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Texto extraído de: RUPPERT, E.E. & BARNES, R.D. Zoologia dos invertebrados. 6ed.

São Paulo:
Roca,
10 1996. p.10-12.
Protozoários

Todos os animais devem resolver os mesmos problemas de existência -


procura de alimento e de oxigênio, manutenção de equilíbrio hídrico e salino,
remoção de detritos metabólicos e perpetuação da espécie. O "design" de
corpo necessário para responder a esses problemas está correlacionado, em
grande parte, a quatro fatores: l. o tipo de ambiente - marinho, de água doce
ou terrestre - no qual o animal vive; 2. o tamanho do animal; 3. o modo de
existência do animal; e 4. as restrições do genoma do animal. A última frase
refere-se às limitações impostas pelo "design" ancestral controlado pela
composição genética do animal. Por exemplo, ocorre uma diversidade
incrível no "design" do caramujo, mas o próprio "design" impõe determina-
das limitações nas possibilidades do mesmo; por exemplo, não há caramujos
voadores.

EFEITOS DOS AMBIENTES


Examinemos brevemente os primeiros três fatores. Os três fatores princi-
pais dos ambientes - a água salgada, a água doce e a terra - são acentuada-
mente diferentes em suas necessidades fisiológicas.

Ambiente Marinho
O ambiente marinho é geralmente o mais estável. A ação das ondas, as
marés e as correntes oceânicas verticais e horizontais produzem uma mistura
contínua de água marinha e asseguram um meio no qual a concentração dos
gases e dos sais dissolvidos flutua relativamente pouco. A flutuabilidade da
água marinha reduz o problema da sustentação. Portanto não é surpreendente
que os maiores invertebrados sempre tenham sido marinhos. Como a água
marinha é mais ou menos isosmótica com os fluidos teciduais corporais da
maioria dos animais marinhos invertebrados, a manutenção dos equilíbrios
hídrico e salino é relativamente simples, e a maioria dos animais marinhos é
osmoconformista. A flutuabilidade e a uniformidade da água marinha forne-
cem um meio ideal para a reprodução animal. Os ovos podem ser postos e
fertilizados na água marinha e podem passar por um desenvolvimento como
embriões flutuantes com pequeno risco de dessecamento e de desequilíbrio
salino ou de serem arrebatados por correntes rápidas para ambientes menos
favoráveis. As larvas são características de muitos animais marinhos, e as
características gerais das mesmas serão discutidas nos PRINCÍPIOS E PADRÕES
EMERGENTES do Capítulo 3.

Ambientes de Água Doce


A água doce é um meio muito menos constante que a água marinha. As
correntes variam enormemente em turbidez, velocidade e volume, não somente
ao longo de seu curso como também de tempos em tempos como resultado de
secas ou chuvas fortes. As lagoas e os lagos pequenos flutuam quanto ao teor
de oxigênio, à turbidez e ao volume da água. No caso dos lagos grandes, o
ambiente altera-se radicalmente com o aumento da profundidade.
Como a água salgada, a água doce é flutuável e ajuda na sustentação. No
entanto, a baixa concentração de sal cria uma certa dificuldade para manter
o equilíbrio hídrico e salino. Como o corpo do animal contém uma concentração
osmótica mais alta que a do ambiente externo, a água tem uma tendência para
difundir-se para dentro. O animal tem, conseqüentemente, problema para livrar-
se do excesso de água. Como consequência, os animais de água doce geralmen-
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te possuem algum mecanismo para bombear a água para fora do corpo
enquanto retém os sais; ou seja, eles osmorregulam-se.
Em geral, os ovos dos animais de água doce ou são retidos pela fêmea ou
ficam presos no fundo da corrente ou do lago, em vez de ficarem flutuando
livremente (como acontece frequentemente com os animais marinhos). Além
disso, os estágios larvais encontram-se geralmente ausentes. Os ovos flutuan-
tes e as larvas livre-natantes são facilmente arrebatados pelas correntes. Como
os ovos de água doce desenvolvem-se tipicamente em adultos sem uma larva
de alimentação intermediária, os ovos contêm tipicamente quantidades consi-
deráveis de gema.
Os detritos nitrogenados dos animais aquáticos, tanto marinhos como de
água doce, geralmente são excretados como amónia. A amónia é muito solúvel
e tóxica e requer água considerável para a sua remoção, mas como não há
perigo de perda de água nos animais aquáticos, a excreção da amônia não
apresenta nenhuma dificuldade.

Ambientes Terrestres
Os animais terrestres vivem no ambiente mais severo. A flutuabilidade de
sustentação da água encontra-se ausente. No entanto, o problema mais crítico
é a perda de água por evaporação. A solução para esse problema tem sido um
fator primário na evolução de muitas adaptações para a vida na terra. O
tegumento dos animais terrestres representa uma barreira melhor entre os
ambientes interno e externo que o dos animais aquáticos. Há mais oxigênio em
um dado volume de ar que no mesmo volume de água, mas as superfícies
respiratórias devem ficar úmidas. Portanto, localizam-se geralmente no inte-
rior do corpo, reduzindo a dessecação. Os detritos nitrogenados são comumen-
te excretados como ureia ou ácido úrico, que são menos tóxicos e requerem
menos água para a remoção que a amónia. A fertilização deve ser interna; os
ovos ficam geralmente envolvidos em um envelope protetor ou depositados em
um ambiente úmido. Exceto no caso dos insetos e de uns poucos artrópodos,
o desenvolvimento é direto, e os ovos são geralmente dotados de grandes
quantidades de gema. Os animais terrestres que não são bem adaptados para
suportar a dessecação ou são noturnos ou restringem-se a habitats úmidos.

