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Cada qual buscará informações específicas da

Tratamento sua área, e o objetivo é traçar um perfil do


preso, segundo seus antecedentes e

Penal características de personalidade. O conjunto


dessas informações é denominado “exame
criminológico”.
Humanizado O Código Penal Brasileiro, em seu artigo 1º,
dispõe que “não há crime sem lei anterior que
A palavra “tratamento” possui vários sentidos.
o defina”, o que corresponde que determinada
Sua noção pode implicar “uma maneira de
conduta receberá, na lei, o tratamento penal
receber e ser recebido”, “ato de cuidar de algo
que lhe couber.
ou alguém” ou mesmo um “procedimento ou
medicamento envolvido numa cura”. Esta primeira etapa do tratamento penal, a da
individualização da pena, também denominada
Neste tema a ser tratado, à palavra tratamento
de individualização legal ou legislativa,
foi adicionada outra: penal. O que seria então
outorga ao juiz as limitações legais que devem
o tratamento penal?
ser respeitadas ao estabelecer uma resposta
Dentro de um contexto penitenciário, este penal a ser aplicada no caso particular.
termo relaciona-se não somente à execução da
Numa segunda etapa, a chamada
pena, mas também à aplicação da pena –
individualização penal ou judiciária, prevista
forma de punir determinado delito.
no artigo 59 do Código Penal Brasileiro,
Deste modo, antes mesmo da execução da dispõe que o juiz, no momento de fixação da
pena, o preso já obteve um determinado pena, deverá atender “à culpabilidade, aos
tratamento penal, tendo sido analisados o antecedentes, à conduta social, à personalidade
delito cometido e suas circunstâncias, seus do agente, aos motivos, às circunstâncias e
antecedentes criminais, sua personalidade e, consequências do crime, bem como ao
inclusive, seu comportamento em sociedade. comportamento da vítima”. A pena a ser
Destarte, assim ocorre a chamada fixada deve ser necessária e suficiente para a
individualização da pena, prevista no artigo 5º reprovação e prevenção do crime.
da Lei de Execução Penal, orientada segundo
Finalmente, numa terceira etapa, ocorre o
as particularidades descritas acima.
tratamento penal no âmbito da execução da
Já o artigo 6º da LEP orienta que a pena, voltado à prevenção, para que o autor do
classificação do preso será feita por uma delito não venha a praticar novos atos ilícitos.
Comissão Técnica de Classificação “que A Lei de Execução Penal objetiva a integração
elaborará o programa individualizador da pena social do preso, com a expectativa de que
privativa de liberdade adequada ao aquele que está saindo do sistema
condenado”. Esta equipe multidisciplinar deve penitenciário, passe a agir com respeito ao
ser composta, no mínimo, por dois chefes de pacto social imposto pela ordem jurídica.
serviço, um psiquiatra, um psicólogo e um
A Lei de Execução Penal, introduziu, na
assistente social.
execução da pena, o Princípio da Legalidade,
colocando o juiz na posição de garantidor dos

