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CURSO DE PSICOLOGIA
Goiânia-GO
2020
Maria Fernanda D. Teixeira - N6242F3 - (PS3A42)
Pamela Yakabe - N556668 - (PS3A42)
Maria Luisa Barbosa Ribeiro - N574JE2 – (PS3B42)
Laryssa Gyovanna P.G. Alves - N6432J0 – (PS3A42)
Livia de Assis Macedo- N599JJ6 - (PS3B42)
Goiânia-GO
2020
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1. INTRODUÇÃO:
Este trabalho é dividido em duas partes. Nesta primeira parte iremos apresentar e
discutir sobre diversos assuntos da Psicologia Construtivista relacionado ao filme
indiano “Como Estrelas na Terra”. Este filme possui 02:42:24, dirigido por Aamir
Khan, no qual também faz parte do elenco. O filme aborda o período da terceira
infância de Ishaan, um garoto que apresenta dificuldades no âmbito social (entre sua
família e a escola). Ele está na fase operatório concreto e demonstra possuir problemas
de aprendizagem.
Segundo Jean Piaget (1932), o conhecimento vem de uma construção da
inteligência e do juízo moral no desenvolvimento humano. Portanto, este trabalho trará
conhecimento ao leitor através de textos que abrirão mais a compreensibilidade em
relação à Ishaan. Demonstrando uma reflexão sobre as fases de desenvolvimento de
uma criança, e a inclusão dela no contexto familiar e estudantil em relação ao seu
desenvolvimento cognitivo.
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2. DESENVOLVIMENTO TEÓRICO:
2.1 Terceira Fase da Infância:
A terceira infância, também conhecida como meninice, é marcada pela faixa
etária entre os 6 aos 12 anos. A partir dessa idade, as mudanças são mais lentas, mas é
bastante notável. Essa é a fase marcada pela operação concreta (mencionaremos mais a
frente sobre esse tema), no qual é o período dedicado à educação formal, pois aqui as
habilidades intelectuais necessárias para a aprendizagem estão mais afloradas. As
crianças nessa idade estão recém começando a adquirir as habilidades linguísticas,
lógicas e de processamento de informações necessárias para a aprendizagem acadêmica
(BOYD; BEE, 2011). É também nessa fase em que as crianças apresentam grande
criatividade.
Nessa idade as crianças demonstram uma grande resistência física, e por isso
apresentam grande entusiasmo por brincadeiras e atividades mais físicas. Em
decorrência disso, precisam de uma dieta rica em frutas, verduras, vegetais e
carboidrato, uma alimentação saudável é importante, pois aqui estão em sua principal
fase de crescimento. Por ser um período importante para seu desenvolvimento
necessitam de atenção e auxílio dos pais, inclusive no que tange aos assuntos escolares.
Por começar o período de escolaridade regular, as crianças podem apresentar
certas dificuldades, o que requer ajuda dos pais. Nesse momento começam a interagir
com outras pessoas, saindo apenas na interação com seu seio familiar, na qual
relacionam-se com pares de sua idade, e por isso, nessa fase apresenta-se diminuição do
egocentrismo. A criança começa a interagir no seu meio de forma mais independente,
adquirindo novas experiências e conhecimentos.
Há também uma maturação das habilidades motora, refletindo em suas
brincadeiras e atividades físicas. Nesse período, é importante que as crianças continuem
visitando periodicamente os consultórios médicos, para acompanhamento de seu
crescimento e prevenção de qualquer doença.
“O crescimento cognitivo que ocorre durante a terceira infância permite à
criança a desenvolver conceitos mais complexos e ganhar compreensão e controle
emocional” (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p.351). Nesse período as crianças atingem o
último estágio de autoconceito, no qual os julgamentos sobre si tornam-se mais rígidos,
conscientes e realistas, pois aqui começam a adquirir sua própria identidade. É também
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nesse período, em que entram na fase do desenvolvimento psicossocial que Erik Erikson
chamou de produtividade vs inferioridade, o que acaba inferindo diretamente em sua
autoestima.
Em decorrência de seu crescimento e desenvolvimento, elas aprendem a lidar
com seus sentimentos, e começam a perceber e identificar as emoções alheias de
pessoas a sua volta. Mas, é de extrema importância nessa fase à forma que lidam com
seus sentimentos e quais estão presentes em sua vida, pois eles têm influência direta
com sua construção da autoestima e autoconceito de si. “Por volta dos 7 ou 8 anos, as
crianças têm consciência de que sentem vergonha e orgulho, e têm uma ideia mais clara
da diferença entre culpa e vergonha. Essas emoções afetam a opinião que elas têm de si
próprias “(PAPALIA; FELDMAN, 2013, p.352).
As influências mais importantes desse período vêm ainda de sua família, pois é
essa que ainda transmitem suas crenças e valores para a criança. Por esse motivo, é
significativo a presença e atenção dos pais nesse período. Principalmente, no que tange
assuntos escolares e emocionais da criança.
Este tipo de ensino aprendizagem foi adotado como modelo definitivo nas
escolas. Por mais que este ensino seja bastante criticado, professores e educadores
continuam a usá-lo no sistema educacional, são poucas escolas que usam outros
métodos de ensinos. Aqui o ensino-aprendizagem é adquirido pelo professor, no qual o
aluno é o receptor de informações. Os alunos acumulam o conhecimento de fatos
científicos e informações isoladas numa concepção de memória associacionista, logo
este conhecimento é armazenado e quando for necessário será recuperado.
Em relação ao inatismo, Beatriz Santomauro (2015) explica que a busca por
respostas vem a partir de Filósofos da Antiga Grécia, eles queriam entender sobre como
era possível obter conhecimento, se era algo de forma inata ou aprendida por
experiências. O inatismo é uma corrente, na qual explica que os indivíduos carregam
consigo aptidões, habilidades e conceitos, em outras palavras, o conhecimento vinha por
meio dos genes hereditários. Essa corrente influenciou algumas escolas a
compreenderem que o aluno aprende por si só, e o professor interfere apenas quando
preciso, como na organização do aluno. Para Fernando Becker (Becker, 1995), “o
professor não-diretivo acredita que o aluno aprende por si mesmo. Ele pode, no
máximo, auxiliar a aprendizagem do aluno, despertando o conhecimento que já existe
no aluno.”
