Você está na página 1de 12

EUCARISTIA VIII.

Pg. 171 até 184.

O SACRAMENTO DA ELEVACÂO.
“Senhor! Aqui estamos bem...” (MT. XVII, 4; Lc. IX, 33).

“Elevemos - nos devotamente, elevemos - nos com temor. Estejamos


atentos, para oferecermos em paz a santa oblação” (N. T. ; usei o texto da
liturgia , por não encontrar melhor tradução de “tenir”.) Quando, depois
da confissão da fé, ouvimos esse chamado, produz – se na Liturgia algo de
difícil expressão que apenas pode ser percebido interiormente,
espiritualmente; uma transcendência, uma passagem EIS ALLO GENOS, a
uma outra ordem. Algo foi terminado e, com tanta evidência, algo outro
estâ começando.

O que será? Para essa pergunta, eis aqui a resposta admitida; é o inicio do
cânone eucarístico, a parte principal da Liturgia, no decorrer da qual o
sacramento é realizado, ou seja, a conversão ou transposição das espécies
eucarísticas do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Cristo. Se bem que
formalmente exata essa resposta chama por sua vez uma interrogação e
ela exige precisões. De fato, como tentaremos demonstrar, essa passagem
pode ser entendida de varias maneiras, enquanto que dessa ou outra
interpretação vai depender a compreensão propriamente dita da Liturgia,
do seu papel, não apenas nas nossas vidas e até na vida da Igreja, mas
ainda sim no mistério da salvação do mundo, como retorno e elevação da
criatura até o Criador.

Em primeiro lugar, o que significa ou, mais exatamente, o que pode e deve
significar essa definição; a parte principal da Liturgia? Esse adjetivo supõe
uma correlação entre o que é principal e o que não o é; senão, o termo
não tem mais sentido. Porém a teologia escolástica, debaixo do poder
discriminatório de quem essa definição tornou – se universalmente
admitida e como que evidente em se, não ocupou – se jamais de nenhuma
outra parte e nem se ocupa hoje. (Cfr. Aurélio; Férule; férula, palmatória,
critica literária, autoridade, poder discriminatório). No inicio no Ocidente,
e logo depois, por atração e assimilação, no Oriente, é ela que reportou
todo o sacramento a uma única parte (o “Cânone eucarístico”); e nem
isso; a um elemento dessa parte (a ”transubstanciação”). Sob o efeito
dessa redução, todas as outras partes das quais eu já tratei nos
precedentes capítulos, em relação a esta que seria de fato não apenas a
parte principal, mas sim a única, aparecem heterogêneas e INUTEIS para
definir e compreender teologicamente o sacramento da Eucaristia. E, em
razão dessa inutilidade doutrinal, elas se tornaram um domínio reservado
aos especialistas da Liturgia e dos ritos, e também a partilha do
“sentimento religioso”, com sua tendência imoderada em encontrar em
tudo um “simbolismo figurativo” que, em geral, não tem relação nenhuma
com o sacramento.

Aquele que teria lido com alguma atenção os precedentes capítulos


entendera sem pena que decididamente eu rejeito esse sentido do
adjetivo “PRINCIPAL” acoplado a essa parte da Liturgia, mesmo se é
capital, e que vamos examinar agora. Eu o faço, pois vejo ali um exemplo
incontestável e uma demonstração do caráter não apenas incompleto e
insuficiente, mas também falso da nossa teologia escolástica, morta –
nascida e “ocidentalizante”, pois sua falsidade se torna particularmente
evidente na sua aproximação do santo dos santos da Igreja; a Eucaristia e
os sacramentos.

Não é então para parecer solene, mas em plena consciência e


responsabilidade que chamei de “SACRAMENTO” no titulo de cada
capitulo a entrada, assembleia, leitura e proclamação da Palavra de Deus,
ofertório, beijo da paz e confissão da fé. Eu, de fato, me dei por tarefa de
mostrar, tanto quanto me for possível, a divina Liturgia, como sendo um
conjunto, como Sacramento único se bem que complexo, cujo todas as
partes, com a ordem e a estrutura de cada uma dentre elas, a sua
recíproca subordinação, cada uma sendo necessária para todas e todas
indispensáveis para cada uma, nos revelando o sentido verdadeiramente
divino, inesgotável, supra eterno e universal do que estâ sendo operado e
que se realiza.

