Um Dia Comum?
Escuro.
Quente.
3
Justin abriu os olhos mas não pode ver muito adiante. A escuridão era
absoluta.
Ele estava tonto, não sentia seu corpo, seu peso, não sentia o chão sob
seus pés, não sabia nem se estava de pé.
Seus sentidos começaram a funcionar. Lentamente o peso de seu corpo
se direcionou a seus pés, sua pele pôde sentir o ar quente e abafado que o
rodeava, seus ouvidos começaram a ouvir, mas ele preferia que estivesse
surdo, o som daquele lugar era agoniante, mesmo que estivesse distante
demais para identificar algo, ele percebeu, eram vozes, gritando, gargalhando,
rezando.
A escuridão se tornou mais leve, então pode perceber que estava em
uma espécie de corredor entre duas rochas gigantescas, seguiu por ali até
encontrar o que parecia a borda de um longo vale, ainda escuro o suficiente
para não ver o fundo ou as redondezas.
Olhou para cima e viu o céu totalmente encoberto de nuvens negras, tão
densas que não podia saber se era noite ou dia.
Seus pêlos se arrepiaram, o som se tornou ensurdecedor e as nuvens
se abriram revelando uma luz cegante. Ele fechou os olhos o mais rápido que
pôde, quando abriu, estava em outro lugar, uma rocha, em meio ao mar, vendo
a cidade do Rio de Janeiro totalmente destruída, com prédios em chamas,
outros destruídos, morros e favelas inteiras devastadas, ruínas do que seria o
Corcovado.
Um pouco à sua frente estava um homem, não era possível ver seu
rosto, mas vestia um sobretudo negro e seus cabelos longos desciam
bagunçados pelas costas.
Justin se aproximou o tentou alcançá-lo, quando o homem disse apenas
uma palavra:
- Acorde.
Jason observava o céu ser invadido pela luz solar, apoiado sobre a
grade da varanda do hostel onde estava hospedado.
Não fazia nem 24 horas que estava no Brasil, mas já se sentia em casa.
- Bom dia - disse a proprietária do hostel ao vê-lo na varanda
- Bom dia, Dona Maria, tudo bom? - o jovem sorriu, tímido.
- Tirando a minha coluna, que incomoda um pouco às vezes, estou
maravilhosa - ela sorriu - preste atenção, garoto, cuide da sua coluna, corrija a
postura que, quando você chegar na minha idade, não vai estar reclamando de
dores.
- Com toda a licença mas, a senhora não parece ter mais de trinta.
- Ora garoto - ela sorriu fartamente - então cuida para chegar aos
cinquenta com um rostinho de trinta igual eu.
Ela terminou de pôr a messa para o café da manhã, sentou-se e fez
menção para que o jovem se sentasse junto com ela.
- Venha cá garoto, aproveite que estamos acordados tão cedo e vamos
tomar um café e deixo você me contar de onde vem, pra onde vai e elogiar
meu delicioso bolo de milho cremoso.
- Bolo de milho cremoso, isso nós não temos no Japão.
O jovem se sentou ao lado da senhora e começaram a conversar
alegremente. A cada nova história, ela olhava para o garoto, admirando sua
beleza diferente, seus olhos tão azuis quanto a profundeza do oceano e
imaginando, se tivesse tido a felicidade de ter um filho, adoraria que ele fosse
como aquele garoto.
5
O homem aparentava ter uns quarenta anos, era gordo e vestia um terno
cinza e calças cáqui, seu rosto gordo era marcado por grandes óculos
quadrados e um bigode grosso e vistoso. O crachá em seu peito indicava seu
cargo: Roberto Silva - Diretor Geral da Divisão Educacional e
Profissionalizante.
- Você deve ser o aluno novo! - dizia o senhor entusiasmado - entre,
sente-se, fique à vontade, essa vai ser uma de suas casas a partir de agora.
Jason entrou a ficou assustado com a quantidade de livros que havia ali
dentro, todas as paredes eram cobertas por estantes abarrotadas de livros. O
senhor percebeu o susto do garoto e se justificou:
- Eu sou um amante de leitura à moda antiga, colecionador de livros nas
horas vagas, você pode encontrar de tudo aqui, de textos acadêmicos a
literatura clássica, de Charles Darwin e ocultismo e bruxaria. Sou fascinado em
tudo isso.
O garoto se sentou, silencioso, enquanto o senhor indicava um pequeno
leitor de cartão sobre sua mesa.
- por favor, insira seu crachá de acesso nesta porta.
O garoto obedeceu e, ao inserir o crachá, o computador do diretor emitiu
um bipe e mostrou as informações do jovem.
- Uau! - exclamou - parece que você tinha uma carga horária bem
pesada em Tóquio: assistente de pesquisa tecnológica, graduando em
sistemas e programação, além de trabalhar como assistente em estudos
psicológicos com foco em criminologia. Quando você dormia? - brincou - por
sorte sua grade não será muito diferente, apenas os horários serão alterados.
- Mas eu manterei minhas atividades curriculares?
- Sim, agora acho que é hora de você iniciar sua instrução e
conhecimento das instalações, por sorte temos a melhor pessoa para lhe
acompanhar.
- Ok então, onde encontro essa pessoa?
O diretor se levantou para acompanhar o jovem até a porta.
- Ah não, você não a encontra, ela encontra você, e eu não poderia
deixá-lo em melhores mãos, ela é minha aluna favorita, a formanda com o
melhor histórico desta instituição, você vai gostar de conhecê-la - ele abriu a
porta - Mas, não exite em me visitar de vez em quando, sempre que precisar
de ajuda com algum problema, eu autorizo acesso ao meu acervo particular
para pesquisa caso precise fazer uma pesquisa mais discreta.
- Vou me lembrar disso, senhor - o garoto já se sentia amigo do diretor.
- Estou aqui para o que precisar. E aqui está sua grade de horários -
entregou uma olha de papel para o garoto e fechou a porta.
Ao sair, ele se deparou com o corredor abarrotado de alunos indo e
vindo, e agora além da iluminação indireta de led que podia ser vista antes, era
8
Justin fez o mesmo, mas pensou que o outro parecia mais jovem e
vaidoso.
- Não vejo semelhança - disseram ao mesmo tempo.
Hayley sorriu e deu um leve tapa no ombro dos dois.
- Vamos logo ou o Diretor Silva vai chiar em nossos ouvidos.
Seguiram para o bloco de pesquisa, onde iniciaria o percurso de
apresentação.
Provocação
você está rindo? Não sabe que vai pagar penalmente pela tentativa de
homicídio de outro aluno.
- Você não teria essa coragem - provocou.
- Ah, eu teria sim, inclusive já enviei o vídeo da câmera de segurança
daquela sala para a polícia, e não se preocupe, o papai tá ocupado demais
criticando direitos sociais.
O garoto bufou quando um grupo de policiais entrou na sala para
escoltar o jovem até a delegacia.
Roberto voltou sua atenção para Justin e Jason, que permaneciam de
cabeça baixa à sua frente.
- O que eu faço com vocês? Me digam! - ele passava as mãos sobre as
têmporas - Justin, eu não posso mais relevar essa situação, por mais que -
sussurrou - você seja meu aluno favorito - então retornou ao tom de voz natural
- essa briguinha entre vocês chegou num nível que não dá mais pra relevar,
vocês colocaram a vida de outro aluno em risco, você sabe os problemas que
esse tipo de coisas atrai?
- Não senhor. - sussurrou.
- E você Jason, acabou de chegar e já está metido em confusão, não dá
pra levar em consideração seu comportamento no polo de Tóquio, apenas dá a
entender que você está em má companhia aqui e eu sei que isso não é
verdade.
- Perdão senhor, foi um instinto de momento, não vai se repetir.
- Gosto assim - sorriu - Como medida punitiva, estou aumentando sua
carga horária extracurricular, vocês devem passar mais tempo em pesquisas
do que brigando pelos corredores da minha instituição. Ok?
- Mas os laboratórios permitem trabalho apenas até às 18h - indagou
Justin - como iremos realizar atividades extras?
