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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE)

CAMPUS PETROLINA
BACHARELADO EM NUTRIÇÃO

BEATRIZ FILGUEIRA CARVALHO CRUZ


LUISA CORREIA LEAL MIRANDA

SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO E OS IMPACTOS NO ESTADO


NUTRICIONAL DAS PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE: UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA.

Petrolina-PE
2021
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE)
CAMPUS PETROLINA
BACHARELADO EM NUTRIÇÃO

BEATRIZ FILGUEIRA CARVALHO CRUZ


LUISA CORREIA LEAL MIRANDA

SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO E OS IMPACTOS NO ESTADO


NUTRICIONAL DAS PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE: UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA.

Trabalho de Conclusão de curso II


apresentado ao Curdo de Graduação em
Nutrição da Universidade de
Pernambuco como requisito parcial para
obtenção do grau de bacharel em
Nutrição. Orientador: Prof. Dr. Diego
Felipe dos Santos Silva.

Petrolina –PE
2021
Cruz, Beatriz Filgueira Carvalho.
C957 Sistema carcerário brasileiro e os impactos no estado
s nutricional das pessoas privadas de liberdade: uma revisão
sistemática. / Beatriz Filgueira Carvalho Cruz; Luísa Correia Leal
Miranda. - Petrolina: do autor, 2021.
1 CD-ROM: il. ; 4 ¾

Orientador: Prof. Dr. Diego Felipe dos Santos Silva.


Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação) - Curso de
Bacharel em Nutrição, Universidade de Pernambuco, Campus
Petrolina, Petrolina-PE, 2021.

1. Alimentação. 2. Nutrição. 3. Estado nutricional-cárcere. I.


Silva, Diego Felipe dos Santos. II. Universidade de Pernambuco
- Campus Petrolina - Curso de Bacharel em Nutrição. III. Título.

CDD-613.71

Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Maria Gorete Pereira e Silva,


CRB4/0796
Universidade de Pernambuco – Campus Petrolina.
BEATRIZ FILGUEIRA CARVALHO CRUZ
LUISA CORREIA LEAL MIRANDA

SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO E OS IMPACTOS NO ESTADO


NUTRICIONAL DAS PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE: UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA.

Trabalho de Conclusão de Curso defendido e aprovado em: 18 de maio de 2021.

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________________
Prof. Dr. Diego Felipe dos Santos Silva
Universidade de Pernambuco (UPE) – Campus Petrolina
Orientador

____________________________________________________
Profª. Drª. Iracema Hermes Pires de Melo Montenegro
Universidade de Pernambuco (UPE) – Campus Petrolina
Examinadora

___________________________________________________
Profª. Drª. Michele Vantini Checchio Skrapec
Universidade de Pernambuco (UPE) – Campus Petrolina
Examinadora

Petrolina – PE
2021
RESUMO

O Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP) aponta a


existência de algumas patologias, por exemplo, a diabetes, hipertensão e transtornos
mentais leves, decorrentes da coexistência de fatores oriundos da superlotação,
pouca ventilação no ambiente, condições sanitárias adversas, baixo nível
socioeconômico dos penitenciários, modos de vida distintos e confinamento. Além
disso, sabe-se também que, esse ambiente de estresse causado pela reclusão, afeta
a alimentação das pessoas privadas de liberdade e, consequentemente, o seu estado
nutricional. Diante disso, esse artigo realizou uma revisão sistemática sobre o sistema
carcerário brasileiro e os impactos no estado nutricional das pessoas privadas de
liberdade. A revisão sistemática utilizou o descritor “estado nutricional and pessoas
privadas de liberdade and Brasil’’ para busca na base de dados SciELO, Lilacs e
Google Acadêmico, de artigos publicados na língua portuguesa, entre os anos de
2010 e 2020. Foram selecionados 5 artigos para serem lidos na íntegra com a
utilização de descritores em português. Por fim, ficou claro os impactos que o sistema
carcerário causa no quadro nutricional e na saúde geral das pessoas privadas de
liberdade. Onde, na sua maioria, observou-se que, à medida que o tempo de
confinamento aumenta, cresce também o IMC dos confinados e o seu grau de
sedentarismo.

