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(2003)
1
Citação correta: De Souza Silva, José. (2004b). “A mudança de Época e o Contexto Global Cambiante:
Implicações para a mudança institucional em organizações de desenvolvimento”, pp. 65-110, em Suzana Valle
Lima (Ed) Mudança Organizacional: Teoria e Gestão. Brasília, Brasil: Fundação Getúlio Vargas (FGV).
2
Engenheiro Agrônomo de Areia, Paraíba. Trabalhou na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da
Paraíba (EMATER-PB) entre 1975 e 1978, na Secretaria de Agricultura da Paraíba (SEAGRI-PB) entre 1978 e
1979, e no Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido (CPATSA), da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA), entre 1979 e 1984, em Petrolina, Pernambuco. Fez curso de Mestrado em Sociologia
da Agricultura, e Ph.D. em Sociologia da Ciência e Tecnologia, na University of Kentucky, EUA. Foi Gerente da
Secretaria de Gestão Estratégica da EMBRAPA entre 1990 e 1993, em Brasília, Brasil, Superintendente da
Secretaria de Apoio aos Sistemas Estaduais de Pesquisa Agropecuária (SSE) da EMBRAPA entre 1993 e 1994, em
Brasília, Brasil, Oficial Superior da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) entre
1994 e 1995, em Roma, Itália, e Gerente do Projeto de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação do
International Service for National Agricultural Research (ISNAR) entre 1995 e 2004, na Haia, Paises Baixos.
Atualmente é Pesquisador da EMBRAPA sobre as relações Ciência-Tecnologia-Sociedade-Inovação (CTSI), desde
Setembro de 2006, em Campina Grande, Paraíba, e Gerente da Rede Novo Paradigma para a inovação
institucional na América Latina, em Campina Grande, Paraíba.
De Souza Silva, José A mudança de época
INTRODUCAO
“Quando tínhamos todas as respostas, mudaram as perguntas”
(Indígenas Aymara, Região Andina)
Nunca tantos líderes e gerentes estiveram tão pressionados para mudar, sem entender “por
que” devem mudar, o “que” deve ser mudado e para benefício de “quem” a mudança deve ocorrer.
Perplexos, muitos se refugiam nas perguntas do tipo “como” mudar, transformando-se em reféns de
propostas instrumentais, como planejamento estratégico, qualidade total e reengenharia. Suas
organizações realizam mudanças em busca de sustentabilidade , sem compreender a gênese de sua
vulnerabilidade nem como esta se manifesta. A maioria se satisfaz com um novo documento, sem
construir um novo comportamento a partir de uma visão de mundo inspiradora de novos modos de
interpretação e de intervenção. Tudo por apoiarem-se numa falsa premissa - “a organização vai mal,
precisa mudar”, que gera falsas promessas e soluções inadequadas.
Este relatório: (i) chama atenção para a relevância dos conceitos de coerência e
correspondência nos processos de mudança institucional; (ii) interpreta a gênese da atual mudança
de época; (iii) identifica os processos globais de mudança que são os epicentros da atual
vulnerabilidade institucional; e (iv) articula três conjuntos de premissas para a construção de cenários
orientadores da mudança institucional, a partir das visões de mundo em conflito—mecânica,
econômica e contextual—que competem para influenciar a dimensão institucional (“regras do jogo”)
do desenvolvimento da época emergente. O capítulo conclui que, no contexto das contradições da
atual mudança de época e das características da época emergente, os processos de mudança
institucional devem necessariamente construir novos modos de interpretação—nova coerência —e
novos modos de intervenção—nova correspondência .
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De Souza Silva, José A mudança de época
MUDANÇA INSTITUCIONAL
A ETERNA BUSCA POR COERÊNCIA E CORRESPONDÊNCIA
Quando poucas organizações estão vulneráveis, este é seu problema particular; quando a
maioria das organizações está vulnerável, este é um problema social—de interesse geral da
sociedade. Numa mudança de época, todos estamos vulneráveis: do cidadão ao Planeta. Hoje, esta
vulnerabilidade generalizada emerge como um problema social global, porque fragmenta a
consistência interna dos modos de interpretação e a consistência externa dos modos de intervenção,
reduzindo, respectivamente, a coerência das “regras do jogo” das organizações e a correspondência
entre estas regras e as “regras do jogo” do desenvolvimento vigentes no contexto onde atuam.
Estas “regras do jogo” constroem uma coerência contextual que serve de referência para as
organizações, cuja coerência organizacional deve estar em correspondência com a coerência de seu
contexto relevante. Assim, a coerência diz respeito ao grau de consistência (interna) de um conjunto
de regras; enquanto a correspondência diz respeito ao grau de consistência (externa) entre dois
conjuntos de regras. Por exemplo, as “regras do jogo” de uma organização de desenvolvimento
podem alcançar um alto grau de coerência (consistência interna) e apresentar um baixo grau de
correspondência (consistência externa) com o conjunto das “regras do jogo” do desenvolvimento do
contexto onde atua. Cabe aos líderes, gerentes, estrategistas e facilitadores da mudança institucional
construir uma coerência gerencial—conjunto de “regras do jogo” da gestão—que lhes permita
participar de forma relevante na interpretação e transformação da coerência organizacional e da
coerência contextual, para aumentar a correspondência entre ambas.
3 O desempenho das organizações é uma propriedade sistêmica, que emerge da interação entre os diferentes subsistemas da
organização, e das relações deste conjunto com o contexto relevante (suprasistema) onde a organização (sistema) atua, não
podendo ser deduzido a partir da análise de qualquer destas partes isoladamente.
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De Souza Silva, José A mudança de época
relevantes para a iniciativa estão fora e não dentro das organizações. Isso não significa que os
diagnósticos internos não são importantes, senão que, em termos de anterioridade, as interpretações
do contexto cambiante devem vir primeiro, pois daí se deriva à correspondência que necessitamos
construir entre a coerência contextual de nosso entorno relevante e nossa coerência organizacional.
Segundo estudos realizados pela Rede “Novo Paradigma”4, do Serviço Internacional para a
Pesquisa Agrícola Nacional (ISNAR) (De Souza Silva et al. 2001a;), a humanidade está
experimentando uma mudança de época que fragmenta modos de interpretação e de intervenção
(Castro et al. 2001; De Souza Silva et al. 2001b; Lima et al. 2001; Mato et al. 2001; Salazar et al.
2001). Isso exige mudança institucional—mudanças nas “regras do jogo” —em todas as nações e
organizações. Por isso, os conceitos de coerência e correspondência são muito relevantes neste
momento. É que a mudança institucional implica a busca de uma nova coerência para nossos modos
de interpretação e de uma nova correspondência para nossos modos de intervenção.
