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ECLIPSE – O INÍCIO – LIVRO 1

Prólogo - NOTÍCIA URGENTE!!

Era uma tarde quente de janeiro, os relógios marcavam 18h quando o


um jovem pegou suas malas na esteira do aeroporto do Galeão, seu nome era
Carlos Henrique, o mais novo repórter da maior canal de noticias do país,
estava no auge dos seus 25 anos, mas trazia no rosto o semblante de um
rapaz de 19, e a determinação de um veterano, seu corpo baixo e magro vestia
calças e camisa social pretas, contrastando com seu all star jeans, seus olhos
castanhos brilhavam por estar de volta a sua cidade natal e sua pele morena
parecia castigada pelo período que passou gravando na Amazônia. Trazia
consigo sua bagagem de mão e uma pequena maleta de equipamentos.
Junto a ele vinha seu assistente e câmera Luiz, um jovem de 19 anos,
baixo, gordinho, hiperativo e sorridente, vestia uma bermuda jeans e camisa
regata verde, a pele branca de seu rosto era perfeitamente alinhada com o tom
de verde em seus olhos. Trazia o restante dos equipamentos.
- Chefe, temos que ligar para a equipe de edição, a matéria deve ir ao ar
no jornal de amanhã de manhã e ainda não entregamos o material.
- Quantas vezes eu já disse que não precisa me chamar de chefe? -
repreendeu Carlos carinhosamente - E eles vão entender muito bem o atraso
no voo, as chuvas da região amazônica, nesta época do ano, são torrenciais,
foi bem sensato o piloto a se recusar a decolar.
- Desculpe chef... Quer dizer... Carlos, mas acho que eles irão reclamar,
sempre reclamam, como se fizesse alguma dife...
- Estranho - interrompeu Carlos ao olha em direção à rua em frente ao
aeroporto - está quente hoje, até demais - verificou o clima em seu smartphone
- a temperatura está certa, 35 graus, mais aqui diz que deveria estar
ensolarado.
Através das enormes janelas de vidro era possível ver nuvens negras
cobrindo todo o céu do Rio de Janeiro, raios irrompendo sem parar, como se
uma enorme tempestade fosse desmoronar do céu em segundos. Foi quando
aconteceu:
Um estrondo alto, e os vidros de toda a fachada do aeroporto
estouraram, lançando estilhaços a metros de distancia, uma lufada de ar
quente irrompeu pelo aeroporto, derrubando pessoas por todo o hall.
Carlos se levantou às pressas e verificou se Luiz estava bem, ao
confirmar, só conseguiu dizer uma coisa:
- Pegue a câmera e tente um link com a emissora, temos uma exclusiva!
Carlos pegou o microfone e correu para fora do aeroporto, onde uma
chuva forte e quente começava a cair, ele chegou à rua e viu uma enorme
cratera em meio ao asfalto.
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- Consegui o link chefe, estamos ao vivo!


Carlos preparou o microfone, quando sentiu uma dor no ombro
esquerdo, um pedaço de vidro estava alojado ali, ele segurou o pedaço de
vidro e o arrancou de uma só vez, a dor irrompeu por todo seu braço e uma
pequena quantidade de sangue podia ser vista pelo rasgo na camisa. Luiz teve
o impulso de ajudar o colega, mas, devido a um gesto discreto de Carlos, se
conteve. A mensagem era clara: "A noticia é mais importante".
O repórter respirou fundo e transmitiu a notícia:
- Boa noite cidadãos do Rio de Janeiro, uma calamidade acabou de
acontecer na frente do aeroporto do Galeão, uma enorme cratera se formou na
rua, destroçando as vidraças do aeroporto e deixando muitos feridos no local.
Ainda não se sabe a causa do mesmo, mas, devido a chuva, a poeira ao redor
está baixando, possibilitando e visão da possível causa do ocorrido. - Carlos se
esgueirou por entre os curiosos que se amontoavam ao redor da cratera,
trazendo Luiz consigo para conseguir filmar o que havia ali - muitas pessoas
estão tentando ver o que há ali dentro mas... Oh meu Deus - sua voz
desapareceu, as pessoas ao redor suspiraram alto devido a surpresa que ali
havia, e aquelas imagens estavam sendo transmitidas agora para todo o
mundo - eu não consigo acreditar no que estou vendo. Há um homem ali? Um
adolescente?
- Oh meu Deus, eu o conheço! - exclamou Luiz, assustado - fizemos o
ensino médio juntos!
A multidão ficou em silencio enquanto o jovem se levantava da cratera,
ele tossiu, levou as mãos à costela, como se sentisse dores, ele olhou ao redor,
como se procurasse algo, até que percebeu a presença da câmera, ficou
estático por alguns segundos, observando o repórter, seus olhos variavam
entre um vermelho vivo e um amarelo brilhante, como se suas íris estivessem
em chamas. Ao longe, um som abafado chamou sua atenção, ele olhou para o
céu e, ao ver um objeto se aproximando, fez um movimento rápido com os
braços, gerando uma força invisível que afastou a multidão das bordas da
cratera exatamente quando um enorme tronco de árvore caiu pesadamente
sobre o local e, num piscar de olhos, foi desviada para cerca de 10 metros de
distancia, destruindo um carro estacionado nas redondezas.
Outro estrondo, a cratera aumentou seu tamanho e, no centro, outro
jovem estava ali, segurando o primeiro pelo pescoço.
Carlos observava aquela cena, aterrorizado. As únicas palavras que
conseguiu emitir foram:
- O que está acontecendo aqui?

Um Dia Comum?

Escuro.
Quente.
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Justin abriu os olhos mas não pode ver muito adiante. A escuridão era
absoluta.
Ele estava tonto, não sentia seu corpo, seu peso, não sentia o chão sob
seus pés, não sabia nem se estava de pé.
Seus sentidos começaram a funcionar. Lentamente o peso de seu corpo
se direcionou a seus pés, sua pele pôde sentir o ar quente e abafado que o
rodeava, seus ouvidos começaram a ouvir, mas ele preferia que estivesse
surdo, o som daquele lugar era agoniante, mesmo que estivesse distante
demais para identificar algo, ele percebeu, eram vozes, gritando, gargalhando,
rezando.
A escuridão se tornou mais leve, então pode perceber que estava em
uma espécie de corredor entre duas rochas gigantescas, seguiu por ali até
encontrar o que parecia a borda de um longo vale, ainda escuro o suficiente
para não ver o fundo ou as redondezas.
Olhou para cima e viu o céu totalmente encoberto de nuvens negras, tão
densas que não podia saber se era noite ou dia.
Seus pêlos se arrepiaram, o som se tornou ensurdecedor e as nuvens
se abriram revelando uma luz cegante. Ele fechou os olhos o mais rápido que
pôde, quando abriu, estava em outro lugar, uma rocha, em meio ao mar, vendo
a cidade do Rio de Janeiro totalmente destruída, com prédios em chamas,
outros destruídos, morros e favelas inteiras devastadas, ruínas do que seria o
Corcovado.
Um pouco à sua frente estava um homem, não era possível ver seu
rosto, mas vestia um sobretudo negro e seus cabelos longos desciam
bagunçados pelas costas.
Justin se aproximou o tentou alcançá-lo, quando o homem disse apenas
uma palavra:
- Acorde.

Justin acordou sobressaltado quando seu celular começou a tocar a


Marcha Imperial de Star Wars. Olhou ao redor, observando o quarto escuro e
desligou o despertador.
Ficou mais alguns minutos observando o teto e esperando algum
movimento na casa, até ouvir a voz de seu pai em sua porta, avisando sobre o
horário.
Justin se levantou da cama com bastante esforço, não acreditava que o
fim de semana havia passado tão rápido. Ele se mantinha de pé no centro do
quarto, ponderando o quanto ainda poderia dormir se não fosse segunda-feira,
quando percebeu que estava com frio. Desde os 15 anos, Justin tinha adquirido
o costume de não gosta de usar roupas para dormir, vestia apenas uma cueca
samba canção para eventuais invasões em seu quarto. Ele ostentava um corpo
deveras comum para a sua idade, não era gordo, mas não era magro, não
tinha muitos músculos, mas tinha um corpo agradável.
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Andou até o criado mudo, pegou o controle e desligou a central de ar, se


enrolou em uma toalha e saiu do quarto, caminhando lentamente até o
banheiro, onde entrou e se apoiou na pia.
Ali ele olhava fixamente para seu reflexo no espelho. Tinha rosto um
tanto maduro para um jovem de dezoito anos. Seu maxilar era bem marcado,
delimitando um rosto levemente arredondado, seu nariz era fino, sua
bochechas medianas pareciam contornar harmoniosamente seu lábios grossos
e rosados, a pele branca contrastava com seus olhos, tão azuis quanto a
profundeza do oceano, marcados por suas sobrancelhas grossas e negras.
Ele passou a mão pelo cabelo bagunçado, fez uma careta para o
espelho e seguiu seu ritual matutino.
Escovou os dentes, tomou banho, retornou ao quarto e abriu a janela a
tempo de ver o céu ser invadido pela luz do sol.

Jason observava o céu ser invadido pela luz solar, apoiado sobre a
grade da varanda do hostel onde estava hospedado.
Não fazia nem 24 horas que estava no Brasil, mas já se sentia em casa.
- Bom dia - disse a proprietária do hostel ao vê-lo na varanda
- Bom dia, Dona Maria, tudo bom? - o jovem sorriu, tímido.
- Tirando a minha coluna, que incomoda um pouco às vezes, estou
maravilhosa - ela sorriu - preste atenção, garoto, cuide da sua coluna, corrija a
postura que, quando você chegar na minha idade, não vai estar reclamando de
dores.
- Com toda a licença mas, a senhora não parece ter mais de trinta.
- Ora garoto - ela sorriu fartamente - então cuida para chegar aos
cinquenta com um rostinho de trinta igual eu.
Ela terminou de pôr a messa para o café da manhã, sentou-se e fez
menção para que o jovem se sentasse junto com ela.
- Venha cá garoto, aproveite que estamos acordados tão cedo e vamos
tomar um café e deixo você me contar de onde vem, pra onde vai e elogiar
meu delicioso bolo de milho cremoso.
- Bolo de milho cremoso, isso nós não temos no Japão.
O jovem se sentou ao lado da senhora e começaram a conversar
alegremente. A cada nova história, ela olhava para o garoto, admirando sua
beleza diferente, seus olhos tão azuis quanto a profundeza do oceano e
imaginando, se tivesse tido a felicidade de ter um filho, adoraria que ele fosse
como aquele garoto.
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- Mãe! A senhora viu minhas botas? - perguntava Hayley enquanto


revirava  todas as sapateiras da casa.
- Oi filha, suas botas? - perguntava Helena timidamente - então, eu
estou usando.
Hayley olhou sua mãe de cima a baixo e viu as botas de couro em seus
pés.
- Mãe, ficaram lindas! - disse enquanto segurava as mãos de sua mãe e
se olhavam como duas amigas fazendo compras - porque não me avisou que
iria usar elas?
- Eu acabei esquecendo - sorriu - porque você não vai com o All Star,
sempre fica maravilhoso em você!
- Porque você tem que estar sempre certa?
- Talvez porque sou sua mãe? - sorriu.
- Talvez, mas, vocês quer que eu faça o café?
- Outra coisa que esqueci de lhe avisar - deu um sorriso amarelo - eu
vou filmar uma cena bem complexa hoje e terei que tomar café no set, mas
prometo que estarei em casa pro jantar.
- Sendo assim, irei tomar café no caminho para a escola.
Hayley estava pronta. Ajeitando o caldo na frente do espelho.
Se você pedisse para um homem descrever a beleza de Hayley, ele não
saberia descrever completamente. Se pedisse a uma mulher, ela
definitivamente se sentiria ameaçada, pois Hayley era de uma beleza sem
igual.
Seu corpo não era magro como as modelos, tampouco era gorda,
possuía um corpo raro, que aliava sua cintura fina com seus quadris largos e
seios fartos. Sua pele era clara, mas não era branca. Seus cabelos eram
negros como a noite, descendo ondulados até o meio das costas e seus olhos,
castanhos como o mogno recém cortado. Lábios carnudos e vermelhos como o
sangue. Suas sobrancelhas naturalmente formavam um ângulo que despertava
mistério e sedução.
Vestia uma calça jeans skinny, Uma regata preta e um blazer para cobrir
os ombros, sem contar o All Star Azul que conferia um estilo despojado.
Helena não ficava atrás, na verdade, Helena estava maravilhosa para
seus 45 anos, seu corpo se mantinha perfeito desde a juventude, tanto que
vestia o mesmo que sua filha. Sua pele mulata a conferia uma aparência ainda
mais jovem, apoiada por seu cabelo cacheado que descia até os ombros. E
pensar que o stress da vida de escritora e diretora de cinema poderiam lhe
conferir algumas rugas, o que não aconteceu.
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- Você vai andando pra escola? - perguntou Helena enquanto saía de


casa.
- Sim, eu gosto de caminhar.
- Tomara que não mexam com você na rua.
- Coitado de quem tiver essa coragem.
Hayley terminou de arrumar suas coisas, pegou seu celular, colocou
uma playlist da Beyoncé e saiu andando pelas ruas do Leblon.

Aos pés do Corcovado se localizava um complexo altamente sofisticado,


composto por sete prédios de cinco andares cada. Ali se localizava o pólo
brasileiro do Brown Institute of Research, Educational and Professional
Development, também conhecido como Instituto Brown de Pesquisa e
Desenvolvimento Educacional e Profissional, ou apenas Instituto Brown.
O instituto não era uma instalação qualquer, era um aglomerado de
empresas de pesquisa, economia e capacitação que se uniram para financiar
pesquisa e treinamento de jovens para o mercado de trabalho em basicamente
todas as áreas profissionais e até oferecia a oportunidade de se tornar parte da
equipe profissional do instituto. Possuía como principal meta a geração de um
futuro inclusivo, tecnológico e ecologicamente sustentável.
E era ali que Jason iria estudar a partir de agora. Transferido da unidade
de Tóquio, o jovem ficou maravilhado com a interação tecnologia/ambiente que
a instalação demonstrava.
Ele adentrou o portal e viu os dois prédios educacionais, a escadaria que
dava acesso aos prédios profissionais, o acesso às estações de trabalho
subterrâneas, os biomas artificiais e as áreas de desporto e lazer.
Caminhou até a entrada do prédio principal. Ali dentro era um clima bem
mais ameno do que o calor que pairava do lado de fora, o corredor principal
ficava bem na direção da porta, de um lado a bancada da recepção, onde
recepcionistas robóticos escaneavam as características físicas de quem
entrava, registravam nos bancos de dados e geravam crachás de acesso em
velocidade absurda. Do lado oposto ficava a escadaria que dava acesso aos
andares superiores.
O jovem realizou o registro biométrico e retirou seu crachá que
apresentava uma foto sua, seu nome, contatos e tipagem sanguínea, além da
classificação de estudante.
Ele sorriu ao ver as informações e começou a caminhar calmamente
pelo corredor, que naquele horário ainda estava com poucas pessoas.
Foi quando uma porta se abriu à sua esquerda e um homem chamou
seu nome.
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O homem aparentava ter uns quarenta anos, era gordo e vestia um terno
cinza e calças cáqui, seu rosto gordo era marcado por grandes óculos
quadrados e um bigode grosso e vistoso. O crachá em seu peito indicava seu
cargo: Roberto Silva - Diretor Geral da Divisão Educacional e
Profissionalizante.
- Você deve ser o aluno novo! - dizia o senhor entusiasmado - entre,
sente-se, fique à vontade, essa vai ser uma de suas casas a partir de agora.
Jason entrou a ficou assustado com a quantidade de livros que havia ali
dentro, todas as paredes eram cobertas por estantes abarrotadas de livros. O
senhor percebeu o susto do garoto e se justificou:
- Eu sou um amante de leitura à moda antiga, colecionador de livros nas
horas vagas, você pode encontrar de tudo aqui, de textos acadêmicos a
literatura clássica, de Charles Darwin e ocultismo e bruxaria. Sou fascinado em
tudo isso.
O garoto se sentou, silencioso, enquanto o senhor indicava um pequeno
leitor de cartão sobre sua mesa.
- por favor, insira seu crachá de acesso nesta porta.
O garoto obedeceu e, ao inserir o crachá, o computador do diretor emitiu
um bipe e mostrou as informações do jovem.
- Uau! - exclamou - parece que você tinha uma carga horária bem
pesada em Tóquio: assistente de pesquisa tecnológica, graduando em
sistemas e programação, além de trabalhar como assistente em estudos
psicológicos com foco em criminologia. Quando você dormia? - brincou - por
sorte sua grade não será muito diferente, apenas os horários serão alterados.
- Mas eu manterei minhas atividades curriculares?
- Sim, agora acho que é hora de você iniciar sua instrução e
conhecimento das instalações, por sorte temos a melhor pessoa para lhe
acompanhar.
- Ok então, onde encontro essa pessoa?
O diretor se levantou para acompanhar o jovem até a porta.
- Ah não, você não a encontra, ela encontra você, e eu não poderia
deixá-lo em melhores mãos, ela é minha aluna favorita, a formanda com o
melhor histórico desta instituição, você vai gostar de conhecê-la - ele abriu a
porta - Mas, não exite em me visitar de vez em quando, sempre que precisar
de ajuda com algum problema, eu autorizo acesso ao meu acervo particular
para pesquisa caso precise fazer uma pesquisa mais discreta.
- Vou me lembrar disso, senhor - o garoto já se sentia amigo do diretor.
- Estou aqui para o que precisar. E aqui está sua grade de horários -
entregou uma olha de papel para o garoto e fechou a porta.
Ao sair, ele se deparou com o corredor abarrotado de alunos indo e
vindo, e agora além da iluminação indireta de led que podia ser vista antes, era
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possível ver projeções nas paredes com informativos, anúncios de projetos,


mapa da instituição e fotos da turma de formandos daquele ano.
O jovem tentava andar pelo corredor enquanto lia o papel com a
horários, não parecia tão complicado, a manhã era reservada às disciplinas do
ensino médio e linguagens, no horário da tarde os projetos se intercalação
entre os dias da semana.
Ele estava tão concentrado nos horários que não viu a garota que vinha
em sua direção, derrubando seu copo de café.
- Mil perdões - ele se prontificou em juntar o copo e os livros da moça
que estavam no chão - eu não vi você, não queria derramar seu café...
- Calma, o copo estava quase vazio e frio, não se preocupem - ela parou
e examinou o rosto do rapaz - eu não tenho te conheço, você por acaso é o
aluno novo?
- Acho que sou eu sim - dizia o garoto admirado coma beleza da moça.
- Ótimo, me poupou o trabalho de procurar por você. - ela sorriu - Aliás,
meu nome é Hayley e eu sou a responsável por apresentar essa bela
instituição aos novatos e, por incrível que pareça, temos apenas você hoje. Só
temos que aguardar meu assistente que por acaso está atrasado, como
sempre.
- Algo me diz que você está falando de mim - surpreendeu Justin que
estava ali ao lado, ouvindo a conversa - você adora reclamar de mim, não é? -
ele se aproximou e beijou a garota apaixonadamente.
- Como meu namorado, é sua obrigação confirmar comigo quando eu
falar mal de você - ela sorriu - anda, vamos trabalhar que o dia está apenas
começando.
- Mas a chegada nós calouros não é apenas na próxima semana? -
perguntou Justin, confuso.
- É sim, mas nosso novato é um veterano, igual a nós - ela se virou para
Jason, que estava ali, alheio a tudo - Jason, esse é meu assistente, Justin, pelo
que soube ele vai ser seu colega em Criminologia, então é bom que vocês
tenham uma boa convivência.
Justin se aproximou do Jason e apertou sua mão.
- E aí, cara? Você veio transferido para cá?
- Sim - respondeu Jason, tímido - fui transferido na unidade de Tóquio.
- Caramba, você veio de longe.
Hayley os interrompeu.
- É engraçado que vocês tem alguns traços bem parecidos.
Jason examinou Justin de cima a baixo, pensando que o rapaz era bem
mais bonito que ele mesmo, alem de parecer bem mais extrovertido.
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Justin fez o mesmo, mas pensou que o outro parecia mais jovem e
vaidoso.
- Não vejo semelhança - disseram ao mesmo tempo.
Hayley sorriu e deu um leve tapa no ombro dos dois.
- Vamos logo ou o Diretor Silva vai chiar em nossos ouvidos.
Seguiram para o bloco de pesquisa, onde iniciaria o percurso de
apresentação.

Provocação

A primeira semana de aula havia passado bem rápido e a amizade entre


Justin e Jason evoluíra igualmente. Estavam sempre juntos, tinham interesse
pelos mesmos projetos e demonstravam a mesma aptidão para todos. Mas, até
aquele momento, Jason tinha conhecido apenas o lado bom do Instituto Brown
Os dois seguiam em direção às saída do bloco de estudos, quando uma
voz provocativa irrompeu das escadas.
- Ei! Esquisitão! Namoradinho novo é?
Justin logo reconheceu aquela voz, que poderia vir da pessoa mais
odiável de todo o instituto: Allan.
Allan era basicamente o maior estereótipo de jovem insuportável, uma
conglomerado de coisas desagradáveis em um único ser: era machista,
homofóbico, racista, tinha o pior rendimento acadêmico e a maior ficha de
contravenções do instituto, que incluíam a agressão de dois calouros
homossexuais e uma tentativa de estupro de uma garota nos laboratórios. Ele
descia pela escada, ostentando suas roupas da Ralph Lauren e o iPhone mais
recente do mercado, sempre acompanhado de seus dois lacaios, que gozavam
dos benefícios de ajudar o garoto riquinho e mimado.
- E eu pensando que finalmente tivessem te expulsado daqui, mas pelo
que parece o papai resolve tudo.
Justin respondia provocando o jovem, que se aproximava, revelando
mais dois "capangas".
Justin então percebeu que eram as únicas pessoas presentes naquela
recepção, sinal de que Allan estava no seu aguardo.
- Você não cansa de ser um babaca não é? - dizia Allan enquanto
cercavam os garotos em direção à porta de uma sala - primeiro eu acabo com
você e seu amiguinho aí, depois eu pego a Hayley...
Justin interrompeu.
- Pelo que parece, o filhinho de papai não sabe lidar com rejeição!
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Allan, furioso, acertou um soco em Justin, mas nem teve tempo de


aproveitar o momento, pois imediatamente foi surpreendido pelo punho de
Jason estourando seu nariz.
O sangue irrompeu por suas narinas, manchando a polo Branca. Justin
sorriu satisfeito ao ver aquilo, mesmo que seu supercílio estivesse sangrando
de forma igual, ele sorriu para Jason, que retribuiu um sorriso tímido.
Allan fez um gesto e os outros garotos seguraram Justin e Jason contra
a parede, enquanto Allan vinha em sua direção tirando uma faca de dentro da
mochila.
Ele andou até os dois e desferiu um soco em Jason, que logo ficou
desacordado, então voltou sua atenção para Justin, pressionando a faca contra
seu pescoço.
- Três anos, três malditos anos que você vem atrapalhando a minha,
sempre querendo ser o garoto bonzinho e defensor de minorias, bom,
agradeça pela sua boa fama garoto, pode ser que ela cresça depois de hoje...
- Sabe qual é o seu problema? - interrompeu Justin - Você fala demais -
dizia enquanto acertou uma cabeçada no nariz já machucado de Allan, fazendo
o sangue jorrar novamente.
Ele se contorceu em dor e avançou novamente sobre Justin, dessa vez
com a faca em direção a seu abdômen. Mas ele foi surpreendido por Justin que
soltou o braço direito do aperto de Caio e conseguiu empurrar a mão de Allan,
desviando o trajeto da faca, que acabou adentrando a região do quadril de
Carlos. Este caiu ao chão com a dor e a faca cravada através do cós de sua
calça jeans, soltando um grito de dor terrível.
Foi então que o Diretor Roberto adentrou a Sala, aterrorizado com a
cena que viu, chamou imediatamente a equipe de segurança que já estava a
poucos segundos dali que desarmou e retirou os jovens da sala.

