Você está na página 1de 62

DIREITO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO – AULAS PRÁTICAS

PROF. RICARDO BRANCO

12/10/2021
Os atos de poder público só são suscetíveis de reação contrária no CAT.
O CAT permite que os particulares se defendam da Administração Pública, isto é, tutela os seus
direitos de forma eficaz e plena face à AP.
Blog: pelo menos 2, sob a forma comentário de acórdãos » 10 de dezembro.
Simulação de julgamento

15/10/2021

TEMA ANÁLISE Nº1

No seu manual, o
professor Vieira de Andrade procede à distinção de dois modelos de justiça: o modelo
objetivista e um modelo subjetivista, sendo que, no entendimento do professor, numa perspetiva
A distinção dos mesmos tem por base dois critérios fundamentais: a função do contencioso
(enquanto que para o modelo objetivista a função consiste na defesa da legalidade e o interesse
público; para o modelo subjetivista releva a tutela dos direitos dos particulares) e o objeto do
processo (enquanto que para o primeiro, está em causa a verificação da legitimidade do
exercício do poder administrativo, para o segundo julga-se a alegada lesão das posições
jurídicas subjetivas do administrado.
Na história do contencioso administrativo, distinguiram-se três modelos básicos de organização.
Ora, um dos modelos básicos de organização consistia no modelo administrativista: chamado de
“administrador-juiz” ou “jurisdição reservada” ou autotutela, em que, no fundo, a decisão final
dos litígios administrativos competia aos órgãos superiores da Administração (daí a expressão
“julgar a administração é ainda administrar”) – o modelo baseava-se em conceções de separação
de poderes.
Assim, nesta primeira fase, dos primórdios do contencioso administrativo, fixou-se um regime
processual de natureza fundamentalmente objetivista: o recurso de anulação era visto como um
processo feito a um ato, destinado a fiscalizar a legalidade do exercício autoritário de poderes
administrativos.
O professor Marcello Caetano, ao afirmar que o contencioso administrativo “não se trata de um
julgamento de órgão que praticou o ato ou da pessoa coletiva que pertence, estando sim em
causa é a legalidade do ato e não o comportamento das pessoas, aponta para a adoção do
modelo objetivista, reforçando tal ideia ao afirmar cabe ao processo administrativo “emitir
afinal não uma condenação ou absolvição do pedido, mas um juízo de confirmação ou de
anulação, meramente declaratório”, não sendo o mesmo encarado como um litígio entre pessoas
ou uma questão contra a autarquia ou contra o Estado.
No entanto, segundo o professor Vieira Andrade, a realidade mostra que, nos países da Europa
continental, os modelos mais recentes de justiça administrativa oscilam entre os que são mistos,
com características objetivistas e subjetivistas, e os que apresentam características
predominantemente subjetivistas, estando ultrapassados os modelos objetivistas puros.
A evolução da generalidade dos sistemas aponta claramente no sentido de uma subjectivização
da justiça administrativa, tendo em conta a comprovada insuficiência dos modelos objetivistas
para assegurar uma proteção judicial efetiva dos direitos e interesses legalmente protegidos dos
particulares.

