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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS

Me. Paula Denari

GUIA DA
DISCIPLINA
2021
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância

Esta disciplina tem o objetivo de apresentar brevemente algumas ideias e noções


que constituem o fundamento da linguística contemporânea. Afinal, como afirma Fiorin, “um
curso de Letras é o lugar onde se aprende a refletir sobre os fatos linguísticos e literários,
analisando-os, descrevendo-os e explicando-os”. Por outro lado, esta não é uma tarefa tão
simples já que a Linguística é uma ciência inteiramente desconhecida da maioria dos
estudantes e até muitos professores.

Durantes as aulas, iremos entender que, diferente do que você imagina, o linguista
observa o fenômeno linguístico de forma descritiva e explicativa, não de forma prescritiva.
Ou seja, não ditaremos regras, entenderemos os acontecimentos linguísticos.

Aqui teremos um recorte dessa ciência, há um universo a descobrir sobre os estudos


linguísticos. Esperamos encantá-los e abrir os horizontes para que você conheça mais a
respeito da linguagem humana.

Introdução dos Estudos Linguísticos 1


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1. PANORAMA HISTÓRICO DA LINGUÍSTICA – LÍNGUA X


LINGUAGEM

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Tudo foi feito por ele; e nada do que tem sido feito, foi feito sem ele.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
(João 1:1-4)

Objetivo
Compreender a linguística enquanto Ciência. Entender as diferenças entre língua e
linguagem, a partir dos principais teóricos da linguagem.

Introdução
É interessante observar que, segundo a epígrafe, a origem do mundo se relaciona à
linguagem verbal, é ela que tem a capacidade de criar. Veja como isso é importante, será
que você compreende a importância da linguagem humana? Somente a partir dela é que
somos capazes de nomear, criar, transformar o universo e, acima de tudo, passar adiante
o conhecimento. Não há sociedade sem linguagem. Então, vamos entender um pouco mais
sobre esse fenômeno.

1.1. A história do estudo da linguagem


A linguagem sempre despertou o interesse de pesquisadores. Os primeiros estudos
na área surgem no século IV a.C, pelos hindus por questões religiosas. Mais tarde, no
século IV a.C, um gramático hindu descreveu e categorizou sua língua, produzindo modelos
de análise descobertos somente no final do século XVIII.

Já os gregos, empenharam-se em tentar descobrir se existia alguma relação entre a


palavra e o seu significado. Em Crátilo, Platão suscita essa questão. Já Aristóteles voltou-
se para uma análise mais estrutural da língua, chegou a criar as categorias gramaticais e
elaborar uma teoria da frase.

Dentre os latinos, destaca-se Marco Terêncio Varrão (116-27 a.C.) que se dedicou
à etimologia, sintaxe e morfologia, destacando-se nesta última. Também distinguiu entre
derivações e flexões da palavra.

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Nos séculos XIII e XIV, os membros de uma escola de filosofia gramatical conhecida
como Modismo consideraram que a estrutura gramatical das línguas é una e universal, e
que, em consequência, as regras da gramática são independentes das línguas em que se
realizam. No século XVI, apesar de manter-se o prestígio do latim como língua universal,
viajantes, comerciantes e diplomatas trazem de suas experiências no estrangeiro o
conhecimento de línguas até então desconhecidas, com isso e a religiosidade ativada pela
Reforma permite a tradução dos livros sagrados em numerosas línguas.

Em 1660, a Grammaire Générale ET Raisonnée de Port Royal, ou Gramática de Port


Royal, de Lancelot e Arnaud, modelo para grande número de gramáticas do século XVII,
demonstra que a linguagem se funda na razão e a gramática é um conjunto de processos
mentais, que são universais; portanto, a gramática é universal.

O conhecimento de um número maior de línguas vai provocar, no século XIX, o


interesse pelas línguas vivas, pelo estudo comparativo dos falares, em detrimento de um
raciocínio mais abstrato sobre a linguagem, observado no século anterior.

É nesse período que se desenvolve um método histórico, instrumento importante


para o florescimento das gramáticas comparadas e da Linguística Histórica. O
pensamento linguístico contemporâneo, mesmo que em novas bases, formou-se a
partir dos princípios metodológicos elaborados nessa época, que preconizavam a
análise dos fatos observados. O estudo comparado das línguas vai evidenciar o fato
de que as línguas se transformam com o tempo, independentemente da vontade
dos homens, seguindo uma necessidade própria da língua e manifestando-se de
forma regular. [Petter, 2010, p. 12]

Em 1816, Franz Bopp vai se destacar com seu estudo sobre o sistema de
conjugação do sânscrito, comparado ao grego, ao latim, ao persa e ao germânico. Este é
considerado o marco do surgimento da Linguística Histórica.

A descoberta de semelhanças entre essas línguas e grande parte das línguas


europeias vai evidenciar que existe entre elas uma relação de parentesco, que elas
constituem, portanto, uma família, a indo-européia, cujos membros têm uma origem
comum, o indo-europeu, ao qual se pode chegar por meio do método histórico-
comparativo. [Petter, 2010, p. 12]

O século XIX foi marcado por uma ascensão das investigações sobre as línguas.
Descobriu-se que as transformações do latim em português, espanhol, italiano, francês
observadas nos textos escritos, poderiam ter acontecido primeiro na língua falada.

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É no início do século XX, com a divulgação dos trabalhos de Ferdinand de Saussure,


o qual estudaremos mais profundamente nas próximas aulas, que a investigação sobre a
linguagem – a Linguística – passa a ser reconhecida como estudo científico. Em 1916, é
publicado o Curso de Linguística geral, obra fundadora da nova ciência.

Até então, a Linguística não era uma ciência autônoma, estava atrelada a outros
estudos, como a lógica, a filosofia, a retórica, a história, ou a crítica literária. O século XX
permitiu uma mudança de atitude, que se expressa no caráter científico dos novos estudos
linguísticos, que estarão centrados na observação dos fatos da linguagem.

O método científico supõe que a observação dos fatos seja anterior ao


estabelecimento de uma hipótese e que os fatos observados sejam examinados
sistematicamente mediante experimentação e uma teoria adequada. O trabalho
científico consiste em observar e descrever os fatos a partir de determinados
pressupostos teóricos formulados pela Linguística, ou seja, o linguista aproxima-se
dos fatos orientado por um quadro teórico específico. Daí ser possível que para o
mesmo fenômeno haja diferentes descrições e explicações, dependendo do
referencial teórico escolhido pelo pesquisador. [Petter, 2010, p. 13]

Nos próximos tópicos vamos trabalhar os conceitos de linguagem e língua, somente


a partir da compreensão desses termos, seremos capazes de trabalhar o que é Linguística.

1.2. Língua e linguagem


Como dissemos anteriormente, a linguística estabelece relações com muitas
ciências e em cada uma dessas relações vamos encontrar uma definição diferente para
o que seja língua. Por exemplo, a relação entre a linguística e a biologia vai preferir
definir a língua como parte da dotação genética da espécie humana; a da linguística com
a sociologia, vai dar mais ênfase aos aspectos socioculturais da língua; a da linguística
com a psicologia vai definir a língua como parte da cognição humana.

Além disso, em cada uma dessas relações há uma série de estudos com teorias
diferentes. E, cada teoria vai preferir definir língua de uma maneira especial, que esteja
mais de acordo com suas hipóteses. Portanto, cada definição de língua precisa ser
entendida no âmbito de uma teoria particular.

Muitas vezes confundimos língua com a produção linguística, ou seja, com a


materialidade produzida, ou discurso, já que são essas produções que nos ajudam a

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“enxergar” a língua. Para compreender melhor o conceito de língua, é importante que


deixemos claro que essa é apenas uma definição possível.

A língua é um conjunto de palavras organizadas por regras gramaticais específicas. É uma


convenção que permite que a mensagem transmitida seja sempre compreensível para os
indivíduos de um determinado grupo. Assim, tem um caráter social e cultural, sendo usada
por uma comunidade específica.

Já linguagem também apresenta definições diferentes para Saussure e Chomsky.


Nós vamos dedicar um capítulo para esses teóricos, mas já antecipamos suas reflexões a
respeito de linguagem.

A LINGUAGEM é a capacidade que os seres humanos têm para produzir,


desenvolver e compreender a língua e outras manifestações, como a pintura,
a música e a dança. Já a LÍNGUA é um conjunto organizado de elementos (sons
e gestos) que possibilitam a comunicação. Ela surge em sociedade, e todos os
grupos humanos desenvolvem sistemas com esse fim. As línguas podem se
manifestar de forma oral ou gestual, como a Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Saussure concebeu a linguagem heterogênea e multifacetada, já que abarca vários


domínios e pertencente ao domínio individual e social; “não se deixa classificar em
nenhuma categoria de fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade”
(Saussure, 1969, p. 17). A linguagem se entrelaça com outras ciências como a psicologia,
a antropologia, portanto Saussure separa uma parte do todo linguagem, a língua – um
objeto unificado e suscetível de classificação. A língua é uma parte essencial da linguagem;
“é um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias,
adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos”
(Saussure, 1969, p. 17).

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Para Saussure, a língua é “um sistema de signos” – um conjunto de unidades que se


relacionam organizadamente dentro de um todo. É “a parte social da linguagem”, exterior
ao indivíduo; não pode ser modificada pelo falante e obedece às leis do contrato social
estabelecido pelos membros da comunidade. A fala é um ato individual; resulta das
combinações feitas pelo sujeito falante utilizando o código da língua; expressa-se pelos
mecanismos psicofísicos (atos de fonação) necessários à produção dessas combinações.

A língua é considerada uma estrutura constituída por uma rede de elementos, em


que cada elemento tem um valor funcional determinado. A teoria de análise linguística,
herdeira das ideias de Saussure, foi denominada estruturalismo (a quem iremos dedicar um
capítulo adiante). Os princípios teórico-metodológicos dessa teoria foram utilizados em
outras ciências humanas, até o momento em que se tornou mais contundente a crítica ao
caráter excessivamente formal e distante da realidade social da metodologia estruturalista
desenvolvida pela Linguística.

