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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Instituto de Geociências
GEO314 – Geologia de Estágio de Campo III
Prof. MSc. André Klumb

GEOLOGIA ESTRUTURAL

Igor Pivetta
Tarço Dourado

BA Salvador 2022
SUMÁRIO

3. Geologia estrutural

3.1 Introdução

3.2 Domínio estrutural A

3.2.1 Estruturas Dúcteis

3.2.2 Estruturas dúcteis-rúpteis

3.2.3 Estruturas rúpteis

3.2.4 Indicadores cinemáticos

3.3 Domínio estrutural B

3.3.1 Estruturas Dúcteis

3.3.2 Estruturas dúcteis-rúpteis

3.3.4 Indicadores cinemáticos

3.4. Evolução geotectônica

★ Referências Bibliográficas

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3. Geologia Estrutural

3.1 Introdução

Neste capítulo, são trazidos os dados das medidas de geologia estrutural do mapeamento
feito sobre as áreas de Cansanção e Quijingue e as principais estruturas (indicadores
cinemáticos) encontradas em campo, a fim de se fornecer um entendimento sobre as fases
deformacionais presentes na área de estudo.

Para fazer uma análise mais criteriosa da sua geologia estrutural, a área foi dividida em
dois domínios estruturais, cujo critério foi a anomalia de potássio observada em imagem
aerogeofísica do Projeto Aerogeofísico Oeste do Tucano (2011) fornecida pela GeoSGB. Dessa
maneira, é possível distinguir dois grandes domínios baseados em composição química – onde
teores mais altos de potássio são indicativos de rochas mais félsicas, e teores mais baixos, de
rochas mais máficas – e consequentemente em termos de geologia estrutural, pois diferentes
litotipos têm diferentes reologias, e assim, apresentam estruturas diferentes.

Figura 1 - Mapa dos domínios estruturais sobre imagem aerogeofísica de concentração de K.

Para a realização desta investigação no âmbito da geologia estrutural foram efetuadas


499 medidas na área de estudo. Desse total, foram 179 medidas de foliação (bandamento
composicional, xistosidade, clivagem ardosiana e foliação incipiente), 199 medidas de fraturas,

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6 medidas de falhas, 90 medidas de veios (veios de quartzo, pegmatítico e anfibolito) e 25
medidas de lineação de estiramento mineral (Lx).

Figura 2 - Mapa de domínios estruturais da área de estudo.

Os dados foram rearranjados de acordo com o domínio pelo qual fazem parte. Assim,
para cada conjunto de dados de um tipo de medida (ex: foliação) foram criados três
subconjuntos, dois representando o domínio B parte ocidental e oriental e um representando o
domínio A. No caso de pontos com mais de uma medida, foi tirada a média aritmética de todas
as medidas do ponto para que não fossem gerados resultados com medidas tendenciosas.

Os dados foram plotados no software Orient versão 3.15.0, onde foi possível observar
os conjuntos das medidas das estruturas em rede estereográfica. Para cada conjunto de dados
foram geradas projeções estereográficas que objetivam uma melhor visualização das medidas.
Assim, para as foliações foram gerados diagramas de isodensidade de polos, e para os veios e
fraturas, foram gerados diagramas de rosetas.

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3.4. Domínio estrutural A

3.4.1. Estruturas Dúcteis

● Foliação

Figura 3 - Diagrama de isodensidade de polos das medidas de foliação do domínio A

A foliação predominante no domínio A é N-S por vezes NNW-SSE. O ângulo de


caimento destas foliação variam de acordo com a localidade que ela está inserida, em lugares
planos com predomínio de ardósia e metassedimentos medem de 10° a 20° de caimento, no
xistos e locais próximos aos granitóides chegam a ser subvertical com o predomínio de ângulo
de caimento entre 70 ° a 85°. Nos granitóides tardio e pós-tectônicos a foliação é incipiente.

Foram observadas rochas ultramáficas apresentando xistosidade com foliação N-S


subvertical como também pillow lavas com foliação incipiente em suas proximidades

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Fotografia 1 - Afloramento onde é possível visualizar o trend regional N-S da foliação do greenstone Belt do Rio
Itapicuru. Ponto ITB 104.

● Dobras

No domínio A, foram observadas em campo deformações em dobras de plano axial N-


S em rochas supracrustais. Essas deformações estão relacionadas com as intrusões graníticas
pós-tectônicas do paleoproterozóico (ver Fotografia 2).

Fotografia 2: Rochas supracrustais dobradas por um esforço perpendicular a ao trend regional. Ponto ITA 012.

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3.4.2. Estruturas dúcteis-rúpteis

● Lineações de estiramento mineral

No campo foi possível observar lineação de estiramento mineral em forma de grãos


deformados, encurtados e/ou alongados de minerais, como quartzo e plagioclásio, formando
grãos equidimensionais ou ribbons.