Toda época histórica constrói uma espécie de lentes culturais através das quais os atores sociais
interpretam a realidade para compreendê-la e intervêm sobre ela para transformá-la. Neste sentido, a
realidade é aquilo que nosso método de observação—visão de mundo5—nos permite perceber. Em si
mesmas, as lentes (uma espécie de óculos) não determinam tudo que se pode ver; os diferentes
contextos históricos, materiais e sociais dos usuários se combinam para definir a textura final de suas
lentes individuais e coletivas. As crenças—premissas—que articulam os ingredientes das lentes
influenciam onde olhar, o que indagar, como buscar, o que valorizar, com que comprometer-se, etc. O
resultado é uma visão de mundo cuja prevalência impõe um alto grau de convergência às
4 A Rede “Novo Paradigma” visa contribuir à construção de uma nova coerência institucional para orientar esforços de pesquisa
e de desenvolvimento rural na América Latina, facilitando a construção de capacidades conceituais, metodológicas e culturais
para a gestão da inovação institucional.
5 Uma revisão extensiva sobre a função de uma visão de mundo pode ser encontrada em Aerts et al. (1994).
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De Souza Silva, José A mudança de época
características dos modos de interpretação e de intervenção de uma época, o que também se reflete
na maioria dos processos de mudança institucional das organizações.
Dentro do horizonte temporal de uma época histórica, a natureza das mudanças institucionais é
influenciada principalmente por uma visão de mundo dominante. Se esta visão é questionada, e chega
a se transformar rápida e profundamente, a humanidade enfrenta uma crise de percepção, porque
seu método de observação dominante se torna obsoleto. Na prática, uma época histórica gera um
conjunto de “artefatos” (valores, crenças, conceitos, premissas, teorias, modelos, paradigmas, etc.)
para “limpar” as lentes, sempre que algumas manchas (dúvidas, problemas, desafios, etc.) limitam
nossa compreensão da realidade. Numa mudança de época, estes artefatos perdem sua capacidade
de limpar as manchas emergentes, que vão se acumulando até o ponto de impedir uma leitura
satisfatória da realidade cambiante.
Assim, numa mudança de época, tanto nossos modos de interpretação quanto nossos modos de
intervenção têm reduzido drasticamente seu grau de coerência interna, perdendo com isso sua
correspondência com as novas realidades do contexto cambiante, que emergem sob novas “regras do
jogo” para o desenvolvimento. Atualmente, muitos atores sociais continuam tentando “limpar as
lentes”, com os artefatos da época ainda vigente—a época do industrialismo—mas já em declínio
irreversível, quando uma mudança de época implica em “mudar de lentes”. Mas, como saber que
estamos numa mudança de época?
As épocas históricas não são eternas. A partir de certas condições históricas, o sistema de
idéias, sistema de técnicas e institucionalidade dominantes são questionados por causa das
conseqüências negativas do desenvolvimento praticado sob sua influência, e terminam por enfrentar
uma crise de legitimidade que determina o ocaso de uma época e o alvorecer de outra 6. Quando e por
que isso ocorre? De acordo com o Sociólogo Espanhol Manuel Castells, uma época histórica muda
6 Esta é a argumentação essencial do movimento do posmodernismo, que reivindica o fim da época histórica do modernismo e
o início de uma nova época que, por falta de outro nome, está sendo chamada de época posmoderna (ver, por exemplo,
Rosenau 1992).
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De Souza Silva, José A mudança de época
A partir da metade dos anos 70, uma revolução em torno à tecnologia da informação
(principalmente a partir da invenção do microchip) passou a influenciar outras revoluções tecnológicas
(engenharia genética, nanotecnologia, robótica, novos materiais, etc.) e a penetrar formas e meios de
comunicação. A dimensão microeletrônica e a natureza digital desta revolução comprimem o tempo
histórico e desmaterializam o espaço geográfico. Pela primeira vez na história, a informação passa a
ser simultaneamente insumo e produto, e se transformou numa mercadoria, dando origem à indústria
da informação. Para os privilegiados que têm acesso a esta tecnologia 8, a facilidade de acesso e para
o intercâmbio de informação é sem precedentes.
7 El Sociólogo Espanhol Manuel Castells denomina a época emergente de “época do informacionalismo”, porque agora a
informação é simultaneamente insumo e produto, dando origem inclusive à indústria da informação (Castells 1996).
8 No presente, somente 3% da humanidade tem acesso à rede INTERNET.
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De Souza Silva, José A mudança de época
A partir do final da década dos 70 e início dos anos 80, teve início uma revolução econômica
que revelou o esgotamento do regime de acumulação de capital da época do industrialismo. A
economia produtiva, dependente de fatores tangíveis—terra, capital e trabalho—e praticada sob as
“regras nacionais” do Estado-nação, entrou em crise generalizada por perder sua vitalidade como
fonte de criação de riqueza para satisfazer a tendência expansionista do sistema capitalista. Os
ideólogos, filósofos e estrategistas do sistema capitalista olharam ao seu redor e encontraram
condições favoráveis para estabelecer um novo regime de acumulação de capital, que agora assume
uma natureza corporativa, transnacional, global e “informacional” (Castells 1996).
As mudanças derivadas desta revolução, que integram a hoje chamada globalização econômica,
tais como liberalização, privatização, desregulamentação, ajuste estrutural, reforma econômica,
revisão do papel do Estado, modernização do setor público, reconversão produtiva, flexibilidade
laboral, dolarização, tratados de livre comércio e fundos competitivos não pertencem à época do
industrialismo. Estas mudanças forjam uma nova época, a partir de uma visão mercadológica de
mundo (inspirada no Darwinismo), agora mais sofisticada pelos aportes da tecnologia da informação,
Teoria do Caos, Geometria Fractal, etc. A racionalidade econômica dessa visão de mundo faz
prevalecer as transações comerciais sobre as relações humanas, sociais e ambientais (Röling e
Maarleveld 1999; De Souza Silva et al. 2001a). Sob esta visão:
• O mundo é percebido como um mercado, sem sociedades nem cidadãos, onde os seres
humanos cumprem apenas papéis econômicos: provedores, produtores, processadores,
vendedores, clientes, consumidores, competidores, investidores, comerciantes, etc.
• A história não é relevante, porque o passado não volta e o futuro ainda não chegou. Nesta
realidade não se fala de sociedades, apenas de economias; os espaços públicos são recriados
em espaços privados (dentro de centros comerciais) para domesticar potenciais
consumidores.
• O contexto relevante é o representado pelo mercado, que é assumido como uma “realidade
objetiva” e independente de nossa percepção, já que é regida por suas próprias leis “naturais”
—oferta e demanda.
