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E

FLÁVIO DOS SANTOS GOMES


JAIME LAURIANO
LILIA MORITZ SCHWARCZ
De Abdias do Nascimento
a Zeferina, os mais de 550
personagens retratados
neste livro encenam
um reencontro do Brasil
consigo mesmo e com
a memória silenciada
de milhões de pessoas
negras que construíram
a história deste país.
ENCICLOPÉDIA NEGRA

Em 1751, Diderot e D’Alembert lançavam sua célebre Enciclopédia.


O termo vinha do mundo antigo, mas foi o Iluminismo que
estabeleceu a forma e o conceito dessas obras tal como as
conhecemos hoje. Nascidas no bojo da modernidade, as
enciclopédias são monumentos que celebram a fé na razão e no
conhecimento como elementos fundamentais na constituição de uma
sociedade mais justa e democrática.
A Enciclopédia negra remete a essa tradição humanista,
ao mesmo tempo que a atualiza criticamente, ao encenar um
reencontro do Brasil com a memória silenciada de milhões de
pessoas negras que construíram sua história. Flávio dos Santos
Gomes, Lilia Moritz Schwarcz e Jaime Lauriano passam em revista
o período da escravidão e do pós-abolição a fim de restabelecer o
protagonismo negro na experiência nacional. Para isso, conjuram
toda a concretude e complexidade própria do humano: os
biografados são sempre chamados pelo nome e se possível pelo
sobrenome, são retratados com base em seus feitos e afetos, são
divisados em seus sonhos e desejos, enfim, são imbuídos do que há
de singular, multifacetado e profundo em cada existência particular.
Em 416 verbetes, os autores revisitam a vida de mais de 550
pessoas negras, de sexo, gênero e orientação sexual distintos, das
mais variadas profissões, de diferentes faixas etárias, de todas as
regiões do país, e de diversos credos e posições hierárquicas no
conjunto das relações de poder econômico, social e político em que
estiveram inseridas. São profissionais liberais; mães que lutaram pela
alforria de suas famílias; ativistas e revolucionários; curandeiros e
médicos; líderes religiosos que reinventaram outras Áfricas no Brasil.
As feições de muitos desses personagens foram apagadas da
história. Por isso, 36 artistas negros, negras e negres criaram
retratos inspirados nos verbetes desta enciclopédia, aqui reunidos
em um belíssimo caderno de imagens.
Num momento de grande produção e disseminação de
informações deturpadas, incorretas e até falsas, esta obra contribui
para conformar um seguro repositório de experiências individuais e
coletivas ao qual — — como pessoas e como sociedade — — podemos
recorrer em busca de inspiração, orientação e sonho de futuro.
ENCICLOPÉDIA NEGRA

ARTISTAS PARTICIPANTES
Amilton Santos Heloisa Hariadne Moisés Patrício
Andressa Monique Igi Ayedun Mônica Ventura
Antonio Obá Jackeline Romio Mulambö
Arjan Martins Jaime Lauriano Nádia Taquary
Ayrson Heraclito Juliana dos Santos Nathalia Ferreira
Bruno Baptistelli Kerolayne Kemblim Oga Mendonça
Castiel Vitorino Kika Carvalho Panmela Castro
Dalton Paula Lidia Lisboa Rebeca Carapiá
Daniel Lima Marcelo D’Salete Renata Felinto
Desali Mariana Rodrigues Rodrigo Bueno
Elian Almeida Micaela Cyrino Sonia Gomes
Hariel Revignet Michel CENA7 Tiago Sant’Ana

FLÁVIO DOS SANTOS GOMES é professor da UFRJ e também


atua nos programas de pós-graduação em história (UFBA), história
comparada e história social (UFRJ). É autor de, entre outros livros,
O alufá Rufino (com João José Reis e Marcus Joaquim de
Carvalho, 2010), Mocambos e quilombos (2015), e
coorganizador de Dicionário da escravidão e liberdade (2018).

JAIME LAURIANO graduou-se pelo Centro Universitário Belas


Artes de São Paulo em 2010. Possui trabalhos nas coleções
públicas da Pinacoteca do Estado de São Paulo e do Museu de
Arte do Rio (MAR). Foi laureado com o prêmio Marcantonio Vilaça
(2017), com o 1o prêmio CCBB Contemporâneo (2015), entre
outros.

LILIA MORITZ SCHWARCZ é professora titular no


Departamento de Antropologia da USP e Global Scholar e Visiting
Professor, desde 2008, na Universidade Princeton. É autora de,
entre outros livros, O espetáculo das raças (1993), Brasil: uma
biografia (com Heloisa Murgel Starling, 2015) e Lima Barreto:
Triste visionário (2017), e coorganizadora de Dicionário da
escravidão e liberdade (2018).
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AS IMAGENS DA
CAPA E DA
QUARTA CAPA

A capa e a quarta capa desta Enciclopédia


negra trazem dois personagens — Afra
Joaquina Vieira Muniz e Chico Rei —
num elenco de mais de 550 biografias.
Também selecionam uma mulher e um
homem; ela que viveu na Bahia e ele, em
Minas Gerais. Afra no século xix, Chico
Rei no xviii. Da existência dela, temos
comprovação por um processo em que
tomou parte; quanto a ele, não sabemos
os limites entre a história e a lenda; lenda
que vira história. Por outro lado, aqui
estão as obras de dois pintores, Mônica
Ventura e Antonio Obá, num time de
mais de sessenta artistas .
Afra Joaquina vivia em Salvador e
era casada com seu ex-senhor, Sabino
Francisco Muniz, de origem africana
como ela, que, uma vez liberto, pagou
pela liberdade da esposa ao mesmo
tempo que se tornou proprietário de
escravos. Sabino morreu entre 1870
e 1872, deixando todos os seus bens
para a mulher e a liberdade para duas
escravizadas, Severina e Maria do Carmo,
contanto que permanecessem ao lado
de Afra até a morte desta. As relações
de Afra com essas cativas não foram,
porém, amistosas, tendo levado até a um
processo cível. O exemplo de Afra mostra
como era complexo o mundo que a
escravidão concebeu.
A Afra criada por Mônica Ventura está
desprovida de qualquer conflito. Bonita,
forte, ela olha resoluta para a frente
e se destaca do fundo azul profundo
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selecionado pela artista. Com um bondade. Transparece ainda riqueza


turbante de nação, brinco e broche de combinada a solidariedade, rara no
ouro, revela a riqueza e o patrimônio que ambiente da mineração. O fundo
acumulou. Sua roupa não permite que se verde-oliva dialoga com o que parece ser
lhe adivinhem as linhas do corpo, numa uma coroa e uma estrela de ouro. Chico
representação que se afasta daquela feita Rei sorri.
por viajantes estrangeiros, os quais em Foram muitas as Afras e tantos os
geral destacavam a sensualidade das Chicos Reis invisíveis durante muito
escravizadas, sempre expostas com o tempo por uma historiografia colonial e
colo nu. Essa é uma Afra digna, altiva, de heróis exclusivamente brancos. Hoje
dona de seu destino, como outras tantas eles vão voltando para mudar nossa
escravizadas e libertas, que legaram imaginação e a maneira como pensamos
seus exemplos. nosso passado, nosso presente e sonho
Chico Rei viveu na região das Minas de futuro.
Gerais, em tempos de muita mineração
e trabalho escravo, mas também de
ameaças de insurreições e muita boataria.
Chico Rei, que fez história e virou lenda,
era um africano da família real do
reino do Congo. Com a esposa, filhos e
poucos súditos, fora embarcado como
escravizado para o Brasil. Conta-se que,
durante a viagem, sua esposa e alguns
filhos teriam morrido. Não se sabe a
que porto chegou, contudo é certo que
foi parar nas minas de Ouro Preto. Foi
batizado com o nome de Francisco e
escravizado juntamente com um dos seus
filhos. Passados alguns anos e depois de
muito trabalho, Chico Rei, já reconhecido
pelos demais africanos por sua distinção,
não só conseguiu pagar por sua própria
liberdade, como comprou a alforria de
vários escravizados africanos, quiçá
malungos (colegas de navio negreiro) e
outros do reino do Congo.
Antonio Obá traz um Chico Rei mais
velho, com cabelos brancos, olhar
penetrante e roupas que remetem a
sua origem real e africana. Usa também
colares de contas que vinculam à
religiosidade afro-brasileira. Igualmente
altivo, no seu olhar cândido transparece
U
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INTRODUÇÃO m grande e constrangedor


