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O PROCESSO DE ARGUMENTAÇÃO
O processo de argumentação tem seu início na instância de raciocínio, em que:
(1) Veicula um antecedente (causa/argumento)
(2) Produz um consequente (conclusão)
(3) É validado por um conhecimento/lugar comum (topos)

A RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
Todas nossas ações e reações são norteadas pelo princípio da causalidade:
o Não pegamos chuva, porque podemos ficar gripados (causa – tomar
chuva/consequência – ficar gripado)
o Não se pode colar na prova de redação jurídica para não tirar zero (causa –
colar na prova de redação jurídica / consequência – tirar zero)
É uma operação que liga as duas asserções, acarretando a experiência uma da outra, ponto
objetivo da primeira, não importando a ordem da construção do enunciado.

Exemplo:
A Reclamada nada deve ao reclamante, pois com este nunca manteve vínculo empregatício.
Premissa maior: A Reclamada só é devedora quando há vínculo empregatício.
Premissa menor: O Reclamante nunca manteve vínculo empregatício com a Reclamada.
Conclusão: A Reclamada nada deve ao Reclamante.

“TOPOS”
São crenças consideradas comuns para certa coletividade, um “traço universal”. Retomamos a
ideia do contrato de comunicação, pois é preciso que entre os interlocutores exista um saber
partilhado, sem o qual não haverá a possibilidade de se inferir relações.

Exemplo:
Como o vínculo empregatício foi estabelecido em três de maio de dois mil, e a ré anotou o
contrato de trabalho em vinte de setembro de dois mil, é necessário que este Juízo determine
que a CTPS seja retificada.
Topos: quem começa a trabalhar deve ter o registro em sua carteira de trabalho desde o
primeiro dia.

O “topos” precisa ser compartilhado entre o Eu-comunicante e o Tu-interpretante e que,


quando as marcas linguísticas evidenciam a relação de causalidade, a construção
argumentativa tende a ser irrefutável, como forma de cooperação do outro a quem se dirige o
texto e a validação da intenção expressa.

Exemplo:
Só não abandonou o emprego, porquanto precisa sustentar a si e a sua família.
Topos: uma pessoa desempregada não consegue sustentar a família nem a si mesma.

ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
 Objeto do âmbito jurídico no embate de ideias, na sustentação de uma tese, sendo
passível uma antítese (dialética);
 O Direito está relacionado aos valores (ética, moral e justiça), pois o Direito não está
restrito à logica formal das leis gerais e abstratas.
 A linguagem, por ser ambígua, opaca e contraditória, propicia o diálogo e o debate,
diante a multiplicidade de sentidos, questionamentos, investigações, formação de
diversas concepções.

TIPOS DE ARGUMENTOS JURÍDICOS


Originalizou-se na Grécia antiga com a teoria da Retórica Aristotélica, baseado em três tipos
de argumentos:
1) Ethos (éticos): ligados à pessoa do locutor.
2) Pathos (patéticos): ordem emocional e não possuem materialização obrigatória do
enunciado
3) Logos (lógicos): são proposicional, isto é, um enunciado verossímil que exprime uma
razão que dá autoridade a uma proposição controversa, com estatuto de conclusão.

ARGUMENTO DE AUTORIDADE
É um posicionamento de uma autoridade de determinada área para dar credibilidade ao que se
diz dentro do discurso. Funda-se, sobretudo, no prestígio da pessoa ou do grupo invocado
para garantir a tese sustentada.
Exemplo:

[...] quando a força do argumento provém do prestígio de que goza uma autoridade
(qualidade) e da maioria de seus membros (quantidade) em favor de uma tese. No
primeiro caso a autoridade tem por função sustentar um acordo. No segundo caso, é
o acordo mesmo das autoridades que fortalece a tese sustentada. Veja-se, aqui, por
exemplo, a força da “doutrina dominante” e de expressões do tipo: “sobre o assunto,
a doutrina é pacífica” (FERRAZ JÚNIOR, 2013, p. 201).

ARGUMENTO EXEMPLAR
Consiste em utilizar elementos fáticos para fundamentar uma posição, parte do fato para a
regra, podendo ser dados estatísticos, pesquisas, fatos concretos, aspectos históricos, entre
outros.

Exemplo:

Ora, é evidente que o motorista nunca poderá dirigir embriagado, quanto mais o
motorista de transporte coletivo, que tem em sua guarda inúmeras pessoas. A
responsabilidade é bem maior. Não se pode perder de vista que está em vigor uma
campanha sobre a violência no trânsito que informa que no Brasil morre anualmente
mais de 30 mil pessoas por ano, mais que o número de vítimas no Vietnã.

ARGUMENTO ANALÓGICO
Também chamado de argumento a pari ou a simili, está fundado na relação ou nas
semelhanças entre coisas ou fatos. Cabe destacar que a jurisprudência, representante de uma
das fontes de Direito, tem sua utilidade ao se tornar um referencial para casos similares.

Assim é possível: (1) apresentar segurança e estabilidade nas decisões; (2) dar às partes
envolvidas no caso certa previsibilidade sobre o resultado; (3) reduzir a probabilidade de
casos semelhantes terem decisões judiciais muito discrepantes.

