Você está na página 1de 88

Pelotas

L. M. P. Rodrigues
2001
Capa, layout e editoração eletrônica: Ana da Rosa Bandeira
Consultoria de editoração, pesquisa e digitalização de imagens: Nara Rejane da Silva

Impresso no Brasil
 Copyright 2001 – Teresinha dos Santos Brandão

Tiragem: 500 exemplares

Obra publicada por L. M. P. Rodrigues, com o patrocínio de Michigan/Alfa Pré-Vestibular e o


apoio da Universidade Católica de Pelotas.

Pedidos para: R. Cel. Alberto Rosa, 1886 apto. 403 CEP: 96010-770 – Pelotas - RS
ou pelos e-mails: aflag.sul@zaz.com.br e naras.sul@zaz.com.br

B817t Brandão, Teresinha


Texto argumentativo : escrita e
cidadania. / Teresinha Brandão. – Pelotas: L. M. P.
Rodrigues, 2001.
88 p.

1. Português – estudo e ensino.


2. Produção textual. 3. Redação. I. Título.

CDD 469

Ficha Catalográfica: Bibliotec. Cristiane de Freitas Chim CRB 10/1233


Dedico este livro

AOS MEUS SOBRINHOS – a ordem é estritamente alfabética! –,


ALFEU COSTA DA SILVEIRA NETO, BRUNO BRANDÃO DE VARGAS,
GABRIEL FLIEG AMARO DA SILVEIRA (recém vindo ao mundo!), LUCAS DE
MORAES SMITH (apesar da distância...), MARINA DUARTE GUTIERRE,
MARÍLIA BRANDÃO AMARO DA SILVEIRA e PAULA BRANDÃO DE VARGAS,
os quais, mesmo nos momentos em que a tristeza se fez presente em mim,
foram capazes, pelo encanto, carinho e alegria que emanam, de ajudar a
superá-la. Guardarei deles para sempre as lembranças do primeiro sorriso, das
primeiras palavras, dos passinhos ainda inseguros, das fotos, das gracinhas.
Lutarei, junto a eles, contra as preocupações e adversidades de que a vida não
puder poupá-los.

À AMIGA LAÍS MARIA PASSOS RODRIGUES, cujos laços de amizade


ultrapassam a relação meramente profissional, propiciam momentos de grande
riqueza e firmam uma relação baseada no companheirismo e cumplicidade.

AOS MEUS PAIS, ARITA E PORFÍRIO E ÀS MINHAS IRMÃS,


FABIANA E ROSANE, que, com entusiasmo, partilham sempre de meus sonhos
e, incansavelmente, lutam por sua realização.
.
Agradecimentos

Este livro resultou dos esforços e dedicação de diversas pessoas. Seria


impossível mencioná-las todas. Citarei algumas para expressar meu reconhe-
cimento.
A FLÁVIO RESMINI, SÉRGIO HUMBERTO FACCINI SILVA, JOSÉ VOLNI
DUARTE E GENY DA CUNHA DUARTE, por terem, pacientemente, suportado
meus momentos de ansiedade e dependência e, por meio de muita compreensão,
ajudado a superá-los.
A GIANE DA CUNHA DUARTE, MARTA SÓRIA E REJANE DE MORAES
SMITH, cuja amizade encontra-se feito presente em quase todos os momentos da
minha vida.
À PROFESSORA LAIZI DA SILVA DAS NEVES, que me ensinou a ler e
escrever, abrindo-me as portas para um universo desconhecido mas profun-
damente agradável – o mundo das palavras.
ÀS AMIGAS LÍGIA MARIA DA FONSECA BLANK E RENATA BEIRO, as
quais sempre vibraram com minhas vitórias e me orientaram nos passos iniciais de
minha vida profissional.
A ANA DA ROSA BANDEIRA E À AMIGA NARA REJANE DA SILVA, pelo
paciente trabalho de digitação e dedicada criação do layout.
AO AMIGO E COLEGA LUIZ GUSTAVO RIBEIRO ARAÚJO, com quem
partilhei as primeiras idéias deste livro. Sou grata às suas críticas e sugestões,
assim como à crença que deposita em meu trabalho.
À AMIGA E PROFESSORA ANA ZANDWAIS, pela dedicação e acompa-
nhamento crítico a mim dispensado durante o período em que fui aluna do mes-
trado. Seu exemplo de profissionalismo e seriedade marcaram-me profundamente.
A CLÁUDIO DA CUNHA DUARTE E A GILBERTO GARCIAS, pela
amizade e empenho na publicação deste livro.
A MICHIGAN-ALFA PRÉ-VESTIBULAR, pelo patrocínio, e a UCPel, pelo
apoio, agradeço. Sem a participação dessas instituições talvez não fosse possível a
publicação da obra.
A ANDRÉ MACEDO E INÊS PORTUGAL, da equipe do Diário Popular, de
Pelotas, pelo incentivo e apoio na divulgação desta obra.
... e, como não poderia deixar de mencionar, A TODOS OS MEUS
ALUNOS, que enriquecem a criação deste livro porque dele se tornaram partícipes
e co-autores.
.
Apresentação

A obra Texto argumentativo: escrita e cidadania oportuniza a quem deseja aprimo-


rar a produção textual não apenas uma teoria embasada no que há de mais atual na dou-
trina lingüística, mas, com diversificados exercícios, mostra a riqueza de recursos que a
língua materna nos oferece.
A autora, profissional dedicada, competente e com experiência no ensino médio,
reconhece a importância de desmistificar o ensino de português, especialmente de reda-
ção, no sentido de demonstrar que este não se baseia em regras difíceis e rígidas, em ex-
ceções ou armadilhas, mas sim consiste num tesouro do qual dispomos para expressar
nossas idéias, nossos sentimentos, nosso posicionamento diante do mundo; enfim, para
exercermos a plena cidadania.
De forma bastante didática, a autora, por meio de atividades criativas, cujos temas
vão ao encontro do interesse dos jovens, porque atuais e estimulantes, propicia o desen-
volvimento não apenas do senso crítico, do raciocínio, da capacidade de argumentar, como
ainda estimula a criatividade.
Destacaria, como “ponto alto” desta obra, as práticas textuais concernentes à coe-
são e coerência – tão indispensáveis a um bom texto –, dando ênfase à pertinência do en-
riquecimento do vocabulário, já que os estudantes, sem dúvida, possuem plena capacidade
de raciocínio e discernimento, no entanto, às vezes lhes foge o “como dizer”. Tais exercí-
cios fortalecem o conceito de que utilizar um vocabulário pertinente à situação de interlocu-
ção confere credibilidade às informações dadas, assim como auxilia a criação de uma ima-
gem positiva, de seriedade do produtor; dessa forma, concorre para reforçar o peso argu-
mentativo de um texto e a capacidade de persuasão.
Assim sendo, com Texto argumentativo: escrita e cidadania, Teresinha brinda os
estudantes – razão de ser desse livro –, os professores e aqueles apaixonados pelo idioma
e eternos aprendizes.

Laís Maria Passos Rodrigues


.
Palavras da autora

Gostaria, inicialmente, de ressaltar alguns aspectos relativos ao título desta obra.


Embora acredite que a argumentação seja constitutiva da linguagem, independente
da tipologia textual, concentrei neste livro a atenção em apenas dois tipos de texto: a carta
e a dissertação.
Acredito serem elas importantes por duas razões: a primeira justifica-se pelo fato
de, na atualidade, a maioria dos veículos de comunicação impressos destinar um espaço
privilegiado aos leitores que queiram expressar seus posicionamentos, sejam eles para
ratificar ou contestar as mais diversificadas idéias.
Ademais, lembro que, com a redemocratização do País, após um exaustivo período
de censura, a escrita de textos desse tipo, veiculados na mídia ou via internet, tem se mos-
trado uma das formas mais eficientes de a sociedade civil manifestar-se e, desse modo,
exercer um direito legítimo, que é fruto de sua conquista: o direito à cidadania.
Outra razão – esta de ordem pragmática – diz respeito à minha prática pedagógica.
Exercendo o magistério, durante alguns anos, no ensino médio, sobretudo em classes fi-
nais, de 3º ano, assim como em cursos pré-vertibulares, senti a necessidade de produzir
um material didático voltado às exigências de meus alunos. Como as universidades da re-
gião em que atuo – UFPel e UCPel –, a exemplo da UNICAMP – SP, adotam, em suas pro-
vas de vestibulares, pelo menos uma das duas modalidades citadas, julgo plenamente
justificável nelas ter-me concentrado.
É meu desejo, pois, que a obra atenda a essas duas necessidades. Como todo tra-
balho humano é passível de erros e, de outro modo, sujeito a acertos, as contribuições dos
que vierem a adotar este livro serão bem-vindas.

Um abraço,

A autora
.
Sumário

I PARTE - Aspectos teóricos ..............................................Erro! Indicador não definido.


1 Considerações iniciais: características do texto argumentativo ............................ 13
2 Finalidades da argumentação .............................................................................. 16
3 Diferenças fundamentais entre argumentação/ persuasão/ coerção .................... 17
4 Um exemplo de texto argumentativo: a carta ....................................................... 19
5 O uso da coletânea e a importância do levantamento de idéias ........................... 21
6 Sugestões de como fazer (quadros sintéticos) ..................................................... 26
7 A contra-argumentação na carta argumentativa ................................................... 28
8 Sugestões de como fazer (quadros sintéticos) ..................................................... 34
9 Um outro exemplo de texto argumentativo: a dissertação .................................... 36
10 Sugestões de como fazer (quadros sintéticos) ................................................... 42
11 A contra-argumentação no texto dissertativo-argumentativo .............................. 45
12 Um exemplo de contra-argumentação em texto dissertativo-argumentativo ....... 49
13 Sugestões de como fazer (quadros sintéticos) ................................................... 50
14 O uso dos advérbios e adjetivos na argumentação ............................................ 52
15 O uso dos elementos coesivos nos textos argumentativos ................................. 55

II PARTE - Problemas de redação .............................................................................. 61


Análise de problemas de redação ........................................................................... 61

III PARTE - Propostas de redação .............................................................................. 73


Proposta nº 1 .......................................................................................................... 73
Proposta nº 2 .......................................................................................................... 78
Proposta nº 3 .......................................................................................................... 81
Proposta nº 4 .......................................................................................................... 83

Referências bibliográficas .......................................................................................... 87


.
1 Considerações iniciais: características do texto argumentativo

Para bem entendermos o processo de argumentação, assim como as características


e os elementos que compõem um texto argumentativo, tomemos por base a coletânea a
seguir, cuja temática centra-se no amor:

Texto 2:

Texto 1: “Márcia, se eu gastasse todas as @ deste


ciberespaço, ainda assim não poderia expres-
“O amor é finalmente sar o quanto curto teclar com você.
um embaraço de pernas, Amor, Rick”
uma união de barrigas,
(declaração virtual)
um breve tremor de artérias,
uma confusão de bocas,
uma batalha de veias, Texto 3:
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta.” “Dizer que brevemente serás a metade
Gregório de Matos de minha alma. A metade? Brevemente?
Não: já agora és, não a metade, mas toda.
(In: BARBOSA, S. A., AMARAL, E. Dou-te a alma inteira, deixas-me apenas
Escrever é desvendar o mundo: a Uma pequena parte para que eu possa
linguagem criadora e o pensamento
lógico. Campinas: Papirus, 1986)
existir por algum tempo e adorar-te.”
Graciliano Ramos
(Em Cartas de Amor a Heloísa)
14 Teresinha Brandão

Texto 4:

(VERISSIMO, Luis Fernando. As cobras em: se Deus existe que eu seja atingido por um raio. Porto Alegre: L&PM, 1997. p.19)

Texto 5: Texto 6:

“Para falar tudo: a vida não começa quando se


“Amor, existiria substantivo
nasce. Começa quando se ama. Romantismo à
mais abstrato? Amar, outro
parte, só adquirimos consciência de nós mesmos
verbo teria sido tantas ve-
quando, sempre de repente, sem aviso prévio,
zes conjugado? Ninguém é
sentimos que alguma coisa mudou no mundo,
capaz de captar as infinitas
na noite e no dia, na luz e no vento, mudou tudo
reverberações dessa pala-
dentro da gente: estamos enamorados.
vra, ela escapa até mesmo
É ainda um anúncio, ‘preview’ de alguma coisa
àquele que vasculha e fre-
que pode ser o tesão, o caso, o rolo, o equívoco.
qüenta todas as celas se-
São variantes para o grande programa que é o
mânticas do dicionário. O
amor, síntese de tudo o que foi fragmentariamen-
amor se desdobra em mitos,
te anunciado. Amante é um ofício. Namorado,
se renova em histórias pre-
uma vocação.
téritas e futuras, renasce em
Há amantes que não se namoram. E namorados
cada poema (...)”
que não são amantes. O amor é escravo do tem-
po, nasce e pode morrer com o tempo.”
(Augusto Massi. A Paixão na Morada
(Carlos Heitor Cony. A estrela da Ursa Maior. Folha de São do Poema. Folha de São Paulo,
Paulo, 12/06/96) 12/06/96)

rências, pontos de vista diversos sobre o


amor. Ela o concebe como um sentimento
plural, heterogêneo: amor “carnal” (ou “eróti-
co”), “espiritual”, “virtual”, “racional”,...
Se tomarmos o Texto 1 como exemplo,
veremos que seu autor sustenta uma tese –
proposição ou teoria considerada verdadeira,
que pode ser defendida com argumentos – a
qual aponta para uma conclusão, a saber: o
“verdadeiro” amor é o carnal, aquele que
merece efetivamente ser vivenciado.

A coletânea evidencia, através de seus


textos, opiniões, julgamentos, prefe-
Texto argumentativo: escrita e cidadania 15

Além disso, nesse tipo de texto, per- argumentativo, ocorre justamente o contrá-
cebemos uma característica peculiar do pro- rio: o autor intervém freqüentemente na
cesso de argumentação: ele pressupõe o análise do tema, por meio de críticas, res-
confronto de idéias. Tal aspecto heterogêneo salvas, na escolha do vocabulário, entre
da argumentação pode ser comprovado atra- outras formas de expressão, manifestando
vés do verso “quem diz outra coisa é besta”, seus sentimentos, gostos, opiniões.
o qual se contrapõe a uma outra concepção Lembremos, também, que, num
de amor não explicitada no texto. texto argumentativo, a ressal-
Alguns pontos, no va torna-se um importante
entanto, devem ser salienta- elemento de que se pode lançar
dos para que não se confun- mão, pois ela funciona como

Ilustração: Nara Rejane da Silva


dam noções básicas sobre o um mecanismo para flexibili-
ato de argumentar. zar o ponto de vista. O obje-
Apesar de, nas esco- tivo da ressalva é conciliar
las, de um modo geral, ter- com o interlocutor, reconhe-
mos aprendido que existem cer parte da verdade contida
basicamente três tipos de nas palavras deste.
texto – descritivo, narrativo e Se o assunto em
dissertativo –, e apenas o questão for a liberalização das
último ser sinônimo de “argu- drogas, no caso a maconha, e,
mentativo”, notamos, através se o autor do texto for desfa-
da coletânea, que os elemen- vorável a tal liberalização, ele
tos os quais compõem um pode relativizar seu ponto de
texto argumentativo podem vista, admitindo que “Apesar
se fazer presentes nos mais dos inúmeros malefícios que
variados tipos de texto: num poema, numa esta droga pode causar ao organismo, é ine-
charge, em ensaios, em narrações, em tex- gável sua contribuição no tratamento de al-
tos dramatúrgicos, entre outros. Mais ainda: guns tipos de cânceres ou no de doentes que
numa conversa de bar; num diálogo entre desenvolveram a Aids.”
mãe e filho em que este reivindica, faz exi- O levantamento de hipóteses
gências. igualmente se mostra relevante no texto
Tais considerações explicam o fato argumentativo.
de que a argumentação é constitutiva da Tomemos como exemplo um fato da
linguagem, independente do texto em atualidade – a violação do painel do Senado,
questão, da tipologia textual tradicionalmen- no ano 2001, envolvendo os então senadores
te ensinada nas escolas, segundo a qual “ar- ACM e Arruda –. O aluno poderia tecer sua
gumentação” chega até mesmo a ser sinô- análise levantando hipóteses: caso eles não
nimo única e exclusivamente de “disserta- tivessem renunciado, a cassação teria ame-
ção”. nizado uma possível sensação de impunidade
Julgamos necessário questionar, em vigor no País? A instauração de uma CPI
ainda, idéias as quais sustentam que, em teria conferido maior credibilidade ao próprio
determinados textos argumentativos, como a Senado? Ou não? A julgar pela decisão dos
dissertação escolar, devem prevalecer a “im- dois senadores, quais as perspectivas fu-
pessoalidade” e a “objetividade”. Ora, nesse turas em relação ao cenário político brasi-
tipo de texto, exigir-se que o autor “não se leiro?
inclua” ou que exponha de forma “objetiva”, Trata-se, pois, de hipóteses que po-
quase “imparcialmente”, dados de uma reali- dem enriquecer a análise de um tema.
dade, mostra-se um despropósito. Num texto
2 Finalidades da argumentação

A argumentação presta-se a propósitos vários, entre os quais se destacam:

reforçar uma determinada posi-


ção em favor de uma tese (quando
o interlocutor já crê ou crê quase
completamente na tese do locu-
tor);

produzir uma mudança de menta-


lidade/comportamento, provo-
cando, dessa forma, a adesão do

Ilustrações: Nara Rejane da Silva


interlocutor em favor de uma de-
terminada tese (quando o interlo-
cutor não crê ou crê parcialmente
na tese do locutor);

levar a conhecer, compreender as ra-


zões pelas quais aquele que argumenta
sustenta determinada tese, não objeti-
vando necessariamente a adesão (quan-
do o interlocutor desconhece a tese do
locutor). Por exemplo, em uma eleição, o
“Partido X” não apresenta condições de
vitória, mas, ao menos, seu discurso “a-
bre espaço” para tornar pública sua plata-
forma política. Um outro caso: um advo-
refutar uma determinada gado, em um julgamento, sabe que sua
posição, mediante contra- tese é “perdida”; no entanto, sustenta-a
argumentos (quando o locu- até mesmo para “marcar presença”, tor-
tor não quer crer em deter- nar-se conhecido no meio jurídico;
minada tese).
3 Diferenças fundamentais entre argumentação/ persuasão/ coerção
A argumentação é um processo da evidência, há o apelo à afetividade, à
que se dá a partir do raciocínio lógico, da impulsividade, ao imediatismo. A persua-
organização do pensamento de forma a são assim vista é própria da maioria dos
sustentar uma tese com argumentos cla- discursos publicitários, dos discursos políti-
ros, convincentes, sem apelar ao imedia- cos não-sinceros.
tismo e à emocionalidade. Como exemplo de texto em que a
Já a persuasão (alguns teóricos persuasão sobrepõe-se à argumentação,
tratam-na por persuasão não-válida) analisaremos a propaganda a seguir.
ocorre quando, em lugar da racionalidade,

A Duloren elabo-
rou sua campanha de
lançamento de lingeries
movendo o leitor pela
provocação, pelo de-
safio, conforme perce-
bemos não só pelas
fotos como também
pela estrutura utilizada
“Você não imagina...”,
a qual desperta uma
intensa curiosidade. Na
revista, esta curiosi-
dade é aguçada, pois
as duas fotos apare-
cem de tal forma que o
leitor, para continuar a
leitura, deve virar a
página.
18 Teresinha Brandão

Provocação, desafio, curiosidade, ero-


tismo são, pois, palavras-chave neste texto.
Não é o “raciocínio lógico” que incita o
leitor a virar a página e compreender o texto,
até porque, pela “lógica”, seria difícil acreditar
que um membro da seita radical Ku Klux Klan,
conhecida pelas suas idéias de racismo extre-
mo, poderia “dobrar-se” aos apelos de uma
mulher – e negra! – e, ao invés de ser seu car-
rasco, tornar-se seu servo, o “dominado”.
(Revista Nova, nº 265)

A coerção também se diferencia terlocutor a concluir que fumar faz mal à


da argumentação: enquanto a primeira saúde, ou, pelo menos, a refletir sobre os
visa impor uma tese, por meio de uma prejuízos do tabagismo. Podemos sentir,
proibição, por exemplo, como em “Não no último caso, o caráter “liberal” da
fume!”, cuja tese é “fumar faz mal à sa- argumentação já que esta permite o con-
úde”, a segunda conduz, através de argu- fronto de idéias, promove a discussão.
mentos próprios do raciocínio lógico, o in-

Em síntese: argumentar não é simplesmente impor, mas fazê-lo caso se queira a a-


desão do outro legitimando essa imposição por meio de uma análise convincente,
bem fundamentada, fato que não ocorre com a coerção já que esta depende unicamente
da vontade do locutor, manifesta através de proibições, advertências, entre outros re-
cursos.
Lembremos, ademais, que, no texto argumentativo, há uma ambivalência: ao
mesmo tempo em que existe esse efeito de “livre arbítrio”, ou seja, o interlocutor “pode”
reforçar uma tese, aderir a ela ou discordar dela, há a vontade de o locutor conduzir o
interlocutor a aderir às idéias daquele. Argumentar, neste caso, significa levar o interlo-
cutor a aceitar o que está sendo dito. Talvez seja esse caráter coercitivo que levou o
teórico Charolles afirmar que “o horizonte de toda argumentação é o silêncio”...
CHAROLLES, M. Les formes directes et indirects de l’argumentation. Pratiques, n.64, p.7-45.
4 Um exemplo de texto argumentativo: a carta
As universidades UNICAMP e proposta.
UFPel propõem, em suas provas de ves- No ano de 1996, sugeriu-se aos
tibulares, uma modalidade textual muito alunos que redigissem uma carta argumen-
interessante: a carta argumentativa. tativa ao então ministro da Justiça, Nelson
Nesse tipo de texto, o vestibulan- Jobim, com o objetivo de os vestibulandos
do costuma aderir, reforçar ou contrariar manifestarem-se sobre a norma, criada pe-
uma tese a partir de uma coletânea de tex- lo Governo Federal, a qual proibia fumar
tos que constam na prova. em recintos públicos fechados.
Vejamos um exemplo dessa moda- Observemos o texto de um dos
lidade, tomando por base a seguinte alunos, Fernando Rezende.

Pelotas, ___ de ____________ de ______.

Excelentíssimo Senhor Nelson Jobim

Tendo tomado conhecimento, por meio da imprensa, da norma que regulará o


tabagismo emrecintos públicos fechados de nossa sociedade, resolvi escrever-lhe para
tecer algumas considerações, oferecendo-lhe, dessa forma, minha contribuição acerca
desse tema relativamente complexo e polêmico.
Considero justa a restrição legal ao uso do cigarro em recintos públicos fecha-
dos, já que esta norma visa proteger a saúde das pessoas que não fumam. No entanto, a
ausência de medidas concomitantes a esta proibição, no sentido de restringir ou mesmo
proibir totalmente a propaganda de cigarros fragiliza, no meu entender, a referida norma.
É necessário, senhor ministro, alguma atenção do Poder Público aos que fumame que-
rem abandonar o hábito, e uma especial atenção aos jovens que, através da propagan-
da, irão engrossar as fileiras das vítimas desse malefício.
Gostaria ainda de lembrar-lhe que o fumante, ao comprar ummaço de cigarros,
está contribuindo coma União, por meio de umimposto muitíssimo elevado. Uma parce-
la desse imposto deveria ser, por lei, destinada à pesquisa sobre este problema, tendo
por finalidade a prevenção contra os males do tabagismo e o tratamento dos dependen-
tes da nicotina.
Portanto, solicito aVossa Excelência que considere minha colaboração no senti-
do de tornar a lei antitabagismo mais consistente e, por conseqüência, mais eficaz.