silêncio habita a maior
Flávio Gomes, Jaime Lauriano, parte dos arquivos
Lilia Moritz Schwarcz brasileiros e coloniais,
e, sobretudo, dos
Senhores nossos manuais e livros didáticos.
O sangue dos meus avós Neles, enquanto os registros de atos
Que corre nas minhas veias empreendidos pela população branca
São gritos de rebeldia estão por toda parte, as referências
acerca da imensa população escravizada
negra que viveu no país, desde meados
— Carlos de Assumpção, do século xvi até praticamente o fim do
não pararei de gritar século xix, são bem escassas. Ainda são
muito pouco mencionados os negros
e as negras que conheceram o período
do pós-abolição; aquele que se seguiu
à Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, a
qual, longe de ter sido um ato isolado
e “redentor”, fez parte de um processo
coletivo de luta incessante pela liberdade,
protagonizado por negros, libertos e seus
descendentes. Por fim, se hoje as fontes
documentais se multiplicaram, fora da
bibliografia especializada são raros os
registros das atuações desses grupos,
e também do racismo e da violência
cotidianos, com seus personagens sendo
condenados, ao menos numa história
mais oficial, a uma dupla morte: a física
e a da memória.
Esta Enciclopédia negra pretende
ampliar a visibilidade das biografias
de mais de 550 personalidades negras,
em 417 verbetes individuais e coletivos,
apoiando-se na vasta produção
historiográfica, antropológica, literária,
arqueológica e sociológica que se
debruçou sobre a escravidão e sobre
o pós-abolição. Utilizamos também
fontes primárias e secundárias, matérias
de jornais e obras que trataram desses
personagens, direta ou indiretamente.
Muitas dessas trajetórias foram
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invisibilizadas pela maneira como que poderia ser dito e contado, mas que
são fundados e organizados os nossos permanece, o mais das vezes, inacessível.
arquivos, bem como pelo modo como as Trata-se de perscrutar os arquivos,
narrativas são construídas e divulgadas; na sua instabilidade e inconstância.
mais ainda quando se trata de mulheres Fazer uma “contra-história” ou uma
negras e de pessoas lgbtqia+ negras. “meta-história” — como defende uma
Narrar é uma forma de fazer reviver série de historiadores — que devolva ao
os mortos, afirma a escritora Saidiya leitor pessoas de carne e osso.
Hartman. Por isso mesmo, nesta obra, Outra preocupação desta Enciclopédia
diversas vezes deixamos explícito foi a de introduzir as histórias de
quando não temos tantos detalhes da personagens afro-brasileiros espalhados
infância de um personagem ou quando por toda parte do Brasil, de Norte a Sul.
nos faltam dados sobre determinado Não apenas africanos recém-chegados
período da vida de certas pessoas. que acompanharam os alardeados ciclos
Sobram lacunas acerca da maior econômicos do açúcar, da mineração e do
parte da trajetória dos indivíduos café durante a escravidão, mas também
retratados — por vezes não sabemos uma população negra no pós-abolição,
nem mesmo aproximadamente seus supostamente só existente no Nordeste
anos de nascimento e morte. Todavia, ou nas periferias das grandes capitais.
cada biografia narra, sempre, uma linda Em diferentes espaços vamos encontrar
história: foram pessoas que se agarraram uma série de personalidades negras em
ao direito à liberdade; profissionais Roraima ou Amapá, entre as fronteiras
liberais que romperam com as barreiras caribenhas com Suriname, Guiana
do racismo; esportistas que desafiaram Francesa e Venezuela. Ou através das
as amarras de seu tempo; mães que migrações negras que alcançaram o Acre e
lutaram pela alforria de suas famílias; o Mato Grosso do Sul, partes do que ainda
professoras que ensinaram seus alunos não eram Brasil nas últimas décadas
a respeito de suas origens; indivíduos oitocentistas. No Sul não foi diferente,
que se revoltaram e organizaram borrando as fronteiras do Uruguai e da
insurreições; curandeiros e médicos que Argentina. Esses são pedaços de histórias
salvaram doentes; músicos que criaram que juntaram gente, desejos e projetos
e expandiram maneiras diferentes de se de diásporas em construção. Buscamos
fazer cultura; ativistas que escreveram também uma representação mais
manifestos, fundaram associações paritária de marcadores como gênero/
e jornais; líderes religiosos que sexo, haja vista que as histórias racionais
reinventaram outras Áfricas no Brasil. são ainda mais excludentes diante das
Por meio de detalhes, de fragmentos, memórias de mulheres e de pessoas
de registros deixados pelas autoridades lgbtqi+, que não raro desaparecem das
coloniais, por fontes da polícia, por narrativas.
descrições legadas por senhores que Restabelecer a trajetória desses mais de
pretendiam reclamar a “propriedade”, quinhentos personagens significa, pois,
por referências jornalísticas, por raros tirá-los das estatísticas ou dos registros
diários, procuramos trazer de volta o que não lhes conferem identidade
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ou singularidade e reconstruir seu e a explicação para esse fato está, mais


passado, nomeando, assim, a violência uma vez, na invisibilidade imposta
do nosso presente e também a atuação a eles. Portanto, também no campo
incansável desses que foram verdadeiros visual, destacou-se uma política que
protagonistas da nossa história. É pretendeu tornar transparentes ou
lamentável constatar a existência de um invisíveis os heróis e as heroínas que
racismo estrutural e institucional, que escapavam da régua e do compasso
atinge todas as áreas sociais — educação, de uma história mais colonial, europeia
saúde, mortalidade, natalidade, moradia, e, assim sendo, branca. Para cobrir esse
oferta de emprego — e também os tipo de lacuna, convidamos artistas
nossos arquivos. para colaborarem nessa missão coletiva
Uma Enciclopédia como esta não pode de resgate dessas trajetórias, para que
nem deve ter como objetivo ser exaustiva. eles nos ajudassem a retratar uma
Pretende, em vez disso, provocar o debate história mais plural, inclusiva e ampla.
e animar novas pesquisas. E se o critério Os artistas-parceiros que aderiram ao
para constar neste livro foi a morte, o projeto deram rosto a vários desses
objetivo é a vida. Ou seja, esta obra se personagens — aqueles sobre os quais
concentra nos rastros do nosso passado, não restaram imagens —, fazendo com
que ainda têm imensa ressonância no que tenhamos, daqui para a frente, uma
presente. Trata-se de uma narrativa feita “pinacoteca negra” e uma imaginação
em verbetes, em fragmentos, de certos mais generosa e diversificada acerca da
nomes conhecidos pelos brasileiros história do Brasil.
e sobretudo de outros basicamente O projeto da Enciclopédia negra inclui
ignorados, mas que tiveram seu ainda uma exposição de mesmo nome,
protagonismo em diferentes momentos organizada pela Pinacoteca de São Paulo.
e regiões do país. A intenção é trazer de Além disso, o Núcleo de Estudos Afro-
volta esses corpos e também vozes tantas -Brasileiros (neab) da Universidade
vezes sequestrados e sobre os quais, até Federal do Recôncavo da Bahia (ufrb),
então, só restava o silêncio. Um projeto com a coordenação das professoras Isabel
como este será sempre incompleto, Reis, Luciana Brito, Rosy de Oliveira
e deixará de fora muitas vidas que e Antônio Liberac, encomendou a
certamente merecem ser contadas e pesquisadores de todo o país a redação de
recontadas, e que aparecerão em sites verbetes sobre personalidades e grupos
vinculados a este projeto. de negras, negros e negres atuantes no
Mas o projeto não se encerra com momento presente. O material será
a publicação deste livro. Trinta e seis divulgado em revistas acadêmicas de
artistas negras, negros e negres, numa acesso gratuito e está na origem de um
referência a outras identidades de novo projeto de livro.
gênero, foram convidados para produzir Os personagens são analisados
retratos dos biografados. Boa parte nesta Enciclopédia a partir de um
das personalidades abordadas nesta olhar renovado, que destaca a maneira
Enciclopédia não possui imagens nem como as ideias desses homens, dessas
de sua época nem mesmo posteriores, mulheres e dessas pessoas lgbtqia+
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circularam no eixo afro-atlântico, pesquisa primorosa de Milton Cobrinha,


