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eir-no)atolgal SOCIEDADE DE PSICOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL SEGAO 3- PREMIADOS REVISTA DA Musica e Psicanalise: o vento vai dizer* Music And Psychoanalysis. wind will tell Autora: Carolina Silveira Campos** Resumo: A miisica é capaz de levara distintas emogées ja que representa experiéncias emocionais inconscientes. Por meio da muisica, 6 possivel acessar significados e observar 0 que ha de mais profundo no mundo interno de um artista. Tanto a musica como a psicandlise partilha de um contato intuitivo € tempordrio, mas real. Entretanto, somente na psicandlise ha o retorno ao consciente. Este artigo tem por objetivo compreender e descrever os resultados de urn estudo do tipo descritivo/exploratério, com abordagem qualitativa através da analise de contetido, conforme estabelecido por Bardin (1988). Para tanto, utilizou-se a musica O Vento, escrita por Rodrigo Amarante, composta em 2005. As semelhancas e diferencas observadas através da musica explorada e de conceitos da psicandlise permitiu estabelecer trés categorias: inconsciente, sonho e tempo. Discute-se a variabilidade de significados e sentidos expressos na letra da musica. Palavras-chave: misica, andlise de contetido, psicandlise Abstract: Music is able to lead to distinct emotions as it represents unconscious emotional experiences. Through music, it's possible access meanings and observe what is deepest in the inner world of an artist. Both music and psychoanalysis share an intuitive and ternporary contact but real. However, only in psychoanalysis there is a return to consciousness. This article aims to understand and describe the results of a descriptive/exploratory study, with a qualitative approach through content analysis, as established by Bardin (1988) Therefore, it was used the song O Vento, written by Rodrigo Amarante, composed in 2005. The similarities and differences observed through the explored music and psychoanalysis concepts allowed to establish hree categories: unconscious, dream and time. The variability of meanings and senses expressed in the lyrics was discussed. Keywords: music, content analysis, psychoanalysis. 3 lugar no [1 Pram Recemtorgaddos da SR “sleigh Bont Unvenidade Coles PUERS), malt caolinacampos! 9865@gmal.com Sistema Se Avalae30 Deed Review Hum longo caminho construdo entre Psicandlisee Cultura A possibilidade de pensar sobre o inconsciente pode ser vislumbrada desde dados arquecl6gicos,civilzagées eg'pca, helénica e na sua sucessora, romana, até se deparar com Shakespeare, para chega forma moderna descrita por Freud. Conforme Ez (2000), aPsicandlise funda-se erm uma cukura bastante defnida ligada ealidade de Viena conversa com os padrdes vigentes,tamaém de modoasubverté-os. Evariadaa definigio de cultura. Bueno (1996) aexplicacome. ur desenvolvimento intelectual um saber, jem entendimento mais orginico, como aproveitarento industal de produtos natura, por fim, coma valores e costurnes de uma socledade. Essa tima ideia de Bueno ¢ endossada por Francisco, Meurere Machado (2000), de mado que esses autores, pensando especificamente no homem, eferem ser a cultura constitu pelas mais varadas maneras de expresso atta, costumes, ctengas,modos depraducéo,mitosou, dito de outa forma, como cs grupos vive em suas épocashstrias. € posse, entée, compreendera arte como possibilidade de rmanifestagao dos confltos humanos.Is0 fic explcitado por Cruz (2007), quando refere que as vvéncias emacionais podem encontrar continénciae significado, através de sonhos,escritos, esculturas, danas, misias, Com