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te oak Forum Ble c] fol oI ——_ ° os - COMITE DE COORDINAGAO DO FORUM Andrea Ferrante, LVC (La Via Campesina) Djibo Bagna, ROPPA (Reseau des Organisations Paysannes & de Producteurs ae ke ker) Elizabeth Mpotu, LVC (La Via Campesina) Emily Mattheisen, HIC (Habitat International Coalition) Ibrahima Coulibaly, CNOP (Coordination Nationale des Organisations Paysannes) Judith Hitchman, URGENCI (International Network for Community Supported Agriculture) Lalji Desai, WAMIP (World Alliance of Mobile Indigenous Peoples) DON CoS oer ge Mea wa] Caribe) Nee a ae et aaa) Aksel Naerstad, More and Better Network Cercle well} rey ferNasyrN Friends of the Earth International cy fovea eC) Oued near IE) CoC ES Taos ee eg Habitat International Coalition ee USEC To Wn Mn UM eg oct oP m a) Tate ie eee ene La Via Campesina Teor resco o ke Ue Mee Wa Ker TIN GtCy eee) Ue PVT eae Raa os Maree Nee Saad Pee nme a era oles le M [ ea ee SCI eA 0 Ce eae ee =) GCG TETS CoN) ILEIA CENESTA Vee cca ei uae (elgaecne a eed q oe nur ear ou eS fal ae reeon ay Retin) AGEL cea USC-Canada ae aN Sut Cerca aaa Pretacio. Declaracdo de Nyéléni 2015. 1.Introdugao. 2. Métodos e processo: Construindo um Férum Internacional de Agroecologia. 3, Discurso de abertur jora de mobilizar-se e criar sinergias, 4, Bancadas do Férum, Mulheres, Juventude 5. Setores do Forum Pequenasios criadorasles e pastoras/es. Pescadorasies Camponesasies e pequenasies produtorasies Povos indigenas (ou Povos Originérrios). Tabalhadoresias. Sem terra Comunidades urbanas. Consumidorasies. 6.Temas. A Agroecologia cresce com nossas diversas experiéncias ¢ praticas Nosso conhecimento e a ameaga da cooptacdo. © agronegécio corporativo — um sistema que produ crises, A Agroecologia sustenta os meios de subsisténcia. A agroecologia cultiva a biodiversidade e estria 0 planeta A agroecologia respeita a Mae Terra: terrtérios, terras, solos, pastos ¢ aguas. A Agroecologia é economicamente vidvel 7. Estratégia: Construindo uma agenda politica comum para defender nosso modo de vida Organizacao, articulagao, compartihamento de conhecimentos e construgao de movimentos, Nosso compromisso comum: palavra final Prefacio Estamos felizes em apresentar o relatério do Férum internacional de Agroecologia realizado no Centro Nyéléni ‘em Sélingué, Mali, de 24 a 27 de fevereiro de 2015. Trata-se da primeira viséo conjunta da Agroecologia, a partir dos pontos de vista compartilhados de todos os tipos de povos produtoras/es de alimento em pequena escala, vista das perspectivas dos nossos movimentos socials. Esta é a primeira declaracdo comum, de grupos interessados, sobre os pilares e principios da Agroecologia. Tentamos interpretar, compreender e compartihar o ‘que significa a Agroecologia segundo as perspectivas diversas de camponesasies, pequenas/os produtorasies, sem-terra, trabalhadorasies rurais, povos indigenas, extrativistas, pescadoras/es artesanais, pastoras/es © povos némades, comunidades urbanas e consumidoras/es, entre outros. ‘Como povos que compartitham o sistema alimentar e a Mae Terra, e, frequentemente, os mesmos terrtérios, a Agroecologia 6 nossa. Ela 6 construida por movimentos e organizagoes com base no nosso conhecimento ancestral e da experiéncia pratica de décadas mais recentes. Esta visao da Agroecologia nao trata somente da agricultura, mas também leva em conta a diversidade completa da produgao alimentar, colheita e consumo dos rnossos povos. ‘Como em 2007, em Nyéléni, quando o conceito de Soberania Alimentar foi expandido, aprofundado e fortalecido pelo didlogo ¢ a construgao coletiva entre as comunidades dos povos, e como em Porto Alegre, em 2006, ‘quando aconteceu 0 mesmo com o conceito de Reforma Agraria, o ponto mais importante de Nyéléni 2015 é ‘que, pela primeira vez, a Agroecologia passou pelo mesmo processo: foi refinada através do didlogo entre os diversos conhecimentos dos nossos povos. Com este mesmo sentimento, oferecemos este relatério como ‘apenas a palavra inicial do que sera um didlogo evolutivo realizado pelos nossos movimentos. A Agroecologia é um proceso constante, ¢ nossas organizagdes estéo documentando, sistematizando, analisando ‘compartilhando nossas experiéncias ativamente para que nosso conhecimento acumulado continue a ‘aumentar. Finalmente, 6 de suma importancia mencionar que, atualmente, a Agroecologia esté sob ameaga da apropriagao € cooptagao por atores institucionais e do setor privado, com nomes como “agriculture climaticamiente inteligente; “intensificagdo sustentavel; “organica industrial etc, Estas sao Agroecologias falsas, ‘ends esperamos que este relatério seja um antidoto as mesmas, ¢ um ponto de convergéncia para nossa defesa coletiva contra a cooptacao da Agroecologia Solidariamente, Comité de Coordinagao Internacional do Férum Internacional de Agroecologia Nyéléni 2015, ‘Andrea Ferrante LVC (La Via Campesina) Dibo Bagna ROPPA (Réseau des Organisations Paysannes & des Producteurs de Afrique de Ouest) Elizabeth Mpofu LVC (La Via Campesina) Emily Mattheisen HIC (Habitats international Coalition) Ibrahima Coulibaly CNOP (Coordination Nationale des Organisations Paysannes) Judith Hitchman URGENCI (International Network for Community Supported Agriculture) LaljiDesai WAMIP (WorldAlliance of Mobile Indigenous Peoples) Maria Noel Salgado MAELA (Movimiento Agroecolégico de América Latina y el Caribe) Naseegh Jatter, WFFP (World Forum of Fisher Peoples) ‘Aksel Naerstad (More and Better Network) Organizagées de apoio Action Aid CENESTA Friends of the Earth International GRAIN Oxtam-Solidarité Declaragao de Nyéléni 2015 Dre eM a eee Cert] e) CUAL Pam eerily Bee eeu eee ue CeCe a eed eee een eset ee eae a une a ce Cece ee Cees Co ie ace eu ee cece ee Uncen een ee ee Oe ee Ne cen ee cu representam produzem 70% da comida consumida pela humanidade. Elas s40 0s investidores globais primérios ‘na produgao de alimentos, assim como as/os provedoras/es primérios de empregos e sustento no mundo. eC CU CUS Ree a ee ey uma compreensao comum sobre a Agroecologia como elemento-chave na construgao da Soberania Alimentar, ean oe Ce cue ee ee Cc ree eect Cee Ben eee ee eat te eee uc heer on CE eeu ae ecu eeu cea te od Cees eee eae eel ee eu nee le Ree eae en ee eee ee eee Ce Ce te tac que afeta tantos dos nossos paises. A Agroecologia significa que estamos juntos no citculo da vida, e isso quer Cre Cee et ene cea ae eno eee ole SU lek oe eRe UT CeO Reed te ee ue ec ear Ree ee eave oad Dee ear ac eke une eee eo eer cd See eeu aul ae eek ene cd ‘Agroecologia, Nossa Agroecologia inclu préticas e produgao bem-sucedidas, envolve processos territoriais e de Der ede eee eau OR ue en oe eee eo a eee eee Ae eo ee eS eR Oa ae ec ORS an) construgao coletiva entre nossos diversos grupos. De maneira parecida, nos reunimos aqui no Férum de Agroecologia 2015 para enriquecer a Agroecologia com didlogos entre varios povos produtoras/es de alimento, Soca econ ek Oe ee acs eg aoe ‘movimentos, organizados em nivel global e regional no Comité Internacional de Planejamento para a Soberania ‘Alimentar (CIP) deram um novo passe histérico. Dee Se ee Ck ee Oe es es ee Reed Re LEY ieee Re uu eC Rae Ce ets EO Re ae oC Cue ee eed ee ee Peco RU eed ‘A Agroecologia é a resposta para transformar e reparar nossa realidade material num sistema alimentar e num GRU eee ee Cet OCR dae oe Co Re uee Oa cet ae he ea er USeE cree enue ee cu eet ice ear antes da vida. © modelo corporativo produz abundantemente comida que nos envenena, desttdi a fertilidade do solo, é oh ao ein eee eon eeu da pesca. Os recursos naturais essenciais foram mercantilizados @ o aumento dos custos de producao est nos een ere eee eit eee eae Pe ee ee nee a a ete een ae) sistema alimentar industrial 6 0 propulsor-chave de varias crises climaticas, alimentares e de sauide publica, Ree ee Me Coae ees eo eee reece Ce ee et ee Cee te tere ae ar) do solo e dos alimentos etc. agravam ainda mais estas crises, Dentro do arcabougo da Soberania Alimentar, a eee eae ee uni eee Ue ae ects EV sa kere MULL a Crna sistema alimentar industrial esta comegando a exaurir seu potencial produtivo e lucrativo por causa de suas Cece eee eee OO Ono ee ee ee eee Peet Ce cee ng ee eee eae eee ee et aS Ce ee eee cect crea wicca em eee ee Tey este modelo como as doencas relacionadas a mé-alimentacao tais quais subnutrigdo, obesidade, alergias SC ic MeO ie a eR ne a Rice eT Ge ae eu cid ee Oe ec ee on ee eee eee Ree eR uke Cee oe Ce ce ee eee Cn eer ue Noa Noo uel ce ee ea ee Sea ce ete ue ee ace usa a sue eu ete ec eee eee ee Rees ok cs ew Cuca) Seems eR een rece eee Cue ee eeu en ee ee eee) “sustentével’ produgao industrial de monocultura “organica” etc. Para nés, isto ndo & Agroecologia. Rejeltamos Cen ieee Meee ou eee cc ee nce) Lee Cac ee ee ou ee uc od Dee Ee ec CU ee ec ee con alimentares locais e criar novas vinculos urbano-turais, baseadas na producéo alimentar verdadeiramente agtoecolégica por camponesas/es, pescadoras/es artesanais, pequenas/es criadoras/es, pastoras/es, povos Seta ane LO eC ee eee Cea Agroecologia soja mais uma ferramenta do modelo de produgdo alimentar industrial: nés a enxergamos como a alternativa essencial a este modelo ¢ o meio para transformar a maneira a qual produzimos e consumimos os Caen esr ied CCUM ae Cue eas NOSSOS PILARES COMUNS E OS PRINCiPIOS DA AGROECOLOGIA eee ne ee Ce cur nice ce cue eee eae Dene eeu ene cee eee oc ee CN ‘em principios que, apesar de parecidos nos nossos diversos territérios, podem ser e sao praticados de muitas SC en ea ie Oe ce i Ee CRCuC eRe ceca) Cee Dee ee ee Cece ee CeCe oe eT) SECS eC CR CONE Arce er eS ag Co en er ee ere nur modo, a construgao da vida no solo, a reciclagem de nutrientes, 0 manejo dinamico da biodiversidade e a CR eer Cu eC he ec ee eee cece! ete oe eee Re eae Cae ce oe icc rou nes Se eo ow ered MO Ree eo a toe We RC aoe) CMe ei oes eee a eC cee Me Ree cee Cac relagdo espiritual e material com suas terras. Tém ainda o direito de proteger, assegurar, desenvolver, controlar e Fae Sen Cee ees oe Ce eee Oe ey pesqueiras, tanto de forma politica como social. Isto significa o pleno reconhecimento de suas leis, tradi¢es, Cee nee gn eee ee eae eM eee cad cones Os direitos coletivos e acesso aos bens comuns so pilares fundamentais da Agroecologia. Compartihamos 0 pee out ae ue eee oe uae enue iced Fee eee ene cae eee cee eae ene ee CO ae OR Une eee ea ee er ee eee ed Ce eer en er eee ee ee eee ees Ee ee ne Rt one et ae eae ace SCS CeCe ae Coe oe Oe mecca favorecendo as trocas de conhecimentos entre jovens @ anciées. A Agroecologia é desenvolvida por meio da ieee ore tet Ce eas O cere das nossas cosmovisdes 