Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O SACRAMENTO DA ELEVACÂO.
“Senhor! Aqui estamos bem...” (MT. XVII, 4; Lc. IX, 33).
O que será? Para essa pergunta, eis aqui a resposta admitida; é o inicio do
cânone eucarístico, a parte principal da Liturgia, no decorrer da qual o
sacramento é realizado, ou seja, a conversão ou transposição das espécies
eucarísticas do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Cristo. Se bem que
formalmente exata essa resposta chama por sua vez uma interrogação e
ela exige precisões. De fato, como tentaremos demonstrar, essa passagem
pode ser entendida de varias maneiras, enquanto que dessa ou outra
interpretação vai depender a compreensão propriamente dita da Liturgia,
do seu papel, não apenas nas nossas vidas e até na vida da Igreja, mas
ainda sim no mistério da salvação do mundo, como retorno e elevação da
criatura até o Criador.
Em primeiro lugar, o que significa ou, mais exatamente, o que pode e deve
significar essa definição; a parte principal da Liturgia? Esse adjetivo supõe
uma correlação entre o que é principal e o que não o é; senão, o termo
não tem mais sentido. Porém a teologia escolástica, debaixo do poder
discriminatório de quem essa definição tornou – se universalmente
admitida e como que evidente em se, não ocupou – se jamais de nenhuma
outra parte e nem se ocupa hoje. (Cfr. Aurélio; Férule; férula, palmatória,
critica literária, autoridade, poder discriminatório). No inicio no Ocidente,
e logo depois, por atração e assimilação, no Oriente, é ela que reportou
todo o sacramento a uma única parte (o “Cânone eucarístico”); e nem
isso; a um elemento dessa parte (a ”transubstanciação”). Sob o efeito
dessa redução, todas as outras partes das quais eu já tratei nos
precedentes capítulos, em relação a esta que seria de fato não apenas a
parte principal, mas sim a única, aparecem heterogêneas e INUTEIS para
definir e compreender teologicamente o sacramento da Eucaristia. E, em
razão dessa inutilidade doutrinal, elas se tornaram um domínio reservado
aos especialistas da Liturgia e dos ritos, e também a partilha do
“sentimento religioso”, com sua tendência imoderada em encontrar em
tudo um “simbolismo figurativo” que, em geral, não tem relação nenhuma
com o sacramento.
O que estamos dizendo ali, e tem de ser feito sem cessar com insistência,
e não tem por objetivo de suprimir pura e simplesmente essas questões,
persuadindo – nos da inutilidade ou da impossibilidade para a teologia de
compreender e explicitar a Eucaristia, invocando lugar comum, na
realidade, blasfematório; “Não se pode compreender isto, basta acreditar
nisso”. Ora, eu acredito – o e confesso – o; para a Igreja, para o mundo,
para o ser humano, não há questão mais importante, mais substancial que
a de saber o que é realizado na Eucaristia. Essa questão é exatamente de
mesma natureza que a fé, a qual vive da sede de acessar a inteligência da
Verdade, de oferecer a Deus um serviço “razoável”, LOGIKE (Rom. XII, 1),
enraizado na Sabedoria de Deus e manifestando – a. A questão concerne
de fato o sentido ultimo e o destino de tudo o que é, a elevação misteriosa
até ali, onde “Deus será tudo em todos!” E então uma questão que emana
da própria fé, como o ardor místico do coração nos discípulos no caminho
de Emmaüs. Assim é importante liberar ela, purificar ela, soltar ela
primeiramente de tudo o que a torna escurecida, diminuída e falsa; e
então, libertar ela em primeiro lugar de um sistema de “perguntas” e de
“respostas”, cujo gravíssimo erro consiste em não explicar o terrestre pelo
celeste, mas sim reporta o celeste e o surmundial ao terrestre, as suas
categorias humanas, “apenas humanas”, indigentes e enfermas.
“E Deus viu que isto era bom” (ou “bem” ou “bonito”) (Gen. 1, 10,
KALON). Eis aqui essa palavra com a sua vibração inicial, essa palavra
como principio. Mas como ouvir ela, captar ela, receber ela? Como
explicar ela com a ajuda de outras palavras, enquanto todas são
secundarias em relação a ela e que é apenas dela que todas as outras
adquiram o próprio sentido? Claro, “a “cultura”, a “ciência”, a filosofia”
são ricamente letradas; elas sabem o bastante para defini-la formalmente;
é “bom, bonito ou bem” o que corresponde a sua
natureza, a sua finalidade, a sua concepção, o que na
forma ou realização é adequado ao conteúdo ou ao dado.
Por aplicação ao texto bíblico, resulta disso; Deus viu que o que Ele tinha
criado correspondia ao seu desígnio e que, por via de consequência, era
bom... Isso é exato segundo a correção da letra, mas quantas palavras são
indigentes e incapazes de transmitir o essencial; a própria revelação da
BONDADE (ou da BELEZA) do que é BEM, a revelação sobre o mundo,
sobre a vida, sobre nos – mesmos, que esse “BEM” divino carrega,
manifesta a plenitude da alegria, a maravilhosa admiração que dali irradia
e pelas quais Ele vivifica! Então, onde buscar não definições ou
explicações, mas sim de primeira, na própria experiência, o conhecimento
imediato desse “bem“ original e puro?
Por via de consequência, por tanto que seja em geral legitimo de falar aqui
de causalidade, de um “QUANDO” e de um “COMO”, a relação causal que
faça da Liturgia um todo e de cada um de suas partes, um degrau e então
a condição de uma nova ascensão, repousa nesse “BEM” do qual a
experiência, o conhecimento e a comunhão constituem a vida da Igreja.
Ele reúne (esse “BEM”) este como nova criatura de Deus. Ele transforma
sua assembleia em ENTRADA e em ELEVACÂO; ele abre a inteligência para
a escuta e a recepção da Palavra de Deus; ele introduz nosso sacrifício,
nossa oferenda dentro do sacrifício de Cristo, único, irreiterável, universal;
ele realiza a Igreja como unidade de fé e de amor; enfim, ele nos conduz
para o limiar diante do qual nôs estamos permanecendo agora; a parte
verdadeiramente capital da Liturgia na qual todo esse movimento
ascensional vai encontrar sua realização na Ceia do Senhor, em Seu
Reino... Se a Liturgia inteira não tivesse sido o dom e a realização deste
“BEM” divino, nôs não saberíamos o que esta sendo realizado nessa parte,
o que a Eucaristia e seu coroamento, ou seja, a transformação do Pão e
Vinho opera junto de nos, com a Igreja, com o mundo, com todos e com
tudo.
E as palavras do diácono que abram essa parte, principal, pois que tudo
vai ser feito ali, testemunham desse “BEM” e nos chamam em
permanecer nele.