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Semântica e Pragmática

das Línguas

Prof.a Jeice Campregher


Prof.a Valeria Aparecida Camerlengo

Indaial – 2019
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:
Prof.a Jeice Campregher
Prof.a Valeria Aparecida Camerlengo

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

C182s

Campregher, Jeice

Semântica e pragmática das línguas. / Jeice Campregher; Valeria


Aparecida Camerlengo; . – Indaial: UNIASSELVI, 2019.

175 p.; il.

ISBN 978-85-515-0341-6

1. Semântica. – Brasil. 2. Pragmática. – Brasil. I. Camerlengo, Valeria


Aparecida. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 415
Impresso por:
Apresentação
Ao estudarmos as línguas, poderemos receber auxílio da área da
Linguística, estudando um elemento por vez, tal como o léxico, a morfologia,
a sintaxe, fonética e fonologia, a semântica e a pragmática. Faz-se relevante
estudar um tópico por vez e, ao olhar para o todo, é possível verificar que cada
elemento constitui a identidade de uma língua, fazendo que ela seja como for:
semelhante em alguns aspectos, diferente das outras línguas em outros quesitos.

O mesmo acontece com a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).


Analisando-a de perto, veremos que ela possui semelhanças com outras línguas
naturais – um exemplo é a própria Língua Portuguesa –, contudo, em alguns
aspectos, ela possui características únicas que fazem dela uma língua única, capaz
de responder às necessidades comunicativas da comunidade surda brasileira.

Esse estudo contribui muito com a compreensão das características


(semelhanças ou diferenças) dessa língua tão importante em nosso país. Da
mesma maneira, dá ênfase a aspectos relativos à semântica e à pragmática –
como cada uma dessas áreas, entre outras, pode auxiliar na compreensão de
aspectos relevantes aos seus usuários. Um deles é de que forma o contexto
contribui com a compreensão de enunciados/sentenças que, sem a clareza
possibilitada pelo contexto, poderiam não ser compreendidos ou, ainda, ser
muito mal compreendidos. Tal confusão é possível em várias línguas, não
somente na Libras. Por esse motivo, o estudo da semântica e da pragmática
tem grande relevância ao estudarmos ou aprendermos uma língua.

A organização deste livro se dá em três partes: na Unidade 1 são


explorados os seguintes conceitos: língua e linguagem. Tal unidade está
dividida em três tópicos. O primeiro explora a construção dos significados.
O segundo, o estudo das línguas orais e de sinais. O Tópico 3 conceitua o
significado e o significante das línguas.

A Unidade 2 investiga a possibilidade de investigar as línguas por


meio da linguística. A unidade está dividida em três tópicos. O primeiro
aborda as áreas da linguística; o segundo, em especial, a ambiguidade e a
polissemia; o terceiro, a semântica e a pragmática das línguas.

A Unidade 3, a linguística e a língua de sinais Brasileira, é dividida


também em três etapas. No primeiro tópico, a linguística e as línguas de
sinais. No segundo tópico, o sentido dos sinais na Língua Brasileira de Sinais.
O terceiro tópico aborda a semântica e a pragmática das línguas naturais,
com ênfase na Libras.

Desejamos que você, acadêmico, tenha sucesso em seus estudos!

Jeice Campregher
Valeria Aparecida Camerlengo

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos


materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais
que possuem o código QR Code, que é um código
que permite que você acesse um conteúdo interativo
relacionado ao tema que você está estudando. Para
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – LÍNGUA E LINGUAGEM............................................................................................. 1

TÓPICO 1 – CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS......................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................ 3
2 ABORDAGEM DA LÍNGUA E SEU USO ......................................................................................... 3
3 ABORDAGEM DA LINGUAGEM E SEU USO................................................................................ 6
3.1 FUNÇÕES DA LINGUAGEM.......................................................................................................... 9
3.1.1 Função referencial...................................................................................................................... 9
3.1.2 Função poética......................................................................................................................... 10
3.1.3 Função conativa....................................................................................................................... 10
3.1.4 Função emotiva........................................................................................................................ 10
3.1.5 Função metalinguística........................................................................................................... 11
3.1.6 Função fática............................................................................................................................. 12
4 O QUE SÃO LÍNGUAS NATURAIS?............................................................................................... 13
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 16
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 17

TÓPICO 2 – ESTUDOS DAS LÍNGUAS ORAIS E DE SINAIS..................................................... 19


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 19
2 CONTEXTO LINGUÍSTICO DAS LÍNGUAS ................................................................................ 19
3 LÍNGUAS DE SINAIS.......................................................................................................................... 21
3.1 A LÍNGUA DE SINAIS É UNIVERSAL?....................................................................................... 22
3.2 A LÍNGUA DE SINAIS É ARTIFICIAL?....................................................................................... 24
3.3 A LÍNGUA DE SINAIS TEM GRAMÁTICA?.............................................................................. 25
3.4 A LÍNGUA DOS SURDOS É MÍMICA?........................................................................................ 26
3.5 É POSSÍVEL EXPRESSAR CONCEITOS ABSTRATOS NA LÍNGUA DE SINAIS?............... 26
4 DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTRE AS LÍNGUAS DE SINAIS E
AS LÍNGUAS ORAIS .......................................................................................................................... 28
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 29
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 30

TÓPICO 3 – CONCEITUANDO SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS............. 33


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 33
2 O CONCEITO DE SIGNO................................................................................................................... 33
3 O CONCEITO DE SIGNIFICADO.................................................................................................... 34
3.1 O QUE É SIGNIFICADO?............................................................................................................... 35
4 O CONCEITO DE SIGNIFICANTE ................................................................................................. 37
5 O SIGNIFICANTE E O SIGNIFICADO NAS LÍNGUAS DE SINAIS....................................... 37
5.1 SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO EM LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA – LIBRAS......... 38
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 42
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 46
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 47

VII
UNIDADE 2 – LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS................................................................................. 49

TÓPICO 1 – ÁREAS DA LINGUÍSTICA............................................................................................. 51


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 51
2 ESTUDOS LINGUÍSTICOS................................................................................................................ 52
2.1 NÍVEIS LINGUÍSTICOS ................................................................................................................. 53
2.1.1 Fonética .................................................................................................................................... 53
2.1.2 Fonologia ................................................................................................................................. 55
2.1.3 Morfologia ............................................................................................................................... 56
2.1.4 Sintaxe ...................................................................................................................................... 57
2.1.5 Semântica.................................................................................................................................. 60
2.1.6 Pragmática ............................................................................................................................... 62
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 64
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 65

TÓPICO 2 – SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA DAS LÍNGUAS ..................................................... 69


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 69
2 SEMÂNTICA ......................................................................................................................................... 69
2.1 ANTONÍMIA ................................................................................................................................... 71
2.2 SINONÍMIA....................................................................................................................................... 73
3 PRAGMÁTICA ..................................................................................................................................... 74
4 QUAL É A FINALIDADE DISSO TUDO?....................................................................................... 76
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 80
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 81

TÓPICO 3 – AMBIGUIDADE E POLISSEMIA ................................................................................. 83


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 83
2 AMBIGUIDADE ................................................................................................................................... 83
2.1 AMBIGUIDADE ESTRUTURAL.................................................................................................... 83
2.2 AMBIGUIDADE LEXICAL............................................................................................................. 83
3 AMBIGUIDADE LEXICAL: POLISSÊMICA E HOMÔNIMA..................................................... 86
3.1 POLISSEMIA .................................................................................................................................... 87
3.2 HOMONÍMIA................................................................................................................................... 89
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 94
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 100
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 101

UNIDADE 3 – A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA................................ 103

TÓPICO 1 – A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS DE SINAIS......................................................... 105


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 105
2 LIBRAS E OS ESTUDOS LINGUÍSTICOS.................................................................................... 106
3 FONÉTICA E FONOLOGIA DA LÍNGUA DE SINAIS ............................................................. 107
4 MORFOLOGIA DAS LÍNGUAS DE SINAIS ............................................................................... 116
5 SINTAXE DAS LÍNGUAS DE SINAIS .......................................................................................... 119
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 126
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 128

TÓPICO 2 – O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA................... 131


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 131
2 O SENTIDO DAS PALAVRAS ........................................................................................................ 131
3 SENTIDO DOS SINAIS .................................................................................................................... 133

VIII
3.1 POLISSEMIA: SIGNIFICANTES IGUAIS X SIGNIFICADOS DIFERENTES . .................... 136
3.2 HOMONÍMIA: SIGNIFICANTES SEMELHANTES X SIGNIFICADOS DIFERENTES . ... 139
3.3 SINONÍMIA: SIGNIFICANTE DIFERENTES X SIGNIFICADOS APROXIMADOS........... 140
3.4 ANTONÍMIA: SIGNIFICANTES DIFERENTES X SIGNIFICADOS OPOSTOS . ............... 142
3.5 PARONÍMIA: SIGNIFICANTE PARECIDOS X SIGNIFICADOS DIFERENTES ............... 146
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 148
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 149

TÓPICO 3 – SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA DAS LÍNGUAS NATURAIS............................. 151


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 151
2 SEMÂNTICA E O ESTUDO DOS SIGNIFICADOS DAS LÍNGUAS NATURAIS .............. 151
3 PRAGMÁTICA E O ESTUDO DOS SIGNIFICADOS DAS LÍNGUAS NATURAIS........... 159
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 164
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 168
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 169

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................ 171

IX
X
UNIDADE 1

LÍNGUA E LINGUAGEM

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender a construção dos significados;

• identificar língua e linguagem;

• compreender o uso da linguagem;

• conhecer o que são línguas naturais;

• reconhecer o contexto linguístico das línguas;

• identificar significado e significante.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS

TÓPICO 2 – ESTUDOS DAS LÍNGUAS ORAIS E DE SINAIS

TÓPICO 3 – CONCEITUANDO SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE


DAS LÍNGUAS

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! A partir deste momento, iniciaremos os estudos sobre a
semântica e a pragmática das línguas. Neste tópico serão abordados os assuntos: a
construção dos significados, o que é língua e o que é linguagem e o seu uso, o que são
línguas naturais, conhecimentos oriundos da linguística, o significado e o significante.

A linguagem é a capacidade de desenvolvimento de compreensão que


o ser humano usa para produzir, compreender e desenvolver uma língua. A
linguagem é viva, é a manifestação que envolve inúmeros aspectos, expressões
culturais, assim como a pintura, a música e a dança.

A língua é um conjunto organizado de elementos e regras que possibilitam


a comunicação. Sem esse conjunto de regras ser respeitado, dificilmente a
compreensão ocorreria entre os interlocutores – tanto na fala quanto na escrita.

2 ABORDAGEM DA LÍNGUA E SEU USO


O ser humano é constituído de subjetividade, respeitado por poder se
comunicar, poder expressar suas ideias, seus pensamentos, emoções, e, é tudo
isso que nos diferencia de outras espécies.

Com a língua podemos falar sobre amor e ódio; podemos persuadir e


podemos nos relacionar. A língua e a linguagem humanas são demasiadamente
desenvolvidas. Por meio dessa habilidade foi possível dividir o conhecimento
e, também, acumular conhecimento das mais variadas formas. Entre elas,
pergaminhos, livros, materiais digitais, arquivos de áudio e vídeo. Hoje, todos os
conhecimentos que uma pessoa pretenda adquirir, de fato, pode ter acesso a eles
de inúmeras maneiras. Tudo graças à língua e à linguagem.

A língua e a linguagem são objetos de pesquisa de muitos autores, cada


autor com sua concepção e arcabouço teórico. Cada um trazendo um olhar
diferenciado que muito pode contribuir com os nossos estudos.

Apresentaremos aqui a visão de língua nas pesquisas de três autores, são


eles: Quadros, Karnopp e Saussure. Vamos iniciar pelos dois primeiros. Conforme
Quadros e Karnopp (2004, p. 29)

3
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

A língua, é um sistema altamente desenvolvido. Mas há em aspecto


a considerar: Como e quando a criança começa a falar? Como a
língua começou? Por que a língua começou? Parecem questões que
atualmente estão mais claras. Possivelmente, ela começou porque
os humanos necessitam de um grau maior de cooperação com o
outro afim de sobreviverem, e esta cooperação requer uma eficiente
comunicação, consequentemente a função primária da língua é a
comunicação e a expressão do pensamento.

Ainda para Quadros e Karnopp (2004, p. 29),

A língua pode ser usada também para comunicar sentimentos e


emoções. Além disso, há na língua o bate-papo social, as pequenas
frases do dia a dia. “Oi, como vai você? Que dia frio!”. Este padrão
social tem sido chamado de comunicação fática e é primariamente
uma estratégia para manter contato social em um nível amigável. As
pessoas podem usar a língua por razões puramente estéticas, como na
poesia. Essas são apenas algumas das funções da língua.

Quadros e Karnopp (2004) abordam o uso da língua para se comunicar


e apresentar sentimentos e emoções. Para Quadros e Karnopp (2004), uma das
funções da linguagem é a função fática. Uma estratégia para manter o contato
social, observar se o nosso interlocutor está ligado a nós no momento da interação.
Adiante serão abordadas as funções da linguagem com maior ênfase. Ainda
assim, vale um breve comentário.

UNI

A Função Fática é uma das funções da linguagem. Ela privilegia a interação entre
um emissor e um receptor, na oralidade, um locutor e um interlocutor. Ao ser exercida a função
fática, ela abre um diálogo/interação; estabelece ou interrompe a comunicação. Podem ser
observadas em cumprimentos, despedidas ou em diversas maneiras nos diálogos do dia a dia.

Se entendemos que a linguagem pode utilizar-se de variados materiais,


tais como imagens e palavras, precisamos também estudar mais o que são as
palavras, a língua, a materialidade a partir da qual cada um dos sujeitos (na fala
e na escrita) podem produzir linguagem. Em outras palavras, a partir da língua
e da criatividade do sujeito, são produzidos textos orais e escritos. Esses sujeitos,
claro, sempre analisando outros elementos tais como o contexto, a circunstância,
o interlocutor (quem lerá ou ouvirá a mensagem), entre outros aspectos. Assim,
questionamos, o que é a língua?

4
TÓPICO 1 | CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS

Para Saussure, a língua, para se tornar um sistema coerente e inteligível,


precisa que as partes considerem as relações sincrônicas – em uma mesma época,
todas as peças que formam o estado de uma língua em um determinado momento.
Pode-se pensar em um quebra-cabeças: cada peça ajuda a dar coerência ao todo.
Para Saussure (2006), sincrônico refere-se a um estado, a um recorte, a um dado
momento; já o diacrônico, a “tudo que diz respeito às evoluções. Do mesmo
modo, sincronia e diacronia designarão respectivamente um estado de língua e
uma fase de evolução” (SAUSSURE, 2006, p. 96).

UNI

Veja os sentidos a seguir:

• Paradigmática: um modelo ou padrão a seguir. Tal termo tem origem no grego


paradeigma que significa modelo ou padrão; diz respeito a algo que vai servir de modelo
ou exemplo a ser seguido em determinada situação.
• Sintagmática: trata-se de uma unidade formada por uma ou várias palavras; juntas,
desempenham uma função sintática na frase. Tais unidades se combinam em torno de
um núcleo. Esse conjunto (um sintagma) desempenha uma função na frase.

Por língua entende-se um conjunto de elementos que podem ser estudados


simultaneamente, tanto na associação paradigmática como na sintagmática. Por
solidariedade, objetiva-se dizer que um elemento depende do outro para ser formado.

Saussure (2006, p. 17) afirma que a língua

não se confunde com a linguagem; é somente uma parte determinada,


essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um produto
social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções
necessárias adotadas pelo corpo social para permitir o exercício desta
faculdade nos indivíduos.

Você pode agora aprofundar seus estudos conhecendo a concepção de


língua segundo Ferdinand de Saussure.

5
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

FIGURA 1 – A LÍNGUA SEGUNDO SAUSSURE – LINGUÍSTICA

FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-zxUkFh-30pk/WSrBgk9cXFI/AAAAAAAAAFc/LBFwhqi86j8-
1b0U-HCeajmdfVzqESOBACLcB/s400/A-L%25C3%25ADngua-Segundo-Saussure-
Lingu%25C3%25ADstica.jpg>. Acesso em: 26 jun. 2019.

3 ABORDAGEM DA LINGUAGEM E SEU USO


Quando buscamos estudar linguagem, vem à memória o nosso primeiro
contato em ela, nos nossos primeiros anos de vida. Ainda assim, faltam-nos
subsídios para termos clareza, para definirmos de forma correta, o que seria ao
certo a linguagem. No meio acadêmico, faz-se necessário recorrer a autores para
que possamos nos amparar em nossos estudos. Nessa busca é possível encontrar
vários autores com suas experiências e suas abordagens.

Veremos a seguir a concepção de linguagem segundo alguns autores.


Segundo estudos de Finger e Quadros (2008), a linguagem é, na perspectiva da
teoria gerativa, um conjunto de representações mentais. Chomsky (apud FINGER;
QUADROS, 2008, p. 51) compreende a língua atrelada a um conceito político e
linguagem algo amplo, muito amplo.

Diante disso, Chomsky (1986 apud FINGER; QUADROS, 2008, p. 51, grifos no
original) estabelece duas perspectivas ao definir linguagem (definição metodológica):

Linguagem – E (E – language) – conceito técnico de linguagem como


instância da linguagem externa, ou seja, a língua em uso no sentido
de construção independente das propriedades da mente\cérebro,
com caráter essencialmente epifenomenal, identificada também como
performance. Linguagem – I (I- language) – objeto da teoria linguística
que se caracteriza sob três pontos de vista: a) interna, no sentido de
estado mental independentemente de outros elementos; b) individual,
como capacidade própria do indivíduo (natureza humana); e c)
intencional, de caráter funcional, no sentido de ser uma função
que mapeia os princípios do estado inicial para o estado estável,
identificada também como competência.

6
TÓPICO 1 | CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS

Ainda sobre a concepção de linguagem: para Chomsky (apud FINGER;


QUADROS, 2008, p. 51)

Sob essa concepção, uma teoria da linguagem, então, deve ser uma
teoria linguística rigorosa e formal, capaz de tratar a linguagem como
sistema computacional, em que o objeto de análise será a linguagem – I.
a capacidade humana para a linguagem, ou seja, a competência, passa
a ser traduzida pelo conceito de gramática – supondo-se uma relação
isomórfica entre mente e cérebro – devido à postulação de que esta existe
na mente e no cérebro. A partir dessa concepção é que se trata a linguagem
como algo natural, ou seja, algo que é específico da natureza humana.

DICAS

Segue a capa do livro em que encontraremos várias abordagens sobre


linguagem; diferentes posicionamentos sobre o mesmo assunto. Este UNI sugere tal leitura.

FIGURA – TEORIAS DE AQUISIÇAO DA LINGUAGEM

FONTE: <https://www.saraiva.com.br/teorias-de-aquisicao-da-linguagem-2609277.html#>.
Acesso em: 26 jun. 2019.

Válido ainda é abordar o conceito de variação linguística. Esse conceito é


muito utilizado no ensino de língua/linguagem.

7
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

ATENCAO

VARIEDADE LÍNGUÍSTICA, O QUE É?

A partir de Costa (1996, p. 51-53):


A língua não é, como muitos acreditam, uma entidade imutável, homogênea, que paira por
sobre os falantes. Pelo contrário, todas as línguas vivas mudam no decorrer do tempo e o
processo em si nunca para. Ou seja, a mudança linguística é universal, contínua, gradual e
dinâmica, embora apresente considerável regularidade. A crença em uma língua estática e
imutável está ligada principalmente à normatividade da gramática tradicional, que remota à
Grécia Antiga, numa época em que os estudiosos estavam interessados principalmente em
explicar a linguagem usada nos textos dos autores clássicos e em preservar a língua grega
da "corrupção" e do "mau uso". A língua escrita – especialmente a dos clássicos – era tão
valorizada que era considerada mais pura, mais bonita e mais correta do que qualquer outro
tipo de linguagem. A linguística moderna, no entanto, prioriza a língua falada em relação à
língua escrita por vários motivos, dentre eles pelo fato de que todas as sociedades humanas
conhecidas possuem a capacidade da fala, mas nem todas possuem a escrita [...].
Na verdade, toda língua é um conjunto heterogêneo e diversificado porque as sociedades
humanas têm experiências históricas, sociais, culturais e políticas diferentes e essas
experiências se refletirão no comportamento linguístico de seus membros. A variação
linguística, portanto, é inerente a toda e qualquer língua viva do mundo. Isso significa que
as línguas variam no tempo, nos espaços geográfico e social e também de acordo com a
situação em que o falante se encontra. Podemos exemplificar a variação temporal com a
forma "você", que passou por uma grande transformação ao longo do tempo. No século XII,
as pessoas diziam "vossa mercê" e hoje, na linguagem falada, e mesmo na escrita informal,
encontramos "cê", que não é a melhor nem a pior que "você" ou "vossa mercê", embora entre
os não-linguistas a tendência seja a de considerá-la ruim, feia ou deteriorada. Isso acontece
porque a sociedade normalmente é conservadora e demora para aceitar as mudanças.

FONTE: COSTA, Vera Lúcia Anunciação. A importância do conhecimento da variação


linguística. Educ. rev., Curitiba, n. 12, p. 51-60, dec. 1996. Disponível em: <http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601996000100005&lng=en&nrm=iso>. Acesso
em: 5 jun. 2019.

Já existem artigos que estão, inclusive, abordando a variação linguística em


se tratando da LIBRAS. Compreendendo que há variação, que nenhuma língua é
de fato totalmente homogênea, única e imutável dentro de um mesmo país.

DICAS

Sugere-se a leitura dos seguintes textos:


(1) Uma dissertação disponível on-line, intitulada Variação Linguística em Língua de Sinais
Brasileira – foco no Léxico, defendida em 2011 e cujo autor é Gláucio de Castro Júnior.
(2) Artigo disponível on-line com a seguinte referência: RODRIGUES, A; SILVA, A. A. Reflexões

8
TÓPICO 1 | CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS

sociolinguísticas sobre a libras (Língua Brasileira de Sinais). Estudos Linguísticos, São Paulo,
46 (2): p. 686-698, 2017.
(3) Artigo disponível on-line com a seguinte referência: OLIVEIRA, R. C. A; MARQUES, R. R.
Uso da variação linguística na língua brasileira de sinais. In: Revista Diálogos: linguagens em
movimento. Caderno Estudos Linguísticos e Literários. Ano II, n. I, 2014. Cuiabá: 2014.

3.1 FUNÇÕES DA LINGUAGEM


Quando entendemos o que é linguagem, passamos para o estágio de que
a linguagem tem várias funções. Buscando entender cada uma delas, percebemos
que cada função é de fundamental importância na formação da linguagem.

A linguagem tem várias funções que são usadas de acordo com a intenção
do falante e estão diretamente relacionadas com elementos de comunicação, que
são: emissor, receptor, contexto, mensagem, canal e código.

As funções da linguagem foram estudadas por Jakobson. Tal autor, que


fazia parte do Círculo Linguístico de Praga, dedicou-se “ao estudo de temáticas
variadas, dentre elas, as funções das unidades linguísticas ou, como são mais
conhecidas, as funções da linguagem. O linguista buscava compreender a
finalidade com que a língua é utilizada” (WINCH; NASCIMENTO, 2012, p. 221).
A partir desses estudos, ele chegou às funções discriminadas a seguir.

3.1.1 Função referencial


Tal função é usada para informar ou referenciar sobre algo. É a função
que dá destaque ao objeto, ao assunto do texto. O maior interesse é abordar o
tema, trazendo dados ou esclarecimentos sobre o tema abordado: o referente. Por
isso é chamada de “referencial” – com o foco no referente. Tal função pode estar
presente em textos variados.

No texto científico, certamente, é a principal função utilizada, tendo em


vista que o texto científico tem sempre um foco, um tema, um objeto de estudo.
Este objeto é descrito, explicado – deixando emoções de fora ou outros adornos.
Evita-se o que tira o foco do objeto/assunto. Ao mesmo tempo, em outros textos,
como na publicidade, há também a função referencial, uma vez que há um produto
(o referente) que será destacado. “Um anúncio normalmente faz referência a
produtos, serviços ou ideias” (SANTEE; SANTOS, 2016, p. 96).

9
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

3.1.2 Função poética


Usada para transmitir uma mensagem com estilo, muitas vezes esse estilo
– as características únicas do texto, as marcas que o deixam único – podem ganhar
mais destaque que o próprio objeto ou o assunto em si. Costumamos então dizer que
a função poética ressalta a própria forma de expressar. Jakobson menciona que a
ênfase cai sobre a forma de apresentar a mensagem, portanto, há todo um trabalho de
seleção das palavras, das imagens, sons ou ritmos (WINCH; NASCIMENTO, 2012).

Em outras palavras, quando “o texto pende para a mensagem em si


mesma e demonstra interesse na forma de se comunicar, existe a função poética
da linguagem. Ela não se resume à poesia, apesar de esta ser sua principal
representante” (SANTEE; SANTOS, 2016, p. 97).

3.1.3 Função conativa


A função conativa tem o foco no receptor, no interlocutor da mensagem
– aquele que irá ouvi-la ou lê-la. Tal função “encontra sua expressão gramatical
mais pura no vocativo e no imperativo” (JAKOBON, 2010, p. 159). Pode-se então
deixar clara a presença de um “tu” ou “você” – mesmo que subentendidos,
podendo estar na forma dos vocativos. Da mesma maneira, nem sempre pode ser
uma ordem propriamente dita (modo imperativo), pode estar na forma de uma
sugestão de algo, uma indicação, um conselho ou ainda um pedido.

Também podemos observar esse exemplo em vários textos do nosso dia a


dia, na conversa com amigos, conhecidos e familiares, na comunicação empresarial
(como um e-mail informativo ou um aviso em mural) ou, ainda, na publicidade.
Esta quase sempre apresenta seu produto ou serviço e, ao final, deixa alguma
mensagem que procura orientar à compra: “não perca esta oportunidade”,
“mamãe, você terá um rei na barriga”, “corra e garanta o seu”, “você não pode
ficar de fora dessa”, “mulher, aproveite seu dia”, entre outros exemplos.

UNI

Vocativo é uma forma de chamamento, uma forma de chamar ou interpelar o


interlocutor do discurso direto. Nos exemplos acima – presentes nos textos publicitários –
temos dois exemplos de vocativo: mamãe e mulher. Dois termos usados para chamar.

3.1.4 Função emotiva


Também chamada de expressiva, é usada para transmitir emoções e
sentimentos. Essa função está centrada na pessoa do discurso, no remetente, no
locutor; ou seja, no autor do texto falado ou escrito. Para Santee e Santos (2016,

10
TÓPICO 1 | CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS

p. 97), tal função apresenta uma “forte tendência à emoção, que é expressa pelas
interjeições, adjetivos, advérbios, signos de pontuação etc. O emissor normalmente
fala de si mesmo, dando vazão aos seus sentimentos com frases exclamativas”.

Jackobson compreende que a emoção também comunica, que há um papel


nas emoções. Os publicitários sabem disso muito bem, uma vez que, ao expressar
seus sentimentos, o interlocutor pode acabar se reconhecendo, vendo a si mesmo.
Dessa forma, constrói-se a identificação; esta é um bom estímulo à compra.

3.1.5 Função metalinguística


Usada para descrever uma linguagem usando ela mesma. Faz referência
ao próprio código utilizado. Em aulas de Língua Portuguesa, a metalinguagem
é muito comum: uma linguagem usada para falar da própria linguagem: artigo,
adjetivo, substantivo, verbo, concordância nominal, entre outros termos que são
usados para explicar, falar da própria linguagem.

Nos textos do cotidiano, podemos observar também a presença de


metalinguagem. Um exemplo está em uma antiga campanha da Sprite chamada as
coisas como são – foi veiculada em meados de 2007. Tal campanha apresentava vídeos,
anúncios e outdoores mostrando estratégias utilizadas na própria propaganda. Em
um dos anúncios (para revistas), colocaram uma pessoa bebendo refrigerante e, ao
lado, a parte verbal afirmava: “ver alguém beber dá sede”. Na mesma linha, foram
inúmeras peças publicitárias. Existem vídeos no YouTube ainda hoje com exemplos
dessas peças publicitárias veiculadas à TV naquela época. Caso queira procurar, no
YouTube ou Google, pelas palavras: Sprite as coisas como são.

Segue um exemplo de metalinguagem presente nessa campanha da Sprite,


materializada em um outdoor.

FIGURA 2 – EXEMPLO DE METALINGUAGEM NA PROPAGANDA

FONTE: As autoras

11
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

3.1.6 Função fática


A função fática, como citado anteriormente, é uma forma de testar se o
interlocutor está presente e em contato. O foco, portanto, é no canal, testando se de fato
a comunicação está funcionando. Quantas vezes perguntamos ao nosso interlocutor:
“você está me ouvindo?” – por telefone ou mesmo pessoalmente, quando notamos
alguém com um olhar distraído. De acordo com Jakobson (2010, p. 161),

Há mensagens que servem fundamentalmente para prolongar ou


interromper a comunicação, para verificar se o canal funciona (“Alô,
está me ouvindo?”), para atrair a atenção do interlocutor ou confirmar
sua atenção continuada (“Está ouvindo?” ou, na dicção shakespeariana.
“Prestai-me ouvidos!” - e no outro extremo do fio, “Hum-hum!”).

Como apresentado, pode ser pelo fio (telefone) ou pessoalmente. Em sala
de aula, perguntamos se o fundão pode nos ouvir. Não raro questionamos “você
está conseguindo me entender?” Trata-se de formas de testar se o interlocutor
está ligado a nós no momento de comunicação.

A seguir, há uma figura que resume bem o que foi abordado nesse item
(tendo como referência os dois polos. Na esquerda, o emissor (aquele que elabora
a mensagem) e no lado direito, o receptor (aquele que, como o nome diz, recebe a
mensagem ou a ouve). Entre os dois, os elementos como: o referente (o assunto/
objeto/tema), a mensagem (a mensagem em si e como ela é elaborada), o canal
(por qual meio a comunicação se dá) e o código (por exemplo, uma imagem, um
signo linguístico ou visual; uma imagem etc.).

FIGURA 3 – FUNCÕES DA LÍNGUA

FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/fu/nc/funcoes.jpg>. Acesso em: 26 jun. 2019.

12
TÓPICO 1 | CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS

UNI

Ao utilizar a linguagem, realizamos o emprego de uma das funções. Afinal, a


linguagem atende aos usos e às necessidades de nosso dia a dia e dos mais variados textos
que circulam na sociedade. Lembramos que nesses variados textos, de fato, podem ocorrer
uma ou mais funções da linguagem. Elas podem ser muito bem amarradas para alcançar
os objetivos propostos naquele texto. O caso da publicidade, certamente, é um contexto
que utiliza as inúmeras funções para alcançar seus objetivos: divulgar e vender produtos
e serviços. Contudo, não é o único caso. Há vários exemplos de textos que fazem uso das
várias funções para alcançar objetivos.

4 O QUE SÃO LÍNGUAS NATURAIS?


Em nossos estudos de língua e linguagem sabemos que a ciência que
estuda a língua se chama linguística. Esta ciência estuda as línguas naturais
humanas, forma teorias e procura explicar como elas funcionam. Todavia, o que é
exatamente uma língua? E qual é a diferença entre língua e linguagem? Tentando
responder a estas perguntas, buscamos autores que as definem e também as
respondem. Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 24)

As pessoas frequentemente usam a palavra linguagem em uma


variedade de sentidos: linguagem musical, linguagem corporal,
linguagem das abelhas, entre outras possibilidades. Entretanto utiliza
sessa palavra para significar o sistema linguístico que é geneticamente
determinado para desenvolver-se nos humanos. Os seres humanos
podem utilizar uma língua de acordo com a modalidade de percepção
e produção desta; modalidade oral-auditiva (português, francês,
inglês, etc.) ou modalidade visuoespacial (língua de sinais brasileira,
língua de sinais americana língua de sinais francesa, etc.).

UNI

SAIBA MAIS: Visuoespacial é a capacidade de percepção de objetos


(reconhecimento, identificação dos objetos) e das relações entre eles – disposição,
organização, ordem; enfim, trata-se do processamento de informações visuais. Para saber
mais sobre o assunto, basta buscar os trabalhos relacionados a seguir. Faz parte da formação
acadêmica buscar artigos em fontes seguras (periódicos online e bibliotecas universitárias).
Abaixo há dois exemplos que, pelo título e pelos autores, vocês podem sim ter acesso.

13
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

(1) GALERA, Cesar; GARCIA, Ricardo Basso; VASQUES, Rafael. Componentes funcionais da
memória visuoespacial. Estud. av. São Paulo, v. 27, n. 77, p. 29-44, 2013. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000100004&lng=en&nr
m=iso>. Acesso em: 27  maio 2019.  http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142013000100004.
(2) PESTANA, M. B. Memória de trabalho visuoespacial e posicionamento do pé no início do
andar em pacientes com doença de Parkinson. 2018. Dissertação (Mestrado em Ciências
da Motricidade – Interunidades) – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Motricidade,
Universidade Estadual Paulista, Rio Claro.

Podemos compreender que a linguagem está diretamente relacionada ao


ser humano e tem enorme valor como instrumento de expressão do pensamento
e de comunicação. Algumas reflexões podem ser feitas ainda nesse sentido:

Mas como definir língua e linguagem? Como distinguir uma língua


de outros sistemas de comunicação? Sabe-se que para o vocabulário
inglês language encontra-se, no português, dois vocabulários: língua
e linguagem. A diferença entre as duas palavras esta correlacionada,
até certo ponto, com a diferença entre os dois sentidos da palavra
inglesa language. A palavra linguagem aplica-se não apenas às línguas
portuguesas, inglesas, espanholas, mas a uma série de outros sistemas
de comunicação, notação ou cálculo, que são sistemas artificias e não
naturais. Por exemplo, em português a palavra é usada com referência
à linguagem em geral, e a palavra língua aplica-se às diferentes línguas,
não só porque é usada para se referir às linguagens em geral, mas
também porque é aplicado aos sistemas de comunicação, sejam naturais
ou artificiais, humanos ou não (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 24).

