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RONCARI, Luiz. Prefácio. In: BARROS, Diana L. PFIORIN,


José Dialogismo, polifonia, intertextualidade.
“Bakhtin soube diferenciar bem as dinâmicas que regulavam o plano da vida
da produção dos bens materiais e o plano da vida da produção dos bens
simbólicos. Sem desconhecer nem negar as relações entre um e outro,
entendia que, se a dialética hegeliana poderia desenhar bem o movimento do
primeiro plano, o segundo precisava de uma outra figura. Dialogia foi o termo
que mais usou para descrever a vida do mundo da produção e das trocas
simbólicas, como um universo composto de signos, do mais simples, como
dois paus cruzados formando uma cruz, até os enunciados mais complexos,
como a obra de um grande pensador como Marx, cujos valores e significados
não eram dados e estáticos, mas extremamente ambíguos e mutáveis. Nele,
tudo o que era simples poderia se tornar complexo e o que era complexo se
tornar simples (justamente o que veio a ocorrer na história da cruz e do
marxismo), o vivo morto e o morto vivo, o novo ser expressão do velho e o
velho do novo, enfim, nesse universo nada era definitivamente dado, porque
tudo poderia vir a ser, inclusive o “Assim, se a história das informações
sociais e da vida da produção material do homem conhecia um movimento
que poderia ter sentido, na medida em que as mais novas superavam e
anulavam as mais velhas; na história da vida das formas simbólicas nada era
inteiramente superado e esgotado” “Devemos dizer que o relativismo e o
dogmatismo excluem igualmente qualquer discussão, todo diálogo autêntico,
tornando-o desnecessário (o relativismo) ou impossível (o dogmatismo)”
“De certa forma, esse universo do conhecimento e da vida ideológica, ele
percorreu como um peregrino, como quem não conhecia fronteiras, regiões
interditas ou proibidas, nem marcas intransponíveis, pois as únicas efetivas
eram as das línguas e linguagens que se enraizavam profundamente em
formações culturais específicas”

