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INSTITUTO SUPERIOR DE FORMAÇÃO INVESTIGAÇÃO E

CIÊNCIA

DISCIPLINA: Direito Económico

INTRODUÇÃO
1. ENQUADRAMENTO GERAL

1.1. O HOMEM E O DIREITO

Qualquer ser humano necessita de assegurar, desde a nascença, certos cuidados e condições de
vida, tais como a alimentação, a educação, os cuidados de saúde, a integridade física, segurança,
defesa, entre outras necessidades (primárias ou não), sem as quais dificilmente sobreviveria.
Assim, esta situação a que o ser humano se mostra sujeito, devido as necessidades de
sobrevivência, implica necessariamente um relacionamento com o meio ambiente e com os
demais seres naturais. É esta necessidade que dita com que em diversos momentos a satisfação
desta, não seja de uma forma pacífica, podendo até gerar conflitos.

Segundo Aristóteles, “o Homem é um animal social”. E com isso fá-lo com que em diversos
momentos tenha que interagir, conjugando esforços em prol de uma vida comum, baseada na
solidariedade e na divisão social do trabalho, concorrendo desta forma para a sua plena
realização.

Contudo, porque o Homem prossegue os seus interesses através da busca do bem-estar e


desenvolvimento das suas actividades económicas, mas várias vezes esta prossecução choca com
os interesses dos outros membros da comunidade com que se relaciona.

É assim que surge outra necessidade, a de regular harmoniosamente os diversos interesses


frequentemente contraditórios dos cidadãos. Desta forma surge o Direito, como aquela ciência
social que procurar estruturar os princípios e as regras de convivência em sociedade.

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Sumários sistematizados e compilados por António Paiaze, relativos a Cadeira de Direito Económico. Estes não
substituem, em situação alguma, as obras de consulta obrigatória recomendadas e são passíveis a todas as críticas,
tendo em vista ao seu melhoramento.
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Por outro lado, o Direito pode ser entendido como uma emanação da vivencia social, uma
necessidade do Homem. Desta forma importa ressaltar que o Direito se mostra fundamental no
ordenamento jurídico, como reservatório de princípios gerais e fundamentais, os quais, através
das suas normas jurídicas e características, se traduzem na imperatividade, generalidade,
abstracção e coercibilidade.

1.2. DIREITO E ECONOMIA

O direito e a economia não podem se ignorarem, pois a actividade económica gera ou conhece
conflitos de interesse de natureza patrimonial respeitante a bens escassos, entre os agentes do
processo económico; a necessidade de dirimi-los e a sua efectiva aplicação aos casos concretos
levará ao estabelecimento de um regime jurídico. Estamos perante uma valoração jurídica das
relações socioeconómicas e subsequentemente, diante do estabelecimento das atinentes regras de
conduta social.

Os dados económicos repercutem-se na ordem jurídica que passa a reflectir as preocupações e


valorações económicas que, sendo um fenómeno global e complexo da interacção e
comunicabilidade recíprocas, nos permite falar de uma perfeita jurisdicização do económico.

Assim, o Homem necessita de consumir alimentos, vestir, habitação, entre outros bens materiais,
os quais devem ser produzidos ou fabricados, embora outros se encontrem na natureza já
disponíveis para o consumo imediato. Mas, porque nem todos os produtos que concorrem para a
satisfação das suas necessidades se mostram prontos e disponíveis, eis que este é obrigado a
trabalhar com vista a sua transformação, no que pretende.

Entretanto, no processo de trabalho, no processo de trabalho, o Homem aperfeiçoa as suas


faculdades físicas e espirituais, acumula experiencias de produção e enriquece os seus
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conhecimentos. Contudo, a interacção entre o Homem e a economia suscita, e não em poucas


vezes, conflitos entre os intervenientes, facto que dita a criação de regras ou regras que devam
regular essas relações. É neste momento que o Direito e Economia travam uma interacção, o que
dita o surgimento dum ramo do Direito que se designa de Direito Económico.

O Direito Económico consiste num sistema de disposições jurídicas, ou na disciplina que as


estuda, elaboradas pelos poderes públicos, privados e de natureza mista, no âmbito de uma
função normativa de enquadramento global da actividade económica, ordenando-a e regulando-
a para garantir o interesse geral.

1.3. Origem e desenvolvimento

Segundo Benjamim Alfredo na sua obra “noções gerais do direito económico”, antes da I Guerra
Mundial era desconhecida a expressão “Direito Económico”. Contudo, por volta de 1917 o
conceito de Direito Económico é delimitado, passando a ser este ano o marco mais visível que
assinala o início do desenvolvimento deste ramo do Direito. Foi no século XIX que surgiu a
chamada economia do mercado clássico ou liberal, diferentemente da época clássico-liberal
(anterior), o direito nada tinha a ver com a economia, aí existia uma separação perfeita entre o
Direito e a Economia.

Por isso, a confluência de oferta e a procura formava o preço e esta circunstância decidia as
possibilidades e determinações dos sujeitos que participavam na economia.

Ainda que os indivíduos actuassem por motivos egoístas, não se lhes deveria privar a sua
liberdade, dado que segundo ADAM SMITH, uma mão invisível tratava do seu egoísmo e, por
outro lado, o princípio da livre concorrência cuidaria das árvores para que não atingissem o céu.

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Essa mão, seria na verdade que o Estado que se comportaria como se de um árbitro se tratasse,
estando atento para situações de excessos em prejuízo dos outros intervenientes.

A partir do momento em que os Estado intervêm activamente no mundo económico, o direito e a


economia deixam de ser dois mundos estranhos. O desenvolvimento teórico do Direito
Económico está unicamente dependente do declínio do liberalismo e do surgimento da
intervenção do Estado na economia, tendo, então, o Direito Económico precisamente por objecto
as regras jurídicas que constituem, fornecem ou estudam os meios, instrumentos e técnicas dessa
intervenção.

1.4. A Constituição de Weimar como do Direito Económico

Antes da I Guerra Mundial, principalmente ao longo das duas grandes revoluções, a liberal e a
industrial, marcaram o desenvolvimento do capitalismo em que as regras jurídicas não eram
relevantes, mas sim o poder das burguesias, eram estas que ditavam as regras de jogo.

A sistematização doutrinal e científica do Direito Económico como disciplina jurídica autónoma


surge na Alemanha, sob a Constituição de Weimar de 1919, a primeira a inserir a vida
económica de forma específica e desenvolvida como objecto da Lei fundamental. Ainda na
Primeira Guerra Mundial, a Constituição do México de 1917, foi um marco na evolução do
Direito e uma resposta no plano do direito positivo e as exigências de um novo ramo do direito,
que tem por fim conduzir, reger, disciplinar o fenómeno económico, o surgir do Direito
económico. Depois Weimar, surgiram outras normas constitucionais que de forma mais aturada
trouxeram cada vez mais valor o Direito Económico, como a espanhola que veio consagrar a
socialização da propriedade, a expropriação por interesse público e outras limitantes de ordem
económica liberal; a Portuguesa de 1933, a Brasileira de 1934.

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Já no final da Segunda Guerra Mundial, mais constituições reflectiram sobre a economia, como é
o caso da francesa de 1946 e a italiana de 1947, o que veio a ditar com que a ordem
constitucional da economia servisse dois propósitos: garantir o livre funcionamento do mercado,
por um lado, e o de enunciar as diversas formas de regulação necessárias ao equilíbrio.

Seguindo a França, veio os EUA onde floresce com muita nitidez a questão de análise
económica.

Já em Portugal, as primeiras abordagens do direito económico, foram tardias (devido à ideologia


do direito corporativo do Estado Novo), que impedia a sua afirmação autónoma. Contudo, após
1974, verifica-se um certo desenvolvimento, que se traduz pela introdução da Disciplina de
Direito Económico nas Universidades, embora a Constituição de 1933 já espelhava com alguma
claridade o fenómeno jurídico-económico. STOP

2. O Direito Económico em Moçambique

Na ordem jurídica moçambicana, o desenvolvimento desta área jurídica encontra-se ainda numa
fase embrionária, por razões evidentes, natureza juvenil do Estado Moçambicano. A República
de Moçambique só no dia 25 de Junho de 1975 se afirma internacionalmente e no seio das
nações como Estado independente e soberano, facto este que implica a ruptura com o anterior
ordenamento jurídico instituído, gerando-se a necessidade de implementação de um novo sistema
jurídico, que traduzisse a vontade soberana da República Popular de Moçambique. Especial
destaque teve neste momento a emanação de normas de Direito económico uma vez que a
afirmação da independência coincidiu com a afirmação de Políticas que implicassem a
instituição de um sistema económico Socialista.

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No ordenamento jurídico moçambicano, o tratamento jus científico do Direito Económico é, na


actualidade, praticamente inexistente, facto que se deve não só ao surgimento tardio das normas
que integram o seu objecto, mas também as mudanças verificadas ao nível da conjuntura
político-económica que impediram a regularidade e estabilidade deste novo conjunto de normas
necessárias a esse tratamento. De salientar que na história da República de Moçambique
conhecem-se três constituições que reflectiram a estrutura sócio-económico do momento,
nomeadamente a de 1975 (época de partido único e que a economia fora centralizada e com forte
intervenção do Estado); a 1990 (que abriu espaço ao mercado livre e as privatizações, através da
democratização das instituições) e por fim a de 2004 (que estender ainda mais a questão da
economia orientada pelo mercado, tendo aberto ainda mais o leque de áreas em que
juridicamente se gera a economia, isto é, mais sectores económicos e a sua importância para o
desenvolvimento do país).

2.1. Características Específicas do Direito Económico

As normas jurídicas de conteúdo económico, devidas as suas especificidades destacam-se da


generalidade das outras normas do ordenamento jurídico, sendo de apontar a principais
características:

 Recente: porque só se manifesta a partir do momento em que o Estado toma a seu cargo a
Economia (a partir de 1914).

 Fluido (mobilidade ou mutabilidade): as normas do Direito Económico estão em


constante mutação, não é um direito rígido, estático, estável, modifica-se rapidamente de
acordo com a política existente, estando ligado à estrutura política em vigência. Esta
característica deve-se por um lado ao facto deste ramo do Direito ser particularmente

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sensível às mudanças sociais, económicas e políticas, e por outro lado, se verificar com
frequência a existência de normas de actuação imediata e pontual.

 Não codificado (direito disperso): não existência de um código de normas de Direito


Económico, devido a sua constante mutação, como se disse na característica anterior.
Estas normas encontram dispersas em vários diplomas legais, o que de certa forma
dificulta a definição clara do estatuto jurídico de certas matérias.

 Misto (heterogéneo): esta heterogeneidade tem a ver com o facto de as normas do Direito
Económico serem de diversa proveniência (várias fontes) como pública (parte
constitucional, Estado dotado de iuris imperi) e privado (contratos económicos de
financiamento, ex. contratos de leasing), com o realce para o crescente aparecimento de
fontes negociadas (mistas), e até fontes não estaduais.

 Concreto: no sentido de que no seio do saber jurídico, o Direito Económico já conquistou


seu espaço, possui objecto próprio.

2.2. Autonomia do Direito Económico

Sendo o Direito Económico um ramo do Direito em formação, cuja natureza ainda hoje é
amplamente discutida, não espanta que prossiga também certa querela sobre o objecto, o sentido
e os limites da disciplina. A autonomia deste ramo do Direito, resulta de um processo que ainda
se encontra em curso, não tanto quanto ao núcleo das áreas normativas que o compõem, mas sim,
quanto aos seus contornos, especificamente quanto ao traço de fronteiras relativamente a outros
ramos de Direito. Todavia, isto não equivale a negar a autonomia deste ramo de Direito, até
porque este aspecto se verifica também em outros ramos de Direito em relação aos quais existe
unanimidade consolidada na afirmação da sua autonomia.
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Dada a dificuldade decorrente da vastidão da matéria que o compõe que leva a ter um carácter
muito concreto e fragmentário e ainda a impossibilidade de elaborar uma teoria geral do Direito
Económico, defende-se concepções que correspondem a afirmação da autonomia do Direito
Económico.

2.3. Natureza jurídica do Direito Económico

Entende-se que o Direito Económico, é um sub-ramo do Direito Público por ser o Estado que
traça a Política económica, por esta interessar à colectividade e por, não poucas vezes,
restringi-lo à intervenção do Estado ou normas Públicas relativas ao Plano.

O Direito económico, confrontado com as disciplinas jurídicas tradicionais, tem uma autonomia
com fraco grau de nitidez e completude que as disciplinas clássicas ganharam numa
sedimentação de séculos e prejudicada por não ser seguida ou ditada pela independência da
codificação.

Há, portanto, o reconhecimento pragmático de uma autonomia funcional-pedagógica e


disciplinar do Direito Económico na medida em que é possível encontrar no direito Económico
os elementos típicos e informadores tais como: o elemento material (objecto), espiritual,
finalístico e metodológico. Ainda que se continue a discutir o seu conteúdo e mesmo a sua
designação, hoje praticamente ninguém contesta a sua utilidade prática e didáctica, em particular
na formação Universitária de juristas e Economistas, bem como a importância que adquiriu como
foro privilegiado de debate de novas tendências científicas e metodológicas ligadas à
consideração das relações entre o Direito e a economia.

Porém, várias são as concepções que se debruçam sobre a natureza do Direito Económico, sendo
consensual que este é um ramo de direito público, mas não negam a parte privada, nas situações
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em que intervém particulares dotados de capacidade para editar ou contribuir para a edição de
regras com carácter geral, vinculativas dos agentes económicos.

2.4. Objecto do Direito económico

Uma corrente doutrinária representada por J. Hamel e G. Lagarde, identifica o direito económico
com todo o direito relativo à economia. Esta noção é enferma à partida, das incertezas ligadas à
definição de economia, ainda que se convencione que a economia será toda a actividade dirigida
à produção, distribuição e consumo de bens. A identificação do direito económico como direito
de toda a economia, é demasiado extensa e incapaz de exprimir a sua especificidade, reduzindo-o
ao ponto de encontro de todas as regras de Direito Privado e Direito Público atinentes à
actividade económica.

Esta noção, a ser adoptada, alargaria demasiado o âmbito do Direito económico, tendendo
abranger todos os aspectos económicos do Direito Privado - os direitos reais de gozo, direito de
propriedade, garantias reais das obrigações, as obrigações patrimoniais, transferência de direitos
sobre as coisas e, de igual modo, as zonas de Direito Público que tenham incidência económica.

Uma noção demasiado extensiva do Direito Económico é ainda agravada pela dificuldade em
determinar a fronteira que separa o económico do financeiro.

No actual estádio de conhecimento, e de forma aproximativa define-se o objecto da disciplina do


Direito Económico como o estudo da ordenação ou regulação jurídica específica da
organização e direcção da actividade económica pelos poderes públicos e ou pelos poderes
privados, quando dotados de capacidade de editar ou contribuir para a edição de regras de
carácter geral e vinculativas dos agentes económicos.

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O direito económico, pode ser apresentado como um sistema de normas ou como a disciplina
jurídica que estuda as normas reguladoras de: organização da economia definindo o sistema e
regime económico; a condução superior da Economia pelo Estado; e disciplina dos Centros de
decisão económica não estaduais. Do que pode concluir-se que o Direito Económico é
constituído por um corpo orgânico de normas condutoras da interacção de poder económico
público e de poder económico privado destinado a reger a política económica, entendida como
um conjunto normativo de medidas encetadas pelo Estado.