O linguista tem como foco de suas pesquisas as línguas naturais. Para


Lyons (1987 apud QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 24), a pergunta “o que é língua
e linguagem?” traz em si pressuposição de que cada uma das milhares de línguas
naturais, reconhecidamente distintas, é um caso específico que abrange algo mais
geral. O que o linguista quer saber é se as línguas naturais possuem algo que não
pertença a outros sistemas de comunicação; ou seja, seus aspectos únicos que
façam com que ela receba o título de “língua”.

Revisando a literatura relacionada aos estudos linguísticos, podemos


encontrar uma série de definições de língua. Tais definições fornecem subsídios
para a indicação de propriedades consideradas pela linguística essenciais às
línguas naturais. Retomando uma citação já realizada, a língua:

não se confunde com linguagem: é somente uma parte determinada,


essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um produto
social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções
necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa
faculdade de indivíduo (SAUSSURE, 2006, p. 17).

14
TÓPICO 1 | CONSTRUÇÃO DOS SIGNIFICADOS

Outros autores trazem suas opiniões também sobre língua: Bloch e Trager
(1942, p. 5 apud QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 25) afirmam que “uma língua é um
sistema de símbolos vocais arbitrários por meio do qual um grupo social coopera”.
Para Hall (1968, p. 158 apud QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 25) a língua(gem) é “a
instituição pela qual os humanos se comunicam e interagem uns com os outros por
meio de símbolos arbitrários orais-auditivos habitualmente utilizados”.

DICAS

Você sabe o que é arbitrário?


Arbitrário é algo que é uma decisão, uma escolha. A partir dessa escolha, torna-se regra para
um grupo social.

Para Quadros e Karnopp (2004), uma língua natural é uma realização


da faculdade de linguagem. Cada uma das línguas naturais é um sistema que
possibilita os seres humanos interagirem uns com os outros.

ATENCAO

Quando estudamos estes temas e nos aprofundamos na complexidade do


que define língua e linguagem, buscamos nos amparar em autores para que assim com suas
pesquisas possam nos ajudar dando-nos um norte, certa clareza em nossas pesquisas e estudos.

Lembre-se de que você é o autor dos seus conhecimentos, antes de adentrarmos no


próximo tópico, procure fazer as leituras sugeridas aqui no seu livro didático, complementando
seus conhecimentos, e seus aprendizados sobre os temas aqui discutidos e citados.

15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A língua é um sistema altamente desenvolvido.

• A língua pode ser usada também para comunicar sentimentos e emoções.


Além disso, há na língua o bate-papo social, as pequenas frases do dia a dia,
tais como “oi, como vai você? Que dia frio!”

• O padrão social tem sido chamado de comunicação fática e é primariamente


uma estratégia para manter contato social em um nível amigável.

• As pessoas podem usar a língua por razões puramente estéticas, como na


poesia.

• Para Saussure, a língua, para se tornar um sistema coerente e inteligível, precisa


que as partes considerem as relações sincrônicas – em uma mesma época, todas
as peças que formam o estado de uma língua em um determinado momento.

• A linguagem tem várias funções que são usadas de acordo com a intenção do
falante e estão diretamente relacionadas com elementos de comunicação, que
são: emissor, receptor, contexto, mensagem, canal e código.

• Para Quadros e Karnopp (2004), uma das funções da linguagem é a função


fática.

• Você aprendeu que as funções da linguagem são: função referencial, função


poética, função conativa, função emotiva, função metalinguística, função fática.

16
AUTOATIVIDADE

1 Conforme Quadros e Karnopp (2004), a língua é um sistema


altamente desenvolvido, consequentemente a função primária
da língua é a comunicação e a expressão do pensamento. Com
este pensamento, escolha a alternativa correta:

a) ( ) A língua é usada somente para manter contato em um meio social.


b) ( ) As pessoas podem usar a língua por qualquer razão, embora não tem
poesia na língua, ainda assim ela é muito usada.
c) ( ) A língua pode ser usada também para comunicar sentimentos e emoções,
como a poesia.
d) ( ) A língua só não pode ser usada em bate-papos, em pequenas frases do
dia a dia.

2 Aprofundando nossos estudos sobre linguagem, vimos que a


linguagem apresenta seis funções:
Elenque as funções de acordo com as características a seguir:

I- Função Referencial
II- Função Poética
III- Função Conativa
IV- Função Emotiva
V- Função Metalinguística
VI- Função Fática

( ) Usada para convencer o receptor.


( ) Usada para transmitir uma mensagem mais poética.
( ) Usada para transmitir emoções e sentimentos.
( ) Usada para o bate papo social, nas pequenas frases do dia a dia. Oi, como
vai você? Que dia frio!
( ) Usada para informar ou referenciar algo.

Agora, de acordo com a ordem, assinale a alternativa CORRETA.


a) I, III, II, V, VI, IV.
b) III, II, I, VI, IV, V.
c) III, II, IV, V, VI, I.
d) II, I, III, V, IV, VI.
e) I, II, III, IV, V, VI.

17
3 (QUESTÃO ENADE, 2014, com adaptações)

Restos

Minha Nossa Senhora do Bom Parto! O caminhão do lixo já deve ter passado!
Eu juro, seu poliça, foi nessa lixeira aqui! Nessa mesminha! Eu vim catar
verdura, sempre acho umas tomate, umas cenoura, uns pimentão por aqui.
Tudo bonzinho, é só lavar e cortar os pedaço podre, que dá pra comer... Aí
quando eu puxei umas folha de alface, levei o maior susto. Quase desmaiei,
até. Eu, uma mulher assim fornida que nem o seu poliça tá vendo, imagine:
fiquei de pernas bambas. Me deu até tontura. Acho que também por causa do
fedor... Uma carniça que só o senhor cheirando, pra saber. Mas eu juro por
tudo que é mais sagrado! Tinha sim um anjinho morto nessa lixeira! Nessa
aqui! Coitadinho... Deve ter se esgoelado de tanto chorar. A gente via pela sua
carinha de sofrimento. Ele tava com a boquinha aberta, cheinha de tapuru. Eu
nem reparei se era menino ou menina, porque eu fiquei morrendo de pena... E
de medo, também... Os olho... É do que mais me alembro... Esbugalhados, mas
com a bola preta virada pra dentro, sabe? Ai! Soltei um berro e saí correndo.

SERAFIM, L. Restos. In: SOUTO, A. Variação Linguística e texto


literário: perspectivas para o ensino. Cadernos do CNLF,
v. XIV, n. 4, t. 4, 2010, p. 3310 (adaptado).

Considerando a variedade linguística utilizada pela personagem do


texto, avalie as afirmações a seguir.

I- A redução do verbo “estar”, como em “tá” e “tava”, é uma característica


evidenciada na fala de sujeitos escolarizados e não escolarizados.
II- A eliminação da marca de plural, como em “os pedaço” e “pernas bamba”,
é um traço das variedades linguísticas populares faladas e escritas.
III- A prótese do fonema /a/ em “alembro” é uma característica associada à história
da língua portuguesa [ou seja, é possível observarmos certa época em que essa
forma era falada; assim, alguns usuários ainda utilizam esta forma].

É CORRETO o que se afirma em:


a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II.
d) II e III.
e) I, II e III.

18
UNIDADE 1
TÓPICO 2

ESTUDOS DAS LÍNGUAS ORAIS E


DE SINAIS

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Você já está no Tópico 2. Dando continuidade aos nossos
estudos, nós falaremos sobre os estudos das línguas orais e de sinais e o contexto
linguístico destas línguas.

Começaremos a compreender que são línguas distintas, que cada uma tem
uma gramática própria, você vai se entusiasmar com estes temas, pois quando
compreendemos que são línguas diferentes compreendemos também que as
duas têm a sua importância na formação dos usuários.

DICAS

Caro acadêmico! Não se prenda somente à leitura deste livro didático, busque
outras pesquisas e outros livros. Assim, seus estudos serão mais completos. Por meio dessa
postura, você se torna um pesquisador, um investigador. O mundo da leitura é fascinante.

2 CONTEXTO LINGUÍSTICO DAS LÍNGUAS


Antes de entrarmos neste tema, vamos fazer um adendo e nos familiarizar
e entender o que é linguística. Para Saussure (1916 apud QUADROS; KARNOPP,
2004, p. 15),

A linguística é o estudo científico das línguas naturais e humanas. As


línguas naturais podem ser entendidas como arbitrárias e\ou como
algo que nasce com o homem. Essas duas correntes estão relacionadas
aos pensamentos filosóficos que se originam com Platão e Aristóteles.
Esse último era naturalista quanto às proposições e convencionalista
quanto às palavras, pois considera que as coisas eram infinitas e as
palavras eram finitamente determinadas pelos seres humanos. Nesse
sentido, a linguística estruturalista se desenvolveu.

19
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

Podemos então perceber, com a leitura acima, que a linguística está


voltada para nos ajudar, nos dar explicações dos fatos que acontecem com a
língua e, ainda, dos fatos linguísticos em si.

Entendemos que a linguística está tentando desvendar várias nuances


que estão envolvidas na linguagem humana, os vários princípios. Tais nuances
e características contribuem com a compreensão das línguas naturais. Quadros e
Karnopp (2004, p. 16) afirmam que

A área da linguística está crescendo como área de estudo, apresentando


impacto nas áreas voltadas para educação, antropologia, sociologia,
psicologia cognitiva, ensino de línguas, filosofia, informática,
neurologia e inteligência artificial. [...] A linguística é uma ciência que
busca respostas para problemas essenciais relacionados à linguagem
que precisam ser explicados: Qual a natureza da linguagem humana?
Como a comunicação se constitui? Quais os princípios que determinam
a habilidade dos seres humanos em produzir e compreender a
linguagem? A linguística desmembra tais questões com a finalidade
de explicar os problemas e elaborar uma teoria da linguagem humana
e uma teoria da comunicação.

Podemos nos sentir mais seguros quando se trata de linguística, pois


sabemos que esta área está em forte crescimento com inúmeras pesquisas.
Pode-se dizer que a linguagem tem em si regras e estas regras fazem parte dos
conhecimentos humanos que determinam a produção oral ou visuoespacial, seja
qual for a língua, falada ou sinalizada.

Quadros e Karnopp (2004, p. 17) contribuem para refletirmos criticamente


acerca destes estudos linguísticos:

Outro pressuposto básico dos estudos linguísticos aqui considerado


constituiu a universalidade de tais princípios, ou seja, as investigações
de aspectos específicos de cada língua revelam as características da
linguagem humana. Portanto, independentemente do estudo de línguas
especificas, tais como o inglês, a portuguesa língua de sinais brasileira,
a língua de sinais americana, e assim por diante, é possível determinar
os princípios universais que regem todas as línguas e, possivelmente,
todas as línguas. Apesar das diferenças entre as línguas, as estruturas
apresentam aspectos comuns que interessam as investigações
linguísticas por explicarem a natureza da linguagem humana.

Os estudos sobre linguagem humana, dentre diferentes abordagens
procuram verificar o que as línguas/linguagens possuem em comum. Isso nos
interessa demasiadamente, pois vai ao encontro do que pretendemos aqui. Neste
momento por exemplo, vamos abordar a língua de sinais e suas características.

20
TÓPICO 2 | ESTUDOS DAS LÍNGUAS ORAIS E

ATENCAO

Desde o surgimento da linguística, muitos conceitos foram acrescentados,


assim como outras compreensões sobre língua/linguagem. Uma delas, bastante valorizada,
é a compreensão de que devemos ensinar língua/linguagem sempre a partir de situações
concretas de interação. Assim, os alunos podem ir além do nível de decodificação (conseguir
compreender o código), mas, também, poderá compreender as situações de usos. Isso faz
muito sentido dentro dos estudos que valorizam a semântica e a pragmática. Os contextos,
os usos e a língua/linguagem em momentos de interação (práticas sociais) são essenciais
no processo de ensino; afinal, a língua tem essa natureza social – ela existe para nos
comunicarmos uns com os outros.

Conforme aponta Geraldi (1984, p. 35):

Uma coisa é saber a língua, isto é, dominar as habilidades de uso


da língua em situações concretas de interação, entendendo e
produzindo enunciados, percebendo as diferenças entre uma
forma de expressão e outra. Outra coisa é saber analisar uma
língua dominando conceitos e metalinguagem a partir dos
quais se fala sobre a língua, se apresentam suas características
estruturais e de uso.

A partir dessa ótica (entre outros conceitos envolvidos), entende-se que o ensino
deve utilizar-se dos gêneros textuais que existem em sociedade, ou seja, os textos sempre
compreendidos em seus contextos de interação. Desligar um do outro é perder muito na
análise e na compreensão de textos.

3 LÍNGUAS DE SINAIS
“A língua dos surdos é transmitida cada vez que uma mãe surda
segura seu bebê em seu peito e sinaliza para ele” (Halan Lane)

Quando se trata de língua, o estudo vem nos mostrando que tanto as línguas
de sinais ou as línguas orais estão em constante evolução e transformação, temos
ainda muitas dúvidas, nossas pesquisas e estudos têm que ser constantes. Temos
muitas dúvidas sobre as línguas de sinais, que nos geram perguntas do tipo:

• A língua de sinais é universal?


• A língua de sinais é artificial?
• A língua de sinais tem gramática?
• A língua dos surdos é mímica?
• É possível expressar conceitos abstrato na língua de sinais?

Junto com alguns autores tentaremos responder a estas perguntas.

21
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

3.1 A LÍNGUA DE SINAIS É UNIVERSAL?

FIGURA 4 – A LÍNGUA DE SINAIS É UNIVERSAL

FONTE: <https://st2.depositphotos.com/2452383/10991/i/950/depositphotos_109913436-
stock-photo-globe-in-hand-the-whole.jpg>. Acesso em: 5 jul. 2019.

Esta é uma das dúvidas mais comuns quando se fala em língua de sinais,
se ela é universal, se podemos usar a mesma língua em vários países. Estudos
nos mostram que cada país tem a sua língua de sinais, desenvolve sua gramática,
tornando assim cada língua de sinais única. Gesser (2009, p. 11) ainda conclui que:

Uma das crenças mais recorrentes quando se fala em língua de sinais é


que ela é universal. Uma vez esta universalidade está ancorada na ideia
de que toda língua de sinais é um “código” simplificado apreendido
e transmitido aos surdos de forma geral, é muito comum pensar que
todos os surdos falam a mesma língua em qualquer parte do mundo.
Ora sabemos que nas comunidades de línguas orais, cada país, por
exemplo, tem a sua própria língua. Embora se possa traçar um histórico
das origens e apontar possíveis parentescos e semelhanças no nível
estrutural das línguas humanas (sejam elas orais ou de sinais), alguns
fatores favorecem a diversificação e a mudança da língua dentro
de uma comunidade linguística, como, por exemplo, a extensão e a
descontinuidade territorial, além dos contatos com outras línguas.

Agora podemos compreender de forma mais clara que as línguas de sinais


não são universais e que cada país tem a sua própria língua e elas são diferentes,
como por exemplo: nos Estados Unidos, os surdos utilizam a língua de sinais
americana. Na França, a língua de sinais francesa. No Japão, a língua japonesa de
sinais. No Brasil, a língua brasileira de sinais e assim por diante. Vejamos o sinal
de mãe em quatro diferentes línguas de sinais nas figuras a seguir.

22
TÓPICO 2 | ESTUDOS DAS LÍNGUAS ORAIS E

FIGURA 5 – LÍNGUA ESPANHOLA DE SINAIS

FONTE: Acervo da Uniasselvi

FIGURA 6 – LÍNGUA JAPONESA DE SINAIS

FONTE: Acervo da Uniasselvi

FIGURA 7 – LÍNGUA AUTRALIANA DE SINAIS

FONTE: Acervo da Uniasselvi

23
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

FIGURA 8 – LÍNGUA AMERICANA DE SINAIS

FONTE: Acervo da Uniasselvi

Podemos ter certeza de que onde houver um surdo interagindo, a língua


de sinais está presente. É possível afirmar que a necessidade de se comunicar é, de
fato, uma característica humana, no caso dos surdos esta comunicação acontece
através dos sinais.

Outra pergunta muito comum é se a língua de sinais é artificial.

3.2 A LÍNGUA DE SINAIS É ARTIFICIAL?


Sobre esta pergunta Gesser (2009, p. 12) afirma que:

Língua de sinais dos surdos é natural, pois evolui como parte de um


grupo cultural do povo surdo. Consideram-se “artificiais” as línguas
construídas e estabelecidas por um grupo de indivíduos com alguns
propósitos específicos. O esperanto (língua oral) e o gestuno (língua
de sinais) são exemplos de línguas “artificiais”, cujo objetivo maior é
estabelecer a comunicação internacional. Esse tipo de língua funciona
como uma língua auxiliar ou franca.

UNI

O  gestuno  é uma língua artificial de sinais conhecida como língua de sinais


internacional, cujo objetivo é estabelecer a comunicação internacional.

FONTE: <http://periodicos.unb.br/index.php/belasinfieis/article/view/12984>. Acesso em: 1 jul. 2019.

Na década de 1960 houve a defesa contundente de que a língua de sinais


é de fato uma língua natural. Tal trabalho foi liderado por Stokoe (QUADROS;
KARNOPP, 2004). Ela possui características como todas as línguas naturais:
flexibilidade, versatilidade, arbitrariedade, entre outros aspectos. Nas palavras
de Brito (1998, p. 19),

24
TÓPICO 2 | ESTUDOS DAS LÍNGUAS ORAIS E

As línguas de sinais são línguas naturais porque como as línguas


orais surgiram espontaneamente da interação entre pessoas e porque
devido a sua estrutura permitem a expressão de qualquer conceito
descritivo, emotivo, racional, literal, metafórico, concreto, abstrato
enfim, permitem a expressão de qualquer significado decorrente da
necessidade comunicativa e expressiva do ser humano.

A língua além de ser histórica, humana e social, ainda é fruto da interação e


meio de interação. Por meio dessa ferramenta (língua), podemos realizar atividade
com o outro e sobre o outro, no momento de interação (linguagem). Em tempo: essa
interação com o “outro” pode ser até mesmo consigo – sim, é possível estabelecer
um diálogo consigo, uma reflexão, um questionamento, entre outras possibilidades.

3.3 A LÍNGUA DE SINAIS TEM GRAMÁTICA?


Com certeza. A partir dos estudos de Stokoe, na década de 1960, a
compreensão de que a língua de sinais possui uma gramática pôde avançar.
Desde lá, a visão sobre a língua passou a ser completamente diferente.

É fato afirmar que as línguas orais já são estudadas há muito mais tempo
em relação à língua de sinais. A partir da década de 1960, de fato, observou-se
que a língua de sinais possui gramática própria – a partir dessa gramática, com
a possibilidade infinita de produção de sentenças. Apenas nos últimos 40 anos a
língua de sinais veio a ser observada cientificamente. Anteriormente, o sinal não
era visto como uma língua com gramática própria (GESSER, 2009, p. 14).

DICAS

Sugere-se a leitura do livro Por uma gramática de sinais, de Lucinda Ferreira,


que ajudará na compreensão do assunto abordado.

FONTE: <https://images.app.goo.gl/kQzVRmZRfEK8uMuj8>. Acesso em: 27 jun. 2019.

25
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

3.4 A LÍNGUA DOS SURDOS É MÍMICA?


Sobre esta pergunta, que infelizmente ainda é muito comum, podemos
responder: é uma afirmação falsa. A língua dos surdos não é mímica. Para
confirmar, Gesser (2009, p. 21) afirma:

Quando me perguntam, entretanto, se a língua de sinais é mimica,


entendo que está implícito a esta pergunta um preconceito muito grave,
que vai além da discussão sobre a legitimidade linguística ou mesmo
sobre quaisquer relações que ela possa ter (ou não) com a língua de
sinais. Está associada a essa pergunta a ideia que muitos ouvintes têm
sobre os surdos: uma visão embasada na anormalidade, segundo a qual
o máximo que o surdo consegue expressar é uma forma pantomímica
indecifrável e somente compreensível entre eles. Não à toa, as nomeações
pejorativas anormais, deficiente, débil mental, mudo, surdo-mudo,
mudinho tem sido equivocadamente atribuída a esses indivíduos.

Há, portanto, a possibilidade de aprendizagem do código, da gramática


da língua de sinais. Somente o canal comunicativo é diferente, chamado de
visual-gestual. Ainda assim, trata-se de uma língua natural, complexa e genuína
(GESSER, 2009, p. 22).

3.5 É POSSÍVEL EXPRESSAR CONCEITOS ABSTRATOS NA


LÍNGUA DE SINAIS?
Respondemos a esta pergunta com a afirmação: obviamente que sim.
Muitas pessoas ainda pensam que não, mas pensam assim porque estão ainda
ligadas ao pensamento de que a língua de sinais é limitada, pobre, simplificada,
que não passa de um simples código primitivo, que é mimica, pantomima e
gestos. Precisamos entender que sinais não são gestos.

UNI

Significado de pantomima
Substantivo feminino: arte de demonstrar, através dos gestos e/ou expressões faciais, os
sentimentos, pensamentos, ideias, sem utilizar palavras; mímica.

FONTE: <https://www.dicio.com.br/pantomima/>. Acesso em: 27 jun. 2019.

26
TÓPICO 2 | ESTUDOS DAS LÍNGUAS ORAIS E

Gesser (2009, p. 23) afirma que:

Assim é correto afirmar que as pessoas que falam línguas de sinais


expressam sentimentos, emoções e quaisquer ideias ou conceitos
abstratos. Tal como os falantes de línguas orais, os falantes de línguas de
sinais podem discutir filosofia, política, literatura, assuntos cotidianos
etc., nessa língua, além de transitar por diversos gêneros discursivos,
criar poesias, fazer apresentações acadêmicas, peças teatrais, contar e
inventar histórias e piadas.

DICAS

Trazemos para confirmar a afirmação de Gesser a ilustração do livro de


Emmanuelle Laborrit, surda francesa. Emmanuelle escreveu: O voo da gaivota. Caro
acadêmico! Você pode encontrar este livro! Aproveite e leia, é uma leitura muito agradável,
você irá se encantar.

FONTE: <https://pt.scribd.com/doc/67465405/O-VOO-DA-GAIVOTA>.
Acesso em: 27 jun. 2019.

Emmanuelle Laborit (apud GESSER, 2009, p. 23) em seu belíssimo livro O voo da gaivota,
afirma “Os sinais podem ser agressivos, diplomáticos, poéticos, filosóficos, matemáticos:
tudo pode ser expresso por meio de sinais, sem perda nenhuma de conteúdo”.

Dessa forma, poderemos observar que sim, que através da língua de sinais
elementos concretos, simbólicos, abstratos e emoções humanas podem ser expressos.

27
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

4 DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS ENTREAS LÍNGUAS DE SINAIS


E AS LÍNGUAS ORAIS
De acordo com algumas leituras realizadas, podemos evidenciar algumas
semelhanças e diferenças entre a língua oral e a língua de sinais. Uma diferença
notória é a forma como se comunicam. Na língua de sinais, que é uma língua de
modalidade gestual-visual, os seus usuários utilizam como meio de comunicação,
movimentos e expressões faciais que percebemos através da visão. Enquanto a
língua oral é uma modalidade oral-auditiva; nela, seus usuários usam os sons,
percebidos pelo ouvido.

Outra diferença é que, nas línguas orais-auditivas, o que é denominado de


palavras, nas línguas de sinais, é denominado de sinais.

Já quanto às semelhanças, as duas línguas apresentam semelhanças na


sua estrutura gramatical. As duas são estruturadas a partir de unidades mínimas
que formam unidades mais complexas, então todas possuem os seguintes níveis
linguísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico.

As línguas se diferem também na forma como as combinações das


unidades são construídas, a língua oral é linear enquanto a de sinais é simultânea.
Os autores relacionados nos dão uma explicação para esta diferença, vejamos.

Segundo Brito, Wilcox e Wilcox (1995; 1997 apud GESSER, 2009, p. 19), a
explicação “para essa diferença se dá devido ao canal de comunicação em cada
língua (visual-gestual x vocal-auditivo), pois essa característica fica mais saliente
em uma língua do que em outra”.

Quadros e Karnopp (2004, p. 62) contribuem para refletirmos sobre essa


discussão:

Confrontando-se língua de sinais com línguas orais, três importantes


aspectos podem ser investigados: os princípios e universais
linguísticos compartilhados entre línguas de sinais e línguas orais; as
especificidades de cada língua; e as restrições devidas à modalidade
de percepção e produção. A diferença entre línguas orais e de sinais no
nível fonológico é difícil de ser estabelecida, considerando que muitos
tópicos sobre a fonologia das línguas de sinais continuam sendo
pesquisados e/ou ainda não foram investigados.

Dessa forma, as línguas seguem sob investigação. Há muito ainda a se


compreender sobre elas, comparativamente. Ainda assim, a compreensão que se
busca na atualidade é o respeito por ambas, junto dos seus falantes/usuários.

28
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A linguística é o estudo científico das línguas naturais e humanas. As línguas


naturais podem ser entendidas como arbitrarias e\ou como algo que nasce
com o homem.

• A linguística é a área que se preocupa com a natureza da linguagem e da


comunicação.

• Vários estudos vêm nos mostrando que tanto as línguas de sinais ou as línguas
orais estão em constante evolução e transformação.

• Podemos compreender de forma mais clara que as línguas de sinais não são
universais e que cada país tem a sua própria língua e elas são diferentes,
como por exemplo: nos Estados Unidos, os surdos “falam” a língua de sinais
americana; na França a língua de sinais francesa; no Japão, a língua japonesa
de sinais; no Brasil, a língua brasileira de sinais.

• A língua de sinais tem todas as características linguísticas de qualquer língua


humana natural.

• É possível expressar conceitos abstratos na língua de sinais.

• Podemos evidenciar algumas semelhanças e diferenças entre a língua oral e a


língua de sinais. Uma diferença notória é a forma como se comunicam. A língua
de sinais que é uma língua de modalidade gestual-visual, os seus usuários
utilizam como meio de comunicação, movimentos, gestuais e expressões
faciais que percebemos através da visão. A língua oral é uma modalidade oral-
auditiva e seus usuários usam os sons, percebidos pelo ouvido.

• Confrontando-se língua de sinais com línguas orais, dois importantes aspectos


podem ser investigados: os princípios e universais linguísticos compartilhados
entre línguas de sinais e línguas orais.

29
AUTOATIVIDADE

1 Sabemos que a ciência que estuda as línguas é a linguística,


então coloque V para as questões verdadeiras e F para as falsas,
no que se refere a ela.

( ) No entanto entendemos que a linguística está tentando desvendar várias


coisas que estão envolvidas somente na língua e não na linguagem humana.
( ) A linguística está voltada para nos ajudar, nos dar explicações dos fatos
que acontecem com a língua dos fatos linguístico em si.
( ) Na verdade, linguística é a área que se preocupa com a natureza da
linguagem e da comunicação.
( ) A linguística está crescendo como área de estudo, apresentando impacto
nas áreas voltadas para o estudo das línguas áreas como a: educação,
antropologia, sociologia, psicologia cognitiva, ensino de linguagem,
filosofia, informática, neurologia e inteligência artificial.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) F – V –F – F.
b) ( ) F – V – V – V.
c) ( ) V – V – F – F.
d) ( ) F – F – V –V.

2 Quando se trata de língua, o estudo vem nos mostrando que


tanto as línguas de sinais ou as línguas orais estão em constante
evolução e transformação; porém temos ainda muitas dúvidas,
vamos analisar as perguntas a seguir e numerá-las de acordo
com os estudos deste tópico.

(1) A língua de sinais é universal?


(2) A língua de sinais é artificial?
(3) A língua de sinais tem gramatica?
(4) A língua dos surdos é mimica?
(5) É possível expressar conceitos abstrato na língua de sinais?

( ) Crença.
( ) Uma crença.
( ) Obviamente que sim.
( ) Com certeza.
( ) Preconceito.

Agora com base nas suas escolhas marque a alternativa CORRETA.


a) ( ) 1,2,3,5,4.
b) ( ) 1,3,2,4,5.
c) ( ) 4,3,2,5,1.
d) ( ) 2,1,5,3,4.

30
3 De acordo com a leitura realizada podemos evidenciar algumas
semelhanças e diferenças entre a língua oral e a língua de sinais.
Assinale V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) uma diferença notória é a forma como se comunicam, a língua de sinais


que é uma língua de modalidade gestual-visual, os seus usuários utilizam
como meio de comunicação, movimentos, gestuais e expressões faciais que
percebemos através da visão, enquanto a língua oral é uma modalidade
oral-auditiva, seus usuários utilizam os sons, percebidos pelo ouvido.
( ) Outra diferença é que nas línguas orais-auditivas o que é denominado de
palavras, nas línguas de sinais é denominado de sinais.
( ) Já quanto às semelhanças, as duas línguas apresentam semelhanças na sua
estrutura gramatical. As duas são estruturadas a partir de unidades mínimas
que formam unidades mais complexas, então todas possuem os seguintes
níveis linguísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico.
( ) As línguas se diferem também na forma como as combinações das
unidades são construídas, a língua oral é linear enquanto a de sinais é
simultânea.

Agora, escolha a opção CORRETA.


a) ( ) F, F, F, V.
b) ( ) V, V, V, F.
c) ( ) V, V, V, V.
d) ( ) F, V, F, V.

4 (QUESTÃO ENADE 2017)

As línguas naturais são, por natureza, um fenômeno sensível ao


contexto. Mas os eventos de fala variam muito em relação à dependência
contextual. Quando os interagentes partilham uma grande carga de
pressuposições pragmáticas sobre o mundo, sua interação tenderá a ser mais
contextualmente dependente. Ao contrário, quando a interação se desenvolve
entre falantes com antecedentes mais distintos, a interação tende a ser marcada
por menos dependência contextual e, consequentemente, por mais explicitude
e precisão na escolha das palavras. Gumperz (1976) observa que, para serem
eficientes nessas ocasiões, os falantes têm de estar conscientes das diferenças
no processo interpretativo. Não podem esperar que suas convenções
comunicativas não verbalizadas, próprias do seu grupo primário de relações,
sejam compreendidas por outros e têm de demonstrar mais flexibilidade no
seu repertório estilístico. Em outras palavras, os falantes precisam monitorar-
se mais ou menos, em função do grau de conhecimento compartilhado com os
seus interlocutores.

BORTONI-RICARDO, S. M. Nós chegamos na escola, e agora? São Paulo: Parábola Editorial,


2005 (adaptado).

Considerando o texto, avalie as afirmações a seguir:

31
I- Os eventos de fala são coconstruídos pelos participantes e seu sucesso
depende, dentre outros fatores, da conscientização dos interagentes sobre
as convenções de contextualização compartilhadas (ou não) pelo grupo.
II- O usuário competente da língua desvia o olhar das convenções próprias
dos eventos de fala e concentra-se na organização estrutural do código e
em uma seleção lexical adequada para cada interlocutor.
III- A competência comunicativa de um falante deve ser medida pelo grau
de explicitação argumentativa e riqueza vocabular, sem considerar a
experiência prévia deste falante nesta comunidade.
IV- Uma interação sensível ao contexto comunicativo deve levar em conta
o conhecimento de mundo compartilhado (ou não) pelos interagentes,
o que implicará maior envolvimento dos interlocutores no processo de
comunicação.

É CORRETO apenas o que se afirma em:


a) ( ) I e III.
b) ( ) I e IV.
c) ( ) II e III.
d) ( ) I, II e IV.
e) ( ) II, III e IV.

32
UNIDADE 1
TÓPICO 3

CONCEITUANDO SIGNIFICADO E
SIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico falaremos sobre o significado e o significante, e não temos
como falar de significado e significante sem falar dos estudos do significado
linguístico.

Apresentaremos também o estudo deste significado, falaremos
de: significado e de significante; como estes conceitos estão nas línguas e,
consequentemente, nas línguas de sinais.

Para iniciarmos e termos uma compreensão completa destas terminologias,
iniciaremos este tópico falando do signo, pois ele é o elemento composto pelas
suas duas faces: o significado e o significante.

2 O CONCEITO DE SIGNO
A língua oral utiliza-se de sons. Esses, isoladamente, não constroem nada.
No entanto, quando são organizados a partir da organização da língua, passam a
ter sentido. Eu só reconheço alguém falando francês se eu também estou inserido
no universo dessa língua – nós compartilhamos o mesmo sistema. Por isso a
comunicação é possível.

Sem um sistema que organize tudo isso, o próprio pensamento seria
uma massa amorfa, sem forma, sem sentido. A língua, portanto, é o que dá
sentido. Pode-se dizer que ela é “o intermediário entre o pensamento e os sons,
possibilitando, assim, que entre a massa amorfa do pensamento humano e a
profusão indeterminada de sons, surja uma espécie de faixa de organização a
qual se chamaria língua” (RODRIGUES, 2008, p. 10).

Em outras palavras, é a língua que dá sentido aos sons, organiza-os,
formando signos. Esses signos são construídos de forma arbitrária – escolhas
coletivas. Ao mesmo tempo que eles são coletivos, socialmente construídos, eles
podem variar em certo nível de sujeito para sujeito.

Ainda sobre o valor (o sentido) de cada signo ser produzido coletivamente,


recorremos a Rodrigues (2008, p. 9-10):

33
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

Os fonemas seriam equivalentes ao papel e à tinta com que se fazem


as notas de dinheiro. O valor atribuído às notas, por sua vez, seria
comparável ao significado dos signos linguísticos. O processo de
formação dos signos, sob o aspecto social, seria, portanto, exatamente
o mesmo processo utilizado no sistema financeiro.

