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ARTISTAS PARTICIPANTES
Amilton Santos Heloisa Hariadne Moisés Patrício
Andressa Monique Igi Ayedun Mônica Ventura
Antonio Obá Jackeline Romio Mulambö
Arjan Martins Jaime Lauriano Nádia Taquary
Ayrson Heraclito Juliana dos Santos Nathalia Ferreira
Bruno Baptistelli Kerolayne Kemblim Oga Mendonça
Castiel Vitorino Kika Carvalho Panmela Castro
Dalton Paula Lidia Lisboa Rebeca Carapiá
Daniel Lima Marcelo D’Salete Renata Felinto
Desali Mariana Rodrigues Rodrigo Bueno
Elian Almeida Micaela Cyrino Sonia Gomes
Hariel Revignet Michel CENA7 Tiago Sant’Ana
AS IMAGENS DA
CAPA E DA
QUARTA CAPA
invisibilizadas pela maneira como que poderia ser dito e contado, mas que
são fundados e organizados os nossos permanece, o mais das vezes, inacessível.
arquivos, bem como pelo modo como as Trata-se de perscrutar os arquivos,
narrativas são construídas e divulgadas; na sua instabilidade e inconstância.
mais ainda quando se trata de mulheres Fazer uma “contra-história” ou uma
negras e de pessoas lgbtqia+ negras. “meta-história” — como defende uma
Narrar é uma forma de fazer reviver série de historiadores — que devolva ao
os mortos, afirma a escritora Saidiya leitor pessoas de carne e osso.
Hartman. Por isso mesmo, nesta obra, Outra preocupação desta Enciclopédia
diversas vezes deixamos explícito foi a de introduzir as histórias de
quando não temos tantos detalhes da personagens afro-brasileiros espalhados
infância de um personagem ou quando por toda parte do Brasil, de Norte a Sul.
nos faltam dados sobre determinado Não apenas africanos recém-chegados
período da vida de certas pessoas. que acompanharam os alardeados ciclos
Sobram lacunas acerca da maior econômicos do açúcar, da mineração e do
parte da trajetória dos indivíduos café durante a escravidão, mas também
retratados — por vezes não sabemos uma população negra no pós-abolição,
nem mesmo aproximadamente seus supostamente só existente no Nordeste
anos de nascimento e morte. Todavia, ou nas periferias das grandes capitais.
cada biografia narra, sempre, uma linda Em diferentes espaços vamos encontrar
história: foram pessoas que se agarraram uma série de personalidades negras em
ao direito à liberdade; profissionais Roraima ou Amapá, entre as fronteiras
liberais que romperam com as barreiras caribenhas com Suriname, Guiana
do racismo; esportistas que desafiaram Francesa e Venezuela. Ou através das
as amarras de seu tempo; mães que migrações negras que alcançaram o Acre e
lutaram pela alforria de suas famílias; o Mato Grosso do Sul, partes do que ainda
professoras que ensinaram seus alunos não eram Brasil nas últimas décadas
a respeito de suas origens; indivíduos oitocentistas. No Sul não foi diferente,
que se revoltaram e organizaram borrando as fronteiras do Uruguai e da
insurreições; curandeiros e médicos que Argentina. Esses são pedaços de histórias
salvaram doentes; músicos que criaram que juntaram gente, desejos e projetos
e expandiram maneiras diferentes de se de diásporas em construção. Buscamos
fazer cultura; ativistas que escreveram também uma representação mais
manifestos, fundaram associações paritária de marcadores como gênero/
e jornais; líderes religiosos que sexo, haja vista que as histórias racionais
reinventaram outras Áfricas no Brasil. são ainda mais excludentes diante das
Por meio de detalhes, de fragmentos, memórias de mulheres e de pessoas
de registros deixados pelas autoridades lgbtqi+, que não raro desaparecem das
coloniais, por fontes da polícia, por narrativas.
