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A ATUAÇÃO DE PROFISSIONAIS

QUE COMPÕEM EQUIPES DE SAÚDE MULTIDISCIPLINARES NOS CASOS DE


ESTERILIZAÇÃO VOLUNTÁRIA FEMININA1

Bruna Peruch Hilário2

Resumo: Este artigo apresenta os resultados de uma investigação qualitativa que teve como
objetivo caracterizar a atuação de profissionais que compõem equipes de saúde
multidisciplinares em casos de esterilização voluntária feminina. Foram entrevistadas quatro
enfermeiras atuantes no aconselhamento das mulheres que optam por laqueadura através do
Sistema Único de Saúde no município de Florianópolis. Os dados foram coletados através de
entrevistas semiestruturadas e submetidos à análise do conteúdo. Constatou-se a partir das falas
das participantes que não há atuação multidisciplinar efetiva nos aconselhamentos dos
solicitantes do método contracepcional definitivo em Florianópolis, há pouco consenso sobre a
interpretação dos critérios descritos no texto da Lei nº 9.263/96, assim como inexiste
treinamento aos profissionais atuantes em planejamento familiar para intervir junto a essa
demanda. A partir destes dados percebeu-se a necessidade de ampliação do debate sobre os
critérios e texto da lei que trata do planejamento familiar e de reflexões multiprofissionais sobre
os modos de intervenção nesse contexto.

Palavras-chave: Laqueadura tubária. Planejamento familiar. Saúde da Mulher.

1 INTRODUÇÃO

A busca pelo controle da reprodução humana e do crescimento populacional é


antiga e historicamente tem tornado o controle sobre o corpo feminino um de seus principais
campos de disputa. É durante a crise populacional dos séculos XVI e XVII que o Estado se
apropria do controle sobre os assuntos reprodutivos e começa a utilizar meios cada vez mais
cruéis de controlar e castigar as sexualidades não procriativas e as tentativas de contracepção:
[...] a principal iniciativa do Estado com o fim de restaurar a proporção populacional
desejada, foi lançar uma verdadeira guerra contra as mulheres, claramente orientada
a quebrar o controle que elas haviam exercido sobre seus corpos e sua reprodução.
[...] essa guerra foi travada principalmente por meio da caça às bruxas, que
literalmente demonizou qualquer forma de controle de natalidade e de sexualidade
não procriativa, ao mesmo tempo que acusava as mulheres de sacrificar crianças para
o demônio (FEDERICI, 2017, p. 174)

Entretanto, ao longo dos séculos, o aumento da natalidade não foi o único objetivo
almejado ao tentar controlar a natalidade através do controle dos corpos das mulheres. O

1
Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso de graduação em Psicologia da Universidade do Sul de
Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Psicólogo. Orientadora: Profª. Zuleica Pretto,
Drª. Palhoça, 2017.
2 Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina. brunahilario2@gmail.com
1
surgimento da propriedade privada criou a necessidade de proteção da riqueza para os
descendentes do proprietário e a única garantia de que a herança não seria extraviada seria
assegurando uma prole legítima. A principal forma encontrada pelos homens, detentores do
patrimônio, foi através do controle da sexualidade das mulheres. Neste contexto a moralidade
cristã foi uma das principais ferramentas para manter sob controle masculino o comportamento
sexual e reprodutivo das mulheres, assim como para promover o modelo de maternidade
patriarcal, onde o papel de cuidadora é construído como biológico e natural (ALBUQUERQUE,
2008; ÁLVARO, 2013).
O interesse em controlar a natalidade também revelou projetos racistas ao longo da
história. No Brasil, durante as décadas de 80 e 90, feministas negras e setores do movimento
negro denunciavam a prática de esterilização cirúrgica em massa na população pobre e negra
brasileira, indicando políticas eugênicas do Estado na realização das laqueaduras (DAMASCO,
MAIO e MONTEIRO, 2012). As discussões promovidas pelas denúncias levaram a
constituição de uma CPMI para investigar as possíveis motivações eugênicas envolvendo as
esterilizações (RIBEIRO, 2012). De acordo com Damasco, Maio e Monteiro (2012) a CPMI
constatou não haver estatísticas satisfatórias relativas à cor de pele da população, fato que
comprometia a investigação das denúncias e demonstraram a urgência de regularizar o acesso
às esterilizações:

As discussões promovidas pela CPMI levaram à proposta de criação de um projeto de


lei específico para normatizar e conter o uso abusivo da esterilização cirúrgica no
Brasil. Esse projeto serviu de base para a Lei do Planejamento Familiar n. 9.263,
criada em janeiro de 1996, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso [...]
(DAMASCO, MAIO e MONTEIRO 2012, p. 147).

As denúncias das ativistas negras e a demanda crescente de mulheres arrependidas de realizar


laqueaduras culminaram em articulação social para que a esterilização voluntária fosse
regulamentada com o objetivo de refrear práticas abusivas de médicos e do Estado e, assim,
garantir as condições necessárias para assegurar a autonomia de todas as mulheres na decisão
pessoal por um método contraceptivo (RIBEIRO, 2012). De acordo com Marcolino (2004), a
inclusão da esterilização voluntária como método contraceptivo regulamentado pelo Ministério
da Saúde só ocorreu em 1997. Até esta data as laqueaduras apenas poderiam ser realizadas
legalmente mediante autorização, após comprovada existência de riscos de vida para a mulher.
Com a inclusão da laqueadura e vasectomia no grupo de procedimentos cirúrgicos realizados
pelo SUS, os métodos contraceptivos definitivos foram disponibilizados para a população
definida pelo Art. 10 da lei do Planejamento Familiar (MARCOLINO, 2004).