criado forçosamente pela linguagem foram incluídas pessoas reconhecidas
da escravidão e, depois, durante o largo (muitas ainda vivas) — como o ator
período do pós-emancipação — que Milton Gonçalves, o escritor, sambista
tem data de começo, mas não de fim. e pesquisador Nei Lopes, e os jogadores
Assim, se chegaram ao Brasil tumbeiros Pelé e Paulo César Lima —, e também
carregados de pessoas com suas histórias, ícones como Mestre Didi, Raimundo de
também vieram filosofias, teorias, Souza Dantas e tantos outros. A maior
religiões, plantas, práticas corporais, originalidade ficaria por conta dos
ritmos, ativismos, linguagens, cantos, quase quarenta personagens anônimos
padronagens, culturas materiais e apresentados no livro, entre eles feirantes,
imateriais — uma série de experiências garis, cabeleireiros, eletricistas, caftens
que não se restringiram às fronteiras e e donas de casa. Gente que falava de sua
às margens delineadas pelos europeus própria identidade, de suas trajetórias e
que colonizaram o Brasil. Notícias de do racismo existente no Brasil.
uma revolução iniciada no Haiti logo Em meados da década de 1980,
alcançavam as Américas, e exemplos de Oswaldo de Camargo publicaria o livro
rebeldes geravam alvoroço nas várias A razão da chama: Antologia de poetas
pontas que esse comércio negreiro negros brasileiros (1986). Ainda na mesma
estabeleceu. Da mesma forma que a década, Emanoel Araújo organizou uma
insurreição dos malês, ocorrida em importante obra de referência chamada
Salvador, logo alcançou os ouvidos A mão afro-brasileira (1988), que recupera
dos escravizados que viviam nos perfis, trajetórias e obras de artistas
Estados Unidos, projetos idealizados negras e negros de várias gerações. Em
na Jamaica se inseriram rapidamente 1998, Eduardo de Oliveira lançou Quem
em nosso país. No século xx, com as é quem na negritude brasileira, com
experiências conectadas de lutas por um ampliado repertório de pequenas
cidadania, direitos civis, igualdade racial e biografias de artistas, intelectuais,
movimentos antirracistas, ocorreria algo ativistas e personagens históricos desde
similar: uma ampla circulação de ideias, o século xvi até o fim do século xx. Em
de valores, de costumes e de práticas 2004, o Dicionário da escravidão negra
compartilhadas nesse amplo espaço no Brasil, organizado por Clóvis Moura e
afro-atlântico. Soraya Silva Moura, apresenta verbetes de
Foram muitos os intelectuais que personagens e de eventos da escravidão.
escreveram biografias de negras e negros Depois do Dicionário mulheres do Brasil
que viveram em vários momentos (2000), Schuma Schumaher e Érico Vital
da história brasileira — e que se Brazil lançaram o livro Mulheres negras
encontram devidamente indicadas nas do Brasil (2006), apresentando um amplo
referências bibliográficas. Nas últimas painel, desde o primeiro período da
décadas, destacamos a iniciativa de escravidão até a contemporaneidade.
Haroldo Costa, que em 1982, no livro No Brasil, nas últimas décadas, vários
Fala, crioulo, entrevistou personagens historiadores introduziram reflexões
conhecidos e anônimos. Com apoio da fundamentais sobre a vida cotidiana
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e sobre a religiosidade difundida suas várias viagens em navios negreiros


durante o período escravocrata, tendo como cozinheiro.
como objeto estudos biográficos Essas biografias de africanos e vários
de escravizados e libertos, homens, outros estudos que exploraram as
mulheres, africanos e nascidos no trajetórias de negros escravizados e livres
Brasil. Com uma obra pioneira no representaram importantes inspirações
gênero da biografia de escravizados e teóricas e metodológicas na busca de
ex-escravizados, Luiz Mott analisou, articulações que se mostraram bastante
em 1993, a vida de Rosa Egipcíaca. O férteis entre a história atlântica e suas
ineditismo da trajetória de Rosa passa vidas. Essas investigações se somam a
por sua transformação em santa, tantas outras que revelam os esforços
venerada por todos em plena sociedade da historiografia brasileira no sentido
escravista colonial, num ambiente de reconstituir a vida, o cotidiano
religioso efervescente. e a mentalidade de escravizados,
Depois do imenso avanço acerca da africanos e seus descendentes, numa
vida religiosa, a temática das relações perspectiva microscópica, articulando
de gênero tendeu a ficar mais forte nos narrativas individuais, formação de
estudos biográficos de escravizados e identidades e sentidos religiosos em
ex-escravizados. Júnia Furtado ofereceu, contextos mais amplos da escravidão e
em 2003, uma análise da vida real de do pós-emancipação. Em 2012, surgiria
Chica da Silva, talvez a escravizada mais a coletânea Mulheres negras no Brasil
conhecida do Brasil, por meio de escravista e do pós-emancipação, de
lendas e de romances. Mergulhou no Giovana Xavier, Juliana Farias e Flávio
cotidiano de mulheres forras no século Gomes, reunindo quase duas dezenas
xviii, investigando as expectativas de pesquisadores, cobrindo várias
de mobilidade social e criticando a regiões do país e apresentando perfis,
imagem de sedução e sensualidade trajetórias e biografias de mulheres
das mulheres negras forras no negras, escravizadas, libertas, africanas
Brasil colonial. e crioulas. No ano anterior, a coletânea
João José Reis publicou duas biografias Experiências da emancipação, de
de africanos que foram cativos e Petrônio Domingues e Flávio Gomes,
conquistaram a alforria. Na primeira, trouxe biografias de personagens
de 2008, examinou a vida religiosa do negras e negros que participaram de
liberto africano Domingos Sodré, na Bahia instituições e de movimentos sociais
do século xix, reconstituindo os cenários no pós-abolição, entre 1890 e 1980. A
religiosos dos africanos em Salvador bem lista de autores e de contribuições é
como suas redes sociais. Na segunda, enorme, com dissertações, teses, artigos
de 2010 — escrita em conjunto com os e livros cobrindo diversas trajetórias.
historiadores Marcus J. M. de Carvalho Consideramos todos eles nos verbetes
e Flávio Gomes —, acompanhou a vida aqui publicados.
do liberto africano Rufino José Maria em No período mais recente, entre
quatro cidades brasileiras (Salvador, Porto as inúmeras publicações que são
Alegre, Rio de Janeiro e Recife), além de essenciais na colaboração acerca das
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histórias de vida de personagens leitor, destacando-se o Dicionário Cravo


negras e negros, destacam-se as obras Albin de Música Popular Brasileira, o
de Nei Lopes — Enciclopédia brasileira Museu AfroBrasil, o Geledés, o Instituto
da diáspora africana, de 2004, e de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros
Dicionário literário afro-brasileiro, de (Ipeafro), o portal Literafro da Faculdade
2007. A primeira conta com edições de Letras da Universidade Federal de
constantemente atualizadas, sendo a Minas Gerais (ufmg), a Enciclopédia
última datada de 2011. Num projeto de Itaú Cultural, a Brasiliana da Biblioteca
fôlego, o autor tem produzido milhares Nacional, o site do Instituto Moreira
de verbetes, cobrindo personagens, Salles, entre tantos outros.
eventos, conceitos e terminologias Neste projeto, retomamos os
que abrangem toda a diáspora. Em conhecimentos das obras acima
2019, publicou Afro-Brasil reluzente: listadas e procuramos inovar a partir
100 personalidades notáveis do século das experiências de uma série de
XX. Eduardo Assis organizou, em 2014, pessoas negras que circularam no eixo
Literatura afro-brasileira: 100 autores afro-atlântico. Mais que isso: recuperamos
do século XVIII ao XXI, que trouxe um centenas de estudos e pesquisas — muitos
grande painel dessa produção no país. recentes e inéditos — que têm analisado
Histórias afro-atlânticas — resultado processos, eventos e experiências
de uma exposição realizada em 2018 da escravidão e do pós-abolição,
no Museu de Arte de São Paulo (masp) descortinando vidas e fazendo emergir
e no Instituto Tomie Ohtake e curado personagens e suas vidas. Foi fundamental
por Adriano Pedrosa, Ayrson Heráclito, incorporar à bibliografia clássica, e com
Hélio Menezes, Lilia Moritz Schwarcz destaque, a produção historiográfica
e Tomás Toledo — apresenta um de mais novas e potentes gerações de
retrato compósito dos vários artistas historiadores negros e negras.
que circularam pelo Atlântico negro. Como tratar de escravizados que
Por fim, publicações como as de Ligia viveram ou nasceram no Brasil, que
Fonseca Ferreira sobre Luiz Gama até bem pouco tempo eram tomados
(2008, 2011, 2012 e 2020) e as alentadas apenas como variáveis demográficas?
biografias sobre Cruz e Sousa e Carolina Como entender a escravidão, que
Maria de Jesus (Tom Farias, 2008 e durou no Brasil quase quatro séculos
2018) e Lima Barreto (Lilia M. Schwarcz, e cruzou diferentes tempos, espaços e
2017), entre outras, mostraram diversos vários ciclos econômicos, devidamente
caminhos para localizar obras, trajetórias interseccionados? Como escrever estes
e percursos de intelectuais negras e verbetes levando em conta marcadores
negros dos séculos xix e xx, bem como sociais de diferença como raça, gênero,
exploraram narrativas muitas vezes geração e região? Esses são alguns dos
fragmentadas e com várias lacunas. desafios que aqui enfrentamos.
Além das publicações citadas, A pesquisa para esta Enciclopédia
inúmeros sites e acervos digitais foram começou em fins de 2014, quando surgiu
disponibilizados nas últimas décadas, a ideia de escrever uma síntese alentada
com farto material aberto ao público sobre a escravidão no Brasil. Durante o
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trabalho de manusear clássicos e de dar algodão, fumo, arroz, drogas do sertão,


