PROPÓSITO
Compreender as características gerais das bactérias, reconhecer os tipos de testes de
sensibilidade e distinguir as principais técnicas de coloração bacteriana é importante, pois
facilitará a execução de procedimentos na microbiologia clínica.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Descrever as características gerais das bactérias, as fases e os fatores que afetam o
crescimento bacteriano
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
A Microbiologia é a ciência que estuda os organismos microscópicos, suas características e
atividades, sendo as bactérias, os fungos, as algas e os protozoários os principais organismos
estudados. Muitas bactérias são agentes infecciosos responsáveis por uma série de doenças
nos seres humanos, podendo levar ao óbito dos indivíduos. Além disso, existe um grupo de
bactérias multirresistentes aos antimicrobianos, não apresentando nenhum tipo de opção
terapêutica.
Você sabe por que algumas bactérias são classificadas como cocos gram-positivos e outras
gram-negativas? Você sabe a diferença entre meios de culturas enriquecidos e seletivos?
Como verifica-se a resistência aos antimicrobianos? Vamos juntos decifrar e explorar mais
sobre a microbiologia clínica?
MÓDULO 1
Descrever as características gerais das bactérias, as fases e os fatores que afetam o
crescimento bacteriano
MORFOLOGIA BACTERIANA
As bactérias podem apresentar diferentes morfologias, que caracterizam determinados gêneros
ou grupos de bactérias. A análise da morfologia bacteriana auxilia na identificação e condução
da escolha dos testes de identificação do tipo de bactéria, isolada a partir de espécimes
clínicos.
Enquanto células animais e vegetais podem ter até dezenas de micrômetros, a maioria das
bactérias estudadas nos laboratórios de microbiologia medem em torno 1,0 µm de diâmetro.
Fonte: angellodeco/Shutterstock
ΜM
Micrômetro: Unidade de comprimento onde 1,0 µm equivale a 1000 mm, ou seja, igual a
1 x 10-6 m).
Fonte: Sakurra/Shutterstock
Figura 1 - Morfologia das bactérias: cocos, bacilos e espiraladas.
COCOS
Fonte: Kateryna Kon/Shutterstock
Bactérias em formas de cocos.
Bactérias com formato esférico ou oval e que, de acordo com a sua divisão celular, são
exemplos de cocos de importância médica, Staphylococcus aureus, Enterococcus spp,
Streptococcus sp., Neisseria sp. Esses cocos podem se apresentar em diferentes arranjos:
DIPLOCOCOS
Agrupamento de dois cocos. Os Streptococcus pneumoniae (pneumococo) são diplococos que
podem causar pneumonia, meningite, sinusite e infecção do ouvido médio. Outro exemplo é a
Neisseria gonorrhoeae agente etiológico da gonorreia.
ESTREPTOCOCOS
Vários cocos agrupados em cadeia, lembrando um colar de pérolas. As infecções
estreptocócicas, causadas por várias espécies de Streptococcus, podem desencadear diversos
sintomas, como: pneumonia, faringite, febre escarlatina, impetigo e celulite.
TÉTRADES
Agrupamento de 4 cocos de forma semelhante a um quadrado.
SARCINAS
Agrupamento de 8 cocos unidos de forma semelhante a um cubo. Exemplo: Sarcina ventriculi,
um importante patógeno em gatos, cachorros e bovinos. Em humanos, o potencial patogênico
ainda não é muito bem elucidado, mas tem sido isolado em biopsias gástricas e relacionados
com algumas doenças, como gastrite enfisematosa e perfuração gástrica.
Essa bactéria não é fácil de isolar e cultivar em laboratório de microbiologia. Assim, para o
diagnóstico de gastrite provocada por essa bactéria recomenda-se o exame histopatológico
com colorações de Hematoxilina e eosina.
ESTAFILOCOCOS
Cocos agrupados de forma semelhante ao cacho de uvas. Como exemplo, temos as infecções
por bactérias do gênero Staphylococcus aureus, que causam infecções cutâneas (foliculite,
impetigo, abcessos, celulite), pneumonia, infecções na corrente sanguínea e osteomielite.
BASTONETES OU BACILOS
São bactérias que apresentam um formato cilíndrico ou de bastão (bastonete), podendo ser
curtas ou longas e apresentar extremidade reta ou de ponta arredondada. Normalmente, os
bacilos não se agrupam em tantos arranjos como os cocos, apresentando-se, na maioria das
vezes, de forma isolada. Entretanto, podem apresentar-se, eventualmente, como diplobacilos
ou estreptobacilos.
DIPLOBACILOS
ESTREPTOBACILOS
Agrupamento em cadeia.
É importante destacar que, durante a análise microscópica, alguns bacilos podem ser
confundidos com cocos, isso ocorre pois são bacilos muito curtos. Esses bacilos curtos são
chamados de cocobacilos.
ESPIRALADAS
Fonte: Tatiana Shepeleva/Shutterstock
Bactérias espiraladas.
ESPIRILOS
São móveis (locomovem-se com ajuda de flagelos), apresentam formato espiral e corpo rígido.
Ex: Spirillum minus, que causa Febre da mordedura do rato em humanos e macacos.
ESPIROQUETAS
São móveis, mas se locomovem por contrações citoplasmáticas, apresentam formato em
espiral e são mais flexíveis; Ex: Treponema pallidum.
O T. pallium é o agente etiológico da sífilis, uma infecção bacteriana de transmissão sexual e
vertical. Quando não tratada, pode evoluir para formas mais graves, comprometendo
especialmente os sistemas nervoso e cardiovascular. Para o diagnóstico da sífilis, podemos
utilizar:
Métodos diretos a partir de materiais coletados das lesões primárias causadas por essa
bactéria, que permite a visualização do treponema vivo e móvel.
Pode ser feito com material fixado seguido de coloração (pelo método de Fontana de
Tribondeau), mas é de difícil visualização.
VIBRIÕES
São móveis (locomovem-se com ajuda de flagelos) apresentam formato de vírgula. Ex: Vibrio
cholerae, também conhecido como vibrião colérico, é o agente causador da cólera.
CITOLOGIA BACTERIANA
As bactérias pertencem ao grupo dos procariotos e, portanto, não possuem membrana nuclear
(carioteca), bem como não possuem todo o conjunto de organelas das células eucarióticas.
Entretanto, possuem elementos estruturais de grande importância, como a parede celular, que
pode ser corada, permitindo o profissional da saúde identificar e diferenciar os principais
grupos de bactérias.
PAREDE CELULAR
Você sabe por que a parede celular é uma estrutura tão relevante para as bactérias?
Ela é importante na divisão celular, é responsável pela forma, rigidez da bactéria e confere
proteção osmótica entre os meios externo e interno.
A parede celular possui uma espessura de, aproximadamente, 10 a 20 µm, é porosa,
permitindo a passagem de metabólitos para a membrana plasmática, é formada por camadas
rígidas de peptidoglicanos (mureína), e envolve a membrana citoplasmática da maioria dos
procariotos.
BACTÉRIA GRAM-POSITIVA
Possui uma parede celular mais espessa, com múltiplas camadas de peptideoglicanos (Figura
3), revestindo a membrana citoplasmática. Além disso, possui outros componentes, como os:
ÁCIDOS TEICOICOS
ÁCIDOS LIPOTEICOICOS
ÁCIDOS TEICOICOS
ÁCIDOS LIPOTEICOICOS
Fonte: Designua/Shutterstock
Figura 3 - Estrutura básica da parede celular gram-positiva.
BACTÉRIA GRAM-NEGATIVA
Apresenta a parede celular com uma estrutura mais complexa e, quimicamente, diferente
quando comparada à parede celular de gram-positiva (ver Figura 4). Esta parede celular é
composta de uma fina camada de peptideoglicanos (5-10% do peso da parede celular) e
externamente a esta fina camada, encontramos uma membrana externa.
ATENÇÃO
MEMBRANA EXTERNA
A membrana externa além de manter a estrutura bacteriana é uma barreira de permeabilidade,
confere proteção contra condições ambientais adversas, como as do sistema digestivo do
hospedeiro e resistência a alguns antimicrobianos como a penicilina. Essa membrana é
formada por uma dupla camada lipídica, onde a camada interna é constituída basicamente de
fosfolipídios e a camada externa possui uma molécula anfipática, o lipopolissacarídeo (LPS) ou
endotoxina e proteínas.
O LPS é essencial para a viabilidade das bactérias, funciona como um potente indutor de
respostas imunológicas, ativando linfócitos B e induzindo a produção de citocinas por
macrófagos, células dendríticas e outras células. Por outro lado, provoca febre e pode causar
choque endotoxêmico, sendo chamado também de endotoxina. As proteínas permitem a
difusão de metabolitos pequenos, antibióticos hidrofílicos, têm função estrutural e atuam como
receptoras para bacteriófagos e outros ligantes.
LPS
As bactérias gram-negativas podem causar uma série de infecções graves nos seres humanos,
como peritonite, pneumonia, infecções urinárias, meningite, dentre outras. É importante
ressaltar que essas bactérias estão cada vez mais resistentes aos antimicrobianos disponíveis
para utilização terapêutica.
Fonte: Designua/Shutterstock
Figura 4 - Estrutura básica da parede celular Gram-negativa.
ATENÇÃO
Exceções bacterianas
2) Micoplasmas: São as menores bactérias encontradas na natureza (cerca de 0,3 µm), não
apresentam parede celular e incorporam esteróis do hospedeiro em sua membrana (Figura 6).
O Mycoplasma pneumoniae é um agente causador comum de pneumonia.
ESTERÓIS
Fonte: Designua/Shutterstock
Figura 6: Citologia do Micoplasma.
MEMBRANA CELULAR OU MEMBRANA
CITOPLASMÁTICA BACTERIANA
ATENÇÃO
Algumas bactérias, como o Vibrio cholerae, podem possuir mais de um DNA; e outras, como a
Borrelia burgdorferi, possuem um DNA linear).
ELEMENTOS ACESSÓRIOS
São estruturas que podem estar ou não presentes em determinadas bactérias. Vários desses
elementos acessórios são importantes na virulência, patogenicidade e resistência bacteriana.
Fonte: Wikipedia
Estrutura celular bacteriana.
GLICOCÁLICE
O glicocálice consiste em um revestimento de polissacarídeos. Quando o glicocálice apresenta
estrutura uniforme e encontra-se firmemente aderido à parede celular é denominado de
cápsula. Quando as camadas de polissacarídeos possuem pouca aderência e apresentam
espessura não uniforme, são chamadas de camada viscosa. Essa estrutura, além de fornecer
um envoltório protetor, evita a fagocitose pelas células de defesa do organismo, atua como
reservatório de nutrientes e, principalmente, auxilia na aderência bacteriana a algumas
superfícies. Exemplo: o Streptococcus mutans, que através da cápsula fixa e perfura o esmalte
dentário.
PLASMÍDEO
Corresponde a um DNA circular extracromossomal, capaz de se replicar de forma autônoma,
localizado no citoplasma da célula bacteriana e que não é responsável por características
essenciais da bactéria. Podem se apresentar em várias cópias, além de possuir a capacidade
de conferir vantagens adaptativas (por exemplo, resistência a antibióticos), podendo, inclusive,
ser transferidos para outras bactérias.
FLAGELOS
São estruturas de locomoção presentes em algumas bactérias, formadas por subunidades
proteicas acopladas na forma helicoidal (flagelina) e que permitem às bactérias “irem” em
busca de nutrientes ou fugir de substâncias tóxicas. O flagelo fica ancorado na membrana
citoplasmática através do seu corpo basal (similar a um gancho), possui um comprimento
geralmente muito maior que o da célula, e podem ser únicos ou múltiplos, polares (apenas nas
extremidades) ou peritríquios (em todo corpo bacteriano). Embora os flagelos não possam ser
visualizados, normalmente, no microscópio óptico, existem técnicas de coloração que os
tornam visíveis no microscópio óptico e os microbiologistas usam como auxílio no diagnóstico.
Durante a identificação de uma bactéria, a avaliação da motilidade pode ser utilizada para
diferenciar espécies de bactérias. Exemplo: Em uma cultura de fezes (coprocultura), a
presença de bactérias gram-negativas imóveis é indicativa de Shigella sp. e móveis de
Salmonella sp.
PILI E FÍMBRIAS
As fímbrias são estruturas filamentosas, que lembram fios de cabelo no lado de fora da
bactéria, compostas por subunidades proteicas (pilina), que se projetam a partir da superfície
de uma célula e, geralmente, estão em maior quantidade do que os flagelos. As fímbrias
auxiliam na colonização das membranas de mucosas como ocorre no caso da Neisseria
gonorrhoeae, agente causador da gonorreia e, no caso da E. coli, nas células do trato urinário.
Os pili sexuais de uma bactéria se ligam a outras bactérias permitindo a transferência de
material genético na conjugação bacteriana. Esse pili sexuais são codificados por um
plasmídeo.
ESPOROS (ENDOSPOROS)
Produzidos por alguns gêneros de bactérias, como Bacillus e Clostridium, os esporos são uma
estrutura resistente a agentes físicos e químicos, que é formada em resposta ao meio
ambiente, quando este se torna inadequado para a sobrevivência da bactéria (ex.: escassez de
água ou nutrientes). A resistência da forma esporulada possibilita que a bactéria sobreviva por
longos anos em ambientes desfavoráveis, podendo reverter à forma vegetativa quando o local
se tornar viável novamente para sua sobrevida. Cada célula forma um único esporo, que é
liberado quando a bactéria morre.
FATORES DE VIRULÊNCIA E
PATOGENICIDADE DE BACTÉRIAS
SAIBA MAIS
Para uma cultura de micobactéria ser considerada negativa, temos que esperar, no mínimo, 45
dias de incubação e não ser visualizado nenhum crescimento.
Fonte: Wikimedia
FASE LAG
FASE LOGARÍTMICA (FASE LOG OU EXPONENCIAL)
FASE ESTACIONÁRIA OU FASE PLATÔ
FASE DE DECLÍNIO OU MORTE
FASE LAG
Quando bactérias são adicionadas a um meio de cultura (semeadas), elas necessitam de um
tempo para se adaptar ao novo ambiente antes de começar a se dividir. Neste momento, não
há reprodução e a população permanece temporariamente inalterada. É importante ressaltar
que, nesta fase, as células não estão em latência, uma vez que aumentam no tamanho e
fisiologicamente estão muito ativas.
Nesta fase, as células iniciam a divisão que ocorre de forma exponencial, regular e constante.
A velocidade de crescimento é máxima nesta fase, e varia de acordo com a cepa e com as
condições ambientais.
Etapa que ocorre morte bacteriana, pois há falta de nutrientes e de espaço, aliada à toxidez do
ambiente que levam os microrganismos a morrerem mais rápido do que produzirem novas
células (a morte bacteriana nesta fase se dará de forma exponencial ou logarítmica). Sendo
assim, há uma progressiva morte celular até a cultura se tornar estéril.
TEMPERATURA
BACTÉRIAS PSICRÓFILAS
Crescem melhor de 12°C e 20°C.
BACTÉRIAS MESÓFILAS
Crescem melhor de 25°C a 40°C. Neste grupo, está a maioria dos patógenos bacterianos de
importância clínica, já que nesta faixa encontra-se a temperatura do corpo humano.
BACTÉRIAS TERMÓFILAS
Crescem melhor de 45°C a 60°C.
SAIBA MAIS
OXIGÊNIO
BACTÉRIAS MICROAERÓFILAS
Só crescem em ambiente contendo baixas concentrações de oxigênio (menores que as
encontradas no ar atmosférico). Ex.: Campylobacter sp.
SAIBA MAIS
PH
Normalmente, a grande maioria das bactérias cresce bem em meios com pH neutro, em torno
de 6,5 a 7,5, apesar de muitas espécies tolerarem variações de pH entre 4,0 e 9,0. Os meios
de cultura geralmente são tamponados para impedir mudanças bruscas de pH, decorrentes do
próprio metabolismo das bactérias.
PRESSÃO OSMÓTICA
A pressão osmótica é a pressão que deve ser exercida sobre um sistema para evitar que a
passagem de água por osmose, ou seja, para o meio mais concentrado ocorra. A parede
celular, além da rigidez, impede a entrada excessiva de água. Dessa forma, a pressão
osmótica dos meios de cultura pode afetar diretamente a viabilidade das bactérias. Meios de
cultura com pressões osmóticas menores comparado ao interior da bactéria, normalmente, não
afetam sua viabilidade. De forma diferente, meios de cultura com pressões osmóticas maiores
causam perda de água intracelular, trazendo efeito bacteriostático ou bactericida.
BACTERIOSTÁTICO
BACTERICIDA
SAIBA MAIS
Halofismo - Certas bactérias isoladas de salmouras, pacotes de sal, alimentos e água do mar,
chamadas bactérias halofílicas ou halófitas obrigatórias, crescem apenas quando o meio
contém uma concentração inusitadamente elevada de sal (10% a 15%). Isto representa uma
resposta especial do microrganismo à pressão osmótica.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. (ADAPTADA DE IF RS -2018). AS POPULAÇÕES BACTERIANAS
SEGUEM UMA SÉRIE DE FASES DE CRESCIMENTO: LAG, LOGARÍTMICA
OU EXPONENCIAL, ESTACIONÁRIA E DE DECLÍNIO OU MORTE
CELULAR. ANALISE AS ASSERTIVAS ABAIXO:
GABARITO
Assinale única alternativa CORRETA que relaciona corretamente as assertivas I, II, III e
IV. com as fases lag, log, estacionária e de morte celular:
MÓDULO 2
Reconhecer os tipos de meios de cultura, bem como os testes de sensibilidade aos
antimicrobianos
MEIO DE CULTURA
Após a coleta de uma amostra biológica, destinada para a cultura e/ou antibiograma, essa será
semeada em meios de culturas capazes de suprir as bactérias com as exigências nutricionais
mínimas, dentro das condições ambientais necessárias para o cultivo, possibilitando o
crescimento microbiano e a formação e visualização de colônias.
Durante a semeadura de uma amostra biológica, por exemplo, o líquor, em casos de suspeita
de meningite, deve-se conhecer os principais agente etiológicos dessa doença para escolher
os meios apropriados (com nutrientes específicos e pH), as condições ideais de crescimento,
como a presença e quantidade de oxigênio ou até mesmo a sua ausência. Todos esses
aspectos são essenciais para auxiliar na identificação bacteriana e na conclusão diagnóstica.
Vamos juntos conhecer um pouco mais sobre a classificação dos meios de culturas.
CLASSIFICAÇÃO DOS MEIOS DE CULTURA
Os meios de cultura são classificados a partir do seu estado físico, da sua composição e do
seu objetivo de utilização.
Fonte: SomprasongWittayanupakorn/Shutterstock
Microbiologista cultivando bactéria em uma placa de Petri contendo meio de cultura.
Você provavelmente já preparou gelatina na sua casa, correto? Lembra da sua consistência?
É válido lembrar que, para obtenção de um meio de cultura ideal contendo ágar, deve-se, após
sua adição, aquecer a solução para dissolver o ágar em água fervente até a solução ficar
homogênea. Entretanto, não devemos ferver ou aquecer a solução diversas vezes, pois
podemos provocar alteração no valor nutritivo, no percentual de água e outros parâmetros que
interferiam no crescimento.
Fonte: Yayah_Ai/Shutterstock
MEIOS SÓLIDOS
Obtidos a partir da adição de 1,0 g a 3,0 g % de ágar. A maioria dos microrganismos crescem
formando colônias. Ex: Ágar nutritivo.
MEIOS SEMISSÓLIDOS
Obtidos, na maioria das vezes, após adição de 0,1 g a 0,7 g %”, separando o 0,7 de g. Dentre
as finalidades, temos a visualização da motilidade bacteriana ou, muitas vezes, servir como
base de meio de transporte. Ex: Meio SIM (meio de detecção da produção de enxofre,
motilidade e produção de indol) e Cary & Blair.
Exemplo de Meio semi-sólido (SIM) mostrando uma bactéria que não apresenta motilidade.
Fonte: NonSitth/Shutterstock
MEIOS LÍQUIDOS
Não apresentam ágar, são conhecidos como “caldos” e utilizados para ativação das culturas,
repiques de microrganismos, provas bioquímicas, dentre outros. Ex: caldo tetrationato e
selenito-cistina para cultivo de salmonelas, caldo tioglicolato para Clostridium perfringens.
MEIOS COMPLEXOS
A exata constituição do meio de cultura não é conhecida. Esses meios apresentam em sua
composição soro, sangue, extratos moídos ou digeridos de órgãos animais (corações, fígados,
cérebros), peixes, leveduras, e vegetais ou outro componente que não se tem total
conhecimento da composição química. Ex: Ágar sangue.
São os meios que contêm um grande suprimento de nutrientes pela adição de diversas
substâncias como sangue, soro, extratos de tecidos animais ou vegetais ao caldo ou até
mesmo ágar nutritivos, para permitir o crescimento de bactérias fastidiosas (nutricionalmente
exigentes), como Haemophilus spp., Neisseria spp., Branhamella catarrhalis e Moraxella spp.
EXEMPLO
MEIOS SELETIVOS
São meios que apresentam em sua composição substâncias químicas específicas (inibidores)
adicionadas ao caldo ou ao ágar nutritivo que previnem o crescimento de um determinado
grupo de bactérias. É importante ressaltar que os inibidores atuam em um grupo específico de
bactéria, favorecendo apenas o crescimento da bactéria de interesse.
EXEMPLO
O ágar MacConkey é um meio seletivo pois tem em sua composição sais biliares e cristais
violeta que inibe o crescimento da maioria das bactérias gram-positivas, permitindo o
crescimento apenas das bactérias gram-negativas.
EXEMPLO
COLÔNIAS ROSAS
Fonte: NonSitth/Shutterstock
Fonte: REJO JACOB JOSEPH/Shutterstock
Figura 7 - Diferença da coloração das colônias de bactérias gram-negativas fermentadoras
e não fermentadoras de lactose em Agar MacConkey.
Agora que você conheceu esse meio de cultura, imagina por que temos essa diferença?
EXEMPLO
Outro exemplo de meio seletivo é o ágar manitol salgado. Esse meio de cultivo é composto de
manitol e alta concentração de sal (7,5% de NaCL). Na rotina laboratorial ele é utilizado para o
isolamento de Staphylococcus aureus a partir de diferentes amostras biológicas. Todas as
espécies de Staphylococcus são capazes de crescer nesse meio, mas o S. aureus é capaz de
fermentar o manitol presente no meio, produzindo ácido, que torna o meio e as colônias
amareladas. As outras espécies de estafilococos, como os Staphylococcus epidermidis e o
Bacillus subtillis não metabolizam o manitol, apresentando assim colônias brancas.
Fonte: OneMashi/Shutterstock
S.aureus e S.epidermidis cultivadas em ágar manitol.
MEIOS DE TRANSPORTE
SWAB
Fonte: MedstockPhotos/Shutterstock
Swab com meio de transporte que pode ser usado para coleta de amostras de
secreção vaginal.
Fonte: aslysun/Shutterstock
Em geral esses métodos são recomendados para ajudar a direcionar o tratamento do paciente.
É importante ressaltar que a detecção precisa dos mecanismos de resistências das bactérias
são utilizados para fins epidemiológicos e medidas de contenção destas bactérias resistentes.
Enterobactérias
Pseudomonas spp.
Acinetobacter spp.
Staphylococcus spp.
Enterococcus spp.
Streptococcus pneumoniae
Stenotrophomonas maltophilia
ATENÇÃO
A padronização das etapas relacionadas à realização dos TSA (da escolha dos antibióticos até
a interpretação dos resultados) é feita por organizações especializadas, que elaboram
documentos, os quais apresentam com riqueza de detalhes como realizar e interpretar os
testes de sensibilidade. Tais organizações são:
CIM OU MIC
MICRODILUIÇÃO EM CALDO
PASSO 1
PASSO 2
PASSO 3
PASSO 4
PASSO 1
PASSO 2
PASSO 3
PASSO 4
SAIBA MAIS
Fonte: eczserapyilmaz/Shutterstock
Teste de disco-difusão em ágar.
TÉCNICA
Toda a etapa deve ser realizada de forma estéril, seguindo as normas de biossegurança
do laboratório.
Método do crescimento
PASSO 1
Após crescimento em placa de ágar (24 horas), selecionar de três a cinco colônias, bem
isoladas, do mesmo tipo morfológico. A superfície de cada colônia é tocada com uma alça, e os
microrganismos são transferidos para um tubo contendo 4-5 mL de NaCL 0,9% (salina) estéril.
PASSO 2
Incuba-se a cultura na salina até alcançar a turbidez de uma solução padrão de McFarland
0,5.
Essa escala é composta de 11 tubos numerados de 0,5 a 10, onde o tubo 0,5 (indica uma
PASSO 1
Após a preparação da suspensão bacteriana, mergulha-se um swab de algodão estéril na
suspensão. Essa etapa deve ser realizada em até 15 minutos após ajustar a turbidez da
suspensão. O swab deve ser girado várias vezes e apertado firmemente contra a parede
interna do tubo, acima do nível do líquido, o que ajuda a retirar qualquer excesso de inóculo no
swab.
PASSO 2
A superfície da placa de ágar Müeller-Hinton é inoculada esfregando o swab em toda a
superfície estéril do ágar. Repete-se o procedimento esfregando outras duas vezes, girando a
placa aproximadamente 60° cada vez, a fim de assegurar a distribuição uniforme do inóculo.
Após a distribuição, passa-se um swab na margem de toda a placa de ágar, completando pelo
menos uma volta completa.
PASSO 3
A tampa pode ser deixada entreaberta de três a cinco minutos de maneira a permitir que
qualquer excesso de umidade seja absorvido antes de se aplicar os discos impregnados de
droga. No entanto, a placa não pode ultrapassar 15 minutos aberta.
Devemos evitar inóculos com alta concentração de bactérias. Nunca devemos usar culturas em
caldo, não diluídas, do dia anterior, ou outros inóculos não padronizados para semear nessas
placas.
ÁGAR MÜELLER-HINTON
PASSO 1
O conjunto de antibióticos é previamente definido. Esses são discos de papeis de filtros
impregnados com concentrações definidas de antibióticos. Os discos de antibióticos são
colocados na superfície de placa de ágar anteriormente semeada, com auxílio de uma pinça ou
com um dispensador. Ao ser colocado, cada disco deve ser pressionado de maneira a
assegurar o contato completo do disco com a superfície de ágar. Os discos devem ser
distribuídos mantendo a distância entre os centros de pelo menos 24 mm. Em geral, deve-se
colocar 12 discos, no máximo, em uma placa de 150 mm, ou cinco discos em uma placa de
100 mm.
Algumas drogas difundem-se quase instantaneamente quando em contato com o meio. O disco
não deve ser reaplicado após ter entrado em contato com a superfície de ágar. Em vez disso,
coloque um novo disco em outra parte da placa.
PASSO 2
As placas devem ser invertidas e colocadas em uma estufa, a 35° C, até 15 minutos após a
aplicação dos discos. No entanto, no caso das cepas de Haemophilus spp., N. gonorrhoeae e
dos estreptococos, as placas não devem ser incubadas em atmosfera enriquecida com CO2,
PASSO 1
A leitura é realizada após 18 a 24 horas de incubação. Inicialmente, analisamos a superfície da
placa para verificar se a semeadura foi satisfatória. Em seguida, os halos (diâmetros) devem
ser medidos, em milímetros, com auxílio de paquímetro ou uma régua. Para isso, a placa deve
ser invertida, e a régua ou o paquímetro apoiado na parte de trás da placa. As medidas devem
ser feitas contra uma fonte luminosa.
FONTE LUMINOSA
Cuidado:
PASSO 2
Com a medida de cada halo (diâmetro) a bactéria testada é classificada, como sensível,
intermediário, ou resistente em relação aos agentes antimicrobianos testados, usando como
comparação o tamanho dos halos preconizados pelas organizações internacionais (CLSI,
BSAC e BrCAST).
Vantagens desse método: Simplicidade do teste; não requer nenhum equipamento especial;
os resultados categóricos facilmente interpretados; flexibilidade na seleção de discos para
teste; baixo custo e de fácil execução.
Desvantagens: Teste manual, sem automação; não pode ser utilizado para verificar a
resistência a alguns microrganismos, pois falta padronização do método.
Exemplo: Para avaliar o perfil de sensibilidade do S. pneumoniae versus ceftriaxona, deve ser
feito o teste do MIC (quantitativo). De acordo com o CLSI (2018), esse método não pode ser
mais utilizado para verificar o perfil de sensibilidade da polimixina B nas bactérias gram
negativas, pois a polimixina apresenta baixa difusão no Agar, sendo preconizado a
microdiluição.