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A lei nº 9.263/96, portanto, regulamenta a esterilização cirúrgica e estabelece que é
dever do Estado prover informações e disponibilizar outros métodos anticoncepcionais,
esclarecendo as dúvidas sobre o método definitivo, para garantir a liberdade de escolha dos
cidadãos. As mulheres que procuram prevenção contraceptiva através do Sistema Único de
Saúde (SUS) podem optar por métodos temporários/reversíveis que incluem métodos de
barreira e métodos hormonais por diferentes vias de administração; ou pelo método definitivo,
através da esterilização voluntária feminina por meio de ligadura tubária (BRASIL, 2016).
Para as mulheres e homens com capacidade civil plena que desejam a esterilização
voluntária como método contraceptivo, a lei nº 9.263/96 determina que o procedimento pode
ser acessado apenas por maiores de 25 anos de idade ou, pelo menos, com dois filhos vivos.
Aos casados é necessário consentimento expresso do cônjuge e é vedada a realização da
laqueadura tubária no momento do parto ou aborto, exceto em casos de necessidade
comprovada, por cesarianas sucessivas anteriores. Aos solicitantes do procedimento que
cumprem as exigências descritas, é necessário aguardar o prazo mínimo de 60 dias entre a
manifestação da vontade e o ato cirúrgico. Neste período, o solicitante deverá participar de
sessões de orientação para receber informações e esclarecer dúvidas, incluindo aconselhamento
por equipe multidisciplinar, visando desencorajar a esterilização precoce (BRASIL, 1996).
Porém, segundo Carvalho e Schor (2012, p. 95) “(...) a demanda por reversão da
laqueadura tubária ocorre mesmo quando as mulheres foram atendidas por serviços organizados
conforme a legislação” e, portanto, o arrependimento não é resultado apenas da falta de acesso
à informação. Diante das implicações envolvidas e derivadas da escolha pelo método
anticoncepcional definitivo, uma das maiores responsabilidades das equipes de saúde da
família, que recebem a demanda por laqueadura tubária nas Unidades Básicas de Saúde e
hospitais é evitar o arrependimento futuro das solicitantes (MARCOLINO, 2004). Para isso,
além da apresentação e orientação sobre os métodos contraceptivos disponíveis, as solicitantes
precisam passar por aconselhamento, onde os profissionais das equipes de saúde devem
desencorajar as “esterilizações precoces” (MARCOLINO, 2000; MARCOLINO, 2004;
YAMAMOTO, 2011).
Vale lembrar que a principal estratégia de organização da atenção básica é a
estratégia Saúde da Família (eSF). As equipes referência da atenção básica que atuam na eSF
são compostas por: médico, enfermeiro, auxiliar ou técnico de enfermagem, agentes
comunitários e, às vezes, profissionais de saúde bucal (BRASIL, 2012). Essas equipes
referência podem ser auxiliadas por profissionais de outras áreas, através dos Núcleos de Apoio

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à Saúde da Família (NASF). Os profissionais que compõem os NASF são escolhidos pelos
gestores de cada município “(...) seguindo os critérios de prioridade identificados a partir dos
dados epidemiológicos e das necessidades locais e das equipes de saúde que serão apoiadas”
(BRASIL, 2012, p. 62).
As equipes do NASF podem ser formadas pelas seguintes ocupações do Código
Brasileiro de Ocupações:
Médico Acupunturista; Assistente Social; Profissional/Professor de Educação Física;
Farmacêutico; Fisioterapeuta; Fonoaudiólogo; Médico Ginecologista/Obstetra;
Médico Homeopata; Nutricionista; Médico Pediatra; Psicólogo; Médico Psiquiatra;
Terapeuta Ocupacional; Médico Geriatra; Médico Internista (clinica médica), Médico
do Trabalho, Médico Veterinário, profissional com formação em arte e educação (arte
educador) e profissional de saúde sanitarista, ou seja, profissional graduado na área
de saúde com pós-graduação em saúde pública ou coletiva ou graduado diretamente
em uma dessas áreas (BRASIL, 2017, s.p.)

Estes profissionais atuam na forma de apoio matricial, fornecendo suporte técnico-pedagógico