6 0 equilibrio necessério entre a natureza, o cosmos @ os seres humanos. Reconhecemos que, enquanto seres humanos, somos uma mera parte da natureza e do cosmos. Temos uma conexao espiritual com nossas terras e coma tela da vida. Temos amor por nossas terras e nossos povose, sem isso, nao poderiamos defender a Agroecologia, lutar por nossos direitos ou alimentar o mundo. Rejeitamos eee eee ue TR Re Ue Ree | Tee er eee ee ue ey Ce eee ee iene ee Meera ener ee ecu eee ne ee eet ee Ue eae ne eu ec eee nee rice oe er eee cae Cee ne Ce ek oo cee ku et ON eee ee CR ee CR oe uo ee cay Ce ee Ret eae eee ee ee) distribuigéo curtos, diretos e justos. Ela significa uma relacdo transparente entre produtoras/es € Cee eRe ee Ur Sale uce nuns ee eestor aes DON ae Cae eo teu on (oS Coo ay Be Re eee eee Cee ne ee ie ee Cee ee Cee eon orice asain Snot oC rhc cae ROE enn eo ore Oe Cu ey DOR oc ue Ce ae ca eet Ce muito menos acesso aos recursos do que os homens. Com demasiada frequéncia, seu trabalho nao é nem reconhecido, nem valorizado. Para a Agroecologia realizar seu potencial completo, 0 poder, os deveres, a Re ee eu eee eeu eu ces CNN ue aoe ga oe as eee Ce oad ee ee eed eu ese) transformagao ecolégica social que jé esta acontecendo em muitos dos nossos paises. A juventude tern, Portanto, a responsabilidade de perpetuar 0 conhecimentos coletivo apreendido de seus paisimaes, Be U een eee eet eee yee eee enc ere eee eee ieee he ntact CE ut onc CNR Eee cue Sou ESTRATEGIAS Estamos construindo, defendendo e fortalecendo a Agroecologia junto com outros. Nossas Ree eee Pe ee eer ee a ee DSS CUCU Oe ee CCS cet eae Unto oe ok ae OCI POS TCg Dee Se CIE eens a eae en nce Puccio Ls Eee ecu eee ES ae verted alimentar, das politicas de contratagao publicas, da infraestrutura urbana e rural e do planejamento urbano. Pe eee ue ea Reece ce ey pr ered PUG LSA eRe Cece ne Beene eter aCe CRU OO CeCe eM nace our oy Recs 7, Assogurom 0 acesso e o controle das/os criadoras/es aos pastos, rotas migratérias e mananciais (fontes ROL eos Poni nec On Ce Oe ae Cu Tesco Prete eesti See N CN Ree ee Re ee el cue Un eee ee eee SR Cn nee econ ete ee MT Ue eee Cay Benet eC Cen ae ae ae Sc are ON URE UEC au UCSC ore gue Oe ea Pen eee ace ent hrc ici tC eee is enc cn) TO ce me oa eect Sao Ue ee oe ete eee eee naan Eo ea Ee tice oneal een ee a ee eee ela are See eu See ce eee Se oa eo etic ARRON onc Rei eC nee RCM ce das florestas do Comité sobre Seguranga Alimentar Mundial é as Diretrizes Voluntarias para garantir a pesca sustentavel em pequena escala da Organizacao das Nagoes Unidas para a Agricultura e Alimentagao (FAO). CORP UU enue eee ee UC UR Oe RU Pe cnt Ca RE Su UE Cai Oe eee ie Te eR een ted Desens Cuenta ecu Ue ee cen ae Oe ees ST Noten ec at albc nig Lac ora aN ce Cie Geers eS oo es Cg co Pee Meee ee eee y See ee Cn ae uct Teer eRe 4. Lutar por direitos iguals para a mulher em todas as esferas da Agroecologia, incluindo os direitos PS a CoC CS FY Pee UO eee ue Sue ae ce ny formulagao por meio do planejamento e da aplicagao, com papéis na tomada de decisces. Der a aE eed 41. Promover mercados locais para produtos locais. 2. Apoiar o desenvolvimento de infraestrutura financeira, instituigbes ¢ mecanismos alternatives para apoiar Pree ete eee Ue eto ac ULes BAe ne ae eee ecu ee Eon NNR eon he ee a eee ny Perel A ae eT Tt Ol Or eee Re ee eee Li oe et i eu ee CN ese 2. Promover os aspectos de satide alimentar e nutricional da Agroecologia. ER Cu Ree} Dee Cee CUE acu ee ee CUO ae Ou ua ed Preis 5, Promover a agroecologia como ferramenta-chave para reduziro desperdicio e a perda de alimentos em todo 0 BOC Tca Dre Ce Re eee ee ea eet en ea ca ae) para Soberania Alimentar (CPI) 2. Estender nossa alianca a outros movimentos sociais e organizacées e instituigdes de pesquisa publicas. Vil. Proteger a biodiversidade e os recursos genéticos eens ee cert ee es 2. Retomar o controle das sementes e do material reprodutivo, e implementar o direitos das/os CU eco OU eee C Soc i ac StS Se uu Ly Peruri Cee RE Seu Cee Oe nc ee on Re toe Ue uC eee eee ard SUL UR aa la aa eee cee meer eed Cee ere eet mn a aCe ete eet eee ere acy a solugo primordial para lidarmos e nos adaptarmos as mudangas climaticas. 2, Identiticar, documentar e compartilhar experiéncias positivas de iniciativas agroecolégicas locais que roe tear elie cc} aa ee eee eked ee ue eed 1. Combater as tentativas corporativas e insttucionais de se apropriar da Agroecologia para promover os Pee een cere tee eee eek cee ee ears Cee ee eee eee eee ee eC RG eo u oaeuoe "agriculture climaticamente inteligente’, “intensificacao sustentavel" e 0 “aperfeigoamento’ da aquicultura nar SR GeO C Me OCR We ane aco ee Neca ere eee ane See OR Cue ecco ad futuro. Os formuladores de politicas néo podem avancar na Agroecologia sem nés, Devem, sobretudo, respeitar e apoiar nossos processos ecolégicos ao invés de continuar a apoiar as forgas que nos destroem. Conclamamos nossos povos irmaos a se unirem & tarefa coletiva de construir a Agroecologia como parte de Peer cane a an eos ee ie) social, igualdade e equidade, solidariedade e harmonia com nossa Mae Terra. 1. Introdugao Nossas diversas formas de pequena produgao de alimentos baseadas na Agroscologia geram conhecimento local, promovem justiga social, cutivam a identidade e a cultura e fortalecem a viabilidade social e econémica das areas rurais. Como camponesasies, pequenasios agricultoras/es e produtoras/es, defendemos nossa dignidade quando optamos por produzir de maneira agroecolégica. E por isso que a Agroecologia 6, na nossa agenda um elemento-chave na construgao da Soberania Alimentar. Para avancar esta agenda, de 24 a 27 de fevereiro de 2015, o Férum Internacional de Agroecologia, realizado no Centro Nyéléni em Sélingué, Mali, Africa Ocidental, juntou varios setores do mundo para compartilhar experiéncias, conhecimentos ¢ estratégias para 0 movimento agroecolégico global. Durante quatro dias de trabalho intenso, agricultoras/es camponesas/es, pescadoras/es, pequenasios produtoras/es criadorasies, povos indigenas, ancides, comunidades urbanas e periurbanas, consumidoras/es conscientes e representantes da sociedade civil chegaram a um entendimento comum da Agroecologia. Concordamos sobre o fato de que a Agroecologia é um modo de vida, baseado em principios que podem ser e que sao praticados de diferentes maneiras, a0 mesmo tempo em que nunca deixam de respeitar a Mae Terra © nossos valores comuns ‘compartithados. Golocamos a produgao agroecolégica de alimentos no contexto da mudanga climatica continua, isto é: a privatizagao dos Bens Comuns pelo capital transnacional, a mudanga climatica gerada, em grande parte, pelo modelo do agronegécio global ¢ o cresconte reconhecimento da contribuigao dos atores dos movimentos sociais aos debates que definem caminhos melhores parao desenvolvimento sociale econémico. Entendemos a Agroecologia como uma forma de resisténcia a um sistema econémico que coloca o lucro acima da vida. Cada dia que passa, o agronegdcio corporativo se mostra um fracasso cada vez mais dbvio. Apesar de interminaveis cessoes de subsidios publicos e privados e de um gasto energético colossal, o sistema alimentar baseado no lucro foi incapaz de tornar o alimento acessivela centenas de milhdes de pessoas, muitas das quais vivern em areas rurais.A concentragao da terra, a agricultura de exportagao, amonocultura, os confinamentos de animais gigantescos, as frotas pesqueiras corporativas, os insumos agroquimicos © a privatizacao das sementes sao todos parte do mesmo modelo que tem devastado o solo, a égua doce, o mar @ os recursos florestais, marginalizando pequenas/os produtoras/es de alimentos. Do outro lado, estao grande parte da populagdo mundial onde as/os e consumidoras/es esléo sendo forcadas/os a se alimentarem de comida industrializadas e ultraprocessadas. O atual desastre climatico em nivels globais urge por mudangas nos sistemas alimentares da humanidade, que hoje sao dominados pelas grandes corporagées. As praticas agroecolégicas produzem de forma abundante alimentos variados, diversificados e nutritivos. Rostauram os ecossistemas ¢ economias locals, promovem a autonomia ¢ a resiliéncia das/os pequenasios agricultores/as, preservam a cultura ¢ os conhecimentos tradicionais ¢ rurais, fazem um contraponto aos efeitos das mudangas climaticas e da perda da biodiversidade e podem transformar as relagdes socials no sentido mais amplo. Estes atributos levaram & Agroecologia a obter um reconhecimento crescente por parte de instituicdes e, em parte, das/os respeitaveis formuladoras/es de politicas. Muitos paises ja comegaram a incorporar uma perspectiva agroecolégica em suas politicas nacionais e a Organizagao das Nagdes Unidas para a Agricultura e Alimentagéo (FAO) tem mostrado um interesse crescente no arcabougo agroecolégico. Até instituigdes intimamente ligadas aos interesses do agronegécio transnacional tém reagido, geralmente endossando falsas 'solugées” potencialmente lucrativas como a "agricultura climaticamente’ inteligente", a ‘intensificagao sustentavel", entre outras, que s4o apresentadas como triplamente vantajosas como: 1) pela seguranca alimentar, 2) pela adaptacao 4 mudanca climatica e a 3) sua mitigagao. Na realidade, estas sao falsas solugdes que buscam incorporar certas praticas agroecolégicas ao modelo dominante do agronegécio, ao mesmo tempo em que mantém as dependéncias estruturais que levaram as crises globais atuais. (© Forum internacional de Agroscologia 2015 em Nyéiéni consegulu fazer uma extraordindria sintese das idelas © estratégias trazidas pelasios participantes que representaram as/os produtoras/es mundiais de alimentos. AS delogadas © os delegados rejeitaram e rejeitam com firmeza as tentativas de cooptar a Agroscologia em qualquer marco politico compativel com o atual contexto de dominagao imposto aos sistemas alimentares pelas grandes corporagées transnacionais. Ao invés disso, as discussdes sobre o contexto, as priticas e as estratégias do movimento agroecolégico produziram principios claros, que alinham a Agroecologia com a Soberania Alimentar, com as transformacées estruturais da sociedade, os processos de descolonizagao, coma conservagao dos diversos conhecimentos, culturas e praticas tradicionals, com a emancipacao das mulheres @ aigualdade de género, coma construgao das economias solidarias ¢justas e a restaura¢ao dos lagos espirituals materiais profundos entre a sociedade e a natureza viva. A conexao entre a Agroecologia @ 0 objetivo de se criarum mundo melhor esteve muito clara durante todo 0 Férum ‘Ao mesmo tempo, muitas das questdes préticas relacionadas a como avangar com a Agroecologia foram debatidas durante o Forum, As transigdes dos agrossistemas, 0 acesso aos mefcados e a viabilidade econémica, as redes de produtoras/es, as relagoes mais estreitas entre produtoras/es e consumidorasies de alimento, a protegao e a manutengao das sementes ¢ da agrobiodiversidade foram todos temas discutidos durante as sess6es dos grupos de trabalho. Tomou-se um cuidado especial para criar uma metodologia para o Férum que tefletisse a amplitude das perspectivas agroecolégicas. Discussées em mesas redondas, grupos de trabalho e sessdes menores criaram situagdes propicias para as/os participantes compartiharem suas diversas cexperiéncias. O proceso de enquadrar as questées, os pequenos grupos de discussao e a sintese participativa foram continuamente repetidos. Durante 0 Férum os diversos temas foram tratados em varias e diferentes linguas, gragas ao trabalho incansavel de uma equipe extraordindria de intérpretes voluntarias/os. Este esforgo para definir a sintese © as conclusdes levou a criagdo deste relatério, na esperanga de extrair as ligoes @ os aprendizados das experiéncias locais para a construgdo da Agroecologia no mundo todo. Nossos objetivos: - Compartithar nosso conhecimento, praticas e experiéncias para a produgao de alimentos agroecolégicos. Coletivamente aprofundar nossos conhecimentos sobre a Agroecologia, seus pilares e contexto. Construir estratégias politicas, organizacionais e econémicas para ampliar o alcance da Agroecologia. - Fortalecer e consolidar nossa capacidade de trabalhar juntas/os entre setores, continentes, geracdes e géneros. 