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De Souza Silva, José A mudança de época
A partir dos anos 60, vários movimentos sociais e culturais passaram a desafiar os pilares da
civilização ocidental e os valores da sociedade industrial de consumo. Na prática, cada movimento
questionou alguma dimensão da realidade, que é relevante para o futuro da humanidade (Castells
1996, 1997, 1998). De diferentes formas, os movimentos feministas, indigenistas, ambientalistas e
pelos direitos humanos, justiça étnica, equidade social, participação da sociedade civil, etc.,
denunciaram: (i) a inconsistência do desenvolvimento derivado das “regras do jogo” do industrialismo;
(ii) a conseqüente vulnerabilidade da humanidade e das demais formas de vida no Planeta; e, (iii) a
necessidade de novas premissas para a prática sistêmica de um desenvolvimento que seja apropriado
no presente e sustentável com relação ao compromisso com as gerações futuras.
As mudanças globais que têm origem nesta revolução, como as questões associadas às
dimensões humana, social e ecológica do desenvolvimento, não pertencem à época do industrialismo;
elas estão forjando uma nova época, a partir de uma visão contextual de mundo, que se fortalece
com os avanços do pensamento complexo (Morin 1984) e da ecologia profunda (Capra 1982, 1996).
A racionalidade ecológica (Röling 2001), é inclusiva do bem-estar (inclusive well-being) de todas as
formas e modos de vida na Terra (Bawden 2001), o que estabelece a cultura do cuidado (culture of
care) (Busch 2001), a cultura do importar-se com a existência de “outros” Sob esta visão:
• O mundo é percebido como uma trama de relações e significados entre diferentes formas e
modos de vida—um sistema dinâmico e com múltiplas dimensões (espacial, histórica,
ecológica, social, econômica, política, institucional, cultural, etc.), funções e contradições.
• A história é relevante para compreender a realidade cambiante, porque passado, presente e
futuro estão inevitavelmente interconectados.
• O contexto inclui, mas transcende o mercado, pois é constituído pela diversidade biológica,
socioeconômica y cultural do Planeta. A realidade é socialmente construída e pode ser
socialmente transformada pela percepção e ação coletivas.
• A prática sistêmica do desenvolvimento não assume a forma de um modelo universal, pois
contextos particulares requerem modos de intervenção que incorporem como referência uma
parte substantiva das realidades, necessidades e aspirações locais.
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De Souza Silva, José A mudança de época
As visões de mundo que competem entre si para prevalecer na época emergente não existem
em seu estado puro, nem haverá uma única visão de mundo dominando completamente o processo
de desenvolvimento. O que ocorrerá será a prevalência do conjunto de premissas de uma delas, que
influenciará a co-existência das demais visões de mundo, cujas contribuições estarão limitadas por sua
posição subordinada nesta hierarquia de valores, que determina uma trama complexa de relações de
poder. A tensão gerada pelas relações assimétricas de poder resultantes de tal esquema de
dominação e subordinação de valores, interesses e compromissos será a principal fonte de
contradições da época emergente e, portanto, do seu futuro declínio.
9 Na Grécia antiga, a Ágora era o espaço público onde muitos dos temas de interesse da sociedade eram debatidos e
resolvidos. Apesar de não ser um espaço democrático para a maioria (por exemplo, as mulheres não eram permitidas
participar), a Ágora pode ser reeditada de forma diferente para incluir os excluídos pela atual democracia representativa, que
na verdade já não representa os interesses da maioria, porque na nova ordem política mundial os eleitos não decidem e os que
decidem não são eleitos.
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De Souza Silva, José A mudança de época
Pela primeira vez na história da humanidade, está sendo criada uma economia onde o rico não
necessita do pobre (Galeano 1998). Está em formação o Quarto Mundo: o mundo dos desnecessários,
nos países desenvolvidos e em desenvolvimento (De Souza Silva et al. 2001a), que são os
10 Sobre diferentes aspectos da última mudança de época, quando a época histórica do agrarianismo foi superada pela época
histórica do industrialismo, a partir do século XVIII, ver, por exemplo, Hill (1969), Hobsbawm (1969) e Ewen (1977).
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De Souza Silva, José A mudança de época
desconectados da era do acesso (Rifkin 2000). Obviamente, esta mudança de época ainda não
representa a ruptura do sistema capitalista. A nova ordem econômica mundial mantém o caráter
capitalista, apesar de que o capitalismo já não será o mesmo. Antes acusado de exploração excessiva
da mão-de-obra, o capitalismo emergente já está sendo acusado de exclusão social (Dupas 1998). O
capitalismo emergente é de natureza corporativa, transnacional, global e “informacional” (Castells
1996).
Finalmente, é importante compreender que o capitalismo global está penetrando novas esferas
da existência humana. No princípio o capitalismo controlava os meios de produção; depois passou a
controlar a oferta dos produtos comerciais; e agora está controlando a demanda: os consumidores. A
humanidade está assistindo uma das incursões mais assustadoras do capitalismo, cujas prioridades
mais recentes inclui a mercantilização das emoções e experiências humanas, onde os bens culturais
assumem uma relevância sem precedentes para a acumulação de capital. Por isso as antigas leis de
propriedade industrial estão sendo atualizadas e transcendidas pelo esforço para o estabelecimento da
propriedade intelectual, gerando pálidas discussões éticas, que fracassam frente ao eclipse da
moralidade determinado pela ascensão da ideologia do mercado (Busch 2001). Com isso, o
capitalismo determina o fim da era da posse e o início da era do acesso (Rifkin 2000).
11 Ver, por exemplo, Barnet e Cavanagh (1995); Held (1995); Horsman e Marshall (1995); Korten (1996); Held e McGrew
(2000).
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De Souza Silva, José A mudança de época
Hoje, já não são os exércitos estrangeiros que invadem e subordinam nações e organizações.
Na atual mudança de época, este papel cabe ao Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e seus
congêneres regionais e contrapartes nacionais. Basta ler os jornais diários da maioria dos países em
desenvolvimento, para encontrar manchetes sobre como estes agentes internacionais das mudanças
nacionais estão exigindo a destruição das “regras nacionais” que privilegiam o regime de acumulação
da época do industrialismo e impondo as novas condições que privilegiam o estabelecimento das
novas “regras transnacionais” para a penetração dos interesses das corporações e investidores globais
(Barnet e Cavanagh 1995). E o fazem sem o menor constrangimento, reorganizando os sistemas
produtivo, econômico, financeiro e institucional desses países de tal forma que a nova ordem
econômica e política mundial possa ser estabelecida e legitimada. Obviamente, isso não ocorre sem
contradições nem oposição (Mander e Goldsmith 1996).
As diferentes formas através das quais vivemos a experiência humana—a família, sexualidade,
relações interpessoais e sociais, relações com a natureza, etc. — estão se transformando numa
velocidade vertiginosa, com implicações inclusive psíquicas para os indivíduos, grupos sociais e até
sociedades inteiras (Lash 1986).
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De Souza Silva, José A mudança de época
administrativas—estão sendo extintas. O ser humano está perplexo com a redução drástica da
importância da relação tempo-espaço, alterando qualitativamente nossa compreensão e uso de
conceitos como distância, fronteira, tempo, controle, etc.