à equipe e suporte assistencial à população quando solicitados pela equipe de referência: “A
dimensão assistencial é aquela que vai produzir ação clínica direta com os usuários, e a ação
técnico-pedagógica vai produzir ação de apoio educativo com e para a equipe. Essas duas
dimensões podem e devem se misturar nos diversos momentos.” (BRASIL, 2010, p. 12).
Nos casos esterilização voluntária a equipe multidisciplinar, formada pela equipe
Saúde da Família e profissionais do NASF, auxilia a decisão dos médicos responsáveis pela
cirurgia, que são encarregados da aprovação final das laqueaduras.
O processo de aprovação, segundo Yamamoto (2011 p.34) “(...) consta usualmente
de um relatório da assistente social, o parecer favorável de dois médicos e, quando houver nesta
equipe, também o relatório do psicólogo.”. Quando há psicólogos e/ou assistentes sociais nestas
equipes, estes realizam a avaliação da maturidade das solicitantes “(...) verificando os aspectos
relacionados ao campo do emocional, especialmente quanto à maturidade emocional para
encerrar a vida reprodutiva” (MARCOLINO, 2004, p. 775). Porém, o que os profissionais que
avaliam estes aspectos subjetivos compreendem como maturidade para encerrar a vida
reprodutiva e quais informações analisam para esta avaliação não são determinados e não há
consenso na interpretação da lei nº 9.263/96.
Segundo Yamamoto (2011, p. 104) “Para muitos profissionais, em sua interpretação
do texto da lei, a mesma não garante o direito à esterilização (no caso de pessoas com 21 anos
e dois filhos vivos) por entender que a idade mínima é de 25 anos e, portanto, não aprovariam
ou executariam o procedimento (...)”. O Art. 10 da lei nº 9.263/96 que delibera o
desencorajamento de esterilizações precoces pela equipe multidisciplinar, não fornece
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definição clara sobre que seria uma esterilização precoce. Os procedimentos para
“desencorajar”, que devem ser realizados pela equipe ao identificar uma esterilização precoce,
também não são elucidados.
A interpretação feita pelos profissionais é diversa, de acordo com Yamamoto (2011,
p. 89) “(...) os critérios para tomada de decisão pelas equipes passam obrigatoriamente pela
interpretação da lei e suas controvérsias, estando sujeitas a subjetividades e aos valores pessoais
de cada profissional.”. Segundo Caetano (2014) parte das recusas das solicitações de
esterilização feminina estão relacionadas à percepções e posturas das equipes acerca de
possíveis consequências da utilização do método definitivo e a interpretação dos critérios
estabelecidos da lei nº 9.263/96, sendo que a não aprovação das solicitações pelas equipes de
saúde foi o principal motivo do fracasso das mulheres em obter método contraceptivo definitivo
pelo Sistema Único de Saúde, entre 2000 e 2006.
Diante desse contexto, vale questionar: Como se caracteriza a atuação de
profissionais que compõem equipes de saúde multidisciplinares em casos de esterilização
voluntária feminina? A partir desse questionamento, o objetivo geral desta pesquisa foi
caracterizar a atuação de profissionais que compõem equipes de saúde multidisciplinares em
casos de esterilização voluntária feminina por laqueadura, sendo seus objetivos específicos:
identificar o processo de aconselhamento realizado por profissionais que compõem equipes de
saúde disciplinares que atuam em casos de esterilização voluntária feminina, identificar o
conhecimento e a interpretação de profissionais que compõem equipes de saúde
multidisciplinares que atuam em casos esterilização voluntária feminina sobre as prescrições
legais e éticas que envolvem a temática e identificar o processo de desencorajamento realizado
por profissionais que compõem equipes de saúde disciplinares que atuam em casos de
esterilização voluntária feminina.
No próximo tópico os procedimentos metodológicos são demonstrados a fim de
caracterizar a pesquisa e a análise de dados que possibilitou a discussão dos resultados
encontrados nos capítulos posteriores.

2 MÉTODO

Foi realizada uma pesquisa exploratória de abordagem qualitativa com profissionais que
atuam com a demanda de laqueadura na atenção primária à saúde em Florianópolis. A coleta
de dados foi realizada após aprovação do projeto de pesquisa pela Comissão de

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Acompanhamento dos Projetos de Pesquisa em Saúde (CAPPS) do município e pelo Comitê de
Ética em Pesquisa com seres Humanos da UNISUL. Após a aprovação foi entrado em contato,
via e-mail, com o Departamento de Atenção Primária de Florianópolis para solicitar sugestões
de Centros de Saúdes referência em planejamento familiar ou de indicações de profissionais
atuando há mais tempo na área no município. O Departamento de Atenção Primária informou
que a pesquisa poderia ser realizada em qualquer um dos 49 Centros de Saúde do munícipio
pois todos realizavam as atividades de planejamento familiar e também atendeu ao pedido,
sugerindo 8 Centros de Saúde. Entre os sugeridos foram selecionados aleatoriamente quatro
Centros de Saúde, um de cada distrito sanitário do território.
Os dados foram coletados utilizando a técnica de depoimento por meio de entrevistas
semiestruturadas, após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e Termo
de autorização para gravação de voz pelas entrevistadas. Foram entrevistadas quatro
profissionais atuantes no aconselhamento das interessadas pela esterilização voluntária, a fim
de identificar as principais características dos processos de aconselhamento, desencorajamento
e avaliação das solicitantes de laqueadura tubária realizados por estas profissionais. Na tabela
a seguir são apresentados dados gerais em relação às profissionais entrevistadas:

Profissão Idade Especialização Tempo de atuação no


planejamento familiar

Enfermeira 36 anos Saúde Pública 3 anos

Enfermeira 32 anos Saúde da Família 5 anos

Enfermeira 39 anos - 9 anos

Enfermeira - Saúde Pública 12 anos


Saúde da Família
Fonte: Elaboração da autora, 2017.

