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INSTITUIÇÃO DA MULTIPROPRIEDADE
No primeiro caso disposto em lei, ela é instituída por ato entre vivos, ou seja,
pode tanto nascer da liberdade volitiva de uma pessoa que é proprietária do
imóvel-base e deseja instituir o regime de multipropriedade como meio de
auferir pecúnia, bem como da vontade de duas ou mais pessoas, que veem
neste regime jurídico uma forma melhor de conciliar seus interesses
econômicos e/ou de lazer.
Pensar de forma diferente poderia ofender duplamente ao que prevê a lei, haja
vista que, por um lado, se desrespeita a expressão de vontade estabelecida na
via testamentária (que, por sua vez, deve ao menos ser clara, se propondo
estabelecer um regime de multipropriedade, indicando ao menos as unidades
periódicas), e por outro, ainda, se desrespeita completamente a finalidade
jurídica do instituto da multipropriedade.
Ainda, recomenda-se que o leitor faça análise atenta dos dispositivos, que
terão seus pontos principais abordados, sem a pretensão exaustiva,
principalmente para não tornar o estudo cansativo.
Quanto aos direitos, os primeiros três incisos do art. 1.358-I dão alguns fatores
importantes para a existência da propriedade plena, a saber: uso, gozo, cessão
e alienação.
É fundamental abrir um parêntese para tratar do que o §2º do art. 1.358-L traz,
pois ele torna o adquirente solidariamente responsável com o alienante por
certas obrigações não cumpridas (constando do §5º do art. 1.358-J, estas
obrigações foram vedadas pelo Presidente da República, mas não impedem
interpretações abertas tendentes a prejudicar o adquirente). A única forma do
adquirente não ser solidariamente responsável com débitos existentes pelo
alienante é se aquele exigir deste uma declaração de inexistência de débitos.
Por conta disso, recomenda-se esta cautela aos operadores do direito que
forem auxiliar procedimentos de compra e venda de unidades periódicas em
multipropriedade.
Para não confundir o leitor, eis um exemplo: imagine que a Torre Celeste, no
Rio de Janeiro, é prédio residencial que funcione em regime de condomínio
edilício, e possua 10 andares. Em cada andar, um apartamento. Após obter
aprovação dos demais condôminos, o proprietário do apartamento do 1º andar
resolve por instituir, em sua unidade, o regime de multipropriedade. Digamos,
ainda, que a unidade foi virtualmente fracionada em três unidades periódicas,
que de pronto foram adquiridas por três pessoas.
Mas não se pode esquecer, contudo, que existem as assembleias que dizem
respeito a toda Torre Celeste. Neste caso, pelo prédio possuir 10 apartamentos
de iguais proporções, cada voto equivalerá a 1/10 do total. Com o apartamento
do 1º andar, contudo, não funcionará desta forma. O voto desta unidade
poderá ser menor do que 1/10, pois ele terá seu peso repartido entre os três
multiproprietários, respeitando proporcionalmente sua quota de fração de
tempo. Assim, caso os três votem em consenso, o peso será 1/10. Contudo,
caso um deles não vote com os outros dois, este 1/10 perderá 33% em seu
peso (neste ponto, não se exige do leitor a habilidade matemática, mas
somente a noção de que existe uma dinâmica diferente dentro das unidades
que possuem o regime de multipropriedade em âmbito de condomínio edilício).
Assim, não pode o sujeito alegar que não usou o home theater de sua unidade,
requerendo um possível desconto proporcional. Não poderá, tampouco, alegar
que sempre usa as escadas e dispensa o elevador. Somente pela
disponibilização das instalações e do mobiliário, já será o multiproprietário
obrigado a adimplir com as contribuições, sob pena, inclusive, de não poder
deliberar nas convenções, conforme foi visto anteriormente.
Recomendo ao leitor a leitura do art. 1.358-M do Código Civil, que trata das
principais funções do administrador, que giram em torno da gestão e
coordenação das unidades periódicas, de seus usuários e de seus mobiliários.
7. CONCLUSÃO
Com base em tudo que foi visto, onde se tentou abordar os principais pontos
trazidos pela lei n.º 13. 777/2018, o regime do condomínio em
multipropriedade possui certas peculiaridades, principalmente sobre a forma
pela qual se exerce a propriedade. É inevitável, contudo, dissociar este regime
de seu “irmão” jurídico, que é o condomínio edilício, razão pela qual muitos
institutos são assemelhados entre si, inclusive com a aplicação subsidiária e
harmonização das mesmas normas civilistas.