uma vez, ela está certa. Onde há reatividade, há uma
ferida. E estou exagerando em tudo.
É quando eu percebo: todo esse empreendimento estava

condenado desde o início. No meu relacionamento com a In grid,
senti-me preso por seus desejos e necessidades. E então eu
absurdamente me iludi pensando que de alguma forma eu me
sentiria mais livre em uma casa com mais mulheres e necessidades
adicionais. Poliamor - pelo menos quando
Eu sou o fulcro — não é a resposta para um cara com problemas

de engranzamento. Muitos laços invisíveis me cercando,
apertando ao meu redor, me sufocando, matando
meu espírito.
Talvez eu não seja mono nem poli, mas apenas solo.
Reúno minhas forças, entro no quarto de Belle e pergunto
que ela adicione pratos suficientes ao pedido para que todos
pode comer. Mas cinco minutos depois, ela surge e
lamenta: "Não consigo me conectar à Internet".
Agora sou suporte técnico. Eles não podem descobrir nada
por si mesmos? "Dê-me o número de telefone e eu ligo para eles!"
Como o padre Yod sobreviveu a quatorze esposas? Ou

talvez não — e foi por isso que morreu aos cinquenta e três anos.
Eu deveria ligar para uma de suas esposas e perguntar como ele
fez esses 105 relacionamentos (de acordo com o
fórmula de Gauss-Pimenta) funcionam.
Eu fico meia hora sozinho até os chineses
vem comida. Enquanto estou arrumando a mesa, Belle e Veronika
entram.
“Conversamos, e entre nós está tudo bem agora”
Bela diz. “Decidimos que Anne precisa voltar
para Paris. E tivemos uma ideia juntos.”
"O que é isso?"
“Veronika quer ter uma experiência com um cara
e uma menina com um strap-on. eu vou ser a garota
com o strap-on. E se você quiser, você pode ser o cara.”
Fico ali com o queixo aberto. Estou completamente sem

palavras.
Achei que entendia a vida. Achei que entendia as
mulheres. Achei que estava pelo menos começando a me
entender. Claramente eu não sei nada.
E então Belle pergunta a Veronika: "Tudo bem se eu te
foder com um strap-on?"
E Veronika, com seu acentuado sotaque tcheco, diz: “Eu
preferiria não”.
Ok, é mais assim. Uma das meninas acabou de derramar
água fria sobre as esperanças e fantasias da outra.
Evidentemente, eu entendo como as coisas funcionam, afinal.
“Deixe Belle foder você com um strap-on, para chris

amor,” digo a ela. “No espírito da vida em comunidade.”
Ela não está se divertindo.
Nós três terminamos o jantar em silêncio. Eu realmente

me superei com esse relacionamento: em vez de tornar uma
pessoa infeliz, como meu pai fez minha mãe, fiz três mulheres
infelizes.
Depois, ouço Anne subindo as escadas. Eu me escondo
no banheiro. Emocionalmente, tenho oito anos agora. Mas eu
não quero olhar para ela. É como olhar para um vórtice de
culpa, que mantém
uivando: "Você está me machucando por não retribuir meu

amor totalmente irracional por você."
Há uma leve batida na porta do banheiro. Ela me encontrou.
Se ao menos eu pudesse me jogar no vaso sanitário e escapar
pelos esgotos de São Francisco. Prefiro ver ratos de um metro
com dentes afiados pingando meningite do que encarar uma
mulher que machuquei. Mas é claro que eu a deixei entrar,
porque a única coisa mais afiada do que aqueles dentes de rato
é a culpa.
Volto ao trono do meu rei errante. Ela se senta no chão na
minha frente e diz as temidas três palavras devoradoras de
cérebros: “Podemos conversar?”
“Claro, estou feliz que você esteja falando novamente.
Mas antes que você diga qualquer coisa, saiba que estou tão
perto” – apertando meu polegar e os dedos indicadores quase
juntos – “de enlouquecer.”
“Eu posso ir para casa amanhã ou ficar aqui pelo resto do
tempo”, diz ela. “Mas se eu ficar, espero tempo de qualidade
com você e preciso que todos aqui respeitem meus sentimentos.”
Ela olha para mim esperançosa, esperando para ver como

vou responder a esse pedido que ela claramente dedicou muito
tempo para formular adequadamente.
E então eu dou a ela – a doce e sofredora Anne – um
pedaço da minha mente. “Eu acho que você tem sido muito
egoísta. Você diz que outras pessoas aqui não estão respeitando s
sentimentos, mas você tem sido respeitoso com eles? Você

diz que eles não podem me tocar, mas então você pode me
tocar? Acho que você veio aqui com sua própria agenda e
ignorou completamente o que era essa situação de vida.”
Ela não responde imediatamente, é claro. Seu lábio inferior

se projeta e ela abaixa a cabeça e seu rosto incha e gotas de
água descascam de seus olhos. Por fim, as palavras pingam:
“Então, o que você quer que eu faça?”
"Nada. Mas saiba, se você ficar, então não posso ser

carinhoso com ninguém. Não posso segurar a mão de ninguém,
não posso beijar ninguém e não posso dormir com ninguém.”
Cara, a monogamia era melhor que isso.
Em países muçulmanos onde a poligamia é permitida,
alguns defensores dizem que ela impede que os maridos
tenham casos. Eu costumava pensar que era apenas sofisma,
mas agora sei que é verdade. Porque qualquer pessoa normal
com três ou quatro esposas estará muito ocupada e
emocionalmente exausta até mesmo para considerar adicionar
outra mulher à mistura.
Anne olha para mim com simpatia. Então ela diz: “Esta
pode ser uma experiência crescente, e podemos nos tornar
sábios com essas experiências”.
“Bem, eu definitivamente aprendi muito com isso.”
“Eu quero que você saiba uma coisa,” ela continua.

Nos próximos minutos, ela compartilha sua linha do tempo.
Seu pai abandonou a família por um amante gay; sua mãe
enlouqueceu depois; seu tio era alcoólatra; seu primeiro
namorado a estuprou. Então ela conclui: "Você me machucou
mais do que pode compreender."
“Eu não sabia de tudo isso.” Minha culpa está florescendo

novamente. Não acredito que fui colocado nessa lista de
traumatizadores horríveis. Embora agora eu entenda por que
ela se esconde sob todas aquelas roupas pouco lisonjeiras: não
é muito diferente da anoréxica sexual da reabilitação escondendo
atrás de seu peso. “Eu não acho que sou saudável para você.
Mas talvez isso tivesse que acontecer para que você pudesse
estar na realidade sobre quem eu sou e não mais em uma
fantasia romântica.”
E então o que ela faz: ela vai embora? Ela supera isso?
Não. Ela coloca a mão sobre a minha e deixa cair a cabeça
suavemente no meu colo.
Acabamos de passar por todo o ciclo de relacionamento
amor-evitante/viciado em amor que Ingrid e eu experimentamos.
E só conheci Anne há um mês. É disfunção acelerada para a
era da informação.
Anne queria seu único amor verdadeiro; Eu queria meu

parceiro poli. Nós dois saímos. Na dança de
paixão, vemos os outros não como são, mas como projeções

de quem queremos que sejam. E impomos a eles todos os
critérios imaginários que achamos que preencherão o vazio
em nossos corações. Mas no final, essa estratégia só leva ao
sofrimento. Não é um relacionamento quando a outra pessoa
é completamente deixada de fora.
"Sinto muito sobre a situação", diz ela. “Se você quer que
eu fique, diga. Por favor, tenha certeza de que você está no
meu coração, aconteça o que acontecer. Todos podem
cometer erros. E só para você saber, eu te perdôo.”
O coração de uma mulher é uma coisa linda. Estou
envergonhado por minhas palavras e comportamento
anteriores. "Isso significa muito", digo a ela. “Vamos dormir e
tirar um tempo sozinhos para processar tudo o que aconteceu
esta noite, e conversaremos mais pela manhã.”
Ana não responde. Em vez disso, ela apenas deita no

meu colo contente, como Hércules. E eu adormeço no
banheiro. Como o pedaço de merda que eu sou.
37
Em alguma hora indeterminada da noite, saio cambaleando do
banheiro e vou até o sofá.
Um sonho ainda paira na neblina do meu cérebro: eu estava
dirigindo um carro novo, mas perdi o controle e bati em uma
parede.
Eu puxo o lençol sobre mim e coloco o alarme no meu
telefone para o meio-dia. Tenho uma ligação para fazer para o Hava
Para Ísis Aquariana. Uma das esposas do Padre Yod.
Acordo tremendo e lavo o rosto com água morna, depois
ligo para Isis e digo que sou fã. Não tenho certeza do que isso
significa, mas ela parece feliz em ouvir isso. Assim, contei a ela
como consegui seu número de telefone (contatando o editor do
livro sobre o padre Yod) e explico minha situação atual.
“Não é fácil”, ela concorda. “Depois que o pai morreu e a

família se dispersou, ninguém conseguiu fazer funcionar com
vários parceiros.”
Eu a pressiono por uma hora com todas as perguntas que
posso fazer sobre a vida com o padre Yod e o que fez isso
funcionar na época. Ela me diz que o padre Yod foi
anteriormente em casamentos tradicionais. Ele abriu um

restaurante vegetariano e uma comuna chamada Fonte com
sua quarta esposa, e o grupo acabou crescendo para duzentas
pessoas morando juntas. Logo depois, ele percebeu que as
regras de seu relacionamento tinham que mudar.
“Ele estava dando dicas, mas Robin” – sua esposa real –

“continuava ficando dramática e surtando”, explica Isis. “Ela
começou a se agarrar a ele o tempo todo e a segui-lo porque
sabia que isso ia acontecer. E então um dia ele anunciou que
ia ter mulheres extras. Era sua jornada e ele era o chefe. Mas
ele era um chefe muito benevolente.”
É estranho – ela o descreve quase exatamente da mesma

maneira que Kamala Devi se descreveu, como uma autoritária
“bene volent”. Eu sinto por sua esposa legal, a viciada em
amor cujo coração ele teve que quebrar para viver seu sonho
poli. Mas pelo menos ele foi honesto com ela. Imagino que a
maioria dos homens faria algo semelhante se se tornasse um
deus virtual para uma comunidade de mulheres de espírito
livre.
O que tornou o relacionamento grupal bem-sucedido,
explica Isis, é que, diferentemente da minha situação, as
mulheres já viviam juntas na comunidade, então elas estavam
conectadas e ligadas
um ao outro com antecedência. Além disso, muitos vieram de

ashrams, comunidades intencionais e estilos de vida hippies,
onde estavam acostumados a relacionamentos mais
comunitários. Assim, todas as esposas se davam bem —
exceto, é claro, sua esposa legal, que não estava feliz com
nada disso.
“Havia algum tipo de hierarquia entre os
esposas?" Eu pergunto. “Um deles era seu principal?
"Não. Cada um de nós tinha seu próprio papel específico:
Mak ushla era seu anjo-mãe e assumiu o papel de mãe. Eu
estava de costas como seu buldogue e o arquivista salvando
seu legado. Outros tiveram o papel de ter seu filho. Todos nós
tínhamos nosso papel e, nessa posição, éramos os principais”.
Agora para a pergunta mais embaraçosa: “E, hum, como

funcionou a parte do sexo? Foi tudo junto ou um de cada vez
ou . . . o que?"
Ísis me diz que as esposas nunca fizeram sexo uma com a outra
outro - apenas cara a cara com ele.

Ela continua explicando que ele escolheu cada uma de
suas esposas porque acreditava que tinha carma de uma vida
anterior com elas para resolver. “Algumas das mulheres tinham
dezesseis anos, mas tinham relações de vidas passadas com
ele,” Isis elabora. Evidentemente, o calcanhar de Aquiles dos
líderes de cultos é que eles pensam que estão acima da lei. É
perturbador como, assim que chegam
No auge de seu poder, uma das primeiras coisas que muitos

escolhem fazer é dormir com – e muitas vezes controlar o
desenvolvimento de – meninas menores de idade. Até mesmo
uma das esposas de Muhammad era pré-adolescente. “É claro
que todas as mulheres da família queriam estar com ele, mas
ele juntou muitas delas com outras pessoas com quem tinham
carma. Então, outros homens também tiveram várias esposas.”
"E você nunca brigou sobre quem ficou no banco da frente
no carro?"
“Isso nunca aconteceu porque estávamos vivendo como
seres espirituais, não em nossa energia animal”.
Aparentemente, o padre Yod fez exatamente o que
Orpheus Black me recomendou – e o que eu não fiz com meu
quadrilátero. Ele incutiu em seus parceiros um forte senso de
família e de futuro. No caso do padre Yod, era a crença de
que eles estavam seguindo um deus terreno e inaugurando
uma nova era da humanidade - na qual eles e seus filhos
seriam profetas da vindoura Era de Aquário. Como resultado,
poucas pessoas queriam deixar este santuário exaltado.
Também ajudou que eles doassem todo o seu dinheiro e
propriedades quando vieram morar com ele, então eles
ficaram praticamente presos.
Enquanto continuo conversando com Ísis, entendo que o

que é preciso para gostar de ser o fulcro é um alto grau de
narcisismo e uma certeza inabalável de que
suas necessidades e crenças são mais importantes e esclarecidas

do que as do resto de sua comunidade — e muito possivelmente
do mundo.
Para minha consternação, quando esta imagem surge, eu
ver que o padre Yod pode ser mais um modelo do que
evitar do que imitar: Ele exigia a
bens mundanos, controlava rigorosamente seus seguidores,
e colocam suas vidas e a vida de seus filhos em risco ao não
permitir que eles usem remédios porque
de suas crenças espirituais.
E isso, infelizmente, pode ser a norma. Na verdade, a maioria
as comunas conhecidas historicamente como sexualmente liberais
foram realmente muito rigorosos sobre o assunto. Em Oneida, um
comunidade utópica do século XIX que considerava a monogamia
um pecado, um comitê aprovou
conexões para garantir que as pessoas não estivessem se juntando,
e os homens eram proibidos de ter orgasmos durante a relação
sexual sem autorização. Da mesma forma, o
comuna Kerista em San Francisco, onde termos como
a compersão e a polifidelidade foram inventadas no
anos setenta, era outro grupo dirigido por um narcisista com
regras rígidas, que incluíam a proibição de membros
de se masturbar ou fazer sexo grupal.
“Quando ele voou do penhasco, ele estava acabado e
pronto para seguir em frente”, diz Isis, referindo-se ao acidente de
asa delta que matou o padre Yod. “E ele saiu
nós porque não o largamos. No entanto, até hoje, mantive meu

tópico com ele. Eu ainda sou sua mulher. Eu não estive com mais
ninguém.”
Estou impressionado com a dedicação dela: ele morreu há
quatro décadas. Eu me pergunto se ela também se encaixa no
modelo de viciado em amor. E se por fim o padre Yod – cujo
pseudônimo é claramente um ímã para mulheres abandonadas –
se sentiu tão consumido pela pressão de ser o fulcro de tantas
pessoas que se eliminou.
“Você tem alguma palavra final de conselho para alguém que

está fazendo algo semelhante agora?” Eu pergunto.
“Fazia sentido nos anos sessenta e setenta, mas agora acho
que é uma coisa estranha. Se você trouxesse uma mulher para
essa situação hoje, acho que não funcionaria. Boa sorte, querida.”
Então é isso: apenas boa sorte tentando fazer o impossível?
Eu desligo e procuro mais estudos de caso online.

Em hebraico, a palavra para co-esposas é tzara, que também se
traduz como rival. E no antigo Egito, as segundas esposas eram
chamadas esirtu, que significa rival também. Até as esposas de
Muhammad ficaram com ciúmes.
Histórias deles quebrando pratos, conspirando contra uma esposa
favorita e fofocando um sobre o outro são abundantes.
E depois há o profeta mórmon Brigham Young, que, como o

padre Yod, abriu seu casamento monogâmico logo depois que
sentiu um chamado religioso, exceto que ele assumiu um
surpreendente cinqüenta e três cônjuges adicionais. E foram
quase a morte dele. A certa altura, ele disse a suas esposas para
irem embora se não estivessem felizes, proclamando: “Eu irei
para o céu sozinho em vez de ter [vocês] se coçando e brigando
ao meu redor”.
À medida que leio mais sobre os grandes fulcros da história,

que diferem muito do que temo ser uma fantasia imatura, ouço
Belle conversando com Anne na sala de estar.
quarto.
“Você quer dormir com Neil?” Bela pergunta.

“Sim”, Anne responde com ternura.
“Se você não nos deixa fazer sexo com ele, então você não
pode fazer sexo com ele. Não é justo que você queira mantê-lo
para si mesma.
Pelo menos Belle e Anne estão aceitando o conselho de
Pepper e resolvendo as coisas entre si. Ainda assim, é estranho
ouvi-los negociando e manipulando para dormir comigo como se
eu fosse algum tipo de prêmio. Talvez Isis ainda seja fiel ao padre
Yod não apenas por causa da profundidade de seu amor por ele,
mas também porque ela ainda está tentando vencer, para provar
que ela é a melhor esposa.
Eu me pergunto por que, depois que eu a fodi completamente

na noite passada, Anne ainda iria querer dormir comigo. Ou talvez
seja esse o motivo: ser fodida é o que ela está acostumada.
Enquanto ela, como Ísis hoje, estiver apaixonada por alguém que
não pode retribuir, ela pode estar sempre triste, mas seu coração
sempre estará seguro - porque ninguém pode realmente alcançá-lo.
Talvez o que eu precise fazer seja aceitar a rivalidade como

parte esperada de qualquer novo relacionamento grupal, e então
aprender a melhor administrá-la. Então, antes de me aventurar no
covil dos zumbis, decido chamar uma última pessoa: Orfeu Black.
Ele descobriu como fazer um casamento em grupo funcionar no
mundo moderno. Ele saberá lidar com a competitividade.
“Na verdade, somos apenas Indigo e eu agora”, ele responde

quando peço conselhos.
"O que aconteceu com o resto de suas esposas?"
"Foram separados." Ele fala essas duas palavras como se
fossem uma confissão — de arrependimento, vulnerabilidade,
fracasso. Eu posso relacionar.
“O que aconteceu com a família e o futuro?”
“Alguém o esfaqueou pelas costas.”
Depois de algumas provocações, ele me conta que um de seus
ex-amantes espalhou rumores sobre ele e manipulou suas esposas
contra ele. O veneno apodreceu o
grupo e harmonia se transformaram em drama, então ele decidiu

deixar suas duas esposas ilegais irem embora.
Imediatamente depois, como resultado do estresse e da tensão,
ele acordou certa manhã com amnésia.
Não só ele não conseguia se lembrar de uma coisa que tinha
acontecido, mas ele não conseguia nem reconhecer sua esposa real,
Indigo. Isso durou duas semanas.
Embora ele me diga que planeja reconstruir sua família
novamente, sinto-me justificado que mesmo Orfeu, com toda sua
experiência e confiança, não conseguiu manter três mulheres juntas
e permanecer são. Claramente, ser um fulcro não é fácil, mesmo para
pessoas muito experientes.
38
Quando todos estão acordados e vestidos, tomamos nossos
lugares habituais na sala de estar para uma reunião em
casa muito necessária. Tenho muito que pedir desculpas.
Mas antes que eu possa falar, Anne chega antes de
mim. "Eu gostaria de dizer algo", ela começa. "Eu cometi
um erro."
“Que erro é esse?” Eu pergunto.
"Eu quero ficar. Prometo compartilhar coisas.” Ela olha
para Belle, que acena em aprovação. “Estou disposto a
compartilhar você. Sim, eu quero ficar.”
Uma coisa sobre o poliamor é que nunca é monótono
ou previsível. A negociação de Belle foi evidentemente uma
sucesso.
“Você a manipulou!” Veronika interrompe, olhando para
Belle. “Não é justo fazer isso com Anne só para podermos
dormir com Neil.”
Se você perguntasse a qualquer um deles há um mês o
que eles fariam nesta situação exata, todos provavelmente
diriam que iriam embora e nunca mais falariam comigo. No
entanto, aqui estão eles, quebrando todas as leis da lógica,
respeito próprio e bom senso. E talvez seja uma dinâmica que eu

estabeleci por Svengali-ing essas mulheres apaixonadas para
desempenhar um papel na minha fantasia doentia.
Vejo a força nos olhos de Veronika, o desejo nos de Belle e
a esperança nos de Anne. E eu me sinto, pela primeira vez desde
que chegamos, completamente lúcida. Desde ontem à noite,
escrevi, descansei e conversei com Ísis e Orfeu. Agora é a hora
de tomar uma decisão poderosa.
O padre Yod fez as coisas funcionarem ao não pedir ou

precisar da permissão de ninguém para definir as regras para a
família. O mesmo com Hugh Hefner. O mesmo com Oneida e
Kerista e Orpheus Black. Todos eram subservientes à missão e
à palavra do benevolente ditador no comando. Se alguém não
gostasse das regras, presumivelmente estaria livre para sair.
Então, tudo o que tenho a fazer é estabelecer a lei – e é assim
que as coisas vão seguir em frente.
Mas eu não sou o padre Yod. Eu não sou Hugh Hefner.

Eu nem sou Orfeu Black. E depois do que aprendi esta semana,
acho que nunca mais gostaria de ser eles. Estou farto das minhas
fantasias do Pai Yod.
Só há uma coisa certa a fazer.
“Aqui está o que eu acho,” digo a Anne. “Você muito bem
poderia simplesmente engolir isso e me compartilhar. Mas você seria
prejudicando seu espírito se você fez. Isso não seria verdade

para quem você é.”
Ela olha nos meus olhos implorando. “Acho que posso
lidar com isso.”
“Você pode lidar com a dor e a dor? É isso que você está
dizendo?”
"Sim. Algumas coisas são mais importantes.” Ela fala
baixinho, seu corpo rígido, mas trêmulo, como se estivesse
prestes a desmoronar no buraco negro de si mesmo.
“Eu não quero que você seja um mártir. Você tentou isso
ontem à noite e veja o que aconteceu. É hora de fazer o que
é melhor para Anne. E se você me perguntar o que acho
melhor para Anne, provavelmente seria melhor que ela fosse
para casa.
“Mas eu posso mudar,” ela protesta, fortalecendo seus
nervos, convocando seu poder. “Eu posso trabalhar no
controle de minhas emoções.”
“Se você tivesse uma filha e ela estivesse na mesma
situação, você diria a ela para tentar controlar suas emoções
ou confiar nelas?”
Ela pensa sobre isso por um momento, então diz
suavemente, sem a bravata de antes: “Confiar nas emoções
dela”.
“Então por que você não segue o conselho de sua mãe?
Você é um curador e passa muito tempo curando
outras pessoas, mas talvez seja hora de começar a se curar.”
De repente, percebo que aqueles sentimentos de ódio que

tive por Anne na noite anterior não eram realmente sobre ela. Eles
eram sobre minha mãe. E quando Anne me olha com aqueles
olhos amorosos, ela não é Stalin tentando me mandar para um
gulag emocional ou um zumbi tentando comer meu cérebro. Ela
simplesmente me ama.
Se com ou sem razão, não importa. É apenas amor. É isso. Nada
a temer.
Durante todo o tempo em que convivo com esses três, vi o
amor como uma exigência: “preciso falar com você”
“Não mande mensagens quando estiver comigo”, “Diga a ela para
pedir comida para mim”, “Não segure a mão de mais ninguém”,
“Não é justo”, “Minha vez de sentar no banco da frente”.
Eu vi o amor como uma cela acolchoada projetada para tirar
minha liberdade. E isso porque minha mãe “sofredora” usou o
amor para exercer controle sobre mim, o que ela impôs com culpa.
Em meu relacionamento com Ingrid, acho que, enquanto me sento
iluminado pelos raios de seis olhos expectantes, interpretei seu
amor como controle e resisti a ele. Primeiro por trapaça, e quando
isso foi encerrado, por ressentimento, fantasia e distanciamento
emocional. Toda a minha vida, tenho lutado contra o amor pela
minha liberdade.
Não é à toa que eu nunca fui casada, noiva, ou mesmo

tive um amor que não diminuiu após o período inicial de
fatuation.
É uma constatação deprimente. Eu me pergunto por que
estou descobrindo agora. Talvez eu precisasse de uma
situação tão intensa e avassaladora para forçá-la à superfície.
Respiro fundo, como Reid, e olho Anne nos olhos sem

resistência pela primeira vez em dias.
E peço sinceras desculpas pelo meu comportamento. "Eu
gostaria de fazer as pazes pelo que aconteceu ontem", digo a
ela. “Há um processo pelo qual passei recentemente chamado
trabalho na cadeira. E ajuda as pessoas a tirar as coisas ruins
que aconteceram com elas de seu corpo e de sua psique.
Posso inscrevê-lo para isso e ajudar a pagar se você precisar.
Porque, o que quer que tenha acontecido com você no
passado, você deve ter profissionais ajudando você a tratá-lo.”
Olhando em seus olhos sem medo da minha própria

nadificação, noto uma alma linda, amorosa e gentil olhando
de volta para mim; uma mulher que passou pelo inferno e
milagrosamente conseguiu manter seu coração puro. E me
sinto mal por não vê-la como ela é, mas através de minhas
próprias lentes distorcidas e reacionárias. Eu deveria ter me
comportado assim o tempo todo e visto a beleza em cada um
dos meus parceiros em vez das falhas,
empatia com suas necessidades, em vez de se sentir preso por

elas.
E eu definitivamente deveria ter feito isso com Ingrid em vez
de regredir toda vez que ela chegou muito perto.
"Mas você não quer que eu fique para que você possa ver
se esse tipo de relacionamento pode funcionar para você?" Ana
pergunta. Agora, de repente, ela entende do que se trata tudo
isso. Aparentemente, ser compreendido leva à compreensão.
“Honestamente, meu trabalho está feito. Estou sugado. Eu

simplesmente não tenho a constituição para um relacionamento
como este. Eu não acho que isso funcionaria para mim com
ninguém.”
Acho que tenho minha resposta.
Agora o que eu faço?
39
Extraído do diário de Anne
Esta semana foi a minha primeira vez nos EUA. Foi
uma aventura. Algo novo com muito desconhecido.
E pela primeira vez, o desconhecido não me
assustava. Minha intuição profunda era que isso me
traria coisas realmente importantes.
Eu disse ao Neil que queria ser uma mulher
experiente. Mas na época, eu tinha apenas uma
vaga idéia de como. Eu sabia que queria sexo. E eu
estava pensando em ter novas experiências, por
exemplo, estar com outra mulher.
Mas quando cheguei, fiquei com medo de me
machucar e perder minha auto-estima. E eu não
senti que quebrar meus limites seria uma boa ideia.
Estarei pronto um dia para quebrar alguns deles?
Não sei. Acho que preciso de tempo e de um
contexto reconfortante e respeitoso para poder
desinibir. Embora eu saiba que se tivéssemos um
relacionamento normal, isso teria me entediado e
não teria sido uma maneira eficaz de evoluir.
Eu poderia dizer no primeiro dia que havia muitas

diferenças entre nós quatro. Isso gerou algum mal-
entendido. Ver todo mundo se tocando, acariciando e
tudo o que era estranho para mim. Parecia que eu
tinha pousado em outro planeta. Esse não era o tipo
de relacionamento que eu imaginava que teríamos.
Antes de eu vir, ele me disse que algo assim estava
acontecendo, mas eu não deixei minha voz interior me
preparar.
Durante nosso tempo juntos, tivemos que fazer
escolhas. Hesitamos e nem sempre sabíamos o que
era melhor para nós. Uma grande lição que isso me
ensinou foi que, se nos colocarmos em nosso coração
para fazer escolhas em novas situações, não podemos
cometer nenhum erro.
Acho que uma das coisas mais importantes que
percebi através dessa experiência é o que significa ser
mulher.
Neil me disse para ouvir meu coração e sentimentos
internos. Ele fez uma observação perspicaz que foi
como: “Se fosse sua filha, o que você diria a ela para
fazer? Comporte-se consigo mesmo como se fosse
sua própria mãe.”
Eu tive um sonho há cinco anos em que meu
namorado da época me dava meia lua. Depois disso,
deixei-o ir para um quarto onde um homem maduro,
de cabeça raspada e barba escura, esperava em uma
grande cama vermelha. Eu o conheci e ele me deu a
segunda metade da lua. agora eu sei o que
esse sonho significa. A lua simboliza a mulher e a mãe. E

agora posso dizer que o
homem na cama era Neil, mesmo que eu não soubesse
ele naquela época.
Então, graças a essa experiência e ao conselho de
Neil, finalmente entendo e sinto o que é ser um
mulher é: ser minha própria mãe.
Eu definitivamente sinto a mudança. Como agora me
considero minha própria mãe, não preciso
mãe outros mais. Agora posso estar em um relacionamento
sem tentar ajudar alguém. Elas
podem ser pais.
Rimos muito nas últimas horas que passamos juntos.
Eu me ofereci para fazer acupuntura em todos,
e fiquei feliz em ver que isso confortou a todos nós
e que finalmente estávamos em paz juntos.
Quando ele me deixou no aeroporto, Neil
me disse que estava preocupado que tivéssemos desperdiçado nosso
Tempo. E eu respondi que não havia desperdício
tempo, mas apenas tempo. E o tempo é útil para
experimentar e crescer. Essa relação incomum foi um
grande coisa para enfrentar meus problemas, para me conhecer
melhor, e para me ajudar a mudar. eu posso realmente dizer isso
me trouxe muito mais do que um normal
tenho.
40
Anteriormente orgulhoso e ereto, ficou mole. Onde antes
estava cheio de vitalidade, agora parece marrom e sem vida.
O Sobrevivente não está sobrevivendo muito bem aos

meus cuidados. Não posso deixar a planta indestrutível de
Ingrid morrer. Eu tenho que pelo menos ser capaz de cuidar
de algo com sucesso. Assim que volto para casa de São
Francisco e vejo o estado de abandono em que está, rego-a,
coloco-a sob a luz direta do sol e saio correndo para comprar
terra enriquecida com vitaminas para ela.
Enquanto estou fora, dou uma olhada com alguns dos
caras da reabilitação. Depois de atingir seu décimo oitavo
mês de celibato involuntário, Adam decidiu entrar em contato
com Lor raine para aconselhamento adicional. Charles está
separado e morando em um motel. E Calvin me diz que as
coisas estão um desastre desde que ele trouxe Mariana e seu
filho para Los Angeles. Ela está deprimida e com saudades
do Brasil, e ele está com raiva porque se sente preso e
forçado ao relacionamento pela criança.
“Mariana quer voltar para o Brasil e não tenho tentado desencorajá-

la”, confessa.
“Mas vou sentir falta do Flavio. Olhar nos olhos inocentes de seu
próprio filho pela manhã e ver um grande sorriso espalhado em seu
rosto é sublime! Espero que você experimente um dia.”
"Eu também espero", digo a ele. “Acho que nunca senti esse tipo
de alegria.”
Enquanto a situação de Calvin era previsível, a situação atual de
Troy ninguém esperava. Ele não apenas começou a ver seu parceiro
de caso novamente, mas ela quer que ele seja monogâmico com ela.
"Ela quer que você termine com sua esposa?" Peço a Troy que
esclareça.
“Não, ela sabe que eu não posso fazer isso. Ela simplesmente
não quer que eu faça sexo com minha esposa.”
"Isso é insano. O que você disse a ela?"
“Bem, eu disse não no começo. Então ela foi em um encontro
com um cara e isso me deixou louco, então eu cedi.”
Medo da perda: Motivou muitas pessoas fracas a assumir
compromissos que não deveriam. "Então você parou de dormir com
sua esposa?"
“Se eu fosse Adam, isso seria fácil de fazer.” Ele ri cruelmente.
“Mas minha esposa e eu temos uma vida sexual decente.”
Eu me esforço para entender o que ele está dizendo. “Então

deixe-me ver se eu entendo isso. Você está traindo sua esposa
com seu parceiro. E agora você também está traindo seu parceiro
com sua esposa?
"Bem-vindo a minha vida."
Naquela noite, encontro minha amiga Melanie para jantar.

Eu a conheço há mais tempo do que qualquer pessoa com quem
namorei. Ela esteve comigo por tudo isso, me dando a dura
verdade depois de cada rompimento – assim como eu dei
conselhos a ela toda vez que um homem que ela gosta fica
esquisito no momento em que um relacionamento aparece no
horizonte de seu namoro casual.
“Neil,” ela exclama quando eu conto a ela sobre São Francisco.
“Você não pode continuar assim. Você não quer se casar e ter
filhos?”
“Sim, mais do que tudo. Só não quero acabar como meus
pais. Quero encontrar alguém que acrescente à minha vida em
vez de limitá-la.”
"Conheço alguém assim", diz ela, tirando o cabelo do rosto.
Ela tem uma longa juba negra que cai em cascata até a metade
de uma armação tão fina que um abraço entusiástico poderia
quebrá-la em duas.
"Quem?" Eu pergunto animadamente, esperando que ela
conheça alguém perfeito para me arrumar.
E ela responde com uma palavra que não estou pronta

para ouvir: “Ingrid”.
Suspiro e murmuro algo que soa como “eu sei”.
“Ela era tão perfeita para você, Neil.” Melanie prolonga o

final da frase como uma garotinha choramingando por um
cachorrinho. “Ela é a única namorada sua que conheci que te
amava por você. Tenho certeza de que se você apenas
mostrasse a ela que poderia se comprometer, ela voltaria.
"Esse é o problema. Temos duas definições muito
diferentes de compromisso.”
Penso em São Francisco e me pergunto como seria meu
relacionamento com Ingrid se eu pudesse me apegar às lições
que aprendi sobre o amor. Se há alguém no mundo com quem
eu gostaria de ter um filho, é Ingrid. Lembro-me de ver o
carinho e a ternura que ela mostrou ao cachorro do abrigo,
Her cules — e penso em como seu coração é grande, como
seu espírito é brincalhão, como ela seria uma ótima mãe. Se
ao menos ela estivesse disposta a ceder um pouco na questão
da monogamia.
Ou talvez Ingrid estivesse certa em se manter firme.