Após a coleta de dados as entrevistas foram transcritas e as informações foram


organizadas em categorias, seguindo as orientações do método de Análise de Conteúdo,
conforme Pádua (2005). Foram analisados os pontos de divergência, de convergência e as
tendências nos depoimentos das entrevistadas que resultaram nos eixos temáticos discutidos
nos tópicos a seguir.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 O ACONSELHAMENTO POR EQUIPE MULTIDISCIPLINAR

De acordo com a instrução normativa nº 001/2010 os NASF de Florianópolis devem ser


compostos por pelo menos cinco profissionais de categorias diferentes entre eles: psiquiatra,
nutricionista, farmacêutico, pediatra, profissional de educação física, assistente social e
psicólogo. Ainda por decisão da gestão municipal, podem haver dois profissionais de psicologia
por equipe (FLORIANÓPOLIS, 2010).
Porém, a área temática Saúde da Mulher não é uma área temática prioritária de atuação
do NASF no município. Sendo assim, mesmo que hajam profissionais de assistência social e
psicologia apoiando as equipes de referência dos Distritos Sanitários, as suas atuações
profissionais não incluem o apoio às ações relacionadas ao planejamento familiar, tampouco,
os grupos de aconselhamento aos solicitantes da esterilização voluntária como método
contraceptivo.
Nos Centros de Saúde pesquisados os aconselhamentos são realizados por enfermeiras
e na ausência de profissionais de enfermagem, os médicos ou médicas das Unidades se
responsabilizam pela atividade. Os grupos de aconselhamento são apenas para os que desejam
o método contraceptivo definitivo e acontecem mensalmente em cada Centro de Saúde, com
exceção de um, que não conta com espaço estrutural apropriado para a realização de grupos.
Neste caso os interessados passam por aconselhamento individual no momento que procuram
a Unidade.
Conforme a descrição das entrevistadas, um dos principais focos dos aconselhamentos
é a apresentação dos métodos contraceptivos reversíveis disponíveis na unidade e a explicação
mais detalhada sobre todos os métodos. Uma das entrevistadas relata que antes de apresentar
os métodos faz um “apanhado geral” sobre os corpos humanos e os aparelhos reprodutores
masculinos e femininos com ajuda de gravuras. Para além disso, os participantes são
informados sobre os riscos dos métodos definitivos, incluindo a possibilidade de complicações
decorrentes do ato cirúrgico e da anestesia, a irreversibilidade do método e o risco de
arrependimento, a taxa de falha, a não proteção contra doenças sexualmente transmissíveis
incluindo o vírus do HIV, entre outros. Estas informações também estão descritas em tópicos
no Termo de Consentimento Informado que é entregue e debatido entre os presentes no grupo.
A apresentação e explicação sobre os métodos contraceptivos disponíveis e a leitura e
explicação do Termo de Consentimento Informado foram relatados como procedimentos

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realizados por todas as profissionais e pode ser entendido como os procedimentos padrões dos
aconselhamentos.
O Termo deve ser assinado e reconhecido em cartório e a partir de 60 dias após a
assinatura os solicitantes podem levá-lo de volta ao Centro de Saúde para que sejam incluídos
na lista de espera da cirurgia através do Sistema de Regulação (SISREG), o sistema digital de
controle das filas de cirurgias. A partir daí o sistema agenda a cirurgia de acordo com a
disponibilidade de vagas nos hospitais, principalmente na Maternidade Carmela Dutra e
Hospital Universitário, tidos como referência para a realização das laqueaduras. Se a paciente
for chamada, será o médico cirurgião do hospital de referência que, em última instância,
aprovará ou não a realização da cirurgia esterilizadora.
Desta maneira, é possível constatar que as ações dos profissionais que compõem equipes
de saúde multidisciplinares para atender a demanda de esterilização voluntária no município de
Florianópolis ocorrem de forma isolada, sem interdisciplinaridade.

3.2 A PERCEPÇÃO DAS PROFISSIONAIS SOBRE A DEMANDA

De acordo com as entrevistadas o número de filhos é observado como o principal


motivo da procura pela laqueadura em todas as Unidades. Geralmente essas mulheres são
casadas ou tem um parceiro fixo, já possuem três ou mais filhos e não querem mais engravidar.
Aspectos como idade e raça costumam variar e como as Unidades visitadas estão em sua
maioria localizadas em área de grande vulnerabilidade social, o público que acessa os serviços
das Unidades costuma ser socioeconomicamente vulnerável.
Condições socioeconômicas desfavoráveis estão entre os principais motivos
citados pela escolha da esterilização voluntária feminina (COCCO, PALU e SILVA, 1988;
SILVA et al., 1992; BARROS e CHRISTÓFORO, 1993; CARVALHO, 2006; MOURA e
VIEIRA, 2010), porém a questão econômica não é apresentada como um fator determinante
na decisão pela laqueadura nessas Unidades, como podemos observar nas falas abaixo:
“Claro que a questão do dinheiro acaba aparecendo, mas pouco. Elas não manifestam assim,
elas falam: “não quero mais ter filho” provavelmente é uma motivação a questão financeira,
mas não aparece muito”

“Tem outras coisas junto: [elas falam] “são 4 filhos né, não quero mais a minha situação não
tá dando” mas não focado na questão econômica”

Apesar disso, é observado que as mulheres que possuem mais filhos pertencem ao grupo de
maior vulnerabilidade social:
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“É complexo isso, então parece que quanto mais vulnerável mais filhos eles têm, então toda
uma questão social assim que envolve também”

“Como aqui é uma área de vulnerabilidade, então geralmente quando tem a procura pela
laqueadura é raro assim vir uma mulher por exemplo que tenha apenas um filho ou dois filhos,
geralmente já tá acima do segundo filho”

