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Poder Constituinte e Formação da Constituição

O Poder Constituinte consiste na elaboração de uma nova Constituição.


O primeiro teorizador do poder Constituinte foi EMMANUEL SIEYÈS.
Não há Poder Constituinte fora do Estado, assim como não há Constituição fora da realidade
estadual, por mais diferentes que sejam os nomes ou os conceitos utilizados.
Poder Constituinte e Formação da Constituição
Fases do poder constituinte:
Poder Constituinte inicial, quando se exerceu pela primeira vez. O Estado aparece nesse
momento, assim se dotando de uma Constituição pela primeira vez;
Poder Constituinte posterior, neste caso porque já teve ocasião de se exercer anteriormente.
A nova Constituição revoga a Constituição antiga e, pura e simplesmente, a substitui para o
futuro; e
Poder Constituinte do período liberal, período em que surgiram os primeiros textos
constitucionais, pondo termo à Ordem Jurídica do Ancien Régime e, no seu lugar, se foi
instaurando a Ordem Constitucional do Estado Contemporâneo.
Manifestações típicas do Poder Constituinte
Do ponto de vista teórico, são três os esquemas de expressão do poder constituinte (Como
vicissitudes constitucionais totais) que exprimem o nascimento de uma nova Ordem
Constitucional:
- A independência constitucional;
- A revolução constitucional; e
- A transição constitucional.
O poder constituinte material e o poder constituinte formal
o poder constituinte material espelha as opções de conteúdo que explicitam a nova Ordem
Constitucional que se quer implantar, de acordo com o projecto de Direito que se produziu,
por oposição ao pré-existente, ideia de Direito que assim se espraia no conjunto da Ordem
Jurídica (poder de autoconformação do Estado segundo certa ideia de Direito); e
O poder constituinte material e o poder constituinte formal
o poder constituinte formal representa a formalização desse conteúdo através da redacção da
Constituição e dos actos constituintes em que a respectiva aprovação se vai consumando
(poder de decretação de normas com a forma e a força jurídica próprias das normas
constitucionais).
Constituição e Soberania do Estado
Quando um Estado surge de novo, ou é restaurado, ou sofre uma transformação radical da sua
estrutura, aparece dotado de uma Constituição (de uma Const. material a que se seguirá uma
Const. formal ou de uma Const. material já acompanhada de Constituição formal).
Na reassunção de soberania a Constituição formal pode corresponder a uma de três hipóteses:
a) Constituição decretada pelos novos órgãos estaduais, seja como Constituição definitiva, seja
como Constituição provisória;
b) Constituição coincidente no essencial com a Constituição ou o estatuto jurídico da
comunidade política preexistente (colónia autónoma, território sob mandato ou sob tutela,
comunidade em situação internacional sui generis);
c) Constituição dimanada de entidade externa (outro Estado ou organização internacional)
destinada a entrar em vigor com o acesso à soberania (ou à independência) do novo Estado.
Heteroconstituição
Consiste numa Constituição dimanada de entidade externa (outro Estado ou organização
internacional) destinada a entrar em vigor com o acesso à soberania (ou à independência) do
novo Estado.
Ex: de Heteroconstituições:

Incluem-se nelas algumas das Constituições (ou as primeiras Constituições) dos países da
Commonwealth aprovadas por lei do Parlamento britânico (Canadá, Nova Zelândia, Austrália,
Jamaica, Maurícia, etc.), a primeira Constituição da Albânia (obra de uma conferência
internacional, de 1913), a Constituição Cipriota (procedente os acordos de 1960, entre a Grã-
Bretanha, a Grécia e a Turquia) ou a recentíssima Constituição da Bósnia-Herzegovina.
Natureza das Heteroconstituições
As Constituições decretadas de fora do Estado podem, contudo, levantar in primis algumas
perplexidades acerca da sua natureza.
Ora, não há aqui uma dificuldade intransponível!