Um tanto estranho, talvez até demais

Após todo o ocorrido, estavam aqueles garotos sentados lado a lado na


sala do Diretor Roberto, que os observava de forma incisiva.
- Não sei nem o que dizer depois de presenciar aquela cena - disse
Roberto, visivelmente enfurecido - eu não esperava esse tipo de atitude,
mesmo vindo de você Allan - ele passou os dedos mas têmporas - eu poderia
notificar os pais de vocês, mas não quero a atenção da mídia no meu colégio
porque o filhinho do senador não sabe se comportar.
- Mas eu fui apenas uma vítima nessa situação, senhor Roberto -
indagou Justin.
- Como se eu não conhecesse muito bem o histórico de vocês dois nesta
instituição, o seu simples ato de revidar a provocação já é suficiente pra lhe
enquadrar junto no processo disciplinar - Allan sorriu ao ouvir isso - do que
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você está rindo? Não sabe que vai pagar penalmente pela tentativa de
homicídio de outro aluno.
- Você não teria essa coragem - provocou.
- Ah, eu teria sim, inclusive já enviei o vídeo da câmera de segurança
daquela sala para a polícia, e não se preocupe, o papai tá ocupado demais
criticando direitos sociais.
O garoto bufou quando um grupo de policiais entrou na sala para
escoltar o jovem até a delegacia.
Roberto voltou sua atenção para Justin e Jason, que permaneciam de
cabeça baixa à sua frente.
- O que eu faço com vocês? Me digam! - ele passava as mãos sobre as
têmporas - Justin, eu não posso mais relevar essa situação, por mais que -
sussurrou - você seja meu aluno favorito - então retornou ao tom de voz natural
- essa briguinha entre vocês chegou num nível que não dá mais pra relevar,
vocês colocaram a vida de outro aluno em risco, você sabe os problemas que
esse tipo de coisas atrai?
- Não senhor. - sussurrou.
- E você Jason, acabou de chegar e já está metido em confusão, não dá
pra levar em consideração seu comportamento no polo de Tóquio, apenas dá a
entender que você está em má companhia aqui e eu sei que isso não é
verdade.
- Perdão senhor, foi um instinto de momento, não vai se repetir.
- Gosto assim - sorriu - Como medida punitiva, estou aumentando sua
carga horária extracurricular, vocês devem passar mais tempo em pesquisas
do que brigando pelos corredores da minha instituição. Ok?
- Mas os laboratórios permitem trabalho apenas até às 18h - indagou
Justin - como iremos realizar atividades extras?
- Muito simples, vocês levarão alguns materiais de pesquisa para casa,
sob minha supervisão direta - Roberto percebeu que Justin estava abrindo um
sorriso e logo o interceptou - Estarei de olho para o caso de alguém querer
levar algum material inflamável, explosivo ou perigoso para fora dos
laboratórios.
- Ok, que seja - disse Justin, logo sendo interrompido por Jason.
- Quando começamos?
- Receio que imediatamente.
- Mas é sexta-feira, e, eu tenho um encontro com a Hayley.
- Bom, não tem mais - Interrompeu o Diretor - seu encontro hoje será
com o Jason - Os garotos se entreolharam com cara de tédio, até que o diretor
levantou, foi até o armário e puxou de uma das gavetas um pen drive - seu
primeiro plantão vão ser para Criminologia, vocês devem avaliar o perfil de
Suzanne Von Richtoffen.
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Os garotos ficaram apreensivos.


- Quero um relatório pronto na manhã de segunda. Divirtam-se!

Os garotos atravessavam o pátio do instituto planejando como iriam


executar as atividades.
- Então, como faremos essa paradinha aí? - perguntou Jason num tom
de desânimo.
- Vamos ter que nos reunir e virar a noite fazendo isso se quisermos ter
alguma parte do fim de semana livre. - disse Justin tentando animar o amigo -
Sua casa fica mais próxima daqui?
- Eu esqueci de mencionar que estou morando em um Hostel?
- Eu tinha esquecido desse detalhe. Podemos então - ele percebeu que
Hayley estava próxima ao portão - podemos ir pra casa da Hayley que é
relativamente próxima.
Eles então começaram a acenar para Hayley que, assim que os viu,
esboçou um sorriso apático.
- Amor, tudo bem? - Perguntou Justin preocupado - Você está meio
pálida.
- Mais ou menos - disse ela esboçando um sorriso - só preciso ir pra
casa descansar um pouco, por isso não vou poder sair com você hoje.
- Mas, você não quer que eu lhe deixe em casa ou fique lá com você?
- É muito gentil - disse ela acariciando o rosto do namorado - mas eu
realmente preciso ficar sozinha, problemas femininos, você não entenderia.
Ele deu sorriso tímido, beijou a garota e então se voltou para Jason.
- Pelo visto vamos pra minha casa, mas é um pouco longe, espero que
não tenha problema pra você.
- Não tem problema algum mas - ele apontou para a calçada - porque a
Hayley vai caminhando?
Justin então percebeu que ela já estava tomando distância, deu uma
passada mais longa e a alcançou

- Tem certeza que prefere ir sozinha?


- Eu só quero ficar sozinha por um tempo - sua voz saiu como um
sussurro, arrepiando a espinha do namorado, que apenas liberou a passagem
e a deixou ir.
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Jason ficou surpreso com a expressão assustada no rosto de Justin,


mas preferiu não questionar. Os dois então pediram um Uber e foram para a
casa de dos pais de Justin, em silêncio.

Não muito longe dali, Hayley seguia de cabeça baixa por uma rua com
pouca luminosidade solar àquela hora do dia, quando cruzou com um grupo de
jovens que abertamente consumiam e vendiam entorpecentes.
- E aí gatinha, tá perdida por aqui? Não sabe que tem que pagar pra
passar?
Os quatro homens a cercaram, portando facas e pistolas. As pupilas
dilatadas demonstravam que estavam no auge do efeito das drogas, além da
fala rápida e agressiva.
- Bora, sua puta! Passa logo essa bolsa pra cá!
Foi a última coisa que um deles disse antes de tentar puxar a mochila
das costas da garota e ser arremessado contra a parede.
Foi então que o maior dos homens tentou esfaquear a garota, então ela
agarrou seu pulso do ar e disse:
- Eu não tô perdida, eu vim fazer um lanchinho!
Então, em apenas um movimento, quebrou o braço do homem que a
atacara e quebrou as pernas de todos os outros. Se ajoelhou no chão sujo e
violentamente dilacerou as gargantas dos homens com os dentes.

Do outro lado da cidade, Justin e Jason finalmente chegava até o


condomínio Estrela Carioca, ao adentrar a portaria, Justin cumprimentou o
porteiro Jailson e solicitou que ele fizesse o registro de Jason, pois ele passaria
a frequentar o local. Jailson atendeu e pronto e autorizou a entrada dos dois
rapazes.

O condimínio era extremamente bonito, arborizado, com estacionamento


subterrâneio, playground e uma extensa área de caminhada, estrategicamente
posicionada entre os dois edificios, proporcionanco iluminação durante o
amanhecer e sombra pela tarde. os dois predios, denominados Regulus e Eta
se erguiam de frente um para o outro, descrevendo a posição das mesmas
estrelas na constelação de Leão, auxiliado por seu formato estrelado. cada um
possuia 25 andares e cada apartamento era denominado com o nome de uma
estrela.
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ao entrar no Elevador, Justin apertou o botão que indicava o decimo


primeiro andar.

- Então, deixa eu te falar, meus pais são um pouco - ele coçou a cabeça,
timido - como posso dizer? talvez afetuosos seja a palavra correta.

- Você ta querendo dizer que são carinhosos demais? - sorriu Jason.

- Bem por aí, certeza que vão te tratar como um filho.

saíram do elevador, fizeram uma curva no corredor e pararam diante de


uma porta onde se lia "Sirius". Justin girou a chave e abriu a porta para uma
sala ampla, de paredes brancas, com um sofá preto dividindo o cômodo, diante
de uma TV de 40 polegadas uma mesinha de centro cheia de flores. atras do
sofá havia uma mesa redonda com seis lugares e uma balcão que dava acesso
à cozinha.

Jason ficou maravilhado da forma como aquele lugar parecia


aconchegante e confortável.

- Mãe? Pai? Estão em casa? - Perguntou Justin, esperando que os pais


o recebessem.

- Oi querido! - disse a senhora que levantava por de trás do balcão da


cozinha - Não vi você chegando, tava limpando o açúcar que caiu do balcão.

- Oi mãe, tudo bem? Cadê o papai?

- Sim, seu pai está no escritório, vou chamar ele pra receber nosso
visitante - ela andou até a porta mais próxima e bateu - John, querido, temos
visita.

John saiu da sala, tirando os óculos do rosto com pressa.

- Oh, Olá - ele sorria tímido olhando para as pessoas na sala - não estou
muito apresentável para receber visitas, vou me arrumar um pouquinho - disse
15

ao entrar às pressas no escritório tentando passar despercebido o fato de que


estava só de camiseta e cuecas.

Os garotos se sentaram no sofá, rindo para aliviar o leve


constrangimento que haviam passado há pouco. Evelyn, sentou ao lado dos
garotos e começou a conversar com Jason, perguntando sobre sua origem e
família.
Evelyn era uma mulher bonita, no auge dos seus 46 anos, esbaldava
vitalidade e beleza, a pele bronzeada complementava o cabelo ruivo e
ondulado que descia até o pescoço, os olhos amendoados e grandes
combinando perfeitamente com as sardas nas bochechas e nariz. A estatura
baixa atribuía um aconchego maternal, principalmente com o avental sobre o
vestido rodado.
- Então Jason, me fale um pouco sobre você - sorriu - é raro os amigos
do Justin visitarem a nossa casa.
- É - interrompeu John, saindo do escritório - não que aqui seja o melhor
lugar para reunir amigos.
O pai de Justin era o que comumente se chama de paizão. Tinha 45
anos, pele clara, olhos azuis, o cabelo era bem baixo, com entradas que
mostravam a calvície que se aproximava, a barba grossa emoldurava o rosto
largo, vestia uma camiseta branca, que marcava a barriga protuberante, as
vestes se completavam com um moletom cinza e uma calça de corrida preta.
- Ora, deixemos isso de lado - Evelyn interrompeu - Porque você não me
fala um pouco sobre você enquanto eu preparo um cafezinho pra gente.
Ela se levantou e caminhou até a cafeteira, sorrindo para o garoto.
- Bom, disse ele, um pouco desconfortável - me chamo Jason
Nakayama, eu nasci e cresci em Tóquio, vim para o Brasil no início desse ano
letivo, depois que minha mãe faleceu.
- Meus sentimentos - Interrompeu John, visivelmente desconfortável com
o assunto - e nos desculpe por fazer você tocar nesse assunto.
- Não tem problema - Sorriu o jovem - ela me ensinou tanta coisa em
vida, que a única coisa que consigo me lembrar era do seu sorriso a cada vez
que eu conseguia ser melhor que antes. Ela era uma boa mulher, sabe? Era
enfermeira do Toranomon Hospital, onde trabalhou por muitos anos e sempre
se virou bem como mãe solteira. Até seu nome era forte, significava "riqueza do
interior da montanha", Tomi Nakayama.
Um som de impacto veio da cozinha e todos se assustaram. Justin se
preocupou de imediato.
- Mãe? Tá tudo bem?
- Sim querido - respondeu ela com a voz trêmula - apenas a xícara que
escorregou das minhas mãos.
- Tudo bem mesmo, senhora Morgan?
16

Foi quando John interrompeu, dizendo aos garotos que fossem estudar
no quarto enquanto ele limpava o chão e ajudava Evelyn a preparar um lanche.
Os garotos então se retiraram enquanto John limpava o chão, foi quando
realmente teve certeza que estavam a sós, que ele sussurrou para a esposa.
- O que houve? Você não costuma derrubar as coisas assim.
- Eu sei - ela respondeu ainda com a voz trêmula - mas eu conheço o
nome da enfermeira, tenho quase certeza que era ela.
- Você acha que... Esse garoto?
- Eu tenho quase certeza.
- Então eu vou garantir que não seja um tiro no escuro - ele a abraçou -
façamos o seguinte: você deita um pouquinho pra acalmar os nervos, tome o
tempo que for necessário, eu termino de arrumar isso, preparo os lanches, o
Jantar e ligo pro Ricardo e peço pra ele fazer uma pesquisa pra mim.
- Eu ficaria agradecida.
- Então vai lá que eu resolvo tudo - ele a beijou e guiou até o quarto.

No quarto de Justin, ele tentava se desculpar com o amigo sobre o que


havia acontecido, mas Jason não havia se incomodado, ele compreendia que
mães era criaturas sagradas e compreendiam umas às outras.
- Sua mãe é legal, deve ter ficado emocionada com as coisas que eu
disse, compreendo perfeitamente.
O quarto de Justin não era um quarto grande, tampouco era pequeno,
mas possuía algumas peculiaridades. As paredes era pintadas num tom
azulado que parecia se iluminar com os últimos raios de luz que entravam pela
janela, ornamentada com cortinas verdes, alguns pôsteres marcavam os lados
da janelas com imagens conhecidas como a aestrela da Morte e o Símbolo das
Relíquias da Morte, além de um enorme poster sobre a cama mostrando em
dourado as inscrições do Um Anel, um pequeno guardarroupas dividia espaço
com uma prateleira abarrotada de action Figures representando o Batman e
seu nemesis, o Coringa. Mas de tudo o que mais chamou a atenção do jovem,
foi uma segunda cama ali.
- Você tem irmãos? - perguntou o jovem, curioso.
- Tenho uma irmã - ele percebeu que a cama tinha chamado a atenção
de Jason - mas essa cama não é dela, é do meu primo Josh, ele morou um
tempo com a gente depois que o pai faleceu, agora ele mora em Nova Iorque e
trabalha em alguma empresa grande de Ensino, eu acho.
- Ah sim, e a sua irmã?
17

- Ela é o que chamaríamos de "gênio da família" aos 14 anos recebeu


uma bolsa de estudos pra cursar psicologia em Harvard.
- Uau, e como você se sente sendo o menos inteligente da família? -
brincou Jason.
Justin gargalhou.
- Eu fiquei com a beleza!

O jantar foi estranhamento silencioso por parte de Evellyn e John que


ficaram apenas observando a interação entre os garotos. Com o tempo, Jason
passou a frequentar a casa de Justin e ter uma relação mais próxima toda a
família, se sentindo como se fosse quase parte dela.
No início de Maio, Evelyn convidou Jason para que morasse ali, ao invés
de pagar mensalmente por sua estadia no hostel, ele aceitou de pronto e
adorava passar as noites conversando com Justin e se perguntava se era
assim que Josh se sentia quando estava ali.

Josh

A brisa fria do inverno balançava as folhas da grande arvore onde


Evelyn via suas iniciais gravadas junto às de John, parecia que havia sido
ontem em que ele se ajoelhou à sua frente sob aquela árvore e a pediu em
casamento.
O sol brilhava tímido por entre as nuvens e a sensação era mista, quente
com vento frio. Não parecia que iria chover e isso era simplesmente
maravilhoso. Ela não queria que todo o esforço de ter trazido os parentes e
amigos para o sítio de seu pais no interior fosse estragado pela chuva, ainda
mais na comemoração de dezoito anos do seu filho mais velho.
Embora, naquela ocasião estivesse mais nervosa que o costume e se
perguntava se John sentia o mesmo, ele parecia agitado durante toda e viagem
e agora conversava com todos ali presentes como se fosse alguém famoso que
não consegue parar quieto.
Ela sabia que seu marido desviava o nervosismo de formas estranhas, já
ela não conseguia esconder.
- Você parece ansiosa, alguma coisa errada?
Seus devaneios foram interrompidos por Ricardo, melhor amigo de José
e também o mais novo delegado de homicídios do Rio de Janeiro.
- Estou sim, só um pouco emocionada, não é todo dia que seu filho
completa dezoito anos, suponho que eu deveria me sentir velha a esse ponto -
sorriu.
18

- Deixe disso, você parece mais bela do que o dia em que vocês se
casaram - ele tomou um gole de cerveja - na verdade, vocês, garotas, se
mantiveram lindas desde aquela época, a Maya pode ser facilmente confundida
com uma adolescente, enquanto eu e José, bom, ficamos barrigudos e
rabugentos.
- Ora, deixe disso! - ela sorriu - E por falar em Maya, cadê ela?
- Então, com as adolescentes, fazendo cabelo e maquiagem de Hayley e
Raquel.
Evelyn sorriu e voltou sua atenção para a mesa onde José colocava os
aperitivos.
- Ricardo, se não se importa, eu estou faminta, então vou me esbaldar
naquela tábua de frios.
- À vontade - sorriu - Sabemos para quem Justin puxou o apetite!

Justin abriu a porta dos fundos da casa do sítio e olhou para as mesas,
churrasqueira e pessoas à beira do lago e se perguntou se gostaria de toda
essa atenção para si.
- Só eu que estou achando isso um tanto demais? - perguntou.
- Talvez seja, mas é o que temos - respondeu Jason num tom
provocativo - agora deixe de ser ranzinza e coloque um sorriso nesse rosto, é o
seu dia, feliz aniversário!
- Pelo que sei é seu aniversário também, cadê sua felicidade?
- Talvez esteja naquele pão de alho que seu pai acabou de colocar na
churrasqueira.
- Ok, essa foi uma motivação e tanto, vamos!
Os dois então seguiram em direção ao lago, onde todos os aguardavam
e os cumprimentavam, parabenizavam e sorriam, até uma voz chamou a
atenção de Justin.
- Então o nosso garotinho virou um adulto?
Justin reconheceu a voz imediatamente e então viu Josh encostado em
uma cadeira e logo abriu um largo sorriso.
De todos os garotos da família Morgan, Josh era o mais diferente: era
baixo, forte, possuía a pele beirando o pardo, olhos grandes e esverdeados,
cabelo cacheado bem curto, lábios grossos e um sorriso que facilmente poderia
encantar até a mais cruel das criaturas. Vestia camisa polo e bermudas jeans
azuladas, deixando à mostra as tatuagens runicas nos braços e as pernas
peludas.
19

Justin o abraçou tão forte que parecia que suas costelas iriam se
quebrar, mesmo que ele retribuisse o carinho na mesma intensidade.
- Se a sua intenção era me matar de saudades, parabéns, quase
conseguiu - brincou Justin.
- Acho que devo me esforçar mais na próxima vez - caçoou o outro.
- E aí. Como estão as coisas em Nova Iorque?
- Lotado e barulhento como sempre, com o plus de muito trabalho e
muita pesquisa.
- É, tô vendo o resultado dessas pesquisas - disse Justin indicando o
jovem loiro sentado na cadeira ao lado de Josh.
- Ah, esse é o David, meu ex estagiário e atual... Alguma coisa - sorriu.
- Não me diga que vc demitiu seu estagiário pra dar uns pegas sem
quebrar o protocolo profissional.
- Claro que não, ele terminou o curso e depois a gente começou a se
pegar.
- Mas, e aí, é pra valer ou...
Josh puxou Justin para um pouco distante de David e então continuou a
conversa.
- Shiu, nada sério, estamos apenas nos curtindo até onde der, o que não
vai demorar muito.
- Pra quem é só um passatempo, qual a função de apresentar a família?
Josh deu um tapa no ombro de Justin.
- Eu não o trouxe pra conhecer a família, trouxe pra praticar português!
- Ok então, mas, pensei que fosse aquele momento eu que eu iria te ver
com alguém que te faz feliz.
- Meu primo querido - Disse Josh enquanto colocava sua mão sobre o
ombro de Justin, como o mestre prestes a ensinar o aluno - Você
definitivamente não precisa de alguém pra te fazer feliz, ser feliz depende única
a exclusivamente de você, ser feliz é o fruto do seu sentimento consigo mesmo
e com os outros, é aí que entra o amor. Por exemplo, você ama a Hayley,
ninguém tem dúvidas disso, e você quer que ela seja feliz, e você seria capaz
de qualquer coisa para vê-la feliz, mesmo que a felicidade dela exista longe de
você. Essa é a verdadeira felicidade, quando você é feliz por si e pelo outro,
mesmo que seja doloroso.
- Uau, você é muito bom nisso, mas, me pergunto, existe alguém que lhe
projete felicidade?
- Apenas eu - deu uma golada no vinho - um dia talvez pode aparecer
alguém, mas pode ser que até lá minha felicidade já seja completa apenas
comigo.
20

- Não querendo interromper, mas já interrompendo - brincou Jason -


gostei das palavras, bastante inspirador!
- Obrigado - Sorriu Josh - e você seria?
- Ah sim, Josh, este é o Jason, meu mais novo melhor amigo e também
aniversariante de hoje.
Jason sorriu e cumprimentou Josh, que retribuiu com um abraço.
- Então é você que dorme na minha cama?
- Acho que sou eu mesmo.
- É toda sua agora, não pretendo voltar pra ela tão cedo, até porque
seria estranho transar com o Justin do lado.
Os rapazes se entreolharam e começaram a rir, até o momento em que
Jason percebeu que Josh o encarava de forma estranha.
- É fascinante que o sorriso de vocês seja tão parecido - ele refletiu por
alguns segundos, deixando os outros preocupados, até que voltou a si - preciso
falar com a tia Evelyn, quanto a vocês, se preparem para o impacto.
Antes que pudessem entender o motivo daquelas palavras, Justin e
Jason foram surpreendidos pelo impacto de Júnior que os abraçava de
surpresa. Junior era filho de Ricardo, além de ser uma cópia exata do seu pai,
apenas mais jovem. O corpo grande e musculoso,  a pele negra, o cabelo
curto, os olhos castanhos e os lábios grossos lhe conferiam uma aparência
seria, beirando o mistério, não à toa fazia tanto sucesso entre as mulheres,
ainda com seu humor e senso político incomparáveis.
Embora se conhecessem há poucos meses, ele e Jason já nutriam uma
forte amizade, chegando a ser de certa forma íntimos, o que levou Jason a
reparar na beldade que o acompanhava. Se bem que era impossível não
reparar em seus 1,80 de altura, corpo escultural, pele marrom como chocolate,
box braids que desciam até os quadris, olhos verdes.
- Da próxima vez avisa a minha coluna antes de fazer isso - murmurou
Justin
- Dezoito anos e vocês parecem dois idosos - Brincou o jovem.
- E você parece muito bem acompanhado - alfinetou Jason.
- Que modos eu tenho - respondeu Junior envergonhado - Essa é a
minha chefe, a vereadora Helen Carvalho, diretora da Organização de Luta
pelos Direitos da Comunidade Trans.
- Uau - exclamou Justin - Já tem meu respeito!
- É uma honra conhecer vocês, o Júnior sempre fala da inteligência a
criatividade de vocês - disse ela dando um beijo em cada lado do rosto de cada
um.
- A honra é toda minha, eu li a seu respeito - dizia Jason com os olhos
brilhando - crescida na Rocinha e enfrentou todo o preconceito até conseguir o
21

mestrado em sociologia e eleita duas vezes vereadora da cidade do Rio de


Janeiro.
Helen ficou surpresa ao ver que o jovem conhecia bastante sua trajetória
social e política e o agradeceu com um largo sorriso.

