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DEFINIÇÃO

Infecções agudas, latentes e crônicas. Índice de mutações virais. Tipos de transmissões por vírus.
Fatores do vírus e do hospedeiro que contribuem para a patogênese viral. Mecanismos de defesa
naturais contra vírus. Mecanismos de defesa específicos contra vírus. Uso de adjuvantes para a
resposta imunológica. Vírus da imunodeficiência humana tipo 1 e tipo 2 (HIV-1, HIV-2). Vírus do
sarampo. Citomegalovírus humano (CMV).

PROPÓSITO
Compreender os mecanismos relacionados às infecções virais humanas e suas interações com o
hospedeiro. Conhecer exemplos de infecções virais que atuam sobre o sistema imunológico.

OBJETIVOS

MÓDULO 1
Reconhecer os tipos de infecções virais

MÓDULO 2

Descrever os tipos de respostas imunológicas contra vírus e o escape viral do sistema imunológico

MÓDULO 3

Identificar os mecanismos de imunodepressão mediada por alguns vírus

INTRODUÇÃO
Você já deve saber que os vírus são agentes infecciosos que se multiplicam obrigatoriamente como
parasitas intracelulares. Podem ter seu material genético composto por DNA ou RNA e,
frequentemente, são recobertos por um envoltório proteico ou por uma membrana lipoproteica
(chamada envelope). Os vírus podem infectar todos os seres vivos: bactérias, fungos, plantas, animais
e outros. Quando um vírus infecta um ser vivo, ele pode ser um hóspede temporário e agressivo, ou um
companheiro silencioso que acompanhará esse ser por muito tempo, até mostrar que está lá, ou ainda
nunca dará sinais de sua existência.

Nem todos os vírus causam doenças; na verdade, os vírus são componentes importantes na evolução
de todos os seres vivos, inclusive do Homo sapiens. No entanto, existem vírus patogênicos, e estes
podem ser os agentes causadores de algumas das doenças infecciosas de maior relevância para a
saúde. Existem pandemias e epidemias, do passado e do presente, que são causadas por agentes
virais.

Autor: frank60 / Fonte:Shutterstock

É preciso destacar que alguns dos maiores avanços em saúde foram desenvolvidos para combater
infecções virais. Por exemplo, a varíola causou uma pandemia no passado, mas também foi a primeira
doença a ser considerada erradicada graças ao desenvolvimento da primeira vacina da História, na
virada dos séculos XVIII e XIX. Outro exemplo foi o processo de desenvolvimento de medicamentos
que sofreu uma revolução em virtude das pandemias de HIV e HCV, com o aprimoramento de
tecnologias que permitem a criação de drogas que agem contra alvos virais. Epidemias sazonais, como
as causadas por vírus respiratórios, desafiam sistemas públicos e privados de saúde, que devem estar
preparados para essas emergências.

Cada vírus apresenta processos particulares de transmissão, patogênese e resposta imunológica, que
estarão intimamente ligados aos sinais e sintomas associados, ao diagnóstico e ao tratamento dessas
infecções. O diagnóstico clínico e laboratorial, o tratamento, as medidas de contenção de transmissão e
o cuidado com o paciente dependem desses conhecimentos. Por isso, saber quais os processos
relacionados a transmissão viral, tipos de infecções e interação com o hospedeiro são de fundamental
importância para os profissionais da saúde.

Por último, o conhecimento disponível em virologia é, em grande parte, resultado de dados obtidos a
partir de modelos experimentais em animais. Embora os dados obtidos a partir de seres humanos
também estejam disponíveis, certos detalhes sobre a dinâmica da infecção viral no organismo apenas
podem ser observados em modelos animais implementados em laboratório pela impossibilidade de
reproduzir tais experimentos em seres humanos, o que seria eticamente questionável. O conhecimento
que temos é uma junção de dados de pesquisa científica aliados a estudos observacionais em seres
humanos. Dessa forma, quando não existem modelos experimentais disponíveis, o conhecimento a
respeito dos processos de infecção de determinado vírus se torna muito limitado.
MÓDULO 1

 Reconhecer os tipos de infecções virais

DINÂMICAS DE INFECÇÃO VIRAL


Infecções virais são processos que acontecem de forma dinâmica, ou seja, uma perturbação causada
pelo vírus tem uma resposta imediata por parte do organismo que foi infectado. A partir da maneira
como essa interação entre a perturbação e a resposta acontece é que o processo infeccioso pode se
desenvolver como uma infecção aguda ou crônica.

Na infecção viral aguda, ocorre um desequilíbrio entre as ações causadas pelo agente viral e pelas
reações imediatas por parte do organismo. O corpo humano reage a essas perturbações, até que
ocorra a resolução dessa infecção, a morte do organismo hospedeiro ou que seja atingido um equilíbrio
dinâmico nesta relação parasita/hospedeiro.

Normalmente, a infecção aguda se apresenta com sintomatologia clara, podendo evoluir desde quadros
brandos até casos graves, que podem levar à internação. A partir do momento em que ocorre esse
equilíbrio dinâmico, estabelece-se uma infecção crônica. Nesse caso, o agente viral causa alterações
sutis na forma como aquele organismo funciona, a ponto de essa infecção permanecer sem sintomas
aparentes por longos períodos, ou até nunca manifestar qualquer sintoma.

 EXEMPLO

NA PRÁTICA, COMO ISSO FUNCIONA?

Ao infectar uma célula, o vírus sequestra a sua maquinaria molecular, direcionando o metabolismo
celular para um objetivo específico: produzir novas partículas virais, que emergirão da célula
hospedeira (que morre no processo) e infectarão novas células.

Cada ciclo de replicação viral produz milhões de partículas virais, que, ao infectar novas células,
produzirão danos ao tecido onde está acontecendo essa infecção. Evolutivamente, as estratégias
aplicadas pelos vírus priorizam a reprodução rápida, a evasão do sistema imunológico do hospedeiro e
grande variabilidade genética (alto índice de mutações), que lhes confere vantagens adaptativas em um
novo ambiente.

O dano tecidual será detectado pelo sistema imunológico, que acionará diferentes reações: a
imunidade inata, apresentação de antígenos, produção de citocinas (moléculas que modulam a
resposta das células), expansão clonal de linfócitos, entre outras.

ESSE É O CENÁRIO INICIAL DE UMA INFECÇÃO


AGUDA. A PARTIR DELE, PODEMOS TRAÇAR
ALGUNS POSSÍVEIS DESFECHOS:

RECUPERAÇÃO:
Eliminação do vírus;

Recuperação celular;

Reestabelecimento do sistema imunológico com o clearance das células efetoras da resposta


imune;

Retorno à homeostase;

Em alguns casos, produção de anticorpos protetores e imunidade contra futuras infecções virais.

ESTABELECIMENTO DE INFECÇÃO CRÔNICA:


Produção contínua ou intermitente de vírus ou antígenos virais;

Dano tecidual;

Sistema imunológico alterado;

Alteração da homeostase.
TIPOS DE INFECÇÃO CRÔNICA
No estabelecimento da infecção crônica, acontece uma alteração nas estratégias adotadas pelo vírus, o
que fará com que a resposta do sistema imune mude, tornando-se mais branda, embora possa haver
ativação inflamatória crônica (que poderá contribuir para o dano tecidual) e também alterações na
composição de células do sistema imune.

Nesse caso, os vírus permanecem com níveis baixos de replicação, em uma relação dinâmica com o
sistema imunológico. Por exemplo, o vírus da hepatite B (HBV) é capaz de permanecer em replicação
intracelular, com liberação de partículas baixa e constante, apesar da resposta imunológica. Dessa
forma, ele é capaz de evoluir, sofrendo mutações que podem ser úteis para escapar do sistema
imunológico.

Autor: qimono / Fonte: Unsplash

Também pode haver uma situação de ausência de replicação, o que caracteriza a latência viral. Nesse
caso, o vírus permanece em estado “dormente”, no qual não há a expressão de genes virais. O vírus
pode “despertar” do estado de latência, dependendo da situação do organismo hospedeiro.

Existem fatores virais e celulares que permitem o desenvolvimento da latência viral, e os mecanismos
para estabelecimento da latência viral ainda são pouco compreendidos. É uma estratégia que permite
ao vírus escapar do sistema imunológico, ficando virtualmente invisível para as defesas do corpo até
que o ambiente seja favorável para o retorno da replicação viral (reativação). A reativação viral pode
acontecer de forma intermitente, garantindo ao vírus a oportunidade de infectar novas células e
permanecer no organismo.

TRANSMISSÃO VIRAL

Já falamos que vírus são capazes de infectar praticamente todos os tipos de seres vivos, de bactérias a
animais. Para atingir o interior da célula, o vírus precisa, em primeiro lugar, chegar a essa célula, o que,
em se tratando de entidades microscópicas e sem meios de locomoção próprio, é uma tarefa um tanto
quanto difícil. No entanto, existem alguns caminhos que o vírus pode pegar para chegar a essas
células.

Resumidamente, é possível pensar em cinco caminhos básicos que podem ser seguidos:

PELO AR


FECAL-ORAL


CONTATO DIRETO


VETORES


VIA PARENTERAL

Note que não necessariamente apenas uma dessas vias será utilizada pelo vírus. Na verdade, alguns
podem utilizar mais de uma via para invadir o futuro hospedeiro e atingir os tecidos onde estão as
células que infectarão.

Por exemplo, alguns vírus respiratórios podem ser transmitidos pelo ar, mas também podem ser
transmitidos ao levar as mãos à boca após o contato com superfícies contaminadas, e, a partir daí, os
vírions têm acesso às mucosas do trato respiratório.

 ATENÇÃO

O termo vírion é utilizado quando nos referimos aos vírus no ambiente externo (fora do hospedeiro), ou
seja, é a partícula viral em sua forma extracelular.

No caso de vírus que precisam atingir a circulação sanguínea para ter acesso às células que infectarão,
é preciso ultrapassar a barreira da pele ou das mucosas, a fim de usar essa via. Isso pode acontecer
em virtude de microlesões causadas por traumas ou injeção direta do agente viral por meio de material
perfurocortante (via parenteral).

O HIV pode ser transmitido dessa forma, pelas microlesões que ocorrem durante o ato sexual e por
meio de agulhas e seringas contendo material contaminado. Por isso, as principais formas de
prevenção da transmissão do HIV é o uso de preservativo, o não compartilhamento de material perfuro
cortante e o controle de sangue e hemoderivados em bancos de transfusão.