Tais são, no entanto, a tradição e a experiência vivas da Igreja; o


sacramento da Eucaristia é inseparável da divina Liturgia, pois que a sua
função, seu desenrolar, seus ritos consistem precisamente em expor para
nos o sentido e o conteúdo do Sacramento, em introduzir-nos nele, e em
fazer de nos nele participantes e comungantes.

Ora, é justamente essa unidade, essa integralidade da Eucaristia e sua


relação muito intima do Sacramento com a Liturgia que a teologia
escolástica destrói extraindo arbitrariamente um “momento” ou um
“elemento” (ato ou formula) para definir apenas por ele somente todo o
sacramento. E não é questão aqui de nuances nas definições abstratas,
nem de subtilidades teológicas; é questão do que hà de mais profundo e
essencial; onde e como buscar a resposta para a pergunta; O QUE E QUE
SE REALIZA NA EUCARISTIA?

Se, para a Igreja, não somente a resposta, mas também a pergunta, ou


seja, a maneira correta de colocar ela é enraizada na Liturgia, é que, para a
Igreja, a Eucaristia é a coroação e realização da Liturgia, assim como esta o
é da fé, da vida e da experiência inteiras da Igreja. Portanto a teologia
escolástica não interroga direitamente a Liturgia em se – mesma sobre o
sentido do sacramento. Seu defeito, sua tragédia tem a ver com o fato de
ela deslocar a questão que ela substitui por outra, fundamentada não
mais na experiência da Igreja, mas sim sobre “a raciocinação desse
tempo” (Cfr. I Cor. 1, 20), partindo das interrogações, das categorias e,
pode se dizer ainda, da curiosidade de uma razão decaida que a fé não
regenerou nem iluminou. Então, reportando – se a sua própria definição
do sacramento, suficiente e A PRIORI, ela lhe impõe uma problemática
que exigiria na realidade ser referida à experiência da Igreja para ser
avaliada à luz desta.

II. Pag. 174 até 176.


Há séculos, essa problemática foi reduzida a duas questões; QUANDO E
COMO? Quando; a saber; em qual momento o pão e o vinho se tornam o
Corpo e o Sangue de Cristo? Como, a saber; em virtude de qual
causalidade isso realiza – se? Centenas de trabalhos foram escritos para
responder a essas duas perguntas, objetos de intensas controversas,
ontem como hoje, entre católicos e protestantes, entre Oriente e
Ocidente. Basta, porém tentar reportar todos esses argumentos e teorias
à experiência imediata da Igreja, à celebração no templo, para constatar
até que ponto eles permanecem exteriores a esta, eles lhe são
artificialmente aplicados e não são, por via de consequência, nem
esclarecedores e então nem uteis.

De fato, o que significa, não verbalmente ou abstratamente, mas sim


realmente, para a nossa fé, para a comunhão com Deus, para a vida
espiritual e a salvação a distinção aristoteliciana entre SUBSTÂNCIA e
ACIDENTE, por meio da qual a escolástica responde à questão de saber
como efetua – se a TRANSBSTANCIACÂO do pão e do vinho em Corpo e
Sangue. A substância do Corpo de Cristo viria tomar o lugar da do pão,
enquanto que os acidentes deste substituiriam os do Corpo? Para a fé que
confessa todo domingo “com temor de Deus e amor”; “Isto mesmo é o
Teu Corpo muito puro... isto mesmo é o Teu Sangue precioso”, ela não
representa NADA; para a razão, ela apenas representa um terrível
constrangimento imposto às leis mesmas sobre as quais ela pretende
fundamentar – se.

Mesma situação para a questão de saber quando e qual causalidade


produz tal transubstanciação. A escolástica ocidental responde; quando o
sacerdote pronuncia as palavras da INSTITUICÂO: “Isto é o meu Corpo, isto
é o meu Sangue”. Eis ai a “formula consagratoria”, ou seja, a causa formal,
“necessária e suficiente”. A teologia ortodoxa, por sua parte, rejeitando
mesmo a doutrina latina (e com toda razão assim como o veremos!)
afirma que a conversão é efetuada não por “palavras de instituição”, mas
sim por uma EPICLESE, querendo dizer pela invocação do Espírito Santo,
oração que, na nossa Liturgia, segue imediatamente essas palavras.
Porém, ligada pelo mesmo método e a mesma “problemática”, ela não faz
aparecer nem um pouco em que consistem no final das contas o sentido e
a importância da controversa. O resultado é que uma “formula
consagratoria” e um “momento” tomam a vez de outros, sem demonstrar
por isso a natureza da epiclese nem o seu verdadeiro significado dentro da
Liturgia.