Não muito longe dali, Josh tentava discretamente conversar a sós com
Evelyn.
- Tia Evelyn, a senhora poderia me tirar uma dúvida rapidinho?
- Quantas vezes vou ter que dizer que me chamar de "tia" ou "senhora"
me faz parecer mais velha? - ela reprendeu jocosamente.
- Seu filho mais velho tá fazendo dezoito anos, acho que o modo como
eu falo não faz muita diferença.
- Escuta aqui garoto, não é porque você é um adulto que eu não posso
te bater.
Ele sorriu
- Você ainda é aquele mulherão que me acolheu e sua idade nunca vai
mudar isso. Já o tio John, por outro lado...
- Dizem que a idade é um tanto aparente na linhagem de vocês -
gargalhou - mas acho que ele se enquadra no que vocês chamariam de 
"ursão", e não decepciona em momento algum.
- Então terei cuidado para que o David não chegue muito perto dele -
gargalhou alto com o próprio comentário - mas não vim falar sobre isso, tem
como a gente conversar mais privadamente?
Evelyn então o levou até uma árvore ali próximo e questionou.
- É sobre o Jason?
- Então, eu notei alguns detalhes um tanto familiares nele e pensei que
talvez...
- É isso mesmo - interrompeu ela, vendo os olhos só sobrinho
extremamente abertos pela surpresa - por isso quisemos reunir a família toda,
vamos dar a notícia durante o almoço, só espero que ninguém acabe
hospitalizado por engasgar com a surpresa.
Josh balançou a cabeça em um misto de felicidade e medo, pois não
sabia exatamente o que sentir, até que um medo mais profundo tomou conta
dos seus pensamentos.
- Você acha que no fim das contas o tio John estava certo? - questionou
com a voz trêmula.
22

- Eu gostaria que não, mas os sinais indicam o contrário, você que tem
mais conexão com a natureza deve sentir algo, não?
- Ironicamente, a natureza tem permanecido em silêncio ultimamente,
silêncio demais até, o que quase sempre é sinal de que algo grande se
aproxima - um lampejo surgiu em sua mente - o eclipse é hoje?
- Sim, e dependendo de como as coisas ocorrerem, saberemos se John
estava certo ou não.
Josh respirou fundo.
- Independente do que ocorrer, sempre estarei tomando conta de vocês,
mesmo que provavelmente ele não vá precisar de proteção, mas precisaremos
ter bastante atenção no que pode acontecer.

Segredos de Família

As brasas na churrasqueira chiavam pelas gotas gordura que pingavam


da carne, levantando aquele cheiro característico de churrasco que cativa até o
paladar mais exigente. Muitos ali já estavam almoçando, outros bebiam, e um
em particular provocava os aniversariantes.
James era o irmão gêmeo de John, mas sua aparência era de alguns
anos a menos, além da mentalidade, por ser um homem na casa dos 40 que
agia como um adolescente quando estava entre eles. Sua aparência era
basicamente a mesma de John, sou que com mais cabelo, ostentando um belo
topete, e menos barriga, o que era bastante irônico se levar em consideração
sua paixão por cerveja. Era um bebedor profissional não remunerado, e agora
tentava ensinar a apreciação de cerveja aos garotos.
- Vocês estão fazendo 18 anos hoje, então não posso deixar passar a
minha responsabilidade como o tio legal, de ser a pessoa que vai apresentar os
sabores das cervejas a vocês!
Justin sorriu timidamente para o tio.
- Não sei se seria uma boa ideia - dizia tímido, escondendo a vontade
que tinha de experimentar.
- Como sempre, o certinho - zombou Kevin - previsível como sempre,
primo.
Kevin era filho de James, não era um jovem de grande beleza, tampouco
era feio, na verdadeira possuía uma aparência extremamente comum, em
oposição ao resto dos homens da família, possuía um intelecto acima da
média, que geralmente era ofuscado por seu temperamento rude e uma forte
tendência para transgressões, o que lhe custou a vaga no Instituto Brown. Era
um estrategista nato e conseguia vencer qualquer um em jogos de estratégia e
lógica. E nunca perdia uma chance de provocar Justin o chamando de sem
graça ou previsível.
23

- Não foco nada surpreso de você já estar bebendo, mesmo sem ter
idade pra isso - Justin provocava de volta.
- É notório que eu nunca gostei de seguir regras! - respondeu Kevin,
irônico.
- Eu aceito - se prontificou Jason, que escolheu ignorar os dois e se
aproximou de James à mesa.
- Eu sabia que você não iria me decepcionar - disse James sorrindo para
o jovem e abrindo uma garrafa - experimentar essa aqui, é artesanal, eu
mesmo que fiz.
Jason bebeu um gole e ficou surpreso com o sabor diferente, beirando o
adocicado. Enquanto James abria outra garrafa e entregava a Justin.

Não demorou muito até que Evelyn chamasse os garotos para a mesa
central, onde John e Hayley posicionavam um bolo absurdamente grande.
Os garotos foram até lá, tímidos, olhando para a pequena multidão que
os observava. Então foi inciado o ritual clássico e levemente vergonhoso de
cantar parabéns, que passou relativamente rápido e foi seguido por um
constrangedor "com quem será?" Puxado por Josh, que foi brutalmente
fuzilado pelo olhar de Justin.
Evelyn foi até os garotos e os abraçou forte, olhou para os convidados e
sinalizou para ter a atenção de todos por um tempinho, foi quando John se pós
ao seu lado e todos fizeram silêncio.
- Vocês não imaginam o quanto estou emocionada agora, ainda mais aí
saber que nem todas as mães tem a possibilidade de ver seu filho se tornar um
homem, então eu gostaria de compartilhar uma história com vocês. - lágrimas
tímidas surgiram nos cantos de seus olhos - alguns aqui já devem saber que
minha gravidez foi bastante complicada, porque descobri já com bastante
tempo e, na época, estávamos em lua de mel, e pela gravidez, não pudemos
voltar para o Brasil, portanto tive que ficar por lá até o parto e mais algumas
semanas até a viagem não fosse um problema pra minha saúde ou a do bebê.
Acredito que tudo isso devo ao John por ser um marido maravilhoso e estar ali
comigo mesmo quando não se sentia bem tanto física como psicologicamente.
- naquele momento a luz do sol se tornava cada vez mais fraca devido a
sombra da lua - agradeço também ao Ricardo, por ser um amigo sem igual e
nos ajudar em tudo o que pôde, tanto naquele momento como agora, muito
obrigado mesmo por ter conseguido a confirmação que eu precisava. Mas,
voltando à gravidez, foi um momento bastante difícil da minha vida, na qual eu
tive que fazer escolhas muito dolorosas pelo bem dos meus filhos, para quem
não sabe, eu tive gêmeos naquela dia, e, por tudo o que vinha acontecendo,
percebemos que seria mais seguro trazer uma das crianças para o Brasil e
deixar a segunda crianças sob os cuidados de alguém de extrema confiança
que pudesse lhe dar todo o carinho e amor possível para que pudesse se
24

tornar um homem justo e íntegro. E mesmo que alguns não sejam capazes
compreender tudo que tive que fazer, nada muda a felicidade de ter o meu
Jason comigo de novo.
- O QUE?! - exclamaram os garotos em uníssono.
- Vocês nunca se perguntaram o porquê de existir essa conexão quase
mágica entre vocês dois? Como se se conhecessem desde sempre? - Indagou
John.
Jason se manteve em silêncio, abraçou Evelyn o mais apertado que
pôde, e quando o pouco de luz solar que banhava o local se esvaiu.
- De certa forma, eu sinto que já sabia, desde aquele dia no corredor -
disse enquanto se aproximava de Justin, que tentava disfarçar as emoções.
- Acho que eu também, maninho.
Então os dois se abraçaram forte, enquanto o céu foi tomado pela
completa escuridão. Foi então que, por um breve segundo, os olhos dos dois
brilharam em um vermelho alaranjado tão claro como o fogo, algo que apenas
os Morgans perceberam, além de Hayley que ficou bastante intrigada com
aquilo.
John e Evelyn se aproximaram e entraram no abraço dos garotos e
assim permaneceram por um tempo, enquanto a luz solar voltava a iluminar o
local.

"Quem não tem esqueletos no armário?"

A revelação pegou alguns de surpresa, outros nem tanto, afinal, a


semelhança entre os dois era gritante e só não via quem não quisesse ou nas
estivesse disposto a simplesmente observar. Talvez Ricardo fosse o menos
surpreso, que tinha sido ele o responsável pela investigação a respeito de
Jason. Mas, uma coisa era certa, ninguém estava mais surpreso que os
gêmeos, ou Hayley, que pensava mais no brilho estranho nos olhos do
namorado, do que em qualquer outra coisa. E ela sabia a quem consultar sobre
aquilo, o jovem que não parou de filmar um segundo desde que chegou.
- Luiz! Oi! - ela tentava tirar os olhos do garoto da tela de sua câmera,
enquanto ela admirava a beleza da garota de shots e regata através da
pequena tela de LCD - dá pra olhar pra mim diretamente?
- Perdão, Hayley, é que não sou muito fay de interação humana - ele se
desculpava enquanto abaixava a câmera sobre sua camisa surrada do Star
Wars.
- É, eu sei, exatamente por isso que quero falar com você - ela sorria
tentando convencer o rapaz - posso te fazer um favor depois.
- Quê? - sua face enrubeceu - O Justin é meu amigo, eu jamais faria
algo assim com ele...
25

Ele percebeu que Hayley o fuzilava com os olhos e se calou.


- Não isso, vou te apresentar a minha mãe.
- Uau - ele sorriu - Como você sabe que  eu curto mulheres mais velhas?
- Aff! - ela segurou a vontade de dar um soco direto no nariz dele - A
minha mãe é diretora de cinema, e tem um certo prestígio no meio do
audiovisual, quem sabe ela não pode te apresentar algumas pessoas que
apreciem seus talentos.
- Pode parar por aí - ele desligou a câmera, tirou o lado do fone que
estava preso ao ouvido - Você tem toda a minha atenção!
Hayley guiou Luiz até uma mesa vazia e pediu para ver o vídeo do
momento em que Evelyn revelava a verdade sobre Jason. Ao chegar no
momento do abraço, ela pediu para que ele reduzisse a velocidade da
reprodução. Foi então que viu aquilo e confirmou que não estava louca.
No vídeo, ficava nítido a mudança na cor da íris dos olhos de Justin,
revelando um tom alaranjado, brilhante e luminoso.
A curiosidade tomava conta dela, queria perguntar ao namorado o que
estava acontecendo, quando Luiz alarmou.
- Eu acho que já vi isso antes! - exclamou, puxando um tablet da
mochila, onde abriu uma galeria extensa de videos, rolou a tela até encontrar
um vídeo do corredor em que Justin e Jason falavam sobre o instituto.
- Eu gravei isso pra um vídeo institucional do colégio e tive dificuldades
na pós produção com o que parecia ser um reflexo nos olhos deles.
Hayley ficou espantada ao ver a oscilação das cores nos olhos dos dois
e se perguntava, o que seria aquilo?

Se aproximava das dez da noite, metade das pessoas ali já estava


apagando em algum lugar da casa, alguns pelo pátio, outros nos quartos, três
no mesmo sofá, e era quase certo que alguém havia vomitado até apagar no
banheiro.
Justin, Jason, Hayley, John, Evelyn e Ricardo estavam sentados no
pequeno trapiche à beira do lago, iluminados por pequenas lâmpadas
incandescentes e alguns vagalumes que dançavam próximo à água.
- Foi um dia divertido, não foi? - dizia Ricardo com a voz um pouco
trêmula - cheio de revelações!
- Verdade, ganhei um irmão! - disse Justin passando o braço direito
sobre o ombro de Jason e o abraçando de lado.
- Cheguei! - interrompeu Josh - primeiramente: geral lá dentro tá
dormindo, segundamente: o banheiro tá inutilizável, Kevin vomitou nele todo e
26

apagou no chão, dei um geral nele, do jeito que pude, e coloquei ele no
sofá-cama junto com o tio James - ele balançava a cabeça em desaprovação -
e o David, bêbado, obviamente, disse que me ama, devo me preocupar?
Todos gargalhadas enquanto Josh deitava na beira do trapiche,
apoiando a cabeça no colo de Evelyn, que passava os dedos pelos cabelos
encaracolados do sobrinho.
- Então, tia Evelyn, já contou a história fascinante do nascimento dos
nossos pequenos príncipes?
- Ainda não, estava aguardando a vossa ilustre presença.
- Então, já que estou aqui, pode começar, tô aguardando.
Todos sorriram novamente, até que Evelyn retomou o semblante sério.
- Bom, eu sei que a explicação que dei durante a festa não foi muito
clara, mas, era melhor assim, pois existem detalhes nessa história que devem
permanecer entre poucos - ela dizia olhando para John - acho que o pai de
vocês deveria primeiro explicar algumas coisas sobre a linhagem de vocês.
John assentiu e limpou a garganta, enquanto os gêmeos o observavam
atentamente, além de Hayley que segurava a curiosidade desde cedo.
- A nossa linhagem não é uma linhagem qualquer, não que sejamos
mais importantes do que outras pessoas nesse mundo, mas trazemos uma
herança que remonta a eras longínquas e mais turbulentas. - Sua voz
naturalmente subia como se estivesse contando uma história épica - Não se
sabe o ano exatamente, mas é tão antigo quando as primeiras civilizações,
quando os homens não eram os únicos a andar sobre a terra, existia uma ilha
ao leste do Japão, tão rica e próspera social e culturalmente quanto as outras
civilizações, tanto que era incentivado o aprendizados das outras culturas e
seus costumes. - todos estavam atentos, até sem piscar - Nessa ilha,
acreditava-se que o mundo vivia da dualidade, então cada vez que nasciam
gêmeos, significava que mundo estava se equilibrando. Então veio um tempo
em que a família imperial foi marcada por cinco gerações de gêmeos seguidas.
- Período de grande equilíbrio! - interrompeu Josh - pode continuar, tio.
- Obrigado por interromper - John segurava o riso - mas era bem isso
mesmo, era considerado que viria um grande equilíbrio. Foi quando estourou
uma guerra de proporções gigantescas, o que fez com que o imperador, da
quarta geração, na tentativa de proteger seus filhos recém nascidos, dez um
acordo com três mestres, os dois primeiros que concederam o poder e a
capacidade de acabar com a guerra, o terceiro protegeria sua herança. Foi
então que ele se afundou com a ilha no oceano, levando todo o exército inimigo
consigo. - Todos estavam boquiabertos com a história - nós somos os herdeiros
desse imperador - ele apontou para os garotos - vocês são a quarta geração de
gêmeos desta era.
Todos se entreolharam sem entender muita coisa, e isso era extremante
visível, apenas Josh tinha perfeito conhecimento de tudo isso e agora segurava
a gargalhada dia tá de expressão dos outros.
27

- Então garotos - interferiu Evelyn, desconfortável com os olhares


perdidos - quando John e eu nos casamos, decidimos passar a lua de mel em
férias bem longas no Japão, onde aproveitamos pra passar um bom tempo a
sós e aproveitar a privacidade...
- Mãe, pula essa parte pelo amor de Deus! - interrompeu Justin
incomodado com a implicação da vida sexual dos pais.
- Ok - Gargalhou - acho que me empolguei, vou continuar a história - ela
limpou a garganta - passamos dois meses morando no Japão e eu já estava
fazendo amizade com a moradora do apartamento em frente ao meu, uma
jovem emfermeira, muito gentil e educada, chamada Tomi.
Os olhos de Jason lacrimejaram pela menção à sua outra mãe.
- Após um tempo, descobri minha gravidez, uma gravidez de risco que
me impediu de voltar ao Brasil - seus olhos ficaram marejados - foi um período
muito difícil, John sofreu com alucinações, vendo coisas além da compreensão
humana, o que nos desgastou psicologicamente. Graças a todos os deuses,
Tomi esteve ao meu lado todo aquele tempo, até o momento do parto.
Ela teve que respirar fundo para continuar, foi quando John disse uma
frase que chocou a todos:
- Ela morreu, na verdade, todos nós naquela sala de parto.
- Foi parto normal, mas os dois nasceram sem respirar, o obstetra não
parecia preocupado, foi ele colocou vocês dois nos meus braços que eu
realmente senti. Foi como se entrássemos em um transe, e então eu entendi
que não poderia mantê-los juntos até que se tornassem adultos e não
estivessem mais suscetíveis àqueles que nos importunaram durante a
gravidez.
- Quem? - questionou Justin - quem faria isso?
- Cabe a vocês agora compreender por si só o que esse mundo esconde
por trás de cada parede e decidir o caminho que devem seguir.
Jason estava confuso com tudo aquilo.
- E o que isso quer dizer, exatamente?
- Bom - John pensava em como dizer aquilo - nossa linhagem carrega o
dom de enxergar além, seja com a visão além do alcance normal, ou a visão
mediúnica, alguns vão além disso.
Então John ergueu sua mão direita em direção ao lago, em um instante
o ar estremeceu e formou um turbilhão que atingiu a superfície do lago,
levantando uma coluna de água de aproximadamente dois metros que ficou
suspensa no ar e se moldou na forma de Evelyn, que sorriu lembrando seu
pedido de casamento.
Todos ficaram surpresos com aquilo, enquanto John se divertia.
- Essa é a parte mais legal, manipulação da matéria.
28

- Quer dizer que somos capazes de fazer isso? - Justin estava eufórico,
se sentindo uma espécie de super-herói
- É dito que a quarta geração poderes alemy de todas as outras e será a
responsável pelo destino de seu povo.
Jason continuava confuso.
- Nosso povo? Suponho que esse texto seja da época desse império -
caçoou Jason - porque se for toda a humanidade, eu tenho muitas ressalvas.
Houveram alguns segundos de silêncio desconfortável, até que todos
começassem a rir e concordar com o jovem. E realmente haviam muitas
ressalvas quanto à humanidade, muitas que eles ainda nem imaginavam.
- Então, Hayley - Justin provocava a namorada - qual é a sensação de
namorar alguém tão importante assim?
A garota não conseguiu segurar a risada.
- Não sei, talvez o verdadeiro importante seja o Jason - todos
gargalharam, até que ela assumiu um tom mais sério - mas isso explica a
mudança de coloração nos seus olhos que ocorreram nesses últimos meses e
as minhas suposições. Mas, afinal, quem não tem esqueletos no armário? Eu
mesma tenho alguns que você nem sonha em conhecer.
- O que? - Justin assumiu uma expressão preocupada.
- Ah, vai que eu sou alguma criatura sobrenatural enviada por alguém
para ter controle sobre você.
Novamente o silêncio tomou conta, e agora todos se entreolharam
preocupados.
- Gente, isso foi uma piada, eu não fui enviada por ninguém!
Todos caíram na gargalhada enquanto Hayley se sentia aliviada por ter
desmentido apenas a parte incorreta, mas preocupada porque chegaria a hora
em que todos saberiam de sua real natureza.

Na outra borda do lago, uma massa de pura sombra assumia uma forma
humanóide, escondida entre as árvores, observando o grupo que gargalhava
no pequeno trapiche. Como uma sombra, não demonstrava propriedades
físicas, os galhos e folhas que tremulavam ao seu redor podiam simplesmente
atravessar sua forma, mas um movimento revelou um largo sorriso, repleto de
dentes tortos e pontiagudos.

Princesa? Talvez. Indefesa? Jamais!