o intuto de trabalhar com a forma artstica musical, recorre-sea Fetter (2007), para quem a comuricacio musical é meio de expresso com fungGes social epsicoldgicas marcantes. Eaistente nas cvlizages desde seus primeios, a misica pode servir como continente e ferramenta elaborativa dos conflitos do homem, serdo uma arte sem elernento palpdvel. Segundo Resnik (1954), dentre as manifestagdes de arte, éna musica que se colocam as fantasias mais inci os conteidos pré-verbais mais antigo. Andrade (1967) pontua que, mesmo sendo bas- tante antiga, a misica foi a ikima das artes ase assinaarcorno tal pois precsou de disposicao técnica, sons determinados ees- calas Schvar (1997) destaca que & posivl analsar a intengS0 do ciador através dos tons de uma misica visto que ela seriaum caminho para arealidade interna tanto do compositor como da- quelequeo escuta. Logo, seriamals que uma inguagem cusom Fetter (2007) entende que, na moderidade, tanto a ciénca camo as expresses culturas, como literatura © misica, véo tomando o lugar dos mitos, que em sua oralidade e marcas, repetitvas vinham a simbolizarconfits esigifcaranglstias dia hurmanidade. Wisnik (1989) historia quea misic,&época do romantism, ea a arte que maniestava os sentimentos através cos sons, diferente da época classiista, erm que se variavam temas para comprovacio de dversidade musical. No romantis- mg, seexpressapossibilidades de variagdesdesentimentos Amisica te diferentes fungbes sea ela como mantenedo- ra da cultura da integragao social -signo ~, ou como comuni- cadora emocionaleesttca —simbalo.Faarte que possibilita a forma simbélica ao signo (Swanwick, 2003). Antes mesmo dele, Langer (1989) jé epontava que, por sua forma dramtica, a imisicaé uma manera designiicaga capazde exaressaroquea palavrando conseguir Fetter (2007) afrma que, quanto mais perto do simbélico, maior a possbiidade de comunicar-se algo e, por is0, maior mmutagdo cultural. Pensando sobre o que comunicara, Galimany (1993) enfatize ser possivel, por meio da misica, acessar significados que nao puderam ser encontrados po aqueles com falhas de desenvolvimento, fazendo surgit, mesmo que pela imisica, osueitofalante,Entetanto, nemo misico, rem quero ‘escuta, tém real nocao de seu papel, pois a experiéncia de simbalzacao toca a todos e € capaz de transportay, atuando como continente para cada um, Schwarz (1997) discorre que, tanto compositor como smisicoseasnotas dio os gifcado ‘3misica;60 ouvinte, todavia, que taza maior contribuicao para ainterpretaciodessa Fetter (2007) entende a misica como favorecedora de alte- ragio do psiquismo, pela presenca da subjetvidade edareflexé. Trazconsigoalinguager pré-verbalsimblicarecheada de sen- timentos e,poriso,é comunicadora,Pensando nso, épossvel relacionar a mésica com a Psicandlise, Kohut (1957) jd afirmava ‘que a misica seria um dos caminhos para catase ou mesmo para a transferéncia, cu seja, a experiécia emocional estaria. defencida pela musica: a atividade de crg-la passaria por um cexercicio de dominio, como no brincar, eamisica em si seria a cexpressio de regras a que se deve submeter Assim send, Fetter (2007) marca que, tal como associagéo live na Psicandlise, a imisicanéo tem es, ano seras da sensagao , nessa perspecti- va, Sandler (2000) aporta que, assim como na misica hé uma penetracao sensorial dos sons, na Psicandlise haveria uma penetragio de uma mifsica latente e, nesse sentido, anbas se tuner, pois exigem de quer as observa tolerar parado-xos que podem néo ter resolucéo. Tanto a misica quanto a Psicandlse podem ser entendidas como céncia, de modo que en-globara