Atenciosamente,
F. R.
Comentários sobre o texto:
20 Teresinha Brandão

Destacam-se, no texto de Fernando de legislação e informações sobre o


Rezende, alguns elementos relacionados tabagismo.
ao contexto, à situação em que foi es-
Notemos que, na introdução da carta,
crito, tais como a data, o local, o
o aluno deixa claras algumas
interlocutor e o locutor.
informações: como tomou conhecimento
Quanto à interlocução, na carta, do assunto, qual o assunto em questão e a
aparece explícita, através do vocativo, ou finalidade do texto.
do uso de pronomes. Consideremos, no
No 2º parágrafo, já no desenvolvi-
processo de interlocução, a importância de
mento, ele expressa um ponto de vista
o locutor/interlocutor terem uma imagem
(“Considero justa...”), seguido de uma
precisa, clara um do outro para conduzir os
ressalva (“No entanto...”). Esta se faz
argumentos na direção exata a que se
acompanhar de uma crítica
quer chegar. Sem o locutor conhecer as
(“...fragiliza...”). Ademais, chama a aten-
necessidades, as vontades, as limitações
ção para a importância de o ministro, atra-
do interlocutor, difícil se tornará esse pro-
vés do Poder Público, reverter o quadro em
cesso.
questão. Os argumentos do aluno mos-
O aluno levou em conta, ao escrever tram-se consistentes já que há uma tripla
a carta a Nelson Jobim, que este era um preocupação: com os fumantes, os não-
ministro de Estado, da área da Justiça, fumantes e os que poderão vir a ser fu-
portanto, alguém que deveria ser tratado, mantes.
pois não havia intimidade entre os dois,
No 3º parágrafo, o locutor reitera a
com um certo grau de formalidade. Para
necessidade de o ministro, como membro
tanto, usou a norma culta da língua, um
representante da União, tomar uma atitude
vocabulário próprio ao contexto,
quanto ao assunto, mas essa solicitação
evitou intimidades ou posturas
ou exigência, são feitas com polidez.
agressivas, mesmo quando criticou o
Poder Público. Além disso, não tratou o Na conclusão, no 4º parágrafo, ele
ministro como se este desconhecesse o confirma a finalidade da carta – contri-
assunto em questão, pois ambos buir, por meio de seus argumentos, para
compartilhavam informações, tinham que a norma seja revista (“tornar a lei an-
conhecimento sobre a norma. Até mesmo titabagismo (...) eficaz.”).
as sugestões e solicitações feitas por
ele ao ministro foram adequadas,
exeqüíveis ao cargo que este ocupava.
Por outro lado, Fernando não se pre-
ocupou somente com a imagem que ele
tinha do ministro, mas também com a
imagem que o ministro poderia formar de
Fernando, fato o qual ficou claro na apre-
sentação que apareceu no início da carta,
assim como nos próprios argumentos usa-
dos, demonstrando, com isso, “dominar”,
mesmo não sendo um especialista, noções
Palácio da Justiça, Brasília. Foto: Daniel Macedo.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 21

Agora observemos algumas marcas lingüísticas explícitas no texto:

Excelentíssimo
Senhor Nelson Jobim/ escrever-lhe/ resolvi
oferecendo-lhe/ É necessário, senhor escrever-lhe/ minha contribuição/
ministro/ lembrar-lhe/ solicito a Vossa Considero/ no meu entender/ Gosta-
Excelência; ria de/ solicito;

tema relativamente complexo


e polêmico/ Considero justa/ especial atenção/ muitíssimo elevado/ lei (...) mais
consistente (...) mais eficaz;

d) uso de substantivos na
argumentação: tabagismo/ ma- oferecendo-lhe, dessa forma/ já
les/ malefício/ restrição/ vítimas/ que esta norma/ No entanto/ Gostaria
prevenção/ tratamento; ainda/ Portanto/ por conseqüência.

O uso da coletânea e a importância do levantamento de idéias


Um dos aspectos considerados na to proveitoso! – acrescentar idéias prove-
avaliação de redações propostas pela UFPel nientes de seu conhecimento de mundo, de
e UCPel refere-se ao uso da coletânea. O sua experiência cultural.
vestibulando não pode, segundo as ban-
Além de fornecer informações,
cas examinadoras, apropriar-se dela
argumentos, a coletânea desempenha a
copiando trechos como se estes tives-
função de delimitar o tema, por vezes
sem sido escritos por ele mesmo. No
amplo, di-recionando-o, indicando que
entanto, os argumentos nela contidos podem
aspectos devem ou não ser
ser parafraseados, ou seja,
abordados. No texto de Fer-
ele pode utilizá-los,
nando Rezende, nota-se a
desenvolvendo-os “com suas
preocupação em posicionar-
próprias palavras”. No caso
se sobre a norma em
de dados estatísticos, fatos
questão, e não em tecer
históricos (inclusive datas),
uma análise ampla acerca
citações, por exemplo, é
dos malefícios ocasionados
permitida a cópia desde
pelo tabagismo.
que se esclareça a fonte.
Para bem
Além disso, o aluno
aproveitarmos a coletânea,
não precisa limitar-se às
informações e/ou argumen- o ideal seria organizarmos
Ilustração: Nara Rejane da Silva
tos da coletânea, nem mesmo utilizar todos um levantamento das
os fragmentos dela. Ele pode – e isso é mui- idéias, ou seja, um esquema cujas idéias
22 Teresinha Brandão

poderão auxiliar o aluno na construção de textos. Assim, há determinados “passos”,


seu texto, sobretudo se este for baseado uma espécie de roteiro os quais podem ser
em outro texto ou em um con-junto de os seguintes:

fazer o levantamento dos


dados contidos na coletâ-
nea - idéias-chave reti-
selecionar estruturas
radas dos textos;
básicas a serem utili-
zadas - articuladores
de causalidade, conti-
nuidade, oposição,
comparação etc.;

selecionar um voca-
bulário compatível organizar o plano das idéias -
com o tema: verbos, argumentação própria, acres-
substantivos, adje- cida dos dados da coletânea os
tivos, advérbios, quais julgar mais relevantes a
pronomes; fim de reforçar o ponto de
vista e enriquecer o texto ou
dados que serão contestados
(no caso da contra-argumen-
tação).
Antes, portanto, de concentrar-se Como exemplo de bom uso da
na coletânea, analisemos atentamente a coletânea, leia a proposta abaixo, feita no
proposta que as bancas apresentam pois há ano 2000, seguida da carta argumentativa,
nela itens os quais devem ser observados redigida pela aluna Ana Barbosa Duarte,
para que não haja fuga do tema ou ina- assim como o comentário posterior.
dequação ao tipo de texto.

Proposta de redação:
No decorrer do ano 2000, houve brasileiros?”
inúmeros eventos os quais visaram a Para tanto, redija uma carta argu-
celebrar os 500 anos de Descobrimento do mentativa ao editor do jornal Folha de São
Brasil. Paulo (FSP), posicionando-se sobre o tema.
Baseando-se não só na conjuntura Ao elaborar seu texto, utilize alguns
atual, mas também tomando por base o pas- argumentos expostos na coletânea abaixo,
sado histórico de nosso país, reflita sobre a assim como outras informações que julgar
seguinte questão: “A data comemorativa dos relevantes.
500 anos de descobrimento de nossa terra é Atenção: ao assinar sua carta, use
motivo de comemoração para nós, apenas as iniciais de seu nome.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 23

“Hesito um pouco em entrar nessa discussão sobre o


Descobrimento e seus festejos, porque é entrar no jogo do "Não vou comemo-
rar como Natal ou Ano
governo. Essa história de festejar a data é invenção e obra
Novo, mas vou ficar mui-
do governo e suas centenas de milhões de reais a serem to feliz. O Brasil é um
gastos. A partir da iniciativa do governo, e apoiados emseus país maravilhoso, não e-
recursos, uma série de organismos se contagiou pelo tema xiste mais bonito. A cul-
e não termina nunca esse desfile de ufanismo: dos desfiles tura eanaturezadanos-
das escolas de samba à penca de livros sobre o assunto, saterrasãomuitoricas.”
das campanhas publicitárias às capas de revistas. (Folhateen; Fernando Gomide
Novaes, 20, São Paulo, SP)

O governo festeja a data porque, sei lá, não tem nada


mais pra festejar nesse país miserável e com tantos proble- "Não existe muita
coisa para se comemo-
mas. Assim, ao invés de ter de se preocupar com decisões
rar. Só vejo violência e
complicadas, como continuar deixando metade da popula- desemprego: a barra es-
ção se esvair emsubnutrição ou usar o dinheiro para custear tá pesada para o brasi-
sua dívida com a banca, o pessoal de Brasília deixou de leiro. Além disso, o Des-
dramas e decidiu torrar o negócio em festas. Quer imbuir na cobrimento significou a
população um sentimento de amor à pátria e deslumbra- mortedos índios.”
mento com a nação, para que o povo se maravilhe com o (idem; Alisson de Moura, 21,
nosso passado e esqueça os problemas do presente. (...)” São Paulo, SP)

(Em: Folha de São Paulo,


(Gustavo Ioschpe - Colunista da Folha - FSP, 17/04/2000) 13/03/00)

Folha - Para que servemdatas como a dos 500 anos?


Romero Magalhães - São momentos de reflexão e de estudo. É evidente que, para isso,
é preciso chamar a atenção, alertar as pessoas para a efeméride e, portanto, a festa é um
componente que funciona apenas como desencadeador do processo de reflexão.
(Comissário-geral da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses,
catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, e da Cátedra Jaime Cortesão, da USP.
Em: FSP, 10/04/00)

"É motivo de vergonha a maneira como a mídia exalta os 500 anos do Descobri-
mento. Alémde parecer que o país não existia antes do 'grande favor' que os europeus fi-
zeram em aqui pisar, o assunto é abordado como se fôssemos eternamente gratos a
nossos 'descobridores'. Oque temos a comemorar? Os 500 anos do início da escravidão
(que ainda não acabou)? Os 500 anos durante os quais recursos naturais como o pau-
brasil e o ouro foram, de certa forma, roubados daqui? Será que são causa de tamanha
festa os 500 anos durante os quais nos tem sido imposta uma cultura adversa às
condições do povo brasileiro e do Brasil?”
Evilânia Alfenas Moreira (Sabará MG)
(FSP, 10/04/2000)
24 Teresinha Brandão

"Caravelas novamente ao mar; reprodução fidedigna "Não sei o por-


da carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal; reló- quê de tanto pessi-
gios globais acionados para a contagem regressiva; um mismo com relação
lauto banquete para a tão esperada comemoração dos 500 ao nosso país. Da-
anos do Descobrimento do Brasil. Oque realmente há para dos do último relató-
celebrar??? Talvez o genocídio de tribos selvagens por rio da ONU, por e-
meio das guerras justas. Ou melhor, o extermínio de avan- xemplo, demonstram
çadas civilizações e a crueldade dos conquistadores euro- ter havido uma me-
peus. E, assim, mais uma vez, o Brasil aplaude e engole a lhora quanto ao nível
inocente versão ensinada nas escolas de que Cabral che- de expectativa do
gou ao Brasil por acaso. O importante é mais uma vez con- brasileiro.”
firmar a incompetência da América católica!!!”
Samuel Pucci, 20 (via e-mail) (depoimento de aluno;
(FSP, 11/04/2000) ano: 1999)

FSP, 22/04/00

Pelotas, 29 de abril de 2000.

Senhor Editor

Após a reflexão sobre algumas matérias publicadas por Vossa Senhoria, no


jornal Folha de São Paulo, as quais tratavam da data comemorativa dos 500 anos de
descobrimento do Brasil, tomei a iniciativa de escrever-lhe a fim de expor minhas idéias
e, dessa forma, ampliar a discussão acerca do polêmico tema.
Julgo, inicialmente, que essa comemoração trata-se de uma estratégia política
por parte das autoridades, com a conivência da mídia: esta mascara realidades dolo-
rosas vivenciadas no passado e omite a exploração dos trabalhadores na atualidade [4],
alémde incitar, propositalmente, na população umsentimento de exagerado patriotismo.
Desse modo, a sociedade, voltada somente ao passado, relega ao esquecimento os pro-
blemas atuais [1], fato que desencadeia alienação e comodismo.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 25

Ademais, manchetes como "Bahia: o Brasil começa aqui" tratam do descobri-


mento como se ele fosse o marco inicial de nossa civilização, menosprezando os povos
que aqui viviam antes de Cabral [4, 7] os quais foram explorados e exterminados pela
"civilização" européia interessada apenas emnossas riquezas [2, 5].
Peço-lhe que considere, também, os muitos milhões empregados nessa festa
comemorativa pois a réplica da Nau Cabralina e o relógio criado para a contagemregres-
siva da data são apenas exemplos do desperdício do dinheiro público, verba que poderia
ser empregada na compra de terras aos índios, que possuem direitos negados até hoje,
assimcomo eminvestimentos nos setores da educação ou saúde pública.
No entanto, penso que a data não deve ser esquecida; ela deve representar um
marco de reflexão do povo brasileiro acerca de seus problemas; daí a necessidade de se
ampliar discussões [3].
Com base nos argumentos por mim expostos, solicito-lhe que reflita sobre meu
posicionamento. Gostaria, ainda, senhor editor, que, se possível, incluísse minhas idéias
emalguma matéria a ser publicada por este jornal.

Respeitosamente,
A.B.D.

Comentários sobre o texto:

Os números destacados nos col- na coletânea, como a referência feita à man-


chetes, no texto da aluna, indicam os frag- chete “Bahia: o Brasil começa aqui”, veicu-
mentos da coletânea os quais continham as lada freqüentemente em algumas emissoras
idéias por ela apresenta- de televisão, durante a
das. Como percebemos, época das comemorações.
Ana Duarte não copiou li- Forneceu, ainda,
teralmente os trechos da sugestões sobre como
coletânea, mas transfor- aplicar a verba destinada
mou-os, “traduzindo”, com às comemorações.
palavras próprias, a idéia- Por fim, desta-
base de que queria lançar quemos o bom desempe-
mão. nho da aluna ao utilizar a
Salientemos, tam- coletânea: produziu crí-
bém, que Ana não utilizou ticas, acrescentou res-
todos os fragmentos ao salvas (“No entanto...”).
construir seu texto. As Quanto à proposta de
idéias da resposta “sim”, redação, desenvolveu-a
do fragmento 2, assim de forma adequada uma
como o depoimento, de 6, vez que não fugiu do
por exemplo, não constam tema e atendeu ao so-
em seu texto. licitado, fazendo refe-
Por outro lado, rência não só à conjun-
Ana Duarte acrescentou tura nacional presente co-
informações as quais Nau portuguesa. Fonte: PILETTI, N.; PILETTI, C. mo à passada.
História & vida. 13a. ed. São Paulo: Ática, 1993. v1, p.39.
não se faziam presentes
Sugestões de como fazer ( quadros sintéticos)

ESTRUTURA
Introdução: Pode conter um elogio ou uma censura (esta, no caso da contra-
argumentação) a uma reportagem ou artigo lidos, ou a algum projeto
de lei, por exemplo;
sua função é indicar o assunto, o qual não deve ficar em suspen-
so; portanto, ela não deve ser "vaga". Evitar o uso de "chavões" ou
expressões desgastadas como "Venho por meio desta..." ao indicar
a finalidade da carta.

Desenvolvimento: Exposição dos argumentos; uso de ressalvas, as quais ser-


vempara "flexibilizar" o ponto de vista (não torná-lo tão radical)
e/ou alertar sobre um fato; realização de críticas a fim de tor-
nar o texto mais enriquecedor.

Conclusão: Assim como a introdução, não deve ser vaga como, por exemplo, exi-
gir "uma maior conscientização" ou que "medidas urgentes sejam to-
madas" sem explicitar de que forma isso deve acontecer. As suges-
tões, reivindicações, os conselhos de que por ventura o aluno lan-
çar mão devemser bastante claros, detalhados.

Obs.: Nãoháuma "ordem" ou"colocação" rigorosa quantoàs sugestões fornecidas acima. Uma
reivindicaçãopode, por exemplo, aparecer nodesenvolvimento, enãonaconclusão.

RELAÇÃO LOCUTOR/INTERLOCUTOR
Quanto ao ponto de vista, emprego da 1ª pessoa do singular: julgo, penso, acredito,
destaco, considero, acentuo, percebo, creio, observo, discordo, contrario...;
usa-se: senhor/ senhora para tratamento respeitoso em geral (redator, editor, sindicalis-
ta, jornalista);
Vossa Excelência para altas autoridades (presidente, senador, deputado, juiz)/ Excelen-
tíssimo Senhor...;
Vossa Senhoriapara funcionários graduados.

Obs.: Os pronomes de tratamento exigem3ª pessoa:Vossa Excelência e sua equipe,/ seu projeto/ sua re-
portagem/ seu empenho/ sua atuação.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 27

SUGESTÕES PARA INTRODUÇÃO

Acreditando sermos todos nós, brasileiros, responsáveis pelo resgate de valores éticos
e partícipes na construção de nossa plena cidadania, dirijo-me ao senhor [ou:Vossa Se-
nhoria] afimde(...)

Julgo que Vossa Excelência, como congressista eleito com o respaldo de nosso povo,
poderia intervir emquestões tão relevantes como "X", contribuindo para amenizar o pro-
blema "X". Desejo, pois, através de minha manifestação, solicitar-lhe "Y"; para tanto, os
argumentos queapresentarei serão, creio, de fundamental importância.

Acreditando ser umcidadão comprometido comuma prática efetiva no meio emque atuo
e, tendo tomado consciência de diversas matérias [ou: reportagens; artigos; programas
televisivos] acerca do [ou: a respeito de; a propósito de; sobre] tema [ou: assunto; fato;
questão] "X", gostaria de expor-lhe minha posição e, dessa forma [ou: desse modo; as-
sim], contribuir para asuperação[ou: amenização] de (...)

Como uma jovemestudante interessada na construção de umfuturo mais justo de nossa


sociedade, acredito seremminhas opiniões [ou: meu posicionamento] relevantes para a
superaçãodo problema "X"; por isso[ou: portanto; desse modo] resolvi escrever-lhe (...)

Com o intuito [ou: finalidade; objetivo; propósito] de contribuir para formação da opinião
pública e, assim, tentar reverter o quadro [ou: cenário; conjuntura] em que se encontra
nossa nação, gostaria de expor-lhe minhaposição[ou: posicionamento] sobre (...)

Tendo refletido, através de informações [posições; comentários] veiculadas nos mais


variados meios de comunicação [ou: da mídia], acerca de tão importante fato como "X",
escrevo-lhepara(...)

SUGESTÕES PARA A CONCLUSÃO

Combase nos argumentos expostos, gostaria de solicitar sua intervenção nesse setor, a
fimde queVossa Excelênciapossa amenizar (...) por meiode (...)

Julgo, portanto, de suma importância a publicação, neste jornal, de matérias que pos-
sam permitir a reversão [ou: transformação] de quadro tão assustador como o apresen-
tado.

Sugiro, por fim, que intervenha, através do cargo ocupado por Vossa Senhoria, em tão
polêmica questão afimde(...). Paratanto, o ideal seria (...)

Dessa forma, solicito-lhe que considere minha posição e pondere sobre os argumentos
por mimexpostos, publicando, nesta revista, reportagens acerca de "X". Acreditando ser
esse o caminho mais coerente e eficaz para resolver questões como a que lhe foi ex-
posta, sugiro-lhe, ainda, (...)
A contra-argumentação na carta argumentativa
Uma das maneiras possíveis de zado criteriosamente, pode ser muito útil na
emitir nosso ponto de vista sobre um elaboração de textos argumentativos.
tema é demonstrar a falsidade da argu- No ano 2000, propôs-se o exercício
mentação daqueles que pensam diferen- abaixo aos alunos. Leia-o, assim como as
temente de nós. Esse procedimento, cha- instruções, o levantamento das idéias –
mado de contra-argumentação, consiste fruto de discussão em sala de aula –, o tex-
em refutar argumentos alheios. Se utili- to da aluna Daniela Larentis e o comentário
subseqüente.

Proposta de redação:
A autora do texto a seguir utiliza o rebatê-las, por meio de argumentos os
tema “trote”, na verdade, como pretexto quais julgar pertinentes. Escreva-lhe uma
para traçar um perfil dos adolescentes das carta contrapondo-se aos pontos de
classes mais favorecidas do País. Nele, a vista que ela assume em seu texto. Não se
articulista aponta críticas mordazes à ma- esqueça: você terá de necessariamente
neira como reagem diante da realidade. contra-argumentar, refutar as idéias de
Após identificar tais críticas, você deverá Marilene Felinto.

Outras informações/instruções:

Escolha, no mínimo, três das sete declarações, destacadas no


texto da jornalista, para refutá-las, transcrevendo-as em seu ras-
cunho;
proceda, então, ao levantamento das idéias a fim de facilitá-lo a
redigir;
aoassinar sua carta, use apenas as iniciais de seunome.

Todo começo de ano é a mesma cena: calouros de universidades, as cabeças


raspadas e as caras pintadas, incitados ou obrigados por veteranos, ocupam os sinais
de trânsito pedindo dinheiro aos motoristas. É uma das formas do chamado "trote", o
mais artificial dos ritos de iniciação da mais artificial das instituições sociais contemporâ-
neas: a universidade.
O trote nada mais é do que o retrato da alienação em que vivem esses adoles-
centes das classes favorecidas. Com tempo de sobra, eles não têm em que empregar
tanta liberdade. [1]
Ou queremdizer que essas simples caras pintadas têmqualquer simbologia se-
melhante à das máscaras de dança das tribos primitivas estudadas por Lévi-Strauss?
Texto argumentativo: escrita e cidadania 29

Para aquelas tribos índias, as


máscaras eram o atestado da onipresença
do sobrenatural e da pujança dos mitos.
Mas esses adolescentes urbanos não
têm tanta complexidade. Movido a MTV
e shopping centers, o espírito deles vive
nas trevas. [2] A ausência de conheci-
mento e saber limita-lhes os desejos e as
atitudes.
Em tempos mais admiráveis, ou
em sociedades mais ideais, essa massa
de vagabundos estaria ajudando a cor-
Em: Literaturas Brasileiras e Portuguesas, tar cana nos campos, envolvidos com a
de S. Y. Campedelli e J. B. Souza reforma agrária, em programas de as-
sistência social nas favelas ou com crianças de rua, ou mesmo explorando os
sertões e as florestas do país, como faziam os estudantes do extinto projeto
Rondon. [3]
Hoje, mais do que nunca, há uma tendência característica da mentalidade das
elites da economia capitalista de adulação à adolescência, de excessivo prolonga-
mento da mesma [4] e de excessiva indulgência para com esse período tido como "de
intensos processos conflituosos e persistentes esforços de auto-afirmação".
Desde adolescente, sempre olhei comdesprezo esse tratamento que se preten-
de dar à adolescência (ou pelo menos à certa camada social adolescente): um cuidado
especial, semelhante ao que se dá às mulheres grávidas. Pois é exatamente esse pisar
emovos da sociedade que acaba por transformar a adolescência num grande vazio, nu-
ma gravidez do nada, numa angustiante fase de absorção dos valores sociais e de inte-
gração social.
Se os adolescentes se ocupassem mais, sofreriam menos ou pelo menos a-
madureceriam de verdade, solidários, ocupados com o sofrimento real dos ou-
tros.[5]
Mas não, ficamvagabundando pelos semáforos das cidades, catando moedas
para festas e outras leviandades. [6] E, o que é pior, sentindo-se deuses por terem
conseguido decorar um punhado de fórmulas e datas e resumos de livros que os
fizerampassar no teste para entrar na universidade. [7]
A mim que trabalhava e estudava ao mesmo tempo desde os 15 anos causava
alarme o espírito de vagabundagem que, cultuado na adolescência, vi prolongar-se na
realidade alienada de uma universidade pública.
Na Universidade de São Paulo, onde estudei, os filhos dos ricos ainda passam
anos na hibernação adolescente sustentada pelo dinheiro público.