Assim, podemos compreender que o signo só fará sentido se ele tiver um


significado, um valor socialmente construído. Vamos a um exemplo: ao escutar
a palavra cachorro, reconhecemos a sequência de sons que formam essa palavra.
Esses sons se identificam com a lembrança deles que está em nossa memória. Essa
lembrança constitui uma real imagem sonora, armazenada em nosso cérebro que
é o significante do signo cachorro.

Quando escutamos essa palavra, logo pensamos em um animal irracional


de quatro patas, com pelos, olhos, orelhas etc. Esse conceito que nos vem à mente é
o significado do signo cachorro e também se encontra armazenado em nossa memória.

Ao empregar os signos que formam a nossa língua, devemos obedecer
às regras gramaticais convencionadas pela própria língua. Desse modo, por
exemplo, é possível colocar o artigo indefinido “um” diante do signo cachorro,
formando a sequência “um cachorro”, o mesmo não seria possível se quiséssemos
colocar o artigo “uma” diante do signo cachorro.

A sequência  “uma cachorro”  contraria uma regra de concordância da
língua portuguesa, o que faz com que essa sentença seja rejeitada. Os signos
que constituem a língua obedecem a padrões determinados de organização. O
conhecimento de uma língua engloba tanto a identificação de seus signos, como
também o uso adequado de suas regras combinatórias.

UNI

Signo: elemento representativo que possui duas partes indissolúveis: significado e


significante
Signo = significado (é o conceito, a ideia transmitida pelo signo, a parte abstrata do signo) +
significante (é a imagem sonora, a forma, a parte concreta do signo, suas letras e seus fonemas).

3 O CONCEITO DE SIGNIFICADO
Quando pensamos nessa temática nos vem à mente as aulas de português,
e é isso mesmo precisaremos entender primeiro: na língua portuguesa o que é
significado? Para depois adentrarmos em outra língua, neste caso, a língua de sinais.

34
TÓPICO 3 | CONCEITUANDO SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS

Vêm-nos à mente também alguns questionamentos. O que é o significado?


O que entendemos por significado? Quando nos questionamos, levantamos a
hipótese de que realmente existe algo que seja o significado.

Vamos dar continuidade aos nossos estudos respondendo às perguntas acima.

3.1 O QUE É SIGNIFICADO?


Os significados são entidades abstratas que existem na mente dos falantes
de uma determinada língua. Significado é, portanto, entidade mental. Ou seja, nós
temos um conjunto complexo de informações acumuladas ao longo da história da
humanidade. Então quando usamos uma determinada palavra da nossa língua
fazemos ecoar por meio desta palavra um processo histórico que forma conceitos
sobre a vida e sobre o mundo.

Vamos tentar deixar este estudo mais prazeroso. Traremos exemplos para
que fique mais claro. O significado do signo árvore, por exemplo, vai muito além
do conceito de "vegetal lenhoso". Há muitos valores simbólicos e ideológicos que
se podem associar a esse signo (em várias culturas a árvore é símbolo da vida;
em tempos de movimentos ambientalistas ativos como os nossos, a árvore é um
símbolo da preservação das matas); há também valores que só se conseguem
definir na efetiva interlocução (imagine todo o conjunto de sentidos que a palavra
árvore assume em uma conversa entre donos de madeireiras, ao falarem sobre a
extração de mogno).

FIGURA 9 – SIGNIFICADO DE ÁRVORE

FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-QuR2XafqoKY/UUIbvzvst-I/AAAAAAAAAJE/eXyImOLrFD8/
s1600/images%5B10%5D.jpg>. Acesso em: 27 jun. 2019.

35
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

Podemos então dizer que o significado vai muito além. É o conceito que damos
a um signo. Vai depender de nossa experiência de vida, de nosso conhecimento de
mundo, de quanto temos de afinidade com o tema que nos é apresentado.

QUADRO 1 – IMAGEM DE CACHORROS

SIGNIFICANTE
CACHORRO
É A PALAVRA

SIGNIFICADO
É A IMAGEM

FONTE: <https://statig2.akamaized.net/bancodeimagens/5w/6r/
ep/5w6rep16o2e497c3x5n8ydhi0.jpg>. Acesso em: 5 jul. 2019.

No exemplo acima, quando falamos a palavra “cachorro”, nos vem à


memória o animal mamífero, com a pele cheia de pelos, certo? Errado! Quando
falamos a palavra cachorro virá sim em nossa mente o animal cachorro, peludo
etc., porém, pode também vir à memória uma raça de cachorro sem pelos,
podemos pensar em uma raça muito grande ou em uma raça muito pequena.
Tudo dependerá de nossas experiências com este animal. Algumas pessoas
podem até evitar pensar devido a algum trauma com o bicho.

Podemos então definir significado como a experiência que temos que


vivenciamos com o tema falado, o significado que damos, a importância que
damos ao tema. Quadros e Karnopp (2004, p. 22) afirmam que “o significado ou
os significados de uma expressão linguística apresentam características comuns
compartilhadas entre os utentes de uma língua”.

36
TÓPICO 3 | CONCEITUANDO SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS

DICAS

Utente é aquele que tem o direito de usufruir; aquele que utiliza; o usuário.

4 O CONCEITO DE SIGNIFICANTE
Para Saussure (2006), o signo é uma associação de um conceito (chamado
significado) e uma imagem acústica, ou ótica, chamada significante.

Podemos definir tanto o significante quanto o significado como entidades


mentais, abstratas que estão dentro da mente de um falante de uma determinada
língua – esses elementos foram registrados na mente, uma vez que foram
incorporados a partir da fala, da comunicação a qual foi exposto, sendo inserida
nesse universo de sentidos.

Portanto, para esses autores significado e significante são entidades


mentais, estabelecendo, assim, uma relação simbólica. Isto significa
dizer, também, que a língua por ser um sistema de signos é simbólica.
Por isso, é que ao pronunciarmos ou sinalizarmos palavras, sentenças
e/ou discursos inteiros, estamos designando conceitos (MCCLEARY;
VIOTTI, 2009, p. 4).

Ao mesmo tempo, vale apontar que a relação entre significado e


significante é arbitrária, ou seja, não existe algo que liga automaticamente as
duas faces do signo. É uma escolha – o significante poderia ser outro. Houve
uma convenção para que fosse eleita uma composição. Vamos ver o exemplo do
significante “mar”: “a ideia de ‘mar’ não está ligada por relação alguma interior,
a sequência de sons m-a-r que lhe serve de significante poderia ser representada
por outra cadeia” (GUIMARÃES, 2018, p. 164). Poderia ser “m-o-r”, ou “m-i-r”,
ou qualquer outra combinação: inclusive “abóbora” – se essa fosse a convenção
social. Em vez de “mar”, chamaríamos o oceano de “abóbora”.

5 O SIGNIFICANTE E O SIGNIFICADO NAS LÍNGUAS DE SINAIS


As línguas de sinais não poderiam ser diferentes. O significante e o
significado estão presentes em seus estudos. Neste tópico teremos a oportunidade
de conhecer o significante e significado nas línguas de sinais.

37
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

5.1 SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO EM LÍNGUA DE SINAIS


BRASILEIRA – LIBRAS
Após suas leituras, até aqui, você deve se perguntar, o que é significante
e significado para libras. Como foi observado anteriormente, o signo linguístico
é a unidade mínima da oração que é composta por um significado e por um
significante, unidos de forma inseparável através da significação.

Anteriormente observamos os conceitos de significante e significado. O


significante é um fonema ou uma sequência de fonemas que constituem um signo
linguístico ao associar-se com um significado. E o signo linguístico é, portanto,
a unidade mínima da oração que é composta por um significado e por um
significante, unidos de forma inseparável através da significação.

Pode-se dizer que o signo é a unidade mínima da oração. Da mesma


maneira, o signo está condicionado tanto pelo sistema quanto pelo contexto. O
significado que é o aspecto conceitual é estabelecido pelo aspecto material que é
o significante. Podemos observar o conjunto de fonemas que formam a palavra
"casa". Esses fonemas articulados formam a seguinte sequência (/k/, /a/, /z/,
/a/) – o significante designa um significado específico. Ao ouvir casa, na mente
do ouvinte ou leitor evoca-se o conceito mental daquilo que é casa, um local
a se morar ou habitar. O significante, portanto, designa algo, enquanto que o
significado é aquilo que é designado. A partir de Saussure, compreendemos que
a língua se organiza como um sistema coerente de signos – que dá unidade às
orações. Cada signo, pode-se dizer, possui faces, assim como uma folha possui
duas faces, de um lado, o significante (também chamado de imagem acústica) e o
significado (também chamado de conceito) (SAUSSURE, 2006).

Já em libras existe também o signo linguístico assim como nas outras


línguas. Para Stokoe (1960), os sinais em Libras têm combinações simultâneas de
organizações dos elementos das línguas de sinais:

• A configuração de mão.
• A locação (lugar no corpo ou no espaço onde o sinal é feito).
• O movimento.

Outros pesquisadores com suas novas pesquisas acrescentaram outros


parâmetros:

• Orientação (ou seja, a direção que a palma da mão faz).


• Expressões faciais e corporais (sinais não manuais).

Então vimos desta forma que o signo linguístico das línguas de sinais dá
origem ao significado e, também, cria o significado, imagem ótica (no caso de língua
de sinais) ou mental (no caso da língua oral) ambas formam o signo linguístico.

As noções de significado podem ser resumidas pela fórmula em (01) e


visualizadas no quadro a seguir.

38
TÓPICO 3 | CONCEITUANDO SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS

QUADRO 2 – IMAGENS DE CASAS

SIGNO = A
SIGNIFICADO
PALAVRA, O SENTIDO =
O DESENHO OU O SINAL
NOME

Construção
destinada à
moradia; lugar
onde residem
CASA
pessoas;
prédio; lar;
residência;

FONTE: Acervo da Uniasselvi

QUADRO 3 – IMAGEM DE ÁRVORE

SIGNO =
ÁRVORE o nome SIGNIFICADO
SENTIDO
a palavra em (DESENHO OU O SINAL)
português

Vegetal
A palavra
lenhoso
ÁRVORE

FONTE: Acervo da Uniasselvi

39
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

QUADRO 4 – IMAGEM DE CARRO

SIGNO =
CARRO O
SIGNIFICADO
NOME A SENTIDO
(O DESENHO OU O SINAL)
PALAVRA EM
PORTUGUES

Meio de
CARRO
transporte

FONTE: <https://carros2019.com.br/wp-content/uploads/2018/08/selomaisbaratos-1024x740.
jpg>. Acesso em: 23 jul. 2019.

Caro acadêmico! Neste tópico estamos falando de significado, porém não


é uma tarefa fácil, nem mesmo os estudiosos das línguas têm um consenso do
que é realmente o significado. Sempre temos três tipos de informação sobre as
palavras podendo ser informações em Libras e em Português:

1) A informação fonológica, como a palavra é pronunciada ou sinalizada.


2) Informação gramatical, sintática e morfológica – os discursos.
3) Informação semântica, significado da palavra ou do sinal.

UNI

Caro acadêmico, iremos aprofundar este tema nas unidades a seguir, mas você
pode pesquisar em outras fontes os temas citados neste tópico. Sabemos que é um tema
complexo, mas com certeza nas unidades a seguir, você irá sanar todas as suas dúvidas,
então desafiamos você a continuar suas pesquisas, e se tornar um grande pesquisador.

40
TÓPICO 3 | CONCEITUANDO SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS

Veja por que as línguas de sinais apresentam as propriedades das línguas


humanas.

QUADRO 5 – PROPRIEDADES DAS LÍNGUAS HUMANAS NAS LÍNGUAS DE SINAIS


Flexibilidade e versatilidade. As línguas de sinais são usadas para pensar, são usadas para
As línguas apresentam várias possibilidades de uso em desempenhar diferentes funções. Você pode argumentar em
diferentes contextos. sinais, pode fazer poesia em sinais, pode simplesmente informar,
pode persuadir, pode dar ordens, fazer perguntas em sinais.

Glosas em LIBRAS:
VOCÊ GOSTAR MAÇÃ.
VOCÊ <GOSTAR MAÇÃ>sn
IX CASA DEFEITO EU PRECISO ARRUMAR
<PROJETO>to AULA EU APRESENTAR
Arbitrariedade As línguas de sinais apresentam palavras em que não há relação
A palavra (signo linguístico) é arbitrária porque é sempre direta entre a forma e o significado.
uma convenção reconhecida pelos falantes de uma
língua. Glosas em LIBRAS:
CONHECER
AMIGO
TRABALHO
Descontinuidade Na língua de sinais verificamos o caráter descontínuo da diferença
Diferenças mínimas entre as palavras e os seus formal entre a forma e o significado. Há vários exemplos que
significados são descontinuados por meio da distribuição ilustram isso, por exemplo, o sinal de MORENO e de SURDO são
que apresentam nos diferentes níveis linguísticos. realizados na mesma locação, com a mesma configuração de mão,
mas com uma pequena mudança no movimento, mesmo assim
nunca são confundidos ao serem produzidos em um enunciado.
Tais sinais apresentam uma distribuição semântica que não
permite a confusão entre os significados apresentados dentro de
um determinado contexto.

Glosas em LIBRAS:
TRABALHO
VÍDEOCASSETE
TV
MORENO-SURDO
Criatividade/produtividade As línguas de sinais são produtivas assim como quaisquer outras
Você pode dizer o que quiser e de muitas formas uma línguas.
determinada informação seguindo um conjunto finito de
regras. A partir desse conjunto, você pode produzir uma Glosas em LIBRAS:
sentença infinita nas línguas humanas. EU AMAR GISELE PORQUE ELA BONITA,
LEGAL, ESPECIAL, 1AJUDAR2, GOSTAR
TRABALHAR, INTELIGENTE ...

Dupla articulação As línguas de sinais também apresentam o nível da forma e o


As línguas humanas apresentam duas articulações: nível do significado. Por exemplo, as configurações por si só não
a primeira é das unidades menores sem significado apresentam significado, mas ao serem combinadas formam sinais
e a segunda, das unidades que combinadas formam que significam alguma coisa.
unidades com significado.
Exemplos em LIBRAS:
CM sem significado
L sem significado
M sem significado
CM+L+M=significado (L+bochecha+semicírculo para trás)
Padrão As línguas de sinais são altamente restringidas por regras. Você
As línguas têm um conjunto de regras compartilhadas não pode produzir os sinais de qualquer jeito ao usar a língua de
por um grupo de pessoas. sinais brasileira, por exemplo. Você deve observar suas regras.

Exemplo em LIBRAS:
Obedecer às regras de formação de sinais e de sentenças.
(ajudar com CM S – mostrar exemplos de sinais com CM errada,
ou L errada, ou M errado).
Dependência estrutural Também é observada uma dependência estrutural entre os termos
Há uma relação estrutural entre os elementos da língua, produzidos nas línguas de sinais.
ou seja, eles não podem ser combinados de forma Glosas em LIBRAS:
aleatória. PAULO TRABALHAR+asp *TRABALHAR+asp PAULO
SINAL BRASIL
*BRASIL SINAL

FONTE: Quadros, Pizzio e Rezende (2009, p. 11)

41
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

LEITURA COMPLEMENTAR

O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA EM DEBATE:


CONTRIBUIÇÕES DA LINGUÍSTICA

Joseilson Jales Alves


Maria Graceli de Lima
Maria Lúcia Pessoa Sampaio

[...]
CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM

Considerando o fato de existir diversas formas de pensar e compreender


o fenômeno linguístico, ao fazermos opção por uma perspectiva de abordagem,
estamos também aderindo a determinadas práticas e metodologias e, ainda, a
uma linha teórica específica.

Sobre esse aspecto, Oliveira e Wilson (2008) observam que num enfoque
estruturalista, a língua é vista enquanto sistema virtual, abstrato, separada do seu
contexto de uso. Nesse caso, a concepção que se adota é uma concepção formalista
de linguagem, na qual o fenômeno linguístico é tratado de modo abstrato, não se
considerando nessa perspectiva, as diversas situações de uso da língua.

No que se trata de ensino, as autoras comentam que, os estudos


tradicionais, especificamente os gramaticais, situam-se nesta perspectiva
formalista. Tal perspectiva trata-se de uma concepção já antiga e de forte prestígio,
que fez e faz parte da formação dos professores de Letras. Nesse sentido, Oliveira
e Wilson destacam algumas práticas de sala de aula que se orientam através
dessa concepção, quais sejam: as noções de certo e errado, as tarefas de análise
linguística que ficam no âmbito da palavra, sintagma ou oração, atividades de
interpretação, as quais buscam a “verdadeira” compreensão ou intenção do autor
e respostas de exercícios presentes nos livros didáticos.

No entendimento de Marcuschi (2008), há nessa perspectiva uma certa


dificuldade de tratar a significação e os problemas voltados para a compreensão.
Uma vez que a língua, aqui, é tratada apenas como código ou sistema de signos
composto de vários níveis de análise formal, quais sejam: fonológico, morfológico,
sintático e semântico.

Para esse pesquisador os estudos nesta abordagem não se ocupam do uso


da língua, as unidades são trabalhadas isoladamente, fora de qualquer contexto,
não ultrapassando, assim, a unidade máxima da frase.

42
TÓPICO 3 | CONCEITUANDO SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS

A concepção formalista de linguagem se encontra presente, ainda, na


incompreensão da linguagem enquanto fenômeno de comunicação e expressão,
proposta do quadro de funções da linguagem de Jakobson, um dos mais importantes
funcionalista do Círculo Linguístico de Praga. Essa incompreensão deu-se pelo fato
de os materiais didáticos restringirem a proposta do autor a um esquema de seis
funções da linguagem, assegurando-lhes um caráter mais formal do que funcional.

Assim, embora os funcionalistas tenham tentado superar a concepção


formalista da língua através dessa proposta, não tiveram o êxito esperado, já que o
fenômeno linguístico continuou sendo tratado de modo estrutural, desvinculado
das situações reais de interação.

Com a abertura das pesquisas sobre o fenômeno linguístico, as perspectivas


mais amplas e com a integração da linguística com outras ciências, surgiram
novas abordagens sobre os fatos da linguagem.

Com efeito, Oliveira e Wilson (2008) apresentam-nos a concepção da


linguagem denominada por elas de concepção funcional e pragmática. Para estas
autoras o que caracteriza esse tipo de abordagem é a visão que se tem do fenômeno
linguístico enquanto produto e processo da interação humana. Ao compartilhar
dessa compreensão de língua, Antunes (2009) defende que esta é provida de duas
dimensões: a dimensão de sistema em si mesmo, do sistema autônomo e a dimensão
de sistema em uso, ligada à realidade histórico-social do povo.

Pela ótica dessa última dimensão, conforme Antunes (2009, p. 21),

a língua deixa de ser apenas um conjunto de signos (que tem um


significante e um significado), deixa de ser apenas um conjunto de
regras ou um conjunto de frases gramaticais, para definir-se como um
fenômeno social, como uma prática de atuação interativa, dependente
da cultura de seus usuários, no sentido mais amplo da palavra. Assim, a
língua assume um caráter político, um caráter histórico e sociocultural,
que ultrapassa em muito o conjunto de suas determinações internas,
ainda que consistentes e sistemáticas.

Nessa abordagem o uso da linguagem é resultante das condições de


sua produção e recepção, como se apresenta, por exemplo, na sociolinguística,
segundo a qual, a língua é portadora de interferências sociais, como localidade,
profissão, sexo, escolaridade e outros.

Em termos de ensino, uma das grandes contribuições da abordagem


sociolinguística, segundo Oliveira e Wilson (2008, p. 238) foi

a possibilidade efetiva de se superar o tratamento estigmatizado dos usos


linguísticos por intermédio da consideração de que todas as expressões
têm sua legitimação e motivação justificadas pela multiplicidade de
fatores intervenientes do âmbito social. Com base nessa perspectiva, a
chamada “norma culta” ou “língua padrão” passa a ser vista como mais
uma variante de uso, uma forma de expressão tão eficiente como todas
as outras que circulam na comunidade linguística.

43
UNIDADE 1 | LÍNGUA E LINGUAGEM

Assim, se as aulas de língua portuguesa se voltam para as questões que


envolvem os usos linguísticos e os fatores sociais determinantes desses usos,
assume-se, portanto, a concepção funcional da linguagem. Nesse caso nenhuma
variedade é mais rica ou mais certa do que outra, pois a variedade linguística que
aprendemos é aquela falada no grupo social de que fazemos parte. Não se trata,
assim, de substituir uma variedade por outra, mas de construir possibilidades de
situações de interação dos alunos entre si e com o professor.

Com o surgimento da pragmática, as pesquisas sobre o fenômeno


linguístico passam a privilegiar o contexto extralinguístico onde a linguagem
é produzida, deslocando suas preocupações para o processo interativo entre
as pessoas. Assim sendo, nessa abordagem se tornam relevantes as intenções
comunicativas dos falantes da língua, os modos de dizer e a eficácia do ato de
fala. Oliveira e Wilson (2008, p. 240) citam algumas contribuições importantes
dessa abordagem para o ensino-aprendizagem, como:

a) os estudos sobre modalização, que focam não especificamente os


conteúdos veiculados, mas os modos de produção e de organização do
dizer; b) a investigação das formas de comportamento e expressão de
sentimentos, calcadas na teoria da polidez, de acordo com a cultura de
cada comunidade; c) a relevância do caráter interacional da linguagem,
da necessária e previsível presença do outro, do interlocutor, a quem
se dirige qualquer mensagem veiculada, em versão falada ou escrita.

A abordagem funcional-pragmática da língua é, pois, a perspectiva por


nós adotada, levando em consideração que esta tem muito a contribuir tanto
na formação dos professores quanto na conscientização de seu papel nas salas
de aula de língua portuguesa, que deixa de ser o de centro e passa a ser o de
intermediário da experiência com o uso linguístico. Com isso, Oliveira e Wilson
(2008) chamam atenção para o fato de que o professor deve sempre procurar
atualizar-se nas novas pesquisas que envolvem o seu trabalho, a fim de optar por
concepções de língua afinadas com os estudos mais recentes, para, assim, poder
desenvolver práticas de ensino transformadoras.

[...]

O texto como objeto de ensino

Depois de ser tema de discussão de especialistas de diversas áreas do


conhecimento, o ensino de língua materna passou a fazer parte das discussões
dos linguistas, os quais deram uma contribuição extremamente significativa na
crítica ao modo como a escola trata o ensino de linguagem. Faraco & Castro (2000)
ressaltam que essa crítica dos linguistas ao ensino tradicional incidiu sobre o caráter
excessivamente normativo do trabalho com a linguagem nas escolas brasileiras.
De acordo com essa crítica, as escolas além de não considerarem a realidade
multifacetada da língua, estabeleceram as regras e conceitos gramaticais como o
objeto de estudo, confundindo, assim, ensino de língua com ensino de gramática.

44
TÓPICO 3 | CONCEITUANDO SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE DAS LÍNGUAS

Segundo os linguistas, se quisermos abandonar o formalismo gramatical,


devemos eleger o texto como objeto de ensino de linguagem, já que ele é, de fato, a
linguagem em uso. Nesse sentido, a proposta dos linguistas reivindica que o ensino
dos aspectos normativos da gramática tradicional esteja subordinado ao trabalho
com o texto, ou seja, as regras ou conceitos gramaticais não seriam mais ensinados
por meio de frases soltas, e sim considerando sua funcionalidade textual.

Nesse sentido, Faraco & Castro (2000) ressaltam que,

Ao elegerem o texto como objeto central do ensino, eles estão


implicitamente sugerindo um outro entendimento do que vem a ser
a linguagem. Agora, ao invés de um olhar monológico sobre a relação
do ser humano com a linguagem, temos uma proposta que assume,
mesmo que implicitamente, que o aprendizado com a linguagem se
dá por meio do uso que fazemos dela na interação (oral ou escrita) que
estabelecemos com o outro, seja ele real ou virtual (p. 2).

Essa posição dialoga com as ideias de Bakhtin, uma vez que para ele
“a língua vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta...”
(BAKHTIN, 1986, p. 124), logo:

A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema


abstrato de formas linguísticas, nem pela enunciação monológica
isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo
fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação
ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade
fundamental da língua (BAKHTIN, 1986, p. 123).

Bakhtin (1986) justifica, assim, por que devemos mudar de concepção de


linguagem se queremos entender o ato de ensinar língua nas escolas. Se, para ele, a
interação verbal é o que importa, o professor de língua tem a importante tarefa de
privilegiar em suas aulas o contato frequente do aluno com a leitura e a produção
de textos, de modo a fazer dessas atividades uma relação linguística viva.

Para Faraco & Castro (2000), um ponto da teoria bakhtiniana que nos é
muito relevante nas reflexões sobre o ensino de língua se relaciona ao conceito
de texto. Para esses pesquisadores, quando os linguistas falam da interlocução
na produção de textos, deixam subentendido a ideia de que para eles “texto é
linguagem colocada em uso, uma vez que a sua construção visa o estabelecimento
da comunicação entre os interlocutores” (2000, p. 6).

FONTE: ALVES, J. J. A.; LIMA, M. G.; SAMPAIO, M. L. P.. O ensino de língua portuguesa em debate:
contribuições da linguística. IV FIPED – Fórum Internacional de Pedagogia. Campina Grande:
REALIZE Editora, 2012. Disponível em: http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/
cc1aa436277138f61cda703991069eaf.pdf. Acesso em: 31 maio 2019.

45
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O significado são entidades abstratas que existem na mente dos falantes de


uma determinada língua. Significado são, portanto, entidades mentais.

• O significado é o conceito que damos a um signo.

• O significado é a experiência que temos, que vivenciamos com o tema falado, o


significado que damos à importância que damos a este tema falado.

• O significante é um conceito, um dado do conhecimento humano sobre o


mundo.

• A Linguística é o signo linguístico e que este signo é uma associação de um


conceito, chamado significado, a uma imagem acústica, ou ótica, que chamamos
de significante.

• Em libras existe o signo linguístico assim como nas outras línguas, que são: a
configuração de mão; a locação (lugar no corpo ou no espaço onde o sinal é
feito) e o movimento.

• Podemos descobrir que temos três tipos de informação sobre as palavras.


A informação fonológica, como a palavra é pronunciada ou sinalizada.
Informação gramatical, sintática e morfológica – os discursos. Informação
semântica, significado da palavra.

46
AUTOATIVIDADE

1 Com a leitura deste tópico, você, acadêmico, já é capaz de diferenciar


significado de significante, leia atentamente as alternativas e
classifique as sentenças a seguir em V para as verdadeiras e F para
as falsas no que se refere ao significado e significante.

( ) O significado são entidades abstratas que existem na mente dos falantes de


uma determinada língua.
( ) Significado são entidades mentais.
( ) O significante é um conceito, um dado do conhecimento humano sobre o
mundo.
( ) Tanto o significante quanto o significado são entidades mentais, abstratas
que estão dentro da mente de um falante de uma determinada língua.

Diante das afirmativas, escolha a alternativa CORRETA:


a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) V – V – V – F.
c) ( ) V – V – V – V.
d) ( ) F – F – F – F.

2 Quando se trata de palavras, nós temos três tipos de informações.


Analise e relacione cada informação com o seu significado.

(1) Fonológica.
(2) Gramatical.
(3) Semântica.

( ) Como a palavra é pronunciada ou sinalizada.


( ) Significado da palavra.
( ) Sintática e morfológica – os discursos.

a) ( ) 1, 3, 2.
b) ( ) 3, 2, 1.
c) ( ) 2, 1, 3.
d) ( ) 1, 2, 3.

3 Analisando o quadro intitulado Propriedades das línguas


humanas nas línguas de sinais, segundo Quadros, Pizzio
e Resende, 2009, foi possível verificar que as línguas têm
propriedades, então, leia com atenção as alternativas a seguir e
assinale a correta.

47
( ) Flexibilidade e versatilidade, arbitrariedade, descontinuidade, elementos
da língua, Padrão.
( ) Padrão, criatividade/produtividade, dupla articulação, relação estrutural,
dependência estrutural.
( ) Criatividade/produtividade, dupla articulação, elementos da língua,
dependência cultural.
( ) Flexibilidade e versatilidade, arbitrariedade, descontinuidade, criatividade/
produtividade, dupla articulação, padrão, dependência estrutural.

4 (QUESTÃO ENADE 2014) Entre os conteúdos que fazem parte da trajetória


acadêmica do graduando em Letras, destacam-se os níveis de análise da
língua, os quais permeiam os estudos de aquisição da língua materna e
tornam-se, portanto, referência básica nos estudos da linguagem.

SCARPA, E. M. Aquisição da Linguagem. In: MUSSALIN, F.; BENTES, A. C. (Orgs.).Introdução à


linguística. São Paulo: Cortez, 2001 (adaptado).

Nesse contexto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas.

I- Nos estudos sobre aquisição da língua materna, a aquisição do sistema


entonacional, da acentuação e da estrutura silábica pertence ao nível
fonológico, entretanto, tais processos contribuem para o desenvolvimento
dos níveis morfológico, sintático, semântico e pragmático, embora sejam
estudados separadamente.

PORQUE

II- Os níveis de análise da língua estabelecem redes de relações entre si e,


portanto, o estudo do funcionamento de cada nível, de forma estanque,
deve ser considerado um critério meramente metodológico.

A respeito dessas asserções, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa
correta da I.
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdades, mas a II não é uma
justificativa correta da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa.
d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira.
e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas.

48
UNIDADE 2

LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender o que é linguística;

• compreender a importância dos estudos linguísticos;

• reconhecer o contexto linguístico das línguas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ÁREAS DA LINGUÍSTICA

TÓPICO 2 – SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA DAS LÍNGUAS

TÓPICO 3 – AMBIGUIDADE E POLISSEMIA

49
50
UNIDADE 2
TÓPICO 1

ÁREAS DA LINGUÍSTICA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico falaremos de linguística e suas áreas, suas pesquisas e
investigações. A área da linguística está crescendo e com ela uma gama de
pesquisas. Também abordaremos a linguística e conceitos dados a ela.

Ao estudar língua e linguagem, faz-se necessário entender conceitos que


fundamentaram/pavimentaram os caminhos para as presentes pesquisas. Sem
esse caminho ter sido deixado, dificilmente poderíamos lançar um olhar sensível,
percebendo semelhanças e diferenças entre as línguas.

Segundo Cagliari (2007, p. 42)

[...] a linguística é o estudo científico da linguagem. Está voltada para


a explicação de como a linguagem humana funciona e de como são as
línguas em particular, quer fazendo o trabalho descritivo usando os
conhecimentos adquiridos para beneficiar outras ciências e artes que
usam de algum modo, a linguagem falada ou escrita.

Muitos profissionais da área da linguagem formaram-se sem ter contato


algum com a linguística. Muitos estudaram e se profissionalizaram prontos
a ingressar na rede de ensino que já estava também orientada ao ensino da
gramática normativa (OLIVAN, 2009). Esse quadro apenas começou a ser alterado
com a divulgação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Através das
discussões, reflexões e práticas propostas por esses documentos,

a linguística ganhou destaque no conteúdo programático, visto que


ela propõe um trabalho cujo enfoque é aprimorar a capacidade de
compreensão e expressão dos alunos em situações de comunicação,
isto é, facilitar sua interação na sociedade (OLIVAN, 2009, p. 46).

Vale destacar que os Parâmetros não ignoram ou desqualificam o ensino


de gramática normativa. Apenas sugerem que o ensino da língua/linguagem seja
sempre atrelado a situações comunicativas, afinal, aprendemos a ler, escrever e a
falar – ou seja, a nos comunicar em alguma língua/linguagem – com o intuito de nos
comunicarmos, de nos relacionarmos com pessoas, nos contextos dos quais muitos
fazem ou desejam fazer parte. Esses contextos podem ser: familiar, interpessoal
(entre amigos ou conhecidos), profissional, acadêmico (escolar ou ensino superior),
entre outros contextos possíveis (variando de pessoa para pessoa).

51
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

Esperamos, caro acadêmico, que você se encante com estes estudos. Façam
bom proveito!

2 ESTUDOS LINGUÍSTICOS
Os estudos que se apoiam na linguística ou áreas que vieram depois
dela estão crescendo demasiadamente ano a ano. Pode-se dizer que outras áreas
passaram a reconhecer a língua/linguagem como material de análise após bases
terem sido deixadas pela ciência da linguagem.

Hoje vemos áreas utilizando a língua ou linguagem como objeto de análise


nas mais variadas áreas: educação, antropologia, sociologia, psicologia cognitiva,
ensino de línguas, filosofia, informática, neurologia e outros. Ainda, essas áreas,
entre elas, cooperam em diversas investigações – umas dando suporte às outras.
Quase todas, reconhecendo o valor da língua ou linguagem na construção do
conhecimento.

Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 16),

A linguística é uma ciência que busca respostas para problemas


essenciais relacionados à linguagem que precisam ser explicados: Qual
a natureza da linguagem humana? Como a comunicação se constitui?
Quais os princípios que determinam a habilidade dos seres humanos
em produzir e compreender a linguagem? A linguística desmembra
tais questões com a finalidade de explicar os problemas e elaborar uma
teoria da linguagem humana e uma teoria da comunicação.

Essas e outras questões movem os estudos linguísticos. Sem questionamentos,


dúvidas e inquietações não existiriam investigações e pesquisas. São as dúvidas
que movem os pesquisadores. Ainda, segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 16),

A linguística parte de pressupostos básicos que determinam as


investigações. Um dos mais importantes pressupostos assumido aqui
é o de que a linguagem é restrita por determinados princípios (regras)
que fazem parte do conhecimento humano e determinam a produção
oral ou visuoespacial, dependendo da modalidade das línguas
(faladas ou sinalizadas), das formações das palavras da construção
das sentenças e da construção dos textos. Os princípios expressam
as generalizações e as regularidades da linguagem humana nesses
diferentes níveis.

A partir disso, pode-se compreender que a linguística é uma ciência


que busca respostas para problemas essenciais relacionados à linguagem. Tais
problemas/questionamentos procuram ser explicados. A linguística também
possui áreas interdisciplinares, tais como a sociolinguística, a psicolinguística, a
linguística textual e a análise do discurso.