“O exame da enunciação ocupa espaço privilegiado em suas reflexões,


Bakhtin concebe o enunciado como matéria linguística e como contexto
enunciativo e afirma ser o enunciado, assim entendido, o objeto dos estudos
da linguagem. ”
“Sua definição de enunciado aproxima-se da concepção atual de texto. O texto
é considerado hoje tanto como objeto de significação, ou seja, como um
‘tecido’ organizado e estruturado, quanto como objeto de comunicação, ou
melhor, objeto de uma cultura, cujo sentido depende, em suma, do contexto
sócio histórico. Conciliam-se, nessa concepção de texto ou na ideia de
enunciado de Bakhtin, abordagens externas e internas da linguagem. O texto-
enunciado recupera estatuto pleno de objeto discursivo, social e histórico. ”
“Sua obra caracteriza-se fundamentalmente pela visão de conjunto do texto.
Critica fortemente as análises parciais, sejam elas internas ou externas, e prega
a análise do todo do texto: de sua organização, da interação verbal, do
contexto ou do intertexto. “O autor acredita que o monologismo rege a cultura
ideológica dos tempos modernos e a ele opõe o dialogismo, característica
essencial da linguagem e princípio constitutivo, muitas vezes mascarado, de
todo discurso. O dialogismo é a condição do sentido do discurso. ” “Bakhtin
concebe o dialogismo como princípio constitutivo da linguagem e a condição
do sentido do discurso. Examina-se, em primeiro lugar, o dialogismo
discursivo, desdobrado em dois aspectos: o da interação verbal entre o
“Concebe-se o dialogismo como o espaço interacional entre o eu e o tu ou
entre o eu e o outro, no texto. Explicam-se as frequentes referências que faz
Bakhtin ao papel do ‘outro’ na constituição do sentido ou sua insistência em
afirmar que nenhuma palavra é nossa, mas traz em si a perspectiva de outra
voz “o sujeito deixa de ser o centro da interlocução que passa a estar não mais
no eu nem no tu, mas no espaço criado entre ambos, ou seja, no texto.
Descentrado, o sujeito divide-se, cinde-se, torna-se um efeito de linguagem, e
[…] encaminha a investigação para uma teoria dialógica da enunciação”
“Outro aspecto do dialogismo a ser considerado é o do diálogo entre os muitos
textos da cultura, que se instala no interior de cada texto e o define […] [:]
ponto de intersecção de muitos diálogos, cruzamento das vozes oriundas de
práticas de linguagem socialmente diversificadas” “o texto […] tal como
Bakhtin o entende: tecido polifonicamente por fios dialógicos de vozes que
polemizam entre si, se completam ou respondem umas às outras. Afirma-se o
primado do intertextual sobre o textual: a intertextualidade não é mais uma
dimensão derivada, mas, ao contrário, a dimensão primeira de que o texto
deriva. “Deve-se observar que a intertextualidade na obra de Bakhtin é, antes
de tudo, a intertextualidade ‘interna’ das vozes que falam e polemizam no
texto, nele reproduzindo o diálogo com outros textos” “Propusemos, em
outros trabalhos, o exame narrativo da enunciação, na tentativa de reconstruir
as ideologias do texto e concebemos, na esteira de Bakhtin, o contexto como
uma rede de textos da cultura que dialogam de modo contratual e conflitante
“Emprega-se o termo polifonia para caracterizar um certo tipo de texto, aquele
em que se deixam entrever muitas vozes, por oposição aos textos
monofônicos, que escondem os diálogos que os constituem. Reserva-se o
termo dialogismo para o princípio constitutivo da linguagem e de todo
discurso. ” (BARROS, Diana L. P. Dialogismo, polifonia e enunciação. In: “o
diálogo é condição da linguagem e do discurso, mas há textos polifônicos e
monofônicos, segundo as estratégias discursivas acionadas.
Monofonia e polifonia de um discurso são, dessa forma, efeitos de sentido
decorrentes de procedimentos discursivos que se utilizam em textos, por
definição, dialógicos. Os textos são dialógicos porque resultam do embate de
muitas vozes sociais; podem, no entanto, produzir efeitos de polifonia, quando
essas vozes ou alguma delas deixam-se escutar, ou de monofonia, quando o
diálogo é mascarado e uma voz, apenas, faz-se ouvir” “Considerou-se um
discurso autoritário aquele em que se abafam as vozes dos percursos em
conflito, em que se perde a ambiguidade das múltiplas posições, em que o
discurso se cristaliza e se faz discurso da verdade única, absoluta,
incontestável. Para reconstruir o diálogo desaparecida são, nesse caso,
necessários outros textos que, externamente, recuperem a polêmica escondida,
os choques sociais, o confronto, a luta.
“Discurso poético, por sua vez, é aquele que instala internamente, graças a
uma série de mecanismos, o diálogo intertextual, a complexidade e as
contradições dos conflitos sociais. ” “Procedimentos de criação de
ambivalência ‘carnavalesca’ operam uma releitura do mundo. Reformula-se o
mundo pelo discurso, vê-se a realidade sob novos prismas, refaz-se o ‘real’”
“no sistema da língua se imprimem historicamente as marcas ideológicas do
discurso. Sabe-se que uma única língua produz discursos ideologicamente
opostos, pois classes sociais diferentes utilizam um mesmo sistema
linguístico. Nesse caso, deve-se reconhecer que os traços impressos na língua,
a partir do uso discursivo, criam em seu interior choques e contradições que
fazem Bakhtin afirmar que em todo signo se confrontam índices de valor
contraditório e que, em suma, ‘o signo se torna a arena onde se desenvolve a
luta de classes’” “Caracterizada dessa forma, a língua não é neutra e sim
complexa, pois tem o poder de instalar uma dialética interna, em que se
atraem e, ao mesmo tempo, se rejeitam elementos julgados incompatíveis”
“para dele [o risco do ideologismo] escapar, é preciso, com os meios
desenvolvidos pelas diferentes teorias do discurso, buscar as formas, as
estratégicas, os procedimentos que fazem de um texto, mesmo dialogicamente
constituído, discursos monofônicos ou polifônicos. Procedimentos diversos
expõem ou escondem as variadas perspectivas do discurso, os diálogos
intertextuais. ”