realidade ea individualidade, Am diss, para autor, misicae Psicandlise patilhariam do contatointuitvo e tem-poréio, mas real Vale destacar,entretanto, que o autor marca uma diferenca entre ambas: somente na Psicandlise hd 0 retorno ao consciente, Visto que armdscafacitaiaosightenéo a insight. Conforme Sekeff (2005), 6 evidente a aproximacéo entre a imisica e a Psicandlise, aois ambas abarcam investimento inconsciente que possiblita a expresso das emocdes, Para tomar consciente 0 process inconsciente projetado em uma masica, € possivel langar mao da metodologia da andlise ‘qualtativadocontedido, Tendo em vista os aspectos acima mencionados, seré explorada a misica 0 Vento, do autor Rodrigo Amarante, compostarno ano de 2005, Desta forma, buscar-se-d compreen- der tal misica a partir de categorias pré-estabelecidas, observando se elas foram corretamente determinadas, Diaphora Por ee, Vows 61 Método 0 estudo & do tipo descrtivo/exploratrio, com abordagem qualita, Segundo Gl (2002), studs exploatrios propor’ nam ao pesqusadorfailaidade com a drea de estudo de interesse, Ainda, para esse auto, as pesqulsas descritvas peritem a descoberta, ou ndo, da exstncia de associagies entre determinadas valves, Por dita, para Mayo (2000), a abordager qualtaiva oportuiz rebalhar com a signicacgo cuta ouranifesta, ber comoascrencaseos valores quedizem resplto&subjeividade Este trabalho utliza a andlise de contetido de conforme estabelece Barn (2008), nicelmente foieaizada aesclhade uma misica espectica. Apés, identificou-se questées que permitissem categorzar um concelta, ov seja, buscou-se identficaro significado de deterinadostermos. autora e sua supervisora defniram o que consideravam e 0 que nao consideravam significative dentro do referencia sicanaltcona letra da misica,O objetivo foi olevantamento das qustées a part dasteratcasencontadas A andlse de contedto se deservlve ern etapas sucess, cue, de acordo com Barcin (2008), compreende tis fases ap anise, a exporagéo do material eo tratamento dos resultados A pré-andlse cornea pela ture futuante. Tem por objetivo famlrizar a pesquisadaa com a era da misia, peritinds cue esa sejaenvovida por impresses eorientages,promo- vero a emergénca das primeiras categoria. O segundo passe da andlise de conteido— a exploragio do material —constituio estabelecimento de unidades temstcas de significado, ist 6, palavras que se referem a urn tema em uma categoriza¢ao muito prévima da erature psicanalitica refereteaqueleassunto Tas Categorias iniciis seréo depols agrupadas em outras mais abrangentes, A tecelrafase,deratamento dos resultados, visaa interpretagdo dos mesrnos, Operacionaliza-se através da inferénia, proceso segundo o qual ainvestigadore prouraré deduaisimbolos evalres a parirda anise das categoria, por meio da interpretacdo. A sintese resultant deve ter cerénda comosuporte teéricoeleito para embasara pesquisa Nesse trabalh, foram estabelecidas categorias « prio Moraes (1999) refere que, quando as categrias so determina- dasaprion avaldade cu perinécia — caractrscas neces as a uma categoria —, poder ser construidas a partir de um embasamento teérico; na caso desse artigo, o referencal psicaaltico. indadeacordo comesse auto, umacategorizacéo valida precisa ser andloga aos conteddos trabalhados no material, sendo, portanto, uma representacéo adequada e pertinente desses contedidos. Anda para Moraes (1999), a anilisedecontedid permite caracerizareinterpretaraconteddo de um texto. Uriizar esse método auxlia na reinerpretario das mensagens, atingindo urna maior compreensdodossigniicedos edossignifcantesquevaladiantedeumasimples letura Conhecendo a misica que se pretende traalhar no futuro artigo, pensou-se em trés categorias pré-determinadas: inconsciente, sonho etempa, Segunda Catapano (2006), épossvelobservar que urna das primeras andlses de conteddonaérea darmsiafoirealzadana Suécia, a0 redor de 1640, cor hinos teligioss. 