52
TÓPICO 1 | ÁREAS DA LINGUÍSTICA

2.1 NÍVEIS LINGUÍSTICOS


A seguir serão apresentadas diferentes perspectivas sobre o funcionamento
da linguagem. Ainda que, ao realizar as análises, costuma-se dar ênfase a um
item por vez, ainda assim, esses itens contribuem para uma análise mais ampla
da linguagem quando abordados um a um.

2.1.1 Fonética
A fonética estuda os sons como entidades fisicoarticulatorias isoladas.
Para Silva (2001, p. 23), a fonética é a “ciência que apresenta os métodos para
a descrição, classificação e transcrição dos sons da fala, principalmente aqueles
sons utilizados na linguagem humana”.

Ao serem comparadas entre si, essas entidades são reconhecidas por


traços distintivos – intensidade na produção, ou ponto de articulação na boca, por
exemplo. Sons aparentemente semelhantes irão se diferenciar quando analisados
cautelosamente em sua composição, podendo ser somente a posição da língua ou
ser ou não nasalizado o item distintivo.

FIGURA 1 – FONÉTICA

FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/artigos/a-fonetica-estuda-os-sons-produzidos-
em-uma-lingua-5a059d9420a26.jpg?i=http://brasilescola.uol.com.br/upload/conteudo/images/a-
fonetica-estuda-os-sons-produzidos-em-uma-lingua-5a059d9420a26.jpg>. Acesso em: 27 jun. 2019.

53
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

Esses itens costumam ser bastante estudados por professores


alfabetizadores, por exemplo. No caso das nasais, ensinam seus alunos a colocar a
mão no nariz observando que este “treme” ao ser produzido algum som nasalado,
como o caso das palavras terminadas em “ão”. A fonética, portanto, em muito
pode contribuir com os estudos das línguas, auxiliando os menos experientes no
reconhecimento das distinções. Em alguns casos em que as crianças apresentarem
muitas dificuldades, o professor reconhece a necessidade de encaminhar a criança
a outra ajuda especializada, como de um fonoaudiólogo. Este poderá examinar
se de fato se trata de alguma dificuldade em distinguir os sons ou de algo além,
que requeira uma análise mais demorada do caso. Calou e Leite (1990 apud
QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 17) afirmam que:

A fonética tem por estabelecer um conjunto de traços, ou propriedades,


que possam descrever todos os sons utilizados na linguagem humana.
Assim à fonética cabe descrever os sons da linguagem e analisar suas
particularidades articulatórias, acústicas e perceptivas.

Os especialistas reconhecem que o aparelho fonador, composto pelos órgãos


fonadores – responsáveis pela formação dos sons do interior do corpo humano,
desde o pulmão, até o exterior, os lábios – relacionam-se em harmonia, formando um
maravilhoso balé ao elaborar cada um dos sons. Cada um dos sons da fala recebe um
símbolo, esse é chamado de fonema. A organização desses fonemas forma o sistema
coerente que é compartilhado entre os falantes de uma mesma língua.

DICAS

Em uma busca rápida pela internet, usando o Google ou o YouTube, é possível


encontrar videoaulas sobre:

• aparelho fonador;
• órgãos fonadores;
• pregas vocais;
• cordas vocais em funcionamento; entre outros.

54
TÓPICO 1 | ÁREAS DA LINGUÍSTICA

2.1.2 Fonologia

FIGURA 2 – FONOLOGIA

FONTE: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/upload/conteudo_
legenda/142815fbc6828c3b953f49dde475c459.jpg>. Acesso em: 27 jun. 2019.

A fonologia estuda os sons do ponto de vista funcional como elementos que


integram um sistema linguístico determinado. Os mesmos autores, Callou e Leite
(1990, p. 11 apud QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 17), definem fonologia como

À fonologia cabe estudar as diferenças fônicas intencionais, distintas,


a de significados e, além disso, estabelecer como se relacionam entre si
os elementos de diferenciação e as condições em que se combinam uns
com os outros para formar morfemas, palavras e frases.

Podemos então entender que a fonética tem por unidade o som que forma
a fala ou o fone, já a fonologia tem como unidade o fonema. É natural que áreas
do conhecimento sejam divididas em subáreas; a razão desse fenômeno é o fato
de surgir necessidade de explicação de novos fenômenos. Para eles, surgem
novos focos, novas teorias e abordagens que procuram analisar e compreender os
fenômenos que antes não eram reconhecidos. Quem fez a separação da fonética
da fonologia foi N. S. Troubetzkoy. A Fonética passou a ter como foco os sons da
fala do ponto de vista articulatório, acústico e auditivo, enquanto a Fonologia
ocupou-se dos sons relativos ao sistema da língua: os morfemas, as sílabas,
palavras, frases – realizando a descrição desses itens e seus funcionamentos.

55
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

UNI

Dois fatos sobre a Fonologia:

1) Em 1928 ocorreu o Congresso Internacional de Linguistas, reunidos em Haia, entre 10


e 15 de abril daquele ano. Nele, os linguistas russos N. S. Troubetzkoy, R. Jakobson e S.
Kartzevski, a partir de uma pergunta realizada no evento, apresentaram o delineamento
de uma nova disciplina, a Fonologia. A pergunta interrogava sobre o melhor método de
analisar de forma prática a gramática de uma língua.
2) N. S. Troubetzkoy morreu em Viena em 1938. Sua obra foi publicada de forma póstuma,
mais especificamente em Praga, em 1939. A obra é intitulada “Princípios de Fonologia”
(Grundzüge der Phonologie) (ROSETTI, 1974).

A forma sistemática como a língua organiza os sons é objeto da fonologia.


As sílabas, os morfemas, as palavras e as frases se organizam de determinadas
maneiras e, ao mesmo tempo, há a relação entre a mente e a língua – essa é a
forma que a comunicação é possível. Por essa razão há a comunicação entre duas
pessoas – por esses sistemas. Os sons são meios de veiculação de significados.
Quem ouve não reconhece apenas sons, mas cada som desempenha uma função
na língua (BISOL, 1999).

2.1.3 Morfologia
Podemos aqui dizer que morfologia é o estudo da estrutura interna das
palavras, da formação e da classificação delas. Quadros e Karnopp (2004, p. 19)
afirmam que:

Uma das questões que a morfologia busca responder é: o que nós


sabemos quando conhecemos uma palavra? Há vários tipos de
informação que são necessários para identificação e compreensão
de uma palavra, por exemplo, a informação fonética\fonológica
(dominar a pronúncia, os sons, a sequência dos sons), a informação
morfológica (saber como o plural se forma, como o gênero é marcado,
perceber as relações entre as palavras), a informação sintática (saber
onde a palavra se encaixa na estrutura), a informação semântica
(compreender o/os significado (s) da palavra).

Os estudos da morfologia são muito amplos. A etimologia da palavra


“morfologia” aponta a origem nas formas gregas morphê (forma) e logos (estudo).
Trata-se, portanto, do estudo da forma. Ao realizarmos uma busca em dicionários,
temos: estudo da estrutura, da formação e da classificação das palavras.

Vamos ver o caso das palavras a seguir:

PEDRARIA
PEDREIRO
APEDREJAR
EMPEDRAR
56
TÓPICO 1 | ÁREAS DA LINGUÍSTICA

É possível perceber que eles possuem um elemento em comum, “pedr”.


Quando estudamos a morfologia, observamos que dependendo da terminação,
alteramos o significado da palavra, como no caso de “pedraria” e “pedreiro” – o
segundo, remetendo a uma profissão.

O radical é o morfema básico (morfema é a menor unidade de significação),


no exemplo acima, é “pedr”. Os outros morfemas que se unem ao radical são
chamados de afixos. Estes podem ser divididos em prefixos (antes do radical) e
sufixos (depois do radical).

Em Pedr Ar
Prefixo Radical Sufixo

Ainda, por meio do estudo da morfologia, apenas para citar alguns outros
casos, podem ser estudados (as): a marcação de gênero (masculino/feminino),
número (singular/plural); quanto aos estudos dos verbos, observamos o tempo,
modo, número e pessoa; também observamos as formas no infinitivo, gerúndio e
particípio, entre outras análises possíveis.

A morfologia, como observado, é um dos olhares investigativos para a


linguagem.

2.1.4 Sintaxe
FIGURA 3 – SINTAXE

FONTE: <https://s.dicio.com.br/sintaxe.jpg>. Acesso em: 4 fev. 2019.

57
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

A sintaxe estuda a estrutura da frase, a combinação das unidades


significativas da frase. A sintaxe “trata das funções, das formas e das partes do
discurso. É a parte da linguística que estuda a estrutura interna das sentenças e a
relação interna entre as suas partes” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 20).

No início apresentamos o termo estrutura, isso quer dizer que a estrutura


sintática envolve restrições que estão nas sentenças de uma língua para que esta
língua consiga ser organizada de uma determinada maneira.

As línguas apresentam certas restrições que determinam a ordem


das palavras em uma sentença. No português e na língua de sinais
brasileira, a ordem básica das sentenças é sujeito-verbo-objeto (SVO).
Isso não significa que esta ordem não possa ser mudada, apenas
que ela existe como elemento da estrutura sintática dessas línguas
(QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 21).

Vamos a alguns exemplos da ordem básica acima citada: sujeito-verbo-


objeto (SVO).

Ela Gosta De chocolates


Sujeito Verbo Objeto

Eu Quero comer Pipoca


Verbo (s)
Sujeito (auxiliar + verbo Objeto
principal)

Júlia Ama Pedro


Sujeito Verbo Objeto

Na disciplina de Língua Portuguesa, muitos termos da análise sintática são


considerados o “terror” dos alunos. As terminologias não são agradáveis a eles,
muitos inclusive não reconhecem a função de estudar tal conteúdo. Por vezes,
a análise sintática é trabalhada apenas como forma de decorar metalinguagem
(termos complexos), deixando o docente de construir o sentido desses estudos:
escrever melhor, ler e entender frases complexas.

Ao reconhecer o sujeito de uma frase, por exemplo, podemos passar a ter


a interpretação de texto que antes eu não teria caso não fosse capaz de identificar
o sujeito. Muitos termos que virão após no andar de uma frase ou das frases
seguintes retomam o sujeito, só que por meio de outros elementos como por meio
de pronomes (ele, ela, esse, essa, aquele, aquela, entre outros). A análise sintática
possui sim sua validade – se bem trabalhada, levando o aluno a compreender sua
relevância, poderá trazer benefícios à leitura, à escrita e à compreensão dos textos.

58
TÓPICO 1 | ÁREAS DA LINGUÍSTICA

DICAS

São muitos os elementos estudados em análise sintática. Vale a pena


realizar um estudo aprofundado dos termos. Um dos elementos estudados é chamado de
conjunção. A conjunção estabelece relações entre orações. Essas conjunções não somente
são utilizadas para realizar a classificação sintática. As orações que utilizam conjunções são
chamadas de “sindéticas” e, a partir da presença de uma ou outra conjunção, elas recebem
diferentes nomenclaturas. Exemplo:

• as orações coordenadas sindéticas aditivas geralmente apresentam a conjunção “e”.


Exemplo: “Discutimos várias propostas e analisamos possíveis soluções”.
• as orações coordenadas sindéticas adversativas geralmente são ligadas pelas
conjunções: mas, porém, contudo, todavia, entretanto.

Existem ainda as orações alternativas, as conclusivas e as explicativas que utilizam outras


conjunções. Vale ressaltar que algumas orações são ligadas (coordenadas) por outras
conjunções ou ainda por meio de locuções.
Observação: a linguagem formal pede que as orações sejam adequadamente ligadas por
conjunções ou locuções adequadas. Contudo, na linguagem informal, por vezes, alguma
locução é utilizada em lugar de outra (mantendo o mesmo valor semântica àquela oração.
Exemplo:

• nadamos, nadamos, nadamos e não saímos do lugar.

Em tal exemplo, a linguagem formal pediria “mas não saímos do lugar”. Trata-se de um
fenômeno comum na língua, quando tratamos da linguagem informal: mudança de conjunção
quando não ocorre alteração semântica (a mensagem essencial ainda pode ser entendida.
Em linguagem formal, ainda em relação ao exemplo acima, é adequado que o “e” seja
substituído por “mas”.

Alguns termos que fazem parte dos estudos sintáticos da língua portuguesa
são: sujeito, sujeito indeterminado, sujeito oculto, oração sem sujeito, verbo
transitivo (direto, indireto, direto e indireto), verbo intransitivo, complemento
nominal, agente da passiva, entre outros. Todos eles demonstrando a relação que
os termos estabelecem uns com os outros.

59
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

2.1.5 Semântica
FIGURA 4 – SEMÂNTICA

FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-wsNm1YM84g8/VPhJ1-_yKkI/AAAAAAAAAcw/
suRzWEGFdWs/s1600/SEMANTICA.jpg>. Acesso em: 29 jun. 2019.

Há um universo de palavras. Esse universo precisa ser explorado e


analisado. Veja a figura a seguir:

FIGURA 5 – SEMÂNTICA – PLANTA

FONTE: <https://1.bp.blogspot.com/-1bY4pBgcX3I/WYvASeYFkYI/AAAAAAAAAQI/
NBAWJGOGMnokX1wqlKVHQryxYQzSlhSbwCLcBGAs/s320/FI-Sem%25C3%25A1nticannn.jpg>.
Acesso em: 28 jun. 2019.

Aqui temos dois falantes da língua que, ao estarem diante da palavra


“planta”, evocam em suas memórias dois sentidos possíveis, socialmente
construídos. Vamos entender brevemente essa área de estudo da linguagem.

60
TÓPICO 1 | ÁREAS DA LINGUÍSTICA

A semântica, como citado brevemente na Unidade 1, é o estudo do


significado. É a parte da linguística que estuda a natureza do significado
individual das palavras e do conjunto das palavras na sentença. Para Quadros e
Karnopp (2004, p. 22)

o significado ou significados de uma expressão linguística apresentam


características comuns compartilhadas entre os utentes de uma língua.
Uma descrição semântica poderá ser feita ao nível da palavra, da frase
e, ainda, do discurso.

UNI

O termo “utente”, segundo o Dicionário on-line de Português, corresponde a


um substantivo masculino e feminino: usuário; pessoa que faz uso de alguma coisa; quem
se serve ou desfruta de algo.

FONTE: <https://www.dicio.com.br/utente/>. Acesso em: 18 mar. 2019.

No próximo tópico, a semântica será abordada com maior profundidade.


Nesta etapa de estudo, o objetivo é diferenciar as perspectivas e formas de observar a
linguagem. A partir de cada perspectiva, avançamos mais no conhecimento linguístico;
ampliamos um pouco mais o nosso olhar ao realizar cada um desses estudos.

Segue uma representação de como as áreas acrescentam uma em relação


às outras, ampliando a visão sobre a linguagem.

FIGURA 6 – MORFOLOGIA

FONTE: <https://luconcursos.blogspot.com/2017/04/morfologia-x-sintaxe-x-semantica-para.
html>. Acesso em: 28 jun. 2019.

61
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

2.1.6 Pragmática
A pragmática também pode acrescentar muito aos estudos sobre a
linguagem, acrescentando, trazendo novos elementos.

FIGURA 7 – PRAGMÁTICA

FONTE: <https://s.dicio.com.br/pragmatica.jpg>. Acesso em: 28 jun. 2019.

A pragmática é o estudo da linguagem, é o uso do contexto e dos


princípios de comunicação. Essa definição é considerada tradicional; no entanto,
vale registrar que há várias tendências ao definir-se a área de pragmática. Levison
(1983 apud QUADROS; KARNOPP, 2004) aborda algumas definições dadas à
pragmática. A pragmática envolve as relações entre a linguagem e o contexto.

Para Quadros e Karnopp (2004, p. 22-23)

A pragmática envolve as relações entre a linguagem e o contexto. É uma


área que inclui os estudos da dêixis (utilização de elementos da linguagem
através da demonstração – indicação –, que envolve basicamente os
pronomes), das pressuposições (inferências e antecipações com base
no que foi dito), dos atos de fala (como se organizam os atos de fala e
quais as condições que observam), das implicaturas (as coisas que estão
subentendidas nas entrelinhas, incluindo o significado que não foi dito
explicitamente) e dos aspectos da estrutura conversacional (a estrutura
das conversas entre duas ou mais pessoas e a organização da tomada de
turnos durante a conversação).

Para ficar mais claro o texto acima apresentado, daremos um exemplo do


que seria implicatura.

62
TÓPICO 1 | ÁREAS DA LINGUÍSTICA

–– Você tem horas?


–– Nove e trinta.

Neste momento, vamos realizar uma análise no seguinte sentido:

Ninguém responde a pergunta em (a) com um ‘sim’. Mas com a hora.


Isso acontece porque os falantes implicam que ao ser realizada tal
pergunta quer-se obter a informação referente à hora e não ao fato
de ter ou não o relógio. Esse é um exemplo de como o significado
ultrapassa as fronteiras do que realmente foi dito (QUADROS;
KARNOPP, 2004, p. 23).

Podemos perceber com estas leituras e com as pesquisas destes autores


que a pragmática procura resolver as estratégias, as formas, as dúvidas e as
estruturas que são acionadas pelos usuários de uma língua.

DICAS

Caro acadêmico, em seus estudos, você pode acessar o link a seguir: <https://
www.youtube.com/watch?v=qxSlL884fu8> e assistir à um vídeo com uma explicação
simples, porém esclarecedora, do que é pragmática. Ele está em Libras e possui legendas.
Bons estudos.

Acadêmico, nesta etapa, o objetivo é observar que existem diferentes


perspectivas ao estudar a linguagem. Faz-se relevante reconhecer essas diferentes
perspectivas. Ao abordar cada uma delas, ganhamos muito em análise de textos
– da mesma maneira, podemos contribuir com a compreensão de leitores menos
experientes que nós. Adiante, voltaremos a falar de pragmática.

63
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A linguística possui diferentes perspectivas e objetos de investigação.

• Analisando as áreas, pode-se observar quanto tal ciência acaba contribuindo


com outras áreas do conhecimento.

• A linguística é uma ciência que busca respostas para problemas essenciais


relacionados à linguagem que precisam ser explicados.

• Cada uma das áreas de estudo precisa de um estudo vagaroso e atenciosos e


que eles se completam na compreensão de uma língua.

• Fonética é a ciências que estuda os sons como entidades fisicoarticulatorias


isoladas.

• Fonologia estuda os sons do ponto de vista funcional como elementos que


integram um sistema linguístico determinado.

• Morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras, dos elementos que


se combinam para formarem uma palavra, quanto a número, gênero tempo e
pessoa.

• Sintaxe trata das funções, das formas e das partes do discurso. É a parte da
linguística que estuda a estrutura interna das sentenças e a relação interna
entre as suas partes.

• Semântica é o estudo do significado da palavra na sentença, é a parte da


linguística que estuda a natureza do significado individual das palavras e do
conjunto das palavras na sentença.

• Pragmática é o estudo da linguagem, é o uso do contexto, e dos princípios de


comunicação.

• A pragmática envolve as relações entre a linguagem e o contexto.

64
AUTOATIVIDADE
Caro acadêmico! Propomos aqui algumas atividades que ajudarão
você a compreender melhor o tópico.

1 Quando falamos das áreas da linguística, observamos que elas são:

I- Fonética.
II- Fonologia.
III- Morfologia.
IV- Sintaxe.
V- Semântica.
VI- Pragmática.

Agora elenque-as de acordo com a área que elas estudam.

( ) Estuda os sons do ponto de vista funcional dos elementos.


( ) Estuda a estrutura das palavras.
( ) Estuda a linguagem, em uso, em contexto é um dos princípios de
comunicação.
( ) Estuda a estrutura da frase.
( ) Estuda o significado da palavra e da sentença.
( ) E estuda os sons como entidades fisicoarticulatorias isoladas.

De acordo com a ordem, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) I, III, II, V, VI, IV.
b) ( ) III, II, I, VI, IV, V.
c) ( ) III, II, IV, V, VI, I.
d) ( ) II, III, VI, IV, V, I.
e) ( ) I, II, III, IV, V, VI.

2 (QUESTÃO ENADE 2011)

65
A conjunção é um fator indicativo da natureza das relações entre
orações. Quando se trata de conjunções coordenadas, pode-se falar não
só de uma classificação sintática, mas de um valor semântico subjacente
que estabelece o vínculo das orações. Dessa forma, é correto afirmar que a
conjunção coordenativa presente no quadrinho:

a) ( ) Funciona com valor de explicação e justifica o sentido tanto da primeira


quanto da segunda oração.
b) ( ) Tem valor semântico de soma, pois agrega duas orações sem estabelecer
relações semânticas entre elas.
c) ( ) Funciona com valor adversativo nas ideias expressas na sentença e
poderia ser substituída por uma conjunção dessa natureza.
d) ( ) Funciona com valor expletivo e pode ser extraída das sentenças sem
alteração no modo de conexão sintática e semântica do período.
e) ( ) Funciona como elo conclusivo entre as ideias contidas nas orações e
expressa a conclusão a que chegou um dos personagens do quadrinho.

3 (QUESTÃO ENADE 2014)


1 Vizinho
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador,
2
que me mostrou
a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi
3
depois a sua própria
visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer
4
que estou
desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito
5
e, se não o fosse, o
senhor ainda teria ao seu lado a lei e a polícia. Quem trabalha dia inteiro tem direito
6
ao repouso noturno
e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor:
7
é impossível ao
903 dormir quando 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o
8
meu, ficamos
reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu,
9
1003, me limito a
leste pelo 1005, a oeste pelo 1001, ao sul pelo Oceano Atlântico, ao norte pelo 1004, ao
10
alto pelo 1103
e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e
11
silenciosos; apenas eu
e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós
12
dois apenas nos
agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente
13
adotar, depois das
22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem
14
vier à minha casa
(perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21h 45, e explicarei: o 903
15
precisa repousar das
22 às 7, pois às 8h 15 deve deixar o 783 para tomar o 109, que o levará até o 527 de outra
16
rua, onde ele

66
trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só
17
pode ser tolerável
quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos
18
limites de seus
algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio. – Mas que me seja permitido
19
sonhar com outra
vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho,
20
são três horas da
manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou”. E o outro respondesse: “Entra, vizinho,
21
e come de meu
pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que
22
a vida é curta e
a lua é bela”. E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e
23
amigas do vizinho
entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa
24
nas árvores, e o
25 dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.
BRAGA, R. 200 crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: Record, 1978

Em relação à crônica de Rubem Braga, avalie as seguintes afirmações


a seguir.

I- Na linha 13, o modalizador “sinceramente” atribui valor de verdade ao


enunciado, ao mesmo tempo em que marca a subjetividade e contribui
para a construção da ironia, que permeia todo o texto.
II- Nas linhas 18 e 19, o operador argumentativo “mas” é empregado com
funções diferentes nos trechos “não incomoda outro número, mas o
respeita” e “Mas que seja permitido sonhar”. Na segunda ocorrência,
funciona como reorientador argumentativo, quando o locutor, embora
admitindo a realidade, passa a valorizar outra mais ideal e pertinente a
seu modo de conceber as relações interpessoais.
III- Na linha 5, o autor usou o operador argumentativo “e”, no trecho “Devo
dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão”, para
produzir o efeito de reforço das expectativas geradas no conteúdo do
enunciado anterior, o que mantém a força argumentativa construída e
marca a resignação do locutor em face da realidade vivida.

É CORRETO o que se afirma em:


a) ( ) I, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e II.
d) ( ) II e III.
e) ( ) I, II e III. 

67
68
UNIDADE 2 TÓPICO 2

SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA
DAS LÍNGUAS
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Já foram citadas várias vezes as palavras semântica e pragmática.
Neste tópico falaremos especificamente de cada uma das áreas da linguística.

Vamos estabelecer as bases para a compreensão destes componentes do


sistema linguístico, pensando que a semântica e a pragmática são imprescindíveis
para a compreensão dos estudos, e tem grande relação aos estudos das línguas.
Será um tópico um pouco mais teórico, porém necessário para podermos adentrar
na próxima unidade.

2 SEMÂNTICA
Falaremos então da semântica, a semântica é a parte da linguística que
estuda a natureza dos significados individuais das palavras e do agrupamento das
palavras na sentença. Vale ainda reconhecer que essa natureza pode apresentar
variações regionais e sociais nos diferentes dialetos de uma língua.

DICAS

Neste momento, acadêmico, você pode pesquisar mais sobre o conceito de


“dialeto”. Por meio dele, podemos entender que, de região para região, temos as variedades
linguísticas.

Para saber mais sobre essas variedades, busque os seguintes conceitos:

• variação diatópica;
• variação diastrática.

Alguns autores falam ainda em variação diafásica.

Seguem algumas contribuições sobre variações ou variedades linguísticas:

A variação geográfica ou diatópica está relacionada às diferenças


linguísticas distribuídas no espaço físico, observáveis entre
falantes de origens geográficas distintas. A variação social ou
diastrática, por sua vez, relaciona-se a um conjunto de fatores
e que têm a ver com a identidade dos falantes e também com
a organização sociocultural da comunidade de fala (MUSSALIN;
BENTES, 2006, p. 34).

69
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

Ainda, vale compreender

Todos os aprendizes devem ter acesso às variedades linguísticas


urbanas de prestígio, não porque sejam as únicas formas “certas”
de falar e de escrever, mas porque constituem, junto com
outros bens sociais, um direito do cidadão, de modo que ele
possa se inserir plenamente na vida urbana contemporânea, ter
acesso aos bens culturais mais valorizados e dispor dos mesmos
recursos de expressão verbal (oral e escrita) dos membros das
elites socioculturais e socioeconômicas (BAGNO, 2008, p. 16).

Cagliari (2007, p. 83) acrescenta:

Para o aluno, o respeito às variedades linguísticas muitas vezes


significa a compreensão do seu mundo e dos outros. Um aluno
na escola não pode chegar à conclusão que seus pais são “burros”
porque falam errado, não pode achar que as pessoas de sua
comunidade são incapazes porque falam errado, não têm valor
porque falam errado, ao passo que a cultura só está com quem fala
o dialeto padrão, que a lógica do raciocínio só pode ser expressa
nessa variedade linguística, que o bom, belo e perfeito só pode ser
expresso através das “palavras bonitas” do dialeto-padrão.

Voltando à semântica...

A semântica pode ser definida como “a subdivisão da linguística que


desenvolve seus estudos – das manifestações linguísticas do significado, ou seja,
dos sentidos – tomando como base a seguinte concepção geral” (FERRAREZI
JÚNIOR, 2008, p. 24). Qual concepção geral seria essa? A de que “uma língua
natural é um sistema de representação do mundo e de seus eventos. Para poder
fazer isso, uma língua usa sinais cujos sentidos são especializados em um contexto
[...]” (FERRAREZI JÚNIOR, 2008, p. 24). A semântica, portanto, é considerada o
estudo do sentido das palavras.

Para Quadros e Karnopp (2004) é válido reconhecer que o utente da língua


pode incluir o literal e o não literal das expressões que é o caso das ironias e das
metáforas. O significado ou significados são compartilhados entre os falantes/
utentes da língua. Assim, a “descrição semântica poderá ser feita ao nível da
palavra, da frase e, ainda, do discurso” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 22).

A partir dos estudos semânticos, poderemos reconhecer a presença de


ambiguidade; vejamos:

No nível lexical, a palavra manga pode significar uma parte do


vestuário ou uma fruta. No nível da frase, há a ambiguidade estrutural,
em que uma sentença do tipo “O João disse a Pedro que sua mulher
foi para o hospital” apresenta dois significados possíveis: sua mulher
refere à mulher de Pedro ou à mulher de João. No nível do discurso,
os termos “ele”, “essa”, “seu” podem ser ambíguos (QUADROS;
KARNOPP, 2004, p. 22).

70
TÓPICO 2 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

Essas pequenas confusões podem ser desfeitas ou evitadas a partir dos


estudos da semântica. Por essa razão, faz-se necessário estudarmos conceitos que
são relevantes à Semântica.

No nível da palavra, temos a antonímia e a sinonímia entre outros


aspectos analisados pela semântica. Vejamos o que Quadros e Karnopp (2004, p.
22) afirmam:

As oposições observadas entre pares de palavras como “bonito” e


“feio”, “quente” e “frio”, bem como as similaridades que aproximam
o significado de diferentes palavras, tais como “belo” e “bonito”, são
exemplos de antonímia e sinonímia, respectivamente. Os traços que
identificam cada palavra parecem coincidir ou não, provocando tais
aproximações e oposições entre os significados de diferentes palavras.
A semântica busca conhecer e definir tais traços. As sentenças também
podem ser consideradas sinônimas. Por exemplo: “O assaltante atacou
o João” e “O João foi atacado pelo assaltante” apresentam significados
equivalentes. Enfim, a semântica busca desvendar as propriedades do
significado nos diferentes níveis da expressão.

Analisar sentenças a partir dos estudos da semântica pode, portanto,


contribuir em muito com a compreensão delas – ou na busca por evitar construções
que possam vir a causar algum problema interpretativo.

2.1 ANTONÍMIA
A antonímia é a relação estabelecida entre duas ou mais palavras que
apresentam significados diferentes, contrários, sendo então, os antônimos. Ocorre
a oposição de significados. Vale ressaltar que esses sempre devem ser analisados
dentro de um contexto.

A língua portuguesa é repleta de léxicos que, entre eles, podemos


estabelecer relações de oposição. Esses vocábulos podem ser de inúmeras
naturezas, tais como: qualidades, valores, sentimentos, estados de alma,
dimensões, processos reversivos, entre outros. Exemplos: bonito/feio, bom/ruim,
feliz/triste, quente/frio, rápido/devagar.

Analisar esse tipo de relação é relevante não só para os falantes de uma


língua, mas também para o desenvolvimento de uma postura analítica em
relação àquela língua que se pretende dominar ainda mais, indo a outros níveis
de compreensão e de uso.

A relação mais comum entre os termos é a de complementariedade


(LYONS, 1979). A partir de tal relação (de complementariedade), veja a abordagem
dada por (SILVA; SANT’ANNA, 2009, p. 36).

71
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

A primeira pode ser definida por uma relação que se estabelece entre
pares de palavras como solteiro e casado. Além disso, a complementaridade
acrescenta a tais pares de unidades lexicais o fato de que a negação de um
implica a afirmação do outro e a afirmação de um implica a negação do outro.

Exemplo: “João não é casado” implica “João é solteiro”.


“João é casado” implica “João não é solteiro”.

Embora ocorra normalmente o fato de que a negação de um implica a


afirmação do outro, é em geral possível “anular” uma ou ambas as implicações.
Exemplo: “João é casado e solteiro”.

Ainda, os antônimos podem apresentar outro tipo de relação (LYONS,


1979). Esta é chamada da relação “antonímia” propriamente dita. Seguem mais
alguns exemplos a partir das autoras Silva e Sant’Anna (2009, p. 36):

O segundo tipo de oposição que o autor apresenta é a antonímia


propriamente dita. O que caracteriza os antônimos dessa classe é o fato de
poderem ser regularmente graduáveis. E a comparação entre eles pode ser
explícita ou implícita.

As frases explicitamente comparativas podem ser de dois tipos:

• Duas coisas podem ser comparadas em relação a certa “propriedade”.


Ex.: Nossa casa é maior que a sua.
• Dois “estados” da mesma coisa podem ser comparados em relação à
“propriedade” em questão.
Ex.: Nossa casa é maior do que era.

Na comparação entre antônimos implicitamente graduados, a negação


de um de um termo antonímico não implica a afirmação do outro.
Ex.: “Nossa casa não é grande” não implica “Nossa casa é pequena”.

Os antônimos grande e pequeno não se referem a qualidades


independentes e opostas; são simples recursos lexicais de gradação. Assim, o
item grande é relativo; perde toda a sua significação quando privado de sua
conotação mais do que e menos do que; significa qualquer tamanho tomado
como ponto de partida; esse ponto varia de acordo com o contexto.

Por fim, ainda pode-se estabelecer outro tipo de relação. Esta é chamada de
reciprocidade (LYONS, 1979). Silva e Sant’Anna (2009, p. 37) trazem um exemplo:

72
TÓPICO 2 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

A reciprocidade, por fim, é a relação em que os termos opostos estão em


permuta assimétrica: pai/filho (se A é pai de B, então B é pai de A).

Ex.: “Certa ocasião perguntaram a Sérgio Buarque de Holanda se o


Chico Buarque era filho dele e ele respondeu:
- Não, o Chico não é meu filho, eu é que sou o pai dele”.
(PINHEIRO, Liliana. O Estado de São Paulo, 25.12.94, B1).

2.2 SINONÍMIA
Sinonímia: palavras que têm relação entre si, com significado
semelhante. Exemplos: preto – negro, bonito – lindo, aquele menino é veloz –
aquele menino é rápido.

Dois termos são considerados sinônimos quando há a possibilidade de


substituir um pelo outro, sem haver qualquer alteração do sentido pretendido.
O autor irá julgar se é passível de substituição ou não, sempre dentro de um
contexto. Aqui novamente o contexto é essencial em qualquer análise – seja por
parte do autor, ao analisar termos quando ele deseja escrever da forma mais
adequada possível, seja o leitor, quando este analisa um texto e toda a carga
semântica de palavras e frases. Este pode procurar substituir mentalmente termos
por outros sinônimos inclusive com o objetivo de compreender em profundidade
a mensagem ou, muitas vezes, a carga emocional pretendida pelo autor (em textos
poéticos, por exemplo, faz-se necessária uma análise procurando entender as
afirmações e interrogações do poeta pelas mais variadas perspectivas, extraindo
do texto a riqueza de sentidos que é própria do universo da poesia.

Silva e Sant’Anna (2009) trazem o exemplo da palavra jovem e novo.


Quando o assunto for uma pessoa, por exemplo, uma pessoa jovem, esse termo se
torna sinônimo de “novo”. Ambas estabelecem uma relação de sinonímia. Ainda
assim, não se pode dizer que esses termos sejam sinônimos perfeitos.