A heterossexualidade não será o único tipo de relação socialmente e legalmente aceitável, como
indicam as sociedades que aceitam socialmente e reconhecem legalmente o casamento entre
representantes do mesmo sexo biológico. O conceito de família também está sob diferentes tipos de
pressão: (i) em alguns países o número de divórcios anuais começa a superar o número de
casamentos; (ii) cresce o número de jovens que têm dúvida se devem casar e se devem ter filhos; (iii)
ao contrário dos hippies, que propuseram fazer amor sem ter filhos, a engenharia genética agora nos
promete a possibilidade de ter filhos sem fazer amor; e, (iv) muitos pais separam seus filhos em
quartos individuais, equipados com televisores, equipamentos de som, computadores e jogos
eletrônicos, que lhes permitem atuar como unidades independentes de consumo, mas que reduzem
os espaços e momentos para a socialização familiar.
12 Os sete continentes reconhecidos atualmente são: América do Norte, América do Sul, Europa, Ásia, África, Austrália e
Antártida. As ilhas do Pacífico, conhecidas como Oceania, não são consideradas como um continente (The TIME Almanac
2000:484).
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De Souza Silva, José A mudança de época
Sob a invasão da lógica digital, feita possível pela penetração da tecnologia da informação em
todos os meios e formas de comunicação, deixa de ter importância o fato de que a Terra já foi
considerada plana (percepção antiga) e que passou a ser percebida como redonda (percepção
vigente); para a geração ponto-com, o mundo está se transformando numa tela gigante (percepção
programada). Paulatinamente, a humanidade está sendo culturalmente induzida a acreditar que o
real é aquilo que chega através dos vários tipos de telas, já existentes e a inventar. Os pais, os
mestres e os anciões estão sendo substituídos como os intermediários desejáveis entre a realidade
real e as crianças e os adolescentes. Agora, o computador, a televisão e outros meios de comunicação
são os intermediários quase-oficiais, livres para destruir antigos e criar novos símbolos e identidades.
As crianças da geração ponto-com estão sendo introduzidas à realidade virtual antes de “debutar” de
forma apropriada na realidade real. Seu mundo está sendo perigosamente reduzido a uma tela
gigante e mágica da qual é difícil desconectar-se. Em síntese, o que não se manifeste em alguma tela
não existe, não é verdade ou não é importante.
A humanidade experimenta a formação de uma cultura visual global, onde tudo se transforma
em mercadoria cultural, das viagens do papa às campanhas eleitorais, viagens turísticas, esportes
extremos e invasões militares dos Estados Unidos. Tudo é vendido, comprado e assistido como
espetáculo: a religião-espetáculo, a política-espetáculo, o turismo-espetáculo, o esporte-espetáculo e
a guerra-espetáculo. Se Karl Marx fosse vivo, ele diria que a televisão substituiu a igreja como o
espaço onde os ideólogos do capitalismo transnacional ministram o novo ópio do povo. Com a
penetração irreversível da tecnologia da informação nas diferentes formas e meios de comunicação,
não se pode evitar a sensação de impotência da maioria, que em nossa sociedade está perdendo o
controle sobre os eventos que lhe interessa ver ou conhecer.
Neste contexto, será difícil distinguir se a realidade real é a que nos deparamos diariamente nos
campos e cidades, ou se é a hyper reality que nos sufoca nas inúmeras telas que já congestionam os
espaços de nossas casas, escritórios, restaurantes, centros comerciais, bares etc. A geração ponto-
com emergente corre o risco de pensar que já não será necessário caminhar para conhecer o mundo
e transformá-lo. Estes integrantes da espécie Homo informaticus correm o risco de concluir que é
possível mudar o mundo apenas com mensagens eletrônicas, o que será conveniente para os
poderosos, que já não necessitariam enfrentar as forças vivas da sociedade, apenas mensagens
eletrônicas às quais não têm a obrigação de reagir.
08.10.07 14
De Souza Silva, José A mudança de época
Está em franca expansão uma massiva série de canais virtuais de comunicação global, que
fundem e codificam imagens, sons e símbolos escritos. Sua abrangência e penetração ignoram
eletronicamente os mais diferentes tipos de fronteiras. Assumindo propósitos geralmente comerciais, a
globalização da mídia apresenta uma tendência à desregulamentação, onde as mega-fusões
consolidam uma ordem mundial comercial de comunicação, que reduz a esfera pública e cria uma
cultura da diversão que não é necessariamente compatível com a ordem democrática.
A minoria mundial que tem acesso à INTERNET e ao World Wide Web (www) pode ter acesso a
incontáveis bases de dados e integrar-se a certos grupos de usuários globais. Isso tanto cria
possibilidades como dilemas. Por um lado, não se pode negar a facilidade de acesso à informação e
de expressão cultural, que cresce e deve ser aproveitada. Mas isso é apenas para uma minoria, pois
mais de 2/3 da humanidade 13 já integra a classe dos desconectados da era do acesso (Rifkin 2000).
Por outro lado, não se pode evitar a sensação de que o crescimento da mídia global é
exagerado e indesejável. A expansão deste poder virtual ocorre mais para satisfazer os interesses
comerciais de corporações transnacionais do que para integrar sociedades locais. Neste sentido, a
humanidade caminha rumo à cultura da realidade virtual, onde os donos dos meios de comunicação
por onde fluem as imagens globalizadas, definirão os símbolos e identidades que prevalecerão. Para
os donos desse tipo de poder, algumas realidades serão mais relevantes do que outras, e as imagens
desta realidade constituirão uma realidade virtual que pode prevalecer sobre a realidade real dos
menos poderosos e dos excluídos.
13 Aqui nos referimos aos desconectados dos meios que lhes dariam acesso a diferentes tipos de benefícios gerados pelo
crescimento econômico e pelo desenvolvimento tecnológico, e não apenas aos desconectados da revolução digital. Isso inclui,
por exemplo, os desconectados dos diferentes tipos de políticas, tanto econômicas como sociais (Dupas 2000); Rifkin 2000; De
Souza Silva et al. 2001). Inclusive nos Estados Unidos, em 1989, 1% da população possuía cerca de 40% da riqueza dessa
nação, e os 20% mais ricos possuíam mais de 80% da riqueza total. Igualmente chocante é o fato de que cerca de 70% da
humanidade jamais fez uma chamada telefônica (71% das linhas telefônicas existentes pertencem aos 24 países mais ricos do
mundo, que representam apenas 15% da população mundial. Com relação ao acesso à rede INTERNET, a estimativa é que
apenas entre 3-6% da humanidade tem acesso. Em 1998, 80% dos usuários de INTERNET procediam dos 24 países mais ricos;
em contraste, na Ásia, com 20% da população mundial, somente 1% da população tem acesso à INTERNET.