E-mail: mfelinto@uol.com.br
MARILENEFELINTO
da Equipe deArticulistas
Folha deSão Paulo, 25/02/97
30 Teresinha Brandão

Levantamento das idéias realizado pelas turmas do ano 2000

Resumo da opinião de Marilene Felinto sobre os adolescentes de classes mais


favorecidas:

vagab un dos
superficiais
a lie nados
“m im ados”(”adulação”)
lim itados

Avaliação acerca do texto de Marilene Felinto:

g
ene
ra
liz
açã
oex
ces
siv
a
comparaç õ
esin adequ
adas
(
s e
m levare
m cont
a oco
nt
ex-
t
o c
ultur
alehis
tór
ico)

Contra-argumentos:

O fato de tais adolescentes assistirem à


MTV não significa que sejam "superfici-
ais". Esta emissora veicula, em sua pro-
gramação, além de quadros de entreteni-
mento, programas culturais, educativos,
Os adolescentes de classe mé- direcionados aos interesses dos jovens.
dia/alta, ao contrário do que Constantemente há propagandas de pre-
se imagina, não têm tempo de venção contra o uso de drogas, doenças
sobra. Grande parte deles ab- sexualmente transmissíveis, sobretudo a
dica de momentos de lazer pa- Aids. A emissora transmite não só a músi-
ra estudar. Alguns o fazem du- ca internacional como também a nacional,
rante a manhã e, à tarde, re- contribuindo para a valorização de uma
forçam os estudos, preparan- cultura genuinamente brasileira. Quanto
do-se para o vestibular; fre- ao fato de os adolescentes freqüentarem
qüentam cursos de línguas e, em demasia os shopping centers, é preci-
em muitos casos, participam so lembrar que o fazem, principalmente
de aulas de ginástica ou prati- nos grandes centros urbanos, em busca
cam esportes até mesmo para de maior segurança, já que, em muitos
aliviar o estresse característico parques, praças ou outros locais a que po-
desta etapa da vida. deriam ter acesso, há o perigo de serem
assaltados, incomodados, molestados.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 31

Os tempos mudaram e, com eles, a


mentalidade, as aspirações, a postura
dos jovens diante da realidade. A gera-
ção dos anos 60/70 acreditava ser pos- Contrariamente ao espe-
sível "mudar o mundo" através de ban- rado, tais adolescentes são
deiras, passeatas e conflitos com auto- mais exigidos por seus fami-
ridades. A atual geração também acre- liares do que há dez anos,
dita que deve contribuir para melhorar por exemplo. Tomando cons-
a qualidade de vida das pessoas, só ciência da excessiva liberda-
que de outra forma: voltada para as de a que os filhos tinham di-
pequenas ações cotidianas, por meio reito, muitos pais passaram a
do exercício da própria profissão. São impor-lhes limites quanto às
tempos diferentes e, portanto, postu- suas vontades, a exigir maior
ras também diferentes. responsabilidade, tal como a-
presentar um bom rendi-
mento na escola e prepa-
ração para o vestibular, além
de estipular horários para
saídas noturnas.

Tais jovens não são


"egoístas", conforme
são chamados. Muitos
deles demonstram-se Os adolescentes que foram aprovados no
sensíveis aos proble- vestibular, após o esforço depreendido,
mas que os cercam, têm o direito a comemorar a vitória, já
solidarizando-se aos que a aprovação é motivo de grande ale-
mais necessitados e gria e alívio.
excluídos, através do
engajamento em gru-
pos de igrejas, partici-
pação em ONGs, pro-
moção em campanhas
beneficentes ou de Muitas universidades, entendendo a neces-
conscientização, entre sidade de reciclar o método de avaliação do
outras atividades. sistema educacional, propuseram mudan-
ças nas provas de vestibulares, exigindo
dos candidatos não a mera memorização,
mas a reflexão e postura crítica.

Agora leia a carta argumentativa elaborada pela aluna Daniela Larentis:


32 Teresinha Brandão

Pelotas, 01 de setembro de 2000.


Senhora Jornalista
Não me considero uma jovem "superficial", tampouco alienada; por isso, após ler
minuciosamente seu artigo publicado na Folha, de 25/02/97, resolvi escrever-lhe para ex-
pressar não só minha profunda indignação como também criticar a excessiva generaliza-
ção manifestapela senhora aosedirigir aos jovens das classes mais privilegiadas do País.
Inicialmente, gostaria de contestar sua afirmação injusta quanto ao fato de os jo-
vens desfrutarem de muito tempo livre e não saberem como utilizá-lo. Atualmente, devido
às grandes exigências do mercado de trabalho, tais adolescentes procuramqualificar-se ca-
da vez mais, através de cursos, estágios, estudos de outras línguas, além de haver o árduo
preparo para o vestibular. Ademais, com o intuito de evitar ou minimizar o estresse dessa
etapa da vida, muitos participam de aulas de ginástica ou praticam esportes. Também dis-
cordo de que a ida a shopping centers possa ser vista como um entretenimento fútil. Ao
contrário, esses espaços constituem-se em raros lugares onde é oferecida uma ampla di-
versidade cultural por meio de formas de lazer tais como cinemas, exposições de arte, livra-
rias; entretanto, o fator mais atrativo e essencial, semdúvida, consiste na maior segurança,
vistoque os jovens, nesses ambientes, encontram-se mais protegidos contra assaltos ou ou-
tros perigos mais graves.
Igualmente, julgo improcedente a referência feita por Vossa Senhoria emrelação à
exacerbada adulação à juventude. Os adolescentes estão sendo não só mais exigidos por
seus familiares, os quais lhes impõem rígidos limites, como por si mesmos. Exemplificam
claramente tais atitudes o bomdesempenho na escola, a preparação para o vestibular e, so-
bretudo, o aumento da responsabilidade característica marcante desconhecida por gran-
de parte dos jovens de outras décadas. Com relação ao trote, considero sua posição um
tanto limitada, pois as provas de vestibulares, em muitas universidades brasileiras, exigem
dos alunos uma postura crítica, e não somente a simples memorização. Logo, aqueles alu-
nos cujo esforço e dedicação resultaram na aprovação do concurso devem considerar-se
vitoriosos e, portanto, comemorar.
Acrescento-lhe que esses jovens não se mostram passivos
frente à preocupante conjuntura atual. Muitos colaboram, emsuas co-
munidades, engajando-se em grupos de igrejas ou em ONGs, além
de promoveremcampanhas conscientizadoras ou beneficentes; por-
tanto, oponho-meà gravíssimaacusação dafaltade solidariedade da
juventude atual. Esta não almeja soluções imediatas e individualistas,
mas conscientes, duradouras e solidárias, tal como ocorreu na parti-
cipação dos caras-pintadas durante o processo de impeachment do
ex-presidente Collor, na década de 90, ocasião em que a iniciativa
dos jovens mostrou-se essencial. Eles pretendem, contrariamente à
atitude daqueles dos anos 60 e 70, não só realizar passeatas por
vezes até mesmo violentas , como também aspirar a mudanças
mais profundas e, com certeza, auxiliarão, através do exercício da
profis-são, por exemplo, emprol dos mais carentes. IstoÉ, 26 ago. 1992, p.44.
Desse modo, espero ter contribuído para que a senhora perceba a mudança dos
tempos, da mentalidade dos povos e, principalmente, das aspirações da juventude, recon-
siderando, assim, suapostura frenteàs novas gerações.
Atenciosamente,
D. Z. L.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 33

Comentários sobre o texto:

Daniela utilizou praticamente todas e 6 fizeram referência à responsabilidade


as idéias sublinhadas no texto de Marilene desses jovens. O trecho “característica
Felinto para contestá-la, fato que não era marcante desconhecida por grande parte
obrigatório, ou seja, as instruções não indi- dos jovens de outras décadas”, implicita-
cavam tal obrigatoriedade, mas também mente, alude às atitudes da geração da
não impediam que a aluna o fizesse. Pelo própria Marilene quando jovem, assim
fato de assim tê-las usado, seu texto como, no parágrafo posterior, em “contra-
tornou-se um pouco extenso se comparado riamente à atitude daqueles dos anos 60 e
aos que costumam ser produzidos em 70”, a aluna reafirmou tal alusão.
provas de vestibulares, mas nem por isso O 4º parágrafo apresentou argu-
de qualidade ruim: mentação construí-
ocorre justamente o da por meio de
contrário; ela fun- exemplos da atuali-
damentou muito dade.
bem suas idéias, foi
crítica, usou apro- A escolha do
priadamente a co- vocabulário é con-
letânea. Além disso, siderada própria à
selecionou um vo- contra-argumenta-
cabulário rico e co- ção: indignação/
esivos adequados. contestar/ injusta/
discordo/ improce-
A aluna não dente/ um tanto
perdeu de vista, no limitada/ oponho-
1º parágrafo, as me/ gravíssima acu-
idéias da jornalista: sação/ perceba/ re-
ao se apresentar, considerando. Tam-
selecionou os adje- bém o uso de coe-
tivos “superficial” e sivos, assinalados
“alienada” para re- no texto, permite a
tomar as críticas de IstoÉ, 02/09/1992, capa transição adequada
Marilene expressas entre as idéias.
nas linhas 14 e 15 (“Mas esses adolescen-
tes urbanos não têm tanta complexidade”) A aluna marcou explicitamente a
e 6 (“retrato da alienação”). Remeteu, en- retomada do dizer alheio, através de ex-
tão, ao sentido global do texto e apontou pressões como: não me considero/ gosta-
nova crítica – generalização em demasia. ria de contestar/ também discordo de/
julgo improcedente/ com relação ao trote,
No parágrafo seguinte, refutou as considero/ portanto, oponho-me à, típicas
idéias contidas em 1 e 2, sublinhadas no da réplica.
texto-fonte, comprovando, através de uma
breve análise da conjuntura socioeconô- Tais estratégias fazem da redação
mica atual, que os jovens aproveitam bem de Daniela um bom exemplo de texto ar-
o tempo de que dispõem. gumentativo, neste caso, estruturado de
acordo com o processo de contra-argu-
Os argumentos expressos em 4, 7 mentação.
Sugestões de como fazer ( quadros sintéticos)

ESTRUTURA
Introdução: Deve haver uma referência ao texto cujas idéias serão refutadas.
Também delimitar o assunto, neste trecho, é importante, além de
explicitar-se uma censura/ reprovação/ indignação ao texto/fonte.

Desenvolvimento: Retomada do dizer do outro, de suas declarações/posições,


com o intuito de refutá-las. É preciso, nesta parte do texto, fun-
damentar, através de fatos, exemplos ou outro tipo de recurso,
os contra-argumentos. Pode-se fazer uma ressalva a fimde fle-
xibilizar o ponto de vista e, dessa forma, conciliar como "adver-
sário".
Conclusão: Retomada do ponto de vista com a finalidade de ressaltar a incon-
sistência dos argumentos alheios. Podem-se apontar sugestões pa-
ra tais argumentos seremreconsiderados.

EXEMPLOS DE TRECHOS PARA RETOMAR OS FATOS/AS DECLARAÇÕES:


Contraponho-me àacusação/ aofatode (...)
Comrelação a"x", julgopossível revidar tal fato (...)
Consideroimprocedente/ impróprio/ injusto/ utópica (...)
Manifesto, primeiramente, minha discordânciaquantoa/ ao(...)
Contrariamenteao que foi expostoem(...)
Julgo, ainda, precipitada sua declaraçãoreferentea/ ao(...)
Não posso deixar deme surpreender quantoa/ ao (...)
Gostaria, igualmente, decontestar/ questionar suaafirmação(...)
Nomeuentender, nãose trata, pois, de (...), mas (...)
Osenhor acusa-mede (...); noentanto, (...)
Não percebo motivos paratais inquietações, pois (...)
Equivocadamente, VossaSenhoria declarou(...)
Julgo difícil acreditar (...)
Tal fato evidencia que o senhor desconhece alguns dados referentes a/ ao/ aos reais
motivos/ às verdadeiras razões (...)
Quantoao argumentosegundoo qual (...), acredito (...)
Creio que a idéia "x" acaba por reforçar a imagem preconceituosa/ utópica segundo a qual
(...)
Texto argumentativo: escrita e cidadania 35

VOCABULÁRIO PARA SE USAR EM CONTRA-ARGUMENTAÇÕES

Verbos: discordar, contrariar, contrapor-se, revidar, contestar, opor-se, ir de encontro a, ...


Substantivos: oposição, discordância, contestação, objeção, rejeição, antagonismo, con-
trariedade, divergência, empecilho, …
Adjetivos: equivocado, improcedente, infundado, inadmissível, irresponsável, inócuo, inefi-
caz, arbitrário, desumano, incorreto, unilateral, deplorável, chocante, indignado,
incrédulo, surpreso, constrangido, …
Outros: Julgo necessárioreavaliar/ rever/ reconsiderar/ refletir (sobre) o argumento (...)
Acreditoser extremamentequestionável o fato de(...)
Penso ser imprescindível uma reflexão profunda acercade (...)

SUGESTÕES PARA A INTRODUÇÃO

Após leitura referente ao artigo/ à reportagem“x” acerca de “y” assunto de suma impor-
tância , decidi escrever-lhe emanifestar minha opinião, a qual vai de encontroà sua.

Emrazão das críticas expostas emseu texto“x”, referente a“y” [indicar o assunto], resolvi
expressar minha reprovação em face de sua atitude (...). Desse modo, espero propor-
cionar-lhe, por meio de meus argumentos, uma reflexão para que possa reconsiderar seu
ponto devista.

SUGESTÕES PARA A CONCLUSÃO

Julgo, pois, pertinente queVossa Senhoria/ Vossa Excelência reavalie suas declarações
a fimde evitar prejuízos aindamaiores a (...).

Sugiro que(...) seja efetivado/a e, dessemodo, a atual situação possa ser revertida.

Portanto, solicito-lhe que reconsidere seu posicionamento, transformando as infundadas


críticas emumaposturamais otimista frentea (...)
Um outro exemplo de texto argumentativo: a dissertação
Uma outra modalidade textual Essas são convenções as quais de-
proposta por exames de vestibulares de vemos respeitar a fim de que a redação
diversas universidades do País trata-se da seja adequada ao tipo de texto proposto.
dissertação. Tal qual ocorre com a carta Quanto ao uso da coletânea, re-
argumentativa, a dissertação é um tipo de curso normalmente exigido aos vestibulan-
texto em que emitimos julgamentos, fa- dos que prestam vestibular na UFPel,
zemos críticas e/ou ressalvas, expres- UCPel e UNICAMP, devemos levar em
samos pontos de vista e defendemos conta as mesmas observações já mencio-
idéias as quais são sustentadas por meio nadas ao estudarmos a carta argumenta-
de argumentos. tiva.
No entanto, se há aspectos co- No ano 2000, pediu-se aos alunos
muns entre os dois tipos de textos, tam- que redigissem uma dissertação, basean-
bém os há diferentes. Na dissertação, ao do-se numa coletânea composta por char-
contrário da carta, não escrevemos diri- ges a qual abordava a relação entre
gindo-nos a um interlocutor especí- ética/política em nosso país e questionan-
fico, determinado. O interlocutor, neste do-os acerca da viabilidade ou não da prá-
caso, pode ser considerado qualquer pes- tica política nacional em conformidade com
soa que vá ler o texto; portanto, a inter- os princípios éticos.
locução não deve ser explicitada.
Leia a coletânea, o levantamento
Outra diferença a ser salientada com o resumo das idéias das charges, as-
refere-se ao uso da 1a pessoa do singu- sim como a redação, de autoria da aluna
lar, que, na carta, deve aparecer com fre- Daniela Larentis. Após, reflita sobre os co-
qüência e, na dissertação, evitada. mentários que seguem.

TEXTO 1
OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo

(Folha de São Paulo, 10/7/99)


Texto argumentativo: escrita e cidadania 37

TEXTO 2
OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo

(Folha de São Paulo, 21/02/00)

TEXTO 3
OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo

(Folha de São Paulo, 17/07/00)

TEXTO 4
OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo

(Folha de São Paulo, 18/07/00)


38 Teresinha Brandão

TEXTO 5
OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo

(Folha de São Paulo, 20/7/00)

TEXTO 6
OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo

(Folha de São Paulo, 21/7/00)

TEXTO 7
OS PESCOÇUDOS – Caco Galhardo

(Folha de São Paulo, 22/7/00)


Texto argumentativo: escrita e cidadania 39

TEXTO 8

(Folha de São Paulo, 03/01/98)

Levantamento das idéias das turmas do ano 2000

estereótipo (devido à própria tradição) do "mau" político.


excesso de privilégios: o político pode aproveitar-se do cargo ocupado para
lançar mão de privilégios a si próprio ou a um pequeno grupo (ex.: durante o
período Collor: operações fraudulentas, esquemas de corrupção gigan-
tescos).
desvio de verbas (ex.: na atualidade: construção do prédio-sede do Tribunal
da Justiça do Estado: Nicolau dos Santos Netto).
compra e venda de votos ("clientelismo", ou seja, uso das instituições e/ou
do cargo ocupado para "prestar favores"; personalismo, isto é, o que é re-
levante não é a ideologia nem o partido do candidato, mas as qualidades
pessoais do político).
falta de transparência (finalidade: evitar escândalos).
tentativa de suborno (alto grau de sofisticação em operações fraudulentas).
impunidade (os escândalos, envolvendo corrupção, acabam por ser "esque-
cidos").
fisiologismo: legislar em causa própria; uso da máquina administrativa na
compra e venda de votos; campanha eleitoral realizada durante a execução
do próprio mandato; "clientelismo".
40 Teresinha Brandão

Brasil Colônia: dependência total da metrópole.


Brasil Império: voto permitido somente aos lati-
fundiários.
República velha: coronelismo: voto a cabresto.
Era Vargas: a mulher adquire direito ao voto.
Ditadura de 64 a 82: forte repressão militar.

Exercício da cidadania de forma constante.


Esclarecimento sobre as funções dos poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário.

Fisiologismo, corrupção, escândalos, privilégios, impunidade, falcatruas. Essas são al-


gumas características identificadas, comfreqüência, na atividade política nacional. A cada caso
ilícito exposto à sociedade, aumenta o sentimento de vergonha frente à atitude de alguns políti-
cos o qual, aliado à insegurança, desperta dúvidas a respeito da real função a ser exercida por
esses cidadãos. Contudo, tal conjuntura poderia ser revertida caso a população se integrasse à
vidapolíticadoPaís edelaparticipassedeformaresponsável econsciente.
Inicialmente, salienta-se afalta deinteresse da imensaparcela da população acerca da
política nacional. As causas desse desinteresse são inúmeras; entretanto, as históricas sobres-
saem-se e explicam com clareza o início de uma herança: a exclusão social. O Brasil, desde o
Descobrimento até a Independência, foi governado por Portugal, o qual manipulou, conforme
seus interesses econômicos e políticos, a colônia, iniciando, desse modo, um processo de sub-
missãobrasileiro. Já na épocaimperial, ovoto eraprivilégiosomentedos latifundiários. Durantea
República Velha, estabeleceu-se a política do coronelismo, firmada sobretudo nas fraudes elei-
torais e no voto a cabresto, aberto, ou seja, obrigava-se o empregado a votar emseu patrão para
que não só se mantivesse no emprego como também preservasse a própria vida. Na verdade,
essetipo de votonadamais simbolizavadoqueos interesses oligárquicos. Amulher figuradis-
criminada socialmente obteve direito a voto em1934, na EraVargas. Todavia, no período dita-
torial, de 64 a 82, como golpe de Estado ou, posteriormen-
te, comeleições indiretas, sob forte repressão, evidenciou-
se umavez mais o total afastamentoda sociedade na parti-
cipação política do País. Logo, os momentos "concedidos"
paraa prática dacidadania, no Brasil, forammarcados pela
imposição ou ausência do voto, garantindo o poder sempre
nas mãos deumaminoria.
Asituação poderia ser revertida; porém, aconjun-
tura política atual mostra-se igualmente caótica e preocu-
pante. Observam-se constantemente casos escandalosos
envolvendo políticos. Muitos aproveitam-se de seus cargos
para obter inúmeros privilégios como, por exemplo, as ope- IstoÉ, 7/4/1993. É o fim? Capa.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 41

rações fraudulentas durante o período Collor. Ademais, há o elevadíssimo índice de desvios de


verbas as quais deveriam ser repassadas às áreas da saúde, educação, entre outras. Até mes-
mo para seremeleitos, alguns políticos "compram" votos, principalmente das classes menos fa-
vorecidas, através da oferta de comida e algumas vantagens. Dessa forma, aqueles se elegem
devido às suas "qualidades", e não à sua performance ou ao seu programa eleitoral. Como se
não bastassem esses prejuízos à população, esta depara-se com a impunidade: tais políticos
sentem-se inabaláveis e indestrutíveis perante qualquer forma de punição, estimulando a per-
missividade, característica desse mundo político. Evidencia-se, pois, umdescrédito da socieda-
de quanto à realidade política e social, o qual desencadeia falta de expectativas frente ao futuro
doPaís.
Assim, háa necessidadedeuma reversão detal quadro. Mostra-se fundamental o exer-
cício constante da cidadania não só no período eleitoral, como tambémno pré e pós-eleitoral -
deve-se conhecer o programa do candidato e do partido durante o período eleitoral, esclarecer a
população sobre as funções do Executivo, Legislativo e Judiciário, assim como fiscalizar as
ações dos políticos, exigindo da mídia a divulgação sobre o andamento dos mandatos. Dessa
forma, haverá abusca constante pelo voto consciente e a negação dos interesses individuais em
prol dos do País para que este se desenvolva, oportunizando atendimento aos excluídos e exer-
cendoumapolíticaincentivadoraeverdadeiraemqueaéticamostre-seumvalor essencial.