É que uma heteroconstituição - ou uma Constituição que passe da comunidade pré-estatal
para o Estado - tem por título, desde o instante da aquisição da soberania, não já a autoridade
que a elaborou, mas sim a soberania do novo Estado.
O Fenómeno da novação
Até à independência o fundamento de validade da Constituição estava na ordem jurídica
donde proveio; com a independência transfere-se para a ordem jurídica local, investida de
poder constituinte.
Verifica-se, pois, uma verdadeira novação do acto constituinte ou (doutro prisma) uma
deslocação da regra de reconhecimento.
 
A Revolução como fenómeno Constituinte
A Revolução consiste na adopção de uma nova ordem Constitucional global, contra a Ordem
Constitucional anterior, violando-a e substituindo-a.
Nada se afigura mais gerador de Direito do que uma revolução, nada há talvez de mais
eminentemente jurídico do que o facto ou acto revolucionário.
A revolução não é o triunfo da violência; é o triunfo de um Direito diferente ou de um
diverso fundamento de validade do sistema jurídico positivo do Estado.
A Revolução não é antijurídica; é apenas anticonstitucional por oposição à anterior
Constituição.
A Revolução
Golpe de Estado: quando o autor da revolução é um governante em funções, o titular de um
órgão de poder constituído que usurpa o poder constituinte.
Insurreição ou revolução stricto sensu : Quando um grupo ou movimento vindo de fora dos
poderes constituídos usurpa o poder constituinte.
Transição Constitucional
A Transição Constitucional consiste na criação de uma nova Ordem Constitucional,
materialmente diversa da anterior, mas utilizando os formalismos que esta previa para a
Revisão Constitucional.
Uma transição constitucional produz-se porque a velha legitimidade se encontra em crise e
justifica-se porque emerge uma nova legitimidade.
Transição Constitucional
Ex: A outorga da Carta Constitucional portuguesa por D. Pedro IV em 1826; a instauração do
fascismo em Itália de 1922 1925; a passagem da IV à V República em França em 1958; a
consagração de regimes de partido único em África nos anos 60 e 70; a «reforma política»
espanhola de 1976-1978; a abertura ao pluralismo político em S. Tomé e Príncipe, Cabo
Verde, Moçambique e Guiné-Bissau no início dos anos 90; a passagem do apartheid ao regime
democrático multiracial na África do Sul.
Revolução e Transição
Na revolução há uma necessária sucessão de Constituições - materiais e formais. A ruptura
com o regime precedente determina logo o nascimento de uma nova Constituição material, a
que se segue, a médio ou a longo prazo, a adequada formalização.
Na transição ocorre sempre um dualismo. Pelo menos, enquanto se prepara a nova
Constituição formal, subsiste a anterior, a termo resolutivo; e nada impede que o mesmo
órgão funcione simultaneamente (foi o caso do Brasil) como órgão de poder constituído à
sombra da Constituição prestes a desaparecer e como órgão de poder constituinte com vista à
Constituição que a vai substituir.
Os Modos de transição segundo diversos critérios:
- Transição espontânea e transição provocada (transição decidida pelos detentores do poder
por sua livre opção e transição provocada por convulsões políticas ou por outros eventos,
internos ou externos);
- Transição unilateral (levada a cabo no âmbito dos órgãos constitucionais em funções, sem
interferência das forças políticas de oposição) e Transição por transacção (feita por acordo
entre as forças identificadas com e regime até então vigente e as forças da oposição);
- Transição democrática ou pluralista (passagem de regime político de concentração de poder
a regime pluralista) e transição não pluralista (de sentido inverso).
O Poder Constituinte Formal e o seu processo
Estabelecida uma nova ideia de Direito, exercido o poder constituinte material, segue-se a
formalização que se traduz ou culmina no acto de decretação da Constituição formal ou acto
constituinte stricto sensu.
