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FACULDADE TEOLOGICA

CENTRO DE MISSÕES MUNDIAIS

Introdução a Filosofia Bíblica


Os pensamentos filosóficos e suas influências sobre o cristianismo

Professor Rev. Augusto Piloto Silva Junior

Aracaju-Se
Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão
insondáveis são os seus juízos, e inescrutáveis os seus caminhos!

Romanos 11:22 NVI

Introdução

Do mais simples ao mais complexo todos nós temos indagações sobre a


vida. Quando alguém morre ou quando nasce uma criança. Todos querem uma
resposta de onde viemos? Para onde vamos? O que estamos fazendo aqui?
Por que isso está acontecendo comigo? Perguntas existenciais que faremos
em algum momento da vida.

A filosofia se concentra nas questões que vão além da realidade


natural e física, e por isso ela ultrapassa a dimensão física e natural da
realidade alcançando a dimensão das questões de caráter imaterial. A
filosofia trata de questões imateriais como os sentimentos, o raciocínio, o
pensamento, a questões de valor, as questões éticas, ou ainda de juízo.

A filosofia busca a compreensão dessas coisas para um uso possível nas


relações humanas. A palavra Filosofia é a composição de "Filo" e "Sofia", que
em grego significa "amar” a “sabedoria”, buscar a verdade acima de tudo.
Portanto, o filósofo não é o sábio, aquele que conhece tudo, ele é sim um
indagador, um investigador, aquele que procura respostas. Portanto se você
tem curiosidade, se você se espanta com as coisas e tem muitas incertezas,
você é um filosofo.

Podemos definir filosofia como amar o saber e buscar o conhecimento,


contudo é importante definir o que é a sabedoria, o conhecimento que todos
buscam. Se a filosofia é o uso do saber em proveito do homem, como veremos
mais adiante na síntese da história da filosofia, que houve muitos
desentendimentos a respeito desse saber e seu uso.

A filosofia pode nos ajudar na formação do pensamento de forma


estruturada, organizada e objetiva. A teologia surge através das questões
filosóficas. Estamos acostumados com muitas de nossas crenças, e por
estarmos acostumados, não refletimos muito sobre elas. Geralmente,
afirmamos que cremos em Deus, na Bíblia, cremos em demônios, anjos,
cremos numa vida pós morte, mas poucas vezes procuramos responder a
seguinte pergunta: Porque eu creio nestas crenças? Que provas eu tenho para
garantir que as minhas crenças estão certas e a de outra pessoa errada?

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A filosofia bíblica

Não há propriamente uma história da filosofia bíblica, pois o interesse


central não é a filosofia. Contudo sua abordagem também pode ser
considerada filosófica quando propõe respostas para os questionamentos da
vida. De onde viemos, para onde vamos, o sentido para nossa existência, a
solução do problema do mal, numa visão dogmática do pecado e da redenção
através da cruz.
Nos primeiros séculos de sua existência, o Cristianismo ainda não possui
uma doutrina e estrutura consolidada. O Cristianismo vai sendo construindo ao
longo dos primeiros séculos da Era Cristã.
A relação entre Cristianismo, uma religião, e a filosofia grega que buscava
uma resposta racional para os questionamentos da vida. No processo inicial de
difusão do cristianismo, alguns filósofos se converteram ao cristianismo e
passaram a falar da filosofia cristã. Alguns desses filósofos ou teólogos
rejeitavam a filosofia grega por considerá-la alheia a mensagem de Cristo e a
desprezam, vendo essa forma pagã de pensamento como um caminho para o
pecado e o descaminho.
Outros pensadores cristãos, ao contrário, defendem o uso do conhecimento
da filosofia grega a serviço do Cristianismo, pois sabedoria dos filósofos gregos
seria essencial para a preparação da fé. De qualquer forma, mesmo os que
defendiam a importância do conhecimento grego, admitem que os textos
sagrados eram mais importantes e a doutrina filosófica deve estar submetida ao
ensinamento religioso, ou seja, a razão está submetida à fé, pois os dogmas
cristãos são verdades divinas inquestionáveis. O objetivo era usar a razão para
convencer os descrentes sobre a superioridade da fé.