Comentários sobre o texto:

Observemos, primeiramente, o uso ressaltou a exclusão política e social da mai-


que Daniela Larentis faz da coletânea. A oria dos cidadãos brasileiros e os interesses
aluna utilizou, na introdução (1º parágrafo), econômicos e políticos de uma minoria privi-
as idéias-base de todas as charges, resumi- legiada.
das e expressas através de substantivos. Ao analisar a conjuntura nacional,
No desenvolvimento, no 2º parágra- citou alguns “vícios” de determinados políti-
fo, ela lançou mão de conhecimentos de cos – obtenção de privilégios, compra e ven-
História os quais não estavam explicitados da de votos, impunidade –, salientando a ne-
nas charges, mas haviam sido discutidos pela cessidade de a população reverter tal qua-
turma; acrescentou, portanto, informações à dro.
coletânea, enriquecendo a argumentação. A fim de que tal reversão ocorresse,
No 3º parágrafo, ainda no desenvol- obedecendo a princípios éticos, Daniela, na
vimento, usou as idéias implícitas nas char- conclusão, expôs uma série de sugestões,
ges 2 e 7 ao ressaltar os privilégios e escân- todas visando à não-conivência e à participa-
dalos referentes a alguns políticos, exemplifi- ção da comunidade, de forma responsável,
cando. Os desvios de verbas, expressos na na atividade política nacional.
charge 3, constaram ainda neste parágrafo, Eis um bom exemplo de texto argu-
assim como a compra e mentativo: crítico, bem fun-
venda de votos, manifestas damentado, com bom apro-
na charge 4. A impunidade, veitamento da coletânea,
à qual se refere o chargista com a escolha de um voca-
no texto 7, também foi bulário rico e nível de lin-
mencionada neste trecho. guagem adequado à situa-
Para fundamentar ção. Ademais, a aluna fez
seu texto, sustentou sua bom uso dos elementos
argumentação mediante um coesivos, “costurando” suas
resumo histórico no qual idéias com elegância.
10 Sugestões de como fazer ( quadros sintéticos)

Convémsalientar (...)
Devemser enfocados os aspectos (...)
Ressalta-se que(...)
Épreciso, pois, questionarmos (...)
Convémlembrar (...)
Torna-sefundamental (...)
Énecessário frisar (...)
Cumpre destacar (...)
Pode-seafirmar que(...)
Conformealegam(...)
Alega-se, comfreqüência(...)
Podem-se traçar, ainda, outras diferenças/ causas/ conseqüências (...)

SUGESTÕES PARA A INTRODUÇÃO


O uso de vários substantivos ou de expressões equivalentes (devempertencer ao mesmo
camposemântico):
Queimadas, desmatamentos, poluição, contaminação das
águas. Essas expressões sugerema muitos que não há motivos se-
quer para se comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente. No
entanto, aos mais esperançosos e perseverantes, como os ativistas
políticos eos ecologistas, são exatamenteelasa razãopara sereali-
zar um trabalho de conscientização, envolvendo questões ambien-
tais que ameaçam o Planeta. (assunto: questões ambientais da
atualidade; propostanoDiaMundial do MeioAmbiente; ano: 2000).
"Criatividade, espírito empreendedor, preparo para desempe-
nhar funções variadas. Essas são algumas características exigi-
das para se ingressar no mercado de trabalho deste fim de século. IstoÉ, 23/5/2001
Semdúvida, como avanço tecnológico, o trabalhador deverá renun-
ciar a antigos conceitos, tais como a habilidade para atuar em apenas uma função e a for-
mação acadêmica limitada a uma área." (assunto: o perfil do profissional no final do século;
ano: 2000; trechoderedaçãodealuna: AnaBarbosaDuarte).
"Bases nitrogenadas, genes, cromossomos, DNA. Finalmente, cientistas conseguiram
decifrar cerca de 98%do código genético humano. Essa revolução científica está sendo am-
plamente comemorada; entretanto, certas precauções devem ser tomadas a fim de que o
Genoma, traduzido, seja utilizado de maneira responsável, emprol da humanidade." (assun-
to: ProjetoGenoma; ano: 2000; trechoderedaçãodealuna: DanielaLarentis).
Texto argumentativo: escrita e cidadania 43

O uso de uma ou mais perguntas:


Fisiologismo, corrupção, escândalos, privilégios, impunidade, falca-
truas. Eis algumas características identificadas, com freqüência, na
atividade política nacional. No entanto, um questionamento faz-se
necessário: é viável o exercício dessa atividade, em nosso país,
sem incorrer em tais vícios? (assunto: relação ética/política no
Brasil; ano: 2000). IstoÉ, 10/1/2001

O uso de uma sigla/um número seguido de comentário:


"7.716. Esse número deveria expressar algumsentido para a sociedade bra-
sileira; no entanto, muitos cidadãos, por desconhecê-lo, o desrespeitam. Se-
gundo a Constituição, a lei 7.716 designa o racismo como um crime. Apesar
disso, cotidianamente, presenciam-se cenas explícitas de preconceito racial,
sobretudo em relação à raça negra. Tal exclusão pode causar seriíssimas
conseqüências, principalmente ao futuro do País, cuja população, aliás, é
composta, em grande número, por indivíduos negros ou mulatos." (assunto:
discriminação racial; ano: 2000; trecho de redação de aluna: Daniela
Larentis).
"W.W.W. Essa se constitui numa das siglas mais utilizadas atualmente pois,
através dela, há o acesso a qualquer página da Internet. Verifica-se, no mun-
do contemporâneo, a extrema importância de comunicações rápidas e efica-
zes; a Internet qualifica-se, perfeitamente, para esse fim." (assunto: Internet;
ano: 2000; trechoderedaçãodealuna: DanielaLarentis).

Uso de uma citação (não esquecer de citar a fonte):


" 'Prisão não serve para ressocializar.' Essa frase, mencionada pelo atual ministro do
Justiça, demonstrouhaver umaconscientizaçãogeral dasociedade acerca do fatodeas pri-
sões emregime fechado, no Brasil, não servirem como meio de diminuição do índice de cri-
minalidade ou de ressocialização do infrator. A fim de amenizar esse problema, surgem as
penas alternativas, cuja aplicação tem mostrado eficiência nos países em que já vigoram,
principalmente nos casos relativos aos usuários de drogas." (assunto: aplicação de penas
alternativas aos usuários de drogas; ano: 2000; trecho de redação de aluna: Ana Barbosa
Duarte).
"Segundo o ex-ministro Ricupero, o que é bomdeve ser mostrado; o que é ruim, escon-
dido. Tal frase simplifica, de forma clara e fiel, a manipulação da mídia, transformando, con-
forme seus interesses, a imagem do homemperante a sociedade. Frente à passividade das
pessoas e, até mesmo, à aceitação, amídia aumenta, gradativamente, seu controle, aprovei-
tando-se dele e desencadeando umgrave círculo vicioso, cujo resultado poderá ser, semdú-
vida, a desvalorização do homememdetrimento do culto à imagem." (assunto: desvaloriza-
ção do homem/supervalorizaçãoda imagem; ano: 2000; trechode redação dealuna: Daniela
Larentis).

Obs.: É interessante, em introduções como essas, lançarmos mão do argumento de autori-


dade, recurso que consiste na citação de autoridades conhecidas, autores renomados, celebri-
dades, documentos importantes, deconhecimento emnível mundial, a fimde ratificar o ponto de
vista.
44 Teresinha Brandão

Uma breve retrospectiva histórica:


"A política desenvolvimentista, desencadeada a partir do século XVIII, como advento da
Revolução Industrial, criou umcurioso paradoxo na sociedade moderna. Embora a épo-
ca atual tenha adquirido umcaráter altamente tecnológico, a fimde beneficiar nosso coti-
diano, representado nas atividades dos principais centros urbanos mundiais, o ser hu-
mano mantém-se escravo do tempo, isto é, o mundo 'high-tech' não favoreceu a qualida-
de de vida da sociedade." (assunto: relações trabalho/lazer; ano: 2000; trecho de reda-
ção de aluna: Isabel HruschkaRodrigues).
"Acivilização humana, nasua evolução, sempre conviveucomos alucinógenos. Nomun-
do Oriental, o ópio foi o estopim de uma guerra; nas Américas, os indígenas habitual-
mente reuniam-se para fumar cachimbos à base de ervas ilusionistas. Opassado não se
revela diferente do futuro: ainda a questão da liberação de certas drogas causa discus-
são entreas diversas culturas ecrenças." (assunto: discriminação das drogas; ano: 2000;
trecho deredação dealuna: Isabel HruschkaRodrigues).

SUGESTÕES PARA A CONCLUSÃO


Uso de sugestões (possíveis soluções para os problemas em foco):

"Enquanto os responsáveis por todos esses acontecimentos*


não reavaliaremos métodos de produção, investindo emoutras
fontes tradicionais e/ou alternativas, o Brasil irá 'ficar no escuro'
e, ao contrário do que ocorreu durante o Iluminismo, no Século
das Luzes, seremos conhecidos como o 'País do Apagão'." (as-
sunto: crise energética; ano: 2001; trecho de redação de aluna:
Lúcia Rota Borges). *relativos à crise de energia
"Oindispensável, portanto, não é reprimir ousuário, mas ajudá-
lo a abandonar o vício, através da aplicação de penas alterna-
tivas, tais como obrigatoriedade a freqüentar cursos antidro-
gas, realização de programas com psicólogos em escolas, in-
clusão do tema em disciplinas do currículo e participação das
famílias dos dependentes empalestras, comorientação aos fa-
IstoÉ, 30/5/2001
miliares e aos consumidores de drogas." (assunto: legalização
ounão damaconha; ano: 2001; trecho de redação dealuna: NatáliaLarentis).
"Portanto, algumas medidas devem ser tomadas para amenizar essa vergonhosa situa-
ção em que se encontra a população infantil brasileira e mundial. Os governos devemin-
tensificar a promoção de campanhas informativas sobre os direitos das crianças e punir
de forma rigorosa os cidadãos que os violarem." (assunto: violação dos direitos das cri-
anças; ano: 2001; trechode redaçãode aluna:VívianSebastiãoCaetano).
"De acordo com os aspectos abordados, torna-se inadiável efetivarem-se mudanças
pois a exploração infantil está acentuando-se. Sendo assim, podemos afirmar que o en-
contro na Suécia* no qual se abordou esse sério problema, foi uma boa iniciativa pois, a
longo prazo, através da ajuda de pessoas conscientes, tal problema poderá reverter-se."
(assunto: violação dos direitos das crianças; ano: 2001; trecho de redação de aluna: Ro-
berta SchwonkeMartins).
*encontro na Suécia, promovido por uma organização não-governamental sueca.
11 A contra-argumentação no texto dissertativo-argumentativo
Existem pelo menos três formas confirmar uma tese.
muito freqüentemente empregadas para se Para examinarmos essas três for-
argumentar e/ou contra-argumentar: mas, tomaremos por base a proposta reali-
1º) buscar as causas a fim de sus- zada pela UNICAMP, explicitada a seguir
tentar um ponto de vista; (Atenção! Em lugar de escrever uma carta
argumentativa, sugerimos que você escreva
2º) fazer concessões para que se
um texto dissertativo-argumentativo. Além
possam marcar ressalvas ou tentar conci-
disso, selecionamos apenas um dos textos
liar com o interlocutor, reconhecendo, desse
para ser refutado e servir para ilustrar o es-
modo, parte da verdade que este defende;
quema sugerido).
3º) levantar hipóteses para se

(UNICAMP/SP) Nos últimos tempos, vêm ocorrendo intensas discussões a propósito dos
meios de combater a violência praticada por menores, nas grandes cidades. Umexemplo é a
divergência de opiniões entre Nilton Cerqueira (Secretário Estadual de Segurança Pública
do Rio de Janeiro) e Benedito Domingos Mariano (Ouvidor da Polícia do Estado de São Pau-
lo), veiculada pela RevistaIstoÉ, de 04/09/96.

Leia a seguir trecho dessa polêmica:


O Estatuto do Adolescente, como está hoje, é uma lei de proteção aos infra-
tores. Quemrouba os tênis das crianças que vão ao colégio? Quemassalta as cri-
anças nos ônibus?São os menores infratores. Alei acaba deixando desprotegida a
maioria, que são as vítimas. Os infratores ficamemliberdade por causa da impos-
sibilidade de uma atuação serena e enérgica dos policiais. Com isso, aqueles ele-
mentos de alta periculosidade têmcampo aberto para suas ações criminais. E aca-
bamacontecendo tragédias como a da Candelária ou a das mães de Acari, que até
hoje não acharamseus filhos.Temos que cortar essas possibilidades retirando es-
ses menores das ruas. (...) Ao contrário do que ocorre hoje, os menores infratores
deveriamestar presos, sujeitos ao Código Penal.
General Nilton Cerqueira

Imaginemos que alguém opte por escrever defendendo as idéias do general Nil-
ton Cerqueira, a relação A é causa de B poderia ser assim esquematizada:

é causa de
Não há punição penal aos Existe um alto índice de crimi-
menores infratores. nalidade desses infratores.

Agora, vejamos duas maneiras de se refutar as idéias do general:


46 Teresinha Brandão

mesmo com A continuaria acontecendo B

Ou seja: Mesmo havendo punição penal aos menores infratores, os crimes conti-
nuariam acontecendo.
Idéia que pode ser expressa da seguinte forma:

1) Retomada da tese Existe uma forte tendência/ Muitos acredi-


do "adversário” tam que, quando o assunto é violência juvenil, a
punição penal a menores de 18 anos diminuiria o
índice de ações criminais dos infratores.

2) Refutação, através de Em verdade/ No entanto/ Não obstante/


concessão, levantamento Apesar disso, os crimes continuariam aconte-
de hipótese, causa, apon- cendo se tais infratores cumprissem pena em
tando para resultados presídio comum pois, nesse tipo de instituição,
contrários não se ressocializa o indivíduo e, sim, incita-se a
que ele se torne mais violento.

3) Conclusão Dessa forma/ Desse modo/ Assim, a explica-


ção segundo a qual a falta de punição penal seria
a causa do alto índice de criminalidade juvenil
não procede/ não pode, pois, ser susten-
tada.

Ou, então, através de uma comprovação:

n
ã
oéc
au
sa
de

mesmo com A não houve B

Ou seja: Mesmo havendo punição penal aos menores infratores, os crimes conti-
nuaram a acontecer.
Idéia a qual pode ser assim expressa:

1) Retomada da tese De acordo com os defensores da imputabi-


do "adversário” lidade penal, quando o assunto é violência, é lícito
pensar-se que a punição penal a menores de 18
anos diminuiria o índice das ações criminais dos
infratores.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 47

2) Refutação, através de Ora/ A bem da verdade, esses menores já fo-


comprovação, apontando ram submetidos a um tipo de punição muito se-
para resultados melhante ao cumprimento de pena em presídio
contrários comum, como no caso das FEBEMs, e constatou-
se não ter havido ressocialização mas, ao con-
trário, reincidência ao crime.
3) Conclusão, seguida Não se pode, portanto, considerar essa medi-
de sugestão da como causa da diminuição do índice de crimi-
nalidade. O adequado seria insistir na apli-
cação de medidas sócio-educativas, protegendo-
se aqueles que, na maioria das vezes, carecem de
proteção os menores de rua.
Imaginemos, agora, um outro te- dências apontam haver maior tolerância por
ma – a possibilidade de legalização da ma- parte da sociedade e maior flexibilidade por
conha em nosso país. parte do Judiciário. A questão, longe de ser
pacífica, é alvo de muita polêmica.
Contexto: Como exercício de contra-argumen-
Embora no Brasil, de acordo com o tação, sugerimos que você discuta com seus
Código Penal, o consumo de drogas ilícitas, colegas os argumentos favoráveis e os des-
entre elas a maconha, seja considerado cri- favoráveis, descritos abaixo, analise o es-
me, percebemos um aumento do quema com os quadros (A é causa
consumo da Cannabis sativa e uma de B; A não é causa de B) e elabore
concomitante diminuição de condena- um outro esquema, como os anterio-
ções dos usuários. Em razão disso, a res, em que aparecem a refutação
possível legalização dessa droga vem seguida de comprovação, justificati-
sendo questionada já que as evi- va, hipótese etc.

ARGUMENTOS FAVORÁVEIS À LEGALIZAÇÃO


o usuário necessita de ajuda, e não de repressão;
o usuário não é criminoso; portanto não deve ser afastado do convívio social;
outras drogas são mais perigosas ao organismo, como no caso do álcool; este é, tam-
bém, causador de inúmeros acidentes de trânsito ou casos de violência;
trata-se de um caso de saúde pública cujo objetivo deve centrar-se na prevenção.

ARGUMENTOS DESFAVORÁVEIS À LEGALIZAÇÃO


conseqüências maléficas ao organismo e ao psiquismo: perda da capacidade cogniti-
va; falta de motivação para realizar projetos de vida; comprometimento do bom fun-
cionamento de órgãos como o pulmão; problemas de garganta;
conseqüências no âmbito social: aumento do índice de criminalidade (não pelo uso,
mas pelo tráfico); pode servir de "passagem" para o uso de drogas mais pesadas, tais
como cocaína, heroína, entre outras; desestruturação familiar.
48 Teresinha Brandão

CONCLUSÃO (*deve ser centrada na prevenção, tanto nos casos pró ou contra
a legalização)

reprimir apenas não basta: é necessário ajudar o dependente;


sugestões para a prevenção:
aplicação de penas alternativas (desde a obrigação a freqüentar cursos antidrogas
até a obrigatoriedade ao tratamento);
nas escolas: programas de prevenção com especialistas tais como psicólogos, peda-
gogos; reformulação curricular (introdução do tema em diversas disciplinas do currí-
culo *proposta atual do MEC);
nos postos de saúde, hospitais, clínicas: programas, incluindo participação dos fami-
liares dos dependentes, em palestras; atendimento de orientação a esses familiares e
ao dependente, através de especialistas da área médica.

Se alguém for desfavorável à legalização da maconha, a relação A é causa de B


poderia ser assim esquematizada:

Não há punição rígida em re- Existe um aumento do con-


lação aos consumidores da sumo de maconha.
maconha.

Pensemos que você opte por escrever contra-argumentando as idéias daqueles


que são desfavoráveis à legalização da maconha, poderia refutar tal idéia seguindo o
raciocínio (A não é causa de B):

Mesmo havendo proibição o consumo aumentou

ou:

Mesmo havendo proibição o consumo não cessaria

Vejamos outra situação:


Se alguém for favorável à legalização da maconha, a relação A é causa de B po-
deria ser assim esquematizada:

A proibição legal da maconha O consumo da maconha deve


não diminui o consumo. ser legalizado.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 49

Agora, levantemos a hipótese de que você opte por escrever contra-argumen-


tando as idéias daqueles que são favoráveis à legalização da maconha, poderia refu-
tar tal idéia seguindo o raciocínio (A não é causa de B):

Mesmo que o consumo da a legalização não diminuiria


maconha venha a ser lega- tal consumo
lizado
ou:

O consumo da maconha foi a legalização não diminuiu tal


legalizado consumo

Um exemplo de contra-argumentação
12 em texto dissertativo-argumentativo

Exemplo interessante de texto dissertativo-argumentativo em que a contra-argu-


mentação prevalece é a redação abaixo, de autoria de Roberto R. Von Laer. A temática
centra-se na relação violência/segurança pública. Observe:

De acordo com recentes pesquisas, entre elas a Datafolha, uma das maiores preocu-
pações dos brasileiros é a violência. A situação tornou-se tão grave que os números referentes
aos crimes lembramo cenário de uma guerra civil. Alémdo aumento da quantidade de delitos, a
brutalidadedestes causaperplexidadeprofundaàsociedade.
É muito comumjulgar [1] a pobreza como causa principal da violência. Porém[2], exis-
tem países ainda mais pobres que o Brasil nos quais os níveis de subversão permanecembai-
xos, como se constata na Índia; outros onde o nível de desenvolvimento econômico é alto mas o
índice de criminalidade também o é, fato existente, por exemplo, nos EUA. Isso indica que, no
caso brasileiro, a violência não é ocasionada sobretudo pela pobreza, mas é fruto de[3] duas
características nacionais: a desigualdade social e a impunidade. A disparidade entre a condição
social dos mais ricos e a dos mais pobres é tanta que muitos, por ambição ou falta de oportuni-
dades, optampelo crimecomo forma deascensãosocial. Soma-sea isso acertezada impunida-
de, causadapor umapolíciasucateada ecorruptaeumaJustiçalentaeparcial.
Diante de tal situação, a população sente-se cada vez mais acuada. Commedo de tor-
nar-se vítima, e, sempoder contar com a polícia, o cidadão não-criminoso tranca-se em casa e
abre mão doseudireitodeir evir. Apopulação, devido àineficiência do Estado, busca meios para
proteger-se; aqueles que podem, contratamseguranças particulares atualmente eles formam
um contingente maior que a própria polícia enquanto os demais constroem "prisões" para
proteger seupatrimônio.
A situação, sem dúvida, é emergencial. Para revertê-la, torna-se necessário erradicar
as principais causas do problema: punir os criminosos e amenizar as desigualdades sociais. A
fimde reprimir a criminalidade, a polícia deve sofrer umprocesso de reciclagempara poder agir
duramente comos bandidos, e não punir os cidadãos não-criminosos.Tambémé preciso investir
emeducação, chave paraa melhoriadas condições sociais dapopulação.
50 Teresinha Brandão

Comentários sobre o texto:

Roberto escolheu uma tese um tanto ou seja, lembrando, através de exemplos,


difícil de ser refutada, a que associa casos em que a relação pobreza/violência
necessariamente pobreza à criminali- não apresenta a primeira como causa da
dade. O aluno não nega haver uma relação segunda.
entre as duas, mas tentou comprovar que
Para indicar as causas principais
essa relação não é obrigatória (ver expres-
contrárias a essa – a pobreza –, empregou a
são em negrito). Esse, aliás, foi o objetivo de
estrutura “não é ocasionada sobretudo pela
seu texto. Vejamos como ele procede.
(...) mas é fruto de” [3]. Aprofundou, então,
Na introdução, delimitou o tema – o
a argumentação, baseando-se nas duas cau-
quadro assustador de violência em nosso
sas apontadas: a desigualdade social e a
país –, acrescido de uma ampla conseqüên-
impunidade.
cia, a perplexidade dos
Na conclusão, ratifi-
cidadãos.
cou a idéia de que é neces-
No 2º parágrafo,
sário erradicar as causas
percebemos a preocupação
apontadas por ele para
em questionar a tese
conter o alto índice de cri-
freqüentemente aceita em
minalidade e ofereceu su-
relação ao tema: a po-
gestões de como fazê-lo.
breza é causa principal Cabo Aires Costa, do DF, entre
de tamanha violência. encapuzados e Gandra (à direita), da Confederação dos Assinalemos, pois, que
Policiais Civis. Fonte: IstoÉ, 1/8/2001
Para retomar tal tese, usa o aluno empregou as
a estrutura “É muito comum julgar” [1]. marcas lingüísticas citadas acima – 1, 2 e 3 –
Após a indicação de que, apesar de comum, muito bem pois elas indicam haver posições
essa idéia não é totalmente verdadeira, ele a divergentes acerca do tema, reforçando
refutou, usando a expressão “Porém” [2] e e enriquecendo o processo da contra-
comprovando justamente o contrário, argumentação.

13 Sugestões de como fazer ( quadros sint ét icos)

ESTRUTURA
Introdução: Delimitação do assunto e retomada da tese do "adversário".