Porque agora, sinto que sua previsão se tornou realidade:
estou morrendo na natureza.
“Você está enviando ao universo mensagens confusas”
As palestras de Melanie. “Você continua dizendo que quer um
família, mas você está se cercando de pessoas com as quais

nunca poderia ter uma. Você não pode simplesmente deixar
de lado toda essa coisa de não-monogamia? Para Ingrid.
Deixar ir tornaria minha vida muito mais fácil.
Talvez essa coisa toda tenha sido uma má ideia. “Parte de
mim realmente quer. Mas se eu tentasse voltar para Ingrid
agora e realmente desse certo, eu sempre me perguntava e
se?”
E se eu desistir cedo demais, pouco antes de encontrar
alguém tão aberto quanto Nicole ou Sage? E se eu encontrasse
uma versão não monogâmica de Ingrid? E se houver uma
pedra que deixei sem virar e for a pedra certa? E o mais
aterrorizante de tudo, e se eu voltar por medo e fracasso, mas
não por amor e compromisso?
E se, e se, e se . . . É o chamado de acasalamento
do ambivalente.
“Você vai perdê-la, Neil. Uma garota assim não fica
solteira por muito tempo.”
Melanie pede licença para ir ao banheiro.
Quando ela volta alguns minutos depois, ela parece
perturbada. "Você está muito atrasado", diz ela, segurando o
telefone. “Acabei de verificar o perfil de Ingrid.”
"O que você quer dizer?" Um suor frio pinica através da
minha pele.
“Eu odeio dizer isso, mas parece que ela tem um
namorado agora.”
Ela me mostra uma foto de um cara sem camisa

segurando Hércules. Ele é um cruzamento entre James
Dean e Thor, com ondulações duras em lugares que eu
nunca soube que poderiam crescer músculos. Comparado
a ele, pareço tão atraente quanto o Corcunda de Notre-
Dame. Isso não é ser autodepreciativo; é apenas um fato.
De repente, sinto-me profundamente sozinho. Só neste
momento percebo que estava presumindo — de forma tão
vã, egoísta e irracional — que Ingrid estava esperando por
mim ou que haveria alguma maneira de voltar ao
relacionamento se as coisas não dessem certo. Quem quer
que seja esse supergaranhão, espero que ele seja digno
do coração dela, que ele não tenha dúvidas, que sua pele
não se arrepie quando ela o adora, que ele não mande
mensagens de texto para mulheres aleatórias ou se
masturbe para o PornHub em a menor provocação, e que
ele ama Hércules em vez de vê-lo como um símbolo da
hipocrisia da monogamia. Tenho certeza de que Ingrid olha
para nosso relacionamento como um longo erro.
Olho para Melanie sentada à minha frente, tentando
descobrir o que dizer para me fazer sentir melhor. E luto
contra a tristeza, o medo, o vazio.
Não era o relacionamento certo para mim, eu me
consolo. Era insalubre. Viciado em amor e amor evita
formiga. Disfunção do livro didático.
“Bem, acho que isso resolve, então,” digo a Melanie com

um sorriso tão convincente quanto o da minha mãe. “Não há
como voltar atrás.”
Não importa o que é preciso ou o que eu tenho que fazer
mais. Vou encontrar um estilo de relacionamento que funcione
para mim, mesmo que isso me mate.
E, como se vê, quase acontece.
Um sábio poliamorista certa vez lhe disse: “Namore sua

própria espécie, Neil!”
Mas qual é a minha espécie? ele se perguntou.
Ele estava sozinho na vida. Ele tinha acabado de voltar de São

Francisco, onde descobriu que ser um fulcro não era sua
espécie. Mas ele tinha aprendido muito.
E ele teve uma ideia.
Ele visitou a comuna de maior sucesso no país. E ele

ficou lá uma semana, conversando com todo mundo.
Alguns membros estavam lá há mais de quarenta anos.
“Nossa filosofia é que a vida é perfeita e eu sou perfeita”,

disse Ilana.
“Quando você mora aqui, você nunca precisa fazer nada

que não queira fazer”, disse Colin.
Eles chamaram sua comunidade de “um experimento

de vida em grupo prazerosa”.
E a vida parecia prazerosa ali.

Então ele escreveu seu próprio manifesto sobre

relacionamentos de grupo.
E ele se mudou para a casa na árvore que ele havia visto com
Rick há muito tempo.
Nicole e James se juntaram a ele lá.
Seus amigos Lawrence e Leah do encontro de poliamor se

mudaram.
Assim como sua amiga Violet, sua nova amante Angela e

outras três.
Todo mundo estava em algum tipo de relacionamento aberto.
De manhã, eles faziam ioga e tai chi.
À tarde, eles se reuniam com professores para aprender

sobre intimidade, sensualidade e um poderoso método de
relacionamento chamado comunicação não-violenta.
E à noite, eles jogavam.

A vida era prazerosa.
Mas Pepper o advertiu: “Relacionamentos em grupo com

mais de quatro pessoas raramente funcionam. Você tem um
problema de complexidade explosiva.”
Pimenta estava certa.
Uma tarde, o namorado ciumento de uma colega de casa teve

um surto psicótico com a realidade e quase o matou com um
machado.
Infelizmente, seu agressor havia perdido o ponto das lições de

comunicação não-violenta.
Quando tudo acabou, ele olhou para o que tinha feito.
E era melhor do que a casa de São Francisco.
Mas mesmo com o assaltante e sua namorada fora, viver na

comuna era um trabalho de tempo integral.
Foi preciso muito trabalho, comunicação, organização e

paciência.
Esta não era sua espécie.
Ele estava sozinho novamente. Mas ele teve uma ideia.

“Eu deveria entrar em um relacionamento que já existe em

vez de tentar criar o meu próprio”, disse ele. “Dessa forma,
não preciso me preocupar em fazer funcionar. Já estará
funcionando”.
Ele sugeriu que Violet e sua amante Ângela ficassem com

ele um pouco mais.
Eles faziam tudo e iam a todos os lugares juntos.
E então eles foram para a cama juntos.
Eles se tornaram uma tríade poli.
E foi bom porque ele não era o fulcro: Vi olet era.
Então não havia competição.
Pepper chamou isso de “férias a três” e disse que nunca

funcionaria a longo prazo.
Angela estava apenas se divertindo entre relacionamentos

sérios.
E Violet, bem, ela tinha um pequeno problema com a bebida.
Quando tudo acabou, ele olhou para o que tinha feito.
E era melhor que a comuna.
Mas foi mais divertido do que real.
Ele estava sozinho novamente. Mas ele teve uma ideia.

Ele foi jantar com um amigo solteiro de sucesso.
"Pense na mulher com quem você teve o sexo mais selvagem",

disse seu amigo.
Ele fez.
“Agora pense na mulher com quem você teve o melhor

relacionamento”, disse seu amigo.
Ele fez.
"Eles não são a mesma pessoa, estou certo?" seu amigo disse.
Seu amigo estava certo.
“Seu problema é que você ainda pensa em amor e sexo como

coisas que precisam andar juntas”, disse seu amigo.
“Você precisa separá-los. Comece uma família com um bom
amigo platônico da sua idade e continue dormindo com quem
você quiser.”
Seu amigo tinha um ponto interessante.
“É como se divorciar, mas sem o casamento”, concluiu seu

amigo.
Ele perguntou às suas amigas se elas estavam interessadas. Ele

visitou sites para mulheres que procuram doadores de esperma.
E ele logo encontrou alguém especial.
“Sou uma profissional saudável, feliz e bem-sucedida que

recentemente acordou um dia e gritou: 'Eu tenho que ter filhos!'”,
ela escreveu para ele. “Agora me encontro com a possibilidade
muito real de não encontrar minha alma gêmea, mas me recuso a
desistir do grande presente da maternidade.”
Ele a conheceu para jantar.
“Sou engenheira, mas não quero que meu filho seja todo
cérebro esquerdo”, disse ela. “E você é um escritor e cérebro
direito, então isso é perfeito.”
“Você tem olhos castanhos,” ela continuou. "Eu também.

Prefiro olhos azuis, mas não é um problema."
Ela passou por quase todos os aspectos de sua aparência e

personalidade, comentando quais ela queria que o bebê
tivesse e quais ela não queria.
Isso é um pouco estranho, ele pensou.
Mas Pepper disse que os arranjos de co-parentalidade podem

ser muito bem-sucedidos e que esse relacionamento pode
realmente funcionar.
Ele olhou para o que estava prestes a fazer.
E ao contrário da tríade, isso era muito real.
Mas ele não podia continuar com isso.
Ele tinha aprendido muito sobre trauma para se sentir

confortável em trazer uma criança ao mundo por desespero e
não por amor.
Ele estava sozinho novamente. E ele não tinha mais ideias.

Ele olhou para os últimos meses de sua vida.
Ele pegou três mulheres que mal conhecia e tentou começar

um harém com elas.
Ele pegou nove pessoas aleatórias, colocou-as em uma casa,

encorajou-as a ficarem juntas o tempo todo e esperava que elas
se dessem perfeitamente.
Ele havia pegado uma alcoólatra funcional e seu amigo viciado
em amor, e esperava que eles formassem uma tríade estável.
E ele pegou uma mulher que estava tentando personalizar uma

criança como se ela estivesse fazendo um pedido de um
restaurante de hambúrgueres, e esperava que ela fosse uma
ótima mãe.
Foi quando ele viu que não tinha tido nenhum relacionamento
real desde que deixou Ingrid. Ele estava apenas criando
experimentos controlados. E eles nunca tiveram a chance de
trabalhar.
Por que ele estava com tanta pressa? Talvez seu despertador
biológico estivesse tocando tão alto que estava abafando seu
bom senso.
“Você não pode forçar um relacionamento a acontecer,” ele

finalmente entendeu. “Você só precisa abrir um espaço em
seu coração para um, depois deixar todas as expectativas,
agen das e controle.”
E foi aí que ele encontrou sua espécie. . . .

41
É assim que vai.
Acordamos juntos. Às vezes há outra mulher debaixo das
cobertas conosco; às vezes não há.
Ela prepara o café da manhã, eu faço smoothies e todos nós nos

banqueteamos na cama.
Uma vez que estamos sozinhos, ela e eu fazemos amor
novamente. Está melhor, mais forte e mais conectado do que
estava com nosso parceiro de jogo lá. Múltiplos são para
aventura, mas um a um é para conexão.
Tomamos banho — às vezes juntos, às vezes não.
Passo o dia escrevendo. Ela vai para a escola de trapézio
ou aula de atuação ou trabalha em seu negócio online. Há
sempre algo que ela está animada em fazer. De uma semana
para outra, geralmente não é a mesma coisa. Sua paixão de
vida é simplesmente paixão.
Quando o sol se põe, vamos jantar. Ela dirige; Eu DJ.
Algumas noites, jantamos para dois. Outras noites,
encontramos amigos. Esses amigos geralmente incluem
algumas mulheres que conhecemos.
Se estamos com disposição para uma aventura, vamos

a um bar ou clube. Depois, trazemos o maior número de
mulheres possível para a casa da árvore. Quando a roupa
começa a cair, quem não gosta vai embora. Estranhamente,
eles costumam se desculpar por não participar quando partem,
como se fosse uma falha moral deles, e prometem ser mais
divertidos da próxima vez.
Às vezes eles retornam; às vezes não. Se optarmos por ter
uma noite tranquila depois do jantar, voltamos para casa,
assistimos a um filme, transamos e conversamos sobre o
futuro. Nem sempre nesta ordem.
Ela se tornou tão rapidamente uma parte da minha vida
que às vezes parece um sonho. Tudo o que eu gosto — sexo,
música, surfar, ler, escrever, aprender, viajar — ela agora
desfruta comigo. E tudo que eu não gosto – cozinhar, dirigir
no trânsito de Los Angeles, transcrever minhas entrevistas na
Rolling Stone – ela começou a fazer por mim. Às vezes ela
parece perfeita demais, como se tivesse sido gerada por
algum tipo de experimento não-monogâmico do tipo Ciência
Estranha .
Tenho quase certeza de que ela tinha uma vida antes de nos conhecermos.
Mas não consigo lembrar o que era. Eu mal consigo me
lembrar qual era o meu. Ela não voltou para sua casa em um
mês. Talvez nem exista mais. Lembro-me de perguntar a
Lorraine na reabilitação o que havia de errado com um homem
solteiro desfrutando de sua intensidade, mas eu
nunca imaginei que duas pessoas pudessem estar na mesma

caixa curtindo essa intensidade juntas:
“Sabe,” digo a ela uma noite, “Passei meses tentando

descobrir que tipo de relacionamento é natural para mim. Seja
monogamia ou poliamor ou uma relação de grupo ou qualquer
outra coisa. Mas acho que percebi o que gosto.”
"Este?" ela responde alegremente. “Uma relação de

aventura! Acho que era isso que eu estava procurando quando
nos conhecemos. Não definindo isso como monogamia ou
poliamor ou swing, mas apenas se divertindo juntos sem ter que
fazer parte de alguma cena social estúpida.”
Parece que encontrei minha espécie, não para os homens

ção a conexão do coração que eu falei para Rick.
E assim um dos meus primeiros encontros neste mundo

se torna o meu último: Sage from Bliss.
42
Começou enquanto eu estava na tríade. Sage encontrou meu
endereço de e-mail online, entrou em contato comigo para dizer que
estaria em Los Angeles e me deixou seu número de telefone.
De todas as mulheres que conheci desde que terminei com
Ingrid, ela era a única que compartilhava a maioria dos meus
valores, com quem me arrependia de estragar tudo e que, embora
admita que possa ter algo a ver com o êxtase, eu poderia imaginar
um longo futuro com.
Encontrei Sage para jantar algumas semanas depois. “O que
aconteceu em Bliss?” Eu imediatamente perguntei. “Achei que você
fosse infeliz.”
“Eu pensei que você fosse. Eu ficava pensando que estava
arruinando a vibe porque eu não estava tão chapado quanto vocês.
Vocês estavam todos se divertindo, e eu ficava cada vez mais
cansado e irritado.”
Foi uma aula de projeção. Não tínhamos nos visto de verdade
naquela noite, apenas reflexos das histórias que estávamos
contando a nós mesmos.
É difícil lembrar o que mais discutimos enquanto
comíamos, porque as horas voavam sem fôlego. Não somente
não podíamos parar de falar, não podíamos parar de olhar,

rir, cobiçar. Com seu cabelo ruivo metálico, sua
autoconfiança carismática e sua personalidade de eu-
acabei de beber cinco bebidas energéticas, mas-só-tenho-
olhos-para-você, ela brilhava como uma bobina de Tesla huma
Aquele primeiro encontro terminou em um quarteto com
minha velha amiga e companheira de comuna Leah e uma
ex-namorada muito tatuada de Sage chamada Winter. Vi
quando Sage atacou Winter – comendo-a, acariciando-a,
espancá-la, depois virando-a e acariciando-a por trás – e
pensei: “Encontrei meu par”.
Logo, Sage, Leah e Winter começaram a cair em cima

de mim – passando por ele, brigando por ele, compartilhando,
falando sacanagem. Quando Winter habilmente enrolou
seu colar em volta dele, brincando com a tensão, eu não
aguentei mais. Enquanto eles lambiam a mim e um ao
outro, pensei: Esta é a maior experiência da minha vida.
Todo aquele tempo e dinheiro desperdiçados em terapia de
vício em sexo, todo aquele drama e miséria em São
Francisco, até mesmo a tentativa de assassinato na
comunidade do amor – cada desastre, passo em falso e
tragédia – tudo valeu a pena por esses poucos minutos.
Costumo refletir sobre o aviso de Rick de que em seus
leitos de morte as pessoas sempre pensam em amor e
família. Mas acredito que também estarei pensando nisso
momento. Somos seres sexuais; era meu zênite sexual.
Eu gostaria de dizer que houve algum resultado ou

consequência negativa, que este foi o ponto mais baixo do meu
vício, que foi fundamentalmente falho porque não havia intimidade
verdadeira e não esperamos sete encontros de adolescentes
antes de nos tocarmos. Mas não era. Não houve consequências
negativas.
Ou então pensei: as pessoas são tão boas mentirosas que
às vezes até se enganam.
Pouco antes do nascer do sol, quando Sage e eu fizemos
amor mais uma vez, Leah e Winter saíram para nos deixar em paz.
Algumas horas depois, Lawrence mandou uma mensagem: “Parece
um ótimo momento ontem à noite. Estou muito feliz que você e Leah
finalmente tiveram a chance de se conectar.”
Pensei cuidadosamente na resposta certa que mostraria
apreço sem ser desajeitado ou grosseiro, então escrevi: “Foi
realmente uma ótima experiência em vários níveis, incluindo que
era parte de uma boa amizade com vocês dois. .”
Evidentemente era a resposta certa, pois ele respondeu:

“Era exatamente o que eu estava pensando.
Pungente. Eu realmente aprecio nossa amizade.”
Ele é a definição de compersão.
De todas as minhas experiências sexuais desde Ingrid, esta
foi a única que foi totalmente agradável – antes,
durante e depois. Talvez seja porque, fora uma esperança

irreprimível de que Sage de alguma forma ainda estivesse
interessada em mim, eu não tinha planos de relacionamento. Na
verdade, foi Sage quem instigou o quarteto naquela noite.
Nas semanas que se seguiram, meus armários e gavetas se

encheram de roupas de Sage e seu quarto vazio no Brooklyn.
Faltava uma peça na minha vida — romance, paixão,
companheirismo, compreensão, conexão, liberdade dentro de
uma parceria — e Sage de alguma forma sente e se molda
exatamente nessa forma. Mesmo necessidades que eu não sabia
que tinha ou gostaria, ela começa a preencher.
Enquanto isso, nossas aventuras se acumulam. Fazemos

coisas que eu nem vi em clipes pornôs, coisas que me fizeram
querer fazer livros com bandas de rock só para que eu pudesse
viver indiretamente através deles, coisas que eu não sabia que
eram física ou geometricamente possíveis.
Eu nunca teria imaginado que minha vida sexual se tornaria
melhor, mais selvagem e mais variada em um relacionamento do
que era no auge da minha solteirice.
Finalmente, depois que todos disseram que era impossível, estou
comendo meu bolo e comendo também.
Até Pepper dá um prognóstico positivo à relação: “É mais
comum e sustentável
porque tudo o que você está fazendo com outras pessoas

é de curto prazo e transitório.”
No entanto, o mais incrível de tudo, as aventuras são
apenas um complemento ao que parece ser um vínculo
crescente entre Sage e eu. Na verdade, talvez a parte
menos saudável do relacionamento não seja o sexo, mas
o fato de nunca estarmos separados. Pela primeira vez
desde que terminou com Ingrid, parece legitimamente
possível viver feliz e não monogâmico para sempre.
43
No entanto, quando chegamos à marca de três meses —
aquele ponto inevitável em que os relacionamentos começam
a se tornar reais — noto uma mudança no comportamento
de Sage. É tão sutil no início, que não se sustentaria em um
tribunal como uma mudança real. Mas eu vejo isso no jeito
que ela olha para mim. Parece não amar mais, mas como
alguém tentando fazer o papel de amar.
No começo, eu me pergunto se é apenas na minha
imaginação, decorrente de um sentimento de indignidade
ou do amor evasivo em mim tentando sabotar o relacionamento
Mas então um dia, quando voltamos de uma viagem a
Nova York, ela entra em casa e abre a geladeira. Alguma
coisa ficou pútrida e está apodrecendo. Enquanto ela cheira,
as sirenes do caminhão de bombeiros e da ambulância
soam estridentes da rua lá fora. Ela grita. Ele vem do nada
- um grito de abalo da alma. Não é direcionado às sirenes,
à geladeira, a mim ou a qualquer coisa específica, mas ao
universo. Sua voz abafa o barulho, o cheiro, meus
pensamentos.
"O que há de errado?" Eu pergunto enquanto ela se senta no

sofá depois, soluçando.
Ela limpa o nariz. Ela olha para mim com aqueles olhos
amorosos, mas não amorosos. Ela diz: “Estou lendo meu diário – e
sinto minha falta”.
“Eu não sei exatamente. Acho que às vezes sinto falta dos
meus dias selvagens, quando eu era solteiro e podia fazer o que
quisesse.”
Só tarde demais eu percebo por que as coisas parecem erradas
ultimamente. Ela cozinha, dirige, transcreve minhas entrevistas, traz
um desfile constante de mulheres.
Eu tenho minha liberdade – um relacionamento endurecido
completamente em meus termos e em meu território – e o que ela
realmente tem? Apenas eu.
Ela tem estado tão ocupada cuidando das minhas necessidades,
ela negligenciou completamente as dela. Na verdade, nem sei quais
são as necessidades dela. Eu pensei que estávamos sendo
selvagens, mas acho que para ela, eu estava apenas sendo
previsível, masculino e egoísta, e a dando como certa.
Então eu digo a Sage o que eu gostaria que Ingrid tivesse me
dito: “Por que você não fica livre então? Nós dois devemos ser
capazes de fazer o que quisermos. Por que o fato de estarmos
namorando impede você disso?
E é assim que nosso relacionamento se torna um verdadeiro
abra um.
Isso levará a mais dor do que eu poderia

imaginar.
44
Já fiz de tudo — haréns, comunas, balanços,
pujas, moresomes. E ainda não tenho.
Desde que deixei a jaula da monogamia, procurei a
liberdade sexual — e, em algumas ocasiões, talvez até a
tenha encontrado. No entanto, nem uma vez dei ao meu
parceiro liberdade comparável. Embora eu não tenha
mantido ninguém acorrentado a mim por regras, promessas
e medos, a situação nunca surgiu por conta própria.
E, em algum nível, tenho sido grato por isso.
Mas a realidade me alcançou e deu a notícia de que a
liberdade não é apenas para partidos de um.
Você pode ter seu bolo e comê-lo, mas um dia terá que
compartilhá-lo também.
Sage e eu estamos em um restaurante de tapas chique
em Los Angeles com meus ex-companheiros de comuna
Lawrence e Leah, bem como três amigos de Sage de sua
aula semanal de atuação. A anfitriã nos leva a uma grande
mesa circular – do tipo que Corey Feldman colocaria em
um quarto de hotel. Sento-me ao lado de Leah e Lawrence;
dois caras da classe de Sage ladeiam meu outro lado.
Sage chega à mesa por último, cantarolando alegremente

para si mesma. Ela está vestindo shorts brancos e uma
camiseta preta apertada com mangas que terminam logo
abaixo dos ombros. Ela não apenas caminha até a mesa,
ela se gaba.
Ela procura um lugar ao meu lado e parece desapontada
quando não encontra um. Então, em vez disso, ela se senta
na minha frente, ao lado da terceira pessoa de sua classe.
Ele tem mais de um metro e oitenta de altura, cabelo preto
ondulado e os dentes mais brancos que eu já vi. Ele se
apresenta como Donald.
Eu nunca conheci ninguém chamado Donald antes,
provavelmente porque qualquer pessoa razoável abreviaria
para Don, a menos que ele fosse um esnobe de teatro de
cidade pequena determinado a se mudar para Hollywood
para se tornar ator. Esse pensamento se forma em minha
mente, com toda sua hostilidade incipiente, antes que eu
possa detê-lo. E isso é provavelmente porque assim que ele
termina de se apresentar para mim, o braço de Donald está
no encosto da cadeira de Sage e eles estão envolvidos em
uma conversa profunda.
Eu tento ver meu julgamento pelo que é – ciúme,
insegurança, inveja – e deixo pra lá. Sage viu pelo menos
vinte mulheres diferentes com a língua na minha boca desde
que começamos a namorar, então o mínimo que posso
fazer é deixá-la desfrutar da atenção sincera de Donald.
“Então, o que fez você decidir estar em um relacionamento

aberto?” Pergunto a Lawrence e Leah, na esperança de obter
algumas dicas e ficar distraído.
“Eu estive em um casamento monogâmico antes e não
funcionou para mim”, responde Lawrence. “O tempo todo que
estivemos juntos, eu fui fiel. Mas eu senti dor física em meu
corpo por não ter todo aquele suco e excitação e conexão em
minha vida.
Quando saí disso, decidi que nunca mais faria isso de novo.”
“Lembro que você foi muito sincero desde o primeiro dia

que não era monogâmico”, diz Leah.
“Não houve nenhum momento em que pensei: Talvez eu
possa convencê-lo a ser monogâmico comigo. Você deixou
claro: ou é isso ou não podemos nos ver. E eu me senti o
suficiente por você que decidi tentar.”
Do canto do olho, vejo o braço de Donald.

Não está mais nas costas da cadeira de Sage. Agora está
descansando em seu ombro.
“Você já sentiu ciúmes de Lawrence?” Eu pergunto a Lia.
“Eu não descreveria isso como ciúmes, mas

definitivamente alguma insegurança e paranóia.” Um garçom
se estica sobre a mesa para colocar nossa comida na mesa,
examinando Sage no processo. Talvez ele consiga o número del
mais tarde. De repente, todo mundo é meu rival. “Mas em um

ponto algo clicou dentro de mim, e comecei a ver Lawrence
como uma pessoa genuína que tem meus melhores interesses
em mente e percebi que a maior parte da segurança vinha do
meu medo infantil de ser abandonado.”
Então talvez eu esteja com ciúmes porque não estou

seguro no relacionamento agora. Estou preocupado que Sage
tenha aberto porque eu não era o suficiente, porque ela estava
entediada com as coisas que eu estava gostando, ou, pior
ainda, porque ela estava tão atraída por Donald.
Já faz uma semana desde essa decisão, e nenhum de

nós esteve com mais ninguém. Tudo o que fizemos foi discutir
nossos valores em torno da abertura. Eu disse a ela que a
honestidade é importante para mim e precisamos sempre
compartilhar nossa realidade uns com os outros. Ela me disse
que o respeito é importante para ela e ela precisa sempre ser
colocada em primeiro lugar. Então decidimos construir nosso
relacionamento aberto sobre uma base de honestidade,
liberdade e respeito. É exatamente o que eu sempre quis. E o
que eu mais gosto é que, como Pepper aconselhou, não
existem regras, apenas intenções.
Ao observá-la com Donald, porém, fico dolorosamente
ciente do lado positivo das regras: elas
fornecem limites claros e fixos que nos mantêm seguros.
“Gostou do guacamole embrulhado em jicama?” Pergunto a

Sage do outro lado da mesa, tentando forçar uma conexão. Mas
ela não me ouve. Pode ser porque seus outros dois amigos da aula
de atuação estão envolvidos em um jogo de improvisação barulhento
e bobo um com o outro. Então eu repito a pergunta, mas sem
sucesso. Agora me sinto ignorado. Então, algo que não posso
controlar está acontecendo com meu ego.
Eu tento me concentrar no que Lawrence está dizendo: “Se ela
está fora e diz que conheceu um cara e quer explorá-lo, eu digo:
'Você é um adulto. Você não precisa da minha permissão. O quadro
que temos é que ambos somos adultos e confiamos no julgamento
um do outro, caso contrário não estaríamos juntos.”
Acho que só preciso confiar no julgamento de Sage.

Mas e se ela o julgar mais compatível com ela do que eu? Eu confio
nisso? Acho que teria que.
“Tudo bem”, pergunto a Lawrence, “então se estou com ciúmes
agora, o que eu faço?”
Na minha imaginação, nunca pensei que ficaria chateada se
Sage quisesse passar a noite com outro cara, desde que eu
soubesse disso. Mas, na realidade, é uma experiência completamente
diferente. E este é apenas um homem com o braço em volta dela.
De repente, tenho um pouco mais de empatia pelo

cara na comuna que tentou me matar.
“Se você está sentindo insegurança ou ciúme, isso é
para você administrar”, responde Lawrence. “Não é trabalho
dela administrar seu desconforto – a menos que ela esteja
fazendo algo que seja desrespeitoso ou prejudicial. Uma
ferramenta que usei é entender que, mesmo que Leah ame
profundamente outra pessoa, isso só pode ser um aditivo ao
nosso relacionamento.”
“De que forma?”
“Pense assim: você tem um músculo do amor e, se
trabalhar mais, aumenta sua capacidade de amar. E você
pode trazer essa energia e qualidade de volta ao seu
relacionamento. A alternativa para isso seria meu casamento,
onde eu encerrei minha capacidade de amar, sentir e fazer
sexo para permanecer monogâmico.”
Talvez eu só tenha que eliminar minha mentalidade de
escassez sobre o amor, que está me dizendo agora que
Sage tem muito a dar e pode acabar.
O ponto de vista de Lawrence faz muito mais sentido.
Talvez, em algum nível, a demanda por amor exclusivo seja
uma demanda imatura, o desejo da criança carente que
ansiava ser o único objeto da atenção, afeto e cuidado de
seus pais.
“Então”, confirmo com Lawrence, “se ela está feliz, não é

como se ela fosse para casa e ficasse triste porque ela tirou
toda a felicidade de seu sistema?”
"Certo. Depois de estar na mesma situação cinquenta ou
cem vezes, em breve você não ficará tão assustado ou
sobrecarregado. Você reconhecerá a sensação como algo que
vai passar. Nos meus piores momentos, penso em me amarrar
ao mastro para não ser sugado pelas sirenes do ciúme e
arremessado contra as rochas. Não há nada de bom que vem
do ciúme. Se alguém vai deixá-lo, eles vão fazer isso se você
está com ciúmes ou não. Na verdade, eles são muito mais
propensos a fazer isso se você estiver com ciúmes.”
Faz muito sentido, então eu tento me amarrar ao mastro e

ficar focado em Lawrence e Leah.
Quando chega a sobremesa, porém, não consigo mais me
conter. Olho para Sage e grito: — Gostou do pudim? E ela me
ignora completamente de novo, como se eu fosse invisível ou
mais provavelmente não falando alto o suficiente. Donald está
tão perto que seus rostos quase se tocam.
“O que você faz se Leah dorme com um cara que

você acha que é um babaca?” pergunto a Lourenço.
“Se ele é um babaca, ou há algo mais que ela está
recebendo dele ou é para ela descobrir
Fora. Eu não tenho que fodê-lo, então não é problema

meu.”
Imagino andar sozinha na praia amanhã de manhã
enquanto Sage está na cama com Donald e duas
mulheres que ela trouxe para casa para eles
compartilharem. Uma sensação nauseante se espalha
pelo meu peito, joelhos, dedos, dedos dos pés, globos
oculares. Eu pensei que tinha aprendido e passado o
suficiente por este ponto para me controlar melhor. Mas,
na verdade, é a primeira vez que tenho que trilhar o
caminho do ciúme desconfortável que Shama Helena me
contou — e que as mulheres da casa de São Francisco pass
Quando finalmente nos levantamos para sair, corro para Sage
e pergunte a ela: “Você jantou bem?”
“Sim, foi ótimo.” Ela sorri.
“Só quero ter certeza de que você estava confortável
com Donald.”
Espero que ela me diga que estava desconfortável
e apenas sendo educada. Mas ela não. “Sim, eu gostei
de conversar com ele. Nunca tivemos a chance de nos
conectar em sala de aula.”
"OK, bom." Não é bom.
Quando chegamos à porta, ela para e fica de pé com
um joelho dobrado para a frente, o que tem o efeito
sedutor de criar um triângulo quase perfeito entre suas perna
Eu saio para ver se ela vai me seguir, mas ela não o faz.
Ela apenas espera perto da saída por Donald, posando

como uma ninfa de fonte d'água. E isso me atinge no
estômago como um taco de beisebol. Parece que ela está
escolhendo ele sobre mim.
Faço uma pausa nas escadas entre o restaurante e o
manobrista para ver se ela vai parar no caminho para se
juntar a mim. E, como acontece com todos os testes secretos
que uma pessoa dá a alguém de quem gosta, ela falha.
Quando Sage sai com Donald, ela passa direto por mim e
eles vão juntos para o manobrista. E eu poderia jurar que
um sorriso pisca em seu rosto.
Terminei com Ingrid justamente porque acreditava tanto
na liberdade romântica, porque jurei pelo princípio de que
uma pessoa não deveria possuir o corpo de outra, porque
estava tão firmemente convencida de que a possessividade
era um fungo que apodrecia os relacionamentos. Então, por
que, eu me pergunto enquanto Sage misericordiosamente
entra no banco do passageiro do meu carro para voltar para
a casa da árvore, isso está me consumindo tanto por dentro
agora que finalmente alcancei a terra prometida do meu
relacionamento livre ideal?
45
Três dias depois, Sage me diz que está voando para o
México para um fim de semana prolongado com Donald e
um amigo dele com um nome igualmente curto, Jonathan.
E não há nada que eu possa fazer para protestar. Já
dei permissão a ela. Em um momento de medo e paranóia,
me pergunto se a oferta estava na mesa antes de abrirmos
o relacionamento.
Mas em vez de me debruçar sobre dúvidas, concentro-
me na oportunidade. Esta é a minha chance de realmente
deixar de lado a possessão e o ciúme, para permitir que
alguém com quem estou se divirta, mesmo que não inclua
a mim. Mais uma vez, é exatamente o que eu pedi e já não
é o que eu esperava. Claramente, era para eu ir para o
México com duas atrizes.
Uma vez namorei uma mulher que sempre dizia que
queria se casar com alguém rico. Ela acabou se casando com
um músico falido. Seu nome era Rico. O universo ouve – e dá
a você não apenas o que você quer, mas o que você merece.
É a lei cármica do forrageador.
“Quando é a viagem?” Eu pergunto a Sábio. Estamos na

cozinha, onde ela não está apenas preparando o café da manhã,
ela o está apresentando, dando um show sempre que ela pega
um copo em um armário alto da cozinha ou abre um ovo. Ela
está usando óculos de armação preta e um moletom azul que foi
lavado até o máximo de suavidade e aberto para mostrar as
alças de sua clavícula. Eu olho para ela com respeito, luxúria,
gratidão, medo. Ela entrou em mim, em um lugar profundo onde
reside minha programação cultural, genética e de desenvolvimento,
e se conectou.
"Amanhã." Ela rapidamente acrescenta: “É apenas por três

dias”.
E agora, eu me preocupo, ela está prestes a se desconectar.
Sinto uma pontada no coração. É muito cedo. Não tenho tempo
para me preparar mentalmente para isso.
“Eles compraram sua passagem para você?” O ciúme está
por toda a minha voz como uma camada de tinta spray. Eu
preciso me calar.
"Sim, mas eu disse a eles que não vou dormir com eles."
As palavras são para ser tranquilizadoras. Eles têm o efeito
oposto.
Lembro a mim mesma que era isso que eu queria. E sua
natureza espontânea e aventureira sempre foi uma das minhas
coisas favoritas nela. Faz parte do pacote do Sage.
O problema que muitas pessoas têm é que a qualidade

exata que originalmente as atraiu para o parceiro se torna uma
ameaça quando um relacionamento sério começa.
Afinal, essa qualidade foi a porta aberta pela qual o romance
começou, então agora eles querem fechar a porta, trancá-la e
jogar a chave fora antes que alguém tente entrar atrás deles.
Então, em vez de tentar esmagar a espontaneidade de

Sage, preciso apreciá-la. E, além disso, tenho desfrutado de
um fluxo constante de novas mulheres, então por que ela não
deveria desfrutar de uma nova atenção masculina? Eu preciso
ser mais Lawrence sobre isso.
Peço a ela as informações do voo e do hotel, caso algo
aconteça.
A companhia aérea, ela me informa, é a United. E o hotel
é Tentação.
"Tentação? Que tipo de nome para um hotel é esse?”
"É um hotel só para adultos", ela explica cavalierly. “Eles

não permitem crianças.”
Eu tento ser compassivo sobre isso. Também faço uma
nota mental para pesquisar o hotel online. Talvez seja apenas
um lugar para turistas que querem paz e sossego sem crianças
gritando em todos os lugares.
Infelizmente, o site Temptation é tudo o que eu esperava
que não fosse. A bandeira nele
proclama: “Topless opcional. Diversão. Tentador.