Palavras-chave: Alimentação, Nutrição, Estado nutricional e Cárcere


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1
METODOLOGIA ..................................................................................................... 4
RESULTADOS ....................................................................................................... 5
DISCUSSÃO ........................................................................................................... 8
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 12
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 13
2

INTRODUÇÃO

De acordo com os Ministérios da Saúde e da Justiça, o Plano Nacional de


Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP), instituído pela Portaria Interministerial nº
1.777/2003, passou a ser reconhecido pela lei, garantindo o acesso à saúde para
as pessoas privadas de liberdade, conforme os princípios do SUS (BRASIL, 2003).

Contudo, há uma precariedade no ambiente prisional, especialmente, no


contexto da saúde. A literatura revela limitações na assistência à saúde, tais como:
presença do agente penitenciário e a periculosidade no ambiente, que dificultam a
autonomia do profissional de saúde no desempenho de suas ações. Por outro lado,
os profissionais clamam por segurança por se sentirem vulneráveis (SOUZA;
PASSOS, 2008).

Além das limitações citadas no parágrafo anterior, o PNSSP aponta a


existência de algumas patologias (tuberculose, hanseníase, DST/HIV/AIDS,
hepatites, hipertensão arterial, diabetes, traumas diversos; doenças gástricas;
transtornos mentais leves e dependência de álcool e drogas) decorrentes da
coexistência de fatores oriundos da superlotação, pouca ventilação no ambiente,
condições sanitárias adversas, baixo nível socioeconômico dos penitenciários,
modos de vida distintos e confinamento (BRASIL, 2009). Ademais, o sedentarismo
também contribui para os problemas de saúde dos detentos (LIMA, 2016).

Outro importante fator, que merece destaque, é o da composição da equipe


mínima de saúde para atender a população carcerária, que de acordo com o
PNSSP, destaca que as unidades prisionais compostas por 100 a 500 presos,
deverá ser formada por médico, enfermeiro, odontólogo, psicólogo, assistente
social, além dos auxiliares de enfermagem e de consultório odontológico (BRASIL,
2003). Com isso, observa-se a ausência da necessidade obrigatória de um
profissional da nutrição nas unidades prisionais, que se faz pertinente, visto que a
nutrição tem um importante papel na promoção da saúde e prevenção de doenças.

Relacionado ao contexto da alimentação e nutrição, pode-se enfatizar que, de


acordo com as Regras Mínimas da ONU, referentes ao tratamento dos presos, é
previsto que a pessoa privada de liberdade deve obter da administração, nas horas
3

usuais, uma alimentação de boa qualidade, cujo valor nutritivo seja suficiente para
manter a saúde do preso e para que ele possa conservar sua energia (BRASIL,
2016).

Dessa forma, é imprescindível buscar entender o contexto que vivem os


detentos do sistema carcerário brasileiro e entender a relação destes com a saúde
e nutrição. Com isso, o presente estudo objetiva realizar uma revisão sistemática
sobre o sistema carcerário brasileiro e os impactos no estado nutricional das
pessoas privadas de liberdade.
4

METODOLOGIA

O presente artigo trata-se de uma revisão sistemática sobre o sistema carcerário


brasileiro e seus impactos no estado nutricional das pessoas privadas de liberdade.
Nesse contexto, tem-se a revisão sistemática da literatura como um estudo
secundário, que tem por objetivo reunir estudos semelhantes, publicados, avaliando-
os criticamente em sua metodologia. Por sintetizar estudos primários semelhantes e
de boa qualidade é considerada o melhor nível de evidência para tomadas de
decisões em questões sobre terapêutica. (ATALLAH, 1998)

Os dados foram levantados através de bases de dados, como: Scientific


Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (LiLACS) e Google Acadêmico, utilizando as seguintes palavras-
chaves: sistema carcerário, saúde, nutrição, prisões, reclusão, alimentação,
obesidade, síndrome metabólica, hipertensão, diabetes e atenção à saúde.

