GUIA DA
DISCIPLINA
2021
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância
Durantes as aulas, iremos entender que, diferente do que você imagina, o linguista
observa o fenômeno linguístico de forma descritiva e explicativa, não de forma prescritiva.
Ou seja, não ditaremos regras, entenderemos os acontecimentos linguísticos.
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Tudo foi feito por ele; e nada do que tem sido feito, foi feito sem ele.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
(João 1:1-4)
Objetivo
Compreender a linguística enquanto Ciência. Entender as diferenças entre língua e
linguagem, a partir dos principais teóricos da linguagem.
Introdução
É interessante observar que, segundo a epígrafe, a origem do mundo se relaciona à
linguagem verbal, é ela que tem a capacidade de criar. Veja como isso é importante, será
que você compreende a importância da linguagem humana? Somente a partir dela é que
somos capazes de nomear, criar, transformar o universo e, acima de tudo, passar adiante
o conhecimento. Não há sociedade sem linguagem. Então, vamos entender um pouco mais
sobre esse fenômeno.
Dentre os latinos, destaca-se Marco Terêncio Varrão (116-27 a.C.) que se dedicou
à etimologia, sintaxe e morfologia, destacando-se nesta última. Também distinguiu entre
derivações e flexões da palavra.
Nos séculos XIII e XIV, os membros de uma escola de filosofia gramatical conhecida
como Modismo consideraram que a estrutura gramatical das línguas é una e universal, e
que, em consequência, as regras da gramática são independentes das línguas em que se
realizam. No século XVI, apesar de manter-se o prestígio do latim como língua universal,
viajantes, comerciantes e diplomatas trazem de suas experiências no estrangeiro o
conhecimento de línguas até então desconhecidas, com isso e a religiosidade ativada pela
Reforma permite a tradução dos livros sagrados em numerosas línguas.
Em 1816, Franz Bopp vai se destacar com seu estudo sobre o sistema de
conjugação do sânscrito, comparado ao grego, ao latim, ao persa e ao germânico. Este é
considerado o marco do surgimento da Linguística Histórica.
O século XIX foi marcado por uma ascensão das investigações sobre as línguas.
Descobriu-se que as transformações do latim em português, espanhol, italiano, francês
observadas nos textos escritos, poderiam ter acontecido primeiro na língua falada.
Até então, a Linguística não era uma ciência autônoma, estava atrelada a outros
estudos, como a lógica, a filosofia, a retórica, a história, ou a crítica literária. O século XX
permitiu uma mudança de atitude, que se expressa no caráter científico dos novos estudos
linguísticos, que estarão centrados na observação dos fatos da linguagem.
Além disso, em cada uma dessas relações há uma série de estudos com teorias
diferentes. E, cada teoria vai preferir definir língua de uma maneira especial, que esteja
mais de acordo com suas hipóteses. Portanto, cada definição de língua precisa ser
entendida no âmbito de uma teoria particular.
O que o linguista nos coloca é que temos na Língua Portuguesa, por exemplo, um
número finito de sons e sinais que representam esses sons. Poderiam escrever todos os
sons da nossa língua. A partir desses sons finitos, podemos produzir um número infinito de
sentenças, incontáveis frases.
Cabe ao linguista que descreve qualquer uma das línguas naturais determinar quais
dessas sequências finitas de elementos são sentenças, e quais não são, isto é, reconhecer
o que se diz e o que não se diz naquela língua. A análise das línguas naturais deve permitir
determinar as propriedades estruturais que distinguem a língua natural de outras
linguagens.
2. LINGUÍSTICA X GRAMÁTICA
“é preciso que exista uma ciência que estude a “língua real” e não apenas a “língua
oficial”, caso contrário, estaríamos nos recusando a conhecer e a entender nossa
própria realidade linguística e social.”
(Aldo Bizzocchi)
Objetivo
Diferenciar os estudos da linguística dos conceitos da Gramática Tradicional.
Introdução
Como o termo linguagem pode ter um uso não especializado bastante extenso,
podendo referir-se desde a linguagem dos animais até outras linguagens - música, dança,
pintura, mímica etc. - convém enfatizar que a Linguística se detém somente na investigação
científica da linguagem verbal humana. No entanto, é de se notar que todas as linguagens
(verbais ou não-verbais) compartilham uma característica importante - são sistemas de
signos usados para a comunicação. Esse aspecto comum tornou possível conceber-se uma
ciência que estuda todo e qualquer sistema de signos. Saussure a denominou Semiologia;
Peirce a chamou de Semiótica. Nós estudamos semiótica na disciplina Comunicação e
Semiótica. A Linguística é, portanto, uma parte dessa ciência geral; estuda a principal
modalidade dos sistemas sígnicos, as línguas naturais, que são a forma de comunicação
mais altamente desenvolvida e de maior uso.
explicar os fatos: os padrões sonoros, gramaticais e lexicais que estão sendo usados, sem
avaliar aquele uso em termos de um outro padrão: moral, estético ou crítico.
