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UNIDADE I
João Luís Tavares da Silva
SUMÁRIO
Esta é uma obra coletiva organizada por iniciativa e direção do CENTRO SU-
PERIOR DE TECNOLOGIA TECBRASIL LTDA – Faculdades Ftec que, na for-
COMPETÊNCIA EM CONHECIMENTO 3
ma do art. 5º, VIII, h, da Lei nº 9.610/98, a publica sob sua marca e detém os
NATUREZA DO CONHECIMENTO 7
direitos de exploração comercial e todos os demais previstos em contrato. É
O QUE É CIÊNCIA? 12 proibida a reprodução parcial ou integral sem autorização expressa e escrita.
FINALIDADES PRÁTICAS 15
REITOR
Claudino José Meneguzzi Júnior
PRÓ-REITORA ACADÊMICA
Débora Frizzo
PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO
Altair Ruzzarin
DIRETOR DE ENSINO A DISTÂNCIA (EAD)
Rafael Giovanella
3
SUMÁRIO
“A trajetória de um fóton
que percorre um labirinto de
placas de vidro e espelhos
é sempre ambígua. Em
essência, ele toma todo
caminho possível que
estiver à sua disposição. Esta
ambiguidade permanece
até que a observação,
realizada por um observador
consciente, force a partícula
a decidir que caminho
havia tomado. A incerteza é
resolvida – retroativamente
– e é como se o caminho
selecionado tivesse sido
tomado o tempo todo” (RAY
KURZWEIL, 2007).
Assim como esta realidade “quântica” nos envolve nos dias atuais, a observação torna Dado é um conjunto de fatos distintos e objetivos, relativos aos eventos (DAVENPORT
o ser humano a única espécie capaz de, movida por um sentimento estranho e inexplicável e PRUSAK, 1998). Uma sequência de letras e números, figuras, palavras sem contexto (WIIG,
de observações exógenas sobre sua própria natureza, ser deslocada na direção de novas ob- 1993). Valores obtidos de sensores (SIEMIENIUCH et al., 1999). Resumindo, um conjunto de
servações que, parafraseando Kurzweil, é como se elas estivessem sido feitas o tempo todo. elementos brutos, sem significado, desvinculado da realidade, de interpretação e contexto.
Diz a lenda que o vocábulo curiositas é um neologismo latino atribuído a Cícero, primei-
ramente usado em suas “Cartas a Atticus” (Silva et al., 2018), que se origina da raiz latina
“cur” que significa “por quê”. Logo, a curiosidade tem um viés positivo, pois curioso é aquele
que procura saber o “porquê” das coisas. Isto é uma das essências da pesquisa científica.
Porém, este conhecimento científico não necessariamente diz respeito a qualquer co-
nhecimento, o conhecimento pode ser informal ou vulgar, advindo de observações não pla-
nejadas e exaustivas interações com algum domínio, como um agricultor que conhece o
de pragas e o tipo de solo adequado para as diferentes culturas, mesmo não tendo formação
acadêmica ou profissional alguma para isto, mas obteve este conhecimento de suas inúme-
ras tentativas e erros ou mesmo a partir de informações de outras pessoas. Tampouco po-
SIEMIENIUCH et al.,1999).
mento e sabedoria.
luz das experiências e observações imediatas do mundo ao nosso redor. É uma forma
de conhecimento que permanece no nível das crenças vividas, segundo uma inter-
pretação previamente estabelecida e adotada pelo grupo social. Surge de uma forma
mação do conhecimento.
Fonte: Autor Entretanto, é importante notar que conhecimento do senso comum pode produ-
zir conhecimento científico, pois ditos populares podem gerar questões que, às vezes,
NATUREZA DO CONHECIMENTO
levam à pesquisa e à investigação científica, ou seja, aquilo a que o senso comum não
• Superficial, quando se conforma com a aparência, com aquilo que se pode comprovar simplesmente es- Assim, o conhecimento religioso ou teológico parte do princí-
tando junto das coisas: expressa-se por frases como “porque o vi”, “porque o senti”, “porque o disse- pio de que as “verdades” tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por
• Sensitivo, quando está relacionado a vivências ou estados de ânimo e emoções do cotidiano dos indivíduos. CONHECIMENTO FILOSÓFICO
• Subjetivo, se é o próprio sujeito que organiza suas experiências e conhecimentos, através de sua própria O conhecimento filosófico é definido a partir da realidade, em seu
experiência e os recolhidos “por ouvi dizer”. contexto universal, sem soluções definitivas para as questões univer-
• Assistemático, se não foi organizado a partir de um método ou uma sistematização de idéias, nem quanto uma interpretação a respeito do homem e de sua existência concreta,
a forma de adquiri-las ou na tentativa de validá-las. resumindo-se principalmente na tarefa de reflexão. Por exemplo, sem
• Acrítico, pois, verdadeiros ou não, a pretensão de que esses conhecimentos o sejam não se manifesta rais, como por exemplo: “– As máquinas substituirão a força de traba-
sempre de uma forma crítica. lho humana?”; “– As conquistas espaciais comprovam o poder ilimita-
do do homem?”, etc.