Darsie (2015) explica que Piaget era um interacionista relativista, no qual seus
preceitos eram baseados na interação do meio físico e social, ou seja, uma experiência
sensorial e da razão. Para Piaget, ser inteligente em uma perspectiva interacionista é
saber coordena ações do seu corpo em direção da solução de problemas. Podendo,
então, o indivíduo concluir o seu desenvolvimento a partir dos estádios de
desenvolvimento cognitivo, motor, físico, sensorial e afetivo. Piaget concluiu que todo
indivíduo funciona por meio do processo de adaptação, no qual está relacionado ao
equilíbrio entre a assimilação e a acomodação.
“Assimilação - quando o sujeito entra em contato com o meio, retira a
informação dele, se organiza à sua maneira e interpreta.
Acomodação - conceito contrário ao senso comum, às estruturas
mentais se modificam para dar conta da singularidade do objeto.” -
NADIA PATRÍCIA RIBEIRO (Portal Educação).
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disso, outro fator que pode estar relacionado são déficits nas funções executivas como
dificuldade no processamento visual ou auditivo e desenvolvimento psicomotor. A
dislexia é considerada um transtorno específico de aprendizagem porque seus sintomas
normalmente afetam o desempenho acadêmico. Geralmente, é identificado na
alfabetização, onde se inicia o processo de aprendizagem da leitura e escrita.
Discalculia:
É um transtorno causado por uma má formação neurológica que se manifesta
como uma dificuldade no aprendizado dos números. Quem possui discalculia apresenta
dificuldade para assimilar a quantidade das coisas e por isso à dificuldade de entender
os números e o que eles representam. Assim, o indivíduo é incapaz de identificar sinais
matemáticos, classificar números, símbolos matemáticos, montar operações e relacionar
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o valor de moedas. É perceptível desde muito cedo, mas é na escola que os sinais e
dificuldades se expressam de maneira clara e explícita, porque as exigências são
maiores e a sequência de tarefas que envolvem aritmética e proporções serão rotineiras.
Não existe remédios e nem cura, porém o indivíduo aprende a lidar com o transtorno.
Segundo Ladislav Kosc (1974), existem seis tipos de discalculia, são elas:
- Discalculia verbal: dificuldade em nomear quantidades matemáticas, números,
termos e símbolos;
- Discalculia léxica: dificuldade na leitura de símbolos matemáticos;
- Discalculia operacional: dificuldade na execução de operações e cálculos
numéricos;
- Discalculia gráfica: dificuldade na escrita de símbolos matemáticos;
- Discalculia practonóstica: dificuldade na enumeração, manipulação e
comparação de objetos reais ou imagens;
- Discalculia ideognóstica: dificuldades nas operações mentais e no
entendimento de conceitos matemáticos.
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Ishaan tem problema tanto na leitura quanto na escrita. Ele menciona que as
palavras dançavam para ele. Mas, a escola e seus pais mesmo sabendo deste problema,
não quiseram solucionar, nem tão pouco procuraram saber o que ele tinha. No texto do
desenvolvimento teórico, em relação aos problemas de aprendizagem, o leitor pode
compreender que Ishaan não era um “garoto-problema”, ele apresentava dificuldades
que ninguém da sua família e da sua escola queriam compreender e que também tinham
conhecimento, ou de fato aceitá-lo. Ele tinha a Dislexia, um transtorno de aprendizagem
que pode afetar muitos, mas que poucos querem compreendê-la, e tem conhecimento
desse assunto, apenas os rotulam como problemáticos, doentes mentais ou até mesmo
de burros, e isto é demonstrado muito ao decorrer do filme.
Observação feita por aqueles que assistiram ao filme: Além da Dislexia,
mencionamos também no desenvolvimento teórico um pouco sobre a Discalculia.
Ishaan ao fazer uma prova de matemática, não consegue calcular e nem consegue
escrever os números, por isso trazemos está observação, de que talvez ele não tivesse
apenas a Dislexia, mas também a Discalculia.
“A única coisa na qual Ishaan se concentrava com mais afinco era em pintar,
onde sua imaginação tomava conta e ele podia ficar em seu próprio mundo. Essa
última parte é visível quando Ishaan resolve não ir às aulas e fica andando pelas ruas
indianas. Ele observa várias pessoas exercendo suas funções, enxerga várias cores e
assim colorindo as histórias em sua imaginação. E às vezes nem percebia algumas
situações na qual ele se colocava em perigo”.
Visto no primeiro parágrafo do texto sobre a Terceira Infância: “É também nessa
fase em que as crianças apresentam grande criatividade.”. Porém, de acordo com a fase
Operatória Concreta por mais que a criança tenha grande imaginação, ela tem uma
imaginação focada em coisas mais lógicas. Ishaan ao contrário tem o seu próprio
mundo, e muitas vezes imagina coisas surreais, e ele prefere viver neste mundo, onde
não há ninguém que o critique e o veja de uma maneira ruim. Mas, pela falta de noção
de perigo, isso o colocou diversas vezes em risco, como por exemplo, no filme, mostra
ele passando em frente aos carros sem se preocupar com eles vindo em sua direção.
“Tal dia, seus pais são chamados pela diretoria para irem até a escola para
conversarem sobre os testes de Ishaan, quando chegam lá se deparam com notas
extremamente baixas e inúmeras reclamações dos professores. Tal ocorrido faz com
que o
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Em uma parte do filme ele fica isolado em um local da escola, que parece um
grande penhasco. No filme não é mostrado que ele tinha algum desejo de acabar com o
seu sofrimento pulando dali, ou se realmente, não tinha noção do perigo que estava
passando.
