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SR SSR SO eto ee ines wii et, age ti en re Roe Bs = ease CRB O FOLCLORE NO BRASIL’ [A situagdo dos estudos do Folclore no Brasil ainda nio 6 boa. Em- bora jé aparecam, em certos centros culturais do pais, vendéncias idealistas que Se propdem a encarar o folclore respeitosamente como ciéncia, elas esbarram diante de dificuldades que, se no conseguem prejudicar de todo essas tendéncias, Ihes diminuem enormemente a eficacia, Do lado das forgas oficiais, a indiferenga € vasta, muito embora ‘uma das nossas universidades jé se adorne com uma cadeira de Folclore ‘Musical. Aliés também as cétedras ¢ cursos de Sociologia, na auséncia de cadeiras auxiliares, 3s vezes se alastram para os campos da Etmografia e do Folclore. Pior porém que a indiferenca oficial, repetindo o que jé disse alhures, é a tradicZo religiosa de “‘caridade”, de auscilio a pobres ¢ doen- tes, que nos legaram os nossos antepassados ¢ ¢ lei arraigada da riqueza particular brasileira, Nao hé dvida que 0 nosso organismo de prote¢io [Nota da edigior O estudo © flee no Basi foi redigido em outubro de 1942; desi s0 Handbook of Bailes Studies, coordenado por Rubens Borba de Moraes ¢ William Berrien, sro do American Council of Learned Socitie.A publicagso do liv, previ a por forga do ingreso dos Estados Unidos na Segunda Guerta Mundial. Em 1949, com o titulo “Folelore”, saa mo Manual bibliog de estudss # uo de Janeiro ra organizada pelos mesmos pesquisadores; foi reposta em citculagl0 pelo Senado Feder 1998), MA deiou eita nota/explicagio no manuscrito O fldore no Brus Como 0 ataque « Aftinio eixoro eos extérios de rcenseanento da bibliogaia foram mantidos por ele messe manusccito 4 edigio aptow por tanserevé-los na integra. ‘Nota MA;"Nota// Destaredag, pra ser publicda/ nos Stato, a pedo do Rubens ¢ do/ Berrien, foram eetindos os itens/ de critéio de organizacio bibo~/ grifea do fichirio que exo sp 20,21 022 que eto agui// Também fo etirade 0 staque/ 2Aftinio Peixwo dasp.2. 3,/ sendoa passages rmodificada/ como vai nesta p.2 que ficou/ substtuindo portano a p.2¢/ 3 do estixo//Com isto concordel de bom gosto mas proteste conta a tei ra dos criti do fichia" ¢ defesa inda nao é Gage social ainda nfo € completo, mas os nossos milionérios, mesmo Glande no descendentes de portugueses nem vindos de familias ta icionais, ainda no sabem bri : m brincar de proteger as ciéncias ae n P nem as artes, cone s luminosos coleges da América do Norte. Sio rarissimos os »enste n6s, de milionatios que se lembrem de distrair um pouco das aac 3 Al nda hé outea praga, nio sei se universal, mas que se especial : tre nés em prejudicar 0 folelore. £ que além da indiferenca dos Sovetnos ¢ dos milionérios,o folclore cientifico sofre no Brasil a con- ea afi imPudica do amadorismo, escandalosamente protegido pel casas ec . ‘oras ¢ 0 aplauso do piiblico. Um exemplo basta para demons. trar es fusio: é sta confusio: é geral entre os cantores improvisados de ridio, disco € mesmo concerto, se intitularem “ , wrem “folcloristas” $6 por sam da cangio popular, Imosliicande thes a Se cons popula oo 5 textos, modificando-Ihes as : ‘maior facilidade vocal” 4 iieanekid como ja me foi dito, defor nando thes por completo a instrumentagio ¢ a harmonizagio. E co} Ic] ", tant : 5 sredotas ats tanto eles como certosantologistas de cantigas e snedblss Populares, cheios da boa vontade mas ignorantes,sio aceios seed Ente Rio «6 pelos anincios © manager, como pelo piblico © € pela critica dos jornais.A concorréncia da cultura cientiice ‘entemente forte e-consciente, para estabelecer qualquer ian 6: mento, que ao menos possa pér de sobreaviso o estu- Pouco eu via um ilustre professor estrangeito, radicado Guadeahe neg: tomar come documento de origen: affo-basira, uma ‘adicional ibérica, baseado numa 5 : . baseado numa obra que tinha tod: réncias de seriedade cientit reiaade Per eae a e era ardente de honestidade. Be Prova que o desejo de honestid Eos jonestidade nem sempre 6 eae mpre coincide com a propria Ainda hé ae 1d mais. A falta de policiamento cultural permite, mesmo nee os 4 que nio seria justo negar valor, abusos da mais Scida enuidade. Quero lembrar um _ i caso que infélizmente precisa nunciado a0 estudioso estrangeiro, porque pode | sta confi, dioso. Ainda faz em nosso mei levar a muitas confuasses. 