O motivo pelo qual essas mulheres em vulnerabilidade social acabam elegendo o


método irreversível após várias gestações não é claro, e uma das profissionais relata que acaba
se questionando sobre a eficácia das ações do planejamento familiar. Segundo Ribeiro (2012)
a criminalização do aborto é um dos motivos que aumentam a procura pelo método de
contracepção definitivo por mulheres socialmente vulneráveis:
Existe ainda uma conexão direta entre a criminalização do aborto e a esterilização em
massa de mulheres negras, pobres e imigrantes, tendo em vista que a política de
governo que criminaliza o aborto incentiva procedimentos drásticos, como a
esterilização permanente, em especial, para mulheres socialmente vulneráveis, as
quais não têm alternativas senão abrir mão do seu direito à reprodução. (RIBEIRO,
2012, p. 185)

O aborto no Brasil ainda é exclusivo para casos de risco de vida para a mulher ou
em gravidez resultante de estupro (BRASIL, 2010b). A profissional ainda relata outras
dificuldades encontradas por esse público no acesso e utilização dos métodos reversíveis, como:
esquecimento de tomar os comprimidos hormonais ou de retornar ao posto para receber a dose
do método hormonal injetável e a recusa dos parceiros em usar o preservativo masculino.
A recusa dos parceiros em utilizar o preservativo, mesmo quando também não
desejam ter filhos, é observada por outra profissional:
“Às vezes também é aquilo, ela não quer ter filhos, o casal não quer ter filhos, mas ao mesmo
tempo o marido não quer usar preservativo, mas ela tá ciente de que ela não quer ter, então
ela é responsável por ela”.

A prevenção contraceptiva e o planejamento familiar tem sido tarefas quase


exclusivamente femininas no Brasil. Além de ser sobre o corpo feminino que agem 8 dos 10
métodos contraceptivos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2016), o
planejamento familiar é descrito como “coisa de mulher” e a presença masculina nas atividades
é mínima (OSIS et al., 2006). Em pesquisa realizada no município de Florianópolis no final dos
anos 90 a desresponsabilização masculina também era evidente nos Centros de Saúde, como
relata Minella (2005, p.164):
Em termos gerais, os dados indicam claramente a existência de uma rede construída
fundamentalmente para a mulher (...). Chamou a atenção o fato de quem em geral, o
preservativo é distribuído para as mulheres que se encarregam de repassá-los aos
parceiros. O encaminhamento para vasectomia também ocorria através da mediação
feminina, pois os parceiros em geral, segundo os informantes, normalmente são
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aconselhados para adotar este procedimento quando o uso da contracepção pela
mulher encontra-se proibido em virtude da existência de problemas clínicos.

Os grupos de aconselhamento das Unidades pesquisada são mistos, porém as


profissionais também percebem que a procura pela laqueadura é maior, mesmo que o
procedimento da vasectomia seja mais simples, com baixo risco de complicações e possa ser
feito em atendimento ambulatorial sob anestesia local:
“Geralmente elas procuram por ter um número de filhos né acima de 2 ou 3 filhos e porque os
parceiros não têm coragem de fazer o procedimento da vasectomia.

“Os homens eles têm muito preconceito ainda hoje em dia de fazer a vasectomia (...) é muito
mais prático pro homem fazer a vasectomia e às vezes têm mulheres que, por exemplo, ganham
o bebê e aí o bebê tá com meses e são chamadas pra fazer a laqueadura. Aí é complicado,
porque vai fazer a laqueadura, fica longe do bebê, tem que ficar internada...”

A falta de comprometimento dos homens no planejamento reprodutivo é observada


nos serviços de planejamento familiar em todo o país e está entre os motivos mais relatados
para escolha das mulheres pelo método definitivo de contracepção (OSIS et al., 2006; RIBEIRO
et al., 2008; NEPOMUCENO et al., 2012). Segundo Nepomuceno et al. (2012, p. 69):
Porém, mesmo com a camisinha sendo cada vez mais utilizada, quando o assunto é
contracepção, ainda é sobre a mulher que recai a responsabilidade do casal. Além
disso, é no seu corpo que atuam a maioria dos métodos, cabendo-lhe, portanto, a tarefa
de encontrar e utilizar medidas contraceptivas.

Para Álvaro (2013) a maternidade era e continua sendo ideologizada como uma
função “sagrada” ou natural do sexo feminino pois é funcional para o capitalismo, uma vez que
justifica um trabalho não remunerado. Não é dada as mulheres a possibilidade de
desresponsabilização pela contracepção como é dada aos seus parceiros, pois em caso de
gravidez a mulher é praticamente a única socialmente responsabilizada pela criança, uma vez
que o abandono paterno é amplamente aceito na sociedade brasileira. De acordo com a cartilha
“Pai presente e certidões” até 2011 aproximadamente de 5,5 milhões de crianças e adolescentes
brasileiros não possuíam o nome do pai registrado na certidão de nascimento (CONSELHO
NACIONAL DE JUSTIÇA, 2012).
Nesse sentido, os profissionais do NASF devem apoiar as eSF para que o
planejamento familiar expanda a abordagem puramente biológica para também incorporar
“uma abordagem de gênero e sexualidade, oportunizando e incentivando a inclusão do parceiro,
garantindo os direitos sexuais e reprodutivos e deixando de responsabilizar apenas a mulher
pelo planejamento familiar.” (BRASIL, 2010, p. 112).