2. Métodos e processo: Criagao de um Forum Internacional de Agroecologia O primeiro dia do Férum deixou muito clara a imensa diversidade das/os delegadas/os. Chegaram delegadas/os de todos os cantos do planeta. Foi um momento de autoidentificagao para o Férum. Durante o mesmo, asios delegadas/os desfrutaram as comidas ¢ as preparagdes procedentes e produzidas em sua totalidade por produtoras/es locais, usando muitos ingredientes locais ¢ tradicionais. Intérpretes em cabines de madeira no fundo do salao fizeram a tradugao simultanea para o francés, bambara, inglés ¢ espanhol. © movimento anfitriéo do Férum, a Coordenagdo Nacional de Organizagées Camponesas (CNOP-Mali), mostrou sua grande forga quando dezenas de homens @ mulheres malienses previamente preparados por formadores de Agroecologia no Centro Nyéléni, ou em outros locais, espalhados pelo pals. 0 Férum foi planejado para que cada grupo de interesse e setor tivesse a oportunidade de expressare organizar suas ideias e preocupagdes por meio do planejamento de acdes estratégicas, assim como em sessdes para o compartilhamento das informagées, © Férum foi organizado com um orgamento limitado. A maneira responsdvel com as quais os fundos foram getidos e gastos, combinada com as consideréveis contribuigdes das/os voluntarias/os, fez com que o orgamento nao fosse extrapolado, " Grupos de trabalho tematicos A agenda do Férum incluiu diversas sessdes de grupos de trabalhos que foram divididos em nove eixos tematicos estratégicos e centrais todos relacionados & Agroecologia. TEMAS + Aagroecologia se nutre e cresce com nossas diversas experiéncias e praticas + Nosso conhecimento e a ameaca da cooptacao Politicas internacionais e as falsas solugoes ‘A Agroecologia sustenta os meios de subsisténcia, A Agroecologia cultiva a biodiversidade e estria 0 planeta ‘A Agroecologia respeita a Mae Terra: territérios, terras, solos, pastos e Aguas ‘A Agroecologia é economicamente vidvel Organizacao, articulagao, troca de saberes ¢ construgao de movimentos Criagao de uma agenda politica comum para defender nosso modo de vida BANCADAS Mulheres Jovens SETORES Camponesas/es e pequenas/os agricultorasies Pescadorasies Pequenas/os criadoras/es ¢ pastoras/es Povos indigenas (ou Povos originarios?) Comunidades urbanas Consumidoras/es conscientes FORMULADORES DE POLITICAS PUBLICAS. ‘A Organizacao das Nagdes Unidas para Agricultura e Alimentagao (FAO) e o Ministério da Agricultura Maliense participaram do Férum e fizeram declaragoes na ceriménia de abertura. O representante da FAO expressou sua ‘renga de que a Agroecologia e a Soberania Alimentar estao estreitamente conectadas, assim como o interesse emeolaborar com atores ndo-Estatais. De acordo com o Ministério de Agricultura maliense, a degradagao do solo é uma ameaca grave. As produgdes dos recursos florestais, lavouras e pecuatia, assim como a renda de milhdes de familias, dependem da protecao eda reconstituigao dos solos. 3. Discurso de abertura: E hora de se mobilizar, de criar sinergias Garos amigos, vocés que vieram da Asia, da América Central, da América do Norte e do Sul, da Europa, de toda a Ktrica e do Mali. Em nome da Coordenagao Nacional de Organizagoes Camponesas do Mali, e em nome de todos os movimentos que apolam a Agroecologia neste Férum, em nome do Comité de Coordinagao deste Forum, tenho o privilégio de dar-Ihes todos e todas as boas-vindas ao Mali E uma honra para mim abrir 0 Forum Internacional de Agroecologia em Mali, Este é um momento altamente importante para nés. Neste momento, o mundo inteiro esta falando sobre a meta de uma agricultura melhor, uma agricultura virtuosa e estas palavras estao presentes em todos os discursos politicos. Mas a realidade nao 6 coerente com estas palavras. ‘Quando falamos de Agroecologia, do que estamos realmente falando? De quem estamos falando? De pequenos produtores, pescadores artesanais, pastores némades, povos indigenas, e representantes de movimentos socials e da Sociedade civil, culo objetivo é, acima de tudo, produzir para seu préprio consumo e depois fornecer para os mercados locais. Entao, devemos agradecé-los por fornecer comida para todos nés. ‘Todas estas categorias de pequenos produtores estdo representadas neste Férum, para que elas possam falar mais alto e ser ouvidas juntas, Hoje em dia, corporagoes gigantes se apossaram daideia e estao falando sobre a Agroecologia. Mas, elas nao sao atores legitimos e tom deturpado nossos conceitos os reduzindo a ferramentas técnicas. Por qué? Todos estao se perguntando o que o futuro reserva para nés, ¢ o que sera deixado paranés na Terra.A humanidade foitonge demais ao colocar a economia de mercado acima de tudo e de todos. A espécie humana se tornou uma espécie em perigo de extincao. Por isso, temos que softer os efeitos,desastrosos das mudangas climaticas. Assistimos, impotentes, todos os dias, a secas, furacdes, tornados... E por isso que todos estéo preocupados e pensando em como devemos responder a esse desafio global Nés, enquanto movimentos sociais, temos que nos mobilizar e construi sinergias juntos. Nao permitiremos que niinguém devaste mais nosso planeta. A unica maneira de salvar a Mae Terra ¢ avangar na direcao de um modelo de produgao que genuinamente respeite o meio ambiente. Nés nos recusamos anos submeter as politicas do Banco Mundial e do Fundo Monetario Internacional (FM), & Organizagao Mundial do Comércio (OMC), & agricultura climaticamente inteligente ¢ ao comércio de carbono, Na Asia, na Attica e nas Américas, 08 povos rurais estao lutando para sobreviver a cada dia. Com a ajuda dos consumidores uroanos, podemos criar um movimento global para protegere preservar o planeta e o futuro das ‘goragoes ainda por Vir Produtores preservam © desenvolvem uma maravilhosa diversidade de plantas © animais desde, tempos imemoriais, quando 0s seres humanos comegaram a cultivar a terra. Este patriménio nao tem prego, enés temos que protegé-lo daqueles que querem destrutlo. Os produtores nao estao criando este problema. © problema & que 0s governos dao ouvidos apenas as corporagées transnacionais e ao interesse dos investidores de capital que financiam partidos politicos. Contudo, nés representamos a maioria, o maior setor da populagao, entao podemos nos mobilzar¢ lutar por justica epoliticas mais justas, que fornecerdo as bases paraas solugoes. Obrigada por terem vindo! Deus abengoe a todos vocés! Ibrahima Coulibaly, Presidente, Coordenagao Nacional de Organizacoes Camponesas (CNOP), Mal 3. Bancadas no Forum As Mulheres no Forum ‘As mulheres sao as primeiras produtoras de alimentos e tém um papel tnico e vitala desempenhar no reparo do nosso sistema alimentar arruinado! A presenga de diversas mulheres de todas as idades e culturas aportou um sentido de urgéncia e sabedoria ao Forum Internacional. Junto com suas irmas malienses da CNOP, as delegadas internacionais trouxeram elementos importantes ao debate no Férum. No primeiro dia, as delegadas realizaram uma reuniao da bancada para esclarecer ideias e criar um conjunto comum de principios para o Férum. Parte deste esforco incluiu uma perspectiva critica sobre a maneira com a qual a igualdade de género tem sido utilizada dentro de programas de desenvolvimento convencionais. O acesso das mulheres aos Bens Comuns esteve a frente dos debates em Nyéléni. As politicas que normalizam as relagées da propriedade privada individual nao sao as tinicas maneiras, nem mesmo as melhores maneiras, de transformar as relagdes de género ou melhoraro acesso das mulheres aos recursos. As mulheres expressaram anecessidade de o Estado apoiar iniciativas agroecolégicas coletivas, principalmente aquelas que sao frutos de organizagées de base e de movimentos sociais. S40 urgentemente necessarias politicas que apoiem a guarda das sementes pelas mulheres, que estimulem a participagao das mulheres nas gestées comunitarias, nos manejos das florestas e da pesca, a cessao de créditos para criagao de rede de mulheres destinadas produgao, comercializagao e consumo de alimentos a formacao das mulheres na Agroecologia. Necessidades identificadas pela assembléia das mulheres * Assegurar mais formagao para as mulheres camponesas em materia de praticas _ agroecologicas, inciuindo a preparacao de Produtos locals como a compostagem e pesticidas haturais. + Facilitar 0 acesso aos mercados dos alimentos lou preparagoes produzidos agroécologicamente. + Mobilizar recursos financeiros ¢ maior acesso ao crédito para produtoras agroecolégicas. * Criar mais espagos para que as agricultoras possam trocar experiéncias e opinioes, + Promover 0 conhecimento e as variedades locais @ aumentar a conscientizagao do valor da Agroecologia. + Acabar com as atitudes discriminatérias ditigidas aparticipagao das mulheres sobre sua capacidadé de lideranca A assembléia das mulheres concluiy que a declaracao do Forum deve refletir a responsabliidade conjunta com as deracoes futuras aAgroecologia como alternativa vidvel ao sistema dominante. Ajuventude no Forum Talvez a juventude seja a chave fundamental do movimento agroecolégico. Antes de novas idelas