Pré-Constituição, Const. provisória ou Constituição revolucionária
É o conjunto de normas com a dupla finalidade de definição do regime de elaboração e
aprovação da Constituição formal e de estruturação do poder político no interregno
constitucional, a que se acrescenta a função de eliminação ou erradicação de resquícios do
antigo regime.
A Pré-constituição difere de outras realidades
A Pré-Constituição contrapõe-se à Constituição definitiva ou de duração indefinida para o
futuro como pretende ser a Constituição produto final do processo constituinte.
Outras realidades ainda diferentes
Da Constituição provisória ou Pré-Constituição deve distinguir-se o fenómeno da entrada em
vigor provisoriamente de determinados princípios ou normas constitucionais objecto de
formação já durante o processo constituinte (assim, as «Bases da Constituição» aprovadas em
1821 pelas Cortes portuguesas); e deve ainda distinguir-se a subsistência provisória de
normas constitucionais anteriores não contrárias aos novos princípios constitucionais (assim,
em Portugal as normas da Constituição de 1933 ressalvadas pelo art. 1.°, n.º 3, da Lei n.º 3/74,
de 14 de Maio).
Os Tipos fundamentais de Actos Constituintes:
Acto Constituinte unilateral singular:
O acto constituinte compete a um único órgão ou sujeito.
Acto Constituinte Unilateral Plural:
O acto constituinte advém da soma ou o resultado dos actos parcelares provenientes de dois
ou mais órgãos da mesma entidade titular do poder constituinte.
Acto Constituinte Bilateral:
O acto constituinte consiste num acordo de vontades entre dois ou mais sujeitos ou entidades.
Constituições pactícias:
São aquelas que implicam um pacto entre a assembleia (ou o povo) e o rei ou entre o órgão
(ou poder) federal e os Estados membros da União.
Os Limites Materiais do Poder Constituinte:
O poder constituinte é logicamente anterior e superior aos poderes ditos constituídos (na
tricotomia clássica, o legislativo, o executivo e o judicial).
A Constituição, obra do poder constituinte, define os poderes constituídos e enquadra-os
quer formal quer materialmente:
Os poderes constituídos não podem ser exercido senão no âmbito da Constituição e as
decisões e as normas que resultem desse exercício não podem contrariar o sentido
normativo da Constituição.
Todavia, isso não quer dizer que o poder constituinte equivalha a poder soberano absoluto e
que signifique capacidade de emprestar à Constituição todo e qualquer conteúdo, sem
atender a quaisquer princípios, valores e condições.
O poder constituinte está sujeito a limites:
Embora seja mais corrente na doutrina considerar a existência de limites materiais do poder
de revisão constitucional (tido por poder constituinte derivado) importa outrossim considerar
a existência de limites materiais (em graus diversos, se se quiser) do poder constituinte
verdadeiro e próprio, e mesmo do poder constituinte material originário.
Categorias de limites materiais do poder constituinte:
limites transcendentes, imanentes e, em certos casos, heterónomos.
Os limites transcendentes dirigem-se ao poder constituinte material e, por virtude deste, ao
poder constituinte formal;
os limites imanentes são específicos do poder constituinte formal;
os limites heterónomos adstringem tanto um como outro.
Os limites transcendentes
São os que, antepondo-se ou impondo-se à vontade do Estado (e, em poder constituinte
democcrático, à vontade do povo), provêm de imperativos de Direito natural, de valores éticos
superiores, de uma consciência jurídica colectiva
São os que se prendem com os direitos fundamentais imediatamente conexos com a dignidade
da pessoa humana. Ex: d.to à vida.
Os limites imanentes
São os limites ligados à configuração do Estado à luz do poder constituinte material ou à
própria identidade do Estado de que cada Constituição representa apenas um momento da
marcha histórica. E compreendem limites que se reportam à soberania do Estado e, de alguma
maneira (por vezes), à forma de Estado, bem como limites atinentes à legitimidade política em
concreto.