Os artigos eleitos foram selecionados considerando a questão norteadora:


Quais os impactos do sistema carcerário brasileiro no estado nutricional das pessoas
privadas de liberdade? Inicialmente, foi realizada a leitura prévia do título, aqueles
que eram alusivos ao tema deste trabalho passaram por uma análise dos resumos,
analisando objetivos e métodos. Após a filtragem realizada, ocorreu a realização da
leitura na íntegra dos artigos aptos para a pesquisa.

Para o presente artigo, os critérios de inclusão propostos foram: estar na língua


portuguesa, ter sido realizado no Brasil, publicado entre os anos de 2010-2020,
possuir, pelo menos, 2 das palavras-chaves listadas acima e conter informações
sobre os dados antropométricos e estado nutricional dos participantes e ter sido
realizado com pessoas privadas de liberdade maiores de 18 anos.
5

RESULTADOS

Após investigar as bases de dados no LILACS, SciELO e GOOGLE


ACADEMICO para o descritor “estado nutricional and pessoas privadas de liberdade
and Brasil”, gerou-se automaticamente um total de 93.324 artigos, que foram
pesquisados e selecionados por dois avaliadores. Desse modo, foram selecionados
56 artigos apenas através do título, nos quais restaram 20 desses estudos após uma
leitura mais detalhada com base nos resumos e objetivos. Por fim, foram eleitos
apenas cinco estudos que se adequaram aos critérios adotados para este trabalho.

A seguir, a tabela 1 e o fluxograma 1 demonstram como essa pesquisa ocorreu.

Fluxograma 1: detalhamento da seleção de artigos e teses por descritores em português, no


período de 2011 a 2019.

Gerados automaticamente Gerados


Gerados automaticamente
Google Acadêmico automaticamente
LILACS (n=50.157)
(n= 23.100) SciELO (n=20.067)

Selecionados através do
título
(n= 56)

Selecionados para leitura de


resumo e objetivos
(n = 20)

Eleitos para a revisão


(n= 5)

No quadro 1 estão apresentadas as informações gerais sobre estudos incluídos


na revisão. Todos os estudos foram realizados no Brasil entres os anos de 2011 e
2019. Destes, dois são artigos publicados em periódicos classificados como Qualis
Nacional “B” e três trabalhos de conclusão de curso (uma pesquisa quantitativa, do
tipo descritiva e duas de caráter transversal).
6

QUADRO 1 – Caracterização dos estudos, segundo autor e ano de publicação, título, tipo
de produção cientifica, objetivo, metodologia/local e resultados

Tipo de
Autor Metodologia
Título Produção Objetivo Resultados
/Ano /Local
Cientifica
NERI et al. Presas por las Artigo Identificar as Pesquisa Foram
(2011) drogas: (Revista características descritiva, de consultados
caracteristicas Baiana de sociodemográfi- caráter prontuários de 90
de salud de Enfermag cas e de saúde de exploratório e mulheres, que
presidiarias en em) mulheres abordagem tinham idade
Salvador, Bahia presidiárias em quantitativa, entre 18-61 anos,
Salvador, Bahia. desenvolvida com
em uma predominância de
unidade 25 a 30 anos
feminina do (31,8%). Foi
Complexo observado que
Penitenciário 39,3% das
de Salvador, mulheres se
Bahia encontravam em
eutrofia, 39,3%
com sobrepeso e
21,4% com
obesidade.
ANDRADE Imagem corporal Trabalho Verificar a Estudo Foram analisadas
(2016) no cárcere: de percepção da IC transversal, 149 participantes,
percepções e Conclusão (imagem desenvolvido onde quase
desejos em de Curso corporal) em com 149 metade tinha
mulheres mulheres reclusas do menos de 30 anos
privadas de privadas de Complexo (47,9%). Em
liberdade. liberdade em Penal Dr. João entrevista,
regime fechado, Chaves verificou-se que
no Estado do Rio cerca de metade
Grande do Norte, das participantes
Brasil. se percebia como
obesa (50,3%) e
com sobrepeso
(26,8%), com
média de IMC igual
a 30,28 Kg/m².
Com relação ao
corpo desejado,
83,8% das
mulheres
desejavam estar
acima do peso, com
média do IMC
desejado de 27,83
Kg/m². Apenas
11,5% desejavam
ter silhuetas de
eutrofia.
7

AUDI et al. Inquérito sobre Artigo Avaliar o perfil Estudo Foi observado que
(2016) condições de (Saúde sociodemográfic transversal do total de
saúde de mulhe- Debate) o e as condições com 1.013 mulheres
res encarce- de saúde de mulheres, analisadas, a
radas mulheres realizado em maioria se
encarceradas. penitenciária encontrava entre
feminina 20 e 39 anos e
3,8%
apresentavam
baixo peso, 45,5%
eram eutróficas,
30,6% tinham
sobrepeso e 20%
se encontravam
com obesidade.