HIPÓTESE PRÁTICA Nº1 – JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA


Determine se os seguintes litígios devem ser julgados na jurisdição administrativa (e fiscal)
e, em caso administrativo, indique o tribunal concretamente competente para o efeito:
a) A, residente em Cascais e aluno da FDUL, pretende impugnar o atual
Regulamento de Avaliação, por considerar algumas das respetivas normas
violadoras dos seus direitos fundamentais ao livre desenvolvimento da
personalidade e ao ensino.
Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais.
Torna-se, entã o necessá rio verificar se a açã o em causa pode ser intentada perante os
tribunais administrativos (competência em relação à jurisdição). Ora, neste caso, A
pretende impugnar o atual Regulamento de Avaliaçã o da FDUL – estamos perante um
regulamento emitido por um ó rgã o da AP (FDUL é a entidade; Conselho Pedagó gico é o ó rgã o
responsá vel por emitir estes regulamentos; o ó rgã o de uma universidade, para a maioria da
doutrina, pertence à Administraçã o Autó noma) pelo que, nos termos do art 4º/1/a) e b),
ETAF, encontramo-nos no â mbito de jurisdiçã o administrativa.
No que toca à competência em relação à hierarquia, nã o se tratando de matéria
reservada aos tribunais superiores, isto é, ao STA (art 24º, ETAF) ou ao Tribunal Central
Administrativo (art 37º, ETAF), nos termos do art 44º/1, ETAF, a açã o intentada por A
deve ser proposta no Tribunal Administrativo de Círculo (isto porque incide sobre matéria
administrativa e além disso, nã o há uma reserva de competência para os tribunais
superiores).
Por fim, quanto à competência territorial, nã o havendo uma disposiçã o especial,
segue-se a regra geral, disposta no art 16º/1, CPTA – os processos sã o intentados no
tribunal da á rea de residência habitual do autor. Neste caso, A reside em Cascais.
Há que perceber entã o qual o tribunal em que A pode intentar a açã o. Segundo o art
3º/1 e 2, Decreto-Lei nº325/2003, de 29 de dezembro, a á rea de jurisdiçã o dos tribunais
administrativos de círculo consta do mapa anexo ao referido diploma. No mapa anexo, o
município de Cascais tem como referência a sede Sintra.
Assim, A pode intentar a açã o junto do Tribunal Administrativo de Círculo de Sintra.
FDUL – pessoa coletiva pública criada pelo Estado. Uma pessoa coletiva de utilidade
pública (é privada, mas com utilidade pública) » por isso, aplica-se o 16º, CPTA e
não o 20º/1, CPTA.

b) B, residente em Faro, pretende consultar os arquivos administrativos relativos ao


seu percurso académico na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que
lhe negou a disponibilização dos correspondentes documentos.
Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais.
Torna-se, entã o necessá rio verificar se a açã o em causa pode ser intentada perante os
tribunais administrativos (competência em relação à jurisdição).
Ora, neste caso, B pretende consultar os arquivos administrativos relativos ao seu
percurso académico na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que, por sua vez,
lhe negou a disponibilizaçã o dos documentos – esta informaçã o tem de ser requerida à
Divisã o de Serviços Académicos, que constitui um serviço pú blico administrativo da FLUC
(organizaçã o humana criada com a finalidade de desempenhar atribuiçõ es da PC, através
de funçõ es de apoio, colaboraçã o, prestaçã o e execuçã o, sempre sobre a iniciativa e
comando dos ó rgã os).
Ao negar a disponibilizaçã o dos documentos, houve uma clara violaçã o do princípio da
administraçã o aberta (art 17º, CPA) – todas as pessoas têm o direito de acesso aos
arquivos e registos administrativos, mesmo quando nenhum procedimento que lhes diga
diretamente respeito esteja em curso –, mas também do princípio da colaboraçã o com os
particulares a que a AP está adstrita (art 11º, CPA) – os ó rgã os da AP devem atuar em
estreita colaboraçã o como os particulares, cumprindo lhes, prestar as informaçõ es e os
esclarecimentos de que careçam. +268º, CRP
Assim, nos termos do art 4º/1/a), ETAF (e b)??), encontramo-nos no âmbito de jurisdiçã o
administrativa.

No que toca à competência em relação à hierarquia, nã o se tratando de matéria


reservada aos tribunais superiores, isto é, ao STA (art 24º, ETAF) ou ao Tribunal Central
Administrativo (art 37º, ETAF), nos termos do art 44º/1, ETAF, a açã o intentada por B
deve ser proposta no Tribunal Administrativo de Círculo (isto porque incide sobre matéria
administrativa e além disso, nã o há uma reserva de competência para os tribunais
superiores).
Por fim, quanto à competência territorial, como existe uma disposiçã o especial que
trata a consulta de documentos (art 20º/4, CPTA), a competência é do tribunal da á rea
onde deva ter lugar a consulta pretendida – neste caso, em Coimbra.
Há que perceber entã o qual o tribunal em que B pode intentar a açã o. Segundo o art
3º/1 e 2, Decreto-Lei nº325/2003, de 29 de dezembro, a á rea de jurisdiçã o dos tribunais
administrativos de círculo consta do mapa anexo ao referido diploma. No mapa anexo, o
município de Coimbra tem como referência a sede Coimbra.
Assim, B pode intentar a açã o junto do Tribunal Administrativo de Círculo de Coimbra.