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3.2.1 MULHERES SEM FILHOS QUE BUSCAM PELA LAQUEADURA TUBÁRIA

A demanda de mulheres sem filhos procurando o método contraceptivo definitivo


é quase inexistente nos Centros de Saúde estudados, apenas uma das enfermeiras relata ter
atendido um caso deste tipo. A conduta acerca do aconselhamento e desfecho da solicitação
nestes casos gera dúvidas:
“Nunca apareceu. E se aparecesse também eu ficaria bem em dúvida, acho que pediria ajuda
pra algum colega, outro profissional, médico talvez né, mas não, comigo nunca aconteceu isso”

“Nunca tive isso, mas se tivesse eu não bloquearia, mas sabendo que provavelmente não iam
fazer né, que nenhum médico vai fazer”

Um dos motivos para essas dúvidas pode estar ligado ao fato de que há divergentes
interpretações do texto da Lei nº 9263/86 e segundo Yamamoto (p. 103, 2011) “a questão da
interpretação apresenta dilemas de profissionais nos processos de decisão pela aprovação da
esterilização”, o que também ficou evidente nesse estudo, conforme os relatos das profissionais.
O número de filhos é visto como um critério determinante para aprovação da
esterilização voluntária e o estranhamento das profissionais diante da possibilidade de casos de
mulheres sem filhos que desejam a laqueadura traz à tona novamente a naturalização da
maternidade como essência feminina. Para além disso, segundo Ribeiro (2012), enquanto as
mulheres pobres e negras costumam ser coagidas socialmente a reduzir o tamanho de suas
famílias, as mulheres brancas de classe média, em geral, não podem escolher recusar a
maternidade ou esterilizar os seus corpos.
Sem definição clara sobre o que seria uma “esterilização precoce” e sem apoio
matricial, cabe a cada profissional estabelecer os critérios que julga mais apropriados para a sua
atuação nos casos de esterilização voluntária feminina:
Fica claro, portanto, que o conceito de apoio matricial tem uma dimensão sinérgica
ao conceito de educação permanente (...). Cabe, portanto, aos profissionais da área
psi, quando percebem dificuldades de uma equipe nesse campo, exercitar a dimensão
técnico-pedagógica a partir das discussões de casos e temas, de forma a compartilhar
seu conhecimento específico com a equipe de SF, para que possa lidar com esse saber
e fazer dele conhecimento de todos (BRASIL, 2010, p. 12)

De acordo com o Caderno de Diretrizes do Núcleo de Apoio a Saúde da Família, a


abordagem de gênero é um importante referencial de atuação do NASF no apoio às equipes de
referência que atuam com planejamento familiar: “(...) a abordagem da sexualidade nos seus
significados culturais e de gênero, bem como o entendimento do aspecto sociocultural da

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família, possibilita a ampliação da ação das equipes da SF para além da distribuição de
anticoncepcionais” (BRASIL, 2010, p. 109).

3.3 A INTERPRETAÇÃO DA LEI Nº 9263/96 E A ESTERILIZAÇÃO PRECOCE

A interpretação do artigo 10 da Lei 9263/96 entre as profissionais entrevistadas é


variada, porém, há unanimidade na compreensão de que o número de filhos é a justificativa
mais compreensível para escolher pela cirurgia esterilizadora, sendo mais importante ainda do
que a idade. Nesse sentido, o número de filhos e idade também definem o que é entendido como
esterilização precoce:
“[Precocidade é] uma pessoa que tem 27 anos e um filho ou não tem filho e quer fazer.”.

“Precoce com relação a idade e com relação, às vezes, o quantitativo de filhos né, porque às
vezes tem um filho só e quer fazer, mas às vezes já tem mais idade, mas esse filho pode acontecer
alguma coisa”

“Quando por exemplo eu percebo que é precoce, que eu já tive aqui a menina que tinha 21
anos, eu não fiz o desencorajamento, ela tinha 4 filhos entendeu? Então assim a situação que
eu vejo que a pessoa já tem outros filhos eu não desencorajo, eu profissional, não
desencorajo”.

A preocupação com idade e o número de filhos condiz com a literatura pois entre
os motivos mais citados como causas de arrependimento e procura por reversão da laqueadura
em mulheres que optaram pela esterilização voluntária estão idade (OSIS et al.,1999;
FERNANDES et al., 2001; GONÇALVES, GARCIA e COELHO, 2008) e morte de filhos
(CARVALHO, 2006; CARVALHO E SCHOR, 2012). Porém, não há dados suficientes sobre
arrependimento em mulheres sem filhos que optaram pela laqueadura nestas pesquisas. Além
disso, pesquisas mais atuais demonstram que a procura pela reversão é maior entre mulheres
com filhos em novo casamento ou relacionamento (CUNHA, WANDERLEY e GARRAFA,
2007; MOURA e VIEIRA, 2010; YAMAMOTO, 2011; CARVALHO e SCHOR, 2012).
No entanto nunca foi disponibilizado às profissionais entrevistadas nenhum
treinamento sobre a definição e o manejo adequados nos casos de “precocidade” na procura por
esterilização voluntária, tampouco sobre como seria o desencorajamento apropriado. É relatado
que a aprendizagem ocorre na prática, às vezes com ajuda de outra profissional com mais
experiência prática:
“Não, é meio autodidata assim, a gente tem o que tem na faculdade, os métodos e tal, mas o
manejo, a entrevista, as coisas são do interesse do profissional, nunca tive treinamento.”

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“Na verdade, assim eu acompanhei primeiro com a outra enfermeira, só o acompanhamento
mesmo assim. Depois a enfermeira saiu aqui do Centro de Saúde e eu acabei tocando sozinha,
mas não tive nenhum aperfeiçoamento assim, algum treinamento específico assim não.”