conseguirem ‘mudaro mundo, é geralmente necessario que as jovens mentes levern-nas adiante com éxito. Se a atual geragao jovem for capaz de criar uma dindmica de mudanga geracional com rela¢do a Agroecologia, a producao agroecolégica podera se intensificar¢ frear ou acabar com o aquecimento global. Infelizmente, nossa juventude éconstantemente bombardeada com elementos da cultura capitalsta, que causam uma erosdo da autoestima e fazem com que valores capitalisias como a ganancia, a superficalidade e o desejo pela recompensa imediata 'sejam introjetados. Os desafios da autodeterminagao, identidade e luta cultural foram discutidos pelas/os jovens ‘numa reunido da baneada no primeiro dia do Férum. Um grande problema é a migragao da juventude do campo para as cidades em busca de emprego, O modelo da Revolugao Verde busca usar a mecanizagao e os produtos quimicos para reduzir a um nivel minimo a mao-de~ obra humana relacionada com a produgao de alimentos. Ao mesmo tempo em que a agricultura e a pesca industriais destroem as economias rurais, atraem a juventude com falsas promessas de aumento de produtividade e um consequente acumulo de riquezas. Desse modo, a agricultura camponesa ¢ trequentemente Vista pelos jovens como um trabalho drduo e menos interessante que o trabalho nas cidades. Ha uma crenga difundida de que a produgao de alimentos 6 um trabalho para os nao-instrudos. A Agroecologia pode mudar esta percepcao, porque o didlogo que ela cria entre diferentes ideias e maneiras de trabalhar pode devolvé-la a dignidade e o reconhecimento pelo conhecimento ancestral. Ela também pode fornecer trabalhos interessantes, bem remunerados e saudaveis que permitem que os jovens continuem a aprender por meio de seutrabalho, E importante criar espacos para que a juventude possa decidir o seu futuro e refletir sobre o que ela quer na vida. Ha também uma falta de confianga na contribuicao potencial das/os jovens por parte dos governos e, consequentemente, uma mobilizagao limitada de fundos e outros recursos para lidar com as necessidades da juventude. Em alguns paises, a cultura machista impede mulheres jovens de assumir posigées de lideranga na ‘Agroecologia. Alm disso, em alguns sistemas, a terra pertence ao cla (ou a extensa familia) e os anciées sa0 0s que estao no controle. Isto deixa uma parcela muito pequena do controle da terra para as/os jovens. Programas de formagao, politicas governamentais titeis 6 a necessidade de resgatar 0 orgulho pela producao de alimentos como carreira, foram trés ideias geradas pela bancada da juventude. O contato e as parcerias entre agricultoras/es jovens e mais velhas/os podem ajudar a fornecer acesso A terra as/aos jovens (que tém energia de sobra, mas frequentemente nao tem terra, enquanto 0 oposto tende a se aplicar as/os agricultoras/es mais, velhas/os) ¢ ajudarna troca de saberes e experiéncias e/ouna construgao de novos conhecimentos. A assembléla dos/as jovens conclamou ao Férum de Agroecologia a identificar manelras de aumentar a participacdo ativa da juventude na tomada de decisdes e a criar uma acep¢ao e definigao claras da Agroecologia ‘em oposigao ao sistema dominante. A bancada também apontou a oportunidade perdida no programa de se fazer troca e venda de produtos camponeses. 5. Setores no Forum O Comité de Coordinagao do Férum Precisamos reposicionar a comida e colocé-la no centro da sociedade. A Agroecologia nao é apenas uma alternativa — € nosso modo de vida. Nés a construimos ao longo de milhares de anos de aprendizagem, tentativas, oriagdo e plantagao. Agora temos a resposta de como alimentar o mundo, defendendo a biodiversidade, controlando as sementes e zelando por nossas/os netas/os. Mas, se pudermos nos unir em nossa grande diversidade, poderemos solucionar a crise do planeta. Porém, precisamos de politicas melhores. Nossos conhecimentos esto no centro da Agroecologia, Nossas diversas experiéncias, em varios setores ¢ em todo o planeta, fazem de nés — 08 povos do mundo — atores legitimos para oriar estratégias agroecolégicas. Temos que defender nosso diteito de produzir, de gerir os Bens Comuns, de conservar as sementes ¢ a biodiversidade e compartilhar os conhecimentos. Nao deixaremos que a Agroecologia nos sejaroubada “Ha sete anos nos reunimos em torno da Soberania Alimentar, que esta vinculada a autonomia dos nossos povos. Agora, voltamos a nos reunir em torno da Agroecologia, um caminho que vimos construindo com muitas organizag6es de baixo para cima. A agroecologia é 0 processo usado para produzir alimentos a partir da terra e da Agua; 6 o modo de vida que escolhemos.” - Maria Noel Salgado Spinatelli (MAELA, Uruguai) “«Somos as respostas! Queremos que o mundo reconhe¢a que somos as/os primeiras/os pesquisadoras/es, produtoras/es e criadorasies. Nos nossos territorios estamos construindo nosso futuro, estamos construindo um modelo que possa durar, que nao é baseado no petrdleo, e sim no nosso conhecimento e respeito pela natureza, em nossas organiza¢ées, e na maneira como vivemos. Temos as respostas e queremos que esta seja a resposta para o mundo. Nao ha como separar a Agroecologia da Soberania Alimentar, do contrario ambas perdem seu significado.” Andrea Ferrante (La Via Campesina, Italia) 16 «Se vocé acredita na Agroecologia, precisa praticd-la." Nelson Mudzingwa (La Via Campesina, Zimbabue) "Quando nés, os povos indigenas, falamos da Agroecologia, estamos, na realidade, falando das/os nossas/os antepassadas/os. Para nés, a Agroecologia acontece quando aplicamos nosso conhecimento tradicional, celebramos nossas ceriménias @ respeitamos nossas tradi¢des. Nem todos os povos indigenas sao camponesas/es, alguns podem ser cacadoras/es, coletoras/es ou pescadoras/es, mas todos praticamos a Agroecologia de uma forma holistica. Para nés é um circulo, para o qual precisamos de nossas sementes nativas, nossas musicas, nossas aguas e nossas terras.” Nicole Maria Yanes (Conselho Internacional de Tratados Indigenas, México) “Jovens e mulheres sao o fundamento da Agroecologia enquanto forma radical de construir uma nova sociedade e um novo sistema produtivo, Blain Snipstal (Bancada da juventude da Via Campesina, EUA) Pequenas/os criadoras/es de animaise pastoralistas ‘A mobilidade molda todos os aspectos das vidas das/os criadoras/es e pastores: sua cultura, seu sistema de produgdo e suas necessidades, As/os pequenas/es criadores/as e as/os pastores devem ter controle e acesso os pastos, rotas migratérias e mananciais (fontes de gua) que se estendom pelos seus terrtérios ¢ isto requer mobilidade. Pequenasios criadoras/es e pastoras/es necessitam de servicos como sade, educagdo e assiténcia veterindrias que sejam méveis ¢ compativeis com suas culturas. As/os Pequenasios criadoras/es e pastoras/es esto perdendo seus recursos comuns essenciais, como os pastos. Isto Ihes esta sendo tirado por causa de vatias formas de apropriagao da terra. No mundo todo, 0 alvo mals fcil de apropriagao das terras 880 0s recursos comuns. As chamadas Revolugdes Verde e Branca destrufram seu sistema de produgao, Os mercados agora sao baseados om desejos infnitos, ao invés de necessidades limitadas. Situados majoritariamente nas zonas mais 4ridas do mundo, as/os pequenasios criadorasies e pastoras/es so aslos primeiras/os a softer os impactos das mudangas climaticas. Assim, 0 acesso a forragem é a agua é frequentemente muito urgente. Sem uma harmonia com a natureza, esta pratica de pequena criagao nao é possivel. O conhecimento das/os pequenas/os criadoras/es © pastoras/es © sua contribuigéo a0 equilibrio ecolégico sao ignorados ou negados pelos tomadores de decisées. Tis praticas sempre foram baseadas na integracao de diferentes modos de vida, Por exemplo, haa integragao com a agricultura na forma de pastagem de campos de lavoura em troca de esterco para assegurar a fertiidade dos campos das/os agricultoras/es. Criadoras/es e pastoras/es e agricultoras/es tém milhares de anos de coexisténcia e interdependéncia, incluindo sistemas de resolugao de confit, todos os quaiis tm sido corrofdos ‘nos titimos 50 anos. Juntas/os, podemos trabalhar para trazer de volta esta integragao. Pescadorasies Leis nacionais e marcos regulatérios nao protegem as/os pescadoras/es e as comunidades pesqueiras. Estas leis sao projetadas para comercializar e privatizar os recursos dos nossos mares e nossos rios e lagos que detém as aguas puras o doces, deixando-os fora do aleance das/os pescadoras/es. Além disso, a mineragao da costa ¢ do leito marinho destréi o habitat natural dos peixes e outros recursos marinhos. E o eeito disto que leva ‘uma redugao das populagoes de peixes e, portanto, a perda dos meios de sustento das comunidades. Esta apropriagao dos mares e da costa - das suas terras adjacentes - resulta na perda do sentido de comunidade para as/os pescadorasies e da conexao que estas pessoas possuem com os mares @ as aguas doces. Adotar uma abordagem agroecoligica da pesca significa se importar com a existéncia e a disponibilidade de peixes para as ‘geragoes futuras, respeitando os ritmos de regeneragao dos recursos marinhos. Significa renda, alimento e vida para as/os pescadoras/es e para as comunidades como um todo. Assim como a terra é nossa mae, o mar também exerce saimportancia, Unidas/os, podemos defendé-las. “A CNOP plantou uma drvore, porém a drvore precisa de agua para cresce - Camponeses do Mali, sobre como o CNOP apoiou o aprendizado de camponés para camponés e a necessidade de continuagao. Adotar uma abordagem agroecolégica na pesca é se importar com a existéncia e disponibilidade de peixes para as geracées futuras, respeitando os ritmos de regeneracao dos recursos marinhos. Defendamos a Mae Terra! Defendamos a Mae Agua!” Magline Peter | (Férum Mundial de Povos Pescadores, india) ‘Camponesas/es e pequenas/os produtoras/es A agricultura convencional esta sendo promovida, mas precisamos continuar colocando 0 conhecimento agroecolégico em pratica: nés nao o inventamos, o herdamos de nossos pais ¢ maes, assim como das/os nossas/os ancestrais. As/os camponesas/es querem praticar a Agroecologia para melhorar a produgao, apoiar ‘as economias locais, fornecer alimentos nutritvos © accessivel financeiramente. Precisamos de efeitos tangiveis na vida real para convencer o mundo de que a Agroecologia funciona, Por exemplo, os pequenos graos de miho que produzimos séo muito mais nutritivos do que aqueles com graos maiores, promovidos pela Revolugao Verde, E importante que continuemos a praticar, a experimentar e recolher mais exemplos. € dificil lutar contra um gigante. Porém, estamos fazendo isso_a partir do simples ato de conservar as variedades de sementes que herdamos de nossos