c) C, residente em Lisboa mas proprietário de um terreno em Vilar de Besteiros,


concelho de Tondela, pretende impugnar uma licença concedida pela Câmara
Municipal a um seu vizinho, para construção em terreno contíguo ao seu, alegando
terem sido desrespeitadas normas de planeamento que limitam as construções em
altura naquele local
Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais.
Torna-se, entã o necessá rio verificar se a açã o em causa pode ser intentada perante os
tribunais administrativos (competência em relação à jurisdição).
Ora, neste caso, C pretende impugnar uma licença concedida pela Câ mara Municipal a um
seu vizinho. De acordo com o disposto nos arts 235º/1 e 236º, CRP, as Autarquias Locais
sã o constituídas pelas freguesias, municípios e regiõ es administrativas, sendo que para o
nosso caso, importa focarmo-nos nos municípios – trata-se de PC cujos ó rgã os sã o a
Assembleia Municipal (deliberativo – 251º) e a Câ mara Municipal (executivo – 252º). Com
efeito, nos termos do art 4º/1/b), ETAF, encontramo-nos no âmbito de jurisdiçã o
administrativa.
No que toca à competência em relação à hierarquia, nã o se tratando de matéria
reservada aos tribunais superiores, isto é, ao STA (art 24º, ETAF) ou ao Tribunal Central
Administrativo (art 37º, ETAF), nos termos do art 44º/1, ETAF, a açã o intentada por C
deve ser proposta no Tribunal Administrativo de Círculo (isto porque incide sobre matéria
administrativa e além disso, nã o há uma reserva de competência para os tribunais
superiores).
Por fim, quanto à competência territorial, como existe uma disposiçã o especial de
processos relacionados com bens imó veis (art 17º, CPTA), a competência é do tribunal da
situaçã o dos bens – neste caso, em Tondela.

Há que perceber entã o qual o tribunal em que B pode intentar a açã o. Segundo o art
3º/1 e 2, Decreto-Lei nº325/2003, de 29 de dezembro, a á rea de jurisdiçã o dos
tribunais administrativos de círculo consta do mapa anexo ao referido diploma. No mapa
anexo, o município de Tondela tem como referência a sede Viseu.
Assim, B pode intentar a açã o junto do Tribunal Administrativo de Círculo de Viseu.
Atos administrativos fiscais e municipais sobre imóveis, há sempre uma confusão
entre o art 17º e o 20º/1, CPTA.