Sensual."
Parece uma festa swinger permanente.
Acho que mesmo se ela estivesse em um resort de Chuck E.
Cheese, eu ainda estaria arruinado pela ansiedade.
Imediatamente depois de deixar Sage no aeroporto na manhã
seguinte, algo em mim se quebra. É o cinto de segurança que a
prende a mim. Estou chocado e desapontado com a minha reação.
No entanto, não posso controlá-lo. Eu verifico a hora no meu
telefone ansiosamente, esperando o momento exato em que ela
deve pousar em Cancún.
Então, sete minutos depois desse horário, mando uma mensagem para ter
certeza de que ela está bem.
Minutos se arrastam sem resposta. Talvez o avião dela
estivesse atrasado. Ou talvez ela não tenha um plano de serviço
internacional em seu telefone. Ou talvez ela simplesmente não
esteja pensando em mim.
Para matar o tempo e evitar que o abismo do talvez me engole,
paro no correio e pego minha correspondência. Na pilha, há uma
carta da minha mãe marcada como PESSOAL. Nossa última
conversa não correu bem: ela disse que estava procurando Viagra
e Cialis na casa porque estava convencida de que meu pai estava
tendo um caso e “não havia como ele fazer isso sozinho”. Quando
tentei encerrar a conversa, ela ficou chateada e desligou na minha
cara. Então eu só posso
imagine o que ela deve ter enviado na tentativa de dar a última

palavra.
Depois volto para casa e espero. Até que, finalmente, duas
horas e vinte e três minutos depois de eu mandar uma mensagem
para Sage, ela responde: “Obrigada, cheguei aqui em segurança e
estou bem”.
Pelo menos ela está “bem”. Ok é melhor do que assassinado e
enfiado em uma lixeira. Também é melhor do que ter o melhor
momento de todos. Mas a mensagem é tão vaga. Eu li novamente.
Não há uma palavra de afeto ou emoção. Nem mesmo um emoticon.
E nada sobre os caras com quem ela está. Eu me sinto tão no
escuro. Então . . . desconectado.
Em Lafayette Morehouse, a comuna que visitei para preparar

meu relacionamento grupal na casa da árvore, aprendi dois termos
úteis. Uma era o conceito de ficar com bunda estranha, que é
quando alguém em um relacionamento faz sexo com uma nova
pessoa; muitas vezes, isso pode aumentar a paixão da parceria
principal. A outra era a nova energia do relacionamento, que se
refere à obsessão e à fantasia que normalmente acompanham um
novo caso – e muitas vezes parecem ameaçadoras para o parceiro
principal de alguém.
Então eu digo a mim mesmo que ela vai ficar com uma bunda
estranha, que qualquer nova energia de relacionamento vai
eventualmente desaparecer, e que isso tornará nossa

conexão mais apaixonada a longo prazo.
Isso não ajuda.
Então, volto-me para Lawrence novamente e o levo para
jantar, esperando ficar preocupada, obter mais apoio e
absorver um pouco de Lawrence.
"Eu estive pensando sobre o que está me incomodando",
digo a ele. “Não é que eu não confie em Sage. É que não sei
quais são as intenções de Donald. Ele a levou lá como amiga
ou porque quer dormir com ela?” Ao fazer a pergunta, a
resposta parece óbvia. “Quero dizer, o que você faz se acha
que o cara não está respeitando você ou pensa que está
roubando sua namorada e de alguma forma melhor do que
você?”
“Se algum cara acha que me superou, é idiotice dele.” Ele
faz uma pausa, provavelmente tentando simpatizar com
alguém tão emocionalmente retrógrado quanto eu, então
acrescenta compassivamente: “Definitivamente há um período
de transição em que você tem muitas emoções para trabalhar.
Então você pode ter algumas inseguranças assustadoras
sobre se o outro cara é melhor para ela do que você ou se ele
está usando você para se conectar com ela. Apenas saiba
que isso faz parte do processo de ajuste.”
Acho que faz sentido: leva tempo para ficar bom em uma
nova habilidade de relacionamento. E isso definitivamente é
1. Vai contra praticamente tudo o que já li, ouvi, pensei e

observei desde a infância. Homens não devem compartilhar
mulheres.
Eles deveriam lutar e competir por eles.
Menelau lançou a Guerra de Tróia depois que sua esposa
Helena fugiu com Paris; O caso de Sir Lancelot com a esposa
do Rei Arthur levou à guerra entre os dois; e em vários contos,
da Odisseia ao épico hindu Ramayana, os homens participam
de concursos para ganhar o casamento com uma princesa ou
rainha. Só pode haver um vencedor, não dois ou três. É muita
programação para religar.
Mas evidentemente não para Lawrence. “Leah é tão boa

que quero que outras pessoas tenham o prazer de experimentar
o que eu faço com ela”, explica ele. “E eu estou tão apaixonado
por ela que quero que ela faça o que a deixa feliz.”
É um sentimento bonito e estranhamente romântico.

Enquanto ele fala, eu me esforço para mudar minha
perspectiva, para encontrar o prazer na dor emocional que
Corey Feld falou, para deixar meu amor não por mim, mas por
Sage guiar meus sentimentos.
E é aí que eu percebo, eu realmente não quero um
relacionamento aberto. Eu só quero um relacionamento meio
aberto. É completamente irracional: quero estar com quem eu
quiser enquanto meu parceiro está preso a mim.
Eu claramente não sou tão evoluído quanto Lawrence,

emocionalmente estável como Pepper, tão em busca de
aprovação quanto James, ou tão masoquista quanto Corey
Feldman. Talvez eu não esteja procurando por um relacionamento
alternativo, mas apenas um patriarcal egoísta que é difícil para
as emoções dela, mas fácil para as minhas.
Eu não aprendi nada.
46
Em sua segunda noite no México, Sage liga brevemente de um clube
para dizer que está bêbada e que me ama. Absorvo o amor do mundo
com avidez, como morfina para minha dor.
"Como tá indo?" Eu pergunto nervosamente.

Mais do que tudo, espero que Sage diga que está passando por
um momento horrível e mal pode esperar para voltar para casa.
Mas é claro que ela não. “Estou impressionada com o quanto estou
me divertindo”, ela grita ao telefone. “E os caras estão me tratando
como uma princesa. É basicamente o oposto do nosso relacionamento.
Eu sou a única garota, e tenho dois caras comigo o tempo todo
cuidando de mim.
Eles me deram um apelido”. É difícil ouvi-la sobre a música. Parece
que o apelido dela é . . .
“Arco Baixo?” Eu pergunto.
“Marshmallow.”
Eu tento imaginar qualquer tipo de conotação sexual que possa
ter e não consigo. É melhor do que Arch Low, que poderia ser uma
posição que envolve dois homens.
Nós conversamos por mais alguns minutos, então ela diz

que tem que ir. “Este clube é incrível”, ela grita.
“Eles me trouxeram para trás dessa tela e eu dancei na frente
de oitocentas pessoas. Então esse anão começou a fingir que
estava transando comigo.”
“Isso soa incrível.” Eu tento ser positivo. “Eu gostaria de
estar lá.” Eu não digo o resto do sen. para que eu pudesse
clube.” arremessar aquele anão pela corda: “. . maldito
Então é assim que ter um relacionamento aberto é: deitar

no sofá de cueca comendo um sanduíche de manteiga de
amendoim enquanto sua namorada está em um resort de
roupas opcionais no México sendo mimada por escravos do
sexo masculino e chupada por anões. Eu realmente tenho
sentido falta.
Quero convidar um de nossos parceiros para passar a
noite, mas essa seria a definição de comportamento viciante:
usar o sexo como um analgésico para evitar emoções
desconfortáveis. Além disso, estou tão agitada que acho que
não conseguiria ficar presente com ninguém.
Coloco meu sanduíche no chão. Perdi meu apetite. Uma
dor atravessa meu peito e eu torço meu corpo em agonia. É
como se houvesse uma coceira no meu coração que não
posso coçar. Lembro-me da conversa que tivemos na Bliss,
na qual ela disse que consideraria “não-masculino” se um cara
com quem ela estava namorando permitisse que ela
dormir com outros homens. Ao dar-lhe liberdade, perdi seu

respeito?
Eu tinha tanta certeza que este era o relacionamento que
minha vida estava levando. Mas a liberdade não é tão doce sem
segurança. Talvez este seja o outro lado de evitar o amor: eu
tenho uma necessidade de me sentir necessária, mesmo que eu
não goste disso.
Eu olho para o relógio. São apenas 20h. Tenho o número do
celular de Lor Raine. Eu nunca liguei para ela do nada pedindo
ajuda. Parece inútil até mesmo considerá-lo.
Ela lida com viciados cujas vidas estão em jogo. Eu sou apenas
um idiota que deixou sua namorada ir para Cancún com dois
atores garanhões.
“Como você tem se tratado?” Lorraine pergunta quando ela
atende o telefone. É a saudação perfeita do terapeuta: uma com
uma mensagem. Não é sobre o que está acontecendo ou o que é
novo ou como a vida está me tratando. Essas são coisas que não
podem necessariamente ser controladas. Tudo o que você pode
controlar é sua resposta a eles, como você se trata.
"Não tão bem", eu digo a ela, então explico o

situação.
Ela ouve sem julgamento. Quando termino, ela responde
simplesmente: “Eu recomendaria se tornar uma cientista de seus
próprios pontos baixos”.
“Se você está com dor no coração, entre na dor e tente

encontrar sua fonte em vez de deixar a dor te levar, ou tentar
escapar dela ou superá-la.”
"Ok." A empatia em sua voz e a lógica de suas palavras me
acalmam. Eu já me sinto melhor. “Acho que foi apenas um pânico
momentâneo. Obrigado. Eu vou deixar você ir."
“Lembre-se de que, sob o medo do enredamento, o que evita
o amor está secretamente aterrorizado com o abandono.”
Isso faz sentido: qualquer mãe que está se envolvendo

também, em um nível emocional, está abandonando.
“Apenas lembre-se”, ela acrescenta calmamente, “que as
únicas pessoas que podem ser abandonadas são crianças e
idosos dependentes. Se você é um adulto, ninguém pode
abandoná-lo, exceto você.”
"Obrigada. Não vou incomodá-lo novamente.”
“Fico feliz em ajudar. Estarei em LA no próximo mês.
Vamos planejar outro jantar com seu amigo Rick.
“Eu gostaria muito disso. Já te agradeci?”
"Sim, você fez."
"Obrigada."
"Boa noite."
Eu desligo, deito no sofá e tento mergulhar nos sentimentos
que estou experimentando. Eles são bem fáceis de identificar,
porque são todos tons da mesma emoção: o medo.
O primeiro medo que surge é o de não ser suficiente, de

pensar que Sage está se divertindo mais sem mim, que esses
caras estão cuidando melhor dela, que ela tem mais em comum
com eles, que eles parecem mais saudáveis em trajes de
banho , que eles a apreciam mais, que são melhores na cama
do que eu. Se metade disso for verdade, então meu segundo
medo é quase uma certeza: o abandono. Talvez ela esteja
descobrindo que é mais feliz sem mim por perto ou, pior ainda,
ela mal está pensando em mim e a ligação foi apenas a
obrigação de uma pessoa que evita o amor agindo por culpa.
O terceiro medo é que eu não sou feito para a não-monogamia
e sou um hipócrita que quer foder outras mulheres, mas não
permite que meu parceiro tenha sua própria liberdade.
Exceto que não sou hipócrita. Eu realmente concordei com

isso. É apenas muito mais difícil do que eu pensei que seria.
Por trás de todos os três medos está o mais profundo de

todos: que Joan na reabilitação estava certa, que eu tenho um
distúrbio de intimidade e toda essa busca tem sido um sintoma
disso.
Imagino Sage voltando bêbada para seu quarto de hotel,
deitada de bruços na luxuosa cama Temptation enquanto seus
dois criados tiram as camisas e começam a massageá-la.
Lentamente ela
fica mais excitado, levantando os quadris em um baixo

arco enquanto os homens se posicionam em qualquer um—
“Ame e deixe ir”, digo a mim mesma, a frase aparecendo em
minha mente, o fantasma de uma velha lição de
um velho professor. Eu tomo algumas respirações profundas e calmantes.
“Ame e deixe ir.”
Tudo o que eu tenho reclamado como ilógico em relacionamentos
monogâmicos realmente não é lógico. Eu estava certo sobre isso.
Mas o que eu não levei em
consideração é que é emocional. Meu cérebro sabe
que o que quer que Sage esteja fazendo não afetará nosso
relacionamento - e mesmo que isso aconteça, significa que não é o
relacionamento certo. Mas meu coração não vai ouvir. De repente,
entendo por que as mulheres em São Francisco concordaram com
um relacionamento grupal em teoria, mas
então pareciam me querer para si assim que
eles experimentaram isso.
Antes de ir para a cama, decido abrir a carta
minha mãe mandou. Dentro, há apenas uma única folha de
folha de caderno. Reconheço os números escritos à mão como meus.
É claramente um castigo que eu estava
dado como um adolescente, embora eu não tenha memória disso. EU
apenas segurá-lo em minhas mãos e olhar para ele com espanto,
imaginando que tipo de pessoa gostaria
seu filho a pensar isso sobre si mesmo:
Não ajuda muito. Mas explica muito.
Quando mando uma mensagem para Sage na manhã seguinte, ela

não responde. Mais tarde, vou almoçar com um colega que está me
ajudando com a edição final do livro sobre a guerra às drogas no
México, e estou tão tenso com o estresse que mal consigo prestar
atenção no que ele está dizendo.
Em vez disso, apenas espero — ouvindo, me esforçando, rezando
pelo ping tranquilizador de uma mensagem de texto recebida de Sage.
Assim que a refeição termina, eu verifico minhas mensagens de
telefone, apenas no caso de alguma de alguma forma passar por mim.
Nada. E parece um dardo atravessando meu peito. Ela deve estar se
divertindo muito. Cometo o pecado capital de mandar uma mensagem
de texto para ela novamente.
Finalmente, perto da meia-noite, horário de Cancún, Sage manda
uma mensagem dizendo que vai dormir em breve e me ligará do
aeroporto amanhã.
É uma longa noite.
Na tarde seguinte, ela telefona como prometido durante uma
escala. Os caras, por algum motivo provavelmente obscuro, estão em
outro voo no dia seguinte. "Eu senti sua falta", diz ela imediatamente.
As palavras de consolo atingem o efeito pretendido e o estresse
começa a se esvair de mim — isto é, até que ela diga as próximas
palavras. “E não se preocupe, eu não fiz sexo com ninguém nem dei
um boquete em ninguém.”
Suas palavras são muito específicas. Eu instantaneamente suponho que ela

deu a todos trabalhos manuais.
“Eu tive o melhor tempo,” ela continua. “Eles adoram ser
subservientes a mim. Acho que é o fetiche deles.
Eles gostam de me esperar e ser dito o que fazer e, tipo, chupar
meus dedos do pé.”
Estou instantaneamente assustado. Mas o que importa, digo
a mim mesma, não é como me sinto, mas como ela se sente.
"Você gostou?"
“É divertido ser mimado e me sinto atraída por eles.”
Embora a palavra atraída me faça estremecer, enquanto ela

continua falando, eu realmente sinto uma pontada de felicidade
por ela. O namorado dela antes de mim era extremamente
dominador e controlador, então talvez ser incomodada por homens
subservientes fosse a cura para ela.
Ela agrada tanto as pessoas que merece ter pessoas focadas em
agradá-la para variar.
Imediatamente após esse pensamento, no entanto, chega
uma frente fria de negatividade: se ela gosta de ser mimada pelo
babaca Donald e seu amigo em um resort brega de Cancún,
dançando enquanto é admirada por oitocentas pessoas e um
anão, e tendo seus dedos dos pés chupados por homens — então
talvez ela não seja a pessoa certa para mim.
Compersão é uma luta. Vai contra cada fibra do meu ser.

Não sei se minha resistência a isso é cultural, evolutiva ou
ambas, mas trabalho para superar os obstáculos emocionais.
Eu fiz um monte de coisas extremas e experimentais nos
últimos meses, e certamente seria tão provável quanto ela ir
para um resort e gostar de ser mimado por duas mulheres
apaixonadas. Pelo menos ela é honesta sobre isso.
Minha ex-namorada Lisa disse uma vez que toda mulher

quer a mesma coisa em um relacionamento: ser adorada.
Então Sage teve um ótimo fim de semana de adoração, e
talvez isso me ajude a lembrar de nunca menosprezá-la ou
parar de mostrar meu apreço por ela.
Mas então ela diz: “E eu nunca percebi como
muitas mensagens de texto um para o outro.”

“Eles comentavam sobre isso sempre que eu pegava meu
telefone.”
E é aí que a barragem se rompe, quando o adulto com
perseverante se torna a criança ferida. Antes que eu possa me
impedir, dou um soco na parede e grito. Eu nem entendo por
que suas palavras doem tanto até alguns segundos depois,
quando a emoção diminui e a vergonha aparece. Diversão.
Mas não foi por isso
ela não mandou mensagem: é porque alguns caras com quem ela estava
não aprovou. E então a história que eu ouço é que
seus sentimentos importavam mais do que os meus, que não ser julgado
por eles era mais importante do que tentar se conectar comigo. E isso
me irrita.
"Você está bem?" ela pergunta.
"Sim. Você sempre poderia ter escapado para enviar mensagens de texto
eu, você sabe.”
“Eu sei, mas eu estava me divertindo tanto e em
esta bolha de fantasia. E eu estava preocupado que falar
para você de alguma forma arruinaria ou mudaria as coisas.”
Outro golpe de martelo. Então ela se desconectou propositalmente .
Como ainda posso sentir compersão quando estou
agora o inimigo de sua diversão? Eu sou o estouro de bolhas.
O que eu quero dizer em resposta é: “Se me ligar
é muito deprimente, então vamos parar de ver
uns aos outros." Mas o que eu digo em vez disso é: "Estou feliz que você
se divertiu. Mas precisamos ser melhores na comunicação. Outros caras
não deveriam estar lhe dizendo o que é certo
ou errado sobre nosso relacionamento, e não consigo entender por que
você sequer os ouviria.
Há silêncio no telefone, seguido por um som gutural em staccato e
uma aspiração rápida. Merda, ela é
soluçando. Ela se divertiu muito em Cancún, e agora
Estou fazendo ela chorar. Estou fazendo exatamente o que ela estava
preocupado que eu faria: estourar a bolha. Não admira que ela
não me ligou. E não é à toa que estou tendo um ataque de vergonha.
Culpa é não ser bom para alguém. Vergonha é não ser bom para
ela.
“Por que você não consegue entender?” ela finalmente implora.
“Eu precisava fazer isso por mim.”
“Eu posso entender,” eu respondo, “se você se comunicar.”
Conforme as palavras saem da minha boca, percebo que estou

repetindo a crítica que a fez chorar. A comunicação era algo que eu
precisava, não ela. Ela precisava de liberdade. Tenho certeza de que
Leah não manda mensagens para Lawrence a cada poucos minutos
quando ela está na casa de algum cara: “Acabei de abrir o zíper da
calça dele, lol”
"Estou lambendo a bunda dele, tem gosto de kombucha", "Agora
estou transando com ele, sinto sua falta!"
Sage está absolutamente certo: eu teria estourado a bolha. Se
conversássemos, eu sentiria a necessidade de dar minha opinião
sobre tudo, tirar sarro dos caras, de alguma forma controlar a
experiência ou ter certeza de que ela estava pensando em mim de
alguma forma - como Tommy com seus comentários corridos quando
eu fez sexo com sua noiva. Não, eu não uso mais regras para controlar
as pessoas. Agora eu apenas finjo dar liberdade a eles, então uso a
culpa e a agressividade passiva para controlá-los.
Para um cara que não quer ser controlado, eu

nunca notei como eu realmente sou controladora. Estou agindo
como minha mãe sofredora. É um insight deprimente. Rick
provavelmente adoraria ouvi-lo.
Relacionamentos não monogâmicos saudáveis claramente
exigem um QE alto - inteligência emocional - para não
mencionar algum apego seriamente seguro. E infelizmente, eu ainda
não estou lá. Mas isso não significa que eu
não pode fazer com sucesso a transição de meio aberto para aberto
- do egoísmo para o altruísmo - com
prática mais consciente. Esta é apenas a queima
período. Ninguém disse que seria fácil.
Se eu realmente quero ser compassivo com Sage e
não sou um total hipócrita, preciso levar a sério o conselho de
Lawrence e entender que ela é uma mulher adulta
que pode cuidar de si mesma. Mas, eu acho que imediatamente
depois, eu realmente confio nela para cuidar
ela própria? Posso mesmo ser confiável para cuidar de mim mesmo?
“Há mais alguma coisa que você queira compartilhar?” eu pergunto
quando o anúncio de embarque para o fin de voo dela soa ao fundo.
"Mm-hmm", ela começa com uma voz tímida. "Fez

Você sente minha falta?"
"Sim", eu digo a ela. "Eu fiz."

47
Antes de pegar Sage no aeroporto, encontro Adam perto de seu
escritório para nadar juntos. Eu o informo sobre os altos e baixos do
relacionamento com Sage.
“Pelo menos é um relacionamento honesto”, ele me diz.
“E isso é uma coisa boa. Mas minha pergunta para você é: é real?”
É uma boa pergunta. Um que tenho evitado.

“Eu honestamente não posso te dizer se vai funcionar a longo
prazo. Mas é o relacionamento mais real que tive desde Ingrid. E é
tudo o que eu disse que queria na reabilitação.
Mas isso está me deixando louco.”
Enquanto nos trocamos no vestiário, pergunto a Adam se ele já se
sentiu tentado a entrar em contato com a mulher com quem teve um
caso.
“Vou te dizer, Neil, penso nela todos os dias.
E não posso dizer que gostaria que isso nunca tivesse acontecido,
porque foi a parte mais feliz da minha vida. Isso é infeliz. E em algum
nível, minha esposa sabe disso.”
Adam, e a maioria das pessoas, parecem acreditar que se um
relacionamento não dura até a morte, é um fracasso.
Mas o único relacionamento que é realmente um fracasso é

aquele que dura mais do que deveria. O sucesso de um
relacionamento deve ser medido por sua profundidade, não por
sua duração.
Tomamos banho e depois vamos para a piscina. Ao
fazermos isso, passamos por uma mulher alta e tonificada em um m
“Vou te dizer, se ela se jogasse em mim, seria difícil resistir”,
comenta. “Quando você não está feliz em seu casamento, você
fica vulnerável. Então eu fico ocupado com o trabalho e ela fica
ocupada com as crianças.”
Ele me conta sobre um livro que leu recentemente chamado

His Needs, Her Needs , de Willard F. Harley, um psicólogo
clínico que escreve que um homem precisa de cinco coisas
básicas de sua esposa: satisfação sexual, companhia recreativa,
atração física, apoio doméstico e admiração.
“Eu não acho que ela está conhecendo um único desses,”

Adam diz.
“O que ele diz que são as necessidades de uma mulher?”
Adam explica que as cinco necessidades básicas de uma
mulher são afeto, conversa, honestidade e abertura, apoio
financeiro e compromisso familiar. Parece antiquado escrever
que uma mulher precisa do dinheiro de seu homem, mas não
de seu sexo, e ele precisa de seu sustento doméstico, mas não
de sua conversa; no entanto, este
parece ressoar com Adam. Às vezes tenho a sensação de que ele

não estava procurando ser varrido em seu relacionamento, mas ter o
chão sob seus pés varrido.
“Eu dei o livro para minha esposa e apontei três páginas que
explicam por que eu tive meu caso, só para que ela pudesse entender
as coisas que estamos perdendo em nosso casamento”, lamenta.
“Mas ela não teve tempo para lê-los.”
À medida que entramos nas pistas adjacentes, Adam me diz que

ultimamente tem tido insônia e uma erupção cutânea vermelha que
coça na mão direita. “A dermatologista disse que pode me dar todos
os remédios que existem para isso, mas está relacionado ao estresse
e não vai embora até que o estresse desapareça.”
E é aí que eu percebo: ele não é um viciado em sexo.

“Você sabe como eles nos ensinaram que o vício é algo que machuca
sua vida e seu espírito, que fica progressivamente pior, e que você
não pode parar de fazer mesmo sabendo que não é bom para você?”
"Sim", diz ele.

“Acabei de perceber que você é um viciado em casamento.”
"Eu acho que sou. Eu simplesmente não posso deixá-lo ir por
algum motivo.”
“Talvez você precise ir para a reabilitação para isso.”
"Juntamente com um monte de outras pessoas casadas",

ele responde e nada na minha frente.
No caminho para pegar Sage, ligo para alguns dos outros
caras da reabilitação, e apenas Charles está de bom humor
depois de ter evidentemente se curado do vício em sexo ao
terminar seu casamento.
“Parei de ir às reuniões”, diz ele no que, para ele, é uma
voz otimista. “E eu tenho sido tão feliz, eu sou como uma
criança. Eu ando de cabeça erguida. Eu olho para as pessoas.
É como se alguém acendesse as luzes e eu não tivesse esse
sentimento confinado e triste de que não posso sair e fazer
nada novamente.” Ele faz uma pausa e depois confidencia: “E
finalmente terminei O Jogo”.
“Você aprova isso?”
“Não, mas eu usei para conhecer uma mulher no lava-jato
outro dia. Nós vamos a um encontro amanhã.”
48
Dizem que a ausência faz o coração se afeiçoar, mas segundo a
ciência, ainda mais poderoso que o grande espaço entre você e
quem você ama é o pequeno espaço entre essa pessoa e outra
pessoa. Em estudos sobre competição de espermatozóides, os
machos ejaculavam mais e com mais força depois que seu parceiro
estava com um rival. Em seu livro Mating in Captivity, a psicóloga
Esther Perel aconselha que a maneira de manter o romance e o
sexo quentes em um relacionamento é através da separação,
imprevisibilidade e medo da perda.
Então, teoricamente, o retorno de Sage deve ser o ulti

companheiro na paixão hardwired e sexo de maquiagem.
Infelizmente, não é assim que inicialmente cai.
Quando Sage sai da alfândega, ela está conversando com um

homem com um bronzeado profundo e um rosto magro e envelhecido
O reencontro apaixonado que eu ansiava não
ocorrem porque ele está ao nosso lado, observando sem jeito.
“Este é o Mike”, diz Sage depois de um abraço morno

Eu. “Nos conhecemos no avião. Ele é um diretor.”
Eu tento pegar a estrada. Não é fácil porque preciso
desesperadamente da garantia de que, mesmo que o México
não fosse uma bunda estranha, eram pés estranhos e não nos
machucaram. Mas agora há um cara aleatório com cara de
couro espreitando sobre nós como um guarda-costas. "Ótimo", eu d
“Atos sábios. Vocês trocaram números?”
"Sim, nós fizemos", diz ele.
"Bem, prazer em conhecê-lo."
Enquanto caminhamos para a garagem, Sage explica,
“Ele se ofereceu para me arranjar um emprego em um de seus filmes.”
"Isso seria bom. Vamos ver se ele passa por isso.” Então,
um toque final da faca: “Os caras vão dizer qualquer coisa para
conseguir o que querem”.
Seu rosto escurece. “Talvez ele tenha visto algo em mim
que foi especial.” Ela se demora na última palavra e me encara,
como se me acusasse de vê-la apenas como objeto de desejo e
não de talento.
E ela está certa. Eu não estava falando com espírito de
abertura. Eu estava falando para fechar as coisas, para criar
dúvidas, para expô-lo como uma fraude em potencial, para
envenenar a mente dela contra um possível rival.
Se eu quiser que essa abertura funcione, preciso ser mais

neutra em relação a outros homens. Eu me ressentiria dela falando
merda sobre uma mulher que conheci. Como Lawrence disse, ela
pode descobrir a verdade por conta própria. Eu não tenho que
dormir com ele. Essas tentativas dissimuladas de controle param
hoje.
Os relacionamentos são como varetas de adivinhação para
localizar as próprias falhas e fraquezas.
Enquanto voltamos para casa em um silêncio constrangedor,
eu me preocupo com quantos desses caras vão estar em nossas
vidas agora – atores falsos e diretores assustadores e produtores
sujos que sugam cada mulher nova que vem a Hollywood com um
sonho. Certa vez, um amigo se encontrou com um importante
produtor de Hollywood que lhe disse que poderia “acelerar” sua
carreira. Ele explicou que envolvia apenas passar um tempo extra
com ele à noite e depois com alguns de seus amigos “influentes”.
Quando voltamos para casa, beijo Sage e ela me beija de volta.

Eu a levo para a cama e ela me segue. Eu tiro suas roupas e ela
me deixa. Eu desço sobre ela e ela abre as pernas para mim. Eu
entro nela e ela faz sons para mim.
A mulher que partiu para o México não é a mesma que voltou

do México. Ela não está fazendo amor comigo; ela está simplesmente
concordando com o sexo.
No entanto, quando estou prestes a me retirar em

desapontamento, ela fica em cima de mim, fecha os olhos e me
monta com entusiasmo. Para qualquer um assistindo (como
Tommy), pareceria fazer amor apaixonado. Mas eu a conheço
muito bem. Seus olhos estão firmemente fechados e sua mente
está em outro lugar. Ela está fantasiando sobre estar em cima de
outra pessoa. Estou certo disso.
Talvez um dos caras da viagem ou Leatherface do avião.
Então foi assim que me senti todas aquelas vezes em In grid

quando eu estava conectado sexualmente, mas desconectado
mentalmente.
"Está tudo bem?" Eu pergunto enquanto nos deitamos juntos
depois, tão próximos e tão distantes.
"Estou bem."
“Você sabe o que significa multa?”
"Não."
"Deixa para lá."
Ela deveria ter mais amor para dar depois dessas experiências.
Sua sexualidade deveria ser mais viva, intensa e livre. Mas, em
vez disso, há menos amor, menos sexualidade, menos Sage.
Parece que eu a perdi. E eu nem sei para que a perdi.

49
Naquela noite, descemos a praia para comer no Paradise
Cove. As ondas polim suavemente a areia e o céu brilha
com estrelas, aviões, planetas. Não há outra pessoa à
vista. Apenas Sage e eu, e as longas sombras capturadas
pelos fachos de nossas lanternas enquanto caminhamos
em silêncio.
Sinto que estou levando um prisioneiro para a forca,
só que não sei que crime foi cometido ou qual de nós é
culpado.
Um dos efeitos colaterais da reabilitação é que me
tornei tão doentiamente obcecada com a infância das
pessoas quanto com suas espécies de relacionamento.
Então, como Lorraine nos ensinou, procuro no
relacionamento de Sage com seu pai do sexo oposto
pistas sobre nosso relacionamento. E o padrão é claro:
quando ela se conformou com as expectativas irracionais
de seu pai sobre ela, ela era a filhinha do papai — até que
ela afirmou sua independência e ele perdeu a paciência
com ela, muitas vezes violentamente. Depois que ele
ameaçou matá-la quando ela era adolescente, ela até falou c
livrar-se dele de uma vez por todas. Então faz sentido que ela se
molde na namorada perfeita e cuide das minhas necessidades,
mas depois começa a se perder, fica ressentida e se rebela.
Se isso for verdade, então abrir o relacionamento não era

sobre liberdade, era sobre fuga. E é exatamente isso que ela parece
ter feito. Então, na verdade, não estou levando um prisioneiro para
a forca. Estou levando um fugitivo de volta à prisão.
Espero que Leatherface não seja um assassino que ela contratou para
me matar.
De vez em quando, o som de seu telefone quebra o silêncio e

ela digita uma resposta. Até que, finalmente, eu não aguento mais.
"Posso te perguntar uma coisa?"
"Claro."
Não sei como formular a pergunta sem parecer ciumento. Pode
ser impossível. Então, com plena consciência de que pareço todas
as mulheres de quem tentei fugir, continuo: “Tem alguma coisa
acontecendo com aquele cara do avião?”

"Eu não sei - tipo, aconteceu alguma coisa com ele ou vocês
fizeram alguma coisa?" Eu me esforço para suavizar a dureza do
que estou pensando.
“Não, nada. Acabamos de conversar.”
"Ele é alguém que você está interessado em namorar?" Eu me

odeio por fazer essas perguntas. Não tenho certeza se estou
tentando encontrar o muro que ela construiu entre nós para que eu
possa derrubá-lo ou para que eu possa usá-lo como uma desculpa
para recuar. Muito possivelmente são os dois. Esta é a dança de
dois que evitam o amor: deixe-me derrubar seu muro para que eu
possa construir o meu em seu lugar.
“Bem, acho que ele poderia ser uma boa conexão para mim. E
ele disse que me arranjaria um emprego, então seria ótimo.”
"Isso seria uma boa pausa", murmuro, cuidando para manter

minha promessa e deixar de lado o controle. Enquanto isso, minha
mente joga todos os cenários horríveis imagináveis. Eles culminam
em tudo, desde ela chorando até mim porque ele a chutou para fora
do carro depois que ela lhe deu um boquete, para mim em casa
sozinha assistindo o Oscar enquanto ela chega de braço em um
vestido de grife caro.
De repente, o telefone de Sage toca. Ela verifica instantaneamente.
“É ele?” Eu pergunto. Perdi meu controle sobre o adulto

funcional. Eu sou a criança ferida, com medo de perder o amor.
"Não."
— Quem era então? Eu ouço minha voz perguntando isso e eu
sou impotente para pará-lo. As pessoas costumam dizer para confiar
seus sentimentos, mas as emoções podem ser ainda mais estúpidas do

que os pensamentos.
"Minha irmã", diz ela.
Eu não acredito nela. Tanto minhas emoções quanto meus
pensamentos concordam com isso.
E então digo algo que nunca falei com ninguém, a frase mágica
capaz de destruir qualquer relacionamento, as quatro palavras que Ingrid
me falou pouco antes de terminarmos: “Mostre-me seu telefone”.
“Não,” ela diz.

“Agora eu tenho certeza que você está mentindo. Apenas mostre para mim.”
Ela levanta o telefone na altura do peito e seus dedos dançam
freneticamente sobre ele.
“Não apague uma única mensagem ou terminamos!”
Eu fiz um ultimato. Cheguei ao fundo do poço.
Sage dá meia-volta e começa a voltar para casa. É algo que eu faria
— fugir em vez de assumir a responsabilidade pelo meu comportamento.
Foi a primeira coisa que fiz quando Ingrid me pegou traindo: eu disse a
ela que ligaria de volta mais tarde.
Corro atrás de Sage, prometo não ficar chateada, arrumo tudo o que
posso para tranquilizá-la – até que finalmente, como uma criança pega
escondendo um biscoito nas costas, ela empurra o telefone na minha
direção.
“Estou preocupada que você me odeie e nunca mais queira falar
comigo”, diz ela.
Eu me preparo para o pior.

Meu coração está batendo tão alto que sinto que vai
explodir. Não há como essa situação ter um bom resultado.
Se ele não mandou mensagem, então eu estou louco. Se ele
fez, então eu estou certo. E se eu estou louco ou certo, algo
ainda está errado com o relacionamento para nós estarmos
nesta situação agora.
No telefone dela, vejo dezenas de mensagens dele, todas
de hoje. A primeira que me chama a atenção é pior do que
qualquer coisa para a qual me preparei: “Nunca fiz nada assim
em um avião antes”.
Agonia, repulsa e horror crescem em mim como vômito.
Há outro texto dele sobre como eles têm uma conexão
magnética que ele não pode negar.
Eles conversaram por horas no avião, ela me diz.
Eles tinham uma química poderosa, ela me diz. O rosto dele
estava tão perto do dela que eles começaram a se beijar, ela
me conta. Surgiu do nada, ela me diz. A próxima coisa que
ela sabia era que eles estavam no banheiro brincando, ela me
diz. Eles não fizeram sexo ou tiraram nenhuma roupa, ela me
diz. Ela o parou por respeito a mim, ela me diz. E então,
finalmente, ela me diz que queria esperar para discutir isso
comigo, mas não sabia como dizer.
À medida que as palavras e lágrimas caem dela, ondas

ásperas de emoções e pensamentos colidem
Eu. Há raiva, porque ela mentiu para mim. Há ciúmes, por causa
da química que ela teve com ele.
Há desgosto, porque parece tão barato. Há compreensão, porque
é praticamente o que eu fiz com Nicole e como James reagiu a
isso. Há até alívio, porque eu não estava louco em pensar que
havia mais na história do que ela estava contando. E há medo,
por tantas razões.
“Eu contei a ele sobre você e nosso relacionamento.

É por isso que ele queria te encontrar no aeroporto”, ela conclui.
Mas a principal dessas emoções é a completa e absoluta

perplexidade.
"Como você pode? Eu não entendo.”
Seu lábio inferior começa a tremer. Vou fazê-la chorar de
novo. Eu não me importo. E eu me importo.
"Estamos em um relacionamento aberto", continuo.
Silêncio. Ela luta contra as lágrimas e encara
Eu.
"Você pode fazer o que quiser."

Seus braços cruzam o peito em desafio.
“A única coisa que eu pedi foi honestidade.”
Sua testa se enruga em linhas de ódio.
“Você mentiu para mim e me traiu em um relacionamento
aberto, sem regras.”
As lágrimas vêm agora, queimando de ressentimento.
Eu sou o pai dela. Eu sou o arruinador da diversão. Eu sou o

inimigo da liberdade. Eu sou o estouro de bolhas.
Pelo menos para ela eu sou. Mas temos uma relação livre e
aberta. Era completamente desnecessário para ela se esgueirar
e mentir para mim. Esse é o ponto de tudo isso. Se ela tivesse
dito a verdade, então teria sido minha responsabilidade lidar com
minha reação a isso. Mas claramente, como minhas experiências
com Nicole e com sua amiga francesa Camille deveriam ter me
avisado, um relacionamento aberto não é cura para drama e
traição. E Sage disse que traiu seu último namorado.
Enquanto eu passo por tudo isso, Sage fica rígida, seus

braços ainda cruzados com petulância. Eu a abraço para
reconectar, mas ela permanece teimosamente rígida. Eu me
pergunto se ela se sente como eu senti com Ingrid: enredada,
oprimida, presa, como correr na água e se afogar.
Meu primeiro pensamento é que eu preciso deixar esse

relacionamento ir. Mas parece hipócrita terminar com ela por
traição quando até Ingrid me deu uma segunda chance. E esta
é a relação mais irrestrita e aventureira que tive até agora. Além
da mentira, ela está fazendo isso melhor do que eu. Quero a
liberdade de ir a Cancún com duas lindas atrizes que me adoram.
Eu quero a liberdade de brincar
com uma mulher estranha que encontro aleatoriamente no avião.