O Conceito de dogma

    Começamos pela importância do pensamento, pois a linguagem é o


pensamento expresso e não há existência humana sem o pensamento. Não é o
emocionalíssimo mais importante nas religiões que o pensamento.
    O homem não pode viver sem pensamento, animais têm sentimentos,
mas não pensamentos. Pelo pensamento o homem dá nomes em vários rituais
na religião, usando a linguagem.  O pensamento molda a realidade, os pais da
igreja, com seus pensamentos chegaram a conclusões que mudaram o

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pensamento de muitos cristãos. Quando o pensamento é expresso pela fala
produz doutrinas teológicas. Então se tornam sistemas teológicos e esses
sistemas não foram feitos para serem prisões.
    Na “história do dogma ou do pensamento cristãos”, é o pensamento
aceito pela igreja, no sentido de dogma que cruza a fronteira da igreja e o
mundo secular. Os dogmas causam medo naquele que estão de fora e também
naqueles que estão dentro, seria como a capa vermelha dos toureiros, que eles
usam para provocar os touros.
    Dogma vem do grego “doken” que significa “pensar, imaginar ou ter
uma opinião”, nas escolas filosóficas era o “dogmata” um princípio de
pensamento que separava as escolas e qualquer que desejasse entrar,
precisava concordar com suas ideias básicas. As doutrinas cristãs foram
compreendidas como “dogmatas”, distinguindo as escolas cristãs das
filosóficas. Assim os dogmas não eram declarações teóricas individuais, mas
expressavam a realidade da igreja.  
Mas esses dogmas foram sendo formulados negativamente para
combater interpretações errôneas, como no caso o Credo Apostólico, “Creio em
Deus Pai, Criador dos céus e da terra”, que combate o dualismo. Quanto mais
tardio e mais anos se passaram, mais os dogmas vinham no sentido de
proteger a substância da mensagem bíblica. Esses dogmas se tornaram como
a lei canônica da igreja. O problema foi à aceitação disso como lei civil, então
quando a pessoa quebra a lei canônica das doutrinas não é só herege, mas
criminoso contra o estado.
O iluminismo e todo pensamento liberal se caracterizou pela recusa do
dogma. Na verdade, os dogmas não devem ser abolidos, mas interpretados de
maneira que não venham a ser repressivos, pois eles devem ser vistos como
expressões profundas e maravilhosas da verdadeira vida da igreja.

A Importância do pensamento

O Apostolo Paulo escreve em sua carta aos romanos “Pois posso


testemunhar que eles têm zelo por Deus, mas o seu zelo não se baseia no
conhecimento. Rm 10:2. NVI). Os judeus daquela época demonstravam
grande zelo por Deus, mas não fazia isso com entendimento. Essa acusação
feita por Paulo serviria também para os cristãos do século XXI?

Podemos perceber que as pessoas têm sempre uma opinião, ou um palpite


sobre tudo. Podem comentar sobre os mais diversos assuntos sem uma
reflexão pessoal e entendimento do que estão dizendo.

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“A entrega sem reflexão é fanatismo em ação, mas a reflexão sem
entrega é a paralisia de toda ação”. (John Mackay)
"(...) o remédio para uma visão exagerada do intelecto não é nem
depreciá-lo nem negligenciá-lo, mas mantê-lo no lugar indicado por
Deus, cumprindo o papel que Ele lhe deu." (John Stott)