CONHECIMENTO TEOLÓGICO
Conforme Trujillo (1974), o conhecimento filosófico é não veri-
O conhecimento teológico é o conhecimento religioso vinculado às crenças, à fé e à própria religião de ficável, já que os enunciados das hipóteses filosóficas, ao contrário do
cada indivíduo. É uma forma de conhecimento em que as suas origens ou consequências não estão em dis- que ocorre no campo da ciência, não podem ser confirmados nem re-
cussão, envolvendo a formação moral e espiritual de cada indivíduo, conforme Gerhardt e Silveira (2009). futados. Ainda, conforme Lakatos e Marconi (2003), o conhecimento
Esse conhecimento está, pois, intimamente relacionado a uma Divindade, um ser invisível, ou qualquer en- filosófico é caracterizado pelo esforço da razão pura para questionar os
tidade entendida como ser supremo, dependendo da cultura de cada povo, com quem o ser humano se rela- problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unica-
ciona por intermédio da fé religiosa. mente recorrendo às luzes da própria razão humana.
Constitui o nosso objeto fundamental de estudo. Constitui o conhecimento O cientista é um tipo de sujeito cognoscente, ou seja, quem realiza o ato do conhecimento, que, no
real e sistemático, próximo ao exato, que ultrapassa o fenômeno em si, as cau- processo de apreensão da realidade do objeto, pode penetrar as diversas áreas do conhecimento, apesar
sas e leis. Por meio da classificação, comparação, aplicação dos métodos, análi- da divisão “metodológica” entre conhecimento popular, filosófico, religioso ou científico. Por exemplo,
se e síntese, o pesquisador extrai do contexto social, ou do universo, princípios ao estudar o homem, pode concluir uma série de conjecturas sobre sua atuação na sociedade, baseado no
e leis que estruturam um conhecimento rigorosamente válido e universal. Neste, senso comum ou no conhecimento empírico, enquanto pode-se analisá-lo como um ser biológico, veri-
são feitos questionamentos e enunciadas explicações sobre os fatos, através de ficando, através de investigação experimental, as relações existentes entre determinados órgãos e suas
procedimentos que possam levar ao resultado com comprovação. Não é considera- funções. No nível filosófico, pode questionar-se quanto a sua origem e destino e quanto a sua liberdade.
do algo pronto, acabado e definitivo, busca constantemente explicações, soluções, E, do ponto de vista teológico, pode observá-lo como ser criado pela divindade, à sua imagem e seme-
revisões e reavaliações de seus resultados, pois, segundo Cervo e Bervian (2002), a lhança, e meditar sobre o que dele dizem os textos sagrados (LAKATOS e MARCONI, 2003).
Muitas vezes, todos estes tipos de conhecimento podem coexistir no mesmo cientista, quando, por
Via de regra, o conhecimento científico é real já que está baseado em ocor- exemplo, dedica-se ao estudo da física, sendo crente praticante de alguma religião e, ainda, atrelado a
rências ou fatos, que se manifestam de algum modo no mundo (TRUJILLO, 1974). um sistema filosófico. Nada o impede, entretanto, em muitos aspectos de sua vida cotidiana, de agir se-
Caracteriza-se por apresentar proposições ou hipóteses cuja veracidade ou falsi- gundo conhecimentos populares baseados no senso comum (LAKATOS e MARCONI, 2003).
dade são atestadas através da experiência e não apenas pela razão, como no caso do
conhecimento filosófico. O conhecimento científico é sistemático, pois lida com um É por este motivo que Trujillo (1974) também sistematiza as características dos quatro tipos de co-
saber ordenado logicamente, formando um sistema de ideias (teoria) e não conheci- nhecimento através dos seguintes atributos:
podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência. Pode ser falível, pois • Valorativo: os conhecimentos popular, filosófico e religioso são definidos por valores subjeti-
não é definitivo, absoluto ou final. Novas proposições e o desenvolvimento de téc- vos, ideológicos, crenças, etc., a partir de posições sagradas (Religioso) ou hipóteses de difícil
nicas podem reformular o acervo de teoria existente (LAKATOS e MARCONI, 2003). comprovação (filosófico).
• Real: o conhecimento científico é real, pois lida com fatos ou evidências que se ma-
forma sobrenatural.
dos com a aparência da observação e não são definitivos, absolutos, já que novas
por terem sido reveladas de forma sobrenatural ou por serem capaz de apreen-
teste da experimentação.
• Sistemático: os conhecimentos científico, filosófico e religioso são definidos como sis- O Quadro 1 sintetiza a distribuição das caracterizações de Trujillo (1974), para os qua-
temáticos quando lidam com um saber ordenado logicamente, formando um sistema tro tipos de conhecimento.
ganiza duas observações de uma maneira muito particular no conhecimento popular. Valorativo Real (factual) Valorativo Valorativo
tidiano observável do sujeito, quando as hipóteses e proposições são validadas através Falível Falível Infalível Infalível
de teoria e experimentação.