- Muito simples, vocês levarão alguns materiais de pesquisa para casa,
sob minha supervisão direta - Roberto percebeu que Justin estava abrindo um
sorriso e logo o interceptou - Estarei de olho para o caso de alguém querer
levar algum material inflamável, explosivo ou perigoso para fora dos
laboratórios.
- Ok, que seja - disse Justin, logo sendo interrompido por Jason.
- Quando começamos?
- Receio que imediatamente.
- Mas é sexta-feira, e, eu tenho um encontro com a Hayley.
- Bom, não tem mais - Interrompeu o Diretor - seu encontro hoje será
com o Jason - Os garotos se entreolharam com cara de tédio, até que o diretor
levantou, foi até o armário e puxou de uma das gavetas um pen drive - seu
primeiro plantão vão ser para Criminologia, vocês devem avaliar o perfil de
Suzanne Von Richtoffen.
12
Não muito longe dali, Hayley seguia de cabeça baixa por uma rua com
pouca luminosidade solar àquela hora do dia, quando cruzou com um grupo de
jovens que abertamente consumiam e vendiam entorpecentes.
- E aí gatinha, tá perdida por aqui? Não sabe que tem que pagar pra
passar?
Os quatro homens a cercaram, portando facas e pistolas. As pupilas
dilatadas demonstravam que estavam no auge do efeito das drogas, além da
fala rápida e agressiva.
- Bora, sua puta! Passa logo essa bolsa pra cá!
Foi a última coisa que um deles disse antes de tentar puxar a mochila
das costas da garota e ser arremessado contra a parede.
Foi então que o maior dos homens tentou esfaquear a garota, então ela
agarrou seu pulso do ar e disse:
- Eu não tô perdida, eu vim fazer um lanchinho!
Então, em apenas um movimento, quebrou o braço do homem que a
atacara e quebrou as pernas de todos os outros. Se ajoelhou no chão sujo e
violentamente dilacerou as gargantas dos homens com os dentes.
- Então, deixa eu te falar, meus pais são um pouco - ele coçou a cabeça,
timido - como posso dizer? talvez afetuosos seja a palavra correta.
- Sim, seu pai está no escritório, vou chamar ele pra receber nosso
visitante - ela andou até a porta mais próxima e bateu - John, querido, temos
visita.
- Oh, Olá - ele sorria tímido olhando para as pessoas na sala - não estou
muito apresentável para receber visitas, vou me arrumar um pouquinho - disse
15
Foi quando John interrompeu, dizendo aos garotos que fossem estudar
no quarto enquanto ele limpava o chão e ajudava Evelyn a preparar um lanche.
Os garotos então se retiraram enquanto John limpava o chão, foi quando
realmente teve certeza que estavam a sós, que ele sussurrou para a esposa.
- O que houve? Você não costuma derrubar as coisas assim.
- Eu sei - ela respondeu ainda com a voz trêmula - mas eu conheço o
nome da enfermeira, tenho quase certeza que era ela.
- Você acha que... Esse garoto?
- Eu tenho quase certeza.
- Então eu vou garantir que não seja um tiro no escuro - ele a abraçou -
façamos o seguinte: você deita um pouquinho pra acalmar os nervos, tome o
tempo que for necessário, eu termino de arrumar isso, preparo os lanches, o
Jantar e ligo pro Ricardo e peço pra ele fazer uma pesquisa pra mim.
- Eu ficaria agradecida.
- Então vai lá que eu resolvo tudo - ele a beijou e guiou até o quarto.
Josh
- Deixe disso, você parece mais bela do que o dia em que vocês se
casaram - ele tomou um gole de cerveja - na verdade, vocês, garotas, se
mantiveram lindas desde aquela época, a Maya pode ser facilmente confundida
com uma adolescente, enquanto eu e José, bom, ficamos barrigudos e
rabugentos.
- Ora, deixe disso! - ela sorriu - E por falar em Maya, cadê ela?
- Então, com as adolescentes, fazendo cabelo e maquiagem de Hayley e
Raquel.
Evelyn sorriu e voltou sua atenção para a mesa onde José colocava os
aperitivos.
- Ricardo, se não se importa, eu estou faminta, então vou me esbaldar
naquela tábua de frios.
- À vontade - sorriu - Sabemos para quem Justin puxou o apetite!
Justin abriu a porta dos fundos da casa do sítio e olhou para as mesas,
churrasqueira e pessoas à beira do lago e se perguntou se gostaria de toda
essa atenção para si.
- Só eu que estou achando isso um tanto demais? - perguntou.
- Talvez seja, mas é o que temos - respondeu Jason num tom
provocativo - agora deixe de ser ranzinza e coloque um sorriso nesse rosto, é o
seu dia, feliz aniversário!
- Pelo que sei é seu aniversário também, cadê sua felicidade?
- Talvez esteja naquele pão de alho que seu pai acabou de colocar na
churrasqueira.
- Ok, essa foi uma motivação e tanto, vamos!
Os dois então seguiram em direção ao lago, onde todos os aguardavam
e os cumprimentavam, parabenizavam e sorriam, até uma voz chamou a
atenção de Justin.
- Então o nosso garotinho virou um adulto?
Justin reconheceu a voz imediatamente e então viu Josh encostado em
uma cadeira e logo abriu um largo sorriso.
De todos os garotos da família Morgan, Josh era o mais diferente: era
baixo, forte, possuía a pele beirando o pardo, olhos grandes e esverdeados,
cabelo cacheado bem curto, lábios grossos e um sorriso que facilmente poderia
encantar até a mais cruel das criaturas. Vestia camisa polo e bermudas jeans
azuladas, deixando à mostra as tatuagens runicas nos braços e as pernas
peludas.
19
Justin o abraçou tão forte que parecia que suas costelas iriam se
quebrar, mesmo que ele retribuisse o carinho na mesma intensidade.
- Se a sua intenção era me matar de saudades, parabéns, quase
conseguiu - brincou Justin.
- Acho que devo me esforçar mais na próxima vez - caçoou o outro.
- E aí. Como estão as coisas em Nova Iorque?
- Lotado e barulhento como sempre, com o plus de muito trabalho e
muita pesquisa.
- É, tô vendo o resultado dessas pesquisas - disse Justin indicando o
jovem loiro sentado na cadeira ao lado de Josh.
- Ah, esse é o David, meu ex estagiário e atual... Alguma coisa - sorriu.
- Não me diga que vc demitiu seu estagiário pra dar uns pegas sem
quebrar o protocolo profissional.
- Claro que não, ele terminou o curso e depois a gente começou a se
pegar.
- Mas, e aí, é pra valer ou...
Josh puxou Justin para um pouco distante de David e então continuou a
conversa.
- Shiu, nada sério, estamos apenas nos curtindo até onde der, o que não
vai demorar muito.
- Pra quem é só um passatempo, qual a função de apresentar a família?
Josh deu um tapa no ombro de Justin.
- Eu não o trouxe pra conhecer a família, trouxe pra praticar português!
- Ok então, mas, pensei que fosse aquele momento eu que eu iria te ver
com alguém que te faz feliz.
- Meu primo querido - Disse Josh enquanto colocava sua mão sobre o
ombro de Justin, como o mestre prestes a ensinar o aluno - Você
definitivamente não precisa de alguém pra te fazer feliz, ser feliz depende única
a exclusivamente de você, ser feliz é o fruto do seu sentimento consigo mesmo
e com os outros, é aí que entra o amor. Por exemplo, você ama a Hayley,
ninguém tem dúvidas disso, e você quer que ela seja feliz, e você seria capaz
de qualquer coisa para vê-la feliz, mesmo que a felicidade dela exista longe de
você. Essa é a verdadeira felicidade, quando você é feliz por si e pelo outro,
mesmo que seja doloroso.
- Uau, você é muito bom nisso, mas, me pergunto, existe alguém que lhe
projete felicidade?
- Apenas eu - deu uma golada no vinho - um dia talvez pode aparecer
alguém, mas pode ser que até lá minha felicidade já seja completa apenas
comigo.
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Não muito longe dali, Josh tentava discretamente conversar a sós com
Evelyn.