O filme tem um desfecho incrível:
“Contudo, tal realidade felizmente será mudada com a chegada de um professor
de artes substituto, Ram. Ele chega com uma metodologia de ensino totalmente
diferente do docente anterior que tinha regras rígidas de ensino e punição com
palmatória, dando aos alunos diversões durante as aulas e tornando possível a relação
professor-aluno.”.
O novo professor parece usar bastante a corrente tanto inatista quanto a
abordagem interacionista. Ele se prende aos dons inatos das crianças, como por
exemplo, os desenhos de Ishaan que são como dons. E a abordagem interacionista,
pedindo ao diretor da escola para ensinar ao Ishaan, com o processo de adaptação, na
qual está relacionado ao equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, através de
outras formas de ensino, por meio de desenhos.
“Todos os comportamentos de desaprovação dos professores, foram mudados. Ishaan
aprende a cada dia mais e mais, e começa a fazer até as tarefas mais simples e básicas que
antes eram impossíveis a ele. O aprendizado se torna parte de sua vida, e seu desenvolvimento
cognitivo melhora cotidianamente como todas as outras crianças.”
“Por fim, o professor propõe um concurso de pintura que engloba tanto
professores da instituição quanto alunos, propiciando um momento de muita
descontração e diversão no filme a fim de ser um ambiente de aprendizagem mútua.”.
“E ele está querendo mostrar a toda turma o talento inato de Ishaan. Quadro de Ishaan:
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“Porém, Ishaan é surpreendido por seu professor. E esta surpresa o faz perceber o amor e o
carinho que seu professor tem por ele, ou seja, ele era importante para alguém:”
“Ishaan foi aplaudido por todos e recebeu inúmeros elogios de seus professores; seus
pais ficaram muito orgulhosos e agradecidos; ele concluiu o terceiro ano com sucesso
mostrando assim que cada criança tem suas próprias capacidades.”.
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4. CONCLUSÃO:
Como abordado anteriormente no trabalho com os temas: Terceira Infância,
Operatório Concreto, Construção da Inteligência – com as subdivisões que são as
abordagens empirista, inatista e interacionista – e os Problemas de Aprendizagem –
Discalculia e Dislexia- podem ser observados em uma análise com o personagem Ishaan
e toda sua trajetória em seu contexto escolar, pessoal e social.
O filme “Como estrelas na Terra” nos apresenta um tópico pouco abordado,
porém de extrema importância conhecido como problemas de aprendizagem. Isshan é
um menino que possuí dislexia, na qual ninguém tinha conhecimento ou compressão,
nem mesmo seus pais e professores, justamente por não ser um assunto frequentemente
discutido pela sociedade. Com isso o filme nos faz refletir que atualmente muitas
crianças sofrem em decorrência desse transtorno e pela falta de apoio por parte dos pais
e escola, e somente após muito sofrimento por parte da criança é que provavelmente
haverá alguma interferência pelos responsáveis para suprir suas necessidades.
Portanto, igual abordado no filme como uma forma simples de se resolver o
“problema” - o diretor querendo encaminhar Isshan há escola especial, e de certa forma,
o excluindo da oportunidade de ser tratado como uma criança normal – visto que isso
também acontece na realidade. Poucas são as escolas que realmente tem o preparo de
incluir alunos especiais em seu ensino. Sendo desse modo, um assunto que ainda é um
considerado sensível para a sociedade, no qual é ignorado a inclusão, pois método de
ensino tradicional das escolas impossibilita esses alunos em questão de terem a
oportunidade de uma inclusão social adequada.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
º KHAN, AAMIR Como estrelas na Terra (2007) - NETFLIX
<https://www.netflix.com/search?q=como%20estrelas&jbv=70087087 >
º PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento físico e cognitivo na terceira
infância. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre, 2013. p. 309-348.
º PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento psicossocial na terceira
infância. Desenvolvimento Humano. Porto Alegre, 2013. p. 349-378.
º BOYD, D.; BEE, H. Unidade Quatro – Meninice. A Criança em Crescimento. Porto
Alegre, 2011. p. 298-391.
º AFONSO, Maria João Inteligência Humana: do Conceito ao Construto-
Repositório da Universidade de Lisboa, 2007.
<https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/3987/97/ulsd053435_td_cap1.pdf>28/04/2021
(16:53) <https://repositorio.ul.pt/handle/10451/3987> 28/04/2021 (16:53)
º DARSIE, Marta Maria Pontin - Perspectivas Epistemológicas e Suas Implicações no
Processo de Ensino e de Aprendizagem- Uniciências, 2015.
<https://revista.pgsskroton.com/index.php/uniciencias/article/view/1396> 28/04/2021
(17:25)
º SANTOMAURO, Beatriz- Inatismo, empirismo e construtivismo: três ideias sobre
a aprendizagem.- Nova Escola, 2015.
<https://www.gastaoguimaraes.com.br/site/wp-content/uploads/2019/11/Nova-Escola-
1-nov-2010.pdf> 28/04/2021 (17:50)
º BECKER, Fernando- Matemática e os Números Naturais, 1995.
<https://sites.google.com/site/matematicaeosnumerosnaturais/leituras/modelos-
pedagogicos-e-modelos-epistemologicos> 28/04/2021 (17:53).
º RIBEIRO, NADIA PATRÍCIA RIBEIRO- Piaget e o Desenvolvimento da
Inteligência- (Portal
Educação).<https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/esporte/piaget-e-
o-desenvolvimento-da-inteligencia/43694> 28/04/2021 (18:24)
º ÁLVAREZ, CRISTINA DE-LA-PEÑA - Dislexia y discalculia: una revisión
sistemática actual desde la neurogenética- Universidad Internacional de la Rioja
(UNIR)-
<http://ddfv.ufv.es/bitstream/handle/10641/1505/dislexia%20y%20discalculia.pdf?sequ
ence=1&isAllowed=y>
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1. INTRODUÇÃO:
Este trabalho é dividido em duas partes. Nesta segunda parte será abordado o
conteúdo estudado sobre os estádios da teoria de desenvolvimento de Piaget, e as fases
do desenho de Lowenfeld e Luquet. Para melhor compreensão iremos mostrar os
desenhos de 09 crianças de faixa etária entre 2 à 15 anos correlacionando com o
presente conteúdo estudado.