pais e maes. E responsabilidade do solo alimentar a lavoura, mas responsabilidade do agricultor e da agricultora a alimentar enutriro solo. Dessa maneira, os solos alimentaraoa nés todasios, Povos indigenas Para 0s povos indigenas (ou povos originérios), a Agroecologia acontece quando aplicamos nossos ‘conhecimentos tradicionais, celebramos nossas ceriménias, respeitamos nossas tradigdes @ falamos de nossas/os ancestrals. sto nao pode ser separado: trata-se de um que foram um conjunto. Nem todos os povos indigenas (ou povos originarios) s40 camponesasies. Alguns sdo cagadores-coletores, por exemplo, mas ‘quando falamos de Agroecologia, isto significa que abordamos tudo de maneira holistica. A Agroecologia esta ‘no meio da circulo, tudo esta interligado. Estamos entrentado problemas parecidos com os de outros setores. Por exemplo, nossas/os jovens estao todas/os partindo para as cidades. ‘Como povos indigenas, focamos fortemente na nossa soberania, na nossa capacidade de fazermos nossas préprias escolhas, Devemos nos assegurar de que todas as politicas relacionadas aos alimentos e os programas que incidem sobre os povos indigenas incluam a protegdo de sementes indigenas © que as praticas tradicionais, sejam realizadas de acordo com a Declaragao dos Direitos dos Povos Indigenas das Nagdes Unidas (ONU), com a participagao plena e efetiva e 0 Consentimento Livre, Prévio ¢ Informado dos povos indigenas. Acreditamos que o artigo 31 da Declaragéo das Nagées Unidas sobre os Direitos dos Povos Indigenas (UNDRIP) é particularmente importante: o direito dos povos indigenas de desenvoleer, controlar e conservar seu patriménio cultural, suas tradigGes, as tecnologias e os conhecimentos, incluindo os recursos genéticos. Nosso dever é implementar isto em todos os niveis diariamente. Como sugeriu a juventude, sugerimos que ‘espagos como o Férum sojam utlizados no futuro para trocar conhecimentos, produtos e sementes. (3) Trabalhadorasies Aslos trabalhadoras/es sao as vitimas mais diretas do modelo alimentar quimico, Durante décadas, as/os trabalhadoras/es tem carregado o fardo da dependéncia agroquimica e adoecido de varios tipos de céncer, esteriidade, abortos espontaneos, danos ao sistema nervoso e outros problemas graves de sade. E seus/suas filhos/as tém sofrido defeitos congénitos. Agora esta finalmente demonstrado, sem a menor sombra de divida, que 0 gifosfato causa cancer — mas quantasios trabalhadoras/es morreram para que isso se tornasse conhecimento piiblico? Na América Central, dezenas de milhares de trabalhadoras/es da cana de aciicar morreram do mesmo tipo de insuficiéncia renal causada por agrotéxicos. Quando se fard justica para as familias dessas pessoas’ O valor da vida das/os trabalhadoras/es das/os sem-erraépratcamente no no modelo do agronegécio, A satide humana esta vinculada ao modelo agricola dominante, Por isso a Agroecologia nao é uma novidade para nés, considerando-se que € o modo de produgao que sempre praticamos em pequenos lotes onde cultivamos nosso préprioalimanto, As/os Sem-terra As/os sem-terta so os produtorasies que foram desalojados pelo capitalismo. Os desafios s4o ainda mais dificeis para as mulheres sem-terra, que s4o muitas vezes oxcluidas dos trabalhos agricolas por conta dos preconceitos machistas presente na agricultura convencional. Produzir alimentos saudaveis usando a ‘Agroecologia 6 um direito nosso. O acesso a terra é parte fundamental da luta pela Agroecologia. Lutamos pelo acesso a terra, pela Agroecologia e pela dignidade humana em prol da satide de todas/os as/os trabalhadoras/es sem-terra Organizagées urbanas A agriculture urbana representa uma poderosa opgao para a Agroscologa, nd $6 om termos de produgao de alimentos, mas também como uma ferramenta ediicatwva. Geralmente, ha também uma melhor compreensao das relacées entre as reas rurais ¢ urbanas e de como o sistema alimentar deve ser tratado no marco da governanga “urbana. As autoridades locais @ os formuladores de politicas para as cidades e regiSes desempenham um papel fundamental no apoio ao desenvolvimento de sistemas alimentares locals e agroecolégicos que possam ser refletidos emleis e politicas que promovam a tomada de decisées participativa, desde a produgao ao consumo. ‘As novas constituigSes de muitos paises preveom que os direitos humanos devem nortear a agao publica, o que & muito relevante para o Direito Humano a Alimentacao Adequada (DHAA), pois se um governo deixa de salvaguardar o acesso & alimentagao, isso passa a ser uma violacao da constituigao. Isto também pode ser utiizado para exercer pressao para obter acesso a terra. Em paises como o Quénia, também esta sendo elaborada uma nova politica urbana que trata das questoes da alimentagao, nutrigao inclusao social. Uma nova pratica interessante é a dos pastores que trazem seus animais para as cidades, fornecendo esterco como adubo organico. “No Quénia, a nova Constituigao nos permite defender o direito a terra como um direito humano." Kurla Gathuru (Coalizao Internacional do Habitat, Quénia) Consumidorasies A construgao de sistemas alimentares alternativos, principalmente de distribuigao direta e relagdes solidérias, onde os riscos e beneficios da produgdo sao compartihados, é uma prioridade na abordagem agroecolégica Isso incluia necessidade de se tocar em Conselhos de Polticas Alimentares que retinam todos os atores nonivel territorial. As economias solidérias e justas, em suas varias formas, fornecom a chave para apoiar a mudanga econdmica agroecolégica A Agricultura Apoiada pela Comunidade (AAC) & um modelo de solidariedade entre produtoras/es © consumidoras/es, estreitando suas rolagdes, que também 6 capaz de redistribuir a riqueza, que nao & responsabilidade somente dos governos, pois as familias © as comunidades também podem iniciar sous proprios processos. Ha cerca de 1-1,5 milhdes de consumidoras/es em todo o mundo parlicipando da AAC, @ em alguns casos, junto com as/os agricultoras/es trabalham um orgamento coletivo, para acomodar tanto as suas necessidades como as das/os produtoras/es. As palavras-chave na Agricultura Apoiada pela Comunidade sao solidariedade, eno sentido de riscos ¢ beneficios, estes sao compartihados. Seu TOR eared ecu PTA Mie Celle eo Ml aT eC Esc} (FAO) 21 6. Temas A Agroecologia se desenvolve a partir das nossas diversas experiéncias e praticas Nosso conhecimento e a ameaga da coopta¢ao Herdamos nosso conhecimento agroecolégico dos nossos antepassados. Estes conhecimentos permitem que camponesasies e agricultoras/es produzam alimentos saudaveis em harmonia com a natureza. Porém, estes conhecimentos também estao disponiveis para pequenas/os criadoras/es e pastoras/es e pescadoras/es. Da mesma forma que as/os camponesasies criam maneiras de viver com a Mae Terr, a pesca tradicional é uma maneira de viver com a Mae Agua. Vimos também como as tradigdes de pastoreio e pastagem podem funcionar por milhares de anos em harmonia com os ciclos da natureza. ‘Camponesas/es ensinam a camponesasies, pescadoras/es ensinam pescadoras/es Acreditamos que esse conhecimento é a base do que chamamos atuaimente de ‘Agroecologia’, Devernos ‘manter 0s didlogos entre nés como setores de base, porém, também devemos compartihar os conhecimentos dos nossos povos e alguns elementos da ciéncia ocidental. Temos nossas praticas para pescar, plantar, colher e comer. Sendo assim, é importante que relembremos ativamente nosso conhecimento, além de documenté-lo, intercambié-lo, compartilha-lo e ensiné-lo aos demais, ¢ utlizé-to nas nossas atividades cotidianas. Hé muitos processos de troca e casos de aprendizado horizontal entre camponesa/és e camponesalés. Muitas/os pessoas do nosso movimento possuem acesso as escolas de formacao onde camponesas/es ensinam camponesasies, pescadoras/es ensinam pescadoras/es e pastoras/es ensinam pastoras/es. Isto é crucial. Precisamos vincular estes processes ¢ torné-los visiveis Quando criamos processos de didlogo, muitas vezes nos surgem novas ideias, como a Soberania Alimentar, entretanto, é importante lembrar que estas ideias sao fruto do nosso conhecimento, da nossa experiéncia ¢ da nossa heranga. A Soberania Alimentar é um poderoso instrumento politico. A partir de nossas terras, nossos ‘mares, nossas pastagens, a Soberania Alimentarnos permitiu avangar juntos em diregao a objetivos comuns. Conformar ou transformar? No entanto, estamos diante da ameaca da cooptagao do nosso conhecimento @ da Agroecologia. Muitas instituig6es estao adotando o conceito de Agroecologia, mas algumas o utilizam como ferramenta para legitimar, sustentar e replicar o modelo dominante. A FAO realizou um forum de Agroecologia em 2014, durante 0 qual percebemos que a Agroecologia se encontra numa encruzilhada, pois foi "descoberta’ pelas instituigdes, que tém uma ideia muito diferente do que ¢ a Agroecologia. Elas percebem que o sistema alimentar industrial enfrenta desafios que podem comprometer a rentabllidade dessas corporagdes no futuro. Ndo haveré peixe Suficiente, os solos vao se esgotar. Sua viso da Agroecologia ¢ um conjunto de técnicas de produgao que pode estar em conformidade com 0 modelo agricola industrial sem questionar 0 modelo em si. Assim como a “agricultura climaticamente inteligente’ (CSA), a Agroecologia seria outro conceito agradavel aos ouvidos, porém em iltima andlise, se constitui em ser mais do mesmo. Porém, para nés, a Agroecologia jamais ser uma fetramenta para perpetuar o modelo dominante. Para nés, a Agroecologia nao é uma ferramenta para tornar 0 sistema alimentar industrial mais sustentavel. E, sim, uma alternativa radical a esse modelo. Enxergamos a Agroecologia como uma ferramenta de transformacao ‘mudanga radical. Propomos uma Agroecologia popular para um poder popular. Quando vocé tem uma nova ideia, primeiro vooé é ignorado, depois debocham de vocé, depois tentam tirar de vooé que vocé esta promovendo, de modo que no final vocé ¢ retirado da estéria e termina desapropriado.Até a Monsanto esté usando a Agroecologia para dar um “tom ecoldgico” na sua imagem. As/os camponesasies sabem como manter 0 solo produtivo e agora este conhecimento corte o risco de ser cooptado. Jé perdemos o desenvolvimento sustentavel; vamos tentar no perder a Agroecologia, Estamos determinadas/os a evitar que isto acontega. E hora de defender a Agroecologia contra a cooptagso. Para fazermos isso, 6 crucial chegarmos a uma vis&o ‘comum, acordada ¢ inequivoca do que é a Agroecologia, assim como termos um plano estratégico e claro para defendé-la. Precisamos enumerar os pilares @ principios da nossa visao compartihada da Agroecologia popular, que nao é uma versao industrial ou académica da Agroecologia, ou a Agroecologia da Monsanto nem ‘mesmo da FAO, mas sim, a Agroecologia popular baseada no nosso conhecimento. 