conta da vasta bibliografia atualizada — gado, diamantes, tropeiros, mandioca,
expressa em artigos, livros e capítulos, salsaparrilha, charque e tantas outras
além de centenas de dissertações e de culturas que constituíram e que foram
teses inéditas produzidas em programas constituídas por pedaços de sociedades
de pós-graduação espalhados de norte escravistas, compostas de indígenas
a sul do país —, acabamos por concluir e, fundamentalmente, de africanos e
que seria um trabalho hercúleo e com de seus descendentes escravizados ou
resultados basicamente incompletos. libertos. Esses são cenários complexos,
O risco de generalizar demais e de não inseridos em paisagens mutantes.
localizar diferentes temporalidade e Nesses lugares, mulheres e homens,
geografias, no limite, inacessíveis — negras e negros não só atravessaram
porém, muito importantes no que se o tempo — aquele de suas próprias
refere às experiências coloniais — nos fez vidas — como organizaram memórias,
desistir desse compêndio. O Dicionário da relataram a originalidade de suas
escravidão e liberdade: 50 textos críticos vivências e deixaram muitas pistas
(Lilia M. Schwarcz e Flávio Gomes, 2018) sobre suas expectativas, projetos e
virou, então, um grande projeto coletivo, utopias. Procuramos, assim, recuperar
juntando dezenas de pesquisadores, histórias da escravidão e da liberdade,
estudiosos e estudiosas da escravidão, dando tempo, espaço, lugar e rosto a
com investigações em diversas áreas. essas múltiplas experiências e a esses
Ainda assim, avaliamos que várias diversos e diversas protagonistas. Aí
paisagens atlânticas acabaram por ficar estão esses mais de 550 biografados,
de fora dessa coletânea, bem como, e reais, complexos, intensos,
sobretudo, não apareciam com a devida contraditórios. As nossas histórias
importância as vivências de personagens nacionais, contadas como uma linha do
incríveis, mas que escapavam das diversas tempo contínua e sucessiva, entremeada
abordagens. de uma série de efemérides, acabaram
O certo é que não há mais espaço relegando ao esquecimento pessoas
para tratar de África no singular, que foram apagadas por narrativas que
tampouco para retomar convenções as trataram apenas como números, em
coloniais utilizadas e canonizadas meio a produções com claro caráter
durante tantos séculos. Foram inúmeras generalizante. Para captar desejos,
as escravidões, desenhadas por redes familiares, ressentimentos,
escravizados e escravizadas, senhores, medos, dúvidas, sucessos, horrores,
feitores e pessoas que descobriram amores, tragédias, alegrias, esperanças,
e lutaram pela liberdade. Pau-brasil, choros, fracassos, ódios, decepções,
cana-de-açúcar, ouro, café não foram angústias e recordações foi necessário
apenas economias transmutadas em tirar da névoa rostos, retratos, nomes e
“bastões de revezamento econômico” personagens múltiplos, que espelham a
ou ciclos presos a padrões de evolução riqueza e a variedade das experiências
fixos. Os territórios e as fronteiras eram afro-brasileiras. Estes foram alguns
muito mais amplos, incluindo trigo, passos que tomamos, visando revelar
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vozes e opções subjetivas, para além de pouco veiculadas pela mídia, pelos livros
nomes e registros temporais. de história e pelos manuais de forma
Não se trata, aqui, de inventar heróis geral, demonstrarão como a “celebridade”
ou enumerar vítimas, muito menos também se faz no cotidiano.
de construir narrativas subalternas Um grande destaque foi dado
ou subalternizadas. Partindo da aos verbetes mais históricos, pouco
fundamental contribuição historiográfica, contemplados em obras do gênero. Nesse
antropológica, literária e sociológica dos sentido, uma das intenções fundamentais
últimos quarenta anos, tentamos reler desta Enciclopédia é ampliar o repertório
contextos, processos sociais, horizontes de professores e alunos que, a despeito da
de expectativas, envolvendo vários lei no 10 639/03, que tornou obrigatório o
personagens, auscultando dessa forma ensino de história e cultura afro-brasileira
vidas e trajetórias repletas de propósitos e africana, ainda não encontram material
e de planejamentos. Incompletos para suficiente para subsidiar a educação,
aqueles que viveram no mesmo período a pesquisa e o estudo nessas áreas,
e, sobretudo, para nós, que tentamos possibilitando que docentes de ensino
encontrá-los tantos séculos depois, esses fundamental, médio e universitário
protagonistas ergueram mosaicos de possam incluir outros intérpretes e
experiências, movimentos históricos personagens em seus cursos e ementas.
profundos, ainda bem pouco conhecidos Em suma, este livro se insere num
entre nós. processo mais robusto de ampliação do
O objetivo desta Enciclopédia é, conhecimento das práticas negras em
portanto, contribuir para que os nosso país, além de contribuir para a
brasileiros incluam em suas narrativas construção de um amplo movimento
outros sujeitos históricos, em geral antirracista e cidadão.
silenciados ou esquecidos pelos nossos Este projeto não seria possível sem
manuais, livros didáticos e compêndios o esforço conjunto de uma série de
mais tradicionais. Ao cruzar tempos, historiadores e de cientistas sociais,
espaços e gerações, de modo a compor dos artistas que criaram os retratos e
um painel não só amplo mas equânime do apoio da Companhia das Letras, do
e equilibrado em termos geográficos, Instituto Ibirapitanga e da Pinacoteca
temporais e de gênero, este livro de São Paulo. Nosso muito obrigado
traça um panorama inclusivo, com a Alceu Chiesorin Nunes, Erica Fujito,
a presença de intelectuais, ativistas, Fabiana Roncoroni, Fernando Baldraia,
figuras religiosas, cantores, esportistas, Lucila Lombardi, Luiz Schwarcz, Otávio
profissionais liberais, políticos, artistas Marques da Costa, Ricardo Teperman
plásticos, médicos, abolicionistas, (um verdadeiro coautor desta obra),
engenheiros, quilombolas, professores, Andre Degenszajn, Iara Rolnik, Dalva
cientistas e líderes comunitários, cada Santos (Instituto Soma), Ana Maria
um excepcional à sua maneira. Por Maia, Jochen Volz e Valéria Piccoli, que
fim, se alguns dos biografados serão de foram nossos e nossas comparsas nessa
conhecimento prévio dos leitores, outros, empreitada, compartilhando dúvidas
por conta de suas experiências terem sido e caminhos. Sem a Sonia Balady não
ENCICLOPÉDIA NEGRA