- Tia Evelyn, a senhora poderia me tirar uma dúvida rapidinho?
- Quantas vezes vou ter que dizer que me chamar de "tia" ou "senhora"
me faz parecer mais velha? - ela reprendeu jocosamente.
- Seu filho mais velho tá fazendo dezoito anos, acho que o modo como
eu falo não faz muita diferença.
- Escuta aqui garoto, não é porque você é um adulto que eu não posso
te bater.
Ele sorriu
- Você ainda é aquele mulherão que me acolheu e sua idade nunca vai
mudar isso. Já o tio John, por outro lado...
- Dizem que a idade é um tanto aparente na linhagem de vocês -
gargalhou - mas acho que ele se enquadra no que vocês chamariam de
"ursão", e não decepciona em momento algum.
- Então terei cuidado para que o David não chegue muito perto dele -
gargalhou alto com o próprio comentário - mas não vim falar sobre isso, tem
como a gente conversar mais privadamente?
Evelyn então o levou até uma árvore ali próximo e questionou.
- É sobre o Jason?
- Então, eu notei alguns detalhes um tanto familiares nele e pensei que
talvez...
- É isso mesmo - interrompeu ela, vendo os olhos só sobrinho
extremamente abertos pela surpresa - por isso quisemos reunir a família toda,
vamos dar a notícia durante o almoço, só espero que ninguém acabe
hospitalizado por engasgar com a surpresa.
Josh balançou a cabeça em um misto de felicidade e medo, pois não
sabia exatamente o que sentir, até que um medo mais profundo tomou conta
dos seus pensamentos.
- Você acha que no fim das contas o tio John estava certo? - questionou
com a voz trêmula.
22
- Eu gostaria que não, mas os sinais indicam o contrário, você que tem
mais conexão com a natureza deve sentir algo, não?
- Ironicamente, a natureza tem permanecido em silêncio ultimamente,
silêncio demais até, o que quase sempre é sinal de que algo grande se
aproxima - um lampejo surgiu em sua mente - o eclipse é hoje?
- Sim, e dependendo de como as coisas ocorrerem, saberemos se John
estava certo ou não.
Josh respirou fundo.
- Independente do que ocorrer, sempre estarei tomando conta de vocês,
mesmo que provavelmente ele não vá precisar de proteção, mas precisaremos
ter bastante atenção no que pode acontecer.
Segredos de Família
- Não foco nada surpreso de você já estar bebendo, mesmo sem ter
idade pra isso - Justin provocava de volta.
- É notório que eu nunca gostei de seguir regras! - respondeu Kevin,
irônico.
- Eu aceito - se prontificou Jason, que escolheu ignorar os dois e se
aproximou de James à mesa.
- Eu sabia que você não iria me decepcionar - disse James sorrindo para
o jovem e abrindo uma garrafa - experimentar essa aqui, é artesanal, eu
mesmo que fiz.
Jason bebeu um gole e ficou surpreso com o sabor diferente, beirando o
adocicado. Enquanto James abria outra garrafa e entregava a Justin.
Não demorou muito até que Evelyn chamasse os garotos para a mesa
central, onde John e Hayley posicionavam um bolo absurdamente grande.
Os garotos foram até lá, tímidos, olhando para a pequena multidão que
os observava. Então foi inciado o ritual clássico e levemente vergonhoso de
cantar parabéns, que passou relativamente rápido e foi seguido por um
constrangedor "com quem será?" Puxado por Josh, que foi brutalmente
fuzilado pelo olhar de Justin.
Evelyn foi até os garotos e os abraçou forte, olhou para os convidados e
sinalizou para ter a atenção de todos por um tempinho, foi quando John se pós
ao seu lado e todos fizeram silêncio.
- Vocês não imaginam o quanto estou emocionada agora, ainda mais aí
saber que nem todas as mães tem a possibilidade de ver seu filho se tornar um
homem, então eu gostaria de compartilhar uma história com vocês. - lágrimas
tímidas surgiram nos cantos de seus olhos - alguns aqui já devem saber que
minha gravidez foi bastante complicada, porque descobri já com bastante
tempo e, na época, estávamos em lua de mel, e pela gravidez, não pudemos
voltar para o Brasil, portanto tive que ficar por lá até o parto e mais algumas
semanas até a viagem não fosse um problema pra minha saúde ou a do bebê.
Acredito que tudo isso devo ao John por ser um marido maravilhoso e estar ali
comigo mesmo quando não se sentia bem tanto física como psicologicamente.
- naquele momento a luz do sol se tornava cada vez mais fraca devido a
sombra da lua - agradeço também ao Ricardo, por ser um amigo sem igual e
nos ajudar em tudo o que pôde, tanto naquele momento como agora, muito
obrigado mesmo por ter conseguido a confirmação que eu precisava. Mas,
voltando à gravidez, foi um momento bastante difícil da minha vida, na qual eu
tive que fazer escolhas muito dolorosas pelo bem dos meus filhos, para quem
não sabe, eu tive gêmeos naquela dia, e, por tudo o que vinha acontecendo,
percebemos que seria mais seguro trazer uma das crianças para o Brasil e
deixar a segunda crianças sob os cuidados de alguém de extrema confiança
que pudesse lhe dar todo o carinho e amor possível para que pudesse se
24
tornar um homem justo e íntegro. E mesmo que alguns não sejam capazes
compreender tudo que tive que fazer, nada muda a felicidade de ter o meu
Jason comigo de novo.
- O QUE?! - exclamaram os garotos em uníssono.
- Vocês nunca se perguntaram o porquê de existir essa conexão quase
mágica entre vocês dois? Como se se conhecessem desde sempre? - Indagou
John.
Jason se manteve em silêncio, abraçou Evelyn o mais apertado que
pôde, e quando o pouco de luz solar que banhava o local se esvaiu.
- De certa forma, eu sinto que já sabia, desde aquele dia no corredor -
disse enquanto se aproximava de Justin, que tentava disfarçar as emoções.
- Acho que eu também, maninho.
Então os dois se abraçaram forte, enquanto o céu foi tomado pela
completa escuridão. Foi então que, por um breve segundo, os olhos dos dois
brilharam em um vermelho alaranjado tão claro como o fogo, algo que apenas
os Morgans perceberam, além de Hayley que ficou bastante intrigada com
aquilo.
John e Evelyn se aproximaram e entraram no abraço dos garotos e
assim permaneceram por um tempo, enquanto a luz solar voltava a iluminar o
local.
apagou no chão, dei um geral nele, do jeito que pude, e coloquei ele no
sofá-cama junto com o tio James - ele balançava a cabeça em desaprovação -
e o David, bêbado, obviamente, disse que me ama, devo me preocupar?
Todos gargalhadas enquanto Josh deitava na beira do trapiche,
apoiando a cabeça no colo de Evelyn, que passava os dedos pelos cabelos
encaracolados do sobrinho.
- Então, tia Evelyn, já contou a história fascinante do nascimento dos
nossos pequenos príncipes?
- Ainda não, estava aguardando a vossa ilustre presença.
- Então, já que estou aqui, pode começar, tô aguardando.
Todos sorriram novamente, até que Evelyn retomou o semblante sério.
- Bom, eu sei que a explicação que dei durante a festa não foi muito
clara, mas, era melhor assim, pois existem detalhes nessa história que devem
permanecer entre poucos - ela dizia olhando para John - acho que o pai de
vocês deveria primeiro explicar algumas coisas sobre a linhagem de vocês.
John assentiu e limpou a garganta, enquanto os gêmeos o observavam
atentamente, além de Hayley que segurava a curiosidade desde cedo.
- A nossa linhagem não é uma linhagem qualquer, não que sejamos
mais importantes do que outras pessoas nesse mundo, mas trazemos uma
herança que remonta a eras longínquas e mais turbulentas. - Sua voz
naturalmente subia como se estivesse contando uma história épica - Não se
sabe o ano exatamente, mas é tão antigo quando as primeiras civilizações,
quando os homens não eram os únicos a andar sobre a terra, existia uma ilha
ao leste do Japão, tão rica e próspera social e culturalmente quanto as outras
civilizações, tanto que era incentivado o aprendizados das outras culturas e
seus costumes. - todos estavam atentos, até sem piscar - Nessa ilha,
acreditava-se que o mundo vivia da dualidade, então cada vez que nasciam
gêmeos, significava que mundo estava se equilibrando. Então veio um tempo
em que a família imperial foi marcada por cinco gerações de gêmeos seguidas.