22) Um sistema que produz crises Estamos passando por uma época de crises econémicas continuas, apesar do que parece sugerir a midia corporativa. A titima grande crise foi em 2007-2008, quando os pregos dos graos (cereais) foram as alturas. Como parte do mesmo processo, também testemunhamos a apropriagdo das terras. A crise nao acabou. A maioria dos meios de comunicagao dizem que estamos de volta no caminho certo, mas sabemos que nao 6 verdade, O problema é inerente ao sistema econémico capitalista. Quanto mais a populacdo mundial aumenta, mais ‘surgem disputas por recursos naturais. Esta situagao esta ficando cada vez mais extrema e se manifesta na apropriagao da terra, da agua e das sementes. As empresas estdo tentando fazer com que asios agricultorasies dependam da compra de sementes. Outra questao ¢ a especulagao financeira, uma espécie de jogatina para ganhar dinheiro com dinheiro, sem realmente produzir nada. Nem todo mundo esta empobrecendo, alguns oucos estdo enriquecendo, ao passo que muitos esto ficando mais pobres do que antes. Investirno desastre Essa situagdo s6 possivel por causa das patcerias entre investimentos internacionais e elites locais. Pediram para acreditarmos que 0 "mercado" resolveria todos os nossos problemas. Contudo, vimos, principalmente com as tiltimas crises econémicas, que o formato neoliberal dos mercados nao funciona — eles nao s6 nao ‘conseguem reduzira fome, como conseguem aumenté-la.A situagao esta se tornando cada vez mais complexa: hoje, nem todos os grandes investidores sAo do Cone Norte, alguns também sao do Cone Sul. Além disso, esto investindo tanto no Norte quanto no Sul, de modo que o poder passou a ser compartilhado em muitas partes diferentes do mundo, Esses investidores também estao se apossando de toda a cadeia de valor — processamento, comercializagéo, de todo o sistema de produgdo e consumo ¢ controlado pelas mesmas pessoas (2/ou coorporagoes). «Em Mo¢ambique temos boa terra e bom solo, mas o problema é que hd um constante conflito em torno destas terras, encabecado por corporagées que estao tentando tomar posse dela. Os megaprojetos governamentais com interesses estrangeiros e as monoculturas estao em conflito direto com o acesso dos camponeses a terra. A Agroecologia é uma ameaga para essas empresas, porque para praticar a Agroecologia voeé precisa de terra." Munenganu José Basquete (La Via Campesina, Mocambique) 23, Apropriagao de recursos ‘As empresas locais néo podem competir com corporagées multinacionais. Sempre que as empresas nacionais a0 bem-sucedidas, acabam sendo compradas por corporagées internacionais. Estas mesmas corporagdes esldo interessadas nos paises do Sul por representarem mercados emergentes atraentes. Os mercados do Norte estéo saturados; & impossivel que as pessoas consumam mais do que consomem atualmente. Conquistar os mercados africanos para seus produtos é um dos objetivos. As organizages multilaterals ea Agroecologia ‘AFAO reconheceu o principio da autonomia e auto-organizacao da sociedade civil. Estamos, assim, numa boa posigao de negociagao.A FAO organizou um simpésio sobre Agroecologia ano passado, e nés participamos do mesmo. Foi enfatizada uma abordagem cientifica. Falou-se sobre os problemas ecolégicos da agricultura industrial, mas nao sobre os problemas sociais. A visdo era de que a Agroecologia tem que ser cientifica, direcionada por académicos e pesquisadores, o que nos passa uma mensagem ambigua. No entanto, existem diferentes oportunidades com a FAO. A FAO afirmou que quer continuar com os didlogos no nivel regional. Isto é positivo, mas queremos negociar para formar patcerias no campo que acontegam diretamente nos campos das/os agricultorasies, © Fundo Internacional de Desenvolvimento Agricola (FIDA) funciona como um banco ¢ financia projetos agricolas. Nao tem interesse em questionar o modelo dominante, é business as usual, ¢ ha pouco espago para negociagao politica. O Programa Ambiental da ONU esta se aproximando do setor privado. Nao é muito interessante como parceiro. O Comité de Seguranga Alimentar Mundial (CFS) da Organizagao das ages Unidas existe no ambito da FAO, porém nao é a propria FAO. Funciona com forte participagao da sociedade civil dos movimentos sociais, que tém igualdade de opiniao e financiamento disponivel para trabalhar em politicas, através do Mecanismo da Sociedade Civil. Até pouco tempo, tinhamos uma grande dificuldade nessas negociagdes, porque os governos nacionais tinham medo de que a Agroecologia fosse um conceito politico demais e preferiam falar de agricultura sustentavel. Além disso, as organizagées da sociedade civil nao estéo unidas; € preciso haver um alinhamento mais forte entre elas, visto que, para algumas organizagses, a Agroecologia nao é uma prioridade. Aumento da repressao Actise econémica também leva a muitas formas de repressao — a repressdo ativa. Por um lado, verios violéncia inclusive no norte do Mali. Ha muitos contiitos armados, muitas vezes iniciados intencionalmente e sem meios para terminé-los. A questo 6, nessas condigdes, que espago sobra para a Agroecologia? Outra forma de repressao é a cooptagao. Isto quer dizer que as pessoas que estao lutando para transformar o sistema so convidadas a negociar, dialogar, buscar uma parceria, ser agradaveis, cooperar e reduzir algumas das exigéncias. Estas sao algumas das caracteristicas proeminentes do nosso sistema atual. “No Mali, 85% da populagao trabalha a terra. As/os camponesasies e pequenas/os produtoras/es tém direitos coletivos, propriedade comum da terra através do reconhecimento do direito costumeiro. As pessoas podem ir e trabalhar nos campos. ‘As mulheres podem colher frutas e castanhas. No entanto, os programas do Banco Mundial de titulacao da terra vém levando a uma aquisi¢ao de terras nunca antes vista. O problema é que as multinacionais queriam trabalhar em terra que estava sendo cultivada e mandar os camponeses para outros lugares. E mais barato para essas empresas trabalhar em terras que jé estao sendo cultivadas. Esse simples fato levou a muita repressao, violéncia e mortes. As multinacionais s6 fazem negécios. Defender a Agroecologia significa defender a terra." - Representante da Convergéncia Maliense contra a Apropriacdo da Terra (24) A Agroecologia sustenta a subsisténcia Alguns pilares da Agroecologia que sustentam a subsisténcia Conhecimento e aprendizado em conjunto para a transforma¢ao ‘+ Trocas horizontals (camponesa/és-camponesa/és, pescador/a-pescador/a, consumidor/a-consumidor/a e produtor/a-consumidor/a) para desencadear processos e mobilizaces mals amplos ¢ a construgao do ‘conhecimento + Troca vertical entre geragées, tradigées e inovagées + Controle social sobre os programas ¢ a politicas @ ainda sobre as pautas de pesquisa, sous objetivos suas metodologia + Pesquisa orientada a ago participativa e transformadora + Cada pessoa ensina a outra + Priorizar jovens e mulheres nos programas de educagao politica e técnica + Educacao baseada na experiéncia comunitaria e nos ensinamentos dos nossos ancestrais + Construir teoria com base naquilo que funciona em pequena escala +O conhecimento que nés construimos juntas/os é para a luta dos nossos povos e nao esta a venda! Autonomia + ..do modelo dominante de desenvolvimento, que leva a volatilidade de pregos e a um modelo baseado em exportagdes +... da dependéncia om insumos agricolas externos, incluindo sementes, produtos quimicos agricolas @ até mesmo a substituigao de insumos organicos +E dlitelto inalienavel das comunidades e dos povos controlar, acessar e gerir os bens comuns +E a sustentabilidade do sistema de produgao a conservagao comunitaria das sementes + a abordagem de agrossistemas (diversificagao de lavouras, sementes, animais e culturas) e a utilizagéo de técnicas e tecnologias que respeitam 0 meio ambiente e minimizam os riscos cdo coletiva, auto-organizagao e solidariedade + Movimentos e organizagées populares que exercem pressao sobre os tomadores de decisdo + Orgulho e identidade como produtoras/es e consumidoras/es + Cuidar das comunidades, dos jovens e dos idosos + Sem interesse em copiar estilos de vida ocidentais + Sem interesse em ser consumista + Trabalhar enquanto identidade coletiva + Confiar em nés mesmos, uns/mas nas/os outras/os, trabalhando em conjunto. «emos que mostrar que a Agroecologia nao é a agricultura dos pobres e que ela pode permitir que as pessoas vivam com dignidade. Nao queremos apenas ficar focando em indicadores econémicos convencionais. Queremos viver bem." Maria Noel Salgado Spinatelli (MAELA, Uruguai) “As/os agricultoras/es eram reconhecidas/os pela sociedade como provedoras/es de alimentos, mas apés a privatizagao, a agricultura virou um negécio, Ao mesmo tempo, as/os agricultoras/es perderam seu status social. Os jovens agricultores tém dificuldade de encontrar uma esposa, porque poucas mulheres querem se casar com um agricultor. O endividamento virou um grande problema, que tem levado muitos agricultores a cometer suicidio. Desde 2006, temos feito uso da Agroecologia de baixo insumo. Agora, jé nao dependemos mais de sementes e fertilizantes comprados.” ingarigowda (La Via Campesina, India) ‘Mudanga da relagao urbano-rural + Estreitar 0 contato entre produtoras/es © consumidoras/es + Proteger 0 direito que as pessoas e as comunidades tém de viver de forma agroecolégica, + Garantir melhores meios de comercializagao para eliminar intermediarios * Criar sistemas de certificagdo e garantia locais para alimentos agroecolégicos * Promover economia solidatia, mercados de agricultoreas/s, Agricultura Apoiada pela Comunidade (CSA) ‘+ Fortalecer um modelo de produgao que seja capaz de absorver a mo de obra disponivel localmente ¢ dar as/aos trabalhadoras/es (tanto assalariadas/os quanto auténomasios) uma qualidade de vida que nao seja baseada em sua renda monetaria * Produzzr insumos (como fertlizantes orgénicos) e vender produtos processadas para agregar valor + Construir fundos de terras comunitarias + Estabelecer cooperativas de propriedade das/os trabalhadoras/es em muitos pontos ao longo da cadeia de valor * Usar a linguagem dos direitos humanos para construir sistemas alimentares locais sustentaveis Desmercantilizar a sociedade + Terra, agua, florestas © sementes pertencem a Humanidade + Produtoras/es sustentaveis séo guardias/6es, +0 acesso aos recursos pode ser mais importante do que a propriedade formal +0 trabalho pode ser satisfatério para além do seu valor monetario quando confiamos em esforgos coletivos + Inovar para diminuir custos e aumentar a riqueza