A inexistência de treinamento para a atuação no planejamento familiar em


Florianópolis, principalmente nos casos de esterilização voluntária, condiz com a pesquisa de
Silva (2002, p. 85) “(...) não existe uma organização com relação ao planejamento familiar, os
profissionais dos Postos de saúde não recebem treinamento por isso não sabem exatamente
como o processo deve ocorrer.”.

3.4 O ACONSELHAMENTO VISANDO DESENCORAJAR A ESTERILIZAÇÃO


PRECOCE

Quando um caso de solicitação por esterilização precoce é identificado, as


entrevistadas relatam que procuram “orientar e conversar bastante” com as solicitantes com o
objetivo de encorajar a utilização de métodos reversíveis para evitar um futuro arrependimento,
caso elas venham a ter vontade de ter filhos no futuro. Outro meio utilizado por todas as
entrevistadas é enfatizar os riscos indicados no Termo de Consentimento Informado,
principalmente o trecho que destaca que em “situações de instabilidade conjugal e forte emoção,
tais como: separação, divórcio, viuvez, morte de filho, outro casamento ou posterior desejo de
ter filhos” há maior risco de arrependimento (FLORIANÓPOLIS, s.d., p.3). A possibilidade de
morte dos filhos e o recasamento são destacados pelas profissionais como assuntos
imprescindíveis de serem abordados nos aconselhamentos:
“Eu falo: escuta, tu tem quantos filhos? “ah eu tenho dois” E se um morrer? Eu falo bem
claramente, eu falo assim: Tá, e se um morrer tu não vai querer mais ter filho? (...) eu pontuo
bem olho no olho isso, deixo bem claro”

“Esses dias eu até comentei que teve uma senhora que passou na TV que os três filhos
morreram eletrocutados (...) e é sempre falado pra elas: olha, tem dois? Mas pode ser que
aconteça qualquer coisa (...) então a gente dá até esses exemplos trágicos”

Apesar de ser considerado um fator importante na causa de arrependimentos,


utilizado no processo de desencorajamento de todas as entrevistadas, a morte dos filhos
correspondeu a apenas 5,1% dos motivos citados como motivo do arrependimento em estudo
realizado com 98 mulheres laqueadas que procuraram o serviço de reprodução humana por
desejo de nova gestação. A mudança de cônjuge por conta de separação e novo casamento ou

13
relacionamento, foi relatada como o principal motivo de arrependimento e procura por
reconstrução cirúrgica tubária por 80,6% das mulheres pesquisadas. Além disso observou-se
que 87,8% dos novos parceiros destas solicitantes não tinham filhos (CUNHA, WANDERLEY
e GARRAFA, 2007). A mudança de cônjuge e a possibilidade de arrependimento por causa do
desejo de paternidade do futuro marido é abordado no desencorajamento realizado pelas
entrevistadas:
“A gente diz: vocês podem vir a se separar e depois casar de novo e se o marido por exemplo
não tiver filhos, vai querer ter filhos e aí você já fez a laqueadura”

“E tu tá casada há quanto tempo? “ah tô casada há tanto tempo” E se tu mudar de marido e


teu marido quiser filhos?”

O arrependimento motivado por novo relacionamento também foi observado na


pesquisa de Moura e Vieira (2010) como o principal motivo de arrependimento entre as
mulheres laqueadas. Onze (84,6%) entre as treze mulheres entrevistadas relataram o
recasamento como principal motivação para a procura pela reconstrução tubária. Nos
depoimentos, os pedidos e até a imposição dos novos parceiros por filhos são observados como
influência para o desejo dessas mulheres por filhos no novo casamento.
As razões para que levam ao arrependimento da laqueadura tubária como método
contraceptivo, portanto, são atravessadas pela dinâmica de exploração do sexo feminino.
Segundo Saffioti (2004, p. 106):
Seja para induzir as mulheres a ter grande número de filhos, seja para convencê-las a
controlar a quantidade de nascimentos e o espaço de tempo entre os filhos, o controle
está sempre em mãos masculinas, embora elementos femininos possam intermediar e
mesmo implementar estes projetos.

Sendo assim, as ações para evitar o arrependimento exigem políticas e intervenções


multidisciplinares e complexas para que sejam realmente efetivas.

3.5 A AUTONOMIA DA SOLICITANTE E DA PROFISSIONAL

As profissionais relatam que as mulheres que desejam cirurgia esterilizadora


normalmente já procuram o aconselhamento com a opinião “bem formada” e dificilmente
mudam de ideia após o desencorajamento. Essa determinação pelo método irreversível mesmo
após o aconselhamento também é observada na literatura (OSIS et al., 2006; SEABRA, 2009).
As entrevistadas também são unânimes em afirmar que independente das suas
opiniões como profissionais e convicções pessoais, o que deve prevalecer é o desejo da

14
solicitante. Enfatizam que acima de tudo o aconselhamento visa respeitar a decisão e autonomia
da mulher que opta pelo método irreversível e que não impedem o acesso a lista de espera a
ninguém que deseja entrar. A maioria ainda relata que mesmo quando há sociedade conjugal e
não há o consentimento expresso do cônjuge, condição determinada pelo parágrafo 5º do Art.
10 da lei nº 9263/96, incluem a paciente na lista de espera para o procedimento da mesma
maneira. Uma das enfermeiras explica um dos motivos para esta postura:
“Eu respeito, é um direito teu se tu quer ser encaminhada, talvez a minha posição seja mais
fácil porque em última instância não sou eu que vou decidir, então eu encaminho não vou ficar
bloqueando o acesso da mulher, de não encaminhar”