2.5. Fundamentos do Direito Económico

a) Necessidade

Necessidade - As necessidades colectivas ou de massa requerem remédio jurídico porque


traduzem o padrão de qualidade de vida e a justiça social, por isso, o Direito económico tem por
fundamento a necessidade individual, colectiva, pública e privada.

b) Interesse

O interesse, é uma espécie de impulso do sujeito para a coisa em virtude da necessidade a ser
satisfeita. O interesse pode ser legítimo ou ilegítimo e pode ser submetido a normas que lhe
servem de limite no sentido de maleabilidade e flexibilidade que permite a aplicação da
jurisprudência de interesses.

c) Bens

Os bens têm utilidade para a satisfação das necessidades e podem ser de variados tipos como:
bem moral, bem político, liberdade e bem económico o que cria necessidade pela escassez.

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Os bens, pela sua individualidade podem ser corpóreos e incorpóreos, móveis e imóveis,
fungíveis e não fungíveis, consumíveis e não consumíveis, divisíveis e indivisíveis ou simples e
colectivos.

d) Valor em Direito Económico

O valor reflecte também o cálculo económico, a racionalidade económica que devendo ser a
tradução de atitudes reflectidas não acontecem por negação do direito.

e) Equilíbrio em Direito Económico

Obtêm-se pela realização dos objectivos definidos.

3. Fontes do Direito Económico

Quando nos referimos as fontes do Direito Económico, reportamo-nos à concepção formal de


fontes de Direito, isto é, aos processos de formação e revelação de normas jurídicas.

3.1. Fontes internas

A primeira fonte do Direito, é por excelência, a Constituição da República, pois é ela que contém
um conjunto de preceitos basilares que se referem directamente à economia e que constitui a
essência da Constituição económica. As Leis ordinárias da Assembleia da República, os
Decretos-leis, as Resoluções da Assembleia da República com relevância económica, os
Decretos do Governo que, directa ou indirectamente, regem determinados aspectos de ordem
económica são fontes imediatas do Direito Económico, o costume (enquanto não contrárias as
leis), a doutrina e jurisprudência.

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Os Regulamentos que o Governo, os Municípios e outras Instituições Públicas (por exemplo


Avisos do Banco de Moçambique obrigatórios para a Banca) que elaboram no exercício das suas
funções administrativas são de particular relevância, no âmbito das fontes do Direito Económico.

3.1.1. A Constituição da República de Moçambique

Na actual CRM, aprovada a 16 de Novembro de 2004, o regime jurídico fundamental da


ordenação da actividade económica encontra-se, no essencial no capítulo II dedicado à
organização económica que cuida da organização económica, social, financeira e fiscal, nos
artigos 96 a 111.

3.1.2. Actos normativos

3.1.2.1. Leis e Resoluções da Assembleia da República

A Lei da Assembleia da República, é uma das mais importantes fontes de Direito, em geral, e do
Direito Económico em particular, pois, em última instância, ela representa a vontade do Povo
manifestada através deste órgão colegial, que se repercute na produção de normas, especialmente
as de cunho económico.

Encontramos na CRM referências a este poder legislativo, especialmente no que diz respeito ao
Direito Económico. Desde logo, o n.º 2 do art.º 169 da CRM e n.º 1 do art.º 179 onde compete à
Assembleia da República legislar sobre questões básicas da Política interna e externa,
nomeadamente sobre o Plano Económico.

Um aspecto que merece especial atenção, é o papel da concertação económica. Embora seja um
aspecto que não é exclusivo deste ramo do Direito, a concertação económica pode assumir-se de
relevo na emanação de normas jurídicas conformadoras da actividade económica na medida em
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que, no respectivo processo, intervêm os vários parceiros sociais interessados, nomeadamente


através de pareceres prévios que devem apresentar.

3.1.2.2. Decretos-Lei, Decretos e Resoluções do Governo

Em matéria Económica, o Conselho de Ministros, tem competência para emitir normas que
visem promover o desenvolvimento económico, tais como; preparar o plano económico e Social,
alínea e) do n.º 1 do art.º 204 da CRM, promover e regulamentar a actividade económica e dos
sectores sociais, garantir o correcto funcionamento e desenvolvimento das empresas de
propriedade Estatal e sua expansão de acordo com as necessidades da economia, etc.

3.1.2.3. Decretos e Despachos Presidenciais

Embora seja de entender que os decretos presidenciais são fontes de normas jurídicas apenas no
âmbito das competências conferidas pela CRM ao Presidente da República, nas quais não se
inclui a competência para definir o quadro jurídico da actividade económica, serão de considerá-
los fonte de direito, por exemplo quando definem competências económicas a agentes da
Administração, ou atribuição de Ministérios.

3.1.2.4. Poder Regulamentar

As autarquias dispõem de poder regulamentar, as entidades da Administração exercem poderes


regulamentares; a regulamentação contratual assume também relevo, particularmente no domínio
do Direito Laboral.

3.2. Fontes Internacionais

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A definição estadual do estatuto jurídico da economia moçambicana tem necessariamente de se


conformar com os princípios, directrizes e normas emanadas dos órgãos da SADC, constituindo
estas verdadeiras fontes internacionais do Direito Económico.

A regulação jurídica da organização e Direcção da actividade económica será fruto não só das
normas jurídicas internas, constitucionais ou infraconstitucionais, mas também, primariamente
das normas jurídicas que constam do tratado instituidor, e em segundo plano, das normas
emanadas dos órgãos da SADC. Para além das normas regionais, destacam-se os tratados, os
acordos, as convenções, os contratos internacionais entre outras.

3.2.1. Decisões jurisprudenciais, administrativas e arbitrais

Revela-se importante a jurisprudência do Tribunal Supremo e do Tribunal Administrativo aos


quais, na ausência de uma Magistratura económica específica, cabe, em última instancia, nos
respectivos domínios de competência, interpretar normas que contem o enquadramento geral da
regulação da actividade económica.

4. Constituição Económica

A ideia da constituição económica como um instituto jurídico autónomo ou um problema


jurídico específico ao serviço da ciência do Direito, acompanhou o desenvolvimento do Direito
Económico.

Esta ideia, começou a colocar-se como resultado da evolução da ordem liberal onde diversos
factores levaram a que o Estado se visse na necessidade de intervir na Economia, tendo sido
concretamente com a promulgação da Constituição de Weimar de 1919.

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No entanto, apesar de concretamente se associar ao surgimento da Constituição Económica de


Weimar, não se pode afirmar que as Constituições de ordens liberais anteriores a de Weimar não
continham elementos ou normas económicas. Porém, nestas constituições verifica-se a existência
de algumas disposições que se referiam directa ou indirectamente. À economia, como seja, a
consagração do direito de propriedade, a consagração da liberdade de comércio e indústria, a
liberdade contratual.

Só pelo facto de se consagrar o abstencionismo estatal na vida económica, já se estava, assim, a


definir o modelo económico, onde o Estado não deveria intervir na esfera económica e consagrar
como princípio da regulação económica a propriedade privada e a liberdade contratual, a livre
concorrência, etc.

Na verdade, a Constituição de Weimar e a Lei Fundamental Soviética de 1918 trouxeram


consigo uma regulação explícita sobre a ordem económica.

Porém, Weimar foi a constituição que trouxe uma reforma mais aturada na ordem económica
liberal, sem, contudo, acarretar uma quebra revolucionária com o modelo liberal, que na verdade
serviu de inspiração das constituições que surgiram posteriormente como a espanhola que foi
mais longe, ao consagrar a socialização da propriedade, expropriação por interesse público entre
outras limitantes económicas liberais.

Weimar foi bastante aflorado em momentos anteriores, foi apenas o marco mais visível, tendo-se
seguido outras constituições (inspiradas por aquele), como a portuguesa (1933) e a brasileira de
1934.

Já no período que seguiu a II guerra mundial, mais constituições se notabilizaram em consagrar


matérias relativas ao direito económico como seja, a francesa de 1946 e a italiana de 1947.
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Na verdade, a ordem constitucional passou a notabilizar sob dois prismas:

 Garantir o livre funcionamento do mercado; e

 Enunciar as diversas formas de regulação tendo em vista o equilíbrio económico.

Nota: As constituições económicas ao mesmo tempo consagram e garantem direitos


fundamentais aos agentes económicos contra o Estado e também consagram poderes e
faculdades que o Estado pode utilizar para modelar o sistema económico.

4.1. Noção de Constituição Económica

Entende-se por Constituição, o texto jurídico superior donde decorrem e retiram validade todas
as leis ordinárias, este texto contém um conjunto de regras jurídicas definidoras de relações do
poder político, do estatuto do governante e dos governados. Esta pode ser em sentido formal e
em sentido material (matérias amplamente abordadas em Direito Constitucional).

Sendo uma Constituição o repositório de normas que norteiam a vida de um determinado Estado,
quando nela se consagra normas com cunho numa determinada área, essa área vai se assumir
segundo as normas constitucionais como Constituição dessa área. É o que acontece com a
Constituição Económica, assim denominada porque na Constituição no geral sem encontram
impregnadas normas de âmbito económico.

Então, reconhecido que é a existência de várias concepções sobre o conceito de Constituição


Económica, sendo que todos os tratadistas nas diversas doutrinas convergem deixando nos com a
ideia de que a Constituição como sendo um conjunto de normas definidoras do sistema
económico e da ordem económica.

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É neste contexto que se entende por sistema económico a forma típica de organização e
funcionamento da Economia, esta forma típica de organização e funcionamento da Economia é
baseada num conjunto de princípios fundamentais.

Os sistemas económicos podem ser abstractos e concretos.

Os sistemas abstractos são tipos ideais de organização da Economia baseada em princípios que
vão orientar a actividade económico no sentido de resolver os três problemas económicos
fundamentais como seja, o que produzir, como produzir e para quem produzir.

Como sistemas ideais temos o sistema de direcção central da economia e o sistema de economia
livre.

O sistema de direcção central parte do princípio de que todas as decisões económicas deverão
ser tomadas por uma mesma entidade central, os problemas económicos fundamentais que no
referimos, são resolvidos por aquela entidade central, pois é quem interpreta as diversas
necessidades da sociedade e decide o que produzir, determina quais serão as técnicas e que
combinações de técnicas que serão empregues na produção, resolvendo assim, a questão de
como produzir e por a entidade central decide quais as quantidades de produto que serão
distribuídos por cada indivíduo, ou por cada sector.

Sistema de economia livre que concebe um sistema totalmente descentralizado, em que a


resolução dos problemas económicos fundamentais é feita a margem do Estado. Neste sistema,
cada consumidor determinar o quer consumir, os agentes económicos determinam como os seus
problemas económicos fundamentais são resolvidos.

4.2. O Sistema Económico


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substituem, em situação alguma, as obras de consulta obrigatória recomendadas e são passíveis a todas as críticas,
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DISCIPLINA: Direito Económico

Qualquer economia funciona com base na articulação entre os elementos que a integram e os
respectivos processos (produção, distribuição e consumo). É a articulação entre esses elementos
e processos que nos dá a ideia de sistema económico.

A articulação entre os elementos que integram os sistemas humanos, materiais, financeiros e os


processos, denomina-se de ordenação económica.

Na verdade, qualquer sistema económico obedece a regras e funciona com base numa articulação
intrínseca entre os elementos e os processos. É assim que:

a) Ordem económica – é um todo, englobando a ordem pública e a ordem jurídica da


economia.

b) Ordem pública da economia – que é aquelas cujas normas fundamentais estão inseridas
na Constituição Económica (normas vinculativas no seu exercício, sendo obrigatórias a
todos).

c) Ordem jurídica económica – engloba não só a Constituição Económica, como também


todas as outras normas económicas.

As constituições, soviética, espanhola, brasileira e a portuguesa, por exemplo, foram as pioneiras


a perceber e reflectir o entendimento de que a economia não continuar a ser uma área isolada,
passando a fazer parte do objecto do Estado, passando desse modo a ter um texto que engloba
aspectos económicos, políticos e sociais, a dita Constituição Económica.

Não é pensável que uma constituição possa conter um sistema político contrário ao sistema
económico, tem que haver sempre numa constituição, uma dinâmica entre os sistemas, visto que
esta é um todo articulado.
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substituem, em situação alguma, as obras de consulta obrigatória recomendadas e são passíveis a todas as críticas,
tendo em vista ao seu melhoramento.
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Contudo, a um determinado sistema político irá necessariamente corresponder a um sistema


económico equivalente. Isto é, se um sistema político é aberto, irá tendencialmente corresponder
a um sistema económico aberto, o mesmo se sucederia a um sistema político fechado que
tenderia, por consequência a um sistema económico também fechado.

As normas da constituição são normas fundamentais, para o real entendimento do sistema e da


sua projecção. O projecto constitucional não é neutro, significando que qualquer acto económico
irá obedecer a duas condições:

a) Condição limite: baseia-se no facto de a actuação pública do Estado, só se pode fazer


associada ao interesse público (se tiver em vista a realização dum bem-estar geral).

b) Condição fundamento: no sentido de que a intervenção do Estado deve sempre visar a


realização do interesse do bem-estar.

É neste entendimento que podemos encontrar numa constituição, três realidades ou universo de
normas, designadamente:

 Normas imperativas;

 Normas fundamentais; e

 Normas concretizadoras.

As constituições económicas contêm.

 Normas programáticas: definem programas ou o que se vai fazer.

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tendo em vista ao seu melhoramento.
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 Normas estatutárias ou de garantia: que garantem o cumprimento dos programas, o


cumprimento das normas sobre as quais assenta ordem.

A constituição económica vai fixar a ordem fundamental da economia, sendo através das normas
programáticas e estatutárias que se concretiza através de dois instrumentos fundamentais:

 Intervenção do Estado na Economia (com vista a evitar o abuso dos órgãos


dominantes).

 Existência do mercado com regulador da economia (visto ser o mercado que dita a
projecção da economia).

4.3. Objectos da constituição económica

As normas contidas na Constituição Económica destinam-se a realizar os seguintes objectivos:

 Definir ou fixar o modelo dos sistemas económicos, estabelecendo as formas de


organização e funcionamento do modelo da economia.

 Delimitar os poderes públicos, privados e entre outros tipos.

 Indicar as garantias de efectivação do projecto constitucional.

 Definir o tipo de reformas que devem ser introduzidas no sistema económico, tendo em
vista a revitalização e modernização da economia.

Porém, existem elementos de referência que permitem uma avaliação e uma fiscalização da
execução da constituição, e ocorrem em dois momentos:

a) Avaliação dos elementos constitucionais (projecto constitucional); e


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tendo em vista ao seu melhoramento.
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b) Fiscalização tendo em vista da visualização de como actua o sistema económico.

4.4. Funções Específicas da Constituição Económica

 Estabelecimento de um quadro de direitos e obrigações;

 Delimitação dos poderes do Estado e de outras entidades menores, de grupos sociais no


domínio;

 Delimitação dos objectivos socioeconómicos a prosseguir pelo Estado e indicação dos


instrumentos jurídicos necessários para projecto constitucional;

 Definição dos elementos jurídicos do sistema económico, que ajudam na realização dos
objectivos jurídicos.

 Definição dos modelos que devem corporizar as reformas caso assim se justifique
(podendo ser no domínio fiscal, na desconcentração e ou na descentralização).