Na parte norte da área de estudo, às margem do rio Cariacá, as fases deformacionais


provocaram o desenvolvimento de um fabric planar subvertical, com uma lineação de
estiramento mergulhando para norte, expressa por grãos estirados de quartzo e feldspato e
indicadores cinemáticos, tais como sombras de pressão, que indicam um caráter transcorrente
sinistral.

Figura 4 - Na Figura estão plotados todos os pontos onde foi possível medir a lineação de estiramento
mineral.

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● Falha

Através da observação das lineações de estiramento mineral, no ponto ITB 147, às


margens do rio Cariacá, foi possível identificar um tipo de falha que ocorre na área de estudo.A
cinemática predominante é sinistral e através do estiramento mineral junto ao auxílio da rede
de Schmidt e o software Faultkin, foi possível determinar a falha como sinistral normal.

Fotografia 3: Falha do rio Cariacá. Estrias mergulhando para norte falha sinistral normal por cisalhamento Simples

3.4.3. Estruturas rúpteis

● Fraturas

A deformação rúptil que afetou o Cráton do São Francisco no início do Cambriano


estabeleceu um sistema de fraturas no GBRI. Essas deformações afetam tanto a sequência
greenstone quanto as intrusões graníticas. Plutonismo sintectônico desempenhou papel muito
importante na estruturação geométrica e na evolução cinemática. As fraturas presentes no GBRI
afetam principalmente as sequências supracrustais, caracterizadas por presença de pares
conjugados com ângulo que variam de 30 a 45º.

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Figura 5 - Diagrama de rosetas representando o conjunto total das fraturas do Domínio A.

Fotografia 4. Fraturas presentes na unidade máfica com direção W-E. Ponto ITA 010.

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Na fotografia 5, pode ser observada uma geometria de fraturas que apresentam padrão
losangular com ângulos da ordem de 60º ou 70º entre os planos de ruptura das fraturas,
denominadas juntas cisalhantes. Ocorrem em pares conjugados, podendo conter pequenos
deslocamentos.

Fotografia 5. Pares conjugados de fraturas presentes em ardósias. Ponto ITA 035.

● Veios de Quartzo

Segundo Teixeira (2014), a terceira e última fase de deformação produziu falhas


predominantemente sinistrais, de direção NE, que afetaram todas as outras estruturas do
greenstone belt. A essas falhas associam-se grandes volumes de veios de quartzo e brechas.Os
veios de quartzo maciços são paralelos ou sub paralelos à foliação milonítica de direção 283/55.

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Fotografia 6: Veios de quartzo encaixados em metassedimentos associados a metamorfismo hidráulico. Ponto ITA
018.

3.4.4. Indicadores cinemáticos

Sombras de pressão conhecidas também como sombra de deformação é um termo usado


em geologia metamórfica para descrever uma microestrutura em rochas deformadas que ocorre
adjacente a uma partícula não deformada, estas estruturas podem ser observadas próximo ao rio
Cariacá, no ponto ITB 147, esta zona é catalogada na literatura como sendo afetada por uma
falha sinistral normal com direção N-S. Este movimento causado pela falha deixou elementos
deformacionais incluindo lineação de estiramento estruturais e sombras de pressão, que são
estruturas finas triangulares que são alongadas paralelamente à foliação ao redor de um
fragmento de um mineral.

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Fotografia 7: Estudo da falha de Cariacá no ponto ITB 147, realizado com o auxílio de estruturas deixadas na
foliação através do desenvolvimento da falha.

Figura 6: Análise estrutural com o auxílio do software Faultkim.

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3.5. Domínio estrutural B

3.5.1. Estruturas Dúcteis

● Foliação

No domínio B predominam as rochas do embasamento como gnaisse e migmatitos, além


de granitóides sin e pós tectônicos. A foliação predominante é N-S com ângulo de mergulho
entre 60° a subvertical (Figura 6).

Figura 7 - Diagramas de isodensidade de polos para as foliações do domínio B (ocidental e oriental).

O embasamento preserva melhor as estruturas adquiridas por eventos deformacionais.


A presença da foliação S0 está orientada segundo a direção N-S. são afetadas por zonas de
cisalhamento originando uma nova foliação Sn+1.

Fotografia.8: Gnaisse no ponto ITB 025 com bandas de quartzo e anfibolito, a direção preferencial do bandamento
e paralelo a N-S.

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Fotografia 9 - Foliação gnáissica afetada por um evento deformacional posterior dando origem a uma foliação
denominada S1.