Visto que a norma da correção é prescrita por uma fonte de autoridade, as demais
variedades são consideradas inferiores e incorretas. Por outro lado, nas sociedades
contemporâneas expressar-se segundo a norma, falar certo continua sendo valorizado,
porque a correção da linguagem está associada às classes altas e instruídas, é uma das
marcas distintivas das classes sociais dominantes.
Está suficientemente demonstrado que a língua escrita não pode ser modelo para a
língua falada. Além do fato histórico de a fala ter precedido e continuar precedendo a escrita
em qualquer sociedade, a diferença entre essas duas formas de expressão verifica-se
desde sua organização até o seu uso social.
Nossa gramática foi escrita como uma forma de separar a língua portuguesa
europeia, considerada de maior prestígio, da língua que se falava nas ruas
pelos pobres e negros.
3. ESTRUTURALISMO
Objetivo
Compreender as bases do Estruturalismo de Saussure e relacionar com outras
correntes linguísticas
Introdução
O termo estruturalismo em linguística serve para designar uma corrente de
pensamento do início do século XX, fundamentada na afirmação de Ferdinand de Saussure
de que “a língua não é um conglomerado de elementos heterogêneos; é um sistema
articulado, onde tudo está ligado”. Para fundamentar suas afirmações, Saussure
estabeleceu uma série de definições e distinções sobre a natureza da linguagem, que se
podem resumir em:
surgida em 1925 a 1939 liderou o Círculo Linguístico de Praga, através de seus membros
mais influentes, os russos Roman Jakobson e N. S. Trubetskoi.
A linguagem, por outro lado, é a capacidade que o homem tem de comunicar-se com
seus semelhantes por meio de signos verbais, é a soma da língua e da fala. Pela
característica da transitoriedade da fala, Saussure conclui que o objeto da Linguística
propriamente dita é a língua.
Além da distinção entre língua e fala, Saussure estabelece uma dicotomia, ele rompe
diretamente com a tradição da linguística histórica. Para Saussure, é muito importante
distinguirem-se os eixos sobre os quais se situam os fatos que a ciência estuda: sincronia
ou diacronia.
A opção pelo estudo da língua em uma perspectiva sincrônica permite separar os fatores
internos de um sistema dos fatores externos, histórico-culturais que condicionam esse
sistema e conceituar língua como um sistema de valores, onde cada elemento define-se
em relação aos outros.
3.3. Em síntese
As teorias estruturalistas refletem um avanço para o desenvolvimento das pesquisas
da linguística moderna. Foram de grande importância as teorias dos linguísticos
pertencentes a este movimento, tanto os europeus quantos os americanos. Porém o grande
destaque é o suíço Ferdinand de Saussure, cujas teorias deram o pontapé para o
desenvolvimento da ciência da linguagem, pois foi justamente partindo dessas teorias que
os linguistas puderam ampliar os conhecimentos, bem como acrescentar novas
concepções a elas
4. GERATIVISMO
Objetivo
Apresentar em linhas gerais, os principais aspectos que caracterizam a corrente de
estudos linguísticos denominada GERATIVISMO. Analisar a concepção de linguagem
humana que norteia as pesquisas dessa corrente.
Introdução
A Teoria Gerativista foi apresentada pelo linguista Noam Chomsky na década 1950.
É considerado como o nascimento da Linguística Gerativista o ano de 1957, quando foi
publicado o livro Estruturas Sintáticas de Noam Chomsky.
Como dissemos, a linguística gerativa foi inicialmente formulada como uma espécie
de resposta e rejeição ao modelo behaviorista de descrição dos fatos da linguagem, que foi
dominante na linguística e nas ciências de uma maneira geral durante toda a primeira
metade do século XX.
