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MATERIAL DE APOIO

Disciplina: Direito Processual Penal


Professor: Paulo Henrique Fuller
Aulas: 01 e 02

ANOTAÇÃO DE AULA

SUMÁRIO

COMPETÊNCIA
1. Passos para determinação da competência
2. Definição da Justiça competente

COMPETÊNCIA

1. Passos para determinação da competência (processo para a concretização da competência)

A competência é a delimitação/restrição da jurisdição. Para compreender melhor o conceito faz-se


necessário relacionar os referidos institutos:

JURISDIÇÃO COMPETÊNCIA

Poder negativo (-) nem todos


Poder positivo (+) todos magistrados
magistrados possuem (Delimitação/medida
possuem
da jurisdição em determinada esfera)

Presuposto processual de EXISTÊNCIA Pressuposto Processual de VALIDADE

Consequência: inexistência jurídica dos Consequência: nulidade processual (art.


atos 564, I, CPP)

Após essa análise, para identificar a competência, devemos seguir os seguintes passos:

a. Definir a Justiça competente (“competência de Justiça”);


 Justiça Comum Estadual;
 Justiça Comum Federal;
 Justiças especiais;

b. Identificar se o réu possui prerrogativa de função;


 Se sim: Competência originária de Tribunal (exceção);
 Se não: 1º grau (regra);

c. Observar a competência territorial (“competência de foro”, “circunscrição territorial”);

d. Definir a competência de Juízo (ou vara, se houver mais de uma naquela comarca);

2. Definição da Justiça competente: critério ratione materiae/em razão da matéria:

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ELEITORAL

ESPECIAIS MILITAR

TRABALHO
JUSTIÇAS

FEDERAL
COMUNS
ESTADUAL

2.1. Justiças Especiais:

a. Justiça Especial Eleitoral:

O artigo 121, caput, da Constituição Federal/88 remete à Lei Complementar 4.737/65 (Código
Eleitoral) para definição da competência. Trata-se de lei formalmente ordinária, mas materialmente
complementar (recepção como lei complementar). Vejamos o referido artigo e ainda o artigo 35, II, do
Código Eleitoral:

Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e


competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas
eleitorais.

Art. 35. Compete aos juízes:


(...)
II - processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem
conexos, ressalvada a competência originária do Tribunal Superior e
dos Tribunais Regionais

Julga crimes eleitorais e conexos.

Observação: O STF entende que a Justiça Especial Eleitoral apenas atrai crimes comuns/conexos da
competência da Justiça Comum Estadual. Se houver conexão entre crime eleitoral e crime comum da
Justiça Comum Federal, deve haver separação obrigatória, pois a competência da Justiça Comum
Federal foi estabelecida no artigo 109 da Constituição Federal/88, sendo por isso absoluta (não
comportando modificação).

b. Justiça Especial Militar

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A Justiça Militar não atrai crimes comuns conexos, devendo nesse caso sempre haver separação
obrigatória. Assim dispõe o artigo 79, I, do Código de Processo Penal (vide art. 124 e 125 CF e Súmula
90/STJ).

Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes


militares definidos em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento
e a competência da Justiça Militar.

Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios


estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do
Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal
de Justiça.
§ 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de
inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou
municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da
legitimação para agir a um único órgão.
§ 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de
Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau,
pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo
grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça
Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil
integrantes. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de
2004)
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares
dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais
contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri
quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir
sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das
praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar,
singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações
judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de
Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os
demais crimes militares. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45,
de 2004)
§ 6º O Tribunal de Justiça poderá funcionar descentralizadamente,
constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do
jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 7º O Tribunal de Justiça instalará a justiça itinerante, com a
realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional,
nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de
equipamentos públicos e comunitários. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)

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Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e
julgamento, salvo:
I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;

Súmula 90/STJ: Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar


o policial militar pela prática do crime militar, e à Comum pela prática
do crime comum simultâneo àquele.

Crimes dolosos contra a vida praticados por militares em detrimento de civis migraram da
competência da Justiça Especial Militar para a Justiça Comum (Tribunal do Júri). Agora trata-se de
crime comum e não militar, podendo ser, ainda, de competência comum federal ou estadual.

Atenção: A única hipótese em que um crime doloso contra a vida de vítima civil continua militar é
aquela em que a conduta foi praticada no contexto de ação militar de abatimento de aeronave.
Vejamos o artigo 9º, parágrafo único, do Código Penal Militar:

Art. 9º (...)
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos
contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da
justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar
realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de
1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica.

2.2. Justiças Comuns:

a. Justiça Comum Federal

O artigo 109, IV, da Constituição Federal dispõe sobre a competência da Justiça Comum Federal, que
abarca crimes políticos e praticados em detrimento dos bens, interesses e serviços da União (a Justiça
Comum Federal não é especial, mas precede à Justiça Comum Estadual), vejamos:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em
detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas
entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da
Justiça Eleitoral;

1. Crimes políticos: compete a Justiça Federal julgar crimes políticos. Cabe lembrar que antes da
Constituição Federal/88 a competência era da Justiça Militar (Regime Militar). O artigo 30 da Lei de
Segurança Nacional (Lei 7.170/83) não foi recepcionado pela Constituição Federal/88.

2. Crimes praticados em detrimento dos bens, interesses e serviços da União: (“B.I.S.” da União).
Abarca qualquer ente de regime jurídico autárquico, como:
 Entidades autárquicas federais;
 Fundações públicas federais (INSS, BACEN);

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 Empresas públicas federais: deverá ter o capital 100% público, ou seja, participação integral
federal sem participação privada. Por exemplo, Caixa Econômica Federal e Correios são 100%
públicos.

o Deixou de fora, portanto, a sociedade de economia mista (competência da Justiça Estadual),


como o Banco do Brasil e a Petrobrás. Assim corrobora a sumula 42 do STJ:

STJ - Súmula 42
Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis
em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados
em seu detrimento.

b. Justiça Comum Estadual: Trata-se de competência residual, ou seja, tudo o que não se encaixar nas
competências anteriormente esmiuçadas será abarcada pela competência da Justiça Comum Estadual.

Conforme exposto, a Justiça Comum Federal precede à Justiça Comum Estadual. No caso de conexão
entre crimes de competência federal e crimes de competência estadual, aplica-se a Súmula 122/STJ:

Súmula 122/STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento


unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não
se aplicando a regra do art. 78, II, “a”, do Código de Processo Penal.

Mas, tenha atenção, pois o artigo 109, IV, da Constituição Federal/88 exclui as contravenções penais
da competência Comum Federal, mesmo que afete o “B.I.S.” (bens, interesses ou serviços) da União.
Prevalece a separação obrigatória. Exemplo: crime federal (J.C. Federal) + contravenção penal (J.C
Estadual).

STJ - Súmula 38: Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da


Constituição de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que
praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou
de suas entidades.

Atenção: se houver conexão entre crime de competência da Justiça Comum Federal e contravenção
penal, deve haver, segundo o STJ, separação obrigatória, pois as normas legais de conexão e
continência (art. 76 e 77/CPP) não podem sobrepor-se à cláusula de exclusão do art. 109, IV, da CF/88,
que afastou as contravenções penais sem ressalva alguma da Justiça Comum Federal;

Especificações: próxima aula - Exemplo de autarquias e comentários sobre agências franqueadas dos
Correios, crimes contra a ordem tributária e crimes previdenciários.

Obras de Direito Processual Penal sugeridas:

 Gustavo Badaró;
 Guilherme Madeira;

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