ACURÁCIA
Refere-se ao grau em que o teste é capaz de determinar o verdadeiro valor do que está
sendo medido.
CARBAPENEMASE
A) Diferenciais
B) Seletivos
C) Enriquecidos
D) De transporte
B) É um método quantitativo.
GABARITO
O teste de sensibilidade de disco-difusão em ágar não pode ser feito de forma automatizada, é
um método qualitativo e não requer utilização de equipamentos especiais. Entretanto, permite
ao microbiologista uma ampla escolha de antibióticos a serem utilizados, proporcionando,
portanto, flexibilidade quanto à escolha.
MÓDULO 3
Distinguir os métodos de visualização e coloração na prática laboratorial
INTRODUÇÃO
Vimos no módulo 1 que as características das células bacterianas, bem como sua morfologia,
são essenciais para entendermos e aplicarmos as técnicas de coloração bacterianas. No
entanto, uma vez que as bactérias são seres microscópios, não podemos enxergá-las a olho
nu, e necessitamos do auxílio dos microscópios:
De uma maneira geral, as bactérias vivas podem ser observadas quanto à forma e
movimentos, a partir de material biológico em suspensão (uma gota) entre lâmina e
lamínula (sem formar bolha). Esta preparação é conhecida como a fresco e exige um
bom manuseio do microscópio por parte do microbiologista, uma vez que é necessário
fazer ajustes de intensidade da luz, regular bem o condensador, se possível empregar
filtros para uma melhora na qualidade da imagem a ser visualizada e, geralmente, utilizar
um microscópio de campo escuro.
CORRETO!
De uma maneira geral, as bactérias vivas podem ser observadas quanto à forma e
movimentos, a partir de material biológico em suspensão (uma gota) entre lâmina e
lamínula (sem formar bolha). Esta preparação é conhecida como a fresco e exige um
bom manuseio do microscópio por parte do microbiologista, uma vez que é necessário
fazer ajustes de intensidade da luz, regular bem o condensador, se possível empregar
filtros para uma melhora na qualidade da imagem a ser visualizada e, geralmente, utilizar
um microscópio de campo escuro.
Como é de se esperar, na preparação a fresco, por não utilizar corantes, as bactérias são
vistas sem cor (incolores), mesmos que estas sejam capazes de produzir cor quando
cultivadas em meios de cultura específicos. Para uma melhor visualização da morfologia e
citologia bacteriana, vários corantes passaram a ser utilizados e os microrganismos são
corados após os microrganismos serem fixados na lâmina (mortos), na maioria das vezes, pelo
calor, etapa chamada de fixação. A fixação permite que a bactéria fique aderida à lâmina e
evita que as bactérias sejam lavadas e perdidas durante a coloração. No entanto, antes da
etapa de fixação e coloração, devemos lembrar da importância da realização de um bom
esfregaço, que deve ser:
Pouco espesso
Bem homogêneo
ATENÇÃO
COLORAÇÃO DE GRAM
Esta técnica foi desenvolvida em 1884, pelo médico dinamarquês Hans Christian Joachim
Gram, e é a mais utilizada em bacteriologia por permitir distinguir bactérias gram-positivas de
bactérias gram-negativas. Diferenças nas características químicas e estruturais das paredes
celulares, bem como na permeabilidade aos reagentes químicos nestes dois grupos de
bactérias levam a diferenças de coloração.
Fonte: Schira/Shutterstock
Coloração de GRAM. À esquerda, bactérias gram-negativas. Á direita, bactérias gram-
positivas.
ATENÇÃO
COLORAÇÃO DE ZIEHL-NEELSEN
No módulo 1, você aprendeu que existem bactérias cuja parede celular fogem da classificação
como gram-positivas e gram-negativas, pois possuem acima da camada de peptideoglicanos,
uma camada denominada Micolato Arabinogalactano, formada por polímeros de
arabinogalactano (açúcares) e revestida por uma porção lipídica de ácidos micólicos. Esta
constituição torna a parede celular hidrofóbica, dificultando a penetração de corantes aquosos,
bem como a ação do lugol e, portanto, impedindo a identificação e a diferenciação desse tipo
de bactéria através da coloração de Gram.
Fonte: Wikipedia
Friedrich Carl Adolf Neelsen
SAIBA MAIS
A análise do escarro pela coloração de BAAR é um método simples, barato e muito importante
para o diagnóstico da tuberculose, pois confere um resultado precoce (quando realizado de
forma correta). Além disso, permite o acompanhamento a evolução do tratamento de pacientes
com essa doença. Pacientes com sinais e sintomas (febre vespertina, tosse persistente por
mais de 3 semanas, emagrecimento, com imagem no raio x) que apresentam bacilos gram-
negativos no escarro em amostras coradas pela ZH indicam a presença do M. tuberculosis. No
entanto, é importante destacar que outras micobactérias se coram por essa técnica e esse
método. Para diferenciar as espécies, é necessário cultura.
Essa técnica pode ser realizada em outras amostras, como: urina, líquidos pleurais, lavado
bronco alveolar, aspirado traqueal, biópsias e líquor.
COLORAÇÃO DE ALBERT-LAYBOURN
Algumas bactérias apresentam corpúsculos citoplasmáticos (corpúsculos metacromáticos ou
corpúsculos de Babes Ernst) nas suas extremidades e que podem ser corados pelo Lugol forte
(com cor marrom), em contraste com o corpo do bacilo, que se cora em esverdeado/azulado
pela solução de Laybourn. Esta técnica é uma técnica simples que foi sugerida em 1920 por
Henry Albert e, posteriormente, foi modificada por Ross Laybourn, em 1924.
DIFTERIA
A difteria (ou crupe) é uma doença de origem bacterina, que acomete as amígdalas,
laringe, faringe, nariz, conjuntiva e pele, causando amidalite com o aparecimento de
placas bacterianas bem amareladas, dificuldades respiratórias e até mesmo parada
respiratória com óbito. Essa doença é causada pela bactéria Corynebacterium diphtheriae
e pode ser transmitida por meio das vias respiratórias ou então através de contato físico.
Fonte: Kateryna Kon/Shutterstock
Ilustração microscópica de Corynebacterium diphtheria.
Fonte: microbiologybook.org
Flagelos.
Cultivar a bactéria em estudo, de acordo com suas preferências físicas, em uma placa de
ágar infusão de cérebro-coração (BHI) ou em ágar tríptico de soja (com ou sem sangue).
Coletar delicadamente uma alíquota do crescimento com uma alça de platina e transferi-
la para um tubo, contendo cerca de 3 mL de água destilada. Inverter o tubo uma vez
para homogeneizar a suspensão. Colocar uma gota desta suspensão sobre uma lâmina
Cobrir a lâmina com uma mistura de corantes, que inclui fucsina e ácido tânico (fórmula
abaixo), e deixar por 5 minutos, até que um brilho metálico esverdeado cubra metade da
área. Não deixar o corante secar sobre a lâmina.
Retirar o corante, enxaguando com água. Secar e observar ao microscópio, com objetiva
de imersão.
A parede do esporo é impermeável, mas pode ser atravessada por corantes (como o verde de
malaquita) quando submetidos ao aquecimento, o que confere aos esporos uma cor verde
intensa. Associado a isso, essa estrutura não consegue ser descorada pela ação do álcool,
mas as outras estruturas podem ser descoradas. Para melhorar a visualização e como
contraste (contracorante), utiliza-se a safranina, que cora outras estruturas em vermelho,
facilitando a diferenciação dos esporos.
Aquecer água em um béquer, até a emissão de vapores. Colocar a lâmina sobre este
béquer, mantendo o corante aquecido por 5 minutos. Alternativamente, cobrir a lâmina
com verde malaquita e aproximar de uma chama até que desprenda vapor, sem deixar
que o corante ferva. Afastar do fogo e, após 1 a 2 minutos, repetir a operação por 3 a 4
vezes.
Lavar suavemente com água, evitando o choque térmico, que poderá quebrar a lâmina.
Lavar e secar.
COLORAÇÃO DE CÁPSULA
Como aprendemos, a cápsula envolve a parede celular, é produzida por algumas espécies
bactérias e representa uma estrutura muito importante para a patogenicidade da bactéria. Isso
porque, confere a ação antifagocitária, ou seja, funciona como um mecanismo de fuga da ação
da fagocitose pelas células do sistema imunológico do indivíduo.
Depositar na lâmina uma gota de tinta da China ao lado das gotas de cultura.
Cobrir com uma lamínula, comprimindo-a entre folhas de papel de filtro, para se obter
uma quantidade bem tênue de corante e material.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
B) As bactérias gram-negativas apresentam uma parede celular constituída por uma fina
camada de peptideoglicanos revestida por ácido micólico e uma membrana externa.
C) Os bacilos álcool ácido resistentes são preferencialmente corados pela técnica de Gram.
D) O lugol aumenta a afinidade da bactéria para o corante cristal violeta induzindo a formação
de um composto roxo nas bactérias gram-positivas.
A) Streptococcus sp.
B) Treponema sp.
C) Mycobacterium tuberculosis
D) Corynebacterium diphtheria
GABARITO
As bactérias gram-negativas após o tratamento com álcool-acetona perdem a cor corando com
o corante de fundo (Safranina ou fucsina de Gram). As bactérias gram-negativas apresentam
parede celular constituída por uma fina camada de peptideoglicanos, uma membrana externa e
lipopolissacarídeos. Os bacilos álcool ácido resistentes são corados pela técnica de ZIEHL-
NEELSEN.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo desta jornada, compreendemos as características gerais das bactérias e
relacionamos a sua morfologia e estruturas celulares com as diferentes técnicas de coloração,
importantes e muito utilizadas nos laboratórios clínicos para identificação ou distinção de
grupos bacterianos. Além disso, entendemos como os diferentes meios de cultura são úteis
para identificação e crescimento bacteriano, bem como as vantagens e desvantagens de cada
tipo de teste de sensibilidade a antimicrobianos, os quais permitem investigar resistência a um
ou mais antibióticos utilizados na clínica.
REFERÊNCIAS
JORGENSEN, J. H.; FERRARO, M. J. Antimicrobial Susceptibility Testing: A Review of General
Principles and Contemporary Practices. Clinical Infectious Diseases. 49 (11), 2009. p. 1749–
1755.
MADIGAN, M. T.; MARTINKO, J. M. & PARKER, J. Microbiologia de Brock. 10 ed. São Paulo:
Pearson Education, 2008.
MURRAY, P.R; ROSENTHAL, K.S; PFALLER, M.A. Morfologia Bacteriana e Estrutura e Síntese
da Parede Celular. In: Microbiologia médica. 5. ed. Elsevier, 2006. cap. 3, p. 11-24.
MURRAY, P.R; ROSENTHAL, K.S; PFALLER, M.A. Morfologia Bacteriana e Estrutura e Síntese
da Parede Celular. In: Microbiologia médica. 5 ed. Elsevier, 2006. cap. 4, p. 25-34.
OPLUSTIL, C.P.; ZOCCOLI, C.M.; TOBOUTI, N.R.; SINTO, I.S. Procedimentos básicos em
microbiologia clínica. 2 ed. São Paulo: Sarvier, 2004.
TEVA, A.; MORAES, A.M.L.; RIBEIRO, F.C.; et al. Bacteriologia. In: MOLINARO, E.M.;
CAPUTO, L.F.G.; AMENDOEIRA, M.R.R. (Orgs). Conceitos e Métodos para formação de
profissionais em laboratórios de saúde: v 4. Rio de Janeiro: EPSJV; IOC, 2009. cap.3,
p.221-398.
TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R. & CASE, C. L. Microbiologia. 12 ed. São Paulo: Artmed,
2017.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos explorados neste tema:
Pesquise:
Como o Dr. Alvin Fox, Professor da University of South Carolina School of Medicine
aborda as características bacterianas no artigo A célula bacteriana.
Como Ana Cristina Gales, Eliete Aguiar de Miranda Frigatto e Soraya Sgambatti de
Andrade abordam os Testes de Sensibilidade aos Antimicrobianos – módulo 5.
Assista:
Leia:
A notícia Qual a finalidade dos meios de cultura em microbiologia? Publicado por KASVI
distribuidora.
CONTEUDISTA
Alice Maria de Magalhães Ornelas
CURRÍCULO LATTES
DESCRIÇÃO
Principais bactérias de importância clínica e métodos de diagnóstico laboratorial para infecções
bacterianas do trato respiratório e trato urinário.
PROPÓSITO
Conhecer as espécies bacterianas que são importantes causadoras de infecções em humanos
e os métodos usados para seu diagnóstico a fim de que o profissional tenha domínio de suas
atividades exercidas no laboratório clínico, sendo capaz de realizá-la com segurança e
qualidade.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
As bactérias formam um grupo de microrganismos muito diverso. Dentro desse domínio,
encontramos espécies que estão adaptadas a diferentes ambientes, desde geleiras da
Antártida até o nosso próprio corpo. A grande maioria das bactérias que habitam o corpo
humano estão em equilíbrio e, muitas vezes, trazem benéficos para nossa saúde, fazendo
parte do que chamamos de microbiota normal. No entanto, existem também aquelas que
podem causar doenças (bactérias patogênicas) e, por isso, a presença dessas espécies deve
ser identificada.
Uma vez que a espécie responsável por uma doença é determinada, o tratamento pode ser
realizado de forma direcionada, e as chances de cura aumentam muito! Por isso, vamos
começar agora o nosso estudo sobre métodos laboratoriais de diagnóstico para bactérias de
importância clínica. Esses métodos têm como objetivo principal determinar a espécie
bacteriana encontrada em materiais obtidos de pacientes, como escarro, sangue e urina.
Agora falaremos um pouco sobre as características marcantes das espécies patogênicas aos
seres humanos e entraremos em detalhes sobre os métodos de diagnóstico de infecções
bacterianas do trato respiratório e urinário. Os métodos de diagnóstico laboratorial são
baseados nas particularidades de cada espécie e, por isso, é tão importante relacionar esses
temas.
MÓDULO 1
Reconhecer as principais espécies de bactérias causadoras de infecções em
humanos e suas características
A coloração de Gram nos permite definir uma cor e evidencia a forma para a maioria das
espécies de bactéria. A técnica diferencia esses microrganismos de acordo com a porção mais
externa da célula: uma camada espessa de peptideoglicano ou uma membrana de
fosfolipídeos.
As que têm o peptiodeoglicano na parte externa se coram de roxo pelo corante cristal violeta, e
mantém essa cor até o final do método. Por isso, são chamadas de Gram-positivas. Já as que
possuem uma membrana externa de fosfolipídeos, perdem a cor roxa em uma etapa do
método e depois são “recoradas” em vermelho, sendo chamadas Gram-negativas.
Fonte: Wikimedia
Sequência de reagentes usados no método de coloração de Gram. A etapa 1
representa as células bacterinas antes de serem coradas e, ao final da etapa 5, observamos as
cores que as bactérias gram-positivas e gram-negativas adquirem após a técnica.
Além disso, quando as células são coradas, podemos identificar como elas se organizam, e, se
coloração de Gram for feita diretamente no material clínico, é possível a identificação de
leucócitos e outros tipos celulares úteis no diagnóstico.
Em relação à utilização do oxigênio, algumas espécies bacterianas usam essa molécula para
produzir energia, outras podem ou não utilizar, e ainda existem aquelas que nunca usam o
oxigênio. Baseado nisso, podemos chamar as bactérias de aeróbicas, facultativa ou
anaeróbicas, respectivamente.
Para algumas bactérias anaeróbicas o oxigênio é tóxico e, por isso, elas se transformam em
esporo quando entram em contato com ele. Também chamado de endósporo, essa estrutura é
uma forma de vida que a célula bacteriana assume permitindo sua sobrevivência em condições
inapropriadas para vida.
Fonte: Pixnio
Crescimento bacteriano em meio de cultura Ágar Sangue. Cada ponto no meio de
cultura é uma colônia que cresceu a partir da amostra clínica com bactéria que foi semeada
nesse ambiente.
Fonte: jkcDesign/Shutterstock
A temperatura para o crescimento em meio de cultura de bactérias que causam infeções em
seres humanos é quase sempre próxima de 36°C, já que essa é a nossa temperatura média
corporal. Por isso, quando queremos obter o crescimento de bactérias em laboratório,
costumamos deixar o meio de cultura dentro de estufas com temperaturas entre 35 e 37°C.
Pronto! Agora, podemos entrar no mundo das principais bactérias agentes de doenças em
seres humanos.
Fonte: NatalieIme/Shutterstock
Quando a bactéria em forma de coco se divide para formar novas bactérias (“filhas”), o formato
redondo da célula possibilita que a divisão seja feita em diferentes direções, chamados de
planos de divisão.
Quando a divisão acontece em apenas um plano, os cocos podem ser organizar em fileira ou
em duplas e, quando ocorre em várias direções, a organização fica mais complexa, originando,
por exemplo, cachos de células bacterianas. Dois gêneros muito conhecidos de cocos são os
Staphylococcus e os Streptococcus, que possuem células organizadas em cachos e fileiras,
respectivamente.
Fonte: Wikimedia
Fotografia da imagem observada ao microscópio óptico de uma espécie de
Staphylococcus. É possível observar aglomerados das células em formas de coco, que são
chamados de cachos. Perceba que essa espécie é gram-positiva, pois está corada em roxo.
Fonte: Wikimedia
Fotografia da imagem observada ao microscópio óptico de uma espécie de
Streptococcus. É possível observar fileiras das células em formas de coco. Perceba que essa
espécie é gram-positiva pois está corada em roxo.
Provavelmente, você já limpou algum ferimento com água oxigenada e viu o surgimento de
bolhas, essa é uma reação típica produzida pela catalase.
Fonte: Kopytin Georgy/Shutterstock
Fonte: Yayah_Ai/Shutterstock
Fotografia mostrando um teste da catalase positiva. Em uma lâmina, uma gota de
peróxido de hidrogênio (H2O2) é colocada em contato com a colônia suspeita. A presença de
VOCÊ SABIA
Essa espécie pode produz importantes toxinas como a leucocidina de Panton-Valentine, toxina
esfoliativa e a toxina da síndrome do choque tóxico, que contribuem para os quadros mais
graves de infecção.
Fonte: Wikimedia
α: Hemólise parcial (ao redor da colônia o ágar fica cinza-esverdeado). β: Hemólise total,
ao redor das colônias observamos um halo claro. γ: Sem hemólise.
É comum separar os Streptococcus em grupos para facilitar o estudo desse gênero. Essa
separação pode se basear, tanto no tipo de hemólise que é produzida, quanto pela presença
de determinados açúcares na parede celular de espécies do gênero. A classificação dos
Streptococcus usando como critério os açúcares da parede celular deu origem aos grupos de
Lancefield (usamos letras para nomear cada grupo).
DIFERENCIAÇÃO LABORATORIAL DE
BACTÉRIAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA DO
GÊNERO STREPTOCOCCUS
Bactérias do gênero Enterococcus também são gram-positivas e não produzem a enzima
catalase, assim como os Streptococcus. Destacam-se por crescer em ampla variação de
temperatura (10 a 45°C) e tolerar concentrações de sal um pouco elevadas. Enterococcus
faecalis é o principal enterococo causador de infecções humanas, seguido de longe pela
espécie Enterococcus faecium. Essas espécies são mais comuns como causa de infecções
em pacientes internados em hospitais, causando o que chamamos de Infecções
Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS).
Fonte: Pikist
Fonte: Wikimedia
Fotografia da imagem observada ao microscópio óptico de células de um bacilo
gram-negativo. Perceba que essa espécie é gram-negativa pois está corada em vermelho.
Primeiro, vamos conhecer o grupo das enterobactérias e o dos BGN não fermentadores:
Fonte: Wikimedia
Crescimento de duas espécies de bactérias gram-negativas em meio de cultura Ágar
MacConkey.
Na imagem, esse meio possui o açúcar lactose na sua composição, e permite diferenciar entre
espécies que fermentam esse açúcar (a cor do meio fica rosa), e aquelas que não fermentam a
lactose (a cor do meio fica amarelada ou bege).
De modo geral, os BGNs não exigem nutrientes específicos para seu crescimento, por isso,
podem ser cultivadas em diferentes meios de cultura.
As enterobactérias são BGN fermentadores, capazes de produzir energia através da
respiração aeróbica e da fermentação e, por isso, crescem em ambientes com ou sem
oxigênio, consideradas facultativas. Algumas enterobactérias convivem em harmonia no nosso
intestino e causam doenças só em situações específicas, como é o caso da espécie
Escherichia coli.
Já enterobactérias como as dos gêneros Salmonella e Shigella causam doença sempre que
presentes em número suficiente. Outras enterobactérias destacam-se por causar infecções em
pessoas internadas em hospitais, como a espécie Klebsiella pneumoniae. Dentre as
infecções causadas pelas enterobactérias, podemos citar gastroenterites, pneumonia,
meningite e infecções do trato urinário.
Os BGN não fermentadores só crescem em ambiente com oxigênio, pois realizam apenas a
respiração aeróbica. Ao contrário das enterobactérias, não são comuns na nossa microbiota
normal, mas são amplamente distribuídas no ambiente. Os principais patógenos humanos
desse grupo são as espécies Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter baumannii,
causando infecções em pacientes hospitalares. Uma característica marcante e bastante
conhecida de P. aeruginosa é que suas colônias costumam ter uma cor esverdeada devido a
produção de pigmentos próprios. Já os A. baumannii destacam-se pela aparência de
cocobacilos, ou seja, quando olhamos suas células no microscópio, observamos bacilos bem
curtos, “achatados”.
Fonte: Wikimedia
Pseudomonas P. aeruginosa.
Fonte: Kateryna Kon/Shutterstock
Acinetobacter baumannii.
No grupo dos BGNs que não são enterobactérias, mas causam infecções gastrointestinais,
devemos lembrar do Vibrio cholerae. Sua célula possui formato de vírgula e, por esse motivo,
também é conhecida como vibrião colérico.
Isso acontece por conta da produção de uma toxina, que provoca diarreia profusa, com grande
perda de água durante a evacuação. V. cholerae suporta concentrações elevadas de sal no
ambiente, e costuma crescer rapidamente em meios de cultura ricos em nutrientes.
Ainda dentro desse grupo, é importante citar a espécie Campylobacter jejuni, que também
possui célula curva ou em forma de vírgula. Essa bactéria é comum na microbiota do intestino
de animais, e causa infecções intestinais em seres humanos após ingestão de alimentos mal
cozidos e água contaminada. Para diagnosticar a presença dessa bactéria no nosso intestino,
basta cultivar fezes em meio de cultura apropriado, em um ambiente com 5 a 10% de oxigênio
e, portanto, são considerados microaerófilos.
Fonte: Kateryna Kon/Shutterstock
Campylobacter jejuni.
Por último, vamos falar de BGN com células bem pequenas. Dentre eles, a espécie Bordetella
pertussis é importante como agente da coqueluche, uma infecção respiratória conhecida
também como tosse comprida. O diagnóstico dessa doença é feito, principalmente, com base
nos sinais clínicos do paciente. O crescimento da B. pertussis é lento, então, a placa de meio
de cultura deve ser mantida por até sete dias. Em caso de resultados positivos, podemos
coletar uma parte da colônia e visualizar ao microscópio pequenos bastonetes gram-negativos.
Fonte: Kateryna Kon/Shutterstock
Bordetella pertussis.
Uma espécie bem parecida com a B. pertussis é o Haemophilus influenzae. Também se trata
de um pequeno bastonete gram-negativo que exige nutrientes específicos para o seu
crescimento, mas as colônias são vistas depois de um tempo padrão de 24 horas. Essa
bactéria faz parte da nossa microbiota normal do trato respiratório superior, mas pode causar
infecções respiratórias, como faringite e pneumonias e, nos piores casos, meningites. A
presença de uma cápsula de polissacarídeos (açúcares) envolvendo a célula dessa espécie é
usada para definir os “tipos” de H. influenzae, por exemplo, o H. influenzae tipo b, para qual já
existe vacina disponível.
Fonte: Kateryna Kon/Shutterstock
Haemophilus influenzae.
Bacilos gram-positivos que causam doenças em humanos podem ser separados entre os
que formam e o os que não formam esporos. Dentre os formadores de esporos, destacam-se
as espécies do gênero Clostridium, como Clostridium botulinum (agente do botulismo),
Clostridium tetani (responsável pelo tétano) e Clostridium perfringens (causa infecções
invasivas como a gangrena gasosa).
Essas espécies são caracterizadas por produzir toxinas potentes que causam sintomas sérios,
como a toxina botulínica que leva a incapacidade de contração da musculatura do pulmão.
Essa toxina é produzida pela espécie C. botulinum, que pode se desenvolver em alimentos
bem vedados, como as conservas vegetais artesanais.
Fonte:Shutterstock
Bactérias do gênero Clostridium são desenvolvidas em ambientes vedados, pois não usam
oxigênio na produção de energia, sendo chamadas de anaeróbicas. Para cultivar essas
bactérias, você precisa garantir que o meio de cultura seja mantido em recipientes que
impeçam a entrada de oxigênio. A cultura não costuma ser necessária para o diagnóstico das
doenças causadas por esses microrganismos, pois ele costuma se basear no quadro clínico e
no histórico do paciente (botulismo e tétano), ou ainda no exame direto da amostra ao
microscópio (C. perfringens).
Um importante patógeno humano deve ser citado entre os bacilos gram-positivos não
formadores de esporos: Corynebacterium diphtheriae. Essa bactéria é o agente da difteria,
grave doença respiratória provocada pela toxina produzida por esse microrganismo. O formato
celular dessa espécie chama atenção: depois de corada, observamos um inchaço em uma
das extremidades da célula, além de grânulos escuros que se distribuem ao longo do bacilo.
Esse inchaço pode estar presente nas duas extremidades e, às vezes, não ser visível, por isso,
C. diphtheriae é uma das poucas espécies bacterianas pleomórficas, com formato celular
variável.
Fonte: Kateryna Kon/Shutterstock
Corynebacterium diphtheriae.
ATENÇÃO
O diagnóstico da difteria é feito baseado nos sinais clínicos característicos do paciente para
que logo se inicie o tratamento. Porém, cultivamos a amostra clínica em meio de cultura
seletivo e testamos se a bactéria produz toxina para que fique registrado e confirmado
ocorrência dessa doença. Esse registro é importante, pois já existe vacina contra a difteria, e
não é comum sua ocorrência.
ESPIROQUETÍDEOS
O próximo grupo de bactérias que vamos discutir apresenta uma aparência “diferenciada”.
Espiroquetas são bactérias com a célula longa e fina em formato espiral. Elas apresentam
estrutura celular incomum, que está super relacionada a sua intensa movimentação em
ambientes aquosos.
Na parte externa, existe uma bainha de glicosaminoglicana, seguida logo abaixo por camadas
de membranas semelhante ao que vemos em bactérias gram-negativas. Saindo das
extremidades da célula e fazendo um espiral em torno dela encontramos feixes de fibrila, que
recebem o nome de endoflagelos, estruturas que garantem a movimentação típica em torno do
próprio eixo, que lembra um saca-rolhas.
As principais espécies desse grupo que são agentes de doenças em humanos são Treponema
pallidum (responsável pela sífilis) e Leptospira interrogans (agente da leptospirose).
A célula do Treponema pallidum se assemelha a uma mola. O agente da sífilis, uma doença
sexualmente transmissível, é uma bactéria que não pode ser cultivada em meios de cultura.
Sendo assim, as técnicas de diagnóstico envolvem examinar diretamente o material clínico
usando um microscópio. A coloração usada é própria, que deixa os finos espirais mais
espessos ou marcados com fluorescência, para facilitar a observação.
Fonte: WIkimedia
Diferentes técnicas usadas para visualização do Treponema pallidum. Na letra (A) a
bactéria é vista usando microscópio de campo escuro, na letra (B) na microscopia óptica após
coloração por impregnação pela prata.
ATENÇÃO
A sífilis é uma doença com vários estágios, e os testes microscópicos são usados
principalmente na fase primária da doença. Depois dessa fase, o diagnóstico é feito através da
utilização de anticorpos fabricados em laboratório para detectar alvos específicos da bactéria
no sangue da pessoa doente.
Além da sífilis, outra patologia causada por bactérias do grupo das espiroquetas é a
leptospirose. Essa doença é considerada uma zoonose, ou seja, animais contaminados por
bactérias dessa espécie, como a Leptospira interrogans, podem transmiti-la para seres
humanos. A L. interrogans possui uma célula fina e “ondulada”, com as extremidades formando
uma espécie de gancho, lembrando um símbolo de interrogação (por isso interrogans).