Nas palavras das autoras (SILVA; SANT’ANNA, 2009, p. 39): “No entanto,
não existem sinônimos perfeitos, porque eles não são intercambiáveis em todos
os contextos. Isto significa que no discurso, o enunciador pode tornar sinônimas
palavras ou expressões que em outro contexto não o são”.

Analisar essas relações também se faz relevante ao se estudar uma língua


– amplia o conhecimento linguístico e o domínio vocabular, o que aprimora tanto
a oralidade, a escrita e a interpretação dos textos.

73
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

3 PRAGMÁTICA
A pragmática é o estudo da linguagem em uso e dos princípios de
comunicação, porém esta definição é considerada tradicional, pois há várias
tendências ao se definir a área de pragmática.

Levinson (1983 apud QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 22) aborda algumas


definições dadas à pragmática:

A pragmática envolve as relações entre a linguagem e o contexto.


É uma área que inclui os estudos das dêixis (utilização de elementos
da linguagem através da demonstração – indicação –, que envolve
basicamente os pronomes), das pressuposições (inferências e antecipações
com base no que foi dito), dos atos de fala (como se organiza os atos de
fala e quais as condições que observam), das implicaturas (as coisas que
estão subentendidas nas entrelinhas, incluindo o significado que não
foi dito explicitamente) e dos aspectos das estruturas conversacional (a
estrutura das conversas entre duas ou mais pessoas e a organização da
tomada de turnos durante a conversação).

Um exemplo de implicatura seria o seguinte:

a) ­–– Você tem horas?


–– Dez e vinte.

Já um exemplo de pressuposição pode ser o seguinte:

b) Carlos morreu em um acidente de carro. Essa informação pressupõe que “Carlos


um dia estava vivo”, apesar de isso não estar dito explicitamente. A pragmática
busca desvendar as estratégias, as formas, as intuições e as estruturas que são
acionadas pelos utentes ao usarem a língua.

Conforme McCleary e Viotti (2009), a semântica e a pragmática interessam-


se pelos conceitos produzidos na mente; sempre se relacionando a um signo
linguístico já existente e produzido socialmente. Assim, por exemplo, sabemos
que o conceito associado a palavras como “obeso” e “gordo”, nas sentenças (1) e
(2), são semelhantes:

1) O Joaquim está a cada dia mais “obeso”.


2) O Joaquim está a cada dia mais “gordo”.

Ou seja, tanto o uso da palavra “obeso” quanto o uso da palavra “gordo”,


nas sentenças acima, nos levam ao conceito relativo de que alguém está fora do peso.

Assim também formamos o conceito quando ouvimos algo como uma
sentença igual (3), percebemos a semelhança ao conceito que formamos quando
ouvimos uma sentença como (4):

74
TÓPICO 2 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

3) Márcia ainda acredita que João gosta dela.


4) Márcia continua achando que João gosta dela.

Agora vamos pensar em uma sentença como a seguinte (MCCLEARY;


VIOTTI, 2009):

5) A porta está aberta.

O que pensamos ao ouvir algo assim, não estando em contexto algum?


Podemos formar o conceito de um objeto físico que serve para marcar o ponto de
entrada e de saída de um determinado lugar, “sala” e que este objeto não impede
a entrada e nem a saída de ninguém deste lugar, a “sala”.

Agora vamos pensar em outra situação. Uma professora está dando aula,
e vários alunos não param de conversar e fazer muita bagunça, a professora
pede várias vezes que os alunos fiquem quietos, porém eles a ignoram. Então
a professora chama pelo nome os alunos que estão fazendo bagunça e diz: “ A
porta está aberta”. Qual o significado dessa sentença nesse contexto? É diferente
daquele que formamos na sentença (5), pois neste contexto “A porta está aberta”
entendemos que a professora faz um pedido para que os alunos se retirem da sala.

Vamos agora pensar nesta mesma frase “A porta está aberta” em um outro
contexto. Um professor está dando aula, a porta da sala está aberta, e do lado de
fora tem alguém parado olhando para dentro da sala com ar de curiosidade, o
professor bem simpático, olha para a pessoa do lado de fora da sala de aula e diz,
com voz bem simpática, “A porta está aberta” e com certeza fazendo um gesto,
analisando esta frase podemos perceber que o seu significado se mantém igual da
anterior? Neste momento, observamos que não, afinal, o professor desta vez não
está pedindo que alguém se retire da sua sala de aula, mas sim está convidando
que alguém entre em sua sala de aula.

Agora podemos imaginar outro exemplo: o mesmo professor esforçando-


se para dar sua aula, contudo, ele pode ouvir, do lado de fora, muito barulho.
Lá podem ser ouvidas muitas pessoas passando e falando alto. O professor se
vira para um aluno que está sentado bem ao lado da porta e fala, em tom de
voz baixa: “A porta está aberta”. Neste caso, qual será o significado da sentença?
Percebemos o seu significado uma de suas alunas levanta e fecha a porta: de fato,
foi um pedido para que a porta fosse fechada.

Percebemos, então, que o uso do contexto dos signos linguísticos


influi na construção de seu significado. Temos correntes teóricas que fazem
separação entre o estudo do significado das expressões linguísticas quando
estas expressões são analisadas fora do contexto de uso (da mesma forma que
fizemos quanto apresentamos a sentença (5)), e o estudo do significado das
expressões em situações de uso, assim (como fizemos quando apresentamos os
três contextos de sala de aula, acima).

75
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

4 QUAL É A FINALIDADE DISSO TUDO?


Antes de concluir o tópico, torna-se válida uma reflexão: qual o objetivo
de todos esses estudos da língua? Certamente não se trata de utilizar elementos
para que os alunos decorem os termos. Essa postura em sala faz com que os
alunos considerem sem sentido estudar uma língua. Eles se interrogam “por que
isso tudo?”, ou, “qual a finalidade de estudar todos esses termos?” Esses tais
termos complexos fazem parte da metalinguagem – a língua falando dela mesma,
ou seja, utiliza-se termos para descrever a linguagem.

A metalinguagem é útil para compreendermos os elementos da linguagem,


possibilitando melhor entendimento e levando o falante/autor a um outro nível
de domínio das mais variadas formas de se comunicar. Se for com esse objetivo,
sem dúvida os estudantes ganharão muito. Estudar a língua/linguagem para
que possamos aplicá-la melhor, fazer escolhas mais conscientes tendo em vista
as mais variadas ferramentas e as situações de comunicação. Nas palavras de
Geraldi (1984, p. 89):

Uma coisa é saber a língua, isto é, dominar as habilidades de uso da


língua em situações concretas de interação, entendendo e produzindo
enunciados, percebendo as diferenças entre uma forma de expressão e
outra. Outra coisa é saber analisar uma língua dominando conceitos e
metalinguagem a partir dos quais se fala sobre a língua, se apresentam
suas características estruturais e de uso.

Exatamente, nesse sentido é que fazem sentido os estudos da semântica,


pragmática ou de qualquer área da linguística anteriormente apontada. É
relevante sim falar sobre a língua; contudo, até mesmo falar sobre a língua
precisa ter objetivos relacionados às habilidades de uso da língua em situações.
Afinal, serão nessas variadas situações que nossos alunos irão se relacionar com a
língua/linguagem; nas situações concretas e reais, sejam elas formais, informais,
profissionais ou interpessoais.

Exatamente por se considerar essas mais variadas situações de


comunicação é que, atualmente, tanto se fale em “gêneros discursivos” ou
“gêneros textuais. Sabe-se que os textos são sempre situados em um dado
momento, em uma situação mais formal (em universidades, ao preencher um
documento em um departamento público, ao se fazer uma ata de uma reunião,
ao se apresentar um trabalho acadêmico) ou informal (em relações interpessoais,
entre amigos e familiares, em situações descontraídas e de lazer, ao escrever em
um diário pessoal). Cada uma dessas situações interfere – ou deveria interferir –
nas escolhas dos sujeitos ao utilizar a linguagem.

A quem deseja dar aulas – trabalhando com línguas e linguagens –, essa


compreensão da existência dos mais variados gêneros textuais que circulam
em sociedade torna-se essencial para a seleção desses materiais. Não somente
utilizando gêneros de uma só natureza, mas diversificando, familiarizando os
estudantes com esses materiais e as linguagens. Em cada um desses gêneros,

76
TÓPICO 2 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

analisando inúmeros aspectos – além dos já apontados até aqui –, podem ser
analisadas questões relativas ao léxico (escolha lexical/vocabular), as construções
sintáticas (como são feitas para construir uma argumentação, por exemplo), o
uso de articuladores e modalizadores, enfim, quais as escolhas que o autor fez
tendo em vista as intenções comunicativas e os sentidos pretendidos (efeitos de
sentido). Dessa maneira, foge-se somente da memorização ou fixação de nomes
complexos, buscando-se: sensibilização do olhar, ampliação da capacidade
analítica, a compreensão de aspectos que podem ser aprimorados em sua própria
escrita, entre outros.

Para compreender melhor o que são os contextos, temos que observar


para além das clássicas interrogações:

• Quem escreveu o texto?


• Para quem?
• Em qual situação imediata?
• Com quais propósitos?
• Com quais estratégias?
• Qual o tipo de registro selecionado (a linguagem empregada)?
• Qual a região, idade, gênero, grau de instrução dos envolvidos?

Devemos olhar outros aspectos que envolvem a produção. Entre eles


o contexto de circulação; ele é chamado de esfera discursiva ou, a partir de
Marcuschi (2008), domínios discursivos. Tais domínios apresentam natureza
própria que acaba interferindo nos gêneros textuais/discursivos produzidos em
tal esfera/domínio. A seguir, estão elencados os domínios destacados pelo autor e
os gêneros que costumam circular neles (MARCUSCHI, 2008, p. 194-196).

77
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

QUADRO 1 – DOMÍNIOS E SEUS RESPECTIVOS GÊNEROS


Domínios
ESCRITA ORALIDADE
discursivos
Artigos científicos; verbetes de enciclopédias; Conferências; debates; discussões;
relatórios científicos; notas de aula; nota de rodapé; exposições; comunicações; aulas
diários de campo; teses; dissertações; monografias; participativas; aulas expositivas;
glossário; artigos de divulgação científica; tabelas; entrevistas de campo; exames orais;
mapas; gráficos; resumos de artigos de livros; exames finais; seminários de iniciantes;
resumos de livros; resumos de conferências; seminários avançados; seminários
resenhas; comentários; biografias; projetos; temáticos; colóquios; prova oral;
solicitação de bolsa; cronograma de trabalho; arguição de tese; arguição de dissertação;
Instrucional
organograma de atividade; monografia de curso; entrevistas de seleção de curso; aula de
(científico,
monografia de disciplina; definição; autobiografias; concurso; aulas em vídeo; aulas pelo
acadêmico e
manuais de ensino; bibliografia; ficha catalográfica; rádio; aconselhamentos.
educacional)
memorial; curriculum vitae; parecer técnico;
verbete; parecer sobre tese; parecer sobre artigo;
parecer sobre projeto; carta de apresentação;
carta de recomendação; ata de reunião; sumário;
índice remissivo; diploma; índice onomástico;
dicionário; prova de língua; prova de vestibular;
prova de múltipla escolha; diploma; certificado de
especialização; certificado de proficiência; atestado
de participação; epígrafe.
Editoriais; notícias; reportagens; nota social; Entrevistas jornalísticas; entrevistas
artigos de opinião; comentário; jogos; histórias em televisivas; entrevistas radiofônicas;
quadrinhos; palavras cruzadas; crônica policial; entrevista coletiva; notícias de rádio;
crônica esportiva; entrevistas jornalísticas; anúncios notícia de TV; reportagens ao vivo;
classificados; anúncios fúnebres; cartas do leitor; comentários; discussões debates;
JORNALÍSTICO
carta ao leitor; resumo de novelas; reclamações; capa apresentações; programa radiofônico;
de revista; expediente; boletim do tempo; sinopse boletim do tempo.
de novela; resumo de filme; cartoon; caricatura;
enquete; roteiros; errata; charge; programação
semanal; agenda de viagem.
Orações; rezas; catecismo; homilias; hagiografias; sermões; confissão; rezas; cantorias;
RELIGIOSO cânticos religiosos; missal; bulas papais; jaculatórias; orações; lamentações; benzeções; cantos
penitências; encíclicas papais. medicinais.
receita médica; bula de remédio; parecer médico; Consulta; entrevista médica; conselho
SAÚDE
receitas caseiras; receitas culinárias; médico.
rótulo; nota de venda; fatura; nota de compra; publicidade de feira; publicidade de TV;
classificados; publicidade; comprovante de publicidade de rádio; refrão de feira;
pagamento; nota promissória; nota fiscal; boleto; refrão de carro de venda de rua.
boletim de preços; logomarca; comprovante de
renda; carta comercial; parecer de consultoria;
formulário de compra; carta-resposta; comercial;
COMERCIAL
memorando; nota de serviço; controle de estoque;
controle de venda; bilhete de avião; bilhete de
ônibus; carta de representação; certificado de
garantia; atestado de qualidade; lista de espera;
balanço comercial; instruções de montagem;
descrição de obras; ordens.
instruções de montagem; descrição de obras; código Ordens.
INDUSTRIAL de obras; avisos; controle de estoque; atestado de
validade; manuais de instrução;
contratos; leis; regimentos; estatutos: certidão tomada de depoimento; arguição;
de batismo; certidão de casamento; certidão de declarações; exortações; depoimento;
óbito; certidão de bons antecedentes; certidão inquérito judicial; inquérito policial;
negativa; atestados; certificados; diplomas; ordem de prisão.
normas; regras; pareceres; boletim de ocorrência;
edital de convocação; edital de concurso; aviso
JURÍDICO de licitação; auto de penhora; auto de avaliação;
documentos pessoais; requerimento; autorização de
funcionamento; alvará de licença; alvará de soltura;
alvará de prisão; sentença de condenação; citação
criminal; mandado de busca; decreto-lei; medida
provisória; desmentido; editais; regulamentos;
contratos; advertência.

78
TÓPICO 2 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

propagandas; publicidades; anúncios; cartazes; publicidade na TV; publicidade no


folhetos; logo marcas; avisos; necrológios; rádio.
PUBLICITÁRIO outdoors; inscrições em muros; inscrições em
banheiros; placas; endereço postal; endereço
eletrônico; endereço de internet.
piadas; jogos; adivinhas; histórias em quadrinhos; fofocas; piadas; adivinhas; jogos
LAZER
palavras cruzadas; horóscopo; teatrais.
cartas pessoais; cartas comerciais; cartas abertas; recados; conversações espontâneas;
cartas do leitor, cartas oficiais; carta-convite; telefonemas; bate-papo virtual;
cartão de visita; e-mail; bilhetes; atas; telegramas; convites;
memorandos; boletins; relatos; agradecimentos; agradecimentos; advertências:
INTERPESSOAL convites; advertências; informes; diário pessoal; avisos; ameaças; provérbios.
aviso fúnebre; volantes; lista de compras; endereço
postal; endereço eletrônico; autobiografia;
formulários; placa; mapa; catálogo; papel
timbrado.
ordem do dia; roteiro de cerimônia oficial; roteiro Ordem do dia.
MILITAR
de formatura; lista de tarefas;
épica - lírica - dramática; poemas; diários; contos; Fábulas; contos; lendas; poemas;
mito; peça de teatro; lenda; parlendas: fábulas; declamações; encenação.
FICCIONAL
histórias em quadrinhos; romances; dramas;
crônicas; roteiro de filme.

FONTE: Marcuschi (2008, p. 194-196)

Muito bem, acadêmico. Por meio dessa discussão, é possível perceber


como o trabalho com língua e linguagem pode e deve ser diversificado. São
inúmeros os contextos (esferas/domínios) de interação humana – ainda maior é
o número de gêneros textuais existentes. Esses gêneros fazem parte de qualquer
língua existente. Cada uma delas com suas próprias particularidades, exigindo
dos seus falantes/usuários a análise do contexto e outros elementos para bem
produzir textos e bem interpretar os textos produzidos.

Vale ressaltar que o quadro acima não pretende abarcar todos os gêneros
que circulam nos determinados domínios. Há outros autores que podem nomear
os domínios ou esferas de outras maneiras. Da mesma forma, podem destacar
outros gêneros não apontados por Marcuschi (2008). Esse trabalho de pretender
findar a discussão dos gêneros ou elencar todos os gêneros é tarefa quase
impossível, tendo em vista que vivemos em uma época líquida, em que novas e
novas formas de interagir por meio de gêneros surgem e seguirão surgindo.

Esperamos que tenham gostado! Até o próximo tópico!

79
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A semântica é a parte da linguística que estuda a natureza dos significados


individual das palavras e do agrupamento das palavras na sentença que
podem vir apresentar variações (dialetos).

• A palavra “utente”, segundo o dicionário on-line de Português é o substantivo
masculino e feminino, usuário; pessoa que faz uso de alguma coisa, quem se
serve ou desfruta de algo.

• Temos também a ambiguidade e que pode ser encontrada em todos os níveis.

• No nível da palavra temos a antonímia e a sinonímia entre outros aspectos


analisados pela semântica.

• A antonímia é a relação estabelecida entre duas ou mais palavras que


apresentam significados diferentes, contrários, sendo então, os antônimos.

• A sinonímia corresponde a palavras que têm relação entre si, com significado
semelhante.

• A pragmática é o estudo da linguagem em uso, e dos princípios de comunicação,


porém esta definição é considerada tradicional.

• Há várias tendências ao se definir a área de pragmática.

• A pragmática envolve as relações entre a linguagem e o contexto.

• A semântica e a pragmática estudam os conceitos que construímos em nossas


mentes quando estamos diante de um signo linguístico, seja ele uma palavra,
uma sentença ou um texto.

• O uso do contexto dos signos linguísticos influencia na construção de seu


significado.

• Temos correntes teóricas que fazem separação entre o estudo do significado


das expressões linguísticas quando estas expressões são analisadas fora do
contexto de uso.

• Torna-se essencial envolver os estudantes nos mais variados contextos de


interação (esferas/domínios discursivos), exatamente para que eles leiam e
produzam um variando número de textos orais e escritos. Essa é uma forma de
desenvolver habilidades linguísticas no mundo atual.

80
AUTOATIVIDADE

1 (QUESTÃO ENADE 2011) Desde o final da década de 1970, começou um forte


questionamento sobre a validade do ensino da redação como um mero exercício
escolar, cujos objetivos principais seriam observar e apontar, através de uma corre-
ção quase estritamente gramatical, os “erros” cometidos pelos alunos. [...] Os alunos
exercitariam uma forma escrita que raramente dialoga com outros textos e com vá-
rios leitores.

BUNZEN, C. Da era da composição à era dos gêneros: reflexões sobre o ensino de produção de
texto no ensino médio. In: BUNZEN, C.; MENDONÇA, M. (Orgs.). Português no ensino médio
e a formação do professor. São Paulo: Parábola Editorial, 2006, p. 147.

Considerando o texto acima e a prática de redação em ambiente escolar,


assinale a opção correta:

a) ( ) A moderna pedagogia linguística recomenda a prática da redação como


estratégia de avaliação.
b) ( ) A redação escolar tem mantido identidade com outros gêneros textuais
divulgados na escola.
c) ( ) É salutar que a produção de textos na escola abranja outras esferas da
comunicação humana.
d) ( ) Nas produções de textos escolares, a função referencial da linguagem
deve sempre ser priorizada como propósito comunicativo.
e) ( ) A redação escolar deve ser um exercício de escrita direcionado ao
professor leitor.

2 (QUESTÃO ENADE 2014) Uma coisa é saber a língua, isto é, dominar


as habilidades de uso da língua em situações concretas de interação,
entendendo e produzindo enunciados, percebendo as diferenças entre
uma forma de expressão e outra. Outra coisa é saber analisar uma língua
dominando conceitos e metalinguagem a partir dos quais se fala sobre a
língua, se apresentam suas características estruturais e de uso.

GERALDI, J. W. (Org.). O texto na sala de aula. Cascavel, Paraná: Assoeste/UNICAMP, 1984.

A partir do texto acima, avalie a adequação das seguintes propostas de


construção de atividades de ensino de língua portuguesa.

I- O professor seleciona o gênero a ser trabalhado com a turma de acordo com


seu interlocutor e seus objetivos de ensino. A partir da seleção, elabora uma
série de atividades articuladas que possibilitem ao aluno interagir com o
gênero discursivo, percebendo as características contextuais, textuais e
linguísticas, e compreendendo como esses níveis em interação concorrem
para a construção de sentido.

81
II- O professor, a partir de determinado gênero discursivo, elabora situações
que levem o aluno a perceber o uso efetivo da língua, a observar as escolhas
lexicais, as construções sintáticas, o uso de articuladores e modalizadores,
em função da interlocução e das intenções comunicativas, e os efeitos de
sentido produzidos.
III- O professor seleciona um texto pertencente a determinado gênero discursivo
previsto no programa. A partir disso, escolhe determinados elementos
gramaticais nele recorrentes para, então, conceituá-los e criar exercícios de
fixação, além de elaborar questões de leitura e de interpretação textual.

Assinale a alternativa que indica as afirmações que expressam


atividade(s) de ensino adequada(s):

a) ( ) II, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) I e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.

82
UNIDADE 2 TÓPICO 3

AMBIGUIDADE E POLISSEMIA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, falaremos da ambiguidade e da polissemia, conheceremos
estas duas questões, ambas são investigadas pela semântica. Veremos como o ser
humano tem a habilidade de identificar e evitar a ambiguidade.

Também conheceremos a polissemia, saberemos que um termo pode


apresentar significados distintos, tudo vai depender do contexto em que ele será
usado. Ou seja, a semântica busca descrever as propriedades do significado em
diferentes níveis de expressão.

2 AMBIGUIDADE
O termo ambiguidade, na língua portuguesa, significa algo que pode vir
a ter mais de um significado ou sentido. A ambiguidade nos dá a impressão de
indecisão, incerteza, indeterminação. A ambiguidade pode estar presente nas frases,
nas palavras, expressões ou sentenças completas. Podemos dizer também que
ambiguidade é a falta de clareza em uma expressão. Olhemos o exemplo a seguir:

“João disse ao pai que havia chegado”. (Quem havia chegada? João ou o pai?).

A ambiguidade pode se apresentar de duas formas:

2.1 AMBIGUIDADE ESTRUTURAL


A ambiguidade estrutural provoca ambiguidade por causa da posição das
palavras em um enunciado, gerando uma má compreensão do seu significado.
Veja no exemplo: “O computador se tornou um grande aliado do homem, mas
esse nem sempre realiza todas as suas tarefas”. As palavras “esse” e “suas”
podem se referir tanto ao computador, quanto ao homem, dificultando a direta
intepretação da frase e causando ambiguidade.

2.2 AMBIGUIDADE LEXICAL


Ambiguidade lexical é quando uma determinada palavra assume dois ou
mais significados, como acontece com a polissemia que veremos logo a seguir.
Exemplo: “O rapaz pediu um prato ao garçom”. No exemplo, a palavra “prato”
pode se referir ao objeto em que se coloca a comida ou a um tipo de refeição.
83
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

Então, na gramática, ambiguidade ou anfibologia é todo duplo sentido


causado pela má construção da frase. A função da ambiguidade é sugerir
significados diversos para uma mesma mensagem. É uma figura de palavra e de
construção, embora funcione como recurso estilístico, a ambiguidade também
pode ser um vício de linguagem, que decorre da má seleção da posição da palavra
na frase, vindo a comprometer o entendimento do sentido pretendido.

ATENCAO

Quando falamos em figuras ou linguagem figurada, estamos abordando um


recurso estilístico utilizado de forma consciente pelo autor. O autor realiza aquele jogo de
palavras com algum propósito. De fato, a ambiguidade pode ser utilizada com o intuito de
provocar a graça ou o humor – útil na realização de um poema, de uma crônica humorística
ou, ainda, útil para chamar a atenção de um público na venda de um produto. O duplo sentido
pode de fato ser, portanto, uma seleção, uma escola autoral. Porém, além dessa forma de
ambiguidade, pode-se produzir textos com a presença de duplo sentido sem sequer o autor
se dar conta que assim o fez. Quando é sem querer e sem perceber, chama-se de vício de
linguagem – não se trata de uma escolha consciente, mas de um erro, de um equívoco que
pode custar inclusive a má interpretação por parte de quem lê ou ouve a mensagem.

As figuras a seguir nos mostram diferentes ambiguidades.

FIGURA 8 – EXEMPLOS DE AMBIGUIDADE

FONTE: <https://d28wddiwk4qifq.cloudfront.net/2016/01/08154053/3-ambiguidade-3-638.jpg>.
Acesso em: 28 jun. 2019.

84
TÓPICO 3 | AMBIGUIDADE E POLISSEMIA

FIGURA 9 – EXEMPLOS DE AMBIGUIDADE

FONTE: <http://www.estudavest.com.br/sis_questoes/
imagens/640176/2d7f10b4b629fd58f548adbbaa718758.png>. Acesso em: 9 jul. 2019.

FIGURA 10 – EXEMPLOS DE AMBIGUIDADE

FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/1c/da/5c/1cda5c7f7b9d88d11093129fecdbe13e.gif>.
Acesso em: 9 jul. 2019.

FIGURA 11 – EXEMPLOS DE AMBIGUIDADE

FONTE: <https://d28wddiwk4qifq.cloudfront.net/2016/01/08152823/143-401x400.jpg>.
Acesso em: 26 jun. 2019.

85
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

Nesses casos, a ambiguidade tem um propósito: criar o humor, a graça.


Trata-se de textos que possuem o objetivo de deleitar o leitor. Construir o humor
é o objetivo de tais textos. Por esse motivo, a ambiguidade faz parte de tais textos.
Além disso, a própria ambiguidade deixa alguns personagens confusos – vê-los
confusos é o motivo de o leitor achar engraçados os textos. Rimos imaginando a
cena: irmos comprar um pastel, mordermos e dentro dele haver uma nota de um
real em vez de algum recheio habitual como palmito ou carne. No caso criança que
“vende o pôr do sol”, há um adulto que é feito de bobo por uma criança – quem não
acha graça em uma criança sendo mais sagaz do que um adulto? É algo inesperado,
surpreendente. Enfim, a ambiguidade possui grande efeito de humor nesses casos.

3 AMBIGUIDADE LEXICAL: POLISSÊMICA E HOMÔNIMA


Ambiguidade é um fenômeno que ocorre nas línguas naturais, além de ser
um fenômeno bastante curioso. Trata-se das possibilidades de sentidos que uma
determinada expressão linguística pode apresentar. As línguas podem apresentar
duplo sentido por meio de vocábulos utilizados em sentenças orais e escritas –
quando essas sentenças não contribuem para que esse duplo sentido seja desfeito
ou, ainda, quando a situação, o contexto em que a sentença se dá não estiver claro o
suficiente. Para Ullmann (1964 apud MARTINS; BIDARRA, 2011, p. 138),

A ambiguidade lexical pode ser homônima ou polissêmica. Homônima


ocorre quando as palavras são iguais, mas apresentam significados
diferentes e não há relações semânticas entre si. Polissemia diz respeito
à variação de sentidos que uma mesma palavra pode ter, neste caso há
relação semântica entre elas.

Considera-se, a partir dos autores aqui abordados, que existe maior


complexidade nos casos polissêmicos que nos casos de homonímia. Por vezes, para
desfazer o duplo sentido – processo de desambiguação (MARTINS; BIDARRA,
2011) –, faz-se necessário incluir outras informações (vocábulos ou sentenças) no
intuito de esclarecer possíveis conflitos gerados pela informação dúbia.

ATENCAO

Dúbio é aquilo que está sujeito a diferentes interpretações; que é ambíguo;


que pode haver mais de um sentido; que é difícil definir; que não tem limites determinados.

86
TÓPICO 3 | AMBIGUIDADE E POLISSEMIA

3.1 POLISSEMIA
Polissemia é a propriedade da palavra de apresentar significados distintos que
só podem ser explicados dentro de um contexto. A polissemia apresenta um grande
número de significados em uma só palavra cujo significado dependerá do contexto em
que a palavra está inserida. Vejamos os exemplos a seguir da palavra “cabo”.

Exemplo:

O lavrador quebrou o “cabo” da enxada.


O navio contornou o “cabo” cuidadosamente.
Aquele soldado será promovido a “cabo”.
O marinheiro amarrou o “cabo” do navio no cais.
Os sequestradores deram “cabo” do infeliz empresário.
Ele nunca quis ser “cabo” eleitoral.
Trocaram os “cabos” telefônicos da minha rua.

Segundo Almeida (2009), as expressões polissêmicas são resultado de processos


de extensão de significados que só podem ser explicados dentro de um contexto.

O que (01) e (02) significam?

FIGURA 12 - EXEMPLO 1 e 2
(01) (02)

Mulher Casa
FONTE: As autoras

Agora, pensando, diga o que (01) e (02) significam.

Observou? Ao pararmos para pensar, verificamos que as palavras


vão ganhando ainda mais significados. Na verdade, a razão para isso é que as
palavras de fato já possuem inúmeros significados. Cada palavra é carregada de
significações construídas ao longo da história pelas pessoas, nas relações, desde
os primórdios da comunicação humana e do nascimento de novas línguas. Esses
significados, quando nós paramos para refletir, começam a imergir a partir do
conhecimento que cada um possui acerca daquele vocábulo/léxico, seja em uma
língua que possui escrita ou em alguma língua que não.

87
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

Voltando à análise do que foi apresentado acima: (01) e (02) são exemplos
do que chamamos de casos polissêmicos – que apresentam polissemia. Polissemia
é uma característica de um signo.

DICAS

Não lembra o que é signo? Revise a primeira unidade. Lá você perceberá que
o signo possui dois lados assim como uma moeda: o significado e o significante.

O signo possui muitos sentidos. Para ser polissêmico, ele precisa ter mais
que um significado relacionado a ele. Ao usarmos as palavras, toda essa vida
borbulhante de significados emerge – por isso o papel do autor ou do falante é
sempre procurar organizar bem a comunicação para que ele mesmo não se perca
nesses variados sentidos – vindo a dizer algo que nem pretendia ou, ainda, deixando
seu leitor/interlocutor confuso, sem conseguir precisar o sentido pretendido.

Quanto à LIBRAS, no caso (01), acima representado, pode-se observar que


existe certa relação semântica. Vejamos:

1) pessoa adulta do sexo feminino;
2) esposa;
3) homem afeminado.

Aqui podemos observar que os três sentidos apresentados são, de fato,


diferentes entre si. Contudo, possuem algum valor semântico que os diferencia.
Podemos observar que se trata de uma carga semântica que, em essência, trata-
se de uma pessoa do gênero feminino ou com características femininas (padrão /
semelhante ao feminino).

Semelhanças e diferenças de sentidos também ocorrem com (02).

Você pode se perguntar: e quanto ao contexto? Ele é útil ao realizamos


estes estudos?

Sim, sem dúvidas!

As expressões polissêmicas são resultadas de processos de extensão de


significados que só podem ser explicados dentro de um contexto (ALMEIDA,
2009). Não há como realizar uma análise semântica sem a compreensão do
contexto de produção – outros fatores que ajudam a compreender o valor
semântico dos vocábulos.

88
TÓPICO 3 | AMBIGUIDADE E POLISSEMIA

Além disso, faz-se necessário estudar outras formas de estudar os


vocábulos – outras formas de nos atentarmos para os sentidos possíveis dos
vocábulos.

3.2 HOMONÍMIA
Outro fenômeno que podemos categorizar como sendo ambiguidade
lexical é a homonímia. Homonímia é a relação de identidade formal entre pelo
menos dois signos distintos, observe o Exemplo 3.

Assim, esclarecemos que, nas línguas orais, a origem é da mesma palavra


(escrita ou som). No caso das línguas de sinais, a origem é do mesmo sinal.

FIGURA 13 - LARANJA/SÁBADO

FONTE: As autoras

Ao realizar uma análise da imagem, você poderia dizer que o valor


semântico dela corresponde ao “fruto da laranjeira”. Tal resposta, de fato, seria
uma leitura bastante pertinente. Contudo, ao estudar, você iria descobrir que
ainda é possível apresentar a seguinte resposta: “sétimo dia da semana”. Também
seria outra resposta muito boa.

Neste momento, surge a dúvida: o que semanticamente há de relação entre


as duas compreensões possíveis – sétimo dia da semana e fruto da laranjeira?

Como não é possível estabelecer alguma relação entre os sentidos, diz-se


que a forma na Figura 13 representa dois sinais distintos: sábado e laranja. Ainda
que tenham a mesma forma(Figura 13), os seus sentidos, “fruto da laranjeira” e
“sétimo dia da semana”, não podem ser relacionados entre si.

Aqui está um caso de uma sentença homônima: podemos interpretar tanto


a Figura 14 como “eu gosto de sábado” quanto “eu gosto de laranja”. Vejamos:

89
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

FIGURA 14 - GOSTAR/SÁBADO/LARANJA

FONTE: As autoras

A partir dos estudos, verificamos que a ambiguidade só existe uma vez


que não há contexto. A partir da análise do contexto, poderemos observar quando
a sentença afirma que gosta de sábado ou quando ela afirma que gosta de laranja.
Por isso é essencial a presença do contexto na aprendizagem de qualquer língua – e
claro, na análise de qualquer sentença em nossas rotinas, seja em relacionamentos
interpessoais ou profissionais.

Neste momento, definindo melhor o contexto linguístico, tomamos


a Figura 13 para formar a Figura 15. Uma vez que outros elementos ajudam a
construir o sentido pretendido, verificaremos que a interpretação adequada para
(a Figura 14) será “Eu gosto de laranja”. Vejamos:

FIGURA 15 - EXEMPLO 1

Gostar Laranja

Porque Ter

90
TÓPICO 3 | AMBIGUIDADE E POLISSEMIA

Vitamina C

Eu gosto de laranja porque tem vitamina C


FONTE: As autoras

Como podemos perceber “laranja” é a melhor interpretação para a


ocorrência da (Figura 13) na (Figura 15). Pode-se dizer que dentro do próprio
enunciado um elemento altera o outro. Cada elemento linguístico atua dentro de
uma combinação. A presença da “vitamina C”, a partir de nosso conhecimento ­e
do nosso vocabulário, compreendemos que tal termo combina muito mais com
“laranja” que com “sábado”.