teríamos dado conta de organizar todos Revignet, Heloisa Hariadne, Igi Ayedun,
estes verbetes e de garantir a paridade Jackeline Romio, Jaime Lauriano, Juliana
entre homens, mulheres e pessoas dos Santos, Kerolayne Kemblim, Kika
lgbtqia+. Agradecemos também a Edson Carvalho, Lidia Lisboa, Marcelo D’Salete,
Cardoso, que nos ofereceu sugestões Mariana Rodrigues, Micaela Cyrino,
preciosas, entre elas a de que alguns Michel cena7, Moisés Patrício, Mônica
verbetes tratassem de experiências Ventura, Mulambö, Nádia Taquary,
coletivas. Contamos com a ajuda de Nathalia Ferreira, Oga Mendonça,
Alberto da Costa e Silva, Ana Carolina Panmela Castro, Rebeca Carapiá, Renata
Lourenço, André Chevitarese, Antônio Felinto, Rodrigo Bueno, Sonia Gomes e
Carlos Higino da Silva, Antonio Liberac Tiago Sant’Ana. Oga Mendonça foi um
Cardoso Simões Pires, Astrogildo Esteves verdadeiro parceiro, cuidando de toda a
Filho, Bianca Santana, Carlos Alberto linguagem e coerência visual do projeto.
Medeiros, Carlos Eugênio Líbano Soares, Victor Burton elaborou o projeto gráfico
Cuti, Cyda Moreno, Elciene Azevedo, Elisa com o profissionalismo e a amizade de
Larkin, Emanoel Araújo, Felipe Arruda, sempre. Todos nos ajudaram a fazer
Giovana Xavier, Hélio Menezes, Higor desta Enciclopédia um verdadeiro
Ferreira, Iamara Viana, Isadora Mota, sonho coletivo.
Ivanir dos Santos, João Alipio, João José A grande utopia deste livro é devolver à
Reis, Juliana Vicente, Layla Baptista, Léa sociedade brasileira, sobretudo a negras,
Garcia, Ligia Ferreira, Lucimar Felisberto, negros e negres, histórias e imaginários
Luiz Felipe de Alencastro, Maria Helena mais diversos e plurais. Essa é uma
Machado, Maria Magalhães, Mariana forma de colaborar para que nosso
Gino, Mário Medeiros, Matheus Gato país seja mais republicano. É também
de Jesus, Mauricio Acuña, Miquéias uma maneira de qualificar nossa
H. Mugge, Mundinha Araujo, Nilma democracia, deixando de discriminar
Accioli, Olívia Cunha, Paulo Roberto dos e assassinar setores da nossa sociedade
Santos, Paulo Staudt Moreira, Petrônio que — segundo os termos do ibge, que
Domingues, Reginaldo Prandi, Robert os classifica como pretos e pardos — hoje
Slanes, Solange Pereira, Spirito Santo, correspondem a 56,1% da população.
Stephane Ramos, Tom Farias, Valéria Com esta Enciclopédia pretendemos,
Gomes Costa, que nos auxiliaram nesta também, que a visibilização da vida (e da
tarefa, lembrando de nomes, esclarecendo morte) de uma série de pessoas de origem
dúvidas, indicando textos, repassando a africana contribua para o término do
bibliografia e sugerindo a leitura de teses genocídio dessa população no Brasil. Pois
e dissertações. Agradecemos também tornar estas histórias mais conhecidas
aos vários colaboradores que assinam e dar rostos a estas personalidades
alguns dos verbetes conosco e aos colabora para a reflexão por trás das
artistas que aderiram ao projeto: Amilton estatísticas, que nos acostumamos a ler
Santos, Andressa Monique, Antonio Obá, todos os dias nos jornais, “naturalizando”
Arjan Martins, Ayrson Heraclito, Bruno histórias brutalmente interrompidas, seja
Baptistelli, Castiel Vitorino, Dalton Paula, fisicamente, seja na memória. Por isso,
Daniel Lima, Desali, Elian Almeida, Hariel trazer à tona a biografia e a luta pela vida
ENCICLOPÉDIA NEGRA

de Ambrosinas, Inácios da Catigueira,


Pratas Pretas, Ritas Cebola, Quindombas,
Xicas Manicongo e tantos outros é
mostrar que as vidas de Ágathas, Jenifers,
João Pedros, Kauãs, Kauês, Kethellens,
Marielles, João Albertos Silveira de
Freitas, Emilys, Rebecas e tantas outras
vidas negras — violenta e precocemente
arrancadas de nosso cotidiano —
importam.
É possível tomar duas atitudes diante
da operação historiográfica e de coleta
dessas tantas memórias: a primeira é
apenas anotar aquilo que os arquivos
oferecem; a segunda é interrogar a
própria produção do conhecimento
advinda do passado, começando a
história mais uma vez.

Rio de Janeiro, Porto e São Paulo,


8 de dezembro de 2020
ENCICLOPÉDIA NEGRA

PÓS-ESCRITO

Quando estávamos terminando este


livro, ocorreu o terrível assassinato
de João Alberto Silveira Freitas no
supermercado Carrefour de Porto Alegre,
mais exatamente no dia 19 de novembro,
véspera do Dia da Consciência Negra.
A corporação global é reincidente em
casos de violência contra negros. Em 2018,
Luís Carlos Gomes, um homem negro
portador de necessidades especiais, foi
agredido num Carrefour de São Bernardo
do Campo (São Paulo). Seguido por um
funcionário ao abrir uma lata de cerveja
antes de passar no caixa, Gomes foi
espancado e levado à força para fora do
estabelecimento. A despeito de os vídeos
comprovarem a extrema e covarde
violência, a rede tratou a acusação como
“exagerada”. Depois de dois anos, a Justiça
pagou 26 mil reais de indenização por
danos morais, e só. E eis que a cena se
repete, com os mesmos requintes, e é
filmada por funcionários do Carrefour,
no final de 2020. Todos os brasileiros
puderam “assistir” à agonia de Beto
Freitas, como era conhecido, que, levado a
um estacionamento, lutou o quanto pôde
para se livrar das mãos de seus agressores:
os seguranças do supermercado —
um ex-militar e um policial militar
temporário. Ele foi asfixiado e depois de
alguns minutos seu corpo ficou inerte;
sem vida. No mesmo ano de 2020,
no dia 25 de maio, George Floyd, um
afro-americano, fora assassinado em
Minneapolis; um policial branco o havia
estrangulado, ajoelhando-se em seu
pescoço, durante uma abordagem por
Floyd supostamente ter usado uma nota
falsificada de vinte dólares para pagar a
ENCICLOPÉDIA NEGRA

conta num supermercado. Ele também e formas de sobrevivência. No entanto, o


morrera dizendo que lhe faltava ar. As racismo estrutural continua presente,
“coincidências” são muito reveladoras. e a repressão do Estado contra pessoas
Após a morte de Floyd, os protestos negras não arrefece. A frase “não consigo
contra o racismo reacenderam nos respirar” funciona como metáfora e
Estados Unidos. Depois do perecimento realidade. Metáfora da sensação de
de Freitas, o mesmo aconteceu no opressão experimentada cotidianamente
Brasil. Não sabemos muito da biografia por pessoas negras. Realidade, de um
de Beto Freitas, mas conhecemos de país que pratica o genocídio duplo das
sobra a intolerância policial — que populações de baixa renda e sobretudo
tem como alvo, principalmente, os negras: a morte física e a tentativa de
homens e mulheres negros, negras e assassinar o direito à memória. Uma
negres quase cidadãos no país —, a inversão da metáfora seria “não podemos
desfaçatez da sociedade que naturaliza respirar” ou então “não queremos respirar
tais eventos cotidianos, e o racismo mais” — ver, reproduzir, silenciar, ouvir,
que cerca, conforma, explica e já se sentir, traduzir — “o racismo e suas
transformou numa linguagem social do formas de exclusão social”.
Brasil atual. Tão desigual que, além de
não enxergar, torna invisíveis assimetrias,
discriminações e exclusões não apenas
individuais, mas coletivas e geracionais.
Floyd pode ser chamado de um
“personagem atlântico post mortem”, já
que o seu bárbaro assassinato mobilizou
vários lugares do mundo em protestos
públicos. No Brasil, a perplexidade de
parte da mídia — ante uma suposta e
enganosa acomodação brasileira ou um
racismo não tão violento — diz muito
sobre o apagamento da história, das
ações, eventos, experiências, personagens
e uma série de rostos. Como se verá
neste livro, o ativismo negro existe por
aqui desde que o primeiro africano e a
primeira africana puseram seus pés na
então colônia americana dos portugueses
para trabalharem coercitivamente, como
escravizados, nas lavouras. E não foram
só revoltas, quilombos, associativismo
e movimentos populares; foram
também ações diárias que indicavam
percepções políticas, sonhos, projetos,
pesadelos, apostas, riscos, necessidades
ENCICLOPÉDIA NEGRA