Fonte: Wikipedia
Leptospira interrogans por micrografia eletrônica.
OUTRAS BACTÉRIAS
As bactérias que apresentam características distintas das espécies que já falamos até aqui
merecem um tópico a parte. Uma delas são bactérias com parede celular atípica e não
podem ser diferenciadas por Gram e, por isso, não se enquadram como gram-positivos ou
gram-negativos. Esse é o caso das micobactérias, conhecidas como agente etiológico de
doenças importantes, como a espécie Mycobacterium tuberculosis que é responsável pela
tuberculose.
Fonte: Wikimedia
Esquema da parede celular (8) das micobactérias. Os ácidos micólicos estão
representados pelo número 2, formando uma barreira hidrofóbica. As demais estruturas são
lipídios (1), polissacarídeos (3), peptidoglicano (4), membrana plasmática (5),
lipoarabinomanano (LAM) (6) e manosídeo de fosfatidilinositol (7).
RECOMENDAÇÃO
Fonte: Artemida-psy/Shutterstock
Mycobacterium tuberculosis.
Outro grupo atípico inclui bactérias que são parasitas intracelulares obrigatórias, ou seja, só
sobrevivem dentro da célula do seu hospedeiro. A espécie Chlamydia trachomatis é uma
delas, responsável por causar doenças como tracoma, uretrite, cervicite e pneumonia infantil.
Dentro das células humanas infectadas, essa bactéria produz inclusões citoplasmáticas
compactas, que, após coloração de Giemsa, são observadas como bolinhas bem coradas no
citoplasma da célula.
Fonte: Shutterstock
Chlamydia trachomatis.
Para o diagnóstico, podemos verificar essas inclusões pela análise do material clínico ao
microscópio, ou ainda, a detecção de anticorpos específicos contra a C. trachomatis, que são
desenvolvidos pelo sistema imune do doente.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) A forma da célula bacteriana pode variar bastante entre as espécies de importância clínica
estudadas.
GABARITO
A Vibrio cholerae, um bacilo gram-negativo, causa gastroenterite, mas não pertence ao grupo
das enterobactérias.
MÓDULO 2
Descrever os métodos de diagnóstico laboratorial usados para infecções bacterianas
do trato respiratório
INTRODUÇÃO
O nosso trato respiratório está em constante contato com o meio externo e, por isso, é alvo de
infecções por diferentes microrganismos, principalmente, vírus e bactérias. A frequência
dessas infecções é reduzida por conta das nossas defesas naturais, como cílios, muco,
sistema imunológico e bactérias da microbiota normal. O muco retém partículas de poeira e
microrganismos, que depois são “empurrados” pelos cílios em direção à boca. O nosso sistema
imune nos defende pela ação de macrófagos teciduais e anticorpos de mucosa, entre outras
estratégias. Já a microbiota tem o papel principal de competir por espaço e alimento com
microrganismos que podem causar doenças, impedindo que os “vilões” se sobressaiam.
atmosfera.
VOCÊ SABIA
As infecções do trato respiratório superior costumam ser mais brandas, mas as que acometem
o trato inferior são mais perigosas, pois afetam diretamente a função do sistema respiratório.
Fonte: Dimarion/Shutterstock
Streptococcus pyogenes aumentada x1000 no microscópico.
Outra possível complicação é a glomerulonefrite, que pode se desenvolver entre uma até
quatro semanas após a faringite estreptocócica. Na glomerulonefrite, os anticorpos produzidos
pelo sistema imune do paciente se combinam com antígenos produzidos pela bactéria e depois
depositam na membrana dos glomérulos renais, levando a um processo inflamatório nesse
local.
Também por conta das complicações características da faringite provocada pelo S. pyogenes,
é importante identificar a bactéria a partir de um swab da garganta do paciente.
A forma mais rápida de liberar esse laudo é usando kits de testes rápidos para detecção de
antígenos específicos da bactéria. Esse antígeno é o açúcar da parede celular exclusivo do
grupo A de Lancefild. O antígeno é extraído do swab pela ação de uma enzima ou substância
química, e depois alguma técnica imunológica, como ensaio imunoenzimático ou aglutinação,
permite identificar o antígeno exclusivo de S. pyogenes.
Caso não seja possível a utilização dos kits ou, se o resultado desse teste for negativo, mas a
suspeita ainda persistir, podemos semear o swab em meio de cultura do tipo Ágar Sangue,
considerado o método diagnóstico de referência. A hemolisina produzida pelo S. pyogenes
destrói completamente as hemácias do sangue de carneiro presente nesse meio de cultura.
Onde ocorre o crescimento de colônias, a cor do Ágar Sangue passa de vermelha para
transparente, o que caracteriza β-hemólise, ou hemólise total.
Fonte: Wikimedia
Meio de cultura Ágar Sangue com o crescimento da bactéria Streptococcus
pyogenes.
Na imagem, podemos notar que ao redor da colônia existe um halo translúcido (indicando que
o sangue do meio foi hemolisado), o que caracteriza a β-hemólise.
Depois de obter colônias, podemos fazer a coloração de Gram e confirmar que se trata de um
coco gram-positivo. Dois testes importantes caracterizam o S. pyogenes.
Determina a atividade da enzima PYR, produzida por essa espécie bacteriana, que pode ser
detectada usando um reagente comercialmente disponível.
SENSIBILIDADE À BACITRACINA
ATENÇÃO
A confirmação de faringite bacteriana é muito importante, pois, muitas vezes, os sinais clínicos
são parecidos com a faringite viral. Se o agente for uma bactéria, é necessário tratamento com
antimicrobianos.
A otite média é a infecção da orelha média, ou mais conhecida por dor de ouvido. Já a
sinusite é a infecção da membrana que recobre seios nasais, cavidades que se localizam ao
redor do nariz, maçãs do rosto e olhos. As principais bactérias capazes de causar essas duas
infecções são Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae.
Tanto para otite média quanto para sinusite, é difícil obter amostras clínicas válidas do
paciente. Nas sinusites e na otite média, o método de referência implica em um procedimento
invasivo, e muitas vezes nenhuma bactéria é detectada. Em ambos os casos, os sinais clínicos
e os sintomas do paciente são a base para o diagnóstico, e para sinusite os exames de
imagem são muito úteis.
Fonte: Maxx-Studio/Shutterstock
Streptococcus pneumoniae.
O esforço para a entrada do ar produz um som uivante na tosse, daí o nome popular “tosse
comprida” dessa doença. Ainda que os casos sejam pouco frequentes, saber o diagnóstico da
coqueluche é muito importante devido à gravidade que a infecção pode assumir.
Fonte: Wikimedia
Bordetella pertussis crescendo em Ágar Regan-Lowe. Isolado a partir de swab nasal de
paciente com coqueluche mostrado crescimento de 7 dias em 10% de CO2.
O crescimento da B. pertussis é lento , por isso, a incubação precisa ser feita por até sete
dias, em ambiente aeróbico e úmido. A célula bacteriana se cora fracamente pelo Gram, e, por
isso, é recomendado deixar o último corante por dois minutos. Depois da coloração,
visualizamos, usando um microscópio, pequenos bacilos gram-negativos corados em
vermelho.
Por conta de demora para cultivar B. pertussis em laboratório, é recomendando aplicar técnicas
que acelerem o diagnóstico. Dentre elas, estão o teste sorológico e o diagnóstico molecular
pela PCR (Reação em Cadeia da Polimerase).
O teste sorológico detecta anticorpos no sangue do paciente que foram produzidos contra a
bactéria, mas eles demoram algumas semanas para aparecer desde o início da infecção.
Fonte: bogdanhoda/Shutterstock
O teste molecular identifica o DNA da bactéria, e é considerado o método mais eficiente de
diagnóstico para coqueluche. A escolha do método dependerá das condições oferecidas pelo
laboratório clínico e o quadro do paciente.
RECOMENDAÇÃO
Bronquite e bronquiolite são infecções limitadas a traqueia e aos brônquios. As formas agudas,
de início rápido, quase sempre são causadas por vírus. O diagnóstico microbiológico, com
cultivo de bactérias por exemplo, não é indicado para essas infecções.
O tratamento é voltado para reverter os sintomas, como o uso de broncodiladores. Pelo menos
nesses casos, você não precisa se preocupar em desvendar dentro do laboratório clínico o
agente etológico!
A pneumonia é a infecção aguda de todo o pulmão, que pode ser causada por diferentes
espécies de bactérias, além de outros microrganismos. O agente bacteriano mais frequente é a
espécie Streptococcus pneumoniae e, nesse caso, a doença recebe o nome de pneumonia
pneumocócica.
Considerada a pneumonia clássica, os sintomas como febre alta, dificuldade de respirar e dor
lombar surgem logo. A ocorrência desse tipo de pneumonia pode diminuir ao longo dos
próximos anos pelo acesso a vacinas disponíveis contra alguns sorotipos de pneumococos,
que têm como alvo o açúcar da cápsula bacteriana.
Pneumonias bacterianas atípicas são aquelas causadas por espécies como Mycoplasma
pneumoniae, Chlamydophila pneumoniae e Legionella pneumophila. O diagnóstico laboratorial
que define o agente da pneumonia é muito importante, porque é a base para a escolha do
tratamento adequado, diminuindo do risco de óbito.
O material usado para o diagnóstico de pneumonias pode ser escarro, aspirado traqueal,
lavado broncoalveolar, material de biópsia e sangue. Swab das vias aéreas superiores
geralmente não são úteis pois acabam refletindo a microbiota normal. Em relação ao escarro,
deve ser coletado logo pela manhã e encaminhado diretamente ao laboratório. O aspirado está
sujeito a contaminações por microrganismos que colonizam pacientes entubados ou com
ventilação mecânica. Já o lavado broncoalveolar é mais seguro nesse aspecto.
RECOMENDAÇÃO
As biópsias são mais indicadas para imunocomprometidos e crianças que não reagem bem ao
tratamento. A cultura de sangue é usada quando existe suspeita de que a bactéria tenha
atingido no sangue do paciente. Todas as amostras respiratórias podem ser armazenadas por
até 2 horas em temperatura ambiente, e até 24 horas em geladeira.
Fonte: Wikimedia
Crescimento de Streptococcus pneumoniae em Ágar Sangue.
Na imagem, podemos observar a hemólise parcial onde a bactéria cresce, pois a cor do meio
fica esverdeada. Além disso, vemos um disco impregnado com optoquina (OP) que foi
colocado logo após a semeadura e, com isso, inibiu o crescimento bacteriano no seu entorno, o
que indica sensibilidade.
RECOMENDAÇÃO
O teste mais atual para detecção de pneumococos é identificar um antígeno específico dessa
bactéria na urina do paciente, de forma muito rápida e prática. No entanto, o resultado negativo
precisa ser confirmado por cultura do material, como já foi mencionado anteriormente.
Se a causa da pneumonia não for a espécie S. pneumoniae, a próxima suspeita deve ser a
bactéria Haemophilus influenzae. A coloração de Gram direto do escarro é capaz de diferenciar
H. influenzae de S. pneumoniae, pois o primeiro é um cocobacilo gram-negativo, enquanto o
segundo é um coco gram-positivo. Para cultura e observação das colônias, usamos o meio de
cultura Ágar Chocolate, que tem na sua composição hemácias lisadas, uma rica fonte de
nutrientes para bactérias exigentes. Outro teste importante é verificar a necessidade da
bactéria pelo fator X (hemina ou hematina) e pelo fator V (NAD ou coenzima I). Se a espécie
isolada do material for realmente H. influenzae, ela irá crescer na presença desses fatores,
porque precisa deles.
Fonte: Wikimedia
Teste dos fatores X e V para Haemophilus influenzae.
Na imagem, a bactéria foi semeada em meio de cultura simples, mas foram colocados discos
impregnados com os fatores X e/ou V. Perceba que o Haemophilus influenzae só cresce
quando o disco possui os dois fatores ao mesmo tempo.
VOCÊ SABIA
ATENÇÃO
Bactérias que causam pneumonias atípicas não podem ser detectadas por métodos de
diagnóstico microbiológicos convencionais, como a cultura. Dentre as limitações, podemos citar
o fato de não se corarem pelo método de Gram ou o difícil cultivo em meios de cultura
tradicionalmente usados no laboratório.
Em casos suspeitos, a confirmação pode ser feita através de técnicas imunológicas, que
detectam o anticorpo produzido pelo sistema imune do doente contra a bactéria ou algum
antígeno específico do microrganismo. Podemos contar também com o diagnóstico
molecular, como a PCR, que identifica o material genético da bactéria.
Fonte: Pikist
Diagnóstico molecular.
A tuberculose é uma infecção crônica do trato respiratório inferior, diferente das outras
infecções discutidas até aqui. A doença se inicia quando a bactéria começa a invadir e se
multiplicar dentro dos macrófagos presentes nos alvéolos pulmonares. A doença avança
lentamente, à medida que mais macrófagos são destruídos, o que gera inflamação e lesão do
tecido pulmonar.
O papel do sistema imune é essencial e determina se a doença seguirá para fases mais
graves. A tuberculose passou a se tornar um problema ainda maior com a epidemia de HIV.
Por conta da baixa imunidade desses pacientes, a tuberculose pode evoluir de forma mais
rápida e perigosa. Nesses pacientes, existe mais chance da ocorrência de tuberculose
extrapulmonar, quando outros órgãos além do pulmão são atingidos, através da disseminação
da bactéria pelo sistema linfático e sanguíneo.
A inviabilização com hipoclorito de sódio 5% é uma opção quando o laboratório não tem cabine
de segurança biológica.
Para tuberculose pulmonar, a primeira análise a ser feita é o exame microscópio do escarro
após coloração, conhecido como baciloscopia. O escarro pode ser distendido diretamente na
lâmina ou anteriormente podem sem usados agentes mucolíticos que o tornam mais fluido,
como NaOH. O método de coloração mais usado é Ziehl-Neelsen, onde os bacilos álcool-ácido
resistentes (BAAR), como as micobactérias, adquirem coloração rosa forte, e outras células
ficam coradas em azul, quando vistos ao microscópio óptico.
Fonte:Shutterstock
Baciloscopia de escarro corado por Ziehl-Neelsen mostrando BAAR. A Mycobacterium
tuberculosis aparece em cor vermelha e as outras células do escarro se coram em azul.
Também é possível usar a coloração com auramina como triagem, onde os BAAR coram em
amarelo alaranjado e o restante da lâmina fica escura, mas, nesse caso, é necessário um
microscópio de fluorescência. O resultado da microscopia pode mostrar ausência de BAAR ou
presença. A presença é registrada de acordo com a quantidade de dessas células por campo
de visão, variado de raros (+) até numerosos (++++). A microscopia é simples, rápida e de
baixo custo, mas alguns casos podem não ser detectados por esse método. Por isso, a
confirmação de resultados negativos para casos suspeitos vem através da cultura do
microrganismo, considerado o padrão-ouro para tuberculose pulmonar. Também usamos a
cultura para o diagnóstico de tuberculose extrapulmonar.
precisamos verificar se ocorreu o crescimento de colônias duas vezes nas duas primeiras
semanas, e depois, uma vez por semana. Se forem observadas colônias, seguimos com a
identificação da espécie de Mycobacterium. Essa discriminação baseia-se no tempo necessário
para o crescimento visível, na aparência das colônias, na produção de pigmento quando as
colônias são expostas à luz e na realização de certas análises bioquímicas.
Fonte: Shutterstock
Meio de cultura Lowenstein-Jensen com crescimento de colônias características de
Mycobacterium tuberculosis. As colônias típicas dessa espécie são secas, amontoadas e
amareladas.
Uma outra opção de diagnóstico são os testes automatizados e métodos moleculares, que
são mais rápidos, porém mais caros. O BACTEC é um exemplo de teste automatizado que
identifica a espécie M. tuberculoses através da sua inibição pelo composto NAP (ρ-nitro-α-
acetylamino-β-hydroxypropiophenone), liberando o resultado em aproximadamente cinco dias.
Os testes moleculares incluem a utilização de sondas que se ligam ao RNAr da espécie alvo,
ou ainda a amplificação de determinadas regiões do DNA da bactéria pela técnica de PCR.
Tudo depende dos recursos disponíveis, mas devemos estar preparados e conhecer todas as
possibilidades.
Se o objetivo for rastrear possíveis doentes em uma população de risco para tuberculose,
podemos aplicar o teste imunológico da prova tuberculínica. Chamado de PPD (Purified
Protein Derivative), esse exame verifica se casos suspeitos apresentam reação imunológica
contra uma proteína purificada da M. tuberculosis, que é injetada nas camadas superficiais da
pele do indivíduo.
Fonte: Pixabay
Teste de PPD.
Se ocorrer reação positiva, a área em torno da injeção ficará endurecida e vermelha após
aproximadamente 72 horas. Esse teste não significa que a doença está ativa, e sim um contato
anterior com a bactéria. Por isso, pessoas que já se vacinaram com a vacina BCG apresentam
PPD positivo. O PPD como indicativo de casos ativo de tuberculose é mais usado para
pacientes positivos para o vírus HIV e crianças bem novas, com imunidade baixa.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Streptococcus pneumoniae quando semeado em meio de cultura Ágar Sangue não realiza
hemólise das hemácias, deixando o meio com coloração esverdeada.
B) A Mycobacterium tuberculosis cresce em até uma semana, não é corada pelo método de
Gram, e raramente apresenta-se resistente aos antimicrobianos de primeira linha usados no
tratamento da doença.
C) A Mycobacterium tuberculosis cresce lentamente, não pode ser diferenciada pelo método de
Gram, e tem grandes chances de ser resistente aos antimicrobianos de primeira linha usados
no tratamento da doença.
GABARITO
2. Estudamos que a tuberculose é uma infecção crônica do trato respiratório inferior. Ela
é causada pela espécie Mycobacterium tuberculosis , que apresenta algumas
particularidades em relação à maioria das bactérias. Escolha a opção que resume essas
características corretamente.
Essa bactéria pode levar até 24 para se dividir, não pode ser diferenciada pelo Gram devido às
extensas camadas externas de ácido micólico e uma preocupação com a resistência é
verdadeira.
MÓDULO 3
Descrever os métodos de diagnóstico laboratorial usados para infecções bacterianas
do trato urinário
Na imagem, de cima para baixo, vemos dois rins, por onde chegam os vasos sanguíneos,
depois, os rins se conectam com a bexiga pelos ureteres e esses desembocam na bexiga. A
bexiga se comunica com o meio externo através da uretra.
Esse funcionamento é muito importante pois elimina substâncias tóxicas ao nosso organismo e
mantém uma quantidade de água suficiente para o nosso corpo. As patologias que afetam
esses órgãos podem, por exemplo, provocar o acúmulo de substâncias indesejáveis ou a
eliminação inadequada de componentes importantes, além de alterações da pressão
sanguínea. Dentre essas patologias, estão as infecções do trato urinário (ITU).
A maioria das infecções do sistema urinário é causada por bactérias. No entanto, outros
microrganismos podem se desenvolver, como, por exemplo, fungos e protozoários. Um
exemplo importante é o fungo da espécie Candida albicans. Esse microrganismo faz parte da
microbiota normal de algumas mulheres, mas pode crescer de forma descontrolada, causando
a candidíase. Quando não tratada, essa infecção da genitália externa tem chances de evoluir
para uma infecção urinária.
As bactérias podem provocar infecções nos diferentes órgãos do sistema urinário, dependo da
sua porta de entrada. Elas podem acessar os rins pelo sangue, por exemplo, a partir de uma
infecção que se originou em outra parte do corpo e se espalhou, chamada de infecção
sistêmica. Um exemplo é a leptospirose, causada pela bactéria Leptospira interrogans.
Essa bactéria pode ser liberada pela urina de animais e contaminar a água, penetrando no
nosso organismo através de pequenas lesões ou por membranas mucosas, como a cavidade
oral em caso de ingestão. Portanto, sempre lave bem produtos que serão colocados
diretamente na boca, como latas de bebidas.
Fonte: Shutterstock
Uma vez dentro do nosso organismo, a L. interrogans penetra dentro das nossas células. Ali
elas encontram “abrigo” para fugir do nosso sistema imune, além de conseguirem acessar
diferentes órgãos. Com isso, a bactéria ganha tempo para se multiplicar e, em algumas raras
vezes, os rins podem ser atingidos gravemente. Essa forma mais grave é conhecida como
Doença de Weil, que pode atingir também o fígado da pessoa doente.
VOCÊ SABIA
A maior causa de mortes por leptospirose é a insuficiência renal aguda, quando os rins perdem
a sua função.
Além do acesso pelo sangue, é importante falarmos da maneira mais comum pela qual
bactérias atingem o sistema urinário: uma fonte externa que entra pelo ureter, chamada de via
ascendente. Devido à proximidade entre o ânus e o início do ureter, bactérias da microbiota
intestinal são famosas agentes de uretrites. Se o tratamento não for feito de forma correta, é
possível que a bactéria tenha acesso a partes mais altas do sistema urinário, podendo chegar
até aos rins. Isso justifica a recomendação de usar o papel higiênico no sentindo da vulva
(popular vagina) para o ânus, diminuindo a chance de contaminação.
O sufixo “ite” é usado para nomear os diferentes tipos de infecções do sistema urinário.
Portanto, usamos uretrite, cistite, ureterite e pielonefrite para nos referirmos a infeções na
uretra, bexiga, ureteres e rins, respectivamente. Em mulheres, a cistite é mais comum, pois o
comprimento da uretra é curto, além de se localizar muito próxima ao ânus, facilitando o
acesso das bactérias a esse órgão. Tanto em homens quanto em mulheres, a espécie mais
comum nesse tipo de infecção é a Escherichia coli, um microrganismo da microbiota
intestinal.
Um tipo especial de E. coli, chamada de uropatogênica, está muito relacionada às ITU por
possuir fatores que facilitam sua aderência à mucosa urinária. Com menos frequência ocorrem
casos de infecção por Staphylococcus coagulase negativo, como S. saprophyticus, que são
integrantes da microbiota da pele. Existem ainda outras espécies possíveis, como bactérias
envolvidas com infecções genitais e o gênero Proteus, uma enterobactéria assim como a E.
coli.
Fonte: OneMashi/Shutterstock
S. saprophyticus.
Os casos mais graves de ITU são aqueles em que a bactéria atinge os rins. Uma vez nesse
órgão, o acesso desse microrganismo à corrente sanguínea é facilitado, o que pode provocar
bacteremia, ou, infecção da corrente sanguínea. Quando existe chance de bacteremia, é
preciso fazer a cultura do sangue do paciente para verificar a existência de qualquer
crescimento bacteriano. Pielonefrites crônicas são um risco para o funcionamento renal, pois
provoca pequenas lesões nos rins. Se você, ou alguma pessoa conhecida, desconfiar de
infecção urinária, procure atendimento médico para evitar a evolução da doença e os riscos
associados.
Agora que você já sabe como funciona o sistema urinário e como as bactérias podem atingi-lo,
vamos começar a discutir de que forma detectamos alterações das funções renais e a
presença de bactérias nesses órgãos. Além da avaliação dos sintomas e dos sinais clínicos do
paciente, a composição da urina pode ajudar muito na hora do diagnóstico. Já que o nosso
foco é a questão laboratorial, chegou a hora de avaliar o material clínico mais usado para trazer
informação sobre o sistema urinário: a urina!
Antes do exame propriamente dito (etapa analítica), precisamos nos atentar para condições
anteriores, que fazem parte da etapa pré-analítica. Se a primeira fase é realizada de forma
incorreta, todas as demais serão afetadas. No exame de urina, precisamos nos importar com a
forma correta de coletar, transportar e armazenar esse material clínico, pois ele é muito instável
e pode sofrer transformações de seus elementos a todo tempo.
A coleta ideal depende do tipo de exame que será realizado e das características do paciente.
Para suspeitas de ITU pode ser necessário apenas a verificação de componentes da urina
através de testes rápidos, mas a melhor forma de confirmar o diagnóstico é identificando o
crescimento bacteriano a partir da urina. Em relação ao paciente, condições associadas à
idade e ao estado de saúde podem impedir que um determinado tipo de coleta seja feito. Cada
uma dessas situações tem suas particularidades, e devemos estar atentos para recomendar a
forma mais adequada, para que isso não afete o resultado que será liberado. Os métodos de
coleta podem variar entre as seguintes opções:
Uso de bolsa coletora em pacientes que não controlam o momento de eliminar a urinar,
como crianças.
Cateteres vesicais, que são procedimentos feitos usando cateteres inseridos através da
uretra até a bexiga. São usados quando o paciente não consegue urinar
espontaneamente ou outras situações que dificultem a coleta tradicional usando frascos.
Punção suprapúbica, feita pela introdução de uma agulha no interior da bexiga pela
parede do abdômen.
De todas essas formas, provavelmente, você já realizou pelo menos uma vez na vida a coleta
de jato médio por frascos coletores, já que esse tipo de coleta faz parte de um check-up
médico de rotina. A primeira urina da manhã coletada em frascos é usada, por exemplo, para
checar “Elementos Anormais e Sedimentos”, exame conhecido como EAS. O EAS permite
analisar imediatamente vários componentes desse material clínico, como hemácias, leucócitos
e proteínas.
O exame de escolha para confirmação da ITU deve ser a urinocultura, ou cultura de urina.
Queremos com esse exame verificar o crescimento em meio de cultura da bactéria responsável
pela infecção, usando para isso a amostra de urina.
ATENÇÃO
É muito importante que material clínico não seja contaminado com microrganismos externos ao
sistema urinário durante a coleta, porque isso irá confundir a interpretação do exame. Se
bactérias da microbiota da pele ou da região genitália crescem no meio de cultura, elas se
confundem com a verdadeira espécie responsável pela infecção.
Quando o objetivo é realizar uma urinocultura, a urina pode ser coletada por jato médio, pela
utilização de bolsas coletoras, através de cateter urinário ou punção suprapúbica. Em
todos os casos, deve-se diminuir ao máximo as chances de contaminação. A punção
suprapúbica, apesar de invasiva, é o método padrão-ouro para garantir maior esterilidade da
amostra. Dentre as opções não invasivas, a coleta de jato urinário médio usando frasco estéril
é o método mais usado.
SACO COLETOR
Realizar a limpeza de toda região que terá contato com o saco coletor usando água e
sabão, e após secar adequadamente.
CATETER VESICAL
Higienizar a entrada da vagina.
Fonte: meboonstudio/Shutterstock
PUNÇÃO SUPRAPÚBICA
Higienizar a pele com substâncias antissépticas antes da coleta.
A bexiga deve estar cheia.
Para realizar a maioria dos exames de urina, é preciso que ela seja encaminhada rapidamente
ao laboratório quando a coleta for feita em casa. Nesses casos, é importante proteger a
amostra da luz solar direta, e evitar que durante o transporte ela seja exposta a temperaturas
maiores que 25°C. O primeiro motivo é que esse material é rico em nutrientes que possibilitam
o rápido crescimento bacteriano após a coleta. Além disso, os componentes da urina podem
sofrer alterações, como se precipitarem ou mudarem sua composição química. Por isso, a
urina deve ser preferencialmente coletada quando o paciente já estiver no laboratório.
RECOMENDAÇÃO
Existem diferentes tipos de conservantes, mas todos têm seus pontos fracos, portanto, devem
ser a última opção. Um exemplo é o ácido bórico, que pode matar algumas espécies de
microrganismos patogênicos, impossibilitando que eles sejam detectados pela cultura. O tempo
que a urina pode permanecer em geladeira ou sob a ação de conservantes pode variar entre o
tipo de exame que será realizado ou de acordo com a norma padronizada para cada
laboratório, mas, em geral, esse período não pode ser superior a 24 horas.
TESTES RÁPIDOS
O EAS ou urina do tipo I são sinônimos para um método indireto de diagnóstico ITU. Isso quer
dizer que alguns componentes avaliados indicam a presença de bactérias ou de uma resposta
inflamatória, mas não é possível confirmar a infecção bacteriana só com essa etapa.
Trata-se de um exame muito solicitado pelos médicos, porque permite a liberação rápida do
resultado, considerado que o método de coleta e os testes feitos são simples de serem
executados.
Dentre as características da urina que podem ser rapidamente avaliadas, estão as
propriedades físicas, presença de substâncias químicas e a visualização de componentes da
urina. Vamos falar um pouco de cada uma dessas análises voltadas para o diagnóstico de ITU,
mas é importante ter em mente que elas também auxiliam na confirmação de outras doenças,
como cálculos renais e diabetes.