LIMA Perfil nutrício- Trabalho Analisar o perfil Trata-se de Foram analisados


(2016) nal de peniten- de nutricional e uma pesquisa 16 homens de
ciários confina- Conclusão correlacioná-lo de caráter idade mínima de
dos em cadeia de Curso ao consumo transversal 18 e máxima de 70
pública na cidade alimentar dos realizada no anos, onde 18,7%
de Cuité-PB detentos confina- período de se encontravam
dos na cadeia de agosto de 2016 com magreza grau
uma cidade do no município 1, 32,2% com
Curimataú de Cuité – PB eutrofia, 43,7%
Paraibano. com sobrepeso e
6,2% com
obesidade grau 1.
OLIVEIRA Práticas alimen- Trabalho Avaliar as Pesquisa Foram analisadas
(2017) tares e condições de práticas quantitativa, do 107 mulheres, na
de alimentação Conclusão alimentares e as tipo descritiva, maioria entre 30 e
de mulheres de Curso condições de realizada com 50 anos, onde 0%
presidiárias em alimentação em mulheres presi- se encontravam
regime fechado mulheres diárias em com baixo peso,
presidiárias em regime fechado 35,6% com
regi-me fechado no Complexo eutrofia, 36,7%
no município de Penal Doutor com sobrepeso e
Natal, RN. João Chaves, 27,8% com
situado em obesidade.
Natal/RN

Dos cinco estudos analisados, apenas um estudo foi realizado com homens,
incluindo indivíduos de 18 à 70 anos de idade. Os demais foram realizados apenas
com mulheres adultas. Além disso, todos os estudos mencionaram as questões de
natureza ética, de acordo com as recomendações apresentadas na resolução 196/96
do Conselho Nacional de Saúde (1-Aprovação em Comitê de Ética em Pesquisa; 2-
Anonimato; 3- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido).
8

DISCUSSÃO

No estudo realizado por Lima (2016) na cadeia pública na cidade de Cuité-PB,


aplicou-se questionário pessoal sobre a alimentação. Foram abordadas questões
sobre tempo de confinamento, os alimentos que geralmente os visitantes trazem,
uso de medicamentos e aspectos socioculturais. Dessa maneira, pôde-se observar
que a maioria dos detentos se alimentam duas a três vezes por dia, na qual a
alimentação oferecida na cadeia é feita pelos próprios presidiários, onde são
disponibilizadas as três principais refeições: desjejum, almoço e jantar, sem inclusão
dos lanches intermediários, o que se faz um problema, tendo em vista que estudos
apontam uma maior ocorrência de comportamentos relacionados a um estilo de vida
não saudável (a exemplo do sedentarismo, tabagismo e maior ingestão de álcool)
entre indivíduos que realizam menos de três refeições ao dia em comparação aos
que referem maior fracionamento da dieta (seis ou mais refeições por dia)
(PEREIRA et al., 2014), além de que, o Ministério da Saúde recomenda a realização
de três refeições diárias intercaladas por lanches na forma de uma diretriz
nutricional contida nos “Dez Passos para uma Alimentação Saudável” (BRASIL,

2008).