● Dobras
A presença de dobras na região é pouco observada, estando mais presentes nos gnaisses
e migmatitos, muitas vezes em afloramentos de lajedo. No ponto ITB 106 foi observado dobras
em bainha em migmatitos com presença de neossoma. As dobras mostravam movimentos
dextrais e sinistrais esse contraste pode ser interpretada como dobras relíquias que ficaram
conservadas dentro do blocos gnáissicos que compõem o embasamento.

Fotografia 10. Dobras em bainha em migmatitos e gnaisses no bloco serrinha. Fonte: Autores.

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As dobras estão mais presentes nas estruturas dúcteis,pois,estas preservam estas feições
em sua estrutura. Estas estruturas estão relacionadas predominantemente ao embasamento
gnáissico e migmatitos. Nos granitóides a existência de dobras são praticamente inexistentes
por serem estruturas colocadas tardiamente.

Fotografia 11. Embasamento TTG dobrado, afetado por esforço paralelo a N-S.

3.5.2. Estruturas dúcteis-rúpteis

● Falhas

Apesar de estarem presentes na região estudada, a observação de falhas exige uma


observação mais detalhada das estruturas, pois, as falhas não são bem visíveis. Contudo,
existem certas estruturas deixadas na rocha que são importantes no auxílio e compreensão da
cinemática desses eventos deformacionais, como por exemplo os tension gashes e as lineações
de estiramento mineral.

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Figura 8 - No ponto ITB-145 com o auxílio da Lx é possível marcar o campo dos tensores e determinar o tipo de
folha como Sinistral normal.

O sistema de falhas afeta tanto a sequência greenstone belt quanto as intrusões


graníticas. A evolução estrutural dessas falhas não é conhecida, porém é possível que estejam
intimamente relacionadas com as últimas fases de cisalhamento transcorrente sinistral.

● Lineações de estiramento mineral

Observar lineações de estiramento mineral nas rochas do embasamento não é uma tarefa
simples devido a alta coesão e também pela dificuldade de encontrar o plano de foliação em
que a linha de estiramento esteja contida.

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3.5.3. Estruturas rúpteis

● Fraturas

Figura 9. Diagrama de roseta das fraturas no domínio B oriental.

É possível observar uma correspondência semelhante entre os sistemas de fraturas do


domínio B oriental e B ocidental. A direção dessa fraturas está colocada doravante a direção
E-W o caimento destes variam entre 50º e 85º graus.

Fotografia 12 - Fraturas conjugadas presente no ponto ITA-068 com ângulo de 45°.

● Veios de Quartzo

A terceira e última fase de deformação produziram falhas predominantemente sinistrais, de


direção NE, que afetaram todas as outras estruturas do greenstone belt. A essas falhas associam-

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se grandes volumes de veios de quartzo. Os veios são colocados geralmente sob forma de uma
geometria tabular, controlados por uma lineação de estiramento com rake medindo 20° N.

Fotografia 13.Veio de quartzo com direção SW-NE encaixado no granitóide sin-tectônico.

● Veios de Pegmatitos

No embasamento do GBRI é comum intrusões ígneas de composição basicamente


granítica quartzo, feldspato e mica de granulação grosseira igual ou maior que 20mm, muitas
vezes exibindo cristais gigantes encaixados em estruturas desenvolvidas em terrenos
metamórficos.

Fotografia 14. Na imagem é possível observar que no ponto ITA 033 um veio de pegmatito no embasamento
Migmatítico com direção NE-SW.

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3.5.4. Indicadores cinemáticos

● Tension gashes

Essas feições são frequentemente encontradas no domínio B. São preenchidas com


precipitações minerais que crescem preferencialmente na direção do Sigma 3 que é
perpendicular ao sigma 1 e por esse artifício é possível obter a direção dos campo de tensões.

Fotografia 15.. Shear zone, determinada a partir de cortes de tensão sigmoidal,direção do sigma 1 é subparalelo ao
N-S.

● Veios cortados por Falhas

Uma boa forma de estudar a cinemática que afeta este domínio são veios cortados por falhas,
estas estruturas são predominantes como a observada no ponto ITA 033,como da figura abaixo.

Fotografia.16. Indicador cinemático presente no ponto ITA 033 mostrando uma cinemática dextral.

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● Porfiroblasto do tipo σ

No domínio B, podem ser observados fragmentos de mineral incluídos nas rochas


rodeado por uma matriz de cristais de grãos finos, denominado porfiroblasto do tipo Sigma. O
grão ao se rotacionar deixa uma estrutura em forma de cauda que indica a direção cinemática
conforme pode-se observar na fotografia 17.

Fotografia 17. Porfiroblasto com cinemática sinistral do tipo σ rotacionado com desenvolvimento de cauda onde
são observados cristais de quartzo e mica branca. Ponto ITA 021.

3.5.2.4 Zonas de cisalhamento

Alguns pontos do embasamento onde afloram os migmatitos, é possível observar a


presença de estruturas cinemáticas do tipo estrutura SC.