Na verdade, a Constituição Económica, será o conjunto de normas, princípios e instituições


definidoras do sistema económico, significando o mesmo que, é o conjunto de normas, princípios
e instituições que definem o sistema e as organizações que vão estabelecer, com vista a alcançar
os objectivos traçados.

4.5. Interpretação da Constituição Económica

A Constituição, mesmo que se faça um estudo autónomo, representa um todo, pois reflecte nele
uma coerência em relação aos diversos capítulos.

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Não se pode pensar que a parte política da constituição obedece a uma forma diferente da parte
económica.

Se falarmos em subordinação do sistema económico ao político, significa que não há


descontinuidade ou desacordo entre eles. É no mercado que se interpreta a constituição
económica, isto é, a constituição económica só é entendida tendo em conta o mercado. Daí que
se diz que o sistema económico de mercado assenta na livre acção do agente económico e na
concorrência.

O mercado supõe que haja direito de propriedade, segundo o qual as pessoas podem usufruir dos
seus bens, tem uma livre disposição dos seus bens, bem como deve estar presente o critério da
concorrência.

4.6. História da Constituição Económica de Moçambique

A história da constituição moçambicana, em todos os âmbitos, principalmente o económico, é de


ruptura. Assim se afirma porque, a Constituição de 1975 (Constituição de Tofo) rompeu com o
modelo económico de 1933 (CRP), quer proteccionista, de economia fechada e a sua lógica era
de pouca relação com o exterior, uma verdadeira política de estreito proteccionismo económico.
A bem da verdade, o Estado Português era também intervencionista.

Dada a ruptura com os ideais do Estado Português, devido a independência que Moçambique
acabava de alcançar, a economia Moçambique tomou outro rumo, esta é a primeira grande
ruptura. No seu art.º 2 a Constituição de Tofo diz “A República Popular de Moçambique é um
Estado de democracia popular em que todas as camadas patrióticas se engajam na construção
de uma sociedade livre da exploração do homem pelo homem” e que na RPM “… o poder
pertence aos operários e camponeses” com o objectivo fundamental (art.º 4) de eliminar as
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estruturas de exploração coloniais e tradicionais e da mentalidade que lhes é subjacente e a


edificação de uma economia independente e “de base económica avançada da República Popular
de Moçambique em que o Estado procederá à liquidação do sistema de exploração do homem
pelo homem”, (art.º 6).

Através do art.º 8 parte final, da CRPM, o legislador constituinte moçambicano estabeleceu que a
RPM reconhece a Carta dos Direitos e Deveres Económicos dos Estados aprovada pela 29ª
Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Esta posição do legislador constituinte, parece estar a concorrer para a abolição da separação
entre os detentores e não detentores dos meios de produção, o que com o sistema marxista ora
em vigor compreenderia a criação de condições para a socialização dos meios de produção e a
sua socialização. A Constituição de 1975 tem carácter proclamatório e se tornou bastante rígida.
Contudo, a partir de 1977, embora de sendo de carácter marxista, esta começa a moderar a sua
posição através da prática legislativa e governamental. Contudo ficou patente a questão do rigor
da intervenção do Estado na economia e também verificam se as nacionalizações, que visavam
necessariamente a colectivização dos meios de produção, a chamada intervenção democrática
dos trabalhadores.

No período de 20 de Setembro de 1974 (entrada em funcionamento do Governo de Transição) e


25 de Junho de 1975, vigoraram os Acordos de Lusaca, o que denominamos de Pré-Constituição
Económica, que seria integrada por um conjunto de princípios, normas ou instituições que se
foram definindo e que se consagraram ca Constituição de 1975, onde foram afirmados os

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Direitos sociais e laborais, as disposições limitativas ou restritivas do Direito de propriedade,


as disposições tendentes a estabelecer uma reforma agrária1.

A segunda ruptura verifica-se em 1990 como modelo anterior, o de 1975. Antes, em 1975,
qualquer iniciativa que houvesse tinha que passar pelo Estado, contrariamente à actual que diz
que as diversas forças do mercado actual em concorrência, isto para demonstrar que a filosofia
do legislador ordinário deve seguir o princípio de que o sistema económico moçambicano
obedece a 4 formas de propriedade, conforme resulta do disposto no n.º 2 do art.º 41 da CRM.

 Propriedade cooperativo e social: goza de uma protecção reforçada patente não só no n.


4 do art.º 99 da CRM, como também no âmbito da organização económica propriamente
dita. A Constituição de 2004 trouxe uma dimensão mais abrangente para este Sector que
hoje engloba não só as Cooperativas, os bens comunitários e os bens autogestionários
como também os bens cujo objecto seja mutualista ou de solidariedade social, desde que,
não prossigam o lucro.

 Propriedade privada

Tem beneficiado das privatizações as quais procuram o seu alargamento económico, este Sector
dimensiona-se a partir da verificação da propriedade ou de gestão privadas, com natural
excepção das empresas Cooperativas.

Segundo os n.ºs 1 e 3 do artigo 99 da Constituição, cabe ao Estado garantir o direito de


propriedade privada e de iniciativa privada, os quais pertencem aos direitos fundamentais
análogos.
1
O Princípio de Protecção do Direito do Consumidor na Constituição Económica, pág. 30, Faizal de Abreu, Colecção
Dissertações, W Editora, Maputo, 2017.
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tendo em vista ao seu melhoramento.
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Já no contexto da organização económica o Estado assume várias incumbências quanto à


actividade económica privada: em primeiro lugar cabe ao Estado regular o próprio mercado, ou
seja, garantir a livre concorrência, o desenvolvimento económico e a protecção dos
consumidores; quanto às empresas privadas o Estado remete a sua actividade para o quadro
jurídico resultante da Constituição e da Lei, mas garante à partida o apoio às pequenas e médias
empresas desde que estas sejam economicamente viáveis.

 Propriedade familiar.

 Propriedade pública

Formado pelo núcleo estadual em resultado das privatizações realizadas nos últimos anos, por
isso os bens que encontramos dentro do Sector Público, registam propriedade e gestão do Estado
ou de outras entidades públicas.

O Sector Público, nos termos do n.º 2 do artigo 99 da CRM é constituído pelos meios de
produção cuja propriedade e gestão pertence ao Estado ou a outras entidades públicas.
Representa o conjunto das actividades económicas de qualquer natureza exercida pelas entidades
públicas (Estado, Associações e Instituições Públicas, quer assentes na representatividade e na
descentralização democrática, quer resultantes da funcionalidade - tecnocrática e da
concentração por eficiência). Ou subjectivando, o conjunto homogéneo de agentes económicos
que as desenvolvem.
Através do Sector Público, o Estado produz bens ou prestações e serviços ora em concorrência
com empresas privadas ou Cooperativas ora em monopólio natural ou legalmente protegido.
O Domínio Público, são os poderes directos ou imediatos sobre os bens de que o Estado é titular
enquanto munido de “imperium”.
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Tem como caracterísiticas:


-         Inalienabilidade;
-         Imprescritibilidade;
-         Insusceptibilidade de servidões reais;
-         Exclusão de posse privatísticas;
-         Impossibilidade de serem objecto de exclusão forçada ou de expropriação por utilidade
pública.
Os Institutos Públicos, são pessoas colectivas públicas, de tipo institucional criadas com o fim
de assegurar o desempenho de determinadas funções administrativas de carácter não empresarial,
pertencentes ao Estado ou a outra pessoa colectiva pública.

Pela Lei n.º 6/2012, Lei das Empresas Públicas, este diploma define os princípios fundamentais a
que devem obedecer os estatutos das Empresas Públicas, constituindo, por assim dizer uma
moldura dentro da qual se admite a diferenciação desses estatutos, em ordem a permitir a sua
adaptação às características da actividade de cada empresa.
São Empresas Públicas, as empresas criadas pelo Estado, com capitais próprios ou fornecidos
por outras entidades públicas, para a exploração de actividade de natureza económica ou social,
de acordo com o planeamento económico nacional, tendo em vista a construção e
desenvolvimento de uma sociedade democrática.
São também Empresas Públicas e estão, portanto, sujeitas aos princípios consagrados no presente
diploma as empresas nacionalizadas. As Empresas Públicas gozam de personalidade jurídica e
são dotadas de autonomia administrativa, financeira e patrimonial. A capacidade jurídica das
Empresas Públicas abrange todos os direitos e obrigações necessários à prossecução do seu
objectivo, tal como este é definido na respectiva Lei.

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A luz da CRM, são notáveis dois tipos de propriedades que se complementam mutuamente:
Propriedade Estatal, Propriedade cooperativa, Propriedade Mista e Propriedade Privada. O art.º
42 da CRPM realça o papel fundamental do sector familiar, enquanto o art.º 45 realça a aberto da
economia nacional para investimentos estrangeiros em todos os sectores, exceptuando para
aquelas áreas cuja propriedade de exploração é exclusivamente reservada para o Estado (vide o
art.º 14).

Actualmente (Constituição de 2004) se tem dado maior ênfase ao sector privado, sendo que esta
situação decorre dentro do postulado na Constituição, o quer dizer que nenhuma das áreas poderá
ser suprimida.

Assim, o artigo 96 CRM de 2004, refere que “A política económica do Estado é dirigida à
construção das bases fundamentais do desenvolvimento, à melhoria das condições de vida do
povo, ao reforço da soberania do Estado e à consolidação da unidade nacional, através da
participação dos cidadãos, bem como da utilização eficiente dos recursos humanos e materiais”.

Já no art.º 99 da mesma CRM fala dos sectores de propriedade dos meios de produção, que são
eles o público (constituído pelos meios de produção cuja propriedade e gestão pertence ao Estado
ou a outras entidades públicas), o privado (constituído pelos meios de produção cuja propriedade
e gestão pertence a pessoas singulares ou privadas) e cooperativo e social que compreende,
especificamente, os meios de produção comunitários, possuídos e geridos pelas comunidades
locais, e os meios de produção destinados a exploração exclusiva por trabalhadores e, os meios
de produção geridos e possuídos por pessoas colectivas, sem carácter lucrativo, que tenham
como principal objectivo a solidariedade social, designadamente as entidades de natureza
mutualista.
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4.6.1. Princípios e objectivos fundamentais

Os princípios fundamentais da organização económica e social da República de Moçambique


visam, nos termos do art.º 97 da CRM, a satisfação das necessidades colectivas essenciais da
população e a promoção do bem-estar social e assentam:

 Na valorização do trabalho;
 Nas forças do mercado;
 Na iniciativa dos agentes económicos;
 Na coexistência do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e social;
 Na propriedade pública dos recursos naturais e dos meios de produção, de acordo com o
interesse colectivo;
 Na protecção do sector cooperativo e social; e
 Na acção do Estado como regulador e promotor do crescimento e desenvolvimento
económico e social.

Assim, a luz da Constituição de 2004 destacam-se como objectivos fundamentais do Estado


moçambicano com relevância económica:

 A edificação de uma sociedade de justiça social e a criação do bem-estar material,


espiritual e de qualidade de vida dos cidadãos;
 A promoção do desenvolvimento equilibrado, económico, social, regional e do país;
 A defesa e a promoção dos direitos humanos e de igualdade dos cidadãos perante a lei;
 O reforço da democracia, da liberdade e da estabilidade e harmonia social e individual.

5. A INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA


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A ordem económica, é a forma concreta com que se processa a produção e distribuição de


riqueza numa dada sociedade, é a boa convivência social no âmbito do desenvolvimento das
actividades económicas.

A ordem jurídica, é o conjunto das normas e princípios que regulam as relações no contexto do
Estado de Direito. A ordem jurídica da Economia é a formada pelas regras jurídicas e pelos
princípios aplicáveis à esfera económica.

A história económica conheceu dois grandes sistemas (modelo Socialista e modelo Capitalista),
sendo o elemento comum que os caracteriza é a intervenção do Estado. A história do Direito
Económico está ligada desde a sua origem, ao contexto da intervenção do Estado na vida
económica, por entender-se uma atitude positiva (actos) do Estado, ou seja, uma determinada
acção. Esta intervenção pode se verificar sob vários prismas (tipos).

Todos os fenómenos (e relações) sociais são totais, sendo os económicos e jurídicas apenas duas
das facetas, sem dúvida muito relevantes, que os fenómenos (e relações) sociais comportam.

O nível jurídico é, dentro da moldura formada pelo Direito que se vai desenrolar a dinâmica
económica protagonizada pela empresa.

Há uma duplicidade de visões que podem interessar: a do direito sincrónico, parado


artificialmente num certo momento histórico, capaz de traduzir, indicar ou até explicitar a cor da
época a que pertence, e a do direito diacrónico, verdadeiro desfilar, no tempo e no espaço, de
formas de viver tão diversificadas quanto a imaginação do homem e as condições do mundo vêm
permitindo.

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A atitude do Estado pode revestir um amplo leque de atitudes, que vai desde a era da tomada de
decisões económicas por via administrativa, até ao espartilhamento da actividade económica
privada, através da apropriação colectiva dos principais meios de produção, em que o Estado
domina uma economia centralizada e planificada.

Entre destes dois (Estado-polícia e Estado-único ou principal agente económico), existe uma
multiplicidade de regimes económicos, cuja matriz vai ser dada pela relação de forças
estabelecida entre a autoridade estadual e a actuação dos operadores privados, ou, por outras
palavras, pela forma e medida da intervenção do Estado na vida económica.

Os chamados modelos de economia mista surgem neste percurso, caracterizados pela


coexistência da iniciativa pública e privada, concorrendo no mercado, que pode ser amplo ou
restrito (no sentido em que alguns sectores da actividade económica lhe poderão ser retirados e
reservados para o Estado).

No campo teorético-jurídico, observam-se enunciados o sistema de mercado, que tem como


postulados a propriedade privada na qualidade de direito fundamental, de onde decorre a
apropriação privada de todos os meios de produção, a livre concorrência e auto-preservação do
próprio mercado, e, nos seus antípodas, o sistema de economia planificada, também dito de
direcção central, com apropriação colectiva de todos os meios de produção, obediência de um
instrumento jurídico-económico (o Plano) e ausência de qualquer forma de concorrência.

É esta aproximação da economia ao Estado, configurando-se como área de intervenção por


excelência, que marcou o aparecimento do Direito Económico.

A intervenção do Estado visa por um lado dar direcção ao rumo da economia, permitindo ainda a
sua planificação. Outrossim, verificando-se a existência sectores que por excelência a sua
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continuidade é imprescindível, o Estado pode intervir de forma global ou pontual, de forma


imediata ou mediata, bilateral ou unilateral.

5.1. Intervencionismo, Dirigismo e Planificação

Embora todos sejam levados a cabo pelo Estado, pode se estabelecer uma diferença entre
eles, podendo ser qualitativo ou quantitativo.

5.2. Intervenção directa e a indirecta.

a) Intervenção Directa: consiste na existência de um Estado que se assume como


agente económico, o que se verificou bastante nos regimes de economia
Socialista. Aqui, o Estado surge como único ou o principal agente económico,
mas nos regimes de Mercado também existe intervenção directa em embora
menor escala, podendo encontrá-la no caso moçambicano, através das empresas
públicas, das sociedades de capitais públicos e ainda das participações do Estado
em empresas mistas.

b) Intervenção Indirecta: esta atitude do Estado é um acto de regulação da


Economia, executada através do poder legislativo e tendo como principais
exemplos, os Planos e as Políticas Económicas. Na Economia de mercado o
Estado privilegia a intervenção indirecta como forma de condicionar os agentes
económicos que no sentido da expansão económica que como objectivos de
controlo, como por ex. deste último caso a política fiscal.