O que estamos dizendo ali, e tem de ser feito sem cessar com insistência,
e não tem por objetivo de suprimir pura e simplesmente essas questões,
persuadindo – nos da inutilidade ou da impossibilidade para a teologia de
compreender e explicitar a Eucaristia, invocando lugar comum, na
realidade, blasfematório; “Não se pode compreender isto, basta acreditar
nisso”. Ora, eu acredito – o e confesso – o; para a Igreja, para o mundo,
para o ser humano, não há questão mais importante, mais substancial que
a de saber o que é realizado na Eucaristia. Essa questão é exatamente de
mesma natureza que a fé, a qual vive da sede de acessar a inteligência da
Verdade, de oferecer a Deus um serviço “razoável”, LOGIKE (Rom. XII, 1),
enraizado na Sabedoria de Deus e manifestando – a. A questão concerne
de fato o sentido ultimo e o destino de tudo o que é, a elevação misteriosa
até ali, onde “Deus será tudo em todos!” E então uma questão que emana
da própria fé, como o ardor místico do coração nos discípulos no caminho
de Emmaüs. Assim é importante liberar ela, purificar ela, soltar ela
primeiramente de tudo o que a torna escurecida, diminuída e falsa; e
então, libertar ela em primeiro lugar de um sistema de “perguntas” e de
“respostas”, cujo gravíssimo erro consiste em não explicar o terrestre pelo
celeste, mas sim reporta o celeste e o surmundial ao terrestre, as suas
categorias humanas, “apenas humanas”, indigentes e enfermas.

Efetivamente, com o chamado “Elevemos – nos!”, nôs entramos na parte


PRINCIPAL da divina Liturgia. Porém, ela é principal em relação às outras
partes, relacionada com elas e não por se – sô; principal porque tudo o
que a Liturgia testemunha, o que ela manifesta e para onde ela nos eleva,
encontra nesta parte a sua realização; o sacramento da elevação
começou. Ele teria sido impossibilitado sem o da assembleia, sem o do
ofertório, sem o da unidade; mas justamente por realizar o conjunto da
Liturgia, ele nos oferece a inteligência do Sacramento que ultrapassa toda
razão e, portanto revela e manifesta tudo. O convite do diácono “em
elevarmos – nos”, em permanecer “BEM”, chama a nossa atenção
espiritual sobre a coerência e integridade da “hierurgia” eucarística.

III. Pg. 177 até 179.


BEM... Essa palavra, como todas as palavras da língua decaida do homem,
azedou –se, esvaziou – se; ela significa mais ou menos qualquer coisa, que
isso convenha a nos – mesmos, ao mundo ou ao diabo. De longe em
longe, e ainda que parcialmente, na poesia, nas artes da palavra, ela
ressurge com a sua pureza e força originais, com o seu sentido inicial e
divino. Como toda palavra verdadeira, de fato, ela vem de
Deus. Assim, para perceber ela com a sua sonoridade litúrgica, para
compreender o que ela significa no inicio da elevação, temos de nos
erguer para Deus, ouvir ela onde ela ressoa pela primeira vez como
revelação da essência primaria, (primordial?)

“E Deus viu que isto era bom” (ou “bem” ou “bonito”) (Gen. 1, 10,
KALON). Eis aqui essa palavra com a sua vibração inicial, essa palavra
como principio. Mas como ouvir ela, captar ela, receber ela? Como
explicar ela com a ajuda de outras palavras, enquanto todas são
secundarias em relação a ela e que é apenas dela que todas as outras
adquiram o próprio sentido? Claro, “a “cultura”, a “ciência”, a filosofia”
são ricamente letradas; elas sabem o bastante para defini-la formalmente;
é “bom, bonito ou bem” o que corresponde a sua
natureza, a sua finalidade, a sua concepção, o que na
forma ou realização é adequado ao conteúdo ou ao dado.
Por aplicação ao texto bíblico, resulta disso; Deus viu que o que Ele tinha
criado correspondia ao seu desígnio e que, por via de consequência, era
bom... Isso é exato segundo a correção da letra, mas quantas palavras são
indigentes e incapazes de transmitir o essencial; a própria revelação da
BONDADE (ou da BELEZA) do que é BEM, a revelação sobre o mundo,
sobre a vida, sobre nos – mesmos, que esse “BEM” divino carrega,
manifesta a plenitude da alegria, a maravilhosa admiração que dali irradia
e pelas quais Ele vivifica! Então, onde buscar não definições ou
explicações, mas sim de primeira, na própria experiência, o conhecimento
imediato desse “bem“ original e puro?