- Período de grande equilíbrio! - interrompeu Josh - pode continuar, tio.
- Obrigado por interromper - John segurava o riso - mas era bem isso
mesmo, era considerado que viria um grande equilíbrio. Foi quando estourou
uma guerra de proporções gigantescas, o que fez com que o imperador, da
quarta geração, na tentativa de proteger seus filhos recém nascidos, dez um
acordo com três mestres, os dois primeiros que concederam o poder e a
capacidade de acabar com a guerra, o terceiro protegeria sua herança. Foi
então que ele se afundou com a ilha no oceano, levando todo o exército inimigo
consigo. - Todos estavam boquiabertos com a história - nós somos os herdeiros
desse imperador - ele apontou para os garotos - vocês são a quarta geração de
gêmeos desta era.
Todos se entreolharam sem entender muita coisa, e isso era extremante
visível, apenas Josh tinha perfeito conhecimento de tudo isso e agora segurava
a gargalhada dia tá de expressão dos outros.
27
- Quer dizer que somos capazes de fazer isso? - Justin estava eufórico,
se sentindo uma espécie de super-herói
- É dito que a quarta geração poderes alemy de todas as outras e será a
responsável pelo destino de seu povo.
Jason continuava confuso.
- Nosso povo? Suponho que esse texto seja da época desse império -
caçoou Jason - porque se for toda a humanidade, eu tenho muitas ressalvas.
Houveram alguns segundos de silêncio desconfortável, até que todos
começassem a rir e concordar com o jovem. E realmente haviam muitas
ressalvas quanto à humanidade, muitas que eles ainda nem imaginavam.
- Então, Hayley - Justin provocava a namorada - qual é a sensação de
namorar alguém tão importante assim?
A garota não conseguiu segurar a risada.
- Não sei, talvez o verdadeiro importante seja o Jason - todos
gargalharam, até que ela assumiu um tom mais sério - mas isso explica a
mudança de coloração nos seus olhos que ocorreram nesses últimos meses e
as minhas suposições. Mas, afinal, quem não tem esqueletos no armário? Eu
mesma tenho alguns que você nem sonha em conhecer.
- O que? - Justin assumiu uma expressão preocupada.
- Ah, vai que eu sou alguma criatura sobrenatural enviada por alguém
para ter controle sobre você.
Novamente o silêncio tomou conta, e agora todos se entreolharam
preocupados.
- Gente, isso foi uma piada, eu não fui enviada por ninguém!
Todos caíram na gargalhada enquanto Hayley se sentia aliviada por ter
desmentido apenas a parte incorreta, mas preocupada porque chegaria a hora
em que todos saberiam de sua real natureza.
Na outra borda do lago, uma massa de pura sombra assumia uma forma
humanóide, escondida entre as árvores, observando o grupo que gargalhava
no pequeno trapiche. Como uma sombra, não demonstrava propriedades
físicas, os galhos e folhas que tremulavam ao seu redor podiam simplesmente
atravessar sua forma, mas um movimento revelou um largo sorriso, repleto de
dentes tortos e pontiagudos.
Dois meses haviam se passado desde aquela noite no lago e, por mais
incrível do que possa parecer Hayley tinha construído uma amizade forte e
sincera com Luiz, que agora era o pupilo de sua mãe e frequentava sua casa
regularmente, o que Justin e Jason consideravam uma situação bastante
engraçada, não pela garota bonitinha ser amiga do nerd gordinho da classe,
como muitos podem pensar, mas sim porque Hayley havia se tornado a modelo
oficial dele, além de sua conselheira mais sábia.
Naquele dia 23 de setembro em especial havia uma outra coisa em
comum ligando os dois: o aniversário, com apenas a diferença de um ano entre
eles.
Luiz adorava a data, tanto que a considerava como o dia do equilíbrio, já
que, bom amapaense como era, sabia muito bem que, naquele dia, o sol
iluminava igualmente os dois hemisférios da Terra e adorava lembrar que sua
paixão por fotografia e filmagem havia nascido exatamente ao registrar o ponto
alto do dia no monumento do Marco Zero.
Já Hayley não partilhava da mesma empolgação, mas preferia não
explanar sobre o assunto, pois era complicado demais para que alguém além
de sua mãe entendesse.
Naquele dia em especial, Hayley estava cuidando dos cabelos para a
baladinha da noite. Fazia algum tempo que não aproveitava uma balada e
dançava até sentir dor nos pés, além de ser uma boa oportunidade para fazer
com que Jason e Luiz se divirtam além dos prédios do Instituto Brown.
Helena e Luiz conversavam sobre o filme que ela estava dirigindo,
quando foram surpreendidos com a música "Ride of the Rohirrim", tema de um
dos momentos mais emocionantes de O Retorno do Rei, além de ser o toque
do celular de Luiz, que correu até a sacada para atender, ao perceber quem
era o remetente.
- Que alvoroço foi esse? - Perguntou Hayley assustada - Alguma mulher
lingando pro nosso garoto?
- Ainda não - Helena sorriu - consegui uma entrevista pra ele com a
equipe de de câmera da CNN. Deve ser de lá.
- AEEEEEE! - ele entrou gritando na sala - Eu fui contratado pela CNN e
começo no dia primeiro de outubro!
As duas o abraçaram com muito carinho e o parabenizaram
Helena se prontificou a preparar Caipirinha para comemorar, e assim o
esquenta acabou começando algumas horas antes do previsto.
- Sai fora, eu não sou do tipo de garota que dá bola pra caras como
você.
- Mas, se quiser dar outra coisa - retrucou o baixinho que estava ao lado.
- É isso aí, - concordou o primeiro - porque não deixa esse cara esquisito
aí, que parece que fica te vigiando, e vem brincar com um homem de verdade -
sorriu - e pode trazer as amiguinhas do gordinho pra fazer uma festinha lá em
casa, eu e meus brothers iríamos adorar.
- Você se acha o macho alfa, não é? - perguntava ela, fingindo entrar no
jogo do rapaz.
- Pra você posso ser alfa e omega, gatinha - disse ele, levando a mão ao
pescoço da garota, puxando seu rosto para mais perto.
- Se você chegar mais perto, eu te mordo - disse a garota tentando se
afastar.
- Eu deixo você me morder, o quanto você quiser.
E foi nesse momento que o autocontrole de Hayley se perdeu.
Em uma graças de segundo, metade do pescoço do rapaz tinha sido
dilacerado e o sangue jorrava.
Justin acabará de chegar ali, a tempo de ver aquela cena horrenda.
Assim como Luiz, que agora olhava incrédulo para uma Hayley totalmente
diferente do que se lembrava, com o rosto manchado de vermelho, se
deliciando no sangue daquele homem.
Logo começaram os gritos e a música parou. Em um movimento rápido,
Justin pegou Hayley pela cintura e Luiz pela camisa e os levava para o Bar,
onde Jason tentava enxergar o havia acontecido.
Logo alguns celulares apontavam para o trio que pulava o balcão do bar.
Jason nem pensou muito e fez a parede lateral do bar se abrir, atravessou com
todos dali a tempo do buraco se fechar novamente.
Caíram por três metros até baterem suavemente no chão sujo de um
beco onde moradores de rua observavam assustados.
Nem tiveram tempo para pensar direito, Justin pegou Hayley no colo e
saíram correndo dali por dois quarteirões, até se sentirem seguros o suficiente
para pedir um Uber de volta para a casa de Hayley, uma difícil missão naquele
momento, já que todos os carros próximos estavam pegando pessoas que
saíam desesperadas da boate.