As crianças avaliadas foram identificadas como letras de A até I, por questões de
ética não foi apresentado o nome. Fizeram apenas 02 desenhos representativos, sendo
um em relação à família (identificado como desenho 1) e de forma livre (identificado
como desenho 2), portanto, serão analisados 18 desenho no total. Os desenhos ficarão
no trabalho junto com o relato de cada criança.
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2. DESENVOLVIMENTO:
Piaget (1964), a partir de seus estudos procurava compreender como um adulto
chegava ao pensamento lógico-científico e como o indivíduo conseguia adaptar-se ao
ambiente. A partir disso, desenvolveu um campo de investigação denominado
epistemologia genética, isto é, teoria centrada no desenvolvimento natural da criança.
Ele pretendeu compreender como se desenvolvem não só os conhecimentos, como
também a capacidade de conhecer.
De acordo com Piaget, o conhecimento é fruto das trocas entre o organismo e o
meio, ou seja, a interação do organismo com o meio no qual ele está inserido. Tais
trocas são responsáveis pela construção da capacidade de conhecimento. Assim, por
meio desse pressuposto, Piaget definiu quatro “estádios” do desenvolvimento cognitivo
da criança, cujos quais expressam as etapas pelas quais se dá a construção de mundo
pela criança:
1. Estádio Sensório-motor (0 a 2 anos): o período sensório motor é
imprescindível para o desenvolvimento cognitivo. Suas realizações formam a base de
todo o processo cognitivo do indivíduo, e os esquemas sensório-motor desse período
são as primeiras formas de pensamento e expressão. A evolução cognitiva desse estádio
pode ser explicada e descrita em seis subestádios:
1.1 Subestádio I (até 1 mês) - formação dos primeiros esquemas por meio de
comportamentos reflexos: respostas aos estímulos externos (Ex.: sucção, preensão). Os
esquemas reflexos caracterizam a atividade cognitiva do bebê no primeiro mês de vida.
1.2 Subestádio II (1 mês a 4 meses e meio) - formação das primeiras estruturas
adquiridas (hábitos), perda momentânea do equilíbrio dos esquemas-reflexo, assim os
reajustes vão obter um equilíbrio momentâneo novo; coordenação entre os esquemas
olhar e pegar; transição entre o orgânico e o intelectual a fim de preparar a inteligência.
1.3 Subestádio III (4 meses e meio a 8/9 meses) - surgimento das reações
circulares voltadas a objetos. Após ter aplicado isso ao próprio corpo, a criança irá,
pouco a pouco, utilizar esses procedimentos sobre objetos exteriores. Reações circulares
secundárias: passagem entre a atividade reflexa e a propriamente inteligente. A criança
interage com o meio e a assimilação com objetos é muito ativa.
1.4 Subestádio IV (8/9 meses a 11/12 meses) - coordenação dos esquemas
secundários e sua aplicação às situações novas. Nesse subestádio, a criança já é capaz de
coordenar vários esquemas para obter resultados desejados, tornando perceptível a
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O DESENHO INFANTIL:
O ato de desenhar não se trata apenas de um gesto mecânico ao acaso, cada
movimento que as crianças fazem são atos simbólicos que as fazem expressar e
experimentar de uma maneira única a realidade que elas enxergam e vivem, bem como
seus sentimentos, ideias, emoções desejos e pensamentos. O desenho para a criança é
um ato de prazer muito significativo que transita entre o real e o imaginário. Dessa
forma, iremos abordar estágios do desenho infantil definidos e estudados por Luquet
(1969) e Lowenfeld (1977).
Estágios do desenho infantil de acordo com Luquet
Luquet (1969) começou seus estudos observando seus filhos e percebeu o ato de
desenhar como um ato de representação da realidade e imitação do real, ou seja, o
“realismo” do desenho é a característica principal. Dessa forma, ele compreende o
grafismo infantil em quatro etapas que sofre modificações ao longo do desenvolvimento
infantil:
Realismo Fortuito (2 a 3 anos):
Desenho involuntário: a criança desenha linhas sem intenção ou significado e
traceja pelo prazer do movimento e do que vê no papel.
Desenho voluntário: a criança desenha sem intenção, mas enxerga em seus
traçados semelhanças com objetos que conhecem, e depois surge a intenção de
desenhar, no entanto, as interpretações de seus desenhos podem variar.
Realismo Mal- Sucedido (3 a 4 anos): a criança desenha objetos sem ter
relações entre eles, ou seja, são independentes. Ela aprende a representar e pode obter
fracassos e sucessos, pode exagerar ou omitir partes. Ocorre o início da representação
humana: badamecogirino (os braços e as pernas saem da cabeça) badameco (os braços e
as pernas saem do corpo).
Realismo Intelectual (4 a 8 anos): a criança representa os objetos pelo seu
conhecimento intelectual, ela reproduz os objetos que estão no seu campo de visão e,
também, os ausentes. Dá transparência a alguns objetos e conseguem representar
distâncias, profundidade e posições.
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Realismo Visual (9 a 12 anos): nessa fase a criança representa o que vê. Faz
uso de perspectiva, opacidade e sobreposição para simbolizar o objeto. Com a perda da
espontaneidade para desenhar, a criança vai diminuindo a produção dos desenhos.
Estágios do desenho infantil de acordo com Lowenfeld:
Lowenfeld (1977), afirma que a transformação no grafismo infantil inicia na
infância e vai até a adolescência percorrendo diversas fases do desenvolvimento. Para
ele não é fácil perceber a transição dessas etapas, além de não ocorrerem na mesma fase
e da mesma maneira para as crianças. Dessa forma, ele definiu 4 fases do
desenvolvimento:
Garatujas (2 a 4 anos): nessa fase os desenhos são desordenados e não
respeitam o limite da folha, a criança rabisca sem intenção e sem controle e aos poucos
vai percebendo seus movimentos, controlando e organizando melhor seus traçados.