5.3. Intervenção Unilateral e Bilateral

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a) Unilateral: esta intervenção normalmente é tributária, de concepção policial de


presença de poderes públicos e manifesta-se quando certa actividade social e
económica reclama a garantia da reposição da ordem e segurança públicas. Ela
manifesta-se através da edição de normas legais e regulamentares e também a
fiscalização da sua implementação. Nesta intervenção, pode-se proibir ou
autorizar certas actividades, através de multas (repreensão) ou licenças
(autorização).

b) Bilateral: esta é notável quando se opta por formas contratuais para o exercício
da autoridade, procurando consensos com os parceiros, o que dá azo a maior
eficácia da intervenção do Estado, contribuindo para uma paz social. Nesta
intervenção há acordos anteriores entre o Estado e os diferentes intervenientes no
processo produtivo.

5.4. Intervenção Imediata e Mediata

a) Imediata: quando o Estado actua directamente na economia, assumindo como


produtor de bens e serviços, como é o caso da criação de empresas públicas,
estatais ou outras em que este age de forma igualitária em relação ao que é
prosseguido pelos agentes económicos.

b) Mediata: esta verifica-se sempre que o Estado entra em acordo com os


particulares (agentes económicos) para actuarem de certa forma num determinado
ramo económico com vista a garantir a continuidade de certos serviços.

5.5. Intervenções Globais, Sectoriais e Pontuais

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a) Globais: quando a intervenção visa acautelar situações gerais da economia, como


é caso de conter a inflação.

b) Sectorial: quando se mostra necessário a presença do Estado num determinado


sector de actividades com vista a controlar situações de falhas de mercado, como
é o caso do sector de transportes.

c) Pontual ou avulso: quando visa garantir a continuidade de certos serviços. Pode


fazê-lo de forma mediata ou imediata, como é o caso de garantir, por exemplo, o
envio de mantimentos em zonas afectadas pelas calamidades.

5.6. O Estado Liberal e a utopia do Estado neutro

A caracterização do modelo jurídico liberal assenta em dois postulados essenciais: a


separação absoluta entre o Direito público e o Direito privado, sendo que cada um deles tem
a sua esfera ou rumo de aplicação, sendo o predomínio da autonomia da vontade privada na
esfera económica.

Na concepção liberal, o fim do Estado é a liberdade individual. De acordo com esta


concepção, o Estado é mais perfeito quando mais permite e garante a todos o
desenvolvimento individual. Isto quer dizer que não tem fim próprio, mais o seu fim coincide
com o desenvolvimento dos indivíduos.

5.7. O Estado contemporâneo: a supressão do modelo liberal e incidência do


princípio da sociabilidade

Neste modelo, o papel do Estado alargou-se a todas as esferas da actividade, com destaque para a
economia, e a sua actividade assumiu finalidades próprias, distintas das dos indivíduos. A
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actividade económica deixa de ser mais um sector indiferente da actividade privada geral,
passando a ser objecto específico conformador dos poderes públicos, de tal forma que a ciência
económica deixa de ter por objecto o simples estudo do contemporâneo económico do indivíduo
e passa a abranger também o Estado.

O Estado passa a ser um agente de realizações que se reportam principalmente ao domínio da


economia, na qualidade de responsável pela condução e operactividade das forças económicas,
enquanto verdadeira alavanca da sociedade actual.

Na actualidade o Estado assume com frequência, formas de actividade organizada em ordem à


produção e distribuição de bens e serviços para o mercado e submetidas muitas vezes à
concorrência de empresas privadas.

5.8. Fundamentos da intervenção do Estado

O Estado começa a intervir na economia com a concepção do Estado de Direito, através da


consagração constitucional da matéria económica.

A necessidade de regular o mercado foi os elementos essenciais que ditaram com que o Estado
interviesse na economia com vista a corrigir, controlar e conformar o funcionamento espontâneo
da decisão económica e descentralizada.

A intervenção do Estado na economia, veio remover os obstáculos institucionais ao livre


desenrolar do mercado e criar condições para que ela se exerça sem peias e entraves, por
justamente a considerar a mais adequada à actividade económica e por reputar negativamente aos
desvios do funcionamento do mercado.

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A intervenção dos poderes públicos é ditada por considerandos de justiça distributiva ou mesmo
social numa tentativa de controlo e conformação dos resultados do mercado. O mercado deve ser
corrigido pelas instituições políticas, sendo a norma jurídica o instrumento dessa tarefa. Esta
tarefa pode não ser de mera correcção, mas de controlo do mercado pelo Estado.

5.9. Valores da intervenção do Estado

A dimensão dos valores prosseguidos pelo Estado na sua tarefa conformadora da vida social e
económica deve exprimir, a querer ser legítima, as preferências colectivas manifestadas pelo
texto constitucional e na legislação ordinária. Tais preferências exprimem a primazia a
colectividade dá certos valores em detrimento de outros, para o segundo plano ou mesmo
ignorados.

Efectivamente a intervenção do Estado na economia encontra como valores a protecção e


preservação de escolhas colectivas em detrimento das individuais. Os fenómenos ideológico-
políticos e as políticas económicas devem visar a preservação das massas.

6. O ESTADO COMO PRODUTOR DE BENS OU SERVIÇOS

6.1. ACTIVIDADE EMPRESARIAL DO ESTADO

As funções do Estado podem ser agrupadas em dois grandes grupos:

 Aquelas em que o Estado aparece como empresário, o Estado produtor ou distribuidor de


bens ou de serviços; e
 Aquelas em que lhe cabe regular (condicionar, fiscalizar ou planear e promover) as
actividades de terceiros – o Estado regulador, os quais sendo na sua maior parte agentes
económicos privados, cooperativo ou mesmo empresas públicas.
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Os objectivos que presidem a estas funções do Estado podem ter a ver com a redistribuição do
rendimento, que pode ser obtido através da produção directa pelo Estado e sua colocação no
mercado a preços mais baixos que os do mercado, podendo ser através de subsídios a outros
produtores ou aos consumidores ou mesmo pela fixação de preços máximos.

Quando o Estado produz ou distribui bens ou serviços, retira do mercado certas actividades,
reservando para si o seu exercício ou concorre com os agentes económicos privados ou
cooperativos na mesma actividade. Intervém, assim, por via directamente económica, ao passo
que o Estado regulador possibilita e condiciona positiva (incentivando) ou negativamente
(proibindo a actividade de terceiros), na qualidade de agente exterior ao mercado. Nesta função o
Estado usa meios de natureza político-legal, ou, em certas circunstâncias, meios contratuais.

A questão que se coloca é como aplicar os recursos escassos na satisfação das necessidades
públicas, o modo como se faz a produção e aplicação dos recursos (bens) escassos. Porém, pode
se avançar as seguintes soluções:

 A eficiência: no sentido de maximizar mais o rendimento;

 A prioridade: dada a escassez, impende-se que se dê primazia o que mais se necessita.

A questão que se coloca ao nível da satisfação das necessidades, é o facto de estas poderem ser
feitas através de:

 Bens que a natureza oferece, sem qualquer transformação;

 Bens que são resultado da combinação de três factores: o capital, mobilização do capital e
maior técnica, bens naturais que não são oferecidos pela natureza – estamos a falar do

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esforço humano conjugado e que vai dar lugar a bens com uma mais-valia e vai-se
criando bens mais duradoiros.

Tem-se desta forma cada vez mais serviços oferecidos, representando uma parcela fundamental
da economia, que é na verdade a produção de bens e serviços.

6.2. A actividade empresarial do Estado

Na época liberal, a actividade económica do Estado – distinta, por natureza, da função própria do
Estado como legislador e como administrador da coisa pública – era, então, entendida como
excepcional.

A doutrina liberal defendia que os poderes públicos deviam se abster de actuar como agentes do
mercado sob a pena de falsearem as leis do mercado. Defendiam que o Estado devia actuar como
agente económico sempre que justificasse, como forma de corrigir as falhas do mercado.

Assim, o Estado como produtor de bens devia actuar:

a) A administração directa por departamentos de Administração Pública sem personalidade


própria. Isto devia manifestar-se através de serviços públicos económicos e não em
instituições de serviços dotados de personalidade jurídica.

b) Concessão dessas actividades a sociedades de estatuto privado. Estas deviam funcionar


obedecendo as regras e princípios que regem o sector privado ou as empresas deste
sector, onde se verifica a liberdade de organização e gestão, liberdade e autonomia
contratuais. Mesmo com esta forma de actuar, não impediria que o Estado atribuísse as

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empresas concessionárias, prerrogativas de autoridade pública, sempre que se achasse


necessário.
A criação de serviços públicos de carácter industrial e comercial dentro da esfera do
próprio Estado veio também acompanhada da tendência da submissão desses serviços as
regras de Direito privado, sem que, todavia, isso prejudicasse a sua vinculação
institucional ao sector público e a sujeição ao Direito público de aspectos do seu
funcionamento como a tutela.

Depois da Segunda Guerra Mundial, particularmente nos em que estiverem envolvidos,


verificou-se o processo de nacionalização das empresas privadas, o que deu origem a
empresas públicas, a par dos serviços públicos personalizados. As nacionalizações se
explicam por um contexto político ideológico específico e coincidiram com o reforço de
outros mecanismos de intervenção do Estado na economia, como o plano e o auxílio às
empresas privadas.

No que tange a intervenção do Estado na economia, a empresa pública constitui apenas


uma das componentes do sector empresarial do Estado, existem os institutos públicos e as
empresas participadas pelo Estado, onde este exerce papel fundamental no seu
funcionamento, principalmente no que concerne as regras do mercado.
6.3. Conceito de Empresa

Uma empresa é uma unidade económico-social, integrada por elementos humanos, materiais e
técnicos, que tem o objectivo de obter utilidades através da sua participação no mercado de bens
e serviços. Nesse sentido, faz uso dos factores produtivos (trabalho, terra e capital).

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As empresas podem ser classificadas de acordo com a actividade económica que desenvolvem.
Deste modo, deparamo-nos com as empresas do sector primário (que obtêm os recursos a partir
da natureza, como é o caso das empresas agrícolas, pesqueiras ou pecuárias), as empresas do
sector secundário (dedicadas à transformação de matérias-primas, como acontece com as
industriais e as da construção civil) e as empresas do sector terciário (empresas que se dedicam
à prestação de serviços ou ao comércio).

Outra classificação igualmente possível para as empresas é de acordo com a sua constituição
jurídica. Existem empresas individuais (que pertencem a uma única pessoa) e societárias
(constituídas por várias pessoas). Neste último grupo, as sociedades, por sua vez, podem ser
anónimas, de responsabilidade limitada e de economia social (as chamadas cooperativas), entre
outras.

As empresas também podem ser definidas de acordo com a respectiva titularidade do capital.
Assim, mencionaremos as empresas privadas (cujo capital está nas mãos de particulares), as
públicas (controladas pelo Estado), as mistas (o capital é partilhado por particulares e pelo
Estado) e as empresas de autogestão (o capital é propriedade dos trabalhadores).

A gestão de empresas, no que lhe diz respeito, é uma ciência social que se dedica ao estudo da
organização destas entidades, analisando a forma como são geridos os seus recursos, processos e
os resultados das suas actividades.

6.4. FORMAS DE PROPRIEDADE

Por definição, a propriedade consiste na apropriação de bens criados pelo homem no processo
produtivo. A noção de propriedade estava relacionada com as coisas reais e tangíveis, de uso ou
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domínio directo, de posse e disposição individual ou colectiva. Posteriormente, estendeu-se aos


bens proporcionados pela natureza, aos conhecimentos científicos e tecnológicos, obras de arte
ou literatura, direitos jurídicos ou atribuídos pelos costumes, etc.

A um determinado nível e estado das forças produtivas da sociedade corresponde uma forma de
propriedade que lhe é inerente. A diversidade das formas de propriedade que se sucederam no
decurso da história é uma consequência da evolução das relações entre os homens e não apenas o
produto da evolução entre as sociedades humanas e os produtos da natureza. Existe, portanto,
uma relação estreita entre as formas de propriedade e o desenvolvimento das relações sociais.
Poderá dizer-se que o principal indício a distinguir uma sociedade encontra-se no seu regime de
propriedade.

As relações de apropriação compõem-se de tantas formas quantos os elementos que existem num
processo de trabalho. Podem distinguir-se as seguintes formas de apropriação: dos recursos
naturais e dos objectos de trabalho; dos instrumentos e meios de trabalho; do próprio homem ou
da sua força de trabalho; dos bens de consumo tangíveis e intangíveis; das mercadorias; dos
conhecimentos científicos e técnicos; do dinheiro e documentos financeiros.

As formas concretas de apropriação dos meios produtivos da sociedade, de fontes de energia e


das riquezas naturais, originaram relações de subordinação e de predomínio entre classes sociais
que acompanharam a existência das diversas camadas da população e se efectivaram por meio de
relações constantes entre todas elas.

Quando os meios de produção e os produtos do trabalho se encontram nas mãos duma parte da
sociedade, a propriedade adquire um carácter privado. Então, o controlo dos bens de consumo,
de produção ou ambos, pode ser conferido a um indivíduo ou entidade. A propriedade privada
aparece quando as forças produtivas atingem um nível que permite criar mais produtos do que o

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mínimo dos necessários para satisfazer as necessidades prementes. Quando semelhante nível foi
atingido, tornou-se vantajoso para as classes dominantes utilizar e explorar o trabalho alheio. A
propriedade privada isola e opõe os homens uns contra aos outros e torna-se uma fonte de
alienação.

A propriedade privada apresenta-se sempre sob uma forma historicamente determinada e amplia-
se quando começa a verificar-se a separação efectiva entre os produtores de bens e os detentores
dos meios de produção desses mesmos bens, dependendo o seu conteúdo e a sua forma do modo
dominante de produção. Apresenta-se como uma relação fundamental entre classes sociais que se
modifica com as mudanças das condições económicas e sociais da sociedade humana. Não
podiam existir classes sociais antes do aparecimento da propriedade privada.

O termo jurídico “propriedade” indica o conjunto de regras de que dependem as modalidades de


acesso, uso, controlo, transferência e transmissão de tudo que possa ser objecto de disputa social.
O direito à propriedade privada só existe em função de formas concretas de apropriação,
tornando-se efectiva no quadro duma formação social que legitima as modalidades dessa
apropriação. O elemento essencial da instituição da propriedade indica os poderes de uso ou do
controlo das coisas (e das pessoas, no caso dos escravos) consagrados pelo costume ou
conferidos pela lei.

No regime de comunidade primitiva, onde o nível das forças produtivas era extremamente baixo,
a posse dos instrumentos de produção e dos produtos do trabalho era colectiva. Com a
decomposição deste regime surge a propriedade privada sobre os meios fixos de produção, assim
como sobre o próprio trabalhador convertido em escravo.