As propriedades físicas da urina incluem sua cor, cheiro e aparência. Em relação a cor, nos
indivíduos sadios ela varia entre diferentes tons de amarelo dependendo da quantidade de
água ingerida. Não existe uma cor característica de ITU, mas em alguns casos pode estar
vermelha devido a presença de hemácias. O cheiro da urina de um paciente com ITU pode ter
aromas característicos, mas a origem do odor não é clara. Considerando a aparência, uma
pessoa saudável deve ter urina com aspecto transparente, porém, em casos de ITU ela pode
ser tornar turva por conta do excesso de alguns elementos.
Enzimas do grupo das esterases são comuns no interior de leucócitos, que são as células de
defesa do nosso corpo. Detectar uma grande quantidade dessas enzimas aponta para uma
intensa atividade dos leucócitos, que é característica de um estado de infecção.
O nitrito é um composto produzido por algumas espécies de bactérias, como a E.coli e, por
isso, detectar a sua presença nos leva a acreditar que existem bactérias em intensa atividade
naquele sistema urinário.
ATENÇÃO
Nem toda espécie de bactéria que pode causar ITU produz nitrito, como aquelas causadas por
cocos gram-positivos, portanto, o resultado negativo não descarta esse diagnóstico. Os testes
para a presença de esterase e nitrito são feitos usando fitas com marcadores que reagem à
presença desses componentes através da mudança de cor.
As fitas usadas nos testes de componentes químicos da urina são chamadas de fitas
reagentes. É importante armazenar esse material da forma sugerida pelo fabricante, por isso,
sempre leia antes os rótulos e instruções técnicas. Essas condições incluem temperatura, luz e
exposição ao ar. Nesses rótulos, você também encontra informações sobre quanto tempo a fita
deve ficar em contato com a urina, o que é determinante para muitos testes. Além disso, para
relacionar a alteração de cor com um determinado resultado, usamos uma espécie de escala
comparativa que vem na embalagem das fitas reagentes.
Fonte: Lothar Drechsel/Shutterstock
Teste da fita reativa para EAS de urina.
Na imagem, cada quadradinho de papel filtro que está preso à fita possui um reagente químico
diferente, que irá alterar de cor de acordo com a concentração de uma determinada substância
na urina. Um desses quadradinhos detecta nitrito, e outro esterase leucocitária.
Outra característica importante que pode ser facilmente analisada é a composição da urina.
Para ITU, focamos na identificação de leucócitos e bactérias, que serão vistos usando um
microscópio óptico e, nesses casos, não centrifugamos a urina. Lembrando que, normalmente,
a sedimentoscopia é feita após centrifugação, mas, para ITU, essa não é uma técnica indicada.
Durante a pesquisa por leucócitos, podemos colocar uma pequena quantidade de urina sobre
uma lâmina de vidro e por cima uma lamínula. Usando a lente objetiva de 40x, se forem vistos
mais de cinco leucócitos por campo de visão, informamos a presença de leucocitúria ou piúria.
Para a identificação de bactérias, usamos 10 µl de urina medida por uma alça bacteriológica
calibrada.
Essa pequena quantidade será colorida através do método de Gram. Depois disso, a presença
de uma ou mais células de bactérias por campo usando a objetiva de 100x, será relatado
bacteriúria.
Fonte: Wikimedia
Bacterúria e piúria observadas em um exame microscópico da urina. Os leucócitos
são as células grandes e arredondadas, enquanto as bactérias são os pequenos traços finos
(bastões).
Por outro lado, a bacteriúria é bastante específica para ITU, ainda que bactérias da microbiota
possam causar confusão em alguns casos. Um outro ponto negativo é a difícil observação da
bactéria e, por isso, casos confirmados de ITU podem ter bacteriúria negativa no exame
microscópico.
URINOCULTURA
Por conta das limitações dos testes rápidos, a urinocultura é o exame de referência para
confirmar infecções do trato urinário (ITU). Diferentes meios de cultura podem ser usados para
urinocultura, mas todos com consistência sólida, porque só assim é possível visualizar
colônias.
Os três principais meio de cultura são Ágar Sangue de Carneiro, Ágar MacConkey (ou Ágar
Eosina Azul de Metileno -EMB-, que tem as mesmas propriedades) e Ágar Cistina Lactose
Eletrólito Deficiente (CLED). Podemos destacar algumas diferenças importantes entre esses
meios de cultura:
Fonte: Pixnio
O Ágar Sangue tem como qualidade marcante a presença de hemácias inteiras, que são
fontes ricas em nutrientes e podem ser usados para o cultivo de diferentes espécies
bacterianas. Outra vantagem é a visualização de hemólise por ação de certas espécies de
bactérias, como alguns Streptococcus e o Staphylococcus aureus.
Fonte: AnaLysiSStudiO/Shutterstock
Sobre o Ágar MacConkey, é importante saber que se trata de um meio seletivo para bactérias
gram-negativas, portanto, gram-positivos não crescem nesse ambiente. Além disso, o Ágar
MacConkey possui corantes na sua composição que diferenciam, através da cor, bactérias que
realizam ou não a fermentação do açúcar lactose.
Apesar de mais caros, não podemos esquecer dos meios cromogênicos, que permitem a
identificação presuntiva de alguns agentes de ITU pela sua coloração característica após
crescimento, graças à ação de certos substratos do meio.
Uma abordagem possível é semear a amostra de urina em dois tipos de meio, um seletivo e
outro não seletivo, porque direciona a identificação da espécie bacteriana responsável pela
infecção. Por exemplo, se houver crescimento em MacConkey já sabemos que é um gram-
negativo e elimina a necessidade do Gram. Por outro lado, se não ocorre crescimento de
colônias no Ágar MacConkey mas elas aparecem em CLED ou Ágar Sangue, provavelmente, a
espécie bacteriana é um gram-positivo. Se o responsável pela ITU for um Staphylococcus
coagulase negativo, não veremos colônias no Ágar MacConkey, mas sim em Ágar Sangue e
em Ágar CLED. Se a bactéria isolada for uma Escherichia coli, veremos colônias em qualquer
um desses meios, além do que as colônias terão uma coloração rosa pink em MacConkey,
devido à fermentação da lactose.
No entanto, o gasto com meios de cultura aumenta muito, e usar o meio seletivo associados ao
resultado da coloração de Gram é a opção mais comum e de menor custo.
Depois de conhecer os meios de cultura, precisamos falar das principais técnicas de cultivo de
bactérias usando amostras de urina: contagem de colônias por técnica de semeadura
superficial, contagem de colônias por técnica de semeadura em profundidade e o
lamino-cultivo.
Para contagem de colônias por técnica de semeadura superficial, utilizamos uma alça
calibrada, que já foi citada na parte de microscopia da urina.
Fonte: Douglas Olivares/Shutterstock
Profissional manipulando uma alça bacteriológica. Na foto, a alça não é descartável.
Essa alça serve para pegarmos uma quantidade definida de urina, e assim, padronizamos o
nosso teste. O material da alça deve ser platina ou plástico descartável para evitar
interferentes. No caso de utilizar alça de platina, ela deve ser exclusiva para esse
procedimento, além de ter a calibração checada com frequência. A alça deve ser inserida no
frasco contendo urina homogeneizada, na posição vertical. Com a alça carregada de urina,
fazemos uma linha reta no centro da placa, e depois, devemos estriar o material de modo que
as estrias formem um ângulo de 90°C com a linha central.
RECOMENDAÇÃO
O meio de cultura com o material semeado deve ser incubado em estufa de 35-37°C durante
24 horas. Esse tempo pode ser maior em situações específicas. Após o crescimento
bacteriano, passamos para a etapa de contagem que colônias.
1.000 colônias para a urina diluída 100 vezes, o resultado será 105 UFC/mL. Percebe-se que
essa técnica é muito trabalhosa e, por isso, ela é pouco usada, apesar de ser confiável para
um resultado quantitativo.
Fonte: Wikimedia
Técnicas de semeadura para contagem de colônias. Na primeira linha, é representado a
técnica de semeadura em profundidade (Pour Plate). Já na segunda, a semeadura em
superfície (spread plate), com auxílio da alça de Drigalski, alça que pode ser utilizada para o
espalhamento da amostra na placa.
Devemos nos atentar para a possível diversidade na aparência das colônias, porque isso pode
indicar contaminação. O crescimento de colônias com aspectos distintos significa que
diferentes microrganismos se desenvolveram a partir da amostra de urina. Para contagens
entre 104 e 105 UFC/mL, se dois ou mais tipos de colônias se sobressaem, é provável que
se três ou mais colônias se destacam na contagem de 105 UFC/ml, assumimos que houve
contaminação grosseira da amostra. Em casos de contaminação, é preciso solicitar uma nova
amostra e refazer a urinocultura. Então, lembre-se de instruir muito bem o paciente ou
profissional que irá fazer a coleta, para evitar essa trabalheira toda!
O lamino-cultivo é uma técnica mais simples que a contagem de colônias em placa de Petri,
usado no diagnóstico de ITU. Para realizá-la, a urina deve ser coletada usando um frasco cuja
tampa está ligada a um suporte plástico em formato de lâmina. O suporte plástico possui duas
faces com meios de cultura diferentes, como Ágar MacConkey e Ágar CLED. Ao tampar o
frasco após a coleta, a lâmina entra em contato com a urina e depois é incubada na estufa de
35-37°C durante 24 horas.
Fonte: GoYong/Shutterstock
Frasco para lamino-cultivo.
Fonte: Frawash/Shutterstock
Urinocultura semeada em agar cromogênio positivo com crescimento de apenas um tipo de
bactéria (Klebesiella pneumonaie).
Fonte: Reddress/Shutterstock
Urinocultura semeada em agar MacConkey negativo com crescimento de vários tipos
bacterianos.
O teste de suscetibilidade aos antimicrobianos (TSA), também chamado de antibiograma,
apontará os medicamentos com maior chance de sucesso no tratamento de uma infecção
bacteriana. O método mais usado para os patógenos que costumam causar ITU é o método de
disco difusão. Nesse teste, discos impregnados com antimicrobianos são depositados sob o
meio de cultura, onde previamente já foi semeada a bactéria. Basicamente, verificaremos após
18 a 24 horas, se a bactéria consegue ou não crescer perto dos discos.
Fonte: Wikimedia
Meio de cultura com resultado do teste de sensibilidade aos antimicrobianos pelo método
de disco-difusão.
Para realizar esse exame, é importante seguir toda a padronização recomendada pelos órgãos
oficiais, incluindo a utilização do meio de cultura apropriado, Ágar Mueller-Hinton. O resultado
desse teste nos mostrará se a bactéria resiste ou não a ação dos antimicrobianos testados, e
isso guiará a melhor terapia para o paciente, evitando os casos em que o antimicrobiano é
ineficiente e a infecção pode avançar para partes superiores do sistema urinário.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ESTUDAMOS QUE A COLETA, ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE DE
URINA PARA O DIAGNÓSTICO DE INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO É
UM PASSO MUITO IMPORTANTE DO PROCESSO. ANALISE AS
AFIRMATIVAS ABAIXO E INDIQUE AQUELA QUE ESTÁ DE ACORDO COM
O CUIDADO NECESSÁRIO COM ESSA AMOSTRA CLÍNICA.
A) No momento da coleta por jato médio, não se deve higienizar a região genital, pois isso
eliminaria a bactéria responsável pela infecção.
B) A urina pode ficar armazenada em ambiente por até 24 horas, pois isso facilita a
visualização de bactéria.
C) A coleta por punção suprapúbica é o padrão-ouro, pois garante que a amostra não será
contaminada com microrganismos externos ao trato urinário.
D) O ideal é armazenar a urina na temperatura de 36°C até o momento da análise, pois essa é
a temperatura na qual a bactéria vive no nosso corpo.
B) Lamino-cultivo
C) Microscopia da urina
D) Urinocultura
GABARITO
A urinocultura é o método mais preciso e com maior chance de detectar casos de infecção
urinária.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acabamos de ter uma visão ampla da importância das bactérias como agentes de infecções
em humanos e mergulhamos no diagnóstico das infecções respiratórias e urinárias.
Percebemos que existem muitas variações entre as abordagens diagnósticas, principalmente,
porque as bactérias têm características particulares e diversas. Além disso, a ciência não para,
e a todo tempo novas opções estão aparecendo.
Agora, você está preparado para avançar ainda mais dentro da microbiologia, com a certeza de
que o conhecimento adquirido aqui é muito aplicável e útil na rotina de trabalho.
REFERÊNCIAS
ALBINI, C. A.; SOUZA, H. A. P. H. M.; SILVEIRA, A. C. O. Infecções Urinárias: uma
abordagem multidisciplinar. Curitiba: CRV Ltda, 2012.
BROOKS, G. F. et al. Microbiologia médica de Jawetz, Melnick e Adelberg. 26. ed. McGraw
Hill. 2013.
TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12 ed. Porto Alegre: Artmed,
2017.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos explorados neste tema:
Leia o artigo “Presença de analitos químicos e microscópicos na urina e sua relação com
infecção urinária”, de autoria de Lenir Alves Bortolotto e colaboradores, publicado em
2016.
CONTEUDISTA
Melise Chaves Silveira
CURRÍCULO LATTES
DESCRIÇÃO
Principais infecções bacterianas associadas a infecções sistêmicas (hemoculturas), infecções
gastrointestinais (coprocultura), infecções do sistema nervoso central (meningite) e as
infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), bem como suas identificações e diagnóstico
laboratorial.
PROPÓSITO
Compreender a importância e correta identificação dos agentes etiológicos responsáveis pelas
principais infecções sistêmicas, do trato gastrointestinal, do sistema nervoso central e as
infecções sexualmente transmissíveis, a fim de fornecer um melhor prognóstico e tratamento
para o paciente.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
INTRODUÇÃO
As bactérias podem causar infecções em diferentes sítios no hospedeiro, como infecções
sistêmicas, gastrointestinais, no trato respiratório superior e inferior, infecções urinárias,
sistema nervoso, na pele, dentre outros. Ao longo dessa jornada, vamos conhecer as infecções
sistêmicas, as gastrointestinais e as que afetam o sistema nervoso central. E qual a
importância dessas infecções?
As infecções sistêmicas são uma das complicações mais preocupantes durante uma infecção
bacteriana, a presença de bactéria no sangue aumenta significativamente as taxas de óbitos.
As infecções gastrointestinais (diarreia) causadas por bactérias, apesar de acometer todas as
idades, são um problema maior para crianças menores de 5 anos, onde é estimado uma
ocorrência de um bilhão de casos no mundo e cerca de 5 milhões de óbitos. No Sistema
Nervoso Central, as infecções, conhecidas como meningite, podem trazer danos irreversíveis
para o paciente se não for diagnosticada e tratada rapidamente. Por fim, vamos falar das ISTs
bacterianas mais importantes, que ainda acometem muitos pacientes.
Como sabemos, essas infecções podem ser causadas por uma variabilidade de bactérias. Para
conhecer a espécie bacteriana, é necessário um diagnóstico laboratorial que empregue um
conjunto de técnicas e procedimentos para a correta e rápida identificação do agente causador
da doença, bem como a melhor opção de tratamento e sua epidemiologia. O diagnóstico de
uma infecção se inicia na suspeita e coleta da amostra e continua no laboratório, com as
técnicas de culturas, provas bioquímicas e colorações.
Como é possível perceber, o seu papel no diagnóstico laboratorial é crucial, pois envolve a vida
dos pacientes. Esteja sempre atento aos procedimentos corretos, às normas de biossegurança
e consulte outro profissional sempre que tiver dúvidas. Agora, vamos nos aprofundar um pouco
mais sobre esse assunto.
MÓDULO 1
INTRODUÇÃO
As doenças infecciosas são quase tão diversas quanto os microrganismos capazes de causá-
las. Infecções sistêmicas são desencadeadas pela presença da bactéria na corrente sanguínea
(bacteremia) podendo ser de forma transitória, intermitente, contínua ou de escape de acordo
com o tempo que o microrganismo fica na corrente sanguínea. Os casos mais graves de
bacteremia envolvem uma resposta imunológica sistêmica grave chamada de sepse, podendo
causar a falência múltipla de órgão e consequente a morte do paciente, condição conhecida
como choque séptico.
COLETA DE SANGUE
O primeiro passo para a solicitação de uma hemocultura é a identificação de quais pacientes
necessitam deste exame. O médico deve solicitar o exame toda vez que existir suspeita de
sepse, o que vai incluir um quadro caracterizado por febre alta (>38°C) e calafrios. No entanto,
em alguns casos, os pacientes podem apresentar temperatura baixa (<36°C), junto com um ou
mais dos seguintes sintomas: diminuição da pressão arterial, aumento da frequência cardíaca,
número muito alto ou muito baixo de glóbulos brancos no sangue.
Alguns fatores de risco devem ser considerados na escolha do exame: idade avançada, recém-
nascidos, sistema imunológico debilitado, tempo de hospitalização, procedimentos invasivos,
tais como uso de cateter, infusões, agulhas, entre outros, suspeita de endocardite (infecção do
tecido interno do coração), doenças crônicas como diabetes e cirrose, além de pacientes com
câncer ou AIDS.
A coleta de sangue pode ser realizada através de punção venosa, utilizando agulha e seringa,
ou pelos métodos a vácuos (os mais recomendados). No momento da coleta, devemos sempre
respeitar: os procedimentos de descontaminação do local da coleta para que não ocorra
contaminação do material; os procedimentos de biossegurança e o uso correto de EPI
(Equipamentos de proteção individual) para evitar possíveis problemas.
RECOMENDAÇÃO
A antissepsia é fundamental para que não ocorra contaminação da amostra, e pode ser
realizada utilizando soluções de clorexidina alcoólica (0,5%), tintura de iodo (1-2%), PVPI
(10%), álcool isopropanol 92% ou álcool 70%. Deve-se preparar o material para coleta com a
devida identificação dos frascos (nome do paciente, data e hora da coleta, via de coleta, sítio
de coleta e tomar cuidado para não cobrir o código de barras do frasco de hemocultura),
realizar a assepsia da tampa do frasco e, lembre-se, não apalpar o local após a antissepsia.
É recomendado evitar coleta do cateter (alto risco de contaminação), punção venosa é a mais
recomendada. O cateter somente é coletado quando existe suspeita de infecção sanguínea
pelo uso dele. A coleta, sempre que possível, deve ser realizada antes da antibioticoterapia
(para não ocorrer morte bacteriana antes da sua detecção), antes do pico febril (pois, a febre é
uma resposta do sistema imunológico contra a infecção) e, se houver outro foco infeccioso,
fazer uma coleta deste também. Caso o paciente já esteja tomando antibióticos, a coleta deve
ser feita antes da administração da próxima dose.
RECOMENDAÇÃO
O primeiro frasco é utilizado para procura de bactérias anaeróbicas e outro para cultura de
bactérias aeróbicas, após a coleta deve-se homogeneizar o meio. Cada frasco possui meios de
cultura que vão favorecer o crescimento de cada tipo de bactéria. Quando existe suspeita de
infecção por dispositivos intravenosos, como o cateter, pode-se coletar a ponta do cateter e
mandar para análises microbiológicas também. Para isso, deve-se cortar o segmento que
estava inserido no paciente com tesoura estéril e colocar em frasco estéril, mandar para o
laboratório. Após a coleta, o material deve ser levado imediatamente para o laboratório em
temperatura ambiente.
ATENÇÃO
BIOFILME
Os meios de culturas podem ser comerciais ou não, devendo sempre se respeitar as condições
de armazenamento, biossegurança e preparo para se garantir um resultado confiável.
Microrganismos apresentam exigências nutricionais diversas e, como não se sabe o agente
causador da infecção, é necessário utilizar meios ricos em nutrientes que permitirão o
crescimento da maioria dos microrganismos. Entre eles, temos os caldos (meios líquidos),
como o caldo BHI (Brain Heat Infusion), caldo TSB (Trypticase Soy Broth), Caldo Columbia,
todos meios ricos em nutrientes que permitem o crescimento da maioria dos microrganismos.
Geralmente, os frascos para coleta de sangue para aeróbicos conterão caldo BHI ou Caldo
TSB; e os frascos para anaeróbicos, o Caldo Columbia. Ambos terão um anticoagulante,
geralmente, o SPS.
Os meios sólidos pela presença de Ágar, incluem o Ágar Chocolate (com sangue hemolisado,
para microrganismos fastidiosos), Ágar Sangue (com sangue de cavalo ou carneiro), Ágar
MacConkey ou Ágar EMB (seletivo para bactérias gram-negativas e diferencial pela
fermentação da lactose). Existem diferentes meios de culturas para isolamento e identificação
bacteriana, sua escolha dependerá do meio padronizado pelo laboratório de microbiologia.
HEMOCULTURA
Após a coleta, os frascos são enviados ao laboratório de microbiologia e incubados a 35-37°C
em estufa. Existem diferentes formas de processamento das hemoculturas e a escolha
dependerá de cada laboratório, bem como a demanda de solicitação. Podemos ter
hemoculturas manuais, semiautomatizadas e automatizadas.
HEMOCULTURA MANUAL
Na hemocultura manual, os frascos coletados são incubados por 7 dias por 35-37°C com 3
subcultivos dos frascos. Sempre observar a aparência da hemocultura no frasco a fim de se
detectar turbidez, produção de gás, bolhas, grumos etc, pois são indicativos de crescimento
bacteriano no frasco. Após 24 horas de incubação, é realizada a primeira semeadura nos
meios Ágar chocolate, Ágar Sangue e Ágar McConkey ou Ágar EMB pela técnica de
esgotamento. Os frascos e os meios de cultura são incubados por 24 horas à 35-37°C, ou
seja, é realizado o subcultivo do frasco em meios de cultura sólidos. Se, após 24 horas, for
observado crescimento bacteriano nos meios, através da formação de colônias, segue-se para
a identificação (provas bioquímicas e coloração de Gram) e o antibiograma. Se for negativo,
um outro subcultivo deve ser realizado semeando a amostra no meio de cultura e incubando
por mais 24 horas a 35-37°C (aqui já temos 48 horas desde a coleta). Se no segundo
subcultivo tiver crescimento microbiano, seguimos para a identificação e antibiograma. Se der
negativo, ele segue para um terceiro subcultivo nos meios de cultura e incubação novamente
por mais tempo a 35-37°C.
SUBCULTIVOS
Os subcultivos consistem em semear a amostra dos frascos de coleta nos meios de cultura
para observar se há crescimento bacteriano.
TÉCNICA DE ESGOTAMENTO
Técnica de semeadura em meio de cultura sólido para se obter colônias isoladas. Com uma
alça estéril, passar na amostra e realizar estrias sobre o meio de cultura de modo que uma
estria não encoste na anterior.
COLÔNIAS
Aglomerado de bactérias visível em um meio de cultura sólido, obtido por uma única célula
bacteriana.
ANTIBIOGRAMA
Teste para saber qual melhor opção de tratamento para determinada bactéria.
ATENÇÃO
HEMOCULTURA AUTOMATIZADA
Nos sistemas automatizados, o frasco vai para o aparelho que é capaz de detectar o
crescimento mínimo de microrganismos no frasco. Quando o crescimento é detectado, o
aparelho emite um sinal e assim é realizada a semeadura nos meios de cultura Ágar
Chocolate, Ágar Sangue e Ágar McConckey ou Ágar EMB, seguindo para identificação e
antibiograma.
Quando há suspeita de infecção por uso de cateter, a cultura é feita em paralelo à hemocultura,
onde, com auxílio de uma pinça estéril, o segmento do cateter é rolado sobre a superfície do
Ágar Sangue e incubado por 24 horas a 35-37°C, logo após é visualizado o crescimento
microbiano. Recomenda-se deixar o meio de cultura incubado por mais 48 ou 72 horas caso
não haja crescimento.
HEMOCULTURA AUTOMATIZADA
Os principais focos de infecções secundárias são o trato geniturinário, trato respiratório, trato
intestinal, pele e abscessos. Na maioria das vezes, as bacteremias são causadas por uma
única bactéria, infecções ditas polimicrobianas (mais de uma bactéria) são raras.
Microrganismos com valores preditivos positivos variáveis, ou seja, diferentes chances de ser
uma bacteremia verdadeira, incluem Streptptococcus viridans (38%), Enterococcus spp. (78%)
e Staphylococcus coagulase negativa (15%). Enquanto a presença de Corynebacterium spp.,
Micrococcus spp., Bacillus spp., e Propionibacterium acnes são constantemente associadas à
contaminação, com apenas 5% de chance de ser uma bacteremia verdadeira.
EXEMPLO
Um paciente com infecção urinária confirmada para a bactéria E. coli realizou 2 coletas de
hemocultura em braços diferentes, utilizando 2 frascos, um para cada coleta. Após o
procedimento de incubação e cultura, é identificado em 1 frasco a bactéria Staphylococcus
coagulase negativa. Imediatamente, devemos pensar em contaminação no momento da coleta,
pois houve crescimento em apenas 1 frasco de uma bactéria comum da pele, no exemplo
Staphylococcus coagulase negativa, indicando que a assepsia foi realizada de maneira errada.
De forma diferente, quando ocorre uma bacteremia verdadeira ou uma endocardite, na maioria
dos frascos, após incubação e cultivo, apresentam positividade para a mesma bactéria.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
Identificar as principais bactérias associadas a infecções do trato gastrointestinal
(coprocultura)
INTRODUÇÃO
Podemos definir a diarreia como um quadro de fezes aquosas com mais de duas evacuações
ou fora do que é habitual do indivíduo. As diarreias são comuns, principalmente, em países em
desenvolvimentos, podendo ser 2 a 3 vezes mais frequentes, estando ligada ao quadro
socioeconômico e de saneamento básico.
Podemos classificar as diarreias em: diarreia aguda (<14 dias), diarreia persistente (>14
dias) e diarreia crônica (>30 dias), sendo a aguda a mais comum. Apesar de todas as idades
serem cometidas por este quadro, existe uma prevalência em crianças menores de 5 anos e
gestantes. A maioria dos quadros de diarreia são autolimitantes, alguns podem evoluir para
casos mais graves e requerem atenção médica e exames adicionais para o seu diagnóstico e
tratamento.
As diarreias infecciosas possuem uma gama de agentes causadores, entre elas, vírus,
protozoários, helmintos e bactérias, as mais graves, geralmente, são causadas por bactérias. A
diarreia de origem bacteriana pode gerar um quadro grave de desidratação, problemas
neurológicos, insuficiência renal e até a morte se não for tratada.
Agora, vamos observar como essas infeções ocorrem e como proceder para o seu diagnóstico.
SÍNDROME DISENTERIFORME E
COLERIFORME
De acordo com os sintomas, podemos dividir a diarreia causada por bactérias em dois quadros
clínicos, chamados de síndrome disenteriforme e coleriforme. Essas síndromes ocorrerão de
acordo com o tipo de patógeno ou toxinas acometidas.
SÍNDROME DISENTERIFORME
É caracterizada por uma diarreia do tipo inflamatória, com visível sangue nas fezes, dor
abdominal, perda de peso, podendo gerar febre (com exceção da E. coli enterohemorragica). O
sangue nas fezes é proveniente de citotoxinas ou bactérias enteroinvasivas que destroem ou
invadem o trato gastrointestinal.
SÍNDROME COLERIFORME
Tem como característica uma diarreia aquosa aguda, com três ou mais fezes líquidas ou
semilíquidas por dia dentro de um intervalo de até 14 dias (a maioria dura menos de 7 dias),
não apresentam sangue visível, podendo apresentar vômito, náuseas, febre e falta de apetite.
Suas consequências são desidratação grave. São processos característicos de bactérias que
produzem enterotoxinas (toxinas que agem sobre o intestino).
Causam diarreia aquosa pela troca iônica e interação com as funções dos enterócitos (células
epiteliais do intestino grosso e delgado).
PATÓGENOS PRODUTORES DE CITOTOXINAS
PATÓGENOS QUE INVADEM A MUCOSA INTESTINAL E
SE ADEREM A ESTA:
As principais formas de transmissão destes patógenos é pela via oral, de animais para
pessoas, de pessoa-pessoa ou pela ingestão de alimentos contaminados. Alguns indícios
(fatores de riscos) podem estar associados, como membros da família ou pessoas próximas
com diarreia, viagem recente, atendimento médico frequente, fontes de abastecimento de
água, dieta (contaminação de alimentos, bem comum) e uso anterior de antimicrobiano.
PATOGENIA
COPROCULTURA
Na copropocultura, estamos falando de pesquisa de bactérias nas fezes, mas não é qualquer
bactéria, afinal, sabemos que as fezes contêm uma grande quantidade destes microrganismos
(incluindo a E. coli).