Autor: Jarun Ontakrai / Fonte: Shutterstock

Outra importante forma de transmissão dos vírus é a que acontece da mãe para o bebê (transmissão
vertical), que pode ocorrer por várias vias e em momentos diferentes da concepção e do parto
(intraútero, no parto e no pós-parto). Existem agentes infecciosos que são capazes de ultrapassar a
barreira placentária e infectar o bebê ainda no útero, como a rubéola. Outros agentes podem ser
transmitidos durante o parto, quando há contato do sangue da mãe com o bebê ou por meio da
passagem pelo canal vaginal no momento do parto natural. Além disso, alguns vírus podem ser
transmitidos pela amamentação.

A Tabela 1 traz informações sobre as diferentes formas de transmissão viral.

Tabela 1: Principais vias de entrada de alguns agentes virais.

Via de
Fonte da infecção Exemplos
entrada

Trato Gotículas em suspensão no ar, contato Vírus influenza, SARS-COV-2,


respiratório das mãos com superfícies contaminadas Vírus sincicial respiratório

Vírus Epstein-Barr (causador


Saliva Transferência direta de saliva
da mononucleose infecciosa)

Hepatite A, Hepatite E,
Contato direto ou indireto com fezes
Fecal-oral Enterovírus, Rotavírus,
contaminadas pela via oral
Poliovírus
Pele Contato direto ou indireto com secreções Varíola, Varicela (Herpes
da pele Zoster)

Contato direto com a pele HPV

Transfusão sanguínea, hemoterapia, HBV, HCV, HDV, HIV, HTLV,


injeções citomegalovírus
Sangue

Microlesões na pele HBV, HCV, HIV, HTLV

HBV, HIV, herpes genital,


Genital Secreções genitais
citomegalovírus

Transmissão intrauterina Rubéola, citomegalovírus

Transmissão
Durante o parto HIV, HBV, HCV, herpes genital
vertical

Após o parto ou pela amamentação HIV, HTLV

Mordida de animal Vírus da raiva

Vetores

Picadas de insetos Dengue, Zika, Febre Amarela


Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal

Quando um organismo está infectado por um vírus, esse ser vivo passa a ser um hospedeiro para esse
agente viral. Porém, você já deve ter escutado falar sobre reservatórios naturais, ou reservatórios virais.

QUAL É O PAPEL DESSES ENTES NA TRANSMISSÃO VIRAL?

Alguns vírus conseguem manter sua replicação em populações de animais silvestres sem causar
doença nesses animais, ou causando doenças com sintomas brandos na maior parte da população.
Sabemos que a infecção viral é uma espécie peculiar, isso quer dizer que um vírus de plantas
normalmente não infectará um animal.

Um vírus que é capaz de infectar outros mamíferos, normalmente, não infectaria um ser humano. No
entanto, em ocasiões raras, vírus podem sofrer mutações que permitem que eles façam “saltos”, e,
dessa forma, transpor a barreira entre espécies. Nesses casos, os vírus passam a infectar organismos
que originalmente não infectariam (Figura 1).

Esses animais também são hospedeiros do vírus, mas, considerando a cadeia de transmissão
estabelecida, também podemos chamá-los de reservatórios.

Quando esses animais entram em contato com os seres humanos (seja por contato direto, seja por
meio de vetores), a infecção pode acontecer. Por isso, esses animais são chamados de reservatórios
virais. No entanto, não basta haver a transmissão do vírus do reservatório animal para um ser humano.
O vírus deve sofrer novas mutações para poder ser transmitido do ser humano originalmente infectado
para outras pessoas. Uma vez que essa nova barreira é transposta, o vírus pode se estabelecer e se
disseminar entre os seres humanos.

Fonte: Autor
 Figura 1: representação esquemática da transmissão de um vírus a partir de um reservatório para
seres humanos.

Autor: Tumisu / Fonte: Pixabay

Os coronavírus são vírus que ocorrem naturalmente em muitos animais, e já causaram preocupação
no mundo inteiro. Em anos recentes, pelo menos três coronavírus foram considerados como
emergências em saúde pública, originando síndromes respiratórias agudas graves (SARS – Severe
Acute Respiratory Syndrome) em milhões de pessoas (Tabela 2).

Tabela 2: Coronavírus que causaram emergência mundial e seus respectivos reservatórios prováveis.

Vírus Reservatório provável Abrangência Ano

SARS-CoV* Morcegos Mundial 2002

MERS-CoV** Camelos e dromedários Oriente Médio 2013

SARS-CoV-2 Morcegos Mundial 2019


Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal

*Severe Acute Respiratory Syndrome-Coronavirus

**Middle Eastern Respiratory Syndrome-Coronavirus

Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o mundo foi acometido por uma
pandemia de COVID-19 (Coronavirus Disease, causada pelo SARS-CoV-2) a partir de um surto
ocorrido na cidade de Wuhan, na China, no fim de 2019, uma das maiores crises em saúde pública da
década.
PATOGÊNESE DA INFECÇÃO VIRAL
A patogênese viral é um fenômeno multifatorial, resultante das várias ações de um vírus para infectar
uma célula. Sendo parasitas intracelulares obrigatórios, os vírus evolutivamente desenvolveram
mecanismos complexos para viabilizar sua replicação, que incluem alterar o metabolismo da célula,
afastando-a de suas funções originais, e direcionar todos os recursos para a produção de novas
partículas virais.

Essas ações acontecem em uma célula, mas, ao longo da infecção, as repercussões da ação dos vírus
podem atingir todo o tecido onde a célula está localizada, ou até que essas repercussões se tornem
sistêmicas, ou até uma infecção generalizada, afetando todo o organismo.

 EXEMPLO

Como exemplo, temos a gripe, que é uma doença viral causada pelo vírus Influenza. Em primeiro lugar,
o vírus ataca o sistema respiratório, mas, na sequência, os efeitos podem ser sentidos no corpo inteiro.

Assim, quando estudamos a patogênese viral, observamos mais o processo de desenvolvimento da


doença causada pelo vírus, e os principais fatores envolvidos, do que a infecção viral em si.
Entendemos como doença as consequências danosas de uma infecção, e um grande desafio é
descobrir como reconhecer esse estado. O processo de patogênese será específico para cada vírus e
para cada célula que estiver sendo discutida. Por isso, discutiremos aqui aspectos e conceitos gerais
relacionados à patogênese viral, para, depois, detalhar alguns aspectos em exemplos.

Autor: Mojpe / Fonte: Pixabay


TROPISMO

O processo de patogênese se inicia quando as proteínas da partícula viral (vírion) conseguem se ligar e
interagir com receptores específicos presentes na superfície celular, em um mecanismo que pode ser
relacionado a uma chave e sua fechadura. Porém, não apenas isso, pois os próprios fatores virais que
serão responsáveis por sua replicação também estão “calibrados" para tipos específicos de células.
Isso implica no seguinte: cada vírus será capaz de infectar tipos específicos de células para as quais
sua evolução o direcionou – chamamos isso de tropismo.

VIRULÊNCIA

É a capacidade que um vírus tem de causar doença em seu hospedeiro. Devemos ficar atentos ao fato
de que, não necessariamente, os sinais e sintomas de uma doença são causados pela infecção em si;
às vezes, trata-se de uma consequência da virulência. Muitos desses sinais/sintomas são, na verdade,
resultado da ação do sistema imunológico para eliminar a infecção. A febre e as dores que sentimos
quando estamos com gripe são o resultado da resposta inflamatória causada pelo próprio sistema
imunológico com o objetivo de eliminar o Influenza.

A maior parte dos antigripais vendidos em farmácias atuam no sentido de abrandar esses sintomas,
mantendo-os sob controle. Esses medicamentos não atuam diretamente contra o Influenza, que, na
ausência de fatores de risco associados, causa normalmente infecções autocontidas. Existem
medicamentos que podem atuar diretamente no Influenza, que são os chamados antivirais, os quais
são utilizados para diminuir a quantidade de vírus no indivíduo, reduzindo o risco de complicações,
principalmente quando há necessidade de internação.

Autor: Jarun Ontakrai / Fonte:Shutterstock

Também pelos motivos expostos anteriormente, é preciso compreender que a virulência é uma medida
relativa. Ela vai ser influenciada por vários fatores associados a cada vírus e ao hospedeiro, podendo
ser mais alta ou mais baixa em determinadas situações.

ALGUNS FATORES QUE INFLUENCIAM A


VIRULÊNCIA SÃO:

CARGA VIRAL NO MOMENTO DA INFECÇÃO


FORMA DA INFECÇÃO
IDADE
GÊNERO
SUSCEPTIBILIDADE DO HOSPEDEIRO
No contexto da pandemia de SARS-CoV-2, você já deve ter visto termos como “grupo de risco” ou “de
risco aumentado” para definir pessoas que têm maior possibilidade de desenvolver formas graves da
COVID-19. São termos imprecisos, que não dever ser utilizados, sob o risco de trazer entendimento
errado a respeito do assunto.

Na verdade, no decorrer da pandemia, observou-se que algumas condições clínicas favorecem o


desenvolvimento de formas graves da doença, como idade avançada, hipertensão arterial e outras
comorbidades. Os dados mostram que a maioria das pessoas que se infectam com o SARS-CoV-2
apresentam sintomatologia discreta ou ausente. Porém, a chance de desenvolver a forma grave da
COVID-19 aumenta quanto mais condições clínicas de risco estiverem associadas à infecção (BRASIL,
2020).

Autor: Bao_5 / Fonte: Pixabay

FATORES GENÉTICOS QUE INFLUENCIAM A


VIRULÊNCIA NO VÍRUS E NO HOSPEDEIRO

Um grande desafio é identificar quais são os fatores genéticos, no vírus e no hospedeiro, que afetam a
virulência. No entanto, com o advento da genética, foi possível entender, com cada vez mais detalhes,
como certos genes afetam a virulência.

Estes fatores acometerão aspectos da infecção, como a replicação viral, a capacidade do vírus de
invadir a célula hospedeira, o tropismo, as alterações nas defesas do hospedeiro, o favorecimento para
expansão viral no hospedeiro, além de influenciar os processos de morte celular. Podemos ressaltar
que esses fatores genéticos não são, necessariamente, genes.

 EXEMPLO

Um exemplo de fator viral relacionado à virulência é a região do genoma do vírus da poliomielite


(paralisia infantil), que é responsável por capturar os ribossomos no citoplasma da célula e expressar
as proteínas virais (região 3’ UTR). No vírus utilizado nas vacinas contra a paralisia infantil, esse local
sofreu uma metamorfose que aboliu essa função. Dessa maneira, o vírus perde a sua virulência e pode
ser utilizado para imunizar pessoas, conferindo proteção contra a infecção de uma variante selvagem
do vírus.