Levou uns quarenta minutos até que conseguissem um carro, o que foi
tempo suficiente para que pudessem se recompor, mas não dá forma mais
tranquila:
- Mas que porra foi aquela? - gritou Luiz
- Desculpa, desculpa - dizia Hayley em prantos.
32
Justin sinalizou para que Jason, que não estava entendendo nada,
tentasse acalmar Luiz, enquanto se aproximava lentamente de Hayley.
- Querida, assim, com todo o carinho do mundo, o que foi isso? - Dizia
enquanto agachava ao lado da moça e a abraçava lentamente.
- Eu não queria, não era pra assustar vocês, não era, eu só - ela
soluçava - eles atrasaram, não pude aguentar muito tempo, me provocaram, eu
só me defendi.
- Essa parte eu acho que nos entendemos, não é gente?
Luiz ao fundo só repetia "puta que pariu, puta que pariu"
- Acho que eu entendi.
- Eu preciso me limpar, e eu explico tudo, só preciso me limpar - dizia ela
tentando segurar o choro.
Foi bastante fácil para Justin condensar um pouco de água do próprio ar,
que serviu para que a garota limpasse o rosto. Enquanto isso Luiz já meio que
não ligava mais para o que via, apenas segurava o barco de Jason com força.
Hayley respirou fundo, sentou na calçada e decidiu contar sobre a
história.
- Bom, vocês devem conhecer o primeiro filme que minha mãe escreveu
e dirigiu, não é? - Todos assentiram, sabendo que "Refém de Sangue" tinha
sido largamente premiado e controverso por suas cenas perturbadoras e
sangrentas - a história foi feita para ser mais interessante às telas, mas o plot
central é basicamente real. - respirou fundo - Minha mãe conheceu um homem
bastante rico e influente quando estava terminando a universidade de cinema,
mais conhecido como meu pai, eles tiveram uma relação breve, mas ele era
um tanto diferente e com o tempo isso foi ficando mais explícito. Poucos depois
de terminar, ele pareceu na casa dos meus avós, no meio da noite e raptou
minha mãe, a mantendo como sua refém e a controlando para parecer um
relacionamento saudável diante dos outros, mas ele queria apenas uma coisa:
procriação.
- É o único caso que conheço em que o faz de tudo para ter filhos -
caçoou Jason, apenas para ser repreendido.
- Vampiros são criaturas mortas, não podem simplesmente procriar, mas
o que acontece quando você pega um vampiro de novecentos anos e um
amplo conhecimento dos mais variados tipos de magia?
- Seu pai é um vampiro? - exclamou Luiz - o que faz de você uma
vampira? Meu Deus.
- Eu sei que é difícil de compreen...
- Minha melhor amiga é uma vampira! - o garoto exclamou - puta que
pariu, isso é demais! Foda!
Todos olhavam para Luiz com estranheza.
33
- Toma, bebe aí, não quero uma vampira com fome a poucos
centímetros do meu pescoço.
Hayley se sentiu um pouco ofendida, mas relevou pois o mais importante
era descobrir como ele sabia.
- Desculpa mas, como você sabe?
- Primeiro que o vídeo do seu ataque tá rodando a internet e, por muita
sorte seu rosto não aparece, reconheci vocês pelo cordão que o Justin tá
usando. - Ele apontou para o crucifixo - além do mais, eu conversei com os
pais de vocês, bom, menos do gordinho, não achei que seria prudente ligar
para o Amapá e falar que o filho deles está andando com uma vampira e os
meus dois sobrinhos malucos.
- Eu não posso discordar disso, não seria legal - cochichou o garoto - o
pessoal da República é bem mais fácil de lidar.
- Então, eu vou deixar você lá e levar os outros pra DP, não seria
prudente um escândalo desse sugiro logo depois de você ser contratado por
uma rede televisiva tão grande.
Ricardo deixou Luiz na República próxima ao Instituto Brown, então
tomou o caminho de volta para a 13ª DP, mantendo um silêncio absoluto e
constrangedor. Durante o caminho, Justin percebeu que o caminho não levava
até a delegacia, mas era o caminho da casa de Ricardo, em Jacarepaguá.
Ricardo morava em uma casa grande, porém simples, toda gradeada e
amplamente iluminada. A viatura pediu logo atrás de um Fiat Sienna prateado,
oq ué significava que Júnior estava em casa. Ricardo sinalizou para que
saíssem do carro.
- Você não ver conosco? - perguntou Jason.
- O assunto que vocês tem a tratar não é comigo, aliás, para todos os
efeitos, eu nem tenho conhecimento desse assunto.
Os jovens ficaram incomodados como a forma com aquilo parecia
estranho, mas seria mais prudente que seguissem as ordens.
Ao entrar na casa, foram surpreendidos por Júnior sentado no sofá ao
lado da deputada Helen Silveira, que logo se levantou para cumprimentar os
garotos, mas Júnior polou na frente, lembrando que ideia era bão dar sinal da
sua presença ali. Os jovens então se sentaram no outro sofá e ouviram
atentamente o que tinham a dizer.
- Olá primos, sei que pode parecer meio estanho trazer vocês aqui no
meio da noite abruptamente, mas alguns fatos recentes me influenciaram a
mudar os planos.
Ele limpou a garganta.
- Como vocês bem sabem, eu sou o assistente pessoal da Deputada
Helen, além de ser o responsável por cuidar de sua comunicação e segurança.
Há alguns dias temos recebido ameaças em redes sociais, vindo de supostos
grupos paramilitares.
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Ele gritou para que Justin não matasse o carona, mas era tarde demais.
O pingente do colar que ele usava enganchou entre os raios da roda traseira
da moto e arrancou sua cabeça. Justin se assustou com o ocorrido, o que foi
suficiente para que o piloto sacasse uma pistola e tentasse atirar em sua
cabeça, o tiro passou próximo a sua sobrancelha. Com o susto, Justin
instintivamente flexion ou os músculos do braço, desacordado o piloto, que
rolou para o lado e caiu no asfalto, deixando com que a roda traseira passasse
sobre seu braço.
Justin tomou o controle do Guidão, quando apontou para sua frente.
A moto de Jason ia poucos metros à frente do veiculo da deputada, que
vinha seguido de perto pela moto de Justin. Naquele momento em que os
veículos atravessavam a entrada da rua Batista da Costa, Jason percebeu que
o veículo da saída do túnel, vinha agora a toda velocidade para tentar se
chocar com o veículo da deputada, sinalizou para que Justin fosse mais rápido.
Quando Justin viu o veículo se aproximando através das árvores, nem
pensou, apenas freiou a moto com tudo e se deixou ser lançado para a frente,
caindo de joelhos exatamente na frente do veículo, que no impacto se achatou
e lançou seus ocupantes para fora violentamente.
Jason que vinha à frente só pulou da moto no asfalto e parou os quatro
homens no ar, para que não morressem ou se ferissem mais com o impacto.
Mais adiante, o veículo da deputada parou por alguns segundos e então,
seguiu viagem.
Justin levantou, observando que i veículo preto havia virado um monte
de sucata com o impacto, então notou que Jason suavemente deitava os
homens no chão. Estavam todos vivos, mas gravemente feridos.
Assim que os posicionou em um local seguro, Jason subiu na moto
novamente e aguardou que Justin subisse na garupa, então seguiram caminho
pela avenida Borges de Medeiros, encontrando o veículo da deputada já em
frente ao Clube do Flamengo.
Um Rosto Conhecido
Logo o clima começou a ficar intenso naquela casa, mas o pior ainda
estava por vir. A TV estava ligada, onde passava mais uma das várias cenas
tensas no Hospital Grace Mercy West, onde se passava a série Grey's
Anatomy, quando a programação foi interrompida com um plantão urgente.
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Horário de Visita
Allan abriu os olhos, a dor percorria todo seu corpo, não conseguia de
mexer, mas seu cérebro dizia pra sair dali, mas, onde era ali?
Aos poucos os sons de um monitor cardíaco surgiram entrevistados por
um respirador artificial.