descrições legadas por senhores que Restabelecer a trajetória desses mais de
pretendiam reclamar a “propriedade”, quinhentos personagens significa, pois,
por referências jornalísticas, por raros tirá-los das estatísticas ou dos registros
diários, procuramos trazer de volta o que não lhes conferem identidade
ENCICLOPÉDIA NEGRA
vozes e opções subjetivas, para além de pouco veiculadas pela mídia, pelos livros
nomes e registros temporais. de história e pelos manuais de forma
Não se trata, aqui, de inventar heróis geral, demonstrarão como a “celebridade”
ou enumerar vítimas, muito menos também se faz no cotidiano.
de construir narrativas subalternas Um grande destaque foi dado
ou subalternizadas. Partindo da aos verbetes mais históricos, pouco
fundamental contribuição historiográfica, contemplados em obras do gênero. Nesse
antropológica, literária e sociológica dos sentido, uma das intenções fundamentais
últimos quarenta anos, tentamos reler desta Enciclopédia é ampliar o repertório
contextos, processos sociais, horizontes de professores e alunos que, a despeito da
de expectativas, envolvendo vários lei no 10 639/03, que tornou obrigatório o
personagens, auscultando dessa forma ensino de história e cultura afro-brasileira
vidas e trajetórias repletas de propósitos e africana, ainda não encontram material
e de planejamentos. Incompletos para suficiente para subsidiar a educação,
aqueles que viveram no mesmo período a pesquisa e o estudo nessas áreas,
e, sobretudo, para nós, que tentamos possibilitando que docentes de ensino
encontrá-los tantos séculos depois, esses fundamental, médio e universitário
protagonistas ergueram mosaicos de possam incluir outros intérpretes e
experiências, movimentos históricos personagens em seus cursos e ementas.
profundos, ainda bem pouco conhecidos Em suma, este livro se insere num
entre nós. processo mais robusto de ampliação do
O objetivo desta Enciclopédia é, conhecimento das práticas negras em
portanto, contribuir para que os nosso país, além de contribuir para a
brasileiros incluam em suas narrativas construção de um amplo movimento
outros sujeitos históricos, em geral antirracista e cidadão.
silenciados ou esquecidos pelos nossos Este projeto não seria possível sem
manuais, livros didáticos e compêndios o esforço conjunto de uma série de
mais tradicionais. Ao cruzar tempos, historiadores e de cientistas sociais,
espaços e gerações, de modo a compor dos artistas que criaram os retratos e
um painel não só amplo mas equânime do apoio da Companhia das Letras, do
e equilibrado em termos geográficos, Instituto Ibirapitanga e da Pinacoteca
temporais e de gênero, este livro de São Paulo. Nosso muito obrigado
traça um panorama inclusivo, com a Alceu Chiesorin Nunes, Erica Fujito,
a presença de intelectuais, ativistas, Fabiana Roncoroni, Fernando Baldraia,
figuras religiosas, cantores, esportistas, Lucila Lombardi, Luiz Schwarcz, Otávio
profissionais liberais, políticos, artistas Marques da Costa, Ricardo Teperman
plásticos, médicos, abolicionistas, (um verdadeiro coautor desta obra),
engenheiros, quilombolas, professores, Andre Degenszajn, Iara Rolnik, Dalva
cientistas e líderes comunitários, cada Santos (Instituto Soma), Ana Maria
um excepcional à sua maneira. Por Maia, Jochen Volz e Valéria Piccoli, que
fim, se alguns dos biografados serão de foram nossos e nossas comparsas nessa
conhecimento prévio dos leitores, outros, empreitada, compartilhando dúvidas
por conta de suas experiências terem sido e caminhos. Sem a Sonia Balady não
ENCICLOPÉDIA NEGRA
teríamos dado conta de organizar todos Revignet, Heloisa Hariadne, Igi Ayedun,
estes verbetes e de garantir a paridade Jackeline Romio, Jaime Lauriano, Juliana
entre homens, mulheres e pessoas dos Santos, Kerolayne Kemblim, Kika
lgbtqia+. Agradecemos também a Edson Carvalho, Lidia Lisboa, Marcelo D’Salete,
Cardoso, que nos ofereceu sugestões Mariana Rodrigues, Micaela Cyrino,
preciosas, entre elas a de que alguns Michel cena7, Moisés Patrício, Mônica
verbetes tratassem de experiências Ventura, Mulambö, Nádia Taquary,
coletivas. Contamos com a ajuda de Nathalia Ferreira, Oga Mendonça,
Alberto da Costa e Silva, Ana Carolina Panmela Castro, Rebeca Carapiá, Renata
Lourenço, André Chevitarese, Antônio Felinto, Rodrigo Bueno, Sonia Gomes e
Carlos Higino da Silva, Antonio Liberac Tiago Sant’Ana. Oga Mendonça foi um
Cardoso Simões Pires, Astrogildo Esteves verdadeiro parceiro, cuidando de toda a
Filho, Bianca Santana, Carlos Alberto linguagem e coerência visual do projeto.