No modo de produção capitalista, a propriedade privada sobre os meios de produção alcança o


seu máximo desenvolvimento envolvendo todos os produtos do trabalho como mercadorias. Os

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trabalhadores deixam de possuir os seus instrumentos e meios pessoais de trabalho e vêm-se


obrigados a transformar a sua própria força de trabalho em mercadoria. Surge uma variedade de
propriedade privada em que o capitalista se apodera da mais-valia obtida do trabalho alheio e que
pode converter, ou não, em capital.

6.5. O caso de Moçambique

Após a independência nacional e com a aprovação da CRPM, em 1975, vulgarmente conhecida


como Constituição de Tofo, Moçambique afirma-se como Estado Independente e democracia
popular em que as camadas patrióticas se engajam na construção de uma nova sociedade livre de
exploração de homem para homem.

A edificação de uma economia independente e a promoção do progresso cultural e social, eram


alguns dos objectivos fundamentais do Governo ora criado e que o Estado devia prosseguir.

O art.º 10 da CRPM consagra ainda o que sector estatal dever o dominante na economia do país.
Na fase de transição para o socialismo em que se encontrava Moçambique, era de máxima
importância o papel a desempenhar pelas empresas estatais.

Neste contexto, as empresas estatais assumiam uma função primordial na construção da base
material para a edificação de uma nova sociedade e para o acelerado desenvolvimento
económico planificado (art.º 9).

Pretendia-se que a empresa estatal fosse um instrumento essencial através do qual o Estado
assumiria a função dirigente e impulsionadora da economia nacional. Esta constituía a forma
jurídico-institucional da actividade empresarial do Estado, o que caracterizou o importante peso
económico, político, e social do sector empresarial do Estado pós-independência. Este era
constituído essencialmente por empresas directa ou indirectamente nacionalizadas.
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Com a política de privatizações e liberalização de certos sectores, levada a cabo a partir de 1989
e continuada, mercê da revisão constitucional em 1990, veio alterar o rumo da economia no que
concerne ao papel do Estado como produtor ou detentor do sector produtivo.

6.5.1. O sector empresarial do Estado

O Estado como produtor de bens e serviços surgiu num contexto do sistema socialista, como
foi amplamente dito anteriormente.

Na verdade, as autoridades que tomam decisões ou apostam no Estado como produtor, tem em
frente duas opções:

 Opção por um Estado que actua em regime de monopólio ou de privilégio; e

 Opção por um Estado dimensionado, equilibrado, que se rege e se orienta pelo mercado.

É na última opção que Moçambique se orienta (ou), o que ditou ao surgimento do sector público
empresarial (empresas públicas). Esta opção foi condicionada por dois factores:

 O primeiro, que tem a ver com a realização do Projecto Constitucional: o Estado era o
dinamizador, o impulsionador da economia (art.º 10 da CRPM de 1975). Esta
constituição determinou o modelo socialista assente no sector produtivo nas mãos do
Estado.

 Segundo, o facto de a economia ter sofrido um processo transformador, não lhe restando
outra alternativa que não fosse assegurar o sistema económico. A transformação em
referência, está ligada ao abandono e sabotagem que deixou o Estado sem qualquer outra
alternativa senão assumir o seu funcionamento integral. No caso das empresas que ainda

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tinham representantes havia então co-intervenção, isto é, o Estado ajudava na gestão da


empresa.

Em qualquer dos casos, o Estado tinha que intervir no sector empresarial. É assim que o Estado
tomou conta das empresas privadas, denominando este processo de intervenção na gestão das
empresas/ intervenção na gestão do sector empresarial. Na reforma do sector empresarial o
Estado usou como instrumentos:

a) Intervenção na gestão de empresas privadas.

b) Reversão das quotas dos sócios que tinham perdido a residência (por abandono) a favor
do Estado, através do Decreto n.º 18/77.

c) Nacionalização de bens estratégicos que estavam nas mãos de estrangeiros (como é o


caso da Cimentos de Moçambique, Petromoc, Sonarep, entre outras), isto é a
transformação das empresas privadas em estatais.

d) Criação de empresas estatais de raiz (Interfranca, Intermecano, Interquímica, entre


outras).

e) Estabelecimento de planos económicos gerais do Estado, através da imposição de metas,


fixação de objectivos.

Todos os elementos acima descritos representam a intervenção do Estado na economia, e tinham


em vista condicionar a actuação dos agentes económicos em sectores estratégicos da economia
(água, saneamento, electricidade, infraestruturas, educação e saúde, entre outras áreas).

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Hoje, o sector empresarial do Estado é entendido como abrangendo o conjunto de unidade


produtivas do Estado ou outras entidades públicas, organizadas e geridas de forma empresarial,
onde se inclui as empresas públicas e as estatais, as sociedades comerciais cujo capital social
pertença exclusivamente ao Estado e/ou outras entidades públicas, as empresas, estabelecimentos
e instalações cuja propriedade tenha sido revertida a favor do Estado.

6.5.2. Intervenção e nacionalizações

A criação de sectores empresariais com peso significativo nas economias nacionais encontra-se
historicamente ligada à experiência das nacionalizações, como é o caso das nacionalizações.
Contudo, não se deve deixar de lado a necessidade em que o Estado se encontrava no pós-
independência, o que concorreu para a presença maciça do Estado na economia, é a intervenção.

6.5.3. As nacionalizações

Juridicamente, a nacionalização é uma espécie de expropriação, traduzindo na transferência


forçada, por acto de autoridade, de uma unidade económica (exploração, estabelecimento,
empresa), da propriedade privada para a propriedade pública. Ela tem sempre por objecto
unidades económicas (explorações ou empresas agrícolas, comerciais, industriais, ou doutra
natureza), por específicos motivos de intervenção na estrutura do poder económico ou na
condução da economia.

A nacionalização é um acto político que implica a passagem de empresas privadas para a esfera
jurídica estatal, isto é, passam para a propriedade do Estado. A expropriação pode ser feita a
favor de outras entidades públicas territoriais ou não (regiões, municípios, universidades) ou até
entidades particulares, como por exemplo, através da concessão de serviços públicos.

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tendo em vista ao seu melhoramento.
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As nacionalizações afectam simultaneamente o direito de propriedade e o direito de iniciativa


privada e pressupõe a presença simultânea das seguintes componentes e características
essenciais:

 Um componente ideológico-político, reveladora em sí mesmo da subordinação do poder


económico ao poder político;
 O objecto da nacionalização é bem económico;
 A titularidade e posse útil dos bens transferidos para a Nação.

O acto de nacionalização é sempre um acto do Estado, no qual se manifesta o ius imperium, que
aliás, se manifesta também na possibilidade de este dar o destino que lhe aprouver a esses bens,
com a excepção de não atribuir essa titularidade a determinados sujeitos dos órgãos do Estado.

É assim que o sector empresarial do Estado foi sempre caracterizado por empresas estatais
(muitas delas resultantes da nacionalização e depois transformadas em estatais) e
intervencionadas.

A expropriação limita-se ao direito de propriedade, nos termos do art.º 82/2 da CRM, cabendo a
justa indemnização. A nacionalização também dá lugar a indemnização, embora não sendo
consensual. Ver o Decreto n.º 5/75, de 17 de Maio, DL n.º 53/75, de 15 de Março (ver também o
art.º 8 da CRPM e o art.º 109 da CRM).

6.5.4. Figuras afins as nacionalizações

A expropriação, a requisição, o confisco, e a intervenção do Estado na gestão de empresas


privadas são, tal como a nacionalização, actos através dos quais se interfere na propriedade útil

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dos particulares a coberto da prevalência do interesse público. Diferem-se, no entanto, para além
da essência de cada uma, pelo grau de interferência do Estado.

6.5.4.1. Intervenção

A intervenção do Estado na gestão de empresas privadas representa uma forma de deslocamento


autoritário de uma actividade do sector privado para o sector público, o que leva a que a
intervenção caiba no conceito de nacionalização.

A nacionalização é distinta da intervenção do Estado na gestão de empresa privada, mas na


verdade apresentam algumas similitudes, devido a:

 A intervenção do Estado na gestão de empresas privadas representa uma forma de fazer


deslocar a actividade económica do sector privado para o sector público e, por isso
mesmo, as situações de intervenção cabem no conceito amplo de nacionalizações;
 O Estado aparece a intervir directamente na economia, através de um acto unilateral em
que demonstra os seus poderes de autoridade;
 Ambas afectam ou constituem limites aos mesmos direitos fundamentais: o direito de
propriedade, o direito de empresa e o direito de liberdade económica.

A intervenção é temporária e termina, normalmente, de três formas:

 Retorno a gestão dos titulares dos órgãos de administração;


 Um processo de falência, caso a empresa demonstre ser absolutamente inviável;
 Através da nacionalização da empresa, caso o interesse público o exija.

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Em alguns casos a intervenção pode consistir uma primeira fase do processo que culminará na
nacionalização, dificultando desta a forma a distinção. Contundo, são notáveis algumas
diferenças significantes, tais como:

 A natureza dos actos, na nacionalização está diante de actos políticos legislativos;


 Quanto aos fundamentos ideológicos, na medida em que na nacionalização estão em
causa orientações políticas que consideram que a salutar prossecução do interesse
público, necessita da transferência dos bens para o sector público. Neste caso, as
empresas são vistas como instrumento de prossecução do interesse público. Ao contrário
na intervenção o fundamento deve ser não a instrumentalização de empresa, mas sim
uma medida de carácter excepcional, através da qual se pretende evitar danos para o
interesse público.

Como se disse, na intervenção não se põe em causa a titularidade da empresa, diferentemente da


nacionalização.

Ver a Lei n.º 1/92, de 3 de Julho, Lei Orgânica do Banco de Moçambique e a Lei n.º 15/99, de 1
de Novembro, Lei das instituições de crédito e sociedades financeiras, concretamente os art.º s
83 e 84, o DL n.º 16/75, de 13 de Fevereiro (regime jurídico da intervenção do Estado nas
empresas privadas), a Lei n.º 13/91, de 3 de Agosto e o DL n.º 18/77, de 28 de Abril, que previa
a transformação das empresas intervencionadas pelo Estado em empresas estatais.

6.5.4.2. Expropriação por utilidade pública

Segundo o nº art.º 82 da CRM “A expropriação só pode ter lugar par causa da necessidade,
utilidade ou interesse públicos, definidos nos termos da lei e dá lugar a justa indemnização”. Este

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constitui excepção à garantia constitucional prevista no nº 1 do mesmo artigo, que garante o


direito de propriedade privada.

A nacionalização distingue-se de expropriação pelo facto desta última consistir na


desapropriação de qualquer bem privado (entre outros, terrenos, edifícios) em benefício de uma
entidade pública (construção de estradas, urbanização, escolas). A expropriação afecta o direito
de propriedade privada sobre bens independentemente da função; a nacionalização tem por
objecto a propriedade dos meios de produção para os colocar ao serviço de todos. As razões da
expropriação têm a ver com o tornar os bens indisponíveis, por razões concretas e específicas, a
realização de tarefas da Administração.

A expropriação incide sobre bens sobre bens imobiliários, enquanto a nacionalização incide
sobre uma universalidade de bens. Na expropriação cabe indemnização, vide o n.º 2 do art.º 13
do da Lei n.º 3/93, de 24 de Junho, Lei de Investimentos.

Na Expropriação está em causa:

 A utilidade pública, onde subjaz a necessidade de satisfação das necessidades ou o


interesse público;
 Na expropriação está em causa o direito de propriedade, verificando-se a limitação
associada à sua função social;
 A expropriação representa um acto administrativo sujeito a lei. Este pode ser contestado
em sede de tribunais próprios.

6.5.4.3. Requisição

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Na requisição, a Administração Pública impõe aos particulares a obrigação de temporariamente,


prestarem certos serviços ou consentir a utilização de alguns bens disponíveis, cabendo o direito
a indemnização. Trata-se de uma transferência transitória de posse ou gozo de bens ou serviços
por exigência do Estado, no interesse público.

6.5.4.4. Confisco

Este tem carácter sancionatório, e consiste na perda, a favor do Estado, da totalidade ou em parte,
do património em virtude do cometimento de certos actos ilícitos.

O confisco só é possível quando se verifica um crime que envolve a própria coisa objecto de
confisco.

6.5.4.5. Enquadramento histórico das nacionalizações

Geralmente as nacionalizações são levadas a cabo na sequência de alterações na estrutura do


poder político com as consequentes modificações na estrutura económico e social. Ocorrem
normalmente em ambientes revolucionários tendentes a instaurar um regime político de
orientação socialista ou comunista, embora não lhe sejam exclusivas.

Estão são próprias da época contemporânea, finais do Sec. XX. Elas apareceram primeiro na ex-
URSS, em resultado da Revolução Russa de 1917.

A Constituição Mexicana, embora de menos intenso, adoptou as nacionalizações, o que também


veio a ser realçado pela Constituição de Weimar (Alemã de 1919), que embora de forma
diferente da mexicana e soviética, abriu espaço para o processo das nacionalizações.

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Porém, é nos pós Segunda Guerra Mundial, que o fenómeno nacionalização começa a ganhar
espaço no Ocidente europeu, embora o leste europeu tenha as adoptado com mais relevo devido
as influências soviéticas.

No mundo extraeuropeu, concretamente nos chamados país do terceiro mundo, com suas
independências, incluindo a necessidade da também chamada independência económica,
encetaram movimentos de nacionalização tendente a colocar sob controlo político, sectores
económicos estratégicos, até a essa altura sob controlo de fiéis aos colonizadores, tendo a década
60, período em que a África as popularizou.

Moçambique, com o advento da sua independência, e pôr a maior parte de sectores ditos
estratégico este nas mãos de particulares, aliados a colonização, não tardou a entrar em processo
de nacionalizações como uma das ferramentas de democratização da sociedade e do Estado e de
modificação da estrutura económica para que a servir de base à fase de “transição para o
socialismo”. É assim que é executado um longo processo de nacionalizações, desde a terra, os
recursos naturais situados no solo e no subsolo, nas águas territoriais e na plataforma continental.

6.5.4.6. Regime jurídico das nacionalizações

Tanto as Constituições de 1975 e de 1990, não previam de forma expressa a figura das
nacionalizações, tão-somente o art.º 8 da CRPM conferia ao Estado o direito de propriedade da
terra, dos recursos naturais situados no solo e no subsolo, nas águas territoriais e na plataforma
continental, o que não se mostrava irrelevante a despeito das implicações directas e imediatas da
proclamação da independência, uma vez que transfere clara e distintamente a titularidade da terra
para o Estado moçambicano. Contudo, nas constituições de 1990, (art.º s. 35, 46 e 47) e de 2004
(art.º s. 98, 109, 110 e 111), vieram estender o espírito do art.º 8 da CRPM.

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Pela timidez constitucional sobre o termo nacionalização, são aprovados o DL n.º 16/75, de 13
de Fevereiro (regime jurídico da intervenção do Estado na gestão das públicas, intervenções
essas que serviram de pressuposto para as nacionalizações) e a Lei n.º 13/91, de 3 de Agosto.
Ainda no mesmo cenário, é aprovada a Lei n.º 3/93, de 24 de Junho, Lei de Investimentos, onde
segundo o n.º 2 do art.º 13, abriu a possibilidade de nacionalizações na área industrial. Esta lei
foi regulamentada pelo Decreto n.º 14/93, de 21 de Junho, e no seu artigo 26, fixa o prazo de 90
dias para eventuais reclamações da titularidade de certos empreendimentos por investidores cujas
empresas tenham sido intervencionadas.