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direitos fundamentais dos condenados. Logo qual a pena possui um caráter de corretivo,
em seu artigo 1º, dispõe que “a execução penal mas também pretende “fazer da execução da
tem por objetivo efetivar as disposições de pena a oportunidade para sugerir e suscitar
sentença ou decisão criminal e proporcionar valores, facilitando a resolução de conflitos
condições para a harmônica integração social pessoais do condenado, mas sem a presunção
do condenado”. Note-se que aqui também é de transformar cientificamente sua
possível perceber a relação de bilateralidade personalidade”.
dos direitos e deveres.
Como é possível observar, ambos acatam que
Para Marcondes (2001), a Lei de Execução a Lei de Execução Penal surge com a
Penal propõe um “movimento de política finalidade de humanizar o sistema
criminal de inspiração humanista”, não penitenciário. Assim, as atribuições
admitindo a consideração do delinquente relacionadas ao tratamento penal e à
como mero objeto, mas, sim, que o individualização da pena estão dispostas entre
cumprimento da pena deve proporcionar a os artigos 5º ao 37. A LEP, no entanto, utiliza
adaptação do condenado ao meio social. o termo “assistência” no lugar de
Assim, para o autor, tal movimento da “Nova “tratamento”.
Defesa Social” possui três pilares com
O artigo 10 a LEP prevê as chamadas
aspectos essencialmente humanitários, quais
sejam: "assistências" ao preso, dever do Estado, e que
objetivam "prevenir o crime e orientar o
a) Tem por base o conhecimento e retorno à convivência em sociedade".
apreciação do delinquente; Observamos aqui a finalidade preventiva da
pena. O artigo 11 elenca as áreas nas quais o
b) Questiona a ideia da proteção da preso deve receber assistência. As assistências
sociedade com o sacrifício do a que tem direito são: a) material; b) à saúde;
indivíduo, que, por mais que seja c) jurídica; d) educacional; e) social; f)
um criminoso, trata-se de uma religiosa.
pessoa humana que necessita ser
ressocializada, cuja ação se Supreendentemente, a LEP não prevê a
processa de acordo com a sua assistência psicológica. Inicialmente pode-se
personalidade; pressupor que esta estaria abarcada na
assistência à saúde, porém, de acordo com o
c) Busca a individualização judiciária artigo 14 da LEP, por assistência à saúde
e executória da pena privativa de entendem-se os atendimentos médicos,
liberdade, mediante a observação, farmacêutico e odontológicos. Porém, em
classificação e ressocialização, 1994, foram publicadas as Regras Mínimas
através de medidas assistenciais, e para Tratamento do Preso no Brasil, que
levando sempre em conta o passaram a incluir a assistência psicológica
respeito à dignidade da pessoa nos serviços de saúde e assistência sanitária.
humana.
A Lei de Execução Penal, como já visitado,
Miguel Reale Jr. (1983), um dos idealizadores visa instituir uma relação de bilateralidade de
da LEP, afirma que tal lei instaurou um direitos e deveres entre o Estado e o
posicionamento de realismo humanista, na

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condenado. Os principais direitos do preso especial de garante dos Estados frente às
seriam as supracitadas assistências, o respeito pessoas privadas de liberdade, terão elas
à sua integridade física e moral, e aqueles respeitadas e garantidas a vida e a integridade
elencados no artigo 41 da LEP. Já os deveres pessoal bem como asseguradas condições
do preso estão elencados nos artigos 38 e 39 mínimas compatíveis com sua dignidade”.
da mesma Lei, que seriam o cumprimento de
normas disciplinares que promovam a Assim, em seu artigo XI, trata dos
segurança do estabelecimento penal. seguintes direitos:
O questionamento que emerge é sobre a 1. Alimentação: “As pessoas privadas de
obrigatoriedade ou não do preso se submeter liberdade terão direito a receber
ao tratamento a ele oferecido. Seria, então, o alimentação que atenda, em
tratamento um direito ou um dever? quantidade, qualidade e condições de
higiene, a uma nutrição adequada e
Para Marcondes (2001), “tratamento suficiente e leve em consideração as
penitenciário ressocializador, de natureza questões culturais e religiosas dessas
assistencial, deve ser concebido como uma pessoas bem como as necessidades ou
assistência ao preso, para que ele ajude a si dietas especiais determinadas por
próprio, e somente pode ser realizado com o critérios médicos. Esta alimentação
consentimento esclarecido do condenado”. será oferecida em horários regulares e
sua suspensão ou limitação, como
DO ATENDIMENTO TÉCNICO
medida disciplinar, deverá ser proibida
1. Da assistência material: por lei”.

Constitui no fornecimento de alimentação, 2. Água potável: “Toda pessoa privada de


vestuário e instalações higiênicas. Além do liberdade terá acesso permanente a
atendimento ao preso em suas necessidades água potável suficiente e adequada
pessoais e de locais destinados à venda de para consumo. A suspensão ou
objetos e produtos permitidos e não fornecidos limitação deste acesso, como medida
pelo Estado. Está prevista nos artigos 12 e 13 disciplinar, deverá ser proibida por
da Lei de Execução Penal. lei”.

Os Princípios de boas práticas sobre as


O artigo XII segue na mesma
pessoas privadas de liberdade das Américas,
prevê, em seu artigo 1º, o tratamento humano, temática:
e dispõe que “toda pessoa privada de liberdade
que esteja sujeita à jurisdição de qualquer dos 1. Alojamento: “As pessoas privadas de
Estados membros da Organização dos Estados liberdade deverão dispor de espaço
Americanos (OEA) será tratada humanamente, suficiente, com exposição diária à luz
com irrestrito respeito à sua dignidade própria natural, ventilação e calefação
e aos seus direitos e garantias fundamentais e apropriadas, segundo as condições
com estrito apego aos instrumentos climáticas do local de privação de
internacionais sobre direitos humanos (DH). liberdade. Receberão a cama
Em especial, levando em conta a posição individual, roupa de cama adequada e