“O investigador que não lê russo, como é o meu caso, e tomou contato com
os escritos de Bakhtin a partir das traduções em doses homeopáticas,
descobre, num certo ponto desse diálogo, que ‘a conversa é para teias de
aranha’. Um jogo de entonações, propósitos e silêncios chega através de
diferentes assinaturas – Bakhtin, Voloshinov, Medvedev – e do filtro tradutor
que, confinado às especificidades de cada língua, converte-se em coautor,
multiplicando os participantes dessa prosa” “Bakhtin afirma que tudo que é
expresso por um falante, por um enunciador, não pertence só a ele. Em todo
o discurso são percebidas vozes, Às vezes infinitamente distantes, anônimas,
quase impessoais, quase imperceptíveis, assim como as vozes próximas que
ecoam simultaneamente no momento da fala” ( “o escritor como dramaturgo
Para Bakhtin, toda voz autenticamente criadora só pode ser uma segunda voz
dentro do discurso, na medida em que o escritor é alguém capaz de trabalhar a
língua situando-se fora dela, alguém que possui o dom da fala indireta” “a
compreensão de um enunciado é sempre dialógica, por implica a participação
de um terceiro que acaba penetrando o enunciado na medida em que a
compreensão é um momento constitutivo do enunciado, do sistema dialógico
exigido por ele. Isso significa que, de alguma maneira, esse terceiro interfere
no sentido total em que se inseriu. Esse jogo dramático das vozes,
denominado dialogismo ou polifonia, ou mesmo intertextualidade, […] torna
multidimensional a representação e […], sem buscar uma síntese do conjunto,
mas ao contrário uma tensão dialética, configura a arquitetura própria de todo
discurso. ”
“Quando o semanticista russo foi introduzido no Ocidente, provocou vivo
interesse. No entanto, seu pensamento foi um pouco empobrecido. À rica e
multifacetada concepção do dialogismo em Bakhtin se opôs o conceito
redutor, pobre e, ao mesmo tempo, vago e impreciso de intertextualidade. Foi
Kristeva quem, no ambiente do estruturalismo francês dos anos 60, pôs em
voga esse conceito. ” “O conceito de intertextualidade concerne ao processo
de construção, reprodução ou transformação do sentido
“Se distinguimos a noção de discurso da noção de texto, temos que diferençar
interdiscursividade e intertextualidade. Tanto um fenômeno quanto outro
dizem respeito à presença de duas vozes num mesmo segmento discursivo ou
textual. No entanto, eles apresentam também diferenças “A intertextualidade é
o processo de incorporação de um texto em outro, seja para reproduzir o
sentido incorporado, seja para transformá-lo. Há de haver três processos de
intertextualidade: a citação, a alusão e a estilização. ”
“O primeiro processo- a citação – pode confirmar ou alterar o sentido do texto
citado. É claro que não nos interessam aqui citações de textos não-artísticos,
que devem ser explícitas, ou seja, em que a fonte aparece ao pé-da-página.
“O outro processo de relação intertextual é a alusão. Neste, não se citam as
palavras […], mas reproduzem-se construções sintáticas em que certas figuras
são substituídas por outras, sendo que todas mantêm relações hiperonímicas
com o mesmo hiperônimo ou são figurativizações do mesmo tema.
Os dois primeiros versos da ‘Canção do Exílio’ de Murilo Mendes aludem aos
dois primeiros versos da ‘Canção do Exílio’ de Gonçalves Dias:  
O texto de Murilo faz alusão ao texto de Gonçalves Dias para construir um
sentido oposto ao do poema gonçalvino, para estabelecer uma polêmica com
“A estilização é a reprodução do conjunto dos procedimentos do ‘discurso de
outrem’, isto é, do estilo de outrem. Estilos devem ser entendidos aqui como o
conjunto das recorrências formais tanto no plano da expressão quanto no
plano do conteúdo que produzem um efeito de sentido de individualização.
Também a estilização pode ser polêmica ou contratual.
“A citação ocorre quando um discurso repete ‘ideias’, isto é, percursos
temáticos e/ou figurativos de outros.
Havia, nesse discurso [da situação na ditadura militar], ênfase nos percursos
temáticos da moralização, da modernização, da Ascenção social, da
redistribuição de renda pela ‘mão invisível, da manutenção da ordem. ”
“Todos os discursos que repetem os mesmos percursos temáticos e/ou
figurativos, isto é, os que mantêm uma relação contratual, pertencem a uma
mesma formação discursiva. Cabe lembrar, porém, que também podem existir
relações contratuais, embora bastante tênues, entre formações discursivas
distintas. ”
“O outro processo interdiscursivo é a alusão que ocorre quando se incorporam
temas e/ou figuras de um discurso que vai servir de contexto (unidade maior)
para a compreensão do que foi incorporado.
“A interdiscursividade não implica a intertextualidade, embora o contrário
seja verdadeiro, pois, ao se referir a um texto, o enunciador se refere, também,
ao discurso que ele manifesta”
“O homem está inelutavelmente preso ao outro naquilo que há de mais
caracteristicamente humano, a linguagem. A alteridade é uma dimensão
constitutiva do sentido. Não há identidade discursiva sem a presença do outro.
Poderíamos até constituir o seguinte mote: fora da relação com o outro, não há
sentido. Também nosso mote não escapa ao outro. Nele ressoa a divisa
 