Seguindo as informações, 81,25% recebem alimentação vinda de fora da


cadeia, dentre elas, alimentação caseira (92,31%) e massas e bolos (84,62%) são
as mais apontadas, seguidas de refrigerante e sucos industrializados (69,23%).
Dessa forma, nota-se uma alta ingestão de alimentos ultraprocessados entre as
pessoas privadas de liberdade, alimentos estes que possuem uma relação positiva
com a ingestão de sódio, colesterol, gorduras, e com o valor calórico total,
(BIELEMANNI et al., 2015) chamando a atenção para consequências negativas à
saúde decorrentes do consumo desses alimentos e à necessidade de intervenção
nessa população. Por meio dos resultados deste estudo permitiu-se identificar que
a maior parte dos reclusos se encontra em estado nutricional de sobrepeso
(43,75%), mas representou baixo risco para o desenvolvimento de doenças
cardiovasculares (81,25%), mas apresentou um número considerável de risco para
desenvolvimento de síndrome metabólica relacionadas à obesidade (31,75%).
Notou-se que não há diagnóstico de magreza grau I em detentos recém alojados
até dois 2 anos, havendo evolução a medida que o tempo de confinamento
9

aumenta, consequentemente o estado de eutrofia decai e há prevalência de


sobrepeso com o passar dos anos de reclusão, provavelmente decorrente do alto
consumo de industrializados e alimentos ricos em açúcares, como citado
anteriormente e de outros fatores que ainda serão discutidos neste tópico.

Ademais, foi observado uma prevalência de usuários de psicotrópicos, o que


evidência a existência de pessoas com provável sofrimento mental e psicológico.
Alguns autores relacionam esse fato da prevalência de usuários de drogas ilícitas
com a prevalência de ganho de peso durante o passar dos anos, associando à
privação do uso de drogas ilícitas e diminuição no acesso ao tabaco, resultando em
um aumento de peso exponencial nos primeiros meses de reclusão (BAILEY, 2015;
DRACH et al. 2016), somando mais um fator que contribui para os altos índices de
pessoas privadas de liberdade com sobrepeso e obesidade.

Também foi observado quadros de hipertensão em algumas pessoas privadas


de liberdade dentre os estudos apurados como o realizado na cidade de Cuité-PB
(LIMA, 2016), no qual 57,14% da amostra faz uso de Captopril (medicamento
utilizado para tratar pacientes com hipertensão) e na pesquisa desenvolvida em
uma unidade feminina do Complexo Penitenciário de Salvador-BA (NERI et al.,
2011), em 87 prontuários analisados, hipertensão foi registrado em oito e 51,8%
delas relataram possuir histórico de pessoas com Diabetes Mellitus na família.
Neste último estudo referido, 39,3% da amostra apresentou-se eutrófico, 39,3%
com sobrepeso e 21,4% obeso. Dessa forma, a ciência comprova que quando
comparados aos indivíduos com peso normal, aqueles com sobrepeso possuem
maior risco de desenvolver doenças crônicas não transmissíveis, como por
exemplo, a diabetes, as doenças cardiovasculares e câncer (ALMEIDA LM, et al.,
2017).

Em um outro estudo, este realizado por uma universidade localizada no interior


do estado de São Paulo (AUDI et al., 2016), foi observado uma dependência grave
de nicotina em 26,1% das mulheres e cerca de 70% não praticavam atividade física.
A maioria das presas (56,9%) apresentava sobrepeso ou obesidade. É recorrente
em todas as pesquisas o alto índice de sedentarismo nos presídios estudados, e,
segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) a inatividade física é o quarto
fator de risco mundial para a mortalidade, sendo igualmente um dos maiores fatores
10

de risco para as doenças crônicas não transmissíveis, como as doenças


cardiovasculares, a diabetes e o cancro (World Health Organization; 2009).
Portanto, é necessário ressaltar que as alterações do estado nutricional das
pessoas privadas de liberdade influenciam no acometimento de doenças, as quais
podem ser prevenidas ou controladas por comportamentos corretos que devem ser
garantidos pela instituição, como a prática de atividade física (durante o banho de
sol), alimentação balanceada, diminuição do uso de tabaco e outras drogas, etc
(NERI et al., 2011).