Fotografia 18. Zona de cisalhamento presente no ponto ITB 106, a estrutura do tipo SC fornece um movimento
dextral para este ponto.

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● Dobras

Dobras são bons indicadores cinemáticos e frequentemente são encontrados na maioria dos
afloramentos do domínio B.

Fotografia 19. Dobras presente no ponto ITB 121, evidenciando uma cinemática dextral.

3.6. Evolução geotectônica

Inicialmente, o greenstone belt do Rio Itapicuru foi interpretado como uma estrutura
sinclinorial (KISHIDA, 1979). Posteriormente, Jardim de Sá (1982) e Alves da Silva (1983),
propuseram um modelo de evolução polifásica, com base em trabalhos realizados
principalmente na porção sul do Greenstone Belt. As estruturas observadas no GBRI estão
relacionadas a um evento deformacional progressivo, com evolução em dois estágios distintos:

I- Estágio D1. Encurtamento, dominado por cavalgamentos de direção SE, com


dobramentos associados, responsável pela geração da foliação S1, representada na porção sul
do GBRI (Faixa Weber);

II- Estágio D2. Contemporâneo à colocação dos domos graníticos sintectônicos, gerou
um sistema de cisalhamento sinistral paralelo à direção geral da foliação, teria impresso uma

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foliação N-S marcante, a exemplo da observada no Distrito Aurífero de Maria Preta. Silva et
al. (1993) e Chauvet et al. (1997).

As colocações sin-tectônicas são representadas pelos granitos do tipo IA, cálcio-


alcalinos e as colocações pós-tectônicas são representadas pelos granitóides shoshonitos. A
foliação impressa foi diretamente afetada por estas intrusões e variam diretamente com a forma
com que esses granitos foram colocados, sendo estas foliações mais intensas e visíveis à medida
que estão mais próximas destes corpos graníticos. Devido a sua colocação tardia os corpos
graníticos em sua maioria apresenta foliação incipientes encaixados a corpos gnáissicos
migmatíticos altamente deformados.

Na evolução deformacional do greenstone belt a zona de cisalhamento principal


funcionou como um sistema de primeira ordem, tanto no estágio D1 de cavalgamento, quanto
no estágio (D2), de deformação. (SILVA et al., 1993). A lineação de estiramento mineral em
forma de grãos deformados, encurtados e/ou alongados de minerais, como quartzo e
plagioclásio, formando grãos equidimensionais ou ribbons ou por agregados lineares de grãos
equidimensionais.

A deformação rúptil que afetou o Cráton do São Francisco no início do Cambriano


estabeleceu um sistema de fraturas de direção geral NW-SE (COELHO e SILVA, 2014). Essa
deformação afeta tanto a sequência greenstone quanto as intrusões graníticas do GBRI. O
plutonismo sintectônico, que desempenhou papel muito importante na estruturação geométrica
e na evolução cinemática do GBRI. As fraturas presentes no GBRI afetam principalmente as
sequências supracrustais, caracterizadas por presença de pares conjugados com ângulo que
variam de 30 a 45º estas fraturas também podem ser relacionadas às intrusões graníticas
durantes eventos distensivo no paleoproterozóico

Veios de Quartzo são ligados a etapas do metamorfismo regional ocorrida no greenstone


belt, a níveis crustais mais rasos. Dobras estão mais presentes nas estruturas dos embasamentos.

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★ Referências Bibliográficas

(KISHIDA, 1979). Posteriormente, Jardim de Sá (1982) e Alves da Silva (1983).Citado por :


TEIXEIRA, J. B. G.; COELHO, C. E. S. Depósito de ouro C1, Santa Luz, Bahia, Brasil. Série
Arquivos Abertos 40. Salvador, CBPM, 2014.

COELHO e SILVA, 2014.Citado por : TEIXEIRA, J. B. G.; COELHO, C. E. S. Depósito de ouro C1,
Santa Luz, Bahia, Brasil. Série Arquivos Abertos 40. Salvador, CBPM, 2014

ROCHA NETO, M. B. Geologia e recursos minerais do Greenstone belt do Rio Itapicuru,


Bahia. Companhia Baiana de Pesquisa Mineral, 1994. Série Arquivo Abertos 4.

(SILVA e MISI et.al.,2012. Citado por : TEIXEIRA, J. B. G.; COELHO, C. E. S. Depósito de ouro C1,
Santa Luz, Bahia, Brasil. Série Arquivos Abertos 40. Salvador, CBPM, 2014.

Silva et al. (1993) e Chauvet et al. (1997).Citado por : TEIXEIRA, J. B. G.; COELHO, C. E. S. Depósito
de ouro C1, Santa Luz, Bahia, Brasil. Série Arquivos Abertos 40. Salvador, CBPM, 2014

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