Em Marcolino (2004), o trabalho das equipes de saúde multidisciplinares no


aconselhamento das mulheres solicitantes de laqueadura tubária é descrito como incomum,
porque tende a horizontalidade nas decisões, principalmente diante da perspectiva do saber
médico que hierarquiza a atuação das equipes em outros procedimentos. Porém, no caso dos
aconselhamentos realizados nas Unidades de Saúde de Florianópolis, é possível perceber que
como são os médicos ou médicas dos hospitais que decidirão sobre a aprovação do
procedimento e não há comunicação entre os profissionais, a decisão acerca da autorização para
a realização das laqueaduras ainda é vertical.
Se por um lado isso possibilita decisões mais livres de convicções pessoais sobre
encaminhamento para a fila de espera da cirurgia pelos profissionais que atuam com a demanda
de esterilização voluntária nos Centros de Saúde, por outro lado, não há preocupação evidente
em realizar um trabalho interdisciplinar nos aconselhamentos. Para Teixeira e Nunes (2007, p.
130):
A interdisciplinaridade é uma ferramenta que pode contribuir para o avanço da atenção
qualitativa, de satisfação completa do usuário do serviço. Para isso é necessário que a
equipe se diversifique, inserindo profissionais que tenham, em sua formação, conteúdos
teóricos-metodológicos que possam trazer este conhecimento que se completa ao
clinico e ao epidemiológico, como o social, e que caminhem para a alternativa do
modelo da atenção à saúde.

É preciso que as ações sejam articuladas interdisciplinarmente pelas equipes


profissionais, visando a atenção integral aos indivíduos, para que se encontre resoluções mais
assertivas para os impasses derivados da escolha pelo método contraceptivo definitivo.

15
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As discussões acerca da esterilização levam a debates amplos e, muitas vezes,


divergentes. Ainda mais quando tais debates abrangem as questões apresentadas na lei nº
9.263/96 ou lei do planejamento familiar. Enquanto há, de um lado, dispositivos legais para
promover a escolha livre e informada de um método contraceptivo (BRASIL, 2010b), há, de
outro lado, falta de clareza acerca de indicadores para aprovação desse procedimento,
produzindo um contexto controverso. Tais questões revelaram a necessidade de caracterizar a
atuação de profissionais que compõem equipes de saúde multidisciplinares nos casos de
mulheres que optam pela esterilização voluntária como método contraceptivo, como forma de
compreender e intervir sobre tal fenômeno.
Foi possível constatar a partir dos Centros de Saúdes pesquisados que as equipes de
saúde multidisciplinares que atuam com a demanda de laqueadura tubária em Florianópolis são
formadas por apenas duas categorias profissionais: medicina e enfermagem, que atuam
isoladamente, por conta das especificidades da rede do município. É possível problematizar,
portanto, se esta forma de atuação se demonstra suficiente para atingir o objetivo de promover
uma escolha autônoma e evitar o arrependimento da esterilização pois as variáveis para a
tomada de decisão pelo método definitivo pelas mulheres são complexas. É fundamental que o
trabalho das equipes de atenção primária à saúde seja planejado e executado
interdisciplinarmente, visando a promoção da autonomia das mulheres.
O psicólogo como profissional da saúde atua aplicando os conhecimentos e
técnicas da psicologia para promover a saúde dos indivíduos e para Bock, Furtado e Teixeira
(1999, p. 156) “Pensar a saúde dos indivíduos significa pensar as condições objetivas e
subjetivas de vida, de modo indissociado.” Nos desafios da atuação profissional com as
demandas do planejamento familiar, principalmente no que diz respeito à decisão individual de
encerrrar a vida reprodutiva, a psicologia é uma aliada para a promoção de decisões mais
autônomas, que considere os aspectos singulares cada decisão.
Quando estão inseridos no NASF apoiando as equipes referência de Saúde da
Família os psicólogos atuam como facilitadores do diálogo entre as equipes, fomentando a
discussão interdisciplinar dos casos:

A inserção do psicólogo funciona, portanto, como estimulo à interação entre os


profissionais da equipe, a fim de oportunizar espaço de discussão e conversas para se
pensar o processo de trabalho no âmbito da promoção da saúde coletiva. Algumas
contribuições da Psicologia nos processos de trabalho das equipes de SF passa, dessa
16
forma, por fomentar a interdisciplinaridade, fortalecer ações de promoção de saúde e
prevenção de doenças e auxiliar no desenvolvimento de grupos e estratégias (VIEIRA
e OLIVEIRA, 2011, p. 113)

Nesse sentido, é possível questionar a ausência da psicologia no contexto das


políticas voltadas ao planejamento familiar. Os critérios ambíguos e os indefinidos do texto da
lei nº 9.263/96, aliados a falta de treinamento e de discussões interdisciplinares, possibilitam
interpretações e atuações diversas, que podem estar baseadas em valores morais e não valores
técnicos.
Também é indispensável que se tragam as relações sociais de sexo, raça e
classe para o centro do debate sobre planejamento familiar, sobretudo para que se vislumbre
atuações mais humanizadas e efetivas para as problemáticas envolvendo a esterilização
voluntária feminina., pois “O controle de natalidade - escolha individual, métodos
contraceptivos seguros, bem como abortos, quando necessários - é um pré-requisito
fundamental para a emancipação das mulheres” (DAVIS, 1981, p. 205). Fica perceptível, com
isso, a necessidade de novas pesquisas que abordem essa temática e explorem os aspectos
citados.

17
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