Explora e experimenta os movimentos de seu corpo e o espaço.
Pré-esquemática (4 a 7 anos): ocorre o início da representação da figura
humana. A criança adquire consciência da forma e começa a fazer tentativas de
representar o real de maneira desproporcional e desordenada.
Esquemática (7 a 9 anos): aparecimento da linha de base para melhor organizar
e coordenar os desenhos. A criança já desenvolveu o conceito de forma e os desenhos
são representativos, descritivos e organizados; os desenhos são dispostos em linha reta.
Realismo (9 a 12 anos): preocupação com a perspectiva, profundidade,
sobreposição e detalhes. Nessa fase a criança sabe representar melhor o real, embora
ainda haja presença da simbologia. A autocrítica em relação aos desenhos é bem maior
e, muitas vezes, ela perde a espontaneidade para desenhar.
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3. DESENHOS
Desenho 1A: Desenho da família
Relato do sujeito 2A
Sujeito: “ Aqui é a praia. Tem castelo de areia. Tem picolé. A gente tá andando de
banana (se referindo a banana boat, uma embarcação para passeio no mar).
Foi muito legal.
Aqui (apontando para um traçado), eu comprei um chapéu. Ficou bonito, a mamãe até
tirou foto”.
Psicóloga: Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar sobre este desenho?
Sujeito: “Não, é só isto mesmo”.
Observações:
A criança pensou bastante antes de começar a falar do desenho.
Obsservação do grupo:
Vasta imaginação no desenho e analogia entre o traço e o objeto sempre
intitulando-os, ocorrendo igualmente ao acaso. Ela cita sobre um passeio mas não diz
com quem estava, se era seus pais, seus avós, tios ou irmãos. O desenho é controlado e
nomeado.
Observações:
Na palavra caxão, lê-se caixão, na palavra econdê, lê-se esconder, na palavra coe, lê-se
corre.
A criança demonstrou muita satisfação ao desenhar e ao falar sobre o desenho. Contou a
história com muitos gestos e expressões, parecendo estar se divertindo.
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uns em cima dos outros. Pela visão dos estudos de Luquet, a criança se encontra no
realismo fortuito (2 a 3 anos), onde o traço e o objeto são nomeados, fazendo por acaso.
E conforme o estádio de desenvolvimento de Piaget a criança está no estádio pré-
operatório (2-6anos), pois passa a desenvolver a inteligência representativa.
Relato sujeito 2C
Sujeito: “ É a gente de novo (referindo-se a família).
A gente tá brincando. Eu levei minhas bonecas, aqui elas (mostrando as 2 figuras
menores).
Agente foi no play (referindo-se a área de recreação), lá é legal.
Minha mãe brincou comigo, eu corri bastante e fiquei suada, mas foi legal.
Eu gosto de brincar.
Mas minhas bonecas só queriam colo, aí eu fiquei cansada, elas são pesadas.
Psicóloga: Como você estava se sentindo neste dia?
Sujeito: “Eu corri muito, e fiquei cansada”.
Psicóloga: Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar sobre este desenho:
Sujeito: “Não, já falei”.
Análise
Segundo os estudos de Lowenfeld, a criança está na fase do desenvolvimento
pré-esquemática (4 a 7 anos), no qual ocorre o início da representação da figura
humana, há justaposição dos componentes do desenho onde a linha do chão é
inexistente. Pela concepção dos estudos de Luquet, a criança possivelmente encontra-se
em transição do realismo fortuito (2 a 3 anos) para o realismo mal-sucedido (3 a 4anos),
pois ela dá nome aos traços, e começa a aprender a representar, com fracassos e
sucessos.
Pela interpretação dos estudos de Piaget, a criança encontra-se no estádio pré-
operatório (2 a 6 anos), possuindo um pensamento egocêntrico e transdutivo partindo do
seu
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próprio eu para julgar a realidade e o outro sem se preocupar com o verdadeiro fato
acontecido, com o raciocínio primitivo com um pouco de centração onde o seu
pensamento é centralizado para si.
Relatos do SUJEITO 1D
Sujeito: “Mais um dia normal da família.
Pai, irmã 1, mãe, irmã 2 e eu (com fone de ouvido).
A família está curtindo o dia do lado de fora – a irmã e o papai estão jogando bola.
A outra irmã e a mamãe estão conversando. A irmã está com um livro.
E eu estou dentro de casa, cantando e dançando (não quis sair)”.
Psicóloga: Como você descreve esta família?
Sujeito: Feliz. A gente é bem unido, dá muita risada, tem muitas brincadeiras e muito
Amor.
Psicóloga: O que você mais gosta na sua família?
Sujeito: As risadas, a gente se diverte muito. Eu não queria que mudasse nada. Eu sou
muito sortuda. Adoro minha família.
E é mais maravilhoso porque eles me deixam cantar e dançar.
Psicóloga: Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar sobre este desenho?
Sujeito: “Não, é só isto mesmo”.
Observação do grupo:
A criança consegue já desenhar pessoas, com a representação em palitos, mas
com pescoços, pernas, braços e troncos. Ela descreve a ação de cada participante do
desenho, principalmente o dela, na qual se encontra dentro da casa. Apresenta uma
preferência de estar
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sozinha dentro de casa, podendo ser uma linguagem egocêntrica da fase da criança. Ela
comenta o laço que tem com sua família sendo amoroso, feliz e unido. Além disso, ela
comenta que seus pais permitem de fazer as coisas que ela deseja.
Desenho 2D: Desenho Livre
Relato do sujeito 2D
Sujeito: “Me inspirei na estória da séria A Garota conhece o mundo.
Um episódio onde o pai de uma das personagens está dando aula (ele é professor), e está
revoltado com o fato da tecnologia estar afastando as pessoas.
