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Leis gerais portuguesas.

Progressivo desenvolvimento da legislaço régia –


Entre as mais antigas fontes de direito de origem portuguesa começamos por
enumerar as leis de aplicaço geral, que começam por ocupar um papel modesto.

Compreende-se que nos primórdios da nacionalidade, os monarcas não tivessem


muito tempo para um esforço legislativo que incutisse, desde logo, personalidade
relevante ao direito português. Eles encontravam-se absorvidos com problemas
de consolidaço da independência, definiço dos limites territoriais e acçes de
fomento.

Contudo, sabe-se que, embora pouco, alguma coisa se legislou. Conhecem-se


poucos diplomas contendo normas gerais e abstractas de imposiço coactiva. A
lei aparece denominada neste período de forma variada – de decreto, de
ordenaço, de carta, de postura, de constituição…

Do tempo de D. Afonso Henriques resta apenas a memória de uma lei sobre as


barregãs e do tempo de D. Sancho I chegou até nós uma provisão.

Aos poucos, porém, foi-se processando crescente actividade legislativa dos


monarcas.
Com Afonso II, a legislaço geral começa a tomar incremento. Este soberano
convocou uma reunião extraordinária da Cúria que se realizou em Coimbra, no
ano de 1211, de onde saíram várias leis onde já parece vislumbrar-se
influência do direito romano das compilações Justinianeias.
Pode dizer-se que começa com Afonso II (primeiro rei legislador português) a
desenhar-se a tendência de o monarca sobrepor a lei aos preceitos
consuetudinários que se considerem inconvenientes, embora seja modesta, do
prisma quantitativo, a obra legislativa por ele realizada.

Inicia-se a marcha lenta, mas segura, para a monopolizaço do direito positivo


pelo príncipe. A função legislativa, o poder legislativo torna-se o poder do rei.
É certo que essa função será também exercida na cúria (ou conselho régio) e
ou pelas cortes juntamente com o rei. Decerto as cortes e, por vezes, os
municípios e outras formas de organização política conseguirão delimitar
relativamente a esfera da competência legislativa dos soberanos em razão da
matéria. É certo que, em alguns casos, o rei não pode alterar ou revogar
unilateralmente as leis. Também é certo que o seu poder legislativo está
subordinado aos preceitos das outras ordens jurídicas, como o direito
divino e o direito natural.

De qualquer forma, porém, torna-se cada vez mais acentuada a tendência para
referir o monarca como centro legislativo por excelência. Por outro lado, o monarca,
na luta pela supremacia e pela superioridade jurídico-política da coroa, vai
assumindo e reclamando para si o monopólio legislativo e o papel de árbitro entre as
diversas ordens jurídicas em presença. O monarca torna-se, em suma, a fonte do
poder e do direito.
O progressivo crescimento da legislaço régia corresponde ao fortalecimento
sempre
constante do poder real, para o que contribuíram os juristas educados na tradiço e
no culto do direito romano justinianeu.

Ao estudar as primeiras leis portuguesas, Gama Barros procurou exactamente


detectar nelas o reflexo concreto de várias normas do direito justinianeu.

É notável que na legislaço do tempo de D. Dinis e subsequentes, a penetração do


direito justinianeu e seu reflexo na legislaço nacional acentua-se naturalmente,
dada a fundaço por este monarca do Estudo Geral, em cujo círculo o direito romano
figurava.

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