uma insurreição e para isso articulando


DANIEL ANTÔNIO DE mocambos e senzalas. Nas áreas de Viana,
ARAÚJO os habitantes do mocambo São Benedito
séc. xix | viana, maranhão do Céu saíram de suas aldeias rumo à
fazenda Santa Bárbara, para depois invadir
No Brasil, insurreições e quilombos nem a Vila Nova de Anadia, realizando saques e
sempre andaram juntos. Menos comuns mobilizando mais fugas de escravizados,
foram as situações de quilombos antigos que vinham engrossar os mocambos.
a partir dos quais se organizaram revoltas Daniel seria considerado um dos principais
junto com os cativos nas senzalas. Por chefes do mocambo. Não sabemos se era
isso, o episódio da revolta de Viana, no africano ou não; provavelmente nasceu
Maranhão, sob a liderança de Daniel, é não no Maranhão e ainda jovem fugiu para
só excepcional como espetacular. os mocambos das regiões do Gurupi e
Boatos sobre possíveis insurreições Turiaçu. Era cativo de Virgílio de Araújo
foram a tônica da imprensa e da e em 1867 podia estar com trinta anos.
correspondência policial do Maranhão Assim, Daniel pode ter convivido nos
nos anos 1860. Para além dos conflitos mocambos locais com as últimas gerações
internacionais, como a Guerra do Paraguai de africanos que neles se instalaram nas
e a Guerra Civil nos Estados Unidos, havia primeiras décadas do século xix.
o medo da possibilidade de “contágio A grande novidade da insurreição
das ideias”. Os temores eram se e como de Viana foi uma carta dos revoltosos.
escravizados e mocambeiros poderiam ter Entregue em 10 de julho, em tom de
acesso a tais informações. declaração, comunicava: “Nos achamos
Para piorar o clima de desconfiança, em em campo a tratar da liberdade dos
1861 chegaram a São Luís denúncias sobre escravizados”. Afirmavam que tal
rebeliões escravas com planejamento em “liberdade” era “por muito” aguardada
curso em Anajatuba. Dizia-se “que diversos (“que esperamos por ela”) e completavam:
escravizados formavam clubes em alguns “O nosso desejo é por todos e não fazer mal
lugares da vila, nos quais declaravam que a ninguém”. Os escravizados reivindicavam
eram livres, pois que existia na barra um sua alforria, ameaçando invadir mais vilas e
vapor de guerra, que os vinha libertar, e povoados de Viana; “Não teremos remédio
que por esse motivo não deviam mais senão lançarmos mão nas armas”, diziam
obedecer a seus senhores”. Descobriu-se eles. Notificavam, ainda, que tinham “mil
que “semelhante ideia tem sua origem na armas de fogo”, além de contarem com o
entrada, neste período, de dois vapores apoio dos índios da região (“contarmos
de guerra, um dos Estados Unidos da com todos os arcos dos gentios”), na
América do Norte e outro dos Estados, que “nossa defesa e da liberdade”. A carta seria
se querem constituir em Confederação assinada por “Daniel Antônio de Araújo e
separada”. João Antônio de Araújo”, conhecido chefe
Com base nos estudos de Mundinha do mocambo de São Benedito do Céu.
Araujo (1943-) e Flávio dos Santos Gomes A missiva tinha o teor de ultimato e foi
(1964-), localizamos Daniel e Antônio, enviada somente às autoridades policiais
duas lideranças quilombolas, planejando de Viana; não se dirigia ao monarca,
ENCICLOPÉDIA NEGRA

possibilidade de enfrentarem razias de


índios e o ambiente político de guerras
internacionais favoreceram a insurreição.
De um lado, autoridades e senhores
temiam uma grande revolta. De outro,
o recrutamento da Guerra do Paraguai
(1864--70) implicava menos tropas para
combater os mocambos. Aliás, se dizia
nos mocambos “que Lopes [Solano
López] do Paraguai estava tratando da
liberdade deles”.
Além disso, denúncias vindas de São
Luís garantiam que havia “pretos livres,
que sabem ler sofrivelmente e a quem não
são estranhas as ideias que nestes últimos
tempos se têm manifestado em favor da
emancipação dos escravizados”.
A insurreição de Viana, no Maranhão,
DANIEL
coincidiu com uma efervescência política
séc. xix | viana, maranhão
presente em várias partes do Império;
Dalton Paula, Goiânia, 2020 com as discussões parlamentares sobre a
óleo e folha de ouro sobre tela, emancipação; com a Guerra do Paraguai
61 cm × 45 cm × 3 cm terminando com um saldo negativo para
o Império; com o crescimento das “ideias
tampouco às autoridades superiores do de liberdade” que circulavam por toda
Império e/ou da província, nem mesmo parte; nas Antilhas e nos Estados Unidos.
aos senhores de escravizados. Era como se O medo era, portanto, um tema que fazia
a liberdade já estivesse garantida, bastava parte da realidade, e por isso a revolta de
apenas o reconhecimento das autoridades Viana teve imediata e violenta repressão.
locais. Esse manifesto, soube-se depois, fora Além dos revoltosos, foram indiciados
redigido sob ameaças pelo administrador sete fazendeiros, dez cativos e onze livres
da fazenda Santa Bárbara, Plácido Melo e libertos, acusados de fazerem “negócios”
dos Santos. Mas expressava a vontade com os mocambeiros. Pelo crime de
dos escravizados e mocambeiros, sendo insurreição acabaram condenados 31
seus assinantes os próprios líderes do escravizados e dois livres e na ocasião
levante. A realização de saques a fazendas e mocambeiros. Preso e julgado, Daniel foi
povoados, o envio de um manifesto a favor sentenciado em 1868 à prisão perpétua.
da liberdade, a manutenção do estatuto
de libertos ou o propósito de “gozar de sua fontes: Flávio dos Santos Gomes; Matthias
liberdade” foram motivações conectadas Röhrig Assunção; Mundinha Araujo.
naquele contexto.
A política de prevenção contra os veja também: Ângela; Cosme Bento das
costumeiros ataques às suas aldeias, a Chagas.
ENCICLOPÉDIA NEGRA

LUZIA PINTA
c. 1792-? | angola; sabará,
minas gerais

Luzia Pinta era uma escravizada alforriada


natural de Angola. Foi presa em Sabará,
Minas Gerais, em 1742, acusada pela
Inquisição de ser feiticeira calunduzeira,
conforme revelou a pesquisa de Luiz
Mott. De acordo com a denúncia, ela
era uma preta forra e moradora junto
à capela de Nossa Senhora da Soledade,
na vizinhança da vila de Sabará, e por lá
praticava calundus e feitiçarias. Nascera
muito provavelmente na última década
do século xvii, em Luanda, onde fora
criada numa família de escravizados. Por
volta dos doze anos, fora embarcada como
escravizada para a América. Conquistara
em algum momento sua alforria, e até
1742 residiu em Sabará.
Denunciada ao comissário do Santo
Ofício em setembro de 1739 por dois
vizinhos, seguiu-se a abertura de um
sumário de culpas para averiguar seus
crimes contra a fé católica e a recolha de
diversos testemunhos, o que culminou
na determinação de que a suspeita
fosse enviada a Lisboa para abertura do
processo inquisitorial e julgamento. Luzia
foi tirada à força da cidade onde criara sua
rede de laços sociais, mantida em cativeiro
por um ano e meio e submetida a tortura
durante os interrogatórios.
Segundo mostra Alexandre Almeida
Marcussi (1986-), no direito eclesiástico,
LUZIA PINTA a feitiçaria fazia parte da jurisdição
c. 1792-? | angola; sabará, dos tribunais do Santo Ofício, sendo
minas gerais enquadrada como crime de heresia. Desde
Sonia Gomes, São Paulo, 2020 a bula papal Super illiusspecula, de 1326,
pedras, tecido, metal e outros materiais, havia precedentes para que as práticas
83 cm × 24 cm × 11 cm mágicas, antes toleradas pela Igreja, agora
ENCICLOPÉDIA NEGRA

fossem passíveis de perseguição. O que estereótipos dos inquisidores, que aquela


permitia tal enquadramento era a noção era mesmo uma doença contagiosa vinda
de “pacto demoníaco”. A partir dessa ideia de Angola e que consistia em “destino”
produziu-se uma poderosa ferramenta ou “virtude” concedidos por Deus.
jurídica de acusação, que simplesmente Confessou também ter experiências
ignorava e passava por cima das intenções extáticas: “viajava por lugares” enquanto
manifestas e declaradas pelo réu, pois “seu corpo permanecia imóvel, como
encontrava indícios de “pacto” mesmo morto”. No entanto, segundo ela, fazia
quando ele não fosse jamais confessado. tudo com a ajuda de Deus. A despeito de
E Luzia acabou se enquadrando suas versões dos fatos e argumentações,
nesse que era um manual inquisitorial. Luzia Pinta acabou enredada pela
“Cinquenta anos pouco mais ou menos, implacável lógica inquisitorial. Como
preta baça, alta e grossa de corpo, com um tivesse admitido que sua “doença” era
sinal mais perto da testa e em cada face sobrenatural, os inquisidores foram
outro” — com tais palavras, o escrivão do autorizados a presumir que se tratava,
Tribunal do Santo Ofício da Inquisição na verdade, de intervenção demoníaca,
de Lisboa descrevia a ré Luzia Pinta, que já que “Deus não agia daquela forma”. Ou
fora encarcerada em Sabará no dia 18 de seja, não concedia poderes divinatórios
dezembro de 1742. Sua primeira confissão e tampouco permitia que as almas
foi obtida em 18 de março de 1743, e o deixassem os corpos em vida para
julgamento acabou durando mais de dois depois retornarem. Após o longo embate,
anos. As denúncias contra Luzia Pinta o triunfo da leitura demonológica
haviam começado em setembro de 1739, significou também o encerramento do
quando o clero de Sabará a acusou de processo. Luzia foi culpada de “feitiçaria,
feitiçaria. Diziam os autos que ela teria apostasia e pacto”. Em 20 de junho de
convencido um enfermo de nome Luís 1744, Luzia saiu em auto de fé, decerto
Coelho Ferreira, que andava próximo usando hábito penitencial e observada
da morte, a tomar parte de seus rituais, por uma multidão, como era costume
prometendo-lhe a cura completa. Manuel nessas cerimônias, em que a Inquisição
Freire Batalha a denunciava desta maneira: portuguesa ostentava seu poder e
“Assim fizera várias operações diabólicas reafirmava sua autoridade por meio da
invocando o Demônio por meio de umas demonstração pública e exemplar. Sob a
danças, a que vulgarmente chamam acusação de “leve suspeita na fé”, foi
calanduz”. Os inquisidores denominavam degredada para o Algarve e não se teve
calanduz ou calundu a reunião em que mais notícias dela.
Luzia aparecia. Dizia-se que praticava
mandinga “ou outra coisa diabólica, usava fontes: Alexandre Almeida Marcussi; Laura
de feitiços contra as pessoas…”. Essas de Mello e Souza; Luiz Mott.
aparições, “por meio de umas danças, a
que chama calundu”, eram motivo de veja também: Amélia Rosa; Caetano da
“grande escândalo dos fiéis católicos”. Costa; Divino Mestre; Domingos Álvares;
A ré não se acovardou e afirmou, Feliciana Maria Olímpia; Juca Rosa;
contrariando as expectativas e os Mestre Tito.
ENCICLOPÉDIA NEGRA