6.5.5. As privatizações

Privatização é um termo usado para referenciar a passagem de qualquer actividade do sector


público para o sector privado, envolvendo a introdução de capital privado ou técnicas de gestão
privada no sector de actividade pública, ela não envolve necessariamente a transferência de
propriedade.

A privatização implica a transferência de empresas estatais como orientação comercial,


actividades ou activos produtivos do Estado para o sector privado, no seu todo ou parcialmente,
de modo que haja controlo efectivo do privado na gestão.

A privatização implica (dependendo da forma escolhida), a transferência de quaisquer direitos ou


a combinação dos seguintes tipos de direitos do Estado para o sector privado propriedade:
operacionais e de desenvolvimento.

A privatização de empresas é um processo contrário ao das nacionalizações. E consiste na


redução do peso do sector empresarial público, efectuado através da transformação legal e

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factual de empresas com personalidade jurídica de direito público em empresas de estatuto


jurídico privado.

As formas de alcançar as privatizações variam em função das políticas públicas e económicas


adotadas. Pode consubstanciar a forma de alienação dos meios de produção pública, a cedência
da sua gestão ou até a abertura de sectores antes vedados à actividade privada, através de uma
liberalização dos regimes legais da actividade económica privada.

A privatização pode verificar-se por via da colaboração entre entidades privadas na execução de
tarefas públicas. Destas formas atrás enunciadas pode ocorrer em vários sentidos:

 Privatização como transferência total ou parcial da propriedade pública para a privada,


independentemente de a natureza desses bens ou natureza da empresa ser
originariamente pública ou ter resultado da nacionalização. Se é resultado da
nacionalização, diz-se que é reprivatização.
 Privatização como concessão da gestão da empresa ou serviços públicos à entidades
privadas, mediante contrato.
 Privatização como liberalização do sector de produção, venda e arrendamento de
imóveis ou a prestação de cuidados sanitários por entidades privadas, vide a Lei n.º
5/91, de 9 de Janeiro e a Lei n.º 26/91, de 31 de Dezembro.
 Ainda, utiliza-se o termo privatização para qualificar o processo de submissão dos
serviços ou empresas públicas a regras de gestão de natureza privada. Comporta a
privatização por desregulação que ocorre quando as entidades públicas deixam de
regular ou aligeirarem a regulação permitindo o livre funcionamento das regras do
mercado. Este tipo de privatização pode ser:

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a. Formal: traduz-se no mero recurso pelo Estado a formas ou regimes


organizacionais ou jurídicos de direito privado.
b. Material: que implica a transferência da propriedade ou da gestão dos
meios de produção para o sector privado.

6.5.5.1. Fundamentos das privatizações

As privatizações representam um fenómeno recente e resultam:

 A adesão ao sistema de economia de mercado livre cujas leis aconselham a necessidade


da redução da presença do Estado e outros entes na economia;
 A ineficiência das empresas públicas e estatais na prossecução dos objectivos
económicos, financeiros e comerciais em benefícios de objectivos económicos e sociais;
 A necessidade de diminuir os desequilíbrios dos orçamentos para aliviá-los dos défices:
 A necessidade da redução do peso político dos sindicatos ou no interesse do clientelismo
político-partidário;
 A privatização como a intenção de promover as vantagens sociais sugeridas como as
mais adequadas à fase presente do capitalismo como seja a distribuição maciça de capital
ou da maximização do capital.

6.5.5.2. Privatizações em Moçambique

Como resultado do processo de descolonização de Moçambique, agudizou-se a instabilidade


sociopolítica e económica, o ditou a abandono pelos seus proprietários (maioritariamente brancos
e indianos) de inúmeras empresas o ditou com que o Estado a intervir directamente na economia,
através de nomeação de comissões administrativas compostas maioritariamente por
trabalhadores e membros de grupos dinamizadores locais, estruturas administrativas dos bairros e
unidades produtivas adoptadas a seguir a independência, com vista a assegurar a gestão das
mesmas.

As causas que estão por detrás das privatizações se destacam:

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 Mau desempenho da economia nacional no período que antecedeu as privatizações;


 O contexto sócio-político e económico que o país atravessava; e
 A competitividade e o desenvolvimento e o desenvolvimento tendo em conta a política
económica que se pretendia seguir.

As privatizações surgem como uma forma de encontrar soluções de para tornar as empresas
outrora pertencentes ao Estado mais competitivas e agressivas no mercado modernizando as
infra-estruturas, reduzindo a estrutura de custos fixos e elevando a qualidade de serviços
prestados.

As privatizações são tidas como a base para a transformação da economia do país para uma
economia de mercado onde o sector privado vai desempenhar um papel preponderante na
dinamização do mercado, através de um processo que toca em muitas ou quase em todas as
esferas da dinâmica das empresas gerando mudanças estruturais, tecnológicas e nas pessoas.

Elas designam uma técnica pela qual o Estado reduz ou modifica a sua intervenção na economia
a favor do sector privado, implicando, por isso, a redução do domínio económico do sector
público.

Com vista ao alcance deste objectivo, o Estado recorre a várias formas que variam em função das
políticas públicas e económicas por ele definidas. A privatização pode significar:

 A transferência total ou parcial da propriedade de empresas e/ou bens públicos para


entidades privadas;
 Contratação de serviços por entidades públicas para entidades privadas tais como
serviços de mão-de-obras, serviços de limpeza, estes últimos de limpeza quase
duradoira;
 Ainda, pode ser aplicável às privatizações a desregulamentação, significando que as
entidades deixam de regulamentar o modo de produção ou de distribuição de um bem ou
serviço, permitindo um funcionamento mais livre, com base em regras do mercado, base
fundamental do funcionamento económico.

6.5.5.3. Classificação das privatizações

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Estas podem classificar-se em:

 Formal ou legal: esta pressupõe, apenas, o recurso pelo Estado de regimes jurídicos
de direito privado, não obstante manter a respectiva titularidade e direcção de gestão;
 Material: que se traduz na transferência da propriedade ou da gestão dos meios de
produção do sector público para o sector privado. A privatização material pode
subdividir-se em:
i. Organizativa, quando compreende essencialmente a figura de concessão; e
ii. Funcional, segundo a qual a função empresarial em causa é coordenada pelos
sujeitos privados.
 A privatização funcional pode ainda ser parcial, quando o sujeito privado detém mais
da metade do capital social, ou total dos serviços.
 Económica financeira: esta traduz-se na abertura das empresas ao capital privado,
contudo, sem que Estado abdique do controlo jurídico que lhe advêm de uma
participação maioritária.

6.5.5.4. Causas das privatizações

São vários os motivos que ditam com que o Estado tome a necessidade de reduzir o seu papel
interventor ou de agente económico, sendo de destacar:

 A ineficiência das empresas públicas provocada, em parte, pela sua gestão de dar a
primazia aos objectivos políticos e sociais, ao invés dos objectivos económico-
financeiros e comerciais;
 A redução das tarifas e de preços;
 Os aspectos ligados ao modelo de gestão; e
 A interferência do sistema político partidário na nomeação dos gestores.

Na verdade, há que assinalar que as privatizações visam reduzir o papel do Estado empresário
para melhorar a eficácia e eficiência da economia, incentivando a livre concorrência, tendo como
objectivos:

 Melhorar o funcionamento das empresas privadas;

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 Distribuir de maneira popular o capital, mediante o ingresso dos trabalhadores na


estrutura accionista;
 Diminuir a intervenção do Estado na economia; e
 Aliviar a sobrecarga do Orçamento Geral do Estado das despesas da economia.

6.5.5.5. Regime jurídico das privatizações

O Governo de Moçambique adotou, a partir de 1986, um conjunto de medidas tendentes ao


reajustamento estrutural da economia, o que permitiu a introdução, a partir de 1987, de
profundas alterações, tendo em vista a redução gradual do papel do Estado na esfera jurídica
produtiva económica, abrindo espaço para a participação activa de outros agentes
económicos, de modo a conferir maior dinamismo e operacionalidade à actividade
económica.

 Decreto n.º 21/89, de 23 de Maio, regula a alienação a título oneroso de empresas,


estabelecimentos, instalações, quotas e outras formas de participação financeira da
propriedade do Estado;
 Decreto n.º 36/90, de 27 de Dezembro, materializa a reestruturação empresarial de
três empresas, nomeadamente a Interfranca, E. E.; a Enacomo, E. E. e a Intermecano,
E. E.
 A Lei n.º 13/91, de 3 de Agosto, que determina a transformação das empresas
intervencionadas à luz do Decreto-Lei n.º 16/75, de 13 de Fevereiro; a Lei n.º 15/91,
de 3 de Fevereiro, que estabelece as normas sobre a reestruturação, transformação e
redimensionamento do sector empresarial do Estado, incluindo a privatização e
alienação a título oneroso de empresas, estabelecimentos, instalações e participações
sociais de propriedade do Estado. Por outro lado, o Decreto n.º 20/93, de 14 de
Setembro, o qual cria o regime especial sobre a modalidade e os prazos de
participações de capital para os trabalhadores nacionais.

Na verdade, a privatização das empresas sob controlo do Estado, intervencionadas ou


nacionalizadas, constitui um dos pilares centrais do processo de liberalização da actividade
económica em Moçambique,

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Entende-se, que a implementação de privatizações, isto é, liberalização da iniciativa privada iria


beneficiar a indústria e toda a actividade económica no país, injectando novo capital e
introduzindo maior dinâmica empresarial.

6.5.5.6. Objectivos

De acordo com a Lei n.º 15/91, de 3 de Agosto, constituem objectivos das privatizações:

 Promover e dinamizar a actividade económica através da intervenção do sector privado;


 Promover as alterações tecnológicas e organizacionais na produção em geral, de modo a
aumentar a eficiência, a competitividade de empresas e a concorrência;
 Atrair investimentos privados, nacionais e estrangeiros que permitam recapitalizar as
empresas, reabilitando-as ou ampliando as suas capacidades de produção;
 Reduzir a sobrecarga sobre o Orçamento do Estado, em resultado de subsídios atribuídos
às empresas estatais de forma directa ou indirecta;
 Reduzir o envolvimento governamental no processo de decisão empresarial;
 Promover a disseminação do capital social, através do acesso à titularidade das
participações sociais nas empresas por parte dos cidadãos, em geral, e dos trabalhadores,
em particular;
 Gerar receitas para o Estado.
6.5.5.7. O processo das privatizações

O processo de alienação de uma empresa ou participações de propriedade do Estado passa por


obedecer diversas fases, desde a selecção da empresa a alienar, o lançamento do concurso até a
análise das propostas dos potenciais compradores.

É assim que foi aprovado o Decreto n.º 21/89, de 23 de Maio, que veio estabelecer os
mecanismos processuais para as privatizações.

No que concerne a reestruturação de grandes empresas, o respectivo processo é coordenado pela


Unidade Técnica para a Reestruturação (UTRE). Contudo, quando se pretende privatizar
determinadas empresas, o Primeiro-Ministro é a pessoa competente para nomear a Comissão
Executiva de Privatização (CEP), que integra um representante do Ministério das Finanças, um

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representante do Centro de Promoção de Investimentos (CPI) e um representante da OTM


Central Sindical, que procedem a respectiva selecção, e reunido o consenso, o relatório é
submetido ao primeiro-Ministro para a decisão final.

No tocante a pequenas e médias empresas, a selecção é feita pelo Ministério de Tutela ao que se
segue a reestruturação a cargo da Comissão Nacional de Avaliação e Alienação (CNAA), sendo
o PM que emana a decisão final.

Quando a venda não precede de um concurso público a decisão é emanada pelo Ministro de
tutela e pelo Ministro da Economia e Finanças, tratando-se de empresas de âmbito nacional, ou
pelo Governador Provincial, tratando-se de empresas de âmbito provincial.

Com vista à privatização, quer da propriedade, quer da gestão da sua exploração ou


arrendamento, quer na Lei n.º 15/91, de 3 de Agosto (artigo 8), quer no Decreto n.º 28/91, 21
Novembro, consagram diversas modalidade e precedentes:

 Concurso: lançamento, selecção e adjudicação, tendo em atenção a maior pontuação


conforme a proposta. Este é aplicável para empresas de pequena e média dimensão.
 Oferta ou venda pública de acções: o Decreto n.º 28/91, 21 de Novembro, consagra a
modalidade de oferta ou venda pública de acções. Nesta modalidade o público tem a
possibilidade de aquisição de acção de determinada sociedade anónima, e consagra-se um
número relativamente de interessados, desde pequenos aos médios subscritores. Este é
aplicável para empresas de maior dimensão.
 Alienação por negociação particular ou concurso restrito.
 Realização de investimentos privados pela via de emissão de novas acções; e
 Participação de entes estrangeiros.

Os esforços contínuos do Governo na privatização foram sendo acompanhados por fortes


indicadores económicos, nomeadamente um grande aumento do PIB, baixa inflação e
estabilidade das taxas de câmbio. E a par do assinalável desempenho económico, Moçambique
virou um espaço apetecível de crescente investimento nacional e estrangeiro, o que permitiu com
que o seu nível de crescimento anual atingisse a média de 5%, onde de 1993-1997, cresceu 8%, o

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que se deveu também ao incremento da produção agrícola e o desenvolvimento de actividades


comerciais.

Também, aliado a este crescimento, está o desempenho da indústria de transportes e


comunicações entre outros serviços que se expandiram rapidamente, movido pela reabilitação,
reestruturação e modernização, ainda em curso dos portos e caminhos de ferro (Corredores de
Maputo, da Beira e do Norte), permitindo desta forma uma fácil ligação com o interland e o resto
do mundo.

Na verdade, as privatizações e a reestruturação abrange diversas áreas ou sectores, como a


indústria a vários níveis (mecânica, metalomecânica, de borracha, de papel, de bebidas, de
cimentos, alimentar), a agricultura, a pesca, os transportes, a banca e o mercado de valores
mobiliários (Bolsa de Valores), a indústria aeroportuária, a de seguros.

6.5.6. O Estado como regulador da economia


6.5.6.1. Noção de regulação pública da economia

A noção de regulação da economia é hoje um conceito central no Direito Económico, podendo


considerar-se dois aspectos fundamentais: a regulação pública e a auto-regulação. De certo
modo, é comum o entendimento de regulação pública como intervenção indirecta do Estado na
vida económica.
“Um controlo dirigido e continuado exercido pelos poderes públicos sobre actividades
valorizadas numa dada comunidade”.
O bom funcionamento do mercado assenta da afirmação plena dos agentes económicos privados,
salvaguardados a livre e leal concorrência e os direitos dos consumidores, tendo a regulação por
objectivo a defesa do interesse público, mediante a correcção de eventuais desvios. Daqui
decorre, pois, a adopção de uma noção de regulação como intervenção do Estado para a
realização do interesse público, não apenas no Plano económico, mas também social.

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Pese embora a importância e a vastidão da regulação pública da economia, há vários domínios a


considerar, no seu âmbito geral:
a) Planeamento económico;
b) Regras de acesso à actividade económica;
c) Defesa da Concorrência;
d) Direitos dos consumidores e regras da publicidade;
e) Actividade financeira;
f) Normas relativas ao ambiente.