“As influências extratextuais têm uma importância muito especial nas
primeiras fases do desenvolvimento do homem. Estas influências estão
revestidas de palavras (ou de outros signos) e estas palavras pertencem a
outras pessoas: antes de mais nada, trata-se das palavras da mãe. Depois, estas
‘palavras alheias’ se reelaboram dialogicamente em ‘palavras próprias alheias’
com a ajuda de outras ‘palavras alheias’ (anteriormente ouvidas) e, em
seguida, já em palavras próprias (com a perda das aspas, para falar
metaforicamente) que já possuem um caráter
As palavras alheias se tornam anônimas, se apropriam (de forma reelaborada,
é claro): a consciência se monologiza.
A consciência criativa, ao tornar-se monológica, se completa pelos anônimos.
Este processo de monologização é muito importante. Depois a consciência
monologizada como um todo único inicia um novo diálogo (com novas vozes
“Tudo o que me concerne chega à minha consciência, começando pelo meu
nome, vindo do mundo exterior através das palavras dos outros (a mãe, etc.),
com sua entonação, sua tonalidade emocional e valorativa. Eu me conheço
inicialmente através dos outros: deles recebo palavras, formas, tonalidade,
para formar uma noção inicial de mim mesmo.
Como o corpo se forma inicialmente dentro do seio materno (corpo), assim a
consciência do homem desperta envolvida na consciência alheia.
E mais tarde começa a aplicação sobre si mesmo de palavras e
categorias neutras, isto é, a definição de si mesmo como pessoa sem relação
com o eu e com o outro. “[de uma] tensão entre a autoria como instância
monológica que cria personagens concluídos e a autoria enquanto espaço que
se abre para que o personagem ganhe, como sujeito, a possibilidade de não
coincidir consigo mesmo e de permanecer inconcluso, que emerge no livro
sobre Dostoievski a oposição entre romance monológico e romance
“O texto como elo ‘na cadeia histórica da comunicação discursiva’ supõe
tantas relações dialéticas entre textos e seus sentidos quanto relações
dialógicas entre textos e seus sujeitos, já que ‘os sentidos se distribuem por
diferentes vozes’.
“Dessa elaboração surge a figura do autor [polifônico] como um terceiro,
identificado negativamente por não-assimilável às vozes-sujeitos que se
cruzam no discurso, e que atua como um dramaturgo, ‘no sentido de que
qualquer discurso aparece em sua obra distribuído entre as vozes alheias’,
incluindo-se aí sua própria imagem que, por representada, não coincide com
ele autor, instância de representação.