RESPOSTA
Sabemos que algumas bactérias não fazem parte da microbiota intestinal e sua detecção pode
sinalizar um quadro infeccioso, enquanto outros fazem parte da microbiota intestinal e podem
causar infecção quando ocorre um descontrole no seu crescimento, como, por exemplo, pelo
uso de antimicrobianos, que podem levar à morte de algumas bactérias da microbiota. O
descontrole da microbiota intestinal é chamado de disbiose e pode favorecer o crescimento de
algumas espécies, é o que acontece com infecções por C. difficile, em que a intensa
proliferação dessa bactéria acaba produzindo uma grande quantidade de toxinas que leva ao
quadro diarreico.
COLETA DE FEZES PARA A COPROCULTURA
A coleta é feita utilizando um coletor de fezes universal estéril, evitando contato da amostra
com urina ou água do vaso sanitário. A coleta deve ser feita, preferencialmente, antes do uso
de antibióticos, sem a necessidade de encher o pote de coleta, deve-se tomar cuidado para
não vazar material.
RECOMENDAÇÃO
O pote coletor deve ser encaminhado para o laboratório dentro de uma hora, se não for
possível, deixar refrigerado por até 6 horas. Existem alguns meios de cultura de transporte que
possuem conservantes, dando tempo de análise de 24 a 48 horas. Na análise, deve-se dar
prioridade a porções contendo muco, sangue ou pus, quando presentes, pois neles estão
grande quantidade do patógeno causador. Não deverá ser aceita amostras provenientes de
fraudas, com urina ou qualquer outro líquido e após 3 dias de quadro infeccioso.
A escolha dos meios de cultura utilizados para pesquisa de bactérias depende da suspeita
clínica e incluem Ágar McConkey e Ágar EMB para pesquisa de Enterobactérias Gram-
negativas, Ágar SS (Salmonella Shigella), Ágar HE (Entérico de Hektoen) e Ágar XLD
(Desoxicolato-Lisina-Xilose) para detecção de Salmonela spp. e Shigella spp., Ágar Campy
para detecção de Campylobacter spp., Ágar CIN (Novobiocina-Irgasan-Cefsulodina) para
detecção de Yersinia spp., Ágar RCBS (Tiossulfato, Citrato, Bílis e Sacarose) para detecção de
Vibrio spp. Além dos meios de cultura sólidos, a amostra também é semeada em um meio
enriquecido e seletivo para patógenos entéricos, como caldo Selenito, Caldo Tetrationato, caldo
Campy-tioglicolato (para Campylobacter spp.) e caldo GN (para Shigella e Salmonella).
Como é possível perceber, utilizamos meios de cultura que favorecem o crescimento dos
principais patógenos associados a essas infecções e que inibem ou diminuem o crescimento
de bactérias provenientes da microbiota.
Em caso de amostra líquida ou swab, deve ser semeado direto nos meios de cultura. Em caso
de fezes sólidas, deve-se diluir a amostra em solução salina 10% tamponada. Após semear as
amostras nos meios de cultura selecionados, elas são incubadas a 35-37°C por 18 a 24 horas.
Caso exista crescimento no meio de cultura, a amostra segue para a identificação e
antibiograma. Caso não haja crescimento, uma nova amostra é semeada do caldo de
enriquecimento e incubada novamente por 35-37°C por 18 a 24 horas. Após esse período, em
caso positivo (observado o crescimento), segue-se para a identificação e, em caso negativo, o
resultado é liberado como negativo.
DIAGNÓSTICO BIOQUÍMICO
Devido à grande diversidade de microrganismos encontrados na coprocultura, faz-se
necessária a realização de provas bioquímicas para confirmação se o crescimento microbiano
visualizado é, de fato, um enteropatógeno. Assim, as provas bioquímicas são grandes aliadas
para a identificação de patógenos nestas infecções e se baseiam na capacidade de as
bactérias utilizarem determinados substratos para seu crescimento, ou seja, através do seu
metabolismo é possível identificar gêneros ou espécies bacterianas e seu real papel na
patogênese das infecções gastrointestinais.
Entre as principais provas bioquímicas, podemos destacar:
TESTE DE OXIDASE
FERMENTAÇÃO DE AÇÚCARES
Esse teste é utilizado para saber qual é o metabolismo bacteriano para obtenção de energia:
via oxidativa (aeróbica) ou via fermentativa (anaeróbica). Para isso, podem ser utilizadas
diferentes fontes de açúcares, como a glicose, a sacarose e a lactose. Bactérias que realizam a
fermentação obtêm menos energia e produzem um ácido como produto do seu metabolismo,
com possível formação de gás.
Bactérias não-fermentadoras crescerão no meio de cultura, mas não produzem ácido no final
e, portanto, não alteram o pH do meio. Bactérias fermentadoras crescerão no meio e
produzirão ácido, mudam o pH e alteram a coloração do meio. O meio mais utilizado é o Ágar
TSI. A cor original do meio é vermelha, se o meio possui crescimento sem alteração da cor
indica que a bactéria é não-fermentadora.
Quando temos a acidificação do meio, este fica amarelado, indicando uma alteração de pH
pela produção de ácido e que a bactéria apresenta um metabolismo fermentativo. Também é
possível ver a produção de gás e H2S neste meio. A E. coli fermentam a glicose, sacarose e
Esse teste detecta a capacidade da bactéria em liberar o enxofre, por ação enzimática, de
determinados aminoácidos. Ao realizar esta reação, ocorre a produção de gás sulfídrico ou
sulfeto de hidrogênio que reage com íons de ferro ou chumbo contidos no meio, formando um
precipitado negro e resultando em positividade para o isolado em questão. Podem ser
utilizados para o teste o Ágar TSI (Triplo Açúcar de Ferro), meio SIM (Sulfato de hidrogênio,
Indol e Motilidade), meio AIL (Instituto Adolfo Lutz). Grupo bacteriano mais importante em
infecções gastrointestinais positivo para este teste inclui a Salmonella spp. e C. difficile.
Ágar TSI do lado esquerdo, negativo para o teste. Ágar TSI lado direito (negro), positivo
para o teste.
MOTILIDADE
Este teste não é uma prova bioquímica propriamente dita, mas, sim, fisiológica. Testa a
capacidade da bactéria em se mover em meio semissólido devido à presença de flagelos. Os
meios mais utilizados para isso incluem o meio SIM, meio MILI (Motilidade, Indol e Lisina).
Apresentam motilidade no meio: E. coli, Salmonella spp., Compylobacter spp., Vibrio spp.
Mobilidade bacteriana em meio SIM.
PRODUÇÃO DE INDOL
DEGRADAÇÃO DA UREIA
A degradação da ureia ocorre pela ação da enzima urease, bactérias que possuem esta
enzima têm a capacidade de degradar a ureia em amônia e CO2. Os meios utilizados para este
teste incluem ureia e um indicador de pH. Conforme a ureia é quebrada, o meio torna-se mais
alcalino e muda de cor para rosa, mostrando positividade do teste.
Degradação da ureia.
Prova VM.
UTILIZAÇÃO DE CITRATO
A prova detecta a capacidade de algumas bactérias em utilizar o citrato como única fonte de
carbono. O meio comumente utilizado para este teste é o Citrato de Simmons, um meio sólido
contendo citrato que tem como indicador de pH, o azul de bromotimol. A entrada do citrato na
bactéria e sua degradação pela citratase resulta em oxaloacetato e acetato, alcalinizando o
meio. O meio é originalmente verde e, ao ser alcalinizado, muda de cor para o azul. B. cereus,
indicando ser positivo.
Citrato de Simmons.
DESCARBOXILAÇÃO DE AMINOÁCIDOS
utilizados neste teste são a lisina, arginina e ornitina (LAO). São preparados um tubo para cada
aminoácido e um tubo controle, sem aminoácidos. Assim as diferentes bactérias podem ter
lisina-descarboxilase, arginina-descarboxilase e/ou ornitina-descarboxilase. A atividade de
cada uma dessas enzimas será detectada no meio pela alteração de pH e da coloração e
comparado com o grupo controle (sem aminoácidos). O meio mais utilizado é o de Moller, que
apresenta uma cor violeta quando positivo. E. coli são lisina positiva e variável para arginina e
ornitina.
Descarboxilação da lisina. Tubo 1: Cor original do tubo com aminoácido. Tubo 2: Tubo
controle, sem aminoácido. Tubo 3: Tubo positivo para descarboxilação da lisina.
ATENÇÃO
SOROTIPAGEM
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
Reconhecer os principais procedimentos para o diagnóstico de meningite e das ISTs
INTRODUÇÃO
Apesar do surgimento dos antimicrobianos e de métodos de prevenção, as infecções do
Sistema Nervoso Central (SNC) e as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) continuam
sendo um risco para muitas pessoas. A detecção dessas doenças tem aumentado de maneira
cada vez mais agressiva devido à reemergência da resistência ao tratamento. As infecções do
SNC podem apresentar consequências drásticas, pois deixam sequelas, afinal, os neurônios
são células que não se regeneram após uma lesão.
As ISTs são todas as infecções transmitidas por contato sexual (oral, vaginal ou anal), mas não
só, existem casos de transmissão da mãe para a criança por via transplacentária, durante o
parto ou amamentação, além de casos de infecções por contato com lesão ou feridas sobre a
pele ou mucosa. Uma ampla gama de patógenos podem estar associados a estas infecções.
Agora, vamos olhar algumas das principais e mais problemáticas bactérias que apresentam
uma elevada preocupação nestas infecções.
LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO
Também conhecido como líquor, é um fluido corporal estéril presente entre as membranas
aracnoide e pia-máter.
As meninges revestem todo esse sistema e são compostas por 3 membranas. Após o crânio
(tecido ósseo), temos a primeira membrana a dura-máter, no meio temos a aracnoide e em
contato com o encéfalo temos a pia-máter. Esse conjunto de membrana formam as meninges
que ajudam a proteger este sistema.
A coleta do líquor é realizada por punção lombar e segue para análises bioquímicas,
microbiológicas e citológicas no laboratório. Na análise microbiológica, o tubo é centrifugado e
o sedimento utilizado para as análises. Inicialmente, realiza-se uma coloração de Gram e Ziehl
e meios de cultura de enriquecimentos são utilizados para o crescimento, como Ágar Sangue e
Ágar chocolate. Para suspeita de micobactérias, devemos realizar o cultivo nos meios Ogawa-
Kudoh ou Lowentein Jesen. Para anaeróbicos, utilizar o caldo Tioglicolato, com as devidas
condições de anaerobiose.
Coleta do líquor.
Os agentes etiológicos mais comuns nas causas da meningite bacteriana podem variar de
acordo com a idade do paciente:
STREPTOCOCCUS GRUPO B
Existem mais de 30 agentes etiológicos de ISTs que incluem bactérias, vírus e parasitas.
Dentre as diversas ISTs, as mais comuns incluem as causadas por clamídias e a gonorreia,
ambas causadas por bactérias. Podendo ocorrer a coinfecção. Isso acontece, pois estas ISTs
possuem os mesmos fatores de risco, que incluem sexo com vários parceiros e o não uso de
preservativos, e a presença de uma doença parece favorecer uma segunda infecção pela
outra.
Como é possível perceber, os sinais e sintomas destas ISTs são similares, sendo necessário
um diagnóstico para sua correta identificação. A coleta para o diagnóstico de ambas as ISTs
ocorrem de modo similar. Pode se utilizar secreção uretral, secreção endocervical, esperma,
secreção ocular para conjuntivite em recém-nascido, secreção anal para infecção anal, a urina
pode ser utilizada quando a secreção uretral estiver escassa.
RECOMENDAÇÃO
C. trachomatis é uma bactéria de difícil cultivo devido ao fato de viver dentro das células do
hospedeiro. Desse modo, para este patógeno, é recomendado o uso de testes imunológicos ou
testes moleculares, sendo os testes moleculares ainda mais capazes de detectar a bactéria do
que os imunológicos. Métodos de coloração direta não são possíveis devido ao pequeno
tamanho da bactéria e sua vida intracelular.
A cultura de Chlamydia em laboratório é algo dispendioso e requer muitos cuidados. Pelo fato
de ser uma bactéria intracelular, o cultivo de uma célula eucarionte é necessário para que elas
consigam crescer. Assim, é realizada a cultura de células das linhagens McCoy, HeLa 229 ou
BHK, em que a amostra coletada é inoculada sobre a superfície destas células. Após 3 dias de
incubação, é realizada a coloração por iodo ou Giemsa, buscando as alterações celulares
causadas pela presença da Chlamydia, como a presença de corpúsculos de inclusão
citoplasmáticos (vacúolos citoplasmáticos). Por esse motivo, os testes moleculares se tornam
úteis para o diagnóstico na maioria dos laboratórios, tendo boa sensibilidade e especificidade.
CÉLULAS MCCOY
CÉLULAS BHK
morfologia), prova da catalase (resultado positivo pela formação de bolhas), prova da oxidase
(oxidase positiva) e fermentação de açúcares (fermenta a glicose). Sendo então confirmado o
diagnóstico para N. gonorrhoeae.
PROVA DA CATALASE
ATENÇÃO
As uretrites podem ter diferentes causas, sendo a mais comum as ISTs causadas pela N.
gonorrheae. Aquelas que não são causadas por este agente etiológico são ditas não
gonocócicas. A uretrite não gonocócica mais comum é a causada pela C. trachomatis já
comentada aqui, enquanto outros microrganismos menos frequentes podem causar este
quadro infeccioso incluem Ureoplasma ureatylium, Trichomonas vaginalis, Mycoplasma
homins, Staphylococcus aureus, Candida albicans (fungo), Gardnerella vaginalis. Para
exclusão de diagnóstico por estes agentes etiológicos, pode-se usar a semeadura em meios de
cultura como Ágar Sangue e Ágar MacConkey e coloração de Gram.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observamos as principais bactérias associadas a infecções sistêmicas e suas possíveis
consequências, os principais patógenos associados a casos de diarreia no Brasil e no mundo,
a problemática das infecções do SNC e os sinais clínicos similares de algumas ISTs
prevalentes e sua importância no diagnóstico por cultura, tanto para epidemiologia, quanto para
determinação da melhor opção de tratamento pelo antibiograma. A cultura bacteriana continua
a ser usada por muitos laboratórios e com algumas particularidades, dependendo do local de
diagnóstico.
PODCAST
REFERÊNCIAS
ANVISA. Detecção e Identificação de Bactérias de Importância Médica. Módulo V. 2004.
MENEZES e SILVA. Coprocultura, parte 1 Salmonella e Shigella. 86. ed. NewsLab, 2008.
MENEZES e SILVA. Coprocultura, parte 2 outros enteropatógenos. 86. ed. NewsLab, 2008.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos explorados neste tema, pesquise:
CONTEUDISTA
Ivson Cassiano de Oliveira Santos
CURRÍCULO LATTES
DESCRIÇÃO
Princípios da imunologia e sua aplicação na identificação de grupos sanguíneos e doenças
relacionadas.
PROPÓSITO
Compreender os principais sistemas eritrocitários e como o nosso sistema imunológico atua na defesa
do organismo. Esse conhecimento facilitará o entendimento dos testes imuno-hematológicos e das
doenças correlacionadas.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Descrever os componentes e as funções das respostas imunes inata e adquirida e a interação
antígeno-anticorpo
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Ao longo desta jornada, vamos estudar a organização estrutural do sistema imunológico e entender
como seus componentes celulares e moleculares interagem entre si para garantir a geração de
respostas imunológicas eficazes, bem como as características da interação entre antígenos e
anticorpos.
MÓDULO 1
SISTEMA IMUNOLÓGICO
Nosso sistema imunológico é um conjunto de tecidos, células e moléculas que atuam de forma
coordenada para nos defender de microrganismos que podem nos causar infecções ou doenças.
Além disso, o sistema imunológico é capaz de reconhecer e eliminar do nosso organismo células
tumorais ou que sofreram algum dano que prejudique sua função normal. Em casos de transplante de
órgãos, de tecidos e nas transfusões sanguíneas, o sistema imunológico também pode reconhecer
esses elementos como não próprios e desencadear a resposta imune.
Os mecanismos de defesa do hospedeiro seguem uma sequência coordenada de etapas, sendo que,
em cada uma delas, as propriedades específicas dos componentes do sistema imune desempenham
papel fundamental. Dessa forma, é essencial entender a organização do sistema imunológico para
a geração de respostas eficazes.
Assim, temos o rápido direcionamento das células efetoras da imunidade inata para os locais de
infecção, permitindo que linfócitos reconheçam e respondam de forma específica a determinado
antígeno, independentemente do local em que ele é introduzido no organismo.
O sistema imunológico é composto por diferentes órgãos, que são classificados como órgãos
geradores ou primários e órgãos periféricos ou secundários. A medula óssea é um órgão gerador, no
qual há produção de todos os elementos figurados do sangue a partir da célula hematopoiética
pluripotente, observados na figura a seguir.
Fonte: extender_01 / Shutterstock
Hematopoiese
IMPORTANTE
No timo, outro órgão gerador, ocorre a maturação de linfócitos T.
Além de formarem aglomerados que dão origem a órgãos linfoides, as células das imunidades
inata e adquirida encontram-se como células circulantes no sangue e na linfa. As células do
sistema imunológico que circulam no sangue pertencem à série leucocitária e compreendem os
linfócitos, granulócitos e monócitos.
SÉRIE GRANULOCÍTICA
Os basófilos contêm grânulos com enzimas hidrolíticas, fatores quimiotáticos, heparina e histamina em
seu citoplasma e receptores de imunoglobulina em sua superfície, desempenhando papel importante,
principalmente nas reações alérgicas (hipersensibilidade do tipo I) e anafiláticas.
BASOFILIA
Número de células anormalmente aumentado no sangue.
Colite ulcerativa, asma, sinusite e rinite, artrite, insuficiência renal crônica, anemia hemolítica, leucemia
mieloide crônica, quimioterapia, remoção do baço.
BASOPENIA
Número de células anormalmente diminuído no sangue.
Além disso, os eosinófilos estão envolvidos no combate a infecções parasitárias causadas por
helmintos e na produção de citocinas que modulam respostas inflamatórias nas reações alérgicas.
EOSINOFILIA
Doenças parasitárias, alergias (asma e eczemas).
EOSINOPENIA
Síndrome de Cushing, uso de corticosteroides, estresse.
NEUTROFILIA
Infecções bacterianas, apendicite, gestação, estresse.
NEUTROPENIA
Câncer, esplenomegalia, doenças autoimunes, quimioterapia, radioterapia, deficiência de vitamina B12
ou folato.
SÉRIE AGRANULOCÍTICA
Os monócitos são as maiores células observadas em esfregaços sanguíneos. Esses tipos celulares
podem ser recrutados rapidamente da corrente sanguínea para os sítios de inflamação, e, ao entrar nos
tecidos, os monócitos diferenciam-se em macrófagos. Desempenham funções tanto na imunidade
inata, como a fagocitose e morte de microrganismos por meio da produção de espécies reativas de
oxigênio e digestão proteolítica, como na adquirida, pois apresentam antígenos aos linfócitos.
Os linfócitos são células geralmente pequenas, classificadas em diversos tipos, os quais diferem nas
funções e em seus produtos proteicos. As principais populações são:
Fonte: Autor
Este vídeo apresenta um aprofundamento sobre diapedese, suas causas, seu processo e seus efeitos.
As proteínas de fase aguda podem ser úteis como biomarcadores de condições patológicas.
Sintetizada pelos hepatócitos em resposta a citocinas inflamatórias como a IL-6, a PCR tem sido
utilizada como marcador de resposta de fase aguda, uma vez que seus níveis séricos aumentam
rapidamente após lesão e/ou necrose tecidual, infecção ou outros processos inflamatórios.
BIOMARCADORES
Com o antígeno reconhecido, uma resposta pode ser desencadeada por meio da produção de
anticorpos, por exemplo.
Esse tipo de resposta confere memória protetora contra o mesmo antígeno, isto é, durante uma segunda
exposição, frequentemente a resposta é mais rápida do que na infecção primária.
ANTÍGENOS E ANTICORPOS
Antígenos são definidos como moléculas ou partículas que, uma vez reconhecidas por células do nosso
sistema imunológico, podem desencadear ou não uma resposta imunológica. Um antígeno capaz de
ativar uma resposta imunológica é chamado de imunógeno. Cada antígeno possui sítios de
reconhecimento aos quais os anticorpos ou receptores de linfócitos B se ligam. Os antígenos podem ser
moléculas simples ou complexas, como:
Os anticorpos são produzidos em resposta a determinado antígeno, sendo capazes de se ligar a ele de
forma altamente específica, formando os chamados imunocomplexos. Os anticorpos podem atuar em
diferentes processos, tais como:
OPSONIZAÇÃO
RESPOSTA
As imunoglobulinas podem ser classificadas em cinco diferentes isotipos: IgA, IgD, IgE, IgG e IgM.
Cada uma dessas classes está envolvida em um tipo específico de proteção. Clique nas setas e
conheça cada classificação.
Monômero
IgG: opsonização, ativação do sistema complemento, único isotipo que atravessa a placenta.
Dímero
Pentâmero
As classes e a quantidade de anticorpos podem variar de acordo com o tipo de resposta imunológica. A
IgM é denominada “anticorpo frio”, pois sua fixação ao antígeno é máxima em baixas temperaturas e
praticamente nula a 37 °C; é sintetizada de forma mais rápida e em maior quantidade na resposta
primária. Por sua vez, a IgG é denominada “anticorpo quente”, pois sua fixação é ótima a 37 °C, sendo
produzida de forma tardia e em menor quantidade.
No plasma sanguíneo, encontramos muitos anticorpos diferentes, sendo cada um deles derivado de um
clone de linfócito B. Quando temos ativação de diversos clones de linfócitos B e estes, diferenciados em
plasmócitos, produzem anticorpos, denominamos anticorpos policlonais, uma vez que são produtos
de clones diferentes e cada um desses clones produz anticorpos de especificidade única.
Os anticorpos monoclonais ou mAbs são produzidos a partir de um único clone de linfócito B, que
passa a produzir sempre os mesmos anticorpos em resposta a um antígeno. Saiba mais sobre eles
clicando a seguir:
ANTICORPOS MONOCLONAIS
Podem ser produzidos em grande quantidade em laboratório a partir de linfócitos B gerados por
camundongos cujo sistema imunológico tenha sido estimulado por antígenos de interesse.
Os mAbs são utilizados como ferramentas diagnósticas e terapêuticas. Como exemplos, temos:
infliximab ou entanercept para o controle da inflamação na artrite reumatoide e doença de Crohn;
trastuzumab para tratamento de câncer de mama; muromonab-CD3 para diminuição da rejeição de
transplante renal, entre outros.
INTERAÇÃO ANTÍGENO-ANTICORPO
A ligação do anticorpo ao antígeno ocorre em um sítio específico, denominado epítopo ou determinante
antigênico. Uma macromolécula que apresenta muitos epítopos iguais é chamada de antígeno
polivalente. Os epítopos podem ser classificados de acordo com sua estrutura em:
O anticorpo não provoca alteração química irreversível na molécula do antígeno; assim, o produto
formado (Ag-Ac) pode se dissociar em dois componentes, ficando cada um deles livre em solução. Além
disso, os antígenos apresentam estruturas químicas que favorecem a complementaridade com o
anticorpo por meio de ligações não covalentes reversíveis.
Essas ligações podem ser rompidas após o contato com altas concentrações de sal, pH extremo,
detergentes e também por competição com elevadas concentrações do próprio epítopo puro.
Porém, o que são afinidade, avidez e especificidade? Clique nas abas para conhecer cada uma delas.
AFINIDADE
É determinada pela força de ligação resultante entre um anticorpo e um único epítopo do antígeno e
depende da complementariedade entre as duas moléculas. Anticorpos com alta afinidade apresentam
grande similaridade ao antígeno, interagindo por meio de ligações fortes e duradouras; anticorpos com
baixa afinidade dissociam-se rapidamente, pois estabelecem ligações mais fracas.
AVIDEZ
É determinada pela força resultante de interações múltiplas entre uma molécula de anticorpo e os
epítopos de um antígeno complexo. Assim, quanto maior a avidez, melhor o efeito biológico final do
anticorpo, porém a afinidade será menor. A baixa afinidade de um anticorpo pode ser compensada por
uma avidez elevada, como acontece em uma molécula de IgM, que, por ser pentamérica, apresenta
diferentes sítios de ligação.
Afinidade se refere à força da interação antígeno-anticorpo único. Na figura vemos a interação entre IgG
e o antígeno. Cada sítio de ligação do anticorpo IgG normalmente tem alta afinidade para seu sítio de
ligação.
Fonte: Adaptado de Pediaa
Avidez refere-se à força de todas as interações combinadas. Na figura vemos a interação de IgM com
um antígeno, que tem locais de ligação ao antígeno de baixa afinidade, mas, como é uma estrutura
pentamérica, há dez sítios de ligação, assim a avidez é alta.
ESPECIFICIDADE
Consiste na habilidade do anticorpo de distinguir seu imunógeno de outros antígenos.
A relação Ag-Ac é influenciada por diversos fatores. Assim, reações entre antígenos e anticorpos
polivalentes são mais estáveis, sendo detectadas mais facilmente. Caso o antígeno seja particulado,
geralmente é observada a aglutinação do antígeno pelo anticorpo. No entanto, se o antígeno estiver na
forma solúvel, geralmente é observada a precipitação de um antígeno após a produção de grandes
complexos Ag-Ac insolúveis. A formação dos complexos Ag-Ac é influenciada pela temperatura e pelo
tempo de reação. Já o tamanho desses complexos está relacionado à concentração do antígeno e do
anticorpo.
PARTICULADO
Antígenos particulados constituem a estrutura de bactérias, fungos, vírus e alguns tipos celulares,
como hemácias. Geralmente, são mais imunogênicos que antígenos solúveis.
REATIVIDADE CRUZADA
Alguns anticorpos podem ter habilidade de interagir com mais de um epítopo com propriedades
químicas similares. Assim, é possível que ocorram ligações mais fracas com regiões semelhantes, mas
não idênticas, do antígeno que o induziu. Esse tipo de ligação é chamado de reação cruzada. Observe
a seguir:
Fonte: Anônimo
Fonte: Anônimo
EPÍTOPO SIMILAR
Fonte: Anônimo
EPÍTOPO COMPARTILHADO
Muitos vírus e diversas bactérias podem apresentar epítopos idênticos ou similares a componentes
normais da célula hospedeira. Os antígenos microbianos estimulam anticorpos que reagem de maneira
cruzada com os componentes da célula hospedeira e resultam em uma reação autoimune que lesiona o
tecido.
EXEMPLO
Um exemplo é a bactéria Streptococcus pyogenes, que expressa proteínas na parede celular (antígenos
M). Os anticorpos produzidos contra antígenos M reagem de forma cruzada com várias proteínas do
miocárdio e do músculo esquelético, causando lesões cardíacas e renais que levam ao desenvolvimento
da febre reumática.
Além disso, sabe-se que algumas bactérias intestinais têm substâncias quimicamente semelhantes que
apresentam reatividade antigênica cruzada com antígenos A e/ou B expressos na superfície dos
eritrócitos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. APRENDEMOS QUE AS CLASSES E QUANTIDADES DAS IMUNOGLOBULINAS
PODEM VARIAR COM O TIPO DE UMA RESPOSTA IMUNOLÓGICA. UMA MULHER
DE 29 ANOS, GESTANTE DE 16 SEMANAS, REALIZOU SOROLOGIA PARA
TOXOPLASMOSE, E O RESULTADO DO EXAME REVELOU IGM NEGATIVO E IGG
POSITIVO. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA A INTERPRETAÇÃO
DIAGNÓSTICA CORRETA DO TESTE LABORATORIAL:
A) Infecção prévia.
A) Monócitos.
B) Eosinófilos.
C) Neutrófilos.
D) Eritrócitos.
GABARITO
1. Aprendemos que as classes e quantidades das imunoglobulinas podem variar com o tipo de
uma resposta imunológica. Uma mulher de 29 anos, gestante de 16 semanas, realizou sorologia
para toxoplasmose, e o resultado do exame revelou IgM negativo e IgG positivo. Assinale a
alternativa que apresenta a interpretação diagnóstica correta do teste laboratorial:
De forma geral, a presença de IgG indica que o indivíduo já esteve em contato com o antígeno.
Os neutrófilos são o primeiro tipo celular a responder às infecções, principalmente aquelas causadas por
bactérias extracelulares. Sua principal função é a fagocitose.