d) D, funcionária da Assembleia da República e residente em Sintra, pretende


impugnar as novas normas regimentais aprovadas pelo Presidente da Assembleia
da República que regulam os horários dos serviços a que está afeta.
Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais.
Torna-se, entã o necessá rio verificar se a açã o em causa pode ser intentada perante os
tribunais administrativos (competência em relação à jurisdição).
Ora, neste caso, D pretende impugnar as novas normas regimentais aprovadas pelo
Presidente da Assembleia da Repú blica. Nos termos do art 16º/1/c), Regimento AR,
compete ao P.AR admitir/rejeitar os projetos e propostas de lei ou de resoluçã o, os
projetos de deliberaçã o, os projetos de voto e os requerimentos, verificada a sua
regularidade regimental. As normas regimentais em causa parecem integrar-se no
conceito de ato administrativo (148º, CPA – decisõ es que, no exercício de poderes
jurídico-administrativos, visam produzir efeitos jurídicos externos numa situaçã o
individual e concreta » horá rios dos serviços dos funcioná rios da AR parece enquadrar-se
no conceito). Com efeito, nos termos do art 4º/1/c), ETAF, encontramo-nos no â mbito de
jurisdiçã o administrativa.
No que toca à competência em relação à hierarquia, a açã o deve ser intentada
perante o Supremo Tribunal Administrativo, nos termos do art 24º/1/a)/ii), ETAF).
Por fim, quanto à competência territorial, nã o havendo uma disposiçã o especial,
segue-se a regra geral, disposta no art 16º/1, CPTA – os processos sã o intentados no
tribunal da á rea de residência habitual do autor. Neste caso, D reside em Sintra.
Há que perceber entã o qual o tribunal em que D pode intentar a açã o. Segundo o art
1º/1, Decreto-Lei nº325/2003, de 29 de dezembro, a á rea de jurisdiçã o do supremo
tribunal administrativo é em lisboa.
Assim, D pode intentar a açã o junto do Supremo Tribunal Administrativo de Lisboa.
e) E, empresa com sede na Amadora, pretende impugnar o ato de adjudicação de um
concurso Público para a aquisição de computadores promovido pelo município do
Porto, no qual participou.
Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais.
Torna-se, entã o necessá rio verificar se a açã o em causa pode ser intentada perante os
tribunais administrativos (competência em relação à jurisdição).
Ora, neste caso, E pretende impugnar o ato de adjudicaçã o de um concurso pú blico
para a aquisiçã o de computadores, promovido pelo município do Porto. De acordo com o
disposto nos arts 235º/1 e 236º, CRP, as Autarquias Locais sã o constituídas pelas
freguesias, municípios e regiõ es administrativas, sendo que para o nosso caso, importa
focarmo-nos nos municípios – trata-se de Pessoas Coletivas cujos ó rgã os sã o a Assembleia
Municipal (deliberativo – 251º) e a Câ mara Municipal (executivo – 252º).
Nos termos do art 73º/1, CCP, a adjudicação é o ato pelo qual o órgão competente para a
decisão de contratar aceita a única proposta apresentada ou escolhe uma de entre as
propostas apresentadas. Pela sua enorme relevâ ncia procedimental, a adjudicaçã o é
suscetível de ser impugnada pelos interessados, merecendo especial destaque o
contencioso pré-contratual.
Com efeito, estando em causa a validade de atos pré-contratuais celebrados nos termos da
legislaçã o sobre contrataçã o pú blica por entidades adjudicantes, nos termos do art
4º/1/e), ETAF, encontramo-nos no â mbito de jurisdiçã o administrativa.
No que toca à competência em relação à hierarquia, nã o se tratando de matéria
reservada aos tribunais superiores, isto é, ao STA (art 24º, ETAF) ou ao Tribunal Central
Administrativo (art 37º, ETAF), nos termos do art 44º/1, ETAF, a açã o intentada por C
deve ser proposta no Tribunal Administrativo de Círculo (isto porque incide sobre matéria
administrativa e além disso, nã o há uma reserva de competência para os tribunais
superiores).
Por fim, quanto à competência territorial, por força do art 20º/1, CPTA, os
processos sã o intentados no tribunal da á rea da sede da entidade demandada – neste caso,
no Porto.
Há que perceber entã o qual o tribunal em que D pode intentar a açã o. Segundo o art
3º/1 e 2, Decreto-Lei nº325/2003, de 29 de dezembro, a á rea de jurisdiçã o dos tribunais
administrativos de círculo consta do mapa anexo ao referido diploma. No mapa anexo, o