Na verdade, quando voei da reabilitação para casa, era exatamente
sobre isso que eu estava fantasiando.
Além disso, não é como se eu tivesse criado uma situação em
que Sage estivesse segura para me dizer a verdade. Assim que
estávamos sozinhos, eu era sarcástico, crítico e manipulador.
Quando me afasto, a violência explode dela.

Ela bate no meu peito com os punhos e pisa na areia, como uma
criança. "Eu quero estar em seus braços o tempo todo", ela grita.
“Eu preciso disso mais do que qualquer coisa.
Sinto que pertenço a esse lugar” – ela chuta um arco de areia no ar
– “mas também quero ter meu bolo e comê-lo”.
Eu tento desembaraçar suas palavras: ela me quer, mas ela

não me quer. Ela precisa da segurança do relacionamento, mas não
quer a responsabilidade disso. Ela quer meu compromisso, mas
quer sua liberdade.
E lentamente a verdade amanhece em mim. Eu consegui o que

mereço: alguém como eu.
50
Naquela noite, Sage e eu conversamos por horas, até que parece
como se tivéssemos quebrado nossas paredes e pudéssemos finalmente
ver quem realmente é o outro: os pontos fortes e fracos, os dons e as
feridas, as esperanças e os medos,
as questões da mãe e as questões do pai. Depois, nós
fazer sexo com um nível de conexão e profundidade que é
partes iguais de intimidade e alívio. não tenho certeza se é
amor - talvez estejamos muito feridos para sermos capazes de amar
um ao outro - mas é definitivamente paixão.
Afinal, os teóricos da competição de esperma estavam certos.
Enquanto eu a vejo dormir, suas bochechas ficam rosadas
com calor, sua leve camada de sardas não mais
coberta por maquiagem, e seu rosto banhado na inocência que pertence
a quem está dormindo, uma empatia avassaladora flui através de mim.
E eu entendo que eu só preciso abraçá-la como se ela fosse
eu mesmo, esperar que ela não se comporte diferentemente do que eu

fazer em assuntos do coração e da carne. Cada restrição
na minha vida tem sido um convite para uma rebelião. Isso é
tempo para se comprometer total e finalmente com a liberdade e o
riscos inerentes a ela: dar a Sage o dela e aproveitar o meu.
Três dias depois, Sage vai ao seu primeiro encontro: com

Mike do avião. Tento não pensar mais nele como Leatherface.
Essa era a velha e não-com persiva eu. Naquela noite, não
pergunto aonde ela vai ou quando volta para casa. E eu não
mando mensagem enquanto ela está fora. As trelas são para
cães e famílias de couro.
Enquanto isso, convido um de nossos parceiros de jogo

para passar a noite. E é aí que descubro o próximo desafio de
ter um relacionamento aberto: como Pepper previu, me sinto
estranhamente culpada porque fui tão condicionada a acreditar
que dormir com outra pessoa enquanto minha namorada está
fora é errado.
Mesmo que minha namorada esteja fora, provavelmente
fodendo outra pessoa.
Para minha surpresa, Sage volta para casa antes da meia-
noite e se junta a nós na sala de estar, me dizendo que seus
sentimentos por Mike se foram. Quando pergunto por que, ela
diz: “Acho que é porque me senti preenchida por você desde
nossa conversa”.
De acordo com Colin, um dos communards com quem
estudei em Lafayette Morehouse, “A melhor maneira de ter
uma bunda estranha é ter certeza de que a mulher principal
você está totalmente satisfeito e você tem o acordo dela. Ela

tem que sentir que tem um excedente de você.”
Nas semanas que se seguem, Sage e eu tentamos aderir a
essa máxima. Tentamos manter um ao outro completo. Tentamos
deixar de lado a possessividade. Tentamos nos comunicar
através do inevitável desconforto, medo e ciúme.
E tentamos não namorar outras pessoas que não respeitam
nosso relacionamento ou que querem se tornar nosso principal.
Tentar é a palavra crítica aqui, porque administrar
sentimentos é como domar leões. Não importa o quão bem-
sucedido você pensa que é, eles ainda estão no controle.
Durante um quarteto uma noite, Sage morde minha bochecha,
depois desaparece no banheiro e joga uma garrafa de água
contra a parede. Outra noite, visitamos um clube de bondage
onde um cara que se parece com Glenn Danzig bate e pune
Sage por meia hora. Eu me sinto tão castrado ao vê-la gostar
de ser dominada com maestria que eu começo uma briga com
ela sem uma boa razão no caminho para casa. E o pior de tudo,
uma noite Sage sai com sua ex-namorada Winter e não retorna
por dois dias.
Há momentos durante o relacionamento em que eu não

gosto de mim. Há momentos em que não gosto dela. E há
momentos em que estamos em perfeita harmonia, compartilhando
nossas histórias estranhas, depois fazendo
amor cara-a-cara e achar isso muito mais satisfatório.
Através dos altos e baixos, aventuras e desventuras,

digo a mim mesmo que este é apenas o período de
queima, que estou administrando emoções poderosas
como culpa e medo muito melhor como resultado de todos
os relacionamentos não monogâmicos fracassados que
levaram a isso. esse conforto está ao virar da esquina.
E então, uma noite, enquanto deitamos juntos na
cama, Sage se vira para mim, com os olhos brilhando, e
diz: “Quero ter seu filho”.
Embora suas palavras sejam mais o resultado de
uma paixão momentânea do que de uma premeditação
criteriosa, eu me pergunto exultante se realmente
encontrei: um relacionamento que se encaixa em todos
os quatro critérios que estabeleci quando comecei esta
jornada. Não é sexualmente exclusivo, é honesto (agora),
é emocional e é capaz de se transformar em uma família.
Embora eu me pergunte o que devemos dizer quando
nosso filho entra no quarto e vê um monte de mulheres de
braços abertos na cama: “Filho, quando um homem e
quatro mulheres se amam muito . . .”?
Alguns minutos depois, porém, lembro-me de toda a
condição final: o relacionamento tem que ser capaz de
evoluir para uma família com filhos saudáveis e bem
ajustados. E não só ainda é também
no início do relacionamento para saber se é sustentável, mas

nosso estilo de vida é muito intenso e instável para as crianças
ficarem ao redor dele. E sem a festa, isso é realmente um
relacionamento?
Quando ligo para Rick para discutir a viabilidade de ficar mais sério
com Sage, ele responde enigmaticamente: “Deepak Chopra diz
que, se você quer parar de fumar, precisa mudar a maneira como
fuma. Em outras palavras, se você fuma com café ou depois do
sexo, pare de fumar com café ou depois do sexo.
Então, quando você fuma em outros momentos, realmente sinta

todas as sensações em seu corpo. E você verá o que realmente é:
colocando veneno em seus pulmões.”
“Então, qual é a analogia para a minha situação?”
“Talvez você precise tentar apenas fazer sexo com Sage e
mais ninguém por um tempo, e realmente sentir como é estar com
ela. Veja qual é a verdade do relacionamento – e se você é amigo
de verdade dela ou apenas amigos viciados em sexo.”
"Essa é uma boa ideia. Vou sair do país na próxima

semana, então farei isso assim que voltar.” É uma viagem um
pouco doce que eu não estou esperando completamente:
caminhar Machu Picchu, que eu originalmente reservei com
Ingrid.
“Por que esperar até então?”
“Porque Sage está me trazendo gêmeos como presente de aniversário

antes de eu partir.”
“Deus ajude a todos nós.”
51
Seus nomes são Josie e Jenn. Eles têm seios minúsculos,
narizes minúsculos e cérebros minúsculos. Nós brincamos
com eles algumas semanas antes no banheiro em uma
festa de suíte de hotel.
Quando eles chegam, no entanto, um problema se
torna imediatamente aparente: um tem uma afta no lábio
superior. E não quero correr o risco de contrair herpes,
mesmo para gêmeos.
Felizmente, seu doppelgänger tem lábios limpos.
“Vamos fazer algo que vocês nunca fizeram antes,” a
gêmea mais segura, Josie, diz, iluminando o clima
enquanto ela cai no sofá.
Eu quebro meu cérebro para pensar em algo que não
fiz antes. Nada vem imediatamente à mente.
Nem uma única pedra sexual deixada de lado - pelo
menos, não uma que eu realmente queira transformar.
Tem sido quase um ano inteiro de festas de swing,
haréns, comunas e mais alguns. Além de tudo isso, Sage
e eu fomos a masmorras S&M, festas de gangues,
sessões de meditação orgástica e cursos de bondage em no
explorações. Eu até dormi com a mãe dos gêmeos uma noite

depois que ela me mandou um e-mail do nada. Meu pênis está
literalmente vermelho e em carne viva por causa da atividade
ininterrupta.
Sage também parece estar perdido.
De repente, a inspiração a atinge. "Eu nunca mijei em ninguém
antes", ela exclama.
Josie não aproveita a oportunidade, mas também não diz não.
No entanto, depois de alguns segundos, Sage percebe: "Sim, eu
tenho".
Enquanto procuramos algo novo para fazermos juntos, Josie
salta do sofá. Onde ela estava sentada, há uma pequena mancha
vermelha brilhante que se espalha.
A menstruação dela começou.
“Sempre podemos tomar um pouco de coca”, ela oferece apolo
geticamente enquanto ela faz seu caminho para o banheiro.
Sage aceita o convite. Eu recuso.
“Eu não tenho mais septo. Olhar!" Jenn, a gêmea com afta,
diz depois de retirar um pequeno saquinho de sua bolsa. Ela
empurra a ponte de seu nariz e ela se espreme contra seu rosto.
"Como Michael Jackson", ela ri. “Exceto o meu de usar muita
cocaína.”
"Ele apenas queimou seu septo?" Eu pergunto, incrédulo.
"Bastante."
“Posso tocá-lo?”
"Vá em frente."
Ela empurra o nariz para mim com orgulho e eu o esmago como
um grande botão vacilante.
Um dos efeitos colaterais mais perigosos da cocaína é que ela faz
com que as pessoas falem sobre si mesmas sem parar. E logo os
gêmeos estão tagarelando sobre as celebridades com quem dormiram
e os homens ricos que usaram, enquanto Sage prestava atenção em
cada palavra deles. Se o jogo masculino está conseguindo sexo, eles
a ensinam, o jogo feminino está retendo isso. Quando há algo que eles
querem - como controle emocional ou compromisso financeiro - eles
colocam o sexo fora de alcance, criando uma linha de chegada que
parece se aproximar a cada encontro, mas sempre permanece a um
passo indescritível.
Enquanto Sage aspira a última linha de poeira branca da mesa de

centro, Jenn gargalha, "Isso não é uma linha, é um capítulo." Ela se
vira para mim. "Você se importa se nosso revendedor vier com mais?"
Eu pressiono seu nariz, esperando que funcione como um botão

de desligar.
Pior aniversário de todos, penso enquanto desço as escadas para
dormir sozinha. Na mesinha de cabeceira, há um tubo de Neosporin,
que Sage recomendou usar para tratar meu pau dolorido por fricção.
Eu esfrego, me sentindo irritado
e negligenciado. É assim que é namorar minha própria gêmea: ela

está tão ocupada tentando preencher o vazio dentro dela que não
tem tempo para preencher o vazio dentro dela.
Eu.
Para me animar, decido me masturbar suavemente

mim para dormir. É meu presente de aniversário para mim.
Fecho os olhos, respiro algumas vezes, relaxo no travesseiro,
encontro um aperto confortável longe da área sensível e me preparo
para mergulhar na fantasia.
Eu tento imaginar uma mulher que me atrai e
ainda não dormi, mas ninguém vem à mente.
Eu tento pensar em uma fantasia sexual que não experimentei
encedo ainda, mas não pode chegar a um único.
Eu tento pensar em algo que vai me excitar, mas eu não vejo
nada.
Não tenho nada para me masturbar. Eu nem pensei que isso
fosse possível. Pela primeira vez na minha vida, meus cofres de
fantasia estão vazios.
Eu penso no desafio que Rick originalmente
posou há quase dois anos: Estou mais feliz?
Eu tive muita emoção, até mesmo muitos pedidos
claro. Mas eu não acho que eu realmente tive qualquer felicidade.
Pesquisadores da Universidade de Princeton fizeram um estudo
sobre a correlação entre dinheiro e felicidade. Como a renda das
pessoas subiu para US$ 75.000 anualmente,
felicidade aumentou. Mas com rendimentos além disso, as

pessoas, em média, não se tornaram mais felizes.
Talvez o mesmo seja verdade para os parceiros sexuais.
Vir em mais peitos não vai me fazer mais feliz.
Parece que eu confundi estar fora de controle com

liberdade.
Quando perguntei a Lorraine como saberia se essa
jornada era fiel ao meu eu autêntico, ela avisou: As feridas
trazem drama e trauma, não conforto.
Não demora muito para determinar o que o ano passado
trouxe.
“Não há nada de frenético na devassidão, ao contrário do
que se pensa”, escreveu Albert Camus uma vez. “É apenas
um longo sono.”
É hora de acordar.
52
“Os fatos clínicos óbvios demonstram que
homens — e mulheres — que dedicam suas vidas à
satisfação sexual irrestrita não alcançam a felicidade e
muitas vezes sofrem de graves conflitos ou sintomas
neuróticos. A satisfação completa de todas as
necessidades instintivas não só não é uma base para a
felicidade, como também não garante a sanidade.”
—Erich Fromm, A Arte de Amar

53
Um correspondente estrangeiro que conheci no Haiti enquanto
trabalhava no The New York Times certa vez me contou uma história
sobre um colega dele, que sempre ficou com
comigo, embora eu nunca tenha sido capaz de corroborá-lo
independentemente:
Quando ele estava em missão na América Central,
ele foi sequestrado por rebeldes. As tropas do governo descobriram
sua localização e planejaram uma operação de resgate. Em vez
de entregar os reféns, os rebeldes decidiram matá-los.
Então um dos pistoleiros empurrou o repórter para sua

joelhos e pressionou uma pistola contra sua cabeça.
Naquele momento definitivo, o repórter pensou
não de sua esposa em casa, mas de sua namorada do ensino
médio. Uma mulher com quem ele não tinha falado e mal
sequer pensado em mais de dez anos.
De repente, uma explosão sacudiu o barraco. Momentos
depois, forças do governo invadiram e resgataram
dele.
Depois, o repórter refletiu sobre aquele momento inesperado da

verdade. Ele tinha recebido uma segunda chance na vida, e não havia
dúvida do que ele precisava fazer. Assim que ele chegou em casa,
ele ligou para sua namorada do ensino médio. Ela lhe disse que
estava divorciada. Então o repórter deixou sua esposa e se casou
com ela.
Enquanto percorro a Trilha Inca para Machu Picchu sem Ingrid,

não consigo parar de pensar na história daquele repórter. Pode não
ser um final feliz de conto de fadas, mas é um final feliz da vida real.
A vida é um teste e você passa se puder ser fiel a si mesmo. Para
acertar a primeira pergunta, tudo o que você precisa saber é quem
você é. Uma vida está a apenas uma letra de uma mentira.
Eu originalmente convidei Adam para se juntar a mim, mas sua

esposa disse que se ele fosse tirar férias, deveria ser com toda a
família. Depois tentei Calvin, que disse sim, e fiz planos de ir ao Brasil
depois para ver o filho. Sage também queria vir, mas as licenças de
trilha já estavam esgotadas.
“Eu tenho um favor a pedir,” Calvin implorou pouco antes de

a viagem. “Certifique-se de que eu não vá fazer negócios no Peru.”
"Eu prometo", eu disse a ele. Então pesquisei na internet até
encontrar sua definição particular da palavra: putaria, especialmente
em um país estrangeiro.
Nos primeiros dias, a caminhada é desconfortável. Não

apenas por causa da duração da caminhada e da inclinação das
subidas, mas porque eu fiz sexo com Sage antes de sair, e a
pele no eixo está extremamente vermelha pelo uso excessivo e
arde ao menor toque. Sempre que troco de roupa, tenho que
embalá-la suavemente, como um osso quebrado. Tem Neospor
no meu kit de primeiros socorros, então a cada poucas horas,
quando faço uma pausa para fazer xixi no mato, eu
sorrateiramente esfrego um pouco.
Calvin e eu somos acompanhados por um guia obrigatório,

Ernesto, um homem andino atarracado com pernas esculpidas
por uma vida inteira de caminhadas por essas montanhas. À
medida que caminhamos morro acima, através de flechas de
chuva e cobertores de calor, mascando folhas de coca para
melhorar a doença da altitude, nossas mentes clareiam e
compartilhamos nossos sonhos, medos e ambições.
Há, no entanto, um espaço entre nós onde algo está
faltando. É grande o suficiente para caber na grade. E com cada
pico que se projeta por entre as nuvens, cada ruína que emerge
na clareira, cada cheiro que perfuma o orvalho da manhã, eu
gostaria que ela estivesse lá para compartilhar.
Eu não penso em Sage estar aqui e seduzindo alpinistas

aleatórias em trios de acampamento. Eu posso apenas imaginá-
la perguntando ao guia como virar
folhas de coca em cocaína. Para minha surpresa, desde que saí

do meu estupor induzido pela decadência na noite do meu
aniversário, nem estou preocupado com o que ela está fazendo
em casa e com quem ela está fazendo.
"Então, como você tem se saído com o tráfico?"
Pergunto a Calvin quando chegamos a um pequeno platô.
"Faz algum tempo. Não vejo uma escolta há provavelmente
seis meses.
“Talvez seja porque você estava morando com um.”
“Acho que foi isso que arruinou tudo para mim. No meu
aniversário, a Mariana vestiu-se como no dia em que nos
conhecemos e pensou que me ia excitar, mas deu-me repulsa.
Eu não queria nada com isso.” Ele enfia um punhado de folhas de
coca na boca e continua.
“O estranho é que, desde que parei, tenho bebido um pouco – e
fico com raiva de pessoas que não seguem as regras, como se
não usarem os piscas para mudar de faixa.”
Caminhamos em silêncio por um tempo enquanto a floresta

grita com a vida ao nosso redor, ambos provavelmente pensando
em como seu comportamento sustenta o vício das teorias que ele
supostamente refutou.
"Eu tive um sonho estranho ontem à noite", diz Ernesto
suavemente.
"O que foi isso?"
“Eu não deveria dizer isso, talvez.”
Para deixá-lo mais confortável, compartilho um dos meus.

“Tenho tido esse sonho recorrente ultimamente onde estou
jogando futebol. E estou visualizando o pênalti que vai marcar
o gol da vitória.
Mas quando chega a hora do chute de verdade, mal me
conecto com a bola e ela dribla a poucos metros à minha
frente. E toda vez, sou acordado por meus pés chutando os
lençóis.”
“Sonho ruim”, responde Ernesto. “Sua mente sabe a
coisa certa a fazer; mas seu corpo, ele não escuta. Talvez
eu lhe conte o meu.” Ele abaixa a voz, mesmo que não haja
ninguém ao nosso redor. "Então . . .
Sonho que uma garota da Amazônia está em Cusco para
me procurar, e estou muito preocupado que minha esposa
descubra que ela está lá.”
"Você estava preocupado porque você dormiu com ela?"
“Um caso, sim.”
“Essa garota é alguém que você está vendo na vida real?”
Ele hesita, então responde concisamente: “Sim”.
Discutimos seu caso e todos os outros que seus amigos
têm quando saem de casa para trabalhar como guias e
carregadores. "Há um livro que eu quero", diz ele.
“Trata-se de estratégias para essas mulheres. Muito útil.”
“É o jogo?” pergunta Calvino.

"Não." Paramos para nos apoiarmos em um grande

afloramento de pedregulhos, bebemos água e enxugamos o
suor enquanto ele procura em sua memória o nome do livro.
Então, de repente, volta para ele. “Acho que se chama How to
Cheat.”
Homens em todos os lugares, ao que parece, são os mesmos.
À medida que as horas passam, minha antipatia de toda
a vida por corrida e caminhada desnecessária me alcança, e
eu me canso e fico atrás dos caras, o suor pinicando meu
pescoço torrado pelo sol. Calvin e Ernesto abrem um cume e
quando chego dez minutos depois, não os vejo.
Eu me arrasto, mas logo minha cabeça começa a girar.

Sinto-me incorpóreo, como no início da minha viagem de
êxtase, mas com a adição de uma dor de cabeça. Talvez seja
desidratação ou doença de altitude ou exaustão, ou todos os
três. Eu puxo a garrafa de água da minha bolsa e dreno a
pequena poça que resta. Diminuo para uma marcha em
ziguezague, com medo de sair da borda e cair no vale lá
embaixo.
E eu me pergunto: se eu desmaiasse agora e precisasse
de alguém para obter ajuda antes que a desidratação, a
insolação ou o edema pulmonar me matassem, em qual das
minhas namoradas atuais ou ex-namoradas eu poderia confiar?
Minha ex-namorada Katie provavelmente ficaria com raiva
de mim por abandoná-la ao desmaiar. Minha ex Kathy
iria começar a hiperventilar, e eu acabaria tendo que resgatá-

la. E Sábio. . . Imagino que ela ficaria ao
meu lado. Mas por quanto tempo até que ela ficou inquieta,
começou a se preocupar com o que estava perdendo por
estar lá e partiu para se salvar?
Apenas Ingrid ficaria comigo, tentando encontrar ajuda
até meu último suspiro.
Ingrid.
Nesse momento, a tontura desaparece brevemente. E
com meus pulmões cheios de ar fresco e livre de poluição,
com minha visão clara e desobstruída pela publicidade, com
meus ouvidos abertos e desobstruídos por conversas, com
minha mente limpa e sem nuvens por distrações, um
pensamento que tenho tentado manter cargas enterradas
para a superfície da minha mente em uma onda de emoção: eu e
O sexo é fácil de encontrar - seja por meio de jogo,
dinheiro, chance, prova social ou charme. Assim como casos,
orgias, aventuras e relacionamentos de três meses — se
você souber onde procurar e estiver disposto a ir até lá. Mas
o amor é raro.
Eu estava tão cego. Eu realmente pensei que quando
terminei com Ingrid, era sobre querer liberdade. Eu não via
nada, apesar de tudo que tinha aprendido, que se tratava de
não querer tanto ser amada. Fiz exatamente o que Lorraine
me avisou para não fazer: deixei o adolescente de castigo
comandar minha vida.
O que quer que eu tenha com Sage, não é amor. Ela

se molda no parceiro perfeito para mim porque
ela quer algo de volta - carinho, atenção e
qualquer que seja o pequeno status social advindo de ser um
namorada do escritor. E eu me moldo no namorado perfeito
porque quero aventuras sexuais.
Talvez a razão pela qual eu não tomei Deepak Chopra de Rick
conselho é porque se eu fizesse, então eu veria o relacionamento
pelo que é: não veneno como fumar, mas sou maduro como
terminar com sua esposa e comprar um
carro esportivo depois de encontrar seu primeiro cabelo grisalho.
Exceto se os homens casados tiverem crises de meia-idade, os homens
que nunca foram realmente capazes de se comprometer não têm
crises de vida. E se eles são capazes de ver claramente por até mesmo
apenas um momento, eles começam a perceber que estão
perdendo mais do que ganhando a cada dia que permanecem
parado na estrada cênica de crescer.
Quando finalmente chego à passagem da montanha, vejo
duas figuras sentadas do outro lado dela: Calvin
e Ernesto. Largo minha mochila no chão, caio na sombra e
engulo a água de Ernesto e
A aspirina de Calvin. Então eu espero que meu corpo volte para
equilíbrio.
Embora fosse mais um pincel com desconforto e
ansiedade do que com a morte, tem uma coisa que eu não sabia
pensar naquele momento da verdade: o selvagem
quarteto com Sage, Leah e Winter. Não, pensei em Ingrid.
Pensei em devolver o carro esporte, ir para casa e pedir

perdão.
No acampamento, em nossa última noite, enquanto Ernesto,

Calvin e eu tomamos chá e lanchamos uma cobaia andina sob
o brilho oscilante de uma lanterna, pego um baralho de Skittykitts
e sugiro um jogo, esperando que isso me distraia do meu
pensamentos.
“Eu gostaria que Ingrid estivesse aqui,” eu suspiro para Calvin. "Cabana
adoro jogar Skittykitts conosco agora.”
Calvin murmura algo evasivo. Ele provavelmente está
cansado de eu choramingar sobre ela.
“E ela é tão engraçada. A essa altura, teríamos dezenas de
piadas particulares. Você viu como ela iluminou a mesa quando
veio para a reabilitação! Espero não ter estragado tudo.”
“Você vai voltar com ela,” Calvin diz com naturalidade. "Eu
sei isso."
"Espero que sim." Fecho os olhos e uma profunda sensação
de desespero me domina. Qual é a graça de caminhar em Machu
Picchu, de caminhar por uma trilha esculpida há séculos, de
acordar para ver o sol no topo de uma montanha e as nuvens
abaixo, de comer a culinária andina e jogar Skittykitts em uma
barraca embaixo
o brilho de uma lanterna, se não posso compartilhá-lo com alguém

que amo?
Esse é o preço da liberdade.
Quando começamos nossa descida para a cidade perdida de
Machu Picchu na manhã seguinte, a recepção indica ou no meu
telefone volta à vida com uma única barra.
E eu mandei uma mensagem para Ingrid: “Freeeeeeeedom!”
54
Depois de enviar o texto, seguido por outro informando a ela
que Machu Picchu não tem magia sem ela, uma onda de
medo familiar me invade. Naquela noite, sonho em fazer um
trio com dois turistas aleatórios.
Por que minha libido não me deixa em paz?

Antes de verificar meu telefone para a resposta de Ingrid,
tento acalmar meus nervos. Tantas pessoas muito mais sábias
do que eu — o príncipe Charles, Bill Clinton, o general
Petraeus — traíram suas esposas. Posso realmente esperar
ter sucesso onde os líderes mundiais falharam?
Não sei. Mas o que posso fazer que eles não fizeram é
escolher ser honesto, comunicar minhas vulnerabilidades a
Ingrid e obter apoio se eu estiver com dificuldades. Foda-se
minha mente duvidosa. Eu posso fazer isso.
Eu verifico meu telefone. Nada. Mas eu sei em meu
coração que ela manterá sua palavra do que parece ter sido
há muito tempo.
Quando chegamos à cidade fabulosa, aninhada entre os cumes das

montanhas, ainda não há resposta de Ingrid.
Nem há um quando o sol se põe. Talvez ela não tenha entendido. Talvez
eu tenha escrito liberdade e não usei o número certo de e's. Talvez ela
esteja feliz com seu novo namorado. Talvez ela tenha se esquecido de
mim.
Talvez eu tenha cometido um erro.
Definitivamente eu cometi um erro.
55
No dia seguinte, ainda não há resposta de Ingrid.
56
No dia seguinte, nada.
57
No dia seguinte, percebo que ela nunca vai responder.
Naquela noite, na Sala da Nave, disse a Ingrid que

precisava de tempo para explorar, aprender e fazer uma
escolha — e finalmente consegui. Mas o amor não é como
a roleta. Você não pode apostar em um spread.
Enquanto estou fazendo as malas para voltar para casa
na minha última noite no Peru, recebo uma mensagem não
de Ingrid, mas de minha ex-namorada Kathy, que diz que
precisa urgentemente de conselhos. Assim como Ingrid,
Kathy foi abandonada pelo pai, que foi flagrado vivendo em
segredo com outra mulher e outras crianças.
Quando ligo, Kathy explica em lágrimas que seu ex-
namorado Victor foi recentemente diagnosticado com câncer
de fígado. Ele é um jogador notório de Miami que terminou
com ela porque queria foder outras mulheres. Mas enquanto
ele estava delirando sob medicação no hospital, sua família
disse que ele continuava chamando o nome dela. Quando
Victor recuperou os sentidos, o médico
disse-lhe que o câncer havia avançado tanto que, aos 44 anos,

ele tinha apenas três meses de vida.
Victor não reagiu às notícias decidindo fazer uma porra de
farra em seus últimos dias na terra. Ele não reunia um monte
de mulheres para poder experimentar o quarteto mais selvagem
de todos os tempos. Em vez disso, ele disse à sua família: “É
isso que eu ganho por ser um jogador toda a minha vida. Eu
preciso de Kathy. Eu preciso me desculpar com ela.”
“Então ele me ligou ontem à noite e me pediu para ir ao
Caribe com ele”, continua Kathy. “Ele disse que quer passar
os dias que lhe restam comigo.”
"O que você disse a ele?"
“Eu disse a ele que precisava de tempo para decidir. Ele
jogou meu amor fora quando queria se divertir e agora que
está morrendo, ele me quer de volta? Estou com medo de que
seja muito doloroso chegar perto dele novamente e depois
perdê-lo novamente.”
"Você tem razão. Seria bom para ele ter
você lá, mas não seria saudável para você.”
E é aí que eu entendo por que Ingrid não ligou de volta.
É previsível, até mesmo estereotipado, que uma pessoa

que evita o amor como eu atingisse o fundo do poço e
alcançasse o viciado em amor, apenas para começar o ciclo
novamente e desperdiçar mais um ano de nossas vidas. Ou
que um amor evita formigas, assim que sua próxima namorada diz
ter uma família unida, começaria a ansiar por aquele que escapou.
Quanto à minha grande epifania em Machu Picchu, embora a

saudade de Ingrid possa ter sido real, todo o resto foi lamentável. O
amor não é querer que alguém salve minha vida ou veja uma vista
comigo ou me faça rir ou qualquer uma daquelas razões egoístas que
sempre dei para amar Ingrid. Essas são apenas coisas que ela pode
fazer por mim ou maneiras que ela me faz sentir. O amor é
...
Na verdade, eu não tenho ideia do que é o amor.
Ingrid está certa. Ela está fazendo o que é saudável; Eu estou
não.
Tudo o que tenho é um pau curado e um coração defeituoso.
58
Quando volto para casa, recebo um convite de casamento pelo
correio. Verifico a caligrafia no verso do envelope. Diz o sobrenome
de De La O. Ingrid.
Meus músculos ficam fracos e eu deixo cair o cartão no chão.
Eu sou um idiota idiota.
*n(n-1)/2, com “n” sendo o número de amantes em um

polypod.
“Você se propôs a fazer algo e fez. Você

realizou tudo o que você sempre quis. Você tinha
cada tipo de aventura sexual e relacionamento que você já
sonhou. E você ainda não está feliz
ou cumprida”.
A voz é sábia. A voz é cruel. A voz é
certo. Pertence a Rick, que está sentado no restaurante
italiano Giorgio Baldi em seu uniforme de camiseta branca,
shorts pretos e mocassins puídos.
“Isso porque ele não teve nenhum relacionamento com
intimidade real. Ele é um up e eles têm
foi um caminho para baixo. São brinquedos. Ele não vai se machucar
brincando com um brinquedo. Mas essas mulheres, elas vão.”
Essa voz também é sábia. Também é cruel e correto. Isto
pertence a Lorraine, que está na cidade administrando uma
oficina. Percebo pela primeira vez o quão fortemente vincado
as linhas ao redor de seus lábios estão, como se estivessem
cansadas de dispensar tanta sabedoria.
Eu me esforço para assimilar. A verdade mais difícil de

engolir é aquela que se segue a uma refeição completa que
se pensou ser verdade, mas acabou sendo o oposto.
"Você não pode ver?" Rick se vira para me dirigir
diretamente. “Todos os seus relacionamentos estavam
fadados ao fracasso! Não importava que tipo você tentasse,
se era com uma pessoa ou cem.” Seus olhos brilham com o
fogo da convicção que ele obtém ao canalizar os deuses da
dura verdade. “Porque não são os relacionamentos que são
quebrados. É você!"
E é aí que ela afunda: a batalha está perdida. Sinto uma
bola de demolição balançando na minha cabeça, destruindo
todos os relacionamentos abertos, as orgias de swingers, as
comunidades de amor livre e as aventuras a três.
Se Rick tivesse me dito isso antes, eu não teria sido capaz de
ouvi-lo. Eu teria argumentado, resistido e tentado provar que
ele estava errado. Mas, pela primeira vez, não tenho
argumentos e cenários hipotéticos para debater com ele.
Tudo o que resta sou eu, sentado com minha família de

escolha, meu coração em pedaços por perder Ingrid e minha
mente se flagelando por cada decisão ruim desde que saí da
reabilitação.
Quanto a Sage, voltei de Machu Picchu, pronto para
terminar as coisas. . . e ela já tinha ido. Ela enviou um longo e-
mail explicando se desculpando que ela
sentiu que estava perdendo sua identidade em nosso relacionamento

e precisava se encontrar. Então ela decidiu voltar para o Brooklyn
com sua ex-namorada Winter, com quem ela aparentemente está
namorando novamente.
Mesmo que eu estivesse prestes a fazer quase exatamente a
mesma coisa com Sage, aconteceu tão inesperadamente e logo
após perder Ingrid, que fiquei emocionalmente arruinado. Eu
suponho que quando um curativo cobrindo uma ferida aberta é
retirado, vai sangrar um pouco.
"Então, o que eu deveria fazer?" Eu pergunto a Rick e Lorraine.
Durante toda a noite, eles estiveram destruindo o que resta do meu
ego, expondo todos os meus pensamentos como uma fraude e
todas as minhas emoções como infantis. Quase dois anos se
passaram desde que fui para a reabilitação. Tentei a recuperação
do vício em sexo e não funcionou para mim. Tentei a monogamia e
não funcionou para mim. Tentei não monogamia e não funcionou
para mim. Então, o que resta?
“Você precisa experimentar a única coisa que ainda não
experimentou”, sugere Lorraine.
"O que é isso?"
“Anedonia”.
Repito a palavra desajeitadamente. Eu li muitos livros grandes
com palavras grandes, mas nunca encontrei uma hedonia antes.
Seja o que for, eu não gosto do som disso.
“É o lugar escuro de não sentir”, ela elabora.

“As pessoas se sentem mortas no lugar da anedonia. Elas
não pode sentir alegria.”
Penso na nona emoção de Henry. Isso é
como se chama — não a emoção da morte, mas a anedonia.
“Por que eu iria querer experimentar isso?”
“Porque para voltar à homeostase e
tenha alguma clareza sobre quem você é e o que você precisa,
você tem que desintoxicar da intensidade desses one-up,
relacionamentos one-down. Você passou por um ciclo constante
de intensidade, desde seu relacionamento com
sua mãe até o seu relacionamento com
Sábio." Ela faz uma pausa para pedir uma taça de vinho, e para
alguma razão estou surpreso, como se beber fosse um tabu para
terapeutas de vícios. “Você descobrirá que estar comprometido
com sua vida autêntica substitui a intensidade.”
Eu sento em silêncio, processando isso. No meu coração, eu
saiba que ela está certa. Passei o ano todo pensando que se
de alguma forma eu encontrasse o relacionamento certo, meus
problemas desapareceriam magicamente. Mas o único
relacionamento que não tentei foi aquele comigo mesmo. Para
Evitando o amor, tenho feito um bom trabalho constantemente
tendo algum tipo de namorada nos últimos oito anos.
Talvez seja porque não há lugar melhor para se esconder
da intimidade do que em um relacionamento.
Quando me sentei pela última vez com Rick e Lorraine,

parecia que todas as portas do mundo estavam se abrindo
para mim. Agora eles estão todos fechados, trancados e
lacrados com concreto – incluindo, o mais doloroso de tudo,
o único que eu quero atravessar, aquele que leva de volta
para onde eu comecei.
“Mas o que devo fazer sobre o casamento de Ingrid?”
“Não se preocupe com Ingrid por enquanto,” Lorraine diz
quando o vinho chega, suas palavras queimando meu coração
confuso. “Apenas deixe-se esvaziar e lide com o que surgir
no processo. Vou te ajudar. Então podemos preenchê-lo com
as coisas que você precisa - e você pode ver como você
realmente se sente sobre o In grid então.”
As pessoas fazem dietas com suco de limão e pimenta

caiena para limpar suas entranhas, então por que não uma
limpeza para a psique? Então eu posso começar a consumir
pensamentos e experiências saudáveis. Isto é, contanto que
Lor raine não vá me encher com a vergonha sexual que Joan
estava vendendo. Eu sei que não posso me curar sozinha –
mal confio mais em mim mesma – mas não posso deixar de
sentir que a reabilitação foi tão prejudicial quanto útil.
“Que tipo de coisas você quer me encher

com?" Eu pergunto, para ter certeza.
“Com liberdade.”
Essa é a última palavra que eu esperava ouvi-la dizer.