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às demais condições indispensáveis prestada em outro local, mediante autorização
para o descanso noturno. As da direção do estabelecimento”.
instalações deverão levar em conta,
entre outras, as necessidades especiais O parágrafo terceiro institui que “será
das pessoas doentes, das portadoras de assegurado acompanhamento médico à
mulher, principalmente no pré-natal e no pós-
deficiência, das crianças, das mulheres
grávidas ou mães lactantes e dos parto, extensivo ao recém-nascido”. E, por
idosos”. fim, o parágrafo quarto obriga que “será
assegurado tratamento humanitário à mulher
2. Condições de higiene: “As pessoas grávida durante os atos médico-hospitalares
privadas de liberdade terão acesso a preparatórios para a realização do parto e
instalações sanitárias higiênicas e em durante o trabalho de parto, bem como à
número suficiente, que assegurem sua mulher no período de puerpério, cabendo ao
privacidade e dignidade. Terão acesso poder público promover a assistência integral
também a produtos básicos de higiene à sua saúde e à do recém-nascido”.
pessoal e a água para o asseio pessoal,
A assistência à saúde possui seis
conforme as condições climáticas. Às
mulheres e meninas privadas de
grandes pilares:
liberdade serão proporcionados a) Ações preventivas e identificação de
regularmente os artigos indispensáveis doenças preexistentes e de uso abusivo
às necessidades sanitárias próprias de de drogas e/ou álcool;
seu sexo”.
b) Atenção básica e especializada;
3. Vestuário: “O vestuário colocado à
c) Atendimento de urgência e
disposição das pessoas privadas de
emergência;
liberdade deverá ser em número
suficiente e adequado às condições d) Saúde da mulher;
climáticas e levará em conta sua
identidade cultural e religiosa. Em caso e) Saúde mental - em consonância às
algum as roupas poderão ser Regras Mínimas para Tratamento do
degradantes ou humilhantes”. Preso no Brasil, de 1994;

f) Saúde física e mental dos servidores


2. Da assistência à saúde penitenciários.
O artigo 14 da LEP estabelece as assistências à O Estado deve garantir que os serviços de
saúde do preso, em caráter preventivo e saúde ofertados nas penitenciárias funcionem
curativo, quais sejam, o atendimento médico, em estreita coordenação com o serviço de
farmacêutico e odontológico. saúde pública, incorporando, inclusive, suas
O parágrafo segundo deste artigo dispõe, práticas e políticas. Todos os detentos devem
ainda, que “quando o estabelecimento penal ser incluídos no SUS – Sistema Único de
não estiver aparelhado para prover a Saúde.
assistência médica necessária, esta será

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A assistência à saúde é de caráter público, Art. 39. O ensino
irrestrito e gratuito, e direito de todos os profissional será ministrado
sujeitos que se encontrem sob a tutela do em nível de iniciação e de
Estado. Os profissionais que enquadram o aperfeiçoamento técnico.
setor de saúde prisional são: enfermeiro,
Art. 40. A instrução
técnico de enfermagem, dentista, auxiliar de
saúde bucal, médico, psiquiatra e psicólogo. primária será
obrigatoriamente ofertada a
3. Da assistência jurídica todos os presos que não a
possuam.
A execução da pena deve promover um eficaz
tratamento penal, visando devolver a pessoa Parágrafo Único – Cursos
ao convívio social em condições mais de alfabetização serão
favoráveis, possibilitando, assim, sua obrigatórios e compulsórios
integração na vida familiar e mercado de para os analfabetos.
trabalho.
Art. 41. Os estabelecimentos
De acordo com os artigos 15 e 16 da LEP, é prisionais contarão com
dever do Estado proporcionar ao preso biblioteca organizada com
assistência jurídica. Esta é destinada àqueles livros de conteúdo
sem recursos financeiros para constituir um informativo, educativo e
advogado. Este é o papel da Defensoria recreativo, adequado à
Pública, que deve prestar, integral e formação cultural,
gratuitamente, tais serviços, dentro e fora dos profissional e espiritual do
estabelecimentos penais. preso.