município do Porto tem como referência a sede Porto.
Assim, E pode intentar a açã o junto do Tribunal Administrativo de Círculo do Porto.
f) F, empresa cuja proposta foi classificada em segundo lugar no âmbito de um
concurso público promovido pela Santa Clara da Misericórdia de Lisboa tendente
à realização de várias empreitadas de reabilitação na cidade, pretende impugnar o
contrato que acabou por ser celebrado entre a SCML e a empreiteira Gruas e
Gruas, SA, e do qual consta uma cláusula atributiva de competência ao Tribunal
Administrativo e Fiscal de Sintra.
Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais.
Torna-se, entã o necessá rio verificar se a açã o em causa pode ser intentada perante os
tribunais administrativos (competência em relação à jurisdição).
Ora, neste caso, F pretende impugnar o contrato celebrado entre a Santa Casa da
Misericó rdia de Lisboa e a empreiteira Gruas e Gruas, SA. Nos termos do art 1º/1, DL
nº235/2008, a SCML é uma pessoa coletiva de direito privado e utilidade pú blica
administrativa (Instituto Pú blico, uma vez que nã o tem fins lucrativos – Administraçã o
Indireta do Estado) » de acordo com o previsto no art 2º/1/d), CCP, trata-se de uma
entidade adjudicante. Já a Gruas e Gruas, SA é uma entidade privada.
A alínea e) do art 4º/1, ETAF adota dois critérios em matéria de litígios sobre contratos:
 Critério do contrato administrativo – abrange os contratos que apresentem alguma
das notas de administratividade enunciadas no art 280º/1, CCP, isto é:
 Os contratos administrativos por natureza (submetido a um regime de DA em
razã o da natureza pú blica do seu objeto/fim).
 Os contratos administrativos por determinaçã o da lei (elencados no título II,
parte III, do CCP ou contratos administrativos típicos/nominados tem
legislaçã o avulsa).
 Os contratos administrativos por qualificaçã o das partes (CA atípicos, que à
partida seriam qualificados como contratos de direito privado, mas devido a
vontade das partes, assumem um cará cter administrativo) – desde que uma
das partes seja um contraente pú blico e que ambas qualifiquem os contratos
como administrativos ou os submetam a um regime substantivo de direito
pú blico.
 Critério do contrato submetido a regras de contratação pública – é necessá rio que o
contrato seja submetido à s regras procedimentais de formaçã o de direito
administrativo.
Limites: contrato de aquisiçã o locaçã o de bens mó veis + aquisiçã o de serviços por
contraentes pú blicos como contratos administrativos.
Nos termos do 343º/1, CCP, percebemos que a empreitada de obras pú blicas é um
contrato administrativo.
Com efeito, segundo um critério de contrato administrativo, percebemos que o contrato
em causa apresenta um “vestígio de cará cter administrativo”, nos termos do art
280º/1/a), CCP – contrato administrativo por determinaçã o da lei.
Assim, aplica-se o art 4º/1/e), ETAF, estando, por isso, no â mbito de jurisdiçã o
administrativa.
No que toca à competência em relação à hierarquia, nã o se tratando de matéria
reservada aos tribunais superiores, isto é, ao STA (art 24º, ETAF) ou ao Tribunal Central
Administrativo (art 37º, ETAF), nos termos do art 44º/1, ETAF, a açã o intentada por F
deve ser proposta no Tribunal Administrativo de Círculo (isto porque incide sobre matéria
administrativa e além disso, nã o há uma reserva de competência para os tribunais
superiores).
Por fim, quanto à competência territorial, estando perante um processo que tem por
objeto uma questã o de validade e execuçã o de um contrato (37º/1/l), CPTA), há que
atender ao art 19º, CPTA. O nº1 diz-nos que as pretensõ es relativas a contratos sã o
deduzidas no tribunal do lugar de cumprimento do contrato. Contudo, as partes, aquando
da celebraçã o do contrato, atribuíram competência ao Tribunal Administrativo e Fiscal de
Sintra, pelo que, nos termos do art 19º/2, CPTA, será esse o tribunal competente.
Há que perceber entã o qual o tribunal em que F pode intentar a açã o. Segundo o art
3º/1 e 2, Decreto-Lei nº325/2003, de 29 de dezembro, a á rea de jurisdiçã o dos tribunais
administrativos de círculo consta do mapa anexo ao referido diploma. No mapa anexo, o
município de Sintra tem como referência a sede Sintra.
Assim, F pode intentar a açã o junto do Tribunal Administrativo de Círculo de Sintra.