Lorraine coloca seu copo na mesa, pega meu
mão na dela, e olha nos meus olhos. Ela então
responde lentamente, certificando-se de que cada palavra soa
significativamente: “Na vida, nascemos inocentes e puros,
bonito e honesto, e em um estado de unidade com
cada momento. À medida que nos desenvolvemos, porém,
nossos cuidadores e outros nos carregam com bagagem. Alguns de n
continuar acumulando mais e mais bagagem até que
tornamo-nos sobrecarregados com todo o peso, presos em
crenças e comportamentos que nos mantêm presos. Mas o verdadeiro
propósito da vida é se desfazer dessa bagagem
e tornar-se leve e puro novamente. Você esteve
em busca de liberdade esse tempo todo. Isso é verdade
liberdade."
Eu pensei que pelo menos tinha curado alguma coisa durante
a reabilitação e meu ano de terapia de vício em sexo, mas claramente
tudo o que fiz foi identificar meus problemas e depois viver
conscientemente uma vida inconsciente. Leva mais de
conselhos, livros, reuniões, terapia e reabilitação para
mudança. É preciso mais do que um poderoso,
desejo inabalável e encorpado de fazê-lo. É preciso humildade.
E não há nada mais humilhante do que o
ano passado, e a percepção de que eu fiz uma bagunça
de tudo e pode nunca experimentar a verdadeira
felicidade, amor e família se eu continuar tentando fazer as coisas

do meu jeito.
A causa subjacente da maioria das vidas insatisfeitas é que
estamos simplesmente muito próximos de nós mesmos para ver
com clareza suficiente para sair do nosso próprio caminho.
“Por que você não volta para o hospital e
continuar trabalhando em si mesmo?” Lorena oferece.
Meu entusiasmo desaparece instantaneamente quando imagino
voltar para a reabilitação com Joan. Prefiro voltar a morar com Belle,
Anne e Veronika.
Lorraine lê minha mente. “Mas em particular, apenas comigo.”
"Sério, você faria isso?"

“Pode ser sua última chance.” Ela inclina a taça de vinho para
os lábios sábios e deixa as últimas gotas caírem em sua garganta.
“Estarei trabalhando com seu amigo Adam em algumas semanas.
Se você quiser, você pode se juntar a nós. Mas fique atento: você
corre um grande risco agora de pular para outro relacionamento. E
se você não pode se abster de relacionamentos e contato sexual
durante todo esse processo, então vou recomendar que você volte
para a reabilitação.”
Um sorriso triunfante aparece no rosto de Rick.

E o adolescente adaptado em mim, o adolescente de pés no chão
que tem conduzido minha vida tão mal no ano passado, faz uma
última tentativa desesperada de salvar
ele mesmo: “Então, basicamente”, ele pergunta, “você quer que eu me

castre?”
“Sim,” Rick responde friamente. "Nós fazemos."
Nas semanas que se seguem, à medida que encerro minha vida e

esperar para obter ajuda de Lorraine, masturbação salva
Eu.
Você quer convidar alguém que conheceu recentemente?

Masturbe-se primeiro, depois veja se ainda quer gastar
seis horas bebendo, jantando e entretendo-a, desesperados por
um resultado que não só vai decepcioná-lo se não ocorrer, mas
pode até decepcioná-lo se acontecer.
Quer chamar uma escolta? Masturbe-se primeiro, depois

veja se você realmente quer algum viciado que não parece nada
como suas imagens photoshop de uma década para dar
você é um trabalho manual preguiçoso.
Você quer ligar para um ex-companheiro de foda? Masturb

comeu primeiro, depois veja se você ainda quer convidá-la,
faça sexo que não seja tão bom quanto você se lembrava, então
passar o resto da noite pensando em como se livrar dela
educadamente sem ferir seus sentimentos.
Se masturbe quando quiser quebrar as regras da
seu relacionamento ou seu acordo de celibato - e
você logo descobrirá que, uma vez que seus desejos são
realizados em sua imaginação, a necessidade de vivê-los na
vida real de repente não parece tão urgente. Uma vez que o
centro de recompensa do cérebro recebe sua dose de
dopamina, ele não precisa de outro – pelo menos não por um
tempo.
Dizem que ver pornografia se correlaciona com a
depressão. Não tenho certeza se é uma causa ou um sintoma,
mas agora entendo por que é tão atraente: não é apenas um
mundo onde o sexo é fácil, mas também onde o sexo não
envolve lidar com as emoções de alguém antes, durante e
depois da experiência.
Ela não grita com você se você não for fiel e começar a
assistir outro clipe pornô. Ela não o envergonha por seu gosto
por mulheres, seus fetiches, seu desempenho, ou seu corpo,
renda e defeitos – a menos que a vergonha o excite, caso em
que ela fica feliz em fazer isso a noite toda. E ela não se
importa se você vier antes de terminar, depois rolar e dormir e
nunca mais falar com ela. É apenas gratificação sexual
instantânea, sem espera, sem rejeição, sem emoção, sem
compromisso, sem obrigação alguma — além de uma
variedade infinita.
Os estritos viciados em sexo e terapeutas de vício em

sexo definitivamente não concordam com a solução da
masturbação, e isso está atrasando minha entrada no mundo sem
mundo da anedonia, mas serve ao seu propósito como um band-

aid mantendo-me fiel a mim mesmo e à minha promessa a
Lorraine antes de vê-la novamente.
O único problema é que, depois do orgasmo, ainda estou
presa a mim mesma — e aos meus erros. Penso nos passos de
Ingrid batendo do lado de fora da porta da frente, seus gritos
zombeteiros de liberdade, a alegria que ela sentiu ao bloquear
meu caminho quando tentei entrar em uma sala e o calor de seu
corpo, coração e espírito.
Tudo o que ela tentou fazer foi trazer alegria e riso à minha vida.
E, em troca, dei a ela o melhor que tinha a oferecer: ressentimento.
Em uma noite solitária, depois da minha festa de piedade

pornô, trago uma pilha de cartas fechadas e contas aleatórias
para a cama. É quando me deparo com o convite de casamento
de Ingrid novamente.
Talvez seja hora de aceitar seu casamento e passar para
o último estágio do luto, a aceitação. Eu viro o envelope
nervosamente em minhas mãos por alguns momentos, me
perguntando se ela vai se casar com o cara James Dean-em-
esteróides. Então eu deslizo um dedo indicador ao longo da
aba, meu coração batendo forte, meu corpo se preparando para
o choque.
Eu escaneio o cartão e vejo as palavras Hans De La O.
Ela vai se casar com o irmão?
Não, idiota, o irmão dela vai se casar. E por algum

motivo — talvez acidental, talvez rancoroso — você foi
convidado.
Meu coração se abre e a esperança corre através de
mim, afugentando a escuridão. Quando Ingrid e eu
estávamos namorando, seu irmão tímido me disse que
nunca teve uma namorada. Alguma coisa deve ter
mudado. E agora me foi concedida uma última oportunidade
de ver In grid novamente. Este pode ser o melhor dia da minh
Há apenas um problema: embora eu tenha
demonstrado um mínimo de autocontrole evitando sexo e
relacionamentos nas últimas semanas, ainda sou
exatamente o mesmo. Se eu realmente quero mudar, não
só preciso cortar a pornografia – certamente não está
fazendo nada de positivo para minha mente – mas preciso da
Mais do que todas as relações sexuais e alternativas do
mundo.
Na manhã seguinte, Lorraine liga inesperadamente.
"Há algo que eu quero que você faça por mim", diz ela.
"Qualquer coisa", eu respondo. E eu quero dizer isso.

3
O Dr. Hasse Walum não se parece com o tipo de cientista
que produz trabalhos de pesquisa de oitenta páginas que
dificilmente são decifráveis para qualquer pessoa sem um
Ph.D. em biologia. Ele tem cabelos longos e crespos de Kurt
Cobain, um rosto de menino esculpido como o de Ryan
Gosling e a postura relaxada de um jovem Marlon Brando.
Durante o jantar, ataco ele com coquetéis até que,
finalmente, pergunto o que estou lá para descobrir. Quando
ela ligou, Lorraine sugeriu que, já que eu gostava tanto de
conversar com especialistas, eu deveria ver Walum. "Ele é
um geneticista famoso", explicou ela. "E eu quero que você
faça uma pergunta a ele."
Não surpreendentemente, considerando sua perspicácia,
era uma pergunta que estava tocando em minha cabeça
nos últimos dois anos. Um que, mesmo agora, enquanto
estou rezando por um milagre quando vejo Ingrid novamente
no casamento de seu irmão, está à espreita nas sombras
da minha mente: ser monogâmico é algo geneticamente
determinado ou eu tenho uma escolha na questão? ?
Quando pedi as informações de contato de Walum, Lorraine

respondeu: “Ah, não o conheço. Acabei de ler sobre ele.”
Enquanto pesquisava sobre Walum, me perguntava o que

Lor raine estava fazendo. Tudo o que ele representa parece
contradizer o que ela está me dizendo. Seus experimentos,
juntamente com pesquisas semelhantes conduzidas por seus
colegas da Emory University, levaram à descoberta do fator
biológico exato responsável pela monogamia. Evidentemente,
se você tem receptores longos no centro de recompensa do
cérebro para o hormônio vasopressina, é mais provável que
você seja monogâmico.
Se não, então você é um jogador nato.
Um escritor de ciência, resumindo essas descobertas,
concluiu: “Pais dedicados e parceiros fiéis nascem, não são
feitos ou moldados pelo exemplo de um pai.”
Se isso for verdade, então não faz sentido ver Lor Raine
novamente ou mesmo ir ao casamento de Hans. Sou tão não-
monogâmico quanto macho, e preso à minha própria espécie,
goste ou não. Eu me pergunto se isso é um ardil de Lorraine
para testar minha sinceridade e ver se estou disposto a mudar
com base apenas na fé, desafiando a prova, a evolução, a
genética e a experiência.
Depois de alguns drinques com Walum, faço a pergunta

de Lorraine: “Você acha que a monogamia é geneticamente
determinada?”
A resposta parece óbvia, considerando o que já sei
sobre Walum. Mas sua resposta me surpreende. "Não
inteiramente", diz ele. E acho que estou aliviado ao ouvir
essas duas palavras. “Houve estudos em que cientistas
tiraram jovens roedores de seus pais e, como resultado,
eles obtiveram uma quantidade muito menor de receptores”.
“E com as pessoas?”
“Eles fizeram pesquisas semelhantes com humanos,
olhando não exatamente para receptores no cérebro, porque
isso é muito difícil de fazer em pessoas, mas em níveis
plasmáticos de oxitocina e vasopressina. E crianças em
orfanatos têm níveis mais baixos. Então, geralmente, uma
boa parentalidade promoverá melhores sistemas de
oxitocina e vasopressina a longo prazo, e estes estão
ligados a indivíduos mais intimamente ligados quando se
trata de relacionamentos românticos. Ainda não publicamos,
mas é exatamente isso que estamos vendo agora.”
Faz sentido: se você tem um vínculo saudável com seus

pais, terá um vínculo saudável com os outros quando adulto
– o que, considerando minha criação, não é um bom
presságio. “Então deixe-me perguntar: se você está
um adulto e você não tem um gene codificando para receptores

de vasopressina longos e você foi mal parental, há alguma
esperança?”
"Acho que sim", diz ele, e uma segunda onda de alívio se
eleva acima da primeira. “Uma infância bagunçada torna tudo
mais difícil, e fica ainda mais complicado à medida que você
envelhece, mas não está gravado em pedra. Não encontramos
nada que seja completamente genético. Nem mesmo essas
doenças realmente dolorosas como autismo e esquizofrenia,
ou coisas como inteligência. Ainda há algum tipo de fator
ambiental envolvido. Então você pode mudar as coisas.”
Parece que estou no controle do meu destino romântico,

afinal. Agora vejo por que Lorraine queria que eu falasse com
Walum: para esmagar meu último reservatório de resistência e
ceticismo – o argumento de que a monogamia e a fidelidade
são evolutivamente não naturais ou culturalmente anacrônicas
ou simplesmente não são estilos de vida para os quais fui construí
Ela provavelmente não quer me ouvir debatendo intelectualmente
esses pontos durante toda a terapia novamente.
Walum pede outra bebida, depois passa a mão pelos
cabelos grossos com os quais a genética o abençoou. “Posso
perguntar por que você está levantando essas questões
específicas?” ele pergunta.
Conto a ele sobre os últimos anos de trapaça, reabilitação,

monogamia fracassada, não-monogamia fracassada, arrependimento
e arrependimento.
"Essa é a coisa triste para as mulheres", diz ele depois da ala,
balançando a cabeça. “Você não pode ser perfeito o suficiente para
um homem não querer trair.”
É um comentário surpreendentemente cínico, que parece vir
mais da experiência do que da pesquisa, então pergunto a ele: “Qual
é a sua situação de relacionamento?”
Ele suspira e confessa: “Acho que tenho relacionamentos mais

difíceis do que as outras pessoas”.
Ele cai para trás na cabine e eu me inclino, sentindo que ele

pode estar passando por uma crise semelhante à minha. “Então, se
você pudesse projetar o relacionamento perfeito para si mesmo,
considerando os fatores genéticos, evolutivos e comportamentais
sobre os quais estamos falando, qual seria?” Eu pergunto.
“Eu realmente não posso responder isso no momento.”

“Você deve ter um plano secreto. Todo mundo tem um.
Eu costumava ter alguns até experimentá-los na vida real.”
Walum pensa um pouco e depois responde: “Ser um solitário.

Isso é uma solução.” Ele força um sorriso.
“Considerando que você é um biólogo, essa não seria uma

boa estratégia evolutiva.”
“Sim”, ele admite, “então isso não é bom.” Então ele suspira
e diz: “Eu realmente não sei. Na verdade, essa é a minha
resposta. Talvez essa seja uma das razões pelas quais estou
estudando essas coisas – para entender por que me sinto assim.”
De repente, Walum não é mais um pesquisador científico

alardeado, mas um cara como eu, tentando descobrir por que
algo tão simples quanto amar alguém é tão complicado na vida
real.
“Então é difícil para você ser fiel?” Eu pressiono.
"Não exatamente. Eu nunca seria infiel. Mas nos
relacionamentos, me sinto limitado porque estou perdendo
outras coisas. É um pouco trágico. Você pode estar com
alguém que você realmente gosta e ainda se sentir um pouco
triste por não poder ter mais nada.”
“Então você fica deprimido porque se sente preso?”
"Mais ou menos."
"Posso te perguntar uma pergunta pessoal? Você teve que
cuidar de sua mãe enquanto crescia?
“Não quando eu era muito, muito jovem, mas mais tarde,
definitivamente.”
“Emocionalmente ou fisicamente?”
“Principalmente emocionalmente.”
"Interessante."
E assim termino esta última semana exatamente onde Lorraine

me quer. Reconheço que posso fazer todos os argumentos na
minha cabeça contra a monogamia. E eles podem até estar
certos: provavelmente não é natural. Mas nada disso vai me fazer
feliz ou me aproximar de Ingrid – ou, se ela não me aceitar, de
qualquer conexão significativa.
A pessoa que é inteligente demais para amar é realmente um

idiota.
Com meu último pilar de resistência intelectual demolido,
voo para Lorraine para ser curado, para me tornar digno de Ingrid,
para me tornar digno de mim mesmo, para descobrir quem sou
além das rodas perpetuamente giratórias do desejo, manipulação
e intelectualização que correr minha vida inteira.
4
“É hora de você ter sua vida de volta,” Lorraine
anuncia, levantando-se na nossa frente em um vestido
verde e marrom como a própria Mãe Terra. “Seu bairro
infantil é um terrorista e está mantendo você como refém.”
Adam e eu nos sentamos em cadeiras de plástico
dispostas lado a lado em um prédio administrativo próximo
ao local do hospital de reabilitação. Calvin, que convidei com
a permissão de Lorraine, também está conosco. Só que
desta vez, não estamos aqui como viciados em sexo e não
há etiquetas vermelhas penduradas em nossos pescoços.
Lorraine decidiu experimentar um novo tipo de oficina, que
não foi projetada especificamente para pessoas com vícios,
mas para todos os homens e mulheres que, como nós,
passam a vida correndo em círculos como cães acorrentados a
E essa aposta é o trauma.
“Todos vocês compartilham algo em comum”, continua
Lor raine. “Cada um de vocês teve uma mãe que era infeliz
e que não podia ajudar. E esse foi o ponto de partida para
suas três jornadas muito diferentes, longe da intimidade e da
conexão.”
Enquanto ela fala, todas as nossas confusões e

complicações de repente parecem tão claras e simples. Nossas v
são como jogos infantis de blocos de construção em que os
objetos são empilhados um a um uns sobre os outros.
Você pode construir a torre a uma certa altura sem um
problema, mas à medida que continua a crescer, eventualmente o
instabilidade da fundação fará com que tudo
vir caindo.
Mas, eu me pergunto, como você conserta a base quando
você já empilhou tanto em cima dele? Como
Walum colocou, quanto mais velho você fica, mais complicado
se torna.
“O objetivo desta semana”, conclui Lorraine, “é
desvencilhar vocês três.”
Ela começa com Adam, retirando seu genograma
e planilha de trauma, que ele trouxe para ela
reexaminar. “Você é feliz no seu casamento?” ela
pergunta a ele.
“Não, eu realmente não estou. O que eu tive com este outro

mulher me mostrou a felicidade que eu estava perdendo.”
“Sua esposa está feliz no casamento?”
. . . Eu não acho." Adam franze os lábios e
“Eu balanço a cabeça dele. Esta é a conversa que eu estive
tendo com ele mais e mais. Se alguém conseguir
até Adam, é Lorraine.
“Você alguma vez, mesmo antes de seu caso, foi

feliz e contente com sua esposa?”
"Na verdade, não. Eu era muito jovem para me casar.
Acho que uma das razões pelas quais me envolvi tanto com
as ligas de futebol foi apenas para fazer algo longe dela.”
“Então você não acha” – e aqui Lorraine segura o

genograma de Adam na frente dele – “que é hora de alguém
da sua família tomar uma posição e cuidar de suas próprias
necessidades pelo menos uma vez? Olhe para seus pais: sua
mãe está infeliz e se medicando com romances e pílulas
enquanto seu pai se mantém ocupado. Este é um
comportamento que tem sido transmitido por gerações. E
basta uma pessoa corajosa para interromper o ciclo de
sofrimento e sacrifício silenciosos.”
"Mas como?" Ele parece genuinamente perplexo.

“Ser fiel a si mesmo. As pessoas sempre perguntam como
supostamente bons alemães poderiam ter sido cúmplices das
atrocidades do regime nazista. E uma parte da resposta é: o
sistema familiar. As crianças daquela época eram ensinadas a
serem obedientes aos pais, que o Pai está sempre certo e que
elas devem fazer sacrifícios pelos pais a quem devem toda a
sua existência.” Ela faz uma pausa para ter certeza de que
entendemos. “E então o que acontece? O governo
exige lealdade, obediência e sacrifício, até que você tenha

uma nação de pessoas violando seu sistema interno de
valores para a Pátria.”
Ficamos em silêncio e absorvemos suas palavras, sua
aparente verdade e a maneira profunda como o trauma
molda a história. “Sou apaixonada pelo que estou fazendo”,
continua ela, “porque acredito que a paternidade funcional é
o segredo para a paz mundial. E a única maneira de fazer
pais funcionais é curar feridas psicológicas com a mesma
urgência com que curamos feridas físicas. Você entende o
que estou dizendo?”
Ela parece quase beatífica enquanto fala. "Entendo,"
Adam responde com entusiasmo.
“Então, diga-me, você está disposto a permanecer em
seu casamento, mesmo ao custo de se sacrificar e machucar
seus filhos?”
Ele fecha os olhos e exala lentamente pelo nariz. Então
ele morde o lábio inferior e balança a cabeça. “Concordo
cem por cento com o que você está dizendo, mas não posso
ir embora. Eu simplesmente não posso. Não enquanto as
crianças ainda estiverem em casa.”
O olhar de Lorraine perfura o ser de Adam. “Então eu
quero que você repita comigo: 'Vou ficar nessa relação. . .
mesmo ao custo de me sacrificar e de todas as minhas
necessidades. . . e machucando meus filhos.'”
Encurralado em um canto, Adam empalidece. Lágrimas

brotam em meus olhos enquanto eu o vejo lutar com a verdade.
Isso é exatamente o que meus pais fizeram – para eles
mesmos, para meu irmão, para mim.
Finalmente, Adam cruza os braços sobre o peito, abre a
boca e, para surpresa de todos na sala, repete cada palavra
de Lorraine. Calvin e eu o encaramos de queixo caído. E este
é o momento em que finalmente entendo por que tive tanta
dificuldade em me comprometer com Ingrid após a reabilitação:
mesmo quando vemos a verdade, o trauma ainda nos impede
de alcançá-la, como um deslizamento de rochas bloqueando
o caminho para o nosso futuro.
Lorraine se vira para nós e diz, não com a raiva que

esperávamos, mas com aceitação e empatia por Adam: “Você
vê como isso é forte? Como o trauma pode destruir indivíduos,
nações e gerações?”
Mais do que nossos relacionamentos estão em jogo aqui,

eu acho. O futuro está em jogo.
Enquanto Lorraine abre a porta para nos dispensar para
o almoço, vemos uma cena que faz nossos corações
congelarem: Joan.
5
Joan olha atentamente para cada um de nós, chamuscando-
nos com as brasas dos olhos, depois diz, sem sorrir: “Bem-
vindos, cavalheiros”.
Virando-se para Lorraine, ela diz a ela, docemente: “Me
veja no meu escritório amanhã de manhã.”
É a castração em grupo mais rápida da história.
Até Lorraine parece abalada. Um breve estremecimento
percorre sua cabeça e ombros, como um cachorro se livrando
do estresse. Em seguida, ela grita para nós: “Volte aqui em
uma hora”.
Quando voltamos, ela vai trabalhar em Calvin.
“Seu problema é que você quer aprovação e admiração
incondicionais das mulheres”, ela diz sem rodeios. “Quando
você está com alguém que você paga ou com um jovem
dependente indefeso, você consegue isso. Mas em um
relacionamento saudável de duas pessoas com igual poder
interno, às vezes seu parceiro não concorda com você ou
apóia seu comportamento. E é aí que começa o verdadeiro
relacionamento.”
"Então eu deveria namorar alguém que não gosta de mim?"

Calvin pergunta, genuinamente confuso.
“Não, você deve crescer emocionalmente para que quando
alguém que você ama não te adore constantemente ou faça o que
você quer, isso não faça com que todo o seu senso de identidade
desmorone.”
Enquanto Calvin observa isso, seus olhos ficam vermelhos e
ele pega o lenço de papel. Quando Lorraine volta sua atenção para
mim, o sol já se pôs. Prometo a mim mesma que vou ouvi-la com a
mente aberta, que serei menos teimosa do que Adam sobre
qualquer verdade com a qual ela esteja prestes a me confrontar.
“Assim como Adam tem que se separar de sua esposa para

cuidar de si mesmo, há algumas coisas que você precisa cortar
também”, ela me diz.
“Além de sexo e relacionamentos?”
“Absolutamente, embora, é claro, isso dependa de
o que você decidiu que quer desde a última vez que nos falamos.
“Falei com Hasse Walum, como você me disse. E eu só quero
superar meu passado para que eu possa ter um relacionamento
amoroso e viver minha vida autêntica.” Mais especificamente, quero
fazer essas coisas com Ingrid, mas este não parece ser o melhor
momento para falar sobre isso.
“Com quantas mulheres com quem você fez sexo você ainda
mantém contato?”
“Muitos, mas não os tenho visto.”
“Então deixe-me perguntar a você” – aqui vem, o aikido

verbal que usará minhas palavras para derrubar minhas crenças
– “é possível viver sua vida autêntica se você tem pessoas
inautênticas ao seu redor?”
Ela me encurralou, assim como fez com Adam e Calvin. Ou
mais precisamente, já nos enfiamos nesses cantos e ela está
apenas nos ajudando a ver as paredes.
“Provavelmente não,” digo a ela, então me corrijo.

"Não definitivamente NÃO."
"Isso mesmo. Para se esvaziar completamente, você precisa
deixar de lado todas as mensagens negativas que recebeu sobre
si mesmo quando criança. E você precisa se separar do estilo de
vida que criou como reação a eles.
Então, se você quiser retomar sua vida, será melhor para você
terminar o contato com todas as mulheres que já sexualizou.”
“Oh Deus,” eu começo, minha voz falhando. O acomodador

patológico em mim tem pavor de rejeitar tantas pessoas; o
adolescente é lembrado de estar de castigo; o jogador tem medo
de morrer. Não é à toa que consegui manter minha promessa
com Lorraine com relativa facilidade nessas últimas semanas:
eles foram apenas os primeiros passos de bebê na anedonia.
Pelo menos agora eu sei a resposta para minha pergunta

de blocos de construção de antes: A única maneira de consertar um
torre com uma base defeituosa é derrubá-la e reconstruí-la sobre

uma base mais forte. “Então, qual seria a maneira mais compassiva
de fazer isso?” Eu pergunto.
“Por que você não pensa em todas as maneiras diferentes pelas
quais as mulheres entram em contato com você e todas as maneiras
pelas quais você as procura, e fecha essas portas permanentemente?”
Um nó se forma na minha garganta. No quadro-negro, Lorraine

escreve a segunda etapa de seu plano de desintoxicação. Tudo o
que tenho a fazer são quatro coisas:
1. Alterar meu número de telefone 2.
Alterar meu endereço de e-mail 3.
Bloquear todas as redes sociais no meu computador
4. Não dê minhas novas informações a ninguém com

seios
E é aí que eu pego o Kleenex.

6
Há as mulheres com quem dormi; as mulheres com
quem eu já brinquei, mas não dormi; as mulheres que
não querem dormir comigo, mas esperam que um dia
mudem de ideia; as mulheres que querem dormir
comigo, mas eu não quero dormir com elas, embora
talvez em uma noite solitária eu reconsiderasse; as
mulheres que querem dormir comigo e eu quero
dormir com elas, mas tem um complicador como
distância ou namorado; as mulheres com quem quero
dormir, mas dormi com a amiga delas e agora é um
pouco estranho; e todas as mulheres que ainda não
conheci, mas com quem gostaria de dormir se as conhec
Tudo dito, é um monte de mulheres. Quase uma vida
inteira de trabalho: milhares de dólares desperdiçados
em bares e restaurantes, milhares de horas gastas em
ligações, mensagens e e-mails, milhares de vezes
dizendo coisas como “Sexta-feira funciona para você?”
e “Meu ex e eu terminamos as coisas em bons termos”
e “tenho que te mostrar este vídeo no meu computador”
e “eu não achava que isso ia acontecer também”.
Sempre que não estou trabalhando, sempre que não estou

estudando, sempre que não estou assistindo filmes ou lendo
livros ou jogando videogame, isso tem sido o que minha vida
de vigília - e parte da minha vida de sono - tem sido. .
E então eu me sento, congelado no quarto de hotel em

frente ao meu computador, um acumulador relutante em se
desfazer dos detritos de seu passado. Ficar sexualmente
sóbrio por um período limitado de tempo era um desafio
razoável, mas fazer uma ruptura permanente com cada uma
das minhas opções é aterrorizante quando não estou em um
relacionamento. No entanto, se eu quiser uma última chance
de felicidade com In grid quando a vir de novo – supondo que
ela não tenha se mudado completamente – então devo me
preparar para a viagem antes de partir, não depois.
"Deixe-me ajudá-lo", oferece Adam. Eu me levanto e ele
toma meu lugar, baixa um programa que restringe o acesso a
sites específicos, então protege o teclado dos meus olhos
enquanto digita uma senha.
"Estou bloqueando todos os sites de pornografia, redes
sociais e namoro do seu computador", ele me informa. “Eu
usei este programa com meus filhos. Se houver alguma coisa
que você queira postar nesses sites para seus amigos, você
pode me enviar e eu postarei para você – se for apropriado.”
Em apenas alguns minutos, meu canal para variedade foi

selado.
"Agora para o e-mail", diz Adam alegremente, claramente em
casa cuidando das necessidades de outra pessoa.
“Podemos fazer isso em etapas?” Eu me sento na cama.
Estou ficando tonto, tonto, enjoado.
“Você tem que arrancar o Band-Aid.”
“Então você vai me deixar arquivar os papéis do divórcio para
você e sua esposa, então?
Ele não está se divertindo.
Adam configura um novo endereço de e-mail para mim. Faço

uma lista de menos de vinte pessoas — família, amigos íntimos,
colegas — para dar. Em seguida, ele altera a senha da conta de
e-mail antiga para me bloquear, e escrevemos uma resposta
automática informando a todos do meu passado que não posso
mais ser contatado lá.
“Cara, isso é estranho,” digo a Adam. “Sinta minhas mãos.

Eu estou tremendo."
Eu sou como um alcoólatra passando pelos dt's.
“Felizmente para você, não há nada que eu possa fazer com
seu telefone agora. Mas não apenas você precisa obter um novo
número, você também precisa obter um telefone flip que não
tenha acesso à Internet.”
"Farei isso quando estiver em casa", respondo, grata pelo
pequeno adiamento.
“Pense em si mesmo como Tarzan”, ele sugere,

repetindo o conselho que Lorraine lhe deu uma vez. “Você
não pode segurar a videira atrás de você e a videira à sua
frente para sempre. Em algum momento, você tem que
deixar o passado para seguir em frente.”
De repente, meu mundo ficou muito menor.
E depois do medo e pânico inicial de deixar ir, percebo
que também ficou muito mais fácil de gerenciar.
7
Quando voltamos à oficina no dia seguinte, Lorraine parece mais
desanimada do que nunca.
“A maioria dos terapeutas aqui são tão ruins quanto os

pacientes”, ela desabafa antes do início da sessão. Então algo
deve ter acontecido com Joan esta manhã, e provavelmente tem
a ver conosco. “Eles acham que seus diplomas e certificações
lhes dão permissão para serem um e constantemente no
adolescente adaptado.
Na semana passada, Joan envergonhou um dos grupos de
homens e disse a eles que garçonete era uma palavra sexista.
Falei com ela sobre isso e acho que me denunciar foi sua forma
de retaliação.” Há um cansaço em sua voz que eu não notei antes.
“Há tantas regras e políticas aqui que não posso fazer o que
preciso para ajudar as pessoas.”
Agradecemos a ela por sua dedicação e coragem.

O que não dizemos é que, como Adam, parece que ela está presa
em um relacionamento que não atende às suas necessidades.
E ela está nos enredando em terapeutas.
Pelos próximos três dias, Lorraine persevera, e logo

seus poderes retornam – até chegar o momento que eu
tanto temia quanto esperava. Ela coloca cada um de nós
em um transe leve para passar por uma versão mais
intensa do trabalho na cadeira que ela chama de “canal
radicular emocional”. Grito com minha mãe, meu pai e o
valentão que me acariciou. E como da última vez, a grossa
cortina preta na frente da minha mente se abre para revelar
a verdade.
E vejo que tenho feito do sexo o critério mais
importante em meus relacionamentos em detrimento da
minha própria felicidade. Não houve um ponto neste último
ano em que procurei um tipo mais profundo de conexão
emocional ou um tipo maior de amor. Tratava-se de
explorar um único aspecto dos relacionamentos: a
sexualidade. E mesmo nesse aspecto, eu falhei.
No puja e na comunidade sex-positive, encontrei
inúmeras mulheres que eram sexualmente liberadas e
abertas, e exigiam apenas uma coisa - que fossem
empoderadas e controlassem o contexto, porque era assim
que se sentiam seguras o suficiente para realmente deixar
ir . E eu estava desconfortável com isso. Eu realmente vi
quem era Kamala Devi ou apenas vi minha mãe?
San Francisco poderia ter funcionado se eu não estivesse
tão empenhado em fazer exatamente do meu jeito e me
ressentir de qualquer um que ameaçasse isso? Por que foi o
relacionamento com Sage tão bom até que ela queria que ela
liberdade e perdi meu controle absoluto? E por que, em
tantas dessas experiências, eu não poderia deixar ir
quando me senti vulnerável perto de mulheres — para não
mencionar outros homens?
A resposta: eu nunca estava realmente buscando sexo
liberdade. Eu estava buscando controle, poder e auto-estima. Eu
estava agindo como minha mãe ou fazendo
alguém na minha mãe. Mas raramente eu era realmente eu
mesmo. Porque, como testemunhei no êxtase, a sensação
que eu não sou aceitável como sou é tão fodidamente esmagador
que estou apavorada em deixar ir e ser eu mesma com qualquer
um.
Eu fui o ditador benevolente de não apenas
todos os outros, mas também a porra de mim mesmo.
Quando este último insight chega em casa, eu me dissolvo em uma
poça de lágrimas. Lorraine espera enquanto eu limpo meu nariz
as costas da minha mão, então ela fala devagar e
gentilmente: “Todas as coisas que você está tentando obter
esses relacionamentos – liberdade, compreensão, justiça,
aceitação – são exatamente as coisas que você
nunca recebi de sua mãe. Então toda vez que você carrega tudo
esse negócio inacabado para o seu parceiro, você está
preparando-se para outra decepção. Seja porque como um adulto,
a única pessoa que pode lhe dar
essas coisas é você. Você entende isso?"
"Sim", eu digo a ela. "Eu faço."

E eu realmente quero.
Ela convida Adam para a cadeira ao lado e começa a explodir sua
mente. Quando ele abre os olhos depois, eles estão brilhantemente
radiantes. E com uma voz despreocupada que difere de seu tom normal
e medido, ele exclama: “Quero um sorvete!”
Sua criança interior, cujas necessidades ele reprimiu a vida inteira,

finalmente se manifestou. Provavelmente faz décadas desde que ele se
permitiu desfrutar até mesmo de um pedaço de açúcar.
Este processo é a coisa mais próxima que já vi de um milagre.
Uma hora depois, estamos tomando sorvete.