ecolégica, e no apenas ganhar dinheiro * Focar no nosso modelo: viver bem (buen vivir) "Na Africa do Sul, a pesca nao era s6 0 ato de ir ao mar; era também alimento para nossas familias, para nossos vizinhos, para 0 uso diario, além de eventos culturais; tinha também um valor espiritual vinculado a ceriménias e ocasiées sociais, que eram parte da nossa vida social e cultural e davam identidade a nossa comunidade, Quando nos negaram o direito a pesca, nos extirparam o direito a nossa cultura, a nossa conexao espiritual com os bens comuns do mar. Mas mantivemos a determinagao para dizer que somos pescadores. Esta no nosso sangue." Naseegh Jaffer (Forum Mundial de Povos Pescadores, Africa do Sul) (2s) A agroecologia cultiva a biodiversidade e esfria o planeta ‘A Agroecologia regenera e depende da biodiversidade que nos alimenta. Os sistemas de pequena criagdo de animais @ de pastoreio © pesca tradicionais preservam uma grande diversidade de animais e plantas. As/os camponesas/es e outros pequenas/os produtoras/es desenvolvem uma vasta gama de biodiversidade por meio de seu conhecimento coletivo ao longo dos anos. Para continuar a preservar essa biodiversidade, camponesas/es, pequenas/os criadoras/es e pastoras/es, pescadoras/es © povos indigenas precisam reassumir o controle da biodiversidade e do conhecimento que sustenta, Isto significa usar marcos juridicos, regulamentos e politicas de apoio, Mas, muitas vezes, as politicas publicas nacionais criminalizam os produtores tradicionais. Ha varias leis em nossos paises que proibem a posse coletiva da terra, o intercémbio de sementes, a gestao tradicional dos recursos comuns e outras ferramentas necessarias para aAgroecologia. A biodiversidade agricola tem sido drasticamente reduzida pelo agronegécio. As sementes estéo sendo Privatizadas pelas "Leis da Monsanto" em diversos paises. Sao restrigdes legais que podem assumir varias formas: patentes, protegao as variedades de plantas (PVP), direitos dos obtentores vegetais (DOV) e outros diteltos de propriedade intelectual (DPI). No Brasil, h4 um esforgo para aprovar uma Lei Monsanto para privatizar sementes —nos moldes das que foram aprovadas em muitos paises latino-americanos.O movimento camponés esta tentando impedir que isso aconteca. A tecnologia exterminadora est sujeita a uma moratéria no momento. No entanto, alguns Estados-Membros da UPOV podem nao respeitar esta moratéria, que pode nao funcionar. Aslos pequenas/os produtoras/es estao resistindo ao ataque por parte da producao industrial de commodities, abatedouros e pesca comercial de grande escala que destroem a biodiversidade. As/os produtorasies camponesas/es estao regenerando ambientes produtivos, como, por exemplo, a gestéo comunitéria dos manguezais, sistemas agrotlorestais ¢ de pastoreio mével. Estao desenvolvendo inovagoes locais ¢ novas ‘ferramentas’ para a gestao da biodiversidade para a alimentagao e a agricultura, tais como a criagao evolutiva e participativa de plantas, escolas agricolas, diversificagao de gado em pequena escala local e equipamentos de pesca sustentavel em pequena escala. E irrefutavel o fato de que a Agroecologia ¢ parte fundamental de qualquer solugao para a mudanga climética, como ja aparece em varios relatérios publicados pelas Nagdes Unidas e organizagées independentes, como a Grain e a Oxtam.A diversidade biolégica da produgao de alimentos agroecolégicos é extremamente importante, ja que a Terra vem sofrendo uma perda avassaladora da biodiversidade neste século, Os diversos usos das Arvores na Agroecologia, a reciclagem de nutrientes e elevada eficiéncia energética dos agroecossistemas geridos de forma sustentavel, bem como os sistemas alimentares locais criados em toro da produgo agroecolégica, todos contribuem para a redugao do aquecimento global. As/os produtoras/es de alimentos agroecolégicos estao estriando o planeta, mas precisam de politicas de apoio. 27, A produgao de alimentos agroecolégicos nao depende de combustiveis fésseis. Por isso, ela é 0 caminho para alimentar 0 planeta e reduzir drasticamente as emiss6es de gases de efeito estufa. Mas, temos que saber ‘exatamente quem pode fornecer solugdes agroecolégicas. Somente a agricultura camponesa, a pesca tradicional, o uso coletivo da terra @ a Soberania Alimentar podem quebrar a l6gica que criou a crise climatica. A industria apresenta falsas solugdes, como quando as multinacionais propdem novas tecnologias para continuar obter lucros enquanto destroem o planeta. O problema é precisamente a ldgica do capital: 0s pequenos produtores podem alimentaro mundo e podemos ajudara reverter a mudanga climatica, Quetemos que as/os produtoras/es locais de alimentos estejam no centro do processo de tomada de deciséo inclusiva e participativa. Temos de defender os direitos coletivos, mudar as leis ¢ politicas discriminatérias & desenvolver novos marcos juridicos que respeitem e protejam o direito das/os agricultoras/es de usar, quardar, trocar e vender sementes e ragas de animais, devolvendo as/aos camponesas/es o controle da biodiversidade © dos conhecimentos. As politicas precisam valorizar 0 conhecimento local e dar-nos a oportunidade de compartilhar nosso conhecimento. Precisamos ser capazes de monitorar ¢ documentar as experiéncias agroecolégicas em todo o mundo, a fim de mostrar de forma conclusiva que nos preocupamos com a biodiversidade © com o estriamento do planeta. Precisamos ir além dos rétulos caros @ corporativos dos produtos orgénicos ou do comércio justo e criar nossos préprios sistemas de garantia participativa e certificagao local. Vamos aumentar nossos esforgos para oferecer formacao € conscientizagao as/aos produtoras/es consumidoras/es. Precisamos fortalecer as abordagens coletivas para preservar abiodiversidade dentro e entre. 98 setores, aprendendo uns/umas com as/os outras/os, Vamos formar aliangas entre produtoras/es, consumidoras/es © outros atores politicos. Vamos elaborar uma carta comum de valores para ajudar a esclarecer os nossos princ{pios. Varios continuar a transformara sociedade com a Agroecologia! “As sementes sao a nossa vida e sustento - 0 patrimG6nio das/os camponesas/es a servi¢o da Humanidade. As/os camponesas/es tém o dever de preservar as sementes em varias esferas: individual e familiar, comunitaria e territorial." Gilberto Alfonso Schneider (La Via Campesina, Brasil) A Agroecologia respeita a Mae Terra: territorios, terras, Solos, pastagens e agua IAs aguas, a terra e 0 territério nao séo commodities! A nossa ligagao com a Mae Terra vai muito além do entendimento da perspectiva capitalista. Lutaremos contra a apropriagao da terra e da agua por parte do capital privado e de governos corruptos. O territério nao é s6 a terra, mas também a profunda ligagao cultural e espiritual entre um povo e um lugar. nosso conhecimento e a nossa Agroecologia sao possiveis apenas quando tivermos acesso a nossos territérios. Defender a agua 6 urgente, considerando-se que os aquiferos estao mais ameagados do que nunca. As secas provocaram, 0 aumento dos confltos pollticos relacionados aos recursos hidricos ¢ acelerou a privatizagao da agua. E hora de se repensar a questéo dos bens comuns e a responsabilidade coletiva. Precisamos de uma abordagem territorial integrada que abranja a terra, a agua e outros recursos como um todo. A Agroecologia significa pensar no longo prazo, olhando da mesma forma para o passado e para o futuro. As/os produtoras/es agroecolégicas/os sao as/os guardias/6es da terra e da agua; nossos métodos de producao conservam e melhoram 0 solo, constroem pastagens e florestas, e mantém nosso vinculo entre povos enatureza viva, «0 governo da Tailandia outorga concessées a indtistria para construir e tirar as pessoas de suas terras. O elo entre as comunidades florestais e a ecologia local esta sendo quebrado a medida que 0 governo militar concentra 0 acesso a terra. Em resposta, hd esforcos por parte dos agricultores de integracao de praticas agroecolégicas em sua producao, a fim de produzir alimentos suficientes em pequenas lotes de terra e usar a agua de forma eficiente." Arat Sangubon (La Via Campesina, Tailandia) (28) A Agroecologia é economicamente viavel Apesar dos milhares de exemplos em contrério, ainda existe a crenga de que apenas a agricultura industrial 6 economicamente vidvel. Isso néo advém de nenhum beneficio econémico real da agricultura da Revolugao Verde, mas sim do consenso politico, cientifico e de propaganda construido em torno da agricultura industrial Para neutralizar a monocultura dominante, primeiro tamos que mudar nossa maneira de pensar, Esta mudanga de paradigmana mentalidade das pessoas é um dos passos mais importantes para amudanga da sociedade. ‘A Agroecologia é uma opgao de vida que atende as necessidades das comunidades produtoras e fornece alimentos para a sociedade. A Agroecologia pode alimentar o mundo — na verdade, sempre alimentou, Na maioria dos paises, a maior parte dos alimentos consumidos ¢ produzida internamente por camponeses de pequena escala com acesso a apenas uma pequena parte das terras agricolas. Apesar das vantagens indiscutiveis do agronegécio industrial —tais como seu acesso ao capital, campos agricolas de alta qualidade e ‘subsidios piblicos — 0 modelo corporativo nao alimenta as pessoas de maneira tao eficiente e boa como 0 ‘modelo agroecolégico. Muitos dos problemas econémicos que as/os produtorasies de alimentos enfrentam séo causados pela falta de conextes diretas com as/os consumidoras/es. Os intermediarios baixam os pregos para as/os agricuttoras/es & aumentam os pregos pata os consumidoras/es, Ao eliminar os intermedidrios, as/os produtoras/es agroecolégicas/os podem receber uma parcela maior do prego que as/os consumidorasies pagam pelos alimentos, alids, as/os produtoras/es podem cobrar menos e chegar ao grande setor da populagao que nao pode pagar por uma alimentagao cara ¢ alternativa. As associacdes e cooperativas de produtoras/es podem. ajudar a coletar, distribuir e comercializar alimentos sem perder todo o seu valor com intermediatios, AS ‘cooperativas ajudam os produtores a ter acesso a infraestrutura necesséria, a novos mercados ¢ a meios de ganhar autonomia e autossuficiéncia. Agregar valor ao produto final (como os processamentos e beneficiamentos) ¢ uma maneira de melhorar o prego total de um produto e permite a melhoria permanente do Uso das terras, dapastagem, florestas, mares, lagos erios, ‘As aliangas com consumidoras/es por meio de mercados de agricultorasies, felras locals e préticas de Agricultura Apoiada pela Comunidade (CSA) também reforgam a viabilidade econdmica da Agroecologia Quando as/os produtoras/es e consumidoras/es sao capazes de tomar decisées em conjunto, aumenta a Soberania Alimentar @ as comunidades se tornam mais saudéveis. Alimentos frescos, produzidos ou colhidos locaimente em agroecossistemas sustentaveis, se tornam oalicerce de melhores relagdes sociais. Outros problemas enfrentados pelas/os produtoras/es incluem os altos custos dos insumos e equipamentos, tais como barcos, equipamentos e infraestrutura pata pescadorasies, e sementes para agricultoras/es. A Agroecologia reduz esses custos guardando sementes, valorizando as tecnologias artesanais, inovando em. tecnologias socials, criando autonomia e compartilhando métodos de baixo custo. A guarda comunitéria de sementes é um instrumento fundamental para a diversificagao das economias rurais locais e o prolongamento do periodo de cuttiv com variedades locais. 