Assistemático Sistemático Sistemático Sistemático
• Não-verificável: conhecimento filosófico e religioso não são verificáveis quando o co- Verificável Verificável Não-verificável Não-verificável
nhecimento emerge da experiência e não da experimentação ou se as evidências estão
implícitas por uma atitude de fé perante um conhecimento revelado. Inexato Exato Exato Exato
• Exato: conhecimentos científico, filosófico e religioso são exatos quando podem ser re-
O QUE É CIÊNCIA? b. função: uma expressão de aperfeiçoamento da relação do homem com o seu mun-
Voltando a nossa premissa inicial de que o curioso é aquele que procura saber o “porquê”
c. Objeto: constitui o foco de observação da ciência, pode ser:
das coisas, é dessa forma que surge a ciência (LAKATOS e MARCONI, 2003).
do uso da consciência crítica que levará o pesquisador a distinguir o essencial do superficial e o II. formal, o enfoque especial, em face das diversas ciências que possuem o mesmo
principal do secundário.” Nesta premissa, ciência significa fornecer respostas dignas de confian- objeto material.
ça sujeitas a críticas, como uma forma de entender e compreender os fenômenos que ocorrem. A
observação sistemática dos fatos é uma atividade importante para a ciência, pois, por intermédio A ciência é objetiva pois baseia-se no conhecimento científico, mesmo que existam
da análise e da experimentação, os resultados podem ser avaliados universalmente. áreas do conhecimento que não são objetivas, mas racionais, sistemáticas e verificáveis,
como por exemplo, a lógica formal e a própria matemática. Também existem disciplinas
Para Oliveira (2002), a ciência trata do estudo, com critérios metodológicos, das relações que lidam com os fatos, objetos e materiais, de modo empírico. Essa dicotomia entre as
existentes entre causa e efeito de um fenômeno qualquer no qual o estudioso se propõe a de- diferentes áreas do conhecimento classifica as ciências em ciências formais e ciências
monstrar a verdade dos fatos e suas aplicações práticas. Neste ponto, é predominantemente sis- fáticas (Köche, 1997), sintetizaremos melhor estas ideias na próxima seção.
CLASSIFICAÇÃO E DIVISÃO DA CIÊNCIA Nérici (1978) considera, além da complexidade crescente de Comte, também o
Como evidenciado na seção anterior, o objetivo, a função e o objeto das Ciências denotam uma
com seu conteúdo, seu objeto ou temas, sua diferença de enunciados e metodologias empregadas. Física, Química, Mineralogia, Geologia
FÍSICO-
QUÍMICAS
Geografia, Física
Retornando a Köche (1997), em termos bem mais gerais, as ciências formais se ocuparão
com coisas abstratas e símbolos só existentes na mente humana, no plano conceitual, como os nú- BIOLÓGICAS Botânica, Zoologia, Antropologia
meros, por exemplo. São também chamadas de ciências formais e não empíricas, pois comprovam Psicologia, Lógica,
Psicológicas
suas proposições sem necessidade de experimentos. As ciências fáticas são exclusivamente “ma- Estética, Moral
História, Geografia
teriais, seu método é a observação e a experimentação, e seu critério de verdade é a verificação.” MORAIS Históricas
humana, Arqueologia
(ASTI VERA, 1974). Também tratadas como ciências empíricas, por se dedicarem à comprovação
Sociais e Sociologia, Direito,
e verificação dos fatos e acontecimentos do mundo. Por este motivo utilizam símbolos interpre- Políticas Economia, Política
tados. As ciências fáticas podem ser divididas em ciências naturais (Física, Química e Biologia) e Cosmologia Racional, Psicologia Racional,
METAFÍSICAS
Teologia Racional
ciências sociais (Sociologia, Ciência Política, Direito, Economia, História e Administração).
Fonte: Adaptado de Lakatos e Marconi (1985).
como Conhecimento, conforme ilustrado na Figura: nas e está enraizado na mente das pessoas.
Do ponto de vista prático, Nonaka e Takeuchi (1997), apresentam o conhecimento SINOPSE DA UNIDADE
explícito e o conhecimento tácito.
dos. Existe, por parte da pesquisa científica, uma espécie de dimensão técnica que refere-
Finalmente, concluiu-se com uma breve ideia sobre conhecimento prático, já que este
-se ao conhecimento prático de saber executar uma tarefa e observar um fenômeno, e uma
é o principal objeto de estudo do cientista que se utiliza de inúmeras ferramentas formais e
dimensão cognitiva, capaz de elaborar esquemas, modelos mentais, crenças e percepções
científicas para compreender o conhecimento existente e criar conhecimentos.
que refletem nossa imagem de realidade (o que é) e nossa visão do futuro (o que deve ser).
c. Por que o conhecimento científico se esforça para ser exato e claro? Isso tem a ver com a busca da verdade?
2. Correlacione as afirmações a seguir sobre os tipos de conhecimento com as situações apresentadas para eles.
a. Empírico
b. Científico
c. Filosófico
d. Religioso
( ) Gelatina diet (sem adição de açucar), contendo três vitaminas e dois sais minerais, é indicada para quem
necessita fazer tratamento de ingestão controlada de açúcar.
( ) O ato de benzer pode curar dor de cabeça, mas apenas se for feito antes do pôr do Sol.
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