Noam Chomsky, em seu livro Syntactic Structures, trouxe para os estudos


linguísticos uma transformação. Para ele, “linguagem [é] como um conjunto (finito ou
infinito) de sentenças, cada uma finita em comprimento e construída a partir de um conjunto
finito de elementos”. (1957, p.13). Essa definição abrange muito mais do que as línguas
naturais, mas, conforme seu autor, todas as línguas naturais são, seja na forma falada, seja
na escrita, linguagens, no sentido de sua definição, visto que:

 Toda língua natural possui um número finito de sons (e um número finito de


sinais gráficos que os representam, se for escrita);
 Mesmo que as sentenças distintas da língua sejam em número infinito, cada
sentença só pode ser representada como uma sequência finita desses sons
(ou letras).

O que o linguista nos coloca é que temos na Língua Portuguesa, por exemplo, um
número finito de sons e sinais que representam esses sons. Poderiam escrever todos os
sons da nossa língua. A partir desses sons finitos, podemos produzir um número infinito de
sentenças, incontáveis frases.

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Cabe ao linguista que descreve qualquer uma das línguas naturais determinar quais
dessas sequências finitas de elementos são sentenças, e quais não são, isto é, reconhecer
o que se diz e o que não se diz naquela língua. A análise das línguas naturais deve permitir
determinar as propriedades estruturais que distinguem a língua natural de outras
linguagens.

Chomsky postula que essas propriedades são tão abstratas, complexas e


específicas que não poderiam ser ensinadas. De alguma maneira, essas propriedades já
devem nascer com a criança e são acionadas durante o processo de aquisição da
linguagem.
Para Chomsky, portanto, a linguagem é uma capacidade inata e específica da
espécie, isto é, transmitida geneticamente e própria da espécie humana. Esses
pesquisadores dedicam-se à busca de tais propriedades, na tentativa de construir
uma teoria geral da linguagem fundamentada nesses princípios . [[Petter, 2010, p.
15]

Mais adiante, iremos nos debruçar sobre esses conceitos.

Você já deve ter estudado Saussure e Chomsky em outras disciplinas. Esses


autores são fundamentais em diferentes estudos. Que tal descobrir um pouco
mais sobre a vida de cada um deles?

Petter, Margarida. Linguagem, língua, linguística. In Fiorin. Introdução a


Linguística. 2010. Contexto

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2. LINGUÍSTICA X GRAMÁTICA

“é preciso que exista uma ciência que estude a “língua real” e não apenas a “língua
oficial”, caso contrário, estaríamos nos recusando a conhecer e a entender nossa
própria realidade linguística e social.”
(Aldo Bizzocchi)

Objetivo
Diferenciar os estudos da linguística dos conceitos da Gramática Tradicional.

Introdução
Como o termo linguagem pode ter um uso não especializado bastante extenso,
podendo referir-se desde a linguagem dos animais até outras linguagens - música, dança,
pintura, mímica etc. - convém enfatizar que a Linguística se detém somente na investigação
científica da linguagem verbal humana. No entanto, é de se notar que todas as linguagens
(verbais ou não-verbais) compartilham uma característica importante - são sistemas de
signos usados para a comunicação. Esse aspecto comum tornou possível conceber-se uma
ciência que estuda todo e qualquer sistema de signos. Saussure a denominou Semiologia;
Peirce a chamou de Semiótica. Nós estudamos semiótica na disciplina Comunicação e
Semiótica. A Linguística é, portanto, uma parte dessa ciência geral; estuda a principal
modalidade dos sistemas sígnicos, as línguas naturais, que são a forma de comunicação
mais altamente desenvolvida e de maior uso.

2.1. O que é Linguística?


Uma pintura, uma dança, um gesto, podem expressar, mesmo que sob formas
diversas, um mesmo conteúdo básico, mas só a linguagem verbal é capaz de traduzir com
maior eficiência qualquer um desses sistemas semióticos. As línguas naturais situam-se
numa posição de destaque entre os sistemas sígnicos porque possuem, entre outras, as
propriedades de flexibilidade e adaptabilidade, que permitem expressar conteúdos bastante
diversificados: emoções, sentimentos, ordens, perguntas, afirmações, como também
possibilitam falar do presente, passado ou futuro.

Os estudos linguísticos não se confundem com o aprendizado de muitas línguas: o


linguista deve estar apto a falar "sobre" uma ou mais línguas, conhecer seus princípios de
funcionamento, suas semelhanças e diferenças. A Linguística não se compara ao estudo
tradicional da gramática; ao observar a língua em uso o linguista procura descrever e

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explicar os fatos: os padrões sonoros, gramaticais e lexicais que estão sendo usados, sem
avaliar aquele uso em termos de um outro padrão: moral, estético ou crítico.

As diferenças de pronúncia, de vocabulário e de sintaxe observadas por um


habitante de São Paulo, por exemplo, ao comparar sua expressão verbal a dos falantes de
outras regiões, como Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Belo Horizonte, muitas vezes o
fazem considerar "horrível" o sotaque de algumas dessas regiões; "esquisito" seu
vocabulário e "errada" sua sintaxe. Esses julgamentos não são levados em conta pelo
linguista, cuja função é estudar toda e qualquer expressão Linguística como um fato
merecedor de descrição e explicação dentro de um quadro científico adequado.

O linguista procura descobrir como a linguagem funciona por meio do estudo de


línguas específicas, considerando a língua um objeto de estudo que deve ser examinado
empiricamente, dentro de seus próprios termos, como a Física, a Biologia etc. A
metodologia de análise Linguística focaliza, principalmente, a fala das comunidades e, em
segunda instância, a escrita.

A prioridade atribuída pelo linguista ao estudo da língua falada explica-se pela


necessidade de corrigir os procedimentos de análise da gramática tradicional, que se
preocupava quase exclusivamente com a língua literária, como modelo único para qualquer
forma de expressão escrita ou falada. O prestígio e a autoridade da língua escrita em nossa
sociedade, muitas vezes, são obstáculos para os principiantes nos estudos da Lingüística,
que têm dificuldade em perceber e aceitar a possibilidade de considerar a língua falada
independentemente de sua representação gráfica. É comum ouvir dizer de uma criança
ainda não alfabetizada, que pronuncie mola por mora, por exemplo, que "ela troca letra",
quando na realidade ela está substituindo um som por outro.

Os critérios de coleta, organização, seleção e análise dos dados linguísticos


obedecem aos princípios de uma teoria Linguística expressamente formulada para esse
fim. Os resultados obtidos são correlacionados às informações disponíveis sobre outras
línguas com o objetivo de elaborar uma teoria geral da linguagem. Distinguem-se, aqui, dois
campos de estudos: a Linguística geral e a descritiva. A Linguística geral oferece os
conceitos e modelos que fundamentarão a análise das línguas; a Linguística descritiva
fornece os dados que confirmam ou refutam as teorias formuladas pela Linguística geral.
São duas tarefas interdependentes: não pode haver Linguística geral ou teórica sem a base

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empírica da Linguística descritiva. É possível, entretanto, que uma descrição Lingüística


tenha outros objetivos, além de oferecer elementos para a análise da Lingüística geral; o
trabalho de descrição de uma língua pode estar preocupado em produzir uma gramática ou
um dicionário, com o objetivo de dotá-la de instrumentos para sua difusão na forma escrita,
como no caso de línguas indígenas, africanas ou outras que ainda não circulem no meio
escrito.

No século XIX, os linguistas preocuparam-se com o estudo das transformações por


que passavam as línguas, na tentativa de explicar as mudanças Lingüísticas. A Lingüística
era histórica ou diacrônica. Saussure, no início do século XX, introduziu um novo ponto de
vista no estudo das línguas, o ponto de vista sincrônico, segundo o qual as línguas eram
analisadas sob a forma que se encontravam num determinado momento histórico, num
ponto do tempo. A descrição Linguística observaria "a relação entre coisas coexistentes",
que constituiriam o sistema linguístico. Embora defendesse a perspectiva sincrônica no
estudo das línguas, Saussure reconhecia a importância e a complementaridade das duas
abordagens: a sincrônica e a diacrônica. Em sincronia os fatos são observados quanto ao
seu funcionamento, num determinado momento. Em diacronia os fatos são analisados
quanto às suas transformações, pelas relações que estabelecem com os fatos que o
precederam ou sucederam.

2.2. Gramática: o ponto de vista normativo-descritivo


A gramática tradicional propagou falsos conceitos sobre a natureza da linguagem já
que fundamentou sua análise na língua escrita e não reconhece a diferença entre língua
escrita e língua falada. A gramática tradicional assumiu uma visão prescritiva, normativa
em relação à língua. Tanto que a primeira descrição Linguística de que se tem notícia, a do
sânscrito, feita pelo gramático hindu Panini (século IV a.c) surgiu no momento em que a
língua sânscrita culta (blasha) precisava ser estabilizada para defender-se da "invasão" dos
falares populares (prácritos), portanto num momento em que uma determinada variedade
Linguística deveria ser valorizada e difundida.

Visto que a norma da correção é prescrita por uma fonte de autoridade, as demais
variedades são consideradas inferiores e incorretas. Por outro lado, nas sociedades
contemporâneas expressar-se segundo a norma, falar certo continua sendo valorizado,

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porque a correção da linguagem está associada às classes altas e instruídas, é uma das
marcas distintivas das classes sociais dominantes.

A tarefa do gramático se desdobra em dizer o que é a língua, descrevê-la, e ao


privilegiar alguns usos, dizer como deve ser a língua. Abordar a língua
exclusivamente sob uma perspectiva normativa contribui para gerar uma série
de falsos conceitos e até preconceitos, que vêm sendo desmistificados pela
Linguística.

Está suficientemente demonstrado que a língua escrita não pode ser modelo para a
língua falada. Além do fato histórico de a fala ter precedido e continuar precedendo a escrita
em qualquer sociedade, a diferença entre essas duas formas de expressão verifica-se
desde sua organização até o seu uso social.