ÍNDICE DE VERBETES

Abdias do Nascimento 22 Antonieta de Barros 59


Abigail Moura 23 Antônio Amaro Ferreira 60
Acaiuba, Amaro, Ambrósio, Andalaquituche, Antônio Baobad 61
Cabanga, Camoanga, Canhongo, Antônio Candeia Filho 62
Dambraganga, Ganga-Muiça, Ganga-Zona, Antônio Dutra 63
Gaspar, Gone, Gongoro, João Mulato, João Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa 64
Tapuia, Maihoio, Mouza, Osenga, Pacassa, Antônio Pinto Bandeira 65
Pedro Caçapa, Quiloange, Quissama, Toculo, Antônio Telles 66
Zangui 24 Arinda Serafim e Marina Gonçalves 67
Acotirene e Aqualtune 25 Arlindo Veiga dos Santos 67
Adão 27 Arthur Bispo do Rosário 69
Adhemar Ferreira da Silva, João do Pulo e Arthur Rocha 71
Nelson Prudêncio 28 Arthur Timótheo da Costa e João Timótheo da
Adriana e Maria 30 Costa 72
Afra Joaquina Vieira Muniz 31 Ascendina dos Santos 73
Agnaldo dos Santos 32 Astolfo Marques 74
Agostinha 33 Augusta e Ubaldina Anna da Conceição 76
Alberto Guerreiro Ramos 34 Augusto Mina 77
Alcides de Freitas Cruz 36 Aurélio Veríssimo de Bittencourt 78
Aleijadinho 37 Auta de Souza 80
Amália Augusta de Lima Barreto 39
Amarildo Dias de Souza 40 Badia 82
Ambrosina 41 Bamboxê Obitikô (Rodolpho Manoel Martins
Ambrósio, Bateeiro e Isidoro 43 de Andrade) 83
Amélia Rosa 44 Bárbara Gomes de Abreu e Lima 83
Ana Clara Maria Andrade, Deolinda e Isabel Basília 86
Maria da Conceição 45 Batatinha e Riachão 86
Ana de Jesus 47 Beatriz Nascimento 87
Ana de Oliveira e Rosária Maria 47 Benedita Caetana, Josefa, Maria Rosa e Rita e o
Ana Maria de Jesus 48 Livro de Ouro do Fundo de Emancipação 88
Ana Mogumbe, Gertrudes Angola, Joana Benedita Costa 89
Benguela, Maria Camundá, Maria Conga, Benedita Maria Albina da Ilha 90
Mariana Monjola e Suzana, da Costa de Benedito Meia-Légua 91
Guiné 49 Benjamim de Oliveira 92
Anastácia 50 Bento, Bernardo, Bonifácio, Francisco, José e
André Rebouças 51 Mateus 93
Andreza, Antônia e Efigênia 53 Bernarda de Souza 95
Ângela 55 Besouro Mangangá 95
Ângela e Geralda 56 Bibiana e Isabel Guaraná da Costa 96
Antenor Nascentes 57 Brito Souto 98
Antonica, Luiza e Marcelina 58
ENCICLOPÉDIA NEGRA

Caetana 102 Dandara, Lucrécia e Madalena 146


Caetano da Costa 103 Daniel Antônio de Araújo 147
Cardoso Vieira 103 De Chocolat 149
Carlos Alberto Oliveira dos Santos 104 Delfina e Faustina 150
Carlos Marighella 106 Delfino 151
Carlota Alberta Burnett, Florence Scantlebury, Delindra Maria de Pinho 151
Helen Cook, Louise White, Mabel Skeete e Delphina Maria da Conceição, Feliciana de
Una Long 107 tal, Henriqueta Costa, Isabel Maria da
Carolina Maria de Jesus 108 Anunciação, Silvéria Maria da Conceição e
Cartola 110 Tereza de Jesus 153
Catarina 112 Deocleciano Nascimento 154
Catarina, Josefa e Vitória 113 Deolinda, Eva, avó, mães e filhas 156
Catarina Cassange 114 Diogo Rebolo e Ventura Mina 157
Catarina Mina 115 Dionísia e Martinha dos Santos 158
Cecília, Letícia, Virgínia e Querubina 117 Dionísia Angola 158
Celina Veiga, Maria de Lourdes Rosário e Divino Mestre 160
Noêmia de Campos 118 Domingos Álvares 162
Chica Brincuda 119 Domingos Sodré 163
Chica da Silva 120 Donga 164
Chica Machado 121 Dorothea Maria do Espírito Santo, Eva Maria
Chico Prego, Elisiário e João da Silva, Maria Jacintha, Maria Thereza de
Pequeno 123 Oliveira e Umbelina Maria das Dores 165
Chico Rei 123 Duarte da Costa 167
Chiquinha Gonzaga 124
Cícero Brasiliense de Moura, Graciliano Edison Carneiro 170
Fontino Lordão, José Manuel dos Anjos e Edmeia da Silva Euzébio 171
Vicente Gomes Jardim 125 Eduardo das Neves 171
Cipriano Pires Sardinha 126 Eduardo de Oliveira 173
Clara Courá, Isabel Mina, Mariana da Costa e Eduardo de Oliveira e Oliveira 174
Mariana Xambá 128 Efigênia, Nazaré, Rosa e Rufina 175
Cláudia Silva Ferreira 129 Elyseu Elias César 176
Claudina Fortunato Sampaio Elza de Souza e Guiomar Ferreira
e Luísa 130 de Mattos 177
Claudino José da Silva 131 Emília do Patrocínio 179
Cléa Simões 132 Emília Duarte Rodrigues e Vivina Rodrigues
Clementina de Jesus 133 Braga 180
Clementina Maria da Conceição Emiliano Mundrucu, Natividade Saldanha e
e Maria Tereza da Cunha 135 Pedro Pedroso 181
Clóvis Moura 136 Emmanuel Hector Zamor 184
Cosma Corrêa e Quitéria Pereira Enedina Alves 185
de Souza 137 Esperança Garcia 187
Cosme Bento das Chagas 138 Estêvão Pimenta e Felipe Santiago 188
Cumba 140 Estêvão Silva 189
Curukango (Carukango, Querucango) 141 Euzébio de Queiroz Coutinho
Barcelos 190
D. Diogo 144 Eva e Francelina 192
Damásia 144 Eva Maria do Bonsucesso 192
ENCICLOPÉDIA NEGRA