0 objetivo do estudo era identfiar se uma amostra de 90 hinos poder ter "efeitos nefasts" nos luteranas. Para tant, foi realizada anise de conte dos diferentes temas e simolosrlgiosos, assim comodeoutasvaniveisdeintrese Discussio e apresentagao de resultados, (Os dadosparaessaanliseforam aquelesobtidos através dos versos da letta da_misica tabalhada, Assim, o5 elementos analsados foram inialmenteclssificados em tes categoras termtcas quenortearam a anise. Serdapresentada a estrutura geral das categris, sua ocorréncia e os elementas que a compéem, sequida de suadesciéo. Tela 1- Categorias See see Categoria 1: Inconsciente (O inconsciente, na primeira tpica de Freud (1900), seria nde os afetos, suas repesentacdes e derivado das pulses estaiam reprimidos, ou sj, ser acesso a consciénla, Anos mais tarde, Feud (1915) entende que esa explicagao jn era sufiente para abarar o conceto de inconsciete, ciando, asi, a segund tic: oinconsciente@ agora uma qualidade confrda as instanclas psiquicas, visto que ego e supereoo team, além de partes conscienes, partes inconscentes, eo id ‘seria inteiramente inconsciente. Segundo Freeman (2000), a misia € capaz de lear a distntas emogies,além de madul-as,jé que representam experiénciasemocionals inconscientes, Dessa forme, recore-se a Feud (1930), er seu texto Mal-Estar na Culture, para pensar no homer e sua insrgéo ra cultura, O autor pensao processo illzatério como serelhante ao desenvolvimento psicosserual Sendo assim, & necesirio que, gradualmente, 0 sujeito vi abdicandoparcamente de suas vontadesincvidais para fazer parte detal proceso. Assim como nas fases da psicosseualida- de, precisa intemalizar seus impulsos destrutivas e as restrigdes, Piaphor | Poo Mgr, v}) [an u201Sp.62 servalsimpostas pela autridade internal zada, cia superego. € por esse interito que se litam a agressvidade e as pulses Servals, e€possibilitada aconvivéncia com os demas indvidu- 0s, instindo-se, assim, aconscéncia ral Como cansequéncia, desenvolve-se, além da culpa, 0 ressentimento contra esse poder cultural, mesmo que inconsci- ente, Por esse confitoinevtével, se estabelece ur nivel de saffimento detective em todo ser humano, Para lidar com tal conflito, 0 autor postula, entao, a necessidade do sujeito em deslocar sublimarournesmorestringirtaisimpulsosagessivose sexuais, entendendo tais movimentos coma importantes protetoresasiquicos (Freud, 1930). Cabe, neste artigo, destacar a sublimagio, sendo ela 0 ‘mecanisino que aparentemente néo se relacionaria com a sexualdade. Freud (1940) entende que a energia e acapacidade de cago sio provenientes da pusio serual, protegendo-2, portant, em algumaatividade artistic ou intelectual, scarece, também, quea energia cisponivel 3 sublmaro€, consequent mente, oriunda deuma dessewalizacso, 1 na visio de Klein, o que estaria posto em uma ciagdo artstica € aquilo que hé de mas pofundo no mundo interno de um artista, Quando estéestabelecida a pascdo depressiva, ha necessidade de criagdo de urn novo mundo, ¢ ele mostrase simbolicamente na arte, Dito de outa forma, o crar parte de ‘marcas inconscientes harmdnicas da possdo esquizoparancide, mas que foram reconhecidamente destruidas na posigio cepressiva (Segal, 1991). Sao versos representatives dessa categoria Porque