Ao comparar as línguas em qualquer que seja o aspecto observado, fonologia,


sintaxe ou léxico, o linguista constata que elas não são melhores nem piores, são,
simplesmente, diferentes. Tampouco encontram-se evidências de uma língua que esteja
próxima do princípio de uma escala evolutiva, que possa ser considerada primitiva em
relação a outras já evoluídas. Todas as línguas até hoje estudadas constituem um sistema
de comunicação estruturado, complexo e altamente desenvolvido. Nenhum traço da
estrutura linguística pode ser atribuído a um reflexo da estrutura diferenciada de uma
sociedade agrícola ou de uma sociedade moderna industrializada. Como Soares (1994, p.
40) retifica:
(...), tal como não se pode falar de "inferioridade" ou "superioridade" entre línguas,
mas apenas de diferenças, não se pode falar de inferioridades ou superioridade
entre dialetos geográficos ou sociais ou entre registros. Também aqui, como ocorre
em relação ás línguas, cada dialeto e cada registro é adequado ás necessidades e
características do grupo a que pertence o falante, ou á situação em que a fala
ocorre.

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Nossa gramática foi escrita como uma forma de separar a língua portuguesa
europeia, considerada de maior prestígio, da língua que se falava nas ruas
pelos pobres e negros.

PETTER, Margarida. Língua, Linguística e Linguagem. In Introdução a


Linguística. Contexto, 2009

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3. ESTRUTURALISMO

"O estruturalismo não é uma teoria nem um método; é um ponto de vista


epistemológico. Parte da observação de que todo conceito num dado sistema é
determinado por todos os outros conceitos do mesmo sistema, e nada significa por
si próprio.”
(Paul Garvin)

Objetivo
Compreender as bases do Estruturalismo de Saussure e relacionar com outras
correntes linguísticas

Introdução
O termo estruturalismo em linguística serve para designar uma corrente de
pensamento do início do século XX, fundamentada na afirmação de Ferdinand de Saussure
de que “a língua não é um conglomerado de elementos heterogêneos; é um sistema
articulado, onde tudo está ligado”. Para fundamentar suas afirmações, Saussure
estabeleceu uma série de definições e distinções sobre a natureza da linguagem, que se
podem resumir em:

 A diferenciação ente langue (língua), a parte social da linguagem, externa ao


indivíduo, e a parole (fala), é o momento individual.
 A consideração do signo lingüístico. Saussure (1969:18) afirma que “a língua é
conhecida como um sistema de signos”, ligação entre o significante (imagem
acústica) e um significado (conceito).
 A relação arbitrária dos signos se define em termos paradigmáticos (imagens
de outros elementos na memória) ou sintagmáticos (todos elementos da língua
se relacionam com outro, formando cadeias de enunciados).
 A distinção entre o estudo sincrônico da língua, ou seja, a descrição do estado
estrutural da língua em um dado momento, e o estudo diacrônico, descrição da
evolução histórica da língua.

Os linguistas encontraram nas ideias renovadoras de Saussure o ponto de partida


para desenvolver novos métodos e teorias. Foi o caso da chamada Escola de Praga, Escola
de Genebra e a Escola de Copenhague. Coseriu (1980) afirma que a Escola de Praga

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surgida em 1925 a 1939 liderou o Círculo Linguístico de Praga, através de seus membros
mais influentes, os russos Roman Jakobson e N. S. Trubetskoi.

3.1. Saussure e o Estruturalismo


O Estruturalismo surgiu, no início do século XX, com o objetivo de determinar o
campo da Linguística. Para compreendê-la é importante retomar alguns conceitos. No
Curso de Linguística Geral, é possível perceber que Saussure concebia língua como parte
social da linguagem, exterior ao indivíduo que, por si só, não pode nem criá-la, nem
modificá-la. É um sistema virtual, uma instituição social, fundada, portanto, em um acordo
social.

Já a fala aparece como individual que atualiza elementos discriminados dentro do


código. Assim:

A língua é a condição para a existência da fala, exatamente como a sociedade é a condição


para a existência do indivíduo.

A linguagem, por outro lado, é a capacidade que o homem tem de comunicar-se com
seus semelhantes por meio de signos verbais, é a soma da língua e da fala. Pela
característica da transitoriedade da fala, Saussure conclui que o objeto da Linguística
propriamente dita é a língua.

Além da distinção entre língua e fala, Saussure estabelece uma dicotomia, ele rompe
diretamente com a tradição da linguística histórica. Para Saussure, é muito importante
distinguirem-se os eixos sobre os quais se situam os fatos que a ciência estuda: sincronia
ou diacronia.

No primeiro caso, o linguista interessa-se pelas relações entre em um dado


momento, fazendo-se abstração de qualquer noção de tempo. No segundo caso,
constituem objeto de estudo as relações históricas de um fenômeno, como transformações
que sofreu determinado vocábulo.

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A opção pelo estudo da língua em uma perspectiva sincrônica permite separar os fatores
internos de um sistema dos fatores externos, histórico-culturais que condicionam esse
sistema e conceituar língua como um sistema de valores, onde cada elemento define-se
em relação aos outros.

A terceira dicotomia: o eixo sintagmático e o paradigmático. No eixo paradigmático,


a relação que se estabelece entre as unidades da língua é de oposição. Nenhum signo é
igual a outro e nem pode ocupar, é o eixo da escolha que fazemos na construção do
enunciado. O eixo sintagmático refere-se à combinação dos elementos.

Sistema, Estrutura e Estruturalismo: Reconhecimento de língua como uma


estrutura ou sistema. Sistema: Conjunto de princípios verdadeiros ou falsos
reunidos de modo que formem um corpo de doutrina.

3.2. Aspectos negativos e positivos do estruturalismo


Alguns críticos do estruturalismo afirmam que as teorias estruturalistas consideram
que a descrição do corpus é o objeto último do linguista. Considerando acabado,
homogêneo e sincrônico sem fazer referência ao falante. Além disso, criticam o fato de os
estruturalistas colocarem de lado o valor significativo das formas linguísticas, esquecendo
que as significações estão na base da comunicação humana. Numa visão mecanicista,
explicam a organização e o funcionamento dessas formas linguísticas através de técnicas
cada vez mais objetivas e rigorosas, que não dão conta dos inúmeros fatos e riquezas da
língua. A não abordagem do contexto e das relações com os interlocutores também se opõe
a outras correntes.

Por outro lado, as dicotomias saussurianas permitiram à linguística moderna dar um


grande avanço nas pesquisas com a distinção entre sincronia e diacronia, relações
sintagmáticas e paradigmáticas. A primeira distinção nos permite conhecer que o falante e
ouvinte de uma língua é influenciado pela sociedade e contexto histórico do momento.
Através do eixo sintagmático e paradigmático se descobrem as potencialidades da língua,
o caráter recursivo dessas regras.

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3.3. Em síntese
As teorias estruturalistas refletem um avanço para o desenvolvimento das pesquisas
da linguística moderna. Foram de grande importância as teorias dos linguísticos
pertencentes a este movimento, tanto os europeus quantos os americanos. Porém o grande
destaque é o suíço Ferdinand de Saussure, cujas teorias deram o pontapé para o
desenvolvimento da ciência da linguagem, pois foi justamente partindo dessas teorias que
os linguistas puderam ampliar os conhecimentos, bem como acrescentar novas
concepções a elas

Além disso, a nova gramática gerativa transformacional, que iremos estudar na


próxima aula, representou um movimento em oposição ao então predominante
estruturalismo, mas por outro lado ambos se opõem radicalmente à rigidez do estudo
normativo da língua baseado no certo ou errado. Infelizmente, muitas escolas ainda
permanecem baseando o ensino na apresentação de regras e na memorização.

 Estruturalismo Linguístico – disponível em:


http://www.giseldacosta.com/wordpress/wp-
content/uploads/2015/04/2063971-ESTRUTURALISMO-LINGUISTICO.pdf

1. O Estruturalismo Profª Maria Glalcy Fequetia Dalcim:


mariaglalcy@gmail.com maria.dalcim@ifsp.edu.br
https://lingualem.wordpress.com
2. Costa. M. A. O estruturalismo. In: MARTELOTTA, Mário Eduardo (Org.).
Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2016. Marco Antônio da Costa
Mario Eduardo Martelotta
3. Costa. M. A. O estruturalismo. In: MARTELOTTA, Mário Eduardo (Org.).
Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2016. Ferdinand Saussure Leonard
Bloomfield

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4. GERATIVISMO

“os objetivos dos transformacionalistas são mais ambiciosos do que os propósitos


explicitamente fixados por qualquer grupo anterior de linguistas, pois pretendem
realizar uma descrição de tudo o que constitui a competência linguística do falante
nativo.”
(Robins,1983, p.186)

Objetivo
Apresentar em linhas gerais, os principais aspectos que caracterizam a corrente de
estudos linguísticos denominada GERATIVISMO. Analisar a concepção de linguagem
humana que norteia as pesquisas dessa corrente.

Introdução
A Teoria Gerativista foi apresentada pelo linguista Noam Chomsky na década 1950.
É considerado como o nascimento da Linguística Gerativista o ano de 1957, quando foi
publicado o livro Estruturas Sintáticas de Noam Chomsky.

A teoria apresentada, inicialmente foi uma resposta e recusa ao Behaviorismo, que


caracterizava os indivíduos como tábuas rasas, afirmando que os mesmos não nasciam
com capacidade para a linguagem. Para os Behavioristas, a linguagem era adquirida
apenas a partir da interação, assumindo caráter externo e social.

O Gerativismo defende que a linguagem é uma capacidade inata - a capacidade do


ser humano falar e entender uma língua se dá por um dispositivo inato, uma capacidade
biológica. Segundo essa teoria, a fala de uma criança, não é mera repetição de algo que já
foi dito, a criança é capaz de criar sentenças inéditas.

O Gerativismo trabalha com dois princípios - a competência e o desempenho


linguístico. A competência seria a nossa habilidade e capacidade de produzir sentenças, é
o saber que está em um módulo da nossa mente. Já o desempenho seriam as escolhas
que fazemos para nossa fala, o emprego concreto que o ser humano faz da sua língua.