Para Chomsky, a capacidade humana de falar e entender uma língua (pelo menos),
isto é, o comportamento linguístico dos indivíduos, deve ser compreendido como o
resultado de um dispositivo inato, uma capacidade genética e, portanto, interna ao
organismo humano (e não completamente determinada pelo mundo exterior, como
diziam os behavioristas), a qual deve estar fincada na biologia do cérebro/mente da
espécie e é destinada a constituir a competência linguística de um falante. Essa
disposição inata para a competência linguística é o que ficou conhecido como
Faculdade da Linguagem. [Kenedy, 2010, p. 128].
Não é por outra razão que a Faculdade da Linguagem é a característica mental mais
marcante que separa os humanos dos demais primatas superiores e do resto do mundo
natural. O papel do gerativismo, no seio da linguística, é constituir um modelo teórico capaz
de descrever e explicar a natureza e o funcionamento dessa Faculdade, o que significa
procurar compreender um dos aspectos mais importantes da mente humana, como afirmou
o próprio Chomsky:
“Uma das razões para estudar a linguagem (exatamente a razão gerativista) – e para
mim, pessoalmente, a mais premente delas – é a possibilidade instigante de ver a
linguagem como um “espelho do espírito”, como diz a expressão tradicional. Com isto não
quero apenas dizer que os conceitos expressados e as distinções desenvolvidas no uso
normal da linguagem nos revelam os modelos do pensamento e o universo do “senso
comum” construídos pela mente humana. Mais instigante ainda, pelo menos para mim, é a
possibilidade de descobrir, através do estudo da linguagem, princípios abstratos que
governam sua estrutura e uso, princípios que são universais por necessidade biológica e
não por simples acidente histórico, e que decorrem de características mentais da espécie
humana” (Chomsky, 1980: 09)
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
44501997000300007
5. SOCIOLINGUÍSTICA
Objetivo
Descrever um panorama dos estudos da língua como um fato social. Identificar
alguns pressupostos básicos da Teoria. Refletir sobre a questão do preconceito linguístico.
Introdução
Apresentamos a você o quadro geral de pressupostos teóricos da Sociolinguística.
Veremos quais eram as ideias dominantes quanto ao estudo da variação e da mudança,
bem como de que forma outros teóricos buscaram integrar aos estudos linguísticos
possíveis influências sociais. Vamos apresentar alguns postulados dos principais conceitos
teóricos que os fundamentam, passando inclusive pela discussão um pouco mais avançada
dos problemas de definição de alguns desses conceitos e pela questão do preconceito
linguístico.
Saussure postula algumas dicotomias e vai isolando o que, segundo ele, seria de
interesse da ciência linguística.
a) Langue e parole – a langue é homogênea e social, um sistema de signos, é
essencial; já a parole é um ato individual de vontade, é heterogênea,
manifestação concreta da primeira; é acessória e acidental. O objeto da
linguística, para Saussure, é a langue.
Langue e parole - Essa dicotomia pode ser traduzida como ‘língua’ e ‘fala’.
Entretanto, preferimos manter os termos originais para assegurar a concepção
saussureana sempre que nos referirmos a ela.
Vale observar que, embora delimite dessa maneira o objeto de estudo da linguística,
Saussure admite que a língua seja um fenômeno social, produto de uma convenção
estabelecida entre os membros de determinado grupo; porém, os fatores externos ao
sistema são deixados de lado por ele – voltaremos a esse ponto mais adiante.
Nos Estados Unidos, a visão formal da língua ganha destaque a partir da década de
60, com Noam Chomsky e a corrente denominada gerativismo, segundo a qual a língua é
concebida como um sistema de princípios universais e é é vista como o conhecimento
mental que um falante tem de sua língua a partir do estado inicial da faculdade da
linguagem, ou seja, a competência.
5.2. Sociolinguística
A sociolinguística ou sociologia da linguagem, é uma disciplina da linguística que
estuda os aspetos resultantes da relação entre a língua e a sociedade, concentrando-se
em especial na variabilidade social da língua.
Entre sociedade e língua não há uma relação de mera casualidade. Desde que
nascemos, um mundo de signos linguísticos nos cerca, e suas inúmeras possibilidades
comunicativas começam a tornar-se reais a partir do momento em que, pela imitação ou
associação, começamos a formular nossas mensagens. Sons, gestos e imagens cercam a
vida do homem moderno, compondo mensagens de toda ordem, transmitidas pelos mais
diferentes canais. Em todos, a língua desempenha um papel fundamental, seja ela visual,
oral ou escrita.