 
“[Bakhtin] trata da polifonia caracterizando-a como multiplicidade de vozes e
consciências independentes e distintas que representam pontos de vista sobre
o mundo. O romance polifônico é inteiramente dialógico e a palavra literária
não pode ser tomada isoladamente, mas representa a ‘intersecção de
superfícies textuais’, o diálogo de diversas escrituras, isto é, a do contexto
atual e a de contextos anteriores “A noção de dialogismo – escrita em que se
lê o outro, o discurso do outro – remete a outra, explicitada por Kristeva ao
sugerir que Bakhtin, ao falar de duas vozes coexistindo num texto, isto é, de
um texto como atração e rejeição, resgate e repelência de outros textos, teria
apresentado a ideia de intertextualidade
Horizontal: sujeito da escritura – destinatário -> instaura o diálogo

Vertical: texto – contexto -> instaura a ambivalência.


“Se há duas maneiras de transmitir uma experiência – a monológica e a
dialógica.
Bakhtin enfoca o carnaval como forma dialógica, e o discurso carnavalesco
instaurando um estado de mundo dinâmico porque ambivalente e
contraditório. Diferentemente do texto monológico, centrado em si mesmo,
‘oficial’, autoritário, há um outro discurso em que várias vozes dialogam
(polifonia) numa intertextualidade contínua”
“Os gêneros carnavalescos (o carnaval é a fonte cultural de onde provêm os
gêneros cômico-sério-críticos) que se ajustam à forma dialógica são, segundo
Bakhtin, a sátira minipeça, o diálogo socrático e o simpósio”
Um autor pode usar o discurso de um outro para seus fins pelo mesmo
caminho que imprime nova orientação significativa ao discurso que já tem sua
própria orientação e a conserva. Neste caso, esse discurso deve ser sentido
como o de um outro. Assim, num único discurso podem-se encontrar duas
orientações interpretativas, duas vozes. Assim é o discurso paroxístico, a
estilização, o skaz estilizado Na paródia, a linguagem torna-se dupla, sendo
impossível a fusão de vozes que ocorre nos outros dois discursos: é uma
escrita transgressora que engole e transforma o texto primitivo: articula-se
sobre ele, reestrutura-o, mas, ao mesmo tempo, o nega”
 
“À arte e, particularmente, a literatura, na medida mesma em que se dirigem a
um outro, seu destinatário – leitor, público – e em que sua matéria provêm de
um outro sujeito, destinador – a comunidade, a classe social do artista etc. – é
sempre um artefato de natureza social. Nas palavras de B. Schnaiderman, […]
‘esse dialogismo fundamental é que tem de ser levado em conta em todas as
abordagens da literatura. Em essência, a linguagem é sempre dialógica. O
monologismo, isto é, a concentração da obra em torno da voz do autor,
constitui um artifício de que este lança mão para centrar tudo em seu próprio
núcleo ideológica. A tarefa do estudioso da literatura seria desvendar esse
dialogismo essencial
A tarefa da teoria da literatura não é nem pinçar, na obra literária, os ‘reflexos’
[superestruturais] da realidade extraliterária, como proclamavam os marxistas,
nem chegar a descobrir como o texto foi construído, como queriam os
formalistas – era, antes, tentar compreender como ocorre, nos textos da
literatura, a produção do sentido: como o discurso literário vem a significar o
que significa?
A teoria bakhtiniana da literatura radica no conceito de discurso entendido
como um mecanismo dinâmico, do qual vocábulo algum pode ser
compreendido em si mesmo, já que todos os termos de um texto vêm inseridos
em múltiplas situações, em diferentes contextos linguísticos, históricos e
culturais; assim, para Bakhtin, um texto possui sempre um sentido plural. ”
“Língua nenhuma constitui um sistema semiótico homogêneo. As línguas são,
inversamente, mesclas nunca inteiramente resolvidas e homogeneizadas de
dialetos, socioletos, idioletos, jargões, normas e registros diversos, desse
conjunto multifário e contraditório derivando a multitextualidade do discurso.
“Bakhtin é um dos primeiros a substituir o recorte estático dos textos por um
modelo onde a estrutura literária não é/não está mas se elabora em relação a
uma outra estrutura .

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