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O gerativismo tornou popular um conceito já conhecido: a língua, a partir de


regras finitas, é capaz de gerar infinitos enunciados – que se denomina
competência. E esse conceito, não só capacita o falante/ouvinte a gerar e
entender o que for necessário à sua expressão/compreensão, mas também
exercitar o lado criativo da linguagem.

4.1. A faculdade da linguagem


A linguística gerativa surgiu nos Estados Unidos, no final da década de 50, com os
trabalhos do linguista Noam Chomsky, professor do Instituto de Tecnologia de
Massachussets, o MIT. De lá para cá, o gerativismo passou por diversas modificações e
reformulações, que refletem a preocupação dos pesquisadores dessa corrente em elaborar
um modelo teórico formal, inspirado na matemática, capaz de descrever e explicar
abstratamente o que é e como funciona a linguagem humana.

Como dissemos, a linguística gerativa foi inicialmente formulada como uma espécie
de resposta e rejeição ao modelo behaviorista de descrição dos fatos da linguagem, que foi
dominante na linguística e nas ciências de uma maneira geral durante toda a primeira
metade do século XX.

“Para os behavioristas, a linguagem humana era interpretada como um


condicionamento social, uma resposta do organismo humano aos estímulos que
recebia nas interações sociais. Essa resposta, a partir da repetição, seria convertida
em hábitos, que caracterizariam o comportamento linguístico de um falante. ”
[Kenedy, 2010, p. 127]

Portanto, para um behaviorista, a linguagem humana é um fenômeno externo ao


indivíduo, um sistema de hábitos, gerado pela repetição. Em 1959, Chomsky apresentou
uma crítica à visão comportamentalista da linguagem. Ele ressaltou que um indivíduo
humano sempre está construindo frases novas e inéditas, jamais ditas antes pelo próprio
falante que as produziu ou por qualquer outro indivíduo. “Por isso, todos os falantes são
criativos, desde os analfabetos até os autores dos clássicos da literatura, já que todos criam
infinitamente frases novas, das mais simples e despretensiosas às mais elaboradas e
eruditas.” [Kenedy, 2010, p. 128].

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Chomsky chegou a afirmar, inclusive, que a criatividade é o que caracteriza o


comportamento linguístico humano, aquilo que distingue a linguagem humana dos sistemas
de comunicação animal. Sendo assim, se considerarmos a criatividade como a principal
característica da linguagem humana, logo refutamos o behaviorismo, já que nele não há
espaço para eventos criativos, a resposta é previsível a partir de um dado estímulo.

Para Chomsky, a capacidade humana de falar e entender uma língua (pelo menos),
isto é, o comportamento linguístico dos indivíduos, deve ser compreendido como o
resultado de um dispositivo inato, uma capacidade genética e, portanto, interna ao
organismo humano (e não completamente determinada pelo mundo exterior, como
diziam os behavioristas), a qual deve estar fincada na biologia do cérebro/mente da
espécie e é destinada a constituir a competência linguística de um falante. Essa
disposição inata para a competência linguística é o que ficou conhecido como
Faculdade da Linguagem. [Kenedy, 2010, p. 128].

Se analisarmos criticamente, ninguém iria discutir que a linguagem seja uma


faculdade natural à espécie humana. Afinal, todos os indivíduos humanos foram e são
capazes de manifestar a partir de alguns anos de vida e sem receber instrução explícita
para tanto, uma competência linguística – a capacidade natural e inconsciente de produzir
e entender frases. Nenhum outro ser do planeta, a não ser o próprio homem, é capaz de
dominar naturalmente um sistema de linguagem tão complexo como uma língua natural,
mesmo após muitos anos de treinamento. E nem mesmo o mais potente e arrojado dos
computadores, sejam eles as inteligências que temos em nossos celulares modernos,
possui a capacidade linguística de uma criança de menos de 3 anos de idade, como criar
ou compreender uma frase completamente nova. Isso não é fascinante?

Não é por outra razão que a Faculdade da Linguagem é a característica mental mais
marcante que separa os humanos dos demais primatas superiores e do resto do mundo
natural. O papel do gerativismo, no seio da linguística, é constituir um modelo teórico capaz
de descrever e explicar a natureza e o funcionamento dessa Faculdade, o que significa
procurar compreender um dos aspectos mais importantes da mente humana, como afirmou
o próprio Chomsky:

“Uma das razões para estudar a linguagem (exatamente a razão gerativista) – e para
mim, pessoalmente, a mais premente delas – é a possibilidade instigante de ver a
linguagem como um “espelho do espírito”, como diz a expressão tradicional. Com isto não
quero apenas dizer que os conceitos expressados e as distinções desenvolvidas no uso
normal da linguagem nos revelam os modelos do pensamento e o universo do “senso

Introdução dos Estudos Linguísticos 19


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comum” construídos pela mente humana. Mais instigante ainda, pelo menos para mim, é a
possibilidade de descobrir, através do estudo da linguagem, princípios abstratos que
governam sua estrutura e uso, princípios que são universais por necessidade biológica e
não por simples acidente histórico, e que decorrem de características mentais da espécie
humana” (Chomsky, 1980: 09)

4.2. Diagrama Arbóreo


Os diagramas surgiram na década de sessenta, e ao longo do tempo, estudiosos o
vem aperfeiçoando. Utilizamos os Diagramas Arbóreos nos processos de analises
sintáticas numa frase ou oração; para facilitar a compreensão dos fenômenos da língua e
sua fonética tanto quanto a sua estrutura numa forma visual e detalhista. Sendo assim a
leitura de uma oração ou frase tem uma maior compreensão e desenvolvimento. A
construção desse tipo de estrutura parece como ramificações, de uma forma organizada e
conjunta. Buscando assim maior nível de identificação dos pronomes, substantivos, verbos,
artigos, preposição, adjetivos e outros. Essa estrutura lembra também uma árvore, ou suas
raízes. Então surge o nome (árvore arbórea).

Uma oração é sempre constituída por unidades menores significativas. O


sintagma, segundo Silva e Koch (2001), é o conjunto de elementos que
constituem uma unidade significativa e que mantêm entre si relações de
dependência e de ordem. Organizam-se em torno de um elemento
fundamental, o núcleo, que pode por si só constituir o sintagma. Os tipos de
sintagma dependem do núcleo que o constituem:
*Sintagma nominal (SN): quando o núcleo do sintagma é um nome;
*Sintagma adjetival (SA): quando o núcleo do sintagma é um adjetivo;
*Sintagma verbal (SV): quando o núcleo do sintagma é um verbo;
*Sintagma preposicional (SP): quando o núcleo do sintagma é uma preposição.

Abaixo, uma oração representada por meio do diagrama arbóreo onde o SN é


modificado pelo SA.

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http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
44501997000300007

Sautchuk, Inez. Prática de Morfossintaxe - 2ª Ed. 2010


SILVA, M. Cecília P. de Souza e; KOCH, Ingedore Villaça. Linguística Aplicada ao
Português: Sintaxe. 9ª ed. São Paulo: Cortez Editora, 2000.

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5. SOCIOLINGUÍSTICA

Objetivo
Descrever um panorama dos estudos da língua como um fato social. Identificar
alguns pressupostos básicos da Teoria. Refletir sobre a questão do preconceito linguístico.

Introdução
Apresentamos a você o quadro geral de pressupostos teóricos da Sociolinguística.
Veremos quais eram as ideias dominantes quanto ao estudo da variação e da mudança,
bem como de que forma outros teóricos buscaram integrar aos estudos linguísticos
possíveis influências sociais. Vamos apresentar alguns postulados dos principais conceitos
teóricos que os fundamentam, passando inclusive pela discussão um pouco mais avançada
dos problemas de definição de alguns desses conceitos e pela questão do preconceito
linguístico.

5.1. Breve histórico da Sociolinguística


Para entender melhor a teoria da Sociolinguística, vamos relembrar os estudos da
linguagem no século XX. Começamos falando do linguista suíço Ferdinand de Saussure e
do linguista americano Noam Chomsky.

Como vimos, Saussure é um marco da corrente linguística denominada


estruturalismo, segundo a qual a língua é tomada em si mesma, separada de fatores
externos. Além disso, é vista como uma estrutura autônoma, valendo pelas relações de
natureza essencialmente linguística que se estabelecem entre seus elementos. Ou seja,
para Saussure, a linguística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si
mesma e por si mesma.

Saussure postula algumas dicotomias e vai isolando o que, segundo ele, seria de
interesse da ciência linguística.
a) Langue e parole – a langue é homogênea e social, um sistema de signos, é
essencial; já a parole é um ato individual de vontade, é heterogênea,
manifestação concreta da primeira; é acessória e acidental. O objeto da
linguística, para Saussure, é a langue.

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b) Sincronia e diacronia – correspondem a dois eixos ou perspectivas pelas quais


se pode estudar a língua: na sincronia, se faz um recorte da língua em um
momento histórico; na diacronia, a língua é analisada como um produto de uma
série

Langue e parole - Essa dicotomia pode ser traduzida como ‘língua’ e ‘fala’.
Entretanto, preferimos manter os termos originais para assegurar a concepção
saussureana sempre que nos referirmos a ela.

Vale observar que, embora delimite dessa maneira o objeto de estudo da linguística,
Saussure admite que a língua seja um fenômeno social, produto de uma convenção
estabelecida entre os membros de determinado grupo; porém, os fatores externos ao
sistema são deixados de lado por ele – voltaremos a esse ponto mais adiante.

Nos Estados Unidos, a visão formal da língua ganha destaque a partir da década de
60, com Noam Chomsky e a corrente denominada gerativismo, segundo a qual a língua é
concebida como um sistema de princípios universais e é é vista como o conhecimento
mental que um falante tem de sua língua a partir do estado inicial da faculdade da
linguagem, ou seja, a competência.

