Você está na página 1de 3

PENSAMENTO FILOSÓFICO

Juan Manuel navarro Cordon


Tomas Calvo Martinez

Como as restantes culturas antigas, a cultura grega fundava-se no mito, transmitido


e ensinado pelos poetas, educadores do povo, especialmente HOMERO e HESÍODO. O
mito oferecia respostas orientadoras acerca da natureza e destino do ser humano, acerca do
aparecimento e estrutura do Cosmos.
No dealbar do séc. VI a.C., e em consonância com as profundas transformações de
caráter cultural e social, as inteligências mais despertas sentiram a necessidade de substituir
as explicações míticas por outro tipo de explicação. Surgiu a filosofia como propósito de
racionalizar a interpretação do homem e do universo, das relações dos homens entre si e
destes com a natureza.
A atitude filosófica é radical num duplo sentido: na medida em que as suas questões
abarcam a totalidade do real e na medida em que pretende atingir os princípios últimos do
real.
A filosofia e a ciência surgem quando o mito é substituído pela explicação racional.
Ou seja o logos substitui o mito.
O CENÁRIO:
No final do século VII a. C. opera-se uma profunda transformação na sociedade
grega. Atenas se torna um movimentado mercado e porto, o local de encontro de muitas
raças de homens e de diversos cultos e costumes, cujo contato e cuja rivalidade gerarão
comparações, análise e reflexão. O comércio assume uma importância definitiva: Aparece a
moeda. As relações comerciais exigem novas normas de justiça e de direito como base para
as trocas. As viagens trarão novos conhecimentos técnicos, geográficos e etnológicos. O
contato com outras civilizações apresenta novas formas de organização da vida e que cada
raça representa seus deuses de maneira diferente. O ensinamento rotineiro dos poetas
começa a aparecer como inadequado no que diz respeito à moral, aos valores bélicos e
aristocráticos abrindo caminho para a convicção de que a interpretação do universo e da
convivência humana deve assentar em bases inteligíveis, racionais.
O MITO:
Pode-se, superficialmente, dizer que é o conjunto de narrativas e doutrinas
tradicionais que ofereciam uma explicação total onde se encontrava respostas para os
problemas e enigmas fundamentais acerca da origem e natureza do Universo, do homem, da
civilização e da técnica, da organização social, etc.
O mito acarretava uma atitude intelectual perante a realidade. Duas características
desta atitude eram: uma é que as forças naturais (o fogo, o vento, etc.) são personificadas e
divinizadas. A outra é que, em consonância com a anterior, os fenômenos do Universo
dependem da vontade de um deus ( dos deuses em geral). As conseqüências disso é que os
fenômenos naturais – bem como a conduta humana, individual e coletiva – são em grande
medida imprevisíveis, sucedem de modo arbitrário.
O LOGOS:
A ciência só é possível enquanto busca das leis, das regularidades que regem a
natureza. A explicação racional só pôde começar quando a idéia de arbitrariedade é
suplantada definitivamente pela idéia de necessidade, ou seja quando se impõe a convicção
de que as coisas acontecem quando e como têm de acontecer. A lei, a ordem, o cosmos.
Esta convicção está relacionada com a idéia de permanência ou constância. Por
exemplo a água , apesar de diferentes aparências, se comporta de maneira constante; possui
pois propriedades permanentes. Esta maneira permanente ou constante de ser os gregos vão
denominar essência (eidos ). A essência é o que uma coisa é apesar das suas possíveis
mudanças de aparências ou estado
Os gregos vão organizar uma série de conceitos dois a dois, cuja trama constitui o
sistema de coordenadas da sua explicação do real:
Permanente x mutável
Essência x aparência
Unidade x multiplicidade
Razão x sentidos
Conhecer as coisas será, então, conhecer o que elas verdadeiramente são, o que têm
de comum e permanente. Os gregos ficaram firmemente convencidos de que por muito útil
que o conhecimento sensível possa ser, os sentidos não bastam para nos proporcionar esse
conhecimento. É necessário um esforço intelectual, racional para atingir o ser das coisas.
Há, pois, essências ou maneiras de ser comuns a uma multiplicidade de indivíduos. É
nesta idéia que se baseia a atividade intelectual que consiste em classificar E se, animal,
mineral, e vegetal forem variedades ou estados distintos duma única substancia!?
Outra convicção fundamental é que todo o universo se reduz, em última análise, a
um ou a muito poucos elementos. Este é outro pilar sobre os quais assenta a investigação
filosófica. Sem ela a investigação cientifica seria igualmente impossível.
Agora já nos é possível compreender a originalidade e a transcendência histórica da
interrogação dos filósofos gregos acerca do princípio (arché) último do real.
PHYSIS:
Natureza ou physis possui para os gregos, como para nós, dois grandes usos ou
acepções. Fala-se freqüentemente da natureza como o conjunto de seres que povoam o
Universo, excetuando deste conjunto as coisas produzidas pelo homem. Igualmente com
freqüência o termo adquire um segundo significado. Neste caso, natureza quer dizer o que as
coisas são, aquilo que, no parágrafo anterior, denominamos por essência, modo de ser
permanente ou constante.
Salientaremos alguns aspectos que caracterizam a natureza, segundo a filosofia
grega.
a) O conceito natureza anda indissoluvelmente ligado ao conceito de necessidade.
No tocante ao Universo como totalidade, traduz-se no fato de aquele ser um todo
ordenado, um Cosmos e não um Caos. O Universo só poderia ser um todo
ordenado se os diferentes seres que o integram estivessem no seu lugar e se
comportassem da forma que lhes compete; é precisamente a natureza dos
diferentes seres (no sentido intrínseco) que determina o seu lugar no Universo e a
sua maneira de comportar-se.
b) A natureza não é algo estático, inerte. Como totalidade revela uma ordem
dinâmica, na qual os movimentos dos astros, as estações, as gerações dos seres
vivos, etc., se sucedem ordenadamente.
c) A natureza implica, pois, movimento e atividade, mas movimento e atividade
intrínsecos e próprios do ser natural. Este aspecto marca a separação radical entre
os seres naturais e os seres artificiais ou artefactos. Nada nascerá se semear-se
cadeiras de pinho. Precisamente em virtude desta atividade intrínseca e própria
que caracteriza a natureza, o Universo terá de ser concebido segundo o modelo de
um organismo vivo e nunca como o de uma maquina, como o é na modernidade.
A natureza, enquanto modo de ser próprio e permanente das coisas, identifica-se
realmente com aquilo que denominávamos essência. Existe, no entanto, uma
importante diferença de matiz resultante do caráter dinâmico da natureza que
assinalamos: a essência é a maneira de ser permanente das coisas por oposição aos
seus aspectos variáveis e mutáveis; a natureza é esse mesmo modo de ser
permanente, mas enquanto determina um certo tipo de atividade ou operação própria.
Uma coisa é a natureza da água e outra é a essência da água. Enquanto a essência prescinde
dos aspectos mutáveis e variáveis das coisa, a natureza explica precisamente essas
variações e mudanças. O conceito de natureza estabelece uma ponte entre os membros
opostos da lista que apresentamos.

Você também pode gostar