nasci em terra de guapos, dos Charruas, dos farrapos eu trago o instinto guerreiro, sou heroína da história, tenho altivez e coragem, meu sangue misto, selvagem, não conheceu cativeiro!
Sou o Rio Grande nascendo
das entranhas dos heróis, sou madrugada de sóis, no tempo das sesmarias... Sou a carícia dos ventos, sou a flor de corticeira, sou lenço branco, regeira, e poncho das noites frias...
Sou suspiro de calhandra,
sou rancho de santa-fé, sou Jussara de Sepé, nos templos das reduções... Sou artesã, aprendiz dos teares dos jesuítas, almas nobres, eruditas, gênios das Santas Missões!
Meu orgulho foi legenda
nas guerrilhas cisplatinas e nas horas matutinas ouvi tropel e tambores... No ocaso, vi sóis de sangue, na noite vi soledade vi os filhos da orfandade e cemitério sem flores... Evoco a Princesa Moura no misterioso Jarau, sou a valentia de Bláu na furna escura e sombria... No pastoreio da lenda, campeio a baia tropilha que se perdeu na coxilha nas barras loiras do dia.
Sou a ternura de um berço,
sou pomba rola arrulhando... Sou cacimba murmurando as queixas dos veios d’água... Sou a querência estendida nas esmeraldas dos campos, sou a luz dos pirilampos que acendem olhos de mágoas...
Sou rancho triste, tapera,
sou viola em peito amante, sou mate amargo espumante que corre de mão em mão... Sou fandango em pulperia, corredor das carreteadas, sou sinaleira de estradas nos postos de produção.
Sou o ruído explosivo
das semeaduras agrárias, regando o solo das áreas de espigas loiras, maduras, sou a matriz do progresso, sou a terra hospitaleira, que traz no peito a bandeira das esperanças futuras. Sou a cruz que cinco estrelas desenham no céu azul, sou o Rio Grande do Sul, sou insígnia, sou brasão! Sou flor agreste dos pampas, herança de estirpe guapa, na parte extrema do mapa sou a ponta do coração!