08.10.07 15
De Souza Silva, José A mudança de época
coerência e uma nova correspondência. Mas devemos considerar os processos globais de mudança
que emanam dos diferentes epicentros da vulnerabilidade global representados pelas três revoluções
discutidas aqui—tecnológica, econômica e sociocultural. Estes processos não representam um
conjunto harmonioso de tendências rumo a um futuro um melhor, pois eles refletem valores,
interesses e compromissos convergentes, divergentes e contraditórios. Os líderes, gerentes,
estrategistas e facilitadores da mudança institucional devem negociar decisões políticas e éticas, antes
das técnicas, sobre que coerência organizacional construir em correspondência com qual coerência
contextual.
Imaginemos um cego que se movimenta com o apoio de um guia confiável. Neste caso, o guia
sintetiza e traduz um conjunto de referências que permitem ao cego interpretar sua realidade para
atuar sobre ela. Que tal se um dia o guia surpreende ao cego, soltando sua mão, pedindo-lhe
desculpas e avisando-lhe que não pode continuar sendo o seu guia? Que aconteceria com o cego cujo
antigo guia se foi e o próximo ainda não chegou? E se isso ocorresse quando o contexto onde o cego
vive estivesse mudando? Primeiro o cego ficaria aturdido com esta situação totalmente nova—estaria
perplexo. Depois ele se sentiria angustiado pela ausência de seu sistema de referência—estaria
inseguro. Em seguida, ele se surpreenderia encontrando novos sinais no lugar de antigas
referências—estaria desorientado. A partir daí, ele se encontraria exposto a um mundo totalmente
novo, que ele não entende e para o qual não estaria necessariamente preparado—estaria vulnerável.
Esta é precisamente a situação da humanidade no contexto da atual mudança de época.
Os guias confiáveis da época do industrialismo estão soltando nossas mãos em velocidade tão
vertiginosa que nem conseguem nos informar que já não podem continuar sendo nossos guias. Por
isso, estamos todos vulneráveis, do cidadão ao Planeta. Aqui, identificamos quatro dos processos
globais de mudanças que estão emitindo novos sinais, nem todos coerentes entre si, no lugar de
nossas antigas referências: a formação de um novo regime de acumulação de capital, o
estabelecimento de um Estado-rede supranacional, a criação de uma sociedade civil global e a
construção de um novo modo de geração de conhecimento.
14 Ver, por exemplo, Castells (1996); Hoogvelt (1997); Arrighi e Silver (1999); Held e McGrew (2000).
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De Souza Silva, José A mudança de época
capital e passaram a tomar decisões e a realizar ações para estabelecê-lo. Uma forma de reconhecer
o regime de acumulação do capitalismo global emergente é comparar suas características com as do
antigo regime do capitalismo industrial:
• O antigo regime tem como base a economia produtiva, cujo desempenho é dependente de
fatores tangíveis—terra, capital e trabalho. Em contraste, o regime emergente acumula
principalmente a partir de uma economia imaterial que se consolida de forma descentralizada
em torno a um fator intangível—informação.
• A infra-estrutura importante para a economia produtiva da época histórica do industrialismo é
o transporte. Para a economia virtual do regime de acumulação da época emergente, o mais
relevante é a infra-estrutura de comunicação por onde fluem capital, decisões e informação,
superando barreiras geográficas, comprimindo a dimensão temporal e conectando em tempo
real a atores e localidades distantes.
• Os capitalistas importantes para o capitalismo da época industrial são indivíduos com uma
Pátria definida. Os capitalistas da economia digital emergente são corporações transnacionais,
impessoais e apátridas, que não conseguem ser leais nem mesmo a seus países de origem,
porque seus interesses e ambições são globais e podem ser vinculados a qualquer lugar.
• As “regras do jogo” da acumulação do capitalismo industrial são organizadas em torno ao
Estado-nação, que assume a responsabilidade de implementá-las, aperfeiçoá-las e protegê-
las. As “regras do jogo” da acumulação do capitalismo informacional emergente são de
caráter transnacional, e sua implementação, aperfeiçoamento e proteção ficam a cargo de
mecanismos supranacionais e acordos e agências multilaterais. Por isso, as “regras nacionais”
estão sendo redefinidas como “barreiras”, que têm um significado negativo, para justificar sua
derrubada através de políticas e estratégias de liberalização, desregulamentação, privatização,
fundos competitivos, tratados de livre comércio (TLCs), etc.
• No regime de acumulação do industrialismo, existe um contrato social entre o capital e o
trabalho que os vincula inexoravelmente. O regime de acumulação emergente requer a
mobilidade do capital e a vulnerabilidade do trabalho. O eufemismo da flexibilidade laboral
está sendo institucionalizado para permitir ao empregador contratar e despedir quando e na
forma que quiser. Com isso, o capital passa a ser livre para voar e pousar apenas onde
houver mercados cativos, matéria prima abundante, mão de obra barata, mentes obedientes
e corpos disciplinados. Os novos capitalistas corporativos globais querem ter seus direitos
assegurados em qualquer parte do globo, mas sem compromisso ou responsabilidade para
com as dimensões humana, social, cultural, ecológica e ética15.
• O regime de acumulação do industrialismo foi acusado de explorar em excesso ao trabalho,
enquanto o regime emergente está sendo acusado de exclusão social. Por suas características
construídas a partir da mais sofisticada tecnologia da informação, a nova economia imaterial
ignora a existência de todos os atores, organizações, nações e continentes (África) que não
participam de suas redes virtuais de poder por onde fluem capital, informação e decisões. Nos
países ricos e pobres, muitos estão desconectados do futuro na era do acesso. Eles integram
o Quarto Mundo—o mundo dos desnecessários.
15 Isso ficou claro quando o mundo tomou conhecimento de que o documento do Acordo Multilateral sobre Inversões
(AMI) estava sendo formulado em segredo nos países da Organização Econômica para a Cooperação e o Desenvolvimento
(OECD), com a participação protagônica dos Estados Unidos, Japão e suas respectivas corporações transnacionais. Nas palavras
de seus autores, eles estavam formulando a constituição corporativa do mundo. Depois que uma ONG internacional fez a
denúncia, o AMI passou a ser discutido no âmbito da OMC, e posteriormente foi abortado, mas suas cláusulas estão sendo
discretamente introduzidas na maioria dos Tratados de Livre Comercio (TLCs) bi e multi-laterais.
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De Souza Silva, José A mudança de época
destroem os fatores, aspectos e condições que privilegiam nossas “regras nacionais”. Seu objetivo é
estabelecer e legitimar os fatores, aspectos e condições que viabilizam as “regras transnacionais” que
atendem seus interesses corporativos globais.