Desenvolvimento: Refutação, através do emprego de concessões, levantamento


de hipóteses, seguido de justificativas e apontando para re-
sultados contrários.

Conclusão: Retomada do ponto de vista, acrescida de sugestões.

Obs.: Ébomlembrar que não há uma "ordem" ou "colocação" rígida quanto às sugestões oferecidas
acima.Aretomada datesepode ser feita, por exemplo, no desenvolvimento, e não na introdução.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 51

Tal idéia não é senão uma forma rígida/ inconseqüente/ superficial de (...)
Questiona-se muito (...). Antes, porém, é preciso lembrar que (...)
Não se trata de "X", mas de "Y".
É certo que (...) mas seria lícito também lembrar (...)
Se é verdade que (...) não menos exato é (...)
De fato, (...); no entanto, (...)
Épossível que essa medida venha aser tomada, mas oideal seria(...)
Éinegável a existência de (...). Apesar disso, é válido frisar, ainda, umoutro aspecto, refe-
rente a/ao (...)
Não se pode ignorar que (...)
Ainda que muitos aleguem "X", convém salientar (...)

SUGESTÕES PARA A INTRODUÇÃO

Alega-se, com freqüência, que a problemática "X" não pode ser resolvida a não ser por
meiode (...). Pela polêmicaqueencerra, tal assuntomerece uma detalhada análise.
Há quemconsidere "X" a solução ideal para amenizar/ reverter o atual quadro de (...). En-
tretanto, tal medidatorna-seinconsistente/ ineficaz devido a/ao (...)
Longe de ser considerada uma questão pacífica, "X" divide posições emmeio à opinião
pública: por umlado, salienta-se (...); por outro, (...)
Ao sustentar a idéia (...), muitos esquecem(...)

SUGESTÕES PARA A CONCLUSÃO

Desse modo, a idéia (...) torna-se insustentável no atual contexto. Seriam necessárias
medidas tais como (...) parase garantir areversãode tal quadro.
É absolutamente indispensável, portanto, reconsiderar o argumento segundo o qual (...)
pois, conforme o exposto, ele reforça uma imagem/ preconceituosa/ conservadora/ ultra-
passadade (...). Oideal seria (...) para que a situaçãopudesse ser revertida.
Logo, por mais eficazes que pareçam, tais medidas acabariamnão só por (...), como tam-
bém(...), fatos que, ao invés de amenizar o problema, poderiam acentuá-lo. Atitudes co-
mo, por exemplo, (...) seriam capazes, isto sim, de alterar a atual conjuntura, proporcio-
nando uma melhor qualidade devidaaos cidadãos.
14 O uso dos advérbios e adjetivos na argumentação
Bréal, um grande teórico da lin- emitir julgamentos acerca de determina-
guagem, ao estudá-la, comparou seu uso dos assuntos.
com a criação de uma peça teatral, expli- Em textos argumentativos, o uso
cando que o produtor intervém freqüen- dessas categorias gramaticais desempenha
temente na ação para nela misturar suas função importante já que funciona para
reflexões e seu sentimento pessoal, marcar ou reforçar a posição do autor
assim como o homem quando usa a lin- diante de um fato.
guagem. Este, ao falar, encontra-se longe Destacam-se, entre elas, os ad-
de considerar o mundo como mero es- vérbios ou locuções adverbiais.
pectador, como um observador desinte- Observemos os exemplos abaixo,
ressado. levando em conta o seguinte contexto: há
Prova disso são as inúmeras pala- uma greve e os envolvidos no aconteci-
vras que usa para expressar suas vonta- mento são o governo por um lado e, por
des, críticas, seus pontos de vista, outro, os metalúrgicos.
BRÉAL, M. Ensaio de Semântica. São Paulo: EDUC, 1992.

SITUAÇÃO 1: favorável ao governo

O governo agiu eficientemente com relação à greve dos metalúrgicos.


com retidão
com seriedade
moderadamente*
com ética

* Lembremo-nos que uma mesma categoria lingüística pode expressar pontos de


vista diferentes. Assim, a expressão “moderadamente” pode ser usada para elogiar as atitu-
des do governo em se tratando de um locutor “de direita” mas, quando empregada por um
locutor “de esquerda”, serve para criticar negativamente essas atitudes. É preciso, portan-
to, levar em conta a intenção e o contexto em cada enunciado.

SITUAÇÃO 2: desfavorável ao governo

O governo agiu autoritariamente com relação à greve dos metalúrgicos.


comodamente
precipitatamente
sem pudor
Texto argumentativo: escrita e cidadania 53

Veja agora outros exemplos:

SITUAÇÃO 3: favorável aos metalúrgicos

Os metalúrgicos agiram com maturidade durante a greve.


com responsabilidade
pacificamente
ordeiramente

SITUAÇÃO 4: desfavorável aos metalúrgicos


Os metalúrgicos agiram impropriamente durante a greve.
erroneamente
irracionalmente
irrefletidamente
tendenciosamente

Há casos de dupla adverbialização. Observe:

SITUAÇÃO 5: desfavorável ao governo

O governo agiu autoritária e imaturamente durante a greve dos metalúrgicos.


“cega” e impulsivamente

SITUAÇÃO 6: favorável ao governo


O governo agiu cautelosa e eticamente durante a greve dos metalúrgicos.
séria e eficientemente

Obs.: Os exemplos citados foram extraídos da obra publicada também por esta autora:
RODRIGUES, L. M. P., BARBOSA, M. E. O., BRANDÃO, T. S. Maneiras do dizer:
língua portuguesa no ensino médio. Pelotas: Escola de Ensino Médio Mário Quintana,
1998, p.141.

Além dos advérbios, também os empregada, assim como com o locutor, ou


adjetivos colaboram para demonstrar o seja, com a pessoa que a emprega.
senso crítico, enfatizar argumentos e tor- Devemos levar em conta, portan-
nar o texto mais expressivo, mais convin- to, nas listas abaixo, as quais sugerem o
cente. uso de determinados adjetivos, as ques-
O uso da adjetivação tem a ver tões relativas ao contexto.
com o contexto, a situação em que é

Obs.: A lista a seguir foi elaborada e cedida gentilmente pela professora Lígia Maria da Fonseca Blank.
54 Teresinha Brandão

adequado, autêntico, altruísta, apto, bem-


sucedido, bem-feito, beneficente, capaz,
consciente, confiável, cabível, competente, alarmante, assustador, angustiante,
convincente, consistente, desenvolvido, anacrônico, antidemocrático, confuso,
decisivo, dinâmico, equânime, enérgico, condenável, crítico, criticável,
essencial, excelente, eqüitativo, exímio, combalido, contestável, caótico,
fecundo, fidedigno, fiel, fundamental, calamitoso, constrangedor,
fortíssimo, honrado, íntegro, imparcial, condescendente, corrupto, corruptível,
indispensável, imprescindível, imperdível, danoso, despótico, ditatorial,
inigualável, importantíssimo, incomparável, demagogo, desmedido, dramático,
intransferível, insubstituível, irrenunciável, escasso, excessivo, estéril,
inviolável, irrepreensível, imparcial, escandaloso, estarrecedor, exíguo,
pertinente, próspero, promissor, procedente, equivocado, falso, falacioso, fraudador,
profícuo, oportuno, proficiente, probo, sério, fraudulento, grave, gravíssimo,
seríssimo, útil, utilíssimo, valioso, zeloso, … hediondo, hipócrita, indigno, injusto,
irrisório, insuportável, inaceitável,
intolerável, irrecuperável,
amplo, evidente, crescente, coercitivo, inconsistente, inexeqüível, imperfeito,
contínuo, evidente, enorme, controvertido, irresponsável, intransigente,
drástico, inócuo, instantâneo, indignado, lamentável, lastimável, leviano, lento,
imediato, irreversível, inevitável, inofensivo, negligente, paliativo, preocupante,
imperceptível, geral, pleno, peculiar, pernicioso, prejudicial, omisso,
polêmico, perplexo, político, público, oportunista, retrógrado, sectário,
técnico, severo, vultoso, … tendencioso, xenófobo, ...

Argumentos lúcidos e convincentes, ampla e urgente modificação estrutural, atitudes cri-


teriosas e transparentes, apuração isenta e meticulosa, eleitor crítico e consciente, espí-
rito participativo e comunitário, consumidor vigilante e maduro, plano lúcido e promissor,
propostas sérias e coerentes, manifestação concreta e eficaz, sociedade justa e solidária,
consciente e participante, soluções legítimas e duradouras, trabalho digno e honesto,
providências rápidas e adequadas, recursos imediatos e suficientes, observação contínua
e atenta, político íntegro e competente, …
Soluções parciais e equivocadas, situação caótica e desesperadora, sociedade injusta e
preconceituosa, setor público inchado e inoperante, atitude arrogante e prepotente, em-
presas estatais ineficientes e onerosas, atitudes tão radicais quanto absurdas (compara,
enfatizando), princípios fechados e autoritários, argumentos falaciosos e inconsistentes,
leis brandas e ineficazes, pais condescendentes e irresponsáveis, episódio lamentável e
ultrajante, lugares afastados e inóspitos, salários injustos e desestimulantes, ...

Absoluta prioridade, meta prioritária, aspecto primordial, significativo progresso,


principal motivo, alto escalão, destacada atuação, verdadeiro estadista, resultado
definitivo, relevantes contribuições, evidente desrespeito, flagrante corrupção,
gravíssima infração, excelente atuação, expressivos resultados, …
15 O uso dos element os coesi vos nos t ext os argument ati vos
A conexão entre os segmentos de vamente, através do funcionamento des-
um texto é feita por palavras ou expres- ses textos, bem como do contexto prag-
sões responsáveis pela concatenação, pela mático no qual estão inseridas, que a utili-
criação de relações entre os segmentos de zação desse esquema pode ser proveitosa;
um texto, estabelecendo entre eles uma do contrário, ela poderá produzir parado-
certa relação semântica, a qual possui xos semânticos, ou, então, produzir efeitos
uma dada função argumentativa. de sentido contrários aos desejados. Eis
O esquema que segue serve ape- alguns dos conectores que servem:
nas de guia para redigir textos. É, efeti-

1) Para iniciar a análise, introduzir os argumentos:

Exemplos:
É preciso, inicialmente, observar que toda arte pressupõe criação, produção hu-
mana.

Ou:
Deve-se analisar primeiramente (...)
Iniciemos a análise observando (...)
Analisemos, em primeiro lugar, (...)
Para prosseguir a análise:
Num segundo plano/nível/momento, observamos (...)
Em segundo lugar, destacam-se os elementos (...)
Deve-se acrescentar, nesta segunda etapa, que (...)

Para encerrar a análise:


Finalmente/Enfim, destacamos (...)
Por último, gostaríamos de salientar (...)

2) Para afirmar algo com veemência:

Exemplos:
É verdade que o tema acerca da chamada ‘arte engajada’ tem suscitado polê-
micas.
56 Teresinha Brandão

Ou:
É certo que (...) Indubitavelmente (...)
De fato (...) Sem dúvida (...)
Efetivamente (...) Irrefutavelmente (...)
Certamente (...) É irrefutável (...)
É inegável (...) Inquestionavelmente (...)
É inquestionável (...)
“De fato, a literatura e a arte européias parecem chegar a um ponto crítico com o
Simbolismo.” (GULLAR, F. Vanguarda e subdesenvolvimento: ensaios sobre arte. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1978. p.47)

3) Para expressar hipóteses, dúvidas, probabilidades:

Exemplos:
É provável que muitos teóricos se oponham às palavras de ordem dos parnasia-
nos, quais sejam: ‘arte pela arte’.

Ou:
Provavelmente (...)
Possivelmente (...)/ É possível (...)

4) Para insistir no problema:

Exemplos:
Não podemos esquecer que todo processo de renovação estética é atravessado
por um processo de renovação social.

Ou:
É preciso insistir no fato de que (...)
É necessário frisar que (...)
É imprescindível insistir na hipótese de (...)
Tanto isso é verdade que (...)
Vale lembrar o argumento (...)

5) Para estabelecer relações paralelas:

Exemplos:
Paralelamente às tendências vanguardistas mais exacerbadas da Europa, desen-
volviam-se, no Brasil, experiências artísticas muito criativas.

Ou:
Ao mesmo tempo (...)
Concomitantemente (...)
Texto argumentativo: escrita e cidadania 57

6) Para fazer referência a autores, episódios:

Exemplos:
No que se refere à obra de Chico Buarque (...)
Quanto ao episódio ocorrido na Semana da Arte Moderna (...)
No que diz respeito à distinção entre (...)
De acordo com Ferreira Gullar (...)
Conforme lemos em Érico Veríssimo (1982) (...)
Retomando Graciliano Ramos (...)
Nas palavras de Mário Quintana (...)
Com a palavra, o autor: “A arte...” (...)

Emoção e Inteligência,
n.3, p.57, fev. 2000.

7) Para estabelecer gradação entre os elementos de uma certa escala:

a) no topo da escala, para indicar o argumento mais forte: até/ até mes-
mo/ inclusive etc.
Exemplo:
Até mesmo os mais ingênuos desconfiam do lema ‘arte pela arte’.

b) num plano mais baixo, para introduzir um argumento, deixando suben-


tendida a existência de uma escala com outros argumentos mais fortes: ao
menos/ pelo menos/ no mínimo/ no máximo/ quando muito etc.
Exemplo:
Acreditar no lema ‘arte pela arte’ é, no mínimo, ingenuidade.

8) Para acrescentar argumentos aos demais:

Exemplo:
Um conceito de ‘vanguarda’ estética no Brasil merece uma consideração profunda:
é preciso, em primeiro lugar, recusarmos a idéia de que esse conceito é universal.
Além disso, é necessário frisarmos que, ao contrário do que muitos pregam, esse con-
ceito não possui um caráter alienante.

Ou:
além do mais/ ainda/ também/ soma-se a isso/ acresça-se a esses fa-
tos/ além de tudo/ ademais etc.
58 Teresinha Brandão

Quando se quer dar ênfase:


não é apenas/ não é senão/ nada mais é do que/ não só... mas (como)
também etc.
Exemplo:
“Não se pode, por outro lado, ignorar o fato de que a realidade nacional não ape-
nas participa e constitui – com as outras particularidades nacionais – a realidade inter-
nacional, como também é constituída por ela.” (idem, p.96)

9) Para indicar uma relação de disjunção argumentativa, pelo uso de expres-


sões introdutórias de argumentos que levam a conclusões opostas, que têm uma
orientação argumentativa diferente: caso contrário/ do contrário/ ou então
etc.

Exemplos:
Não pretendemos adotar um conceito universal de ‘vanguarda’; pelo contrário,
tentaremos mostrar como se constrói esse termo no contexto da realidade brasileira.
“A arte religiosa da Idade Média, por exemplo, era realizada com finalidade defini-
da. Era uma arte ‘popular’ imposta, tendo assim alguns pontos de contato com a arte
de massa de nossos dias. Ao contrário do que acontece hoje, quando a arte de mas-
sa, na maioria dos casos, vai ao encontro do consumidor (...)” (idem, p.137)

Ou:
por um lado/ por outro lado/ de um lado/ de outro lado etc.
“Se, por um lado, essa preponderância do processo socioeconômico sobre o cul-
tural dificulta a solidificação da superestrutura cultural, por outro lado atua como cor-
retor e selecionador, impedindo assim que uma superestrutura falsa – não surtida das
necessidades reais da sociedade – se mantenha por muito tempo sobre ela.” (idem,
p.40)

10) Para comparar: tal como/ assim como/ da mesma forma que/ da mesma
maneira que/ igualmente/ do mesmo modo que/ tanto quanto/ mais...
menos (do) que etc.

Exemplos:
“Tais considerações são válidas igualmente para o teatro, o cinema e as demais
formas de arte.” (idem, p.99)
“A obra de arte aberta (‘vanguarda’) é a expressão, no plano da arte, do processo
dinâmico e aberto da sociedade burguesa e de sua crise ideológica e, ao mesmo
tempo, o salto para exprimir o caráter dialético da realidade.” (idem, p.77)
“Fenômeno semelhante ocorre no campo das artes plásticas.” (idem, p.129)
Texto argumentativo: escrita e cidadania 59

11) Para indicar a relação causa/ conseqüência: por causa de/ graças a/ em
virtude de/ em vista de/ devido a/ por motivo de/ na medida em que/
porque/ uma vez que/ já que/ visto que/ conseqüentemente/ em con-
seqüência de/ em decorrência de/ como resultado de/ em conclusão de/
razão/ motivo/ resultado/ conseqüência etc.

Exemplos:
“Essa é a razão por que o discurso não carrega em seu cerne uma experiência
concreta a comunicar, nada revela, não é poesia, e, a rigor, é um falso discurso.”
(idem, p.97)
“A pintura brasileira, conseqüentemente, não sofreu essa evolução, cujos resul-
tados (...) seriam adotados pelas gerações do pós-guerra.” (idem, p.43)

12) Para indicar conclusões: portanto/ logo/ assim/ pois/ dessa maneira/
dessa forma/ desse modo/ em suma/ em síntese etc.

Exemplos:
“O específico da obra de arte é o particular e, portanto, a experiência determina-
da, concreta do mundo.” (idem, p.77)
“Do que foi exposto, parece-nos justo deduzir que (...)” (idem, p.41)
“O que define a arte de massa é, pois, o seu raio de ação, o vasto número de pes-
soas, de todas as classes e regiões, que ela pode atingir a curto prazo.” (idem, p.127)

13) Para indicar finalidade, objetivo: para que/ a fim de que/ com o propó-
sito de/ com a intenção de/ com o intuito de/ na tentativa de/ visar/ ter
por objetivo/ pretender/ ter em vista/ ter em mira/ propor-se a/ pro-
jeto/ objetivo/ plano/ pretensão/ aspiração/ finalidade/ meta/ alvo/
intuito etc.

Exemplos:
Com o intuito de verificar algumas concepções correntes acerca do termo ‘van-
guarda’ estética, decidimos, em primeiro lugar (...)
Este trabalho visa, primeiramente, a analisar algumas concepções correntes relati-
vas ao termo ‘vanguarda’ estética.
Este trabalho tem por objetivo examinar algumas concepções correntes acerca
do termo ‘vanguarda’ estética.

14) Para indicar precisão: exatamente/ justamente/ precisamente etc.

Exemplo:
É justamente essa noção que faltava destacar: toda arte é política no sentido de
que determina uma opção diante dos problemas concretos, afirmando ou negando
determinados valores.
60 Teresinha Brandão

15) Para explicar detalhadamente: elas podem exercer funções, tais como as de
retificar, ratificar etc.: ou melhor/ ou seja/ quer dizer/ isto é/ por exem-
plo/ em outras palavras/ em outros termos/ dito de outra forma/ vale
dizer etc.

Exemplo:
“Mas, por outro lado, nada impedirá que, mesmo obras voltadas para temáticas
individuais, se situem no plano da realidade política, ou seja, no plano da
atualidade.” (idem, p.142)

16) Para marcar uma relação de contrajunção, ou seja, para contrapor enuncia-
dos de orientação argumentativa contrária: mas/ porém/ todavia/ contudo/
entretanto/ no entanto/ não obstante/ embora/ ainda que/ apesar de/
apesar de que/ mesmo que etc.

Exemplos:
“O caráter esquemático da arte de massa é, no entanto, no geral, alienante, uma
vez que induz a uma visão falsa da realidade concreta.” (idem, p.119)
“A arte de massa é, em essência, mercadoria, e nisso também ela se define como
legítimo produto da sociedade capitalista, na qual tudo se transforma em mercado-
rias. Mas é preciso atentar para o fato de que essa transformação da arte em merca-
doria não é um fenômeno restrito às artes de massas e que ela não significa o fim da
arte.” (idem, p.136)
“A posição esteticista rejeita a arte de massa como atividade não-cultural, ou mes-
mo anticultural. Não obstante, essa posição não está infensa à existência da arte de
massa e é, até certo ponto, condicionada por ela (...).” (idem, p.138)

Obs.: A lista contendo os elementos coesivos pode ser encontrada na obra publicada também
por esta autora:
RODRIGUES, L. M. P.; BARBOSA, M. E. O.; BRANDÃO, T. S. Maneiras do dizer: língua
portuguesa no ensino médio. Pelotas: Escola de Ensino Médio Mário Quintana, 1998.
p.53-57.
.

Análise de problemas de redação


Em situações um pouco tensas, uma figura pública, conhecida na mídia, a

1
como no caso de se conceder uma entre-
vista a um meio de comunicação, é co-
mum o usuário da língua cometer deslizes,
impropriedade vocabular pode ser mo-
tivo de ironia, contribuindo para desquali-
ficar sua imagem. É o que observamos no
descuidando-se, muitas vezes, do voca- exemplo abaixo:
bulário que emprega. Sobretudo se for

“A faixa etária é essa”, de Paulo Zulu.


(Justificativa sobre os 5000 reais que cobra
só para marcar presença em eventos de
moda. Em: Revista Elle, ano 13, n.5, p.30,
maio 2000).

O uso da expressão “faixa etária” em lugar da expres-


são “em média”, acerca de quanto cobrava para se fazer pre-
sente, em eventos de moda, causou reações polêmicas aos
leitores da revista os quais se manifestaram, através de cartas
e/ou e-mails, ironizando a declaração do modelo e ator.
Nos trechos abaixo, extraídos de redações de alunos,
percebe-se o mesmo tipo de problema – o uso de um voca-
bulário impróprio ao contexto. Depois de lê-los atenta-
mente, siga as instruções: Elle, ano 13, n.5, p.30, maio 2000.
62 Teresinha Brandão

a) Transcreva a palavra/expressão usada impropriamente.


b) Explicite o que o autor quis dizer ao usar tal palavra.
c) Explique o que ele realmente afirmou.
d) Reescreva o trecho problemático, substituindo tal
expressão e adequando-a à intenção do autor. Faça as
adaptações indispensáveis.

1) “Natureza, cultura, riqueza, liberdade, deuses, coletivismo, paz são alguns dos muitos
prejuízos sofridos pelos índios.” (assunto: questão indígena no Brasil; ano: 2000).

2) “(...) água, este simples utensílio essencial a nossa sobrevivência, (...)” (assunto: quan-
tidade e qualidade dos recursos hídricos; ano: 2000).

3) “Penso, inicialmente, que o indivíduo, aos 16 anos, não possui condições psicológicas
para lidar com tamanha responsabilidade, já que, em tal fase, a instabilidade emocio-
nal, a impulsividade e até mesmo o desejo de afirmação são fatores decisivos ao volan-
te.” (assunto: possibilidade legal de se dirigir aos 16 anos; carta dirigida ao editor do
jornal Zero Hora – RS; ano: 1999).

4) “48, 44, 39 horas semanais. Enganam-se aqueles que ainda pensam na redução da jor-
nada de trabalho em detrimento do lazer.” (assunto: redução da jornada de trabalho e
aumento de tempo destinado ao lazer; ano: 2000).

5) “Considero injusta a forma com que os veteranos recebem os calouros; interpreto como
uma atitude infantil, indelinqüente, anacrônica e uma verdadeira barbárie (...)” (assun-
to: a prática dos trotes aos calouros nas universidades brasileiras; carta argumentativa
dirigida ao editor da FSP; ano: 1999).