Os estudos de Andrade (2016) e Oliveira (2017) foram realizados no mesmo


presídio feminino chamado Complexo Penal Dr. João Chaves no município de
Natal-RN. Neste primeiro, desenvolvido com 149 reclusas, foi utilizado como
ferramenta de estudo a percepção da Imagem Corporal (IC), que foi avaliada a partir
da Escala de Figuras de Silhuetas de KAKESHITA, um método da área da saúde
de avaliação comumente utilizado que variam desde a mais esbelta até a mais larga,
onde a pessoa escolhe a figura que melhor o representa, e a que gostaria de ter ou
que julga ser o ideal, permitindo avaliar a satisfação ou insatisfação com a IC
conforme as discrepâncias entre as figuras selecionadas (DAMASCENO et al. 2005;
BEVILACQUA, DARONCO & BALSAN, 2012; SKOPINSKI, RESENDE &
SCHENEIDER, 2015), obtendo, no momento da entrevista, o seguinte resultado:
cerca de metade das participantes se percebia como obesa (50,3%) e com
sobrepeso (26,8%), com média de IMC igual a 30,28 Kg/m².

Este mesmo estudo cita um outro realizado com a mesma amostra em 2014,
porém não foi possível encontrá-lo na integra, que revela o IMC real desse mesmo
extrato populacional, onde 62,2% apresentaram excesso de peso, sendo 36,6%
com sobrepeso e 25,6% com obesidade (AMORIM, 2014). Outrora, no segundo
estudo, se procedeu uma entrevista com perguntas de múltipla escolha, com 107
participantes, referentes às práticas alimentares e condições de alimentação no
cárcere, além disso, também foi realizado uma avaliação antropométrica, coletando
as medidas de peso e estatura segundo protocolo de Lohman (LOHMAN; ROCHE;
MARTORELL, 1998) e se obteve como resultado: Baixo peso (0 detentas - 0%);
eutrofia (32 detentas – 35,6%); sobrepeso (33 – 36,7%); obesidade (25 – 27,8%).
Dessa forma, comparando as pesquisas, observa-se um aumento considerável de
11

casos de excesso de peso entre as amostras. Essa prevalência de detentos acima


do peso pode ser justificada pela mudança na rotina de vida e principalmente pela
mudança alimentar, na qual há restrição das escolhas alimentares (OLIVEIRA,
2017), pois, na unidade prisional desses dois estudos também há restrição
quantitativa e qualitativa dos alimentos levados pelos visitantes aos detentos,
devido à ocultação de drogas e objetos

A falta de acesso a alimentos in natura, o elevado consumo de


industrializados, a falta da autonomia alimentar concomitante a baixa aceitação das
refeições que são ofertadas pelo sistema prisional, o sedentarismo e os problemas
psicológicos se fazem muito presente nas unidades prisionais do sistema carcerário
brasileiro (FEITOSA et al, 2021) fatores estes que impactam diretamente no estado
nutricional dos seres humanos, fomentando principalmente em quadros de
sobrepeso e obesidade, nas quais são preponderantes na morbidade e mortalidade
da população, e são fatores importantes na caraterização da saúde, não apenas
pela doença em si, mas principalmente pelas comorbidades associadas (Nonas,
2004; World Health Organization, 2003).
12

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da revisão sistemática realizada, ficou claro os impactos que o sistema


carcerário causa no quadro nutricional e na saúde geral das pessoas privadas de
liberdade. Onde, na sua maioria, observou-se que, à medida que o tempo de
confinamento aumenta, cresce também o IMC dos confinados e o seu grau de
sedentarismo.

Visto isso, o aumento de peso dos reclusos revela o quanto a mudança de


rotina e o estresse causado pelo confinamento reflete nos hábitos alimentares. Vale
ressaltar o estudo que mostrou a alimentação oferecida no presidio, onde viu-se
uma predominância de alimentos industrializados e ricos em açúcares e gorduras,
mostrando que, além do aumento de peso, as pessoas privadas de liberdade não
possuem acesso a alimentos de boa qualidade e ricos em nutrientes.

Além disso, o elevado índice de sobrepeso e obesidade nas pessoas privadas


de liberdade, agrava também o aparecimento de síndrome metabólica relacionada
a obesidade e desenvolvimento de doenças cardiovasculares, aumentando o risco
de mortalidade durante o confinamento. Ainda, foi notado o grande uso de remédios
psicotrópicos e tranquilizantes, o que mostra provável sofrimento mental e
psicológico que a reclusão causa.