g) FALTA COMPETÊNCIA JURISDIÇÃO


G, empresa que celebrou um contrato de prestação de serviços informáticos com a
EMEL – Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa, EM, SA
– pretende demandar esta última por atrasos no pagamento de algumas
prestações, contendo o contrato entre ambas celebrado uma cláusula atributiva de
competência, para o julgamento de quaisquer litígios emergentes da respetiva
execução, ao Centro de Arbitragem Administrativa (CAAD).
Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais.
Torna-se, entã o necessá rio verificar se a açã o em causa pode ser intentada perante os
tribunais administrativos (competência em relação à jurisdição).
Ora, neste caso, G pretende demandar a EMEL por atrasos no pagamento de algumas
prestaçõ es, em face de um contrato de prestaçã o de serviços celebrado entre ambas as
empresas.
Nos termos do art 1º/1, Lei orgânica, a EMEL é uma pessoa coletiva de direito privado
sob a forma de Sociedade Anó nima de capitais exclusivamente pú blicos, com natureza
municipal – trata-se de uma Empresa Pú blica de Direito Privado, ou seja, é uma entidade
criada por via do contrato de sociedade, cujo capital social se divide em açõ es; todavia, o
Estado detém uma influência dominante (pertence à Administraçã o Indireta).
De acordo com o previsto no art 7º/1/a), CCP, sendo uma pessoa coletiva criada para
satisfazer necessidades de interesse geral, com cará cter comercial, que exerce atividade no
setor dos transportes e em relaçã o à qual uma entidade adjudicante (neste caso o Estado –
2º/1/a), CCP) exerce, direta ou indiretamente, uma influência dominante, concluímos que
a EMEL é uma entidade adjudicante.
(…) – falta art 4º, ETAF??
No que toca à competência em relação à hierarquia, nã o se tratando de matéria
reservada aos tribunais superiores, isto é, ao STA (art 24º, ETAF) ou ao Tribunal Central
Administrativo (art 37º, ETAF), nos termos do art 44º/1, ETAF, a açã o intentada por G
deve ser proposta no Tribunal Administrativo de Círculo (isto porque incide sobre matéria
administrativa e além disso, nã o há uma reserva de competência para os tribunais
superiores).
Por fim, quanto à competência territorial, estando perante um processo que tem por
objeto uma questã o de validade e execuçã o de um contrato (37º/1/l), CPTA), há que
atender ao art 19º, CPTA. O nº1 diz-nos que as pretensõ es relativas a contratos sã o
deduzidas no tribunal do lugar de cumprimento do contrato. Contudo, as partes, aquando
da celebraçã o do contrato, atribuíram competência ao Centro de Arbitragem
Administrativa, pelo que, nos termos do art 19º/2, CPTA, será esse o tribunal competente.
Há que perceber entã o qual o tribunal em que G pode intentar a açã o. Segundo o art
3º/1 e 2, Decreto-Lei nº325/2003, de 29 de dezembro, a á rea de jurisdiçã o dos tribunais
administrativos de círculo consta do mapa anexo ao referido diploma. No mapa anexo, o
município de Lisboa tem como referência a sede Lisboa.
Assim, G pode intentar a açã o junto do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa.

h) H, trabalhadora afeta aos serviços do Instituto da Conservação da Natureza e das