Autor: frank60 / Fonte: Shutterstock

A grande variabilidade genética de alguns vírus também é um fator que pode favorecer a virulência. As
dinâmicas populacionais de alguns vírus apresentam uma dinâmica que denominamos quasispécie.
Como resultado das altas taxas de mutações que eles sofrem, emergem partículas com variações que
tornam o vírus mais apto a se manter naquele ambiente, sendo capaz de evadir o sistema imunológico,
alterar o tropismo viral e expressar genes que tornem mais eficiente a replicação.

Pense na quasispécie viral como um balde de pipocas. Cada pipoca é um pouco diferente uma da
outra, mas conjuntamente ainda são pipocas. Essa analogia tem mais sentido ainda quando pensamos
que uma das características do HIV é ser um vírus com alta taxa de mutações. Após a infecção, o
sistema imunológico desenvolve anticorpos neutralizantes contra as proteínas presentes no envelope
viral. No entanto, com a alta taxa de mutações do HIV, essas proteínas logo se modificam, e passam a
escapar dos anticorpos.

Durante o período de infecção, as quasispécies virais existem na forma de subpopulações. No entanto,


existem eventos que denominamos “gargalos", ou seja, um obstáculo (por exemplo, o sistema
imunológico) que é capaz de conter grande parte da população viral. No entanto, os vírus que
conseguem atravessar esse empecilho continuam a se replicar, e, dessa forma, tornam-se a
população viral majoritária (Figura 2).

Fonte: Autor
 Figura 2: Diagrama explicativo de um evento de “gargalo”. Existem diferentes populações virais em
um organismo (representado pela garrafa). Após um evento de seleção, apenas alguns vírus de
populações minoritárias conseguem atravessar o gargalo da garrafa, e a população majoritária deixa de
existir (no desenho representada em amarelo e azul).

POPULAÇÕES:

População original

Evento de gargalo

População sobrevivente

A vantagem evolutiva das quasispécies não se aplica apenas à ação de anticorpos. No caso da
infecção pelo HIV, existem variantes minoritárias do vírus que podem se tornar as majoritárias por
causa da pressão seletiva dos medicamentos antirretrovirais usados para o tratamento da infecção.

E SOBRE O HOSPEDEIRO? QUAIS SÃO OS FATORES GENÉTICOS QUE PODEM AFETAR A VIRULÊNCIA?

Existem muitos mecanismos que conferem resistência natural contra certas infecções. Um exemplo
bastante notável pode ser mencionado em relação ao HIV. Para que o vírus possa infectar uma célula,
as proteínas do envelope viral precisam se encaixar a um receptor e um correceptor que existem na
membrana das células para as quais o vírus apresenta tropismo.
O receptor é a proteína CD4, e o correceptor é o CCR5. Algumas pessoas (4-16% dos descendentes
de europeus) possuem uma deleção no gene que expressa o CCR5. Por isso, esses indivíduos
possuem resistência natural à infecção pelo HIV, que não consegue invadir suas células.

De fato, o primeiro caso de cura funcional do HIV foi um homem (o chamado “paciente de Berlim”) que,
ao fazer um tratamento de leucemia, recebeu células de medula de um doador que possuía a mutação
no CCR5. Dessa forma, ele não produz mais vírus e não precisa mais tomar a terapia antirretroviral.
Isso abriu caminho para cientistas trabalharem no desenvolvimento de possibilidades de cura para
pessoas que vivem com HIV usando terapias genéticas. Em 2020, cientistas anunciaram um segundo
caso de cura da infecção pelo HIV, o chamado “paciente de Londres”, que manteve a indetectabilidade
do vírus HIV no sangue após um transplante semelhante ao que foi feito no paciente de Berlim.

Autor: StudioMolekuul / Fonte:Shutterstock


 Molécula da droga Maraviroc, um fármaco anti-retroviral que pertence à família dos inibidores da
CCR5 (inibidores de citoquinas)
NESTE VÍDEO, VOCÊ CONHECERÁ UM POUCO
MAIS SOBRE OS TIPOS DE INFECÇÕES VIRAIS.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. EM RELAÇÃO À VIRULÊNCIA VIRAL, QUAL AFIRMATIVA ESTÁ INCORRETA?

A) O SARS-CoV-2 é mais virulento que o vírus Influenza.

B) É a capacidade de um vírus em causar a doença no hospedeiro.


C) Pode ser influenciada por fatores como a via da infecção, a idade, o gênero e outros fatores
associados.

D) Pode ser avaliada pela intensidade dos sintomas da doença.

2. A FEBRE AMARELA É UMA DOENÇA CAUSADA PELA INFECÇÃO PELO


FLAVIVIRUS FEBRICIS, UM VÍRUS MEMBRO DA FAMÍLIA FLAVIVIRIDAE. ESSE
VÍRUS OCORRE EM POPULAÇÕES DE MACACOS QUE VIVEM EM FLORESTAS
TROPICAIS, CAUSANDO NELES A FEBRE AMARELA SILVESTRE.
OCASIONALMENTE, O VÍRUS É TRANSMITIDO PARA SERES HUMANOS,
CAUSANDO A CHAMADA FEBRE AMARELA URBANA.

SOBRE OS MOSQUITOS, OS MACACOS E OS HUMANOS, A CORRELAÇÃO


CORRETA É:

A) Vetor; hospedeiro; reservatório.

B) Hospedeiro; vetor; reservatório.

C) Vetor; reservatório; hospedeiro.

D) Reservatório, vetor; hospedeiro.

GABARITO

1. Em relação à virulência viral, qual afirmativa está incorreta?

A alternativa "A " está correta.

A virulência é uma medida relativa, não sendo possível comparar este parâmetro em dois vírus
diferentes.

2. A febre amarela é uma doença causada pela infecção pelo Flavivirus febricis, um vírus
membro da família Flaviviridae. Esse vírus ocorre em populações de macacos que vivem em
florestas tropicais, causando neles a febre amarela silvestre. Ocasionalmente, o vírus é
transmitido para seres humanos, causando a chamada febre amarela urbana.

Sobre os mosquitos, os macacos e os humanos, a correlação correta é:

A alternativa "C " está correta.

Vetores são a “ponte" entre a transmissão de um vírus de hospedeiro para hospedeiro. Insetos
hematófagos são vetores de diversas doenças, incluída aí a febre amarela. Reservatórios são
populações que ocorrem naturalmente e que carreiam determinado vírus, o qual, ocasionalmente, pode
sofrer uma mutação que lhe permite infectar outras espécies de animais ou plantas; no caso, os
macacos. O ser humano é o hospedeiro final do vírus na cadeia de transmissão da febre amarela do
ambiente silvestre para o urbano.

MÓDULO 2

 Descrever os tipos de respostas imunológicas contra vírus

e o escape viral do sistema imunológico

RAINHA VERMELHA
Em um texto no seu antigo blog, o Rainha Vermelha, o biólogo Átila Iamarino explica a origem desse
nome. Em evolução, existe um conceito chamado de Hipótese da Rainha Vermelha, que pega
emprestado a personagem do livro Alice através do espelho, que diz uma frase célebre:

“NESTE PAÍS, VOCÊ TEM QUE CORRER O MÁXIMO QUE


PODE PARA PERMANECER NO MESMO LUGAR.”

(CARROLL, 2008)

O evolucionista Leigh Van Valen usou essa ideia para, em 1973, explicar situações na natureza onde
duas espécies em competição evoluem de maneira que a competição se mantém estável, ou seja,
coevoluem.

Essa ideia também pode ser aplicada para a relação parasita-hospedeiro, principalmente no que se
refere aos mecanismos de defesa contra vírus. Existe uma corrida entre o vírus e o sistema
imunológico. Para infectar nossas células, o vírus precisa vencer os obstáculos impostos pelas defesas
do organismo, e, para isso, ele muda.

Quase todo ano, o vírus da gripe, o Influenza, muda, e assim ganha potencial para causar uma nova
epidemia. A Organização Mundial da Saúde analisa, todos os anos, os principais tipos de vírus da gripe
que estão em circulação para criar uma vacina mais efetiva. Dessa forma, devemos nos vacinar contra
a gripe anualmente, pois as vacinas são “atualizadas” de acordo com as mutações sofridas pelos vírus.

No módulo anterior, conhecemos os tipos de infecção que os vírus causam, como eles são transmitidos
e que fatores podem contribuir para a infecção. Agora, vamos entender como funcionam os
mecanismos que o organismo humano dispõe para se defender dessas infecções e quais estratégias
os vírus utilizam para escapar dessas defesas.

MECANISMOS DE DEFESA NATURAIS CONTRA


VÍRUS
Podemos dizer que as defesas do organismo se compõem em um conjunto de barreiras que tem o
objetivo de bloquear uma infecção viral, que, por conseguinte, deve superar essas barreiras para
conseguir infectar as células do organismo (Figura 3).

Além disso, devemos lembrar que o organismo está constantemente exposto a agentes virais e que
estratégias de defesa mais complexas (como anticorpos) demoram tempo para serem montadas. Por
isso, também existe um timing para cada linha de defesa. Algumas são de efeito imediato, outras
podem demorar alguns minutos, ou algumas horas. Já outras podem levar horas ou dias.

Fonte: adaptado de: FLINT et al., 2015


 Figura 3: Diagrama contendo os diferentes níveis de defesas do organismo contra vírus, divididas
em defesas anatômicas e químicas, intrínsecas, imunidade inata e imunidade adquirida. Repare que
essas defesas têm diferentes tempos para serem acionadas e, algumas delas, atuam continuamente na
proteção contra infecções, enquanto outras demoram algum tempo para serem ativadas.

CONFORME JÁ DISCUTIMOS, PARA INFECTAR UMA


CÉLULA, UM VÍRUS DEVE, PRIMEIRO, TRANSPOR
UMA SÉRIE DE OBSTÁCULOS, OU BARREIRAS, QUE
PROTEGEM O ORGANISMO. ACOMPANHE MAIS
ALGUNS DETALHES:

A primeira linha de defesa do organismo são as barreiras físicas impostas ao patógeno, sejam
barreiras anatômicas (pele), sejam químicas (ácidos gástricos).

A primeira delas é a própria pele, que se configura o maior órgão do corpo humano.

Externamente, a pele é composta por uma camada de queratina, formada por células mortas, que
protege a camada de células vivas que está logo abaixo e que é rica em capilares sanguíneos, os quais
fazem as trocas de gases e o transporte de alimentos para as células que habitam essa camada.

A camada queratinizada ainda é habitada por microrganismos comensais que também atuam na
defesa, produzindo as substâncias conhecidas como defensinas, que têm ação contra certos vírus,
embora existam estudos demonstrando que a ação dessas substâncias pode favorecer a infectividade
de alguns vírus. As bactérias comensais que existem no trato digestório também produzem defensinas.