Como a construção de uma receita culinária: a soma de todos os itens


gerará o resultado desejado. Para fazer ovo mexido teremos que ter ovo +
temperos = ovo mexido. Não terei ovo mexido se colocar abóbora + temperos.­Da
mesma maneira, nas frases, as composições (as construções) irão contribuir com
o sentido desejado. Além é claro da presença do contextos, a situação: quem diz,
quando diz, entre outros elementos.

DICAS

Indicamos a leitura sobre “isotopia” no site a seguir: <http://edtl.fcsh.unl.pt/


encyclopedia/isotopia/>.

91
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

FIGURA 16 - VITAMINA C

VITAMINA C
FONTE: As autoras

Se tomarmos novamente (Figura 14) para formarmos (Figura 17), podemos


compreender que (Figura 13) significará apenas “sábado”. Também observaremos
que (Figura 18) não estabelece relação com fruta, em vez disso, pode ser associado
a tempo – e sábado pode ser relacionado a tempo.

FIGURA 17 - EXEMPLO 2

Gostar Sábado Porque

Quando

92
TÓPICO 3 | AMBIGUIDADE E POLISSEMIA

Durmo

Tarde

EU GOSTO DE SÁBADO PORQUE É QUANDO DURMO ATÉ TARDE


FONTE: As autoras

FIGURA 18 - QUANDO

Quando

FONTE: As autoras

Aqui novamente vemos a relação de todos os elementos da sentença, um


alterando o entendimento do todo – contribuindo para eliminar o duplo sentido,
a ambiguidade. Lembrando que em todo o tempo o contexto deve ser analisado e
considerado – tanto na produção quando na recepção da mensagem.

93
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

LEITURA COMPLEMENTAR

POR QUE ESTUDAR SEMÂNTICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA?

Me. Josinaldo Trajano da COSTA (PPGL – UERN)


Me. Francisco Gomes da SILVA (Prof. SEEC-PB)
Esp. Francisca Emídia da Costa OLIVEIRA (Prof.ª SMEC – SOUSA-PB)
Ma. Antônia Sueli da Silva Gomes TEMÓTEO (Prof.ª CAP UERN)
[...]

2. O EDUCANDO E A COMPREENSÃO DA ARBITRARIEDADE NO SIGNO

A Língua Portuguesa apresenta-se versátil no tocante ao seu uso, pois é


marcada por um caráter heterogêneo, passível de variações inerentes ao tempo,
à localidade, à idade e a classe socioeconômica de seus falantes. Já o léxico
está propenso a alterações no seu uso e, como mudam as formas das palavras,
seus significados também se alteram, o que muitas vezes poderá confundir
a assimilação dos sentidos por parte do aluno da escola básica, em face ao seu
contínuo processo de aquisição da linguagem. Tal aprendizagem da língua
é sempre vista de maneira complexa, e, em muito, quando se trata de Língua
Portuguesa, é entendido assim:

O que é língua? Olha... Isso é uma coisa difícil, porque cada vez
mais eu tenho dúvidas a respeito do que seja a língua por causa da
complexidade. Veja, não me satisfazem definições como instrumento
de comunicação, ou como sistema ordenado com vistas à expressão
do pensamento, nada disso. Eu penso, na verdade, que a linguagem
humana é a condensação de todas as experiências históricas de uma
dada comunidade. É nesse sentido que nós temos a ver com a língua.
É claro que ela tem uma gramática, ela tem um léxico, eu não estou
negando isso, mas para mim, o aspecto mais relevante a verificar é que
a língua é, de certa forma, a condensação de um homem historicamente
situado. Uma língua é isso (FIORIN, 2003, p. 72).

São questões comumente levantadas, não se podendo deixar de registrar


os dinamismos linguísticos ocorridos com frequência. Tais modificações resultam
de influências tanto internas quanto externas, advindas do universo sociocultural,
propiciando novos significados às palavras e o desuso de outras, caracterizando
um processo dinâmico. A princípio, é louvável se eleger o contexto no qual
está inserto o educando a fim de poder se detectar melhor o seu conhecimento
linguístico, o que facilitará a prática docente em sala de aula, reconhecendo ser
necessário um preparo didático-pedagógico, na intenção de trazer informações e
vieses direcionados ao ensino e aprendizagem de quem apenas conhece a língua
adquirida em sua formação social ou se propõe a conhecê-la formalmente via escola.

94
TÓPICO 3 | AMBIGUIDADE E POLISSEMIA

[...] as práticas de linguagem são uma totalidade e que o sujeito expande a


sua capacidade de uso da linguagem e de reflexão sobre ela em situações
significativas de interlocução, as propostas didáticas de ensino de Língua
Portuguesa devem organizar-se tornando o texto (oral ou escrito) como
unidade básica de trabalho, considerando a diversidade de textos que
circulam socialmente. Propõe-se que as atividades planejadas sejam
organizadas de maneira a tornar possível a análise crítica dos discursos
para que o aluno possa identificar pontos de vista, valores e eventuais
preconceitos neles veiculados (BRASIL, 1998, p. 58-59).

Ao se inteirar desta situação, torna-se possível interpretar e compreender as


palavras num patamar equivalente ao do educando, possibilitando-o identificar-
se melhor com o código linguístico e perceber o dinamismo das palavras. Assim
é preciso fazer uma abordagem sobre a produção de significados no contexto da
língua, trazendo à luz do aluno a importância do contexto para a interpretação
de sentidos, bem como a possibilidade de se ter a ocorrência de um pluralismo
de sentidos, o que o indivíduo ainda não conseguiu internalizar em face a sua
aprendizagem em andamento. Podem ser estudadas abordagens fonéticas,
morfossintáticas e semânticas, sobretudo, estas para enfocar os níveis do léxico,
indo da estrutura da frase ao texto, buscando-se captar os significados.

De forma inegável, há de se considerar o crescimento da Linguística


embasada das teorias de Saussure, dentre as quais, para o tratamento da linguagem,
é influenciado pelos postulados semântico-linguísticos, constituído pela junção de
um significante, a imagem acústica, e um significado, o conceito, o que evidencia
a definição dada por Saussure (1995, p. 81) ao dizer: “o signo linguístico é, pois,
uma entidade psíquica de duas faces”. Daí, se fazer imprescindível estudá-los,
pautado no referente e no conceito, reforçando a tese de que o significado de uma
palavra não ser absoluto, único, podendo mudar em função do contexto no qual
se insere o falante ou os falantes, sendo tais significados definidos mediante a
situação comunicativa em evidência.

Para Ducrot (2005, p.10), “o sentido de uma palavra se constrói sempre


com a consideração do contexto em que ela aparece”, É a comunicação sincrônica
que concretiza os significados no processo interativo falante/ouvinte. Para tanto, o
educador, a princípio mais conhecedor, pode se embasar em várias teorias, dentre
elas a de Gottlob Frege, em seu artigo “Sobre o Sentido e a Referência” (1978), no qual
concebe o sinal, ou nome próprio, como resultante de uma referência (a coisa por ele
designada) e um sentido (o modo de apresentação do objeto), sendo que entre ambos
se dá um sentido determinado e, a este, corresponde uma referência determinada,
sendo que uma referência (a um objeto) não deve partir de um único sinal.

Ele reforça a ideia de que “entender-se um sentido nunca assegura sua


referência (1978:63), ainda sendo adicionada a representação associada ao sinal,
permitindo que uma certa imagem possa ser captada de modo objetivo ou subjetivo.

95
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

Partindo desta, é importante que o professor se posicione mediante as


suas análises no intuito de facilitar a assimilação discente. Ao discutir e analisar
o contexto da enunciação, deve levar em conta a intenção de se identificarem
os significados objetivados por um falante em seus enunciados, considerando
a plurissignificação e, com ela a possibilidade de uma dada palavra portar
significados diversificados, conforme afirma Possenti (1997, p. 7): “o sentido não
é algo prévio ou pronto que uma forma embala; é, antes, um efeito”. Compete,
pois, ao facilitador da linguagem analisar tais ocorrências e torná-las conhecidas
junto aos seus alunos.

É sugestivo se buscarem vias mais acessíveis, entre elas a da tese de estudo


dos componentes do signo a saber, o conceito (significado) e a imagem acústica
significado são passíveis a entendimentos arbitrários. O elo entre significante e
significado é discutível, especificamente qual se vê tal relação como um todo; tal
entendimento precisa ser esclarecido a fim de não prevalecer a concepção dominante
da sempre arbitrariedade, deixando evidente que o “arbitrário” também não faculta
uma associação livre de uma palavra a outras significações, não se dando a ideia de
que o significante seja dependente da livre escolha do que fala.

O significante não possui uma ligação natural com o significado; o


aluno precisa ser esclarecido sobre todas essas evidências a fim melhor poder se
encontrar com as palavras dentro do seu universo de significações no contexto
linguístico, no qual língua e pensamento mantêm estreitas relações. Necessário
também, se esclarecer a existência de valores linguísticos de significação que
vai aparecer no campo conceitual e pode envolver tanto situações sinonímicas
quanto paradoxais, sendo mais que imprescindível que então se considere a
interpretação, objetivando se chegar à pretendida significação.

Assim, levando em conta a real existência da variedade linguística que


se pontua por caracterizar “as diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em
um mesmo contexto, e com valor de verdade”, conforme Tarallo (2002, p. 8),
torna-se mister que a escola realize trabalhos no intuito de facilitar a aquisição
linguística, orientando crianças, jovens e adolescentes, permitindo-os tornarem
dominantes e eficientes falantes de sua língua materna, o que vai lhes assegurar
futura cidadania, pois isto se constitui importante passo para a inclusão social e,
sobretudo, tornando-os sujeitos de uma ação discursiva.

3. PALAVRAS: FACILITADORAS DAS RELAÇÕES HOMEM E MUNDO


CONCRETO

Cotidianamente a comunicação humana se dá em grande escala através das


palavras, fazendo com que estas tornem-se facilitadoras nas relações com o mundo
material e concreto. No tocante ao uso linguístico por parte do aluno na educação
básica, deve-se considerar o seu conhecimento informal, mas é louvável que o
educador o oriente a voltar a atenção para elas, conscientizando de que sempre que
são usadas há um outro a ouvir, apreciar o falado e o escrito, observando o enlace
natural entre as palavras e o novo sentido em cadeia com outras.

96
TÓPICO 3 | AMBIGUIDADE E POLISSEMIA

A motivação que prevalece para a escolha de palavras em um texto é,


portanto, de ordem sociognitiva, quer dizer, está presa aos sentidos
e aos propósitos que partilhamos em cada situação de interação.
Escolhemos palavras conforme elas nos pareçam adequadas para
expressarem o que queremos dizer e fazer com elas. Ninguém, ao
falar ou escrever nas atividades sociais do dia a dia, faz escolhas
aleatórias ou seleciona as palavras pelo tamanho que elas têm, pela
classe gramatical a que pertencem ou pela letra ou fonema com que se
iniciam (ANTUNES, 2005, p. 126).

Nesse contexto, deve-se orientar para o uso do uso correto da linguagem,


o que vem se constituir numa grande saída, uma abertura para a inserção no
grande mundo. Com isso, virão conquistas de ideais e a realização de grandes
sonhos povoadores da cabeça desses inúmeros constituintes da escola em sua
formação básica. Imprescindível se abordar o poder que as palavras exercem em
sua dimensão semântica, tornando-se fundamental que elas sejam escolhidas
antes de serem proferidas, a fim de traduzirem substancialmente uma realidade
e consigam chegar devidamente ao seu receptor.

O aluno precisa ser advertido de que a palavra lida ou falada cria reações
na atitude de quem a lê ou a escuta e, como ação em constantes movimentos gera
resultados. A palavra detém forças as quais concretizam o pensamento e nas relações
humanas é a ferramenta indispensável para a interação social e o consolidar de
projetos tanto em âmbito pessoal quanto profissional. Ao se aprender a linguagem já
se constitui em ato reflexivo sobre esta; as ações linguísticas ocorridas nas interações
sociais promovem tal reflexão, considere-se que compreender a fala do outro e fazer-
se compreender por este constitui o diálogo; ao compreender o outro, ocorre uma
correspondência entre as palavras dos falantes.

Evidentemente um ato comunicativo não deve ser marcado por uma


ruptura, pois se assim acontecer denota falha no entendimento, sendo que o deve
ocorrer uma busca de sentido, a qual vai trazer à tona uma outra constituindo
elos comunicativos, os quais se dão com êxito, mediante correlação precisa entre
as partes. Logo, desde a mais tenra idade a criança já deve ser trabalhada no
sentido de conscientizar-se de que a boa aquisição e o bom uso da linguagem
podem ser superssignificativos em suas vidas, para usarem a palavra certa no
momento ideal, com o sentido preciso, com o tom de voz adequado no intuito de
os ventos da realidade soprarem a seu favor.

Uma temática que não pode deixar de ser abordada e, consequentemente


estimulada como um despertar para o uso linguístico do educando, é a do signo e
a persuasão, podendo serem tomadas como referências os pensamentos de Emile
Benveniste, que avança as discussões em torno da natureza e das funções do
signo linguístico.

97
UNIDADE 2 | LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

O seu entendimento a relação entre palavras e coisas não está apenas


determinada pela arbitrariedade (mesmo que ela exista), mas, sim, pela
necessidade. Toda a conjuntura na qual o humano está inserido, envolvendo
o mundo concreto, os anseios espirituais são pontuados por uma carência de
nomeação aos objetos. Daí, a arbitrariedade assumir plano secundário, decorrente
da necessidade. Assim devem ser feitas observações no sentido de ser o signo o
mediador em toda essa contextualização e a maneira como se articulam, organizam
constitui-se em determinante dos rumos a serem tomados pelo discurso, o qual
pode ser portador de um índice maior ou menor de persuasão.

Para tanto, precisa-se repassar a informação de que o signo vem sempre


revestido de ideologias, considerando-se ser de extrema importância estudar a
natureza do signo, por parte do professor, a fim de dar mais amplitude ao assunto
e, consequentemente, ser repassado com maior eficácia para o aluno, alvo do
ensino que em se tratando de aprendizagem, levando em conta situação histórico-
social, como espaço que propicia os entendimentos, a interação como relação
envolvendo um eu e um tu; uma relação interlocutiva, a qual se dá a partir de um
conjunto; a produção de discursos significativos, aproximados pelo significado
e a língua enquanto sistematização aberta, permitindo serem produzidos outros
discursos, mesmo que esta não seja a condição vital para estes ocorrerem.

Se entendermos a linguagem como mero código, e a compreensão como


descrição mecânica, a reflexão pode ser dispensada; se a entendermos
como uma sistematização aberta de recursos expressivos cuja
concretude significativa se dá na singularidade dos acontecimentos
interativos, a compreensão já não é mera decodificação e a reflexão
sobre os próprios recursos utilizados é uma constante em cada
processo (GERALDI, 1997, p. 18).

Tal consciência da importância dessa pontuação, pode ser provada através


dos postulados de Bakhtin em sua obra Marxismo e filosofia da linguagem, a
qual é impensável distanciar-se das ideologias dos signos, e que a questão destes
vincula-se a das ideologias, havendo entre os dois uma relação de dependência
que se torna perceptível ao serem estudados os valores e as ideias contidas nos
signos constitutivos.

Ressalte-se que uma ideologia constitui uma realidade (social ou natural)


comparando-se a um corpo físico, instrumento de produção ou produto de
consumo; entretanto, reflete uma realidade exterior. Tudo o que se considera
ideológico é detentor de significado remetente a algo fora de si mesmo. Bakhtin
comprovou com propriedade tais colocações quanto tomou como referência
o “martelo” que além de instrumento de trabalho, ao se unir à foice, passou a
produzir a concepção de que o Estado Soviético formava-se pela aliança dos
trabalhadores urbanos com os rurais, assumindo uma postura político-social,
ou seja, o martelo e a foice tornaram-se signos, dado a situação de terem sido
perpassados pelas ideologias e estas ganham continuidade na ocorrência descrita
chegando a fazer parte da bandeira da ex-URSS. Por tudo isto, reforça-se a tese
de que é mais que cabível estudar as relações nas quais se fundem as palavras e
o mundo concreto no processo formativo, com especialidade na educação básica.

98
TÓPICO 3 | AMBIGUIDADE E POLISSEMIA

Para ampliar e facilitar o entendimento, podem ser tomados outros


instrumentos, bens de consumo, os quais perderam o sentido inicial e passaram
a ser signos, a título de exemplos o pão e o vinho para os cristãos, a balança
para a justiça, a maçã para o pecado, entre outros, ou seja, aqueles que se
tornaram repassadores de ideologias, o que vai facilitar o entender em face à
intenção didática docente, desde que este também se preocupe em reconhecer e,
consequentemente, trabalhar as ideologias trazidas por tais elementos. Algo que
deve ser trabalhado é o fato de o signo ocorre em função das organizações sociais,
daí só poder ser pensado social e contextualmente, criando-se uma forte elo entre
e a formação da consciência individual e o universo dos signos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

[...] Mostrou-se a necessidade de que o professor se empenhe em possibilitar o


aluno enxergar mais longe por meio das palavras e consequentemente, pelo funcionar
linguístico, manipular esse saber em prol de uma expressão competente e inserir-se
no mundo social, sendo capaz de lidar com o conhecimento de forma favorável.

Em linguagem objetiva, sugere práticas construtivas com os alunos, uma


avaliação constante das vivências e relação professor-aluno encaminhando-os
para um ensino produtivo na educação básica. A sugestão é reconhecer o outro
no processo de comunicação, o que poderá somar resultados reconhecidos
e duradouros. Em suma, a ideia defendida é que se estude a significação das
palavras e seus desdobramentos a fim de que o domínio linguístico se efetive.

FONTE: COSTA et al. Por que estudar semântica na educação básica? V SEMAM A DE ESTUDOS,
TEORIAS E PRÁTICAS EDUCATIVAS (SETEPE) I Colóquio das Licenciaturas que integram o
PIBID/UERN. Disponível em: http://www.editorarealize.com.br/revistas/setepe/trabalhos/
Modalidade_1datahora_21_08_2014_14_51_38_idinscrito_39_9b94afe5f765531264ee4a5251f31ac8.
pdf. Acesso em: 30 maio 2019.

99
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O termo ambiguidade, na língua portuguesa, significa algo que pode vir a ter
mais de um significado ou sentido.

• A ambiguidade nos dá a impressão de indecisão, incerteza, indeterminação.

• A ambiguidade pode estar presente nas frases, nas palavras, expressões ou


sentenças completas.

• Podemos dizer também que ambiguidade é a falta de clareza em uma expressão.

• A ambiguidade pode se apresentar de duas formas: ambiguidade estrutural e


ambiguidade lexical.

• Na gramática, ambiguidade ou anfibologia é todo duplo sentido causado pela


má construção da frase.

• A função da ambiguidade é sugerir significados diversos para uma mesma


mensagem.

• Todas as línguas naturais apresentam ambiguidade.

• Polissemia é a propriedade da palavra de apresentar significados distintos que


só podem ser explicados dentro de um contexto.

• A polissemia apresenta um grande número de significados numa só palavra.

• Segundo Almeida (2009), as expressões polissêmicas são resultadas de


processos de extensão de significados que só podem ser explicados dentro de
um contexto.

• Homonímia é a relação de identidade formal entre pelo menos dois signos


distintos.

• Assim, esclarecemos que nas línguas orais a origem é da mesma palavra. Mas,
no caso das línguas de sinais, a origem é do mesmo sinal.

100
AUTOATIVIDADE

1 Após a leitura desta unidade, você já conhece um pouco mais


sobre ambiguidade, então leia com atenção as afirmativas a se-
guir e coloque V para verdadeiro e F para falso, em se tratando
de ambiguidade.

( ) O termo ambiguidade, na língua portuguesa, significa algo que pode vir a


ter mais de um significado ou sentido.
( ) A ambiguidade nos dá a impressão de indecisão, incerteza, indeterminação.
( ) A ambiguidade pode estar presente nas frases, nas palavras, expressões
ou sentenças completas.
( ) Podemos dizer também que ambiguidade é a falta de clareza em uma
expressão.
( ) A ambiguidade só está presente nas línguas de sinais.

Agora faça a escolha conforme a sequência:


a) ( ) V – V – F – F – F.
b) ( ) V – V – V – F – F.
c) ( ) V – V – V – V – F.
d) ( ) V – V – V – V – V.
e) ( ) F – F – F – V – V.

2 Leia com atenção os exemplos a seguir e depois numere de


acordo com o conceito de:

1) Ambiguidade Lexical
2) Ambiguidade Estrutural

a) ( ) “O computador se tornou um grande aliado do homem, mas esse nem


sempre realiza todas as suas tarefas”.
b) ( ) “O rapaz pediu um prato ao garçom”.

101
3 (QUESTÃO ENADE 2014)

Verifica-se que a palavra “pena”, na primeira fala, foi empregada com


o mesmo sentido que no seguinte trecho.­­

a) ( ) “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena
ter nascido” (Fernando Pessoa).
b) ( ) “Aprendi a amar menos, o que foi uma pena, e aprendi a ser mais cínica
com a vida, o que também foi uma pena, mas necessário. Viver pra se­
mpre tão boba e perdida teria sido fatal” (Tati Bernardi).
c) ( ) “E pra deixar acontecer / A pena tem que valer / Tem que ser com você”
(Jorge e Mateus).
d) ( ) “A primeira imagem que surge quando o assunto é pena são os pássaros”
(Arte no Corpo).
e) ( ) “De boas palavras transborda o meu coração. Ao Rei consagro o que
compus; a minha língua é como a pena de habilidoso escritor” (Bíblia
Sagrada – Salmo 45).

102
UNIDADE 3

A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA
DE SINAIS BRASILEIRA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a linguística da Língua de Sinais Brasileira;

• identificar ambiguidade e polissemia na língua de sinais;

• conhecer os parâmetros que formam os sinais;

• reconhecer o uso destes parâmetros na Língua de Sinais Brasileira;

• compreender Semântica e Pragmática da Língua de Sinais Brasileira.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS DE SINAIS

TÓPICO 2 – O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

TÓPICO 3 – SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA DAS LÍNGUAS NATURAIS

103
104
UNIDADE 3
TÓPICO 1

A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS
DE SINAIS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, falaremos das línguas de sinais, seus estudos e pesquisas
dentro da área da linguística, sabemos que as línguas são constituídas e alteradas
no relacionamento entre os homens. É porque existem outros humanos além de
mim é que existe comunicação. Foi com esse propósito de interação e compreensão
(convivência em grupo) que as línguas surgiram – com a língua de sinais não
poderia ser diferente.

Vimos também nas outras unidades que a linguística tem várias áreas de
estudos, vamos agora estudar esta área, mas voltada para as línguas de sinais, e
também para a Língua de Sinais Brasileira – Libras, sabemos que quando se trata
da Libras os estudos são recentes e poucas pesquisas encontramos, porém vamos
trazer para você, acadêmico, o que temos de mais atual nas pesquisas desta área.

UNI

Ao longo desta unidade, você irá se deparar com algumas aplicações de um


código chamado QR Code. Não conhece?
Ele foi desenvolvido no Japão, especialmente para o uso da indústria automobilística. É um
tipo de código bidimensional, trata-se de uma alteração do clássico código de barras. Cada
vez mais é utilizado em diversas partes do mundo, incluído em campanhas publicitárias e em
cartões. Você pode conhecer mais em:
<https://tecnologia.ig.com.br/dicas/2013-03-04/qr-code-o-que-e-e-como-usar.html>.
A seguir veja um exemplo para você poder reconhecer. Já se deparou com algum por aí?

105
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

2 LIBRAS E OS ESTUDOS LINGUÍSTICOS


Comunicar-se é uma necessidade do homem; há algum tempo, a forma
gestual vem despertando interesse. Muitos estudiosos e linguistas estão tendo
muitas discussões a respeito da Língua de Sinais, e pesquisas novas motivam
estes pesquisadores fazendo com que descobertas sobre a língua de sinais nos
sejam apresentadas.

Como já vimos nas unidades anteriores deste livro didático, de acordo


com Quadros e Karnopp (2004, p. 15) “a linguística é o estudo científico das
línguas naturais e humanas” como em outras línguas, a língua de sinais também
está se tornando um objeto de estudo mais claro.

Para Quadros (2004, p. 47) as línguas “são denominadas línguas de


modalidade gestual-visual (ou espaço-visual), porque as informações linguísticas
são recebidas pelos olhos e produzida pelas mãos”.

ATENCAO

A partir de Quadros e Karnopp (2004), podemos perceber que ao usar as


nomenclaturas, gestual-visual (ou espaço-visual) tratamos de uma modalidade das línguas
de sinais. Porém, quando usamos a nomenclatura visuoespacial, tratamos de um sistema.
Então Libras (sistema) é uma Língua visuoespacial e não oral-auditiva.

As pesquisas mostram, que as línguas de sinais,

contêm os mesmos princípios subjacentes de construção que as


línguas orais, no sentido de que tem um léxico, isto é, um conjunto de
símbolos convencionais, e uma gramática, um sistema de regras que
regem o uso desses símbolos (QUADROS, 2004, p. 48).

Há algo que as línguas de sinais se diferem das línguas orais. Há uma


estrutura “simultânea de organização dos elementos das línguas de sinais”
(QUADROS, 2004, p. 48). As pesquisas nos mostram que a LIBRAS, assim como
todas as línguas, contém os seguintes níveis linguísticos: fonológico, morfológico,
sintático e semântico, tornando a LIBRAS uma língua completa.

UNI

Significado de simultâneo
Adjetivo: que se realiza ao mesmo tempo; aproximadamente ao mesmo tempo que alguma
outra coisa; concomitante: procedimentos simultâneos.

106
TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

3 FONÉTICA E FONOLOGIA DA LÍNGUA DE SINAIS


Para muitos, trata-se de uma grande surpresa que existam estudos
fonéticos e fonológicos na língua de sinais. Sim, há esse estudo. No que ele
consiste? “A fonética e a fonologia das línguas de sinais são áreas da linguística
que estudam as unidades mínimas dos sinais e que não apresentam significados
isoladamente” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 81).

Neste momento, vamos observar os estudos da fonética e da fonologia em


relação à LIBRAS.

A fonologia e fonética da Língua de Sinais é composta pelos seguintes


parâmetros:

a) Configuração de Mãos (CM).


b) Ponto de Articulação (PA).
c) Movimento (M).
d) Orientação/Direção.
e) Expressão fácil e/ou corporal.

A seguir, explicaremos cada um desses parâmetros (FELIPE, 2001).

a) A configuração de mãos

A configuração de mão (CM) é forma adquirida pelas mãos; esta pode ser
a datilologia – constituída pelo alfabeto manual, ou outras formas. Essas podem
ser elaboradas pela mão predominante, ou, ainda, pelas duas mãos do emissor
(GRASSI; ZANONI; VALENTIN, 2011).

Segue uma imagem com o objetivo de ilustrar as configurações de mãos (CM).

FIGURA 1 – CONFIGURAÇÃO DAS MÃOS

107
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-AclfqbfH4HY/Vknm50iH-bI/AAAAAAAAHUc/xMc7I6SAmOY/
s640/co3.jpg>. Acesso em: 8 jul. 2019.

b) Ponto de articulação

Podemos definir o ponto de articulação (PA) como “o lugar onde incide


a mão predominante configurada, podendo esta tocar alguma parte do corpo ou
estar em um espaço neutro vertical (do meio do corpo até a cabeça) e horizontal
na frente do emissor” (FELIPE, 2001, p. 20-21).

É possível citar um exemplo. No caso dos sinais desistir e discutir – ambos
são feitos no espaço neutro, ou seja, são realizados sem contato com alguma parte
do corpo do emissor. Ao compararmos esse exemplo com os sinais entender e
desculpar, vemos uma diferença. Entender é realizado na região da cabeça e
desculpar é realizado com contato no queixo, portanto, ambos os sinais tocam
alguma parte do corpo do emissor. Veja os sinais:

FIGURA 2 - SINAIS NO ESPAÇO NEUTRO

Desistir Discutir

108
TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

Entender Desculpa

FONTE: Dados institucionais

c) Movimento

Ao estudar a língua de sinais, podemos observar que alguns sinais podem


ter movimentos (M) ou não (FELIPE, 2001). Por exemplo, os sinais desenhar e
desenvolver apresentam movimentos. Contudo, o sinal em pé, não apresenta
movimento, conforme segue:

FIGURA 3 - SINAIS COM MOVIMENTO

Desenhar Ficar em pé Desenvolver


FONTE: Dados institucionais

d) Orientação ou direção

Os parâmetros necessitam de uma orientação ou direção (FELIPE, 2001).


Neste item, podemos observar os sinais: ir, avisar e me avisar – esses são exemplos
de sinais que se opõem em relação à direcionalidade.

109
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

FIGURA 4 - ORIENTAÇÃO/DIREÇÃO

Ir Avisar Avisar Me
FONTE: Dados institucionais

e) Expressão facial ou corporal

Compreende-se que a expressão facial/corporal é um dos elementos mais


importantes no ato da comunicação – isso em algumas línguas, não somente na
língua de sinais. Em libras, em especial, trata-se de um mecanismo facilitador; ele
contribui com a compreensão de um determinado sinal ou enunciado.

110
TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

A expressão facial funciona como uma forma de entonação Língua de Sinais.


Nas palavras de Quadros (2004, p. 60), “as expressões não manuais (movimento da
face, dos olhos, da cabeça ou tronco) prestam-se a dois papéis na língua de sinais: a
marcação de construção sintática e a diferenciação de itens lexicais”.

Veja alguns exemplos de expressões faciais.

FIGURA 5 - EXPRESSÕES FACIAIS

Triste Feliz

Preocupada Assustada

Medo Bravo

Nojo Neutro
FONTE: Dados institucionais

111
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 82),

Pode-se deste modo, considerar a fonética como área que investiga o


aspecto material das unidades mínimas das línguas de sinais, ou seja,
as bases visuais relacionadas com a percepção e as bases fisiológicas
relacionadas com a produção. A fonética estuda as unidades
mínimas dos sinais independentemente da função que eles possam
desempenhar numa língua determinada.

Cada uma dessas unidades merece ser observada com destreza ao


se estudar a língua de sinais. Cada uma possui características próprias, como
foi apresentado anteriormente. Ignorar essas nuances poderá produzir
alguma sentença não desejada, produzindo duplo sentido. Certamente nossos
interlocutores terão grande dificuldade de compreender a mensagem ou, ainda,
entenderão algo completamente inesperado por nós.

E quanto à fonologia? Nas Línguas de Sinais a fonologia é um ramo da
linguística que tem por objetivo estruturar e organizar os constituintes fonológicos.
A fonologia, em relação às línguas de sinais, tem como objetivo e tarefa determinar
e descobrir quais são as unidades mínimas que formam os sinais.

Tem ainda uma segunda tarefa que é de estabelecer quais são os padrões
possíveis que fazem a combinação entre estas unidades; além do que é possível
no ambiente fonológico. Quadros e Karnopp (2004, p. 84) esclarecem este aspecto:

A fonologia estuda configuração de mão, locação, movimento,


expressão não manual e orientação de mão segundo a função que
eles cumprem numa língua específica, as unidades relacionadas às
diferenças de significado e a sua inter-relação significativa para formar
sílabas, morfemas e sinais.

Aqui vemos o estudo da relação dessas unidades (significados). A


fonologia estuda as diferenças percebidas e produzidas, relacionadas, ainda, às
diferenças de significado, como nos sinais a seguir, que podem ser observados e
que se opõem quanto à configuração de mão:

FIGURA 6 - PEDRA/QUEIJO

Pedra

112
TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

Queijo
FONTE: Dados institucionais

FIGURA 7 - FAMÍLIA/REUNIÃO

Família

Reunião
FONTE: Dados institucionais

A seguir, podem ser observados sinais que se opõem quanto ao movimento.

113
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

FIGURA 8 - OPOSIÇÃO DO MOVIMENTO

Trabalhar

Vídeo

Irmão

Igual

FONTE: Dados institucionais

114
TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

Aqui podemos observar sinais que se opõem quanto à locação.

FIGURA 9 -SE OPÕEM A LOCAÇÃO

Sábado/Laranja Aprender

Papai Verde

FONTE: Dados institucionais

A fonologia está relacionada à parte da teoria geral da linguagem humana,


esta teoria investiga as propriedades do sistema visuoespacial de todas as línguas
de sinais. Sabemos que as unidades mínimas da fonologia são os fonemas que
são representados entre barras inclinadas //, também nas línguas de sinais.
Ao analisar as línguas individualmente, veremos que cada uma delas possui
unidades mínimas que, quando organizadas, produzem os sentidos pretendidos.

Em libras não seria diferente, essas unidades mínimas determinam a


diferença de significado de um sinal em relação a um outro sinal. Por exemplo,
o sinal PEDRA diferencia-se de QUEIJO pelo uso de diferentes configurações de
mão. Vale observar que a locação, movimento, orientação de mão e expressões
não manuais permanecem inalteradas.

115
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

Esses tipos de unidades como /L/ e /A/, que permitem diferenciar


significados, denominam-se fonemas. Assim /L/ e /A/ são fonemas da língua de
sinais brasileira.

FIGURA 10 - PEDRA/QUEIJO

Pedra

Queijo
FONTE: Dados institucionais

Para Quadros e Karnopp (2004, p. 84): “A fonética e a fonologia são áreas


diferentes que operam com seus próprios métodos; porém, elas se condicionam
mutualmente em seu valor e desenvolvimento”. Podemos ver que são áreas
complementares, que se relacionam ao realizar os estudos das línguas de sinais.