Faustino da Silva Paiva e Mathias Henrique da Ildefonso Juvenal da Silva 256


Silva 196 Inácio da Catingueira 256
Feliciana Maria Olímpia 197 Inácio Gonçalves de Siqueira 257
Felicidade e Inácia 198 Inácio Hermógenes Cajueiro 258
Felicidade, Germana, Libânia e Maria Madalena Inácio Monte 259
199 Iracema de Almeida 260
Felício de Arruda Botelho 200 Irenice Maria Rodrigues 261
Felipa Maria Aranha 202 Ironides Rodrigues 263
Félix José Rodrigues 203 Isaura Bruno 264
Félix Soares 205 Isidoro, Hilário e outros tradutores,
Figênia 205 guias e “cientistas negros” da Amazônia 265
Firmina 207 Ismael Ribeiro dos Santos 267
Firmino Monteiro 207 Ismael Silva 268
Florência Joaquina 208 Israel Soares 270
Francisca 209 Itamar Assumpção 272
Francisca Luiz 210 Ivone Lara 274
Francisca (Xica) Manicongo 212
Francisca Poderosa 213 Jacira de Almeida Sampaio 278
Francisco 214 Jackson do Pandeiro 278
Francisco Antônio da Costa 215 Jacyra Silva 279
Francisco Carregal, Manuel Maia Jandyra Aymoré 280
e outros futebolistas pioneiros 217 Jerônimo Soares 281
Francisco de Paula Brito 218 Joana da Silva Machado 281
Francisco de Paula Victor 220 Joana e Lisarda 282
Francisco José do Nascimento 221 Joana Guedes de Jesus e Laura Guedes
Francisco Lucrécio 223 de Jesus 284
Francisco Moçambique e José Joana Maria, Maria e Maria Francisca 285
Majojo 224 João Cândido 286
João da Cruz e Sousa 288
Ganga-Zumba 228 João da Silva, José Martins, Luiz Pereira de
Garrincha 230 Almeida e Mateus Pereira Machado 290
Geraldo Filme 230 João de Deus 291
Gertrudes Maria 232 João do Rio 294
Grácia Maria da Conceição Magalhães 234 João Henriques de Lima Barreto 295
Grande Otelo 235 João Mulungu 298
Gregório Luís 237 João e Timóteo 298
Joãozinho da Gomeia 299
Hamilton Cardoso 240 Joaquim Cândido Soares de Meireles 300
Heitor dos Prazeres 241 Joaquim de Souza Ribeiro 301
Hemetério José dos Santos 243 Joaquim Pinto de Oliveira 303
Henrique Antunes da Cunha 244 Joaquina 305
Henrique Dias 245 Joaquina Benguela 306
Henriqueta Maria da Conceição 247 Joaquina Maria da Conceição Lapa 307
Hermenegildo de Barros 249 Joel Rufino dos Santos 308
Hilária e Madalena 250 José Correia Leite 309
Horácio de Sá Pacheco 252 José Custódio Joaquim de Almeida 310
Hypólita Maria das Dores 253 José de Souza Marques 311
ENCICLOPÉDIA NEGRA

José do Patrocínio 312 Mahitica 373


José Ezelino da Costa 315 Mahommah Baquaqua 374
José Ferreira de Menezes 316 Malunguinho 377
José Theóphilo de Jesus 317 Mandilacota 377
Josefa da Silva 318 Manuel Congo 378
Juca Rosa 319 Manuel da Mota Monteiro Lopes 379
Juliana 320 Manuel do Sacramento 381
Juliano Moreira 321 Manuel Padeiro e Negro Lucas 382
Justina Maria do Espírito Santo 323 Manuel Raimundo Querino 384
Manuel Tranquilino Bastos 385
Laudelina de Campos Mello 326 Manuel Vicente Alves Palmeira 386
Laura Santos 327 Marcelina Obatossi 386
Lélia Gonzalez 328 Marcílio Dias 388
Leopoldina e Thomázia 329 Marcolina da Silva Marques 388
Liberata 330 Margarida Joaquina de Sousa 390
Lima Barreto 331 Maria [Campinas, São Paulo] 392
Lino Guedes 334 Maria [Piauí] 393
Lourença Correia da Lapa 335 Maria, africana livre 394
Maria Águeda 396
Lucas du Bissette e Maria Angélica 396
Norman Percival Davy 336 Maria Angola 398
Lucas Evangelista 337 Maria Apolinária, Maria Cândida
Luís Anselmo da Fonseca 338 e Maria Domingas 399
Luiz Gama 339 Maria Auxiliadora da Silva 400
Luiza 342 Maria Benedita da Rocha 402
Luiza Bairros 343 Maria das Dores Santos Conceição 403
Luiza Mahin 345 Maria Dimpina Lobo Duarte 404
Luzia Jeje 347 Maria do Carmo Jerônimo 404
Luzia Pinta 347 Maria do Céu Ferreira da Silva 405
Maria do Egito 406
Machado de Assis 352 Maria Firmina dos Reis 407
Macutandu, Mamatandu, Muquirita, Niquirita Maria Joana Monteiro 409
e Umpula 354 Maria Joaquina 410
Madame Satã 355 Maria Joaquina de Camargo
Mãe Agripina 359 e Rosa Negra 411
Mãe Andresa 359 Maria José Bezerra 413
Mãe Aninha 361 Maria Mina 413
Mãe Beata de Iyemanjá 362 Maria Nascimento 414
Mãe Benta 363 Maria Odília Teixeira 415
Mãe Biu 364 Maria Rita, africana 416
Mãe Dudu 365 Maria Tereza Bento da Silva 417
Mãe Esperança Rita 366 Mariana 418
Mãe Luzia 369 Marielle Franco 419
Mãe Menininha 369 Mário de Andrade 421
Mãe Olga do Alaketu 370 Martinha 424
Mãe Senhora 371 Matildes 425
Mãe Stella de Oxóssi 372 Mécia 426
ENCICLOPÉDIA NEGRA

Mercedes Baptista 427 Quelly da Silva 492


Mestre Bimba 429 Querengue e outras africanas 492
Mestre Didi 431 Quindomba 494
Mestre Moa do Katendê 432 Quintiliano Avellar 495
Mestre Pastinha 434 Quintino de Lacerda 497
Mestre Tito 435
Mestre Valentim 436 Raimundo de Souza Dantas 500
Mestre Verequete 437 Raimundo Irineu Serra 500
Mestre Vitalino 438 Rainha Maria Joaquina 502
Miguel e os quilombolas nas fronteiras Rainha Marta dos quilombolas de Iguaçu 503
tranwionais das Guianas 440 Rita Cebola e outros casos 503
Miguel Barros 442 Rita Dias de Araújo 505
Milton Santos 443 Rita Maria 506
Minervino de Oliveira 444 Robson Silveira da Luz 507
Moacir Barbosa Nascimento 445 Roque José Florêncio 509
Mônica 447 Rosa 511
Mônica da Costa Ferreira 449 Rosa Cabinda 512
Mussum 451 Rosa do O’Freire 513
Rosa Egipcíaca 514
Nã Agotimé/ Maria Jesuína 454 Rosalina 516
Narcisa Ribeiro 455 Rubem Valentim 516
Narciso 455 Rufina 518
Nascimento Moraes 456 Rufino José Maria 519
Neusa Santos Sousa 458 Ruth de Souza 521
Nhô João e sua parceira 459
Nilo Peçanha 461 Sabina da Cruz 524
Salústia 526
Oliveira Silveira 466 Sebastião Rufino 527
Osvaldo Orlando da Costa 468 Selma Heloísa Artigas da Silva
(O caso Nicole) 528
Pacífico Licutan 470 Sidney Amaral 530
Padre José Maurício 470 Sofia Ferreira Chaves 530
Pai Adão 472 Solano Trindade 531
Páscoa Vieira 473
Paulina 474 Tancredo da Silva Pinto 534
Paulo da Portela 476 Teodora Dias da Cunha 535
Pedro Justo de Souza 476 Teodoro Sampaio 537
Pedro Lessa 478 Teresa Bicuda 538
Pedro Valentim 479 Tereza de Benguela 539
Peregrina e Rosa 480 Tereza de Jesus de Souza 540
Petronilha 482 Theodosina Ribeiro 541
Pixinguinha 483 Thereza Santos 542
Prata Preta 485 Tia Ana 543
Pretextato dos Passos e Silva 487 Tia Carmem do Ximbuca 544
Preto Félix 488 Tia Ciata 544
Príncipe Obá ii 489 Tia Eva 545
Tia Inácia 546
ENCICLOPÉDIA NEGRA

Tia Marcelina 547 Vicente de Souza 562


Tia Maria 549 Vicente Ferreira 562
Tia Maria do Jongo 550 Vicente Ferreira 563
Tia Simoa 551 Virgínia Leone Bicudo 564
Tias baianas: Amélia Silvana de Araújo, Vitória da Conceição 565
Fé Benedita de Oliveira e Perciliana Maria Vitória ou Vitorão 566
Constança 552
Tias fluminenses: Maria José Costa Alves, Wilson Simonal 570
Olívia Marinho de Lima e Vicentina do
Nascimento 553 Zacimba Gaba 574
Tobias Barreto 554 Zé Kéti 575
Tomás 557 Zeferina 575
Trajano 557 Zeni Pereira 577
Tula Pilar 559 Zózimo Bulbul 577
Zumbi 579

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