Medeiros, Carlos Eugênio Líbano Soares, Victor Burton elaborou o projeto gráfico
Cuti, Cyda Moreno, Elciene Azevedo, Elisa com o profissionalismo e a amizade de
Larkin, Emanoel Araújo, Felipe Arruda, sempre. Todos nos ajudaram a fazer
Giovana Xavier, Hélio Menezes, Higor desta Enciclopédia um verdadeiro
Ferreira, Iamara Viana, Isadora Mota, sonho coletivo.
Ivanir dos Santos, João Alipio, João José A grande utopia deste livro é devolver à
Reis, Juliana Vicente, Layla Baptista, Léa sociedade brasileira, sobretudo a negras,
Garcia, Ligia Ferreira, Lucimar Felisberto, negros e negres, histórias e imaginários
Luiz Felipe de Alencastro, Maria Helena mais diversos e plurais. Essa é uma
Machado, Maria Magalhães, Mariana forma de colaborar para que nosso
Gino, Mário Medeiros, Matheus Gato país seja mais republicano. É também
de Jesus, Mauricio Acuña, Miquéias uma maneira de qualificar nossa
H. Mugge, Mundinha Araujo, Nilma democracia, deixando de discriminar
Accioli, Olívia Cunha, Paulo Roberto dos e assassinar setores da nossa sociedade
Santos, Paulo Staudt Moreira, Petrônio que — segundo os termos do ibge, que
Domingues, Reginaldo Prandi, Robert os classifica como pretos e pardos — hoje
Slanes, Solange Pereira, Spirito Santo, correspondem a 56,1% da população.
Stephane Ramos, Tom Farias, Valéria Com esta Enciclopédia pretendemos,
Gomes Costa, que nos auxiliaram nesta também, que a visibilização da vida (e da
tarefa, lembrando de nomes, esclarecendo morte) de uma série de pessoas de origem
dúvidas, indicando textos, repassando a africana contribua para o término do
bibliografia e sugerindo a leitura de teses genocídio dessa população no Brasil. Pois
e dissertações. Agradecemos também tornar estas histórias mais conhecidas
aos vários colaboradores que assinam e dar rostos a estas personalidades
alguns dos verbetes conosco e aos colabora para a reflexão por trás das
artistas que aderiram ao projeto: Amilton estatísticas, que nos acostumamos a ler
Santos, Andressa Monique, Antonio Obá, todos os dias nos jornais, “naturalizando”
Arjan Martins, Ayrson Heraclito, Bruno histórias brutalmente interrompidas, seja
Baptistelli, Castiel Vitorino, Dalton Paula, fisicamente, seja na memória. Por isso,
Daniel Lima, Desali, Elian Almeida, Hariel trazer à tona a biografia e a luta pela vida
ENCICLOPÉDIA NEGRA
PÓS-ESCRITO
LUZIA PINTA
c. 1792-? | angola; sabará,
minas gerais
ÍNDICE DE VERBETES
E via hashtags
#COMPANHIANAEDUCACAO