6) “Dessa forma, torna-se indispensável que os universitários – tidos até então como a mi-
noria intelectualizada – dêem exemplos tão grotescos como os dos trotes violentos.”
(idem ao anterior).

7) “O vestibular, embora seja muito estressante, é um mal necessário; portanto, convém


preservá-lo e, aos poucos, ir fazendo modificações que visem a torná-lo mais demagó-
gico e menos elitista.” (assunto: Vestibular: um mal necessário?; ano: 1999).

2 Muitas tentativas de desenvolvi-


mento do raciocínio lógico-expositivo não
Antes, porém, observe um exem-
plo de trecho o qual apresenta defeito de
são bem sucedidas, desencadeando de- argumentação, a comparação inade-
feitos de argumentação. Nos trechos quada (ou falsa analogia), ou seja, um
abaixo, escritos por vestibulandos, notam- problema decorrente do fato de os ele-
se problemas desse tipo. Depois de lê-los, mentos de uma comparação diferencia-
identifique-os. rem-se em algum ponto essencial da ana-
logia. Observe:
Texto argumentativo: escrita e cidadania 63

“Que perturbador ler no Mais!, de 12/03, umartigo sobre a pesquisa de sociobiolo-


gia que afirma que o estupro é 'natural'! Pior ainda é que a conclusão seja inferida para a es-
pécie humana pelo estudo do comportamento das moscas... Será que é mesmo possível fa-
lar em'estupro' entre moscas?
Aantropologia social e cultural já muito rebateu a idéia de que vários comportamen-
tos humanos seriamda ordemda natureza. É de especial relevância a idéia de que a cultura
atuainclusive nos comportamentos vistos como mais próximos danatureza: nas práticas se-
xuais, de casamento, nas regras de parentesco, técnicas de parto. Dizer que vários compor-
tamentos vêmapenas da natureza, comofazemmuitos estudos de sociobiologia, parece um
tanto simplista e cego a toda a cultura contemporânea, aos apelos da mídia e da publicidade
e à realidade social e cultural que vivemos hoje. Por
esse motivo, dizer que o estupro é 'natural' (com o
risco político de igualar o sentido do termo 'natural' à
palavra 'normal') é imensa bobagem, já que o com-
portamento humano não é regido apenas pelas re-
gras da natureza.”

Heloísa Buarque de Almeida, professora e doutoranda em


antropologia na UNICAMP (Campinas, SP).
Fonte: www.geocities.com/m_rett
(Folha de São Paulo, 29/3/2000)

1) “Resta-nos reciclar a mentalidade de boa parte da população neste


sentido, a fim de que esta supere esse complexo de inferioridade típico
de países como o Brasil, científica e tecnologicamente atrasados.”
(assunto: transgênicos; ano: 1999).

2) “Embora o avanço da tecnologia tenha grande validade para o Brasil, isso


vem causando um aumento na taxa de desemprego, conseqüência direta
do aumento da legião dos sem-terra.” (assunto: estratégias do MST; ano:
2000).

3) “Portanto é necessário que o governo tome medidas urgentes a fim de


solucionar este momento caótico pelo qual estamos passando.” (assunto:
estratégias do MST; conclusão de uma dissertação; ano: 2000).
IstoÉ, 30/6/2001

4) “Com essa possível mudança da emancipação da Metade Sul do Estado, a região


extremo sul será beneficiada uma vez que está praticamente isolada.” (assunto:
emancipação da Metade Sul do estado do RS; ano: 2000).

5) “Gostaria de lembrar-lhe que um estudante será um profissional no futuro; um aluno


que ‘cola’ para passar de ano não sabe a matéria e se tornará relapso em sua
profissão.” (assunto: o uso da ‘cola’ nos estabelecimentos de ensino; carta dirigida ao
senhor Groppa Aquino; ano: 2000).
64 Teresinha Brandão

6) “Não se trata de questionar dogmas religiosos, mas sim de resolver um gravíssimo pro-
blema, principalmente com a população de menor poder aquisitivo que constitui a 4ª
causa de mortalidade materna.” (assunto: planejamento familiar; ano: 2000).

7) “A raça negra não é mais escrava, merecendo direitos iguais, inclusive o de igualdade
social.” (assunto: racismo; ano: 2000).

8) “Salienta-se ainda que os usuários de drogas não precisariam ir aos postos de saúde à
procura de kits descartáveis, em virtude de serem vítimas da discriminação e estigma-
tismo.” (assunto: Projeto de Redução de Danos, da Secretaria Municipal da Saúde de
POA – troca de seringas usadas pelos dependentes por novas para evitar doenças; ano:
1998).

9) “Por tudo isso, é imprescindível uma reflexão sobre o assunto dos jovens, que são o fu-
turo do país.” (assunto: avaliação sobre os 10 anos de criação do ECA; ano: 2000).

10) “Na certeza de que Vossa Excelência considerará meu apelo, e lembrando-lhe serem as
crianças o amanhã da Nação, despeço-me.” (idem ao anterior; carta argumentativa diri-
gida ao ministro da Justiça).

11) “Por outro lado, fico ‘pasma’ ao ver crianças que deveriam estar na flor da inocência
(...)” (idem ao anterior).

12) “Inicialmente, cabe ressaltar que a discriminação social, aliada à


falta do auxílio da família são fatores determinantes a tal
problemática. Ademais, falta de escola também contribui para o
agravamento da situação.
Importa enfatizar, ainda, que tais fatores acarretam não só a
cometer estupros, como também atos sádicos, demonstrando a
revolta pela situação em que vivem.” (assunto: violência urbana; ano:
2001).
Zezé Mota: "Há preconceito até nas relações afetivas. Já desisti de casar
com rapaz branco por causa da pressão da família dele." ( IstoÉ, 17/6/96)

3 Há determinados critérios tais co-


mo a escolha adequada dos termos em um
(relação intra/extratextual).
No trecho abaixo, cujo autor é Ale-
texto, a ordem em que eles estão dispos- xandre Garcia, o jornalista usou a expres-
tos, a estrutura gramatical nele utilizada, são “sic” para evidenciar uma incoerência
entre outros, os quais necessitam ser se- devida à impropriedade vocabular. Dessa
guidos para se garantir a coerência tex- forma, ele se isentou da responsabilidade
tual, além, é claro, da compatibilidade en- do uso inadequado de um termo, no
tre o “mundo do texto” e o “mundo real” caso, o verbo penalizar. Observe:
Texto argumentativo: escrita e cidadania 65

IstoÉ, 23/5/2001. Desenho de Aroeira.


"Agora, por falta de planejamento do Governo, os contri-
buintes vão pagar. É economizar e pagar ou apagar. O Governo
alega que o plano é justo, porque alivia os mais pobres e penaliza
(sic) os mais ricos. Será?"

Depois, o jornalista continua:

"Se é para o plano ser justo, então que se puna (ou penalize
como o Governo usa, sem conhecer bem a língua portuguesa) o
responsável pela falta de energia: o que não planejou (...) Que se
corte aenergiado Governo."

(Diário Popular, 22/05/01)

A troca do verbo penalizar, que Leia os trechos abaixo, extraídos


significa causar pena ou desgosto; afligir, de redações de alunos, e explique o
desgostar, pelo verbo punir ocasionou, porquê da incoerência. Quando possível,
neste caso, a incoerência. proponha mudanças.

1) “Hoje em dia a maior preocupação de todos os governos é o desemprego que, no Bra-


sil, é o maior problema na atualidade, pois ele é o centro de tudo.” (assunto: desem-
prego; ano: 1999).

2) “(...) consiste na falta de informações dos cidadãos, uma vez que não existem campa-
nhas as quais visem ao esclarecimento da população sobre o possível contágio de doen-
ças sexualmente transmissíveis, inclusive sobre a, muitas vezes, impiedosa gravidez.”
(assunto: iniciação sexual precoce entre os brasileiros; ano: 2000).

3) “Na verdade, as formas femininas, atualmente, têm-se distanciado de sua real função:
virtude de gerar uma criança.” (assunto: topless: direito ou desonra da mulher?; ano:
2000).

4) “(...) porém espero que as pesquisas avancem e, num futuro próximo, consigamos
grandes resultados, tanto na área da Saúde quanto na alimentícia.” (assunto: transgêni-
cos; ano: 1999).

5) “Também nas instituições de ensino devem-se mostrar os riscos de contaminação de


várias doenças, além de gravidez precoce.” (assunto: iniciação sexual precoce; ano:
2000).

6) “Na minha opinião, acredito, (...)” (assunto: o uso da ‘cola’ nos estabelecimentos de en-
sino; carta dirigida ao senhor Groppa Aquino; ano: 2000).

7) “Considero, no meu entender, (...)” (idem ao anterior).


66 Teresinha Brandão

8) “Ao ler sua relevante declaração sobre o comportamento de consumidores de baixo po-der
aquisitivo, resolvi escrever-lhe por considerar sua análise superficial e preconcei-tuosa.”
(proposta da UFPel/98; assunto: hábito de consumo das classes menos abasta-das;
comentário: “Pobre gosta de sofrer aos poucos”).

9) “Logo, tanto a privacidade e os valores individuais quanto as vantagens do conheci-mento


do genoma devem ser inseridos em uma mesma conjuntura, como intuito de de-
senvolvimento não só do indivíduo como da população (...)” (assunto: genoma; ano: 2000).

10) “De acordo com pesquisas realizadas pelo IBGE, uma elevada porcentagem da popu-lação
brasileira acredita em um conceito inovador de ‘família’; para tais entrevistados, esta não
precisa ser necessariamente composta por pai, mãe e filhos, vivendo sob o mesmo teto;
uma pessoa que vive só, com um animal de estimação, pode considerar-se vivendo em uma
instituição familiar.” (assunto: perfil da família no novo milênio; ano: 2000).

11) “É inegável que não existam conflitos, violência, em um país no qual as diferenças soci-ais
são alarmantes (...)” (assunto: violência urbana; ano: 2000).

12) “As escolas deveriam conversar mais com os alunos até com os que estão terminando o 2º
grau.” (assunto: a prática dos trotes aos calouros nas universidades brasileiras; ano: 1999).

13) “O problema da saúde, no Brasil, é, portanto, gerado pela péssima administração do


orçamento.” (assunto: saúde pública no Brasil; ano: 1998).

14) “Durante seu desenvolvimento, a criança recebe influências racistas de vários locais tais
como as inocentes histórias infantis, onde a princesa, o herói, o príncipe sempre são de cor
branca.” (assunto: racismo; ano: 1999).

15) “Embora se estabeleçam juros altos, há a maciça escolha em adquirir bens a prazo, pois
muitos consumidores vêem-se absolutamente coagidos a fazê-lo à vista, uma vez que seus
salários não condizem com a realidade de consumismo exorbitante.” (assunto: Pobre gosta
de sofrer aos poucos – sobre o fato de se comprar em prestações; ano: 1998/UFPel).

16) “Além disso, acaba ocorrendo também uma redução do número de trabalhadores, sem-do
que poucos conseguem manter seus empregos.” (proposta da UFPel/98; assunto: hábito de
consumo das classes menos privilegiadas; comentário: “Pobre gosta de sofrer aos
poucos.”).

17) “Assim, vemos que não somente a irresponsabilidade no


trânsito é causadora fatal de vidas, mas também o
desejo de querer bem a si mesmo.” (assunto:
alcoolismo; ano: 1998).

18) “Será ainda relevante que os pais demonstrem vontade


e esclarecimento sobre a droga, pois poderá levar vários
filhos ao consumo bem como à dependência.” (assunto:
alcoolismo; ano: 1998).
IstoÉ, 18/7/2001
Texto argumentativo: escrita e cidadania 67

19) “Em virtude dos aspectos mencionados, somos levados a crer que o álcool deve ser tra-
tado com seriedade e urgência pelas autoridades governamentais.” (assunto: alcoolis-
mo; ano: 1998).

20) “O problema de Saúde” (título de redação; assunto: Saúde Pública no Brasil; ano:
1998).

21) “As universidades têm liberdade para escolher seu tipo de avaliação. Entretanto, há um
fator que vem desmascarando certas ‘instituições-fachada’, assim como descobrindo
universitários dedicados e competentes – o Provão.” (assunto: provão nas universida-
des; ano: 2000).

4 Ao articularmos as idéias em um
texto, a fim de que este seja coerente, é
sivos é importante para garantir a coe-
rência textual.
necessário verificarmos se elas têm a ver Nos trechos abaixo, de redações
umas com as outras e observarmos o tipo de alunos, um problema de coesão aca-
de relação a qual se estabelece entre elas. bou por interferir na sua coerência.
Também mostra-se importante, ao reto- Após a leitura do exemplo que
marmos idéias nesse texto, cuidarmos se a evidencia tal problema, reformule os tre-
retomada foi feita de forma correta ou chos de forma a tornar a relação coesão/
não. Em ambos os casos, o uso dos coe- coerência adequada.

"Considero que, por outro lado, a sociedade, em geral,


gosta de assistir este tipo de cena onde acontecem 'baixa-
rias', fazendo assimpensaremque não são só eles* que pas-
sam por situações parecidas." (assunto: guerra pela audiên-
ciae aqualidadedos programas naTVbrasileira; ano: 1998).

*O termo destacado não possui


IstoÉ, 1/10/97
referente claro no trecho.

1) “Ao ler uma matéria na revista Veja, que mostra seu posicionamento sobre o futuro da
sociedade, resolvi escrever-lhe por motivo de contrapor-me às mesmas.” (assunto: re-
dução da jornada de trabalho e aumento do tempo destinado ao lazer; ano: 2000).

2) “Todo menor deve ter direito à educação, à saúde e à vida digna, segundo a Decla-
ração Universal dos Direitos da Criança. No entanto, as imagens observadas na mídia e
os dados expostos no encontro, na Suécia, revelam uma realidade assustadora na qual
se notam a exploração da mão-de-obra infantil e o uso desses indivíduos em guerras.”
(assunto: violação dos direitos das crianças; ano: 2001).
68 Teresinha Brandão

3) “As universidades federais são propriedade do povo, pois eles pagam impostos ao go-
verno para que este administre os bens sociais.” (assunto: privatização das universida-
des públicas brasileiras; ano: 1999).

4) “A iniciação sexual precoce, sem a devida maturidade para prevenir-se de forma ade-
quada, pode acarretar uma gravidez precoce. Esta, portanto, leva ao abandono dos es-
tudos, comprometendo a futura qualificação profissional, especialmente das meninas.”
(assunto: iniciação sexual precoce; ano: 2000).

5) “Um país que enfrenta tantos problemas na Saúde, ainda tem que ‘lutar’ contra os re-
médios, denominados como crime hediondo.” (assunto: falsificação dos remédios; ano:
1998).

6) “Alguns carcerários são injustamente colocados em um mesmo nível criminal. Porém,


acabam cometendo os piores crimes com seus colegas de cela.” (assunto: reforma car-
cerária; ano: 1999).

7) “Este fato marca a culpa governamental, já que este raramente investe em campanhas
de prevenção.” (assunto: maternidade precoce; ano: 2000).

8) “Vossa Senhoria há de convir que, se forem penalizados pelo ECA, os pais desses jo-
vens serão responsabilizados, embora caiba àqueles a punição por um crime praticado
por estes.” (carta argumentativa dirigida ao editor da Folha de São Paulo; assunto: ma-
ioridade/menoridade penal; ano: 1999).

9) “Para a globalização se efetivar, é preciso que os do-


nos do capital diminuam o lucro, invistam na especiali-
zação para ingressá-la no mercado tecnológico.” (as-
sunto: globalização; ano: 1999).

“Os Estados Unidos, os países da União Européia e a Rússia lançaram na atmosfera


382 bilhões de toneladas de dióxido de carbono nos últimos cinqüenta anos,
quantidade superior às emissões de todos os demais países.” (Veja, 1/8/2001, p.48)
Imagem: IstoÉ, 1/8/2001.

5 A clareza é uma qualidade tex-


tual que consiste em expressar as idéias
no entanto, existem alguns “desvios” na
produção de um texto que comprometem
de forma a torná-las facilmente compre- o seu entendimento. Eis alguns deles:
ensíveis ao leitor. Muitas vezes, a falta de obscuridade, ambigüidade e falta de
clareza pode ser um recurso intencional; paralelismo (gramatical ou semântico).
Texto argumentativo: escrita e cidadania 69

"Meu professor de Física é do tipo bonitão. No ano passado, ele começou a falar
que sempre sonhava comigo. Aquilo me balançou, mas tenho namorado e ele é casado.
Só que ele começou a me pressionar, pedia para eu ir até a escola à tarde. Pegava na mi-
nha mão toda vez que tinha uma chance. No começo, gostei. Imagine: as meninas da es-
cola morrendo por causa do professor e ele correndo atrás de mim! Só que, umdia, quan-
do estávamos sozinhos numa sala, ele tentou me beijar e disse que queria me levar para
um motel. Estava meio apaixonada, mas comecei a ficar com medo. Eu, que sempre fui
boa, comecei a ir mal nas aulas, fiquei de recuperação, estava quase repetindo. Não
conseguia prestar atenção na aula dele de jeito nenhum. Foi quando resolvi contar em
casa. Meu pai ficou furioso! Queria ir à polícia, falar comos diretores da escola, fazer um
escândalo. Eu implorei para ele não fazer nada. Depois de desabafar, consegui voltar a
estudar epassar de ano.”

(Revista Carinho)

No texto acima, o entendimento é Analise os trechos abaixo, frag-


prejudicado devido ao uso do termo “ele”, mentos de redações de alunos, e explique
sublinhado no texto, pois ora tal termo re- por que as idéias dificultam a compreen-
mete ao namorado, ora ao professor de são ao leitor.
Física.

1) “Como exemplo temos a morfina, usada para combater a dor que, aos poucos, está
sendo substituída pelo samário – 153.” (assunto: uso da energia nuclear [área médica];
ano: 2000).

2) “Além disso, a energia nuclear provoca a destruição das células e queimaduras (...)”
(assunto: uso da energia nuclear; ano: 2000).

3) “Não podemos também deixar de falar nas emissoras de tevê, pois a influência delas
sobre os adolescentes, que apresentam programas altamente erotizados em horários
inadequados, incentivando, assim, a relação sexual precoce.” (assunto: iniciação sexual
precoce; ano: 2000).

4) “Torna-se necessário, portanto, que o governo, a sociedade e a imprensa se unam em


torno de objetivos comuns, evitando o desperdício de alimentos, o alcance de uma dis-
tribuição de renda mais justa, geração de mais empregos (...).” (assunto: Dar ou não
esmolas? ano: 2000).

5) “Na minha opinião é um absurdo permitir que se repitam os ‘espetáculos’ de violência e


humilhações que vêm ocorrendo todos os anos cada vez que grupos de estudantes
ingressam na universidade. Além disso, é preciso pensar nos traumas psicológicos das
vítimas, isso quando estas não estão mortas, o que de fato já ocorreu mais de uma
vez.” (assunto: a prática dos trotes aos calouros nas universidades brasileiras; carta ar-
gumentativa dirigida ao editor da FSP; ano: 1999).
70 Teresinha Brandão

6) “Em se tratando de fome, temos como grande culpado os milhares de grãos que estra-
gam nos armazéns governamentais e particulares os quais, em decorrência disso, são
jogados fora.” (assunto: desperdício do dinheiro público; ano: 1999).

6 Um problema bastante comum en-


contrado em redações de alunos diz res-
tre outras formas gramaticais utilizadas
para se estruturar as frases.
peito à incompletude da frase, ou seja, O trecho abaixo, parte de uma
a idéia pretendida pelo autor é abandona- carta de leitor, extraído do jornal Diário
da e a inteligibilidade torna-se comprome- Popular, de 30/11/97, apresenta algumas
tida. Muitas vezes, tal problema é decor- frases fragmentadas, ocasionando difi-
rente da pontuação inadequada, do uso culdades de entendimento ao leitor.
impróprio do gerúndio ou do infinitivo, en- Observe:

"Em resposta ao comentário da coluna Ronda


dos Pagos de Domingo (23/11/97), que diz respeito ao
Em: Histórias e Lendas do Brasil

Pixurumaomuxirão.
Analisando a atual situação financeira da
Ilustração: J. Lanzelotti.

Estância Thomaziana, não foi causada pela


patronagemanterior, e simpelaatual.
Pois, como sabemos, a patronagem anterior
adquiriu imóveis no valor superior a 50.000 dólares e
pagos.”

Agora, leia os trechos abaixo, extraídos de redações, e reescreva-os, atribuindo-


lhes coerência.

1) “Tendo acompanhado, através da imprensa, divulgações importantes sobre a violência


nas escolas, fato que decorre, em parte, de uma política adotada que mascara o contin-
gente juvenil, uma vez que a maioria dos jovens não possui perspectivas de um futuro
digno e promissor.” (assunto: violência juvenil; ano: 2000).

2) “Resolvi, por essa razão, manifestar-lhe meu posicionamento. Distinguindo, com clare-
za, situações de violência em que o meio se torna propício (...)” (idem ao anterior).

3) “Saliento-lhe que, em certos casos, compreende-se a revolta e a violência desses jo-


vens. Já que a desigualdade social acirra a falta de oportunidades de ascensão social.”
(idem ao anterior).
Texto argumentativo: escrita e cidadania 71

4) “Por sua vez, essa sociedade que omite informações aos jovens, assiste filmes eróticos,
novelas em que o sexo está sempre presente.” (assunto: influência da mídia X mater-
nidade precoce; ano: 2000).

5) “O jovem brasileiro tem passado por alguns problemas. Entre eles, destaca-se o alcoo-
lismo que, lamentavelmente, afeta 20% destes. Tornando-se, assim, para vários, um ví-
cio preocupante.” (assunto: o alto índice de alcoolismo entre os jovens; ano: 1999).

6) “Ao tomar conhecimento do projeto de lei de autoria de Vossa Excelência, o qual trata
da relevante questão do direito à realização do aborto legal, pelo SUS, por duas razões:
em caso de estupro e em caso de risco de vida da mãe.” (carta argumentativa dirigida a
um congressista; assunto: aborto; ano: 1999).

7) “A justiça; é feita até para os corruptos.” (assunto: impunidade; ano: 2000).

7 Se compararmos a relação fala/


escrita, nas mais diversas situações do
Igualmente, na escrita, numa situação for-
mal, devem-se evitar construções da mo-
cotidiano, perceberemos que não se fala dalidade da fala.
como se escreve, não se escreve como se Nas frases abaixo, extraídas de
fala, assim como não se fala nem se es- redações de alunos, notam-se estruturas e
creve da mesma maneira em todas as oca- escolha do vocabulário próprias da lingua-
siões. gem falada informal, modalidade não acei-
Logo, o que é perfeitamente acei- ta em provas de redações de vestibulares.
tável numa situação de fala, em situação Observe:
informal, pode não o ser numa de escrita.

"Isso não leva a nada.”


"Isso não ajuda as dificuldades.”
"No seu texto, a senhora diz que (...)”
"E como isso pode ser aceito no meio universitário quando
fora dele pode dar até cadeia?”
"Os políticos não fazem nada para levantar o país.”

Agora, leia os trechos abaixo e proponha mudanças para melhorá-los, adaptando-


os à modalidade escrita culta.