Partículas virais que sejam depositadas sobre a pele também podem ser lavadas com o uso de água e
sabão. Sendo assim, com algumas exceções, um vírus apenas será capaz de atravessar essa barreira
anatômica caso ela não esteja íntegra. Cortes, lesões e punções (como picadas de insetos e agulhas)
podem servir de porta de entrada dos agentes virais no organismo.
As mucosas também são portas de entrada importantes para os vírus. Altamente vascularizadas e com
muitas células expostas, os tecidos mucosos ocupam grande extensão no corpo, estando presentes
nas vias digestória e respiratória, no trato genital e em outras regiões do corpo.

O muco secretado nesses tecidos se configura uma proteção importante contra as infecções virais,
atuando como barreiras físicas entre o vírus e as células da mucosa, atuando também como um
sistema “autolimpante”, pois o muco ajuda a levar impurezas para fora do tecido, seja pela ação de
células ciliadas, cujo movimento direciona o muco para fora do corpo, seja por espirros, tosse e pelo
fluxo de secreção de muco.

A lágrima e a saliva também são secreções importantes para proteção da conjuntiva ocular e da
mucosa oral contra infecções. Sua composição inativa certos vírus, e elas também têm função de
limpeza da conjuntiva ocular e da boca.

A Figura 4 traz um resumo dos possíveis pontos de entrada de vírus no organismo.

Figura 4: Possíveis sítios de entrada de vírus no organismo. A pele é um órgão impermeável, composto
por uma camada de células mortas queratinizadas. Essa camada protege a camada inferior, que
contém células vivas. Apesar disso, existem formas que os vírus podem explorar para invadir o
organismo e acessar tecidos com células que podem ser infectadas.

Fonte: adaptado de: FLINT et al., 2015

 ATENÇÃO

Você já deve ter escutado que estações frias e secas favorecem a infecção por patógenos respiratórios.
O motivo é que essas condições reduzem a motilidade das células ciliadas do sistema respiratório,
diminuindo a eficiência da proteção mucosa. Com isso, a capacidade de limpeza das vias aéreas fica
prejudicada, o que, associado a outros fatores ambientais ou ao indivíduo (como poluição ambiental e
fumo), favorece a instalação de infecções.

MECANISMOS DE DEFESA INTRÍNSECOS DAS


CÉLULAS

DEFESAS INTRÍNSECAS: são aquelas que sempre estão presentes na célula, mesmo quando não há
infecção. São mecanismos de defesa de uma categoria diferente da imunidade inata, que precisa do
reconhecimento do patógeno e da expressão de certos genes associados para que possa cumprir sua
função.

Entre os mecanismos de defesa intrínseca, estão o RNA interferente (RNAi), o CRISP (do inglês
Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats), as proteínas da família APOBEC, a morte
celular programada (apoptose), autofagia e proteínas com ação antiviral.
Vamos falar brevemente sobre alguns desses mecanismos e como o vírus escapa de alguns deles.

RNA INTERFERENTE
O RNA interferente (RNAi) é um mecanismo celular que funciona por meio de pequenas moléculas de
RNA associadas a um complexo proteico denominado RISC e a uma proteína chamada argonauta, que
é capaz de clivar o RNA. A partir daí, esse complexo será capaz de reconhecer moléculas de RNA
mensageiro complementares ao RNA do complexo e degradá-los. Essas moléculas têm uma ação
importante na regulação da expressão gênica e, em alguns organismos, também desempenham um
papel na defesa contra infecções virais.

Quando um vírus de RNA acessa o interior da célula, existem proteínas celulares chamadas Dicer que
são capazes de clivar esse RNA em pequenas moléculas. Esses pequenos fragmentos de RNA viral
são adicionados ao complexo RISC/Argonauta e passam a reconhecer por complementaridade outras
moléculas de RNA no citoplasma, antes que os mesmos possam ser expressos (Figura 5). No entanto,
alguns vírus têm a capacidade de produzir proteínas que se ligam ao complexo RISC/Argonauta,
abolindo sua ação, evadindo essa forma de defesa.

Fonte: adaptado de KNIPE, 2013

Figura 5: diagrama contendo o mecanismo de ação do RNAi. Em plantas e invertebrados, o RNAi faz
parte do sistema de reconhecimento e combate a vírus de RNA. O RNA do vírus é reconhecido pela
proteína Dicer e processado; ele então se associa ao complexo RISC e argonauta e passa a
reconhecer outras moléculas de RNA virais e destruí-las.

CRISP
O CRISP é um mecanismo que também tem papel antiviral apenas para plantas e invertebrados:
reconhecer sequências específicas de DNA e clivar esse DNA. Como resultado, o genoma viral perde
sua capacidade de ser usado para gerar as proteínas virais.

A descoberta do RNAi e do CRISP foram de enorme relevância para a ciência, uma vez que ambos
possuem aplicações em laboratório. Os RNAi podem ser usados em experimentos que necessitem de
silenciamento gênico, o que permite aos cientistas estudarem vias metabólicas ao silenciarem
proteínas específicas dessas vias e avaliar seus efeitos. Já o CRISP inaugurou a era da edição
genética. Essas ferramentas moleculares permitem a edição do DNA com grande precisão, tornando
possível manipular o DNA de diferentes células, além de poder usá-lo para o desenvolvimento de
novos tratamentos para doenças.

PROTEÍNAS DA FAMÍLIA DAS APOBEC


As proteínas da família das APOBEC têm a capacidade de causar mutações em genomas virais
compostos por RNA. Essas proteínas são construtivamente produzidas em vários tipos celulares; no
entanto, a expressão dos genes que codificam as proteínas APOBEC pode ser aumentada pela ação
de citocinas, como os interferons tipo II. As APOBEC são encapsuladas na partícula viral. Uma vez lá
dentro, ela deamina os resíduos de citosina no RNA viral, fazendo com que eles sejam reconhecidos
como uracilas pela RNA polimerase viral, que incorporará uma adenina ao RNA, causando muitas
mutações, as quais abolirão o funcionamento desse RNA. Apesar disso, vírus como o HIV-1 tem
proteínas que sequestram a APOBEC, impedindo que ela seja encapsulada na partícula viral e
impedindo sua ação antiviral.

APOPTOSE
A morte celular programada, também conhecida como apoptose, pode ser induzida pelas várias
alterações metabólicas que um vírus provoca na célula. Essas alterações podem emitir uma variedade
de sinais que ativam mecanismos intrínsecos (de dentro da célula) e extrínsecos (de fora da célula) de
indução da apoptose. Para garantir que a célula sobreviva o suficiente para gerar suas partículas virais,
alguns vírus possuem mecanismos para bloquear a apoptose, como produzir proteínas análogas a
proteínas celulares anti-apoptose.

IMUNIDADE INATA

Autor: peterschreiber.media / Fonte: Shutterstock

A imunidade inata tem a característica de ser ativada em pouco tempo, ou seja, em minutos ou horas
após a infecção. Esse tipo de resposta é não específica, isso quer dizer que os mecanismos envolvidos
nesse tipo de imunidade serão similares para todos os patógenos. A resposta inata dependerá de
vários tipos de células, como neutrófilos, células dendríticas, mastócitos, basófilos, macrófagos, células
NK (Natural Killer), monócitos e eosinófilos. Além da resposta celular, o sistema complemento também
faz parte da imunidade inata.

As células NK constituem uma das primeiras linhas de defesa do organismo, pois exercem sua ação
sem a necessidade de sensibilização prévia. Dentre as funções das células NK, inclui-se a ação
citotóxica e a produção de quimiocinas e de citocinas imunorregulatórias para o recrutamento de outras
células, como neutrófilos e macrófagos, e para o processo de ativação de células dendríticas, dos
linfócitos B e T, de forma que esses possam exercer sua ação.

Uma importante característica da imunidade inata é a capacidade de reconhecer os elementos


estranhos ao organismo (antígenos) e diferenciá-los dos elementos do próprio organismo. Isso é
possível graças à ação de receptores celulares (Tabela 3) capazes de reconhecer os chamados PAMP
(Pathogen Associated Molecular Pattern – padrão molecular associado a patógeno).

Tabela 3: Principais receptores para reconhecimento de padrões na célula.

Receptor Localização Ligantes

Receptores
Proteínas transmembrana, Reconhece proteinoglicanas, que
semelhante à
localizadas na membrana compõem a parede celular de
lectina-C (Lectin-
plasmática fungos e algumas bactérias.
C-Type receptors)

Receptores Receptores transmembrana Amplo espectro de proteínas,


semelhantes ao presentes tanto na membrana ácidos nucleicos e proteoglicanas
Toll (Toll-like plasmática quanto em
receptors) endossomos

Receptores Capazes de reconhecer PAMP


semelhantes a Receptores citoplasmáticos bacterianos, fúngicos e virais, além
NOD (NOD-like com múltiplas subfamílias de ácidos nucleicos bacterianos e
receptors) virais

Receptores
semelhantes a
Sensores citoplasmáticos RNA viral
RIG-I (RIG-I-like
receptors)


Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal

Esses receptores podem estar tanto associados a células de defesa do corpo como solúveis e na
circulação. No caso dos vírus, os PAMP mais importantes são os ácidos nucleicos virais, que têm
características particulares o suficiente para serem reconhecidos pelos receptores de reconhecimento
de padrões.

Os receptores Toll-like foram os primeiros a serem reconhecidos; são receptores que estão presentes
na membrana da célula e em endossomos. Imediatamente após reconhecer um patógeno, o receptor
sinaliza para a expressão de genes para produzir interferon do tipo 1 (Figura 6).

Fonte: adaptado de: FLINT et al., 2015


Já os receptores RIG-I são citoplasmáticos e têm a função de reconhecer material genético viral neste
meio, desencadeando a cadeia para expressão do interferon beta (Figura 7).

Figura 7: Representação esquemática da cascata de sinalização do receptor RIG-I e do receptor


MDAS. No citoplasma, esse receptor é capaz de reconhecer espécies “estranhas" de ácidos nucleicos
e, a partir daí, inicia a sinalização para fosforilar fatores de transcrição, que migrarão para o núcleo e
irão estimular a expressão do interferon beta.

Para a resposta antiviral, as principais citocinas são os interferons e as quimiocinas. Estas moléculas
têm a função de regular a expressão de genes em outras células e, no caso de uma infecção viral,
estabelecer respostas antivirais. Por isso, alguns vírus possuem mecanismos específicos para modular
essa resposta e interromper a produção de citocinas. Como os vírus das hepatites B e C, que têm a
capacidade de bloquear a sinalização dos receptores RIG-I ao clivar o receptor mitocondrial MAVS,
interrompendo o processo de ativação dos fatores de transcrição que atuariam no gene do interferon
beta.