EFEITOS DO TAMANHO DO CORPO


O segundo fator correlacionado com a natureza da estrutura animal é o
tamanho do animal. À medida que o corpo aumenta em tamanho, a proporção
da área de superfície com o volume reduz, porque o volume aumenta ao cubo,
e a área de superfície aumenta ao quadrado da dimensão linear. Nos animais
pequenos, a área de superfície é suficientemente grande em comparação ao
volume corporal, de forma que a troca dos gases e detritos possa ser empreen-
dida eficientemente por meio somente de uma difusão por toda a superfície
corporal. Também pode ocorrer um transporte interno por meio somente de
difusão. No entanto, os animais pequenos que vivem em terra estão sujeitos a
uma maior perda de água, que ocorre primariamente através da superfície do
corpo.
À medida que o corpo aumenta em tamanho, as distâncias tornam-se
demasiadamente grandes para que ocorra o transporte interno somente por
difusão, e tornam-se necessários mecanismos para um fluxo de volume. Nos
animais maiores, isso leva ao desenvolvimento de sistemas circulatórios
celômicos e vasculares sanguíneos. Também pode-se aumentar a área de
superfície dos órgãos internos e porções da superfície externa através
de pregueamento e enrolamento para facilitar a secreção, a absorção, a
troca de gases e outros processos.
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Protozoários

EFEITOS DO MODO DE EXISTÊNCIA


O terceiro fator relacionado com a natureza da estrutura animal é o modo
de existência. Os animais de movimentos livres em geral são bilateralmente
simétricos. O sistema nervoso e os órgãos sensoriais ficam geralmente concen-
trados na extremidade anterior do corpo, pois é a parte que entra primeiro em
contato com o ambiente. Nós discutiremos a simetria bilateral em maior
profundidade no Capítulo 5.
Os animais presos ou sésseis são radialmente simétricos ou tendem a uma
simetria radial, na qual o corpo inteiro (como nas anêmonas-do-mar) ou
alguma parte deste (como nas cracas) consiste de um eixo central ao redor do
qual arranjam-se simetricamente as partes semelhantes. A simetria radial é
uma vantagem para a existência séssil, pois permite que o animal responda aos
desafios do seu ambiente a partir de todas as direções. Os esqueletos, os
envelopes ou os tubos encontram-se comumente presentes para sustentar ou
proteger os animais sésseis contra os predadores móveis e os extremos
ambientais.

ESPECIALIZAÇÕES CELULARES
Os protozoários são organismos eucarióticos unicelulares. Todos os orga-
nismos multicelulares, incluindo os animais multicelulares, evoluíram a partir
de vários ancestrais de protozoários. Os protozoários permaneceram no
nível de organização unicelular, mas evoluíram ao longo de numerosas linhas
através da especialização de partes do citoplasma (organelas) ou das estrutu-
ras esqueléticas. Conseqüentemente, a semelhança e a complexidade nos
protozoários são expressas no número e na natureza de suas organelas e dos
esqueletos da mesma maneira que se observam a simplicidade e a complexi-
dade nos animais multicelulares em graus de especialização dos tecidos e dos
sistemas orgânicos. As células dos protozoários são mais complexas que as
células dos metazoários, pois as adaptações estruturais para a sobrevivência
só podem ocorrer no nível de organização celular. Cada célula de protozoário,
como um organismo, deve ter especializações estruturais para todas as
funções que sustentem a vida, tais como a locomoção, a aquisição de alimento,
o transporte interno e a reprodução. Nos metazoários, por outro lado, essas
especializações (embora definitivamente um produto das células) distribuem-
se sobre as células, tecidos, órgãos e sistemas orgânicos. Uma única célula de
metazoário necessita somente contribuir para o aumento na organização
adaptativa global do indivíduo. Como resultado, as células dos metazoários são
menos complexas, porém mais especializadas para funções particulares que as
células de protozoários.
Além do maquinário metabólico básico comum a todas as células, os
metazoários herdaram muitas características da estrutura celular de seus
ancestrais protozoários e adaptaram-nas a uma organização multicelular.
Questões:
Membrana Celular
1. Enumere as dificuldades enfrentadas pelos animais nos diferentes
A membrana celular separa o restante da célula do exterior. Ao fazer isso,
ambientes
ela regula comentados no texto.
o interior da célula para um funcionamento ideal ao manter as
2. condições
Explique internas
por quemais
a maioria dos específicas
ou menos invertebrados crescemApoucos
e constantes. membrana
celular controla o que pode entrar e sair da célula, a responsividade da mesma
centímetros.
3. aos estímulos
Quanto externos, a seletividade
à especialização celular,com que elapor
explique é ligada
que aas
outras células
células dosou
a um substrato e a manutenção da forma celular. A estrutura em duas
protozoários são bem mais
camadas da membrana celularcomplexas
resulta dos do que as doopostos
fosfolipídios metazoários.
que a com-
põem (Fig. 2.1). As proteínas também são constituintes importantes da
membrana e podem atravessá-la ou ficarem presas nas superfícies interna ou
externa. As superfícies externas expostas de membrana de proteínas e lipídios

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