MÓDULO 2
ANTÍGENOS ERITROCITÁRIOS
Nossas hemácias têm diferentes antígenos de superfície em suas membranas. Dentre os antígenos
presentes, temos o sistema ABO e Rh, que possibilitam a determinação do tipo sanguíneo de cada
indivíduo. Você sabe qual é seu grupo sanguíneo? Sabe qual tipo sanguíneo você pode receber em uma
transfusão? Faz ideia de como são realizados os exames pré-transfusionais?
Os grupos sanguíneos têm grande importância no contexto da transfusão de sangue, pois, se indivíduos
que não apresentam determinado antígeno eritrocitário (exemplo o antígeno Rh) entrarem em contato
com esse antígeno (Rh positivo) durante uma transfusão sanguínea, produzirão anticorpos contra esse
antígeno (anticorpo anti-Rh), o que pode causar uma reação transfusional, com hemólise, podendo até
levar o paciente ao óbito.
Assim, a determinação do tipo sanguíneo de um indivíduo é uma das etapas essenciais para possibilitar
uma transfusão sanguínea segura. Apesar de serem descritos centenas de tipos de antígenos
eritrocitários, os mais importantes e complexos pertencem aos grupos ABO e Rh. Esses são os dois
sistemas com maior relevância no contexto de compatibilidade sanguínea.
Fonte: Schira / Shutterstock
SISTEMA ABO
O sistema ABO foi o primeiro sistema de classificação sanguínea a ser descrito em 1900. Na ocasião, o
cientista austríaco Karl Landsteiner observou aglutinação após misturar diferentes amostras de sangue.
Posteriormente, Landsteiner descobriu que a aglutinação era causada por uma reação imunológica que
ocorre quando anticorpos são produzidos contra células do sangue de um doador. Essa resposta imune
é induzida porque existe grande variação dos antígenos localizados na superfície dos eritrócitos entre as
pessoas.
Esses antígenos estão presentes nas hemácias e na maioria das células epiteliais e endoteliais,
linfócitos e plaquetas. Além disso, apresentam-se na forma solúvel em secreções como saliva, lágrima,
leite, urina e líquido amniótico. Por esse motivo, o sistema ABO é considerado um sistema de
histocompatibilidade.
Os antígenos do sistema ABO são definidos por uma proteína codificada por um gene único, para o qual
há três alelos: A, B e O. Observa-se uma relação de dominância dos alelos A e B sobre o alelo O e uma
codominância entre os alelos A e B, o que nos dá a possibilidade de quatro tipos sanguíneos: A, B, AB
ou O.
EXEMPLO
Dessa forma, se um indivíduo com tipo sanguíneo A, por exemplo, recebe sangue de um indivíduo de
um tipo sanguíneo diferente (como tipo B), o sistema imunológico desse receptor não reconhecerá os
antígenos B nas células do sangue do doador e, portanto, considerará que eles são estranhos à sua
composição.
Se os eritrócitos apresentam o antígeno A, seu tipo sanguíneo é A. Seu plasma tem anticorpos que
destroem hemácias de um indivíduo do tipo B.
Se os eritrócitos apresentam o antígeno B, seu tipo sanguíneo é B. Seu plasma tem anticorpos que
destroem hemácias de um indivíduo do tipo A.
Se os eritrócitos não apresentam o antígeno A nem o antígeno B, seu tipo sanguíneo é O. Seu plasma
tem anticorpos que destroem hemácias de indivíduos dos tipos A e B.
Se os eritrócitos apresentam o antígeno A e o antígeno B, seu tipo sanguíneo é AB. Seu plasma
sanguíneo não tem anticorpos que atacam o sangue do tipo A nem o tipo B.
A identificação dos antígenos eritrocitários do sistema ABO e dos anticorpos produzidos possibilita
entender a compatibilidade entre os grupos sanguíneos (Figura 9). A ausência de antígenos nas
hemácias do grupo O possibilita que os grupo A, B e AB recebam sangue do tipo O, por isso esse tipo
sanguíneo é definido como doador universal. O grupo AB é considerado o receptor universal, uma
vez que não produz anticorpos anti-A e anti-B, podendo, assim, receber sangue de qualquer grupo
sanguíneo.
A expressão dos genes ABO depende da ação do gene H, que se apresenta em 99% da população sob
a forma homozigota HH ou heterozigota Hh. A forma hh é rara e caracteriza o fenótipo Bombaim, que
compreende indivíduos que não apresentam antígenos ABO e H nem nos eritrócitos nem em
substâncias solúveis: são os chamados “falsos O”.
Os anticorpos contra antígenos A e/ou B são encontrados no plasma de indivíduos com eritrócitos que
não apresentam o antígeno correspondente. Portanto, diferem dos demais por terem ocorrência natural,
mesmo em indivíduos que não receberam transfusão ou tiveram gestação prévia.
Os anticorpos mais importantes são anti-A e anti-B. Em geral, são anticorpos da classe IgM, e a reação
com os antígenos correspondentes é ótima em temperaturas baixas (4 °C), sendo chamados de
anticorpos frios, apesar de também serem reativos à temperatura corporal, em torno de 37 °C.
A1 A1 Anti-B (Anti-A2*)
A2 A2 Anti-B (Anti-A1*)
B B Anti-A1, Anti-A2
Aglutinina: Substância que pode provocar a aglutinação de células quando identificadas como
antígeno.
SAIBA MAIS
Os anticorpos naturais ABO estão ausentes no nascimento; entre 3 e 6 meses de vida, começam a
aparecer e atingem títulos máximo entre 5 e 10 anos, permanecendo elevados até a fase adulta. Esses
anticorpos apresentam grande relevância do ponto de vista transfusional, estando relacionados à reação
transfusional grave e em casos de DHRN de forma clínica moderada, causando icterícia leve.
SISTEMA RH
Os cientistas levantaram a hipótese de que o pai do bebê (o doador das hemácias que a mãe recebeu)
tinha um "fator" (antígeno) que faltava à mãe e que o bebê havia herdado do pai. Em gestações
anteriores, a mãe havia sido imunizada por exposição às hemácias de seus outros bebês, que também
tinham esse fator.
O fator ou anticorpo que causou a morte do bebê foi atribuído ao sistema Rh (remetendo ao modelo
experimental utilizado – macaco do gênero Rhesus) e nomeado de anti-D.
Os antígenos do sistema RH são encontrados apenas nas hemácias. Esse antígeno é codificado por um
par de genes homólogos RHD e RHCE, que codifica a produção do antígeno RhD, e de dois pares de
antígenos antitéticos (Antígenos antitéticos são antagônicos, opostos.) : C, c, E, e, respectivamente.
Quando falamos em pacientes RH positivo ou negativo, isso corresponde à presença ou à ausência na
hemácia do antígeno D, mas ambos apresentam os antígenos Cc e Ee .
Além dos sistemas ABO e Rh, outras classificações de antígenos eritrocitários são propostas, entre elas
os sistemas Lewis, MNS, P, I, Kell e Duffy. Embora a ocorrência natural de anticorpos dos sistemas
Lewis, P e MNS não seja incomum, eles geralmente reagem apenas a baixas temperaturas e, por isso,
não acarretam consequências clínicas.
A frequência de detecção de anticorpos imunes contra antígenos desses sistemas é pequena. Muitos
antígenos apresentam baixa antigenicidade, e outros, embora imunogênicos, apresentam frequência
relativamente baixa.
SISTEMA LEWIS
O sistema Lewis fundamenta-se na classificação do sangue humano com base na expressão de
glicoproteínas chamadas antígenos de Lewis (Le), na superfície dos eritrócitos ou nos fluidos corporais,
ou em ambos. Esse sistema está bioquimicamente associado ao sistema de grupo sanguíneo ABO,
embora os loci genéticos não estejam ligados entre si.
O sistema consiste em dois alelos, chamados de Le (dominante) e le (recessivo). A presença de Le
especifica a formação do antígeno Lea, um antígeno solúvel em água identificado em 1946. Um segundo
antígeno, Leb, identificado em 1948, ocorre apenas quando os alelos Le e H (do sistema de grupo
sanguíneo ABO) interagem e é encontrado em indivíduos secretores que expressam fenótipo
eritrocitário Le (a-b+).
SISTEMA KELL
O sistema Kell foi descrito em 1946 e é composto por mais de 20 antígenos, sendo alguns deles mais
importantes que outros.
Esses antígenos são produtos do gene KEL e expressos na glicoproteína transmembrana N-glicosilada
Kell e começam a ser expressos logo no início da vida; a partir da décima semana, podem ser
detectados nas células do feto. Ao nascimento, estão bem desenvolvidos e são encontrados
principalmente na linhagem eritroide, nos testículos e, em menor nível, no cérebro, nos tecidos linfoides
e no tecido muscular, estando ausentes em plaquetas, linfócitos, granulócitos ou monócitos.
SISTEMA DUFFY
O sistema Duffy é composto por seis antígenos, sendo Fya e Fyb os mais importantes. Esses dois
antígenos são produtos de alelos codominantes expressos na glicoproteína gpD, que é um receptor de
citocinas na superfície das hemácias. Os antígenos do sistema Duffy são expressos nas hemácias e em
tecidos como rim, coração, cérebro, pulmão, pâncreas, placenta, tireoide, entre outros. Eles não são
expressos em linfócitos, monócitos e plaquetas.
Fy (a+b+)
Fy (a+b-)
Fy (a-b+)
Fy (a-b-)
O fenótipo Fy (a-b-), raro em caucasianos e mais comum na população africana, é resultante de uma
mutação que leva à ausência da expressão proteica nas hemácias. Esse fenótipo tem relevância clínica,
pois confere resistência à malária.
Sabe-se que anticorpos anti-Fy são moderadamente imunogênicos. Assim, anti-Fya podem causar
DHRN moderada e reações transfusionais. Por sua vez, anticorpos anti-Fyb são incomuns.
SISTEMA MNSS
O sistema MN foi o segundo sistema de grupos sanguíneos a ser descrito, em 1927, por Landsteiner e
Levine, quando encontraram anticorpos anti-M e anti-N no soro dos coelhos imunizados.
Posteriormente, o antígeno S foi relatado por Walsh e Montgomery e, em 1951, foi descrito o alelo s.
Assim, o sistema MN transformou-se em MNSs e, atualmente, sabe-se que esse sistema é formado por
43 antígenos associados a sialoglicoproteínas de membrana e restritos à linhagem eritroide. São
antígenos bem desenvolvidos ao nascimento.
A produção de anticorpos anti-M ou anti-N ocorre somente após sensibilização; assim, não haverá
reação de incompatibilidade se um indivíduo que não tenha o antígeno M (M-) receber um sangue de um
doador com antígeno M (M+), a não ser que ele esteja sensibilizado por transfusões anteriores e
apresente o anticorpo anti-M.
O anticorpo anti-N é mais raro que o anti-M, estando raramente associado a DHRN e reações
transfusionais. O anticorpo anti-S é mais comum do que o anti-s, mas ambos podem desencadear
reações transfusionais hemolíticas moderadas a graves, assim como DHRN.
Além dos sistemas que já estudamos, existem ainda outros antígenos eritrocitários, como o sistema P,
cuja expressão dos antígenos é influenciada por genes do sistema ABO, e o sistema I, presente em
quase todos os adultos e o único expresso no sangue do cordão umbilical.
Esses antígenos não estão comumente envolvidos em reações transfusionais, mas podem causar
hemólise se pacientes sensibilizados (que têm anticorpo contra o sistema P ou I) forem transfundidos
com hemácias que apresentem esse antígeno.
SAIBA MAIS
Nem todos os bancos de sangues têm os materiais necessários para conhecer os antígenos
eritrocitários. Assim, no momento da seleção de bolsas de sangue para a transfusão, é feita a
classificação sanguínea (sistema ABO e Rh) e Kell dos doadores e receptores para os pacientes
imunodeprimidos (como os pacientes que recebem tratamento para câncer). Nos pacientes
imunocompetentes (como pacientes com anemia falciforme), também é verificado o sistema Duffy, para
garantir que os receptores tenham antígenos eritrocitários compatíveis.
DOENÇA HEMOLÍTICA DO RN (DHRN/DHPN) POR RH
OU ABO
A DHRN por anticorpo anti-D é grave na maioria dos casos, caracterizando-se por destruição acentuada
das hemácias do feto. Essa condição é evidenciada por hiperbilirrubinemia, anemia profunda e
hidropsia fetal, que muitas vezes evolui para o óbito.
HIPERBILIRRUBINEMIA
É importante ressaltar que a incidência de DHRN por anticorpo anti-D tem diminuído graças ao
acompanhamento pré-natal e à utilização da imunoglobulina humana anti-D nas mães não
sensibilizadas.
Quando a gestante é Rh negativa e o feto é Rh positivo, eritrócitos fetais entram na circulação materna
geralmente durante o parto e podem sensibilizar a mãe, que passa a produzir anticorpos anti-D. A mãe
também pode ser sensibilizada anteriormente por transfusão de sangue, aborto prévio ou amniocentese,
produzindo anticorpos anti-D. Uma vez sensibilizada, em uma nova gestação de filho Rh positivo, seus
anticorpos anti-D poderão destruir as hemácias do bebê.
COMO PREVENIR
A principal forma de manejo é prevenir a formação de anticorpo anti-D em mulheres Rh negativas por
meio da administração de anticorpos anti-D, que levam à remoção rápida dos eritrócitos fetais Rh
positivos da circulação, antes que eles possam sensibilizar o sistema imunológico da mãe e ela comece
a produzir anti-D. Quando realizada até 72 horas após o nascimento, a imunoprofilaxia com IgRh
promove proteção de 98% a 99% contra a formação de anticorpos anti-D.
A classificação da DHRN como grave está relacionada à morte intrauterina por hidropsia fetal. Já na
doença moderada, o bebê nasce com anemia e icterícia, podendo apresentar palidez, edema e
hepatoesplenomegalia. Se o nível de bilirrubina não conjugada não for controlado, a deposição de
pigmento biliar nos gânglios da base cerebral pode causar dano ao sistema nervoso central, com
possibilidade de levar à deficiência intelectual, surdez e epilepsia. Na DHRN leve, o bebê apresenta
anemia leve com ou sem icterícia.
A classificação sanguínea revela que o bebê é Rh positivo e a mãe negativa, o teste direto de
antiglobulina (chamado de Coombs direto) é positivo e a bilirrubina está elevada.
COOMBS
A doença hemolítica por incompatibilidade do sistema ABO pode ocorrer em qualquer gestação
(incluindo a primeira), podendo não afetar as gestações subsequentes, e se restringe aos recém-
nascidos com tipo sanguíneo A ou B de mães do tipo O. Geralmente, a doença se apresenta com
intensidade mais branda, com anemia leve e de fácil manejo.
A baixa gravidade da DHRN do sistema ABO pode ser explicada pela falta de desenvolvimento total dos
antígenos A e B ao nascimento e pela neutralização parcial dos anticorpos IgG maternos pelos
antígenos A e B em outras células, no plasma e nos fluidos dos tecidos.
RECOMENDAÇÃO
Cabe ressaltar que todas as gestantes devem fazer tipagem dos sistemas ABO e Rh. A pesquisa de
anticorpos irregulares deve ser feita ao menos duas vezes durante todas as gestações por meio do teste
de Coombs.
Este vídeo apresenta as características dos sistemas Kidd e Diego, respectivos tipos de antígenos e
anticorpos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) A ou O.
B) A ou AB.
C) B ou O.
D) B ou AB.
GABARITO
1. (IBFC – 2019 adaptada) Estudamos que o sistema Rh é o mais complexo dos sistemas
eritrocitários, sendo o segundo mais importante, depois do sistema ABO, na medicina
transfusional. Em relação à sua classificação, é correto afirmar que:
Naturalmente, não temos anticorpos anti-Rh em nosso organismo. Assim, quando há sensibilização por
uma gestação ou transfusão sanguínea anterior, os anticorpos são produzidos.
2. (PUC-RP – 2016 adaptada) Vimos a importância do sistema ABO e RH como um dos pilares
para a segurança transfusional. Imagine que determinado banco de sangue veicule a seguinte
solicitação: “O banco de sangue necessita, com a máxima urgência, de sangue tipo A”.
Considerando seus conhecimentos sobre o grupo sanguíneo ABO, pacientes que podem receber
transfusão desse sangue possuem tipo sanguíneo:
Indivíduos do grupo A podem doar sangue somente para indivíduos do grupo A e AB.
MÓDULO 3
TÉCNICAS IMUNOLÓGICAS
Diversas técnicas imunológicas são utilizadas no diagnóstico clínico de doenças infectocontagiosas e no
monitoramento de tratamento por quimioterapia e radioterapia. São úteis, ainda, para a determinação do
grupo sanguíneo de um indivíduo.
PRIMÁRIOS
Verificam a interação direta entre Ag-Ac.
Além de possuir diversas aplicações, de forma geral, o imunodiagnóstico apresenta vantagens como:
Rapidez
Possibilidade de automação
A imuno-hematologia é uma das áreas que utiliza técnicas de imunodiagnóstico para estudar e
classificar os grupos sanguíneos por meio de reações imunológicas entre aglutinógenos e anticorpos.
Na técnica em tubo, são utilizados tubos de vidro ou plástico, onde são colocados os reagentes e as
amostras e, após centrifugação, é verificada a presença de aglutinação.
MICROPLACAS
As técnicas que utilizam as microplacas apresentam o mesmo fundamento que a técnica em tubo, mas
as reações são realizadas em microplacas de acrílico com fundo em “U” ou fundo em “V”.
Fonte: Sunisa Butphet / Shutterstock
GEL TESTE
No gel teste, a reação é feita em um cartão contendo microtubos com gel (Sephadex 6100 ou
poliacrilamida), que possibilitam que os complexos formados após a interação Ag-AC fiquem retidos na
coluna do gel quando submetidos à centrifugação. A presença de aglutinação (botão de hemácias)
retida no gel indica que o teste é positivo. O gel teste apresenta uma vantagem em relação aos outros
dois, pois a reação é estável e permite que o cartão fique guardado por até 48 horas, possibilitando
revisão do resultado.
A condução dos testes imuno-hematológicos no laboratório deve ser criteriosa e seguir as normas de
biossegurança, o procedimento operacional padrão e todas as indicações das bulas dos fabricantes dos
reagentes. Diversos fatores podem influenciar a qualidade dos ensaios imuno-hematológicos.
SAIBA MAIS
Devem ser utilizadas vidrarias limpas e sem resíduos de detergente, pois a presença de
interferentes pode favorecer a formação de aglutinatos (Agregados formados por aglutinação.) ,
levando a resultados falso-positivos.
Deve ser utilizada a técnica adequada para separação do soro.
As suspensões de hemácias com Salina (NaCl 0,9%) devem ser preparadas corretamente, uma
vez que concentrações muito abaixo ou acima da ideal podem levar a resultados falsos negativos.
PRÁTICAS IMUNO-HEMATOLÓGICAS:
CLASSIFICAÇÃO DO SISTEMA ABO
PROVA DIRETA
Na prova direta, ou teste de Beth-Vincent, faz-se a pesquisa de antígenos fixados nas hemácias do
indivíduo. Para isso, são utilizados soros (anticorpos anti-A, anti-B e anti-A, B) que apresentam a
capacidade de reconhecer e ligar-se aos antígenos eritrocitários, permitindo a definição dos grupos
sanguíneos: A, B, AB, O.
PROVA REVERSA
Na prova reversa, ou teste de Simonin, faz-se a pesquisa do anticorpo presente no soro (ou plasma)
do indivíduo. Esse teste deve ser feito com hemácias com o tipo sanguíneo A e B conhecido. Essa prova
é uma contraprova essencial para a conclusão da tipagem sanguínea, devendo ser sempre realizada,
exceto em bebês com idade inferior a quatro meses de idade, isto porque os anticorpos do sistema ABO
estão ausentes ao nascimento, sendo detectados após os primeiros meses de vida.
Grupo A
Grupo B
Grupo
AB
Grupo O
Classificação sanguínea pela prova direta e reversa. Fonte: Ministério da Saúde (2014).
É importante ressaltar que o anticorpo B geralmente apresenta título mais fraco que os demais
anticorpos. As provas direta e reversa são complementares entre si. É possível ocorrerem discrepâncias
por alterações nos antígenos, no soro/plasma ou devido a erros laboratoriais. Antes de o laudo
laboratorial ser liberado, os resultados discrepantes devem ser esclarecidos.
SAIBA MAIS
Em bebês com menos de quatro meses de idade, podemos observar a presença de anticorpos maternos
durante a classificação sanguínea. Em pacientes imunodeprimidos, durante a prova reversa, podemos
não observar os anticorpos devido à sua baixa produção nesses pacientes.
ATENÇÃO
Além dos quatro tipos sanguíneos conhecidos (A, B, AB, O), existem alguns subgrupos dos grupos A, B
e AB. Os subgrupos do antígeno A e B apresentam algumas mutações no gene que codifica essas
moléculas, o que leva a uma menor expressão e presença desses antígenos na membrana dos
eritrócitos. Durante a classificação direta em pacientes com esses subgrupos, a baixa expressão desses
antígenos gera uma reação fraca nos testes imunológicos, gerando discrepâncias entre a prova direta e
a reversa.
A classificação do Rh é feita pela tipagem direta, com a utilização de soros comerciais contendo
anticorpos anti-D monoclonais ou policlonais, que identificam a presença de antígenos na superfície dos
eritrócitos, classificando os indivíduos como RhD positivo (aglutinação direta) e RhD negativo
(ausência de aglutinação).
O antígeno RhD exibe um extenso polimorfismo, podendo se apresentar como D normal, com fraca
expressão (D fraco) devido a substituições de aminoácidos na proteína D ou como um antígeno
modificado (D parcial) pela ausência de um ou mais epítopos. Em testes sorológicos de rotina para
tipagem Rh, é difícil distinguir entre o D fraco e o D parcial, sendo necessários estudos moleculares.
A pesquisa de D fraco deve ser feita sempre que a classificação do RhD for negativa, isto é, quando não
houver aglutinação. A classificação correta do sistema RhD e de suas variantes tem grande relevância,
uma vez que esse antígeno é o mais imunogênico quando comparado aos demais antígenos
eritrocitários conhecidos até o momento.
O teste da antiglobulina humana ou teste de Coombs foi descoberto em 1945 e destina-se à pesquisa de
anticorpos e proteínas do sistema complemento. O sistema imunológico pode produzir anticorpos contra
eritrócitos nos seguintes casos:
Anemia hemolítica
DHRN
Mononucleose infecciosa
Sífilis
Reação transfusional
O TAD é realizado com suspensão a 5% de eritrócitos do paciente em soro fisiológico e adição do soro
de Coombs (anticorpo anti-Ig humano, que reconhece uma região do IgG). Posteriormente, a mistura é
centrifugada para a verificação da aglutinação. A presença de aglutinação (TAD positivo) indica
sensibilização (anticorpos ligados a hemácias).
Uma das maiores aplicações do teste de Coombs direto é na pesquisa da DHRN. Nas mães com o fator
Rh negativo com o recém-nascido com fator Rh positivo, a realização do TAD permite verificar se a mãe
produziu anticorpos anti-Rh e se estes atingiram o bebê, podendo levar ao desenvolvimento da doença.
Além de casos de DHRN, a realização do TAD é indicada em casos de anemia hemolítica autoimune,
anemia induzida por medicamentos e na reação transfusional. O TAD positivo não significa que o
paciente necessariamente apresenta anemia hemolítica autoimune e o teste negativo não exclui
hemólise imune. Assim, todo paciente com TAD positivo deve ser submetido a uma avaliação clínica
criteriosa e a testes adicionais.
Normalmente, realiza-se este teste para detectar a presença de anticorpos no sangue de um receptor ou
doador antes de uma transfusão. Além disso, tem utilidade no acompanhamento pré-natal, sendo
possível proteger os bebês no início da gestação, caso a mãe tenha sangue Rh negativo.
Esse teste é utilizado como uma triagem para pesquisa de anticorpos irregulares; caso o TAI apresente
resultado negativo, isso indica que a amostra testada não tem anticorpos livres (irregulares), que
reagiriam, assim, com eritrócitos. De forma diferente, TAI positivo indica a presença desses anticorpos,
sendo necessários testes adicionais para identificar qual anticorpo foi formado, pesquisando-se, assim,
os diferentes tipos de antígenos eritrocitários (sistemas Rh, Duffy, Lewis, Kell, MNS, dentre outros).
Na gestante ou na mulher Rh negativa que esteja planejando engravidar, o teste de triagem positivo
pode ser indicativo da presença de um anticorpo anti-Rh, ou seja, sugere que a mãe foi sensibilizada, e
deve ser realizada a testagem sanguínea no feto e o acompanhamento médico para evitar riscos ao
bebê. Caso o teste seja negativo, isso indica que a mãe não foi sensibilizada. Durante o pré-natal, esse
teste é sempre solicitado.
Durante os exames transfusionais para transfusões de concentrados de hemácias (CH), devemos fazer
a classificação sanguínea (ABO e Rh) e a pesquisa de anticorpos irregulares (TAI) no receptor e no
doador.
Além disso, deve-se fazer a prova cruzada, que consiste em verificar se o receptor tem anticorpos contra
algum antígeno eritrocitário do doador, o que pode levar a uma reação transfusional.
Fonte: cawee / Shutterstock
Para isso, é realizada a testagem do soro ou plasma do paciente (receptor) com as hemácias do
possível doador e é verificada a presença de aglutinação. Caso haja aglutinação, o receptor não pode
receber aquela bolsa de CH e o sangue de outros doadores deve ser compatibilizados.
ATENÇÃO
Caso a pesquisa de anticorpos irregulares (TAI) no paciente (receptor) seja positiva, mostrando a
presença de anticorpos irregulares, e a prova cruzada, negativa, o paciente pode receber o sangue,
pois, como não ocorreu aglutinação na prova cruzada, o doador não apresenta antígenos eritrocitários
que interajam com o anticorpo irregular produzido pelo paciente. No entanto, devemos realizar testes
adicionais para descobrir qual anticorpo irregular o paciente desenvolveu.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
B) Se uma mulher Rh negativo gera um bebê Rh positivo, ela pode vir a produzir anticorpos contra as
células do sangue do segundo filho Rh positivo.
D) A DHRN é investigada apenas quando a gestantes são Rh positivo e o primeiro filho tem Rh negativo,
independentemente da tipagem ABO.
B) Um indivíduo D fraco somente poderá doar sangue para outro indivíduo D fraco.
C) Um indivíduo D fraco, por expressar menos sítios antigênicos, poderá doar sangue para indivíduos
Rh negativo.
D) O D fraco pode ser detectado com o teste da antiglobulina indireta, indicando tratar-se de um
indivíduo Rh positivo.
GABARITO
A condição necessária para que ocorra a DHRN é a mãe apresentar tipo sanguíneo Rh negativo e ter
um primeiro filho Rh positivo, que a sensibilizará. Sendo a segunda gestação de um feto Rh positivo, os
anticorpos da mãe previamente sensibilizada destruirão as hemácias desse segundo filho. O teste de
Coombs indireto é realizado para verificar a presença de anticorpos do tipo irregular, e o teste de
Coombs direto é um teste que detecta anticorpos (gamaglobulinas) do tipo IgG ou fração do sistema
complemento que estão ligados às hemácias.
2. (ENADE – 2007 adaptada) O sistema de grupo sanguíneo Rh é um dos mais importantes, sendo
determinado pela presença (Rh positivo) ou ausência (Rh negativo) do antígeno D. Entretanto,
foram descritos eritrócitos que expressam poucos antígenos D e são designados como D fraco.
Um indivíduo portador do D fraco pode aparecer como Rh negativo em testes quando as
amostras são tipadas apenas com antissoros contra o antígeno D. É correto afirmar que:
A pesquisa do antígeno D fraco é realizada em amostras de sangue que apresentam reações fracas ou
nulas em testes de aglutinação direta com soro anti-D. O teste de Coombs indireto ou teste da
antiglobulina indireta (TAI) pode esclarecer esses casos, pois o teste positivo indica indivíduo Rh
positivo.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo desta jornada, apreendemos como o sistema imunológico está ordenado para defender o
organismo contra patógenos invasores por meio da imunidade inata e adquirida. Entendemos a
importância dos anticorpos e como se dá a interação específica com os diversos antígenos a que
estamos expostos diariamente.
Visitamos os antígenos eritrocitários e vimos como podem ser classificados esses antígenos em
diferentes sistemas, sendo que os sistemas ABO e Rh apresentam maior relevância clínica, uma vez
que estão envolvidos em reações transfusionais e na doença hemolítica do recém-nascido. Entretanto, o
sistema Rh é capaz de causar as formas mais graves dessa doença.