Aí ele recolhe os celulares dos alunos e manda todos para a biblioteca para fazerem
pesquisa a moda antiga.
Uma aluna tem dificuldades financeiras.
Um colega estava lendo um livro pra ela e achou que ela estivesse anotando..., mas ela
estava fazendo um desenho de uma cidade.
Na hora da apresentação da escola, o colega mostrou o desenho dizendo que o tinha
guardado no mesmo lugar que guardaria o celular.
É um episódio lindo”.
Psicóloga: Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar sobre este desenho?
Sujeito: “Não, é só isto”.
Observações:
Enquanto desenhava, a menina falou de sua paixão, que descreve como “Amor
verdadeiro” por um cantor famoso.
A menina dobrou todo o desenho para explicar como foi feito no seriado citado.
Enquanto falava do desenho, a menina se emocionou (enchendo os olhos de lágrimas).
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Observação do grupo:
Este desenho com o relato mostrou o lado emocional da criança, na qual ela
ficou emocionada e inspirada na série relatada. Descrevendo a cena com alguns cortes,
para detalhar de onde veio sua inspiração. O pensamento é de forma lógica, com a
espontaneidade da criança. Ela tenta imitar os fatos ocorridos da série.
Segundo os estudos de Luquet, e pelo que pode ser observado pela análise dos
desenhos provavelmente a criança está numa transição de Realismo Intelectual (4 a 8
anos), primeiro desenho para o Realismo Visual (9 a 12 anos) segundo desenho. E pela
perspectiva nos estudos de Lowenfeld, está passando por uma transição da fase pré-
esquemática (4 a 7 anos) para a esquemática (7 a 9 anos).
Esta criança se encontra dentro do Estádio Pré-Operatório (2 a 6 anos) para o
Operatório Concreto (07 à 11 anos), visto que no segundo desenho é observado que ela
tem um pensamento simbólico, expressou o significado que desenho trazia a ela, sendo
inspirada por uma série. No relato do primeiro desenho, ela menciona que quis ficar
sozinha em casa enquanto sua família estava em comunhão, é possível que este tipo de
comentário possa fazer parte de uma linguagem egocêntrica.
Relato do SUJEITO 1E
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Sujeito: “A gente tá no Vaca Brava tomando água de coco. A gente gosta de ir lá. Só
que agora não pode, né? (referindo-se ao distanciamento social por conta da pandemia e
corona vírus).
Mas antes podia, e depois vai poder de novo.
Aqui (apontando para o desenho) tá calor.
É meu pai, eu, minha mãe e minha irmãzinha (vixi, ela ficou feia aqui, mas ela é bonita
de verdade). Eu gosto da minha irmã.
A gente foi pra lá de carro – não, não... a gente foi de bicicleta.
Eu gosto de andar de bicicleta, mas eu ainda não sei andar sem rodinha, tenho medo.
Minha prima ri de mim, aí eu fico triste.
Mas meu pai disse que eu vou aprender, ele vai me ensinar, mas agora não tem jeito,
porque a gente não pode sair, e a quadra do condomínio tá fechada.
Minha prima é legal, mas ela gosta de rir de mim, e eu nem dou risada dela...mas meu
primo não ri, e ele “dana” com ela.
Ele (o primo) é mais legal que ela.
Mas eu gosto de brincar com eles”.
Psicóloga: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre este desenho?
Sujeito: Eu amo a minha família!
Observações:
A criança demonstrou sentimentos ao falar sobre o desenho. Começou falando com
alegria, depois demonstrou certa tristeza ao falar da prima.
Observação do grupo
A criança desenha algo real, algo que aconteceu dentro de sua história. Ela conta
em detalhes o dia do passeio, e vai além mencionando sobre querer aprender andar de
bicicleta. Narrando sobre sua nova experiência, o isolamento social. Além disso, ela
menciona sobre outras pessoas de sua convivência, mas que uma dessas pessoas traz um
certo desconforto a ela.
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Relato do sujeito 2E
Sujeito: “É um castelo. É a princesa e o príncipe – eles se casaram. Eles são tão
apaixonados (sorrindo).
O castelo é lindo e muito grande. Ele fica numa linda floresta. É um lugar bonito e
calmo. Eles gostam de lá.
A princesa cuida do príncipe, e ele protege ela..
Ela quer ter um bebê. Acho que vai ser lindo.
Ela adora bebês. Eles são tão fofos...
Eles têm muitos empregados, mas eles são bonzinhos, e o povo gosta muito deles.
O rei e a rainha morreram - eles eram velhinhos, agora o príncipe e a princesa vão tomar
conta do reino. Eles são bem legais. As pessoas vão ficar bem felizes com eles”.
Psicóloga: Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar sobre este desenho?
Sujeito: “Não, só isso”.
Observação do grupo
O desenho livre é caracterizado pela sua imaginação e espontaneidade. Ele
descreve uma história inventada com enredo feliz em seu desenho adicionando vários
detalhes.
agrada, o isolamento social. Ela diz que ama sua família, e que adora brincar com seus
primos, mesmo quando sua prima ri dela diversas vezes gerando desconforto e tristeza.
Igualmente o outro desenho possui essas mesmas características, a criança expressa
bastante suas emoções em sua fantasia, ela desenha o que sabe não o que vê. Mas, que
talvez ela esteja passando por um processo de transição para o Realismo Visual, pois
seu desenho não possui seres inanimados, e talvez o segundo desenho ela tenha tirado
um pouco de desenhos animados da televisão. Pelos estudos de Lowenfeld, ela está na
fase esquemática (7 a 9 anos), posiciona seus desenhos nos lugares certos: as pessoas no
chão, e as aves e o sol no céu.
É bem possível que esta criança esteja em transição do estádio pré-operatório (2
a 6 anos) para o operatório concreto (7 a 11 anos). Em razão de seu segundo desenho
ainda possuir muita imaginação, entretanto, o primeiro é de maneira mais perceptível o
mundo a sua volta, de como ela reage aos seus primos e a sua família. Ela apresenta um
pensamento lógico e indutivo, com a reversibilidade das operações mentais, e seu
relacionamento social é efetivo com seus primos e sua família. Seus sentimentos estão
descentrados, por mais que ele esteja em isolamento social, ele não demonstra
contrariedade, compreendendo-os.