Fonte: adaptado de: FLINT et al., 2015

O QUE SÃO CITOCINAS?


São sinalizadores celulares que necessitam de receptores de membrana específicos para serem
reconhecidos pelas células. Na infecção viral, essas citocinas sinalizarão para que outras células do
sistema imunológico cheguem ao local da infecção e desencadeiem a resposta antiviral nas células
infectadas, podendo induzir a expressão de genes de resistência e apoptose da célula.
A produção de interferon é rápida, mas a meia-vida dessa molécula é curta (por volta de 10 horas). Na
verdade, muitos dos sintomas de uma “virose" são decorrentes da ação do Interferon, por isso uma
ação demorada dessa molécula acabaria deixando de ter efeito no combate ao vírus e passaria a
prejudicar o organismo.

Existem três tipos de interferon:

INTERFERON TIPO 1
(que pode ser alfa ou beta);

INTERFERON TIPO 2
(gama)

INTERFERON TIPO 3
(lambda)

 ATENÇÃO

É importante lembrar que o Interferon não tem efeito direto nas partículas virais. Na verdade, cada tipo
de interferon será reconhecido por um receptor específico na membrana da célula, e o reconhecimento
levará à formação de um complexo proteico na membrana que disparará cascatas de sinalização que
estimularão a produção de mais de mil proteínas celulares, incluindo os genes de resposta ao
interferon. Muitas dessas proteínas e genes ainda não têm função conhecida.

Alguns desses genes de resposta ao interferon expressam proteínas importantes para a resistência da
célula à infecção viral. Como, por exemplo, a teterina, que é uma proteína que impede a entrada do
vírus na célula. Outra proteína importante é a IFIT1, que bloqueará a tradução de RNA viral no
citoplasma. Alguns vírus possuem mecanismos para escapar da IFIT1, como, por exemplo, estruturas
secundárias em seus RNAs mensageiros, que impedem o ancoramento da IFIT1.

APESAR DE SEUS EFEITOS BENÉFICOS, A


PRODUÇÃO DE INTERFERON TEM GRANDES
RISCOS, POIS:
A maioria das células possui receptores para interferon; isso aliado ao fato de que ele induz a
expressão de genes com efeitos deletérios pode ter riscos de uma reação exacerbada sistêmica.

Os interferons induzem efeitos fisiológicos fortes: febre, calafrios e náuseas.

Toda infecção viral leva à produção de interferon, daí a razão de serem comuns os sintomas de
“viroses".

As células dendríticas têm a função de vagar pelos tecidos em uma forma imatura, sendo
principalmente atraídas por regiões onde citocinas estejam sendo produzidas. Ao entrar em contato
com as citocinas liberadas pelas células infectadas e com o antígeno que está no local, a célula
dendrítica é ativada e sofre seu processo de maturação.

As células dendríticas são as primeiras células a chegarem a um sítio infeccioso e atuam como uma
ligação entre o sistema imune inato e o adaptativo. Isso se deve ao fato de as células dendríticas serem
altamente especializadas na captura e apresentação dos antígenos presentes nos patógenos para os
linfócitos T, que fazem parte da resposta imune adaptativa. Por outro lado, as células dendríticas são
atraídas e ativadas por fatores da resposta inume inata. Quando capturados, os antígenos são
processados no interior da célula dendrítica e, posteriormente, são apresentados à superfície celular e
inseridos nas moléculas do Complexo Principal de Histocompatibilidade.

Fonte: Autor
 Figura 8: Representação esquemática do processo de maturação da célula dendrítica. A célula
imatura iniciará seu processo de maturação após atingir o local onde está acontecendo a infecção e
entrar em contato com o antígeno viral (partículas ou proteínas virais), citocinas inflamatórias
produzidas pelas células infectadas ou com fragmentos de células mortas. Os antígenos virais que
foram encapsulados em endossomos são processados pelo MHC, e a célula sofre seu processo de
maturação. Então, a célula madura migra para o linfonodo, onde apresentará o antígeno para as
células T naipe, que se encontram no órgão, tornando-se células T ativadas, aptas a capitanear a
resposta imunológica adaptativa.

RESPOSTA ADAPTATIVA
Em resumo, as principais características que diferem a resposta imune inata da resposta imune
adaptativa estão relacionadas à (ALAM; GORSKA, 2003):

Especificidade de reconhecimento antigênico;

Diversidade do repertório dos receptores antigênicos;

Capacidade de expansão clonal;

Adaptação a mudanças ambientais;

Memória imunológica.

O sistema imune adaptativo é composto por um pequeno número de células com especificidade para
patógenos individuais, toxinas ou alérgenos. A resposta executada por esse sistema não é tão rápida
em comparação à resposta imune inata, pois as células efetoras, que realizam essas funções, devem
ser sensibilizadas e se proliferarem até atingir um número suficiente de clones celulares para que
ocorra uma resposta efetiva.

O sistema imune adaptativo produz células com vida longa que persistem em um estado latente, mas
que podem re-expressar suas funções efetoras de forma rápida após outro contato com o antígeno
específico, mesmo que esse segundo contato aconteça muito tempo após o primeiro. É dessa forma
que funciona o princípio da vacinação. Introduzimos de maneira controlada partes de microrganismos,
microrganismos completos inativados ou ainda suas toxinas, para estimular o sistema imune, de modo
que este seja capaz de montar uma defesa contra esse antígeno.

Autor: SciePro / Fonte:Shutterstock

Quando o indivíduo entra em contato com este antígeno novamente, ele já possui mecanismos efetores
eficientes para protegê-lo, prevenindo, assim, que a doença se instale no organismo. Isso acontece
pela geração da memória imunológica, ou seja, nosso sistema imune é capaz de armazenar uma
memória para cada antígeno apresentado ao logo da vida, sendo capaz de se defender e combater os
diversos antígenos existentes.

A resposta imune adaptativa baseia-se em duas classes de células especializadas: os linfócitos B e os


linfócitos T. A elevada quantidade dessas células no organismo e a alta diversidade de repertório dos
receptores dessas células fazem com que haja grandes chances de um desses linfócitos encontrar um
antígeno que se ligue a esse receptor e, assim, desencadear os processos de ativação e proliferação
das células (expansão clonal), as quais são extremamente necessárias para a geração de uma
resposta adaptativa eficiente.

No entanto, esse processo de expansão clonal não é rápido, pois o organismo necessita de três a cinco
dias para produzir quantidade suficiente de clones celulares e para estes se diferenciarem em células
efetoras. Dessa forma, para que os patógenos não provoquem danos excessivos no hospedeiro, a
resposta imune inata entra em ação imediatamente após a identificação do patógeno no organismo e
atua na destruição dos microrganismos, até que a resposta imune adaptativa esteja pronta para
começar a exercer sua função.

A imunidade adaptativa atua por meio de dois tipos de resposta: a humoral (que é mediada por
anticorpos produzidos pelas células plasmocitárias, que se desenvolveram a partir dos linfócitos B), e a
celular (que é mediada pelos linfócitos T).

COMO SÃO PRODUZIDOS OS ANTICORPOS DA RESPOSTA IMUNE HUMORAL?

Na ausência de reconhecimento contra algum antígeno, as células B permanecem circulando no


sangue periférico no estado latente (células B virgens) (PARRA, 2009).
São necessários dois sinais para que o linfócito B virgem se ative (MESQUITA JÚNIOR et al., 2010):

O primeiro é a ligação do receptor de células B (BCR) a um antígeno;

O segundo provém de duas cadeias peptídicas a Igα (CD79a) e a Igβ (CD79b), que dão início à
sinalização intracelular.

Após a ativação pelo antígeno, algumas células se transformam em células B de memória, pois
adquirem a capacidade de sobreviver por grandes períodos sem necessitar de contínuo estímulo
antigênico. Essas células são geradas nos centros germinativos e atuam montando uma resposta
rápida na presença do mesmo antígeno frente a uma segunda exposição. Algumas células B, que
proliferaram em resposta a antígenos, diferenciam-se em células plasmocitárias, e essas células são as
secretoras dos anticorpos (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2011).

Os anticorpos também são chamados de imunoglobulinas e constituem-se de duas cadeias pesadas e


duas cadeias leves unidas por pontes dissulfeto. Existem cinco tipos de cadeias pesadas que formam a
região constante (Fc): α, γ, δ, ε e µ. Essas cadeias definem as classes de imunoglobulina IgA, IgG, IgD,
IgE e IgM, respectivamente.

Autor: peterschreiber.media / Fonte:Shutterstock

As cadeias leves são de dois tipos: κappa (κ) e lambda (λ). A especificidade de ligação ao antígeno é
definida pela porção variável (Fab) da molécula, constituída pela união das regiões variáveis das
cadeias leve e pesada da imunoglobulina (Figura 9).

As propriedades características de cada classe de imunoglobulina podem ser vistas na Tabela 4. Nas
respostas primária e secundária, há a produção dos isotipos IgM e IgG. Na fase aguda da resposta à
infecção (resposta primária), a IgM é a principal imunoglobulina produzida, e a IgG é encontrada em
pequena quantidade e eleva-se mais tardiamente. Já na resposta secundária, a IgG é a imunoglobulina
predominante (anticorpo de memória). Nas duas respostas, a concentração sérica de IgM diminui
rapidamente, e, após cerca de uma ou duas semanas, observa-se queda bastante acentuada,
enquanto a produção de IgG é persistente e pode ficar elevada por longos períodos.

Fonte: Autor
 Figura 11: Representação esquemática de uma imunoglobulina demonstrando as cadeias leves e
pesadas, região variável e constante e locais de ligação às células e ao antígeno.

Tabela 4: Características básicas das classes de imunoglobulinas

Classe Estrutura Propriedades

Encontrada em mucosas dos tratos gastrointestinal, respiratório e


Dimérica
urogenital.

IgA

Previne colonização por patógenos. Presente também na saliva,


Monomérica
nas lágrimas e no leite.

Imunoglobulina de membrana. Faz parte do receptor de


IgD Monomérica
membrana de linfócitos B virgens (BCR).

Envolvida em processos alérgicos e parasitários. Sua interação


IgE Monomérica
com basófilos e mastócitos causa liberação de histamina.

IgG Monomérica Principal imunoglobulina da imunidade adquirida. Tem


capacidade de atravessar a barreira placentária.
Faz parte do receptor de membrana de linfócitos B virgens
Monomérica
(BCR).

IgM

Forma encontrada no soro, secretada precocemente na resposta


Pentamérica
imune adquirida.


Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal

LINFÓCITOS T E A RESPOSTA CELULAR


As células T podem ser divididas em duas subpopulações: as células T CD4+ e as células T CD8+, as
quais reconhecem diferentes classes de MHC.