29

Dois meses haviam se passado desde aquela noite no lago e, por mais
incrível do que possa parecer Hayley tinha construído uma amizade forte e
sincera com Luiz, que agora era o pupilo de sua mãe e frequentava sua casa
regularmente, o que Justin e Jason consideravam uma situação bastante
engraçada, não pela garota bonitinha ser amiga do nerd gordinho da classe,
como muitos podem pensar, mas sim porque Hayley havia se tornado a modelo
oficial dele, além de sua conselheira mais sábia.
Naquele dia 23 de setembro em especial havia uma outra coisa em
comum ligando os dois: o aniversário, com apenas a diferença de um ano entre
eles.
Luiz adorava a data, tanto que a considerava como o dia do equilíbrio, já
que, bom amapaense como era, sabia muito bem que, naquele dia, o sol
iluminava igualmente os dois hemisférios da Terra e adorava lembrar que sua
paixão por fotografia e filmagem havia nascido exatamente ao registrar o ponto
alto do dia no monumento do Marco Zero.
Já Hayley não partilhava da mesma empolgação, mas preferia não
explanar sobre o assunto, pois era complicado demais para que alguém além
de sua mãe entendesse.
Naquele dia em especial, Hayley estava cuidando dos cabelos para a
baladinha da noite. Fazia algum tempo que não aproveitava uma balada e
dançava até sentir dor nos pés, além de ser uma boa oportunidade para fazer
com que Jason e Luiz se divirtam além dos prédios do Instituto Brown.
Helena e Luiz conversavam sobre o filme que ela estava dirigindo,
quando  foram surpreendidos com a música "Ride of the Rohirrim", tema de um
dos momentos mais emocionantes de O Retorno do Rei, além de ser o toque
do celular de Luiz, que correu até a sacada para atender, ao perceber quem
era o remetente.
- Que alvoroço foi esse? - Perguntou Hayley assustada - Alguma mulher
lingando pro nosso garoto?
- Ainda não - Helena sorriu - consegui uma entrevista pra ele com a
equipe de de câmera da CNN. Deve ser de lá.
- AEEEEEE! - ele entrou gritando na sala - Eu fui contratado pela CNN e
começo no dia primeiro de outubro!
As duas o abraçaram com muito carinho e o parabenizaram
Helena se prontificou a preparar Caipirinha para comemorar, e assim o
esquenta acabou começando algumas horas antes do previsto.

Ja passava das 22h quando Justin e Jason chegaram e se


surpreenderam ao ver um Luiz todo alegre dançando com Helena ao som de
Está no Ar, sucesso da banda de brega Fruto Sensual, o que era
30

surpreendente e impagável, já que Helena nunca havia dançado brega na sua


vida.
Os rapazes não demoraram muito por ali questionando os eventos, até
porque havia um camarote reservado para os aniversariantes na boate mais
badalada da cidade, e deveriam chegar antes das 23h para que não
perdessem a reserva.
O caminho não era tão longo, mas com o trânsito, tiveram tempo
suficiente para atualizar as novidades, além de chegar faltando poucos minutos
para a reserva expirar.
A boate Deimos abrira há poucos meses e já tinha construído uma fama
meteórica por trazer um ambiente que mantinha durante o ano todo o tema dos
clássicos do terror em plena Ilha do Governador, além de ser o local favorito de
Hayley nos últimos tempos.
O local era bastante amplo, com paredes recheadas de pôsteres e
imagens de filmes como A Hora do Pesadelo, Hellraiser, O Iluminado e muitos
outros, e os camarotes eram identificados por nomes dos monstros dos filmes.
Justin havia reservado o camarote Nosferatu, ele apenas não imaginava a
ironia que era ter escolhido exatamente aquele camarote.
A noite seguiu agradável e divertida nas primeiras duas horas. Luiz
parecia se divertir mas que todos ali, dançava e bebia como se não houvesse
amanhã, mas incrivelmente não apresentava nenhum sinal de embriaguez,
inclusive ainda ficava extremamente tímido quando alguma garota se
aproximava.
Justin era outro que se divertia o possível mesmo estando preocupado
com o jeito que Hayley vinha agindo naquela noite. A garota havia pedido
apenas uma Coca-Cola e evitava se afastar do camarote quando ia para a
pista de dança, coisa bem incomum de seu comportamento.
Enquanto isso, Jason era o mais responsável, estava bebendo bem
pouco, atento ao que acontecia e, principalmente, aos olhos castanhos da
bartender, a qual já tinha pego o telefone e marcado um encontro para sua
próxima folga.
Tudo corria bem, até que os rapazes do camarote ao lado começaram a
exagerar na bebida e a começar a dar em cima das garotas que ali passavam,
quase sempre sem o mínimo de educação.
Passava das três da manhã quando a responsabilidade de Jason se
esvaiu, e Justin percebeu que ele tinha sumido para dentro do bar, inclusive
ajudava a bartender a servir as bebidas. Luiz dançava funk com duas garotas
que ninguém fazia ideia de como haviam conseguido arrastá-lo para o meio da
pista de dança e Justin pedia outra coca para Hayley. Quando os homens do
camarote vizinho passaram dos limites.
Em um movimento disfarçado, o mais alto deles havia esbarrado com as
mãos nas nádegas de Hayley, e ela já estava perdendo a paciência.
- Calma gatinha - dizia ele quando ela se virou furiosa. - Foi um acidente,
juro, mas não nego que você me deixou encantado.
31

- Sai fora, eu não sou do tipo de garota que dá bola pra caras como
você.
- Mas, se quiser dar outra coisa - retrucou o baixinho que estava ao lado.
- É isso aí, - concordou o primeiro - porque não deixa esse cara esquisito
aí, que parece que fica te vigiando, e vem brincar com um homem de verdade -
sorriu - e pode trazer as amiguinhas do gordinho pra fazer uma festinha lá em
casa, eu e meus brothers iríamos adorar.
- Você se acha o macho alfa, não é? - perguntava ela, fingindo entrar no
jogo do rapaz.
- Pra você posso ser alfa e omega, gatinha - disse ele, levando a mão ao
pescoço da garota, puxando seu rosto para mais perto.
- Se você chegar mais perto, eu te mordo - disse a garota tentando se
afastar.
- Eu deixo você me morder, o quanto você quiser.
E foi nesse momento que o autocontrole de Hayley se perdeu.
Em uma graças de segundo, metade do pescoço do rapaz tinha sido
dilacerado e o sangue jorrava.
Justin acabará de chegar ali, a tempo de ver aquela cena horrenda.
Assim como Luiz, que agora olhava incrédulo para uma Hayley totalmente
diferente do que se lembrava, com o rosto manchado de vermelho, se
deliciando no sangue daquele homem.
Logo começaram os gritos e a música parou. Em um movimento rápido,
Justin pegou Hayley pela cintura e Luiz pela camisa e os levava para o Bar,
onde Jason tentava enxergar o havia acontecido.
Logo alguns celulares apontavam para o trio que pulava o balcão do bar.
Jason nem pensou muito e fez a parede lateral do bar se abrir, atravessou com
todos dali a tempo do buraco se fechar novamente.
Caíram por três metros até baterem suavemente no chão sujo de um
beco onde moradores de rua observavam assustados.
Nem tiveram tempo para pensar direito, Justin pegou Hayley no colo e
saíram correndo dali por dois quarteirões, até se sentirem seguros o suficiente
para pedir um Uber de volta para a casa de Hayley, uma difícil missão naquele
momento, já que todos os carros próximos estavam pegando pessoas que
saíam desesperadas da boate.
Levou uns quarenta minutos até que conseguissem um carro, o que foi
tempo suficiente para que pudessem se recompor, mas não dá forma mais
tranquila:
- Mas que porra foi aquela? - gritou Luiz
- Desculpa, desculpa - dizia Hayley em prantos.
32

Justin sinalizou para que Jason, que não estava entendendo nada,
tentasse acalmar Luiz, enquanto se aproximava lentamente de Hayley.
- Querida, assim, com todo o carinho do mundo, o que foi isso? - Dizia
enquanto agachava ao lado da moça e a abraçava lentamente.
- Eu não queria, não era pra assustar vocês, não era, eu só - ela
soluçava - eles atrasaram, não pude aguentar muito tempo, me provocaram, eu
só me defendi.
- Essa parte eu acho que nos entendemos, não é gente?
Luiz ao fundo só repetia "puta que pariu, puta que pariu"
- Acho que eu entendi.
- Eu preciso me limpar, e eu explico tudo, só preciso me limpar - dizia ela
tentando segurar o choro.
Foi bastante fácil para Justin condensar um pouco de água do próprio ar,
que serviu para que a garota limpasse o rosto. Enquanto isso Luiz já meio que
não ligava mais para o que via, apenas segurava o barco de Jason com força.
Hayley respirou fundo, sentou na calçada e decidiu contar sobre a
história.
- Bom, vocês devem conhecer o primeiro filme que minha mãe escreveu
e dirigiu, não é? - Todos assentiram, sabendo que "Refém de Sangue" tinha
sido largamente premiado e controverso por suas cenas perturbadoras e
sangrentas - a história foi feita para ser mais interessante às telas, mas o plot
central é basicamente real. - respirou fundo - Minha mãe conheceu um homem
bastante rico e influente quando estava terminando a universidade de cinema,
mais conhecido como meu pai, eles tiveram uma relação breve, mas ele era
um tanto diferente e com o tempo isso foi ficando mais explícito. Poucos depois
de terminar, ele pareceu na casa dos meus avós, no meio da noite e raptou
minha mãe, a mantendo como sua refém e a controlando para parecer um
relacionamento saudável diante dos outros, mas ele queria apenas uma coisa:
procriação.
- É o único caso que conheço em que o faz de tudo para ter filhos -
caçoou Jason, apenas para ser repreendido.
- Vampiros são criaturas mortas, não podem simplesmente procriar, mas
o que acontece quando você pega um vampiro de novecentos anos e um
amplo conhecimento dos mais variados tipos de magia?
- Seu pai é um vampiro? - exclamou Luiz - o que faz de você uma
vampira? Meu Deus.
- Eu sei que é difícil de compreen...
- Minha melhor amiga é uma vampira! - o garoto exclamou - puta que
pariu, isso é demais! Foda!
Todos olhavam para Luiz com estranheza.
33

- Jason, da uma acalmada no seu amigo? - dizia Justin, antes de se


voltar para Hayley - eu não tô entendo é nada! Me explica por favor?
- Meu país usou magia negra pra criar uma nova raça de vampiros, mais
resistente e forte, feito a partir do sangue de um vampiro e fortalecido pelo
crescimento no ventre humano, carregando a força e violência de vampiro e a
adaptabilidade humana, mais resistente ao sol.
- Então, você brilha? - questionou Justin.
- Por acaso eu pareço o Robert Pattinson pra você? Claro que não.
Minha pele queima quando fico exposta ao sol por muito tempo, bem parecido
com um portador de albinismo, só um pouco mais violento.
- E só existe você que foi criada assim? - Jason estava bastante curioso.
- Eu tenho um irmão, um ano mais velho, mas ele foi uma experiência
falha, seu corpo não suportou muito tempo e ele morreu aos seis anos. E o que
acontece quando um mestiço morre? Bem, a parte humana morre, a parte
vampiro domina. Meu irmão se tornou uma criatura violenta e insaciável que
tentou né matar mais vezes do que me lembro.
- Espero não conhecer o cunhado - A voz de Justin não disfarçava o
medo.
- Nem queira, principalmente por ele estar sempre junto de meu pai, e é
muito pior.
Finalmente o veículo chegou, interrompendo aquele momento, mas
aquela conversa ficou apenas suspensa para outro momento. durante todo o
percurso, o silêncio era mortal e constrangedor, mesmo que o motorista
tentasse puxar um papo com eles, nada fluía.
Mas o pior ainda estava por vir. Ao virar a esquina da casa de Hayley, a
surpresa: um carro da polícia parado na frente, com um aparentemente furioso
Ricardo aguardando.

Missão dada, missão cumprida... até demais

O Delegado Ricardo estava sentado em sua sala, aproveitando o pouco


intervalo que tinha para respirar. Ele sabia que poderia surgir alguma ocasião a
qualquer momento, mas o que viria ali era além do esperado.
Um bipe quebrou o silêncio, vindo direto do smartphone deitado sobre a
mesa, então iniciou uma enxurrada de bipes seguidos, atropelados uns pelos
outros.
O delegado não era nenhum goró tecnológico, mas sabia muito bem
usar a tecnologia a seu favor, havia ingressado em alguns grupos da população
no WhatsApp com um número que não revelasse sua identidade real, logo,
conseguia saber do que acontecia na cidade toda mesmo antes que alguém
ligasse para o 190, visto que os jovens de hoje primeiro gravam e fotografam o
ocorrido para então notificar as autoridades. E aquele era mais um caso.
34

Respirou fundo, pegou o celular, assustado com a quantidade de


mensagens, logo imaginou que seria alguma guerra de facções, ou alguma
ação do BOPE em alguma comunidade refém do tráfico. O celular não parada
de vibrar em sua mão devido a quantidade de mensagens que chegava, em um
raro intervalo entre as notificações, conseguiu ler uma que dizia: "isso é obra
de satanás!", o que só o fez pensar que poderia ser alguma rebelião em
presídio, com direito a decaptações e outras atrocidades.
Logo um burburinho se instalou no lado de fora, com policiais falando
alto de um lado para o outro, exclamando coisas que ele não conseguia
entender.
Quando finalmente conseguiu abrir o Grupo, vou que o assunto iniciou
com um vídeo, que estava sem baixado, e um texto que dizia:
"Galera, isso isso que bizarro! Minha irmã me enviou esse vídeo da
boate Deimos, uma garota surtou, matou um cara e saiu com outros três caras
através da parede!"
Ele pensou que seria mais um daqueles vídeos virais com efeitos
especiais usados para gerar comoção entre os fanáticos religiosos e ocultistas,
mas ao abrir o vídeo, veio o choque.
O vídeo mostrava duas garotas sendo filmadas, se abraçando e
dançando, quando, repentinamente, um grito assusta as garotas e atrás delas
é possível ver uma mulher de costas, ao lado de um corpo ensanguentado no
chão, mais repentinamente ainda, um homem pega a mulher pela cintura, junto
com um rapaz gordo e atravessa o espaço entre o camarote e o bar em um
segundo, a pessoa filmando se aproxima pra pegar melhor o ângulo, a tempo
de gravar a parede lateral do bar abrir e fechar após a passagem das quatro
pessoas, e logo em seguida, foca no corpo estirado no chão, com o lado
esquerdo do pescoço totalmente dilacerado, apenas para acabar bruscamente.
O delegado fica em choque. Mesmo que tivesse visto coisas absurdas
na sua vida, sabia que aquele tipo de ferimento tinha sido visto anteriormente
em um trio de corpos encontrado em um beco no centro, mas o que lhe
preocupava de verdade era que sabia exatamente o que seria capaz de
modificar a parede daquela maneira. Rapidamente retrocedeu o vídeo para o
momento em que o homem poxa a mulher, pausou exatamente em que ele se
vira e pode perceber uma coisa reconhecível, um brilho avermelhado em forma
de cruz próxima ao pescoço do homem.
- Puta que pariu! - exclamou ao soltar o celular.
O brilho era bastante reconhecível, principalmente para ele, já que ele
mesmo tinha comprado um crucifixo de resina vegetal quando fora a Belém e
presenteado seu afilhado com aquilo.
Saiu da sala às pressas, dizendo para todos que precisaria averiguar
uma situação urgente, correu para o pátio, entrou na viatura e saiu às pressas
com a sirene ligada.
- Ok Google - disse, ativando o comando por voz do celular - ligar para
John!
35

- Ligando para John Compadre - respondeu a voz da assistente.


Em poucos minutos já estava na Av Ivan Lins, por sorte a 16ª DP não
ficava muito longe de casa, nem da casa de seu melhor amigo.
Meia hora depois, Ricardo já tinha visitado John e Evelyn, assim como
falado com Helena e agora seguia para a casa dela. Enquanto isso fallava ao
telefone com seu filho, toda aquela situação teria uma vantagem e talvez
ajudaria a salvar vidas.
Logo ele tinha tomado um café com Helena e agora esperava junto à
viatura, até que um veículo virou a esquina, trazendo o esperado quarteto.

Justin engoliu em seco ao ver seu padrinho ao lado da viatura. Embora


sejam muito próximos, Justin era umas das pessoas que achavam Ricardo
extremamente ameaçador quando estava fardado. Principalmente quando
estava fardado e aguardando por ele.
O veículo parou, o motorista percebeu o desconforto dos jovens e
perguntou.
- Vice tem alguma bronca com a polícia? Porque eu não quero me meter
em confusão.
- Ele é nosso tio - respondeu Jason - somos nós que entramos numa
enrascada agora.
- Então... - o motorista respirou fundo - a corrida foi paga no cartão, tá
tudo certo.
- Valeu mano, tenha um bom fim de madrugada - disse Luiz sem jeito
saindo do carro.
Eles ficaram de pé na frente de Ricardo, enquanto o carro fazia o retorno
para voltar à Ipanema.
- Entrem na viatura - exclamou o delegado.
Justin beijou o rosto de Hayley, que começava a andar para o portão de
casa.
- Você também, mocinha, entra!
Todos entraram no carro e aguardaram enquanto Ricardo dava a volta
ao redor e finalmente entrava e sentava no banco do motorista.
- Nós estamos presos? - Questionou Justin.
Ricardo apenas olhos de relance e deu partida no carro. Justin estava no
banco do carona e Jason, Hayley e Luiz se amontoavam no banco de trás. O
delegado se inclinou até o porta luvas e tirou de lá uma bolsa de sangue O+ e
entregou a Hayley.
36

- Toma, bebe aí, não quero uma vampira com fome a poucos
centímetros do meu pescoço.
Hayley se sentiu um pouco ofendida, mas relevou pois o mais importante
era descobrir como ele sabia.
- Desculpa mas, como você sabe?
- Primeiro que o vídeo do seu ataque tá rodando a internet e, por muita
sorte seu rosto não aparece, reconheci vocês pelo cordão que o Justin tá
usando. - Ele apontou para o crucifixo - além do mais, eu conversei com os
pais de vocês, bom, menos do gordinho, não achei que seria prudente ligar
para o Amapá e falar que o filho deles está andando com uma vampira e os
meus dois sobrinhos malucos.
- Eu não posso discordar disso, não seria legal - cochichou o garoto - o
pessoal da República é bem mais fácil de lidar.
- Então, eu vou deixar você lá e levar os outros pra DP, não seria
prudente um escândalo desse sugiro logo depois de você ser contratado por
uma rede televisiva tão grande.
Ricardo deixou Luiz na República próxima ao Instituto Brown, então
tomou o caminho de volta para a 13ª DP, mantendo um silêncio absoluto e
constrangedor. Durante o caminho, Justin percebeu que o caminho não levava
até a delegacia, mas era o caminho da casa de Ricardo, em Jacarepaguá.
Ricardo morava em uma casa grande, porém simples, toda gradeada e
amplamente iluminada. A viatura pediu logo atrás de um Fiat Sienna prateado,
oq ué significava que Júnior estava em casa. Ricardo sinalizou para que
saíssem do carro.
- Você não ver conosco? - perguntou Jason.
- O assunto que vocês tem a tratar não é comigo, aliás, para todos os
efeitos, eu nem tenho conhecimento desse assunto.
Os jovens ficaram incomodados como a forma com aquilo parecia
estranho, mas seria mais prudente que seguissem as ordens.
Ao entrar na casa, foram surpreendidos por Júnior sentado no sofá ao
lado da deputada Helen Silveira, que logo se levantou para cumprimentar os
garotos, mas Júnior polou na frente, lembrando que ideia era bão dar sinal da
sua presença ali. Os jovens então se sentaram no outro sofá e ouviram
atentamente o que tinham a dizer.
- Olá primos, sei que pode parecer meio estanho trazer vocês aqui no
meio da noite abruptamente, mas alguns fatos recentes me influenciaram a
mudar os planos.
Ele limpou a garganta.
- Como vocês bem sabem, eu sou o assistente pessoal da Deputada
Helen, além de ser o responsável por cuidar de sua comunicação e segurança.
Há alguns dias temos recebido ameaças em redes sociais, vindo de supostos
grupos paramilitares.
37

- Milícias? - Hayley suspirou - é o que não falta no Rio.


- Exatamente, por esse motivo estamos aumentando nossa segurança.
E, levando em consideração que amanhã será realizado um evento solene em
homenagens as vítimas do acidente do vôo 0727 que caiu há exatamente um
ano atrás e achamos que seria uma oportunidade para que esses milicianos
possam atacar. Por isso pensei em convidar meus primos com sua habilidades
extraordinárias para ajudar na segurança. Mas um vídeo recente e informações
de uma mãe preocupada me informaram que temos uma mulher linda e fatal
que pode simplesmente identificar pessoas estranhas pelo cheiro.
Hayley suspirou.
- Ja entramos em contato com os pais de vocês, vocês, Justin e Jason,
ficarão na segurança pessoal, estando sempre ao lado da deputada, já Hayley
ficará na junto com a mãe da deputada, na Rocinha, de prontidão para o caso
da aproximação de algum desconhecido armado, acredito que não será
nenhuma dificuldade para você.
Os três se entreolharam desconfiados, mas aceitaram a missão, não
seja tão difícil assim e, provavelmente, não haveria ataque, as ameaças seriam
apenas a típica disseminação de ódio na internet. Ou assim eles pensavam.