Nôs os encontramos (experiência e conhecimento), ouvindo e recebendo


esta palavra onde ela ressoou novamente em poder e plenitude, como a
resposta do homem ao “BEM” de Deus; “Senhor, é bom estarmos aqui”
(KALON, MT. XVII, 4 ; Lucas; IX, 33). Por esta resposta dada ali, no monte
da Transfiguração, testemunho estâ dado para sempre do que o homem
recebeu o “BEM” de Deus como sua vida, como sua vocação. Ali, na
“nuvem luminosa” que o havia irradiado, o homem viu que “era bom,
bem, bonito”, ele o havia recebido e confessado... E por essa visão, por
esse conhecimento, por esta experiência que no seu intimo ele viu a
Igreja. (Cfr. Aurélio; tréfonds; subsolo, o que há de mais intimo, de mais
secreto. )

E dentro desta experiência que se encontram o seu principio e sua


realização, como os de tudo o que estâ em Igreja. De fato, pode se falar da
Igreja ao infinito, tentar explicitar Ela, estudar eclesiologia, discutir da
sucessão apostólica, dos cânones e dos princípios institucionais; sem
reportar tudo a este “Estamos bem aqui”, sem essa alegria da experiência
que ela contém, apenas são palavras acima de outras palavras. (Cfr.
Aurélio; receler; receptar, encobrir furtos, esconder, guardar
preciosamente).

A divina Liturgia, elevação continua em oferenda da Igreja para o Céu,


para o altar da gloria, a luz sem declínio, e a alegria do Reino, concentra
essa experiência, ao mesmo tempo em que ela é a sua fonte e presença, o
dom e a realização. “Permanecendo-nos no templo, nôs acreditamos
estarmos no céu...”. Essas palavras não piedosa retórica, mas expressam a
própria natureza e a função da Igreja tanto quanto de sua oração, e antes
de tudo de sua LITURGIA, precisamente, da ação (ERGON) que revela e
juntamente realiza a essência do sujeito operante. Em que essa consiste,
qual é afinal o sentido da Divina Liturgia, senão a manifestação e o dom
deste ”BEM” divino? “Senhor, estamos bem aqui!”. De qual outra fonte a
Liturgia tiraria sua BELEZA ao mesmo tempo supramundial, mundial,
celeste e cósmica, seu CONJUNTO integral cujo todos os elementos: as
palavras e os sons, cores, tempo e espaço, a dinâmica, o gradual
crescendo mostram se for uma REGENERACÂO do criado, a elevação de
nos – mesmos e do mundo inteiro para o Alto, ali onde o Cristo nos levou
e onde nos é necessário eternamente elevar – nos?

Por via de consequência, por tanto que seja em geral legitimo de falar aqui
de causalidade, de um “QUANDO” e de um “COMO”, a relação causal que
faça da Liturgia um todo e de cada um de suas partes, um degrau e então
a condição de uma nova ascensão, repousa nesse “BEM” do qual a
experiência, o conhecimento e a comunhão constituem a vida da Igreja.
Ele reúne (esse “BEM”) este como nova criatura de Deus. Ele transforma
sua assembleia em ENTRADA e em ELEVACÂO; ele abre a inteligência para
a escuta e a recepção da Palavra de Deus; ele introduz nosso sacrifício,
nossa oferenda dentro do sacrifício de Cristo, único, irreiterável, universal;
ele realiza a Igreja como unidade de fé e de amor; enfim, ele nos conduz
para o limiar diante do qual nôs estamos permanecendo agora; a parte
verdadeiramente capital da Liturgia na qual todo esse movimento
ascensional vai encontrar sua realização na Ceia do Senhor, em Seu
Reino... Se a Liturgia inteira não tivesse sido o dom e a realização deste
“BEM” divino, nôs não saberíamos o que esta sendo realizado nessa parte,
o que a Eucaristia e seu coroamento, ou seja, a transformação do Pão e
Vinho opera junto de nos, com a Igreja, com o mundo, com todos e com
tudo.

E as palavras do diácono que abram essa parte, principal, pois que tudo
vai ser feito ali, testemunham desse “BEM” e nos chamam em
permanecer nele.

IV. Pg. 179 até 181.


Três palavras do celebrante, três breves respostas da assembleia
compõem o “dialogo” pelo qual inicia – se o sacramento da elevação.