Florestas com vínculo de contrato individual de trabalho, pretende reagir
jurisdicionalmente perante o despedimento de que foi alvo.
Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais.
Torna-se, entã o necessá rio verificar se a açã o em causa pode ser intentada perante os
tribunais administrativos (competência em relação à jurisdição).
Ora, neste caso, H pretende reagir jurisdicionalmente perante o despedimento de que
foi alvo. Estamos perante um Instituto Pú blico integrado na Administraçã o Indireta do
Estado (art 1º/1, DL nº125/2012).
Todavia, o art 4º/4/b), ETAF, exclui do âmbito da jurisdiçã o administrativa e fiscal a
precisã o de litígios decorrentes de contratos de trabalho, ainda que uma das partes seja
uma pessoa coletiva de direito pú blico, com exceçã o dos litígios emergentes do vínculo de
emprego pú blico.
O professor Mário Aroso de Almeida considera que os contratos individuais de trabalho
na AP nã o sã o idênticos aos restantes, por serem submetidos, em determinados aspetos, a
um regime substantivo pró prio, pelo que lhes atribui a qualificaçã o de contratos
administrativos – assim, nos termos do art 4º/1/e), ETAF, encontramo-nos no âmbito da
jurisdiçã o administrativa.
No que toca à competência em relação à hierarquia, nã o se tratando de matéria
reservada aos tribunais superiores, isto é, ao STA (art 24º, ETAF) ou ao Tribunal Central
Administrativo (art 37º, ETAF), nos termos do art 44º/1, ETAF, a açã o intentada por H
deve ser proposta no Tribunal Administrativo de Círculo (isto porque incide sobre matéria
administrativa e além disso, nã o há uma reserva de competência para os tribunais
superiores).
Por fim, quanto à competência territorial, por força do art 19º/3, CPTA, as açõ es
que tenham por objeto litígios emergentes de vínculos de emprego Pú blico intentadas por
trabalhador contra um empregador pú blico podem ser propostas no tribunal do lugar da
prestaçã o de trabalho ou do domicílio do autor – neste caso, em Lisboa.
Há que perceber entã o qual o tribunal em que H pode intentar a açã o. Segundo o art
3º/1 e 2, Decreto-Lei nº325/2003, de 29 de dezembro, a á rea de jurisdiçã o dos tribunais
administrativos de círculo consta do mapa anexo ao referido diploma. No mapa anexo, o
município de Lisboa tem como referência a sede Lisboa.
Assim, H pode intentar a açã o junto do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa.

i) I, empresa concessionária responsável pelo abastecimento de água no Município de


Paredes, pretende agir judicialmente para o efeito de cobrar as dívidas de um
cliente que há muito deixou de pagar em tempo as faturas da água.
Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais.
Torna-se, entã o necessá rio verificar se a açã o em causa pode ser intentada perante os
tribunais administrativos (competência em relação à jurisdição).
Ora, neste caso, I pretende agir judicialmente para o efeito de cobrar as dívidas de um
cliente que há muito deixou de pagar em tempo as faturas da á gua.
Todavia, o art 4º/4/e), ETAF, exclui do â mbito da jurisdiçã o administrativa e fiscal a
apreciaçã o de litígios emergentes das relaçõ es de consumo relativas à prestaçã o de
serviços pú blicos essenciais, incluindo a respetiva cobrança coerciva.

j) J, residente em Aveiro mas de passagem por Lisboa, pretende ser indemnizado em


virtude dos danos que sofreu depois de ter sido atropelado por um camião do lixo
pertencente aos serviços do município de Lisboa; alegando que o condutor do
veículo agiu com a intenção expressa de o atropelar, pretende também demandá-lo
jurisdicionalmente; alteraria a sua resposta caso o camião pertencesse à Valorsul,
SA, concessionária responsável pelo tratamento e valorização de resíduos urbanos
em diversos municípios da área da grande Lisboa?

k) K pretende ser indemnizado em virtude de uma decisão do Tribunal da Relação de


Lisboa em matéria laboral, já transitada em julgado, mas que, da sua perspetiva,
ofende direitos e princípios inscritos na Carta dos Direitos Fundamentais da União
Europeia; e se a decisão em questão tivesse sido proferida pelo Tribunal Central
Administrativo Sul?
4º/3/b), ETAF – nã o está em causa o â mbito de jurisdiçã o administrativa e fiscal
Deve excluir-se pelo 4º/4/a), ETAF.
2ª questã o: 4º/1/f), ETAF. Competência STA – 24º/a)/v), ETAF.