A lus forte que recaia em seus olhos pareceu enfraquecer um pouco. Até
que pudesse ver um teto, branco, de gesso, com pequenas lâmpadas de led
acopladas em pequenos buracos. As paredes possuíam um leve contraste
entre branco neve e branco gelo. Acima de sua cabeça podia ver três tubos
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distintos, verde, azul e amarelo. Foi quando se deu conta que estava realmente
numa cama de hospital. Tentou virar o pescoço para olhar ao redor mas não
conseguiu e a dor lancinante irradiou em sua cabeça. Estava com o pescoço
imobilizado, o braço direto enfaixado, as duas pernas engessadas e
suspensas, sentia uma pontada nas costelas sempre que respirava e ainda não
conseguia processar a dor que sentia.
Logo reconheceu onde estava, tinha visitado sua mãe num quarto
parecido com aquele na infância.
"Estou no Copa D'or" pensou "porque?"
Então as luzes piscaram e uma sensação de frio inundou o local. Então,
como que por mágica, um homem surgiu surgiu em frente à cama de Allan.
- Pensei que teria que esperar muito, mas, pelo visto, você é bem forte.
A voz era estranha, quase um sussurro, mas o rosto definitivamente era
conhecido, mas ele simplesmente não se lembrava de muita coisa, nem
mesmo o porque estava naquele hospital. O que teria acontecido?
Tentou se mover na cama, mas a dor o dominou novamente.
- Calma rapaz, vamos conversar com calma, sem alarmar ninguém, não
há necessidade de saberem que estou aqui, ainda nem é o horário de visita. - a
boca do homem parecia nem se mexer.
Alan puxou o ar pesadamente, sentindo as costelas arderem, abriu a
boca, mas o som saiu tão fraco que nem ele mesmo ouvia direito.
- Pensei que fosse se lembrar de mim, depois daquela noite irada em
Búzios. Tenho certeza que aquelas garotas lembram muito bem.
Aos poucos a memória de Allan foi retornando. Lembrou da noite em
questão, quando foi para Búzios curtir uma festa privativa que havia sido
convidado e rapidamente teria feito amizade com um dos organizadores, um
tipo igual a ele, que não dispensava altas doses de álcool e a companhia de
mulheres gostosas. A festa tinha sido divertida, mas o after que foi épico,
quando o sujeito em questão teria feito uma segunda festa, onde apenas os
dois teriam a companhia de todas as garotas da festa. Tinha se sentido como
um astro do futebol naquele dia, um Ronaldinho talvez?
Mas o que aquele homem fazia ali no quarto do Hospital, aparentemente
tentando não ser visto.
- Foi tenso esperar por três meses até você acordar, mas pelas fraturas,
ferimentos e as muitas cirurgias que você passou, eu esperava que levasse
mais tempo.
"Três meses?" A cabeça de Allan parecia que ia explodir com aquilo.
"Cirurgias? O que aconteceu?"
- Do que você se lembra? - o homem parecia saber o que se passava
em sua cabeça - o que você se lembra daquela noite?
Allan pensou um pouco e se lembrou que naquela manhã teria discutido
com seu pai, pois não iria mais retornar ao instituto, nem investir na carreira
44
política que seu pai almejava, odiava ter que se portar com educação para lidar
com os outros, só queria curtir e que se foda o resto, mas pouco antes das 19h
seu pai teria ligado, avisado que as coisas poderiam ficar complicadas se os
planos dessem errado, mas Allan já sabia de tudo, estava agora junto com
Caio e Júlio, ex cabos da PM, expulsos por má conduta, parados em um
veiculo diante da ALRJ, aguardando a saída do alvo.
Já faziam algumas semanas que tinham organizado aquilo, deveriam
destruir a oposição que ameaçava o mandato de seu pai, assim como todo o
luxo que cercava a família, não aceitava ver seu pai ser confrontado
diariamente perante a mídia por uma bichinha favelada, agora seus amigos
estavam ali com ele para tomar conta do serviço, seu pai sabia de tudo, menos
que ele era o cabeça.
Pouco antes do encerramento do evento, se dirigiram para a saída do
túnel, era o caminho mais previsível para a favela, era só questão de tempo.
Mas tudo tinha saído fora do planejado, teriam de tomar um desvio e se jogar
contra o carro da deputada.
No último segundo Allan só viu uma coisa: a única pessoa que odiava
mais que todos no mundo, surgindo em frente ao carro, então veio o impacto, a
dor, apagou.
As costelas agora pareciam estar se quebrando enquanto respirava
fundo ao lembrar de tudo que tinha acontecido.
- Calma rapaz, não vamos fazer um show aqui. Você sabe quem fez isso
com você, não é?
O homem se aproximou, pegando na perna erguida de Allan, mas ele
não sentiu nada. Foi quando percebeu que não tinha sentido as pernas de
verdade desde que tinha acordado, na verdade sentia a falta da sensação
delas. "O desgraçado me deixou aleijado", pensou, furioso. "Filho da puta!"
- Eles bem tentaram consertar suas pernas, mas só conseguiram
descobrir que você estava mais ferrado por dentro do que parecia. Suas
costelas estavam em cacos, eles reconstruíram do jeito que puderam, mas os
danos eram grandes e tiveram que remover uma parte do pulmão, fígado e
intestino, além do dano irreversível à coluna. Mas eu tenho uma solução para
você.
Allan estava em choque, nem bem conseguia mais ouvir o homem, só
queria sair dali, parar aquela dor e chutar a cara de Justin.
Mas poderia mais chutar alguém.
Nem mesmo ficar de pé.
- Você quer ter sua vida de volta? - o homem perguntava agora bem
próximo de Allan, com as mãos em seu braço enfaixado.
- Sim - Allan conseguiu vocalizar com muito sofrimento.
Então as luzes piscaram novamente e um segundo homem surgiu ali,
mas ele parecia ser apenas uma sombra humanoide, que se aproximou de
Allan, então as luzes se apagaram novamente.
45
Emboscada na Areia
Era uma noite quente de dezembro, uma brisa amena soprava nas
areias da praia da barra da Tijuca, uma praia relativamente afastada e bem
vazia se compara às outras do Rio de Janeiro.
Justin e Hayley estavam sentados na areia, dividindo uma garrafa de
vinho e uma bela pizza marguerita. Não era o tipo de coisa que costumavam
fazer, mas precisavam desse momento. Os últimos meses tinham sido
turbulentos. Desde a fatídica noite do serviço de segurança, tinham adquirido o
costume de não passar muito tempo em público para não chamar atenção ou
mesmo ser reconhecidos pelos vídeos que se tornaram virais na internet.
E que susto foi quando notificaram o desaparecimento de Allan e todos
os outros envolvidos na tentativa de homicídio da deputada e sua família.
O senador Jânio Godoy no caminho contrário, tinha ganhado total
atenção da mídia. O desaparecimento do filho havia servido como uma
catapulta de sua própria popularidade, onde passou de um político desprezível
qualquer a um homem que defendia a família e sofria a falta do filho, ganhando
o apreço dos religiosos e conservadores. Isso também tinha tirado o foco das
investigações dos atentados que estavam diretamente ligados ao senador, mas
foi considerado moralmente injusto que ele respondesse esse tipo de processo
enquanto buscava o filho desaparecido.
Uma bela fantasia política, segundo Justin.
Mas, naquela noite específica, ele queria se desligar de tudo isso, afinal,
a exatos dois anos teria pedido Hayley em namoro naquela mesma praia, logo,
uma celebração era merecida.
O ar ao redor era perfumado pela fragrancia mista de manjericão com o
cheiro típico de um vinho sangiovese. O que era um orgulho para Justin que,
mesmo jovem, já tinha um bom paladar para a harmonização de vinhos.
Era uma noite romântica como merecia ser, se abraçavam, beijavam,
lembravam os histórias engraçadas e constrangedoras, como a de sua primeira
relação íntima, onde Hayley deliberadamente tomou as redes da situação para
que Justin não fosse afobado. Hoje ele entende que ela não tinha medo que
ele a machucasse, mas sim o exato oposto. O que tinha deixado de ser um
problema, visto que agora ele poderia se recuperar rapidamente de qualquer
dano que ela o causasse.