Após abordarmos os conceitos sobre fonética e fonologia, surge uma nova


questão: o que estuda a morfologia das línguas de sinais?

4 MORFOLOGIA DAS LÍNGUAS DE SINAIS


Ao abordar este tema, cabe inicialmente apresentar alguns questionamentos
gerais feitos ao estudo da morfologia da língua de sinais brasileira. Segue um
quadro de alguns tópicos a serem analisados em se tratando da morfologia.

116
TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

QUADRO 1 – PROBLEMATIZAÇÕES ACERCA DA MORFOLOGIA

a) Tradição decorrente do estudo das línguas orais – a primeira dificuldade ao


se tentar descrever e explicar a morfologia da língua de sinais brasileira é
o peso da tradição, que dificulta a revisão e a adoção de novas posições. A
questão é: realizar um estudo da morfologia a partir de análise da morfologia
das línguas de sinais? Ao optar – se pela primeira, pode-se desconsiderar a
especificidade das línguas de sinais, quanto a sua modalidade de percepção
e produção. Ao optar-se pela segunda, depara-se com uma bibliografia
reduzida e limitada, principalmente ao estudo da língua de sinais americana.
Além disso, na língua de sinais brasileira, raros são os estudos linguísticos
realizados nesta área.
b) Omissão – o fator preocupante não é, na verdade, aquilo que é investigado
acerca da morfologia, mas aquilo que não há condições de investigar pela
abrangência de aspectos a serem analisados e pela carência de evidências
empíricas teóricas.
c) Pesquisas – a pesquisa linguística não pode ser restringida ou controlada
por questões relacionadas com o ensino da língua. A preocupação é com a
descrição e explicação de fatos linguísticos acerca da morfologia da língua de
sinais brasileira. O cunho é, portanto, mais linguístico do que pedagógico.
d) Nomenclatura – as gramáticas das línguas orais usam determinada
nomenclatura nas abordagens apresentadas. A preocupação está centrada na
definição da nomenclatura utilizada e na busca por universos linguísticos
compartilhados entre língua de sinais e línguas orais, sem querer impor uma
camisa de força a todos os dados e evidências obtidos através da investigação
da língua de sinais brasileira.
FONTE: Quadros e Karnopp (2004, p. 86) (grifos no original)

Tais questionamentos são úteis para a contextualização dos estudos sobre


a morfologia da Língua de Sinais Brasileira. Segundo Quadros e Karnopp (2004,
p. 86) será apresentada a definição de morfologia e de morfema.

Morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais,


assim como das regras que determinam a formação das palavras. A
palavra morfema deriva do grego morphé, que significa forma. Os
morfemas são as unidades mínimas de significado.

Quando conhecemos uma língua, passamos a conhecer milhares de


palavras. As pessoas que falam uma língua de sinais conseguem associar o sinal
com os seus significados, conseguindo fazer correspondência entre palavras e
sinais. As pessoas surdas, usuárias de uma determinada língua de sinais, sabem,
por terem um conhecimento fonológico, se uma cadeia de CM, M e L faz, de fato,
parte da sua língua.

117
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

UNI

Quando nos referimos a uma “Cadeia”, estamos falando do grupo dos parâmetros
de LIBRAS, que são eles: Configuração de Mão (CM), Locação (L), Ponto de Articulação (PA)
e Movimento (M).

Vamos entender isso melhor! Se não conhecem o significado do seguinte


sinal (a seguir), talvez pudessem julgar que este sinal não é conhecido ou que não
pertence a sua língua.

FIGURA 11 - FILOSOFIA

Filosofia
FONTE: Dados institucionais

Quadros e Karnopp (2004, p. 87) afirmam que

Assim como as palavras em todas as línguas humanas, mas diferentemente


dos gestos, os sinais pertencem a categorias lexicais ou à classe de palavras
tais como nome, verbo, adjetivo, adverbio etc. As línguas de sinas têm
um léxico e um sistema de criação de novos sinais em que as unidades
mínimas com significados (morfemas) são combinadas.

Por essa razão, faz-se necessário estudar a morfologia de uma língua, no


caso, das línguas de sinais. A combinação das unidades mínimas de significados,
os morfemas, é o que possibilita a construção dos sentidos pretendidos.

118
TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

5 SINTAXE DAS LÍNGUAS DE SINAIS


Temos também outro nível linguístico que é o sintático. A língua de sinais
brasileira, usada pela comunidade surda brasileira – esta que vive ao longo de
toda a extensão do território brasileiro – é organizada de forma tão complexa
quanto às línguas orais auditivas. Analisar alguns aspectos da sintaxe de uma
língua de sinais requer “enxergar” esse sistema que é visuoespacial e não oral
auditivo. Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 20),

Sintaxe é o estudo da estrutura da frase, ou seja, da combinação das


unidades significativas da frase. A sintaxe trata das funções das formas
e das partes do discurso. É a parte da linguística que estuda a estrutura
interna das sentenças e a relação interna entre as suas partes.

A organização espacial da língua de sinais apresenta possibilidades de


estabelecimento de relações gramaticais no espaço, através de diferentes formas.
No espaço em que são realizados os sinais, o estabelecimento nominal e o uso do
sistema pronominal são de fundamental importância, para tais relações sintáticas.
Qualquer que seja a referência usada no ato do discurso requer o estabelecimento
de um local no espaço de sinalização (espaço definido na frente do corpo do
sinalizador), observando várias restrições. Esse local pode ser marcado através
de vários mecanismos espaciais, apresentados a seguir.

ATENCAO

Antes de adentrarmos em exemplos, alguns conceitos são necessários.


Vamos a eles:

Deixis  – palavra grega que significa ‘apontar’ ou ‘indicar’ –


descrever uma forma particular de estabelecer nominais no
espaço que são utilizados pelos verbos com concordância como
parte de sua flexão. A função dêitica em línguas de sinais, como
na língua de sinais brasileira e na ASL, é marcada através da
apontação propriamente dita. Os referentes são introduzidos
no espaço à frente do sinalizador, através da apontação em
diferentes locais. As formas verbais para pessoa são estabelecidas
através do início e fim do movimento e da direção do verbo,
incorporando estes pontos previamente indicados no espaço
para determinar referentes (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 112).

Observação sobre ASL: corresponde à língua de sinais americana – ela é considerada a língua
de sinais dominante. Amplamente usada na comunidade surda nos Estados Unidos da América,
nos lugares de expressão anglófona do Canadá e, ainda, em algumas partes do México.

119
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

Quanto à apontação, vamos observar mais de perto.


Possíveis pontos estabelecidos no espaço – veja o caso da 1ª, 2ª e 3ª pessoa
do singular e 1ª do plural.

FIGURA 12 - EU/VOCÊ/NÓS/ELA

Eu Você

Nós Ela

FONTE: Dados institucionais

Agora sim, depois de termos observado do que se trata o termo


“apontação”, vamos a alguns exemplos adaptados de Quadros e Karnopp (2004):

a) Fazer o sinal em um local particular (se a forma do sinal permitir por exemplo,
o sinal de CASA pode ser acompanhado do local estabelecido para o referente).

FIGURA 13 - CASA

Casa (do João) Casa (do Pedro)


FONTE: Dados institucionais

120
TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

b) Vamos ver outro caso – direcionar a cabeça e os olhos (e talvez o corpo) em


direção a uma localização particular ao mesmo tempo com o sinal de um
substantivo ou com apontação para baixo.

FIGURA 14 - DIREÇÃO/CABEÇA/OLHOS

Casa (do João) IX (casa)


FONTE: Dados institucionais

c) Usar a apontação ostensiva antes do sinal de um referente específico (por


exemplo, apontar para o ponto “a” associando esta apontação com o sinal
CASA; assim o ponto “a” passa a referir CASA).

FIGURA 15 - DIREÇÃO/CABEÇA/OLHOS

Casa IX
FONTE: Dados institucionais

121
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

d) Usar um pronome (a apontação ostensiva) numa localização particular quando


a referência for óbvia.

FIGURA 16 - APONTAÇÃO OTENSIVA

IX (casa) NOVA

FONTE: Dados institucionais

e) Usar um classificador (que representa aquele referente) em uma localização


particular.

FIGURA 17 - CARRO

CARRO
(carro passou pelo outro)
FONTE: Dados institucionais

f) Usar um verbo direcional (com concordância) incorporando os referentes


previamente introduzidos no espaço.

122
TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

FIGURA 18 - IR

(eu) IR (casa)

FONTE: Dados institucionais

Os verbos direcionais são também chamados de verbos com concordância,


na Língua de Sinais Brasileira, esses verbos têm que concordar com o sujeito e ou
com o objeto indireto / direto da frase. Como se pode observar nas fotos a seguir,
há uma relação entre os pontos estabelecidos no espaço e os argumentos que estão
incorporados no verbo. Verifica-se que a direção do olhar também acompanha o
movimento. Esse é um tipo de flexão própria das línguas de sinais que aparecem
com essa classe de verbos.

FIGURA 19 - VERBOS DIRECIONAIS

(el@)<OLHARb>(el@) (el@)<aAJUDARb>do(el@)

FONTE: Dados institucionais

123
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

FIGURA 20 - ENTREGAR

(el@)<aENTREGARb>do(el@)
FONTE: Dados institucionais

Na Língua de Sinais Brasileira, os sinalizadores estabelecem os referentes


associados à localização no espaço, sendo que tais referentes podem estar fisicamente
presentes ou não. Quadros e Karnopp (2004, p. 130) compreendem que:

Depois de serem introduzidos no espaço, os pontos específicos podem


ser referidos posteriormente no discurso. Quando os referentes estão
presentes, os pontos no espaço são estabelecidos baseados na posição
real ocupada pelo referente. Por exemplo o sinalizador aponta para si
indicando a primeira pessoa, para o interlocutor, indicando a segunda
pessoa e para os outros indicando a terceira pessoa.

Além desses casos citados anteriormente, há outro: quando os referentes


estão ausentes da situação de enunciação. Nessa situação são estabelecidos pontos
abstratos no espaço. Seguem imagens que deixarão mais clara tal explicação.
Formas pronominais usadas com referentes presentes.

124
TÓPICO 1 | A LINGUÍSTICA E AS LÍNGUAS

FIGURA 21 - FORMAS PRONOMINAIS

Sinalizador

Interlocutor

Sinalizador

Interlocutor

Seguem formas pronominais usadas com referentes ausentes.

Sinalizador

João
Receptor
FONTE: Dados institucionais

125
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• As línguas “são denominadas línguas de modalidade gestual-visual (ou


espaço-visual) porque as informações linguísticas são recebidas pelos olhos e
produzidas pelas mãos”.

• As línguas de sinais contêm os mesmos princípios subjacentes de construção


que as línguas orais, no sentido de que têm um léxico, isto é, um conjunto de
símbolos convencionais, e uma gramática, um sistema de regras que regem o
uso desses símbolos.

• A fonética e a fonologia das línguas de sinais são áreas da linguística que


estudam as unidades mínimas dos sinais.

• A fonética da Língua de Sinais é constituída pelos seguintes parâmetros que


formam os sinais: Configuração de Mãos (CM), Ponto de Articulação (PA),
Movimento (M), Expressão fácil e/ou corporal, Orientação/Direção.

• A configuração de mão (CM) é a forma das mãos.

• O ponto de articulação (PA) é o local em que incide a mão que está predominando;
está pode incluir algum toque em alguma parte do corpo ou, ainda, ocupar
algum espaço neutro.

• Movimentos, em Libras, os sinais podem ter movimentos (M) ou não.

• Orientação ou direção, todos os parâmetros precisam de uma orientação ou


direção.

• A expressão facial ou corporal é um dos elementos mais importantes no ato da


comunicação, pois pode ser um mecanismo facilitador para a compreensão de
um determinado enunciado e para o entendimento real do sinal. Além disso, é
através da expressão facial que mostramos a entonação na Língua de Sinais.

• A fonologia das línguas de sinais é um ramo da linguística que objetiva


identificar a estrutura e a organização dos constituintes fonológicos, propondo
modelos descritivos e explanatórios.

• A primeira tarefa da fonologia para as línguas de sinais é determinar quais são


as unidades mínimas que formam os sinais.

126
• A segunda tarefa é estabelecer quais são os padrões possíveis de combinação
entre essas unidades e as variações permitidas/possíveis no ambiente
fonológico.

• Cada língua apresenta um número determinado de unidades mínimas cuja


função é determinar a diferença de significado de um sinal em relação a um
outro sinal.

• A morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais, assim


como das regras que determinam a formação das palavras.

• A sintaxe é o estudo da estrutura da frase, ou seja, da combinação das unidades


significativas da frase.

• A sintaxe trata das funções das formas e das partes do discurso.

• A sintaxe é a parte da linguística que estuda a estrutura interna das sentenças


e a relação interna entre as suas partes.

• A organização espacial da língua de sinais apresenta possibilidades de


estabelecimento de relações gramaticais no espaço, através de diferentes
formas.

• Os verbos direcionais são também chamados de verbos com concordância, que


na língua de sinais brasileira, esses verbos têm que concordar com o sujeito e
ou com o objeto indireto / direto da frase.

• Na língua de sinais brasileira, os sinalizadores estabelecem os referentes


associados à localização no espaço, sendo que tais referentes podem estar
fisicamente presentes ou não.

• Depois de serem introduzidos no espaço, os pontos específicos podem ser


referidos posteriormente no discurso.

• Quando os referentes estão presentes, os pontos no espaço são estabelecidos


baseados na posição real ocupada pelo referente.

• Foi observado o exemplo do sinalizador que aponta para si, indicando a


primeira pessoa, para o interlocutor, indicando a segunda pessoa e para os
outros indicando a terceira pessoa.

• Quando os referentes estão ausentes da situação de enunciação, são


estabelecidos pontos abstratos no espaço.

127
AUTOATIVIDADE

1 Muitos estudiosos e linguistas estão fazendo muitas discussões


a respeito da Língua de Sinais e pesquisas novas motivam estes
pesquisadores, fazendo com que descobertas sobre a língua
de sinais nos sejam apresentadas. Com base nestas pesquisas,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) Como em outras línguas, a língua de sinais também está se tornando


compreendida e estudada.
( ) São denominadas línguas de modalidade gestual-visual (ou espaço-
visual), porque as informações linguísticas são recebidas pelos olhos e
produzidas pelas mãos.
( ) Contém os mesmos princípios de construção que as línguas orais, no sentido
de que tem um léxico, isto é, um conjunto de símbolos convencionais, e
uma gramática, um sistema de regras que regem o uso desses símbolos.
( ) A estrutura simultânea de organização dos elementos das línguas de
sinais é diferente das línguas orais.
( ) Assim como todas as línguas, contém os seguintes níveis linguísticos:
fonológico, morfológico, sintático e semântico, tornando a LIBRAS uma
língua completa.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – V – F – V.
b) ( ) F – F – V – V – F.
c) ( ) V – V – V – V – V.
d) ( ) V – F – V – V – V.

2 A LIBRAS, como qualquer língua natural, possui os seguintes


níveis linguísticos: fonológico, morfológico, sintático, semântico
e pragmático. Então, podemos afirmar que a LIBRAS é sim
uma língua completa. Sobre os níveis linguísticos da LIBRAS,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) A Morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais,


assim como das regras que determinam a formação das palavras.
( ) A Sintaxe é o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais, assim
como das regras que determinam a formação das palavras.
( ) O objetivo da fonologia é identificar a estrutura e a organização dos
constituintes fonológicos, propondo modelos descritivos e explanatórios.
( ) A fonética da Língua de Sinais é constituída pelos parâmetros: Configuração
de Mãos (CM), Ponto de Articulação (PA), Movimento (M), Expressão fácil
e/ou corporal, Orientação/Direção.
( ) Sintaxe é o estudo da estrutura da frase, ou seja, da combinação das
unidades significativas da frase.
128
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – F – V.
b) ( ) F – F – V – V – F.
c) ( ) F – V – V – F – F.
d) ( ) V – F – V – V – V.

3 Os estudos fonéticos e fonológicos na língua de sinais estudam as


unidades mínimas dos sinais e que não apresentam significados
isoladamente. A fonologia e fonética da Língua de Sinais é compos-
ta pelos parâmetros: Configuração de Mãos (CM); Ponto de Articu-
lação (PA); Movimento (M); Orientação/Direção e Expressão fácil e/ou corporal.

Sobre os parâmetros da LIBRAS, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A configuração de mão (CM) – é o lugar em que incide a mão


predominante configurada. Movimento (M) – os sinais podem ter
movimentos (M) ou não.
b) ( ) O ponto de articulação (PA) – é a forma das mãos ao executar o sinal.
c) ( ) A expressão facial ou corporal pode ser um mecanismo facilitador para
a compreensão de um determinado enunciado e para o entendimento
real do sinal. Através da expressão facial ou corporal, mostramos a
entonação na Língua de Sinais.
d) ( ) Alguns parâmetros não precisam de uma orientação ou direção.

129
130
UNIDADE 3
TÓPICO 2

O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA


DE SINAIS BRASILEIRA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico observaremos as peculiaridades do sentido dos sinais na
Língua brasileira de sinais – Libras. Diante destas peculiaridades, é interessante
que consideremos a parte da Semântica que estuda os significados das palavras
e, também, dos sinais, pois a partir deste conhecimento este tópico e os demais
serão construídos.

É relevante, ainda, o estudo do significado das palavras na Língua
Portuguesa, pois o entendimento destes significados na língua Portuguesa nos
levará a uma compreensão mais ampla do significado dos sinais em Libras.

Não podemos estudar de forma separada o Português da Libras, pois


ambas são línguas naturais, com gramática própria. O que vai diferenciar a
gramática de cada língua é a construção destes significados.

Assim sendo, a língua é um sistema padronizado de sinais/sons


arbitrários, caracterizados pela estrutura dependente, criatividade,
deslocamento, dualidade e transmissão cultural. Isso é verdade para
todas as línguas no mundo, que são reconhecidamente semelhantes
em seus traços principais (QUADROS; KARNOPP (2004, p. 28).

Ao estudar uma língua, não há problema em utilizar outra para servir de


apoio, suporte, meio de esclarecimento. Durante muito tempo, em se tratando
da aprendizagem de línguas, muitos estudiosos consideravam proibido o uso
da língua materna, ou seja, a primeira língua adquirida. Atualmente, isso tem
mudado – uma pode servir de auxílio na compreensão da segunda língua. Em
LIBRAS não é diferente.

2 O SENTIDO DAS PALAVRAS


Compreende-se que é natural do ser humano construir suas próprias palavras,
mas desde que sigamos algumas regras básicas. Ou seja, esse construir nos remete a
(res)significar conceitos e usos (FERRAREZI JR., 2008). Tal ideia vai ao encontro dos
estudos da semântica, da significação das palavras – mas como já bastante frisado na
Unidade 2, sempre faz-se necessário o estudo dentro de um dado contexto, em uma
dada situação. Por isso, é interessante considerar a parte da Semântica que estuda a
significação das palavras, pois, é a partir dela que este tópico será produzido.

131
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

O quadro a seguir vai retomar/reforçar alguns itens já discutidos na


unidade anterior – necessários para a compreensão do que virá adiante. Além
disso, há alguns itens que vão além em alguns aspectos.

QUADRO 2 – SÍNTESE PARA RELEMBRAR E IR ALÉM

Sinonímia
Sinonímia: relação entre duas ou mais palavras que apresentam significados
semelhantes/próximos, ou seja, os sinônimos:
Exemplos:
• Cômico – engraçado.
• Débil – fraco, frágil.
• Distante – afastado, remoto.

Antonímia
Antonímia: relação entre duas palavras de significados opostos, diferentes,
contrários, isto é, os antônimos:
Exemplos:
• Economizar – gastar.
• Bem – mal.
• Bom – ruim.

Homonímia
Homonímia: é a relação entre duas ou mais palavras que, apesar de possuírem
significados diferentes, possuem a mesma estrutura fonológica (pronúncia) ou
a mesma escrita. Elas podem ser divididas em:

a) Homógrafas: palavras iguais na escrita e diferentes na pronúncia.


Exemplos:
• Gosto (substantivo) – gosto (1ª pessoa do singular do presente indicativo do
verbo gostar).
• Conserto (substantivo) – conserto (1ª pessoa do singular do presente
indicativo do verbo conserta.

A pronúncia, nesses exemplos, muda. A sílaba tônica muda. Veja:


• O conserto (substantivo) do carro saiu muito caro.
• Eu conserto (verbo consertar) a máquina de lavar sempre no mesmo lugar.

Percebe a mudança da pronúncia/ sílaba tônica?

b) Homófonas: palavras iguais na pronúncia e diferentes na escrita.

Exemplos:
• Cela (substantivo) / sela (verbo).
• Cessão (substantivo) / sessão (substantivo).

132
TÓPICO 2 | O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

A pronúncia é a mesma, a escrita é diferente (o sentido também).

c) Perfeitas: palavras iguais na pronúncia e na escrita.

Exemplos:
• Cura (verbo) – cura (substantivo).
• Verão (verbo) – verão (substantivos).
• Cedo (verbo) – cedo (adverbio).

Mesma escrita e mesma pronúncia, viu?

Além das homônimas, temos as parônimas.

Paronímia
Paronímia: é a relação que se estabelece entre duas ou mais palavras que
possuem significados deferentes, mas são muito parecidas na pronúncia e na
escrita, são os parônimos.

Exemplos:
• Cavaleiro / cavalheiro.
• Absolver/ absorver.

Polissemia
Foi bastante abordada na unidade anterior; é a propriedade que uma mesma
palavra tem de apresentar vários significados.
Exemplos:
• Ele ocupa um alto posto na empresa.
• Abasteci meu carro no posto da esquina.

FONTE: Adaptado de Lima e Cruz (2014)

3 SENTIDO DOS SINAIS


A língua de sinais e as línguas orais possuem diferenças em alguns
sentidos. Uma das características das línguas de sinais é quanto ao sistema
visuoespacial (QUADROS; KARNOPP, 2014) e pela sua simultaneidade dos
elementos das línguas de sinais.

Ou seja, pela modalidade de percepção e produção, em que os sinais


são percebidos pela visão e produzido pelas mãos. Apesar de as
línguas de sinais terem essas características que tornam uma língua
como qualquer outra, elas apresentam particularidades em relação às
línguas orais, por serem gestuais-visuais (LIMA; CRUZ, 2014, s.p.).

Todas as línguas possuem semelhanças e diferenças, uma em relação


às outras. As línguas de sinais possuem características próprias, possuindo
particularidades em relação às línguas orais, por serem gestuais-visuais.

133
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

Além disso, há uma estrutura sublexical; esta é constituída a partir de


parâmetros (BRITO, 1995).

UNI

A estrutura sublexical dos sinais é constituída a partir de suas unidades mínimas


distintivas. Tais unidades distintivas também já foram exploradas anteriormente.

Como citado anteriormente, há três parâmetros:

• Configuração de mão (CM).


• Ponto de articulação (PA).
• Movimento (M).

Caso tenha dúvidas, faz-se relevante retornar aos conceitos já


discriminados. Vamos adiante, eis alguns casos!

FIGURA 1 - CONFIGURAÇÕES DE MÃO DESCULPA/SURDO/NÃO PODE

Desculpa Surdo Não pode

FONTE: Dados institucionais

134
TÓPICO 2 | O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

FIGURA 2 - SINAIS DESCULPA/SURDO/NÃO PODE

Desculpa Surdo Não pode

FONTE: Dados institucionais

FIGURA 3 - PARAQUEDAS/RESPIRAR

Paraquedas

135
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

Respirar
FONTE: Dados institucionais

Temos ainda da orientação de mão (O), que é quando os sinais podem ter
uma orientação/direção da palma da mão diferente para cada sinal e a inversão
desta pode significar ideia de oposição, concordância número-pessoal. Há ainda
as Expressões Não Manuais (ENM), que são as Expressões Faciais e/ou Corporais.

Com relação a estes parâmetros, verificam-se: alguns sinais podem


apresentar CM, M, PA, O e ENM, mas a distinção ocorrerá em um ponto específico
que proporcionará a diferenciação dos significados. Assim, saber se expressar em
Libras é saber combinar esses parâmetros de tal maneira que formem sinais em
uma estrutura gramatical complexa, assim como ocorre em qualquer outra língua
(QUADROS; KARNOPP, 2004).

Assim, o significado dos sinais em Libras, por exemplo, também leva em
consideração:

3.1 POLISSEMIA: SIGNIFICANTES IGUAIS X SIGNIFICADOS


DIFERENTES
As expressões polissêmicas são resultado de processos de extensão de
significados que só podem ser explicados dentro de um contexto (ALMEIDA,
2009). Assim, esclarecemos que, nas línguas orais, a origem é da mesma palavra.
Todavia, no caso das línguas de sinais a origem é do mesmo sinal. Observe as
imagens a seguir:

136
TÓPICO 2 | O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

FIGURA 4 - LARANJA/SÁBADO

Laranja/Sábado
FONTE: adaptado de Brito (1995)

Em português, uma mesma palavra poderá ter vários sentidos. Em Libras,


um mesmo sinal pode ter mais que um sentido.

FIGURA 5 - SEXTA-FEIRA/PEIXE/COMER/VIAJAR

Sexta-feira Peixe

*Comer *Viajar
*Comer e viajar não são POLISSEMIA.

FONTE: Dados institucionais

137
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

O sinal acima pode obter o sentido de PEIXE, em LIBRAS, como pode


também significar SEXTA – FEIRA. Por isso, somente o contexto será o responsável
em desfazer a ambiguidade.

Mostramos no exemplo as seguintes frases:

a) Sexta-feira eu vou viajar.

b) Eu gosto de comer peixe.

FIGURA 6 - HOJE/AGORA/PRESENTE/AULA/ALUNO

Hoje/Agora/Presente *Aula *Aluno


*Aula e aluno não são POLISSEMIA.

FONTE: Dados institucionais

a) Hoje eu estou cansada.

b) Agora eu preciso ir.

c) O aluno está presente na aula.

138
TÓPICO 2 | O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

A polissemia é o contrário de sinonímia. Há polissemia quando uma só


palavra (ou sintagma ou lexia) está carregado de vários sentidos.

3.2 HOMONÍMIA: SIGNIFICANTES SEMELHANTES X


SIGNIFICADOS DIFERENTES
Aqui os significantes são muito semelhantes – olhando apressadamente,
diríamos que são iguais – e os significados são diferentes. Sobre os significantes,
podemos observar que o no sinal a (CM) é igual, o (PA) é igual, porém o (M) é
diferente – o que produz um significado diferente.

FIGURA 7 - VERDE/FRIO/COR/SENTIR

Verde Frio *Cor *Sentir


*Cor e Sentir não são HOMONÍMIA.

FONTE: Dados institucionais

a) A professora gosta da cor verde.

b) A professora sente muito frio.

A polissêmica e a homonímia, em alguns casos, torna-se complexo fazer


a distinção de uma ou outra. A tarefa de diferenciar uma e outra é bastante
complexa. Se uma dada palavra possui vários significados, não podemos afirmar,
de fato, que se trata de um exemplo de polissemia (uma palavra com vários
significados), ou de homonímia (várias palavras com o mesmo significado). Tal
compreensão vai ao encontro de Lima e Cruz (2004), apoiando-se em estudos de
outros autores, também compreendem que essa atividade de diferenciar uma e
outra é uma tarefa complexa.

139
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

Podemos fazer uma relação deste questionamento mostrando o exemplo


já citado anteriormente: (VERDE) e (FRIO). Percebemos que o sinal para
representar essas duas palavras é o mesmo, exceto pelo Movimento de Mãos (M)
e pela expressão facial.

Se observarmos pela ótica da polissemia, temos significados diferentes; ao


olharmos tendo em vista o conceito de homonímia, teremos formas diferentes. Se
considerarmos que tanto a polissemia quanto a homonímia pertencem ao caso de
significação múltiplas, um significante com vários significados, como afirmado
anteriormente, é difícil traçar uma linha divisória entre elas.

3.3 SINONÍMIA: SIGNIFICANTE DIFERENTES X SIGNIFICADOS


APROXIMADOS

FIGURA 8 - TIPOS DE VELHO

Velho (1) Velho (2)


FONTE: Dados institucionais

No exemplo (V), percebemos ter dois sinais, isto é, dois significantes


distintos para representar significados aproximados. Válido é destacar que,
apesar da representatividade visuoespacial dos sinais ilustrados acima serem
diferentes, o sentido/significado é utilizado em situações parecidas levando em
consideração o seguinte:

VELHO (1) – (para objetos) para representar que são coisas usadas.
VELHO (2) – (para pessoas/animais) para representar o envelhecimento.

Assim temos:

a) (1) meu carro é velho.

140
TÓPICO 2 | O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

b) (2) aquele homem tem 90 anos; está velho.

Da mesma forma, em língua portuguesa não há sinônimos perfeitos. Há


alguns termos que servem para expressar os sentidos pretendidos. Dependendo
da sentença, um ficará melhor que o outro. Em Libras não é diferente.

FIGURA 9 - TIPOS DE NOVOS

Novo (1)

Novo (2) *Idade


*Idade não é SINONÍMIA.

FONTE: Dados institucionais

Novamente, nesse exemplo (V), percebemos que há dois sinais distintos


(SIGNIFICANTES) representando uma mesma “palavra” (em português), embora
com (SIGNIFICADO) aproximado. Destacamos aqui, quanto à representatividade
visuoespacial dos sinais ilustrados – que há dois sinais, aparentemente, com o
mesmo sentido/significado, mas são utilizados em situações distintas.

NOVO (1) – (para objetos) para representar que são coisas novas.
NOVO (2) – (para pessoas/animais) para representar a juventude.

Nas frases estes sinais são usados assim:

a) (1) meu carro é novo.

141
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

b) (2) meu filho é novo.

3.4 ANTONÍMIA: SIGNIFICANTES DIFERENTES X SIGNIFICADOS


OPOSTOS
FIGURA 10 - JOVEM/VELHO/MEU

Jovem Velho *Meu


*Meu não é ANTONÍMIA.

FONTE: Dados institucionais

Em (VI), temos a oposição SIGNIFICADO X SIGNIFICANTE de dois


SINAIS distintos. No primeiro exemplo, temos o sinal significando (pessoa/
jovem). Já no segundo, temos o sinal significando/representando (pessoa/ velha).

a) Pessoa velha.
b) Pessoa jovem.

As frases ficariam assim:

a) Meu pai é velho.

b) Meu irmão é jovem.

142
TÓPICO 2 | O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

FIGURA 11 - PASSADO/PRESENTE/FUTURO

Passado Presente Futuro


FONTE: Dados institucionais

No exemplo (VII), destacamos a oposição SIGNIFICADO X SIGNIFICANTE


de três SINAIS distintos com sentidos opostos.

Nas línguas orais, sabe-se que a relação de antonímia também se apresenta


com auxílio de alguns prefixos de sentido negativo ou de prefixos de sentido
oposto, para a construção de oposição de sentido de algumas palavras, como por
exemplo: FELIZ X (IN) FELIZ.

As frases ficam assim:

a) Passado: ano passado eu viajei.

b) Presente: este ano eu não vou viajar.

c) Futuro: ano que vem eu viajarei.

Com as línguas de sinais, em um caso parecido, ocorre de maneira


distinta, pois a oposição se dá, como vimos nos exemplos (VI) e (VII), por meio
de sinais (palavras) distintos – não por meio de prefixos ou sufixos (formação
de palavras, morfologia).

Vale destacar que a antonímia pode apresentar tipos de oposição. Os
objetos podem apresentar oposição em relação à qualidade daquilo que indicam.
Prestamos atenção nos exemplos a seguir:

143
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

FIGURA 12 - FÁCIL/DIFÍCIL/PROVA

Fácil Difícil *Prova


*Prova não é ANTONÍMIA.

FONTE: Dados institucionais

a) Fácil.
b) Difícil.

Nas frases ficaria assim:

a) A prova foi fácil.

b) A prova foi difícil.

No exemplo acima, há a oposição de termos (palavras), ou seja, sinais


distintos.

Pode ser citado ainda o exemplo de “triste” – pode opor-se à “alegre”.
Além disso, nas línguas orais, podemos encontrar outras formas de oposição, em
“gradações”, tais como “muito triste”, “tristíssimo”, “extremamente triste”, “triste
como nenhum outro”, “mais triste que todos naquele lugar” (LIMA; CRUZ, 2014).

Com as línguas de sinais, também, não é diferente – podemos combinar


elementos como expressões faciais, Movimento de Mão (M), entre outros.

FIGURA 13 - DIFÍCIL/MUITO DIFÍCIL

Difícil Difícil (muito)

FONTE: Dados institucionais

144
TÓPICO 2 | O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

a) Difícil.
b) Difícil (muito).

As frases ficariam assim:

a) A prova foi difícil.

b) A prova foi muito difícil.

Para Gesser (2009, p. 17) “as mãos não são o único veículo usado pelas
línguas de sinais para produzir informação linguística”. Os surdos têm por
costume fazer uso extensivo de marcadores não manuais, como por exemplo, as
expressões faciais.

As línguas orais utilizam de traços paralinguísticos, como: sotaque,


expressões faciais, hesitações, entonação, velocidade, ritmo, entre outros. Já nas
línguas de sinais, as expressões faciais são consideradas elementos gramaticais
(esses podendo ser movimento de cabeça, olhos, boca, sobrancelhas etc.), tudo
isso compõe a estrutura de tal língua (LIMA; CRUZ, 2014).

É o que mostramos no exemplo acima ilustrado, pois a posição dos sinais


se dá por meio da intensificação da expressão facial.

UNI

Paralinguística  é o estudo da paralinguagem – o foco são os aspectos não


verbais que acompanham a comunicação verbal. Estes podem ser: o tom de voz, o ritmo da
fala, o volume de voz, as pausas utilizadas na pronúncia verbal e demais características que
transcendem a própria fala.