Foi William Labov que voltou a estudar a relação entre língua e sociedade e na
posição, virtual e real, de sistematizar a variação existente e própria da língua falada. É
William Labov quem inaugura os estudos desta nova disciplina em 1963, quando analisa o
inglês falado na ilha de Martha’s Vineyard, no estado de Massachusetts (EUA). Após esta
pesquisa, várias outras surgiram: como a estratificação social do inglês falado na cidade de
Nova York (1966); a língua do gueto, entre outros.
6. FUNCIONALISMO
Objetivo
Compreender a corrente funcionalista. Relacioná-la com as outras correntes da
linguística.
Introdução
O século XX foi marcado por uma grande mudança no que concerne aos estudos do
fenômeno da linguagem, uma vez que houve o deslocamento do historicismo para o
descritivíssimo, configurando uma nova tendência de analisar as línguas naturais,
denominada de linguística estrutural ou estruturalismo. Com a publicação do Curso de
Linguística Geral, de Ferdinand de Saussure (1857-1913), em 1916, inicia-se a linguística
moderna, uma vez que, nesse período, passou-se a ter como foco a função que os
elementos linguísticos exerciam no sistema. (Fiorin, 2008).
Mais adiante, surge uma nova proposta, a qual enfatiza que as línguas não podem
ser analisadas apenas como estruturas autônomas, dissociadas do uso. Destaca-se a
noção de função, segundo a qual a língua é entendida como um sistema funcional, ou seja,
passa-se a valorizar o uso da língua enquanto voltado para uma determinada finalidade.
Diante disso, podemos dizer que, embora os termos função e funcional apresentem
diversas definições, às vezes pouco claras, há um ponto em comum entre os diferentes
Desse modo, para o autor, cada mensagem pode apresentar mais de uma função
da linguagem, presentes em todo ato linguístico.
Além dessas dessas funções, existe uma função que é fundamental para que o
discurso se desenvolva. Trata-se da função “textual”, a qual permite a
organização do discurso: este só se concretiza se o emissor produzir um texto
e o receptor for capaz de reconhecê-lo.
Podemos dizer que a teoria funcionalista ganhou força nos Estados Unidos, a partir
da década de 70. Segundo Martelotta (2008), com a publicação do texto The Origins of
Syntax in Discourse: a case study of Tok Pisin relatives de Gillian Sankoff e Penelope Brown
em 1976, inicia-se o desenvolvimento da abordagem funcionalista de vertente norte-
americana.
Assim, podemos dizer, então, que gramática funcional tem como pressuposto
fundamental a interdependência entre as expressões linguisticas e o contexto
e interação social em que elas são proferidas
6.3. Princípios
O funcionalismo caracteriza-se por uma concepção dinâmica do funcionamento das
línguas. Nessa perspectiva, a gramática é vista como dependente de fatores não só
internos, mas também externos à língua. Nesse sentido, Votre et alii (1993) explicitam
alguns princípios fundamentais que delineiam um perfil do funcionalismo contemporâneo.
7. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM
Objetivo
Discutir como se dá a aquisição da linguagem. Comparar as teorias sobre aquisição
da linguagem
Introdução
Nesta aula pretendemos discutir o que ocorre na Linguística sobre a aquisição da
linguagem, isto é, como a criança de um a quatro anos aprende a língua que dominará
pouco tempo depois. Vamos refletir sobre as teorias de aquisição da linguagem, isto é, das
propostas que tentam explicar como se dá esse desenvolvimento e por que ocorre da
maneira como ocorre.
7.2. O behaviorismo
Durante a tradição estruturalista da Linguística, era muito comum a visão que previa
o aprendizado por meio de estímulos. Skinner (1957) propunha ser capaz de predizer e
controlar o comportamento verbal mediante variáveis que controlam o comportamento
(estímulo, resposta, reforço) e a especificação de como essas variáveis interagem para
determinar uma resposta verbal particular.
7.3. O conexionismo
Os modelos conexionistas têm por objetivo explicar os mecanismos que embasam o
processamento mental, e a linguagem é apenas um desses processos. As propostas
conexionistas buscam a interação entre o organismo e o ambiente, assumindo a existência
de um algoritmo de aprendizagem. Por organismo, entende-se a intrincada rede neural (os
trabalhos conexionistas tentam replicar, computacionalmente, o que ocorre no cérebro).
Segundo Plunkett (2000), pode-se imaginar que o cérebro é formado por uma rede
de unidades de processamento interconectadas e que cada uma dessas unidades é um
neurônio que recebe atividade elétrica de outros neurônios, via sinapses, ou seja, conexões
que propagam atividade elétrica entre neurônios por neurotransmissores.