O termo “Sociolinguística” apareceu pela primeira vez em 1953, num trabalho de


Haver C. Currie. O estudo dessa disciplina desenvolveu-se nas décadas de 50 e 60, nos
Estados Unidos, e o interesse despertado pela pesquisa deve-se a. à grande divulgação
dos estudos de comunicação e à necessidade de maior aproximação com outros povos, ou
de conhecimento melhor da própria comunidade. O ano-chave para o surgimento da
Sociolinguística nos Estados Unidos é 1964, com a publicação de livros de Gumperz,
Labov, Hymes e a conferência de William Bright em Los Angeles.

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5.2. Sociolinguística
A sociolinguística ou sociologia da linguagem, é uma disciplina da linguística que
estuda os aspetos resultantes da relação entre a língua e a sociedade, concentrando-se
em especial na variabilidade social da língua.

Entre sociedade e língua não há uma relação de mera casualidade. Desde que
nascemos, um mundo de signos linguísticos nos cerca, e suas inúmeras possibilidades
comunicativas começam a tornar-se reais a partir do momento em que, pela imitação ou
associação, começamos a formular nossas mensagens. Sons, gestos e imagens cercam a
vida do homem moderno, compondo mensagens de toda ordem, transmitidas pelos mais
diferentes canais. Em todos, a língua desempenha um papel fundamental, seja ela visual,
oral ou escrita.

Desse modo, a corrente Sociolinguística, iniciada na década de 60, buscava


desenvolver uma nova concepção do estudo da Linguística. A Sociolinguística ocupava
uma posição central no processo de rompimento com a visão estruturalista da época. Isso
fez com que a Sociolinguística se tornasse uma das candidatas à sucessão do
Estruturalismo como modelo hegemônico da ciência Linguística.

Assim, atribui-se à Sociolinguística o estudo das relações entre língua e sociedade.


Aqui, língua deve ser entendida como um sistema de vários níveis integrados num todo
historicamente estruturado. A Sociolinguística se ocupa, do estudo da possível incidência
das forças sociais sobre os estratos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos das
línguas.

Foi William Labov que voltou a estudar a relação entre língua e sociedade e na
posição, virtual e real, de sistematizar a variação existente e própria da língua falada. É
William Labov quem inaugura os estudos desta nova disciplina em 1963, quando analisa o
inglês falado na ilha de Martha’s Vineyard, no estado de Massachusetts (EUA). Após esta
pesquisa, várias outras surgiram: como a estratificação social do inglês falado na cidade de
Nova York (1966); a língua do gueto, entre outros.

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Sociolinguística laboviana Também chamada de Teoria da Variação e Mudança


ou de Sociolinguística Quantitativa, pois trabalha com resultados estatísticos

5.3. As várias áreas da Sociolinguística


A associação com a antropologia – chamada de etnolinguística ou antropologia
linguística – deve-se ao fato de a Sociolinguística estender a descrição e análise da língua
para incluir aspectos da cultura em que é usada. Nesse âmbito se insere, mais
recentemente, a corrente denominada Sociolinguística Interacional, que considera a
relação entre os interlocutores, o assunto etc. na análise da conversação.

A proximidade com a sociologia resulta na chamada sociologia da linguagem – área


que investiga a interação entre esses dois aspectos do comportamento humano: o uso da
língua e a organização social do comportamento, ou seja, a organização social do
comportamento linguístico, seja em termos de usos, seja em termos de atitudes em relação
à língua e aos usuários.

A aproximação com a geografia linguística, ou dialetologia, ou ainda geolinguística,


deve-se ao interesse pela elaboração de atlas linguísticos; No Brasil, está sendo organizado
o Atlas Linguístico do Brasil (ALIB), cujo objetivo é descrever a realidade linguística com
vistas a traçar a divisão dialetal do país, tornando evidentes as diferenças regionais. - que,
através de pesquisas de campo, mapeiam dados de diferentes regiões, identificando e
delimitando traços dialetais.

Em suma, a Sociolinguística se ocupa de questões como: variação e mudança


linguística, bilinguismo, contato linguístico, línguas minoritárias, política e planejamento
linguístico, entre outras.

CALVET, L. Sociolingüística: uma introdução crítica. Trad. de Marcos


Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2002.

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6. FUNCIONALISMO

No funcionalismo encontramos a forma concreta em que a língua funciona. Esse


sistema procura analisar o aspecto funcional da língua por meio de um tópico e um
comentário. A língua, nesse momento é tida na organização enquanto o seu uso e
interação.
O princípio do funcionalismo afirma que uma expressão pode assumir diferentes
funções dependendo do uso que se faz da linguagem.

Objetivo
Compreender a corrente funcionalista. Relacioná-la com as outras correntes da
linguística.

Introdução
O século XX foi marcado por uma grande mudança no que concerne aos estudos do
fenômeno da linguagem, uma vez que houve o deslocamento do historicismo para o
descritivíssimo, configurando uma nova tendência de analisar as línguas naturais,
denominada de linguística estrutural ou estruturalismo. Com a publicação do Curso de
Linguística Geral, de Ferdinand de Saussure (1857-1913), em 1916, inicia-se a linguística
moderna, uma vez que, nesse período, passou-se a ter como foco a função que os
elementos linguísticos exerciam no sistema. (Fiorin, 2008).

6.1. A língua e a função


Saussure, considerado o pai do estruturalismo, destacou que a língua constitui um
sistema homogêneo e dinâmico, no qual “as unidades linguísticas obedecem a certos
princípios de funcionamento, constituindo um todo coerente”. Logo, percebe-se que cada
elemento linguístico só adquire valor na medida em que se relaciona com o todo de que faz
parte. Linguistas pós-saussureanos, influenciados pelas ideias de Saussure, passaram a
considerar as línguas como entidades autônomas, independentes do uso na situação
interativa do discurso.

Mais adiante, surge uma nova proposta, a qual enfatiza que as línguas não podem
ser analisadas apenas como estruturas autônomas, dissociadas do uso. Destaca-se a
noção de função, segundo a qual a língua é entendida como um sistema funcional, ou seja,
passa-se a valorizar o uso da língua enquanto voltado para uma determinada finalidade.

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Questiona-se a intenção do locutor ao utilizar a língua. Surge o chamado Círculo


Linguístico de Praga. Para Martelotta (2006), essa alternância na abordagem estrutural, no
que concerne ao estudo da língua ora como uma entidade autônoma, ora como um sistema
funcional, influenciou duas grandes tendências teóricas que se fazem presentes nos
estudos linguísticos, a saber: o formalismo e o funcionalismo.

O formalismo tem como principal teórico e primeiro representante o linguista norte-


americano Noam Chomsky, que desenvolveu a teoria gerativa, a partir do final da década
de 1950. Sua proposta era analisar, mais do que o desempenho dos falantes (seu uso), a
sua competência, o seu conhecimento linguístico subjacente. Assim, “o papel do
gerativismo no seio da linguística é constituir um modelo teórico capaz de descrever e
explicar a natureza e o funcionamento da faculdade da linguagem”, característica mental
da espécie humana (Kenedy In: Martelotta, 2008, p. 129). Logo, sua visão de língua é a de
uma entidade autônoma, que não depende do uso, da comunicação na situação social.

Quanto ao funcionalismo, suas análises têm como base o princípio de que as


funções externas à linguagem influenciam a estrutura gramatical das línguas. Logo, as
línguas refletem uma adaptação às diferentes situações comunicativas. Desse modo,
enquanto o primeiro modelo teórico tem seu foco de interesse na análise que busca
depreender as propriedades comuns, universais da linguagem, o segundo modelo enfatiza
a relação entre forma e função, considerando a língua como uma estrutura.

6.2. Função da linguagem


Martinet assevera que o termo funcional só tem sentido para os linguistas se
correlacionado ao papel que a língua desempenha para os homens em sua experiência
comunicativa. Para Dillinger, o termo função é usado na linguística para designar relações
entre uma forma e outra, uma forma e seu significado e entre o sistema de formas e seu
contexto. Anscombre & Zaccaria, bem como Halliday, afirmam que a função de uma
entidade linguística é constituída pelo papel que ela desempenha no processo
comunicativo.

Diante disso, podemos dizer que, embora os termos função e funcional apresentem
diversas definições, às vezes pouco claras, há um ponto em comum entre os diferentes

Introdução dos Estudos Linguísticos 27


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autores: o de que esses termos só têm sentido se levados em conta o propósito


comunicativo e o contexto discursivo.

Entre os diversos autores que estabelecem proposições de funções da linguagem,


há propostas de conjuntos de funções variadas, tais como as de Jakobson (1969) e as de
Halliday (1977), que são das mais conhecidas.

Roman Jakobson, por exemplo, propõe um conjunto de seis funções da linguagem,


levando em conta os elementos do processo comunicativo, a saber: contexto (função
referencial); remetente (função emotiva); destinatário (função conativa); contato (função
fática); código (função metalinguística) e mensagem (função poética).

Desse modo, para o autor, cada mensagem pode apresentar mais de uma função
da linguagem, presentes em todo ato linguístico.

Além dessas dessas funções, existe uma função que é fundamental para que o
discurso se desenvolva. Trata-se da função “textual”, a qual permite a
organização do discurso: este só se concretiza se o emissor produzir um texto
e o receptor for capaz de reconhecê-lo.

De acordo com Fiorin (2002), os diversos desdobramentos que o funcionalismo


apresenta na atualidade estão em consonância com o fato de que a língua é
primordialmente um instrumento de interação social, usado para estabelecer relações
comunicativas entre os usuários.

Podemos dizer que a teoria funcionalista ganhou força nos Estados Unidos, a partir
da década de 70. Segundo Martelotta (2008), com a publicação do texto The Origins of
Syntax in Discourse: a case study of Tok Pisin relatives de Gillian Sankoff e Penelope Brown
em 1976, inicia-se o desenvolvimento da abordagem funcionalista de vertente norte-
americana.