No dia seguinte as coisa bastante tranquilas, Hayley tinha do ficado o dia


inteiro na casa de Maria Silveira, mãe da deputada e se sentia apaixonada pela
força e dedicação daquela mulher que tinha passado por tanta coisa e mesmo
assim seguiu de cabeça erguida. Não pode segurar as lágrimas quando Maria
contou que sempre quis ter uma filha, mas teve o primeiro garoto, energético e
atrevido, que cedo se envolveu com o tráfico e acabou morto, o segundo
também era um garoto, mais estudioso, tinha se tornado professor da escola
da comunidade, um exemplo para todos os jovens que seguiam o caminho da
escola. Já o terceiro veio mais do que especial, pois trazia no corpo de garoto,
a filha que ela sempre sonhou, que foi difícil conseguir ajudar a filha a lidar com
os olhares tortos e julgamentos dos vizinhos, ou mesmo de seu pai, mas ela
cuidou e teve a realização de ver sua filha reconhecida da forma que deveria
ser, e acima de tudo, sendo a mais inteligente da família e seguindo carreira na
luta pelos direitos de seus semelhantes. Era o grande orgulho de sua vida.
Naquele meio tempo, Hayley tinha sentido a aproximação de algumas
pessoas suspeitas, mas nenhum que valesse sua preocupação, só pensava se
os garotos tinham passado por alguma coisa durante o dia.
A realidade é que o dia dos guarda costas da deputada foi bastante
tedioso. Entre um cumprimento a várias pessoas influentes e alguns discursos
acalorados, não podiam saio da posição de sentido para relaxar ou mesmo
puxar algum assunto aleatório com o primo, que estava sempre por perto.
Ao fim do evento, após um longo período de silêncio e muitas lágrimas
com as imagens das vítimas sendo passadas em um telão, os jovens
38

finalmente puderam respirar ar ouro e relaxar um pouco enquanto a deputada


se acomodava no carro, conversando com seu assistente. De fato, Justin
chegava a achar a proximidade dos dois um tanto intima demais, mas achava
que seria deselegante levantar essa questão.
Ao entrar no carro, repararam que o ar de seriedade e autoridade da
deputada havia sumido, ela estava exausta e precisava relaxar do stress da
vida pública, o que significava que agora ela contava histórias engraçadas e
sorria com bastante frequência, assim como Júnior, que agora sim parecia o
primo mais velho que Justin adorava na infância. Durante o percurso da
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e a favela da Rocinha, a conversa era
leve e agradável, até que, na entrada do túnel André Rebouças, notaram a
presença de duas motos seguindo o veículo. A visão excepcional de Jason
percebeu que as duas motos vinham com passageiros armados. Aquela era a
hora de mostrar que a confiança de Júnior iria valer a pena.
Quando as motos se aproximaram do veículo pelos dois lados, e os
caronas preparavam para atirar, Justin se concentrou na estrutura externa do
carro, fazendo com que ela se tornasse mais resistente, não era o suficiente,
mas iria servir por enquanto.
Pelo horário às ruas estavam praticamente vazias e nao haveria grandes
riscos de efeitos colaterais.
Jason respirou fundo e se concentrou também, mas, diferente de Justin,
ele focou no ar à frente do veículo, tornando-o rarefeito, diminuindo a
resistência e aumentando a velocidade.
As primeiras balas soaram, ricocheteando na traseira do veículo
enquanto ele acelerava à frente. Não demorou muito até chegar na saída do
túnel, apenas para vir a surpresa: um carro preto parado na posição
transversal, impedindo a passagem, à sua frente, quatro homens portando fuzis
de uso exclusivo das forças armadas.
Justin rapidamente abriu a porta traseira e esticou a mão até o asfalto,
tocando nele por um décimo de segundo. O suficiente para criar uma
ondulação que serviu como rampa para que o veículo da deputada passasse
por cima do veículo dos milicianos, que ficaram atordoados com o acontecido.
Mas nem tudo eram flores, as motos ainda seguiam na cola, e agora,
Justin com a porta aberta, olhou para Jason que assentiu e abriu sua porta
também, os dois pularam para as motos. Jason acertou com o pé esquerdo no
peito no carona da moto da esquerda, lançando-o com força sobre o asfalto em
alta velocidade, sentando no lugar do carona e tomando controle do guidão
enquanto o piloto estava atordoado demais para reagir, o que lhe deu a
liberdade de lancá-lo em direção ao mar enquanto faziam a curva na avenida
Borges de Medeiros.
Quando Jason olhou em direção a outra moto, viu Justin agarrado ao
pescoço do piloto, enquanto estava agachado com um pé sobre a panturrilha
do carona, usando o outro pé para empurrar seu rosto em direção as asfalto.
- Justin, não!
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Ele gritou para que Justin não matasse o carona, mas era tarde demais.
O pingente do colar que ele usava enganchou entre os raios da roda traseira
da moto e arrancou sua cabeça. Justin se assustou com o ocorrido, o que foi
suficiente para que o piloto sacasse uma pistola e tentasse atirar em sua
cabeça, o tiro passou próximo a sua sobrancelha. Com o susto, Justin
instintivamente flexion ou os músculos do braço, desacordado o piloto, que
rolou para o lado e caiu no asfalto, deixando com que a roda traseira passasse
sobre seu braço.
Justin tomou o controle do Guidão, quando apontou para sua frente.
A moto de Jason ia poucos metros à frente do veiculo da deputada, que
vinha seguido de perto pela moto de Justin. Naquele momento em que os
veículos atravessavam a entrada da rua Batista da Costa, Jason percebeu que
o veículo da saída do túnel, vinha agora a toda velocidade para tentar se
chocar com o veículo da deputada, sinalizou para que Justin fosse mais rápido.
Quando Justin viu o veículo se aproximando através das árvores, nem
pensou, apenas freiou a moto com tudo e se deixou ser lançado para a frente,
caindo de joelhos exatamente na frente do veículo, que no impacto se achatou
e lançou seus ocupantes para fora violentamente.
Jason que vinha à frente só pulou da moto no asfalto e parou os quatro
homens no ar, para que não morressem ou se ferissem mais com o impacto.
Mais adiante, o veículo da deputada parou por alguns segundos e então,
seguiu viagem.
Justin levantou, observando que i veículo preto havia virado um monte
de sucata com o impacto, então notou que Jason suavemente deitava os
homens no chão. Estavam todos vivos, mas gravemente feridos.
Assim que os posicionou em um local seguro, Jason subiu na moto
novamente e aguardou que Justin subisse na garupa, então seguiram caminho
pela avenida Borges de Medeiros, encontrando o veículo da deputada já em
frente ao Clube do Flamengo.

Enquanto isso, na casa da dona Maria,  ela e Hayley tomavam um café


com Renato, seu filho, aguardando a chegada de Helen, mas subitamente um
cheiro diferente pairou no ar e Hayley ficou alerta. Era o cheio de um homem,
que se mesclava com os odores de cocaína e pólvora.
Hayley ordenou que Maria e Renato deitassem no chão pouco antes de
alguém bater no portão. Hayley chegou até o porta e, sem expor o rosto.
- Quem é? - perguntou com uma voz bastante parecida com a da Maria.
Subitamente um estampido e uma bala atravessou seu ombro, seguido
de outras duas se chocando com a parede.
40

O homem segurava um pistola automática na direção da porta,


aguardando se alguém ainda se movia. Na rua as pessoas corriam para dentro
das casas com medo. Foi quando Hayley saiu de trás da porta, o homen logo
se assustou pois quem deveria atender ali era uma idosa negra, conforme lhe
disseram, mas saiu uma mulher jovem e parda. Ele nem pensou, segurou firme
a pistola e apertou o gatilho. Mas não sentia mais sua mão, a pistola bateu no
chão. Enquanto ele era erguido pela camisa a alguns centímetros do chão, viu
aquela mulher o erguendo como se fosse um pedaço de papel, com a pele
mais pálida e os olhos fundos e de coloração estranha.
- Quem mandou você aqui? - perguntou ela com a voz rouca, mas não
houve resposta - Tá bem, vai ser do meu jeito então.
Foi quando ele percebeu que, com a outra mão, ela segurava seu pulso
esticado sobre a cabeça, com a unha do polegar cravada exatamente na junta
entre o escafóide e o rádio. Então ela removeu a unha do ferimento, o braço
dele irrompeu em dor e o sangue começou a escorrer, caindo diretamente na
boca dela.
Ao provar o sangue, Hayley obteve acesso às memórias daquele
homem, descobrindo que a pessoa que o instrui a fazer aquilo, estava
escondida na esquina o teria pagado com uma boa quantidade de cocaína.
Então, ela o soltou bruscamente no chão, deu um único salto até a
esquina e surpreendeu um homem de aproximadamente 40 anos, vestindo a
camisa da seleção, escondendo um fuzil dentro de uma cuba de cerveja. Entes
que ele pudesse alcançar a arma. Ela chutou suas pernas com tanta força que
o joelho direito se curvou para trás e o homem caiu ao chão.

Um Rosto Conhecido

Ao chegar na casa de sua mãe, a Deputada Helen ficou assustada ao


ver uma movimentação incomum nas redondezas, pessoas se acumulando
diante do seu portão. Quando o carro parou, saiu apressada pela porta, sem
nem mesmo aguardar que Justin e Jason se posicionassem para sua proteção,
correndo e abrindo espaço entre as pessoas, apenas para se dar conta que a
cena que a aguardava ali era menos aterrorizante do que imaginava, mas
ainda assim seria difícil de esquecer.
Estavam ali na entrada da casa, sua mãe, servindo água a um homem
que sangrava aparentemente pelo pulso direito, enquanto seu irmão tentava
estancar o sangramento. Ao lado, Hayley parecia conversar baixo com um
segundo homem, que parecia ser sido atropelado por um caminhão, já que
suas pernas pareciam ter sido esmagadas ou torcidas com muita força e os
ossos fraturados saltavam para fora.
Quando Justin, Jason e Junior finalmente chegaram ao portão, ficaram
abismados com a cena diante de seus olhos e perceberam que o melhor era
dispersar o pequena multidão que se formava.
41

Enquanto se posicionava estrategicamente de costas para o portão, para


que as câmeras não pegassem seu rosto, Hayley sussurrava baixo no ouvido
do homem, que lhe respondia no mesmo volume, quando conseguia, lhe dando
as informações que precisava. Embora fosse muito mais fácil absorver suas
memórias pelo sangue, ela sabia muito bem que o quase estado de choque,
aliado a perda de sangue continuamente deixariam as coisas mais difíceis de
assimilar do que numa conversa normal. Sabia também que se ele morresse
ali, todo o trabalho seria perdido, então fez o que parecias mais fácil: Levou o
próprio pulso à boca, mordeu com força, até sentir seu próprio sangue escorrer,
então deixou algumas gotas caírem na boca do homem. Não seria o suficiente
para transformá-lo, mas seria o suficiente para recuperar suas pernas e
possibilitar que fosse movido dali até uma delegacia.
Nesse meio tempo, Jason já havia trancado o portão da frente e dado
uma breve mexida na atmosfera daquele quarteirão para que uma neblina
encobrisse o que acontecia ali.
Poucos minutos depois, uma viatura da Polícia Militar e uma Ambulância
chegaram e levaram os dois homens para o hospital mais próximo, onde os
dois homens iriam ficar em receber tratamento e ficar sob a vigilância da PM.
Após a saída da ambulância, Jason retirou a neblina e todos puderam se
reunir às mesa para finalmente se darem conta do que tinha acontecido
naquela noite. Obviamente a primeira pergunta veio da própria deputada,
questionando como os rapazes tinham feito tudo aquilo com o carro em
movimento, o que foi respondido com sinceridade, na medida do que era
possível para uma pessoa normal absorver, o complicado foi explicar como
Hayley tinha feito tanto estrago naqueles homens sem trazer a tona o fato de
que vampiros realmente existem.
Mas não demorou muito para que as coisas começassem a fugir do
controle.
Começaram a tocar os telefones e as notícias daquela noite trouxeram a
tensão ao local novamente.

"Acidente grave nas proximidades da Rocinha, um carro foi totalmente


destruído no impacto com uma moto e três homens foram hospitalizados em
estado gravíssimo, o piloto da moto foi encontrado no mar, com alguns
ferimentos, as identidades ainda não foram reveladas. O mistério ronda ainda
nos outros dois corpos encontrados na avenida, um decapitado e outro com o
crânio esmagado" era o que dizia em cada site, blog, noticiário e grupo de
whatsapp do país inteiro.

Logo o clima começou a ficar intenso naquela casa, mas o pior ainda
estava por vir. A TV estava ligada, onde passava mais uma das várias cenas
tensas no Hospital Grace Mercy West, onde se passava a série Grey's
Anatomy, quando a programação foi interrompida com um plantão urgente.
42

"Boa noite" dizia a âncora mais conhecida do país, veterana e lenda da


TV. "Recebemos mais informações sobre o ocorrido na noite de hoje, peço
cautela de todos, pois as cenas que foram recuperadas das câmeras de tráfego
são extremamente violentas e perturbadoras"
A imagem cortou para a imagem de uma rua vazia, de depende um
veículo preto passa acompanhado de duas motocicletas, até um segundo
automóvel entra na imagem, no exato momento em que a moto de trás freia
bruscamente e o piloto é lançado em direção a ele, destruindo completamente
o veículo enquanto os três ocupantes são lançados para fora e aparado em
pleno ar pelo piloto da outra moto. Então a âncora retornou à tela, "informações
preliminares indicam que a placa do veículo que passa direto seja da deputada
Helen Silveira, e especula-se que o ocorrido tenha relação com as imagens
que percorrem as redes sociais, que mostram um atentado frustrado à casa da
deputada na favela da Rocinha, nós temos as imagens l, mas novamente
pedimos discrição pelo teor violento".
Então a imagem mudou novamente para uma gravação em retrato,
tremido, visivelmente caseiro, em que se via um homem em frente à casa da
deputada, apontando uma Aram na direção de uma mulher, até que ela
pareceu surgir rapidamente na frente do homem, o segurando pelo pescoço e
pulso, de onde vertia sangue, até que ela lançou o homem ao chão, e partiu
violentamente em direção às esquila ali próximo, onde ergueu um homem do
chão e em um único movimento destroçou suas pernas, então a filmagem
parou bruscamente"
"Outras informações foram divulgadas mas ainda carecem de
confirmação" dizia a âncora "a única confirmação que temos até agora é que
um dos homens que estava no carro destruído é Allan Godoy, filho do senador
Jânio Godoy, que possui um longo histórico de rivalidade política com a
deputada Helen Silveira. Voltamos para mais informações no Jornal da manhã.
Boa noite"

Justin ficou boquiaberto, seu corpo todo tremeu, as implicações


daquelas informações eram tão graves que nem poderiam ser pronunciadas
livremente. A situação era muito mais dramática do que parecia.

Horário de Visita

Allan abriu os olhos, a dor percorria todo seu corpo, não conseguia de
mexer, mas seu cérebro dizia pra sair dali, mas, onde era ali?
Aos poucos os sons de um monitor cardíaco surgiram entrevistados por
um respirador artificial.
A lus forte que recaia em seus olhos pareceu enfraquecer um pouco. Até
que pudesse ver um teto, branco, de gesso, com pequenas lâmpadas de led
acopladas em pequenos buracos. As paredes possuíam um leve contraste
entre branco neve e branco gelo. Acima de sua cabeça podia ver três tubos
43

distintos, verde, azul e amarelo. Foi quando se deu conta que estava realmente
numa cama de hospital. Tentou virar o pescoço para olhar ao redor mas não
conseguiu e a dor lancinante irradiou em sua cabeça. Estava com o pescoço
imobilizado, o braço direto enfaixado, as duas pernas engessadas e
suspensas, sentia uma pontada nas costelas sempre que respirava e ainda não
conseguia processar a dor que sentia.
Logo reconheceu onde estava, tinha visitado sua mãe num quarto
parecido com aquele na infância.
"Estou no Copa D'or" pensou "porque?"
Então as luzes piscaram e uma sensação de frio inundou o local. Então,
como que por mágica, um homem surgiu surgiu em frente à cama de Allan.
- Pensei que teria que esperar muito, mas, pelo visto, você é bem forte.
A voz era estranha, quase um sussurro, mas o rosto definitivamente era
conhecido, mas ele simplesmente não se lembrava de muita coisa, nem
mesmo o porque estava naquele hospital. O que teria acontecido?
Tentou se mover na cama, mas a dor o dominou novamente.
- Calma rapaz, vamos conversar com calma, sem alarmar ninguém, não
há necessidade de saberem que estou aqui, ainda nem é o horário de visita. - a
boca do homem parecia nem se mexer.
Alan puxou o ar pesadamente, sentindo as costelas arderem, abriu a
boca, mas o som saiu tão fraco que nem ele mesmo ouvia direito.
- Pensei que fosse se lembrar de mim, depois daquela noite irada em
Búzios. Tenho certeza que aquelas garotas lembram muito bem.
Aos poucos a memória de Allan foi retornando. Lembrou da noite em
questão, quando foi para Búzios curtir uma festa privativa que havia sido
convidado e rapidamente teria feito amizade com um dos organizadores, um
tipo igual a ele, que não dispensava altas doses de álcool e a companhia de
mulheres gostosas. A festa tinha sido divertida, mas o after que foi épico,
quando o sujeito em questão teria feito uma segunda festa, onde apenas os
dois teriam a companhia de todas as garotas da festa. Tinha se sentido como
um astro do futebol naquele dia, um Ronaldinho talvez?
Mas o que aquele homem fazia ali no quarto do Hospital, aparentemente
tentando não ser visto.
- Foi tenso esperar por três meses até você acordar, mas pelas fraturas,
ferimentos e as muitas cirurgias que você passou, eu esperava que levasse
mais tempo.
"Três meses?" A cabeça de Allan parecia que ia explodir com aquilo.
"Cirurgias? O que aconteceu?"
- Do que você se lembra? - o homem parecia saber o que se passava
em sua cabeça - o que você se lembra daquela noite?
Allan pensou um pouco e se lembrou que naquela manhã teria discutido
com seu pai, pois não iria mais retornar ao instituto, nem investir na carreira
44

política que seu pai almejava, odiava ter que se portar com educação para lidar
com os outros, só queria curtir e que se foda o resto, mas pouco antes das 19h
seu pai teria ligado, avisado que as coisas poderiam ficar complicadas se os
planos dessem errado, mas Allan já sabia de tudo, estava agora junto com
Caio e Júlio, ex cabos da PM, expulsos por má conduta, parados em um
veiculo diante da ALRJ, aguardando a saída do alvo.
Já faziam algumas semanas que tinham organizado aquilo, deveriam
destruir a oposição que ameaçava o mandato de seu pai, assim como todo o
luxo que cercava a família, não aceitava ver seu pai ser confrontado
diariamente perante a mídia por uma bichinha favelada, agora seus amigos
estavam ali com ele para tomar conta do serviço, seu pai sabia de tudo, menos
que ele era o cabeça.
Pouco antes do encerramento do evento, se dirigiram para a saída do
túnel, era o caminho mais previsível para a favela, era só questão de tempo.
Mas tudo tinha saído fora do planejado, teriam de tomar um desvio e se jogar
contra o carro da deputada.
No último segundo Allan só viu uma coisa: a única pessoa que odiava
mais que todos no mundo, surgindo em frente ao carro, então veio o impacto, a
dor, apagou.
As costelas agora pareciam estar se quebrando enquanto respirava
fundo ao lembrar de tudo que tinha acontecido.
- Calma rapaz, não vamos fazer um show aqui. Você sabe quem fez isso
com você, não é?
O homem se aproximou, pegando na perna erguida de Allan, mas ele
não sentiu nada. Foi quando percebeu que não tinha sentido as pernas de
verdade desde que tinha acordado, na verdade sentia a falta da sensação
delas. "O desgraçado me deixou aleijado", pensou, furioso. "Filho da puta!"
- Eles bem tentaram consertar suas pernas, mas só conseguiram
descobrir que você estava mais ferrado por dentro do que parecia. Suas
costelas estavam em cacos, eles reconstruíram do jeito que puderam, mas os
danos eram grandes e tiveram que remover uma parte do pulmão, fígado e
intestino, além do dano irreversível à coluna. Mas eu tenho uma solução para
você.
Allan estava em choque, nem bem conseguia mais ouvir o homem, só
queria sair dali, parar aquela dor e chutar a cara de Justin.
Mas poderia mais chutar alguém.
Nem mesmo ficar de pé.
- Você quer ter sua vida de volta? - o homem perguntava agora bem
próximo de Allan, com as mãos em seu braço enfaixado.
- Sim - Allan conseguiu vocalizar com muito sofrimento.
Então as luzes piscaram novamente e um segundo homem surgiu ali,
mas ele parecia ser apenas uma sombra humanoide, que se aproximou de
Allan, então as luzes se apagaram novamente.
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As luzes de todo o hospital oscilaram e o monitor cardíaco daquele


quarto começou a emitir um pibe longo e contínuo, o respirador parou. Num
instante enfermeiros entraram correndo no quarto apenas para ficarem
assombrados.
Não havia ninguém ali, apenas a cama com os lençóis totalmente
carbonizados.

Emboscada na Areia

Era uma noite quente de dezembro, uma brisa amena soprava nas
areias da praia da barra da Tijuca, uma praia relativamente afastada e bem
vazia se compara às outras do Rio de Janeiro.
Justin e Hayley estavam sentados na areia, dividindo uma garrafa de
vinho e uma bela pizza marguerita. Não era o tipo de coisa que costumavam
fazer, mas precisavam desse momento. Os últimos meses tinham sido
turbulentos. Desde a fatídica noite do serviço de segurança, tinham adquirido o
costume de não passar muito tempo em público para não chamar atenção ou
mesmo ser reconhecidos pelos vídeos que se tornaram virais na internet.
E que susto foi quando notificaram o desaparecimento de Allan e todos
os outros envolvidos na tentativa de homicídio da deputada e sua família.
O senador Jânio Godoy no caminho contrário, tinha ganhado total
atenção da mídia. O desaparecimento do filho havia servido como uma
catapulta de sua própria popularidade, onde passou de um político desprezível
qualquer a um homem que defendia a família e sofria a falta do filho, ganhando
o apreço dos religiosos e conservadores. Isso também tinha tirado o foco das
investigações dos atentados que estavam diretamente ligados ao senador, mas
foi considerado moralmente injusto que ele respondesse esse tipo de processo
enquanto buscava o filho desaparecido.
Uma bela fantasia política, segundo Justin.
Mas, naquela noite específica, ele queria se desligar de tudo isso, afinal,
a exatos dois anos teria pedido Hayley em namoro naquela mesma praia, logo,
uma celebração era merecida.
O ar ao redor era perfumado pela fragrancia mista de manjericão com o
cheiro típico de um vinho sangiovese. O que era um orgulho para Justin que,
mesmo jovem, já tinha um bom paladar para a harmonização de vinhos.
Era uma noite romântica como merecia ser, se abraçavam, beijavam,
lembravam os histórias engraçadas e constrangedoras, como a de sua primeira
relação íntima, onde Hayley deliberadamente tomou as redes da situação para
que Justin não fosse afobado. Hoje ele entende que ela não tinha medo que
ele a machucasse, mas sim o exato oposto. O que tinha deixado de ser um
problema, visto que agora ele poderia se recuperar rapidamente de qualquer
dano que ela o causasse.
Mas a paz não duraria tanto tempo quanto esperavam.
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Pela primeira vez em uns 20 minutos, passou um carro pela avenida


Lúcio Costa, Justin nem deu atenção, mas ficou surpreso quando percebeu
que o carro tinha parado no acostamento.
Quando se virou para ver, reconheceu de pronto os três homens que
andavam em sua direção. Eram os mesmos que acompanharam Allan durante
a briga no Instituto Brown e desde então não haviam retornado para as aulas.
- Olha só, que lindos os pombinhos num jantar romântico! - disse o
primeiro deles.
- Esteva extremamente agradável até agora - respondeu Justin irônico.
Foi quando se levantou e pôde observar atentamente uma quarta
pessoa, que estava de pé ao lado do carro, observando. Vestia camisa e calças
pretas, totalmente desconexo de seus acompanhantes que vestiam regatas e
calções de banho coloridos, mas o que era estranho mesmo era o fato de estar
com bandagens no rosto e mãos.
Foi quando se lembrou que os três rapazes moravam no prédio ao lado
do seu e circulava por ali o boato de que também teria desaparecido no último
mês. Foi então que entendeu que eles provavelmente estavam envolvidos com
alguma situação excusa de Allan e agora estavam ali, fazendo mais um
trabalho sujo para ele.
- Posso saber o que vocês querem aqui?
- Não somos obrigados a responder - disse o menor dos três.
- Isso meio que já foi uma resposta - zombou Hayley antes de tomar um
gole do vinho.
Os garotos então se aproximaram mais de Justin, formando um
semicírculo ao seu redor enquanto ele se posicionada às frente de Hayley para
que nada acontecesse a ela. Foi então que os três avançaram na direção de
Justin, sacando facas esportivas e tentando atingi-lo, sem nenhum sucesso
aparente, visto que Justin habilmente se esquivava de cada golpe.
Ali começou uma luta que alguns descreveriam como injusta por ter três
homens armados com faca, contra um homem desarmado. Mas era
exatamente o oposto. Justin se esquivava e contragolpeava sem medo,
atingindo velozmente os braços e pernas dos rapazes, apenas com força
suficiente para impedir os golpes.
Hayley ali do lado apenas observava e bebia vinho, totalmente alheia
aquela briga, coisa que atirava a mais de ano, desde que Allan e Justin se
provocavam entre as aulas. Não era a primeira vez que tentavam atingir seu
namorado com coisas afiadas. E não seria a última.
Foi então que um dos rapazes cansou da briga, puxou do cós do calção
uma pistola Double Tap Pocket e disparou contra Justin, atingindo Justin no
ombro, provocando o atraso suficiente para que os outros dois conseguissem
perfurar sua barriga com a faca. Um péssimo movimento.
Em um instante Justin segurou a mão dos dois e girou para dentro,
causando fraturas distais em ambos, que rapidamente foram ao chão
47

agonizando de dor. O terceiro, assutado, atirou novamente, apenas para ver


Justin segurar a bala com a mão.
No entanto, antes que algo mais pudesse acontecer, uma forma
explosão levantou toda a areia do local, lançando Justin alguns metros além da
rebentação.
Atônito, tentou ficar de pé, mas o mar estava agitado demais para que
se firmasse no solo, até que sentiu como se alguém o observasse dentro da
água, enquanto ela parecia amansar. Ao levantar, viu que o carro não estava
mais ali, os rapazes havia desaparecido e o pior, Hayley havia sido lançada por
alguns metros em meio a areia e agora parecia estar furiosa.
Ele rapidamente saiu da água e correu até Hayley, que furiosamente
sacudia a cabeça tentando tirar o escesso de areia do cabelo e a mancha de
vinho do vestido branco.
- Você tá bem?
- Tô ótima! - respondeu com a voz alterada - meu cabelo tá só areia,
meu vestido tá manchado, tem um pedaço da taça cravado no meu braço e eu
não sei onde foi parar a última fatia da pizza.
Justin respirou fundo, e gentilmente retirou o vidro no braço da
namorada.
- Para onde eles foram?
- Não consegui ver, a cortina de areia foi bem densa, quando percebi já
tinham sumido - ela dizia, quando outra coisa lhe veio à mente - o tiro!
Machucou muito?
Foi então que Jutsin se lembrou que tinha sido alvejado e esfaqueado,
mas quando levantou a camisa para ver os cortes estavam quase totalmente
cicatrizados e local alvejado já não tinha marca alguma.
- Pelo visto ganhei uma camisa furada e manchada de sangue. Isso
pode ser considerado estilo?