Os limites heterónomos
São os provenientes da conjugação com outros ordenamentos jurídicos. Referem-se a
princípios, regras ou actos de Direito internacional, donde resultem obrigações para todos os
Estados ou só para certo Estado; e reportam-se ainda a regras de Direito interno, quando o
Estado seja composto ou complexo e complexo tenha de ser, por conseguinte, o seu
ordenamento jurídico. Ex: os princípios de jus cogens.
Modificabilidade e Modificações da Constituição:
Se as Constituições na sua grande maioria se pretendem definitivas no sentido de voltadas
para o futuro, sem duração prefixada, nenhuma Constituição que vigore por um período mais
ou menos longo deixa de sofrer modificações.
Vicissitudes constitucionais
São quaisquer eventos que se projectam sobre a subsistência da Constituição ou dalgumas das
suas normas.
Maneiras possíveis das vicissitudes constitucionais produzirem efeitos na Ordem
Constitucional:
- como a modificação da constituição e das suas normas e princípios;
- como a cessação da Constituição e das suas normas e princípios.
Efeitos jurídicos normativos das vicissitudes Constitucionais na Ordem Constitucional:
- a alteração de preceitos constitucionais;
- a supressão de preceitos constitucionais; e
- o aditamento de preceitos constitucionais.
As vicissitudes podem recortar-se:
quanto ao modo: expressas e tácitas;
quanto ao objecto: totais e parciais;
quanto ao alcance: geral e abstracto e concreto ou excepcional;
quanto às consequências sobre a ordem constitucional: evolução constitucional ou ruptura
constitucional; e
quanto à duração dos efeitos: temporários ou definitivos.
O seguinte esquema revela talvez melhor as combinações possíveis.
Vicissitudes constitucionais quanto ao modo:
Expressas e Tácitas.
Expressas:
Revisão Constitucional (stricto sensu);
Derrogação Constitucional;
Transição Constitucional;
Revolução;
Ruptura não Revolucionária e;
Suspensão (parcial) da Constituição.
Tácitas:
Costume Constitucional;
Interpretação Evolutiva da Constituição e;
Revisão indirecta.
Vicissitudes Constitucionais quanto ao objecto:
Parciais e Totais
Parciais: (modificações constitucionais) – Todas, menos a revolução e a transição
Constitucional.
Totais:
Revolução e;
Transição Constitucional.
Vicissitudes Constitucionais quanto ao alcance:
De alcance geral e abstracto – Todas, menos a derrogação Constitucional; e
De alcance individual e concreto ou excepcional – Derrogação Constitucional.
Vicissitudes Constitucionais quanto às Consequências na Ordem Constitucional:
Na Evolução Constitucional – Todas, menos a Revolução e a ruptura não revolucionária; e
Com Ruptura (alterações constitucionais) - Revolução e Ruptura não Revolucionária.
Vicissitudes Constitucionais quanto à duração dos efeitos:
De efeitos definitivos – Todas, menos a suspensão (parcial) da Constituição; e
De Efeitos Temporários – Suspensão (parcial) da Constituição.
Os Diversos Tipos de Vicissitudes Constitucionais:
a revisão constitucional;
a derrogação constitucional;
o costume constitucional;
a interpretação evolutiva da Constituição;
a revisão indirecta;
a revolução;
a ruptura não revolucionária;
a transição constitucional; e
a suspensão (parcial) da Constituição.
A Revisão Constitucional
É a modificação da Constituição expressa, parcial, de alcance geral e abstracto e, por natureza,
a que traduz mais imediatamente um princípio de continuidade institucional.
É a modificação da Constituição com uma finalidade de autoregeneração e auto-conservação,
quer dizer, de eliminação das suas normas já não justificadas política, social ou juridicamente,
de adição de elementos novos que a revitalizem, ou, porventura, de consagração de normas
preexistentes a título de costume ou de lei ordinária.