Podemos observar que em muitos contextos o pragmatismo prevalece, ou


seja, não avalia se é uma verdade, e sim se funciona. Alguns defendem
causas, empunham bandeiras sem ser objeto de uma reflexão do porque se
envolveram com elas e se aquela é a melhor forma de chegar a um resultado.
Todos os anos se destacam as chamadas perolas do ENEM extraídas das
redações, vejamos algumas delas. “O calor é a quantidade de calorias
armazenadas numa unidade de tempo”. “O Ateísmo é uma religião anônima”.
“A floresta está cheia de animais já extintos. Tem que parar de desmatar para
que os animais que estão extintos possam se reproduzirem e aumentarem seu
número respirando um ar mais limpo”. “A ciência progrediu tanto que inventou
ciclones como a ovelha Dolly”. “O dia tem 24 oras, mas 8 delas são noite”.
(Site: http://www.perolasdoenem.com.br/).
As respostas refletem um pouco a situação da educação no Brasil em suas
bases o que é preocupante tendo em vista que são pessoas que almejam o
nível superior e serão os profissionais de amanhã. Se fizermos uma pesquisa
nas Igrejas evangélicas brasileiras quanto ao conhecimento bíblico?
Doutrinário? Conseguiriam a membresia formular um pensamento consistente a
respeito da fé? Ou temos um analfabetismo bíblico e teológico?
Antes, santifiquem Cristo como Senhor no coração. Estejam sempre
preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da
esperança que há em vocês. (I Pe 3:15.NVI)
Em seu livro Crer é também Pensar John Stot diz: “O que me faz Ter medo
com respeito a esta geração é o quanto ela se apoia na ignorância”. Esse
sentimento parecer ter encontrado na igreja, na presente geração, um lugar
apropriado para se instalar. Podemos chegar ao ponto de termos reuniões
ritualistas desprovidas de significados. Quanto a isso a recomendação bíblica
do Apostolo Paulo precisa ser observada.
Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus
que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus;
este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão
deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente,
para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus. (Rm 12:1-2. NVI).
As influências dos pensamentos humanos na sociedade e também na
igreja. Através dos tempos se concebeu ideias que formaram o pensamento
coletivo. Assim chegamos ao tempo denominado Pós-moderno postulando algo
novo para sociedade. O movimento construiu o pensamento do relativismo
onde não existe verdades absolutas e assim a mente está mais livre.

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Essa ideia tem o princípio de que as verdades são relativas então não se
pode questionar. Quando alguém posiciona diante de determinada situação,
comportamento, principio, é rotulada de preconceituosa ou intolerante. Ser.
Pós-moderno é ter a mente aberta e se adaptar aos novos tempos.
O cristianismo e seus dogmas, verdades absolutas, princípios e valores são
cada vez pressionados a se adaptar. Se diz que a Bíblia é ultrapassada, que a
fé foi motivo de muitas guerras. Como a Igreja pode se preparar para enfrentar
os desafios desse século assim como nossos/as irmãos/ãs do passado
enfrentaram os seus. Nos dias de hoje temos que questões como união civil
entre pessoas do mesmo sexo, Eutanásia, célula tronco, dentre outros.
Enfrentamos em nosso tempo o ateísmo teórico, pessoas que dizem que
Deus não existe e vivem sem nenhum tipo de preocupação com isso. Temos
também o ateísmo pratico, pessoas que dizem que Deus existe mas vivem
como se ele não existisse. Certamente a igreja tem que tomar posições
impopulares, desagradável para muitos em razão da fé.
O Cristianismo não pode se eximir da responsabilidade de pensar. Alguns
podem tender em abandonar a doutrina e se apegar apenas a prática, em
aspectos subjetivos e emocionais. Outros que transformam sua vivência de “fé”
em rituais mecânicos. Devemos entender que uma boa doutrina é desafiadora
para sua prática.
A teologia trata das questões de fé, que possuem caráter sobrenatural.
Convêm dizer que questões de fé não possuem explicações que seguem
rigorosamente os princípios e normas da razão. A crença em Deus é uma
questão de fé, a crença nas escrituras é uma questão de fé. Usando as
ferramentas existentes no pensamento filosófico nos tornamos mais eficientes
no processo de argumentar, compartilhar, respondendo a razão da nossa fé.

“...Dê-me, Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter, método e


faculdade para aprender, sutileza para interpretar, graça e abundância para
falar, acerto ao começar, direção ao progredir e perfeição ao concluir...”
Tomás de Aquino

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