6.5.6.2. Âmbito da regulação

A intervenção indirecta do Estado é uma constante nas Economias de mercado com forma de
regulação dos agentes económicos, condicionando-os através das formas seguintes:
a) Leis e outros instrumentos normativos;
b) Contratos económicos;
c) Política Económica;
d) Concessão de subsídios fiscais ou financeiros.
A regulação económica é por isso, uma alternativa ao desempenho pelo Estado do papel de
agente económico.
Nas Economias menos desenvolvidas, surge frequentemente a coexistência de duas atitudes de
intervenção: directa e indirecta.
O modelo moçambicano actual desenvolve um conjunto de princípios de organização económica
fixados no art.º 96 da CRM, se por um lado encontramos um desenvolvimento do mercado de
uma frequência do Estado pelas formas de intervenção indirecta, a verdade é que subsiste o
Sector Público por imposição constante do n.º 2 do art.º 99.
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A Defesa da Concorrência é a matéria fundamental do Direito Económico, numa Economia de


mercado, uma vez que para além dos direitos económicos dos cidadãos, importa garantir a
transparência e a fluidez do mercado.
Existem várias regras aplicáveis á concorrência contidas em diferentes articulados, por exemplo:
a)      Tratado de Roma: como é natural o Tratado que em 1957 criou as normas instituidoras
do mercado comum, contém normas directamente aplicáveis à livre concorrência,
proibindo práticas que tenham por objectivo ou com efeito restringir, falsear ou impedir a
livre concorrência.

6.5.6.3. Tipos de regulação


6.5.6.4. Procedimentos unilaterais
6.5.6.5. Negociados (contratos económicos e concertação da economia social)
6.5.6.6. Principais áreas de regulação económica

7. Planificação da economia

Planificar não é questão ideológica. Para se chegar a esta conclusão basta pensar que quer os
EUA, quer a URSS pós primeira grande guerra, tiveram necessidade de planificar.

A paz burguesa, fundada no individualismo absoluto, na relação especifica com o reino do


Direito e no mito da legalidade que garante a plena individualidade de cada cidadão, não
representou um mundo social e racionalmente calmo fora do imaginado.

Progressivamente, foi substituída pela pax americana que procurou saciar a ânsia humana com a
produção crescente que conduziu à concentração da riqueza nas mãos da maioria em detrimento
do bem-estar da maioria.
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A vontade de intervir cria a paz social, que, com o fito de buscar a coexistência pacífica no plano
legal e material com uma justiça distributiva, leva a que se introduzissem os planos económicos
num contexto de linguagem sob a tríplice concepção mitológica, metafísica e programática.

A planificação é um instrumento auxiliar da sociedade para ordenar os esforços no sentido de


atender às aspirações que correspondem, no plano económico, à elevação persistente dos níveis
de bem-estar, à construção de uma sociedade aberta, livre, democracia, desenvolvida e estável.

O Plano é um mito que se revestia de uma previsão instrutiva, fora dos conceitos discursivos e
técnicos, que cria uma nova realidade e propõe um dever-ser miticamente aureolado, parte de
uma cosmogonia mítica que envolve o povo num círculo mágico.

A Planificação económica refere-se à centralização, por parte do Estado, dos poderes de


planeamento e execução de políticas económicas, suprindo o mercado e a livre concorrência.

A URSS foi a pioneira na aplicação e execução da planificação económica, quando dirigida por
Stalin, elaborou um sistema de metas com duração estipulada de cinco anos, os chamados planos
quinquenais, e dando ênfase ao sector energético e da indústria pesada de bens de capital.

Através de planos quinquenais a URSS obteve progressos significativos na produção de aço, de


bens de capital e na produção de maquinaria para a indústria. Este modelo foi seguido por todas
as repúblicas da União, como também dos Estados satélites da URSS. Ainda hoje existem países
que executam a planificação económica, como é o caso da Cuba e da Coreia do Norte.

Porém, a planificação económica, da forma como foi implementada, não produzia uma
quantidade de riqueza suficiente para melhorar o padrão de vida dos cidadãos soviéticos,
deixando em segundo plano a produção de bens de consumo, que para além de pouca oferta,

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tinham quantidade inferior à dos produtos produzidos em economias de mercado, concentrando


recursos apenas onde o Estado considerava importante, negligenciando o que alguns
considerariam necessidades populares.

8.1. Planeamento económico

Refere-se a qualquer direcção ou planeamento da actividade económica fora dos mecanismos do


mercado, na tentativa de alcançar resultados específicos de natureza económica ou social.

O planeamento é um mecanismo económico para a alocação de recursos e tomada de decisão, em


contraste com o mecanismo do mercado. A maioria das economias segue o método misto, pois
os elementos que incorporem mecanismos de mercado e planeamento para a distribuição de
entradas e saídas.

8.1.1. O nível de centralização

Da tomada de decisão em última análise, depende do tipo de mecanismo de planeamento


empregado, como tal planeamento pode ser baseado em modelos centralizados ou tomada de
decisão descentralizada.

O planeamento económico pode ser aplicado a produção, investimento, distribuição ou todos os


elementos. O planeamento pode tomar a forma de directiva ou de indicativo.

Um economista baseado principalmente no planeamento centralizado representa uma economia


planificada, em que a alocação de recursos é determinada por um plano abrangente de produção.

8.2. Planificação em Moçambique

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“Planificar significa criar as condições para que cada trabalhador sinta o projecto que constrói
como uma obra que lhe pertence, para que conheça os benefícios dessa obra.

Planificar significa a integração do camponês no projecto para que os seus horizontes se


libertem e adquira a consciência proletária do peso do seu trabalhador no todo nacional.”
Presidente Samora Machel, Setembro de 1981.

Moçambique conquistou a sua Independência em 1975 depois de 10 anos de luta armada anti-
colonial e revolucionária. Portugal ocupava o território moçambicano desde os princípios do
Século XVI. Contudo, a presença portuguesa só foi efectiva a partir da segunda metade do
Século XIX, depois da conferência de Berlim, e as últimas batalhas contra a resistência do povo
moçambicano tiveram lugar já nos princípios do século XX.

A colonização portuguesa caracterizou-se, até meados do Século XX, por uma exploração
mercantilista, tráfico de escravos e exploração de mão-de-obra. Portugal, ele próprio um país
colonizado na Europa, praticou um colonialismo de “segunda mão” com pouquíssimos
investimentos em infra-estruturas ou sectores não imediatamente reprodutivos. As grandes fontes
exploradas foram a exportação de mão-de-obra para as minas da África do Sul e os portos
marítimos que serviam os países vizinhos (RSA, as Rodésias do Sul e Norte e o Malawi).

Os recursos agrários, florestais, piscatórios e mineiros não foram mais que incipientemente
desenvolvidos e, mesmo assim, só rentabilizados através da exploração quase esclavagista da
mão-de-obra. Só nos últimos anos no domínio colonial se começaram a estabelecer as primeiras
indústrias transformadora, têxteis, alimentares, metalomecânicas. A rede energética servia e
serve apenas os centros urbanos e muito deficientemente. Aina hoje não um rodoviário

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completamente transitável do Norte a Sul, incluindo o ferroviário, embora esforços venham a ser
envidados.

O pior legado do colonialismo situa-se, contudo, ao nível da educação e do desenvolvimento dos


recursos humanos, pois, à data da independência o país contava com mais de 95% de analfabetos
e uma população indígena sem capacidades para exercer mais do que trabalho não especializado
ou semi-especializado. Os graduados de nível médio e superior contava-se no mínimo às dezenas
e, nalgumas profissões, ainda hoje, se contam aos dedos, embora nos últimos dez e quinze anos
esta tendência mudou drasticamente, tanto no sector de educação a vários níveis e também em
termos de recursos humanos disponíveis.

O desequilíbrio de exploração económica provocou uma assimetria desastrosa na distribuição da


população no território nacional. A atracção para os centros urbanos onde as condições de vida e
as oportunidades económicas pareciam superiores criou uma situação em que o crescimento
demográfico urbano é rapidíssimo e sem relacção com as reais oportunidades de emprego.

Por outro lado, a existência de uma classe de operários que alternam o trabalho industrial na
RSA e o trabalho predominantemente agrário em Moçambique, cria condições de grande
ambiguidade e dependência económica que provoca desequilíbrios sociais, criam uma classe de
consumidores sem possibilidade de satisfação, agrava o contraste entre uma sociedade
industrializada e economicamente em vias de desenvolvimento, com expectativas e hábitos de
consumo de país industrializado.

A independência é o primeiro passo do programa político da FRELIMO. O segundo passo seria a


progressiva socialização do país. Passo mais difícil no contexto dum sub-continente, ainda em

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luta pela sua independência política ainda à procura de identidades nacionais, em exploração
directa por potências capitalistas e, em geral, ele próprio de aspiração capitalista.

A euforia da independência, tão duramente conquistada, marca um grande momento de unidade,


um grande e espontâneo movimento do apoio aos guerreiros e ideólogo da luta contra o
explorador estrangeiro e contra o explorador interno. O programa político parece claro, simples
de compreender. Para um povo explorado, a promessa da terra retomada, da saúde para todos, da
escola e da Universidade aberta, da igualdade de direitos e de acesso ao poder, a habitação e ao
trabalho são o programa político longamente esperado.

A lealdade ao poder conquistado não se põe em dúvida e o poder coloca-se inequivocamente ao


serviço do povo. Os últimos sonhadores com um neocolonialismo, os inocentes e os
inconscientes da natureza colonial e racista dos seus privilégios abandonam o país sem chegarem
a compreender realmente a sua sorte. Com eles vão as últimas reservas técnicas.

Um ano após a independência, o país conheceu uma deserção em termos de capacidade técnica e
administrativamente. a direcção é corajosamente assumida por quadros políticos tecnicamente
inexperientes ajudados pelos primeiros cooperantes e técnicos estrageiros de inspiração
internacionalista ou mais ou menos assumida.

A tarefa era, contudo, colossal. Um sistema de administração colonial pesadamente burocrática e


ineficiente tinha que ser desmontado e substituído por novas formas de administrar. Um aparelho
do Estado tinha que ser criado, estruturado e posto a funcionar.

A administração tinha que ser substituída por quadros políticos leais e esclarecidos. Um sistema
de segurança pública e um exército regular estabelecido e implementado no terreno. Tudo com
base num fundo de analfabetismo enorme, numa reserva de quadros de lealdade duvidosa, numa
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situação de insegurança e de sabotagem crescentes e em presença de dois vizinhos altamente


agressivos e apostados em provar que um regime progressivo, não racial e democrático não pode
resultar em África.

A estrutura da FRELIMO assumiu efectivamente o poder em todo o país. Foram os quadros que
haviam participado na luta, mutas vezes sem grande profundidade de compreensão política, e
quase sem preparação técnica, que tiveram que assumir a responsabilidade pela tomada
quotidiana das decisões. Não se era “do Governo”, era-se “da FRELIMO”.

Moçambique é um país extenso com mais de 800 mil quilómetros quadrados, cerca de 2.400
quilómetros de costa e 4.300 de fronteira terrestre confinado com 5 diferentes países. Um vasto
território desprovido de uma rede de transportes e comunicações minimamente eficazes para o
uso interno, mas servindo os países do interland, sem uma rede de distribuição de energia, mas
exportando electricidade, sem infraestruturas industriais, mas exportando matérias-primas sem
um sector agrário desenvolvido, mas com algumas das cidades mais modernas de África, tal era
o panorama a data da independência.

Planificar a economia, o desenvolvimento social, a distribuição das actividades e da população


no território; corrigir a injustiça e a geografia nacional, foram desde o princípio sentidos como
uma necessidade e uma estratégia essenciais ao desenvolvimento integrado do país. Os
princípios políticos estavam definidos, mas transformá-los em acção era claramente mais difícil,
sobretudo numa fase em todos os quadros técnicos leais eram chamados a preencher o vazio
deixado pelo êxodo maciço dos técnicos e quadros administrativos coloniais.

8.3. modelos de Planos

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Na definição da natureza dos planos moçambicanos, há que dizer que eles não são imperativos,
mas, por outro lado, são mais do que meramente indicativos, sendo necessário situá-los em seu
contexto.

Contudo, dois critérios podem ser usados para evidenciar a sua natureza jurídica:

 O primeiro, que seria o de, com base numa definição a prior, de acto jurídico, indagar se
o Plano é um acto jurídico;
 O segundo, partiria do estudo de características intrínsecas do Plano, para descobrir se
aquelas lhe permitem ser classificado como um acto jurídico.

Na verdade, não se duvida que o Plano é elaborado observando um quadro normativo


estabelecido pelo Governo e aprovado com o regimento da Assembleia da República, no que aos
actos jurídicos está reservado.

Resulta igualmente que o Plano está dotado, tanto quanto a generalidade dos actos jurídicos, de
normatividade.

Com estes argumentos se pode chegar a conclusão de que o Plano é um conjunto de actos
colectivos, no sentido de que resulta da vontade comum do Estado.

Porém, outros negam esta posição, assumindo que o Estado se compromete perante a
generalidade da sociedade, tomar um conjunto de medidas, a cumprir certas tarefas e a realizar
um conjunto de objectivos em determinado período. Para estes, o Plano é tido como um conjunto
de normas objectivas.

A eficácia do plano decorre do sopro da vontade geral, imperium, mas do tal consentimento e
adesão dos administrados contidos no aço colectivo que é o Plano.

Para Laubadère, o Plano é definido como um documento adoptado pelos poders públicos,
destinado a analisar as probabilidades de evolução económica e definir as orientações
consideradas desejáveis e em cuja direcção se pretende impulsionar aos agentes económicos.

Actualmente os planos moçambicanos são indicativos, em oposição aos anteriores (de economia
centralizada), de natureza imperativa. Estes não estabelecem ordens e prescrições, mas sim,
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enunciam objectivos, preferências ou opções a tomar e recomendações. Trata-se de um acto


técnico e político sem juridicidade, onde o Estado tem o dever moral e jurídico de executar e
tomar as medidas necessárias à sua execução.

A planificação funda-se na ideia de responsabilidade, na necessidade de agir de modo a dominar


o acaso, a conjeturar e conjurar o que pode ser prejudicial.

Planificar é uma tendência dos tempos modernos, é um imperativo democrático que deflui do
contexto internacional.

Na verdade, o Plano Económico e Social (PES) contém a vocação de plano a executar e as


atenuações da preocupação de não pôr em causa a liberdade das escolhas e comportamentos,
acolhendo a vontade do povo.

O Plano como contrato social assume um papel pedagógico, mobilizador de energias e criador de
vontade colectiva.

Em Moçambique, o Plano é lei. É revestido de características de generalidade e obrigatoriedade,


sendo que o Governo deve criar condições para a sua implementação. Contudo, a
obrigatoriedade não é uma negação a revisibilidade e modificabilidade do Plano, na medida em
que estas duas características podem negar a sua juridicidade, como acto prospectivo que é.

Ainda, o Plano abandona a rigidez das figuras jurídicas clássicas, pela sua elasticidade e
informalidade, flexibilidade, fluidez e temporalidade. É juridicamente relevante quando se
transforma em acto administrativo para a orientação político-económico.

Entende-se que a planificação pode desempenhar um papel central se concebido não como
simples quadro previsional das possibilidades de risco futuro, mas como instrumento de acção
susceptível de reorientar a economia, graças à condenação de múltiplas intervenções de poderes
públicos e a evolução profunda que se traduz na escolha de um novo modelo de
desenvolvimento.