Mas a paz não duraria tanto tempo quanto esperavam.
46
- Vocês sabem que não precisamos de tudo isso né? - ele sorriu
observando a expressão de desconfiança nos olhos dos filhos - nós,
especialmente, podemos resolver essa bagunça em minutos.
A expressão dos garotos não mudou.
- Ok, vou ter que ser um pouco mais direto - ele sentou no corrimão do
trapiche - Eu sei que vocês já tem uma breve compreensão dos poderes que
vieram com a nossa linhagem, inclusive sei que usaram para fugir de uma
boate e até mesmo impedir um homicídio.
Os rapazes se entreolharam.
- Então, pai, sobre isso... - Jason foi interrompido.
- Eu não estou pedindo explicações, nem mesmo com intenção de punir
ou algo parecido. - John respirou fundo - Mesmo que eu mesmo não tenha
todas as respostas, gostaria de saber se vocês tem alguma dúvida com a qual
eu possa ajudar. Eu realmente quero que sejam sinceros comigo, nada de ficar
escondendo as coisas ou entrando de mansinho com a camisa ensanguentada
pensando que eu não vi.
Justin ficou nervoso e imediatamente começou a falar.
- Um grupo de idiota tentou atacar a mim e à Hayley na praia, mas não
foi nada demais, eu garanto, por isso não quis falar a respeito.
- Quanto aos ferimentos é bem simples, nossos corpos tem uma
resposta muito mais rápida a danos físicos e biológicos, por isso vocês
raramente adoecem.
- Quem te atacou? - perguntou Jason que ouvia tudo atentamente.
- Ah, os amigos do Allan que estavam desaparecidos igual a ele, eu
acho que...
- Sobre isso podemos conversar depois, na presença da Hayley, ela
deve ter alguma observação a respeito.
- Ok, pai, mas tem outra coisa que me encucou sobre aquela hora.
- O que?
- Tinha uma mulher, na água, ela meio que me ajudou naquela hora, não
disse nada, só estava ali me observando.
- Dentro d'água? Uma mulher negra extremamente bonita?
- Isso mesmo.
- Ela é uma velha amiga. Conheci quando vim ao Rio pela primeira vez,
inclusive me ajudou a conquistar a mãe de vocês.
- Ainda não entendi porque ela estava dentro da água - indagou Jason.
- Bom - o pai sorriu - uma das dádivas que a linhagem traz é a
capacidade de enxergar além do que as pessoas normais podem ver, logo, o
mundo espiritual é bem visível para nós, claro que não o tempo todo, mas
50
Então, é Natal!
Na manhã seguinte, antes que o sol banhasse a casa dos Morgan, dois
veículos estacionaram na entrada do sítio, não precisavam avisar nada, pois
estavam todos em casa.
Da porta do motorista do primeiro carro saiu o belo Josh, com seu
penteado estiloso e a barba por fazer, vestindo sua clássica regata preta e
calças jeans que lhe conferiam um ar de sensualidade fora do comum. Da
porta do carona saia uma adolescente baixa, ruiva, com um rosto
extremamente amigável e de uma semelhança gritante com Evelyn, mas não
seria diferente, a filha mais nova era a exata cópia do mãe, exceto que se
vestia de forma despreocupada e confortável, com um vestido de alça florido
que lhe descia até os pés e óculos grandes que acentuavam seus olhos
verdes.
52
Das portas traseiras saíram Hayley e Helena, combinando num look todo
preto de camiseta e Jeans, finalizado com belas botas de couro sintético.
Do outros carro saltaram James, os tentando seu belo topete e uma
belíssima jaqueta de couro, e Kevin, que parecia ter aproveitado os últimos
meses dando um tapa no visual, seus cabelo agora mais compridos
ostentavam pequenos cachos negros, uma barba grossa, dando um aspecto
mais másculo e sério ao seu rosto, além das vestes sociais que destoavam um
pouco do ambiente mas o deixavam com um charme a mais.
Assim que John saiu pela porta da frente da casa, Raquel saiu correndo
para abraçar o pai. Fazia um ano que não se viam e ela não aguentava de
saudades.
- Aí, meu pai, que saudades - dizia ela abraçando o pai todas as forças -
você tá com menos cabelo do que eu me lembro!
- Mas nos falamos ontem - ele a afastou com uma cara surpresa, mas
logo começou a sorrir - e você ficou mais alta.
Ela estreitou os olhos em reprovação.
- Ora, temos um comediante aqui. Cadê a mamãe?
- Acho que ainda está na cama e acho que ela não se importa de ser
acordada por você.
Raquel entrou correndo na casa enquanto os outros se aproximavam.
- A garota está certa, você está com menos cabelo meu irmão - Dizia
James se aproximando de John.
- É o peso desse topete que tá destruindo sua visão - ele então
percebeu Kevin logo atrás - Meu Deus do céu, um caminhão de alterofilistas
passou por cima de você? Quantos anos que a gente não se vê, meu
sobrinho?
- Muito engraçado, tio, eu só cresci um pouquinho, as garotas estão
amando - dizia Kevin flexionando o biceps.
- Tenho certeza que sim, bom ver que você está feliz! Por favor, entrem e
se acomodem, acho que os rapazes já acordaram e podem ajudar vocês com
isso.
Os dois entraram, revelando um Josh parado franzindo a testa em
direção a John.
- Héteros! Nunca vou entender!
- Ué? - John sorriu para Josh, que fez o mesmo - Mas eu também sou
hétero e você me entende.
- Ah, tio, você não vale! Seu lado da família é o lado legal da família.
Os dois se abraçaram e John segurou o rosto do sobrinho
carinhosamente.
53
- Bom dia - respondeu ela com um tom severo - não precisa ficar tenso
na minha presença, que horror - ela sorriu - já passamos dessa fase há
tempos.
Os três então sorriram daquela situação.
- Vocês são chatos! - apontou para Jason - e você, japa, sabe fazer a
mesma coisa ou tem alguma raposa demônio selada em você?
- Pra incio de conversa, somos todos descendentes de japonês, exceto a
Hayley. - Jason parecia levemente irritado - Segundo que eu não sou um
personagem de anime, muito menos loiro.
- Aí, tanto faz.
- Respondendo à sua pergunta, temos os mesmo poderes, só que eu me
concentro com muito mais facilidade - então o nacho em sua mão ficou mole,
voltando a ser uma massa crua, pegajosa e, por fim, virando líquido - só isso
mesmo.
- Ah tá, e essa beldade que por algum motivo vê algo que preste no
careta do meu primo?
Hayley o olhou com desprezo, o que só fez com ele continuasse seu
comentário.
- Com tanto homem bonito nessa cidade, ela escolheu o mais sem
graça.
- Mais um comentário e eu te mostro como eu destruo uma garganta em
segundos! - ameaçou a vampira.
- Com todo o respeito mas. Faz algum tempo que eu não sou mordido
por uma mulher bonita - soltou um sorriso sacana - mas, além disso, você virá
morcego ou algo do tipo?
Todos tiram à mesa.
- Bem que eu queria, mas não.
- Que chato, seria maneiro. - ele sorriu novamente - quanto a vocês dois,
já sei que são tipo o Stephen Hawking da família, soy que sem a doença.
- Você tem algum problema, só pode - Balbuciou Raquel - Eu prefiro
colocar como agilidade cognitiva e facilidade de aprendizado. Absorvemos
informações com mais facilidade que a maioria, o que nos faz aprender na
metade do tempo de uma pessoa considerada normal.
- Famoso Nerd Gourmet.
- Ok, palhaço - disse Josh - e você, é só um super babaca mesmo ou
tem algo que preste aí?
- Assim você me ofende primo, perdão se passei do porno em algum
momento. - ele segurou no ombro de Josh e fez cara de cachorro pidão - eu
acho que tenho alguma coisa dessa de aprendizado, só não tenho paciência
pra isso - ele coçou a cabeça - e, teve uma vez que eu falei com espírito de
uma garota.
Todos o olharam apreensivos.
- Você fala com espíritos? - perguntou Jason.
- Sim, é normal né?