A Derrogação Constitucional
A Derrogação é a modificação da Constituição levada a cabo por meio de processo de revisão
que se traduz na excepção a um princípio constitucional ou na regulamentação de um caso
concreto, “en vue d’un cas donné”.
A derrogação é a violação, a título excepcional, de uma prescrição legal - constitucional para
um ou vários casos concretos, quando tal é permitido por uma lei constitucional ou resulta do
processo prescrito para as variações da Constituição.
A suspensão da Constituição
Consiste na não vigência durante certo tempo de algumas normas Constitucionais. Oferece
importantíssimo interesse no domínio dos direitos, liberdades e garantias, susceptíveis de
serem suspensos, mas nunca na totalidade, por imperativos de salus publica, como a
declaração do estado de sítio, do estado de emergência ou de outras situações de excepção.
Art.ºs 27.º, 270.º ss CRCV.
Rigidez e Flexibilidade Constitucionais
A contraposição entre rigidez e flexibilidade constitucionais foi formulada por dois grandes
juspublicistas ingleses, JAMES BRYCE e A. V. DICEY, atentos às peculiaridades da Constituição
do seu país, no confronto tanto da Constituição norte-americana como da Constituição
francesa, e passou, nesses termos ou noutros, para a generalidade da doutrina constitucional.
Rigidez e Flexibilidade Constitucionais
Diz-se rígida a Constituição que, para ser revista, exige a observância de uma forma particular
distinta da forma seguida para a elaboração das leis ordinárias.
Diz-se flexível aquela em que são idênticos o processo legislativo e o processo de revisão
constitucional, aquela em que a forma é a mesma para a lei ordinária e para a lei de revisão
constitucional.
A Revisão Constitucional
A Revisão Constitucional (em sentido próprio) é a modificação da Constituição expressa,
parcial, de alcance geral e abstracto e, por natureza, a que traduz mais imediatamente um
princípio de continuidade institucional.
A Revisão Constitucional
É a modificação da Constituição com uma finalidade de autoregeneração e auto-
conservação, quer dizer, de eliminação das suas normas já não justificadas política, social ou
juridicamente, de adição de elementos novos que a revitalizem, ou, porventura, de
consagração de normas preexistentes a título de costume ou de lei ordinária.
A Revisão Constitucional
A Revisão Constitucional não pode ser confundido com as vicissitudes constitucionais totais
que implicam o aparecimento de uma nova Constituição, como são a Revolução e a
Transição Constitucionais, na medida em que nestas se afirma um poder constituinte, dito
originário, e naquela o poder constituído.
A Revisão Constitucional formaliza-se na edição de uma Lei Constitucional, de acordo com o
seguinte conjunto de efeitos:
- O efeito revogatório, o preceito constitucional cessa a sua vigência;
- O efeito inovatório, há um novo preceito Constitucional que é acrescentado;
- O efeito modificatório, o preceito constitucional existente fica a apresentar uma nova
formulação normativa; e
- O Efeito suspensivo, o preceito constitucional existente deixa de vigorar por algum tempo.
O processo de revisão pode ser ou não idêntico ao primitivo processo de criação da
Constituição.
Se é uma assembleia legislativa ordinária a deter faculdades de revisão, exerce-a, na maior
parte das vezes, com maioria qualificada ou com outras especialidades.
É bastante rara a eleição de uma assembleia ad hoc de revisão; e subjacente a isto está a
consideração de que o poder de revisão é um poder menor diante do poder constituinte
(originário), um poder derivado e subordinado.
A Revisão Constitucional desempenha as seguintes tarefas:
- Actualizar a Ordem Constitucional, adequando-a à realidade constitucional;
- Interpretar a Ordem Constitucional, estabelecendo novos critérios hermenêuticos em
aspectos que tenham ficado por esclarecer; e
- Completar a Ordem Constitucional, suprindo falhas e lacunas nas respectivas disposições.