"Se você olhar bem, religiões são complexas demais"

Justin ajudou Hayley a se levantar na areia, mas seu pensamento ainda


estava a alguns metros dali, especificamente na mulher que o observava na
água, quem será ela? Não importava naquele momento, deveria ir para casa, o
encontro já estava arruinado mesmo, de que adiantaria ficar ali?
- Você está bem? - perguntou para a garota, enquanto ajudava a retirar o
excesso de areia do vestido.
- Estou sim, quer dizer, isso é areia né - ela sorriu - não é um crucifixo,
alho ou água benta.
Ele a encarou por alguns segundos, até que ela o interrompeu.
48

- Aí, qual é? Eu tô brincando!


Gargalhou e deu um leve empurrão no namorado, que fingiu sentir para
provocá-la, mas foi completamente ignorado.
- Você é cruel!
- Sou uma criatura das trevas, meu amor! - ela caçoou andando em
direção às avenida, apenas para ser alcançada e abraçada por ele.
- Só quando lhe convém, não é?
- Claro, sou esperta o suficiente pra isso - ela sorriu e o beijou com
carinho - vamos embora, seu pai disse que alguém precisaria arrumar as
coisas para ir pro sítio.
- É, eu sei, pensei que você fosse comigo - ele pegou o lixo que havia
recolhido e depositou na lixeira.
- Eu prometo que chegarei com a mamãe lá, antes do Natal. Ela tem que
concluir umas gravações e vamos sair um pouco em cima da hora.
Ele fez uma careta e segurou a namorada pela cintura, pegou um
impulso com as pernas e saltou, atravessando o lago e aterrizando na frente do
prédio onde morava. Ficaram ali conversando e trocando carinho por alguns
minutos até que Helena chegasse para buscar a filha.
Justin e Hayley se despediram carinhosamente  e ele entrou
rapidamente e subiu para seu apartamento.
Ao chegar em casa, percebeu que seus pais e irmão conversavam com
Josh por vídeo chamada na TV da sala, então preferiu passar despercebido e ir
direto para o quarto. Teria todo o tempo do mundo para conversar durante a
viagem.

Na manhã seguinte, saíram de casa às 5 da manhã e pagaram a estrada


para o sítio da família. A estrada estava bastante calma, o que deixou a viagem
bem curta.
Embora o sítio fosse bem cuidado pelo caseiro, havia muito trabalho a
ser feito pra deixar tudo pronto para o Natal, mas, Evelyn já tinha programado
tudo, iria arrumar as coisas mais simples agora, pois seu marido queria um
tempinho a sós com os garotos para ensinar e explicar algumas coisas que
estavam em aberto desde o aniversário e ganharam outras nuances depois da
noite em que a Deputada foi atacada.
Se aproximava das 10 da manhã, o céu estava nublado e um vento frio
vinha do sul e fazia a água do lago ondular silenciosamente. John levou os
garotos para limpar o pequeno trapiche, que agora estava coberto de folhas
úmidas que sobraram da ventania da noite anterior. Quando Justin pegou um
saco de lixo para colher as folhas, e Jason trouxe o ancinho, o pai sorriu.
49

- Vocês sabem que não precisamos de tudo isso né? - ele sorriu
observando a expressão de desconfiança nos olhos dos filhos - nós,
especialmente, podemos resolver essa bagunça em minutos.
A expressão dos garotos não mudou.
- Ok, vou ter que ser um pouco mais direto - ele sentou no corrimão do
trapiche - Eu sei que vocês já tem uma breve compreensão dos poderes que
vieram com a nossa linhagem, inclusive sei que usaram para fugir de uma
boate e até mesmo impedir um homicídio.
Os rapazes se entreolharam.
- Então, pai, sobre isso... - Jason foi interrompido.
- Eu não estou pedindo explicações, nem mesmo com intenção de punir
ou algo parecido. - John respirou fundo - Mesmo que eu mesmo não tenha
todas as respostas, gostaria de saber se vocês tem alguma dúvida com a qual
eu possa ajudar. Eu realmente quero que sejam sinceros comigo, nada de ficar
escondendo as coisas ou entrando de mansinho com a camisa ensanguentada
pensando que eu não vi.
Justin ficou nervoso e imediatamente começou a falar.
- Um grupo de idiota tentou atacar a mim e à Hayley na praia, mas não
foi nada demais, eu garanto, por isso não quis falar a respeito.
- Quanto aos ferimentos é bem simples, nossos corpos tem uma
resposta muito mais rápida a danos físicos e biológicos, por isso vocês
raramente adoecem.
- Quem te atacou? - perguntou Jason que ouvia tudo atentamente.
- Ah, os amigos do Allan que estavam desaparecidos igual a ele, eu
acho que...
- Sobre isso podemos conversar depois, na presença da Hayley, ela
deve ter alguma observação a respeito.
- Ok, pai, mas tem outra coisa que me encucou sobre aquela hora.
- O que?
- Tinha uma mulher, na água, ela meio que me ajudou naquela hora, não
disse nada, só estava ali me observando.
- Dentro d'água? Uma mulher negra extremamente bonita?
- Isso mesmo.
- Ela é uma velha amiga. Conheci quando vim ao Rio pela primeira vez,
inclusive me ajudou a conquistar a mãe de vocês.
- Ainda não entendi porque ela estava dentro da água - indagou Jason.
- Bom - o pai sorriu - uma das dádivas que a linhagem traz é a
capacidade de enxergar além do que as pessoas normais podem ver, logo, o
mundo espiritual é bem visível para nós, claro que não o tempo todo, mas
50

quando os espíritos estão mais propícios a se mostrar. É no mundo espiritual


que habitam os Orixás.
- Orixás?
- Sim, a bela mulher que lhe ajudou é a bela Iemanjá, comprimido sua
promessa de olhar pelos meus filhos como se fossem dela.
- Como assim?
- Digamos apenas que nos ajudamos no passado e em atenção à nossa
amizade, ela abençoou sua mãe e prometeu olhar por nossos filhos.
- Tá, mas, pensei que essas coisas não existissem, aliás, nem sabia que
você seguia alguma religião.
- Justin, eu criei você ensinando sobre todas religiões, sem dar mérito a
A ou B, apenas para que conhecesse e compreendesse. Se você olhar bem,
religiões são bem complexas, mas de fato as bases delas estão atrás de cada
porta, cada parede, sob nossos pés, ou mesmo no vento que sopra.
Basicamente todos os tipos de entidades conhecidas são reais. Me admiro de
você estranhar, sendo que sua namorada é uma criatura mitológica.
Um silêncio constrangedor tomou conta do lugar.
- A real é que existe muito mais no mundo do que os olhos comuns
podem ver, mas nós podemos.
John deu alguns passos e pegou uma folha encharcada do chão,
segurou diante do rosto e instantaneamente a folha ficou como nova.
- A maioria das pessoas olha para uma folha e vê apenas isso, mas eu,
com todo o conhecimento que acumulei na vida, vejo uma pequena fração de
um ser vivo às beira da morte e uso o dom que me foi confiado para dar a essa
pequena filha a energia para que possa absorver luz e gás carbônico para que
possa emitir oxigênio, posso fazer que as moléculas de água ao seu redor
virem vapor sem alterar a composição da folha - Ele olhou para Justin - Nossos
corpos possuem essa função naturalmente, respondem rápido aos estímulos
exteriores, fazendo com que você seja tão resistente quando um bloco sólido
de titânio, mas ainda leve para não destruir o solo sob seus pés.
Justin sorriu e olhou para Jason envergonhado.
- Não precisam ter vergonha de ser quem são, é exatamente isso que
nos define. - ele girou a folha na mão - vejam bem, manipular a matéria do seu
próprio corpo é fácil, quase automático, mas a matéria externa é bem mais
difícil. Você precisa saber com o tipo de elemento que está lidando e, mais
difícil ainda, conhecer sua interação com os outros elementos, por exemplo,
essa folha, é leve e apresenta uma resistência aerodinâmica que faz com que
sua queda seja graciosa, mas, se eu rearranjar as ligações atômicas na sua
composição - John atirou a folha em direção às árvore e ela voou como um
dardo, entrando cerca de quatro centímetros no tronco - ela pode se tornar uma
arma e tanto.
Os garotos ficaram boquiabertos e tentaram dizer algo, mas o pai
rapidamente juntava agora uma pequena pedra e levantava em sua direção.
51

- Mais difícil do que alterar a composição de um objeto é alterar sua


massa, peso e, consequentemente, sua interação com a gravidade - então
soltou a pedra, que desceu como um tiro e caiu pesadamente no chão, abrindo
uma pequena cratera de aproximadamente 25 centímetros no chão - ou
mesmo como o seu próprio corpo interage com a gravidade - num instante
John começou a levitar a um metro do chão.
- Eu não sabia que você podia fazer isso! - exclamou Justin surpreso -
como é possível fazer isso?
- Seria como ter um campo gravitacional próprio, ou melhor, um campo
magnético próprio - deduziu Jason - bem similar a posicionar imãs de polos
iguais produzindo repulsão suficiente para que o objeto levite.
- Talvez seja isso - dizia John enquanto descia pesado ao chão - na
realidade, até hoje não registrado entre nenhum de nossos antepassados
alguém que pudesse definir por A mais B o que causa isso, mas são poucos os
que conseguem manter por um tempo razoável, a maioria consegue
simplesmente reduzir a atração habitacional para saltar por longas distâncias,
outros nem isso. Mas dizem que o primeiro de nós era tão poderoso que voava
livremente pelos céus - deu um sorriso - alguns acham que ele tinha asas, eu
acho bobagem essa parte, particularmente.
Os garotos sorriram.
- Agora vamos limpar isso tudo antes que a mãe de vocês venha me dar
uma bronca.
Então iniciaram o trabalho de equipe, Justin recolhia as folhas
espalhadas pelo chão. Jason se concentrava em remover qualquer impureza
que estivesse poluindo o lago. Enquanto John vistoria a e rapidamente
concertava qualquer dano estrutural que o trapiche e o solo pudessem
apresentar.

Então, é Natal!

Na manhã seguinte, antes que o sol banhasse a casa dos Morgan, dois
veículos estacionaram na entrada do sítio, não precisavam avisar nada, pois
estavam todos em casa.
Da porta do motorista do primeiro carro saiu o belo Josh, com seu
penteado estiloso e a barba por fazer, vestindo sua clássica regata preta e
calças jeans que lhe conferiam um ar de sensualidade fora do comum. Da
porta do carona saia uma adolescente baixa, ruiva, com um rosto
extremamente amigável e de uma semelhança gritante com Evelyn, mas não
seria diferente, a filha mais nova era a exata cópia do mãe, exceto que se
vestia de forma despreocupada e confortável, com um vestido de alça florido
que lhe descia até os pés e óculos grandes que acentuavam seus olhos
verdes.
52

Das portas traseiras saíram Hayley e Helena, combinando num look todo
preto de camiseta e Jeans, finalizado com belas botas de couro sintético.
Do outros carro saltaram James, os tentando seu belo topete e uma
belíssima jaqueta de couro, e Kevin, que parecia ter aproveitado os últimos
meses dando um tapa no visual, seus cabelo agora mais compridos
ostentavam pequenos cachos negros, uma barba grossa, dando um aspecto
mais másculo e sério ao seu rosto, além das vestes sociais que destoavam um
pouco do ambiente mas o deixavam com um charme a mais.
Assim que John saiu pela porta da frente da casa, Raquel saiu correndo
para abraçar o pai. Fazia um ano que não se viam e ela não aguentava de
saudades.
- Aí, meu pai, que saudades - dizia ela abraçando o pai todas as forças -
você tá com menos cabelo do que eu me lembro!
- Mas nos falamos ontem - ele a afastou com uma cara surpresa, mas
logo começou a sorrir - e você ficou mais alta.
Ela estreitou os olhos em reprovação.
- Ora, temos um comediante aqui. Cadê a mamãe?
- Acho que ainda está na cama e acho que ela não se importa de ser
acordada por você.
Raquel entrou correndo na casa enquanto os outros se aproximavam.
- A garota está certa, você está com menos cabelo meu irmão - Dizia
James se aproximando de John.
- É o peso desse topete que tá destruindo sua visão - ele então
percebeu Kevin logo atrás - Meu Deus do céu, um caminhão de alterofilistas
passou por cima de você? Quantos anos que a gente não se vê, meu
sobrinho?
- Muito engraçado, tio, eu só cresci um pouquinho, as garotas estão
amando - dizia Kevin flexionando o biceps.
- Tenho certeza que sim, bom ver que você está feliz! Por favor, entrem e
se acomodem, acho que os rapazes já acordaram e podem ajudar vocês com
isso.
Os dois entraram, revelando um Josh parado franzindo a testa em
direção a John.
- Héteros! Nunca vou entender!
- Ué? - John sorriu para Josh, que fez o mesmo - Mas eu também sou
hétero e você me entende.
- Ah, tio, você não vale! Seu lado da família é o lado legal da família.
Os dois se abraçaram e John segurou o rosto do sobrinho
carinhosamente.
53

- Nunca se esqueça que o meu Aldo da família, inclui você. - os olhos de


John se encheram de lágrimas - Olha só você, tão grande, seu pai, que Deus o
tenha, ficaria orgulhoso do filho maravilhoso que você se tornou pra nós.
- Eu sei que sim.
Josh beijou a testa do tio e entrou na casa, passou pela sala, onde
James e Kevin falavam sobre futebol, seguiu até a primeira porta da esquerda,
entrou e se deparou com dois marmanjos dormindo igual bebês roncadores.
Respirou fundo, soltou sua mala que caiu pesada no chão fazendo barulho.
- Eu esperava uma recepção calorosa de vocês dois, sabia?
Justin e Jason levantaram sobressaltados com o barulho e se
levantaram rapidamente, assustados ao ver Josh ali olhando para eles.
- Eu acho que eu espero muito de vocês mesmo. - dizia Josh com um
sorriso malicioso no rosto.

Na varanda da entrada Hayley ainda respirava o ar puro e fresco do


campo, quando percebeu que John estava olhando para ela. Então se deu
conta de que sua mãe também a observava, mesmo que os óculos de sol
escondessem isso.
- Senhor Morgan, como o senhor está?
- Sinceramente? Estou faminto! - ele sorriu para ela - Mas aposto que
vocês também estão, correto, Helena?
- Não tenha dúvidas disso.
Helena se aproximou, abraçou John e deu um beijo em cada bochecha
do seu anfitrião.
- Se você não se incomoda, eu adoraria ajudar na cozinha.
- Mas, de jeito algum, eu mesmo preparei bolo de milho e de macaxeira
pro nosso café da manhã, deixei esfriando durante a noite. Meus convidados
devem ser bem recebidos, não é?
Helena sorriu.
- E Evelyn? Faz tanto tempo que não a vejo.
- A essa altura já deve ter sido acordada pela Raquel - ele se virou para
Hayley - Assim como o Justin deve ter sido acordado pelo Josh.
- O que tem eu? - disse Justin saindo pela porta.
- Alguém não morre cedo - John deu um leve tapa no ombro do filho e
entrou.
- Oi amor - disse ele abraçando e beijando sua amada, até que sentiu
um olhar o fitando, então se recompôs - Olá, senhora Pires, bom dia.
54

- Bom dia - respondeu ela com um tom severo - não precisa ficar tenso
na minha presença, que horror - ela sorriu - já passamos dessa fase há
tempos.
Os três então sorriram daquela situação.

Durante o dia, John, James e Kevin ficaram no trapiche, bebendo e


jogando conversa fora. Evelyn e Helena ficaram na cozinha preparando a ceia
de Natal, enquanto Justin, Jason, Raquel, Hayley e Josh arrumavam a casa e
botavam a conversa em dia, inclusive as partes mais estranhas.
Não demorou muito e se aproximava a hot do jantar. Os jovens seguiam
o mesmo ritual desde a infância: tomavam banho em ordem decrescente, se
arrumavam e se reuniam ao redor da mesa de centro, sentados no carpete
jogando cartas até a hora da ceia. Naquele dia, além das cartas, muita
conversa era colocada em dia, parecia que o assunto nunca acabava, apenas
mudava e acabava voltando para os eventos que envolviam Allan.
- Então quer dizer que vocês mandaram aquele babaca pra UTI? -
indagou Kevin de força jocosa.
- É um jeito bem rude de se dizer mas. É. Acho que sim, mas não me
orgulho disso. - Justin inconscientemente se escondia atrás das cartas.
- Pra falar a verdade, nem nós mesmos sabíamos bem o que estávamos
fazendo naquele dia - dizia Jason, inseguro - parece que foi adrenalina subir e
as coisas meio que seguiram quase sozinhas.
- Então, o que vocês conseguem fazer?
- Não acho que seja um bom momento pra isso - interrompeu Josh.
- Deixa de ser estraga prazeres! - respondeu Kevin no mesmo instante -
raramente conseguimos nos reunir e estamos entre família, teoricamente não
há segredos aqui.
Josh e Justin trocaram olhares por alguns segundos, até que Justin
limpou a garganta, ergueu a mão esquerda até o copo de refrigerante às sua
frente, logo o líquido pareceu ganhar vida própria e orbitar seus dedos.
- Basicamente posso controlar qualquer tipo de matéria, mais facilmente
os líquidos e gases - Ele fechou a mão e o líquido voltou para o copo, então
ergueu novamente a mão ao lado da cabeça - além de percepção espacial em
360 graus - então tentou fazer com que um dos livros da estante voasse até
sua mão, mas o livro caiu no meio do caminho - ainda preciso melhorar isso.
- Maneiro. Consegue transformar esse refri em cerveja? Se sim, é um
poder que vale a pena!
Os demais o observaram até que sua expressão mudasse.
55

- Vocês são chatos! - apontou para Jason - e você, japa, sabe fazer a
mesma coisa ou tem alguma raposa demônio selada em você?
- Pra incio de conversa, somos todos descendentes de japonês, exceto a
Hayley. - Jason parecia levemente irritado - Segundo que eu não sou um
personagem de anime, muito menos loiro.
- Aí, tanto faz.
- Respondendo à sua pergunta, temos os mesmo poderes, só que eu me
concentro com muito mais facilidade - então o nacho em sua mão ficou mole,
voltando a ser uma massa crua, pegajosa e, por fim, virando líquido - só isso
mesmo.
- Ah tá, e essa beldade que por algum motivo vê algo que preste no
careta do meu primo?
Hayley o olhou com desprezo, o que só fez com ele continuasse seu
comentário.
- Com tanto homem bonito nessa cidade, ela escolheu o mais sem
graça.
- Mais um comentário e eu te mostro como eu destruo uma garganta em
segundos! - ameaçou a vampira.
- Com todo o respeito mas. Faz algum tempo que eu não sou mordido
por uma mulher bonita - soltou um sorriso sacana - mas, além disso, você virá
morcego ou algo do tipo?
Todos tiram à mesa.
- Bem que eu queria, mas não.
- Que chato, seria maneiro. - ele sorriu novamente - quanto a vocês dois,
já sei que são tipo o Stephen Hawking da família, soy que sem a doença.
- Você tem algum problema, só pode - Balbuciou Raquel - Eu prefiro
colocar como agilidade cognitiva e facilidade de aprendizado. Absorvemos
informações com mais facilidade que a maioria, o que nos faz aprender na
metade do tempo de uma pessoa considerada normal.
- Famoso Nerd Gourmet.
- Ok, palhaço - disse Josh - e você, é só um super babaca mesmo ou
tem algo que preste aí?
- Assim você me ofende primo, perdão se passei do porno em algum
momento. - ele segurou no ombro de Josh e fez cara de cachorro pidão - eu
acho que tenho alguma coisa dessa de aprendizado, só não tenho paciência
pra isso - ele coçou a cabeça - e, teve uma vez que eu falei com espírito de
uma garota.
Todos o olharam apreensivos.
- Você fala com espíritos? - perguntou Jason.
- Sim, é normal né?
56

- Todos nós conseguimos ver o mundo espiritual, alguns mais que


outros, - explicou Josh - agora, interagir diretamente com um espírito é o nível
de mediunidade relativamente raro.
- É, eu sou foda mesmo.
- Olha a boca suja garoto! - realhava Evelyn enquanto entrava para
chamar o jovens para ceia.
Naquela noite, comeram, beberam, se divertiram e aproveitaram a
companhia uns dos outros.
A partir daquele momento, encontros como esse se tornariam mais
escassos e as coisas se tornariam muito mais complicadas.