24 ‘Trata-se do professor Afinio Peixoto, com suas Thovas populares brasileiras, publicadas em 1919. Dada a importincia real de outras obras desse po- ligrafo ¢ a sua responsabilidade, foi com verdadeiro estupor que se péde ler num outro livro seu, publicado doze anos depois, as Migangas, que das mil quadrinhas recolhidas nas Tiovas populares, duzentas e cinquenta eram falsa, inventadas pelo proprio antologista. Esse artigo incluido nas Migan- ‘gas teve publicagdo de mesma data, feita em Portugal, pois foi escrito para ‘uma polianteia organizada em homenagem ao grande cientista portugués Leite de Vasconcelos [A burla do professor Aftinio Peixoto no fora feita por exclusiva vaidade. Pelo menos assim pensava ele. Fora, 0 que € pior, imaginad ‘com intengées cientificas. Fora um “ensaio de literatura experimental como ele mesmo afirma. Nesse artigo das Migangas, em que se alude a bom gosto, a organizacio de colheitas foldéricas debaixo do critério de beleza; em que esté dito que numa colegio de seis mil quadrinhas 0 an- tologista 56 considerara “publiciveis” umas oitocentas, porgue o restante “ao prestava para nada” (sic): 0 professor Afténio Peixoto conta que * (como se fosse 56 dele!), de que as trovas populares eram de autores eruditos quando bonitas. E afirma jubiloso ter provado que sim, pois cle mesmo incluira entre as quadrinhas que supunha anénimas, algumas pecas de autores conhecidos, como Augusto Oil. Mostra ainda que Ronald de Carvalho, iludido pelas Tiovas populares, citara uma das quadrinhas de que justamente ele, Afrinio Peixoto, era 0 autor; e que um amigo, a quem contara a burla e propusera que a descobrisse, teve 50% de enganos. Depois de tais e tio graciosos resultados, o professor Affnio Peixoto conclu satisfatoriamente para nés todos que essa experiéncia “cra initil, se ele se contentara, como devia talvez (Sic), com a ligio do ilustre Mestre” Leite de Vasconcelos. E cita o mestre portugués, num texto em gue este também explica o que se deve entender por “criagio coletiva” popular. O que fica de tudo isto & que nos sobra um livro com mil Tovas populares brasileitas, garantido por um nome ilustre, no qual os estudiosos estrangeiros © nacionais se apoiardo por ser de uma autorida- de incontestivel. Livro que no entanto é falso. Os seus documentos s6 inca de prova, E assim mesmo, com poderio servir de comprovagio pe ee poring como estava pelo critério de beleza, E anuito provsel que o profesor fio Peixoto tenha “consertado”, ae ne : muitas das pegas que expés. Cesteiro que Mais alguns casos de leviandade semelhante eu poderia citar. Mas 20 asso que 2 obra amével de tais autores encontra o aplauso, é pro rada pelo piblico e aceita de bragos abertos pelo movimente, editorial, petsonalidades mais bem-dotadas ¢ orientadas, como Litiz Heitor Conde dle Azevedo? ¢ Luis da Cmara Cascado,sio desmilinguidas pelos gover nos ¢ institutos em mil outras ocupagdes. E disso resulta a deficiencte oa perciménia da obra folcl6rica deles. tere at il 7 resumo:0 Folelore no Brasil inda nio é verdadeiramente con- bido como um processo de conhecimento, Na maioria das suas manifes- ‘ages, é antes uma forma burguesa de prazer (leituras agradaves, andica de passatempo) que consiste em aproveitar exclusivamente as “tes” le citron pa iblloga fram evados por One Alaengn a MA ‘proxavelmente em 1941 on 1942", conforme a dicipula eats (V. ALVARENGA, - Qneyda (Org). tivo [SEE (Ow? Mir de dd = Onda Aree eras. So Palo Dun Cae, 1985, ey alguns verbetes dos assuntos diversos mais importantemente tratados pela liografia