Além disso, entendemos os princípios dos métodos imuno-hematológicos utilizados na rotina laboratorial
para a determinação dos tipos sanguíneos e detecção de anticorpos produzidos contra eritrócitos,
identificando sua importância na prática clínica.
REFERÊNCIAS
ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. 8. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier HS – Education, 2015.
ROITT, I. M.; DELVES, P. J.; BURTON, D. R. Fundamentos de imunologia. 13. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2018.
SILVA, P. H. et al. Hematologia laboratorial: teoria e procedimentos. Porto Alegre: Artmed, 2016.
EXPLORE+
Descubra como o funcionamento do sistema imunológico pode sofrer influência hormonal lendo o
artigo Pós-menopausa e o sistema imune, de Marco Antonio Faria et al.
Aprenda mais sobre o teste de Coombs assistindo ao vídeo intitulado Coombs direto/avaliando
hemólise em recém-nascido.
CURRÍCULO LATTES
DESCRIÇÃO
A construção do conhecimento sobre o diagnóstico sorológico e controle de qualidade na
imunologia clínica.
PROPÓSITO
Compreender a importância dos testes sorológicos realizados com padrões definidos de
qualidade auxilia na investigação diagnóstica, no acompanhamento do prognóstico de uma
doença e na verificação da eficácia terapêutica garantindo assim resultados confiáveis.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
INTRODUÇÃO
Neste tema, exploraremos a importância do diagnóstico sorológico. Inicialmente, vamos
entender por que os métodos de diagnóstico sorológicos são classificados em qualitativos e
quantitativos. Você sabe a diferença entre esses dois tipos de análises? Vamos juntos observar
a importância da sorologia para definir um diagnóstico, a fase clínica e o prognóstico da
doença, a eficiência terapêutica, a seleção de doadores e receptores de sangue e órgãos e
entender mais sobre o conceito de soroconversão. Também será possível entendermos sobre o
diagnóstico coletivo. Você já ouviu falar sobre soroepidemiologia e soroprevalência?
Para que um método diagnóstico sorológico atenda a todos esses aspectos, é necessário
verificar parâmetros diretamente relacionados à eficiência e qualidade dos testes de fornecer
resultados fidedignos. Todos esses parâmetros fazem parte do controle da qualidade em
imunologia.
Vamos juntos nos próximos módulos conhecer mais acerca desses assuntos!
MÓDULO 1
Identificar a importância do diagnóstico sorológico
DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO
Os métodos sorológicos são desenvolvidos a partir do reconhecimento antígeno-anticorpo. Os
antígenos são qualquer molécula estranha ao organismo, como fungos, bactérias, vírus e
protozoários, que estimulam a produção de imunoglobulinas.
IMUNOGLOBULINAS
Diagnosticar infecções
Além disso, contribuem para o diagnóstico de infecções causadas por patógenos difíceis de
visualizar a partir de fluidos biológicos ou alojados em uma estrutura tecidual do hospedeiro.
Assim, não há necessidade de realizar exames mais invasivos, como biopsias, ou utilizar
métodos que necessitem de uma estrutura e profissionais especializados, como os métodos
moleculares. Esses testes são altamente empregados, pois são de fácil execução, apresentam
baixo custo, em alguns casos, há possibilidade de automação e conferem resultados e
diagnóstico rápidos, possibilitando um tratamento imediato.
SAIBA MAIS
Para a aplicação correta e a interpretação eficiente dos resultados, é necessário que a técnica
seja executada por um profissional bem treinado, a fim de evitar equívocos e intercorrências
nos resultados.
Pode haver uma demora no diagnóstico de algumas doenças, pois é necessário aguardar que
a produção dos anticorpos seja detectável. Em alguns casos, há reações cruzadas, gerando
resultados falso positivos.
REAÇÃO CRUZADA
Alguns anticorpos podem ter habilidade de interagir com mais de um antígeno que
apresentem propriedades químicas similares.
QUANTITATIVO
Resultado: Teste rápido para a detecção de anticorpos da dengue do tipo IgM: Positivo.
O médico, então, informa ao paciente que ele está com dengue, pois seu resultado detectou,
de modo qualitativo, a presença de anticorpos contra o vírus causador dessa doença. Os
anticorpos da classe IgM são os primeiros a serem produzidos durante uma infecção, e indicam
que o paciente está com a infecção ativa, ou seja, com a doença.
Alguns tipos de testes sorológicos qualitativos são muito utilizados no ambiente laboratorial,
como os testes rápidos para HIV, coronavírus, sífilis, zika, H. pylori, rotavírus, dentre outros.
Esses testes apresentam um resultado rápido e contribuem com um diagnóstico em poucos
minutos (Figura 1).
Fonte: Shutterstock.
Teste rápido para detecção de anticorpos contra o coronavírus.
ATENÇÃO
Quando desejamos que um resultado seja medido, ou seja, tenha um valor quantificado,
devemos utilizar o método quantitativo. Nesse tipo de método, a quantidade de antígenos, ou
anticorpos, pode ser expressa das seguintes maneiras:
• No formato de cruzes (positivo +/++++; ++/++++; +++/++++; ++++/++++, onde 4 “+” indicam o
máximo de positividade do método)
• Unidades de medidas (UI/mL, % e mg/ mL) que apresentem o valor absoluto do analito
ANALITO
Se o mesmo paciente fosse realizar o exame para a dengue, mas agora com um teste
quantitativo para detecção de anticorpos, ele receberia o seguinte resultado:
Teste de sorologia para detecção de anticorpos da dengue do tipo IgM igual a 63 UI/mL,
reagente. Valores de referência: IgM > 30: reagente, IgM > 30: Não reagente.
Agora, além de saber que o exame foi positivo (reagente), o médico tem a concentração de
anticorpo (63 UI/mL).
ATENÇÃO
Alguns autores classificam a detecção de títulos dos anticorpos pela diluição da amostra como
uma metodologia semiquantitativa. Também é classificado como semiquantitativo o resultado
em cruzes. Nesses métodos, não é possível obter os valores absolutos (reais) de anticorpos.
A determinação do tipo de método qualitativo ou quantitativo deve estar alinhado com a clínica
do paciente, pois, dependendo do interesse médico, é necessário apenas descobrir a presença
de um anticorpo para o diagnóstico e tratamento rápido. Nesses casos, é utilizada uma
metodologia qualitativa.
Fonte: Shutterstock.
Figura 2: ELISA.
IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO
INDIVIDUAL
Como mencionado anteriormente, os métodos sorológicos na pesquisa de anticorpos, ou
antígenos, são amplamente empregados para tentar conhecer o agente causador de uma
infecção, auxiliando no diagnóstico de uma suspeita clínica principal. Assim, durante uma
avaliação, a sintomatologia apresentada pelo paciente indica algumas suspeitas diagnósticas,
a partir desse resultado, o médico pode chegar a uma conclusão e iniciar o tratamento. É
importante ressaltar que os indivíduos podem ter respostas diferentes frente ao mesmo invasor,
variando a sintomatologia, o perfil e a quantidade de anticorpos produzidos. Um exemplo dessa
situação é a infecção pelo novo coronavírus, que apresenta pacientes sintomáticos (Com
sintomas) leves, graves, com perfis e quantidade de produção de anticorpos diferentes. Além
disso, esses exames ajudam a entender os processos patológicos com sinais e sintomas
clínicos confundíveis.
Fonte: Shutterstock.
EXEMPLO
ARBOVIROSE
Doenças causadas pelos arbovírus que são transmitidos por artrópodes (mosquitos) que
causam febre, dor de cabeça, mal estar, dor nas articulações, manchas vermelhas e
erupção na pele, náuseas e vômitos.
PROCESSO DE SOROCONVERSÃO
A soroconversão é o termo dado para indicar que um organismo produziu anticorpos após o
contato com um antígeno. Durante uma resposta imunológica, o contato com um antígeno
geralmente induz a produção de anticorpos, mas a detecção destes pelos métodos sorológicos
disponíveis pode demorar semanas ou até meses. O período entre a produção e a detecção
dos anticorpos pelos métodos é chamado de janela imunológica, janela sorológica ou
janela de soroconversão. Nesse intervalo, mesmo que um paciente esteja infectado, a
pesquisa de anticorpos será negativa.
Vamos a um exemplo?
Na infecção pelo novo coronavírus, causado pelo vírus SARS-COV2, a produção de anticorpos
do tipo IgM, pelos testes sorológicos de ELISA ou testes rápidos, normalmente, é detectada a
partir de 7 dias do início dos sintomas. Um paciente com sintomas ao realizar o exame
sorológico antes desse período terá um resultado negativo, ou seja, falso negativo.
A soroconversão nos pacientes com HIV é um exemplo clássico. Durante muito tempo, a
enorme janela imunológica e o tempo para o aparecimento dos sintomas contribuíram
diretamente para o aumento da disseminação do vírus no mundo, contaminando pessoas que
recebiam transplantes e transfusões sanguíneas. Havia ainda um atraso no início do
tratamento dos contaminados, os quais não sabiam que estavam doentes. Nessa época, a
janela imunológica era de 6 meses.
Após a infecção pelo HIV, ocorre intensa replicação viral. Nas primeiras 3 semanas, fase em
que ocorre a disseminação do vírus pelo corpo com contaminação dos órgãos linfoides, podem
aparecer sintomas relacionados a uma síndrome retroviral aguda, como: febre, adenopatia,
faringite, mialgia, exantema, náuseas, vômitos, sudorese, dentre outros, sintomas caraterísticos
de uma gripe.
Em seguida, ocorre a fase de latência, que pode durar semanas, meses ou anos. Nessa fase, o
exame clínico e laboratorial passa a ser normal e a pessoa não tem mais sintomas.
Com o passar dos anos, à medida que a infecção progride e os sintomas passam a ser mais
frequentes, começam a surgir as infecções oportunistas. É apenas nessa fase que o paciente
percebe que está infectado.
O organismo começa a produzir anticorpos anti-HIV entre 30-60 dias após a infecção. Os
primeiros testes sorológicos desenvolvidos para confirmação sorológica do HIV (primeira
geração) apenas conseguiam detectar a presença dos anticorpos anti-HIV após 6 meses da
infecção. Nos dias atuais, a confirmação sorológica depende do tipo de imunoensaio utilizado.
Os ensaios de ELISA (de quarta geração) mais modernos são capazes de detectar a
presença de antígenos e anticorpos ao mesmo tempo, a janela imunológica é de
aproximadamente 15 dias. Na figura a seguir, podemos perceber a evolução na concentração
plasmática dos marcadores da infecção pelo HIV. O anticorpo IgM apresenta um pico após 4
semanas da infecção (30 dias), diferente do RNA viral, que é visto nas primeiras semanas e
pode ser detectado através de técnicas moleculares.
QUARTA GERAÇÃO
Ensaios que detectam anticorpos contra o antígeno p24 e antígenos (proteínas) do HIV-1
(como as proteínas gp160, gp120 e gp41), antígenos do grupo O e antígenos de HIV-2.
Fonte: CONICTEC, 2017.
Figura 4: Marcadores sanguíneos da infecção do HIV.
Fonte: O autor.
Figura 5: Fases da doença.
Fonte: Shutterstock.
Figura 6: Tipos de imunoglobulinas produzidas pelo organismo.
Na maioria das infecções, a imunoglobulina IgM é a primeira a ser produzida após um estímulo
imunogênico, aumentando significativamente seus níveis plasmáticos durante a fase aguda da
doença. Normalmente, a detecção de IgM na corrente sanguínea é um indicativo de infecção
recente, mas essa imunoglobulina pode permanecer de 3-6 meses no organismo. Ao longo da
infecção e do prognóstico da doença (sua evolução), temos a diminuição da concentração
plasmática de IgM e o aumento da produção e detecção da imunoglobulina do tipo IgG. A IgG
é, normalmente, encontrada no final de um processo agudo, permanecendo com níveis
plasmáticos elevados durante longos períodos na fase denominada crônica e após a cura da
doença. Essa imunoglobulina é associada à memória imunológica e pode permanecer elevada
durante a vida toda (Figura 7).
Fonte: O autor.
Figura 7: Esquema do aparecimento das imunoglobulinas e do tipo de infecção.
A dosagem dessas imunoglobulinas (IgM e IgG) é de suma importância para identificar a fase
da doença. Se um paciente apresenta um IgM positivo para o coronavírus com IgG negativo,
então, encontra-se na fase aguda da doença, ou seja, a fase altamente transmissível,
necessitando ficar em isolamento social.
Fonte: Shutterstock.
Figura 8: Teste rápido negativo para a detecção de IgM e IgG e da proteína não estrutural
NS1 da dengue. Não vemos a reação (aparecimento de linhas vermelhas) na região G, M
(cassete da direita) e T (cassete da esquerda).
EFICÁCIA TERAPÊUTICA
Podemos analisar se um paciente está curado pela ausência dos sintomas e pela presença de
níveis séricos de IgG e níveis não detectáveis de IgM.
Além disso, podemos verificar se uma vacina foi eficaz pela dosagem de anticorpos IgG depois
de pelo menos 1 mês da vacinação ou após anos, avaliando a necessidade de uma segunda
dose.
ATENÇÃO
Os diagnósticos sorológicos são bastante utilizados para estabelecer a seleção entre doadores
e receptores de sangue e órgãos. O transplante é a substituição de um órgão ou tecido com
alterações irreversíveis que são comprometedoras para a vida. A transfusão de sangue
consiste na administração de componentes sanguíneos de um doador (hemácia, plasma,
plaquetas, crioprecipitados) em um paciente. Para saber se uma pessoa pode ser
transplantada ou transfundida, são realizados exames sorológicos para detecção de doenças
infectocontagiosas e a prova de compatibilidade, que pesquisa da presença de antígenos do
doador que interagem com anticorpos do receptor. Os doadores e receptores de órgãos
precisam apresentar características biológicas similares, buscando a diminuição ou
neutralização da rejeição do órgão/tecido transplantado. Os antígenos responsáveis pela
rejeição dos transplantes são denominados aloantígenos, que são conhecidos como antígenos
de histocompatibilidade e se dividem em:
Fonte: Shutterstock.
DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS
Fonte: O autor.
Figura 10: Complexo de Histocompatibilidade principal (MHC), responsável pela
apresentação de antígenos as células T. Os genes do sistema de antígenos leucocitários
humanos (HLA, human leukocyte antigen) codificam as principais moléculas encarregadas da
apresentação do antígeno na superfície celular que se encontra em uma região genômica
chamada de MHC. Embora esses genes sejam conhecidos como HLA, muitos autores usam
MHC para designar as moléculas resultantes da expressão desses genes. Fonte: O autor.
REJEIÇÃO HIPERAGUDA
REJEIÇÃO AGUDA
REJEIÇÃO CRÔNICA
REJEIÇÃO HIPERAGUDA
Ocorre minutos ou dias após o transplante, é causada pela ação de anticorpos IgM contra
antígenos do sistema ABO, HLA ou antígenos expressos no endotélio vascular.
REJEIÇÃO AGUDA
Ocorre poucos dias ou semanas após o transplante, é mediada pelas células T e pelos
anticorpos que respondem especialmente ao MHC.
REJEIÇÃO CRÔNICA
Ocorre seis meses a um ano após o transplante através da imunidade celular e humoral
adquirida, que cria respostas contra o enxerto.
Tipagem
sanguínea Teste utilizado para identificar tipo sanguíneo e fator Rh
(ABO)
Reatividade Método utilizado para avaliar status imunológico do paciente,
contra painel detecção de moléculas HLA reconhecida pelo paciente
(PRA)
Tipagem de
Detecta compatibilidade entre o HLA do doador e do receptor
tecidos
DIAGNÓSTICO COLETIVO
SOROPREVALÊNCIA
Refere-se ao número de pessoas que apresentam anticorpos detectáveis contra um agente
infeccioso, ou seja, a reação de soropositividade desenvolvida a partir da soroconversão.
SOROEPIDEMIOLOGIA
Acompanha os pacientes, através dos exames de diagnóstico, que apresentaram marcadores
sorológicos (anticorpos) contra algum microrganismo, associando esses dados aos fatores
sociais, ambientais e econômicos; assim, é possível estudar as melhores estratégias para a
saúde pública da população.
IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO DE IGM E
IGG NA INFECÇÃO POR COVID-19
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ESTUDAMOS QUE UMA DAS APLICABILIDADES DO DIAGNÓSTICO
SOROLÓGICO É DETECTAR A PRESENÇA DE ANTÍGENO OU
ANTICORPOS DURANTE UM PROCESSO INFECCIOSO DE MANEIRA
QUALITATIVA E QUANTITATIVA. COM RELAÇÃO A ESSAS ANÁLISES,
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
D) As análises quantitativas e qualitativas de antígenos são a mesma coisa, visto que ambas
definem um teste sorológico.
GABARITO
MÓDULO 2
BANCO DE SOROS
Fonte: Shutterstock.
Nos laboratórios de imunologia, recebemos diversas amostras de soros de pacientes para
testagem sorológica. Buscando melhores maneiras de organizar e armazenar esses soros, seja
para uma possível retestagem, seja devido ao seu potencial terapêutico (medicamento), eles
são guardados em um banco, uma espécie de biblioteca, também conhecida como sorotecas.
Essa organização também facilita o rápido levantamento dos soros testados em uma rotina
laboratorial. Esses bancos são importantes porque garantem a rastreabilidade dos resultados
encontrados, ou seja, possibilitam que uma análise seja repetida para a confirmação do
resultado encontrado.
ATENÇÃO
As bibliotecas (coleção catalogada de soros) também são utilizadas para armazenar amostras
representativas de uma população e assim preservar as características imunológicas. Quando
os soros são armazenados com essa finalidade, é necessário a permissão do comitê de ética.
Normalmente, esses soros são separados pelo tipo de análise, ou seja, pelo tipo de agente
infeccioso que se deseja investigar. Os tubos armazenados apresentam a identificação do
paciente (nome completo ou iniciais e/ou o número do exame laboratorial), data da coleta da
amostra e tipo de microrganismos investigados. Essas amostras então são acondicionadas em
tubos por um período de 5 a 10 anos e mantidas em congelamento (-20 °C) até serem
utilizadas e/ou descartadas futuramente.
No caso de um laboratório de pesquisa, esses soros ficam separados de acordo com suas
similaridades e podem ser importantes para estudos futuros, devendo ficar armazenados a
uma temperatura de -80 °C.
Segundo a Resolução da diretoria colegiada (RDC N°34/ 2014), os bancos de sangue devem
armazenar a plasmateca, ou soroteca, dos doadores por pelo menos 6 meses na temperatura
de -20 °C. No entanto, em alguns banco de sangues, esse armazenamento é feito por mais de
5 anos. Esse armazenamento é muito importante, pois, caso um paciente receba um
componente sanguíneo negativo para todas as doenças infectocontagiosas e, depois de alguns
meses da transfusão, apresente exame sorológico positivo para HIV, por exemplo, o doador
deverá ser encontrado e novos exames deverão ser realizados com o soro armazenado na
plasmateca e com a amostra atual, a fim de verificar se a contaminação foi através da
transfusão. Além disso, durante o processamento do sangue após a doação, caso haja
qualquer dúvida nos resultados sorológicos, podem ser utilizadas amostras de soro
armazenadas para novas testagens.
Fonte: Shutterstock.
REPRODUTIBILIDADE
A reprodutibilidade representa a capacidade dos métodos de produzir resultados iguais,
mesmo em condições distintas de análises, sendo precisos e confiáveis. Um teste sorológico é
de alta reprodutibilidade quando, após análises repetidas em uma mesma amostra ou
amostras provenientes de um mesmo paciente, são encontrados resultados similares.
ACURÁCIA
A acurácia (Validade ou exatidão) de um método é a sua capacidade de fornecer resultados
verdadeiros, ou seja, quanto aquele método é útil para predizer ou diagnosticar um evento que
se propôs de maneira qualitativa ou quantitativa. Para determinar a acurácia de um método,
devemos comparar o resultado do teste com os resultados de um padrão, que pode ser a
clínica do paciente, exames disponíveis ou um ensaio que possa servir como referência
(considerado padrão-ouro).
Durante a validação de um teste rápido novo para a detecção de anticorpos para a dengue do
tipo IgM e IgG, devemos, além de realizar o teste sorológico, compará-lo com o padrão-ouro
preconizado, que seria a detecção de antígenos virais (NS1) observados logo no início da
infecção, ou então compará-lo com o resultado de um exame sorológico já validado, verificando
a acurácia e a reprodutibilidade do teste novo com o padrão. No caso da dengue, um teste
rápido para identificar o antígeno NS1 pode ser comparado com a detecção molecular da
partícula viral.
Uma amostra é depositada em uma área pré-determinada, que está impregnada com um
anticorpo (A) complexado ao ouro coloidal. A presença do antígeno na amostra possibilita a
ligação com o anticorpo complexado ao ouro (A) e posterior migração por capilaridade pela fita
teste de nitrocelulose.
Ao migrar, o anticorpo A vai se complexar, tanto com o anticorpo B (reconhece o antígeno),
quanto com o anticorpo C (reconhece o anticorpo A), gerando uma cor e formando assim 2
bandas coloridas (teste positivo).
Caso não haja o antígeno na amostra, não teremos a ligação de nenhum antígeno com os
anticorpos A e B, mas teremos a ligação do anticorpo A com o anticorpo C, resultando em
apenas 1 banda (resultado negativo).
Fonte: Wikimedia.
Figura 13: Desenho esquematizando um teste rápido para a detecção de anticorpos do tipo
IgG.
O teste sorológico ideal deve fornecer a resposta correta, ser rápido, seguro, simples, inócuo,
confiável e de baixo custo. Os resultados possíveis encontrados durante uma validação de um
novo teste são:
Fonte: UFG.
Quadro 3: Resultados esperados durante a validação de testes sorológicos novos em
comparação a um teste de referência (padrão-ouro).
A partir dos resultados encontrados para a determinação da acurácia, podemos calcular alguns
parâmetros para avaliar o desempenho do método. Vamos conhecê-los?
EFICIÊNCIA DO TESTE
Capacidade do teste detectar os pacientes que apresentam ou não a doença, ou seja, quantos
indivíduos são verdadeiramente positivos e negativos dentro de uma população total. Mede
quanto o teste apresenta resultados fidedignos.
SENSIBILIDADE
Indica quanto um teste consegue determinar em um grupo de indivíduos aqueles que
realmente se encontram verdadeiramente positivos.
OS CASOS COM RESULTADO FALSO NEGATIVO SÃO
INTERPRETADOS COMO UMA FALHA NA
SENSIBILIDADE DO ENSAIO. UM TESTE ALTAMENTE
SENSÍVEL, DIFICILMENTE, DEIXA DE ENCONTRAR
PESSOAS DOENTES E, POR ISSO, É USADO PARA A
TRIAGEM DE UMA DOENÇA NAS ROTINAS
LABORATORIAIS.
ESPECIFICIDADE
Indica quanto o teste consegue determinar em um grupo de indivíduos aqueles que não estão
doentes, os verdadeiramente negativos.
EXEMPLO
Na rotina de um laboratório, a triagem sorológica para HIV é realizada a partir de exames com
alta sensibilidade (ELISA) . Todos os exames positivos são confirmados com testes altamente
específicos, como o Western blot.
WESTERN BLOT
Técnica que detecta proteínas em amostras após a eletroforese, transferência para uma
membrana de nitrocelulose, e o reconhecimento do antígeno e do anticorpo.
Um exame sorológico para verificar a presença de anticorpos IgM contra o COVID-19 foi
realizado em 1000 indivíduos, onde foram detectados 100 testes positivos e 900 negativos.
POSSIBILIDADE 1
Digamos que um teste apresente sensibilidade de 80% e foram encontradas 100 pessoas
positivas. Concluímos dos 100 pacientes positivos, 80 são de fato positivos e 20 são falso
negativos, ou seja, estão doentes e não são detectados no exame.
POSSIBILIDADE 2
Digamos que um teste apresente 80% de especificidade e encontre 900 pacientes não
infectados. Concluímos que, dos 900 pacientes, 720 são negativos e 180 são falso positivos,
ou seja, são positivos no teste, mas não estão infectados.
Um teste de diagnóstico ideal deve ter alta sensibilidade (evitar falso negativo) e alta
especificidade (evitar resultados falso positivo). Os problemas encontrados durante a avaliação
da sensibilidade ou especificidade de um teste estão relacionados a erros sistemáticos
inerentes aos métodos. Os erros sistemáticos podem ser:
PRÉ-ANALÍTICOS
Correspondem a toda fase anterior à análise e à chegada ao laboratório. Exemplos: problemas
na coleta, no transporte, no armazenamento, na conservação e nas características da amostra
(hemólise, lipídico, contaminado).
ANALÍTICOS
Correspondem à análise em si, a erros de pipetagem, nos equipamentos (manutenção e
calibração), nos reagentes disponíveis (validade, contaminação, diluição).
PÓS-ANALÍTICOS
Correspondem a erros na interpretação dos resultados. Exemplo: erros de cálculos,
interpretação e transcrição.
Após receber um exame com um diagnóstico que mostre um determinado marcador sorológico
positivo ou negativo, como saber se o paciente está doente ou sadio? Esse parâmetro é
avaliado pelos valores de predição (VP), que indicam a probabilidade de um determinado
paciente que apresentar diagnóstico positivo ou negativo esteja verdadeiramente doente ou
sadio. O VP é dividido em valor preditivo positivo (VPP) e valor preditivo negativo (VPN) .
Fonte: Shutterstock.
Exemplo: um método que apresenta VPP de 80% indica que, a cada 10 testes positivos, 8 são
de pacientes infectados.
Fonte: Shutterstock.
Exemplo: um método com VPN de 80% indica que, a cada 10 testes negativos, 8 são de
pacientes sadios.
Um teste foi realizado em 500 pessoas. O resultado foi negativo para 225 indivíduos, dentre os
quais, 200 estavam de fato saudáveis e 25 doentes.
O resultado foi positivo para 275 pessoas, dentre elas, 210 estavam realmente doentes e
outras 55 estavam saudáveis. Qual o valor preditivo positivo (VPP) e negativo (VPN) desse
teste?
VPP
Indica a probabilidade de um doente ter efetivamente a doença. Das 275 pessoas positivas,
210 estavam realmente doentes, assim, temos que: VPP = 210/275 = 0,76
VPN
Indica a probabilidade de uma pessoa sadia não ter a doença, das 225 pessoas com resultado
negativo, apenas 200 estavam sem a doença: então 200/225 =0,89
RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA
RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA NEGATIVA (RV -)
Verifica quantas vezes é mais provável encontrar um resultado negativo em pessoas doentes,
quando comparadas com não doentes.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) I e III
B) I e II
C) II e III
D) Apenas a III
GABARITO
1. Apreendemos que a sensibilidade é uma medida que pode ser obtida durante a
avaliação da validade de um teste. Com relação à sensibilidade dos testes, assinale a
alternativa correta:
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O diagnóstico sorológico é de suma importância, pois auxilia na identificação de agentes
etiológicos e pode determinar as fases de uma doença, garantindo ao paciente um diagnóstico
confiável e um tratamento seguro. Além disso, a evolução desses métodos ao longo dos anos
tornou a doação de sangue e órgãos mais segura, diminuindo a contaminação por doenças
infectocontagiosas e mimetizando o número de reações de incompatibilidades. Vimos que
esses métodos podem ser qualitativos (conferem resultados que definem uma qualidade) ou
quantitativos (quando os resultados apresentam um valor mensurável).
Visitamos ainda os principais conceitos ligados ao controle de qualidade dos testes sorológicos
para que se tenha um resultado reprodutível e exato. Além disso, conseguimos compreender, a
partir da análise da acurácia de um teste, como podemos medir a sensibilidade, a eficiência, a
especificidade, os valores de predição e a razão de verossimilhança de um teste, e
entendemos o que cada um deles representa.
REFERÊNCIAS
ABBAS, A. K., LICTMAN, A. H. Imunologia Celular e Molecular, 5 ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2005.
ANVISA. RDC N°24de 11 de junho de 2014. In: Hemocentro. Consultado em meio eletrônico
em: 9 set. 2020.
BRASIL. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção pelo HIV em
adultos. In: Conitec. Consultado em meio eletrônico em: 7 set. 2020.
BRASIL. Diagnóstico da infecção pelo HIV - aula 2. In: Telab. Consultado em meio eletrônico
em: 7 set. 2020.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAS (s/d). Avaliação dos testes de diagnóstico. In: UFGV.
