Você está na página 1de 4

PROJETO DE LEI Nº , DE 2019

(Do Sr. Guilherme Mussi)

Reconhece o extermínio sistemático de


armênios pelo governo otomano
durante e após a Primeira Guerra
Mundial como genocídio, e dá outras
providências.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º Fica o extermínio sistemático de Armênios praticado pelo


governo otomano durante a Primeira Guerra Mundial reconhecido pela
República Federativa do Brasil como crime de genocídio.

Art. 2º A Lei 7.716, de 5 de janeiro de 1989, passa a vigorar com a


seguinte alteração:

“Art.20.......................................................................................................
..................................................................................................................
§ 2° - Incorre na mesma pena do § 1º deste artigo, quem negar a
ocorrência de crimes contra a humanidade, com a finalidade de
incentivar ou induzir a prática de atos discriminatórios ou de
segregação racial.” (NR)

Art. 3º Fica instituído o dia 24 de abril como “Dia do Reconhecimento


do Genocídio do Povo Armênio e da Lembrança de suas Vítimas”

Art. 4º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

JUSTIFICATIVA

Segundo o Papa Francisco, no século passado, nossa humanidade


viveu três grandes tragédias sem precedentes. A primeira, considerada
geralmente como o primeiro genocídio do século XX, afetou o povo armênio,
primeira nação cristã, junto com os sírios católicos e ortodoxos, os assírios, os
caldeus e os gregos. Um fato como esse não pode, então, ser relegado ao
esquecimento, porque o esquecimento de um fato assim desarma a
humanidade dos cuidados que deve ter para prevenir-se de novos
acontecimentos de mesma natureza.

Esta foi a razão por que, em junho do ano de 2015, o Senado Federal
aprovou o reconhecimento, por aquela Casa, do Genocídio do Povo Armênio,
cujo centenário foi comemorado no dia 24 de abril de 2015, o que fez na forma
de Moção de Solidariedade ao povo armênio, pelo transcurso do Centenário da
Campanha de extermínio de sua população, apresentando voto de
solidariedade à Embaixada da República da Armênia, dando conhecimento
desse ato à Presidência da República e ao Ministério das Relações Exteriores.

Trata-se de ato político da maior importância porque, ao prestar essa


homenagem às vítimas daquele massacre, o Senado não só deixou assente o
registro de que nenhum genocídio pode ser esquecido para que nada parecido
volte a acontecer, mas, também – ao fazê-lo de modo institucional por meio de
uma das Casas do Poder Legislativo brasileiro – reconheceu a contribuição de
milhares de brasileiros descendentes de refugiados armênios para a formação
econômica, social e cultural do Brasil. Resta à Câmara, agora, a inserção deste
reconhecimento no âmbito do regime jurídico pátrio, em consonância com as
diretrizes superiores da Constituição Federal.

O Genocídio Armênio no qual o Império Turco-Otomano matou mais de


1,5 milhões de armênios entre 1915 e 1923 é um crime contra a humanidade
que continua sendo negado até hoje. Mesmo tendo sido este massacre uma
das mais importantes motivações para a elaboração da própria Convenção
para a prevenção e a repressão do crime de genocídio, instrumento normativo
no qual se estabeleceu ser este crime “um crime sob a lei internacional
contrária ao espírito e os objetivos das Nações Unidas e condenado pelo
mundo civilizado".

Não por outro motivo, o genocídio armênio é reconhecido por número


significativo e crescente de países, tais como Alemanha, Argentina, Bélgica,
Bolívia, Canadá, Chile, Chipre, Eslováquia, França, Grécia, Itália, Líbano,
Lituânia, Países Baixos, Polônia, Rússia, Suécia, Suíça, Uruguai, Áustria,
Vaticano e Venezuela. Assim também o fizeram 44 dos 50 estados dos EUA.
Os Estados de São Paulo, do Paraná e do Ceará, e as cidades de São Paulo,
Campinas, Osasco, Fortaleza, São José do Rio Preto e Uberaba, no Brasil,
além de várias importantes organizações internacionais, tais como o
MERCOSUL, o Parlamento Europeu e a Sub-Comissão de Proteção e
Promoção dos Direitos Humanos da ONU.

Tendo o Congresso Nacional aprovado pelo Decreto Legislativo nº 2,


de 11 de abril de 1951, a Convenção para a Prevenção e a Repressão do
Crime de Genocídio, concluída em Paris a 11 de dezembro de 1948, por
ocasião da III Sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas; e tendo sido
depositado Instrumento brasileiro de sua ratificação no Secretariado Geral da
Organização das Nações Unidas, em Lake Success, Nova York, a 15 de abril
de 1952, e promulgada pelo Presidente da República na forma do Decreto nº
30.822, de 6 de maio de 1952, temos os motivos necessários para a
apresentação da presente proposição que tem por objetivo não só a
criminalização da negativa de crimes contra a humanidade em nosso País,
mas, também, a instituição do dia 24 de abril como o Dia do Reconhecimento
do Genocídio do Povo Armênio e de Lembrança de suas Vítimas.

O dia 24 de abril de 1915 foi escolhido como tal porque este dia é
considerado a data de início do chamado genocídio armênio – em armênio,
MedzYeghern – o extermínio sistemático, pelo governo otomano, de seus
súditos armênios minoritários, dentro de sua pátria histórica, onde hoje se
encontra a atual República da Turquia. Uma verdadeira caça, prisão e
execução de cerca de 250 intelectuais e líderes armênios em Constantinopla
levadas a cabo por autoridades otomanas, durante e após a Primeira Grande
Guerra Mundial, em um massacre que levou 1,5 milhão de armênios à morte.

A razão para que a comunidade internacional e os especialistas


apontem este fato como um genocídio, é a forma organizada como tudo
aconteceu, o modo como os assassinatos foram levados a cabo com o fim
deliberado de extermínio do povo armênio. O genocídio se deu, primeiro, pela
matança da produção masculina tanto pelo massacre quanto pela sujeição de
recrutas do exército a trabalho forçado; e, por fim, pela deportação de
mulheres, crianças, idosos e enfermos em marchas da morte.
Reconhecido como um dos primeiros genocídios do sec. XX, o
genocídio armênio é o segundo caso mais estudado de genocídio após o
Holocausto realizado pela Alemanha nazista de Hitler durante a Segunda
Grande Guerra Mundial. E se o Brasil elege a dignidade da pessoa humana
como princípio diretor e fundante de sua própria organização, não pode ficar a
ele indiferente, razão do presente projeto de lei que, espera-se, seja apoiado e
rapidamente aprovado pelos Pares.

Sala das Sessões, em de fevereiro de 2019.

Deputado GUILHERME MUSSI PP/SP

Você também pode gostar