DESENHOS 1F E 2F
DESENHO DA FAMÍLIA DESENHO LIVRE
Minha mãe também é legal, mas ela não faz cachorro quente.
Meu vô não gosta muito, mas ele come, mas não coloca cat chup, ele fala que é ruim,
mas é bom.
Eu só posso comer um pouquinho, minha mãe não deixa eu colocar muito (se referindo
ao cat chup).”
Psicóloga: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre este desenho?
Sujeito: “Eu adoro cachorro quente! Só isto”.~
Análise
Segundo a perspectiva de Luquet, conjectura-se que a criança está em uma
transição entre o realismo mal-sucedido (3-4 anos) e o realismo intelectual (4-8 anos).
Que enquadra as representações fracassadas das feições humanas, que tem como
referencial o badameco e badamecogirino, que são os membros fluindo do corpo e da
cabeça sem uma delimitação adequada. No qual também, ela começa a representar em
seus desenhos o que conhece e não o que vê, usando técnicas de plano deitado,
rebatimento e transparência.
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DESENHO 1G E 2G
DESENHO DA FAMILIA DESENHO LIVRE
Na verdade, eles estavam perdendo, aí meu irmão correu bastante e fez uma jogada
incrível, até driblar o goleiro e fazer um golaço. Ele ficou muito feliz, e a gente também.
Depois o amigo dele fez outro gol (não foi um golaço, mas foi um gol muito
importante...aí eles viraram o jogo.
Minha família é muito legal, a gente cuida um do outro.
Às vezes eu brigo com meu irmão, mas a gente se ama muito.
Neste desenho, eu era pequena, adorava laços e não saia de casa sem a minha boneca
Paty.
Agora eu não brinco mais de boneca, mas ainda tenho a Paty, ela é muito linda...ela tá
guardada, foi a minha avó que me deu.
Bom, falando da família... minha mãe e meu pai são ótimos, mas trabalham muito,
ficam bem cansados, coitados!
Também a escola é cara, né?!
E tem muita conta pra pagar.
Eu ajudo lavando as vasilhas e cuidando do meu quarto, que fica arrumado...mais ou
menos arrumado (risos).
O meu irmão faz muita bagunça, deixa tudo jogado, aí a minha mãe fica bem brava.
O meu pai não é muito bravo não, ele é bem calmo e adora comprar sorvete (risos).
Enfim, eu amo a minha família”!
Psicóloga: Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar sobre este desenho?
Sujeito: “Não, é só isto mesmo”.
Observações:
A criança demonstrou sentimentos ao falar sobre o desenho.
Ficou empolgada ao contar os fatos e mostrou satisfação ao mencioná-los.
Eu, igual a menina do livro, não sou muito popular, então me identifico com as coisas
que ela passa.
Esta árvore é uma mangueira enorme que tem lá...dá muita manga...às vezes até cai na
cabeça da gente.
Eu adoro este lugar”.
Psicóloga: Tem mais alguma coisa que você gostaria de dizer sobre o desenho?
Sujeito: Eu só quero pedir desculpas por não saber desenhar muito bem. Mas foi legal
de fazer. Obrigada.
Análise
Segundo a interpretação de Lowenfeld, a criança está na fase esquemática, na
faixa etária dos 7 aos 9 anos. Nesse período apresenta-se uma maior coordenação dos
objetos desenhados, no qual objetos terrestres ficam no chão e objetos aéreos no céu,
ainda há uma utilização do plano deitado. Essas características podem ser demonstradas
no fato dos bonecos que representam sua família, ela, a árvore, as flores e o balanço
estarem no chão e o sol e as nuvens no céu.
Segundo o panorama de Luquet, a criança se encontra no período do realismo
intelectual, fazendo parte da faixa etária dos 4 aos 8 anos. No qual, ela demonstra em
seus desenhos o que conhece e não o que vê, representando assim a sua família e a
chácara de sua tia. Usando em suas representações as técnicas de plano deitado,
rebatimento e transparência.
Por conseguinte, dentro da teoria de Piaget, a criança está em transição entre o
pré-operatório (2-6 anos) e operatório concreto (7-11 anos). Fato que se pode observar
devido ao pensamento animista ao atribuir características humanas a objetos
inanimados, exemplo deste, é conjuntura da atribuição do rosto ao sol. No estádio
operatório concreto a criança já apresenta maior expressão de seus pensamentos,
contudo, ela necessita do objeto material em suas experiências para conseguir
representá-lo. Podendo ser observado que ela apresenta um pensamento lógico, fato que
pode ser visto em seu relato no qual ela fala que se identifica com a personagem do
livro em que a menina também não é popular. Há também a diminuição de seu
egocentrismo social e a ocorrência da descentração, captado pela sua assimilação com
os sentimentos da personagem fictícia do livro “Diário de uma garota nada popular”.
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DESENHO 1H E 2H
DESENHO DA FAMILIA DESENHO LIVRE
Observações:
A criança foi acrescentando novos elementos enquanto estava falando sobre o desenho,
depois de já ter finalizado a atividade.
A criança disse que não ia colorir porque ficou com preguiça e também por não pintar
muito bem.
Eu sou palmeirense.
Eu gosto muito de futebol, e jogo lá na escolinha, no prédio e na minha escola. Eu sou
mais ou menos bom. Sou atacante, e as vezes eu faço gol.
Quando eu faço gol, eu fico muito emocionado e feliz. É muito bom”.
Psicóloga: Tem mais algum lugar que você pode falar palavrão?
Sujeito: “Não, só lá, mas quando eu tô muito pistola, aí escapa”...
Psicóloga: O que é estar pistola?
Sujeito: “É quando eu fico bravo, nervoso com alguma coisa”.