Concluída a revisão, ficou claro a falta de estudos com essa população,


principalmente acerca de seu estado de saúde, tanto físico quanto mental, podendo
até refletir um certo preconceito com essa população e a falta de preocupação com
a qualidade de vida desses. Porém, com os poucos estudos que existem, foi
observado que a reclusão e as condições que são oferecidas dentro do presidio,
afetam diretamente o estado mental e físico das pessoas privadas de liberdade.
13

REFERÊNCIAS

1. ALMEIDA, LM; CAMPOS, KFC; RANDOW, R; GUERRA, VA. Estratégias e


desafios da gestão da atenção primária à saúde no controle e prevenção da
obesidade, Revista Eletrônica Gestão & Saúde, Brasília, 2017; 8(1): 114-139.
Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/rgs/article/view/3700/3377 .
Acessado em: 21 dezembro de 2020
2. ANDRADE, Ana. Imagem corporal no cárcere: percepções e desejos em
mulheres privadas de liberdade. Trabalho de Conclusão de Curso, Nutrição,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, p. 1-34. 2016.
Disponível em:
https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/3192/1/Imagemcorpor
alc%C3%A1rcere_2016_Trabalho%20de%20Conclus%C3%A3o%20de%2
Curso . Acessado em: 10 setembro de 2020
3. ATALLAH, AN; CASTRO, AA. Revisão Sistemática e Metanálises, em:
Evidências para melhores decisões clínicas. São Paulo. Lemos Editorial
1998. Disponível em: http://www.usinadepesquisa.com/metodologia/wp-
content/uploads/2010/08/meta1.pdf . Acessado em: 30 de janeiro de 2021
4. AUDI, CAF; SANTIAGO, SM; ANDRADE, MGG; FRANCISCO, PMSB.
Inquérito sobre condições de saúde de mulheres encarceradas. Saúde
Debate, Rio de Janeiro, , v. 40, n. 109, p. 112-124, ABR-JUN, 2016.
Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/sdeb/v40n109/0103-1104-sdeb-40-
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5. BAILEY, ZD; WILLIAMS, DR; KAWACHI, I; OKECHUKWU, CA. Incarceration
and adult weight gain in the National Survey of American Life (NSAL).
Preventive medicine, v. 81, p. 380-386, 2015. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4958024/pdf/nihms-
735586.pdf . Acessado em: 21 dezembro de 2021
6. BEVILACQUA, L. A.; DARONCO, L. S. E.; BALSAN, L. A. G. Fatores associados à
insatisfação com a imagem corporal e autoestima em mulheres ativas. Salusvita,
Bauru, v. 31, n. 1, p. 55-69, 2012. Disponível em:
https://secure.unisagrado.edu.br/static/biblioteca/salusvita/salusvita_v31_n1_2012
_art_05.pdf . Acessado em: 15 de dezembro de 2020
14

7. BIELEMANN, RM; MOTTA, JVS; MINTEN, GC; HORTA, BL; GIGANTE, DP.
Consumo de alimentos ultraprocessados e impacto na dieta de adultos
jovens. Rev Saúde Pública, 2015. Acessado em:
https://www.scielo.br/pdf/rsp/v49/pt_0034-8910-rsp-S0034-
89102015049005572.pdf . Disponível em: 28 de fevereiro de 2021
8. BRASIL, Ministério da Saúde. Plano Nacional de Saúde/PNS 2008/2009-2011.
Brasília: Ministério da Saúde, 2009ª. 139p. Disponível em:
https://www.mpma.mp.br/arquivos/COCOM/arquivos/centros_de_apoio/cao_s
aude/publicacoes/pns2008_2011_preimpressao.pdf . Acessado em: 14
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9. BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Regras mínimas das Nações Unidas
para tratamento dos presos. Brasília, DF, 2016a, 84 p. Disponível em:
http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/05/39ae8bd2085fdbc4a1b02
fa6e3944ba2.pdf . Acesso em 08 janeiro 2021.
10. BRASIL. Ministério da Saúde e Ministério da Justiça. Portaria Interministerial
n.º 1.777/2003, de de 09 de setembro de 2003. Brasília, 2003. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2003/pri1777_09_09_2003.html
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11. Brasil. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população brasileira:
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