56
*
Nos dias seguintes pouca coisa aconteceu. Foi realizada a cerimônia de
formatura do ensino médio do Instituto Brown, do qual Allan não teria
participado, já que seu paradeiro ainda era desconhecido.
Heyleu tinha sido aprovada para o curso de enfermagem da UFRJ,
enquanto Justin e Jason decidiram utilizar aquele ano para se aprofundar nos
negócios da família.
O mês de janeiro passou como um raio e logo Hayley estava estudando.
Luiz, após os seis meses trabalhando na equipe da BBC e calouro no
curso de jornalismo, precisou pedir dispensa por uma semana no curso pois
precisaria ir gravar uma matéria com equipe da emissora em seu estado natal.
Enquanto isso, Justin e Jason gastavam a maior parte de seu tempo
tentando investigar o paradeiro de Allan, o que os fazia importunar o delegado
Ricardo com frequência, sempre questionando sobre assunto sigilosos da
polícia. Em uma dessas buscas, decidiram ir até o hospital mas parecia que
alguma coisa tentava impedir que encontrassem respostas, já que na entrada
Justin quase foi atingido por um pneu que escapuliu de uma viatura de polícia
que passava ali próximo, sendo salvo simplesmente por ter esbarrado com um
transeunte.
- Você não é fã de muita coisa - disse Kevin, passando por ele para
abraçar Hayley - mas, se me permite, eu sou fã de mulheres inspiradoras -
então se virou para a deputada - devo dizer que é uma honra revê-la, ainda
mais em saber que você e meu querido primo - abraçou Júnior - tem bom gosto
e consomem produtos de qualidade.
- Não posso mentir, eu gosto de uma cerveja de qualidade, sou
brasileira.
- Se me permite, gostaria de tirar uma selfie com a senhora pra registrar
este momento.
- À vontade.
Então Kevin ajeitou o ângulo e tirou a Selfie, com ele e a deputada em
primeiro plano, mostrando Justin, Jason e Hayley no segundo plano.
- Muito obrigado, adoraria ficar mais com vocês, mas tenho outros
clientes para visitar. - ele começou a se afastar e parou - Ah! Primos, avisem o
Tio John que eu devo ir lá com ele no fim de semana.
Os dois assentiram, enquanto a deputada retornava para sua mesa e
puderam retornam aos debates sobre a energia sombria do hospital, mas
Hayley lembrou que Luiz chegaria no próximo Vôo vindo de Belém e deveria
chegar a qualquer momento, ela tinha combinado de buscá-lo no aeroporto.
Antes que pudessem pagar pelo consumo, uma explosão irrompeu num
bar próximo, de onde vinha um homem alto, com bandagens cobrindo os
braços e o rosto marcado por cicatrizes e o cabelo loiro caindo sobre os olhos.
Não restava dúvida, aquele era Allan, mas ele estava bastante diferente. Seu
semblante era mais sério que o normal e seus olhos pareciam irritados e
avermelhados.
Foi então que outras explosões começaram a ocorrer pelo shopping, foi
só aí que Eles perceberam que Allan estava acompanhado dos mesmos jovens
que atacaram Justin na praia. Hayley rapidamente iniciou a evacuação do local,
usando sua força e velocidade sobrehumanas para salvar o máximo de vidas,
enquanto Jason correu para impedir os comparsas de Allan de causar mais
danos.
Já Justin decidiu encarar Allan de frente e o atacou. Ao passo que Allan
revidou com um rápido e violento chute que o lançou alguns metros para trás.
Justin não adimitia ser derrubado desse jeito, uma irá começou a crescer em
seu peito, fazendo que a atmosfera ao redor respondesse, fazendo com que
surgissem densas nuvens negras e raios por toda aquela parte da cidade.
Hayley já tinha conseguido retirar todas as pessoas que estavam no
complexo dos bares e alguns que estavam em áreas próximas. Enquanto o
resto dos clientes do shopping seguiam o protocolo de incêndio.
Jason resistia enquanto dois rapazes tentavam acertá-lo com facas.
Justin se levantou furioso e avançou contra Allan que o acertou com um
uppercut com uma força descomunal que o lançou por quase dez quilômetros,
62
De repente, noticiário
O choque com o asfalto foi tão violento que o Corpo de Justin parou no
fundo de uma pequena cratera. Uma dor percorreu sei corpo, pouco antes de
um pico de adrenalina. Quando levantou, veio o susto, estava rodeado de
pessoas, curiosos que o observavam assustados e, dentre eles, um conhecido:
Luiz, segurando a câmera em sua direção.
A expressão no rosto do amigo era um misto de surpresa e medo,
concluiu que aquela altura já deveria estar sendo transmitido para a emissora e
não passaria mais despercebido naquela cidade.
No mesmo instante, seus pelos se arrepiaram, uma sensação de perigo
tomou conta de seu corpo a tempo de ver um tronco de árvore que vinha em
sua direção, afastou as pessoas da forma que pôde e ergueu a mão esquerda,
desviando o trajeto do tronco que parou sobre o capô de um carro próximo,
mas não deu tempo de evitar o ataque de Allan, que o atingiu violentamente e
o ergueu pelo pescoço.
Vendo Allan mais de perto, Justin percebeu que sua aparência estava
bem diferente do que se lembrava. Seus olhos estavam avermelhados, como
se tivesse sob efeito do consumo de cannabis, seu rosto, antes belo e másculo,
agora estava com cicatrizes e um nariz torto. O cabelo loiro agora parecia
bastante danificado e quebradiço. Se pegou ponderando em sua mente o que
teria levado Allan àquele estado, que criatura teria tido contato com ele para
danificar ainda mais sua mente perturbada.
- Filho da puta!
Foi a única coisa que ouviram antes de Allan ser atingido no lado
esquerdo do rosto pelo pé de Jason. Allan caiu contra a parede de cratera e,
antes que pudessem perceber, estava sendo lançado no ar e caindo sobre um
avião estacionado no pátio do aeroporto.
Por sorte a aeronave estava vazia e só deveria sair na madrugada. Uma
explosão sobriu Allan, assustando os poucos que ainda estavam dentro do
aeroporto.
- Parece que encontramos quem estávamos buscando, irmãozinho. -
Dizia Jason, ajudando Justin a sair da cratera.
- Muito pelo contrário, ele nos encontrou. - Corrigiu Justin - Ah, olha, é o
Luiz ali, nos filmando.
Jason olhou lentamente para a câmera e deu um aceno sem graça.
Luiz engoliu em seco. Sabia que o segredo dos amigos não estava mais
seguro, ainda mais depois que a emissora tinha avisado que estava
transmitindo para a BBC internacional.
63
Rastro de destruição.
Hayley caiu pesada sobre o asfalto, nem conseguiu pensar antes que
Allan a segurasse pelo cabelo e batesse seu rosto contra o chão. Ao passo que
Justin se aproximou rapidamente, segurou o rapaz pela perna e o lançou rumo
a um prédio próximo.
Antes que batesse na fachada do prédio, Allan foi atingido novamente,
agora por um Jason, que o lançou ao ar, cerca de quatro metros acima do solo,
onde Hayley o alcançou, puxou seus braços para trás e apoiou seu peso nas
costas, fazendo o jovem cair de rosto no asfalto. Hayley o levantou, deixando
de joelhos no chão, enquanto Jason fazia o asfalto engolir as pernas o
ex-colega, impedindo que pudesse se levantar o contra-atacar.
Justin tomou a dianteira e se aproximou do rosto de Allan, que o
observava com olhos ferozes, ao passo que todo o tráfego daquela rua estava
parado e os motoristas agora saíam dos veículos para observar e filmar melhor
aquela cena. No céu, o som estrondoso do helicóptero da BBC que rodeava o
local para que Luiz pudesse captar as imagens de um ângulo privilegiado e
Carlos respirava ofegante tamanha a adrenalina de ser o mensageiro daquele
momento.
- Me fala, onde você esteve todo esse tempo? - Justin perguntava com o
rosto próximo ao de Allan - Quem diabos te deu esses poderes?
66
Colisão
67
Epílogo – Darkness
FIM