A revisão pode realizar-se a todo o tempo, a todo o tempo verificados certos requisitos ou
apenas em certo tempo:
Na grande maioria dos países pode dar-se a todo o tempo, mas Constituições há que só
admitem a sua alteração de tantos em tantos anos; ou que, antes de decorrido certo prazo,
não a admitem senão por deliberação específica; ou que ostentam regras particulares para a
primeira revisão, vedada até certo prazo; ou para uma eventual revisão total.
Problema conexo vem a ser o dos limites circunstanciais da revisão:
O da impossibilidade de actos de revisão em situações de necessidade, correspondentes ou
não a declaração de estado de sítio
ou de emergência, ou noutras circunstâncias excepcionais.
 Ex: A CRCV no seu art.º 292.º
 Ex: A Const. Belga, em épocas de regência.
Os limites Materiais da Revisão Constitucional
Por mais espantoso que isso possa ser, os limites materiais de revisão constitucional acabam
por ser os limites mais óbvios que se colocam na expressão do poder de rever a Constituição,
uma vez que são eles o “certificado comprovativo” das limitações que necessariamente inerem
ao conceito de revisão constitucional.
Tipos de Problemas que suscitam as cláusulas (expressas) de limites materiais de revisão
constitucional:
- O problema de força vinculativa das cláusulas, por comparação com os outros preceitos
constitucionais;
- O problema de definição dos limites materiais insertos nas cláusulas.
A polémica doutrinal sobre os limites materiais:
Três teses principais se defrontam:
1ª) a dos que tomam os limites materiais como imprescindíveis e insuperáveis;
2ª) a daqueles que, impugnam a sua legitimidade ou a sua eficácia jurídica; e
3ª) a daqueles que, admitindo-os, os tomam apenas como relativos, porventura susceptíveis
de remoção através de dupla revisão ou de duplo processo de revisão.
Da observação comparativa de Constituições encontram-se oito sistemas de revisão
constitucional, algum dos quais ainda com subsistemas:
1) Revisão pela assembleia ordinária pelo mesmo processo de feitura das leis ordinárias;
2) Revisão pela assembleia ordinária, sem maioria diferente da requerida para as leis
ordinárias, mas com especialidades de outra ordem (v. g., quanto ao tempo e à iniciativa);
3) Revisão pela assembleia ordinária, com maioria qualificada;
4) Revisão pela assembleia ordinária renovada após eleições gerais subsequentes a uma
deliberação ou decisão de abertura do processo de revisão, e com ou sem maioria qualificada;
5) Revisão por assembleia ad hoc, por assembleia eleita especificamente e só para fazer
revisão (a que pode chamar-se convenção);
6) Revisão por assembleia ordinária (ou, eventualmente, por assembleia de revisão),
susceptível de sujeição a referendo, verificados certos pressupostos e em termos ora de
ratificação, ora de veto popular;
7) Revisão por referendo que incide sobre projecto elaborado pela assembleia ordinária ou
sobre lei de revisão carecida de sanção popular;
8) Revisão peculiar das Constituições federais, em que acresce à deliberação pelos órgãos do
Estado federal a participação dos Estados federados, por via representativa ou de democracia
directa, ou semi-directa, a título de ratificação ou de veto resolutivo.
Os limites Materiais da Revisão Constitucional
Há Constituições que prescrevem limites materiais da sua revisão.
A primeira Constituição em que isso se verifica é, por sinal, a norte-americana, a primeira
Constituição em sentido moderno.
Nela se dispõe que nenhum Estado poderá ser privado, sem o seu consentimento, do direito de
voto no Senado em igualdade com os outros Estados (art. V) e que os Estados Unidos garante a
todos os Estados da União a forma republicana de governo (art. IV, n.° 3).
Os limites Materiais da Revisão Constitucional
Em Cabo Verde, o art.º 285º da CRCV, que tem como epígrafo Limites Materiais da Revisão,
consagra claramente os princípios ou limites que não podem ser objecto de revisão
Constitucional:
A independência nacional, a integridade do território nacional e a unidade do Estado;
A forma republicana de governo (etc).