Segundo Busch (2000), uma corporação transnacional é hoje a versão moderna da Monarquia
absolutista, cuja estrutura impessoal não consegue mais do que ser indiferente à dimensão humana,
social, cultural, ecológica e ética. À semelhança do que acontece quando uma pedra é lançada na
água, este Estado-rede supranacional configura um conjunto de círculos concêntricos de poder com
funções interdependentes. O cerne é constituído pelo G-7 (agora G-8), cujos governos representam
mais os interesses corporativos de suas respectivas corporações transnacionais do que os de suas
sociedades. Eles são os guardiões e maiores beneficiários do sistema capitalista global, cujo objetivo
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De Souza Silva, José A mudança de época
superior—a acumulação do capital—não inclui gente. Este objetivo é mantido a qualquer custo, apesar
da insatisfação crescente dentro das sociedades desenvolvidas e em desenvolvimento.
Um dos círculos de poder da nova institucionalidade é o círculo das regras do jogo. Este é
constituído por acordos multilaterais como a União Européia e o NAFTA, e por arranjos institucionais
supranacionais como a Organização Mundial de Comércio (OMC) e a Organização Mundial da
Propriedade Intelectual (OMPI), que articulam o maior conjunto das novas “regras do jogo” para a
acumulação e o “desenvolvimento”.
Também existe o círculo do poder financeiro, constituído por agências multilaterais como o
Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM) e os bancos regionais de
desenvolvimento como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para o caso das Américas,
que se conectam diretamente com suas contrapartes nacionais: Ministérios de Fazenda, Conselhos
Monetários Nacionais e Bancos Centrais dos países.
O círculo do poder institucional inclui as agências que integram as Nações Unidas, organizações
similares regionais, como as vinculadas à Organização dos Estados Americanos (OEA), e organizações
de cooperação de determinados países como a Agência Internacional de Desenvolvimento dos
Estados Unidos.
Um dos círculos mais discretos, mas não menos importante, é o círculo do poder científico,
constituído por organizações científicas internacionais e muitas universidades de países mais
avançados.
Muitas das tendências da chamada globalização estão inspirando reações contrárias a sua
consolidação (Mander e Goldsmith 1996). Tais reações têm origem principalmente na revolução
sociocultural iniciada nos anos 60, que agora se materializa através de organizações como a Anistia
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De Souza Silva, José A mudança de época
É neste contexto que o conceito de sustentabilidade está sendo institucionalizado para permear
iniciativas nacionais, regionais e globais de desenvolvimento. A preocupação da sociedade civil
emergente inclui todas as formas e modos de vida na Terra. O desafio ecológico (Lubchenco 1998)
atual emerge de uma trama de relações antropogênicas que só nossa ação coletiva e solidária (Röling
2001), sob a influência de uma cultura do cuidado (Busch 2001), do preocupar-se com “o outro”
(Bawden 2001), pode transformar nossa vulnerabilidade atual em sustentabilidade futura. A sociedade
civil está assumindo o desafio ecológico como uma preocupação central da sua intenção de influenciar
o futuro do Planeta.
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De Souza Silva, José A mudança de época
falsa premissa de que para extinguir o fenômeno é suficiente trabalhar apenas com os que já são
pobres, sem desafiar nem alterar a atual forma de geração, acesso, distribuição e apropriação da
riqueza. Obviamente, uma falsa premissa leva a falsas promessas e soluções inadequadas.
Uma nova época estabelece um sistema de idéias, que geralmente exige um modo particular de
geração de conhecimento. Durante a época histórica do industrialismo, o sistema de idéias criado sob
a influência de a visão mecânica de mundo forjou o modo clássico de geração de conhecimento. As
características deste modo clássico e as conseqüências negativas para o desenvolvimento praticado
sob sua influência estão sob questionamento inexorável desde a década de 6016. Isso ocorre no
contexto da revolução sociocultural, que no nível macro criticou os pilares da civilização ocidental e
desafiou os valores da sociedade industrial de consumo, questionando também as formas dominantes
de geração, distribuição e apropriação da riqueza.
No conjunto das análises críticas realizadas a partir da década de 60, a ciência emergiu como
fator tanto de desenvolvimento como de desigualdade. As características do modo clássico de geração
de conhecimento passaram a ser examinadas para revelar os seus limites e distorções. De fato, a
segunda metade do século XX assistiu a queda de vários paradigmas científicos e de desenvolvimento,
e o surgimento de iniciativas para construir novos modos de interpretação e de intervenção, inclusive
para a geração de conhecimento.
Agora, a ciência praticada sob a tradição filosófica do Positivismo perde seu monopólio frente
a emergência de novas premissas ontológicas (sobre a natureza da realidade), epistemológicas (sobre
a natureza do conhecimento e do processo para sua geração), metodológicas (sobre o método e a
natureza do indagar) e axiológicas (sobre os valores éticos e estéticos e a natureza da intervenção). O
construtivismo, em sua versão associada à teoria crítica, é uma das alternativas emergentes que
ganha cada vez mais legitimidade 17, por seu potencial para a participação da sociedade em geral e os
atores do desenvolvimento em particular, com profundas e positivas implicações para iniciativas de
mudança institucional18.
No futuro próximo, a humanidade contará com o modo clássico e o modo contextual de geração
de conhecimento, que ocupará os espaços que o primeiro não consegue, pois as características que
16 Ver Capra (1982, 1996); Astley (1985); Miller (1985); Harding (1991); Díaz (1992); Tetenbaum (1998); Wallerstein (1999)..
17 Ver Berger e Luckmann (1966); Knorr-Cetina (1981); Kloppenburg (1992); Dickens e Fontana (1994); Bentz e Shapiro
(1998); Baldwin (2000); Gibbons (2000); Woolgar (2000).
18 Ver Smircich e Stubbart (1985); Prahalad e Hamel (1994); Chia (1995); Boje et al. (1996); Gergen e Thatchenkery (1996);
Kay e Bawden (1996); Hatch (1997); Hussey (1997a, 1997b); Escobar (1998); Franklin (1998a, 1998b); Tasaka (1999); Watson
(2000).
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De Souza Silva, José A mudança de época
são responsáveis pela contribuição do modo clássico limitam suas incursões na complexidade da
realidade. As diferenças e complementaridades de ambos podem ser deduzidas a partir das premissas
de cada um nas dimensões ontológica, epistemológica, metodológica e axiológica associadas ao
esforço de geração e apropriação de conhecimento. Apesar de construída originalmente para o caso
dos paradigmas científicos, a presente síntese é também válida para inspirar e orientar diferentes
modos de interpretação e intervenção:
1. Em sua dimensão ontológica, o modo clássico (positivista) assume que a realidade existe
de forma objetiva, independente de nossa percepção, e que a missão da ciência é descobrir
esta realidade como ela “realmente” é, para que sejamos capazes de descrevê-la, predizê-la,
controlá-la e explorá-la. Sob estas premissas, a realidade é apenas aquela que pode ser vista,
pesada, medida e contada; enfim, traduzida à linguagem matemática.
19 Amparados pelo reducionismo da Física Mecânica, os Físicos prometeram explicar o Universo a partir da conhecimento do
átomo, da mesma forma que agora os biólogos moleculares estão prometendo explicar tudo a partir do conhecimento do gene.
