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Tríduo de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face

1º dia - A infância de Santa Teresinha:


A infância é um dos períodos que Santa Teresinha mais faz relato em sua autobiografia, e por isso é nela que
encontramos traços importantíssimos de sua vida e de seu temperamento.

Uma criança tímida e que desde muito nova preferia sentar-se só e ter pensamentos profundos. Teresinha
não tinha amigos e relata, já adulta, a impressão que lhe ficara diante de suas tentativas não correspondidas:

“(...) enquanto ela estava fora, pensei nela com muita frequência e, ao voltar, mostrei como estava
satisfeita. No entanto, tudo o que consegui foi um olhar de indiferença – minha amizade não foi
apreciada. Senti isso muito profundamente e não encontrei mais uma afeição que se mostrara tão
inconstante.”

Limitando-se às relações familiares, descreve o período escolar como um tempo sem amizades, onde fazia
suas obrigações em silêncio. Dizia que conversas, ainda que de assuntos agradáveis, lhe cansavam, o que é próprio
de uma pessoa introvertida.

Sua personalidade e forma de ser eram tão introspectivos e profundos (no sentido de criar raiz e se
impregnar profundamente no interior de formas nem sempre saudáveis), que nenhum estudioso questiona seu
temperamento melancólico e as consequências negativas que o mesmo trazia quando ainda se encontrava fora da
plenitude da graça.

Teresinha sentia solidão. E em seu temperamento, guardava os mais profundos sentimentos e pensamentos
somente para si e para Jesus.

Aos 4 anos perde a mãe. Vê o caixão com o pai na cabeceira e as irmãs ao entorno. Não chora. Em resposta
elege: “Paulina será minha mãe!”.

É a própria santa que descreve ter passado de uma criança tímida para uma ainda mais fechada e agora
excessivamente sensível a tudo após a partida da mãe para a Pátria Celeste. “Chorava, e depois chorava por ter
chorado”. Ali já se manifestava uma característica de compressão dos sentimentos, de uma forma que os mesmos
não encontravam vazão e lhe causavam por vezes sintomas físicos. Teresinha havia sofrido um profundo trauma
emocional com a morte da mãe, e sentiria as consequências dele anos depois quando, no início da adolescência,
tivesse a ferida reaberta da perda e da solidão pela ocasião da entrada de sua irmã Paulina para o Carmelo.

Perde a mãe – agora a irmã eleita – novamente! E neste reabrir da ferida cai em uma doença profunda e
“sem causa”, ao que hoje sabemos ter sido uma doença de origem psicossomática que só viria a ser curada pela
intervenção da Santíssima Virgem.

2º dia: “Milagre de Natal” – A maturidade


Resumir o temperamento de Santa Teresinha à melancolia, como se isso a resumisse a uma criança chorona,
seria simplificar muito sua complexa personalidade. Era teimosa, mimada, infantil... Em suma: imatura. E mesmo
após o milagre da Santíssima Virgem, ainda havia arestas que precisavam ser polidas. A esta experiência Santa
Teresinha chama de “Milagre de Natal” quando, aos 13 anos, esperava que seu pai ainda lhe desse um presente
conforme o costume das crianças.

“Quando cheguei em casa da Missa da meia-noite, sabia que devia encontrar meus sapatos no pé na
lareira, cheios de presentes, como sempre fazia desde que eu era pequena. Então, você pode ver que eu
ainda era tratada como bebê. Meu pai adorava ver o quão feliz eu ficava e ouvir meus gritos de prazer
enquanto tirava cada pacote de surpresa dos meus sapatos mágicos. A satisfação dele me deixava ainda
mais feliz. Mas chegou a hora de Jesus me livrar da minha criancice; até mesmo as alegrias inocentes da
infância foram embora. Ele permitiu que meu pai se sentisse zangado naquele ano, em vez de mimar-me.
E quando eu estava no andar de cima, eu o ouvi dizendo: ” Thérèse já deveria ter superado todo esse tipo
de coisa [de ganhar presente no Natal] e espero que esta seja a última vez”. Aquilo me magoou, e Céline,
que sabia o quanto eu era sensível, me sussurrou: “Não desça ainda; se abrir seus presentes agora na
frente do pai você só vai chorar”.

Diante da frustração, faz o que é próprio dos imaturos: foge para o quarto e chora, sentindo-se
profundamente ofendida. Neste santo dia de Natal, no entanto, o Senhor lhe colocaria um bom propósito no
coração: se ajoelha e pede com humildade a graça da maturidade.

Eis que o grande milagre de Teresinha foi uma oração decidida no quarto.

A partir daí, na decisão diária – pois para Teresinha só o hoje existia -, tornou-se madura a partir das
pequenas decisões de cada dia. Permitiu que a Graça alcançasse e moldasse seu temperamento. De teimosa, tornou-
se decidida. De infantil, lançou-se como criança aos braços do Pai. De extremamente sensível e frágil emocional e
psiquicamente, tornou-se dócil ao Amor.

Depois dessa ocasião, levou-se apenas 2 anos para que entrasse aos 15 – diante de autorização especial
mediante a idade – para o Carmelo de Lisieux.

3º dia - A experiência com Nossa Senhora do Sorriso:


Desenganada pelos médicos, assolada em uma profunda tristeza que lhe tomara o físico, Teresinha passa
por grandes tormentos espirituais, relatando ter visto coisas terríveis. Não comia, não bebia. Sentia dores intensas e
delirava durante todo o dia.
A entrada de Paulina para o Carmelo tornou-se o gatilho que disparou de uma só vez todo o trauma afetivo
vivido com a perda da mãe a agravado por sua melancolia que havia engavetado tudo até então.

Agarrando-se à única esperança possível, suas irmãs levam para diante de Santa Teresinha a imagem de
Nossa Senhora das Vitórias. Neste momento a Santa faz uma experiência mística, profunda e ao mesmo tempo
singela, com Nossa Senhora que lhe sorri. De imediato os tormentos passam e por um milagre da Santíssima Virgem,
Teresa é curada. A partir deste momento Teresinha passa a usar o título “Senhora do Sorriso” para se referir à sua
experiência particular, a qual nem em seus escritos foi capaz de descrever com grandes detalhes.

“Dia 13 de maio de 1883, festa de Pentecostes. Do leito, virei meu olhar para a imagem de Nossa Senhora,
e, de repente, a Santíssima Virgem apareceu-me bonita, tão bonita que nunca vira algo semelhante. Seu
rosto exalava uma bondade e uma ternura inefáveis, mas o que calou fundo em minha alma foi
o ‘sorriso encantador da Santíssima Virgem’. Todas as minhas penas se foram naquele momento,
duas grossas lágrimas jorraram das minhas pálpebras e rolaram pelo meu rosto. Eram lágrimas de pura
alegria… Ah! pensei, a Santíssima Virgem sorriu para mim, estou feliz…”.

No sorriso da Santíssima Virgem se encerrou a tristeza de toda uma vida. Os traumas emocionais foram
alcançados, e do sorrido daquela mesma imagem - posteriormente levada pela família para o Carmelo - Teresinha
encontraria forças para superar as dificuldades reais da vida fraterna; para adornar os afetos que sentia por suas
irmãs de sangue, incluindo Paulina, as quais não cabiam mais as relações familiares dentro do mosteiro. E,
sobretudo, enfrentaria com coragem e confiança a terrível doença que acometeria seu tão amado pai.

Certamente, Teresa enfrentou muito mais na vida adulta. Mas agora, curada interiormente, carregava em si
a disposição para tudo! O Senhor lhe deu meios para tudo suportar com amor pela intercessão de Sua Mãe.

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