Nesse sentido, baseando-se na utilização concreta da língua pelos falantes, os


funcionalistas admitem que a gramática é constituída a partir do discurso. Dessa maneira,

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a vertente funcionalista norte-americana compreende a língua como “um objeto maleável,


probabilístico e não-determinístico” (Votre & Naro, 1996: 52). Em outras palavras, a
gramática de uma língua, para a linguística funcionalista norteamericana, é concebida como
um conjunto de regularidades que são convencionalizadas pelo uso concreto nas diferentes
situações discursivas.

Assim, podemos dizer, então, que gramática funcional tem como pressuposto
fundamental a interdependência entre as expressões linguisticas e o contexto
e interação social em que elas são proferidas

6.3. Princípios
O funcionalismo caracteriza-se por uma concepção dinâmica do funcionamento das
línguas. Nessa perspectiva, a gramática é vista como dependente de fatores não só
internos, mas também externos à língua. Nesse sentido, Votre et alii (1993) explicitam
alguns princípios fundamentais que delineiam um perfil do funcionalismo contemporâneo.

O primeiro deles é o princípio da informatividade, que diz respeito ao conhecimento


partilhado entre os participantes da interação verbal. Assim, cognitivamente, um indivíduo
se comunica com intuito de levar a seu interlocutor uma informação a respeito de alguma
coisa, que pode ser do mundo externo ou interno desse emissor, ou, até mesmo, uma
tentativa de manipulação desse interlocutor.

A iconicidade corresponde à relação motivada entre forma e significado, isto é, entre


expressão e conteúdo. De acordo com Votre (1993:10), “a expressão tem a forma que tem
por causa do conteúdo que veicula”. Para os funcionalistas, a estrutura da língua reflete, de
alguma forma, a experiência do falante, o que implica dizer que o princípio da iconicidade
se assenta na relação entre gramática e cognição.

A marcação distribui, de maneira escalar, as estruturas da língua entre dois


extremos: a categoria marcada e a não-marcada. Assim, as formas linguísticas marcadas
são caracterizadas pela baixa frequencia de uso em uma determinada língua, ou seja, são

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formas mais raras. Já as não-marcadas caracterizam-se pela alta frequência de uso,


portanto, são mais usuais.

CUNHA, M. A. F.; OLIVEIRA, M. R. & MARTELOTTA, M. E. (orgs.). Lingüística


Funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DP& A, 2003.
FIORIN, José Luiz. (org.) Introdução à Linguística. 5. ed., 2ª
reimpressão.S.Paulo: Contexto, 2008.

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7. A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

Objetivo
Discutir como se dá a aquisição da linguagem. Comparar as teorias sobre aquisição
da linguagem

Introdução
Nesta aula pretendemos discutir o que ocorre na Linguística sobre a aquisição da
linguagem, isto é, como a criança de um a quatro anos aprende a língua que dominará
pouco tempo depois. Vamos refletir sobre as teorias de aquisição da linguagem, isto é, das
propostas que tentam explicar como se dá esse desenvolvimento e por que ocorre da
maneira como ocorre.

7.1. A aquisição da linguagem


Como observado no item, a aquisição da linguagem não é caótica, aleatória. Há uma
certa lógica nesse processo já estudada por vários teóricos. O fato de as crianças, por volta
dos três anos, serem capazes de fazer uso produtivo de suas línguas suscita a questão de
como estas línguas são aprendidas, adquiridas. É a essa questão que as teorias de
aquisição tentam responder.

Vamos apresentar algumas correntes teóricas em aquisição da linguagem. Seria


impossível desenvolver uma descrição detalhada de cada corrente, ou discutir as diversas
propostas que se aproximam mais ou menos de uma (ou mais de uma) corrente teórica.
Dentro de uma possível simplicidade iremos mostrar um panorama dessa área.

7.2. O behaviorismo
Durante a tradição estruturalista da Linguística, era muito comum a visão que previa
o aprendizado por meio de estímulos. Skinner (1957) propunha ser capaz de predizer e
controlar o comportamento verbal mediante variáveis que controlam o comportamento
(estímulo, resposta, reforço) e a especificação de como essas variáveis interagem para
determinar uma resposta verbal particular.

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Segundo essa proposta, um estímulo externo provoca uma resposta externa do


organismo. Se essa resposta for reforçada positivamente, a tendência é que o
comportamento se mantenha. Se a resposta for reforçada negativamente, o comportamento
é eliminado. Imagine a situação de uma criança que vê a mãe e quer sair do berço
(estímulo). Ela começa a chorar (resposta). Caso a mãe a retire do berço, ela está
reforçando positivamente o comportamento da criança, isto é, a criança "aprende" que para
sair do berço deve chorar. Se, por outro lado, a mãe não atender a criança (reforço
negativo), esta "aprenderá" que não é chorando que vai conseguir sair de lá.

O mesmo princípio é usado para o aprendizado da língua. Imagine que a criança vê


a mamadeira (estímulo) e diz "papá". Se ela conseguir com isso que lhe deem a mamadeira,
será reforçada positivamente, "aprenderá" que quando quiser comida deve dizer "papá".
Assim, para Skinner, o aprendizado linguístico era análogo a qualquer outro aprendizado

Considerando a aquisição desse modo, o behaviorismo acaba recaindo num


processo indutivo de aquisição, porque considera somente os fatos observáveis da língua.
Um dos principais problemas da proposta de Skinner no que diz respeito à linguagem é a
aquisição do léxico (conforme já apontado por Chomsky, 1959). Outro importante problema
para as propostas behavioristas é explicar como produzimos e compreendemos sentenças
nunca ouvidas antes. Mas vamos falar de Chomsky mais adiante.

7.3. O conexionismo
Os modelos conexionistas têm por objetivo explicar os mecanismos que embasam o
processamento mental, e a linguagem é apenas um desses processos. As propostas
conexionistas buscam a interação entre o organismo e o ambiente, assumindo a existência
de um algoritmo de aprendizagem. Por organismo, entende-se a intrincada rede neural (os
trabalhos conexionistas tentam replicar, computacionalmente, o que ocorre no cérebro).

Segundo Plunkett (2000), pode-se imaginar que o cérebro é formado por uma rede
de unidades de processamento interconectadas e que cada uma dessas unidades é um
neurônio que recebe atividade elétrica de outros neurônios, via sinapses, ou seja, conexões
que propagam atividade elétrica entre neurônios por neurotransmissores.

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Os modelos conexionistas assumem a existência de um algoritmo de aprendizagem


interno que permite o aprendizado a partir de experiências. A aprendizagem está vinculada
a mudanças nas conexões neurais.

7.4. O inatismo
Segundo essa proposta de que o ser humano é dotado de uma gramática inata
conforme aponta Chomsky (1965). Sua proposta procura dar conta da competência e
criatividade do falante.

Se se assume que há um componente inato e independente da cognição, cumpre


tentar explicá-lo. Chomsky propõe que a criança tem um dispositivo de aquisição da
linguagem inato que é ativado e trabalha a partir de sentenças (input) e gera como resultado
a gramática da língua à qual a criança está exposta. Segundo o autor, esse dispositivo é
formado por uma série de regras, e a criança, em contato com sentenças de uma língua,
seleciona as regras que funcionam naquela língua em particular, desativando as que não
têm nenhum papel.

De acordo com essa proposta, a criança tem uma Gramática Universal (GU) inata
que contém as regras de todas as línguas, e cabe a ela, criança, selecionar as regras que
estão ativas na língua que está adquirindo.

Mais para a frente, com a Teoria de Princípios e Parâmetro, a concepção do que


seja a gramática universal muda. Segundo essa teoria, a gramática universal é formada por
princípios, ou seja, "leis" invariantes, que se aplicam da mesma forma em todas as línguas,
e parâmetros, "leis" cujos valores variam entre as línguas e dão origem tanto à diferença
entre as línguas como à mudança numa mesma língua. O trabalho da criança está em
escolher, a partir do input, o valor que um determinado parâmetro deve tomar.

7.5. O inatismo
Esta proposta teórica, que vincula a linguagem à cognição, foi desenvolvida a partir
dos estudos de Jean Piaget. Para Piaget, a criança constrói o conhecimento com base na
experiência com o mundo físico, isto é, a fonte do conhecimento está na ação sobre o
ambiente.

Introdução dos Estudos Linguísticos 33


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Para Piaget, os universais linguísticos são reflexos das estruturas cognitivas


universais; o conhecimento linguístico de uma criança em um determinado momento reflete
as estruturas cognitivas que foram desenvolvidas antes e que determinam este
conhecimento.

Piaget propõe que o desenvolvimento cognitivo passa por períodos, estágios:


sensório-motor (zero a dezoito meses), pré-operatório (dois a sete anos), operações
concretas (7 a 12 anos) e operações formais. Os estágios piagetianos são universais
(gerais e invariáveis) e, em cada um, a criança desenvolve capacidades necessárias para
o estágio seguinte, provocando mudanças qualitativas no desenvolvimento.

7.6. O interacionismo
Vygotsky (1962) também defende que o desenvolvimento da fala segue as mesmas
leis, o mesmo desenvolvimento que outras operações mentais. O autor, no entanto, chama
a atenção para a função social da fala, e daí a importância do outro, do interlocutor, no
desenvolvimento da linguagem. Os estudos de base interacionista apontam para o papel
do adulto como quem cria a intenção comunicativa, como o facilitador do processo de
aquisição.

Assim como Piaget, Vygotsky estava interessado na relação entre língua e


pensamento. o autor propõe quatro estágios no desenvolvimento das operações mentais:
natural ou primitivo (que corresponde à fala pré-intelectual e ao pensamento pré-verbal);
psicologia ingênua (a criança experimenta as propriedades físicas tanto de seu corpo
quanto dos objetos, e aplica essas experiências ao uso de instrumentos - inteligência
prática); signos exteriores (as operações externas são usadas para auxiliar as operações
internas; nesse estágio ocorre a fala egocêntrica); e crescimento interior (em que as
operações externas se interiorizam).