“Senti minha falta,” Adam diz entre pás de um sundae com
cobertura de Oreo que Lorraine saiu e comprou para ele. Calvin está
sentado em silêncio por perto, chocado com sua própria epifania, que é
que, se você se tornar o herói de uma família enredada quando adulto,
aceitar esse papel ocupará o espaço que seu coração tem disponível
para um relacionamento. Então, Lorraine insistiu que ele estabelecesse
fortes limites com seus pais, mesmo achando que eles precisam dele
agora.
Enquanto isso, tomo coragem de contar a Lorraine

sobre o convite de casamento do irmão de Ingrid.
Quando ela não parece desaprovar minha presença, faço-
lhe a pergunta que me preocupa desde Machu Picchu:
“Como vou saber que estou realmente pronto desta vez e
não um daqueles que evitam o amor um relacionamento
quando ele não está em um, então quer ser livre quando
ele está em um relacionamento?”
Lorraine responde enigmaticamente: “Você conhece o

história do Filho Pródigo?”
Adam acena com a cabeça vigorosamente, sorvete
derretido escorrendo pelo rosto. Ele conhece bem sua Bíblia.
Lorraine nos conta sua versão da história de qualquer maneira:
“Um pai tem dois filhos. O mais velho é um bom filho.
Ele faz tudo o que deve, agrada ao pai e fica na fazenda
para cuidar disso. O mais novo deixa a família, gasta todo
o dinheiro do pai com prostitutas, não mantém contato,
quase morre de fome, e então, finalmente, volta e implora
para poder cuidar da fazenda com o irmão novamente.
“Quando o pai faz uma grande festa para dar as boas-

vindas ao filho mais novo em casa, o irmão mais velho
pergunta: 'E eu?' E você sabe o que o pai responde?”
“Ele diz que um cristão deve sempre ser misericordioso

completo e permitir que alguém se arrependa?” Adão tenta.
"Talvez. Mas gosto de acreditar que ele também disse outra coisa:
'Você trabalhou na fazenda porque sentiu que deveria; seu irmão voltou
a trabalhar na fazenda por opção. E esse é o mais significativo dos dois.'”
Ela faz uma pausa e deixa isso afundar para todos nós. “O amor é
algo sobre uma pessoa, alguma conexão com ela, que te deixa disposto
a mudar.”
Enquanto Adam limpa as laterais de sua tigela, percebo por que a
monogamia nunca funcionou para mim antes.
Sempre foi algo que eu senti que meu parceiro esperava ou me obrigou
a fazer. Se eu tratar isso como uma escolha desta vez em vez de uma
exigência, então talvez eu possa ser o Namorado Pródigo.
Lorraine vê a esperança iluminando meu rosto e rapidamente avisa:

“Você, meu amigo, está com um prazo para amar agora. Se você quer
alguma esperança de estar em um relacionamento com Ingrid novamente,
você terá que atacar seu trauma com todo o compromisso que você tem
e todas as ferramentas que existem antes do casamento.
Somente depois que você aprender a ficar sozinho sem solidão você
estará pronto para um relacionamento.”
“Que outras ferramentas existem?” Eu pergunto.
Ela as lista para mim: uma litania de terapias projetadas para

trabalhar em diferentes sentidos. Eles são desconhecidos —
combinações de palavras que eu nunca ouvi antes. Mas eu as anoto
como uma receita.
“Minha maior preocupação,” eu digo a ela, “é que depois que eu
fiz o trabalho de cadeira com você da última vez, eu me senti assim.
Eu tinha tanta clareza e esperança. Mas quando voltei ao meu
ambiente normal, voltei totalmente aos meus velhos pensamentos e
comportamentos.”
Ela leva os dedos aos lábios e considera o dilema por um
momento. “À medida que você descasca as camadas do falso eu,
você vai começar a sentir a dor interior da qual ele está protegendo
você. Então você vai ficar muito cru e desconfortável antes de
melhorar. Eu acho que você pode ter ficado preso nesses sentimentos
da última vez e é por isso que você deixou Ingrid. Mas se você puder
processar toda essa dor antiga de uma maneira adulta e saudável
desta vez, não precisará mais de suas velhas paredes e defesas.”
É muito para absorver e eu luto para entender tudo. Então

decido que não preciso entendê-lo. Eu só preciso fazer isso.
Há apenas um problema: “E se depois eu for ao casamento e

estiver realmente pronto em meu coração e alma para me
comprometer, e Ingrid estiver com outra pessoa ou não quiser estar
comigo novamente?”
Os olhos de Lorraine sorriem nos meus, a maquiagem

rachada sobre as pálpebras como terra seca, enquanto ela
responde sem hesitação: “Se ela não quer você de volta e
ela é o catalisador dessa mudança, então ela é a melhor
coisa que já aconteceu com você.”
8
Curtis Rouanzoin balança uma haste de metal fina para
frente e para trás na frente dos meus olhos enquanto me
lembro de lembranças de minha mãe. Ele então coloca
fones de ouvido em meus ouvidos e toca tons que saltam
do fone de ouvido direito para o esquerdo enquanto continuo
lembrando e sentindo dor, lembrando e sentindo dor – até
que estou apenas lembrando.
Lindsay Joy Greene se abaixa enquanto eu mando meu
punho voando no ar com toda a minha força, liberando a
raiva que parece estar presa no meu pulso por décadas. Eu
faço isso uma e outra vez com cada mão, até que eu
simplesmente não precise mais.
Olga Stevko passa oito horas me hipnotizando. Ando
pelo escritório dela, entrando na mente dos meus pais em
busca das coisas que eles não receberam de seus pais.
Então imagino fluindo essas qualidades para cada pessoa
da minha família no passado sete gerações e depois para
mim no momento em que fui concebido, até sentir que
realmente cresci com eles.
Greg Cason me dá dever de casa. Muitos disso.

Registros de pensamentos, planilhas de objetivos, exposições
escritas, diários de gratidão, experimentos comportamentais – cada
um desbastando meus medos e acomodação patológica até que eu
possa vê-los como as ilusões que eles
são.
Barbara McNally me diz para fechar os olhos; imagine eu e

minha mãe em um quarto com uma luz branca vindo de mim e um
X sobre ela; e então imagine gritar: “Dê-me a porra das chaves!”
enquanto eu soco seu rosto repetidamente.
estou em guerra. É uma guerra estranha do caralho. Mas estou

ganhando.
“Em uma escala de um a dez, quão forte é a emoção ligada
às memórias em que estamos trabalhando?” Curtis Rouanzoin
pergunta um dia. O procedimento pelo qual estou passando com
ele se chama EMDR, ou dessensibilização e reprocessamento do
movimento dos olhos, que analisa a maneira como o trauma é
armazenado no cérebro e tenta processá-lo adequadamente.
"Se costumava ser um dez, agora é um oito", digo a ele.
Lindsay Joy Greene é treinada em uma terapia chamada SE,

ou experiência somática, e ela está localizando traumas presos não
em meu cérebro, mas em meu corpo, e liberando a energia
armazenada. Um dia ela pergunta: “Em um
escala de um a dez, quanta raiva você sente quando se

lembra das memórias que discutimos?”
"Se costumava ser um oito, agora é um sete", digo a

ela.
Olga Stevko pratica sua própria variante de PNL, ou
programação neurolinguística. Enquanto as experiências
com Lorraine eram sobre depuração do meu sistema
operacional, o processo dela é sobre reescrever o código
original. Por exemplo, ela me diz que dentro das palavras
de minha mãe, “Nunca cresça para deixar alguém tão
infeliz quanto seu pai me faz”, havia um comando oculto:
Nunca cresça. Como ela me ajuda a crescer, reduz meu
trauma a seis.
Greg Cason é especialista em terapia cognitivo-
comportamental, que leva a nota cinco. E eu não sei
como chamar o método de Barbara McNally e sua aljava
infinita de técnicas, mas eles funcionam, são originais e
trazem a emoção associada a essas memórias a quatro.
E faço muito mais: bato em travesseiros com tacos de
beisebol. Eu toco em energia me ridians. Faço mapas de
sombras do meu lado sombrio. Eu tento psicodrama.
Nem tudo funciona, mas nada disso dói.
Uma manhã, noto que metade dos shorts da minha

cômoda são presentes que minha mãe me deu de presente
vários aniversários e feriados. A maioria tem temas de

novidades com piadas semissexuais, como signos de
gênero masculino e feminino com as palavras “mudança de
dez” ao lado deles. Embora eu sinta uma pontada de culpa
ao pegá-los e jogá-los no lixo, lembro-me de Barbara
McNally me dizendo que esse tipo de culpa é uma coisa
boa. Significa que finalmente estou fazendo o trabalho de
separação.
Enquanto estou nisso, jogo fora todas as chaves de
carros e apartamentos velhos que salvei em alguma
tentativa inconsciente de provar para minha mãe que nunca
vou perdê-los.
Como Lorraine previu, sinto-me frágil e vulnerável
durante esta campanha de choque e pavor, como se minha
pele tivesse sido removida e todos os meus nervos expostos.
O menor estresse – seja uma pequena crítica de um colega,
um obstáculo no caminho de um projeto que preciso
concluir, alguém me pedindo para repetir, um restaurante
fora do meu prato favorito – me enche de ansiedade
desproporcional e fúria. Mesmo que uma pessoa diga algo
bom para mim, interpreto mal como rude e desrespeitoso.
E todas as noites, eu me reviro, obcecada com os
acontecimentos dos últimos anos, incapaz de adormecer.
“Isso não está me deixando feliz,” reclamo para Rick

em uma manhã escura.
“O objetivo não é se sentir bem ou se divertir”

Rick me lembra. “É forçar os sentimentos a virem à tona
eles podem ser examinados, e encontrar as causas mais profundas
para o seu comportamento. Nesse aspecto, está funcionando
incrivelmente bem. Como você se sente durante o processo é o
parte menos importante. Então você pode se sentir bem na medida
em que está fazendo o trabalho para aprender sobre si mesmo e
está disposto a olhar para os sentimentos que
suba. Essa é a parte para segurar.”
Então eu empurro a dor e luto mais. Isto
consome minha conta bancária, mas a longo prazo estou
economizando milhares de vezes essa quantia de dinheiro em
encontros ruins, relacionamentos dramáticos, casamentos de curta
duração, más decisões e os falsos amigos que sou
ligado ao trauma.
Sou motivado pelos erros do passado, pela
esperança de um futuro melhor, o sonho desesperado de In grid,
e o sentimento no fundo de que finalmente, afinal
esta pesquisa, estou fazendo a coisa certa. Não apenas para
Ingrid ou para meus relacionamentos, mas para mim. Ao invés de
tentando encontrar outras pessoas para me completar, finalmente
estou me completando.
9
Hoje, estou fazendo algo ainda mais excruciante do que terapia. Estou
sentado em uma clínica de DST, me preparando para fazer o teste de
literalmente tudo.
Enquanto espero para ver a enfermeira, penso em todas as mulheres
com quem eu estava enquanto namorava Sage: aquela cujo período
começou logo depois que eu caí em cima dela, aquela que largou a bunda
em mim antes que eu tivesse a chance de colocar uma camisinha, aquela
que a borracha escorregou dentro, e então todas as mulheres que caíram
em mim enquanto eu basicamente tinha uma ferida aberta no meu pau. E
se aquela ferida não fosse de fricção?
Depois, há Sage: Ela disse que estava limpa, mas quem sabe quando
ela foi testada pela última vez?
Eu não acho que eu poderia mostrar meu rosto para Ingrid novamente
se eu pegasse algo durante esse tempo. E se toda essa busca pela
liberdade, em vez disso, me sentenciou à morte? E se ao invés de ter meu
bolo e comê-lo, eu acabar não tendo bolo e nada para comer?
Eu ligo para os resultados do meu teste vários dias depois, cheios de

estresse. Enquanto a enfermeira procura por eles, meu coração se encolhe
em uma bola apertada. Minha testa tricota. Até meu pau está tenso,
como se uma lâmina de guilhotina estivesse prestes a cair sobre ele.
Finalmente, ela volta ao telefone. “Você é negativo para HIV,
clamídia, gonorreia e . . .” Eu silenciosamente me alegro, mas então
ela hesita, como se estivesse prestes a dizer algo estranho. A alegria
termina.
“Isso é estranho”, ela continua. Porra, eu sabia que algo estava
errado. E se for incurável? “Você testou negativo para herpes.”
"Negativo?"
“Quase todo mundo tem herpes”, ela diz, como se fosse o
equivalente a espinhas.
E nesse momento, sou grato aos meus pais por seu sistema
imunológico. "Obrigado", eu digo a ela. "Eu acho que te amo."
"Eu também te amo, querida", diz ela e desliga,

meu anjo sangrento.
Uma vantagem da monogamia: não mais aterrorizante
Testes de IST.
Aliviado e aliviado, continuo a guerra no meu

passado.
Há, é claro, experiências que não consigo acessar: pré-

consciente, primeira infância e impressões esquecidas. E certamente
uma grande parte do dano é feita nesses primeiros anos cruciais.
Mas quando eu pergunto
sobre isso em um workshop de fim de semana nos arredores de

Los Angeles dirigido por um centro de cura de traumas chamado
The Refuge, tenho certeza de que o que me lembro é uma
janela para o que esqueci - que os padrões provavelmente
permaneceram os mesmos, que um narcisista pai sempre foi
um pai narcisista.
A caminho de casa da oficina The Refuge, paro na festa de
aniversário da minha amiga Melanie em um bar de West
Hollywood. Desde que iniciei esta viagem para a anhedonia, é
um dos únicos eventos sociais que participei.
Estou vestindo jeans e um moletom com capuz, me sentindo
muito anti-social e planejando dar apenas o presente a Melanie
e depois sair.
Mas assim que entro pela porta, vejo problemas: Elizabeth,
a empresária de tecnologia que Melanie me apresentou anos
atrás – aquela que disse que só faria sexo comigo se eu
concordasse em me casar com ela.
“Eu tenho tentado falar com você,” ela diz em saudação.
Ela está usando um vestido verde decotado e sapatos de salto
alto pretos.
"Eu mudei meu número", eu digo a ela, educada, mas curta.
Ela continua, imperturbável: “Eu bebi um pouco, então
posso lhe dizer isso. Você é parte do motivo de eu ter terminado
com meu namorado. Fiz uma lista das qualidades que procuro
nos homens. Então fiz uma lista dos homens em potencial na
minha vida. Então eu compilei todos os
dados em um gráfico, e você obteve a classificação mais alta em todas

as categorias, exceto uma.”
Tenho a suspeita de que ela preparou esta emboscada
com antecedência. "Deixe-me adivinhar", eu respondo
desapaixonadamente. "Estabilidade."
“É exatamente isso.” Ela mantém contato visual. “A
primeira coisa que pensei quando terminei com ele foi: agora
posso foder Neil Strauss.”
Eu nunca fui atingido de forma tão agressiva. Ou ela
relaxou seus critérios de casamento ou ela é uma adepta da
teoria de sedução dos gêmeos balançando a cenoura sexual.
O velho eu ficaria intrigado o suficiente para descobrir qual; o
novo eu fica intrigado por um momento fugaz, mas felizmente
ele toma melhores decisões. “Infelizmente, você está atrasado,
porque estou fora do mercado.”
Começo a me afastar, mas ela me pergunta: “Você ainda

não está apaixonado por aquela loira, está?” Ela zomba da
palavra garota como se estivesse dizendo camponesa.
Eu paro e digo a ela: "Eu sou, na verdade." As palavras

são muito mais fáceis de articular do que eu teria imaginado.
“Eu não acho que ela está no seu nível.” Elizabeth não é
dissuadida. “Eu vi uma foto de vocês dois online. O esmalte
dela estava lascado.”
Agora que não estou vendo Elizabeth — ou qualquer

mulher — como um meio para um fim sexual, estou surpreso
por ter me interessado por ela. Se eu estivesse morrendo de
mal da altitude em Machu Picchu, ela é do tipo que iria embora
se visse um cara rico pousando em um helicóptero nas
proximidades. “Essa é a grande coisa sobre Ingrid,”
Eu a informo. “Ela não se define por sua aparência. Um dia,
ela me enviou fotos que colocou em alguns aplicativos, e eles
mostraram como ela ficaria gorda e velha.”
É quando Elizabeth diz a única coisa que, até recentemente,

teria afetado minha última gota de determinação como
kryptonita. “Desde nossa conversa, decidi que quero um
relacionamento mais aberto. Não quero impedir um homem de
explorar sua sexualidade ou ter experiências com outras
mulheres. Acho que é natural que um homem queira variedade.”
"Bem, eu espero que você encontre alguém." Sou grata

por me encontrar impassível por suas palavras. Ou estou me
curando ou estou muito irritada com toda essa raspagem de
feridas. “Bom te ver de novo.”
Em vez de dizer adeus, ela se ajoelha aos meus pés, uma
natureza morta de submissão. Ela então lentamente amarra os
cadarços soltos em um dos meus sapatos, olhando para mim
o tempo todo, se aproximando do espaço entre minhas pernas
e depois congelando lá por um momento para dar o meu melhor.
o olho da mente a imagem exata de que precisa para imaginar o

que ainda pode acontecer esta noite.
Este é o momento sobre o qual os demônios vermelhos e eu
sempre conversamos, imaginando se poderíamos resistir à atração
do sexo fácil com uma mulher bonita.
Elizabeth se levanta lentamente, deixando suas unhas recém-
polidas permanecerem no meu braço como uma prova de sua
superioridade sobre Ingrid. Sentindo a vitória, ela ronrona: “Minha
mãe sempre dizia: 'Se você pensou, então já trapaceou'”.
"Bem, eu vou ter que viver com isso." Dou-lhe um último adeus
e saio para cumprimentar Melanie. Felizmente, acontece que
consigo resistir.
Quando vou para casa um pouco mais tarde, sentindo-me
como o alvo em vez do jogador, estou inesperadamente eufórico.
Esta é a primeira vez que recuso o sexo de um parceiro em
potencial pelo qual me sinto fisicamente atraída e, mais ainda, um
relacionamento não monogâmico. E não tenho arrependimentos. Se
Ingrid se ajoelhasse no chão para amarrar meus cadarços, seria
porque ela queria amarrar meus cadarços, não porque ela queria
me seduzir a pensar que ela seria a esposa perfeita.
Lembro-me das fotos que Ingrid me mandou uma mensagem,

aquelas com o rosto alterado para parecer pouco lisonjeiro.
A mensagem que os acompanhava dizia: “Vamos envelhecer e
engordar juntos”.
Eu me perguntava no Peru o que era o amor. Isso é amor.

É quando dois (ou mais) corações constroem um lar emocional,
mental e espiritual seguro que permanecerá forte, não importa o
quanto alguém mude por dentro ou por fora. Exige apenas uma coisa
e espera apenas uma coisa: que cada pessoa seja seu próprio eu
verdadeiro. Todo o resto que atribuímos ao amor é apenas uma
estratégia pessoal, eficaz ou ineficaz, para tentar controlar nossa
ansiedade de chegar tão perto de algo tão poderoso e incontrolável.
Volto para a casa da árvore, que está livre de caos e desordem,

e para a cama, que está livre de fumaça de cigarro, embalagens de
preservativos e manchas molhadas de bebidas derramadas e outros
fluidos. E percebo que cometi um erro ao igualar variedade com
liberdade.
Estou fora de todos os aplicativos e sites sociais e de namoro.
Isso é liberdade.
Menos de vinte pessoas têm meu endereço de e-mail.
Isso é liberdade.
Meu telefone quase não faz barulho. Isso é liberdade.
Eu tenho minha vida de volta. Isso é liberdade.
Não peguei nada transmissível. Isso é um maldito alívio.
Estou realmente sozinho, desprovido de opções pela primeira

vez desde a puberdade. E, estranhamente, eu não me importo.
Acontece que deixar todas as minhas opções em aberto manteve
ocupado demais fazendo malabarismos com eles para

realmente viver. Estudos sobre escolha chegam a afirmar que
ter muitas opções leva a menos felicidade e satisfação.
Penso na minha infância — nas regras irracionais, nas
conversas à beira da cama e nas críticas constantes — e não
sinto nada. Em uma escala de um a dez, agora é um.
10
Na semana seguinte, algo se encaixa.

Começa quando estou falando com minha mãe ao
telefone. Faz um tempo que não nos falamos porque tenho
evitado qualquer coisa que possa interferir no trabalho que
estou fazendo. Mas quando ela menciona que este ano
será seu quadragésimo nono aniversário de casamento, eu
caio direto em sua armadilha e pergunto: “Você quer
alguma coisa especial para seu cinquentenário?”
"Não", ela responde com desprezo. “Por que eu iria
querer algo que honre isso?” Ela faz uma pausa e decide:
“Bem, há algo que você pode fazer pelo meu cinquentenário:
atirar no seu pai”. Ela ri, como se fosse engraçado, então
acrescenta como uma reflexão tardia: “Na verdade, se você
quisesse matá-lo pelo meu quadragésimo nono aniversário,
tudo bem também.”
O comentário dela não me incomoda ou me faz sentir
como se estivesse sendo asfixiado, nem me faz sentir pena
dela ou do papai. Simplesmente sai de mim, como a
tentativa de uma criança de recrutar um estranho em uma
vingança pessoal.
É quando vejo nosso relacionamento como se fosse um

filme – com distância, distanciamento e clareza. É uma comédia
de humor negro sobre uma mãe que se sente vitimizada por
seu marido, mas quebrada demais para fazer qualquer coisa a
respeito, então quase tudo em sua vida, incluindo seu próprio
filho, torna-se uma arma para usar ou um aliado para recrutar
em sua vida privada e solitária. guerra contra este homem alheio.
Ao terminar a conversa com ela, não apenas deixo de lado
quaisquer expectativas remanescentes de que ela será nutrida
ou materna, mas também deixo de lado, sem culpa, quaisquer
obrigações que devo a ela como mãe. E é esse momento de
libertação – de mudar seu papel na minha vida de mãe para
adolescente adaptada – que finalmente me liberta.
Com esse vínculo traumático original rompido, nos dias

que se seguem, sou possuída por um sentimento que nunca
experimentei antes. Na verdade, é difícil chamar isso de
sentimento. É a ausência de sentimento.
Às vezes, sento no sofá e escuto os sons lá fora, olho ao
redor da sala e pela janela e não penso em nada. Ou vou me
mover pela casa em câmera lenta, desconectado do meu
senso habitual de urgência, realizando comportamentos
cotidianos como escovar os dentes como se fossem as únicas
coisas que tenho que fazer na minha vida.
É como zonear, exceto que não há nenhum lugar para zonear

sair para. É como se não houvesse nada na minha cabeça. Eu nem

sei se me sinto bem ou mal. Estou além do bem e do mal. Eu apenas
sou.
Quando tento dormir à noite, minha respiração parece leve, como
se não estivesse enchendo meus pulmões com o oxigênio que eles
precisam. Meu batimento cardíaco parece fraco, como se pudesse
parar a qualquer momento. Minha mente parece lenta, como se meus
neurônios estivessem se degenerando e eu estivesse à deriva em uma
morte indolor.
Eu finalmente esvaziei. Eu tenho Forrest Gumped a mim mesmo.
Estou verdadeiramente na anedonia — se não em um vazio além dela.
Só há um problema: Lorraine nunca me disse com o que eu

deveria encher depois. Então eu mandei um e-mail para ela para
descobrir.
Ela não responde.
Alguns dias depois, eu a tento novamente.
E ainda não há nada.
Lembro-me do silêncio mortal de Ingrid, mas não parece abandono.
Estou muito vazio para sentir até mesmo dor. Estou, como Lorraine
previu, profundamente sozinho, mas sem nenhum traço de solidão.
À medida que a semana passa sem uma resposta de Lor raine,

começo a me perguntar apaticamente se ela me transformou em um
zumbi, condenado a passar o resto da minha vida com morte cerebral.
Eu ligo para ela e deixo uma mensagem, perguntando em

uma voz lenta e confusa qual é o próximo passo e como
preencher. Mas ainda assim ela não responde.
E ela nunca vai.
11
Eu olho em seu rosto. A primeira coisa que noto é o

sorriso, toda gengiva e dentes tortos. Depois, há os
óculos pretos, grandes e duros demais para o rosto dele
E o mais trágico, há o cabelo, cortado curto amador com
franja torta e protuberâncias onduladas aleatórias. No entanto,
apesar de tudo isso, há algo nele que é delicioso de se ver.
Não é apenas sua inocência e ingenuidade, mas sua ânsia de
agradar, de aprender, de se tornar.
E é então que acontece: algo finalmente se move em mim.

Parece ser um sentimento. É difícil dizer se é amor ou tristeza.
Muito possivelmente são os dois. Mas é puro. Um amor e uma
tristeza — por ele, por mim.
Estou olhando para uma foto minha na escola primária,

com oito anos, que tirei de um envelope enterrado no meu
arquivo. Não me lembro da última vez que olhei minhas fotos
de infância.
Estou me enchendo, e estou fazendo isso sozinho.
Tanto Adam quanto Calvin ligaram no início do dia, em pânico

porque estavam passando por suas próprias crises e também não
tinham notícias de Lorraine.
Felizmente, Calvin me deu a pista que eu precisava. Ele leu o
último e-mail que Lorraine lhe enviara, que terminava com o
conselho: “Você tem seu próprio terapeuta interno que é muito
mais sábio do que qualquer terapeuta externo que você possa
consultar. Você só precisa encontrar essa voz e ouvi-la.”
Parecia sua maneira de dizer adeus, embora não tivéssemos

ideia do porquê. Talvez estivéssemos tomando muito do seu
tempo; talvez fosse um amor duro; ou talvez Joan a tenha
suspendido por trabalhar com pacientes que deixaram a reabilitação
AMA. Quaisquer que fossem suas razões, essas palavras finais
valiam a pena ser levadas a sério.
Então eu sentei no meu sofá e refleti sobre o que me trouxe

até este ponto. Os primeiros passos foram fazer uma linha do
tempo e genograma, o que me permitiu identificar minhas feridas.
Os segundos passos foram os intensos processos terapêuticos,
que esvaziavam e limpavam as feridas. Então o terceiro passo
deve ser preencher os buracos deixados por eles.
Mas preenchê-los com o quê?

Algo que Lorraine disse na primeira vez que fizemos

trabalho na cadeira veio à minha mente. Ela me pediu para
proteger e cuidar da minha criança interior.
Então eu me levantei do sofá e vasculhei
o armário de arquivos até encontrar minhas fotos antigas. Quando eu
realmente vi pela primeira vez a criança ferida que eu
trabalhando tanto para curar, foi quando os sentimentos começaram
a voltar.
Eu costumava pensar que o termo criança interior era uma
metáfora ridícula inventada para lembrar
adultos sobrecarregados de responsabilidade para relaxar de vez
em quando e apenas se divertir. Mas acontece que o
criança interior é muito real. É o nosso passado. E o único
maneira de escapar do passado é abraçá-lo.
Então, antes de ir para a cama naquela noite, coloquei a foto
em um quadro e colocá-lo ao lado da minha cama. E eu juro
que a partir deste dia, essa criança estará protegida. Ele será
amado. Ele será aceito. Ele será
confiável. E tudo isso será dado incondicionalmente.
Ele não será ensinado a odiar e temer. Ele não será
criticado por não corresponder às expectativas irreais. Ele não será
usado como lenço de papel ou aspirina para
sentimentos de solidão, medo, depressão ou ansiedade de outra
pessoa.
Na manhã seguinte, começo a preenchê-lo - e
mim - com as coisas que eu precisava, mas nunca tive como
filho. Quando tenho um pensamento negativo sobre mim,

Eu gentilmente a substituo por uma verdade positiva. Quando eu faço
um erro, eu me perdoo. Quando estou com a pele muito fina ou
grossa, gentilmente me guio de volta
em realidade moderada. E quando eu regredir, eu silenciosamente
me acalmar como se ensinasse uma criança a não ter medo
do escuro.
Assim como eu disse a Anne para ser uma boa mãe para ela
mesma, estou me reeducando. É meio patético
que nesta idade, eu preciso aprender corretamente como ser um
adulto. Mas se os problemas que tenho nos relacionamentos são
o resultado de imaturidade de desenvolvimento, então por
nutrindo essas partes atrofiadas de mim em um crescimento
jorrar, talvez eu finalmente alcance a felicidade e
estabilidade que me iludiu através de todos eles.
Então, com esta pequena rachadura de luz brilhando no meu
dormência, começo a criar uma nova vida.
Todos os dias, tento cuidar das seis necessidades principais
Lorraine me falou sobre: física, surfar e comer de forma saudável;
emocional, permitindo-me experimentar e expressar sentimentos
sem ser
hipercontrolador ou fora de controle com eles; social,
passando tempo com Adam, Calvin, Rick e outros
amigos com mentalidade de crescimento; intelectual, lendo literatura,
ouvindo palestras, iniciando um grupo de discussão de filmes e, o
mais importante, simplesmente ouvindo
mais; e, o mais estranho de tudo para mim, espiritual,

através da meditação transcendental, que um amigo
de Rick me ensina.
Mas o maior desafio é a sexta necessidade principal:
sexual, especialmente porque sou casto e livre de pornografia
agora mesmo. Então, enquanto continua com o resto da minha
regime de autocuidado, decido pular este. Eu preenchi
necessidades sexuais suficientes para durar várias vidas.
E talvez seja melhor que Lorraine nunca tenha respondido,
porque agora é realmente minha vida que estou reconstruindo.
Limpei as feridas da infância e
Estou preenchendo os buracos por dentro. Toda a minha vida, tenho
tentado preencher os buracos errados.
12
Seis dias antes do casamento de Hans – e apenas algumas

semanas em meu novo regime de autocuidado – eu acordo e os
últimos resquícios de torpor, morte e apatia se dissiparam como
nuvens de tempestade. No lugar deles, vejo um céu azul que
esqueci que estava lá.
Eu finalmente fui un-Gumped. Todas aquelas noites em que
fiquei deitada na cama durante a anedonia sentindo como se meu
coração batesse e a respiração estivesse desaparecendo, eu não
estava morrendo ou nem perto disso. Minha velocidade de troca
estava simplesmente diminuindo, e a falta de estresse, ansiedade
e intensidade constantes pareciam estranhos para mim.
De repente, percebo que a dicotomia entre o falso eu e o
eu autêntico de que todas essas pessoas em recuperação
falam não tem sentido. É um juízo de valor impossível de
determinar. Uma maneira melhor de pensar sobre isso é o eu
destrutivo e o eu criativo: o você que prejudica sua vida e a
vida dos outros, e o você que traz o melhor de si mesmo, está
conectado aos outros e está em harmonia com o mundo ao
seu redor.
Durante toda a manhã sou atingido por epifanias. É como

se, esvaziando-me e simplesmente cuidando de mim mesma,
a verdade entrasse de forma espontânea e sem esforço, sem
que eu tivesse que consultar especialistas para encontrá-la.
“Você parece mais feliz e mais em paz do que eu já vi
você,” Rick diz quando eu o encontro para almoçar no Coogie's
alguns dias depois. “E há outra coisa diferente em você
também, mas não consigo colocar meu dedo nisso.” Ele me
olha lentamente, balançando a cabeça, como se estivesse
fazendo uma tomografia espiritual. “Talvez você tenha curado
algo em você.”
Ele não é a primeira pessoa a dizer isso. Quase todo
mundo que tenho visto ultimamente notou uma mudança —
não na minha aparência, mas no meu ser. Coisas que eu nunca
pensei que poderia mudar – como minha tendência a ficar com
raiva quando limitada por regras irracionais – evaporaram
completamente. Onde antes eu era ansioso, frenético e nervoso,
agora estou mais presente, ainda, aceitando. Dificilmente sou
um monge budista, mas estou mais em paz com o mundo e
comigo mesmo.
"Eu sei. Eu me sinto diferente. Eu pensei que isso era

apenas para mudar minhas crenças sobre sexo, mas mudou
tudo.”
“Como você faz qualquer coisa é como você faz tudo”
Rick responde, com uma calma que pela primeira vez eu
espelho. “Você vê agora que a maneira como você escolhe viver

sua vida afeta tudo sobre ela? Uma fraude aqui e ali não é apenas
uma fraude aqui e ali. É uma quebra no continuum de quem você
é e a pessoa que você é no mundo.”
"Entendi. Acho que agora tenho uma boa compreensão de por

que trapaceei.”
"E por que isto?" As palavras soam vagamente desafiadoras,
como um teste para ter certeza de que realmente mudei.
“Na verdade, é uma lista de coisas.”

Pego meu telefone e mostro a ele um memorando que escrevi
uma noite na cama durante a anedonia:
POR QUE EU ENGANAI
1. Eu não me comuniquei ou mantive limites com

Ingrid, então agi por medo de ser engolido.
2. Eu não compartilhei minhas preferências sexuais

com Ingrid ou dei a ela espaço para compartilhar
as dela, então eu agi devido a desejos sexuais
não realizados.
3. Eu a culpei por “não me permitir” foder outras

pessoas, então eu agi por causa de
uma negação da responsabilidade pessoal pelo meu

comportamento.
4. Eu tinha sentimentos de inutilidade e baixa auto-estima

lá no fundo, então agi para aceitação e validação.
5. Eu não tinha espiritualidade e um paradigma

intelectual defeituoso, então agi porque acreditava
que não somos diferentes de qualquer outro animal
e é isso que os animais fazem, e as consequências
não importam realmente para o universo.
Pela primeira vez, Rick fica sem palavras. Um sorriso lentamente

se espalha em seu rosto. E depois do que parece uma eternidade,
ele me diz: “Acho que você vai entender o que quero dizer agora
quando lhe contar o segredo para ser fiel”.
"O que é isso?"

“Não troque a felicidade de longo prazo por prazer de curto prazo.”
Eu adiciono essa frase às minhas notas. É um bom mantra para

lembrar.
“Pense na intimidade como um fogo”, continua ele. “Quanto mais
logs você adiciona, maior fica. E quanto maior fica, menos você quer
jogar água nele.”
“Meu problema antes era que quanto maior o fogo,

mais eu queria jogar água nele. Eu estava com tanto medo
que isso me consumisse.”
Rick estuda meu rosto. Palavras são fáceis de dizer,
mas ainda sou capaz de viver por elas? Outro teste por
cola em sua mente. Ele é um produtor não só de música,
mas de vidas. “Se as coisas não derem certo com Ingrid,
para dar uma chance ao seu próximo relacionamento, eu
recomendaria construir intimidade e fazer um profundo
compromisso emocional antes de iniciar um relacionamento
sexual. Acho que esse deve ser o seu novo desafio:
esperar três meses antes de fazer sexo com sua próxima
namorada.”
Ele espera pela minha reação. Quando acusei Rick e
Lorraine de tentar me castrar depois que eles sugeriram
anedonia meses atrás, isso apenas confirmou a eles minha
obsessão doentia por sexo. Desta vez, porém, não
exagerei. Se eu quiser ter um relacionamento baseado no
coração, o desafio dele faz sentido. Leva tempo para
abandonar nossas projeções e necessidades de
desenvolvimento não atendidas para que possamos ver
nossos parceiros como eles realmente são e para que eles ve
“Sabe, três meses parece muito tempo,” digo a Rick.
“Mas se eu tivesse feito isso em primeiro lugar,
provavelmente não teria desperdiçado tantos anos da
minha vida nos relacionamentos errados.”
No entanto, enquanto falo essas palavras, sinto uma

pequena vibração de desconforto com a ideia e um medo
crescente de dentro de mim que me surpreende: alguém vai
querer se comprometer comigo sem o sexo e a oxitocina ou
gases? Isso significaria que ela realmente teria que gostar
de mim por quem eu sou.
E uma voz poderosa de algum outro lugar dentro de
mim se ergue e embala o medo como uma criança, dizendo
simplesmente: “Sim, ela vai”.
13
Depois de assistir All Fall Down de John Frankenheimer
com meu grupo de cinema naquela noite, sou atingido por
uma preocupante cadeia de pensamentos: emergi da
anedonia não tanto com uma decisão, mas sabendo que
estava pronto para um relacionamento adulto com In grid. .
Mas e se eu mudei tanto que minhas feridas e as dela não
são mais complementares, e não estamos mais atraídos
um pelo outro?
Ou se ela está com raiva de mim e simplesmente superou
isso? Ou se ela estiver loucamente apaixonada por aquele
James Dean? E mesmo que ela seja solteira e não me
odeie, como ela vai acreditar que eu mudei? Eu disse isso
a ela antes, apenas para quebrar seu coração mais tarde.
Então eu decido trazer provas para o casamento.
Passo os próximos dias reunindo os materiais de que
preciso. Em uma caixa marcada como “#1”, insiro uma
fotografia emoldurada do Sobrevivente. “Obrigado pela
planta”, escrevo no verso. “Ele me ensinou que posso
cuidar das coisas. Os pacotes a seguir não são presentes,
mas expressões do meu compromisso com você. Eu trabalhe
duro em quem eu sou e em me tornar uma pessoa melhor.