seri? Oque€impossielsaber? Noseimais Eisoporqué? Sdopartedends Ecomoserd? Corvo (1999) parte da teoria de Freud e entende que o inconsciente forma um dep6sito de impulsos insatsets, js repelidospela superego, que ote constatepressio paaatingit um gozo eque se mostra, portant, sob forma camulfada, Sendo assim, o inconscente via coma umn delator daquilo que 2 cansciéncia tenta esconder e, para isso, utliza-se de uma linguagem decodificada que serio sonho, os aos fala e os lapsos; esses dtimos bastante wishes na livre assocacao de ideias,Vesos quernarcam taisidias so: Masoestogoquefaz Néotedizeroqueeupenso Queoestogopralembrar Eavontadedeesquecer Categoria 2: Sonho Retomando categoria anterior aida de que o sono seria uma manifestaao do Inconsciente, Meltzer (1984) vsluia, portant, 2 possibilidade de se pensar sobre experiéncas ‘ernaconas apart dos sonhos Seria vidvl asi, signfcar a formagao de simbols,fantasias e pensamentos por cujos confitosemoconaisbuscem soluggo A parti disso, Cruz (2007) discute que, em diversos momentos da vid, os indviduos se depararn com eres e sensages ta intensas que afontam a capacidade de pensar sobre las Segundo o autor ¢ como se hauvesse urainundagéo @ um consequente esforgo para dar conta de tantos estimulos. Paraldar com eles, énecessirio conte tas sensagées propage- las em ura "hist possivel’, como no fazer dopsicanalitae dos escitores autor une tas prfisses através da aividade onirica, que entende estar presente en ambos, sendo a fungéo ntca base de todo trabalho catvo. Essa funcdo& entenida como vita, pols significa experéncias emmacanas,favorecendo sua simboizac, e no apresent limites estabeecios,sendo ‘comum, portanto, aos sonhos, devaneias, mitos, jagos infantis e Acatvidade artistic dentfica ‘Omesmo autor, em anos anteriores, afirmava que aquilo que sonhado pelo arta est istante dagullo que defato mostroy, isso independe da ténic utlizada para ta. Anda assim, des- taca que &admirvel a maneia pela qual um artista €capaz de circular entre oespago de sonho erealdade, fundindo-s com acirvellberdade (Cuz, 1998), Ssoversosrepresentativos Voupensar Sinto que como sonar Sigma! Rirumndooutrg meubem Entdooquerestaé chorare, talvez Agentevaisaber Sonirempaz Sédeencottar Sharpe (1971) relta quetantoinguagem poticaquantoa anticatém sua fontenoinconscente, e Cuz (1995) destaca que a lgecéo entre mundo interno e realdade externa esté muito fundamentada nas imagens onticas, concuindo que sonho e arte séo quarddes de ura reagan essencial com osubjtivo. Os versosquelarficamalidiasdo: Asstirdondaboter Bento de igimas Oventovaidzer Clara deum trovao De cord com Ungar (1995), éurrapolardade entre o aos ‘eomundo aquilo que estabelecea ciago, Para autora, naohé ragao sem que 0 cadico penetree impression e, assim, 0 artista "fala dos sonhos para que outros possam escutar-se asi mesmo" (p 564). Assim send, para Cruz (1995), manlestagdes de arte sonho do forma a uma vvénia emcionl que, sem les, ah fosseirecupersve visto que cba ciatvaevidencia as polaridades, como razdo eemocao, sentimentoepensamento, Piaphor | Poo Age, vi) [an u201Sp. infantile adulto, objetivo e subjetivo, entre outa Versos significativos si: Comopode alguémsonhar Jig pensaremdizer Categoria 3:Tempo Porri, altima categoria buscaanalisarotempona etrada ‘isi trbalrada. No pensar da Pscanlise, Lombardi (2008) refereo tempo em duas modalidades complementares. Fala ra esfera do confito e sua defesa, que se encontam no nivel intrapsauico er sua relagao com o tempo; e ra esfera mais ligada & indica. Nessa ima, disco que a percepcéo do ‘erpo€ativada,ciando uma oportunidad para que