Consultado em meio eletrônico em: 7 set. 2020.
EXPLORE+
Para aprofundar os seus conhecimentos a respeito do assunto deste tema, leia:
CONTEUDISTA
Gabrielly Sbano Teixeira
CURRÍCULO LATTES
DESCRIÇÃO
Abordagem dos principais métodos laboratoriais empregados na imunologia clínica.
PROPÓSITO
Compreender os principais métodos laboratoriais empregados na imunologia clínica, bem como
sua importância e aplicabilidades na rotina laboratorial para auxiliar na escolha da melhor
metodologia para um diagnóstico confiável, rápido, de baixo custo e que possibilite um
tratamento eficaz e cuidadoso ao paciente.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
INTRODUÇÃO
Neste tema, vamos explorar um pouco mais sobre a metodologia dos principais testes
imunológicos empregados em um laboratório de análises clínicas.
Hormônios
Drogas
Ácidos nucléicos
A partir desses testes, podemos fornecer uma confirmação diagnóstica, o diagnóstico precoce,
a fim de acompanhar a evolução e o tratamento de uma doença, além de confirmar a presença
de uma substância no organismo.
Atualmente, existe uma enorme variabilidade de testes imunológicos, como, por exemplo, as
reações de precipitação, reações de aglutinação, reações de fixação de complemento, ensaios
imunocromáticos, imunoenzimáticos, dentre outros. Todas essas técnicas são baseadas no
reconhecimento antígeno-anticorpo e podem ser feitas a partir de reagentes marcados com
algum corante fluorescente ou quimioluminescentes, radioisótopos, enzimas que geram uma
coloração ao final da reação ou reagentes não marcados, gerando uma interação que é
visível a olho nu.
DICA
Você certamente já ouviu falar em ELISA, ensaios de precipitação e teste rápido. Sabe qual a
diferença entre eles? Ao longo desta jornada, vamos entender como esses testes são
realizados e como cada técnica pode ser empregada, compreendendo a diferença entre eles e
as principais vantagens e desvantagens. Para melhor entendimento, vamos dividir esses testes
em dois grandes grupos:
MÓDULO 1
Descrever os principais métodos laboratoriais imunológicos com reagentes não
marcados
MÉTODOS LABORATORIAIS
IMUNOLÓGICOS COM REAGENTES NÃO
MARCADOS
Como mencionamos, os métodos laboratoriais imunológicos que utilizam imunorreagentes
livres de marcação são técnicas que possibilitam uma interação antígeno e anticorpo que
podemos visualizar. Nesse tipo de reação, ocorre o reconhecimento de anticorpos com
antígenos solúveis e a formação de precipitados insolúveis.
PRECIPITADOS
REAÇÕES DE PRECIPITAÇÃO
AGLUTINAÇÃO
FIXAÇÃO DO COMPLEMENTO
REAÇÕES DE PRECIPITAÇÃO
São técnicas que consistem no reconhecimento de antígenos solúveis com seus anticorpos
complementares que também estão em solução, originando um agregado (Imunocomplexo)
que não se solubiliza (Precipitado) e é visível (Figuras 2 e 3).
Fonte: O autor
Figura 2: Imunocomplexos.
Fonte: Wikimedia
Figura 3: Formação dos imunocomplexos.
É importante ressaltar que, para que a reação de precipitação seja visível, um fator
determinante é a concentração de antígeno (Ag) e anticorpo presentes (Ac) . Quando as
concentrações dessas duas moléculas são equivalentes, ocorre uma precipitação máxima e,
assim, é possível visualizar a precipitação. Chamamos esse fenômeno de zona de
equivalência. De forma diferente, quando existe excesso de antígeno ou anticorpo, a interação
diminui e a formação de precipitado também, gerando resultados falso-negativos. Quando
temos excesso de anticorpos, ocorrem reações que não são visíveis a olho nu (Precipitação
subótima) , esse fenômeno é chamado de prozona (Figura 4).
PROZONA
Esse efeito pode ser observado em outros testes sorológicos, como aglutinação. Durante
os exames, a partir dessa técnica, são realizadas diferentes diluições para evitar
resultados falhos.
A
Na figura, temos em (A) excesso de anticorpos, o que resulta em precipitados pequenos que
não são visíveis a olho nu, efeito prozona.
B
Representa a zona de equivalência, com concentrações de antígeno e anticorpo equivalentes e
precipitação máxima e visível.
C
Em (C), o excesso de antígeno também gera precipitados pequenos, não visíveis a olho nu,
efeito pós-zona.
Nas reações de precipitação, para verificar a interação antígeno e anticorpo, são utilizados
diferentes meios reacionais, como, por exemplo, o meio líquido ou semissólido. Quando
realizadas em meio semissólido, essas reações são dividias em imunodifusão e
imunoeletroforese. As principais vantagens dessa técnica são rapidez, fácil execução, baixo
custo, podem ser testadas diferentes amostras e boa especificidade. No entanto, elas
apresentam uma baixa sensibilidade.
IMUNODIFUSÃO
ESPECIFICIDADE
Capacidade de um anticorpo apenas reconhecer o seu antígeno específico.
AVIDEZ
Fonte: Biosciencenotes
Figura 6: Imunodifusão simples.
Após a imunodifusão, podemos utilizar um corante para marcar as proteínas, a fim de visualizar
melhor as linhas de precipitação. A utilização desses corantes é preconizada quando temos
uma baixa concentração de antígenos e anticorpos, o que torna as bandas não visíveis.
Fonte: Biosciencenotes
Figura 7: Imunodifusão dupla.
Fonte: Microbenotes
Figura 8: Imunodifusão radial.
Além das amostras testes, nessa técnica, são utilizadas soluções padrões com concentrações
conhecidas de antígenos. A partir do tamanho dos halos de precipitação obtidos com os
antígenos controles (padrão), podemos originar uma curva padrão e descobrir a concentração
de antígenos presentes em amostras de soros de pacientes, possibilitando uma análise
quantitativa. Essa técnica pode ser utilizada para quantificação de proteínas, como:
Imunoglobulinas
Proteínas séricas
Fatores do complemento
Fonte: Shutterstock
Para a detecção específica de enzimas e suas isoformas (por meio de sua atividade
particular)
SAIBA MAIS
As proteínas separadas por eletroforese podem ser fixadas e coradas com vários tipos de
corantes, como o preto de amido 10 B (azul escuro); Ponceau-S (vermelho); Coomassie G-250
(azul claro) ou Coomassie R-250 (violeta azul).
Nesse aparato, é aplicada uma diferença de potencial, que será responsável pela migração e
separação das moléculas de acordo com a carga, tamanho e conformação (Figura 9B).
Após a corrida eletroforética, é feita a imunodifusão de cada componente que foi separado no
gel. Para isso, é cortada uma canaleta entre os poços onde é colocado o antígeno ou anticorpo
correspondente (figura 9C).
À medida que ocorre uma interação antígeno-anticorpo, vamos ter uma linha de precipitação
em forma de arco na região de equivalência. Cada banda formada representa a formação de
um complexo imune específico (Figura 9D).
SAIBA MAIS
O mieloma múltiplo é uma neoplasia da medula óssea que leva à proliferação das células B e
ao aumento descontrolado da produção de anticorpos monoclonais (normalmente, do tipo IgG
ou IgA) e fragmentos deles, chamados de proteína M. Nessa doença, as proteínas
monoclonais de IgM, IgA, IgD e IgE podem estar presentes em quantidades relativamente
pequenas quando comparadas à IgG. Um resultado de imunoeletroforese que não detecta a
porção da cadeia leve das imunoglobulinas não-IgG, mostra uma alteração no padrão de
produção desses anticorpos, o que é indicativo de gamopatias como o mieloma.
A partir da técnica de Grabar e Williams, outras metodologias foram desenvolvidas, são elas:
REAÇÃO DE IMUNOELETROFORESE
UNIDIMENSIONAL SIMPLES (ELETROFORESE DE
FOGUETE OU TÉCNICA DE LAURELL)
É uma adaptação da técnica de Graber e Williams, onde a eletroforese e a imunodifusão
ocorrem ao mesmo tempo com o deslocamento apenas da substância que se deseja analisar.
Para isso, uma pequena camada de gel incorporada com o anticorpo ou antígeno é preparada
sobre uma lâmina de vidro. As amostras são aplicadas em poços pré-formados, o tampão é
escolhido para que as partículas a serem analisadas fiquem com as cargas negativas e migrem
para o polo positivo e esse conjunto é submetido à eletroforese. Durante a eletroforese, à
medida que a substância vai migrando a partir do orifício de aplicação, ocorre a separação das
moléculas e o reconhecimento do antígeno-anticorpo , com a formação das linhas de
precipitação em formato de cone ou foguete. Isto porque, no início, há uma grande
concentração da substância de interesse, que ao longo da corrida eletroforética vai
diminuindo até que se esgote. É importante ressaltar que, durante a técnica, não ocorre a
migração da substância que está incorporada ao gel.
REAÇÕES DE AGLUTINAÇÃO
As reações de aglutinação consistem na formação de um agregado visível após a interação de
anticorpos específicos com partículas insolúveis que contêm diferentes determinantes
antigênicos (local de ligação do anticorpo, ou epítopo) ligados à superfície dessas
partículas. Diferente da precipitação, onde os anticorpos e antígenos são solúveis, nessa
técnica, pelo menos uma substância deve ser insolúvel.
Como o nome diz, é a interação direta entre antígenos presentes na superfície de uma
célula com o anticorpo correspondente. Os antígenos podem estar na sua forma integra ou
fragmentada. No entanto, para ocorrer uma aglutinação visível, é necessário que o anticorpo
reconheça pelo menos dois sítios antigênicos (bivalente), o que permite a ligação simultânea
com mais de um antígeno formando interações cruzadas e um agrupado de partículas visíveis
(rever a Figura 1).
FIGURA 1
Fonte: Shutterstock
EXEMPLO
Quando desejamos encontrar um anticorpo específico, devemos fazer diluições seriadas das
amostras frente a uma concentração fixa e conhecida do antígeno correspondente. Após o
tempo de incubação, o resultado é expresso como título do anticorpo, ou seja, a última diluição
em que é possível verificar a aglutinação.
LÁTEX
ADSORÇÃO PASSIVA
O teste de Coombs indireto é um exemplo desse teste quando se utiliza hemácias como
suporte.
VOCÊ SABIA
A reação de aglutinação indireta com o látex como partícula inerte é amplamente utilizada para
a detecção do fator reumatoide. A artrite reumatoide é uma doença autoimune que leva à
inflamação crônica nas articulações, à ativação desregulada de células B e T e à produção de
autoanticorpos, moléculas que reconhecem a região Fc das imunoglobulinas produzidas no
nosso organismo, chamado de fator reumatoide que normalmente é uma variante de IgM. Na
pesquisa do fator reumatoide, o látex é sensibilizado com anticorpo do tipo IgM, IgG, IgM e IgA,
e essa partícula é reagida com o soro do paciente. Se o soro apresentar o fator reumatoide,
teremos a aglutinação.
Um paciente com uma suspeita de infecção viral faz um exame de sangue para confirmar a
presença de anticorpos contra esse vírus. O soro desse paciente é então diluído e colocado em
contato com quantidades fixas de antígenos virais e hemácias. Teremos uma competição da
ligação dos anticorpos aos antígenos livres e os que estão ligados a hemácias. À medida
que ocorre a ligação antígeno livre e anticorpo, a aglutinação diminui. Em seguida,
verificamos qual foi a diluição que não houve mais a aglutinação das hemácias, ou seja, a
inibição da propriedade aglutinante, e esse representa o título do anticorpo .
Uma paciente está com suspeita de gravidez e realiza a coleta da urina para o teste.
Normalmente, o teste de gravidez detecta o hormônio da gonodotrofina coriônica (hHCG) em
uma reação de inibição de aglutinação.
Fonte: O autor
REAÇÃO DE FIXAÇÃO DO COMPLEMENTO
Podemos identificar e quantificar a presença de antígenos e anticorpos em uma amostra
através da formação de imunocomplexos e a avaliação da capacidade desses complexos em
fixar e consumir as moléculas do sistema complemento in vitro.
Essa técnica é barata, simples e utilizada para o diagnóstico de alguns agentes infecciosos
como a histoplasmose e a coccidioidomicose. No entanto, esses testes estão sendo
substituídos pelos ensaios enzimáticos, que são mais sensíveis, e são empregados apenas
como testes confirmatórios.
ETAPA 1
Na primeira etapa, ocorre a formação dos imunocomplexos (interação antígeno e anticorpo) e a
ligação (fixação) com as moléculas do sistema complemento.
ETAPA 2
Na segunda etapa, as hemácias ligadas aos anticorpos antieritrócitos (hemolisinas) são
adicionadas e, após um período, observamos se ocorreu ou não a hemólise.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
B) II e III
C) I e III
D) III
GABARITO
A aglutinação é uma técnica que apresenta alta especificidade e baixa sensibilidade, pois, se
os anticorpos e antígenos não estiverem nas concentrações equivalentes, pode ocorrer
resultados falso negativos (o paciente tem a doença, mas o teste não detecta).
MÓDULO 2
Explicar os métodos laboratoriais imunológicos com reagentes marcados
MÉTODOS LABORATORIAIS
IMUNOLÓGICOS COM REAGENTES
MARCADOS
Estudamos que as técnicas de precipitação, aglutinação e de fixação do complemento são os
principais ensaios imunológicos que utilizam reagentes não marcados. Agora, vamos conhecer
alguns métodos onde a verificação da presença de um antígeno e o anticorpo é realizado com
algum dos elementos (antígeno ou anticorpo) marcados com um corante fluorescente ou
quimioluminescentes, radioisótopos, enzimas, entre outros marcadores.
IMUNOFLUORESCÊNCIA
Em 1941, uma equipe de pesquisadores liderados por Albert H. Coons, desejando analisar as
técnicas imunológicas com auxílio de corantes, utilizou radicais fluorescentes, pois a coloração
com os reagentes comuns conferia uma fraca intensidade. Nessa época, já era conhecida a
capacidade dos anticorpos de ligar-se aos radicais químicos sem alterar sua conformação e
capacidade de interagir com os antígenos. Foi desenvolvido assim o teste de
imunofluorescência.
FOSFORESCÊNCIA
Quando a substância consegue armazenar energia luminosa por longos períodos até a sua
emissão.
FLUORESCÊNCIA
Quando a substância armazena energia luminosa por curto período até sua emissão.
Fonte: Wikipedia
NO CITÔMETRO DE FLUXO
A imunofluorescência representa um grande avanço na imunologia clínica, pois permitiu a
detecção de substâncias de forma direta, mesmo que em pequenas concentrações, e
utilizando pequenas quantidades de corantes fluorescentes, uma vez que esses corantes
emitem grande quantidade de energia. Antes, a detecção de um antígeno ou anticorpo era
realizado através de Reações secundárias (aglutinação ou precipitação) , ou seja, após a
formação de um imunocomplexo, sendo necessária grandes quantidades de antígenos e
anticorpos para sua visualização.
A partir dessa técnica, diferentes métodos foram descritos, como a imunoflorescência direta e
indireta.
IMUNOFLUORESCÊNCIA DIRETA
Esta técnica é utilizada para detectar antígenos em biopsias de tecidos, como também a
presença de células, bactérias, vírus, fungos e protozoários. Ela consiste no reconhecimento
de antígenos por anticorpo correspondente que está conjugado com uma substância
fluorescente. A presença de fluorescência indica que a amostra tem a substância pesquisada.
A análise por esse método costuma ser qualitativa (Figura 11).
Fonte: Vshivkova/Shutterstock
Figura 11: Células leucêmicas marcadas com corante fluorescente, em que o núcleo está
corado em verde e o citoplasma em vermelho.
IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA
Nesta técnica, utiliza-se um anticorpo secundário conjugado com o radical fluorescente, ou
seja, um anticorpo anti-imunoglobulina que é capaz de reconhecer diferentes imunoglobulinas
ligadas a um antígeno específico. A principal vantagem desse método é a diminuição dos
custos, uma vez que o anticorpo secundário pode ser empregado para o reconhecimento de
qualquer anticorpo humano e utilizado para diferentes análises. Além disso, é um método mais
sensível e específico quando comparado à imunofluorescência direta. É utilizado para o
diagnóstico e o acompanhamento de diferentes doenças (Figura 12).
Fonte: Wikimedia
Figura 12: Teste de imunofluorescência. Em (A) e (B) fotos de células marcadas pela
imunofluorescência. (C) esquema mostrando a diferença entre a imunofluorescência direta e
indireta.
Fonte: Wikipedia
Uma microplaca de 96 poços usada para ELISA.
ETAPA 1
Inicialmente, a placa é previamente sensibilizada com a substância (antígeno e anticorpo)
específica que é complementar à molécula que desejamos identificar.
SENSIBILIZADA
ETAPA 3
Durante a execução do método, são realizadas várias lavagens (manual, por meio automático
ou por um sistema a vácuo) importantes para a retirada dos excessos de reagentes que não
estão ligados a nenhuma molécula, impedindo assim qualquer tipo de ligação cruzada e
interferências.
ETAPA 4
Dependendo do que queremos analisar, podemos utilizar antígenos conjugados com
enzimas (Ac-E) e anticorpos ou anti-anticorpos conjugados com enzimas (Ag-E) . As
enzimas mais empregadas são a fosfatase alcalina e peroxidase. Para revelar e verificar se
ocorreu interação antígeno-anticorpo conjugado com a enzima ou anticorpo-antígenos
conjugados com a enzima, é oferecido o substrato dessa enzima e um componente doador de
elétrons (cromógeno).
Quando a enzima está presente no meio reacional, ou seja, quando houve interação e
reconhecimento antígeno-anticorpo conjugado, a enzima quebra o substrato e o produto
formado atua no cromógeno, gerando uma cor. Agora, quando a alteração de cor não é
verificada, indica que a interação não ocorreu, não tendo assim no meio reacional a enzima
para agir no substrato
ETAPA 5
A leitura pode ser qualitativa, apenas verificando a alteração de cor, ou então pode ser
realizada a leitura em espectrofotômetro, o que converte as diferentes intensidades de cor em
valores numéricos (valores de densidade óptica). Quanto maior a cor obtida, maior é a
concentração da enzima conjugada e assim, maior a concentração da substância na amostra
investigada.
O método de ELISA pode ser classificado em direto, indireto ou competitivo, são eles:
ELISA direto
ELISA INDIRETO
Essa técnica pode ser adaptada para a pesquisa de antígenos em uma amostra biológica e é
chamada de ELISA Sanduíche. Para isso:
Depois, o anticorpo de captura reconhece o antígeno presente na amostra biológica.
Em seguida, a reação é revelada com um anticorpo-conjugado que reconhece o antígeno
ligado ao anticorpo de captura (Figura 14).
SAIBA MAIS
ELISA COMPETITIVO
Nessa técnica, pesquisamos antígenos nas amostras através da competição com antígenos
conjugados com a enzima. Para isso:
ETAPA 1
ETAPA 2
ETAPA 3
ETAPA 1
ETAPA 2
ETAPA 3
DIRETO
Pesquisa antígenos
INDIRETO
Pesquisa anticorpos
RADIOIMUNOENSAIO
Em 1956, foi desenvolvida a técnica radioimunoensaio (RIE) para a detecção da insulina.
Essa representa a primeira metodologia padronizada que utiliza reagentes marcados para a
detecção de moléculas na ordem de nano e picogramas. O RIE é semelhante ao ELISA
competitivo, no entanto, utiliza substâncias marcadas com o radioisótopo. O radioisótopo mais
empregado é o iodo-125.
SAIBA MAIS
A detecção de antígenos ou anticorpos ocorre pela competição pelo sítio de ligação entre a
substância marcada com radioisótopo e a substância que se deseja analisar. Os antígenos ou
anticorpos são adicionados à fase sólida e acrescentados às moléculas marcadas com
radioisótopo junto com a amostra do paciente. A quantificação é realizada em aparelho
específico para a detecção da radioatividade.
Quanto maior for a leitura da radioatividade, maior a formação de imunocomplexos com a
substância marcada e menor é a concentração do antígeno ou anticorpo investigado
(Figura 16).
É rápido, barato.
DESVANTAGEM DESSE TESTE
TESTES IMUNOCROMATOGRÁFICOS
Os testes imunocromatográficos realizam a detecção da interação antígeno-anticorpo pela
difusão cromatográfica, onde o complexo formado gera uma cor, e a partir deles, podemos
detectar antígenos ou anticorpos. Os testes rápidos são um exemplo clássico de
imunocromatografia e são muito utilizados para a detecção de várias doenças, como: HIV,
Hepatite, COVID. Essa metodologia é de fácil execução, baixo custo, que conferem resultados
rápidos, versáteis, dispensa equipamentos e que podem ser realizados em diferentes
amostras, como o soro, plasma, sangue total, saliva, swab de nasofaringe e orofaringe, urina e
fezes. Entretanto, apresentam baixa sensibilidade.
Fonte:Shutterstock
Teste Imunocromatográfico para HIV.
O teste rápido é realizado em um cassete constituído por uma membrana porosa de celulose
modificada e membranas absorventes de fibra de vidro. Envolvendo a membrana, temos um
dispositivo plástico que contém os locais de aplicação das amostras e verificação dos
resultados. Ele é constituído por uma fase sólida (Membrana porosa) , onde ocorre a interação
antígeno-anticorpo e é o local onde estão presentes os elementos de captura (Antígeno ou
anticorpos específicos) fixados na membrana e uma fase móvel com o deslocamento das
substâncias por capilaridade.
Após aplicação, a amostra migra em direção as regiões testes (T) e controle (C).
Caso haja reconhecimento entre o antígeno-anticorpo conjugado, esse complexo será retido
pela ligação com os anticorpos presentes na região T, que reconhecem os epítopos do
antígeno em investigação e gera uma linha colorida. Caso não haja interação, essa linha
colorida não aparecerá.
É importante ressaltar que, após a região teste, temos uma região controle, com anticorpos
anti-IgG que são capazes de se ligar a todos os anticorpos livres presentes na amostra. O
aparecimento da linha controle é essencial, pois indica que houve migração da amostra e deve
estar presente nos resultados positivos e negativos. O não aparecimento da linha controle
invalidada o teste (Figura 17).
IMUNO-HISTOQUÍMICA
O teste de imuno-histoquímica (IHQ) é uma técnica que combina a imunologia, histologia e
química e tem como finalidade o reconhecimento de proteínas de alta afinidade durante os
exames histopatológicos. Esse teste é empregado em cortes de tecidos obtidos após a biópsia
para a detecção de doenças degenerativas ou parasitárias, identificação de substâncias e
análises de estruturas dos tecidos normais e alteradas durante a evolução da doença.
Atualmente, existe uma série de anticorpos capazes de reconhecer com alta especificidade
proteínas do tecido e que garantem um diagnóstico mais fidedigno.
Existem dois tipos de técnicas que podem ser aplicadas para a imuno-histoquímica:
TÉCNICA DIRETA
Técnica que reconhece os antígenos presentes em um corte de tecido a partir de anticorpos
ligados a um marcador (anticorpos primários). Os cortes de tecidos são colocados em contato
com os anticorpos primários e, após um tempo de incubação, é realizada a leitura em
microscópios adequados. Os antígenos pesquisados no tecido serão observados pelo
aparecimento de uma cor, indicando que houve reconhecimento pelo anticorpo. Os anticorpos
não ligados são removidos por lavagens realizadas durante a técnica.
TÉCNICA INDIRETA
Técnica que reconhece proteínas pela ligação com um anticorpo (primário não marcado)
específico ao antígeno em investigação e depois essa interação é revelada pela utilização de
um anticorpo anti-IgG marcado (anticorpo secundário) e a amostra é observada em um
microscópio adequado.
ETAPA 1
ETAPA 2
ETAPA 3
ETAPA 1
São aplicados no antebraço do paciente 0,1 mL de antígeno específico com agulhas e seringas
estéreis, por via intradérmica.
ETAPA 2
No outro antebraço, é aplicado a mesma quantidade de Soro fisiológico 0,9% estéril (salina)
como controle.
ETAPA 3
Após 48-72 horas, é realizada a leitura, onde é medido o diâmetro do endurecimento (Parte
dura) . Normalmente, caroços superiores a 5 mm são indicativos de uma reação imune
celular (Tipo th1) no local e da exposição ao antígeno pesquisado, mas o tamanho depende
do tipo de antígeno (Figura 19).
Fonte: Adaptado de Shutterstock
Figura 19: Ilustração mostrando o teste de PPD.
Um teste positivo não indica que o paciente esteja doente ou que obrigatoriamente tenha tido
uma infecção. O aparecimento do eritema e do endurecimento indica a presença de células de
memória do tipo Th1, por uma doença que já foi curada ou uma infecção assintomática, onde o
participante não apresentou sintomas. O teste negativo indica a ausência de contato com
aquele agente infeccioso.
Fonte: Pixel-Shot/Shutterstock
CITOMETRIA DE FLUXO E
QUIMIOLUMINESCÊNCIA
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. VIMOS QUE A TÉCNICA DE ELISA É AMPLAMENTE UTILIZADA NO
DIAGNÓSTICO IMUNOLÓGICO DE DIFERENTES DOENÇAS
INFECCIOSAS, COMO HIV, DOENÇA DE CHAGAS, COMO TAMBÉM É
CAPAZ DE DETECTAR HORMÔNIOS COMO A GONADOTROFINA
CORIÔNICA HUMANA. ESSA TÉCNICA APRESENTA ALGUMAS
VARIAÇÕES E, DE ACORDO COM A METODOLOGIA, PODE SER
CLASSIFICADA EM ELISA DIRETO, COMPETITIVO E INDIRETO. SOBRE
ESSE ASSUNTO, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA.
A) Imunoenzimática
B) Imunocromatografia
C) Imuno-histoquímica
GABARITO
1. Vimos que a técnica de ELISA é amplamente utilizada no diagnóstico imunológico de
diferentes doenças infecciosas, como HIV, doença de chagas, como também é capaz de
detectar hormônios como a gonadotrofina coriônica humana. Essa técnica apresenta
algumas variações e, de acordo com a metodologia, pode ser classificada em ELISA
direto, competitivo e indireto. Sobre esse assunto, marque a alternativa correta.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo desta jornada, conhecemos os diferentes testes imunológicos empregados para a
confirmação diagnóstica, o diagnóstico precoce, acompanhar a evolução e o tratamento de
uma doença, além de confirmar a presença de uma substância no organismo. Vimos que a
maioria dos testes utilizados consistem na interação antígeno-anticorpo. Essa interação pode
ser visível a olho nu (teste de precipitação, aglutinação ou fixação de complemento) ou então
um dos componentes da interação deve estar marcado com corante fluorescente ou
quimioluminescentes, radioisótopos, enzimas, entre outros marcadores, para que essa
interação seja visível (ELISA, radioimunoensaio, teste de fluorescências).
Ao final, foi verificado que o teste de hipersensibilidade cutânea tardia é uma forma de
verificação in vivo da imunidade celular, sendo essencial para confirmar a exposição prévia a
alguns agentes infecciosos e estudar casos de diminuição da imunidade celular do tipo th1
(anergia).
REFERÊNCIAS
ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H. Imunologia Celular e Molecular. 5. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2005.
EXPLORE+
Aprendemos que o efeito prozona acontece quando a concentração de anticorpos está maior
do que de antígenos e que isso pode levar a resultados falso negativos, pois a visualização
desses precipitados fica prejudica. Esse efeito é muito comum nos testes para detecção de
sífilis pelo teste de VDRL. Para conhecer mais sobre isso, busque o artigo Efeito prozona no
diagnóstico de sífilis pelo método VDRL: experiência de um serviço de referência no sul do
Brasil.
Conhecemos um pouco sobre o diagnóstico por ELISA e de que forma pode ser realizado.
Para saber mais, não deixe de pesquisar artigo Teste de ELISA indireto para o diagnóstico
sorológico de pitiose.
Para conhecer um pouco mais da aplicabilidade do teste rápido para HIV e como são utilizados
na clínica, leia o artigo Teste Rápido para Detecção da Infecção pelo HIV-1 em Gestantes.
Para compreender um pouco mais sobre o teste de sensibilidade cutânea Montenegro, leia o
artigo Avaliação do poder sensibilizante da reação de Montenegro.
Apreendemos que a citometria de fluxo é uma forma de avaliação da imunidade celular in vitro,
para conhecer mais sobre essa técnica leia Citometria de Fluxo no estudo das doenças infecto-
parasitárias.
CONTEUDISTA
Gabrielly Sbano Teixeira
CURRÍCULO LATTES