A aquisição da linguagem é fascinante. Observar como, num período tão curto, a


criança passa a dominar uma língua é instigante, desafiador. São muitos os aspectos
relativos a essa aquisição: Como esse processo ocorre tão rapidamente? Há um período
crítico (idade máxima) para a aquisição? Qual a relação entre a produção e a percepção da
linguagem? Existe algum componente da linguagem (fonologia, morfologia, sintaxe...) que
é adquirido antes do que outro? Ou algum componente da linguagem serve para a criança

Introdução dos Estudos Linguísticos 34


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apoiar-se enquanto adquire outros componentes? Qual a relação entre a aquisição normal
e a aquisição por crianças com algum tipo de desvio?

Infelizmente não foi possível tratarmos de todos esses aspectos. Os estudos na área
são complexos. Vale a pena você buscar conhecer mais profundamente cada um desses
estágios.

Nunca é demais estudar Chomsky. Você ouvirá muito sobre ele ao longo do
curso. Chomsky é um dos maiores teóricos da atualidade. Sobre aquisição de
linguagem, veja o vídeo https://www.youtube.com/watch?v=W53UvJoLAwI

FIORIN, José Luiz. (org.) Introdução à Linguística. 5. ed., 2ª


reimpressão.S.Paulo: Contexto, 2008..

Introdução dos Estudos Linguísticos 35


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8. LINGUÍSTICA E ENSINO

Objetivo
Compreender de que forma a linguística pode ser aplicada em sala de aula. Como
as diferentes teorias subsidiam o ensino.

Introdução
Com referência ao ensino da língua, tem havido, nos últimos anos, um excesso de
teorização, num uso direto das teorias linguísticas modernas, tão prejudicial quanto a
proliferação inconsequente de terminologias gramaticais. Além de se promover a análise
científica da linguagem, cabe promover a organização dessa análise para o uso em sala de
aula.

A linguísticas não pode, sozinha, renovar o ensino do vernáculo. Pode, isto sim, dar
uma grande parcela de contribuição para essa renovação. O ensino pode beneficiar-se com
as informações obtidas pela investigação linguística, com os métodos que orientam essa
investigação, mas não com o aparato formal das teorias ou com sua terminologia técnica.
Mais ainda: o ensino não deve basear-se exclusivamente numa teoria. As várias teorias se
complementam quanto aos fatos analisados. Deve-se, pois, promover um aproveitamento
o mais eclético possível dos resultados alcançados pelas investigações teóricas, buscando-
se o ponto ideal para o ensino da língua.

8.1. Teorias Linguísticas e Descrições Pedagógicas


Torna-se necessária numa reflexão sobre teorias linguísticas e descrições
pedagógicas, para que se veja a aplicabilidade dos modelos linguísticos ao ensino da
língua. É impossível a aplicação direta das teorias linguísticas às descrições pedagógicas,
uma vez que há divergência de objetivos entre elas. Não se pode esperar milagres da
linguísticas. Deve ela ficar fiel aos seus limites e alcançar, dentro deles, a sua plenitude.

O ensino pode e deve beneficiar-se das aquisições da linguística. Não há, porém,
atualmente, um modelo linguístico diretamente aplicável ao ensino da língua.

Caberia uma colaboração estreita, no nível universitário, entre o professor de


português e o professor de linguística, buscando uma compreensão mais elevada do

Introdução dos Estudos Linguísticos 36


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sistema e funcionamento da língua. Ambos trabalham com o mesmo material: a língua.


Cabe considerar os pontos convergentes entre a linguística e o ensino da língua para o
maior número de conclusões práticas. Cabe, outrossim, o conhecimento das teorias
existentes com base em princípios pedagógicos e não linguísticos.

A gramática pedagógica pode e deve fazer uso de aquisições de diferentes teorias.


A mudança a ser implementada só deverá ser levada a cabo se for verificado seu real
interesse pedagógico. A mudança de terminologia, por exemplo, é de interesse nacional e
não deste ou daquele autor, professor, entidade ou instituição, daí a necessidade de um
trabalho conjunto entre linguistas, professores, pedagogos, autores de manuais didáticos e
autoridades governamentais.

A tarefa de escolher, dentre as informações contidas na(s) gramática(s) científica(s)


da língua - há que havê-la(s) -, do que é pedagogicamente relevante deveria ser intentada
pelo linguista aplicado e pelo autor de manuais pedagógicos.

É importante deixar claro que ao se defender a necessidade de um olhar mais


particular em relação à teoria x prática de ensino, em nenhum momento isso
significa dizer que exista uma teoria ou um teórico cujo trabalho científico foi
elaborado com a única e exclusiva função de ser aplicado a problemas relativos
ao ensino de linguagem. O que se quer buscar é uma utilização do potencial
explicativo de determinada teoria linguística para a interpretação e possível
resolução dos problemas que afetam a área de atuação em sala de aula. Não
se pode esquecer que se está aqui referindo à atuação de professores de LM
formados em cursos de licenciatura e, enquanto tal, requer, claro, um
entendimento teórico voltado para a prática.

8.2. Influência da Linguística nos Livros Didáticos


A influência da linguística moderna nos livros didáticos não tem sido positiva. Temos
visto gramáticas supostamente pedagógicas mais parecendo manuais de linguística.

Na ânsia de mostrar vanguardismo de ideias, autores de livros didáticos utilizam,


melhor, manipulam, de forma muitas vezes equivocada, nomenclaturas e teorias
linguísticas, com o objetivo único de promover seus livros.

Introdução dos Estudos Linguísticos 37


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Tem havido, nos últimos anos, um excesso de teorização, num uso direto das teorias
linguísticas modernas, tão prejudicial quanto a proliferação inconsequente de terminologias
gramaticais.

Nenhum falante domina a língua como um todo. Os falantes nativos só possuem


uma interseção de variantes. Ao ensino caberá aumentar o número de variantes dominadas
pelo aluno, tornando-o capaz de usar eficazmente a língua nas diversas situações que vai
vier, vivenciar.

Mas o ensino da língua não deve ter como único objetivo o de capacitar o aluno para
usá-la de modo eficaz e adequado. Deverá ele igualmente fornecer a esse aluno
conhecimento sobre o funcionamento da língua, dando-lhe condições para compreender e
apreciar a(s) sua(s) literatura(s).

Cabe ao ensino estimular a reflexão linguística, para que o aluno tome consciência
da língua e das suas possibilidades, estimulando-o igualmente à criatividade linguística,
orientando-o para a percepção de que os recursos para tal criatividade estão à disposição
de todos, no sistema da língua.

O ensino de línguas pode e deve beneficiar-se com as informações obtidas pelas


investigações linguísticas, com os métodos heurísticos que orientam essas investigações,
mas não com o aparato formal das teorias e com sua terminologia técnica. Mais ainda, o
ensino não deve basear-se exclusivamente numa teoria. As várias teorias se
complementam quanto aos fatos analisados. Deve-se, pois, promover um aproveitamento
o mais eclético possível dos resultados alcançados pelas investigações teóricas. É esse o
ponto ideal para o ensino do vernáculo.

Em 1997/1998, os PCNs de Língua Portuguesa (BRASIL, 1998) que defende


princípios postulados por Vygotsky e por Bakhtin, - cujas respectivas teorias
focalizam a origem social da linguagem e do pensamento, por meio de
situações significativas e de interação humana12 -, assumem essa proposta de
trabalho com o conteúdo enquanto determinados dentro do enquadre do
funcionamento social e
contextual do gênero.

Introdução dos Estudos Linguísticos 38


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COSERIU, Eugênio. “Do sentido da língua e a literatura”, in Confluência.


Revista do Instituto da Língua Portuguesa do Liceu Literário Português, n.º
5, Rio de Janeiro, Ed. Lucerna Ltda/ 1º semestre/1993.p.29-47.

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9. LINGUÍSTICA E PRECONCEITO NA ESCOLA

Objetivo
Refletir sobre o preconceito linguístico em sala de aula. Apontar estratégia de
trabalho com as diferentes línguas existentes.

Introdução
O preconceito linguístico é, segundo o professor, linguista e filólogo Marcos Bagno,
todo juízo de valor negativo (de reprovação, de repulsa ou mesmo de desrespeito) às
variedades linguísticas de menor prestígio social. Normalmente, esse prejulgamento dirige-
se às variantes mais informais e ligadas às classes sociais menos favorecidas, as quais,
via de regra, têm menor acesso à educação formal ou têm acesso a um modelo educacional
de qualidade deficitária.

Apesar de comum, é difícil algum professor admitir que tenha esse tipo de
preconceito. Por isso, vamos refletir sobre uma pesquisa realizados em docentes de uma
escola de esfera pública municipal, situada no município de Maribondo – AL. A pesquisa foi
realizada com o corpus constituído por (4) questionários devidamente respondidos pelos
docentes, é possível ver a opinião dos professores em relação à variação linguística em
sala de aula, na relação professor/aluno, e constatar a prática do preconceito linguístico.

Por mais que os docentes não afirmem serem contra a variação da norma-padrão
da língua portuguesa, eles afirmam que o papel da escola é ensinar aos discentes a norma-
padrão, não os obrigando a segui-la rigorosamente. Com isso, a pesquisa constatou que
os professores buscam corrigir seus alunos diante do uso da variação, ou seja, os mesmos
não são contra, mas buscam ensinar seus alunos o uso do português-padrão.

Ao final da aula, vale uma reflexão por parte dos docentes: como lidar com a variação
linguística dentro da sala de aula, como reagir ao ver os discentes usando o português não
padrão? Isto é certo ou errado? Como a prática do preconceito linguístico pode prejudicar
os docentes?

Introdução dos Estudos Linguísticos 40


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 O preconceito linguístico em sala de aula: Atitudes dos docentes.


Disponível em:
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/o-
preconceito-linguistico-em-sala-de-aula-atitudes-dos-docentes/55786

9.1. O preconceito linguístico


O preconceito é um juízo preconcebido o qual se manifesta em atos discriminatórios
que intimidam a vítima. Existem várias formas de preconceito, racial, social, sexual, dentre
outros. Nosso foco, nesta aula, é refletir sobre o preconceito linguístico, especificamente o
que ocorre em sala de aula.