ocrra um tipo de revezamento estutural do processo primar para 0 secundario. Para ele, 0 tempo é uma fonte importante de contengao dos afetos. Freud (1915) jé destacava que os ‘mecanismas que drigem oinconscente soo deslocamento ea condensagio; além dso, estariam ausentesles de ica, nocéo de tempo espacoe causalidade,sendo toda seu funcionamento regido pelo principiod praze. Sequer vrsosrepresetativos Avidagcurtapraver Seagentejéndosabemas Setemquedrar Vernrenascdooamor Lentooque id, Esechoverdemais Retamando Freud (1920), em Alm do Priciio do Paz, quando o autor reerequeaeperiéniasensoialperiteacesso, ‘mesrno queem pequenas pores aoinrepsiquico Prael, 50, éessenalparaapassager daqull que esténaatemporaidade ser representagdo do inconsclentepara ume exoerénca ques coloque sob forma de representacao Ser essa temporaliay no havera nada além da indifrendacdo, ou see, do caos primer, o qual no reconhece elementos e order, Entio, tempo seria essen ara o funcionamento mental, e seu reconhecimento tem papel decisivo no deservahimentoe na integracéo do psiqusmo (Fink, 1993; Ginzbug e Lombard, 2007). Asabe ossequintesversos Unnséeail, umimés Seasvidasatds Tésvidasemais Umpassoprateés Oventoleva Uinsécula és Sealguémdepois 0s padres temporal € a capacidade de cada um de terporalzar & resultado de vivéncias de sinconiae de ritmo simultaneamente. A auséncia de eventas que marquern a existénca do terigo geraura fenémeno ddico que no podeser descto por uma tnica pessoa. € essa nogio de dade aue pede promoveruma gradativadferenciago entre oeueo outro, como uma aqusiiodeidentidade pessoal Beebe na atte 1992), Aberastury e Toledo (1984a) afirmavam: mesmo que a cago artiica nasa david, no seexplica apenas por ele—a imisica€ um simbolo que esconde fantasiasinconscientes, ou seja,ésomenteafrma, e¢ssaé bem menos que seu verdadero significado, Em outro de seus escritos, esses mesmo autores discorrer sobre ser a misica uma busca pele reeiao da vor primeira, ousej, davozmatemna Para cles, misicaépreenchero silncia matcado pela posigao depressvarecuperando, assim, a primeira relago total de objeto Seria um jogo do tempo e do Sor, que se encadeariam através da misica, fzendo de partes distntas um todo ordenado (Aberastury & Toledo, 1984B).ls0 pareceevidencado plo clarousodopronome eu" nosversos: Possoourioventopassar Eupensei Quequandoeumorrer Vouacordarporaotempo Fporaotempoparer isa euvi Consideragées Finais Apresentades e discutidas as categoria, parece rlevante recorter ao que Sless (1986) destacaparateceras ideas fnas desse artigo Pare o autor, ndo se pode afar que o compari- Thar 6uma caracter'sticainnseca&comnunicaséo,ouseja, oque se pojeta naquilo que sel ouve ev, € uma imagem de seus "outros" Dest forma, entende-se que, assim como o autor da misicatrabafhada busca emitr seus significados, a autora dscoteusobresuasidelasapartidesuassimbolizaces. Destacada essa idel, penso que poder uni persarentos psicanaltios & arte permite uma aalogia no que tange aos processos de psicoterapa e misica. Tal qual coma no processo psicoterspico, em que se busca pensar no passaco pare tentar entender conflios eelaboré-os aceite que a misica também pode serpensada nsse sentido Ditode outa forma:a meuve a misicaétambémum miso daquloquefoicomaqullqueser (0 que buscotrazer com esse persarento € que a misica "fol" paraaquele que aesceveu, e que “sera” pare todos quea escutarem @ a simbolizarem de manelta subjetiva. O que portuizaisosoasvivencias de cada un: oinconscient, seus regstos, 2 capacidace de identicagdo e sua integragio de temporlidade, Caracersticasesss que ram essencasparaa