7.4. O inatismo
Segundo essa proposta de que o ser humano é dotado de uma gramática inata
conforme aponta Chomsky (1965). Sua proposta procura dar conta da competência e
criatividade do falante.
De acordo com essa proposta, a criança tem uma Gramática Universal (GU) inata
que contém as regras de todas as línguas, e cabe a ela, criança, selecionar as regras que
estão ativas na língua que está adquirindo.
7.5. O inatismo
Esta proposta teórica, que vincula a linguagem à cognição, foi desenvolvida a partir
dos estudos de Jean Piaget. Para Piaget, a criança constrói o conhecimento com base na
experiência com o mundo físico, isto é, a fonte do conhecimento está na ação sobre o
ambiente.
7.6. O interacionismo
Vygotsky (1962) também defende que o desenvolvimento da fala segue as mesmas
leis, o mesmo desenvolvimento que outras operações mentais. O autor, no entanto, chama
a atenção para a função social da fala, e daí a importância do outro, do interlocutor, no
desenvolvimento da linguagem. Os estudos de base interacionista apontam para o papel
do adulto como quem cria a intenção comunicativa, como o facilitador do processo de
aquisição.
apoiar-se enquanto adquire outros componentes? Qual a relação entre a aquisição normal
e a aquisição por crianças com algum tipo de desvio?
Infelizmente não foi possível tratarmos de todos esses aspectos. Os estudos na área
são complexos. Vale a pena você buscar conhecer mais profundamente cada um desses
estágios.
Nunca é demais estudar Chomsky. Você ouvirá muito sobre ele ao longo do
curso. Chomsky é um dos maiores teóricos da atualidade. Sobre aquisição de
linguagem, veja o vídeo https://www.youtube.com/watch?v=W53UvJoLAwI
8. LINGUÍSTICA E ENSINO
Objetivo
Compreender de que forma a linguística pode ser aplicada em sala de aula. Como
as diferentes teorias subsidiam o ensino.
Introdução
Com referência ao ensino da língua, tem havido, nos últimos anos, um excesso de
teorização, num uso direto das teorias linguísticas modernas, tão prejudicial quanto a
proliferação inconsequente de terminologias gramaticais. Além de se promover a análise
científica da linguagem, cabe promover a organização dessa análise para o uso em sala de
aula.
A linguísticas não pode, sozinha, renovar o ensino do vernáculo. Pode, isto sim, dar
uma grande parcela de contribuição para essa renovação. O ensino pode beneficiar-se com
as informações obtidas pela investigação linguística, com os métodos que orientam essa
investigação, mas não com o aparato formal das teorias ou com sua terminologia técnica.
Mais ainda: o ensino não deve basear-se exclusivamente numa teoria. As várias teorias se
complementam quanto aos fatos analisados. Deve-se, pois, promover um aproveitamento
o mais eclético possível dos resultados alcançados pelas investigações teóricas, buscando-
se o ponto ideal para o ensino da língua.
O ensino pode e deve beneficiar-se das aquisições da linguística. Não há, porém,
atualmente, um modelo linguístico diretamente aplicável ao ensino da língua.
Tem havido, nos últimos anos, um excesso de teorização, num uso direto das teorias
linguísticas modernas, tão prejudicial quanto a proliferação inconsequente de terminologias
gramaticais.
Mas o ensino da língua não deve ter como único objetivo o de capacitar o aluno para
usá-la de modo eficaz e adequado. Deverá ele igualmente fornecer a esse aluno
conhecimento sobre o funcionamento da língua, dando-lhe condições para compreender e
apreciar a(s) sua(s) literatura(s).
Cabe ao ensino estimular a reflexão linguística, para que o aluno tome consciência
da língua e das suas possibilidades, estimulando-o igualmente à criatividade linguística,
orientando-o para a percepção de que os recursos para tal criatividade estão à disposição
de todos, no sistema da língua.
Objetivo
Refletir sobre o preconceito linguístico em sala de aula. Apontar estratégia de
trabalho com as diferentes línguas existentes.
Introdução
O preconceito linguístico é, segundo o professor, linguista e filólogo Marcos Bagno,
todo juízo de valor negativo (de reprovação, de repulsa ou mesmo de desrespeito) às
variedades linguísticas de menor prestígio social. Normalmente, esse prejulgamento dirige-
se às variantes mais informais e ligadas às classes sociais menos favorecidas, as quais,
via de regra, têm menor acesso à educação formal ou têm acesso a um modelo educacional
de qualidade deficitária.