Primeiramente é uma benção solene. Ela encontra – se em todas as


orações eucarísticas que chegaram ate-nos, mesmo se as suas
formulações podem variar; desde a, concisa, do DOMINUS VOBISCUM das
liturgias romanas e alexandrinas até a nossa formula trinitária, quase
idêntica a do Apostolo Paolo em II Cor. XIII 13; “Que a graça do nosso
Senhor Jésus Cristo e o Amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo
estejam sempre convosco!”. O sentido dessa benção é o mesmo em
qualquer lugar; a afirmação solene e a confissão do que a Igreja estâ
reunida EM CRISTO e que ela traz a Eucaristia Nele. A saber; em uma
união com Ele, tal que tudo o que nôs fazemos , é Ele que o realiza e tudo
o que Ele realiza nos é dado.

Esse fato é marcado pelo modo inabitual da nossa formula, em relação a


formula usual; Pai, Filho e Espírito Santo. A benção eucarística inicia – se
pela invocação do Cristo, por comunicar a Sua graça. E é assim porque
nesse instante da Liturgia, a benção consiste não em confessar a
santíssima Trindade e sua essência supra eterna, mas sim em mostrar,
atestar, provar, por assim dizer, que o conhecimento de Deus, que forma
a substância da vida eterna (Joâo. XVII, 3), que a reconciliação, a
comunhão e a unidade com Ele nos são dadas , e o são eternamente,
como sendo a nossa salvação. Essa salvação nos é concedida em Cristo, o
Filho de Deus que se fez filho do homem, em “Quem nôs temos a Paz com
Deus... e assim o acesso a graça” (Rom. V, 1,2), “o acesso junto ao Pai em
um único Espírito”(Ef. II, 18). Pois que “nôs temos um único mediador
entre Deus e os homens, um homem, Jésus Cristo.” (Joâo. XIV, 6). A fé
cristâ inicia – se pelo encontro como Cristo, por receber Ele como Filho de
Deus que nos revela o Pai e o Amor do Pai. (I Tim. II, 5), que disse; “ Eu sou
o caminho, a verdade e a vida; ninguém chega ao Pai se não for por me! “
Essa recepção do Filho e essa reunião Nele com o Pai atualizam – se como
a salvação , como vida nova, como o Reino de Deus na comunhão do
Espírito Santo, que é a própria vida divina, o Amor divino, a comunhão
mesma com Deus... E a Eucaristia é exatamente o sacramento de nosso
acesso a deus, de Seu conhecimento e de nossa união com Ele... Oferecida
no Filho, ela o é ao Pai. Oferecida ao Pai, ela realiza – se na comunhão no
Espírito Santo. Assim, a Eucaristia é fonte eternamente viva e vivificante
do conhecimento que a Igreja tem da Santíssima Trindade, não um
conhecimento abstrato (dogma, doutrina), o que ela permanece
infelizmente para numerosos fieis, mas um constante RECONHECIMENTO ,
um encontro, uma experiência e então, uma comunhão com a vida eterna.

V. Pg. 181 até 183.


A ecfonèse seguinte do celebrante: ”Elevemos nossos corações“ (ou
“mantemos os nossos corações no Alto”) pertence exclusivamente à
liturgia eucaristia. Ela não é própria de nenhum outro oficio. Não é um
chamado a nenhum sentimento exaltado. A luz do que precede, pode – se
ver que é uma afirmação do fato que a Eucaristia não se realiza na terra,
mas sim nos céu. “Nos outros, mortos por causa de nossas faltas, Deus nos
vivificou com O Cristo... e nos ressuscitou com Ele e nos fez assentar nos
céus, em Jésus Cristo” (Ef. II, 5-6 ). (Cfr. Aurélio; Assoeir; sentar, assentar).

Sabemos que desde o inicio da Liturgia, desde nossa entrada e de “nossa


Assembleia em Igreja”, nossa elevação para os céus começou, onde nossa
verdadeira vida estâ “escondida com o Cristo em Deus”. Seria necessário
ainda demonstrar que o céu não tem nada a ver com aquele que um
BULTMANN (Teólogo alemão) e seus sucessores empregam – se em
“desmontar” (Cfr. Aurélio; déboulonner; desmanchar uma construção de
ferro) com uma condescendência cientifica, para pretensamente
“desmistificar” (Cfr. Aurélio; retirar o aspecto mitológico, interpretar.)o
cristianismo e explicar –ló ao homem “moderno”, um céu à respeito do
qual o Sâo Joâo Crisostomo tinha dito tudo há um milenário e meio; “ O
que tenho eu a fazer do céu, quando já estou contemplando o Mestre do
Céu, quando eu – mesmo já me torno Céu? ”(49).