criagio de uma msi € que permitiam av autor dar 0 seu sentido para aquilo que escrevia. Sentido esse, cerlamente dlstinto daquele que seré dado por cura pessoa, que imprimir suas represertagbesparaaquilo cue ‘Assim senda, mesmo com uma separa ness artig, 2 letra da misica parece mostrar em seu conjunto como as trés Categorias esto interligadas,e foram assim determinadas pela iaphor Poo Meg, v}) [an 0201p. autora do artigo evatamente por esse for. O inconsciente ‘mosta-se central de onde partem as manifestagées ea forma desordenada ¢ ordenada que iso acontece,representadas na ‘misicatraalhada espectvamente pelo sonha epelotempa fm termos quenttativos, a ocoréncia de cada elemento componente das categotas,evidencia Isso. 0 que esté no inconscente, portanto de mais afl acesso, com 10 (dez) coréncis. Uma forma de manifesto dessasmarcas através dos sonhos, com 14 (quatorae)ocaténis. Pr fim, o que fica acessvel 2 conscéncla, aqulo que ganhou uma temporaiza~ iolordenagéo, representada na categoria tempo, com 19 {dezenav) ocortndas. 0 titulo da composiao parece endossar essa visio. 0 vento representariaexatamente a passegem do tempo. fsse fator mostra-se essencial para que o inconsciente ossa se manifstar e, assim, por meio de repesentagées € associagies favreceraconstugaode elaborates, Como iscutdonesse artigo, héumapartthaentremisica Psicandlise no que tange ao contata intuitivo e temporétio e, ‘mestno que omentera segunds haa um rtorno ao conscinte, o relevant & poder usufir também da misice como meio de subjetvaéo. Em alta andlse, tal qual na Pscandlse ner serpre um terapeutacompreende einerpreta crretamente tudo 0 que o pacente fla,na misicandosepadeafrmarqueassignficagies que dammos sio as que 0 autor pretendia passa. Acedia, entretanto, que esse néo é o fator de maior elevancia nem para Paicanlise, nem para a risica, tras sim quando aguila que se fala faz sentido ara o our e par nés mesmos, Se estamos certos ou eados,€ com dizer os versos finals da letra de 0 Vento, “o vento vaidizer..a gente vai saber, clare de um trovéo, se alquém depoissorrirem paz sédeencontar” Referén S Aberastury, A, & Toledo, L (19842), A misica e os instrumentos rmusicais-12 parte. In A, Aberastury & cl. (1g) Aperepio da ‘morte na ciangae outs eset. Porto Alege: Artes Médias 38, Aberastury, A. & Ted, L, (19848). A misica ¢ os instumentas smusicals-D parte In A, Aberastry& cos. (1g) A percep da morte na cia outs escrits Porto Age: Artes Médias. 39-54. Andrade, M. (1967). Pequena hstria da musica, (7 ed). Sao Paulo: Martins Bardi, L. (2009) AndlisedeConteda Lisboa: Edigbes70. Beebe, 8. & Jaffe, J. (1992). Mather-infant vocal dialogue. 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(1989), Osameo sentido, Séo Paulo: CompanhiadasLetras. ‘Anexo Letra: OVento ‘Autor Rocrgo Amarante ‘avo:2005 Possocuvraventopassar Assistr3 ondabater Masoestrago quefaz ‘vida écurtapraver Eupensei Quequandoeumorrer Nouacordarparaoternpo Eparaotempo parar Umséculo,ummés Tesvidase nas Umpassoprateés Porqueser? Voupenser Comopodealguésonhar que impossivelsaber? Naotedizeroqueeupenso J8épensarem dizer Eisso,euv, Oventoteva Nao sei mais Sintoqueécomosonhar Queoesfaropralembrar Eavontadedeesquecer Eissonorque? Dizmais! Seagentejéndosabemas Rirumdooutromeutem, Entéooquerestaéchorare, tale, Setemaue uray, Vemmrenascidooamor Bentadelégrimas Umséculo rs, Seasvidasatrés Stopartedenis. Ecomoserd? Oventovaidizer Lentooquevir, Esechoverdemais, Agentevasaber, Clarodeumtrovdo, Sealguém depois Sontirem paz Sédeencontrar Diaphora Pare) Vos. 65

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