As células T CD4+ são designadas células T auxiliares (do inglês helper), reconhecem antígenos
apresentados pelo MHC de classe II (HLA-DR, HLA-DP e HLA-DQ) e atuam na ativação da resposta
humoral e celular com o objetivo de eliminar os patógenos (BONILLA; OETTGEN, 2010; CHAPLIN,
2010). Uma porção das células T CD4+ atuam na ativação dos linfócitos B, macrófagos e linfócitos T
CD8+. Outra porção são as células T CD4+, que têm importante papel regulatório e atuam como
moduladores descendentes da resposta imune. Essas células T CD4+ regulatórias (Treg) dividem-se
em dois grupos: Treg naturais e Treg adaptativas.

As células CD8+ reconhecem antígenos apresentados por moléculas de MHC de classe I (HLA-A, HLA-
B e HLA-C), possuem atividade citotóxica contra células infectadas por microrganismos intracelulares e
contra células tumorais e células regulatórias que bloqueiam a ativação e a função de outros linfócitos T
(células T supressoras). As células T CD8+ também apresentam subpopulações com secreção de
diferentes citocinas e, dessa forma, são designadas células T citotóxicas tipo 1 e tipo 2.

A ativação das células T CD8+ virgens para sua diferenciação em células citotóxicas efetoras e células
T de memória exige o reconhecimento do antígeno e de segundos sinais fornecidos pelas células T
CD4+. Como as moléculas de MHC de classe I são expressas em praticamente todas as células
nucleadas, as células T CD8+ citotóxicas reconhecem as células-alvo no contexto das moléculas de
MHC de classe I e destroem essas células por meio da ativação da via da apoptose mediante a rápida
secreção de grânulos de perforinas e granzimas. Em paralelo, essas células também podem levar as
células-alvo à morte por meio da expressão do receptor FasL (CD95), que interage com seu ligante
Fas, que também desencadeia a apoptose.

Autor: ColiN00B / Fonte: Pixabay

As células T de memória são geradas após a resposta a um antígeno específico e podem sobreviver
em um estado latente por anos, ou até mesmo por toda a vida. Quando expostas ao mesmo antígeno,
essas células são capazes de montar uma resposta mais rápida quando comparadas com as células T
virgens.

As células de memória podem ser divididas em células T de memória centrais e células T de memória
efetoras. O primeiro grupo migra predominantemente para os linfonodos; em contato com o antígeno,
essas células apresentam resposta limitada, mas com grande capacidade de proliferação. O segundo
grupo dirige-se principalmente aos tecidos das mucosas, onde, após a estimulação antigênica, produz
citocinas efetoras e, de maneira rápida, diferencia-se em células citotóxicas.

RESPOSTA ADAPTATIVA E OS VÍRUS


Autor: Kateryna Kon / Shutterstock

Como descrito anteriormente, os vírus são agentes intracelulares. Os anticorpos têm papel importante
no combate a essas infecções, pois, após multiplicarem-se em células do hospedeiro infectadas, os
vírus rompem essas células, ficando livres até a penetração em outra célula. Nessa fase extracelular,
os anticorpos podem ligar-se aos vírus e, por meio do mecanismo de neutralização, impedir que eles
penetrem em outra célula não infectada.

Alternativamente, os anticorpos podem ser adjuvantes na resposta imune celular. Quando os anticorpos
se ligam às células infectadas pelo vírus, permitem a ação citotóxica das células NK. Doenças como a
poliomielite, o sarampo e a hepatite B são exemplos desse tipo de resposta. Os anticorpos têm papel
fundamental na resposta contra a infecção quando se trata de um hospedeiro previamente
sensibilizado, seja por imunização, seja devido a uma infecção prévia. Isso ocorre porque, em
indivíduos já sensibilizados, os anticorpos podem interceptar os vírus e impedir a sua ligação com a
célula do hospedeiro.

Devido aos diversos tipos de mecanismos de defesa contra os vírus, grande parte dessas infecções
são assintomáticas ou se apresentam com manifestações inespecíficas, como rash cutâneo e febre.
No entanto, várias infecções virais progridem e podem culminar em dano tecidual importante.

Em muitas infecções virais, a destruição de célula do hospedeiro pode acontecer por mais de um
desses mecanismos: efeito citopático do vírus, reação de hipersensibilidade e fenômenos autoimunes.
Por exemplo, na infecção pelo HIV e nas infecções pelo HCB e HBV, a destruição das células
infectadas é mediada tanto pelo efeito citopático dos vírus como pela de citotoxicidade pelas células NK
e células T CD8+.

A evolução fez com que alguns vírus desenvolvessem uma estratégia para escapar da resposta imune.
No caso do HIV-1, a indução de anticorpos continua sendo um desafio porque o vírus possui
mecanismos de escape que “enganam” as células do hospedeiro, permitindo que sua replicação
continue ativa.

RASH CUTÂNEO:

O rash cutâneo ou exantema é caracterizado pelo aparecimento de manchas avermelhadas em


determinada região ou em todo o corpo.

Um dos empecilhos à ação da resposta imune contra o HIV é o envelope do vírus, que contém uma
camada de lipídeos que funciona como um “escudo” e impede a ação dos anticorpos. Esse escudo
esconde as proteínas essenciais ao vírus (que seriam o alvo dos anticorpos) e deixa expostas outras
regiões virais não essenciais, que podem ser reconhecidas pelos anticorpos, mas sofrem constantes
mutações. Por conta desses mecanismos, as estratégias para produzir uma vacina contra o HIV-1 não
têm apresentado resultados concretos, e a indução de anticorpos que neutralizem o vírus permanece
como um desafio à comunidade científica (MESQUITA-JUNIOR et al., 2010).

Autor: OpenClipart-Vectors / Fonte:Shutterstock


NESTE VÍDEO, VOCÊ CONHECERÁ UM POUCO
MAIS SOBRE AS RESPOSTAS IMUNOLÓGICAS
CONTRA INFECÇÕES VIRAIS.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. COM RELAÇÃO À IMUNIDADE INATA, ANALISE AS AFIRMATIVAS E


ASSINALE “V” PARA AS VERDADEIRAS E “F” PARA AS FALSAS.

(  ) A IMUNIDADE INATA TEM A CARACTERÍSTICA DE SER ATIVADA EM POUCO


TEMPO, OU SEJA, EM MINUTOS OU HORAS APÓS A INFECÇÃO.

(  ) A RESPOSTA IMUNE INATA É ESPECÍFICA, ISSO QUER DIZER QUE OS


MECANISMOS ENVOLVIDOS NESSE TIPO DE IMUNIDADE SERÃO SIMILARES
PARA TODOS OS PATÓGENOS.

(  ) NA RESPOSTA IMUNE INATA, ESTÃO ENVOLVIDAS CÉLULAS COMO


NEUTRÓFILOS, CÉLULAS DENDRÍTICAS, MASTÓCITOS, LINFÓCITO B E
LINFÓCITOS T.

(  ) A IMUNIDADE INATA TEM A CAPACIDADE DE RECONHECER OS


ELEMENTOS ESTRANHOS AO ORGANISMO (ANTICORPOS) E DIFERENCIÁ-LOS
DOS ELEMENTOS DO PRÓPRIO ORGANISMO.

(  ) PARA A RESPOSTA ANTIVIRAL, AS PRINCIPAIS CITOCINAS DA RESPOSTA


IMUNE INATA SÃO OS INTERFERONS E AS QUIMIOCINAS.

ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:

A) V, V, F, F, F.

B) V, F, F, F, V.

C) F, V, V, V, F.

D) V, F, F, V, V.

2. COM RELAÇÃO À IMUNIDADE ADAPTATIVA, ANALISE AS AFIRMATIVAS E


ASSINALE “V” PARA AS VERDADEIRAS E “F” PARA AS FALSAS.

(  ) O SISTEMA IMUNE ADAPTATIVO É COMPOSTO POR UM PEQUENO NÚMERO


DE CÉLULAS COM ESPECIFICIDADE PARA PATÓGENOS INDIVIDUAIS,
TOXINAS OU ALÉRGENOS.

(  ) AS CÉLULAS EFETORAS DA RESPOSTA ADAPTATIVA DEVEM SER


SENSIBILIZADAS E SE PROLIFERAREM ATÉ ATINGIR UM NÚMERO SUFICIENTE
DE CLONES CELULARES PARA QUE OCORRA UMA RESPOSTA EFETIVA.
APESAR DESSE PROCESSO, A VELOCIDADE DESSA RESPOSTA É TÃO
RÁPIDA QUANTO A INATA.

(  ) O SISTEMA IMUNE ADAPTATIVO PRODUZ CÉLULAS COM VIDA LONGA QUE
PERSISTEM EM UM ESTADO LATENTE, MAS QUE EXPRESSAM SUAS
FUNÇÕES EFETORAS DE FORMA RÁPIDA APENAS SE O SEGUNDO CONTATO
COM O ANTÍGENO ACONTECER LOGO APÓS O PRIMEIRO.

(  ) A RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA BASEIA-SE EM DUAS CLASSES DE


CÉLULAS ESPECIALIZADAS: OS LINFÓCITOS B E OS LINFÓCITOS NK.

(  ) A IMUNIDADE ADAPTATIVA ATUA POR MEIO DE DOIS TIPOS DE RESPOSTA:


A HUMORAL (MEDIADA A PARTIR DOS LINFÓCITOS B) E A CELULAR
(MEDIADA POR LINFÓCITOS T).

ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:

A) V, V, F, F, F.

B) V, F, F, F, V.

C) F, V, V, V, F.

D) V, F, F, V, V.

GABARITO

1. Com relação à imunidade inata, analise as afirmativas e assinale “V” para as verdadeiras e “F”
para as falsas.

(  ) A imunidade inata tem a característica de ser ativada em pouco tempo, ou seja, em minutos
ou horas após a infecção.

(  ) A resposta imune inata é específica, isso quer dizer que os mecanismos envolvidos nesse
tipo de imunidade serão similares para todos os patógenos.

(  ) Na resposta imune inata, estão envolvidas células como neutrófilos, células dendríticas,
mastócitos, linfócito B e linfócitos T.

(  ) A imunidade inata tem a capacidade de reconhecer os elementos estranhos ao organismo


(anticorpos) e diferenciá-los dos elementos do próprio organismo.

(  ) Para a resposta antiviral, as principais citocinas da resposta imune inata são os interferons e
as quimiocinas.

Assinale a alternativa CORRETA:

A alternativa "B " está correta.