O preconceito linguístico é visto constantemente em todos os lugares, sempre vindo


da parte de falantes do português padrão. Na maioria das vezes, as “vítimas” são os
falantes do português não padrão, já que se trata de pessoas sem nenhuma escolaridade
ou então moradores da zona rural. Alguns dos falantes do português padrão, afirmam que
o domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social, o que para BAGNO (2007,
p. 69) é mito.

Ora, se o domínio da norma culta fosse realmente um instrumento de ascensão na


sociedade, os professores de português ocupariam o topo da pirâmide social, econômica e
política do país. O que não é verdade, nós, professores, recebemos salários indignos. Por
outro lado, um grande fazendeiro que tenha apenas alguns poucos anos de estudo primário,
mas que seja dono de milhares de cabeças de gado, de indústrias agrícolas e detentor de
grande influência política em sua região vai poder falar à vontade sua língua de “caipira”,
com todas as formas sintáticas consideradas “erradas” pela gramática tradicional, porque
ninguém vai se atrever a corrigir seu modo de falar. Logo, será que o preconceito não é
econômico?

Segundo Bagno, na obra Preconceito Linguístico: o que é, como se faz (1999), o


preconceito linguístico deriva da construção de um padrão imposto por uma elite econômica
e intelectual que considera como “erro” e, consequentemente, reprovável tudo que se
diferencie desse modelo.

Introdução dos Estudos Linguísticos 41


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Marcos Bagno foi um dos principais autores a discutir o preconceito linguístico.


É importante que você conheça sua obra.

A principal consequência do preconceito linguístico é a acentuação dos demais


preconceitos a ele relacionados. Isso significa que o indivíduo excluído em uma entrevista
de emprego, por se utilizar de uma variedade informal da língua, não terá condições
financeiras de romper a barreira do analfabetismo e, provavelmente, continuará excluído.
O cidadão segregado por apresentar sotaque de uma determinada região continuará sendo
visto de forma estereotipada, sendo motivo de riso ou de chacota e assim por diante.

9.2. Como o preconceito linguístico é visto em sala de aula?


Como já foi dito o preconceito linguístico é visto constantemente no dia a dia, e na
escola não é diferente, principalmente na relação professor/aluno, alguns professores
costumam corrigir seus alunos quando os mesmos não respeitam a norma padrão da língua
portuguesa, ou seja, para eles os discentes devem falar de acordo com a norma padrão.

Para BAGNO (2007), os métodos tradicionais de ensino da língua no Brasil visam,


por incrível que pareça, a formação de professores de português! O ensino da gramática
normativa mais estrita, a obsessão terminológica, a paranoia classificatória, o apego à
nomenclatura — nada disso serve para formar um bom usuário da língua em sua
modalidade culta. Esforçar-se para que o aluno conheça de cor o nome de todas as classes
de palavras, saiba identificar os termos da oração, classifique as orações segundo seus
tipos, decore as definições tradicionais de sujeito, objeto, verbo, conjunção etc. — nada
disso é garantia de que esse aluno se tornará um usuário competente da língua culta.

Se olharmos como é o ensino da Língua Portuguesa nos dias de hoje no Brasil,


confirmamos que os professores tomam como base para suas aulas as regras da gramática
normativa. Todos nós passamos pela dura experiência de decorar os tempos verbais, sem
compreender ao certo o seu uso.

Introdução dos Estudos Linguísticos 42


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Percebemos, então, que este modo de ensino não garantirá que os alunos se
transformem em falantes da norma culta da Língua Portuguesa. Muito pelo contrário,
continuaremos a ouvir dos nossos meninos e meninas: “Para que serve isso?”

9.3. Variação linguística


A variação linguística é o modo em que a língua se diferencia das outras de um modo
sistemático e coerente, que irá variar do contexto histórico, geográfico, como também
cultural.

Como afirma BELINE (2007), em sentido bastante amplo, podemos de início pensar
em diferentes línguas que existem no mundo. Falamos português no Brasil. Praticamente
com qualquer região de fronteira em que estejamos em nosso país, sabemos que do outro
lado falam outra língua – o espanhol. Sabemos também que dentro de nosso país ainda há
indígenas que se comunicam, quando estão em suas aldeias, em suas línguas, e não em
Português. Podemos atravessar o Atlântico, ir para outros continentes, e citar um sem-
número de outras línguas diferentes.

Todas as línguas faladas no mundo possuem variações, seja por razões históricas,
geográficas, dentre outras, as quais não podem ser consideradas “erradas”, mais sim
variações de uma norma padrão. As variações só poderão ser consideradas “erradas”,
quando vista de modo com a gramática normativa, a qual só considerada correta a norma
padrão.

A língua portuguesa falada no Brasil possui uma infinidade de diferenças e variações


quando comparada com a língua portuguesa falada em Portugal. BAGNO (2013, p. 19),
divide estas diferenças em cinco grupos.
• diferenças fonéticas
• diferenças sintáticas
• diferenças lexicais
• diferenças semânticas
• diferenças no uso da língua.

Introdução dos Estudos Linguísticos 43


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Ver-se então que a língua portuguesa como tantas outras, possui suas diferenças,
tanto na sintaxe, como no léxico e na fonética, e que vários estudos foram realizados para
comprovar tais variações.

As variações linguísticas ocorrem por vários motivos, sejam eles históricos,


geográficos, socioculturais, dentre outros, abaixo veremos a definição de algumas das
variedades linguísticas. As variedades históricas, por exemplo, ocorrem quando a língua
passa por transformações ao longo do tempo, ou seja, a cada século que passa, a língua
sofre variações, que só são percebidas quando comparamos um texto produzido no século
atual, com um texto antigo do século XIX ou XVIII. As geográficas ocorrem de acordo com
região cidade e estado, percebe-se quando comparamos a linguagem de um nordestino
com a de um gaúcho, onde além do fato de que o sotaque é diferente, o modo o qual as
pessoas se comunicam nestas regiões do país, são totalmente diferentes uma da outra.

9.4. Normas do português


Toda e qualquer língua viva possui uma norma padrão, esta norma é vista pela
gramática como o jeito certo de falar determinada língua. Além da norma padrão, existem
as variações da língua, as quais são consideradas como norma não padrão. Essa variação
ocorre histórica, geográfica e socioeconomicamente.

A norma padrão do Português, também conhecida como língua formal, é usada


normalmente por pessoas de alto nível de escolaridade e nível socioeconômico, ou espera
que seja usada por eles. Muitas vezes, as normas são tão distantes que nem há um grupo
que as use.

No momento em que se estabelece uma norma-padrão, ela ganha tanta importância


e prestígio social que todas as demais variedades são consideradas “impróprias”, esta
norma-padrão passa a ser designada com o nome da língua, como se ela fosse a única
representante legítima e legal dos falantes desta língua.

A norma não padrão do português é falada por pessoas de classe mais baixa.
BAGNO (2013, p. 29) faz uma crítica em relação a isto. “Estes preconceitos fazem com que
a criança que chega à escola falando PNP (Português não padrão) seja considerada

Introdução dos Estudos Linguísticos 44


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“deficiente” linguística, quando na verdade ela simplesmente fala uma língua diferente
daquela que é ensinada na escola”.

Esta classe sofre muito preconceito em relação à posição social, como também pelo
modo de falar, isto prejudica o rendimento escolar da criança, a qual não tem culpa de ter
sido criada num ambiente que a norma que predomina é a não padrão

A norma não padrão do português não passa de mais um tipo de variação linguística,
como irá existir em todo e qualquer tipo de língua existente no mundo, esta variação não
possui prestígio social, é por este motivo que é muito condenada pelos falantes da norma
padrão.

9.5. Consequências do preconceito linguístico na escola


Vimos que há preconceito linguístico dentro de sala de aula. A pesquisa mencionada
também percebeu que os maiores índices de preconceito linguístico estão na relação
professor/aluno, uma vez que com esta prática, o discente pode perder o estímulo de ir à
escola pelo fato de se sentir inferior aos outros por usar um tipo de variação.

A pesquisa ainda apontou que os docentes entrevistados apresentam certo tipo


receio em relação ao uso da variação linguística. Os quais afirmaram que regem
normalmente perante o uso da variação linguística em sala de aula, mas corrigem seus
alunos mostrando-os o jeito “padrão” de se pronunciar determinada palavra.

O mais importante, contudo, é que nesse cenário, alguns alunos deixam de


frequentar a escola, uma vez que os alunos começam a se achar inferior aos outros pelo
fato de usar uma das inúmeras variações da língua. Apesar de os docentes não obrigarem
seus alunos a serem falantes da norma padrão e de entenderem que o uso da variação
linguística é normal em toda e qualquer língua, ainda assim, na prática há um
comportamento repressivo.

É importante destacar que os docentes atuais estão cada vez mais compreensíveis
e vulneráveis a aceitar o uso da variação linguística nas salas de aulas as quais atuam
como regentes, uma vez que falamos, a fala deve possuir sentido completo,
independentemente do uso do português padrão ou do português não padrão, por este

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motivo que não deveria existir o preconceito. Fica de forma clara e evidente que o uso das
variações deve ser respeitado tão quanto o uso do português padrão, precisa-se então que
exista este entendimento por parte dos docentes. Para que, com isso, dê-se um ponto final
no preconceito linguístico, não só em sala de aula, mas na vida social e profissional do
falante.

Para repensar as práticas em sala de aula, vale revisitar a obra de Paulo Freire
e ver como o autor teoriza o ato de ensinar. Paulo Freire sempre deve ser
revisitado.

SCHERRE, Marta. O preconceito linguístico deveria ser crime. Disponível em


<http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI110515-17774,00-
O+PRECONCEITO+LINGUISTICO+DEVERIA+SER+CRIME.html>. Acesso em 23
de out. 2013.

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística. 17. ed. São Paulo:
Contexto, 2013.

BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é como se faz. 49. ed. São
Paulo: Loyola, 2007.

BELINE, Ronald. A variação linguística. In: FIORIN, José Luiz (org). Introdução a
linguística. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2007, p. 121.

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