Se podemos “manter no Alto” o nosso coração, é que esse “ALTO”


esse Céu, encontra – se em nos e no meio de nos como
pátria autentica e desejada, onde retornamos de um
exílio dilacerante (Cfr. Aurélio; Déchirant; rasgar, dilacerar), pátria
para qual a criação suspira com angustia, da qual ela experimenta uma
sede inextinguível vivendo apenas na sua lembrança. E segundo as
categorias de elevação que nôs falamos do que é
terrestre, de nos – mesmos, da Igreja, e segundo as de
uma descida , do que é celeste, de Deus, de Cristo, do
Espírito Santo. Mas, de fato, nôs estamos falando da mesma
coisa, do céu sobre a terra e da terra que recebe este
como sua verdade ultima.
“O Céu e a terra passarão“ (Mc. XIII, 31 ), eles passarão na
sua ruptura e oposição, porque eles serão transformados
em “novo, Céu e terra nova”(Ap. XXI, 1), em Reino onde
“Deus será tudo em todos”. E para esse Reino dos céus e do Alto,
apenas “a chegar para este mundo”, mas que já estâ aberto em
Cristo e “antecipado” na Igreja, que a Eucaristia nos transporta e
é nele que ela se realiza...
Eis aqui o porquê da exortação; “Elevemos nossos corações!”, ressoando
como um solene e ultimo aviso. “Tememos permanecer na terra”(Sâo
Joâo Crisostomo)(50). Livres somos nôs em permanecer embaixo,
permanecer insensíveis ao progresso para o Alto, não assumir essa
elevação efetivamente difícil. Mas aquele que permanece na
terra não tem lugar na Eucaristia celeste. Nossa própria
presença se torna a nossa condenação. Quando o coro (e por sua boca,
cada um de nos,) responde; “Nôs os temos no Senhor!”, nôs nos tornamos
para o Alto e nôs somos julgados. De fato, como poderia apenas elevar o
seu coração apenas nesse instante, aquele que, apesar de suas quedas e
pecados, não se virou para os céus pela sua vida inteira, que não estaria
medindo sempre todas as coisas da terra pelo Céu? Assim, ouvindo esse
ultimo chamado, temos que nos perguntar; nosso coração estâ virado
para Deus, para o seu tesouro fundamental no céu? Se assim é, quaisquer
que sejam as nossas fraquezas e todas as nossas falhas, nôs somos
recebidos no Céu, nôs estamos vendo agora a Luz e a Gloria do Reino. E
se não é assim, o sacramento da vinda do Senhor para
aqueles que O amam será para nos o sacramento do
julgamento que há de vir.
VI. Pg. 183 até 184.
“Rendemos graça ao Senhor! E digno e justo...”.

Essas palavras abriam a oração judia tradicional de ação de graça. O


Senhor mesmo as pronunciou quando Ele iniciou por essa oração antiga a
nova ação de graça que devia elevar o homem para Deus e salvar o
mundo. E, como também era prescrito, os Apóstolos responderam; “E
digno e justo...”. E cada vez que a Igreja realiza a memória desse ato de
gratidão, Ela o repete seguindo eles e junto d’ eles.
A salvação se consumiu. Depois da noite do pecado, da decadência e da
morte, eis que o novo homem traz para Deus uma ação de graça pura,
intata, livre e perfeita. Ele retoma o lugar que Deus lhe tinha preparado
criando o mundo. Ele se coloca sobre as alturas diante do trono de Deus,
no céu diante da própria Face de Deus; livremente, em plenitude de amor
e de conhecimento, reunindo nele o universo, ele traz a sua ação de graça.
E, Nele, o mundo inteiro afirma e reconhece que essa ação é “digna e
justa”. E o Cristo, o ÚNICO sem pecado. Apenas Ele é o Homem em
plenitude de seu destino, de sua vocação, de sua gloria. Apenas Ele
restabelece Nele – mesmo “a imagem decaida”, e a devolve para Deus.
Assim é a própria ação de graça de Cristo que nôs trazemos agora, da qual
participamos, quando o celebrante inicia a oração eucarística que o Cristo
nos legou e que nos une a Deus nos séculos dos séculos. Fim desse
capitulo.Pg. 184.

Você também pode gostar