Ano Novo, vida nova, dúvidas não tão novas assim...

O período festivo foi um misto de novidades e nostalgia. Os mais velhos


papearam, beberam, se divertiram e jogaram a dieta no lixo, enquanto os mais
jovens voltaram à infância, jogaram jogos de tabuleiro, cartas e um Super
Nintendo que Josh tirou sabe se lá de onde, nadaram no lago, contaram
histórias de terror e tentaram receitas absurdas de doces.
Todos retornaram para o Rio de Janeiro no dia 29 de dezembro, onde
cada família seguiu suas tradições próprias.
Helena e Hayley foram à uma festa de um diretor bastante famoso, o
qual Hayley suspeitava que vinha tendo um affair com sua mãe, o que não lhe
alegrava em saber que Helena ainda se sentia livre para amar.
A empresa de James era um dos patrocinadores do Réveillon de
Copacabana e Kevin seria o rosto da empresa no evento e, certamente, lucrar
bastante com o consumo de bebida na festa.
Quando a John e sua família, a tradição era realizar um jantar em casa,
comer doze uvas e apresentar oferendas a Iemanjá, coisa que agora Justin
entendia não ser apenas por religião, mas sim um agradecimento aos anos de
amizade.
Ao contrário da maioria das pessoas que entregavam espelhos e pentes
para a orixá, John criava um parquinho com a própria areia da praia, onde
rapidamente cresciam belas flores de cores variadas que perfumavam toda
praia.
Justin ficou maravilhado ao ver a bela mulher emergindo das águas e
absorvendo toda a energia que os fiéis depositavam mas oferendas. Enquanto
Jason tentava criar flores da mesma forma que seu pai, na intenção de
presentear uma jovem atraente que estava ali perto.
Nós cinco dias seguintes, Josh e Raquel continuaram na casa de John,
Raquel em seu quarto e Josh dormindo no sofá-cama da sala, já que sua
antiga cama agora era de Jason.
57

Todas as noites, Justin e Jason ficavam encucados com uma estranha


luz verde que passava por baixa da porta do quarto, mas, sempre que ia na
sala verificar, tinha apenas um Josh roncando alto no sofá.
Foi apenas quando estavam se despedindo que Raquel decidiu revelar
que já estava fazendo mestrado em bioquímica, ao mesmo tempo em que
cursava uma segunda graduação em engenharia química, o que fez toda a
família quase surtar e ter sérias dúvidas quanto à saúde mental da garota, mas
foram devidamente acalmados por Josh, que revelou estar acompanhando de
perto a evolução acadêmica da prima, que era seu orgulho.
Não poderia ser menos que isso. Josh, nos seus vinte anos já trazia nas
costas um doutorado em antropologia e um mestrado em sociologia, além de
lecionar língua portuguesa e sociologia em instituições respeitadas nós
Estados Unidos. Ele estava orgulhosos da possibilidade de ser superado por
sua prima quatro anos mais nova.

*
Nos dias seguintes pouca coisa aconteceu. Foi realizada a cerimônia de
formatura do ensino médio do Instituto Brown, do qual Allan não teria
participado, já que seu paradeiro ainda era desconhecido.
Heyleu tinha sido aprovada para o curso de enfermagem da UFRJ,
enquanto Justin e Jason decidiram utilizar aquele ano para se aprofundar nos
negócios da família.
O mês de janeiro passou como um raio e logo Hayley estava estudando.
Luiz, após os seis meses trabalhando na equipe da BBC e calouro no
curso de jornalismo, precisou pedir dispensa por uma semana no curso pois
precisaria ir gravar uma matéria com equipe da emissora em seu estado natal.
Enquanto isso, Justin e Jason gastavam a maior parte de seu tempo
tentando investigar o paradeiro de Allan, o que os fazia importunar o delegado
Ricardo com frequência, sempre questionando sobre assunto sigilosos da
polícia. Em uma dessas buscas, decidiram ir até o hospital mas parecia que
alguma coisa tentava impedir que encontrassem respostas, já que na entrada
Justin quase foi atingido por um pneu que escapuliu de uma viatura de polícia
que passava ali próximo, sendo salvo simplesmente por ter esbarrado com um
transeunte.

Revisando as evidências em um encontro inesperado

Assustado pelo ocorrido, Justin tentou se recompor e encontrar a boa


alma que teria evitado sua possível morte, mas não encontrou nada. Se
perguntava se teria sido realmente uma pessoa ou algum sinal do plano
espiritual. Não era hora de pensar nisso, afinal, estavam a poucos momentos
de, talvez, encontrar informações de Allan.
58

Ao entrar na recepção, ficou espantado pelo design chique do local.


Mesmo que fosse relativamente bem agraciado monetariamente, nunca tinha
dado muita importância para chiqueza, muito menos tinha tido a necessidade
de visitar um hospital que não fosse por questões rotineiras, como vacinação,
que era disponibilizada no hospital público.
A recepção estava relativamente vazia, apenas um casal de idosos
parecia conversar em um par de poltronas próximas ao balcão, onde uma
jovem loira com um sorriso largo olhava para os recém chegados.
- Bom dia, senhores, em que posso ajudá-los?
- Er, bom dia - Justin fez um gesto leve com as mãos - eu acho que esse
casal está na nossa frente.
- Não, o senhor e a senhora Hering estão aguardando o filho que foi
buscar o carro no estacionamento - o sorriso não deixava seu rosto por
nenhum momento.
- Bom, então - ele tentava achar as palavras - eu gostaria de visitar um
amigo que não vejo a bastante tempo, fiquei sabendo que ele estava internado
aqui antes de desaparecer e decidi ajudar nas buscas.
Num instante o sorriso da moça desapareceu e a segunda recepcionista
que até ali tinha passado despercebida passou a prestar atenção no jovem.
- Sinto muito, mas todas as informações sobre o senhor Godoy foram
entregues às autoridades competentes e não somos autorizados a falar a
respeito com pessoas que não sejam da polícia.
- Poxa, é que eu gostaria muito de ajudar a família e venho tentando
encontrar qualquer informação que tenha passado despercebida.
- Perdão, não posso dar nenhuma informação, agora, se for apenas
esse o assunto, você poderia fazer o favor de se retirar?
- A não ser que queira uma consulta para o seu irmão que não parece
estar muito bem.
Quando Justin olhou para o lado, Jason estava pálido e ofegante.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, eu só tive uma pequena queda de pressão, eu só preciso comer
alguma coisa.
- Temos alguns biscoitos, você aceita? - ofereceu a segunda
recepcionista.
- Obrigado, mas não queremos gastar ainda mais seu tempo - Dizia
Jason enquanto puxava Justin para fora, ao mesmo tempo em que um rapaz
saía com os idosos que estavam ali.
Ao chegar no estacionamento, Jason finalmente respirou fundo e a
aplidez desapareceu.
59

- Você foi bem convincente, irmãozinho, até eu achei que estivesse


passando mal mesmo!
-E quem disse que eu não estava?
- Conseguiu alguma coisa?
- Consegui criar trauma de hospitais, como se já não fosse um lugar
assutado e por natureza.

O plano dos irmãos era justamente que Justin distraísse as


recepcionistas para que Jason Pudesse agir. Recentemente ele tinha
descoberto que podia sentir a energia de um lugar se focasse seus sentidos.
A descoberta teria acontecido por acaso, quando caminhava pela praia e
passou pelo local onde Justin foi atacado e pôde sentir a energia de ódio usado
no ataque, mesmo depois de um mês.
Então Jason entraria no hospital e iria ficar seus sentidos e tentar sentir
a energia de Allan naquele prédio. Mas o que sentiu foi muito além do
esperado.

- Eu senti tudo, dor, sofrimento, alegria e luto. Como se as emoções de


todos os que já estiveram naquele hospital estivesse passando pelo meu
corpo, mas, o pior veio depois.
- O que veio depois?
Jason respirou fundo mais uma vez e sentou na calçada.
- Eu senti os ambulatórios, a UTI, tanto dor acumulada, até que senti o
Allan, a dor dele, então... - A voz de Jason vacilou - eu senti algo muito pior que
qualquer coisa.
- Pior? O que pode ser pior?
- Era uma força incrível e densa, uma presença tão escura que pareceu
tomar o ar dos meus pulmões. Seja o que for, não era humano.
Justin engoliu em seco, conhecia o suficiente sobre as muitas religiões
para saber que uma energia desse tipo significava que algo muito ruim estava
acontecendo.
- Precisamos fazer algo a respeito disso. Mas, esse tipo de energia pode
significar muitas coisas, dependendo do ângulo que se olha, vamos ter que
estudar isso um pouco mais a fundo. - limpou a garganta - Vamos nos reunir
com a Hayley à tarde e passamos isso pra ela.
60

Jason puxou o celular do bolso e solicitou um Uber para casa.

Mais tarde naquele mesmo dia, 31 de janeiro de 2019, seguiram para o


Shopping Jardim América, onde deveriam encontrar Hayley.
Era próximo das 17h quando chegaram ao Shopping e seguiram para o
mini distrito de bares que existia ali dentro. Onde Hayley os aguardava os
aguardava em uma mesa, tomando uma Coca Zero.
Ao passarem as informações para Hayley, ela ficou preocupada. Mesmo
que tivesse algum conhecimento prático em criaturas não humanas, nunca
tinha ouvido falar de uma energia tão sombria assim e, mesmo que
conhecesse, sabia que mexer com isso seria um risco enorme.
Ponderando por um tempo sobre as possíveis criaturas que pudessem
estar por trás daquela energia, desde espíritos vingativos a forças demoníacas,
tudo parecia bem improvável. Até que uma gargalhada na mesa ao lado
chamou sua atenção.
Ali, naquela mesa, estavam a deputada Helen e o vereador Júnior,
juntamente com uma dupla de famosas Drag Queens.
Ao perceber quem a observava, Helen se levantou e foi até a outra mesa
onde cumprimentou Hayley com um forte abraço.
- Aí meu Deus, quanto tempo que não vejo vocês! Você fica mais linda
cada dia! E vocês - Ela agora cumprimentava os irmãos formalmente - vocês
estão cada vez mais parecidos!
- Deputada, é uma honra e uma surpresa vê-la aqui - dizia Hayley de
forma educada.
- Ora, minha cara, eu ganhei só uma cadeira no congresso, não um
gabinete no Planalto. Além do mais, gosto de estar perto do meu povo e
debater projetos inclusivos assim, da forma mais agradável.
Júnior e as drags apenas acenaram a outra mesa, enquanto Jason
acenava de volta. até que foram interrompidos por mais uma voz conhecida,
agora vinda de trás de Justin.
- Ora Ora, ele diz que apoia os negócios da família, mas vem no bar
prefere pedir suco?
- Olá, Kevin.
- Sabe, é um tanto frustrante entregar pessoalmente um carregamento
de cerveja e ver que quem poderia fazer a propaganda gratuita nem pensa em
consumir.
- Você sabe que eu não sou muito fã de cerveja.
61

- Você não é fã de muita coisa - disse Kevin, passando por ele para
abraçar Hayley - mas, se me permite, eu sou fã de mulheres inspiradoras -
então se virou para a deputada - devo dizer que é uma honra revê-la, ainda
mais em saber que você e meu querido primo - abraçou Júnior - tem bom gosto
e consomem produtos de qualidade.
- Não posso mentir, eu gosto de uma cerveja de qualidade, sou
brasileira.
- Se me permite, gostaria de tirar uma selfie com a senhora pra registrar
este momento.
- À vontade.
Então Kevin ajeitou o ângulo e tirou a Selfie, com ele e a deputada em
primeiro plano, mostrando Justin, Jason e Hayley no segundo plano.
- Muito obrigado, adoraria ficar mais com vocês, mas tenho outros
clientes para visitar. - ele começou a se afastar e parou - Ah! Primos, avisem o
Tio John que eu devo ir lá com ele no fim de semana.
Os dois assentiram, enquanto a deputada retornava para sua mesa e
puderam retornam aos debates sobre a energia sombria do hospital, mas
Hayley lembrou que Luiz chegaria no próximo Vôo vindo de Belém e deveria
chegar a qualquer momento, ela tinha combinado de buscá-lo no aeroporto.
Antes que pudessem pagar pelo consumo, uma explosão irrompeu num
bar próximo, de onde vinha um homem alto, com bandagens cobrindo os
braços e o rosto marcado por cicatrizes e o cabelo loiro caindo sobre os olhos.
Não restava dúvida, aquele era Allan, mas ele estava bastante diferente. Seu
semblante era mais sério que o normal e seus olhos pareciam irritados e
avermelhados.
Foi então que outras explosões começaram a ocorrer pelo shopping, foi
só aí que Eles perceberam que Allan estava acompanhado dos mesmos jovens
que atacaram Justin na praia. Hayley rapidamente iniciou a evacuação do local,
usando sua força e velocidade sobrehumanas para salvar o máximo de vidas,
enquanto Jason correu para impedir os comparsas de Allan de causar mais
danos.
Já Justin decidiu encarar Allan de frente e o atacou. Ao passo que Allan
revidou com um rápido e violento chute que o lançou alguns metros para trás.
Justin não adimitia ser derrubado desse jeito, uma irá começou a crescer em
seu peito, fazendo que a atmosfera ao redor respondesse, fazendo com que
surgissem densas nuvens negras e raios por toda aquela parte da cidade.
Hayley já tinha conseguido retirar todas as pessoas que estavam no
complexo dos bares e alguns que estavam em áreas próximas. Enquanto o
resto dos clientes do shopping seguiam o protocolo de incêndio.
Jason resistia enquanto dois rapazes tentavam acertá-lo com facas.
Justin se levantou furioso e avançou contra Allan que o acertou com um
uppercut com uma força descomunal que o lançou por quase dez quilômetros,
62

caindo no asfalto da Avenida Vinte de Janeiro, em frente ao aeroporto do


Galeão.

De repente, noticiário

O choque com o asfalto foi tão violento que o Corpo de Justin parou no
fundo de uma pequena cratera. Uma dor percorreu sei corpo, pouco antes de
um pico de adrenalina. Quando levantou, veio o susto, estava rodeado de
pessoas, curiosos que o observavam assustados e, dentre eles, um conhecido:
Luiz, segurando a câmera em sua direção.
A expressão no rosto do amigo era um misto de surpresa e medo,
concluiu que aquela altura já deveria estar sendo transmitido para a emissora e
não passaria mais despercebido naquela cidade.
No mesmo instante, seus pelos se arrepiaram, uma sensação de perigo
tomou conta de seu corpo a tempo de ver um tronco de árvore que vinha em
sua direção, afastou as pessoas da forma que pôde e ergueu a mão esquerda,
desviando o trajeto do tronco que parou sobre o capô de um carro próximo,
mas não deu tempo de evitar o ataque de Allan, que o atingiu violentamente e
o ergueu pelo pescoço.
Vendo Allan mais de perto, Justin percebeu que sua aparência estava
bem diferente do que se lembrava. Seus olhos estavam avermelhados, como
se tivesse sob efeito do consumo de cannabis, seu rosto, antes belo e másculo,
agora estava com cicatrizes e um nariz torto. O cabelo loiro agora parecia
bastante danificado e quebradiço. Se pegou ponderando em sua mente o que
teria levado Allan àquele estado, que criatura teria tido contato com ele para
danificar ainda mais sua mente perturbada.
- Filho da puta!
Foi a única coisa que ouviram antes de Allan ser atingido no lado
esquerdo do rosto pelo pé de Jason. Allan caiu contra a parede de cratera e,
antes que pudessem perceber, estava sendo lançado no ar e caindo sobre um
avião estacionado no pátio do aeroporto.
Por sorte a aeronave estava vazia e só deveria sair na madrugada. Uma
explosão sobriu Allan, assustando os poucos que ainda estavam dentro do
aeroporto.
- Parece que encontramos quem estávamos buscando, irmãozinho. -
Dizia Jason, ajudando Justin a sair da cratera.
- Muito pelo contrário, ele nos encontrou. - Corrigiu Justin - Ah, olha, é o
Luiz ali, nos filmando.
Jason olhou lentamente para a câmera e deu um aceno sem graça.
Luiz engoliu em seco. Sabia que o segredo dos amigos não estava mais
seguro, ainda mais depois que a emissora tinha avisado que estava
transmitindo para a BBC internacional.
63

Como um sopro de vento, Hayley surgiu em meio ao público, assutada


ao ver o amigo ali. Respirou fundo e gritou.
- Saiam daqui! Não e seguro!
A medida que as pessoas iam se afastando. Hayley chegou bem
próximo e Luiz e deu um olhar de confiança para o amigo, silenciosamente
pedindo para que ele fique seguro, antes de seguir Justin e Jason em direção
ao pátio do aeroporto, onde Allan saia do meio das chamas apenas com as
roupas carbonizadas.
Hayley tomou a dianteira e tentou atacar Allan, que simplesmente a
ignorou a passou direto. Mas ela foi mais rápida, agarrou o rapaz pelas pernas
e o lançou ao chão.
- Vai me ignorar agora? Nem parece o cara que vivia atrás de mim.
Allan sorriu.
- Fica fora disso, é papo de homem.
Hayley chutou o rosto de Allan.
- Quer dizer que você não aceita apanhar pra uma mulher? Tenho uma
notícia querido - dizia enquanto se abaixava e apertava o pescoço do rapaz -
eu não preciso de um pênis pra quebrar a sua cara.
Allan então, numa tentativa de fuga, deu um soco no rosto de Hayley, o
que a lançou cerca de um metro para o lado, apenas a tempo de Justin chegar
a acertá-lo com um gancho de direita que o fez rolar pelo chão.
Aproveitando o impulso, Allan se levantou antes de ser atingido pelo
punho de Jason, acertando com a sola do pé diretamente no peito dele com
toda sua força.

Carlos estava de pé ao lado da cratera, repassando as informações para


a os telespectadores que o assistiam, o que significava todo o Brasil e mais
alguns países onde as imagens eram transmitidas em todos os canais,
inclusive no YouTube, Instagram e Facebook da BBC.
- O Evento mais recente da cidade do Rio de Janeiro foi exatamente
esse que você vê atrás de mim, uma carteira se abriu bem diante do aeroporto
Tom Jobim e, conforme pode ser visto nas imagens, se trata de um tipo de
briga entre jovens - sua voz vacilava conforme tentava suportar a dor crescente
em seu ombro ferido, mesmo que estivesse gritando para sobrepor o ruído do
vento forte e os trovões que eram ouvidos - não temos informações da
identidade dos jovens até o momento, mas suspeita-se que um deles seja o
filho do senador Jânio Godoy, desaparecido em setembro do ano passado. Não
se sabe as circunstâncias da briga, mas parece que os jovens possuem
capacidades sobrenaturais, o que pode representar risco para todos que se
aproximem.
64

Foi então que Jason passou atravessou a estrutura do aeroporto,


passando por trás do repórter que quase gritou com o susto.
Luiz tentou seguir o rapaz com a câmera, mas antes de pudesse virar,
captou o momento em que Allan passou correndo pelo mesmo buraco, seguido
de Jason e Hayley.

Rastro de destruição.

Jason estava assustado. O pisão de Allan o tinha lançado até o Museu


do Amanhã. Embora o choque, não sentia dor, pelo menos não tanta quando
deveria. Ele olhou na direção da Ilha do Governador e viu Allan se aproximado
e sendo atingido pelos punhos de Justin e caindo com força na água.
Justin pousou com força próximo de Jason, seus olhos pareciam brasas
ardentes. Hayley chegou logo depois, preocupada com o cunhado mas, ao ver
que ele estava bem, brincou.
- Que bom que vocês tem resistência acima do comum né? Imagine
levar um pisão desse sendo uma pessoa comum.
Ela nem imaginava que veria isso acontecer muito em breve.
A água se ondulou e pareceu ferver. Allan surgiu de dentro d'água, seu
corpo parecia enrubescido, a água do seu corpo evaporava como gotas em
uma panela quente.

O noticiário tomava conta de todas as emissoras e agora todas as


casas, empresas e escolas estavam paradas em frente às TV ,vendo aquela
cena.
A deputada Helen e o vereador Ricardo Junior foram escoltados de volta
para a rocinha às pressas, todos os clientes do shopping que tinham sido
retirados dali por Hayley foram levados para receber assistência médica.
Alguns estavam bem, mas outros, mais próximos aos pontos de explosão,
apresentavam ferimentos, alguns em estado grave. Os comparsas de Allan,
deixados imobilizados no meio fio em frente ao shopping, eram levados agora
para a delegacia.

Enquanto isso, em uma sala de aula de uma escola simples no Brooklin,


Josh explicava a seus alunos sobre tempos verbais da língua portuguesa,
quando um burburinho se iniciou no fundo da sala.
65

- I told you, no cellphones in my class - o professor advertida seus


alunos - Eu disse, sem telefones na minha aula.
- There's something crazy happening in Brazil, you should see this! - Tem
uma coisa louca acontecendo no Brasil, você deveria ver isso! - respondeu um
dia alunos em um tom típico de quem assiste um filme de super-heróis.
Subitamente todos os capilares da sala começaram a apitar e os alunos
falando cada vez mais alto entre si. Um dos alunos decidiu mostrar ao
professor o vídeo que tinha acabado de receber. Josh estava curioso, um
pouco nervoso até, intimamente torcendo que nada daquilo fosse relativo a sua
família, mas, antes que pudesse ver a tela daquele celular, foi interrompido por
uma voz grave.
- Sir, you have been summoned - Senhor, você foi convocado.
Josh sentou um arrepio descer por sua coluna ao ver aquele homem
parado na porta da sua sala. Era uma figura que daria medo em qualquer
pessoa: um homem pálido, alto, de cabelos longos e barba grossa, castanhos,
encobrindo uma feição rígida e séria, vestindo um sobretudo negro que descia
até os pés.
- The Class is over, go home! - dispensou os alunos e atravessou a porta
junto com o homem misterioso.