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explicará a trama de relações entre as partes do todo, responsáveis por sua dinâmica
geral, seus paradoxos e suas contradições.
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De Souza Silva, José A mudança de época
Que lance a primeira pedra, aquele que não estiver vulnerável frente a estes processos globais
de mudança. Estamos todos vulneráveis; o que varia entre todos é o grau de vulnerabilidade, porque
varia a capacidade de interpretar a gênese de sua vulnerabilidade e a forma como ela se manifesta, o
acesso a diferentes tipos de recursos, a capacidade para conceituar sustentabilidade, a capacidade
para desenvolver estratégias, a capacidade para gerenciar a incerteza e a instabilidade, etc.
Por isso, mais de 70% de todos os processos de mudança realizados no mundo, nas últimas
duas décadas, usando reengenharia, planejamento estratégico e qualidade total fracassaram (Hussey
1997a, 1997b). Estes modelos instrumentais de mudança carecem de uma dimensão epistemológica
que lhes permita teorizar sobre o momento histórico do mundo. Os mais bem sucedidos foram
aqueles que pelo menos construíram cenários alternativos sobre o futuro.
Um dos sonhos da humanidade é voltar ao passado para mudar certos fatos históricos de tal
forma que o presente fosse diferente e melhor. Embora isso seja impossível com relação ao presente,
o sonho é totalmente possível com relação ao futuro, porque este está sendo construído hoje. O
presente é o passado do futuro. É possível mudar o futuro.
A melhor forma de controlar o futuro é inventando-o. O futuro não existe, pronto e melhor,
esperando por nós numa esquina do tempo. Nosso futuro é construído, diariamente, pelas
percepções, decisões e ações que prevalecem na trama das relações que influenciam o
desenvolvimento mundial. Não existindo, o futuro não pode ser previsto. Mas é possível compreender
a gênese, natureza e implicações das tendências que estão moldando o futuro. Com isso é possível,
coletivamente, fortalecê-las, transformá-las ou abortá-las, já que estas são socialmente construídas
pelos valores, interesses e compromissos de atores humanos. Para lidar com a incerteza do futuro, a
técnica de construção de cenários é uma das mais indicadas (Van der Heijden 1996), e pode ser
aplicada para os mais variados setores, temas e atividades (Castro et al. 2001). Embora seja fácil o
acesso a esta técnica, não é fácil imaginar as premissas que permeiam as iniciativas de construção de
cenários. Raramente estamos conscientes dos paradigmas e teorias que influenciam a coerência e
correspondência de nossos modos de interpretação e intervenção.
Aqui são compartilhadas algumas premissas derivadas das três visões de mundo em conflito no
contexto da mudança de época—cibernética, mercadológica e contextual. Elas estão inspirando e
orientando as mudanças globais que estão forjando a nova época. Sob o enfoque teórico da mudança
de época, qualquer mudança institucional pode ter pelo menos três cenários possíveis, aqueles
moldados por cada uma das três visões de mundo que estão influenciando nossas percepções,
decisões e ações. Cada uma das visões de mundo tem origem numa das revoluções—tecnológica,
econômica e cultural—que estão gerando as mudanças globais atuais. Como as mudanças
institucionais realizadas sob a influência de cada uma delas apontam a futuros completamente
diferentes, isso torna apropriado tomar em consideração estas visões de mundo nos esforços de
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De Souza Silva, José A mudança de época
construção de cenários. O uso de premissas derivadas de cada uma das visões de mundo tem a
propriedade de aportar coerência às propostas de mudança institucional, que estarão em
correspondência com determinadas realidades emergentes, igualmente influenciadas pela mesma
visão de mundo. A seleção de premissas orientadoras é um processo ético e político, porque implica
tomar decisões associadas a valores, interesses e compromissos. Mas isso é inevitável, pois se trata
da construção do futuro, que não é uma questão apenas técnica senão principalmente política e ética.
Todo gerente atua sob a influência de uma visão de mundo, que molda uma imagem de
organização (Morgan 1986) que, por sua vez, forja sua visão do que é a mudança institucional e para
que serve. Tudo isso se reflete no modelo de gestão da mudança institucional. Mas geralmente, nada
disso está explícito nos processos de mudança, porque nem sempre existe um esforço intelectual
sobre a natureza, rumo e prioridades do processo. A maioria se limita a seguir as fórmulas e receitas
instrumentais famosas do momento. Todavia, seria ético e conseqüente negociar premissas para
inspirar e orientar o processo.
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Estas listas são necessariamente genéricas, incompletas, imperfeitas e provisórias. Ainda assim
elas podem ser extremamente úteis, pois elas estimulam os atores interessados a negociar e construir
suas listas de premissas específicas. Na construção de cenários, é relevante perceber que uma visão
de mundo gera uma coerência institucional muito diferente da coerência criada sob outra visão de
mundo. Se o esforço é feito de forma participativa, isto pressiona os líderes, gerentes, estrategistas e
facilitadores para negociar uma visão de mundo, cujas premissas vão articular os valores, interesses e
compromissos da mudança institucional.
Finalmente, é importante perceber que as visões de mundo que são pluralistas permitem
importar daquelas que são reducionistas alguns de seus elementos orientadores, exceto suas
premissas. Por exemplo, a visão contextual de mundo é inclusiva das diferentes dimensões da
realidade, enquanto as outras duas visões são unidimensionais, porque a mecânica privilegia apenas a
dimensão de eficiência e a visão econômica promover apenas a importância do mercado.
Considerando que as visões mecânica e econômica têm em comum a ênfase nos meios, enquanto a
visão contextual enfatiza primeiro os fins, esta última permite importar o conceito de eficiência da
visão mecânica e os conceitos de competitividade e qualidade da visão econômica mas, numa
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De Souza Silva, José A mudança de época
hierarquia de objetivos, estes conceitos são subordinados a objetivos-fins superiores. Além disso, a
visão contextual adiciona os conceitos de sustentabilidade e equidade para promover um maior
equilíbrio na matriz de critérios para avaliar o desempenho das organizações e suas iniciativas de
mudança institucional.
CONCLUSÃO
E AGORA JOSÉ: MÁQUINA, ARENA OU ÁGORA ?
Antes era o caos. (Depois) No princípio, Deus criou o ser humano e o colocou no Jardim do Éden, sem
acesso à Árvore do Conhecimento; mas ele rompeu o monopólio da informação estabelecido por Deus,
que o castigou com a pena de morte, tornando-o mortal e obrigando-o a caçar, pescar e coletar alimentos
para viver. Depois ele descobriu o fogo, a pedra e o ferro, construiu armas de guerra e criou o conceito de
arena para lutar contra si mesmo. Então, ele inventou a agricultura e a irrigação, descobriu o excedente
da produção e o comercializou para aumentar sua riqueza e poder. Um dia, um egoísta ergueu uma cerca,
e muitos, ingênuos e inocentes acreditaram na propriedade privada—a fonte da desigualdade que nos
dividiu entre os que têm e os que não têm. Nasceu então a civilização do ter, não do ser.