folclérica nacional, Estes verbetes sio:““Advinkas”, “Alimen- taco e Culiniria”, etc, ) Nestas fichas gerais foram também inclufdas umas poucas obras, no constantes das fichas de autores, que nfo puderam ser consultadas, mas versando especializadamente o assunto nomeado, Podem ser de al- guia utilidade ao estudioso. Nestes casos tomou-se 0 cuidado de indicar gue sio obras nfo consultadas, por meio de N.C. ©) Também nestas fichas citaram-se uns poucos ensaios saidos em revistas, bem como se chamou atengao para Cultura Politica (V. verbete), de facil procura, 2—S6 foram recenseados os trabalhos mais dignos de conhecimen- to para 0 estudioso estrangeiro, a) Recenseou-se no entanto algumas obras deficientes, apenas pelo interesse de incluit o maior nimero possivel tanto de regides do como de assuntos folcléricos. ) Também foram recenseadas certas obras defeituosissimas, mas falsamente importantes quer pelo némero de paginas quer pela chancela do editor, justamente para colocar o estudioso estrangeiro de sobreaviso a respeito delas. ©) Finalmente foram recenseadas nesta bibliografia obras referentes diretamente 0 Folclore musical, muito embora nio tratem exclusiva mente dele, como a Histbria da milsica brasileira de Renato de Almeida, Este critério foi estabelecido de combina¢io com o organizador geral do “Handbook e 0 Prof. Luiz Heitor Corréa de Azevedo, da Segao de Musica. 3—B critério geral da organizagio deste livro repetir as obras em_ todas as segdes a que clas se ligam diretamente. Como se viu, na letra ¢ anterior, 36 se obedecem a este critério nesta seo, a respeito das obras referentes 20 folclore musical. E que 0 Folclore estava em condigées ¢s- pecialissimas, Abrangendo matéria jé suficientemente delimitada, € ver- dade, mas muito geral, ele participa necessariamente de muitos outros assuntos como a Etnografia, a Histéria,a Sociologia, a Antropogeografia, ‘a Geografia Humana ¢ ainda as relagdes de viagens, os documentos ofi- ciais de cartérios, cimaras, ordenages, arquivos de policias,e @ literatura de ficgio. Adotar-se pois a repetigio de todas as obras destes assuntos contendo matéria folclérica segura, seria quase duplicar este livro! a) Foi eliminado portanto tudo quanto se referia a linguagem po- pular, estudos de dialetologia, vocabulétios, etc. que devem ser procuta~ dos na seco competente. b) Da mesma forma nfo foram recenseadas, a no ser em dois ou trés casos rarissimos, de importincia capital, as obras de etnografia ame- india brasileira 6) Deixou-se de recensear também alguns trabalhos que no pude~ ram ser encontrados nas bibliotecas consultadas. E Jastimavel que estejam neste caso, pelo menos do ponto de vista hist6rico, os artigos de Celso de Magalhaes publicados no jornal © Tiabatho do Recife de 1873, ben como os de José de Alencar, também saidos em jornal, no ano seguinte, geralmente considerados os primeiros estudos de Folclore publicados no Brasil. Este como outros estudos, hoje inachéveis, nio puderam ser con sultados ¢ a sua eliminagio nfo dependeu da escolha, mas de impossibi- lidades externas, insandveis no momento. 4) A nio ser num ou noutro caso excepcional, como o da Revista do Arquivo © a do Patriménio Histérico ¢ Artistico Nacional, deixou-se de recenscar as revistas. O critério nfo € bom, mas adotar outro exigia um trabalho incompativel com o tempo concedido para 2 organizacio. desta bibliografia. ¢) Foram também eliminadas numerosas monografias, como as ex- celentes do Prof. Arthur Ramos, reunidas poste seus autores. Neste caso, recenseou-se apenas o livro. ___ 9) Finalmente ainda foi causa de eliminacao, certas obras de impor- _ Hincia aparente, mas menos seguras como método, s6 conterem matéria J4 exposta em outras obras melhores, de autores mais bem-servidos de cia © honestidade técnica. Neste caso s6 foram recenseados estes li- vvros melhores, Mfrio de Andrade Sao Paulo, outubro de 1942 49

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