A resposta imune inata é inespecífica, isso quer dizer que os mecanismos envolvidos nesse tipo de
imunidade serão similares para todos os patógenos. A resposta inata dependerá de vários tipos de
células, como neutrófilos, células dendríticas, mastócitos, basófilos, macrófagos, células NK (Natural
Killer), monócitos e eosinófilos. A imunidade inata tem a capacidade de reconhecer os elementos
estranhos ao organismo (antígenos) e diferenciá-los dos elementos do próprio organismo.

2. Com relação à imunidade adaptativa, analise as afirmativas e assinale “V” para as verdadeiras
e “F” para as falsas.

(  ) O sistema imune adaptativo é composto por um pequeno número de células com
especificidade para patógenos individuais, toxinas ou alérgenos.

(  ) As células efetoras da resposta adaptativa devem ser sensibilizadas e se proliferarem até
atingir um número suficiente de clones celulares para que ocorra uma resposta efetiva. Apesar
desse processo, a velocidade dessa resposta é tão rápida quanto a inata.

(  ) O sistema imune adaptativo produz células com vida longa que persistem em um estado
latente, mas que expressam suas funções efetoras de forma rápida apenas se o segundo
contato com o antígeno acontecer logo após o primeiro.

(  ) A resposta imune adaptativa baseia-se em duas classes de células especializadas: os


linfócitos B e os linfócitos NK.

(  ) A imunidade adaptativa atua por meio de dois tipos de resposta: a humoral (mediada a partir
dos linfócitos B) e a celular (mediada por linfócitos T).

Assinale a alternativa CORRETA:

A alternativa "B " está correta.

As células efetoras da resposta adaptativa devem ser sensibilizadas e se proliferarem até atingir um
número suficiente de clones celulares para que ocorra uma resposta efetiva. Devido a esse processo, a
velocidade dessa resposta não é tão rápida quanto a inata. O sistema imune adaptativo produz células
com vida longa que persistem em um estado latente, mas que expressam suas funções efetoras de
forma rápida, mesmo que esse segundo contato aconteça muito tempo após o primeiro. A resposta
imune adaptativa baseia-se em duas classes de células especializadas: os linfócitos B e os linfócitos T.
MÓDULO 3

 Identificar os mecanismos de imunodepressão

mediada por alguns vírus

MECANISMOS DE IMUNODEPRESSÃO
Vimos, no módulo anterior, que as respostas imunes inata e adaptativa têm papel fundamental na
defesa contra agentes infecciosos e são o principal impedimento para a ocorrência de infecções
disseminadas. No entanto, os vírus possuem mecanismos de escape do sistema imunológico que
“enganam” as células de defesa do hospedeiro e permitem sua replicação dentro do organismo.

Agora, veremos outro aspecto viral, que são os mecanismos pelos quais os vírus levam o organismo a
um estado de imunodepressão e, consequentemente, à deficiência na resposta contra esse agente
agressor.

A resposta imune é a principal barreira contra o desenvolvimento de infecções. É fato que, no ambiente
onde vivemos, o número de pessoas expostas aos diversos microrganismos é superior ao número de
indivíduos que efetivamente desenvolvem uma doença. Essa constatação indica que grande parte dos
indivíduos é capaz de combater esses patógenos e, dessa forma, impedir que a infecção se
desenvolva.

Quando um indivíduo apresenta deficiência imunológica, há susceptibilidade aumentada ao


desenvolvimento de infecções. Evidências demonstram que, em algumas doenças infecciosas, os
principais aspectos patológicos estão relacionados a uma resposta imune ineficaz, e não a uma ação
direta do patógeno.

Você já ouviu os termos imunodepressão e imunossupressão? Os dois têm sido empregados


indistintamente para caracterizar a deficiência do sistema imune. No entanto, existe diferença entre
eles.

IMUNODEPRESSÃO
A imunodepressão pode ser definida como um estado de deficiência do sistema imune para responder
normalmente aos agentes agressores.

A imunodepressão (ou imunodeficiência) primária ou congênita é resultado de alterações genéticas


que culminam no aumento da suscetibilidade às infecções. Esse tipo de imunodeficiência geralmente
se manifesta na infância e adolescência; porém, em alguns casos, pode ser detectado tardiamente. As
imunodeficiências secundárias ou adquiridas não são genéticas, uma vez que se desenvolvem a partir
de certas condições, como desnutrição, neoplasias, tratamento com medicamentos imunossupressores
ou alguns tipos de infecção, como a causada pelo HIV.

IMUNOSSUPRESSÃO 
Já a imunossupressão é o ato de reduzir deliberadamente a atividade ou eficiência do sistema
imunológico. Isso pode ser feito com medicamentos imunossupressores, por exemplo.

A imunossupressão é geralmente feita para coibir a rejeição em transplantes de órgãos ou para o


tratamento de doenças autoimunes, como lúpus, artrite reumatoide, entre outras. No entanto, com o
sistema imunológico praticamente desativado, o indivíduo imunossuprimido fica vulnerável a infecções
oportunistas.

INFECÇÃO PELO VÍRUS HIV


A infecção pelo HIV leva os indivíduos a desenvolverem a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
(Aids), que se caracteriza pela imunodepressão profunda associada a infecções oportunistas, a
tumores malignos e a degeneração do sistema nervoso central.

O vírus HIV pertence ao gênero Lentivirus e à família Retroviridae. Os vírus pertencentes a esse
gênero tipicamente desenvolvem doenças de curso crônico, que apresentam um longo período de
latência clínica e persistência da replicação viral.

O HIV PODE SER DE DOIS TIPOS: HIV-1 E HIV-2. O


TIPO 1 TEM DISTRIBUIÇÃO MUNDIAL, AO
CONTRÁRIO DO TIPO 2, QUE É MAIS FREQUENTE
EM ALGUMAS REGIÕES AFRICANAS (REQUEJO,
2006; FANALES-BELASIO ET AL., 2010). ESSES
VÍRUS POSSUEM:
Um gene denominado gag, que codifica proteínas estruturais do capsídeo (p24, p7 e p6) e da matriz
(p17);

Genes env, que codificam glicoproteínas do envelope viral (gp120 e gp41), responsáveis pelo
reconhecimento dos receptores de superfície celular;

Genes pol, que codificam enzimas essenciais para a replicação viral, como a transcriptase reversa, que
converte o RNA viral em DNA, a integrase, que incorpora o DNA viral no DNA cromossômico do
hospedeiro (pró-vírus), e a protease, que cliva as proteínas precursoras Gag e Pol em seus
componentes efetores. (REQUEJO, 2006; GREENE, 2007; FANALES-BELASIO et al., 2010; ABBAS;
LICHTMAN; PILLAI, 2011)

Dentre essas glicoproteínas produzidas pelo HIV, a gp120 é a responsável pela ligação à molécula de
CD4. Em condições normais, o CD4 atua como um correceptor do MHC de classe II durante o
reconhecimento de antígenos. No entanto, quando o gp120 se liga ao CD4, ocorre uma modificação
estrutural no envelope do vírus, que expõe um domínio específico da gp120, capaz de se ligar a
receptores de quimiocinas na membrana celular. Os correceptores utilizados com maior frequência pelo
vírus são o CXCR4 e o CCR5. O CXCR4 é expresso em células, como os linfócitos T (CD4 virgens e
em repouso; e CD8), e o CCR5 está presente predominantemente em linfócitos T (de memória e CD4
ativados) (FANALES-BELASIO et al., 2010; McGOWAN; SHAH, 2010; KWONG et al., 1998; GREENE,
2007).

Fonte: DIAHV/SVS/MS
 Figura 15 - representação esquemática da estrutura do HIV-1.

A patogênese da infecção pelo HIV e progressão para Aids são consequências das propriedades do
vírus infectante e da resposta imune do hospedeiro ao vírus. O balanço entre a efetividade desses dois
componentes determina o prognóstico da infecção, do desenvolvimento da Aids até a longa
sobrevivência.

Atualmente, a rota de infecção mais comum é a via sexual; dessa forma, a mucosa cervical é o primeiro
tecido infectado. Nesse tecido, o vírus infecta os macrófagos, as células dendríticas e os linfócitos T
CD4+ via mecanismos receptor dependente, e isso permite que o vírus se espalhe para os linfonodos
regionais e, posteriormente, para a corrente sanguínea. A replicação viral dentro do tecido linfático da
mucosa infectada e dos linfonodos regionais é intensa, mesmo nesse estágio inicial da infecção.

Autor: Lightspring / Fonte: Shutterstock

As células infectadas sofrem lise ou permitem o estabelecimento da infecção latente, principalmente em


macrógafos e células T CD4+ (em repouso), que atuam como reservatório. Esse reservatório torna-se
um grande obstáculo na erradicação completa do vírus, uma vez que permite a persistência viral,
mesmo sob tratamento antirretroviral. Nesse ponto, já há viremia e presença de resposta humoral e
celular do hospedeiro, que controla parcialmente a replicação. Na fase aguda, o número de células T
CD4+ diminui drasticamente em associação com uma alta viremia.

A diminuição na quantidade dos linfócitos T CD4+ ocorre devido ao aumento da apoptose e, como
essas células expressam antígenos virais na membrana, também são destruídas por citotoxicidade
mediada por linfócitos T CD8+. Como o linfócito T CD4+ é um dos mais importantes na cooperação da
resposta imune, a diminuição numérica e a alteração de sua função levam a uma imunodepressão no
hospedeiro, que está associada predominantemente à diminuição de IL-2, IFN-g e TNF-a.

Por essa razão, em pacientes com Aids, as principais infecções oportunistas estão relacionadas a
agentes intracelulares, tais como: M. tuberculosis, P. carinii, citomegalovírus, C.
albicans e criptosporidium. Como na infecção pelo HIV os linfócitos B de memória estão funcionando, a
produção de anticorpos continua, e o mecanismo de defesa contra agentes extracelulares (como as
bactérias) não é muito prejudicado (MACHADO et al., 2004).

INFECÇÃO PELO VÍRUS DO SARAMPO


Autor: fotohay / fonte: Shutterstock

O sarampo é uma virose potencialmente grave, cujos pacientes infectados apresentam febre, coriza,
conjuntivite e manchas vermelhas pelo corpo. É causado por um vírus RNA, gênero Morbillivirus,
família Paramyxoviridae. Nessa doença, observa-se alta transmissibilidade, pois uma pessoa infectada
pode transmitir o vírus para cerca de 15 pessoas.

Além disso, o período de transmissibilidade do vírus é longo: seis dias antes do exantema a quatro dias
depois do seu aparecimento.

O sarampo causa imunodepressão a outros patógenos. Assim, a doença pode evoluir com
complicações infecciosas bacterianas, como a otite média e a pneumonia, especialmente em crianças
com menos de cinco anos, pacientes desnutridos e imunossuprimidos.