1) “Foram meses sem ninguém descobrir nada. Quando foi descoberto o escândalo, a
mídia foi atrás, o povo também, mas, apesar de tudo, os dois senadores renunciaram.”
(assunto: renúncia dos ex-senadores ACM e Arruda; ano: 2001).
72 Teresinha Brandão

2) “Em conseqüência desse ato, houve muita especulação sobre uma possível manipulação
política e o incentivo à compra e venda de votos, mas desta vez não passou em branco
este fato irresponsável.” (idem ao anterior).

3) “Primeiramente, gostaria de dizer que estou indignado (...)” (assunto: trote nas univer-
sidades; ano: 2000).

4) “Não vejo mal nenhum em pintarem os alunos, fazerem eles correr e coisas deste tipo.”
(idem ao anterior).

5) “É lamentável que os telespectadores tenham que assistir programas sem conteúdo in-
formativo e cheio de baixarias, como é o caso do Gugu.” (assunto: guerra pela audiên-
cia e a qualidade dos programas televisivos; ano: 1999).

6) “De todo modo, o único jeito de diminuir (...)” (idem ao anterior).

7) “Essas ONGs estão fazendo um grande bem social.” (assunto: influência do terceiro se-
tor em nossa sociedade; ano: 2001).

8) “É preciso tornar mais fácil a solução dos problemas (...)” (idem ao anterior).

9) “Isso sem falar na falta de ética e vergonha na cara de nossos políticos, que só pensam
neles.” (assunto: ética e política; ano: 2000).

10) “Quando se fala em drogas (...)” (assunto: alcoolismo entre


os jovens; ano: 2000).

11) “Há muitos jovens que começam a beber na noite, exageram


na bebida, sem pensar que isso pode virar uma grande
tragédia.” (idem ao anterior). IstoÉ, 8/8/2001

12) “Se isso que foi citado for feito, a saúde já irá dar uma boa melhorada.” (assunto: saú-
de pública no Brasil; ano: 1999).

13) “(...) porque, se continuar como está, muitos, com alto potencial, poderão ficar de fora
da sociedade.” (assunto: desemprego; ano: 2000).

14) “O ECA deveria trabalhar em cima do dever escolar para menores de rua (...)” (assunto:
10 anos de criação do ECA; ano: 2000).

15) “O problema é que o estatuto muitas vezes inexiste na prática, a maioria dos artigos do
texto legal não saem do papel.” (idem ao anterior).
P
r
opo
sta
nº1
O jornal Folha de São Paulo publicou, Após a leitura da coletânea, escreva
em 18/10/99, uma reportagem contendo o uma carta argumentativa dirigida ao
relato de um leitor, 14 anos, Paulo (nome aluno Paulo ou ao diretor da escola,
fictício; ver “observação”), segundo o qual manifestando-se acerca da acusação de
está sendo expulso da escola onde estuda preconceito alegada pelo aluno e da
em razão do preconceito de que tem sido postura adotada pela direção do es-
alvo. tabelecimento.
Além do depoimento do leitor, a Folha Além das informações contidas na
publicou uma entrevista com o diretor da coletânea, você poderá utilizar outras que
escola envolvida, depoimentos de alunos da julgar pertinentes.
própria instituição, assim como de Ao assinar sua carta, use apenas as
especialistas nas áreas educacional e iniciais de seu nome.
jurídica.

(Em: Folhateen, suplemento do jornal Folha de São Paulo)

Obs.: Por que os nomes dos personagens da escola foram omitidos


da Redação
Excepcionalmente, nesta reportagem, a Folha tomou a decisão editorial de não identificar
vários dos entrevistados, o que não é prática do jornal. Muito pelo contrário. Os autores das declara-
ções publicadas são sempre identificados, salvo os chamados casos "off the records", emque a fonte
pede o anonimato e há relevância jornalística para que esse procedimento seja realizado.
Nesta reportagem, cujo assunto é delicado e polêmico, o nome da escola envolvida e dos
personagens centrais do caso aluno e diretor do colégio não foramrevelados como fim único e
exclusivo de preservar a imagemdo estudante, que temmenos de 18 anos de idade.
Revelar o nome do colégio ou do diretor poderia levar à identificação do aluno e causar
possíveis situações de constrangimento para o estudante e para os demais alunos da escola. Essa
foramas preocupações do jornal ao optar por manter no anonimato os principais envolvidos no caso.
Silvia Ruiz
74 Teresinha Brandão

da Reportagem Local

No início do ano, Paulo, 14, da “Esse caso mostra, principal-


oitava série de um colégio particular mente, a incompetência educativa
da zona leste de SP, declarou sua dessa escola”, diz Rosely Sayão, psi-
paixão por Marcelo (nomes fictícios), cóloga e colunista da Folha. Segundo
16, aluno do ensino médio da mesma ela, o papel dos educadores hoje é
escola. A partir daí, a vida dos dois vi- ensinar os alunos a conviver com a di-
rou um inferno. versidade. “O que essa escola está
fazendo para tornar seus alunos cida-
A história correu o colégio, e
dãos?”
Marcelo passou a ser alvo de gozação
por parte de seus amigos. Para Paulo, O advogado Luiz Alberto David
a situação ficou ainda pior. Segundo Araujo, professor de Direito Constitu-
ele, alguns alunos passaram a ame- cional, da PUC-SP (Pontíficia Univer-
açá-lo, e a direção convocou seus sidade Católica) e do ITE (Instituto
pais para pedir que o tirassem da es- Toledo de Ensino), concorda com Ro-
cola. sely. “A escola passa um atestado de
incompetência em relação a um tema
O estudante acha que tudo não
presente na sociedade. Em princípio,
passa de preconceito contra ele. “O
ela tem de manter a disciplina, mas
que eu fiz, mostrar o meu amor, me
eliminar o problema, em vez de lidar
apaixonar, é algo que qualquer me-
com ele, não resolve nada. Essa não
nina ou menino da minha idade está
é uma questão de direito, mas sim de
cansado de fazer. Mas, como eu sou
pedagogia.” (...)
diferente, tenho de guardar isso em
segredo ou me torno um problema”, O promotor da Infância e
diz o estudante. Juventude, Giovane Serra Azul, diz
que nunca viu um caso como esse.
Para a direção do colégio, não
“Esse é um caso muito delicado, e,
se trata de preconceito. Para o diretor,
para avaliá-lo, seria preciso que
apesar de ser um bom aluno, Paulo
houvesse um processo. É difícil
criou um problema para Marcelo.
delinear até onde vai o interesse indi-
Em sua defesa, Paulo diz que vidual de uma pessoa e o da
pode até ter causado um problema, coletividade. É preciso ver se essa
mas afirma que não conseguiu agir de atitude do garoto está prejudicando o
outra forma. “Eu vi Marcelo há dois direito dos outros de estudar. Apenas
anos e fiquei apaixonado. Este ano o fato de ter declarado seu afeto e ser
resolvi me abrir.” Ele vê exagero e homossexual não é motivo de
precipitação na possível decisão da expulsão.”
escola de expulsá-lo. “Por que a dire-
ção não expulsa os garotos que estão Segundo ele, as escolas parti-
fazendo a gozação?” culares têm o direito de expulsar um
aluno quando julgam que ele atrapa-
Especialistas em Educação e lha a coletividade. “Há regras que são
advogados ouvidos pela reportagem subjetivas. Mas, se os pais ou o aluno
questionam a atitude do colégio. Se- consideram que há abuso por parte da
gundo eles, esse tipo de expulsão vai escola, podem buscar o apoio da Jus-
contra as tendências modernas de tiça.”
Educação.
Texto argumentativo: escrita e cidadania 75

"Isso tudo é ridículo. Quer


dizer que o outro garoto não
sabe se defender sozinho? Se
ele não quer nada com o
"Todo mundo na escola Paulo, ele devia se entender
sabe que esse moleque é com ele."
bicha e fica assediando o Marina (nome fictício), 14
outro. Se fosse comigo, já
tinha dado uma porrada
na cara dele."
Cláudio (nome fictício), 15
"Todo mundo comenta
essa história na escola,
mas não deveria levar à
"Esse menino não tem o
expulsão. Gostar de
menor direito de ficar expondo
alguém não é motivo para
os outros. Se ele gosta de
mandar embora."
alguém que não é homosse-
xual, deveria ficar na dele." Adriana (nome fictício), 15
Paula (nome fictício), 14

Folha – O que o levou a escrever para o Folhateen?


Paulo – A minha escola disse que eu não vou poder estudar lá no ano que
vem. Acho que estou sendo alvo de preconceito porque sou homossexual.
Folha – Por que a direção da escola quer que você saia?
Paulo – Eles falaram comigo e com os meus pais e disseram que eu deveria
sair porque estava incomodando o garoto por quem eu sou apaixonado. A escola
acha que eu sou um problema. Eles são preconceituosos e moralistas.
Folha – Você acha que de fato incomodou o garoto?
Paulo – No início do ano, mandei uma carta para ele e me declarei. Também
disse para as minhas amigas que gostava dele. Aí, todos na escola ficaram saben-
do, ficou uma pressão sobre ele. Acho que isso poderia até incomodar.
Folha – E qual foi a atitude da escola?
Paulo – A minha orientadora pediu para que eu parasse de procurá-lo.
Também disse que eu deveria passar a entrar na escola pela secretaria, subir para a
classe depois que os outros alunos já tivessem subido e que não poderia ir à
cantina. Ela chegou a dizer que os pais dos meninos mais novos poderiam ficar com
medo que eu fosse abusar deles no banheiro da escola. Ela também chamou os
meus pais e contou tudo a eles e recomendou que eu fizesse terapia. Ela me
considera um problema, e a escola não quer problemas.
Folha – E o que você fez?
76 Teresinha Brandão

Paulo – Fui fazer terapia. Acho que é bom até para eu me conhecer melhor e
aprender a lidar com toda essa situação. Mas acho que, mesmo que quisesse, não
conseguiria deixar de gostar dele. Algumas vezes, liguei para a casa dele e disse
que gostava dele, mas ele nunca disse claramente que não gostava de mim. Eu
acho que tenho o direito de expressar o meu amor por ele. Acho que isso é algo que
a gente deve resolver entre a gente, sem a interferência da escola. Quanto aos
outros alunos, disse que eu não sou um maníaco, não vou atacar nenhuma criança.
Folha – O que você acha que a escola deveria fazer nesse caso?
Paulo – Acho que eles deveriam conversar comigo, mas não tirar nossa liber-
dade. A posição da escola deve ser de orientar, não de expulsar. E, se eu fosse uma
menina, a mãe dele (do outro garoto) estaria feliz, a escola iria proteger a situação. A
escola, como educadora, deveria fazer com que os dois fossem respeitados e prote-
gidos. Eles deveriam agir em cima de quem goza com a cara dos outros, não de
mim e do garoto que eu amo.
Folha – O que você pretende fazer para resolver o problema?
Paulo – Meus pais não querem levar isso muito longe, não querem se expor.
Meu pai acha que a gente teria de ter dinheiro para fazer alguma coisa.
Folha – Você se sente discriminado pelos colegas?
Paulo – Há vários alunos que dizem: “Você vai morrer”. Há preconceito da
parte de alguns, a maioria não me aceita, mas muitos me respeitam.
Folha – Você gostaria de permanecer na escola, mesmo achando que há
preconceito contra você por parte da direção?
Paulo – Acontece que eu gosto da minha escola, dos meus amigos e sou um
bom aluno. Se eu for para outro lugar, vou ter de me adaptar. Não é que eu tenha
medo, mas sempre penso: “Como os alunos de uma nova escola iriam me olhar?”.
Eu quero continuar, apesar de tudo o que está acontecendo. Quero fazer algo para
mudar a mentalidade da escola, que não gosta de tocar nesse assunto, assim como
em outros, como drogas e sexualidade. Tudo o que provoque o senso crítico dos
alunos é sempre evitado.

Folha – Quando um aluno dessa escola pode ser expulso?


Diretor – Quando ele não se adapta às normas da escola, os pais são avisados,
depois pode haver um conselho de classe. Tentamos evitar o máximo possível a expul-
são porque é uma marca que o aluno leva para o resto da vida.
Folha – O Folhateen recebeu a carta de um aluno, Paulo, que diz que vai ser
expulso dessa escola porque é homossexual.
Diretor – Ele é bonzinho, inclusive é assumido. O problema é que o outro aluno
está sendo gozado. Esse aluno não cria problema nenhum, apenas há o constrangi-
mento do outro.
Folha – Ele causa algum tumulto na escola?
Texto argumentativo: escrita e cidadania 77

Diretor – Ele me parece que tem boas notas, mas cria um pouco de gozação por
parte dos colegas.
Folha – Por que ele seria expulso, então?
Diretor – No ano que vem ele iria para o mesmo prédio (do outro garoto), eles se
encontrariam no recreio, e haveria aquela gozação dos outros colegas. O problema é
por aí. Se ele fosse assumido, mas ficasse no seu cantinho, não haveria problema. O
problema é a gozação com a vítima, que se sente muito mal. Não é propriamente pelo
fato de ser homossexual. Mas isso (a expulsão) vai ser decidido no conselho de classe
no final do ano.
Folha – Segundo ele, as orientadoras da escola disseram que alguns pais
teriam medo de que ele assediasse crianças.
Diretor – Disso eu não tenho conhecimento.
Folha – Há alguma forma de essa decisão mudar?
Diretor – Não está decidido. Geralmente, se os orientadores apresentam todos
esses fatos, os professores (do conselho de classe) seguem mais ou menos a orien-
tação dos orientadores.
Folha – A escola pode estar sendo preconceituosa?
Diretor – Não sei, aqui não tem muito disso. O nível é alto, os alunos vêm mais
para estudar, não são alunos que vêm criar problemas.
Folha – Mas, se fosse uma menina, aconteceria o mesmo?
Diretor – Meninos e meninas apaixonados há centenas. Isso é o pão nosso de
cada dia. O nosso lema é, dentro da escola, amizade, muita amizade, e apenas ami-
zade.
Folha – Esses garotos que estão fazendo gozações estão sendo amigos?
Diretor – A gente não é dono da cabeça de cada aluno. Entre alunos dessa ida-
de, gozação, essas coisas, são normais. Não sei até que ponto (a gozação) é muito
acentuada. Apenas o que ouvi falar, via orientadoras, é que seria um pouco perigoso ele
ir para o colegial junto com o outro.
Folha – Ele está sendo ameaçado de ser mandado embora da escola pelo
fato de ter declarado que gosta de outro menino?
Diretor – Sim, claro. Para não ter de ser expulso, o que seria ruim para ele, o ide-
al seria que os pais decidissem retirá-lo da escola, para evitar o constrangimento de o
conselho de classe decidir.
Folha – Então a solução não seria mandar o outro menino embora da esco-
la?
Diretor – O outro é a vítima, um menino perfeitamente normal.
Folha – O senhor acha que o Paulo não é normal?
Diretor – A homossexualidade é considerada uma anormalidade que precisa ser
respeitada, isso, sim. Ele não tem culpa nenhuma. Ele nem gostaria de ser assim. Que
culpa ele tem? Mas normal, normal... Como diz a Bíblia, Deus criou o homem e a
mulher, não criou um intermédio entre eles.
Folha – O senhor não acha que a expulsão seria traumática para ele?
Diretor – Acho que sim, mas nós temos também que ver o conjunto do colégio.
Folha – Não haveria outro jeito de solucionar o caso?
Diretor – Não sei. O conselho de classe é que vai decidir.
78 Teresinha Brandão

P
r
opo
sta
nº2
O terceiro setor da economia re- ção, saúde, meio ambiente etc.
úne ações de entidades diversas – ONGs, Após a leitura da coletânea, posi-
instituições filantrópicas, fundações, entre cione-se em um texto dissertativo-ar-
outras –, assim como o trabalho individual gumentativo, acerca do assunto, avali-
ou em grupo, sem fins lucrativos, reali- ando a eficiência/não-eficiência do
zado, em muitos casos, através de volun- terceiro setor nos aspectos econômi-
tários. cos, sociais e políticos de nossa soci-
Tais atividades vêm despertando edade.
o interesse do Poder Público e da comuni- Além das informações contidas na
dade em geral pelo efeito do trabalho rea- coletânea, você poderá utilizar outras que
lizado nos mais diversos setores – educa- julgar adequadas ao tema.

Terceiro setor: nova utopia social?

O terceiro setor congrega organizações sem fins


lucrativos, cujas receitas podem ser geradas em suas atividades
operacionais (auto-sustentação), mas, em sua grande maioria,
se originam de doações, feitas por particulares, pelo setor
privado e pelo Governo.
Por essas características, os estudiosos do setor estão
substituindo a terminologia “organizações não-lucrativas” por
uma designação mais ampla. Elas hoje são categorizadas como
organizações da sociedade civil (OSCs).

Longe de ser uma utopia, o terceiro vem apresentando taxas surpreendentes


setor é uma surpreendente e vibrante rea- de criação de novos postos de trabalho.
lidade nas economias modernas. Um es- A conclusão a que se chega é que,
tudo comparativo entre sete países (Esta- no desenho da sociedade moderna, o ter-
dos Unidos, Japão, França, Alemanha, ceiro setor aparece como que criando um
Reino Unido, Itália e Hungria), realizado tripé sobre o qual os sistemas econômicos
pela Johns Hopkins University, revelou que se apoiarão.
a dimensão do terceiro setor nessas eco- Nesse redesenho da sociedade,
nomias desenvolvidas é bastante significa- esse tripé, formado por Governo, setor pri-
tiva, atingindo em média 3,5% do PIB. vado e terceiro setor (ou setor social), ofe-
Mas é na geração de empregos que rece os meios para trabalharmos pela di-
ele ganha importância, tendo em vista a minuição das desigualdades sociais e
catástrofe que a terceira revolução indus- econômicas, a fim de construir uma socie-
trial tem causado no nível de emprego em dade mais justa. (Folha de São Paulo)
todos os países. Enquanto os outros dois
setores, Governo e privado, vêm prati- Luiz Carlos Merege
Professor titular da Fundação Getúlio Vargas (SP) e
cando um processo de exclusão sem pre- coordenador do Centro de Estudos do Terceiro Setor
cedentes de trabalhadores, o terceiro setor (CETS).

Terceiro Setor
Texto argumentativo: escrita e cidadania 79

O que é?

Pode ser definido como o conjunto de atividades das organizações da sociedade


civil, portanto, das organizações criadas por iniciativas privadas de cidadãos, com o ob-
jetivo de prestação de serviços ao público (saúde, educação, cultura, habitação, direitos
civis, desenvolvimento do ser humano, proteção do meio ambiente). Costuma-se dizer
que não têm fins lucrativos, muito embora seja melhor defini-las como organizações em
que o possível lucro é reaplicado na manutenção de suas atividades ou distribuído entre
seus colaboradores, jamais sendo apropriado por um dono ou proprietário. Alardeado
como um novo setor da economia na mais franca expansão, pode ser o equilíbrio bus-
cado entre as atividades capitalistas – por gerar empregos – e as de assistência social –
por não ter o lucro como meta principal, mas o bem-estar da sociedade, neste proble-
mático final de milênio para as economias tradicionais.

Obs.: Os dois primeiros fragmentos foram extraídos de DIMENSTEIN, Gilberto. Aprendiz do


futuro:cidadaniahojee amanhã.São Paulo: Ática, 1998. p.82e83.

As organizações não- a existência e a diversidade da vida e dos


recursos ambientais para as futuras gera-
governamentais brasileiras e o ções. As ONGs denunciam violações dos
Fórum Social Mundial 2001 direitos humanos, trabalham na construção
dos direitos de cidadania, atuam no desen-
volvimento de práticas de intervenção so-
As organizações não-governamen- cial.
tais – ONGs vêm ganhando visibilidade e Pela natureza do seu trabalho, tais
reconhecimento públicos em todo o mundo. organizações não se pretendem como
No Brasil, desde a Conferência Mundial do substitutas da ação do Poder Público. As
Meio Ambiente, de 1992, o trabalho das ONGs não são universais nos seus servi-
ONGs passou a ser mais conhecido e dis- ços, não têm representatividade pública,
cutido pela população e a mídia. não têm institucionalidade nem recursos
Fenômeno recente, essas organi- suficientes para tal fim. Sua missão é identi-
zações sem fins lucrativos vêm se constitu- ficar e analisar as causas dos problemas
indo desde a década de 1970 com objetivos, sociais, apontar soluções construindo mo-
tamanhos e modelos diversos. São muitas delos de intervenção, ajudar a envolver a
as ONGs, difíceis de serem contadas. Além população na luta cidadã. Ao mesmo tempo,
do mais, por ser um conceito amplo, pouco não são intermediárias ou substitutas de
preciso, ONG abarca um conjunto de insti- movimentos sociais, sindicais ou qualquer
tuições muito diferentes nas suas finalida- outra forma de ação coletiva da sociedade
des e origem. civil. Ao contrário, são suportes, apoios, es-
tímulos destes movimentos. Não substituem
Um segmento importante dessas os partidos políticos. Ajudam de forma com-
organizações, associadas à Associação plementar, na medida em que buscam, com
Brasileira de Organizações Não-Governa- seu trabalho, sensibilizar a população para
mentais – ABONG, é identificado por sua que reconheça e lute por seus direitos.
postura crítica frente aos fenômenos sociais.
Atuam com o objetivo de superar as diver- As associadas da ABONG se sen-
sas formas de desigualdades, pelo reconhe- tem felizes em estar com outras ONGs no
cimento e respeito às diferenças individuais Fórum Social Mundial. Junto com movi-
e culturais, ou, ainda, por defender um des- mentos sociais e sindicais, intelectuais,
envolvimento sustentável que não condene parlamentares, empresários e cidadãos do
80 Teresinha Brandão

mundo vamos discutir e propor alternativas, Rua General Jardim, 660 – 7º - Vila Buarque –
a partir das nossas experiências, que 01223-010 – são Paulo – SP
apontem para um desenvolvimento sem ex-
A ABONG foi fundada em 1991 por um grupo
clusões e com justiça social. Vimos mostrar de ONGs que decidiu buscar a intervenção
que acreditamos que um outro mundo é social agindo coletivamente. Nestes 10 anos de
possível e que temos um papel importante trabalho, o grupo inicial ganhou muitas adesões
na sua construção. e hoje são cerca de 270 associadas.