4. Da assistência educacional Acredita-se que a formação escolar é o motor


principal que ajudará o preso no processo de
O artigo 11 da LEP prevê a modalidade de reintegração social. O trabalho pedagógico,
assistência educacional ao preso, garantindo “a deve transmitir conteúdos que auxiliem o
instrução escolar e formação profissional do aluno na construção de uma reflexão crítica,
preso”. Para operacionalizar o texto da Lei, com temas como ética, tolerância, respeito aos
nas Regras Mínimas para o Tratamento do demais, solidariedade, e que balizam as
Preso no Brasil, tratou-se das instruções e relações sociais.
assistência educacional, determinando o que se
segue: Não se trata apenas de um “sistema escolar
formal”, portanto, uma vez que está inserido
Art. 8. A assistência todo um conjunto de aprendizagens e
educacional compreenderá a atividades consideradas, então, indispensáveis
instrução escolar e a à formação integral de um cidadão.
formação profissional do
preso. Ressalta-se, também, que com a frequência
escolar é possível diminuir parte do tempo de
execução da pena. Segundo o art. 126 da LEP,

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há a remição de um dia da pena a cada três 6. Da assistência religiosa
dias de estudo, trabalho ou leitura.
A assistência religiosa é tratada no artigo 24
5. Da assistência social da LEP, com os seguintes textos:

Do ponto de vista do Tratamento Penal, ou “Art. 24. A assistência religiosa, com


seja, superado o conceito de pena com base na liberdade de culto, será prestada aos presos e
punição, propõe ações voltadas à reabilitação, aos internados, permitindo-lhes a
que objetivam adaptar o preso aos padrões de participação nos serviços organizados no
comportamento socialmente aceitáveis. estabelecimento penal, bem como a posse de
Concomitantemente à esta perspectiva de livros de instrução religiosa.
reabilitação, surgem novas necessidades de
intervenção, tais como inclusão social e o § 1º No estabelecimento haverá local
direito à cidadania. apropriado para os cultos religiosos.
Esta intervenção, todavia, dependerá da
§ 2º Nenhum preso ou internado poderá ser
relação dos presos com os contextos obrigado a participar de atividade religiosa.”
socioeconômico, cultural, organizacional,
familiar e até mesmo emocional. Aqui, surgem Ressalta-se que a liberdade de expressar e
dois tipos de relações: a primária, voltada para confessar sua fé, ao indivíduo privado de
o “eu”, aquelas afetivas e familiares; e as liberdade, colabora para um trabalho de
secundárias, voltadas aos vínculos sociais mais ressocialização mais profundo, pois envolve o
amplos. A junção destas relações deve corpo, a mente e a alma.
fortalecer a autonomia do preso, efetivando
seu acesso às políticas sociais básicas, 7. Da assistência ao Egresso
buscando o exercício da cidadania, validando
o reconhecimento destes indivíduos como A Lei de Execução Penal, em sua seção VIII,
membros ativos de uma sociedade. dispõe sobre a assistência ao egresso:

As incumbências da assistência social ao preso “Art. 25. A assistência ao egresso consiste:


estão elencadas dos artigos 22 e 23 da LEP, e
são as seguintes: a) estar a par de diagnósticos I - Na orientação e apoio para reintegrá-lo à
ou exames; b) relatar problemas e dificuldades vida em liberdade;
enfrentadas pelo assistido; c) acompanhar o
resultado das permissões de saídas e saídas II - Na concessão, se necessário, de
temporárias; d) promover a recreação; e) alojamento e alimentação, em estabelecimento
orientar o assistido, de modo a facilitar o seu adequado, pelo prazo de 2 (dois) meses.
retorno à liberdade; f) providenciar a obtenção
Parágrafo único. O prazo estabelecido no
de documentos, e eventuais benefícios da
inciso II poderá ser prorrogado uma única vez,
Previdência Social ou seguro por acidente de
comprovado, por declaração do assistente
trabalho; g) orientar e amparar as famílias do
social, o empenho na obtenção de emprego.
preso e da vítima.

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Art. 26. Considera-se egresso para os efeitos
desta Lei:

I - O liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um)


ano a contar da saída do estabelecimento;

II - O liberado condicional, durante o período


de prova.

Art. 27.O serviço de assistência social


colaborará com o egresso para a obtenção de
trabalho”.

A assistência ao egresso, seria, então, um


conjunto de ações que o campo da gestão
prisional passou a chamar de “reintegração
social”. Algumas políticas públicas essenciais
aos egressos prisionais são: educação e
cultura, assistência social, saúde, assistência
jurídica e trabalho e qualificação profissional.

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BIBLIOGRAFIA:
1. Marcondes, P. Dissertação apresentada ao
Curso de Mestrado em Direito Penal da
Universidade Estadual de Maringá, 2001.

2. Reale Junior, M. Novos Rumos do Sistema


Criminal. Rio de Janeiro: Forense. 1983.

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