Hayley caiu pesada sobre o asfalto, nem conseguiu pensar antes que
Allan a segurasse pelo cabelo e batesse seu rosto contra o chão. Ao passo que
Justin se aproximou rapidamente, segurou o rapaz pela perna e o lançou rumo
a um prédio próximo.
Antes que batesse na fachada do prédio, Allan foi atingido novamente,
agora por um Jason, que o lançou ao ar, cerca de quatro metros acima do solo,
onde Hayley o alcançou, puxou seus braços para trás e apoiou seu peso nas
costas, fazendo o jovem cair de rosto no asfalto. Hayley o levantou, deixando
de joelhos no chão, enquanto Jason fazia o asfalto engolir as pernas o
ex-colega, impedindo que pudesse se levantar o contra-atacar.
Justin tomou a dianteira e se aproximou do rosto de Allan, que o
observava com olhos ferozes, ao passo que todo o tráfego daquela rua estava
parado e os motoristas agora saíam dos veículos para observar e filmar melhor
aquela cena. No céu, o som estrondoso do helicóptero da BBC que rodeava o
local para que Luiz pudesse captar as imagens de um ângulo privilegiado e
Carlos respirava ofegante tamanha a adrenalina de ser o mensageiro daquele
momento.
- Me fala, onde você esteve todo esse tempo? - Justin perguntava com o
rosto próximo ao de Allan - Quem diabos te deu esses poderes?
66

- Bem - Allan sorria enquanto um filete de sangue descia pelo canto de


sua boca - Você sempre foi o esperto da turma, porque não deduz por si
próprio?
Justin sentiu seu sangue esquentar e deu um soco no rosto de Allan.
- E porque me atacar?
- Essa nem é tão difícil, gênio - ele sorriu novamente - quero você fora
do meu caminho. Quero me livrar do que me atrapalha. Ele me disse que se eu
matasse você, nada ficaria no meu caminho e eu poderia fazer o que eu
quisesse com o resto.
- Ele quem?
- O homem da sombra.
Jason gelou, enquanto Justin ficou incrédulo.
- Quem é esse homem da sombra? - a voz de Justin era um misto de
raiva e medo.
- Ele me escolheu pra te destruir, e depois, eu poderia empalar aquela
aberração que ocupa o congresso, esfolar seu irmãozinho vivo, - Abriu um
sorriso maligno - levar sua namoradinha pra ser meu brinquedo pessoal.
- Desgraçado, filho da puta! - Justin Gritou e esmurrou o rosto de Allan
com força que seu supercílio estourou, banhando o rosto em sangue.
Jason correu e segurou o irmão, tentando conter sua fúria, foi a
distração que Allan precisava. Jogou a cabeça para trás, acertando Hayley no
Nariz, não foi o suficiente para ferir, mas apenas para que ela soltasse seus
braços, então bateu com força no chão.
Uma onda de choque lançou os três para trás, fez o asfalto ondular,
derrubando muitos os curiosos que ali estavam, e fez as vidraças do edifícios
ao redor estourarem violentamente. Uma chuva de vidro caiu sobre as
calçadas, onde alguns ficaram feridos, enquanto Allan avançava, agarrava os
inimigo pela roupa e lançava para para a frente.
Hayley atravessou a janela de um quarto de hotel. Jason caiu sobre um
ônibus que, felizmente estava vazio. Já Justin caiu numa calçada. Ao levantar
os olhos percebeu que estava em frente à Candelária. Foi então que se deu
conta da tamanha destruição que tinham causado desde o Museu do Amanhã.
Tentou mensurar os danos que tinham causado, quantos empreendimentos
tinha destruído? Quantos teriam se ferido naquele curto espaço de tempo?
Quantos teriam morrido ali?
Foi então que uma fúria tremenda invadiu seu corpo. Sabia que teria que
acabar com aquilo ali o mais rápido possível. Sabia que teria que obter
respostas, mas como faria com que Allan falasse? Teria que pensar nisso outra
hora, agora Allan já estava vindo em sua direção.

Colisão
67

Jason conseguiu se levantar antes de uma parte do asfalto se dobrar


exatamente onde estava seu tronco. Ele ponderou rapidamente sobre as
poucas informações que tinha sobre Allan desde seu desaparecimento a és
coisas pareciam começar a se conectar.
- Hayley - chamou a cunhada que se aproximava com um pequeno corte
no braço esquerdo - preciso que você distraia ele por um instantinho, enquanto
eu passo o que entendi para o Justin.
- E eu não recebo informação?
- Na verdade, o seu ataque vai ser o teste final - ele sorriu - você tem o
fato pra encontrar artérias né?
- Entendido - disse ela sorrindo e avançando em direção a Allan.
Jason correu ate Justin, que ainda estava deitado no chão. Ajudou o
ritmo a levantar, sem tirar os olhos de Hayley, ao mesmo tempo em que
repassava o que tinha entendido.
- Quando você foi atacado na praia, encontrou algum vestígio de
explosivo?
- Não, na verdade nem sei de onde veio aquela explosão.
- Isso não faz sentido, mas isso é uma coisa boa.
- Como seria uma coisa boa?
- Só um instante, já respondo.

Enquanto isso, Hayley tentava a todo momento acertar nos pontos de


maior circulação sanguínea do corpo: a caixa torácica, pescoço e pulsos, mas
parecia que suas pancadas não causavam efeito algum na circulação
sanguínea do rapaz, até que percebeu algo muito mais assustador, se era isso
que Jason estava pensando, era muito perigoso, pois não saberiam ao certo o
que estavam enfrentando.
Rapidamente recuou até os rapazes, enquanto Jason erguia uma parede
direto da calçada, que poderia defender de Allan por alguns segundos.
- Eu nunca vi nada parecido, pelo menos não em pessoas vivas, ele
simplesmente não possui corrente sanguínea! - Hayley estava surpresa, por
ser uma meio vampira e viver entre os humanos, vinha se treinando
constantemente para evitar que seus instintos de caça se manifestassem,
então restringia em sentir seus próprios batimentos cardíacos e ficava sempre
no cheiro de seu próprio sangue - Não sei como ele está vivo, mas não existe
nada correndo naquelas veias, se é que elas ainda existem.
- Como eu suspeitava - Jason esfregava o queixo como quem está
deduzindo uma charada - seja o for aquela força sombria, transformou ele em
uma espécie de Golem.
68

- Golem? - Justin estava incrédulo - o que você andou fumando, irmão?


- Sua namorada é uma vampira, você ainda dúvida de alguma coisa?
Nesse momento a parede explodiu em milhões de pedacinhos, enquanto
Allan surgia em seu lugar, enquanto os três tomavam distância na Avenida
Presidente Vargas.
- Temos que atacar com tudo, se minha teoria estiver certa, seu corpo foi
aprimorado com terra, logo ele tem total afinidade com esse elemento, mas até
às fichas mais duras se quebram com a força certa. - ele olhou pra Justin e
Hayley ao seu lado - Ataquem com força os membros e articulações, vamos
tentar incapacitar, quero interrogar ele.
- Ok! - exclamaran os outros dois.
Allan, por sua vez, já estava sem paciência, então ergueu suas mãos
para frente, fazendo que os detritos do chão se lançassem sozinhos na direção
dos seus alvos, que desviaram no último momento e avançaram em sua
direção.
Foi então que ocorreu ali uma luta frenética no três contra um, mas Allan
parecia ter o total controle da luta. Desviava dos socos de Justin e dos chutes
de Jason, mas ainda parecia muito lento para os golpes de Hayley, o que
descontava acertando golpes nos irmãos.
Por seis vezes Justin foi lançado alguns metros para longe, o que só o
fazia ter mais raiva e atacar com mais violência. Ao passo que Jason nem
parecia estar em uma luta, pois se mantinha calmo e calculava cada golpe
dado e recebido, tanto em si, como nos outros.
Em uma tentativa violenta de ferir Allan, Justin se lançou sobre ele com
tamanha força que acabou arrastando a todo para dentro do hotel que estava
em reforma naquela esquina. Uma parte da estrutura ameaçou desabar,
enquanto os andaimes não tiveram a mesma sorte. Sorte também que a
circulação de pessoas ali já tinha se encerrado a alguns minutos devido ao
tumulto. Uns poucos que ainda estavam ali próximos eram retirado pela força
policial e os helicópteros de emissoras de TV que rodeavam o local como
abutres sobre a carniça.
Quando Justin percebeu, estava dentro do poço do elevador, com os
braços restringindo os movimentos de Allan, nem sequer pensou, saltou,
atravessando todo aquele espaço e irrompendo na cobertura do prédio, onde
Allan consegui se soltar ainda no ar e lhe deu um chute, o lançando alguns
quarteirões ao norte. Mas. Antes que podesse pisar na cobertura, Allan foi
surpreendido por um golpe duplo, Jason o acertava um soco no esterno,
fazendo todo o ar ser expulso de seus pulmões, ao mesmo tempo em que
Hayley, em um movimento rápido, segurou seu braço, girou e puxou,
arrancando o membro da articulação do ombro.
Allan tentou gritar de dor, mas não havia ar nos seus pulmões, levaria
alguns segundos para que pudesse respirar novamente e isso poderia
significar seu fim.
69

Justin atravessou um teto, caindo sobre uma mesa grande, rodeada de


cadeiras vazias em uma sala escura, deveria uma sala de reuniões ou coisa do
tipo, mas ele nem conseguia pensar sobre onde estava. Apenas sentia raiva,
precisava bater em Allan da força que conseguisse. Nem pensou, se levantou,
passou pelo mesmo buraco que entrará e se pós a correr e salgar sobre os
tipos dos edifícios para chegar até Allan e despejar toda sua fúria sobre ele.

- Sem corrente sanguínea, mas ainda precisa respirar? Essa me pegou


de jeito - Jason dizia ao ver Allan puxando fôlego e segurando o local onde
ficava seu braço esquerdo, de onde parecia sair um líquido escuro, bem
aparecido com sangue coagulado, mas que se evaporava no ar - e pelo visto
sente dor. O que diabos é você?
Foi o suficiente para Allan se levantar e correr na direção de Jason, que
lhe desferiu um soco no rosto, ao passo que Hayley usou o próprio braço de
Allan como taco e o acertou no queixo, fazendo-o se erguer no ar, onde foi
atingido por chute de Jason que o fez atravessar alguns andares do hotel e cair
no meio da avenida.
Foi então que Justin surgiu, em um salto, atravessou todo o quarteirão e
agora descia na direção de Allan no meio da avenida, seus olhos brilhavam
como as chamas de um incêndio, seu coração batendo como se fosse explodir,
sua fúria era tanta que nem sabia o que estava fazendo, mas agora descia
sobre Allan, seu punho parecia tão pesado que poderia começar a gerar
gravidade própria.
E assim desceu, mais rápido que a própria velocidade da gravidade
terrestre, com o punho bem ao centro do peito de Allan. O choque fez as
prédios ao redor ficarem sem vidros, todo o asfalto num raio de 50 metros se
rachou e seu punho entrou alguns centímetros no solo, mesmo depois de
atravessar o corpo do antigo desafeto.
Nem um segundo havia se passado quando Jason pousou ali próximo,
observando incrédulo ao resultado daquele embate.
O corpo de Allan estava petrificado, com um buraco enorme em seu
peito, de onde saia o antebraço de Justin. Estava morto. Não obteria as
respostas que procurava. A única pessoa que poderia responder não estava
mais ali.
Hayley observava assustada àquilo, não sabia que seu namorado seria
capaz de tirar uma vida, mas se questionava se essa medida teria evitado
muitos feridos se tomada mais cedo.
Justin se levantou, nem sabia exatamente o que tinha feito, seus olhos
encaravam o rosto petrificado de Allan. Sabia que o que tinha acontecido
naquela segundos iria lhe assombrar pelo resto da vida. Não queria pensar
nisso agora. Olhou pra cima, os poucos sinal de luz solar eram visíveis em um
tom arroxeado, enquanto as primeiras estrelas começavam a surgir no leste.
- Senhores! - uma voz grave com um sotaque americano surgiu do nada
- Venham comigo imediatamente - era um homem alto, de rosto largo, cabeludo
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e barbudo, vestindo um sobretudo preto que estava de pé ao lado de um SUV


preto - Se prezam pela segurança de suas famílias.

O Lado bom e o lado ruim

Os três ficaram assustados com a presença daquele homem que nem


perceberam que por um instante os helicópteros e pareciam circular sem rumo,
mas logo retornaram a seu caminho normal, ficando luzes em sua direção.
Sirenes podiam ser ouvidas ao longe, mas não sabiam dizer se era a polícia ou
algum serviço de emergência. Justin rapidamente percebeu que não seria
sábio esperar para descobrir, teria de dar um passo na fé e seguir aquele
estranho. Se entreolharam e, com um aceno de cabeça, concordaram.
Seguiram o homem até o carro, que parecia muito maior visto de dentro.
O homem sentou no banco da frente, ao lado do motorista, um homem magro,
pardo, com um corte militar sob um boné preto.
- Senhores Morgan e senhorita Desmond - começou a falar o homem
grande - vocês podem compreender a gravidade do que ocorreu hoje?
Hayley congelou. Poucos sabiam seu nome completo, por que sempre
omitia o sobrenome paterno. Se perguntava quem era esse homem e o que ele
sabia sobre seu pai. Não era um vampiro, definitivamente, o cheiro de seu
sangue o acusava.
- Ainda estamos tentando entender o que aconteceu hoje - respondeu a
moça com a voz baixa, segurando o braço de Justin próximo ao corpo em um
movimento de defesa.
- Onde estão meu modos? - podiam jurar que o homem tinha esboçado
um leve sorriso, mas seu rosto carrancudo parecia incapaz de sorrir - meu
nome é William Weller, Agente de campo classe beta, subordinado direto da
terceira cabeça da Alta Ordem dos Cavaleiros da Luz, ou, como preferimos,
Warriors of Light, ou apenas Light.
- E o que todo isso quer dizer? - Justin parecia impaciente - e quanto ao
corpo?
- Isso quer dizer que vocês estão sob a tutela do alto controle,
cometeram delitos de gravidade além do escopo dos agentes base, portanto
devem ser julgados imediatamente pela Alta Ordem responsável - deu uma
pausa - o corpo, por não estar sob condições de sigilo, será recolhido pela
força policial local, que estará sob nossa supervisão.
- E o que é essa tal Alta Ordem dos Cavaleiros de sei lá o que?
- Senhor Jason Makayama Morgan, a High Order of Knights of Light é
organização de regulação, controle e aprendizado voltado para seres não
humanos.
- Tipo os homens de preto?
- Quase isso, só que alienígenas não existem.
71

- Um ano atrás eu achava que vampiros também não.


Hayley deu um pisão em seu pé.
- Estamos chegando, se puderem, comportem-se e mantenham a calma,
os membros do conselho da Alta Ordem vão recebê-los em poucos minutos.
Em nenhum momento conseguiram identificar o percurso que estavam
fazendo, mas, ali na última curva pareciam estar entrando no Aeroporto Santos
Dumont, mas não pela área de passageiros, mas sim pelos fundos, onde
passaram pela vista de decolagem e pararam diante de um pequeno hangar,
aparentemente velho e deteriorado.
O homen saiu do carro e abriu a porta que pudessem sair, o caminho era
bem curto entre o carro e o hangar, mas era possível perceber ao longe a
movimentação de helicópteros no céu nevoento de início de noite.
- Geralmente aqueles que são recebidos pelo conselho da Alta Ordem
estão bem arrumados e apresentáveis, mas, devido à urgência...
Então o homem empurrou uma pequena porta no hangar, que rangeu e
se abriu, mostrando um interior totalmente diferente do exterior.
Pelo lado de dentro o Hangar era como novo em folha, pintado
completamente em branco, com uma divisória que tapava os fundos e laterais,
permitindo a visão apenas de um pequeno corredor, onde uma série de
esculturas parecia elencar toda a ordem de criaturas conhecidas. Hayley teria
parado para conhecer cada uma delas, mas o motorista do carro vinha logo
atrás e a impulsionava para a frente.
No fim do corretor, uma porta de vidro fosco onde era possível ver a
silhueta de algumas poltronas.
O agente Waller, segurou a maçaneta da porta e betu de leve. Uma
pequena luz verde se acendeu na maçaneta e um ruído indicou que a estava
destrancada. Ele girou a fechadura e abriu.
O interior daquela sala era surpreendentemente diferente do esperado,
parecia um escritório de uma empresa extremamente chique e importante. As
paredes eram pretas e o teto eram pintadas de preto , marcados por fossos
brancos com fitas de led nos cantos e centro, proporcionando uma iluminação
indireta, adornada por uma cópia de Noite Ilustrada na parede traseira, grandes
abajures braços iluminavam com mais intensidade os lados e uma grande
mesa de vidro, na frente da mesa haviam três poltronas pretas de pouco
sintético mas, o mais surpreendente era o que estava atrás da mesa: um trio de
Poltronas de couro real, onde três pessoas se sentavam.
O primeiro era um homem que aparentava ter entre cinquenta e
sessenta anos, sua pele branca contratava com seus olhos escuros adornado
por um par de óculos de aro fino. Seu cabelo grisalho e ondulado era penteado
para trás, formando um lustroso topete. Seu nariz e lábios finos pareciam sumir
atrás de um grosso bigode cinzento. Vestia um manto preto, preso com um
broche circular, preenchido com um triângulo, um quadrado e um circulo
prateados.
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A segunda pessoa era um mulher negra, com aparência de


aproximadamente cinquenta anos, olhos castanhos, lábios grossos, longas
tranças castanhas amarradas em um coque. Vestindo um casado de pele com
longos pelos negros que rodeavam seus ombros e descia pelas costas, com
mangas longas que terminavam num formato triangular em suas mãos,
adornada com longas unhas negras. Em seu pescoço pendia um pingente da
um pentagrama.
Por fim, a terceira pessoa era um homem jovem, de pele branca e olhos
azuis, leves traços orientais, cabelo curto e uma barba grossa. Vestindo um
terno preto e em sua lapela um pequeno broche de um espiral que terminava
em uma linha pra cima, com duas linhas laterais curvadas e uma linha reta
para baixo. Tanto o rosto como o símbolo eram conhecidos.
- Josh? - exclamou Justin surpreso - mas o que é isso?
- Façam o favor de sentar - disse o homem mais velho, enquanto Waller
fechava a porta - em silêncio.
Os três obedeceram de pronto, visto a imponência daquele homem, que
ficava entre o admirável e o assustador. O silêncio durou alguns segundo, mas,
para os três, pareceram uma eternidade. Por fim, a mulher decidiu iniciar a
conversa.
- Vocês tem ideia do tamanho da confusão que vocês se meteram? -
Jason tentou abrir a boca para responder, mas imediatamente a mulher
continuou - Essa foi uma pergunta retórica.
- Não foi fácil, mas conseguimos manter a existência de seres
sobrehumanos como uma lenda desde o século dezessete, pra vir uma
vampira, dois Morgans e uma aberração fazer um show desse no meio de um
centro populacional, bem no período em que as redes sociais estão no auge - a
expressão do homen era de pura fúria - Você disse que a quinta geração não
representava um grande risco por enquanto, não é mesmo, Joshua?
- Sim senhor - Josh não tirava os olhos de Justin - houveram alguns
imprevistos no caminho. Por outro lado, a anomalia que estávamos procurando
simplesmente decidiu se mostrar e foi neutralizada - respirou fundo -
infelizmente sem a oportunidade de extrair informações.
- Olha - Justin interrompeu - eu não sei o que tá acontecendo aqui, não
sei quem são vocês, o que o meu primo tá fazendo aqui e muito menos o que é
essa tal ordem de cavaleiros do zodíaco.
- Veja bem como fala com essa conselho, seu jovem insolente! -
exclamou o homem fazendo a sala inteira tremer e as luzes piscarem - Eu não
teria tenta coragem se fosse você!
Justin se recolheu na cadeira, tamanho o medo que sentia daquele
homem, foi a mulher que tratou de acalmar a ambos e se apresentou primeiro.
- Vamos manter a calma. Também acho que precisamos nos apresentar.
-  me chamo Ayana Ali, alta xamã e mestre da Ordem do Conhecimento.
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- Eu, - o homem respirou fundo - sou Jeremiah Flamel, mestre alquímico


e mestre da Ordem de Regulação e Alto Juiz.
Josh sorriu, sabendo o choque que causaria em seus primos.
- Vocês sabem quem eu sou, né? Mas sou feiticeiro classe alfa e mestre
da Ordem de Controle e Execução da Ordem dos Cavaleiros da Luz - respirou
fundo - criada para normatizar, fiscalizar e, quando necessário, controlar
criaturas sobrehumanas em resposta à Ordem das Trevas.
- Ordem das Trevas? - Jason sorriu - É uma pegadinha?
- A Ordem, conhecida no submundo como Darkness foi criada por uma
ramificação ultraconservadora do Vaticano para vigiar, punir e subjugar toda e
qualquer criatura que, aos olhos deles, represente risco ao homem e vá contra
os desígnios de Deus - explicou Flamel, muito mais calmo.
- Tá, e nós por acaso estamos presos? - questionou Jason, que recebeu
a única resposta que não esperava receber de Josh.
- Nos temos Planos para vocês.

Epílogo – Darkness

Em uma base ultrassecreta, um homem grande, de ombros largos, rosto


quadrado, olhos verdes e e nariz fino se acomodava em uma poltrona,
observando uma tela grande que mostrava uma sala onde uma equipe de
médicos parecia realizar a autópsia em uma criatura grande. Ele tragava o
charuto calmamente enquanto alisava a careca comos e estivesse em um
momento de ralaxamente.
Até que uma campainha toca, acendendo uma pequena luz amarela em
sua mesa. Ele aperta o botão e uma voz baixa ecoa:
"Domine aditum postulat officium"
Senhor, solicito acesso ao escritório.
Ele aperta outro botão, que abre a enorme porta metálica, deixando
entrar uma luz avermelhada que reflete nas paredes metálicas da sala.
- Loquere! - Fale!
- Ut producat rem tuus imagines - Responde o homem afoito - trago
imagens de seu interesse.
O homem então se aproxima da mesa de seu superior e digita os
comandos que exibem as imagens do ocorrido no Rio de Janeiro e se afasta. O
seu superior se inclina para a frente na poltrona, passa a mão no queixo e diz:
- certiorem militum - exclamou com um sorriso no rosto - et eamus in
Brazil - Notifiquem os Soldados, vamos para o Brasil.
74

FIM

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