 Precedente: é qualquer decisão judicial tomada em um caso concreto, que pode ser
utilizado, futuramente, como fundamento para um outro julgamento similar.
 Jurisprudência: como você leu no tópico anterior, é o conjunto de decisões de um
tribunal formado com base em diversos julgamentos a respeito de um tema específico
para facilitar a decisão e diminuir a disparidade delas em casos parecidos.
 Súmula: nada mais é do que a consolidação da Jurisprudência. Quando o tribunal
reconhece a formação de um entendimento majoritário sobre determinado assunto, ele
deve formalizar esse entendimento por meio de um enunciado informando de forma
objetiva qual é a Jurisprudência presente naquele tribunal a respeito do tema em
questão.

ARGUMENTO AO ABSURDO
Também denominado ab aburdo, está pautado no fundamento de que a afirmação de uma
proposição conduz a um pensamento inaceitável. Isto é, mostra-se o absurdo de determinada
afirmação, pois a mesma é vista como inconcebível, impossível.

O réu está preso por porte ilegal de arma de fogo. A acusação quer que se lhe negue
o direito à liberdade provisória, pois afirma que o crime é grave e a lei não lhe
permite o benefício. Mas, pensemos: estatística recente assenta que perambulam,
nesta cidade de São Paulo, aproximadamente um milhão de armas ilegais. Se
existem um milhão de armas ilegais, há a mesma quantidade de pessoas cometendo
o mesmo delito que o ora acusado. Sendo a justiça igual para todos – e isso parece
inegável – deveria haver, neste momento, um milhão de paulistanos presos
cautelarmente, sob a mesma acusação. Isso importa afirmar que, pelo mais sensível
///e banal princípio jurídico, nem o maior bairro de São Paulo fosse transformado em
um presídio, haveria como alocar todos os presumidos detentos!

ARGUMENTO A CONTRÁRIO SENSO


Também denominado a contrario sensu, consiste em buscar a aceitação da ideia contrária ao
que foi afirmado, ou seja, partindo de uma dada proposição, conclui-se algo oposto, dentro de
determinada vertente.

Aduz a Reclamante que percebia salário fixo, acrescido de comissões, fato negado
pela empresa [...]. Observa-se que a única testemunha que se referiu sobre a matéria
[...] declarou que “parte das comissões eram pagas por fora” [...], a contrario sensu
parte das comissões eram pagas no contracheque.

ARGUMENTO “COM MAIOR RAZÃO”


Também denominado a fortiori, o orador faz o uso de uma “analogia” que possui certa dose
de convencimento ou persuasão, visto que a ideia a ser aludida terá maior força ou respaldo
do que a veiculada.

Se, como proclamam habitualmente as Constituições, todos são iguais perante a lei,
podemos esperar que, a fortiori, todos também sejam iguais perante a Administração
Pública.

Nos estados dos EUA em que a pornografia é considerada ilícita, a pornografia


infantil é, a fortiori, proibida e punida severamente pela lei.
ARGUMENTO SILOGÍSTICO OU ENTINEMA
Entinema é um silogismo fundado em dois sentidos diferentes para designar duas formas
particulares de discursos silogísticos. É fundado em premissas não seguras, mas prováveis.
Por exemplo, pressupõe-se que toda mãe ame seu filho, mas isso não equivale,
necessariamente, a uma verdade absoluta e irrefutável, pois há mães que não ame seu filho,
por mais absurdo que isso possa parecer para alguns.

Silogístico:
A reclamante diz que não poderia ser demitida, pois era estável.
Premissa maior: o empregado estável não pode ser demitido.
Premissa menor: a reclamante era estável.
Conclusão (topos): a Reclamante não pode ser demitida.

ARGUMENTO AD HOMINEM
A expressão latina significa, literalmente, contra o homem. Incide no sofisma ad hominem o
argumento que repele a tese-ideia-argumento de outro, com base em qualidades ou condições
especiais dessa pessoa, sem considerar as validade ou invalidade do seu argumento.

Ao invés de se enfrentar o argumento do adversário, ataca-se a pessoa do adversário. Ataca-se


o homem e não a ideia. Busca-se, em suma, convencer o auditório não pela força das ideias,
mas pela simpatia ou antipatia por quem as defende ou representa. Assim, argumenta ad
hominem quem busca desqualificar a tese adversária fazendo ataques pessoais ao caráter do
opositor.

O candidato agora afirma que, para o bem do povo, os impostos sobre alimentos
devem ser reduzidos. No entanto, o público deve saber que em seu último mandato o
candidato votou a favor do aumento destes mesmos impostos. Devemos concluir,
portanto, que o candidato mente descaradamente.

ARGUMENTO AD MISERICORDIAM
Ocorre quando se apela à piedade para que uma conclusão seja aceita. Ou seja, quando se apela à
compaixão, à emoção, se procura despertar pena em quem procuramos convencer por meio de
argumentos.

Meu cliente vem de um ambiente completamente destruído pelo crime e pelas drogas. Seu pai
era traficante e foi morto quando meu cliente ainda era criança. Sua mãe também foi castigada
pelo destino. A vida dura fez com que se envolvesse com drogas e não conseguisse dar uma
educação apropriada para os cinco filhos. A família passou por momentos terríveis, nem
mesmo alimentos muito simples tinham para comer. Foi essa a sua infância, marcada pelo
sofrimento, abandono, desespero. Foi aí que seu destino foi traçado, tornando inevitável o
rumo que assumiu sua vida.

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