Psicóloga: E o que te deixa pistola?
Sujeito: “Não tem assim um motivo certo. É quando alguma coisa me irrita. Não sei
explicar direito, mas às vezes isto acontece. Quando escapa a mamãe e o papai falam
que não pode.
Eu sou calmo e alegre, e só as vezes fico nervoso ”.
Análise
Utilizando-se da visão de Lowenfeld, a criança supostamente está em uma
transição da fase esquemática (7-9 anos) ao realismo (9-12 anos). A fase esquemática
pode ser observada pela criança desenhar aquilo que representa e simboliza algo para si
tirado de seu meio, fato dela desenhar o campo de futebol em que sempre vai com sua
família e ,também por ele apresentar omissões de detalhes no primeiro desenho. Sendo
capaz de perceber a transição no fato do segundo desenho o garoto já apresentar
levemente a fase do realismo, no qual pode ser captado pelo seu desenho já possuir uma
linha de base, apresentar uma preocupação com a perspectiva, profundidade, detalhes e
a sátira ao representar os jogadores, sua especificidade ao representar o gol e também o
placar.
Na perspectiva de Luquet, a criança presumivelmente situa-se na fase do
realismo visual que engloba a faixa etária dos 9 aos 12 anos. Fato que pode ser
observado pela ocorrência da criança desenhar o que vê, em que ele apenas representa
sua família, campo de futebol e o jogo que assistiu. Pode ser observado a falta de
espontaneidade ao desenhar, e por seu desenho representar a realidade fiel, de modo
como ele a enxerga, contando com uma grande diminuição artística.
De acordo com a obra produzida por Piaget, a criança demonstra estar na fase do
estádio operatório concreto, aproximadamente entre as idades de 7 a 11 anos. As
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características destes fatos podem ser observadas em seu relato no qual apresenta o
pensamento indutivo e pensamento lógico mais avançado ao citar o estádio de futebol, o
que assistiu, um relacionamento social mais evoluído, quando ele diz sobre os
sentimentos dele próprio e de sua família, ao mencionar que sua mãe não gosta de
futebol, mas que se diverte por estar com a família, e também ao relatar sobre as suas
aulas de futebol e ao jogar na sua escola e no prédio com seus amigos. Mostra a queda
do egocentrismo e o aumento de suas relações sociais ao comunicar sobre sua
irritabilidade e em como isso afeta sua relação com a família. Além de apresentar um
aperfeiçoamento da linguagem ao explicar que as vezes ele solta alguns palavrões, mas
que é porque está “pistola” palavreado usado pelo sujeito que significa ficar bravo, e
que sabe que usar palavrões não é muito bem aceito socialmente.
DESENHO 1I E 2I
DESENHO DA FAMILIA DESENHO LIVRE
São coisas do desenho Naruto, mas não tem haver com esta família. É desenho
alheatório mesmo”.
Psicóloga: Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar sobre o desenho?
Sujeito: “Não, nada.”.
Observações: A criança se mostrou preocupada na escolha das cores, para ser fiél a cor
do objeto. Se dedicou bastante a pintura.
Análise
Pelo ângulo de Luquet, a criança está na fase do realismo visual sendo a faixa
etária dos 9 aos 12 anos. Em que a criança agora desenha o que vê e está em seu meio,
no qual em seu relato ele diz ser o os detalhes a ver com o desenho do Naruto e também
por seus desenhos representarem os personagens do desenho japonês Naruto. Sendo
observado pela psicóloga sua vontade e sua ânsia em desenhar, pelo fato de seu
capricho exagerado ao escolher as cores que mais fossem fieis ao objeto. E pela falta de
espontaneidade ao desenhar demonstrando menor interesse nesse.
Pela síntese das obras de Lowenfeld, a criança mostra-se estar na fase do
realismo, faixa etária de aproximadamente entre 9 aos 12 anos. Em que o sujeito
apresenta preocupação pelos detalhes, profundidade e perspectiva em seus desenhos. No
qual há a perda da espontaneidade de desenhar em que a criança desenha por vontade
própria e opção, podendo ser demonstrado através dos detalhes dos desenhos e também
escolha de cores e capricho ao pintar.
Segundo as obras de Piaget, a criança possivelmente encontra-se na fase
operatório formal, sendo a faixa etária dos 12 anos em diante. O sujeito apresenta
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pensamento e ideia abstrata, no qual a lógica dedutiva começa a fazer parte da vida
dessa criança, percebe-se pelo relato no qual indica que a família está em um universo
paralelo, e ao citar ter criado três novos clãs em seu desenho. Ele também apresenta a
justificativa lógica, ao ser perguntado sobre o que significa os detalhes do desenho
Naruto, e ele afirma que é uma família qualquer e que são apenas desenhos aleatórios
para preencher a folha, pode ser visto aqui uma tentativa de justificativa ao dar essa
resposta, igualmente apresenta a justificativa ao ficar feliz e orgulho de si próprio ao
dizer que seu desenho ficou muito realista. Apresentando autonomia e identidade ao
dizer que gosta do desenho japonês Naruto, expondo seu gosto e preferência.
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CONCLUSÃO:
Em síntese o trabalho aborda sobre os temas, teoria do desenvolvimento de
Piaget, desenvolvimento do grafismo infantil segundo Luquet e desenvolvimento do
desenho infantil segundo Lowenfeld. Sendo traçado uma análise correlacionada entre as
abordagens dos três autores em relação ao grafismo apresentado nos desenhos e relatos
das crianças de A à I. Podendo ser verificado todas as fases do grafismo de Luquet,
Lowenfeld e os estádios de Piaget, e em como uma criança pode estar em transição
entre fases.
Em virtude dos fatos mencionados podemos concluir que todas as crianças
passam por todas as fases do desenvolvimento em sequência sem pular uma fase,
precisando que a anterior esteja finalizada. Vale ressaltar quanto ao grafismo, que a falta
de habilidade no desenho não necessariamente significa alguma alteração cognitiva,
apenas falta de prática.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: