TUCHMANN, Bárbara. Um espelho distante: o terrível século XIV. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1999, cap. 4 e 5, pp. 66-117.
Com o desenvolvimento do arco, uma inovação militar superior à besta, a Inglaterra,
de Eduardo III, consegue em sua primeira campanha a destruição da esquadra francesa – Batalha de Sluys (1340). Utilizando tática de organização naval, com arqueiros e soldados, levam vantagem sobre os franceses realizando um grande massacre. Causas: elementos Políticos, econômicos e psicológicos. Eduardo reclamava soberania total sobre a Guiena e a Gasconha, por causa da importância econômica da região. No entanto o rei da França, Filipe VI, era soberano no território e utilizava a superioritas et resortum (direito popular de apelo ao soberano). Tal medida francesa despertava críticas dos ingleses. O rei Inglês pretendia, como pretexto de guerra justa, ser o legítimo rei da França. - Para uma guerra justa, no século XIV – praticamente jurídica – cumprir alguns deveres: causa pública declarada, contra alguma “injustiça”, intenção adequada; direitos: ao butim (caso inimigo injusto), ajuda de Deus, requisitar ajudas feudais. Dentre os fatores psicológicos: fidelidade pessoal, não existia a fidelidade a uma nação. - Bretanha: “Na Bretanha, a guerra teve como centro a luta incansável entre dois pretendentes rivais do ducado e dois grupos da população, um apoiado pela França, outro pela Inglaterra... O litoral da Bretanha estava aberto aos navios ingleses, guarnições inglesas estavam em solo bretão, nobres bretões eram claros aliados de Eduardo” (p.69) Na disputa: Jean de Montfort, aliado dos ingleses, oposto a Jeanne de Penthièvre e seu marido Carlos de Blois, sobrinho de Filipe VI. Após a morte do duque bretão em 1341. Carlos era asceta: “A religiosidade não impediu sua luta feroz pelo ducado” (p.70) Montfort foi capturado por Carlos de Blois e mandado a Paris. A esposa dele lutou bravamente por sua causa, até mesmo depois da morte do marido na Bretanha. Enquanto Carlos, aprisionado pelos ingleses em 1346, teve sua causa continuada por Jeanne de Penthièvre que, 9 anos depois, consegue resgatá-lo. O mesmo morre em batalha. - Flandres: Causa geográficas e econômicas (comércio) davam contexto às disputas pelo território; envolvendo a nobreza flamenga, pró-franceses e os comerciantes da indústria do tecido, pró-ingleses. Em 1339 os burgueses tomam o poder político através da figura de Jacob Van Artevelde. Em 1340, o assumido rei da França, Eduardo entra em acordo com Artevelde. Mas sua ambição somada à soberba, agravada pelo descontentamento popular, leva Jacob a ser assassinado na cidade de Gand em 1345. “Para os contemporâneos, o poderio do rei da Inglaterra parecia insignificante, se comparado ao rei da França. Villani referiu-se a ele como ‘il piccolo re d’Inghilterra” (o pequeno rei da Inglaterra)”. (p.76) O rei da Inglaterra pretendia desestabilizar o poder do adversário, levando a queda do inimigo. Os custos ingleses pelas fases da guerra comprometeram os impostos da lã. Ao não conseguir impostos suficientes para pagar os empréstimos, levou à falência algumas companhias italianas (Bardi e Peruzzi, por exemplo). “O financiamento das guerras causaria maiores danos à sociedade do século XIV do que a destruição material provocada pela própria guerra” (p76) Na segunda fase o exército passa a servir por soldo, remunerado, causando o aumento das despesas e dívidas por empréstimos com banqueiros, cidades e negociantes. Desvalorização da moeda. O saque tornou-se necessidade para pagar os soldados. A guerra cavalheiresca passa a focar nos lucros. “...em 1345 o Parlamento autorizou o rei a exigir que todos os donos de terras servissem pessoalmente ou fornecessem um substituto, ou um equivalente monetário” (p.77) “Cidades e condados tinham de recrutar um determinado número de arqueiros, e o sistema como um todo deveria ser administrado por xerifes e funcionários do condado” (p.77)