2
O sarampo tem evolução ainda mais grave e pode causar cegueira em crianças com deficiência de
vitamina A associada à desnutrição. Essa imunodepressão gerada pelo sarampo poderia causar
infecções recorrentes por até dois anos após a infecção aguda.

A imunodepressão induzida pelo vírus do sarampo é caracterizada pela produção anormal de citocinas,
pelo desequilíbrio na resposta Th2, que resulta em uma resposta imunológica celular aos antígenos
deficiente (in vitro). Além disso, relata-se a supressão das respostas linfoproliferativas a mitógenos
(substância que estimula a proliferação celular, desencadeando a mitose), ocasionando acentuada
linfopenia (in vivo).

A supressão da imunidade celular permaneceria de semanas a meses após o depuramento viral, sendo
a principal causa das infecções secundárias e da mortalidade pelo sarampo. No entanto, acredita-se
que a infecção dos linfócitos de memória também desempenhe um papel importante no processo de
imunodepressão.


5

O sarampo estava controlado nas Américas e, em 2016, o Brasil recebeu o certificado de erradicação.
Infelizmente, em 2018, o país perdeu esse certificado devido ao surgimento de novos casos naquele
ano e pelo avanço dos surtos, que continuam ocorrendo até os dias atuais.

POR QUE O SARAMPO RESSURGIU NO BRASIL?

Dados epidemiológicos mostram que, no primeiro trimestre de 2019, os casos de sarampo notificados
no mundo cresceram cerca de 300% em comparação a 2018. A OMS alertou que, até o final de março
de 2019, 170 países haviam notificado mais de 112 mil casos de sarampo. O genótipo D8 é o que está
envolvido no surto no Brasil. Este genótipo é mesmo que se disseminou na Europa, na Venezuela, na
Colômbia e em diversos outros países da América Latina.

O vírus entrou no Brasil com turistas e migrantes que desenvolveram a doença. No Brasil, encontrou
baixa cobertura vacinal (inferior a 95%) na região norte do país, inicialmente. Depois disso, disseminou-
se para áreas mais populosas, como a região sudeste, com maior impacto na Grande São Paulo.
Apesar da cobertura vacinal para sarampo em São Paulo ser em torno de 90%, não foi suficiente para
conter o surto.

Autor: Joa Souza / Fonte:Shutterstock


Atualmente, o sarampo está se disseminando para diversos estados brasileiros. Até outubro de 2019,
foram confirmados 10.429 casos. O meio mais eficaz de manutenção de uma população livre do
sarampo é a cobertura vacinal acima de 95%, a chamada imunidade de rebanho. Essa alta cobertura
impede a circulação e a disseminação do vírus, se algum caso for introduzido no território.

De acordo com Gupta e Shorman (2020), o citomegalovírus (CMV) humano é um membro da família
viral conhecida como herpesvírus, Herpesviridae ou herpesvírus humano-5 (HHV-5), que tem como
material genético DNA de dupla fita. O CMV é um vírus disseminado, que pode cursar com doença
assintomática em pessoas imunocompetentes, ou até ser fatal em pacientes imunocomprometidos.

Após a infecção, o CMV geralmente permanece latente, mas pode ser reativado. Depois que a infecção
primária é eliminada, o vírus permanece inativo nas células mieloides. A replicação e reativação virais
são contidas principalmente pela imunidade de células T citotóxicas (CD8+). No entanto, quando ocorre
a reativação, os vírions são liberados na corrente sanguínea e em outros fluidos corporais, levando à
presença de sintomas, predominantemente em pacientes imunocomprometidos.

Autor: TopKatai / Fonte:Shutterstock

De todos os vírus da família herpesvírus, o CMV possui o maior número de genes dedicados a escapar
da resposta imune inata e da resposta imune adaptativa no hospedeiro.

A COEXISTÊNCIA DO CMV COM O HOSPEDEIRO É


FACILITADA POR ESTRATÉGIAS DESENVOLVIDAS
PELO VÍRUS PARA LIMITAR A AÇÃO DO SISTEMA
IMUNOLÓGICO, TAIS COMO:
Entrada em um estado de latência e a restrição do número de genes virais expressos com o objetivo de
minimizar a exposição ao sistema imune. Após a infecção primária, o CMV tem a habilidade de
cancelar a replicação do seu DNA por tempo indeterminado. Essa latência é interrompida na presença
de estímulos específicos, que dão início a uma nova fase de replicação viral, com produção de vírions
infecciosos. Esse mecanismo ainda não é totalmente conhecido, embora evidências demonstrem o
envolvimento do TNF-alfa e do anti-CD3. Geralmente, a imunodepressão age como um estímulo para
que a reativação viral se inicie. Entretanto, foram observados casos de indivíduos imunocompetentes,
que, após uma situação de estresse, apresentaram reativação da replicação viral.

Presença de replicação em tecidos específicos, que apresentam uma vigilância imunológica menos
intensa. Por exemplo, nas glândulas salivares, onde as células não expressam MHC de classe I
suficientes para mediar a eliminação do vírus através dos linfócitos T CD8+.

Comprometimento dos mecanismos de defesa do hospedeiro por meio da expressão de fatores que
silenciam a resposta imune (Ex.: receptores de fração constante – Fc - de imunoglobulinas), ampliando
o período disponível para a replicação.
O genoma do CMV codifica muitos produtos gênicos que
interagem nas vias de processamento do antígeno viral, restringindo sua apresentação via MHC de
classe I e de classe II. (MATOS et al., 2011)

Independentemente da nomenclatura utilizada, a questão é que o CVM realiza uma modulação,


manipulação ou evasão do sistema imune, e o resultado disso é que o vírus altera a resposta
imunológica, permitindo sua latência por longos períodos.
NESTE VÍDEO, VOCÊ CONHECERÁ UM POUCO
MAIS SOBRE OS MECANISMO DE
IMUNODEPRESSÃO MEDIADA POR VÍRUS.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. COM RELAÇÃO À RESPOSTA IMUNE INEFICAZ, ASSINALE A ALTERNATIVA


CORRETA.
A) A imunossupressão pode ser definida como um estado de deficiência do sistema imune para
responder normalmente aos agentes agressores.

B) A imunodepressão é geralmente feita para coibir a rejeição em transplantes de órgãos ou para o


tratamento de doenças autoimunes, como lúpus, artrite reumatoide, entre outras.

C) A imunodeficiência primária ou congênita é resultado de alterações genéticas que culminam no


aumento da suscetibilidade às infecções.

D) As imunodeficiências secundárias são genéticas e podem se agravar com certas condições, como
desnutrição, neoplasias, tratamento com medicamentos imunossupressores.

2. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA NO QUE DIZ RESPEITO À INFECÇÃO


PELO HIV E SARAMPO.

A) Em pacientes infectados pelo vírus HIV, a diminuição numérica e a alteração na função dos linfócitos
T CD8+ levam a uma depressão da resposta imunológica no hospedeiro.

B) Como na infecção pelo HIV os linfócitos B de memória estão funcionando, os anticorpos continuam
sendo produzidos normalmente, e o mecanismo de defesa contra agentes extracelulares, como as
bactérias, não fica prejudicado em grande escala.

C) A supressão da resposta imune nas infecções por sarampo retorna ao normal rapidamente após a
depuração viral do organismo.

D) No sarampo, ocorre aumento da proliferação das células do sistema imune, levando a uma
linfocitose.

GABARITO

1. Com relação à resposta imune ineficaz, assinale a alternativa CORRETA.

A alternativa "C " está correta.

A alternativa A está errada, pois é a imunodepressão que pode ser definida como um estado de
deficiência do sistema imune para responder normalmente aos agentes agressores. Já a
imunossupressão é o ato de reduzir deliberadamente a atividade ou eficiência do sistema imunológico.

A B está errada porque é a imunodepressão que geralmente é feita para coibir a rejeição em
transplantes de órgãos ou para o tratamento de doenças autoimunes, como lúpus, artrite reumatoide,
entre outras.

Por fim, a D está errada, pois as imunodeficiências secundárias ou adquiridas não são genéticas, uma
vez que se desenvolvem a partir de certas condições, como desnutrição, neoplasias, tratamento com
medicamentos imunossupressores ou alguns tipos de infecção, como a causada pelo HIV.

2. Assinale a alternativa correta no que diz respeito à infecção pelo HIV e sarampo.

A alternativa "B " está correta.

Em pacientes infectados pelo vírus HIV, a diminuição numérica e a alteração na função dos linfócitos T
CD4+ levam à depressão da resposta imunológica no hospedeiro. A supressão da imunidade celular
permaneceria de semanas a meses após o depuramento viral, sendo a principal causa das infecções
secundárias e da mortalidade pelo sarampo. Essa imunodepressão poderia causar infecções
recorrentes por até dois anos após a infecção aguda pelo sarampo. No sarampo, observa-se in vivo a
supressão das respostas linfoproliferativas a mitógenos (substância que estimula a proliferação celular,
desencadeando a mitose), ocasionando uma acentuada linfopenia observada.

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No módulo 1, vimos os diferentes tipos de infecção viral e suas características. Foi possível
compreender a dinâmica da infecção viral e como o organismo se comporta frente a ela.

Conhecemos as principais formas pelas quais os vírus são transmitidos e como, de modo geral, ocorre
a patogênese de infecções virais.

No módulo 2, discutimos os mecanismos de defesa naturais do organismo contra os vírus e o “exército”


de células e substâncias envolvidas nesse processo. Foi apresentado, ainda neste módulo, as
características e diferenças entre a imunidade inata e a resposta imune adaptativa.

Por último, no módulo 3, foram abordados conceitos relacionados ao sistema imune com foco na
resposta inata e adaptativa frente a infecções virais. Além disso, foram incluídos os mecanismos de
evasão viral com exemplos do HIV, sarampo e citomegalovírus.

Utilize o Explore+ para revisar alguns assuntos e para se aprofundar em outros de seu interesse.
AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
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EXPLORE+
Pesquise e leia os seguintes materiais:

O sistema imunológico, de Lindsay B. Nicholson.

Uma breve jornada pelo sistema imunológico, de Karim M. Yatim e Fadi G. Lakki.
Sistema imunitário – Parte I. Fundamentos da imunidade inata com ênfase nos mecanismos
moleculares e celulares da resposta inflamatória, de Wilson de Melo Cruvinel e outros autores.

Variação do sistema imunológico humano, de Petter Brodin e Mark M. Davis.

Manual Técnico para Diagnóstico da Infecção pelo HIV em Adultos e Crianças, do Ministério da
Saúde.

Segurança transfusional no Brasil: dos primórdios ao NAT, de Thalita Soares Martins e Juliana
Oliveira de Toledo Nóbrega.

CONTEUDISTA
José Boullosa Alonso Neto

 CURRÍCULO LATTES

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