Apesar de comum, é difícil algum professor admitir que tenha esse tipo de
preconceito. Por isso, vamos refletir sobre uma pesquisa realizados em docentes de uma
escola de esfera pública municipal, situada no município de Maribondo – AL. A pesquisa foi
realizada com o corpus constituído por (4) questionários devidamente respondidos pelos
docentes, é possível ver a opinião dos professores em relação à variação linguística em
sala de aula, na relação professor/aluno, e constatar a prática do preconceito linguístico.
Por mais que os docentes não afirmem serem contra a variação da norma-padrão
da língua portuguesa, eles afirmam que o papel da escola é ensinar aos discentes a norma-
padrão, não os obrigando a segui-la rigorosamente. Com isso, a pesquisa constatou que
os professores buscam corrigir seus alunos diante do uso da variação, ou seja, os mesmos
não são contra, mas buscam ensinar seus alunos o uso do português-padrão.
Ao final da aula, vale uma reflexão por parte dos docentes: como lidar com a variação
linguística dentro da sala de aula, como reagir ao ver os discentes usando o português não
padrão? Isto é certo ou errado? Como a prática do preconceito linguístico pode prejudicar
os docentes?
Percebemos, então, que este modo de ensino não garantirá que os alunos se
transformem em falantes da norma culta da Língua Portuguesa. Muito pelo contrário,
continuaremos a ouvir dos nossos meninos e meninas: “Para que serve isso?”
Como afirma BELINE (2007), em sentido bastante amplo, podemos de início pensar
em diferentes línguas que existem no mundo. Falamos português no Brasil. Praticamente
com qualquer região de fronteira em que estejamos em nosso país, sabemos que do outro
lado falam outra língua – o espanhol. Sabemos também que dentro de nosso país ainda há
indígenas que se comunicam, quando estão em suas aldeias, em suas línguas, e não em
Português. Podemos atravessar o Atlântico, ir para outros continentes, e citar um sem-
número de outras línguas diferentes.
Todas as línguas faladas no mundo possuem variações, seja por razões históricas,
geográficas, dentre outras, as quais não podem ser consideradas “erradas”, mais sim
variações de uma norma padrão. As variações só poderão ser consideradas “erradas”,
quando vista de modo com a gramática normativa, a qual só considerada correta a norma
padrão.
Ver-se então que a língua portuguesa como tantas outras, possui suas diferenças,
tanto na sintaxe, como no léxico e na fonética, e que vários estudos foram realizados para
comprovar tais variações.
A norma não padrão do português é falada por pessoas de classe mais baixa.
BAGNO (2013, p. 29) faz uma crítica em relação a isto. “Estes preconceitos fazem com que
a criança que chega à escola falando PNP (Português não padrão) seja considerada
“deficiente” linguística, quando na verdade ela simplesmente fala uma língua diferente
daquela que é ensinada na escola”.
Esta classe sofre muito preconceito em relação à posição social, como também pelo
modo de falar, isto prejudica o rendimento escolar da criança, a qual não tem culpa de ter
sido criada num ambiente que a norma que predomina é a não padrão
A norma não padrão do português não passa de mais um tipo de variação linguística,
como irá existir em todo e qualquer tipo de língua existente no mundo, esta variação não
possui prestígio social, é por este motivo que é muito condenada pelos falantes da norma
padrão.
É importante destacar que os docentes atuais estão cada vez mais compreensíveis
e vulneráveis a aceitar o uso da variação linguística nas salas de aulas as quais atuam
como regentes, uma vez que falamos, a fala deve possuir sentido completo,
independentemente do uso do português padrão ou do português não padrão, por este
motivo que não deveria existir o preconceito. Fica de forma clara e evidente que o uso das
variações deve ser respeitado tão quanto o uso do português padrão, precisa-se então que
exista este entendimento por parte dos docentes. Para que, com isso, dê-se um ponto final
no preconceito linguístico, não só em sala de aula, mas na vida social e profissional do
falante.
Para repensar as práticas em sala de aula, vale revisitar a obra de Paulo Freire
e ver como o autor teoriza o ato de ensinar. Paulo Freire sempre deve ser
revisitado.
BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística. 17. ed. São Paulo:
Contexto, 2013.
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é como se faz. 49. ed. São
Paulo: Loyola, 2007.
BELINE, Ronald. A variação linguística. In: FIORIN, José Luiz (org). Introdução a
linguística. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2007, p. 121.