8.4. Tipos de Planos

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Os planos económicos devem ser entendidos como planos económicos e sociais, técnico-
administrativos. Estes podem ser:

 Regulares ou normais: quando incidem sobre um processo de contínuo planeamento;


 Eventuais ou de emergência: quando referentes a necessidades individualizadas ou
excepcionais;
 Sectoriais: quando incidem sobre determinada área fundamental para a concretização do
Plano;
 Regionais: quando são implementadas em determinadas zonas em detrimento de outras.
Estes têm referência local e não global.

Por outro lado, os planos podem ser:

 Indicativos: próprios das economias competitivas, tem uma execução em que o princípio
é o da liberdade dos sujeitos económicos;
 Maleáveis: são aqueles que permitem uma modificação e adaptação flexível ao longo da
sua execução, sempre que as circunstâncias assim o dita;
 Mistos: estes são parcialmente imperativos e parcialmente indicativos.

Ainda, os planos podem ser, quanto ao horizonte temporal, de longo, médio e curto prazos.

8.4. Natureza Jurídico do Plano

A análise jurídica do plano implica, antes de mais, na distinção entre o Plano e o Direito da
planificação e do planeamento.

Como se disse, a planificação exprime-se em actos jurídico diversos cuja qualificação só é


possível qualificando previamente o Plano Económico.
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Entre o Plano e a sua execução interpõem-se uma série maior ou menos de formas executórias.

Nos planos de planificação centralizada ou direcção central, o plano é uma super lei, dotada de
força jurídica especial, na medida que ele é um instrumento primordial da vida económica, tendo
implicações quer no Direito Público quer no Direito Privado, donde as regras de
responsabilidade civil são retiradas para evitar as obrigações de indemnizar por perdas e danos
que dificultariam a sua aplicação,

As obrigações assumidas no âmbito do plano têm preferência imediata, automática e oficiosa,


considerando-se nulas as que lhe sejam contrárias, e na medida em que lhes sejam desconformes,
mesmo pré-existentes. A viabilidade do plano impõe a sua supremacia.

O Plano é uma super norma, superior a lei ordinária e capaz de promover a invalidade oficiosa de
certas normas e contratos, e serve uma função positiva de base imperativa das normas e os actos
administrativos. O Plano é uma norma especial e um princípio constitucional actuante, não
meramente programático.

A super legalidade do Plano não é de natureza legislativa, mas reside nas prerrogativas dadas a
Administração.

8. A regulação do sistema monetário e financeiro


8.1. Sistema Financeiro (Nacional)
O Sistema Financeiro representa um conjunto de normas estruturadas por lei de modo a
garantir a formação, a captação e a segurança das poupanças, bem como a aplicação dos meios
financeiros necessários ao desenvolvimento económico e social.
O sistema financeiro é o conjunto de regras densas a que as instituições de crédito e as
sociedades financeiras se submetem (instituições que actuam no mercado monetário,
financeiro e cambial e que tem actividades de natureza bancária e/ou financeira).

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O sistema financeiro é o conjunto ordenado das entidades especializadas no tratamento do


dinheiro.
A noção de sistema financeiro, avançada, é material. O Estado intervém largamente para
regular o sistema financeiro, dando azo a um corpo de normas: o direito bancário institucional
fazendo-o, o Estado delimita o âmbito de aplicação das próprias normas, isto é, define, para
efeitos jurídicos, o que entende por sistema financeiro. Tem-se, por essa via, o sistema
financeiro formal, isto é, o conjunto ordenado das entidades que o Estado entende incluir
nessa noção.

Os dois sistemas tendem a coincidir: doutro modo, o Estado iria abdicar de regular entidades
que, materialmente, se ocupam do dinheiro – hipótese dum sistema formal mais restrito do
que material – ou iria tratar como financeiras entidades estranhas ao fenómeno subjacente,
confundindo o mercado e prejudicando os operadores. Haverá, porém, sempre disfunções.

Segundo Teodoro Waty na sua obra Direito Bancário, o sistema financeiro representa o
conjunto de normas estruturadas por lei de modo a garantir a formação, captação e a
segurança das poupanças, bem como a aplicação dos meios financeiros necessários para o
desenvolvimento económico e social.
Fazem parte do sistema financeiro as instituições que actuam no mercado monetário, financeira
e cambial, que prosseguem actividades de natureza bancária e/ou financeira.

Estas instituições podem ser de tutela, auxiliares e instituições financeiras.


Para o desenvolvimento de actividades econômicas, tem como fundamento os sistemas
monetário e financeiro. Outrossim, as empresas e as famílias na realização das suas actividades,
o fazem comprando, vendendo, produzindo ou consumindo dinheiro.

a) Marcado Monetário e Mercado Financeiro

As famílias e as empresas além de consumirem, poupam. Ainda as empresas usam parte dos seus
lucros para investir ou reinvestir, comprando bens de capital e outra parte depositam em banco,
uma forma de poupança. Estas poupanças são caracterizadas através do mercado financeiro e do

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sistema bancário, que para além de aceitar tais poupanças, também concede crédito mediante
pagamento de juros.

Estes factos ditam o surgimento do mercado monetário e financeiro, que representa um


complexo sistema de relações entre os agentes económicos no âmbito da circulação monetário. A
actividade dos agentes económicos dinamiza o mercado económico e financeiro, deixando para o
Estado o papel de regulador.

O mercado monetário entendido como mercado de capitais a curto prazo, em que se enfrentam
uma procura provavelmente dos devedores privados e do Estado e uma oferta dos particulares,
das empresas e das instituições financeiras.

O mercado monetário tem como finalidade permitir a troca de valores com diferentes graus de
liquidez e por seu turno, o mercado financeiro trata de capitais disponíveis a longo prazo.

Os capitais provêm essencialmente de empresas e do Estado, através de empréstimos e a oferta


de bancos de investimentos e outras instituições especializadas em crédito.

ORIGEM E EVOLUÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO MOÇAMBICANO


1ª fase: 1877-1974 – período do estabelecimento da primeira agência bancária;
 1877 – Estabelecimento da agência do banco nacional ultramarino
 1864 – foi constituído em Portugal (BNU), banco orientado para as colónias, e tinha como
objectivo consolidar a actividades comercial e financiar as actividades agrícolas.

2ª fase: 1974-1977 – com os Acordos de Lusaca ficou determinado que Moçambique podia constituir o
seu Banco Central, sendo que a supervisão foi confiada ao Ministério da Coordenação Económica,
através do Decreto nº 23/74, de 23 de Novembro. Neste período surge efectivamente o Banco Central
através do Decreto nº 2/75, de 16 de Maio, definido como empresa pública.
Foram absorvidos pelo banco que acaba de nascer o pessoal do Banco Ultramarino. Em 1977 é
nacionalizada a banca através do Decreto nº 5/77, de 31 de Dezembro (BNU, BPD e BST).

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3ª fase: início da implementação do PRE. Nesta fase o escudo foi desvalorizado, tendo-se mantido uma
valorização administrativa do escudo em Moçambique de forma forçada, as políticas de crédito foram
em função das perspectivas políticas.

4ª fase: 1987 até hoje: com a introdução do PRE houve a implementação das reformas, aperfeiçoam-se
as negociações com o Banco Mundial e o FMI (iniciado em 1984) com vista a abertura do mercado
(abandonando a política de centralização), o quadro legal sobre a matéria financeira foi alargado.

b) Bolsa de Valores

A Bolsa de Valores permite a mobilidade de capital num determinado mercado cuja a função e
mobilizar as poupanças dos agentes económicos num determinado mercado cuja a função é
mobilizar as poupanças dos agentes económicos a fim de reunir e melhorar os meios de
produção, para além da sua capitalização (rendimento do capital investido).

Na Bolsa de Valores, um dos mercados financeiros trocam-se valores mobiliários que podem ser
agrupados em duas categorias, as obrigações e as acções.

Obrigação é o título de crédito emitido por uma sociedade comercial, um organismo público ou
Estado em resposta a necessidade de um empréstimo de capital, devendo os portadores do título
a receber, regra geral, um juro anual até o reembolso do valor.

A acção é um título de crédito que representa uma parte da propriedade de uma sociedade
anónima, a SA, emitida no momento da constituição. O portador de uma acção tem direito a
dividendo fixado anualmente em função dos lucros da empresa.

A emissão das obrigações e das acções designam-se de mercado primário, da mesma forma
acontece com a emissão de notas de moedas através do Banco Central. O Mercado primário
implica a emissão de moedas.
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Os valores emitidos, as obrigações e as acções podem ser de seguida ser transacionados no


mercado secundário. Este mercado permite aos portadores dos valores emitidos no mercado
primário, vendê-los e recuperar os fundos despendidos pela reserva das variações das cotações
dos recursos no mercado.

c) Instituições do sistema monetário e financeiro

REGIME GERAL DAS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO (A Lei nº 15/99, de 21 de Novembro em


atenção as alterações trazidas pela Lei nº 9/2004, de 21 de Julho)

Procurando sintetizar o sentido geral do regime geral das instituições de crédito, dir-se-á que
ele visou, essencialmente quatro objectivos:
 Receber, na ordem interna, diversas regras comunitárias;
 Simplificar o sistema de fontes;
 Codificar as regras existentes;
 Introduzir soluções mais aperfeiçoadas.

O regime geral das instituições de crédito não se limitou a simplificar as fontes bancárias
institucionais, compilando regras antes dispersas nos numerosos diplomas revogados: ele
introduziu um tecido normativo elaborado em função de critérios jurídico-científicos. Noutros
termos: o regime geral das instituições de crédito tem um papel codificador.

Trata-se duma dimensão a entender em termos de razoabilidade uma vez que falta, no direito
bancário institucional, uma ciência madura que permita maiores aprofundamentos. Mas ela
existe. Para tanto, bastará atentar em três pontos:
 A sistematização ordenada do geral para o especial;
 A confecção de regimes gerais aplicáveis às diversas instituições de crédito e
sociedades financeiras;
 A subordinação das diversas rubricas às regras dos sectores normativos a que
pertençam.

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As instituições financeiras se destacam: O Banco Central ou Emissor, os Bancos Comerciais, as


Sociedades de Crédito, as Casas de Câmbio e outros intermediários financeiros.

9. Teoria da integração e políticas comunitárias


9.1. Integração Económica: Conceito

A Integração Económica refere-se ao conjunto de esforços dos Estados com vista ao alcance dos
seus objectivos, através de uma união entre eles. Esta pode resultar da união de vários Estados,
num todo.

A integração representa um processo onde os integrantes devem decidir com muito cuidado o
que pretendem realizar, a forma como pretendem fazer, assim como os objectivos a alcançar.

A integração representa uma forma de cooperação ou relacionamento entre os membros que


pretendem levar avante uma acção, na qual se opera a diminuição de discriminação.

O Prof. Bela Balassa, na referência de Benjamim Alfredo, na sua obra Noções Gerais do Direito
Económico, considera que a teoria da integração económica está ligada aos efeitos económicos
da integração nas suas diversas formas e com problemas resultantes das divergências entre as
políticas monetárias e fiscais nacionais, entre outras.

9.2. Aspectos gerais da Integração Económica

No campo Económico, as organizações internacionais, juridicamente, classificam-se em:

a) Organizações de cooperação económica: estas permitem o estabelecimento de


laços económicos entre os países com níveis de desenvolvimento económico
diferentes, e até os modos de produção diferentes (o caso do FMI, o BIRD).

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b) Organizações de integração: estes tentam aproximar ou uniformizar os níveis de


desenvolvimento económico (UE).
 Nas organizações de cooperação económica procura-se reduzir as barreiras nas
transacções comerciais para lhes conferir maior flexibilidade, ao contrário do que
acontece nas organizações de integração económica, se busca a supressão absoluta das
barreiras nas transacções comerciais para se criar um espaço económico único.
 Na cooperação económica é possível entre os países com diferentes sistemas monetários,
fiscais, de segurança social. Aqui verifica-se o respeito pela soberania do Estados
membros.
 Na integração económica, só é exequível quando se chega a harmonização profunda do
padrão institucional da economia. Nesta verifica-se a delegação de alguns poderes
atinentes a soberania do Estados membros.

9.3. Características especiais das organizações de Integração Económica

Nestas verifica-se:

 A existência de um poder legislativo e um poder judicial, sendo que os Estados membro


estão sujeitos a uma jurisdição obrigatória;
 Os seus órgãos possuem poderes próprios;
 Aos Estados membros lhe é reservado o direito de acesso directo os respectivos órgãos; e
 Existência de recursos próprios.

9.4. Formas de Integração Económica


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Constituem formas de integração económica:

a) Zona de comércio livre

Esta comporta a circulação de mercadorias sem restrições quantitativas e de imposições


aduaneiras o comércio entre os países da zona. Não existe pauta aduaneira.

b) União aduaneira

Nesta verifica-se a livre circulação de mercadorias, a pauta aduaneira é comum, não precisa a
prova da origem dos produtos, as regras são comuns.

c) Mercado comum

Esta abarca a união aduaneira e também exista a livre circulação de trabalhadores, livre prestação
de serviços, as políticas económicas são comuns, verifica-se a harmonização da legislação fiscal
das sociedades e outras, a produção e a comercialização observa um quadro legal comum.

d) União económica

O mercado é único, onde circulam pessoas, mercadorias, serviços e capitais, uma política de
concorrência entre outras medidas, tendo em vista ao reforço de mecanismos do mercado, as
políticas são comuns com vista a mudanças estruturais e desenvolvimento regional.

e) União monetária: a moeda é única, paridade cambial e verifica-se a total integração da


actividade bancária.
f) Integração económica

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Nesta verifica-se uma integração plena, no que tange as políticas monetárias, fiscais, aduaneiras
e sociais comuns. Embora os Estados membros tenham ambições individuais, estes são
vinculados pelas decisões tomadas em comum e parte da sua soberania é alienada em prol da
integração económica. É o caso da União Europeia.

g) Vantagens da integração

Numa economia integrada verifica-se o seguinte:

 Economia de escala com alargamento do mercado e a redução dos custos de produção;


 Desenvolvimento de actividades dificilmente compactíveis com a dimensão nacional;
 Formulação coerente e rigorosa de políticas económicas;
 Reforço da capacidade de negociação entre os organismos, no pressuposto de que “a
união faz a força”;
 Aceleração do nível de desenvolvimento;
 Intensificação da concorrência o que faz com que as empresas aperfeiçoem os métodos
de gestão de qualidade de produtos, baixos preços
h) Relações entre os Estados e a Integração

As relações entre os Estados são aquelas que se desenvolvem no âmbito do Direito Internacional,
podendo estas serem conflituosas ou pacíficas, sendo que estas últimas são amigáveis e se
desenvolvem de acordo com a normalidade internacional reconhecida e aceite pelos Estados
membro e expressas em convecções e tratados baseados no Direito consuetudinário, e
categorizam-se em:

 Relações de reciprocidade (diplomáticas);

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 Relações de cooperação e de coordenação (nestas tentam-se se prosseguir alguns


objectivos humanitários, sociais, económicos comuns); e
 Relações de integração (aqui aceita-se a perda de parte da soberania estatual em
benefício das relações comunitárias).

i) Factores de integração económica

São diversos os factores que conduzem com que os Estados optem por uma integração
económica ou uma união, podendo ser económicos, políticos, culturais e geográficos, analisados
aqueles que são as vantagens e as desvantagens.

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