Associação Brasileira de Organizações Não- (material distribuído aos participantes do Fórum


Governamentais Social Mundial, realizado em POA, em janeiro de
2001)
www.abong.org.br – telefone: (11) 3237-2122

A filantropia no Brasil
já movimenta 12 bilhões "(...) Quem não tem recursos doa seu
de reais por ano e ganha tempo. Cerca de 16% das pessoas com mais de
a adesão de ricos, famosos 18 anos são voluntárias de projetos sociais em
e empresas todo o país. Ou seja, uma massa de 12 milhões de
brasileiros trabalha de graça para ajudar o próxi-
mo. 'Tem mais jovens querendo se engajar em
Émito que no Brasil se doe pouco projetos de ajuda do que as ONGs são capazes
em comparação com outros paí- de recrutar', afirma o consultor Stephen Kanitz,
ses. Abaixo, o percentual de doa-
ção de indivíduos e empresas no
um dos maiores especialistas em projetos para o
total arrecadado por organiza- setor. A solidariedade do povo brasileiro foi capta-
ções semfins lucrativos. da na pesquisa da Johns Hopkins e do Iser. O tra-
11% balho, que será publicado no mês que vem, é uma
10% análise comparativa de 22 países, incluindo os
mais ricos, sobre o papel e o desempenho das or-
10%
ganizações sem fins lucrativos. O Brasil não faz
19% feio: aqui se doa mais que a média dos países
Fonte: Pesquisa Comparativa Johns Hopkins-Iser
pesquisados (...)
(...) Oqueficapatente éque oBrasil está
mudando para melhor nesse campo. O governo
não tem sido capaz de dar conta de todas as de-
mandas sociais existentes. As pessoas incomo-
"Num mundo cada vez mais dadas coma pobreza estão esperando menos do
conturbado, cruel e desigual, governo e arregaçando as mangas. É isso que
a responsabilidade social é vem fazendo crescer enormemente o número de
uma questão de sobrevivência organizações semfins lucrativos. 'Oterceiro setor
para as pessoas e organiza- está na moda', afirma Milu Vilela, uma das donas
ções." do Banco Itaú e mantenedora de dois centros
Francisco de Assis Azevedo assistenciais. Espera-se que a moda venha para
Timóteo, MG ficar.”

(Veja, 27 de outubro, 1999)


Texto argumentativo: escrita e cidadania 81

P
r
opo
sta
nº3
Esperava-se que a alta tecnologia, dois primeiros textos, apresentando argu-
com suas novas formas de mecanização e mentos para convencê-lo de que está
informatização, proporcionassem, no início equivocado. Neste exercício de argumen-
do novo milênio, um largo espaço de tação, você deverá discordar, portanto,
tempo destinado ao lazer. No entanto, o das opiniões desses autores.
que se percebe são posições polêmicas Ao assinar a carta, use apenas as
quanto às relações de trabalho, na atuali- iniciais de seu nome.
dade e no futuro, e à busca por maior Uma outra possibilidade é a cria-
tempo livre aos trabalhadores. ção de um texto dissertativo-argumen-
Baseando-se nas informações tativo no qual a contra-argumentação
abaixo, bem como no seu conhecimento seja o processo básico da redação.
de mundo, redija uma carta argumen- Você poderá utilizar outras infor-
tativa destinada a um dos autores dos mações que julgar pertinentes.

Os três pilares do tempo livre serão a sensualidade, a criatividade e a estética.


Os luxos cada vez mais raros consistirão no silêncio, no espaço, na privacidade.

No início do século 20, Freud publicou "A Interpretação dos sonhos", Taylor

FSP, 22/04/01
inventou o "Scientific Management", Einstein anunciou a teoria da relatividade,
Picasso expôs "Les Demoiselles d'Avignon", Stravinski compôs "A Sagração da
Primavera".

Cada área sofreu uma profunda revo- Acima de tudo resulta numa dificul-
lução da qual desabrocharia a sociedade dade maior em discernir trabalho, diversão
pós-industrial na qual temos agora a sorte e aprendizado; caem as barreiras entre
de viver. Agora as descobertas surgem cansaço e tempo livre; de qualquer ma-
como cascata, e não passa ano em que neira o trabalho ocupa apenas um décimo
não se realizem grandes progressos. Se do nosso tempo de vida.
pensarmos que a potência dos micropro- Isso significa que, enquanto até agora
cessadores, que são a base de cada tec- a família e a escola se preocuparam em
nologia, dobra a cada 18 meses... preparar os jovens para o trabalho, no fu-
O trabalho é investido por cinco gran- turo, deverão se preocupar em prepará-los
des ondas de transformação: o progresso para o tempo livre. O lazer é uma profissão
tecnológico, o desenvolvimento organiza- e uma arte não menos importante que o
cional, a globalização, a escolarização e os trabalho, e a qualidade da nossa vida
meios de comunicação. depende sobretudo da qualidade do nosso
Disso se deduz que todas as nossas lazer.
atividades se intelectualizam, que desapa- Porém os países anglo-saxões e o
recem muitas atribuições cansativas e te- Japão, sendo hiperindustrializados
diosas, que somos capazes de produzir economicamente e psicologicamente,
sempre mais bens e mais serviços com aprenderam a organizar e viver o trabalho,
cada vez menos contribuição específica de mas desaprenderam a organizar e viver o
trabalho humano. tempo livre. Por outro lado, os países lati-
82 Teresinha Brandão

nos (entre eles o Brasil), não tendo nunca Em um conto belíssimo, intitulado "A
assimilado profundamente o modelo in- Rosa de Paracelso", Borges sustenta que
dustrial, conservam uma grande vitalidade o paraíso existe: é a vida aqui na Terra.
extra-trabalho: sensualidade, comunicabili- Borges acrescentou que existe também o
dade, hospitalidade, convivência. Estão, inferno: e consiste em não percebermos
portanto, mais preparados para viver com que vivemos em um paraíso. Tudo está em
alegria a sociedade do tempo livre que nos compreender a condição feliz à qual fomos
aguarda. destinados, nascendo e tomando consci-
Os três pilares do tempo livre serão a ência de que a felicidade consiste em pro-
sensualidade, a criatividade e a estética. curá-la.
Os luxos cada vez mais raros e preciosos
consistirão no silêncio, no espaço, na pri-
vacidade, na segurança, na alegria, na Domenico de Masi, sociólogo italiano e autor do livro
Desenvolvimento sem Trabalho (Ed. Esfera), entre
beleza: todos pressupostos imprescindí- outros, assina esta coluna toda segunda semana do
veis para satisfazer as necessidades de mês.
introspecção, amizade, amor, lazer e con-
vivência: isto é, as necessidades emer- Folha de São Paulo, São Paulo, 11 de maio de
gentes. 2000. Folhaequilíbrio.

(...) Pesquisa realizada em 30 países revela que*, entre


O problema do mundo não é eco- ter mais dinheiro e mais tempo livre, as pessoas prefe-
nômico, é de estilo de vida. Precisamos en- rem a renda. O Brasil, com 59% optando pelo dinheiro,
contrar um jeito de convencer os povos dos ocupa o 8º lugar na lista. O primeiro posto é da Rússia
países desenvolvidos a relaxar, a curtir a vi- (71%), seguida da França (63%). Os norte-americanos,
da. Poderíamos, por exemplo, mandar fazer herdeiros espirituais do "tempo é dinheiro", ficam na 11ª
uns adesivos para os carros deles com posição. No outro extremo, o dos que escolhem o tempo
frases como "Take it easy", "Curta a vida", livre, estão a Índia e as Filipinas (66%), seguidas do
"Carpe diem", enfim, "Relax". Povos como Vietnã (59%).
os americanos e os japoneses precisam Não parece haver muita relação entre a qualidade
aprender a trabalhar menos, a cuidar mais de vida proporcionada pelo país e a preferência de sua
de suas famílias e a tirar mais férias, de pre- população. OCanadá, primeiro colocado no IDH (Índice
ferência em praias brasileiras. Tem gente de Desenvolvimento Humano), é o 5º entre as nações
que acha o máximo tudo o que vem dos Es- que optam pela renda. Aqui parecem operar mais no-
tados Unidos, especialmente na área da ad- ções filosóficas e culturais. A Índia, campeã do tempo li-
ministração e de negócios. Eu acho o máxi- vre, é o 138º IDH, mas o hinduísmo, religião predomi-
mo que o brasileiro ponha a família em pri- nante, valoriza mais o tempo do que o dinheiro, fenô-
meiro lugar. Que o Brasil tire férias em de- meno que, em graus variados, ocorre em toda a Ásia, a
zembro e só retome o ritmo depois do Car- região onde a opção pelo lazer é mais forte.
naval. Que o país inteiro pare durante a Co- (...)
pa do mundo. Que toda criança brasileira A própria busca de melhorias tecnológicas tinha co-
saiba dançar e batucar. Estamos mil vezes mo fim precípuo poupar o homem do trabalho. Mas algo
mais bem preparados para a era do robô do ocorreu no meio do caminho e o trabalho, cada vez ma-
que os anglo-saxões e os orientais. is, invade as outras esferas da vida das pessoas. Decidi-
damente, a humanidade passou por uma transformação
(Stephen Kanitz, Veja) profunda nestes últimos séculos.
* O editorial alude à pesquisa do instituto norte-americano Roper
Starch World-Wild, coordenada por Tom Miller e divulgada pela Folha,
em07/06/00. (Folha de São Paulo, 9/6/00)
Texto argumentativo: escrita e cidadania 83

"(...) Como é que um século chega à metade celebrando como conquista a luta de sin-
dicatos no mundo inteiro para reduzir jornadas fatigantes e termina comboa parte da população
trabalhandocadavez mais?
O motor é o desemprego - A explicação dos especialistas, vejamsó, é a diminuição
crescente do emprego confortável do passado, aquele que durava por toda a vida útil e exigia
pouco do funcionário. Numa simplificação de umprocesso intrincado, a economia globalizada da
últimadécada, principalmente, pôs contra aparedeempresas lotadas demão-de-obra habituada
ao padrão oito-às-cinco. Lançadas numa competição feroz, adotaram a prática do melhor resul-
tado ao menor custo possível. Instauraram-se o downsizing, a terceirização, a reengenharia,
processos que levam à redução de pessoal. Quem ficou teve suas obrigações aumentadas e
passou a trabalhar muito mais, não só para dar conta do recado como para não perder, ele
também, a vaga. Quem saiu procurou alternativas menos rentáveis e mais cansativas, como
ocorreunoBrasil nabuscadebrechas nomercadoinformal. (...)
Outro setor que mantém longas jornadas, sem que isso reflita pujança econômica, é o
informal. 'Otaxista, o encanador, aquele sujeito que trabalha por conta própria, todos devemes-
tar dedicando o dobro de tempo ao batente', analisa José Paulo Chahad, tambémeconomista e
professor da USP.‘Eles precisamficar muito mais horas disponíveis, à espera de umcliente, para
manter o nível de renda de antigamente. Se houvesse gente batendo à sua porta, eles poderiam
ter umhoráriofixo, ter amesmarendae sótrabalhariammais sequisessemumextra.’ (...)
Nessa nova cultura de trabalhar muito, ganhar muito e subir muito na vida, o desejo de
consumo é outro fator preponderante. As pessoas estão trabalhando mais, também, para poder
comprar mais. Em1991, a economista Juliet Schor, de Harvard, escreveu umlivro que se tornou
umaespéciedebíbliadoassunto.
(...) Nele, Schor culpa a televisão, principalmente, por impor valores e vender símbolos
de status que influenciamo americano a ser umpovo que gosta de gastar, não de poupar, uma
definição que cabe, sem tirar nem pôr, nas fronteiras do Brasil que tem dinheiro para ir às
compras. (...)”
(Revista Veja, 05/04/2000)

P
r
opo
sta
nº4
O jornal Folha de São Paulo, em Abaixo, você encontrará tre-
sua edição de 22/04/01, publicou um su- chos/textos desse suplemento. Depois de
plemento especial intitulado 10 manda- lê-los, selecione as idéias que julgar ade-
mentos para a carreira, contendo dez arti- quadas e acrescente outras, se for neces-
gos escritos por especialistas os quais sário, e produza um texto dissertativo-
abordam temas como as necessidades do argumentativo em que seja abordado o
mercado de trabalho atual, a formação tema “O perfil do profissional no novo
dos novos profissionais, os pré-requisitos milênio: atualidade e perspectivas
para se obter sucesso e realização na futuras”.
carreira.
84 Teresinha Brandão

Trabalhador-empresa-comunidade

D esesperados atrás
de mão-de-obra
qualificada, executivos dos
e esse erro é um dos fatos
notáveis do capitalismo
contemporâneo.
a mão-de-obra virou tam-
bém questão de market-
ing, mais especificamente
setores de tecnologia da de marketing social.
Por puro pragma-
informação e telecomuni-
tismo, as empresas são O Brasil assiste
cações, no Brasil, vêem-se
obrigadas a ser mais ge- agora à onda da respon-
forçados a oferecer salá-
nerosas para atrair e sabilidade social nas em-
rios altos e benefícios indi-
manter seu mais impor- presas, cobradas sobre
retos, mas, mesmo assim,
tante patrimônio: o capital como cuidam de seus em-
encontram dificuldades de
humano. Passa a ser deci- pregados e como tentam
preencher as vagas.
siva a valorização da melhorar sua comunidade,
Nos setores de alta transmissão do conheci- com ações de cultura,
tecnologia, há uma discre- mento, numa aposta nos educação, saúde ou ambi-
pância entre a formação intelectos. A disseminação ente.
educacional dos trabalha- das universidades corpo-
A confluência de to-
dores e as vagas ofereci- rativas, dragando milhões
das essas tendências –
das, reflexo de um ciclo de reais para treinamento
valorizar a mão-de-obra e
econômico ancorado no de pessoal, mostra que, na
mostrar um rosto solidário
que se convencionou prática, o ambiente de tra-
para a comunidade – é o
chamar de “era da infor- balho se confunde com o
estímulo, bancado pelas
mação”. ambiente escolar.
empresas, para que os
Aprende-se fazendo, faz-
Em poucas palavras, funcionários exerçam ati-
se aprendendo.
nunca se produziram vidades voluntárias.
tantos dados em tão pouco Ao se abrirem para
Quem preferir ficar
tempo e, mais importante uma visão mais complexa
fora dessa nova relação
ainda, nunca foram trans- de quem trabalha (ser que
trabalhador - empresa - co-
mitidos com tanta rapidez: pensa, tem idéia, inter-
munidade está tão habili-
o novo ritmo vai definindo age), as empresas são
tado a sobreviver como
quem vive, sobrevive ou obrigadas a absorver tam-
aqueles que, avessos à
simplesmente morre nos bém a complexidade dos
modernidade, não queriam
negócios. Cada vez mais, seres humanos, aceitando-
trocar as máquinas de es-
o tempo é menor e, cada os como pais, maridos,
crever pelo computador.
vez mais, ele vale mais filhos.
dinheiro.
Cresce o número de
Diante de tanta com- empresas que oferecem
petitividade, seria normal períodos sabáticos, tele-
supor que o trabalho só trabalho, horário flexível, Gilberto Dimentein – Colunista,
iria piorar as condições de programas psicológicos, membro do Conselho Editorial
vida dos trabalhadores, estímulo a atividades físi- da Folha e presidente da ONG
submetidos a uma insu- cas: busca-se fazer do lu- Cidade Escola Aprendiz
portável pressão. Errado – gar de trabalho quase uma
extensão do lar. Tratar bem
Texto argumentativo: escrita e cidadania 85

É preciso assumir duas novas responsabilidades

(...) fônica: é preciso saber o mais importante que tere-


que se procura. mos nos próximos, diga-
O foco é a informa-
(...) mos, 30 anos. Isso está re-
ção. Pelo fato de que a
almente começando. Não
maior transformação é a Portanto, é importante
espere que as universida-
transformação na informa- fazer a si mesmo a seguinte
des organizem isso. Você
ção. A mudança não está pergunta: “De quais infor-
tem de aprender a olhar
nos instrumentos: a mu- mações eu preciso para
para si e para seu trabalho
dança é o fato de a infor- realizar o meu trabalho?”
e perguntar: “Será que pre-
mação estar acessível a (...)
ciso voltar a aprender para
todos. E todos esperam por Em uma sociedade e usufruir os benefícios de
isso. uma economia em que o meus pontos fortes e mi-
Nossa atitude perante conhecimento é o recurso nhas competências?” e “O
a informação mudou mais fundamental e mais caro, a que eu preciso aprender
do que a tecnologia em si, educação contínua é do que agora que essas coisas
talvez pelo aparecimento nós mais precisamos. mudaram?”
dos “knowledge workers” Em um mundo de ha- De que modo a edu-
como força de trabalho crí- bilidades como foi o nosso cação contínua e boa parte
tica. durante milhares de anos, dela são algo que temos de
Se nós aprendemos as competências mudavam incorporar em nossa vida e
algo na escola, é como ob- muito lentamente. Sempre em nosso trabalho?
ter informação. E aprende- digo que meu nome, que é
holandês, significa “impres- Uma última coisa a
mos a depender da infor-
sor”. Meus ancestrais foram ressaltar é que você tem de
mação. É irrelevante se o
tipógrafos em Amsterdã du- assumir duas novas res-
instrumento para obtê-la é
rante 250 anos, do início do ponsabilidades. Uma é a
um livro ou um site. Esses
século 16 a meados do sé- responsabilidade pela in-
são meios para obter infor-
culo 18. Durante todo esse formação. Tanto para si
mação, não fins.
tempo, não tiveram de como para a empresa. E a
Não fico impressio- aprender nada. Todas as outra é a responsabilidade
nado com as informações habilidades tipográficas ne- pelo seu próprio aprendi-
que meus amigos executi- cessárias já haviam sido zado contínuo. Não espere
vos obtêm. Pelo contrário, desenvolvidas em 1510, que alguém lhe diga do que
fico deprimido. Quanto mais nos primeiros 50 anos após precisa. É sua obrigação.
computadores têm, quanto o primeiro livro impresso.
mais dados obtêm, menos Novas habilidades só foram
informação de fato pos- surgir no século 21. Peter Drucker – Consultor e
suem, porque, sem meias professor americano, conside-
palavras, estão mal direcio- No que diz respeito ao rado o “pai da administração
nados. Estão desorientados conhecimento, nem preciso moderna”.
com os dados que seus dizer. As coisas mudam a
cada seis semanas, a cada Especial para a Folha (trecho
computadores produzem, de videoconferência realizada
não com a informação de três meses, a cada ano.
em agosto/2000, cedido pela
que necessitam. O compu- A educação contínua HSM, promotora de evento -
tador é como a lista tele- será o setor de crescimento www.hsm.com.br).
86 Teresinha Brandão

Mudanças e escolhas

(...) sas qualidades, não pa- dades necessárias para


rece que elas descrevem o trabalhar em equipe); 6.
A liderança centrada funcionário ideal? respeito próprio; 7. “afiar o
em princípios é a chave serrote”, que é a soma dos
Uma forma de anali-
para desencadear o po- outros seis itens (é preciso
sar as habilidades e as
tencial humano individual. que o funcionário aperfei-
competências necessárias
Cada pessoa da força de çoe todos os hábitos, con-
para a força de trabalho de
trabalho precisa empreen- servando-se aberto a no-
hoje é usar a lista dos sete
der uma viagem para se vas oportunidades e à
hábitos delineados em
tornar líder por opção – possibilidade de ser ensi-
meu livro, “The Seven
uma pessoa que assume a nado).
Habits of Highly Effective
responsabilidade por sua People” (“Os Sete Hábitos (...)
vida, suas escolhas e seu das Pessoas Muitos Efica-
Qualquer pessoa que
desempenho. zes”).
participa da força de tra-
Quando você conse- São eles: 1. liderança balho hoje deve optar por
gue fazê-lo, desenvolve a própria (ser consciente de ser líder; logo, saiba es-
integridade e o caráter ne- que você é responsável colher o caminho que quer
cessários para se adaptar sobre você mesmo); 2. seguir.
e reagir às transforma- possuir senso claro de
ções, para pensar de ma- objetivo, significado e
neira criativa e encontrar rumo; 3. adaptabilidade Stephen Covey – Autor de Os
as melhores soluções, Sete Hábitos das Pessoas
(trabalhar com outras pes- Muito Eficazes, um dos maio-
para se comunicar com soas para buscar situa- res bestsellers da área de car-
eficácia, para ser alguém ções em que sempre ha- reiras nos EUA
que pode ser ensinado, verá ganho comum); 4.
Especial para a Folha.
para construir confiança e comunicação eficaz; 5. si- Tradução de Clara Allain
ser confiável. Olhando es- nergia (possuir as habili-
Referências bibliográficas

ARISTÓTELES. Arte retórica e arte poética. Trad. Antonio Pinto de Carvalho. Rio de Janeiro:
Ediouro, 1975.

BARBOSA, S.; AMARAL, E. Escrever é desvendar o mundo: a linguagem criadora e o


pensamento lógico. Campinas: Papirus, 1986.

BENVENISTE, E. Problemas de Lingüística Geral I. 3. ed. Campinas: Pontes, 1991.

BRÉAL, M. Ensaio de Semântica. São Paulo: EDUC, 1992.

CARNEIRO, A. Redação em construção: a escritura do texto. São Paulo: Moderna, 1993.

CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Português: linguagens. 3. ed. São Paulo: Atual, 1999. v.III.

CHAROLLES, M. Introdução aos problemas da coerência dos textos. In: GALVEZ, C.; ORLANDI,
E.; OTONI, P. O texto: leitura e escrita. Campinas: Pontes, 1988.

______. Les formes directes et indirects de l’argumentation. Pratiques, n.64, p.7-45.

CITELLI, A. Linguagem e persuasão. São Paulo: Ática, 1986. p.7-13.

COMBETTES, B. Types de textes et faits de langues. Pratiques, n.56, p.5-18, déc. 1987.

COUTO, H. H. do (Coord.). A redação como libertação. Brasília: UnB, 1990.

DUCROT, O. A noção de causa. In: ______. Provar e dizer. Global, 1983.

DURIGAN, I. A.; ABAURRE, M. B.; VIEIRA, Y. (Org.). A magia da mudança – vestibular da


UNICAMP: língua e literatura. Campinas: UNICAMP, 1987.

FÁVERO, L. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 1993. (Série Princípios).

FUNK, E. Composição dirigida. Porto Alegre: Formação, [s.d].

GARCIA, O. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988.

GERALDI, W. (Org.). O texto na sala de aula: leitura e produção. Cascavel: ASSOESTE, 1984.

GUIMARÃES, E. Os limites do sentido: um estudo histórico e enunciativo da linguagem.

ILARI, R.; GERALDI, I. W. Semântica. São Paulo: Ática, 1989.

KOCH, I. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990.

______. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1992.

______. A inter-ação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 1992.


88 Teresinha Brandão

KOCH, I.; TRAVAGLIA, L. C. Texto e coerência. São Paulo: Cortez, 1993.

ORLANDI, E. A linguagem e seu funcionamento. Campinas: Pontes, 1987.

PÉCORA, A. Problemas de redação. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

PÊCHEUX, M. Análise automática do discurso (AAD-69). In: GADET; HAK (Org.). Por uma
análise automática do discurso. Campinas: UNICAMP, 1990.

PLATÃO, F.; FIORIN, I. L. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1996.

______. Para compreender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1993.

RODRIGUES, L. M. P.; BARBOSA, M. E. O.; BRANDÃO, T. S. Maneiras do dizer: Língua


Portuguesa no ensino médio. Pelotas: Escola de Ensino Médio Mário Quintana, 1998.

RODRIGUES, L. M. P.; BRANDÃO, T. S. Práticas do dizer: um exercício da linguagem. Pelotas:


L. M. P. Rodrigues, 1999.

SOUZA, F. C.; PANTANO FILHO, R. (Org.). Vestibular da Unicamp: provas resolvidas.


Campinas: Moandy, 1993.

VAL, M. G. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

VIGNER, G. Técnicas de aprendizagem da argumentação escrita. In: GALVEZ, C. O texto:


leitura e escrita. Campinas: Pontes, 1989.

ZANDWAIS, A. Estratégias de leitura: como decodificar sentidos não-literais na linguagem


verbal. Porto Alegre: Sagra, 1990.

Você também pode gostar