145
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

3.5 PARONÍMIA: SIGNIFICANTE PARECIDOS X SIGNIFICADOS


DIFERENTES
FIGURA 14 - LARANJA/APRENDER

Laranja Aprender
FONTE: Dados institucionais

Precisamos destacar que as palavras sinalizadas acima na Língua


Portuguesa não são consideradas parônimas. Bem diferente do que ocorre na
Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, porque neste caso são representadas pela
modalidade visuoespacial, levamos em consideração muitos fatores.

O importante é acontecer a comunicação; esta se dá através: da datilologia,


por meio do Alfabeto Manual, das Expressões Faciais, dos Parâmetros etc.
Precisamos deixar bem claro que esta língua não se dá somente por meio de
sinais, precisamos de outros meios para ter êxito no processo comunicativo.

Para Ferrarezi Jr. (2008), além da palavra, há ainda elementos que auxiliam
o ato comunicativo. Esses elementos são o corpo, os gestos, enfim, tudo o que
pode contribuir para a compreensão dos sentidos pretendidos.

Percebemos que com LIBRAS não é diferente, como podemos ver


nos exemplos mostrados anteriormente. Por isso, para Ferrarezi Jr. (2008), na
perspectiva semântica, o sentido de uma “palavra – sinal” só poderá realmente
ser definida ou entendida dentro de um contexto.

No exemplo “laranja/aprender”, os sinais são os mesmos quanto ao (M)


Movimento e a (CM) Configuração de Mão, isto é, o significante semelhante.
Porém, o que distingue o significado dessas “palavras” é o (PA) Ponto de
Articulação. Então, na LIBRAS, falamos que essas “palavras” (sinais) são
parônimas (LIMA; CRUZ, 2014).

Vamos observar os sinais representados a seguir.

FIGURA 15 - FÁCIL/AMANHÃ

Fácil Amanhã

FONTE: Dados institucionais

146
TÓPICO 2 | O SENTIDO DOS SINAIS NA LÍNGUA

UNI

Lima e Cruz (2004), ao apresentar alguns desenhos, afirmam “Desenho


adaptado do Livro Ilustrado de Língua Brasileira de Sinais, por Cilene Lima, em setembro de
2011”. Contudo, nas referências, não apresenta a obra.
Da mesma forma, ao apresentarem figuras, logo abaixo delas, Lima e Cruz (2004)
disponibilizam links que não mais estão disponíveis. Por essa razão, abaixo de cada uma das
imagens adaptadas, apontamos a obra consultada: Lima e Cruz (2004).
Os links apontados por Lima e Cruz (2004), abaixo das imagens, são:

(1) http://www.ip.usp.br/lance/Livros/novo_deit.html Dicionário Ilustrado Trilíngue-


14/08/2011
(2) http://www.feneismg.org.br/doc/Aspectos_linguisticos_LIBRAS.pdf

Voltando ao exemplo de fácil/amanhã (apresentado acima), os sinais são


muito parecidos, no (M) Movimento e a (CM) Configuração de Mãos, mas com
relação ao (PA) Ponto de Articulação, não é o mesmo. A partir disso, podemos
compreender que essas palavras (esses sinais) são parônimas – são palavras que
possuem significantes parecidos, porém com significados diferentes (LIMA;
CRUZ, 2014).

a) Fácil.
b) Amanhã.

As frases ficariam assim:

a) A prova foi fácil.

b) Amanhã não teremos prova.

UNI

Caro acadêmico! Todas estas frases estarão sinalizadas e você poderá conferir
usando os QRCODE.

147
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Sinonímia é a relação que se estabelece entre duas palavras ou mais que


apresentam significados iguais ou semelhantes.

• Antonímia é a relação que se estabelece entre duas palavras ou mais que


apresentam significados diferentes.

• Homonímia é a relação entre duas ou mais palavras que, apesar de possuírem


significados diferentes, possuem a mesma estrutura fonológica.

• As palavras homônimas podem ser: homógrafas que são as que possuem


palavras iguais na escrita e diferentes na pronúncia.

• As homófonas são palavras iguais na pronúncia e diferentes na escrita.

• Perfeitas são palavras iguais na pronúncia e na escrita.

• Paronímia é a relação que se estabelece entre duas ou mais palavras que possuem
significados deferentes, mas são muito parecidas na pronúncia e na escrita.

• Polissemia é a propriedade que uma mesma palavra tem de apresentar vários


significados.

• A diferença entre as línguas de sinais, com relação às orais, não é somente


pelo sistema visuoespacial, mas sim, pela simultaneidade dos elementos das
línguas de sinais.

• Apesar de as línguas de sinais terem características que as tornam línguas como


qualquer outra, elas apresentam particularidades em relação às línguas orais.

• As expressões polissêmicas são resultados de processos de extensão de


significados que só podem ser explicados dentro de um contexto.

• As mãos não são o único veículo usado pelas línguas de sinais para produzir
informação linguística, pois os surdos fazem uso extensivo de marcadores não
manuais, como por exemplo, as expressões faciais.

• Diferentemente das línguas orais que utilizam de traços paralinguísticos,


como: entonação, velocidade, ritmo, sotaque, expressões faciais, hesitações,
entre outros – nas línguas de sinais, as expressões faciais são os elementos
gramaticais (movimento de cabeça, olhos, boca, sobrancelhas etc.) que
compõem a estrutura dessa língua.

• O sentido de uma “palavra – sinal” só vai ser de fato definido dentro de um


contexto, em um cenário específico.

148
AUTOATIVIDADE

1 O sentido das palavras na Língua Portuguesa leva em


consideração a sinonímia, a antonímia, a polissemia, além
da parônima e da homônima. Sobre o sentido das palavras,
associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Sinonímia
II- Antonímia
III- Homônima
IV- Parônima
V- Polissemia

( ) É a relação entre duas ou mais palavras que, apesar de possuírem


significados diferentes, possuem a mesma estrutura fonológica.
( ) É a relação que se estabelece entre duas ou mais palavras que possuem
significados deferentes, mas são muito parecidas na pronúncia e na escrita.
( ) É a relação que se estabelece entre duas palavras ou mais que apresentam
significados diferentes, contrários.
( ) É a relação que se estabelece entre duas palavras ou mais que apresentam
significados iguais ou semelhantes.
( ) É a propriedade que uma mesma palavra tem de apresentar vários
significados.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) III – IV – II – I – V.
b) ( ) II – V – III – I – IV.
c) ( ) I – II – III – IV – V.
d) ( ) III – V – I – II – IV.

2 As línguas orais utilizam traços paralinguísticos, como: entona-


ção, velocidade, ritmo, sotaque, expressões faciais, hesitações, en-
tre outros. Como esses traços se apresentam nas línguas de sinais?

3 As línguas de sinais possuem características, e estas caracte-


rísticas as tornam uma língua, igual a outra língua, possuindo
particularidades em relação às línguas orais, por serem gestu-
ais-visuais. Assim, quando falamos dos significados dos sinais
em Libras, por exemplo, temos que levar em consideração a:

I- Polissemia
II- Sinonímia
III- Antonímia
IV- Paronímia
149
Relacione tais itens ao que segue:
( ) Significantes diferentes x significados opostos.
( ) Significantes parecidos x significados diferentes.
( ) Significantes iguais x significados diferentes.
( ) Significantes diferentes x significados aproximados.

Agora assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) I – II – IV – III.
b) ( ) III – II – IV – I.
c) ( ) III – IV – I – II.
d) ( ) II – IV – III – I.

150
UNIDADE 3
TÓPICO 3

SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA
DAS LÍNGUAS NATURAIS

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Chegamos até aqui, sabendo que os estudos linguísticos
podem ser desenvolvidos em cinco áreas: a fonologia, a morfologia, a sintaxe, a
semântica e a pragmática, certo? Estudamos os parâmetros e sabemos que nos
aspectos fonológicos abordam as configurações dos sinais, os aspectos morfológicos,
são eles responsáveis pela estruturação e classificação dos sinais/palavras, e os
aspectos sintáticos referem-se às regras necessárias para se construir os sintagmas
nas sentenças/frases. Porém, meu caro, precisamos atentamente sempre considerar
o significado e o contexto. É sob esta perspectiva que construiremos, por fim, este
tópico, o último do seu livro didático, que tem por objetivo geral identificar a
abordagem dos aspectos semânticos e pragmáticos das línguas naturais.

2 SEMÂNTICA E O ESTUDO DOS SIGNIFICADOS


DAS LÍNGUAS NATURAIS
Para compreendermos os aspectos semânticos da Língua Brasileira de
Sinais – LIBRAS, precisamos relembrar-nos do que trata a semântica. A semântica,
como anteriormente já foi abordado, é o estudo do sentido das palavras de uma
língua. A semântica é

o estudo do significado da palavra e da sentença. A semântica trata


da natureza, da função e do uso dos significados ou pressupostos. É
a parte da linguística que estuda a natureza do significado individual
das palavras e do agrupamento das palavras nas sentenças, que
podem apresentar variações regionais e sociais nos diferentes dialetos
de uma língua (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 21).

Com este conhecimento, podemos ainda dizer que semântica é o estudo


dos significados, que dentro do contexto estudam conceitos/significados das
palavras. Sobre este assunto, Lima e Cruz (2014) afirmam que há uma dificuldade
em definir o significado da semântica. Ferrarezi Jr. (2008) corrobora a mesma
ideia, apontando que há diferentes definições para a Semântica, mas ele a define
como o estudo das manifestações do significado. Assim a semântica é:

151
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

[...] a subdivisão que desenvolve seus estudos – das manifestações


linguísticas do significado, ou seja, dos sentidos – tomando como
base a seguinte concepção geral: uma língua natural é um sistema
de representação do mundo e de seus eventos. [...] [Os] sentidos
são especializados em um contexto, sendo que este só tem sentido
especializado em um cenário [...] (FERRAREZI JÚNIOR, 2008, p. 24
apud LIMA; CRUZ, 2014, p. 1525).

Podemos entender então que toda manifestação linguística faz parte de um


sistema pleno e aberto que é associado a um sentido. Percebemos que o significado
tem uma recepção maior, nas conversas do dia a dia; já quando estamos analisando
a partir da semântica, ele é ainda mais limitado. Precisamos de início compreender
o que se entende por um termo quando estamos estudando semântica.

Este tópico começou com a explicação de significado nos estudos da
Semântica, então podemos dizer que, para a Semântica, o significado se limita
ao significado que as sentenças de uma língua têm. Essa perspectiva não leva em
consideração o que a pessoa que vai falar “quer dizer”, ou seja, a intenção do falante.

Vamos trazer alguns exemplos para uma melhor compreensão!

Podemos observar a informação semântica das palavras do português.


Vamos observar um caso específico: o sentido da palavra manga.

1) A fruta.
2) A parte de uma peça de roupa que usamos, peça esta que cobre o braço.

FIGURA 1 – FRUTA (MANGA) E MANGA (PEÇA DO VESTUÁRIO

FONTE: <https://abrilboaforma. FONTE: <https://image.slidesharecdn.com/


files.wordpress.com/2018/07/ otv7tiposdeblusasycamisas-130205123326-
thinkstockphotos-928914016.jpg>. Acesso phpapp01/95/otv-7-tipos-de-blusas-y-
em: 15 jul. 2019. camisas-4-638.jpg?cb=1360067695>. Acesso
em: 15 jul. 2019.

Aqui um outro exemplo: caso em língua portuguesa alguém lesse, de


forma isolada – sem imagem ou sem explicação de contexto –, a palavra “colher”.
Dependendo das experiências de cada um, do vocabulário que mais utiliza, se
vive no campo ou não, o leitor poderia imaginar um dos dois casos a seguir.

152
TÓPICO 3 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

FIGURA 2 – COLHER – (UTENSÍLIO) COLHER (VERBO)

COLHER (utensílio) VERBO COLHER, AÇÃO DE PEGAR


ALGO

FONTE: <https://www.google.com/search?- FONTE: <http://aconteceunovale.com.


q=COLHER&source=lnms&tbm=isch&sa=X&- br/portal/wp-content/uploads/2015/11/
ved=0ahUKEwiMm8jlsZLjAhWLD7kGHfpCD- PomarEmater2-310x165.jpg>. Acesso em: 30
CIQ_AUIECgB&biw=1242&bih=533#imgrc=- jun. 2019.
dgFMVAexno2iaM>. Acesso em: 30 jun. 2019.

Usando as imagens e trazendo para os estudos da semântica, se


proferíssemos somente a palavra solta, “manga” ou “colher”, o falante poderia ter
em sua mente o significado do que estava proferindo. Para quem fala, o sentido
é claro. Contudo, quem recebesse a mensagem precisaria de um contexto para
saber diferenciar, qual o significado dessa palavra.

Daremos alguns exemplos para podermos entender como se dão os
significados quando eles utilizam outros elementos para esclarecer o que poderia
ser dúbio.

Ex. 1: A manga é uma fruta que contém fibra.


Ex. 2: Vou comprar uma blusa de manga longa.
Ex. 3: Eu gosto de ir ao sítio da minha família para colher frutas.
Ex. 4: Ganhei de presente uma colher, seu cabo tem muitas borboletas.

Podemos dizer também das imagens acima, as palavras são iguais, porém
os significados diferentes. Os exemplos acima se dão na Língua Portuguesa.
Neste momento, vamos abordar algumas questões pertinentes à Libras. Em
Libras, também já apresentamos um sinal que pode ter diferentes sentidos. É o
caso do sinal LARANJA/SÁBADO, ou seja, pode ser tanto uma fruta como um
dia da semana.

Em Libras os sinais não iguais em todos os Parâmetros, Configuração de


Mão (CM), Ponto de Articulação (PA), Localização (L) e Movimento (M), a palavra
que vem a ser diferente.

153
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

ATENCAO

Caro acadêmico! Você teve estes exemplos na UNIDADE 2, TÓPICO 3. Em


tal unidade, trouxemos a ambiguidade e polissemia. A diferença desta fase do livro é que
vamos trazer, além dos sinais, um QRCODE – como citado na introdução desta unidade. Por
meio dele, você terá a oportunidade de ver tal vocabulário sendo sinalizado dentro de um
contexto. Tal sinalização contribuirá com seus estudos.

Podemos dizer que, para a Semântica, o significado se limita ao significado


que as palavras têm; em especial, dentro de sentenças; não levando em consideração
o que a pessoa “quis dizer” ou suas estratégias. Veja os exemplos citados.

FIGURA 3 - LARANJA/SÁBADO

Laranja

Sábado

FONTE: Dados institucionais

Assim, ao construir sentenças, temos o esclarecimento de quando se trata


da fruta ou quando se trata do dia da semana.

Ex. 1: Eu gosto de sábado porque é quando durmo até tarde.

154
TÓPICO 3 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

Ex. 2: Eu gosto de laranja porque tem vitamina C.

Temos também o sentido semântico do sinal em Libras de SENTAR/


CADEIRA. Em tais exemplos não seria diferente, precisamos do contexto para
reconhecer o sinal em Libras.

FIGURA 4 - SENTAR/CADEIRA

FONTE: Dados institucionais

A seguir, você encontra dois exemplos destas palavras inseridas no


contexto das frases.

Frase 1: A professora precisa sentar porque está cansada.

Frase 2: A professora precisa da cadeira.

FIGURA 5 - PROFESSORA/PRECISA/SENTAR/PORQUE/CANSADA

FONTE: Dados institucionais

155
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

Podemos ainda verificar a presença de dois sentidos para um sinal –


este é o sinal de LUCRO/ADOTIVO. Conforme segue, sem contexto, dificultará
reconhecer quando o sinal adquire valor de “lucro” ou o valor de “adotivo”.

FIGURA 6 - LUCRO/ADOTIVO

FONTE: Dados institucionais

A seguir, os termos são apresentados dentro de frases e, logo depois, as


sentenças são sinalizadas em Libras., 1 e 2).

Ex. 1: O lucro que tive foi ótimo.

Os sinais a seguir, com a descrição do que cada um significa, poderá


contribuir com os que iniciam sua caminhada na aprendizagem da Libras.
Tais sinais poderão auxiliar quando observarem o vídeo com a sinalização das
sentenças (exemplos acima, 1 e 2).

156
TÓPICO 3 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

FIGURA 7 - TER/ÓTIMO/IRMÃO/MORAR/SÃO PAULO

FONTE: Dados institucionais

Ex. 2: Eu tenho um irmão adotivo que mora em São Paulo.

A seguir, há mais um exemplo de sinal que pode adquirir diferentes


sentidos. Como nos exemplos anteriores, faz-se necessário perceber que um sinal
pode ter todos os parâmetros iguais, o que vai diferenciar é a utilização deste sinal
dentro do contexto, de uma frase. Vejamos o caso de LADRÃO\ROUBAR a seguir.

FIGURA 8 - LADRÃO/ROUBAR

FONTE: Dados institucionais

157
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

Aqui trazemos mais sinais que irão ajudar a compreender o vídeo


disponível em QRCODE. Em tal vídeo, esses sinais formam sentenças em Libras.

FIGURA 9 - LOJA/HOMEM/ENTRAR/TENTAR/MAS/NÃO CONSEGUIU

FONTE: Dados institucionais

Somente quando sinalizamos ou vimos alguém sinalizar, irá se tornar


possível perceber qual a diferença de “ladrão” e de “roubar”. Mais uma vez o
contexto é tudo. Veremos como ficam estas frases a seguir sinalizadas:

Ex. 1: Um ladrão entrou na loja.

Ex. 2: Aquele homem tentou roubar a loja, mas não conseguiu.

158
TÓPICO 3 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

Podemos observar com as imagens e os vídeos apresentados anteriormente


que, em LIBRAS, o significado está no sinal, já em português está na palavra.
Ou seja, em LIBRAS, há sinais iguais que podem receber valores semânticos
diferentes. Em Português, também há palavras iguais e significados diferentes,
como já vimos nos tópicos anteriores.

Em LIBRAS temos o sinal e o significado deste sinal (construído com


outros elementos que ajudam a esclarecer os sentidos). Já em Português temos a
palavra e o significado que a palavra adquire dentro de um contexto específico,
ao unir-se a outras palavras. Em outras palavras, a produção e a compreensão das
línguas necessitam de outros elementos.

Há um conjunto de fatores que são evocados na produção e na análise de


sentenças – o que depende do conhecimento e do domínio dos elementos daquela
língua. Quanto mais se estuda e se utiliza uma língua nos mais variados contextos,
mais o falante/usuário irá sentir-se confiante, fazendo novas descobertas. Vamos
adiante! Nesta etapa, dando ênfase à pragmática.

3 PRAGMÁTICA E O ESTUDO DOS SIGNIFICADOS DAS


LÍNGUAS NATURAIS
Ao estudar a Pragmática, estudamos elementos colocados em prática por um
falante ou usuário. Da mesma maneira, a pragmática considera o uso, o contexto. Como
anteriormente apresentado, analisar a língua e a linguagem solicita conhecimentos
variados, neste caso, sobre o contexto e outros princípios. A pragmática é “o estudo
da linguagem em uso (contexto) e dos princípios de comunicação. Essa definição é
considerada tradicional; no entanto, vale registrar que há várias tendências ao definir-
se de pragmática” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 22).

Com todos os estudos até aqui, podemos dizer então que semântica estuda
o significado linguístico e a pragmática estuda o significado resultante do uso
linguístico. Vamos entender isso melhor. Também podemos dizer que o sentido
muitas vezes sofre influência do contexto pragmático; este sendo um conjunto de
circunstâncias nas quais (ou a partir dos quais) sentenças, textos ou afirmações
são produzidos.

Em pragmática, interessam os atos de fala. A unidade de sentido da


pragmática é o enunciado, este em uso, dentro de um contexto. Vamos entender
melhor, colocando em prática a noção pragmática de significado, vamos responder
à pergunta, qual é o significado pragmático de (01) a seguir?

159
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

FIGURA 10 - HORAS

01

FONTE: Dados institucionais

A foto apresentada anteriormente pode dizer muitas coisas. Pode ir


ao encontro de um pedido, reclamação, repreensão, entre outros usos. Então
podemos dizer que o significado pragmático da imagem (01) lança um olhar aos
usos ou às ações quando usamos os enunciados. Em outras palavras, se usarmos
o enunciado para perguntar que horas são, ele significa uma pergunta/pedido.
Se for discutindo ou indagando quanto ao atraso de algo ou alguém, então, o
enunciado significa uma reclamação. Se um chefe chama o funcionário para
chamar a atenção sobre ele ter chegado atrasado ao trabalho, o mesmo enunciado
vai ao encontro de uma repreensão.

NOTA

Algumas imagens foram inspiradas/adaptadas em/de um documento intitulado


“Semântica e Pragmática”. A autoria do documento não está clara. Trata-se de um documento
feito em conjunto. O autor que faz a apresentação do livro é Magdiel Medeiros Aragão Neto,
professor da Federal da Paraíba.

Dessa maneira, a pragmática se interessa pelas ações e usos ao elaborarmos


os enunciados. Dessa maneira, novamente vale reforçar que para a pragmática é
essencial o contexto, a situação, entender o que está se dando naquele momento.
Se eu sei que o horário de entrada em uma empresa é 8 horas, um funcionário
chegando 8 horas e 40 minutos contribuirá para o entendimento do enunciado
em questão. Neste momento, interessam os elementos: onde, por que, como,
quando, quem, locutor, interlocutores, entre outros elementos extralinguísticos.

160
TÓPICO 3 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

DICAS

EXTRALINGUÍSTICO: Ao falarmos extralinguístico, são outros elementos para


além dos elementos verbais; esses podem ser relacionados ao conhecimento de mundo,
às vivências, experiências daqueles envolvidos na situação comunicativa, além de outros
elementos que a própria situação oferece. Ao estar no mundo e conviver uns com os outros,
constrói-se uma bagagem experiencial.

Seguem exemplos que irão contribuir com seu aprendizado. Antes, vale
lembrar que a pragmática leva em consideração o significado que o falante dá
para o enunciado. Quando olhar algum exemplo, sempre é necessário olhar para
além dos enunciados ou dos sinais – no caso de Libras.

Em especial, em Libras, faz-se necessário observar todos os parâmetros;


em especial, a expressão facial e corporal do intérprete dos vídeos. Por meio dessa
análise, poderemos compreender cada um deles de forma mais abrangente.

Enunciado 1 – Pergunta: Que horas você tem?


Enunciado 2 – Reclamação: Que horas vem o ônibus? Que demora!
Enunciado 3 – Repreensão: Isso são horas?

Antes das frases em QRCODE, para você que não é fluente em Língua
Brasileira de Sinais – LIBRAS, apresentaremos os sinais soltos e, depois, estes
sinais no contexto das frases como em exemplos anteriores.

FIGURA 11 - QUE/HORAS

FONTE: Dados institucionais

161
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

FIGURA 12 - DEMORA/ÔNIBUS

FONTE: Dados institucionais

Traremos estes três enunciados em forma de frases em Libras no QRCODE


para mostrar que o significado pragmático vai depender do estudo da linguagem
e seu uso no contexto.

Que horas você tem?

Que horas vem o ônibus? Que demora!

Isso são horas?

162
TÓPICO 3 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

UNI

Podemos, grosso modo, dizer que à Semântica cabe o estudo do significado


da sentença, enquanto cabe à Pragmática o estudo do significado a partir do falante, do uso
que este faz dos enunciados elaborados, a partir dos contextos e das situações mais variadas,
sejam elas em contextos formais ou informais de comunicação.

FIGURA 13 – SEMÂNTICA E PRGMÁTICA

FONTE: <https://www.google.com/search?q=pragmatica+imagem&source=lnms&tbm=isch&-
sa=X&ved=0ahUKEwjex6zRqZLjAhXZKLkGHfGTB8AQ_AUIECgB&biw=1242&bih=533#imgrc=-
00vXUmXSfyIf6M>. Acesso em: 30 jun. 2019.

DICAS

Caro acadêmico! Apresentamos um vídeo a partir do YouTube. Tal material


aborda conceitos que vão ao encontro dos nossos estudos de Semântica e Pragmática. O
vídeo é em Libras e está disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qxSlL884fu8>.
Acesso em: 10 jul. 2019.

Caro acadêmico! Nosso livro termina logo após você realizar as


autoatividades deste tópico. Contudo, os estudos e pesquisas devem continuar,
afinal, a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS é uma língua viva e precisa ser
estudada todos os dias.
163
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

LEITURA COMPLEMENTAR

ASPECTOS SEMÂNTICOS E PRAGMÁTICOS DA LIBRAS: ABORDAGEM


NO CONTEXTO SALA DE AULA

M. A. C. B. LIMA (1)
M. M. ARAGÃO NETO (2)

(1) Especialista em Gestão e Avaliação da Educação Superior. Mestranda


em Informática pela UFPB. Técnica em Tecnologia da Informação da PRPG-UFPB.
(2) Doutor em Linguística. Professor Adjunto do DLCV/CCHLA/UFPB.

[...]

[...]
Interlocutor Interlocutor Interlocutor

Maria João
M
ar

ão

João Maria
ia

Jo

Sinalizante Sinalizante Sinalizante

[...]

2.4 ASPECTOS SEMÂNTICOS E PRAGMÁTICOS

Retomando os conceitos de semântica e pragmática a primeira estuda


o significado linguístico e a segunda estuda o significado resultante do uso
linguístico. Além disso, entendemos que o sentido muitas vezes sofre influência do

164
TÓPICO 3 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

contexto pragmático, sendo este último tomado como o conjunto de circunstâncias


em que a mensagem que se deseja transmitir é emitida. Desta forma no presente
trabalho optamos por trabalhar a semântica e pragmática em conjunto.

De acordo com Fiorin (2010, p. 138-139)

Dentre as várias possibilidades de investigação do significado, uma


delas, se concentra no estudo da relação existente entre as expressões
linguísticas e o mundo. Não se pode negar que uma das características
importantes das expressões linguísticas é que elas são sobre alguma
coisa. [...] Esse mundo sobre o qual falamos quando usamos a
linguagem pode ser tomado como o mundo real, parte dele ou mesmo
outros mundos ficcionais ou hipotéticos.

Assim, o significado é entendido como sendo a relação entre a linguagem e


o que ela fala, ou seja, o mundo. Fiorin (2010) afirma que conhecer a verdade sobre
a sentença é entender em que circunstância de mundo esta será verdadeira ou falsa.

Então o significado linguístico do enunciado, em Libras, é influenciado


substancialmente, de acordo com o que vimos na seção anterior, pelos aspectos
sintáticos da classe morfológica ‘verbo’ (Figura 8 e 9). E segundo Silva (2006) esta
classe morfológica também é bastante influenciadora das relações semânticas
da língua. Tal fato dá-se diante de importância do conhecimento do sentido do
verbo para entender o seu comportamento e consequentemente predizer as suas
propriedades sintáticas.

Substanciado com essa afirmativa Silva (2006) relata que as propriedades


sintáticas e semânticas de um verbo, em Libras, determinam o comportamento
deste, sendo a diferença de comportamento percebida de acordo com os elementos
dêiticos. Sendo assim, os verbos em Libras quando classificados considerando
suas características morfológicas e semânticas, de acordo com Felipe (2001) são
enquadrados em:

165
UNIDADE 3 | A LINGUÍSTICA E A LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

2.4.1 O papel do contexto

Um dos princípios da língua é comunicar e o da comunicação é fazer-


se entender. É nesta perspectiva que Bernardino (1999) fala que alguém que
deseja socializar informações deve fazer uso de uma linguagem e para se fazer
compreender necessita que use as regras convencionadas pelo uso social, ou seja,
deve usar uma língua. Acrescenta ainda, que a contextualização do discurso é
importante para que o compartilhamento de conhecimento seja eficiente e eficaz.

Fiorin (2010) apresenta-nos que o enunciado do discurso é realizado em


uma situação estabelecida pelos participantes da comunicação, pelo momento da
enunciação e pelo lugar onde este enunciado é produzido.

Bernardino (1999) também relata que é importante o receptor da


mensagem estar ciente daquilo que permeia os arredores do objeto discutido
em uma cena, sendo este chamado de contexto intrínseco ao processo. Soma-se
a este processo o conhecimento de mundo do receptor, ou seja, as experiências
vivenciadas naquele momento, sendo este contexto denominado de incidental.

Como o entendimento da mensagem depende do conhecimento de
mundo do receptor esta pode ser interpretada de forma distorcida, por isso, para
se ter garantias da compreensão da mensagem o emissor deverá identificar três
evidências durante o processo, são elas, copresença física, copresença linguística
e pertencer a mesma comunidade (BERNARDINO, 1999).

A copresença física é garantir que os interlocutores têm conhecimento


do evento; a copresença linguística é garantir que estão falando sobre o mesmo
assunto e usam a mesma linguagem; e, pertencer a mesma comunidade, para
garantir que eles estão falando de algo que elas entendem com o mesmo
significado (BERNARDINO, 1999).

2.4.2 Construção do significado

Marcuschi diz que (1999) o conhecimento linguístico é certamente adquirido


e que o que é inato seria apenas um dispositivo para a aquisição da linguagem.
Entretanto, a língua não seria adquirida diretamente da experiência e nem seria
usada para referir diretamente o mundo. Fala que a língua não é um “retrato” da
experiência, mas pode ser um “trato” desta, no sentido de que “nossas representações
são projeções de um mundo elaborado mentalmente na base de experiências, não
apenas individuais, mas socializadas e constituídas em discursos”; da mesma
forma, o conhecimento seria uma forma de relacionar, e não de copiar a realidade.
Ele diz ainda que há muitos tipos de conhecimento envolvidos na linguagem e não
apenas o linguístico e que o problema está em explicar como esses conhecimentos
se integram para formar a cognição como um todo.

166
TÓPICO 3 | SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA

Em um processo centrado no contexto, os ouvintes usam a situação e o


contexto da sentença para a compreensão do que o falante quer dizer. Quanto
mais informações o contexto provê, maior é a confiança conseguida na construção
do significado.

Portanto, a construção do significado não é realizada a partir apenas do


conhecimento do léxico e da gramática, ocorre através da relação de processos
cognitivos que promovem a compreensão do signo linguístico e da criação do
significado baseado na perspectiva de uso linguístico.

FONTE: LIMA, M. A. C. B.; ARAGÃO NETO, M. M. Aspectos Semânticos e Pragmáticos da Libras:


abordagem no contexto. In: Colóquio Internacional de Pesquisas em Educação Superior, 2013,
João Pessoa – PB. Colóquio Internacional de Pesquisas em Educação Superior: Políticas de
inclusão e igualdade social, 2013.

167
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A Semântica é o estudo do sentido das palavras de uma língua.

• A Semântica é a parte da linguística que estuda a natureza do significado


individual das palavras e do agrupamento das palavras nas sentenças.

• Podemos também entender que toda manifestação linguística faz parte de um


sistema pleno e aberto que é associado a um sentido.

• O significado tem uma recepção maior, nas conversas do dia a dia e ele é mais
limitado quando estamos pesquisando em Semântica.

• Precisamos de início compreender: o que se entende por um termo quando


estamos estudando semântica.

• Então podemos dizer que, para a Semântica, o significado se limita ao


significado que as sentenças de uma língua têm, não levando em consideração
o que a pessoa que vai falar quer dizer.

• Precisamos lembrar, que um sinal ele pode ter todos os parâmetros iguais, o
que vai diferenciar é a colocação deste sinal dentro do contexto – uma sentença
e uma situação.

• Somente quando sinalizamos ou vimos alguém sinalizar que perceberemos


que alguns sinais possuem mais que uma significação – dessa maneira, mais
uma vez o contexto é de grande relevância.

• Em se tratando de Semântica, o significado está no sinal, enquanto em português


está na palavra. Ou seja, em LIBRAS, há sinais iguais, palavras diferentes,
dando significado diferentes a estes sinais.

• Em Português, também há palavras iguais e significados diferentes.

• A pragmática estuda o significado resultante do uso linguístico, prático, dentro


de uma situação comunicativa.

• Podemos dizer que o sentido muitas vezes sofre influência do contexto


pragmático, sendo um conjunto de circunstâncias que fazem parte e ajudam a
construir a mensagem pretendida.

• Podemos, grosso modo, dizer que à Semântica interessa o estudo da sentença,


já à Pragmática, o estudo do significado levando em consideração o falante e o
contexto, a situação.

168
AUTOATIVIDADE

1 Estudamos, neste tópico, que a informação semântica está pre-


sente na palavra da Língua Portuguesa, bem como no sinal da
LIBRAS. Disserte sobre as semelhanças e diferenças semânti-
cas entre essas línguas. 

2 A LIBRAS possui níveis linguísticos, o que a torna uma língua


natural, completa. Entre esses níveis, destacamos neste tópico os
níveis semânticos e pragmáticos. Sobre a semântica e a pragmáti-
ca, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.  

( ) Para a Semântica, o significado se limita ao significado que as sentenças


de uma língua têm, não levando em consideração o que a pessoa que vai
falar quer dizer. 
( ) A Pragmática estuda o significado resultante do uso linguístico. 
( ) A Semântica é o estudo do sentido das palavras de uma língua. 
( ) À  Semântica cabe o  estudo do significado do falante  enquanto cabe à
Pragmática o estudo do significado da sentença. 

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: 


a) (  ) V – V – V – F.  
b) (  ) F – F – V – V.  
c) (  ) F – V – V – F.  
d) ( ) V – F – V – V.  

3 Observe o sinal abaixo:

FONTE: Dados institucionais

A foto acima pode dizer muitas coisas, entre elas: pedido, reclamação,
repreensão, entre outros. Então podemos dizer que o significado pragmático
da imagem, acima, pode ser cada um dos usos ou as ações que venhamos a
realizar quando usamos os enunciados. Com base em seus estudos, numere
as frases a seguir:

169
I- Pergunta.
II- Reclamação.
III- Repreensão.

A partir de tais itens, numere as sentenças a seguir:

( ) Que horas você tem?


( ) Isso são horas?
( ) Que horas vem o ônibus? Que demora!

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) I, II, III.
b) ( ) III, II, III.
c) ( ) I, III, II.
d) ( ) II, I, III.

170
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