0 Estado tem um papel importante para viabilizar a Agrocologia. Ao fornecer alimentos frescos e locais para escolas, hospitais e outros espagos, o Estado consegue garantir o acesso aos mercados asiaos pequenas/os produtoras/es e alimentos nutritivos para a populagao. O Estado deve certificar-se de que o alimento agroecolégico é acessivel; nao queremos que a Agroecologia caia na armadilha de se tornar um nicho de mercado", como 0s orgdnicos, que em paises capitalistas sao consumidos pelos ricos e estao fora do alcance darmaioria da populacao. Finalmente, a criagdo de uma agenda comum de pesquisa e formagéo pode garantir a viabilidade da Agroecologia. O modelo extensivo dominante ¢ vertical ¢ de mao tinica jA que consiste em que pesquisadorasies dao conselhos as/aos produtoras/es. Precisamos fomentar um modelo que nao sé seja de ‘mao dupla (em que as/os produtorasies possam orientar pesquisadoras/es), mas também horizontal - com as/os produtoras/es compartihando seus conhecimentos com outros produtoras/es e pesquisadoras/es com ‘outros pesquisadoras/es. Ao mudar nossa forma de criar e compartilhar conhecimento, podemos continuar a construir a viabilidade econémica da Agroecologia. Precisamos cultivar 0 que comemos e comer 0 que cultivamos! (29) 7. Estratégias A construgao de uma agenda politica comum para defender nosso modo de vida AAs politicas piiblicas tem uma natureza dupla: é tanto uma ameaga quanto uma oportunidade. E verdade que a grande maioria da politica nacional e internacional serve para sustentar 0 modelo dominante do agronegécio, isso inclui os programas de titulagao de terras pregados pelo Banco Mundial, que destroem as instituigdes de terras coletivas, a regulamentagao da pesca que favorece os grandes empresarios e monopdlios, a legislagao sanitaria que orienta apenas a perspectiva do alimento seguro e prejudica pequenas/os e médios produtoras/es, leis de satide e meio ambiente que socializam os custos da poluicéo agricola industrial, e outros exemplos. Embora esse tipo de politica destrua os sistemas alimentares e dificulte muito mais a Agroecologia, ha outro papel do Estado que vale a pena considerar. Que tipo de politica publica poderia defender o direito das pessoas alimentacao, restaurar os Bens Comuns ¢ promover a Agroecologia? Precisamos defender o acesso das/os produtoras/es a terra, & Agua, aos oceanos, rios @ lagos e as florestas. 0 zoneamento 6 uma politica-chave local para facilitar a Agroecologia, eo mesmo vale para a pesquisa participativa. No que diz respeito aos mercados locais, precisa existir a definicao de regras de higiene distintas ara 0 agronegécio e para a produgao artesanal, Isso poderia favorecer os processos de beneficiamentos de produtos para os mercados locais. Outros tipos de politica que poderiam promover sistemas alimentares locais incluem politicas de gestao de residuos, criagao de mercados de agricultoras/es e feiras de artesanato, fundos locais de terras, feiras de sementes e financiamento para capacitar as autoridades locais sobre a Agroecologia. Quando se cria uma boa politica nacional, muitas vezes ela néo é implementada. No caso da politica internacional, uma importante drea de trabalho esta nas Diretrizes Voluntarias para a Governanga de Terra, Agua, ¢ Florestas. E preciso usar estas diretrizes para exigir uma politica nacional melhor. € preciso legalizar € promover o intercambio de sementes entre camponesasies, principalmente em paises onde isto se tornou ilegal. A politica para promover a pesquisa de sementes nativas @ espécies de peixes 6 de vital importancia, assim ‘como 0 é a politica para resgatar e restaurar nas populagées o cultivo e o uso de plantas medicinais, As falsas solugdes para a mudanca climética, como a “agricultura climaticamente inteligente” ¢ a “intensificagao sustentéver, precisam ser denunciadas por meio de publicagdes e muttimidia acessiveis, Expor e condenar os transgénicos e seus efeitos devastadores sobre as comunidades rurais 6 um potencial ponto de unidade. As pollticas que conectam o sistema alimentar & satide piiblica ¢ extremamente importante. Proteger as/os trabalhadoras/es agricolas dos agrotéxicos é parte da mesma luta para fazer da Agroecologia uma alternativa vidvel, Ao enxergar a luta da Agroecologia como a luta das/os trabalhadoras/es agricolas, fica claro que a agricultura convencional sé 6 rentavel quando a vida das/os trabalhadoras/es agricolas esta subvalorizada. A ‘educagao sobre a alimentagao © nutricéo saudaveis também pode aumentar a demanda por alimentos agroecolégicos. A integragao da agricultura com a politica sanitéria é altamente benéfica para o movimento da ‘Agroecologia e amplia a visao de satide publica para incluir os ecossistemas. Pressionaremos por politicas que fortalegam especificamente os jovens @ as mulheres nos sistemas alimentares. Do desenvolvimento cooperative A criagao de empregos, formagao ¢ acesso aos mercados, estes setores da sociedade precisam ser ouvidos & ‘empoderados. “Com o modelo CSA, muitos produtos que antes nao poderiam ser vendidos ja estao sendo vendidos." Anoumou Komi Todzr0 (agricultor CSA da rede Urgenci, Togo) “Nao conseguiremos fazer da Agroecologia a solugao global que ela tem o potencial de ser se nao abandonarmos o pensamento colonizado e comegarmos a criar solugées fora da estrutura do capitalismo." Saloua Kennou ep Sebei (Marcha Mundial das Mulheres, Tunisia) (30) Organizagao, articulagao, troca de saberes e construcao de conhecimentos e de movimentos E chegada a hora da Agroscologia. Porém, sabemos que as instituigées convencionais, os interesses do agronegécio, a monocultura dominante todos tentardo negar, destruir ou distorcer a solugao agroecolégica. Para pressionar pela Agroecologia, temos de fortalecer os movimentos agroecolégicos em todo o mundo. Uma das estratégias para a construgao de movimentos agroecolégicos 6 a utilizagao das redes existentes para promover a Agroecologia. Jé existem muitas redes de cientistas, consumidoras/es, produtoras/es, organizagoes € movimentos; podemos aproveitar estas redes para divulgar nossa mensagem sobre a Agroecologia. Assim, incluiremos novos grupos e atores - tais como sindicatos e grupos da sociedade civil— que podem nos ajudar a refinar a visdo da Agroecologia e construir um movimento macigo e global para criar sistemas alimentares melhores. Temos que nos assegurar de que a nossa definigao © os nossos processos sejam inclusivos. Todo mundo temo direito de construir a Agroecologia, nao apenas na pratica, mas também como uma étima idela que pode sermethorada ainda mais. Precisamos cultivar na vida real, as trocas entre pessoas como base para a Agroecologia. Todas as estratégias devem comegar com 0 que funciona localmente — em familias, comunidades e organizacées. Dezenas de escolas de Agroecologia estéo sendo construidas em todo o mundo por organizagoes da Via Campesina, entre outras. Algumas destas escolas sao de ambito local, outras sao nacionais e outras internacionais. Elas utiizam a metodologia de camponesa/és a camponesa/és para realizar uma troca horizontal de par a pare um aprendizado social. A formagao agroecolégica nao ¢ apenas técnica, mas também deve envolver todas as questées pollticas relativas aos alimentos, movimentos sociais e & Mae Terra. Estes programas de formagoes ‘840 fundamentais para intensificar e ampliar os proceso agroecolégicos. Temos de criar mais escolas agroecolégicas © processos territoriais de aprendizado, ¢ esses esforgos de formagao devem ser melhor coordenados em redes. E preciso construir aliangas priorizando as relagdes com organizacées de mulheres ¢ esforgos para construira Soberania Alimentar e as economias solidarias. “Sabemos que la sociedad (no solo la poblacién campesina) participa. Bajo la bandera de la Soberania Alimentaria unimos a todo tipo de grupos. Podemos encontrar Ia fuerza para transformar la sociedad en los movimientos locales” Sonia Ingunza (LaVia Campesina, del Pals Vasco) “Nao temos que reinventar a roda toda vez que nos reunimos. Se eu Ihe der uma semente e vocé planta-la em seu pais, ja estamos construindo um movimento global." Nicole Mat (Consetho Internacional de: Yanes dos Indigenas, México) “Hoy en dia, la poblacién de Guatemala se ve amenazada por las compafifas mineras extranjeras y los cultivos modificados genéticamente introducidos a la fuerza por los agronegocios, en un contexto de saqueo y expolio moderno. Nuestra respuesta ha sido crear esta gran plataforma que es el movimiento agroecolégicoen América Latina y que se basa en nuestra propia identidad cultural que tiene sus raices en nuestra cultura agraria” Antonio Gonzalez (MAELA, Guatemala) G1) Nosso compromisso comum: a palavra final “Senhoras e senhores, chegamos ao final dos nossos trabalhos. Falamos sobre nossas terras, nossas sementes e nossos direitos coletivos. Queremos uma economia local que dé oportunidade a todos e todas. Queremos viver em um mundo livre, com ar limpo e comida saudével. Agora nés, todasios juntaslos, temos que nos mobilizar em um sé movimento para entrentar 0 capital. Nossos setores representam pelo menos 60% da populagéo mundial. Unidos, venceremos. Nosso objetivo deve ser 0 estabelecimento de uma verdadeira democracia, que requer direitos de acesso para todos os setores da populagao. Isso nos faz atores politicos. Estamos ainda muito longe desta meta, mas chegaremos 14. A nossa mensagem é de paz, a nossa mensagem é de amor. Hé lugar para todos no mundo.” -lbrahima Coulibaly (La Via Campesina e organizacao anfitria CNOP-Mali) O Forum foi realizado com o apoio de: FAO Government of France PCa Smale og Os CeCe ice) Fondation de France forse) boys FT ReL TN 11.11.11 (Centre National de Coopération au Développment) STokSI TT) SCTE s SAHEL ECO UE Rca Coli s La Via Campesina Peer Re nt Ud C.S. Fund

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