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03/05/22

2° Bimestre

DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral – Peculato

1. Conceito de funcionário público para fins penais:


CP, art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
execução de atividade típica da Administração Pública.
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo
forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo
poder público.
- Administração pública:
 Entidades Estatais:
- União: possui estabilidade;
- DF: possui estabilidade;
- Estados: possui estabilidade;
- Municípios: possui estabilidade.
 Entidades Paraestatais (serviços sociais oficializados pelo Estado, que não entregam a adm
direita e nem a indireta):
- Autarquia: possui estabilidade;
- Empresa pública: ex: Caixa e Correio – é regido pela CLT, não é servidor público, não
possui estabilidade;
- Sociedade de economia mista: ex: BB – é regido pela CLT, não é servidor público, não
possui estabilidade;
- Fundação:

- Cargo, emprego ou função, ainda que temporariamente ou sem remuneração;


17/05/22
2. Peculatos:
a) APROPRIAÇÃO:
CP, art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito
próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
 Doloso.
- Dinheiro;
- Bem;
- Valor: ex: títulos de créditos (cheque, nota promissória, contrato).

b) Peculato – FURTO:
§ 1° - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do
dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou
alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
 Doloso.

c) Peculato – DESVIO (CP, art. 312, segunda parte):


 Doloso.
- Essa modalidade acontece quando o servidor, por ter acesso em razão do cargo, destina valores ou
bens para uma finalidade estranha à administração pública;
- Por exemplo, inclui sua empregada doméstica como funcionária comissionada, mesmo não tendo
serviços prestados ao poder público.

d) Peculato – DE USO:
- Não existe no Brasil (se aplica a mesma lógica do furto de uso);
- Ex: prefeito que leva as máquinas para fazer terraplanagem em suas terras. Ele não está se
apropriando, não está desviando e nem furtando as máquinas, por isso da sua inaplicabilidade;
- Mas isso no quesito criminal, pois se aplica a improbidade administrativa.

Peculato culposo

§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:


Pena - detenção, de três meses a um ano.
- Falta de cuidado por parte do funcionário público: imprudência, negligencia ou imperícia, ou seja,
não observa o dever de cuidado, e, por conseguinte, contribui (facilita) que outrem subtraia, aproprie
ou desvie o objeto material (dinheiro, valor ou bem);
- Ex: funcionário esquece de fechar e acionar o alarme da repartição pública e ocorre um furto na
mesma noite.

1. Reparação do dano no peculato culposo:


3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível,
extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.
- Não se aplica a regra geral (arts1 6 ou 65 do CP), mas sim o § 3° (princípio da especialidade):
a) se antes da sentença irrecorrível: extingue a punibilidade.
 Ou seja, antes do trânsito em julgado.
b) se depois da sentença irrecorrível: causa de diminuição de pena de metade.
24/05/22
Peculato mediante erro de outrem

CP, art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo,
recebeu por erro de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
- Se aproveita da situação;
- Caso o funcionário induza, caberá estelionato.

1. Considerações:
a) Bem jurídico tutelado:
- Moralidade administrativa e patrimônio.

b) Sujeitos:
- Ativo: funcionário público;
- Passivo: Administração Pública.

c) Tipo objetivo:
- O bem deve ser entregue ao funcionário em razão do cargo que ocupa na Administração Pública.
- Apropriar-se;
- Por erro de outrem.
 Se aproveita da ignorância da vítima.

d) Tipo subjetivo:
- Dolo.

e) Consumação e tentativa:
- O crime estará consumado no momento em que o agente público se apropria da coisa;
- A tentativa é possível, pois o delito é plurissubsistente.
 A conduta é fracionada em diversos atos que, somados, provocam a consumação.

Peculato eletrônico – inserção de dados falsos em sistema de informações

CP, art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar
ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da
Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para
causar dano:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
- Com o fim de obter vantagem: significa que não precisa haver consumação para que o crime
aconteça.
1. Considerações:
a) Bem jurídico:
- Interesse material, moral e segurança do conjunto de informações da Administração Pública.

b) Sujeitos:
- Ativo: funcionário público AUTORIZADO;
 O tipo exige que o sujeito ativo seja funcionário AUTORIZADO a realizar operações nos
sistemas informatizados da Administração Pública. Isso significa que outro funcionário
público, que não o autorizado, somente poderá concorrer para o crime na forma do art. 29,
CP.
- Passivo: Administração pública ou o particular prejudicado.

c) Tipo objetivo:
- Modificar;
- Alterar – dados falsos;
- Acarreta mais de um crime quando executados em contextos diferentes.

d) Tipo subjetivo:
- Dolo;
- O agente deve ter a consciência de que a coisa foi recebida em virtude do erro de outrem e da
função pública desempenhada.

e) Consumação e tentativa:
- O crime estará consumado no momento em que o agente público se apropria da coisa;
- A tentativa é possível, pois o delito é plurissubsistente.
 A conduta é fracionada em diversos atos que, somados, provocam a consumação.

2. Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações:


CP, art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de
informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou
alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado.

a) Bem jurídico:
- Proteção dos sistemas informatizados e programas de informática.

b) Sujeitos:
- Ativo: funcionário público;
- Passivo: Administração pública.

c) Tipo objetivo:
- Inserir;
- Facilitar – dados falsos, alterar, excluir indevidamente;
- Tipo misto alternativo: ainda que o agente, no mesmo contexto tático, realize mais de uma conduta
típica, haverá crime único.

d) Tipo subjetivo:
- Dolo (de modificar o sistema);
 Não precisa
- O agente deve ter a consciência de que a coisa foi recebida em virtude do erro de outrem e da
função pública desempenhada.

e) Consumação e tentativa:
- O crime estará consumado no momento em que o agente público se apropria da coisa;
- A tentativa é possível, pois o delito é plurissubsistente.
 A conduta é fracionada em diversos atos que, somados, provocam a consumação.
31/05/22
Concussão

CP, art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função
ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
- Não tem violência e nem grave ameaça;

1. Considerações:
a) Bem jurídico:
- Moralidade administrativa.

b) Sujeitos:
- Ativo: funcionário público;
- Passivo: Administração Pública e secundariamente o particular.

c) Tipo objetivo:
- Exigir: impor como obrigação, mas não contém violência e nem grave ameaça;

Solicitar ou receber (corrupção passiva, art. 317, CP);
- Direita (o autor faz a exigência) ou indiretamente (usar meios interpostos, ou seja, utiliza terceiro
para que faça a exigência);
- Fora da função (de férias ou de licença, mas exige em razão da função) ou antes de assumi-la;
- Vantagem indevida: há duas correntes
 Natureza patrimonial;
 De qualquer natureza: é a corrente majoritária, mas não é um entendimento pacificado.

d) Tipo subjetivo:
- Dolo.

e) Consumação:
- Se consuma com a mera exigência, independentemente se receber ou não;
- É um crime formal, que não exige resultado;
- Flagrante é somente na hora da exigência.

f) Tentativa:
- É possível, pode se apresentar na forma plurissubsistente, ex: exigência por através de carta.

2. Excesso de exação:
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido,
ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
- Tributos: é o gênero, e possui as seguintes espécies: impostos, taxas, contribuição de melhoria,
contribuição social, empréstimo compulsório, conforme STF;
- Exação é a cobrança de TRIBUTOS;
- É uma cobrança de tributo em valor que não pe devido ou além do devido, ou ainda cobrando de
modo vexatório, humilhante.

§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente


para recolher aos cofres públicos:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
07/06/22
Corrupção passiva

CP, art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763,
de 12.11.2003)
1. Considerações:
a) Bem jurídico:
- Moralidade administrativa e o regular desenvolvimento da Administração Pública.

b) Sujeitos:
- Ativo: funcionário público;
- Passivo: o Estado e, de forma mediata, o particular lesado (desde que não tenha praticado o delito
de corrupção ativa).

c) Tipo objetivo:
- Solicitar: o agente público solicitar/pedir a vantagem indevida, direta ou indiretamente para si ou
para outrem, que pode ou não ser dada pela vítima.
- Receber: o terceiro oferece a vantagem indevida, que é aceita e recebida pelo funcionário público;
- Aceitar promessa: o agente público concorda em receber a vantagem indevida prometida pelo
terceiro.

*A corrupção passiva pode ocorrer por via direta ou indireta, ou sea, nada impede que seja interposta
por uma terceira pessoa, um intermediário, que poderá solicitar, receber, ou até mesmo aceitar a
promessa da vantagem, que, em nome do funcionário público, comunicará a concordância deste.

e) Consumação:
- No momento em que o agente solicita (basta solicitar);
- Quando o funcionário receber a vantagem indevida;
- No instante que aceita a promessa dessa vantagem.

*Na modalidade SOLICITAR, mesmo que a proposta não chegue ao destinatário, o crime se consuma
da mesma forma, basta solicitar.

f) Tentativa:
- Na conduta solicitar: a forma tentada é admitida, mas caso entenda a possibilidade de sua
realização na modalidade plurissubsistente, ex: solicitação por escrito. Ocorre que, se torna
impossível na modalidade unissubsistente, ex: solicitação verbal;
- Na conduta receber: não cabe a forma tentada. Ou o agente recebe a vantagem indevida, e há a
consumação, ou o repele, e existe somente corrupção ativa;
- Na conduta aceitar promessa: não cabe a forma tentada. Ou o agente recebe a vantagem indevida,
e há a consumação, ou o repele, e existe somente corrupção ativa.

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o


funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever
funcional.
2. Corrupção passiva privilegiada:
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever
funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
- O sujeito ativo em vez de atuar em seu próprio interesse, visando a vantagem para si ou para
outrem, especificadamente, ele cede a um mero pedido ou por influência de outrem;
- Aqui o tipo penal não é composto pelo elementar “vantagem indevida”;
- O funcionário viola seu dever funcional;
- Quem “pede” não ofere nenhuma vantagem indevida, apenas pedirá, ou se tratará de uma pessoa
influente. Quem pede não comete nenhum delito.

3. Diferença entre corrupção passiva e concussão:


- A diferença está entre os tipos penais, o núcleo;
- A concussão prevê o verbo exigir, que significa um tipo de ordem, de intimidação, ocorrendo então
um caráter de modo intimidativo na conduta;
- Enquanto na corrupção passiva os verbos são solicitar ou receber, aceitar, que não pressupõe uma
forma de intimidação.

4. Diferença entre corrupção passiva e prevaricação:


- A principal diferença entre esses dois tipos penais é a motivação do agente;
- Na corrupção passiva privilegiada o que motiva o agente é o pedido ou a influência de outrem (art.
317, §2°), aqui existe a figura do corruptor no momento da conduta;
- Enquanto na prevaricação a motivação está ligada à satisfação de interesse ou sentimento pessoal
(art. 319, CP), aqui não envolve um terceiro corruptor.

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