A polémica doutrinal sobre os limites materiais de Revisão Constitucional
Três teses principais, com cambiantes vários, se defrontam:
1ª) a dos que os tomam como imprescindíveis e insuperáveis;
2ª) a daqueles que, impugnam a sua legitimidade ou a sua eficácia jurídica; e
3ª) a daqueles que, admitindo-os, os tomam apenas como relativos, porventura susceptíveis
de remoção através de dupla revisão ou de duplo processo de revisão.
A tese dos que tomam os limites como imprescindíveis e insuperáveis
O poder de revisão, porque criado pela Constituição e regulado por ela quanto ao modo de se
exercer, porque poder constituído, tem necessariamente de se compreender dentro dos seus
parâmetros;
Não lhe compete dispor contra as opções fundamentais do poder constituinte originário.
A função do poder de revisão não é fazer Constituições, mas o inverso: guardá-las e defendê-
las, propiciando a sua acomodação a novas conjunturas;
Por outro lado, a Constituição formal está ao serviço da Constituição material. Revê-la implica
respeitar esta Constituição material e, desde logo, respeitar os preceitos que, explicitados
numa proibição, denotam a consciência da ideia de Direito, do projecto ou do regime em que
se corporiza.
Autores que defendem esta tese:
Marcelo Rebelo de Sousa: “O poder de revisão constitucional é um poder subordinado de
conservação e não de destruição da Constituição, subjacente à Constituição em sentido formal
e mais significativa do que ela de uma óptica substancial existe uma Constituição em sentido
material, e relevam limites materiais implícitos ao exercício do poder de revisão
constitucional”.
Bacelar Gouveia: “Tendo o poder constituinte construído um conjunto de disposições que se
destinam a perdurar mais do que os outros preceitos, não se concebe que o poder de revisão
constitucional, por ele criado, venha adulterar essa vontade inicial.
A criatura jamais pode impor-se ao criador!”
A tese dos que impugnam a legitimidade ou a eficácia jurídica das normas de limites
materiais
Os defensores desta tese dizem que não há diferença de raiz entre poder constituinte e poder
de revisão (ambos são expressão da soberania do Estado e ambos, num Estado democrático
representativo, são exercidos por representantes eleitos; daí a inexistência de diferença entre
normas constitucionais originárias e supervenientes) umas e outras, afinal, inseridas no mesmo
sistema normativo.
Mais, as cláusulas sobre a revisão constitucional não ostentam nenhuma força especial em
relação aos restantes preceitos constitucionais.
A tese daqueles que, admitindo os limites materiais, os tomam apenas como relativos
Esta tese afirma a validade dos limites materiais explícitos, mas, ao mesmo tempo, entendem
os seus defensores que as normas que os prevêem, como normas de Direito positivo que são,
podem ser modificadas ou revogadas pelo legislador da revisão constitucional , ficando,
assim, aberto o caminho para, num momento ulterior, serem removidos os próprios princípios
correspondentes aos limites. Nisto consiste a tese da dupla revisão ou do duplo processo de
revisão.
As cláusulas de limites materiais são possíveis, é legítimo ao poder constituinte (originário)
decretá-las e é forçoso que sejam cumpridas enquanto estiverem em vigor. Todavia, são
normas constitucionais como quaisquer outras e podem elas próprias ser objecto de revisão,
com as consequências inerentes.
O Prof. Jorge Miranda é apontado como sendo o seu defensor.
As cláusulas de limites materiais são possíveis, é legítimo ao poder constituinte (originário)
decretá-las e é forçoso que sejam cumpridas enquanto estiverem em vigor. Todavia, são
normas constitucionais como quaisquer outras e podem elas próprias ser objecto de revisão,
com as consequências inerentes.

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