E aprendi que com amor tudo pode florescer.
Mas com ambivalência e medo, uma coisa viva morrerá.
Portanto, ninguém que realmente ama e é amado pode
estar em uma gaiola.”
Na caixa dois, coloco meu telefone antigo, junto com
um bilhete explicando o novo número, para quem o dei e
que agora estou dando para a pessoa com quem mais me
importo no mundo. Dentro da caixa três está o recibo do
programa bloqueando todas as minhas redes sociais e a
mensagem de retorno do meu antigo endereço de e-mail. A
caixa quatro leva meio dia para ser preparada: montei um
quarto de nave espacial semelhante ao que ela havia feito
em nossa antiga casa de hóspedes e tiro uma foto para ela.
A caixa cinco contém minha posse mais valiosa, minha
única chave para a praia particular onde eu surfo — minha
versão da chave de confiança do arquivo que ela me deu.
E dentro da caixa seis há um medalhão com fotos minhas
quando criança de um lado e ela quando criança do outro,
com uma mensagem: “O pequeno Neil estava com medo.
O Neil adulto não é. O único medo que ele tem é de perder
você. Vamos juntos ser ótimos pais para nossas crianças interi
Eu embrulho cada caixa e coloco todas em uma caixa
maior. Estou saltando do avião sem pára-quedas,
comprometendo-me com ela apenas com base na fé,
amando-a sem exigir seu amor - e ou é
a coisa mais romântica que já fiz ou a mais perseguidora.

Possivelmente ambos.
Algumas escolas de teoria do apego avaliam a maneira
como as pessoas se comportam nos relacionamentos em
um continuum, e não por categorias claras como na reabilitação
Eles colocam as pessoas em um gráfico dividido em quatro
quadrantes, indo de baixa ansiedade a alta ansiedade no
eixo x e alta evitação a baixa evitação no eixo y. Cada
quadrante determina um estilo de apego diferente: Alta
evitação e alta ansiedade seriam apego evitativo com medo,
semelhante à evitação amorosa; alta ansiedade e baixa
evitação seriam apego preocupado, semelhante ao vício do
amor; alta evitação e baixa ansiedade seriam dispensar o
apego, uma forma mais extrema de evitação amorosa em
que os relacionamentos são quase totalmente rejeitados
porque nenhum parceiro é percebido como digno. Então, por
diversão, faço um teste para determinar qual estilo eu tenho,
respondendo a cada pergunta da maneira mais honesta
possível. E fico aliviado quando caio na quarta categoria:
baixa evitação e baixa ansiedade.
“Combinando suas pontuações de ansiedade e evitação,

você cai na região segura do espaço”, diz minha análise. E
embora seja apenas um teste on-line, também é a primeira
avaliação psiquiátrica positiva que tive em muito tempo.
Então li minhas anotações dos últimos anos. Eu olho para trás

em cada conversa, reunião, livro, compromisso, intensa e epifania
interna que experimentei. E começo a escrever um compêndio de
todas as lições que aprendi.
É o meu centro, um guia incompleto para o amor pelo homem

incompleto, um mapa para o sucesso não apenas em meus
relacionamentos, mas para lidar com segurança com todas as forças
externas e internas que podem ameaçá-los. É meu lembrete para
cuidar de mim mesma, comunicar minhas necessidades, ficar longe
do lado sombrio e não ser sugada de volta à minha realidade infantil.
E contém muito mais: maneiras de lidar com o desejo de trair, evitar
transformar meu parceiro em meu pai, evitar reações exageradas,
resolver conflitos, garantir que estou me aproximando do meu
parceiro ao longo do tempo. de em um estranho.
Meu progresso nele, no entanto, é interrompido por uma batida

suave na porta da frente.
"Quem é esse?" Eu pergunto cautelosamente, esperançosamente.
"Sou eu", a voz de uma mulher diz timidamente.

“Ingrid?”
“Não”, a voz responde. “É Sábio.”
14
Trechos de Um guia incompleto para o amor pelo
Homem Incompleto
1. Não importa qual seja a situação, o curso de ação correto

é sempre compaixão e amor.
“Eu voei para falar com você. Você pode simplesmente abrir
a porta?”
Eu quero me esconder. Eu quero correr. Não posso deixar que
isso atrapalhe meus planos.
Mas há planos e depois há vida. E vida
sempre supera os planos.
"O que você está fazendo aqui?" Eu pergunto o mais empaticamente
que posso.
2. Desde que pelo menos um parceiro esteja no adulto

funcional a qualquer momento, a maioria — se não todos —
os argumentos podem ser evitados.
“Isso é loucura, eu sei. Estou tentando entrar em contato

com você para pedir desculpas. Eu cometi um erro. Eu te amo."
Pausa. Silêncio. “Fiquei com medo, então fugi, mas não tenho
mais medo. Eu quero estar com você. Espero que você se
importe comigo o suficiente para me dar pelo menos cinco
minutos do seu tempo.
Eu hesito por um momento, ampliando o espaço entre a
emoção que estou sentindo e agindo sobre ela.
A emoção que estou sentindo é o medo. Estou preocupado
que ela faça algo que afete minha clareza recém-conquistada
ou minhas chances de voltar a ficar com Ingrid. Então, convoco
todas as minhas células cerebrais adultas para uma reunião
em meu neocórtex e as lembro que ninguém pode me
machucar sem minha permissão.
3. Reconheça quando você está se desviando para um

comportamento infantil ou adolescente. Em seguida,
aponte qual história antiga está sendo desencadeada e
diga a si mesmo a verdade da situação. Deixe de lado a
mentira.
De um flanco distante do meu cérebro, no entanto, os

pequenos e esfarrapados restos de um outrora formidável
exército de culpa tentam invadir. Ela voou até aqui, então não
devo decepcioná-la ou machucá-la. Eu esmago a voz
instantaneamente como a acomodação patológica que ela é –
a velha crença de que porque minha mãe me ama, eu devo
nunca faça nada para fazê-la sofrer. E quase tudo a faz

sofrer.
O amor é uma gaiola somente quando você se sente em dívida com ele,
constrangido por ele, responsável perante o seu proprietário.
4. Aceite o que é.
Com um exército derrotado, o próximo ataca: o terror

da dúvida. E se for assim que eu pareço quando vejo
Ingrid? E se Ingrid pensar exatamente o que estou
pensando agora? E se ela estiver certa?
E se . . . Hoje vou eliminar essas duas palavras do
meu vocabulário e substituí-las por eu vou aceitar se.
Eu vou aceitar se é assim que eu pareço quando vejo

Ingrid. Eu aceitarei se Ingrid pensar exatamente o que
estou pensando agora. Eu vou aceitar se ela estiver certa.
5. Em vez de dizer “Nunca mais vou trair”, diga: “Hoje,

não vou fazer aquela coisa que me faz sentir fraco e
envergonhado de novo”.
E então a última falange marcha em minha direção, a

mais perigosa de todas: o desejo. Isso me diz como foi
bom o sexo com Sage e como os três foram divertidos. E
eu ataco com a melhor arma
existe: experiência. Lembro que além da noite solitária

com os gêmeos, a aventura anterior envolveu uma vizinha
que trouxe seu husky gigante, e Sage e ela fizeram amor
enquanto o cachorro tentava fazer amor comigo.
Talvez o corolário do segredo de Rick seja que a

fantasia de outras pessoas é quase sempre melhor do que
a realidade.
Abro a porta e guardo a soleira. Sage está diante de
mim com maquiagem completa e um vestido preto, com o
cabelo recém tingido e as pernas perfeitamente
bronzeadas. Ela claramente passou muito tempo
trabalhando em si mesma. E, mais preocupante, há uma
maleta aos pés dela.
Ela estende a mão para me abraçar e me beijar, e eu
me afasto. Eu não vou sentir pena dela. Eu não vou ser
ligado por ela.
6. Você não pode ter um relacionamento com alguém

esperando que ele mude. Você tem que estar disposto
a se comprometer com eles como eles são, sem
expectativas. E se eles escolherem mudar em algum
ponto ao longo do caminho, isso é apenas um bônus.
As palavras começam a sair de sua boca, concluindo

com seu desejo de se mudar e começar uma família com
Eu. Isso me dá um arrepio na espinha, porque é exatamente isso

que eu quero com Ingrid se as coisas derem certo entre nós.
“Você quer se mudar, ficar comigo para sempre, e

começar uma família juntos?”
“Sim,” ela diz, seus olhos se arregalando com partes iguais de
sinceridade e súplica.
Imagino como seria o futuro com Sage: imagino-nos casados
e criando filhos – até que um dia, quando ela se sente presa
novamente, ela foge para Fiji sem avisar, deixando-me explicar às
crianças que mamãe partiu para procurar para si mesma e não sei
quando ela vai voltar.
Os ventos da ambivalência continuarão soprando-a de volta para

mim e para longe novamente, para trás e para longe, para trás e
para longe.
Dizem que o amor é cego, mas é trauma que é
cego. O amor vê o que é.
7. Comunique-se e mantenha limites saudáveis. Isso significa

encontrar o equilíbrio adequado entre filtrar e proteger seu eu,
pensamentos, sentimentos, tempo e comportamentos sem se
fechar atrás de paredes ou ficar sobrecarregado ou
sobrecarregado.
Ela parece desamparada e esperançosa, e de vez em

quando lágrimas caem de seus olhos quando ela me diz que
gastou suas economias para voar até aqui. Até recentemente,
esse era meu pesadelo: ter que atender às expectativas de
outras pessoas – especialmente quando fazer o que é certo
para mim fere os sentimentos de outra pessoa. Mas foi
escolha dela vir aqui, então não há nada para se sentir
culpada. Esta é a minha chance de implementar os limites
que aprendi, de aplicá-los quando forem ultrapassados para
que eu não me sinta enredado, de quebrar velhos hábitos e
reforçar novos.
"Isso não é legal", eu digo a ela. “Você não pode
simplesmente vir sem me avisar.”
“Mas seu número de telefone não estava funcionando.
Como você pode ser tão frio? Você disse que me amava.
Não vai embora assim.”
Ela tem um bom ponto. Volto às palavras de Lorraine:
Você não vai se machucar brincando com brinquedos, mas
eles vão. "Eu tenho muito amor por você", digo a ela. “Mas o
relacionamento simplesmente” – não sei como dizer melhor
– “acabou. Terminou exatamente quando deveria ter terminado.”
8. Pergunte a si mesmo ao longo do dia: “O que preciso

fazer neste momento para cuidar de mim?” Se você puder
estar ciente de quais necessidades e desejos legítimos
você não está atendendo e, em seguida, tomar medidas
para atendê-los em seu
próprio — ou peça ajuda ao seu parceiro, se não puder —

esse é o caminho para a felicidade.
“Tem mais alguém?” ela pergunta.

"Há. Mas ela não fala comigo.”
"Isso é uma piada? Você é louco."
“Eu costumava ser louca,” digo a ela. “Acho que finalmente
estou ficando são.”
“Posso pelo menos dormir aqui?” Ela dá um passo mais perto
e eu inalo sua mistura única de pomada, sexo e hidratante.
9. Ninguém pode fazer você sentir nada e você não faz

ninguém se sentir de uma determinada maneira. Portanto,
não assuma a responsabilidade pelos sentimentos do seu
parceiro e não o culpe pelos seus. A coisa mais carinhosa a
fazer quando eles estão chateados é simplesmente perguntar
se eles querem que você ouça, dê conselhos, dê espaço ou
toque amoroso.
"O que?" É incrível: mesmo quando você define um

fronteira, as pessoas ainda querem pisoteá-la.
Ela diz: “Não tenho onde ficar. Posso pelo menos ficar no
quarto de hóspedes e podemos conversar quando você estiver
pronto?
Eu me lembro. . .
Ela diz: “Peguei um táxi no aeroporto”. . . .

que Sage não é minha mãe e . . .
Ela diz: “Prometo que vou embora depois de conversarmos”.
. . . Não sou responsável pela felicidade dela.
Então eu traço o limite com mais firmeza. “Não é certo
ficar aqui. Sinto muito, mas assumi um compromisso
comigo mesmo e preciso honrá-lo.”
10. Ame, honre e afirme a si mesmo.

Quaisquer que sejam suas decisões, ações, sentimentos
e pensamentos ao longo do dia e qualquer resultado
que possam levar, se você é saudável, então eles são,
em última análise, saudáveis.
As palavras se registram em seu rosto e ela começa a

protestar. O velho eu gostaria de abraçá-la, dizer que
podemos conversar mais tarde, deixá-la dormir aqui,
prometer que ainda podemos ser amigos, cometer vários
erros. Mas agora tudo o que passa pela minha mente é
uma pergunta: é para o meu bem maior?
E nada disso é para o meu bem maior. Então eu estou
principal resoluta como pedra e ela se derrete na água.
As lágrimas se misturam com seu rímel, escorrendo
negras por seu rosto. Eles não são meu problema. Eles
são o problema dela. E ela vai superar isso. Ou ela não vai.
Mas a coisa mais compassiva que posso fazer é deixá-la
tomar sua própria decisão com base na verdade. E a verdade

é que eu amo Ingrid.
Só espero que Ingrid me ame.
11. E, acima de tudo, lembre-se sempre de respirar e estar

no momento.
Mas eu vou aceitar se ela não aceitar.

15
Eu estou do lado de fora da garagem sem aquecimento onde o
padrasto de Ingrid a fez viver com nada além de uma velha cadeirinha
de carro rasgada como mobília, enquanto seu irmão e meio-irmãos
estavam deitados em camas quentes em quartos quentes. Eu me
certifico de que minha jaqueta fique firme em meus ombros, os
punhos da minha camisa roxa ligeiramente salientes para fora das
mangas, minha gravata combinando é apenas um toque fora do
centro, e a parte de baixo da minha calça está pendurada
ordenadamente sobre os meus sapatos. Eu sou Sábio. Eu vim implorand
Ando pela cozinha, onde o padrasto de Ingrid a
fazia cozinhar e esfregar por horas todos os dias,
punindo-a se ela ousasse sentar. Ela só podia comer
depois que o resto da família terminasse a refeição. No
fundo da cozinha, há uma porta para o quintal, onde o
padrasto de Ingrid a forçava a cortar as cabeças das
galinhas e ria enquanto ela vomitava com o horror do
ato. Ela é minha Cinderela.
E espero que em seu conto de fadas, eu seja o

sapo que ela beijou e transformou em príncipe.
Eu procuro por ela, a caixa que envolvi ontem à noite em

meus braços. Há duas longas mesas decoradas com flores,
cercadas por mulheres de vestido vermelho e homens de terno
escuro. Quatro desses homens são seus meio-irmãos. Espero
que Ingrid esteja contando coisas boas sobre mim. Mas de
alguma forma eu duvido.
Eu circulo o pátio procurando por Ingrid, esperançosa de
não ver James Dean e tomando cuidado para não fazer contato
visual com nenhum de seus meio-irmãos. Mas ela está longe
de ser encontrada. Eu não pertenço aqui. Eu deveria ir.
"Ei, irmão", ouço uma voz dizendo.
Eu me viro e vejo Hans perto do bar, esperando a cerimônia
começar. Eu o parabenizo e agradeço por me convidar. Quero
perguntar por que ele me enviou o convite, mas temo que diga
que foi um acidente.
Sua mão pressiona contra a parte inferior de suas costas

e ele se estica como se estivesse com dor. Quando pergunto
se ele está bem, ele olha em volta furtivamente, certificando-se
de que ninguém mais possa ouvir. Então ele me diz que foi a
um clube de strip com seus amigos para uma despedida de
solteiro surpresa na noite anterior. Ele ficou tão bêbado que
começou a dançar no poste e a carregar duas strippers pelo
palco. Mas ele caiu, derrubou os dançarinos e jogou as costas.
"Não diga a minha noiva", ele adverte.

“Ela não sabe?”

Ele sorri para mim conspiratoriamente. “Eu disse a ela que me
machuquei no trabalho.”
E assim nasce mais um casamento com uma mentira. É a
grande mentira - que maridos e esposas não têm interesse
sexual em ninguém, exceto um no outro. No fundo sei que não
venci meu desejo por outras mulheres — não acho que isso
seja possível sem que Hasse Walum baixe meus níveis de
testosterona —, mas removi o que era psicológico: o medo de
amar, o terror de ser amado, a compulsão de trapacear, a
covardia de mentir, o fraco senso de si mesmo, a acomodação
patológica e todos os mecanismos de defesa que mantinham
esse sistema no lugar e eu cego demais para vê-lo.
Quero perguntar a Hans onde está Ingrid, se ela sabe que

estou indo e se está animada, brava ou nervosa ou
simplesmente não se importa. Mas este é o dia dele, sua
passagem para uma nova vida, então deixo ele se preparar para i
É quando vejo a mãe deles, que desistiu da carreira na
televisão no México para se tornar dona de casa nos Estados
Unidos. Ela sacrificou tudo para fugir do primeiro marido traidor
que tentou assassiná-la. Mas seu substituto raramente a deixa
sair de casa, ter amigos, fazer qualquer coisa além de tarefas
domésticas, ou até mesmo ser mãe de Ingrid e Hans. Ela é
preso não no passado, mas com medo de que seu futuro

reproduza seu passado. Então, no final, talvez seu ex-marido a
tenha matado. Ela vive em um caixão em Sylmar. Sua lápide
diz: Segurança.
No entanto, até ela trapaceia, embora não o veja como tal.
Às vezes, ela diz ao marido que vai ver um vizinho, mas foge
para ver Ingrid e Hans, os filhos que teve com o primeiro marido.
O ciúme é um adversário implacável, ainda controlando a
fronteira muito depois de ter vencido a guerra.
Estou de volta à realidade dos relacionamentos, onde os

parceiros “quebram as regras” e contam “pequenas mentiras
brancas” para satisfazer suas necessidades. O ideal pelo qual
venho lutando não é o modo como as pessoas se relacionam
no mundo real. Talvez, como prometi aos meus amigos na
reabilitação, eu realmente tenha saído e projetado um novo tipo
de relacionamento. No entanto, não uma em que eu consiga
foder todas as mulheres que eu quiser, como eu esperava, mas
uma em que eu viva de verdade e sem medo ou culpa.
Eu penso em como eu escapei de Ingrid tanto tempo atrás,
dizendo a ela que eu estava indo para a casa de Marilyn
Manson na noite anterior à nossa viagem para Chicago, na
noite anterior ao aniversário dela. E sinto nojo de mim mesmo
por ter feito isso. Eu costumava pensar que era uma boa pessoa,
mas como uma boa pessoa poderia fazer algo tão repreensível?
A resposta: compartimentalização. O ato de

colocando atividades vergonhosas em uma pequena caixa lacrada em
nosso cérebro, onde eles permanecem escondidos com segurança, mesmo
da nossa própria inteligência e consciência.
Espero que a mãe dela não esteja chateada por eu estar aqui.
“Parabéns,” digo a ela lentamente. Ela não fala inglês — seu atual
marido nunca a deixou ter filhos — embora entenda palavras
básicas. "Você
deve estar muito orgulhoso de Hans.”
Ela sorri com uma delicadeza que me lembra In
grade e então diz baixinho: "Ela precisa de você."
São as únicas palavras em inglês que eu já ouvi
ela fala. Eu estou diante dela estupidamente por um momento,
lutando contra a onda de emoção. “Precisamos de cada
outro,” eu gaguejo.
Ela acena com a cabeça sabiamente e gentilmente para mim, como apenas um
mãe pode, uma mãe que vê algo que ela
as crianças são muito inexperientes para reconhecer.
E é aí que eu a vejo, emergindo do
varanda dos fundos da casa, toda branca e toda loira – uma
combinação de cores compartilhada por mais ninguém no
casamento. Ela é pálida como um fantasma, mas radiante como
uma deusa. Ela não é apenas mais bonita do que eu me lembro,
ela é mais requintada, dominante, de outro mundo.
Está muito longe para ver a expressão em seu rosto
enquanto ela entra na escuridão entre as costas
escadas e a festa. Hércules segue obedientemente, usando uma gravata

borboleta vermelha. Eu abro um sorriso largo e espero vê-lo refletido de
volta em seu rosto. Quando ela se aproxima, não detecto raiva, medo,
decepção, nojo ou qualquer uma das emoções que eu temia que ela
tivesse. Ela também está sorrindo.
Eu tenho sido tão estúpido.

Este é o único, digo a mim mesma. Esta é a mulher com quem vou
me casar.
Só espero ter realmente mudado.
16
Trecho da Mente de Ingrid
E lá ele caminha pela multidão de uma festa mexicana.

Reconheço sua camisa e gravata. São os mesmos que
ele usa em quase todas as sessões de autógrafos desde
que o conheço. Camisa roxa e gravata roxa abraçando
seu corpo.
Eu rapidamente corro para dentro de casa e passo
por minha tia, que está esperando pelo banheiro. Assim
que a porta se abre, eu tropeço, empurrando todos para
fora do caminho para que eu possa me olhar uma última
vez antes que ele me veja.
Eu verifico meu cabelo, recoloco minhas extensões,
ajeito meu sutiã push-up e debato se devo usar meu
batom rosa ou manter o vermelho. Red grita: “Tome-me,
seu tolo, e me beije apaixonadamente”. E o rosa diz:
“Esses lábios são delicados e macios, manuseie com
cuidado”.
Então eu escolho o vermelho. Saio do banheiro e
caminho pela cozinha. Mas quando vejo meu reflexo na
porta de aço inoxidável da geladeira, pego rapidamente
um guardanapo e esfrego o batom vermelho.
Então eu coloco o rosa, e agora está uma bagunça e meus

lábios dizem: "Tome beijo de tolo, alça delicada".
O ano passado foi difícil para mim. Quando Neil e eu
terminamos, senti que tudo que eu tinha foi tirado de mim.
Fiquei com raiva e desapontado porque dei e dei e dei e
então fiquei sem nada. Me senti desconectado do mundo.
Havia um vazio no meu peito. Continuei tentando descobrir

o que havia de errado comigo que o levaria a fazer isso.
Namorei muito para esquecer o sentimento. Eu me

recuperei com um modelo de bartender/roupa íntima. Mas
um dia depois que fizemos sexo, ele fingiu que era um
gorila, abrindo as narinas e batendo no peito nu por um
período desconfortavelmente longo. Peguei minhas roupas,
saí educadamente e nunca mais o vi.
Depois disso, conheci um cara doce que escrevia

discursos para presidentes. Eu só queria me divertir e não
sentir dor, mas ele queria mais de mim do que eu estava
pronta para dar. Então terminei com ele e comecei a
namorar um mágico que conheci no Magic Castle. Quando
me separei dele, percebi que talvez o relacionamento que
eu precisava ter fosse comigo mesmo.
Quando Neil me mandou uma mensagem de Machu

Picchu, eu queria correr de volta para seus braços. Mas eu
estava com medo de ser traída novamente. E eu não estava
pronto. Eu tinha acabado de terminar com todo mundo e me

sentia muito vulnerável.
Estar sozinha foi a melhor coisa que fiz por mim mesma. Eu
sempre fui de um relacionamento para outro, esperando que a
outra pessoa me ajudasse a descobrir quem eu era ou me
completasse e me fizesse sentir inteira. Mas nunca funcionou
assim.
Quando a outra pessoa não me fazia sentir inteira, eu ficava com
um vazio ainda maior por dentro. Foi preciso a dor do ano
passado para perceber que eu precisava parar de ser metade
tentando encontrar minha outra metade, mas ser um todo por
conta própria. Tive que aprender a me amar. Tive que aprender
a me valorizar. E eu tive que aprender que eu era importante.
Não tenho certeza se estou inteiro ainda, mas estou mais

completo. E então, quando Hans pediu ajuda para pensar nos
convidados do casamento, sugeri Neil. Eu disse a Neil que se
ele me mandasse uma mensagem “freeeeeeedom”, eu estaria
lá. Eu não disse quando. Eu tinha que estar pronto também. E
então eu mesma fiz e enviei o convite para ele. Eu queria vê-lo
mais uma vez, só para ter certeza de que não estava cometendo
um erro e me afastando do amor da minha vida.
Antes de sair da cozinha, fico atrás da janela e tento dar

uma última olhada em Neil antes que nossos olhos se encontrem.
Minhas mãos estão suando e sinto uma explosão de ansiedade.
Ainda dá tempo de eu chamar um táxi e ir embora. Ou correr
pela frente
porta e subir na minha árvore favorita, onde eu costumava me

esconder do meu padrasto quando criança.
Estou preocupado que isso seja um erro. Como minha avó
costumava dizer: Você não pode mudar uma pessoa a menos
que ela esteja de fraldas.
Embora outra de suas frases favoritas seja:
Com paciência, até a grama vira leite.
Estar com Neil era como ter o pássaro mais lindo da
Amazônia, cheio de cores e vida, mas mantido em uma gaiola
pequena demais para suas asas abrirem. Eu me sentava ao
lado da gaiola todas as manhãs e cantava com ele, mas ele
estava sempre olhando pela janela. Eu disse a ele quando nos
separamos que era hora de abrir a gaiola e soltar o pássaro.
Mas todas as manhãs depois, eu olhava pela janela e esperava

ter um vislumbre dele voando.
Então agora aqui estou eu, olhando pela janela da cozinha

para o quintal, e vejo Neil voando para fora. Eu vejo seus olhos
ternos e seu sorriso doce.
Ele toca seu rosto logo abaixo do olho esquerdo com o dedo
indicador e médio, esfregando para frente e para trás.
E enquanto sorrio com a lembrança daquele tique nervoso dele,
abro a porta de tela e saio para voar com ele.
Só espero que ele tenha mudado.

O Sobrevivente está sentado no parapeito da minha janela,

brilhantemente verde e próspero.
Abaixo dela, Ingrid e eu nos sentamos em um sofá que foi limpo
obsessivamente, removendo todos os vestígios de DNA de comunas,
tríades e relacionamentos abertos. Hércules está esparramado no
chão ao lado de um lindo cão maltês branco que Ingrid também
resgatou.
Sobre a mesa, há uma caixa embrulhada em papel prateado.
Eu a despi, corto a fita adesiva com uma caneta e abro as abas de
papelão.
Há cinco pequenos presentes embrulhados dentro, cada um
marcado com um número diferente. Um rolo de pergaminho
queimado está em cima deles.
“Vá em frente, leia,” Ingrid insiste.
Senhoras e senhores,
Você está cordialmente convidado para o

funeral do nosso maior e maior
luminária de quarto, Jacob “O Elefante”

Goff, 3 anos, de Malibu, Califórnia.
Uma celebração do serviço de vida será realizada

hoje às 21h na comunidade onde ele morava
sem ser convidado.
O Sr. Goff, o Elefante, será enterrado com alguns
de seus itens mais preciosos.
Atenciosamente, Srs. Freedom & Trust Funerária
A princípio, não entendo. Por que estamos enterrando um

elefante?
Ela coloca sua mão calorosamente sobre a minha. “Você
trabalhou duro para reconquistar minha confiança, então eu tenho
trabalhado duro para perdoar.”
É o elefante na sala — meu passado de trapaça, dissimulação e
mentira. E assim como eu dei um presente para Ingrid no casamento
de seu irmão para provar que eu mudei, as cinco caixas embrulhadas
individualmente na minha frente três meses depois são sua maneira
de dizer que ela também mudou.
Embora os desenhos animados e filmes de romance da Disney

terminem no momento em que os amantes se reencontram, deixando o
público a assumir que viveram felizes para sempre, na vida

real este é o momento em que a história realmente começa.
É quando a Bela Adormecida pergunta ao Príncipe Phillip:
“Quantas princesas você beijou enquanto eu dormia?”
É quando a Pequena Sereia grita com o Príncipe Eric:

“Um feitiço de encantamento? Essa é a pior desculpa que já
ouvi. Você estava prestes a se casar com aquela outra garota!”
É quando a princesa que beijou o sapo pergunta ao
príncipe resultante: “Seja honesto: enquanto você era um
sapo, você fez sexo com algum sapo feminino?”
Sem a intensidade para mantê-los ocupados, o inimigo
comum para uni-los ou os obstáculos para intensificar seus
anseios, esses amantes lendários agora enfrentam o maior
desafio de todos: lidar um com o outro – e as diferenças,
sejam elas grandes ou pequenas , em seus valores, educação,
opiniões, personalidades, expectativas, preferências e
imperfeições. Especialmente quando as consequências de
cada uma dessas aventuras são
trauma.
E assim, como se poderia esperar, Ingrid não me deu sua
confiança livremente depois que nos reencontramos. Em
nosso primeiro dia de volta juntos, ela ameaçou sair se eu não
mudasse meu status de rede social para refletir que estou em
um relacionamento, mesmo que eu não tenha mais acesso à
conta. No segundo dia, ela
ameaçou sair depois de ver fotos de Sage no meu

computador. No terceiro dia, ela ameaçou ir embora se eu
não a deixasse olhar no meu telefone. E no quarto, ela
disse que as memórias do passado eram muito dolorosas
para ela querer namorar comigo novamente.
Foi quando percebi que, como uma pessoa que evitava
o amor, eu tinha colocado Ingrid em um pedestal,
pensando que, por ela ser tão apegada e eu não, ela
deveria ser melhor no amor do que eu. a outra extremidade
da mesma gangorra disfuncional. Afinal, ela tem pelo
menos uma falha fatal com a qual ambos concordamos:
ela me escolheu como eu era naquela época.
“Eu nunca vi isso antes, mas definitivamente também
tenho um padrão”, ela percebeu quando discutimos isso.
“Meu namorado antes de você estava totalmente enredado
por sua mãe. Ela ligava o tempo todo, pedindo para ele
fazer coisas por ela, e ele largava tudo para cuidar dela.
Fiquei com ele por cinco anos, embora ele nunca me
deixasse usar a palavra namorado ou dizer que estávamos
namorando ou até vê-lo mais de duas vezes por semana.”
E então encontrei um ex-colega de Lorraine chamado

Vince, fechei o zíper da minha roupa de mergulho e
observei enquanto ele colocava Ingrid na cadeira e iniciava
o processo de cura das feridas do abandono do pai que a
levaram ao vício do amor.
Enquanto ela estava sentada gritando com seu pai, lágrimas escorrendo
pelo rosto dela, percebi que tínhamos exatamente o mesmo
pais: mães enredadas e pais abandonados.
Exceto onde minha mãe quer meu pai morto, ela
pai realmente tentou matar sua mãe.
É estranho como os relacionamentos funcionam assim: o amor é
não um acidente. É uma união delicada de duas peças de quebra-
cabeça complexas e complementares que foram inadvertidamente
criadas por diferentes fabricantes.
Disseram-me: “Quando for amor à primeira vista, corra no
outra direção”. E eu tentei isso. Mas eu corri certo
de volta para ela. E agora, enquanto nos sentamos lado a lado,
começando um novo caminho juntos, eu desembrulho o presente
marcado #1. Dentro, há um pequeno caixão de madeira
forrado com cetim branco. As instruções manuscritas de Ingrid
dizem para deixá-lo aberto.
O segundo presente é um pequeno elefante cinza de plástico.
A nota com ele diz: “Este é o elefante no
quarto. Ele não estará mais no quarto conosco, pois estará
descansando em seu caixão. O medo, a dúvida,
e a raiva que ele criou não vai mais nos machucar ou atrapalhar o
amor que temos um pelo outro. Eu amo
vocês."
Meu rosto incha quando coloco o elefante na
caixão de lado. Ele se encaixa confortavelmente, seus pés e tronco
perto das bordas.
O próximo pacote contém duas pequenas gaiolas de metal,

cada uma com pequenos pássaros de metal nelas. "O
Gaiolas simbolizam ser contido, incapaz de falar
sua mente, incompreendida e alienada”, disse Ingrid
nota explica. “Esses dois lindos pássaros colocados em gaiolas
laterais sem ter para onde ir, deixados sozinhos e solitários,
simbolizam-nos como crianças, como adolescentes e como adultos.
Estamos enterrando isso porque não estamos mais sozinhos
ou solitário. Temos a liberdade de voar para qualquer lugar que
querer."
Impressionado com sua sabedoria, consideração e
criatividade, coloco os dois pássaros engaiolados no caixão: um
na cabeça do elefante e outro na parte traseira.
Em tão pouco tempo e com muito
menos luta, Ingrid já está nessa jornada com
Eu. E juntos estamos aprendendo que, parafraseando
para o escritor de relacionamentos Harville Hendrix, o propósito
inconsciente de um relacionamento de longo prazo é acabar com
a infância. Ou, como o psiquiatra Eric Berne coloca
ainda mais sucintamente, “O amor é a natureza
psicoterapia."
O próximo presente contém uma dúzia de miniaturas de metal
mãos. “As Mãos simbolizam o julgamento, a falta de
limites e controle. Era assim que nos sentíamos quando crianças
e às vezes como adultos. Hoje estamos enterrando
isso e deixar de lado as pessoas que apontaram o dedo
para nós, as pessoas que tentaram nos controlar, nossa

própria falta de limites e nossas tentativas de controlar uns
aos outros”.
Espalho as mãos sobre o elefante, as gaiolas, o chão do
caixão.
O quinto pacote contém duas chaves de metal com
palavras: Segredos e Memórias. “Estas são as Chaves Ruins,”
seu pergaminho explica. “A Chave dos Segredos significa que
não temos mais que guardar segredos para quem nos
machucou. Quando essa chave for enterrada, deixaremos de
lado os segredos que estão nos machucando por dentro e não
assumiremos mais a responsabilidade pelos problemas de
outras pessoas. A Chave de Memórias é para nossas
memórias ruins. Estamos deixando de lado nosso apego a
eles. Não vamos mais manter essas memórias trancadas
dentro de nós e permitir que elas nos governem.”
Enquanto deslizo as chaves ao redor do elefante,
finalmente entendo qual é a verdadeira intimidade que Joan
falou na reabilitação: é quando os parceiros param de viver no
passado - em sua história de trauma - e começam a ter um
relacionamento um com o outro no presente momento. O
amor, ao que parece, não é algo a ser aprendido. É algo que
já temos, e devemos desaprender para acessá-lo.
Suas instruções então diziam: “Reserve um momento ou

dois antes de fechar o caixão. Você não será capaz de
abra-o quando estiver fechado, então tire fotos e faça o que

quiser nos próximos minutos ou horas. Mas feche-o antes que o
dia acabe.”
Olho para o caixão e os belos itens cuidadosamente
pensados dentro. Eu olho para o pequeno elefante, os pássaros
presos, as muitas mãos e, finalmente, as chaves, até que uma
única palavra no caixão enche minha visão:
segredos.
E acho que se eu realmente quero que o passado seja

enterrado, agora é a hora de libertar os últimos segredos. O
momento é tão perfeito, mas como tudo perfeito, é frágil.
Digo a ela nervosamente, sem jeito, devagar: “Quero que

você saiba que houve outras coisas ruins no passado além de
Juliet” – a mulher com quem traí. “Eu não sabia então que eu
não poderia ainda te amar e me esgueirar pelas suas costas. Eu
não entendi.
Mas agora eu entendo.”
Enquanto ela assimila isso, seu rosto congela e sua coluna
se enrijece, como um gato reagindo a um barulho repentino.
Olho para a Chave Secreta e penso no que mais estou
escondendo. “Eu sei que você namorou algumas pessoas
enquanto estávamos separados, e eu só quero que você saiba
que além de algumas das coisas que já discutimos, eu tive
muitas outras experiências.”
“Que tipo de experiências?” ela pergunta com cautela.
A bela solenidade do ritual é arrasadora.

Mas é isso que significa dizer a verdade: é dar
outra pessoa sua liberdade, para permitir que ela tenha uma
ação, mesmo que isso leve a consequências negativas para
você, para dar a ela a voz que a mentira tira.
No passado, eu tive um dom notável para transformar
até mesmo a menor manifestação de medo ou desaprovação
do meu parceiro em uma catástrofe pessoal.
Mas em vez disso, eu uso os quatro ajustes para girar
vergonha em segurança.
Vergonha é ser ruim para alguém; segurança é sobre ser
bom para si mesmo.
E não só faz mais sentido responder
com compaixão em vez de crítica, também é muito
mais fácil para todos os envolvidos. Pode ser a chave para um
vida mais longa e feliz.
Conto a Ingrid sobre o povo poli, e aprendendo
os quatro ajustes e o conceito de relacionamento baseado
em intenções. Eu digo a ela sobre os swingers,
e aprendendo que minhas fantasias sexuais podem adicionar a um
relacionamento se eu incluir meu parceiro neles em vez
do que tentar protegê-la deles. eu digo a ela sobre
a casa do harém, e aprendendo que o amor não é um
monstro aterrorizante que faz exigências irracionais
minha vida, mas uma bela amiga fazendo pedidos ocasionais
que eu tenho a opção de aceitar ou negar. E eu
conte a ela sobre o relacionamento aberto e aprenda não

apenas a deixar de lado o ciúme e o controle, mas a explorar
minhas emoções dolorosas em vez de evitá-las como um
viciado.
Enquanto escuta, Ingrid oscila entre um espectro de
sentimentos: raiva, medo, tristeza, até que, finalmente, ela cai
no amor. "Eu nunca pensei que diria isso", ela suspira,
deslizando para mais perto de mim e acariciando minha cabeça.
“Mas talvez todas essas coisas que você fez não tenham sido
uma recaída, mas fizeram parte da cura.”
“Eu gostaria de pensar que sim.”
Como Lorraine disse uma vez, a recuperação não é viver

perpetuamente em alegria e harmonia, mas encurtar o tempo
que leva para voltar lá quando você inevitavelmente estraga
tudo. E por esta razão, sou grato pela oportunidade que cada
conflito que Ingrid e eu temos para praticar isso.
“É simplesmente incrível como você está diferente agora”

Ingrid diz depois que eu compartilho isso com ela. “Você está
muito mais calmo, maduro, paciente e compreensivo. Às
vezes eu estou esperando você ficar chateado ou irritado, e
isso não acontece. É mágico. Você é como uma borboleta.
Você girou seu casulo e se transformou. Até seus olhos são
diferentes. Eu posso ver seu coração através deles.”
A maioria das histórias de amor são sobre duas pessoas

que estão juntas há muito tempo, mas são bloqueadas por um
obstáculo que as mantém separadas: suas culturas, sua posição
social, suas famílias, um amante rival, um vilão manipulador, uma
tragédia inesperada. Mas na vida real, as histórias de amor são
mais complexas. As pessoas querem amor, mas depois de obtê-
lo, ficam assustadas, entediadas, inseguras ou ressentidas. E
quando sentem dor em vez de amor, não vão embora. Eles se
apegam a ele com mais força do que ao prazer. E assim, na vida,
o verdadeiro obstáculo que mantém dois amantes separados não
é externo.
A batalha a ser travada está dentro.
E então, eu acho que ao entender as palavras de Ingrid,
no final, o amor não é encontrar a pessoa certa. É sobre se
tornar a pessoa certa.
Coloquei minha mão na tampa do caixão. "É isso", eu digo a ela.

“Estamos nos despedindo do passado. Há mais alguma coisa
que você queira saber?”
"Vamos fechá-lo", diz ela.
Primeiro eu tiro uma foto:
E então eu fechei a tampa.

O elefante na sala se foi.
"Há um último pacote", diz Ingrid.
Ela me entrega uma caixa do tamanho da palma da
mão que ela mantém separada do resto dos presentes.
Dentro há uma nota e quatro teclas de várias formas e
tamanhos, cada uma com uma palavra diferente. “Estas
são as Chaves Boas, as que você guarda”, diz a nota. “A
Chave do Amor é para lembrá-lo de que você é digno de
amor e sempre tem acesso ao meu amor. A Chave do
Coração é a chave para o maior coração da Terra: o seu.
A Chave da Vida é a chave para abrir nossas vidas uns
para os outros. E a Journey Key é o caminho para a nossa fe
Ao ler estas belas palavras, noto a completa ausência
de meus antigos sentimentos: asfixia
de seu amor, dúvida de que tenho um bom coração, medo de abrir

nossas vidas um para o outro e ansiedade sobre suas expectativas
em relação a mim. Em vez disso, cada palavra soa como verdade.
Nem assombrado pelo passado nem preocupado com o futuro,
finalmente sou grato pelo presente.
Acontece que os relacionamentos não exigem sacrifícios.
Eles apenas exigem crescimento — e a capacidade de parar de
se apegar a necessidades imaturas que são tão tenazes que
impedem que as necessidades maduras sejam atendidas.
Encontro um pouco de paracord na cozinha, enfio um pedaço
no chaveiro e penduro no pescoço para manter as chaves perto
do coração.
"Eu confio em você com essas chaves", diz ela.
“Eu serei digno deles desta vez.”
Há uma última instrução no pergaminho: enterrar o caixão.
Incapaz de encontrar minha pá na garagem, pego duas colheres
grandes de uma gaveta da cozinha.
No quintal, no alto de um morro tão pequeno que parece mais

um esburacado, há um pedaço macio de terra cercado por
fragmentos de ardósia descartados. Ajoelhamo-nos em torno dele
e começamos a escavar. A sujeira é macia e cede facilmente.
Cavamos até que a cova tenha 25 centímetros de profundidade, a
salvo de ser descoberta pelos próximos inquilinos da casa na
árvore. Antigamente, este era supostamente um cemitério
Chumash.
Jogamos uma colher de terra sobre o caixão e ela diz

algumas palavras. “Amados, estamos reunidos aqui hoje para
enterrar Jacob 'O Elefante' Goff. Ele era um companheiro muito
leal. Ele nunca saiu do nosso lado. Queríamos nos livrar dele,
mas ele acabou sendo a melhor coisa que já nos aconteceu.
Sem este elefante, não teríamos um ao outro.

Que Deus tenha misericórdia de sua alma”.
Nós fingimos chorar enquanto juntamos a terra em volta de
nós e enchemos o buraco, até que o elefante desapareça e seja
enterrado sem deixar vestígios de sua existência acima do solo.
Então compartilhamos um momento de silêncio, aproveitando

o consolo de deixar ir. Ingrid fala primeiro: “Uh-oh, eu
acidentalmente enterrei as chaves do meu carro.”
Eu rio, aperto-a com força contra mim e a beijo entre os
olhos brilhantes e travessos que tanto senti falta.
"Eu amo fazer você rir", ela sorri. “Você tem esse sorriso
incrível e suas bochechas enchem. Eu tenho essa imagem na
minha cabeça de nós como velhos, e eu fazendo algo para fazer
você rir.”
“Eu imagino isso também.” E se eu pudesse escolher entre
rir ou ter quartetos diferentes pelo resto da minha vida, eu
sempre riria.
“Eu meio que quero ligar para Juliet e dizer a ela:

'Obrigada por tudo'”, diz Ingrid enquanto caminhamos de
volta para casa.
Ao pegar sua mão na minha, percebo que antes da cura
do trauma, eu sempre quis mais — mais mulheres, mais
sucesso, mais dinheiro, mais espaço, mais experiência,
mais posses. Nem uma vez eu parei e disse, como faço
agora: “Já tenho o suficiente”.
Dirigimos em silêncio. Meu pai e eu. É meu último dia como

solteiro.
Espero que ele me dê conselhos, que diga algo sobre
meu casamento iminente, que ofereça qualquer coisa que
tenha aprendido em cinquenta anos de casamento. Mas ele
não diz nada. Suponho que não deveria ter esperado nada
diferente: ele nunca me falou sobre os pássaros e as abelhas
até eu ter vinte e dois anos, e seu conselho foi: “Não se
apresse. Vai devagar. E não se apresse.”
Para quebrar o silêncio, pergunto como era seu pai.
“Ele estava muito quieto e não falava muito. Ele costuma

aliado trabalhava o tempo todo.”
“Qual é a sua lembrança favorita dele?”
“Acho que foi quando estávamos pescando juntos um dia,
apenas em silêncio.”
Penso em quão solitário deve ter sido, e suponho, em
correlação, quão solitário eu era.
“E sua mãe? Qual é a sua lembrança favorita dela?”
Ele luta para se lembrar de algo sobre sua mãe, que era
uma socialite ocupada de Chicago. “Acho que não tenho
nenhuma lembrança forte dela, seja positiva ou negativa.”
Nas minhas conversas envolventes de antigamente, discutíamos

a teoria de que, como a mãe de papai era egocêntrica e sua irmã
era a favorita da família, sua auto-estima era tão baixa e seu medo
de mulheres tão grande que ele se sentia como se as únicas
pessoas ele poderia ter poder sobre os desamparados - os
deficientes.
Claramente, em algum nível, minha incursão no mundo da sedução
- para obter o que eu acreditava ser uma vantagem psicológica
sobre as mulheres - foi minha própria tentativa de fazer o mesmo.
“Mas eu tinha uma babá que morava lá”, acrescenta ele, “e

acho que éramos mais próximos”.
Fico surpreso ao saber como nossas infâncias foram
semelhantes – com um pai distante, mãe narcisista, irmão favorito
e babá nos criando. E penso em como nossas vidas adultas quase
eram parecidas.
Meus parentes costumam contar a história de um retrato de
família que desenhei no jardim de infância. Esboçados em giz de
cera em cartolina, há figuras representando a mim, meu irmãozinho,
nossa babá e cada um dos meus pais. Em seguida, há uma grande
linha vermelha que começa no centro das pernas do meu pai, desce
direto para o chão e, finalmente, se estende em um amplo círculo
ao redor da família. É o pênis do meu pai.
Mesmo naquela época, eu de alguma forma sabia que todo o nosso

a família estava subordinada à sua influência, vivendo à

sombra de sua enormidade.
E então há uma pergunta que está queimando minhas
entranhas. Eu crio coragem para perguntar ao meu pai e
obter algum fechamento sobre o assunto depois de mais de
duas décadas.
“Então, como você se tornou obcecado por pessoas
com deficiência física?”
Isso é o que eu quero perguntar, mas eu não faço. Seja
qual for sua resposta, é uma discussão que sua esposa
deveria ter com ele, não comigo. A parte que me preocupa -
crescer em torno de um casamento apodrecido por isso -
acabou.
Reflito sobre algo que Ingrid me disse no dia em que me
ajoelhei na areia de uma praia deserta em Kauai e pedi que
ela se casasse comigo. “Você não veio de uma família
amorosa. Eu não vim de uma família amorosa. Mas agora
temos a chance de formar uma família amorosa juntos.”
Meu pai e eu voltamos ao silêncio. Nós não nos ligamos

muito. Não sei se isso é mesmo possível. Não consigo me
lembrar dele se sentir confortável com intimidade emocional
ou afeto físico. Tentar bater minha cabeça na parede dele
só resultará em danos cerebrais. Mas pelo menos bati na
porta dele pela primeira vez para ver se ele quer deixar
alguém entrar.
Ultimamente, comecei a pensar nas coisas que meus pais

não faziam perfeitamente como variáveis que me tornam um
indivíduo, e não como um trauma que me torna um paciente. Não
é saudável andar pela vida identificando-se como vítima e os outros
como perpetradores.
“Sua mãe quer falar com você,” meu pai diz quando voltamos
para a casa de praia que Ingrid e eu estamos alugando para o
casamento.
Ela se senta em uma poltrona, com os pés para cima e uma
bengala ao seu lado. “Vai ter um fotógrafo no casamento?” ela
pergunta.
"É claro."
Seu rosto se inclina em desaprovação. — Você disse a ele
para não tirar nenhuma foto minha?
"Eu fiz." Este é o único pedido dela que eu honro.
Desde que ela descobriu sobre o fetiche do meu pai, ela não
permitiu que ninguém tirasse uma única foto dela.
"Eu costumava pensar que eu era tão bonita", ela suspira.
“Mas agora eu me sinto uma aberração.”
Na reabilitação, contei ao meu grupo como eu costumava
tentar convencê-la do contrário, dizer a ela que se ela fosse loira e
papai tivesse um fetiche por loiras, ela estaria completamente bem
com isso. Mas desta vez, deixo o comentário passar despercebido,
como ela mesma quer ser. E eu aceito o fato de que ela é muito
velha para mudar. Um dia em breve, ela não estará mais aqui.
Nas notas sobre o amor que compilei durante a

anedonia, uma das mais importantes era não namorar
alguém esperando que ela mudasse. Então, talvez eu
possa aplicar a lição ao meu relacionamento com ela
também e aceitá-la como a pessoa que ela é, não como eu
gostaria que ela fosse, e ser grato por ela me amar tanto
quanto sabia.
“Muito obrigado”, digo a Rick quando ele me visita na

manhã do casamento. “Você tornou isso possível.”
“Eu não quero nenhuma culpa!”

“Qualquer culpa seria minha.”
“Nisto concordamos.”
Saímos para o pátio e sentamos em cadeiras de frente
para o mar. “A certa altura, eu estava pronto para desistir e
parar de discutir tudo isso com você”, diz ele, olhando para o
oceano até o horizonte. “É trágico. As feridas que os humanos
sofrem são tão fortes que são como robôs operando na
programação infantil. E mesmo que eles aprendam a verdade
sobre si mesmos na terapia e na reabilitação, eles ainda se
apegam às suas falsas crenças e fazem escolhas que não os
servem – repetidamente.” Ele balança a cabeça para o
absurdo cósmico de tudo isso. “É preciso um trabalho árduo,
consciente e diligente para mudar genuinamente.”
Tenho a sensação de que é a coisa mais próxima de um

parabéns de casamento que vou receber de Rick, então
aceito como tal. A recepção, Ingrid e eu concordamos,
deveria ser pequena, para que realmente tenhamos tempo e
energia para prestar atenção um no outro. Convidei apenas
as pessoas que tornaram isso possível: minha família
imediata, Rick, os demônios vermelhos, amigos íntimos como
Melanie e alguns treinadores de namoro e curadores de
relacionamentos. O primeiro me deu as ferramentas para
conhecer In grid, o segundo para me comprometer com ela.
No entanto, Lorraine, a quem devo mais agradecimentos
do que ninguém, nunca respondeu ao convite. Fiz algumas
ligações para saber o que aconteceu com ela. Pelo que pude
perceber, ela foi disciplinada por ter o que é conhecido como
relacionamento dual com os clientes (tanto social quanto
terapêutico). Então agora ela está em um papel mais
administrativo no hospital e – não muito diferente de Adam –
ela está com muito medo de sair e abrir suas asas sozinha.
No entanto, espero que um dia eu possa falar com ela
novamente e agradecê-la por salvar minha vida — assim
como ela salvou a vida de inúmeras outras pessoas.
Além de tomar banho, fazer a barba e vestir um smoking,

não há muito o que fazer para me preparar para o casamento.
Então, à tarde, Adão, Calvino e
Troy passa pela casa e vestimos trajes de banho.
“Como você está se saindo com toda essa coisa de

monogamia?” Troy pergunta enquanto descemos a encosta
até a praia juntos.
“Sabe, acho que estraguei tudo em um grande negócio.
Odeio dizer isso, mas Joan estava certa: eu estava apenas
lançando barreiras intelectuais no meu caminho para evitar
ser vulnerável e comprometido.” Em um mundo grande e
conectado, é fácil encontrar pessoas suficientes com o mesmo
perfil de trauma para concordar com você e, então,
simplesmente descontar, ignorar ou atacar todas as evidências e
“Mas e o dilema masculino – todo o 'sexo envelhece e ela
também'?” pergunta Tróia. E estou envergonhado por ter
pensado em algo tão superficial e equivocado.
“Acho que isso só é verdade se duas pessoas se veem

como objetos ou funcionários. Se eles são adultos
emocionalmente saudáveis, então não há dilema que eles
não possam trabalhar juntos. Eles nem vão notar um ao outro
envelhecendo, mas apenas ficando mais felizes.” Faço uma
pausa para refletir sobre isso. O que eu via como envelhecer
antes não era realmente o medo do declínio físico, mas o
medo de ficar infeliz como meus pais. E definitivamente não
estou mais preocupado com isso. "Crescendo
mais velho e mais feliz com Ingrid é uma das coisas que mais
espero na vida agora.”
Uma coisa estranha aconteceu: enquanto eu lidava com
meus problemas de relacionamento, fiquei menos preocupado
em querer sexo fora do relacionamento. E como Ingrid lidava
com seus problemas de abandono, ela ficou menos preocupada
em me perder se acontecer de eu sentir atração por outra
mulher. Na verdade, uma vez que ela viu que eu estava
completamente feliz e plenamente satisfeito por estar
exclusivamente com ela, tudo se tornou possível.
Como resultado, desenvolvemos o relacionamento que eu
procurava o tempo todo, só que eu não sabia o que era: um
relacionamento sem medo. Sem medo da intimidade, sem
medo da asfixia, sem medo da perda, sem medo de falar a
nossa verdade, sem medo de ser ferido, sem medo do tédio,
sem medo da mudança, sem medo do futuro, sem medo do
conflito, e mesmo sem medo de outras pessoas.
O oposto do medo não é a alegria. É aceitação.

E é com isso que substituímos o medo. Portanto, nosso
compromisso hoje não é com a monogamia nem com a não
monogamia. Esses são os valores e dicotomias de outras
pessoas. Nosso compromisso é unicamente nutrir, apoiar e
homenagear três importantes entidades em
nossas vidas: eu, ela e o relacionamento. Custe o que custar e como

podemos mudar.
Chame isso de relacionamento não-dualista.
“Como você está lidando com toda a tentação?” Calv pergunta.
Seus olhos direcionam meu olhar para uma mulher com longos cabelos
pretos, fones de ouvido rosa e um biquíni listrado de zebra correndo.
“Ainda fico tentado, mas decido esperar um pouco antes de abrir

qualquer porta ou fazer qualquer coisa estúpida. Logo a tentação
desaparece e percebo que a confiança que tenho em Ingrid – e onde
isso pode ir – é muito mais poderosa do que alguns momentos de
prazer, seguidos por uma vida inteira de vergonha.
Percebi que não existe uma maneira chamada natural de estar

em um relacionamento. A ideia de que podemos estudar o passado ou
outras culturas para determinar o que é certo para nós hoje é ridícula.
Porque quase toda sociedade de símios conta uma história diferente
de acasalamento e sexualidade – e todo ponto de vista pode ser
apoiado por evidências de alguma outra tribo ou espécie. Não existe
apenas uma forma verdadeira e adequada de amar, de se relacionar,
de criar laços, de tocar. Qualquer estilo de relacionamento é o certo,
desde que seja uma decisão tomada por toda a pessoa e não o buraco
na pessoa.
O caminho da ambivalência não leva a lugar nenhum.

“Então, o que você faria se a mulher mais bonita do mundo

batesse em você agora?” pergunta Tróia.
“E a pornografia?” Calvino acrescenta.
“Ou e se Ingrid perder completamente o interesse pelo
sexo?” Adão tenta.
É interessante: todas essas questões que eram tão
importantes e desconcertantes na reabilitação não importam
mais. A resposta para todas elas é, eles são
as perguntas erradas. “Aqui está o que estou fazendo,” eu
explico. “Eu sou honesto sobre tudo e ela também.
Não há segredos. Então, nós apenas discutimos aqueles
coisas, como deveríamos ter em primeiro lugar. Na verdade,
as coisas exatas que eu costumava ter mais medo de falar
sobre realmente nos aproximou uma vez que
superou o constrangimento inicial. Foi o não
sabendo que estava deixando-a mais louca. Até mesmo ela se
sentiu segura o suficiente para compartilhar seu mais profundo
fantasias, e descobri que algumas delas não eram tão
diferentes das minhas de qualquer maneira.”
A praia termina numa falésia que marca o norte
ponta de Point Dume. Ao redor do penhasco há um amplo,
praia vazia, e eu pergunto aos caras se eles querem nadar
volta para o outro lado.
“Eu não quero que você morra no dia do seu casamento”
Adam responde, e parece querer dizer isso.
Tiramos nossas camisas e entramos na água em um local mais

seguro. As ondas quebram a dez metros da costa e nós brincamos
algumas vezes com elas na areia.
— Como estão as coisas com sua esposa? Eu pergunto a Adam como

sentamos na praia depois, secando ao sol.
“Ela finalmente começou a fazer sexo comigo de novo”, diz ele.
"De jeito nenhum. Então valeu a pena esperar?"

“Vou te dizer, Neil, realmente não foi. Em uma escala de um a dez,
é um três na melhor das hipóteses.” Troy ri cruelmente.
Tantos homens como Adam reclamam que suas esposas não fazem
sexo com eles, mas tão poucos deles ficariam satisfeitos se suas
esposas o fizessem. Porque o problema não é realmente o sexo; é a
relação entre as pessoas que o têm.
“Vocês deveriam assistir a vídeos instrutivos juntos”

Calvin sugere. "Ou deixá-la realmente bêbada."
"Tudo bem. Eu realmente não posso mudar minha esposa. Ela é
quem ela é, e eu tenho que começar a pensar sobre o que vem a
seguir.”
"Uau! Sério?" eu exclamo.
“Sabe”, diz ele, enterrando os pés na areia, “recentemente eu tive
que usar um monitor Holter porque meu coração começou a palpitar
aleatoriamente – às vezes por
cinco minutos direto. Então, ou deixo este casamento ou corro um

bom risco de um ataque cardíaco.”
“Então, qual você vai escolher?”
“Já ensaiei a conversa que vou ter com as crianças, mas
quero esperar até que nosso caçula saia de casa em dois anos e
depois fazer.”
"Dois anos?" Calvin intervém. “Você pode estar morto até lá!
O que você tem?"
— E você, Calvin? Troy sai em defesa de Adam. “Assim que
você desenvolve sentimentos por alguém, você não pode nem
fazer sexo com eles. O que você está fazendo sobre isso?”
"Mais do que você está fazendo sobre o seu caso."

Eu escuto quando Calvin diz que quer encontrar sua alma
gêmea e Adam diz que ele realmente está pronto para seguir em
frente e Troy diz que o humano moderno não foi projetado para a
monogamia ao longo da vida. Suas vozes se misturam com o mar,
borrando, misturando-se e ressoando como música.
Enquanto caminhamos de volta para a casa para que eu

possa vestir meu smoking, tenho a sensação de que este é o
último encontro dos demônios vermelhos. É preciso compromisso
com a mudança. Pois somente no compromisso há liberdade.
E é hora, finalmente, de se comprometer.
Check-in: a única emoção da lista de oito

que eu nunca fiz check-in na reabilitação. . . Ame.
Nota especial para Ingrid
Espero que você tenha ignorado a mensagem no início do

livro e lido tudo. Escrevi isso anos atrás, quando comecei a
trabalhar nisso, quando sabia tão pouco sobre amor, sexo,
relacionamentos e intimidade. Mas eu quero que você
conheça o verdadeiro eu. Afinal, você está preso comigo por
um longo tempo. Não importa o que Helen Fisher diga.
GRATIDÃO
Há momentos em que estou no banheiro com In grid me

preparando para o dia, e estou tão feliz por conseguir o que
chamamos de ROL – uma onda de amor. Nesses momentos,
penso em como Rick tentou me convencer de que eu estava
perdendo uma felicidade maior e como eu era cínico sobre
isso. Eu não tinha como entender o que ele queria dizer até
experimentar por mim mesma. E agora, não passa um dia
que eu não seja grato.
Por isso, gostaria de agradecer do fundo do meu

coração (agora que sei que tenho um) a todos que tornaram
isso possível. E para aqueles que desejam usar essa
experiência como ponto de partida para suas próprias
explorações, aqui estão alguns primeiros passos que você
pode dar ao encontrar seu caminho único. Observe que não
concordo com todas as recomendações desses especialistas,
portanto, sinta-se à vontade para escolher o que for mais útil pa
Muitos dos conceitos podem ser encontrados nas obras
de Pia Mellody, James Hollis, Virginia Satir, John Bradshaw,
Kenneth Adams, Marshall Rosenberg,
Marion Solomon, Harville Hendrix, Salvador Mi nuchin, Peter

Levine, Bessel van der Kolk, Robert
Firestone, e outros. Eu também recomendo fazer o teste do
Índice de Estresse Pós-Traumático de Patrick Carnes online
para entender as maneiras pelas quais seu passado assombra
seu comportamento hoje. (Use o teste PTSI original, não o
PTSI-R revisado.) E você pode enviar um e-mail para Bar bara
McNally (a de Venice, CA) e pedir que ela
publicar seu próprio livro, pois seus ensinamentos e
sabedoria foram uma grande influência também.
Se você quiser ir mais fundo, escolha seus praticantes com
cuidado. Muito do que passa por terapia é
uma série cara e interminável de compromissos semanais
progredindo não para a cura, mas para a renda
segurança ou gratificação do ego para o terapeuta. Se
você tem sorte, você vai encontrar alguém como Lorraine para ser
uma espécie de terapeuta de cuidados primários que irá desenvolver um
é necessário um plano de tratamento projetado para curar um
núcleo específico – um que inclua outros profissionais e métodos.
E lembre-se que uma vez que a mudança começa,
manutenção psicológica, ferramentas de autocorreção,
e autocuidado consistente são necessários para evitar
retrocesso.
Observe que provavelmente não há terapeuta que
leria este livro e concordaria com tudo nele.
Selecionei e transmiti várias ideias em um
imenso cânone de trabalho com apenas um objetivo em mente:

para compartilhar as maneiras pelas quais eles falaram e me
influenciaram. Minhas adaptações, ajustes e interpretações
desses conceitos não têm necessariamente
qualquer relação com a maneira como eles foram originalmente escritos
ou pretendido. Eles são simplesmente o que eu precisava acreditar
para ficar bem comigo mesmo.
Embora existam inúmeras teorias concorrentes,
sistemas de classificação e escolas de pensamento dedicadas a
compreender e tratar o
mente - muitos alegando que são mais novos, melhores ou
mais científico do que outros - tudo o que importa em última
análise é o que funciona para você. Portanto, tenha a mente aberta e
tente tudo por si mesmo em primeira mão, em vez de aceitar as
opiniões recebidas, incluindo a minha.
No momento, estou mantendo uma lista aberta e em expansão
de sites recomendados, workshops e profissionais em
www.neilstrauss.com/thetruth. eu também tenho
uma lista de leitura detalhada, bem como informações
em oficinas de cura de traumas que oferecem bolsas de estudo
para quem não tem adiantamentos de livros para gastar.
E embora eu tenha tentado ofuscar os detalhes para
maioria dos centros de reabilitação, reuniões e terapeutas para
proteger a privacidade dos pacientes, viciados,
e certos praticantes que conheci, se você entrar em contato
neil@neilstrauss.com, alguém ficará feliz em
apontá-lo na direção certa. (Removi lentamente as restrições

de telefone e Internet criadas durante a anedonia, mas ainda
tento ficar offline.)
Se você está interessado em encontrar sua própria
espécie de relacionamento e quer evitar cometer os erros que
cometi nestas páginas, cure-se antes de explorar estilos
diferentes. É provável que você se saia muito melhor. Se você
é saudável, qualquer tipo de relacionamento que você escolher
também será saudável. Esteja ciente, no entanto, que as
cenas underground mudam rapidamente – por exemplo, as
festas Bliss não são o que costumavam ser – então faça uma
pesquisa independente antes de mergulhar. indo em outra
direção, reuni um apêndice de todos os diferentes estilos de
relacionamento que pude encontrar, e você pode pegá-lo em
www.neilstrauss.com/goodtimes.
Há muitas pessoas que ajudaram a ler, criticar, checar

fatos ou opinar durante os anos que levou para escrever este
livro. Estes são apenas alguns deles: Rico Rivera, Tim Ferriss,
Ryan Soave, Michelle Piper, Christopher Ryan, Chris Collins,
Jaiya, Rodrigo Umpierrez, Molly Lindley, Suzanne Noguere,
Andrea Dinsmore, Nola Singer, Jackie Singer, Brian Fishbach,
Sy Rhys Kaye, Jared Leto, Paul Hughes, Judith Regan,
Michael Wharton,
Steven Kotler, Jim Galyan, Chelsey Goodan, John

Mills, Alexander Hoyt-Heydon, Jack Sadanowicz,
Chris Hurn, Brad Rentfrow, Billy O'Donnell, Aaron
Werth, Victor Cheng, Kira Coplin, Elizabeth Hill,
Lucy Brown, Christina Swing, Thann Clark, Anthony
Miller, Jay Stinnett e a equipe Mago, The Society,
Mary Ellen Junkins, e a falecida e grande Eleanor
Starlin.
Parabéns especial a Ben Smolen e à afiada Phoebe Parros
pela pesquisa. E para projetar novos colaboradores, a
clarividente Laurie Griffin, e
velho, o mago Bernard Chang. Finalmente, é claro, um
muito obrigado à minha família extensa na Harper Collins,
particularmente ao meu editor de longa data e principalmente
extremamente paciente Calvert Morgan e ao meu novo
editora, Lynn Grady.
Todos os outros que eu gostaria de reconhecer já estão
no livro. Eu gostaria especialmente de agradecê-los por me
aturar enquanto eu os deixava loucos durante este
processo de crescer.
E, finalmente, gostaria de dar as boas-vindas a Tenn Strauss
o mundo. Enquanto escrevo isso, ele está a três semanas de distância
de nascer. Ontem à noite, eu escrevi uma carta para ele,
deixando-o saber que não importa o que aconteça
ao longo de sua vida, ele foi concebido e trazido
para este mundo com puro amor e alegria absoluta.
Espero que ele cresça para fazer alguém tão feliz

quanto sua mãe me faz.
SOBRE O AUTOR
NEIL STRAUSS nasceu. Ele está vivendo atualmente.

Um dia ele vai Seu site morrer.
www.neilstrauss.com sobreviverá a ele. Ele sabe disso

porque ele reservou o domínio como parte de um pacote de
noventa e nove anos. Era um tipo único na vida
de negócio.
Falando nisso, como recompensa por terminar este

livro até a última página, você pode pegar o deletado
capítulos lá e ler todos os detalhes sangrentos do
quase assassinar a comuna
no do amor:
www.neilstrauss.com/goodtimes.
Descubra grandes autores, ofertas exclusivas e muito mais em

hc. com.
TAMBÉM DE NEIL STRAUSS

“Obra de um viciado em sexo”

O jogo
Regras do jogo
A melhor coisa que podemos fazer pelo nosso

relacionamento com os
outros. . . é tornar mais consciente a nossa
relação com nós mesmos.
Esta não é uma atividade narcisista. Na verdade,
será a coisa mais amorosa que
podemos fazer pelo Outro. O maior presente para
os outros é o nosso melhor eu.
Assim, paradoxalmente, se queremos servir bem

ao relacionamento, somos
obrigados a afirmar nossa jornada individual.
—JAMES HOLLIS
O Projeto Éden
CRÉDITOS DE IMAGEM ADICIONAIS
Fotografia da Família Fonte © por Isis Aquarian;

textura de quebra-cabeça sem costura © por zayats-and-
zayats/ estoque do obturador; ilustrações de cérebro,
coração e pélvis © por Hein Nouwens/ Shutterstock; ilustração
de crânio e ossos cruzados © por Andrey Oleynik/
Shutterstock; ilustração do olho © por Craig McCausland/
iStock;chave pendurada no gancho © por cosma/
Shutterstock; prisão © por photosyn/ Shutterstock; verso
da carta de baralho © bobyramone/ Shutterstock; algemas
© por Volodymyr Krasyuk/ Shutterstock; rosa de haste longa
© por Quang Ho/ Shut terstock; gaivota voadora © por Pavel
Vakhrushev/ estoque Shutter; medalhão com corrente ©
por Horiyan/ Shutterstock; tiras de fita adesiva© por Odua
Images/ Shutterstock; ilustrações de merda ainda © pel
DIREITO AUTORAL
A VERDADE. DIREITOS AUTORAIS ©2015 POR ESTATELY

PLUMP BUCK MULLIGAN. Todos os direitos reservados sob as
Convenções Internacionais e Pan-Americanas de Direitos Autorais.
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armazenamento e recuperação de informações, de qualquer forma
ou por qualquer meio, seja eletrônico ou mecânico, agora conhecido
ou no futuro. inventado, sem a permissão expressa por escrito
dos e-books da HarperCollins.
PRIMEIRA EDIÇÃO
Design de capa e interior do livro por Laurie Griffin

Ilustrações de Bernard Chang, exceto as realmente ruins, que
são do autor
Créditos de imagem adicionais
www.neilstrauss.com
ISBN 978-0-06-089876-2
ISBN 978-0-06-244934-4 (edição assinada pela Barnes & Noble)
Edição EPub OUTUBRO 2015 ISBN 9780062355584
15 16 17 18 19 OV/RRD 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
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Este livro cobre um período de aproximadamente quatro

Para minha mãe e meu pai.

AS PESSOAS SÃO FEITAS

—RAINER WERNER FASSBINDER

As páginas a seguir contêm uma das palavras mais

Falta de compromisso, muito compromisso,

Eles também levaram a este livro, que é uma tentativa

Essa, no entanto, não é uma jornada que foi empreendida

relato honesto de uma crise de vida que me foi imposta

Como tal, requer compartilhar muitas coisas das quais

NÃO vire a página.

Se este é você, realmente, não leia isso.

Você não tem e-mail para verificar ou algo assim? Ou você

Sério, pare de ler agora. ESTA É A SUA ÚLTIMA CHANCE.

PRÓLOGO: A Mão que Você Recebeu Rosto

EPÍLOGO: Quando o curinga é jogado, ainda é selvagem?

Toda família tem um esqueleto no armário.

Durante a maior parte da minha vida, eu também acreditei

bolsos, quase brancos devido a anos de lavagem, encontrei três

Não havia vídeos rotulados como pornográficos, mas eu sabia

Senti como se estivesse prestes a explodir.

A próxima fita era uma gravação de The Phil adelphia Story,

Coloquei a terceira fita de vídeo no videocassete e a observei

a excitação instantaneamente se esvaiu, minha pele ficou fria e

E de repente, como se tivesse acidentalmente aberto uma

“Prometa que não vai contar a ninguém, nem mesmo a seu

É uma decisão que todos, em algum momento da vida,

Do outro lado do corredor de mim no avião é uma garota magra

altitude, já pensei em maneiras de abordar cada um, despi-a,

É isso: a última vez que posso cobiçar, a última vez que

Não tenho nada comigo: sem computador, sem celular, sem

Por que estou me submetendo a isso? Eu me pergunto.

De repente, um cara na casa dos vinte – pelo menos 1,80m,

“Oh meu Deus, você está. . .”

"Sim", eu digo a ele.

"Eu li o seu livro", diz ele.

"Recentemente?" Eu pergunto, por algum motivo. Afastar-

“Não, há três anos.”

relacionamento e começar uma família, e esse cara leu um

Do outro lado da segurança, vejo um homem com um

Tudo o que fiz foi trair minha namorada.

Los Angeles, seis meses antes

Dizem que quando você conhece alguém e sente que é amor

E assim ela incorpora todos os elementos: a intensidade do fogo, a

"Eu sei. Eu também."

Ainda assim, eu passei por isso.

“Foi meio frustrante. Não fizemos muito

Lá chega um momento na vida de um homem

O último conto de fadas terminou com minha ex se

E isso porque eu sou o rei da ambivalência.

me encontra. E toda a merda que passei minha vida acumulando

Mas qual é a alternativa?

Meus outros amigos casados não se saíram muito melhor.

em divórcio. Entre os casados, apenas 38

alternativas à monogamia que levarão a melhores

E as coisas das quais temos mais medo de abrir mão são

Mas este é o meu castigo, digo a mim mesmo. Estou aqui

provavelmente um lugar especial no céu para viciados em amor,

Ele está em silêncio.

Você não pode resolver a maioria dos problemas com regras,

“Venha comigo”, insiste uma mulher de avental verde – magra e

"Por que é que?" Eu pergunto. Muitas perguntas. Eu posso dizer