Assustado, Deus enviou o seu filho predileto—Jesus Cristo—para salvar seu experimento terrenal, mas
sua intervenção não teve um final feliz. A desordem continuou e aumentou. Preocupados com a desordem
social global, Francis Bacon, Thomas Hobbes e Adam Smith propuseram, respectivamente, sem sucesso, a
ciência, o Estado e o mercado, como guardiões— Leviatãs—da ordem social. Mas Charles Darwin ficou
famoso criando a Teoria da Evolução das Espécies, onde o evolucionismo supera o criacionismo, matando
a Deus. Num mundo sem Deus, governado sob a ditadura da Razão, o ser humano inventou o capital, a
mercadoria, o lucro e a acumulação, consolidando o capitalismo durante o industrialismo e forjando o
nascimento da corporação transnacional. Porém nasceu Karl Marx, que criticou o capitalismo, inventou o
socialismo sonhou com o comunismo e morreu por sua causa, que não chegou a ser realizada.
Mas a época do industrialismo está morta; o computador já substituiu a chaminé das fábricas, e a
realidade virtual já supera a realidade real com o apoio da tecnologia digital. Então, Thomas Kuhn propôs
a teoria da ascensão e queda dos paradigmas, Francis Fukuyama proclamou o fim da história, Daniel Bell
anunciou o declínio da sociedade industrial e Manuel Castells revelou a emergência da sociedade-rede. Por
isso, as corporações transnacionais debilitaram o Estado-nação e agora querem uma ordem mundial só
para elas, onde o mercado comande a ciência, o Estado, a sociedade civil e o Planeta, um mundo onde
elas tenham só direitos e nenhuma obrigação.
Deus está aflito. Ele quer enviar seu filho outra vez, mas tem uma dúvida; antes considerado um
subversivo, ele seria hoje acusado de terrorista. Jesus Cristo enfrentaria as corporações transnacionais, a
versão moderna da Monarquia absolutista que exerce a forma mais autocrática de poder no evoluído
experimento de seu Pai. A humanidade precisa de Ágoras (antiga forma de Assembléia Grega) para a
prática da democracia participativa, pois a democracia representativa está forjando um governo mundial
sem Presidente nem eleições, onde os que decidem não são eleitos e os que são eleitos não decidem. Mas
a globalização neoliberal fragmentou o mundo em arenas comerciais e tecnológicas, onde prevalece a lei
do cada um por si, Deus por ninguém e o Diabo contra todos . Agora, sem fé, sem espírito nem sabedoria,
o ser humano criou os problemas antropogênicos que ameaçam a vida no Planeta, o que a sociedade civil,
de forma ainda atomizada, assistemática, territorialista e ingênua luta para evitar.
Voltaremos ao princípio de tudo? Talvez. A menos que sigamos o conselho de Dom Hélder Câmara, o
já falecido Bispo de Olinda, Pernambuco, e sonhemos, o mesmo sonho, juntos: o início de uma nova
realidade baseada na solidariedade. Do contrário, uma catástrofe anunciada. Será o caos? Pequenos
grupos de excluídos já se integram para excluir os que os excluem, sem coordenação entre grupos, de
forma caótica, até que a minoria sobrevivente decida abandonar a lógica da acumulação e construí outra
humanidade. Depois, não se sabe. Haverá um “depois”?
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De Souza Silva, José A mudança de época
escrever O Contrato Social: o mais forte não o será sempre para continuar sendo amo e senhor, se
não transforma sua força em direito e a obediência em dever.
Numa mudança de época, antigas relações assimétricas de poder são destruídas e novas são
criadas. Com sua marca registrada—incerteza, instabilidade, descontinuidade, desorientação,
fragmentação, insegurança, perplexidade e vulnerabilidade, esta mudança de época está gerando as
doenças do Século XXI—estresse e depressão (Lash 1986), ambas originadas pelo contexto
cambiante. Nações e organizações estão entrando numa busca frenética por um futuro diferente e
melhor, mas são reféns da competição entre diferentes visões de mundo que apontam a realidades
diferentes e nem sempre favoráveis para a maioria. A Terra e seus frágeis habitantes são hoje reféns
da falta de sabedoria da espécie humana. Nós conseguimos avanços tecnológicos impressionantes,
mas quanto mais avançamos nesta área menos conseguimos ser o que mais falta nos faz: ser mais
humanos. Tudo isso pode se refletir numa mudança institucional, considerando que as organizações
refletem em maior ou menor grau as principais características da organização política, socioeconômica
e institucional da sociedade que as cria, financia, muda e eventualmente extingue.
Nunca antes na história da humanidade, tantos estiveram tão perplexos e vulneráveis. A razão é
que outra vez estamos experimentando uma mudança de época. Neste momento, a sociedade deve
impedir que “os que sabem fazer” —cientistas, consultores, especialistas, etc. —sejam os únicos
decidindo “o que deve ser feito”. O mesmo é verdade dentro das organizações, num processo de
mudança institucional. Em termos de anterioridade, o primeiro momento da mudança deve
concentrar-se nos fins, e deve envolver todos os que integram à organização, assim como seus
usuários e parceiros. Assim, a premissa orientadora da mudança institucional deve ser externa,
centrada no contexto cambiante. A sustentabilidade não existe; ela emerge, ascende, declina e
eventualmente se extingue num processo de negociação permanente com os atores do
desenvolvimento. O que existe é uma busca permanente por coerência e correspondência.
Historicamente, nos deparamos com três visões de mundo em conflito (Anexo-1), que oferecem
três coerências para construir paradigmas de desenvolvimento (Anexo-2), três cenários possíveis, três
futuros diferentes, três referências para a mudança institucional. Qual delas prevalecerá nas iniciativas
de mudanças? Espera-se que prevaleça a visão contextual, onde a racionalidade comunicativa constrói
uma correspondência com a sustentabilidade de do Planeta. Esta visão de mundo nos pressiona para
o ‘modo contextual’ de inovação (Anexo-3) onde se pratica o enfoque do desenvolvimento de (um
país, comunidade, organização, país), que inclui o desenvolvimento humano e social dos atores locais,
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De Souza Silva, José A mudança de época
ao contrário do enfoque do desenvolvimento em, cuja fonte de inspiração, o ‘modo clássico’ (Anexo-3)
não inclui estas dimensões senão apenas a exploração de variáveis eco-agro-ambientais favoráveis.
Na globalização neoliberal, a metáfora da arena não constrói a propalada ‘aldeia global’, pois
não gera integração. A globalização neoliberal só cria convergência tecnológica, interdependência
econômica, fragmentação política e desintegração social. Até quando? A que custo?
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De Souza Silva, José A mudança de época
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