l) L, pretende impugnar a coima que lhe foi aplicada pela inspeção geral da
agricultura, do mar, do ambiente e do ordenamento do território (IGAMAOT),
por violação de normas relativas à conservação e tratamento de resíduos.
Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais.
Torna-se, entã o necessá rio verificar se a açã o em causa pode ser intentada perante os
tribunais administrativos (competência em relação à jurisdição).
Ora, neste caso, L pretende impugnar a coima que lhe foi aplicada por violaçã o de
normas relativas à conservaçã o e tratamento de resíduos. De acordo com o disposto no art
1º, DL nº23/2012, o IGAMAOT é um serviço pú blico administrativo (faz parte da
Administraçã o Direta do Estado).
Nos termos dos arts 55º e 59º, DL nº433/82, de 27 de outubro (ilícito de mera
ordenação social), o ilícito de mera ordenaçã o social tem natureza administrativa.
Contudo, para se aplicar o art 4º/1/l), ETAF, a aplicaçã o da coima tem de se fundar na
violaçã o de normas em matéria de urbanismo – com a revisã o de 2015, o legislador
reconheceu o carácter administrativo dos litígios sobre o ilícito de mera ordenaçã o social,
atribuindo aos tribunais administrativos o poder de fiscalizaçã o ter legalidade desses atos;
porém, nã o lhes conferiu poderes amplos, já que estes nã o têm competência genérica na
matéria.
Assim, o art 4º/1/l), ETAF atribui-lhes competência para as impugnaçõ es de decisõ es que
apliquem coimas no âmbito do ilícito de mera ordenaçã o, mas apenas quando a aplicaçã o
dessas coimas de se fundar na violaçã o de normas em matéria de urbanismo.
Desta forma, esta açã o nã o poderia ser intentada perante os tribunais administrativos.

m) M, residente em Beja, pretende impugnar a coima que lhe foi aplicada pela Divisão
de Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa ao abrigo do disposto na alínea b)
do nº1 do art 98º, RJUE, por alegadamente ter realizado, no seu apartamento de
Campo de Ourique, obras em desconformidade com o projeto oportunamente
aprovado; e se a infração em causa violar simultaneamente o PDM de Lisboa?
Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais.
Torna-se, entã o necessá rio verificar se a açã o em causa pode ser intentada perante os
tribunais administrativos (competência em relação à jurisdição).
Ora, neste caso, M pretende impugnar a coima que lhe foi aplicada pela Divisã o de
Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa, pela realizaçã o de obras em desconformidade
com o projeto oportunamente aprovado.
De acordo com o disposto nos arts 235º/1 e 236º, CRP, as Autarquias Locais sã o
constituídas pelas freguesias, municípios e regiõ es administrativas, sendo que para o
nosso caso, importa focarmo-nos nos municípios – trata-se de PC cujos ó rgã os sã o a
Assembleia Municipal (deliberativo – 251º) e a Câmara Municipal (executivo – 252º). A
Divisã o de Urbanismo da CML constitui um serviço pú blico administrativo da CML
(organizaçã o humana criada com a finalidade de desempenhar atribuiçõ es da PC, através
de funçõ es de apoio, colaboraçã o, prestaçã o e execuçã o, sempre sobre a iniciativa e
comando dos ó rgã os).
Nos termos dos arts 55º e 59º, DL nº433/82, de 27 de outubro (ilícito de mera
ordenação social), o ilícito de mera ordenaçã o social tem natureza administrativa.
Contudo, para se aplicar o art 4º/1/l), ETAF, a aplicaçã o da coima tem de se fundar na
violaçã o de normas em matéria de urbanismo – que neste caso se verifica, já que M violou
o disposto no art 98º/1, RJUE. Encontramo-nos, assim, no âmbito da jurisdiçã o
administrativa.
No que toca à competência em relação à hierarquia, nã o se tratando de matéria
reservada aos tribunais superiores, isto é, ao STA (art 24º, ETAF) ou ao Tribunal Central
Administrativo (art 37º, ETAF), nos termos do art 44º/1, ETAF, a açã o intentada por M
deve ser proposta no Tribunal Administrativo de Círculo (isto porque incide sobre matéria
administrativa e além disso, nã o há uma reserva de competência para os tribunais
superiores).
Por fim, quanto à competência territorial, estando perante um processo respeitante
à prá tica de normas administrativas das Autarquias locais (neste caso de entidades por
elas instituídas), por força do art 20º/1, CPTA, M deve intentar a açã o no tribunal da á rea
da sede da entidade demandada – neste caso, em Lisboa.
Há que perceber entã o qual o tribunal em que M pode intentar a açã o. Segundo o art
3º/1 e 2, Decreto-Lei nº325/2003, de 29 de dezembro, a á rea de jurisdiçã o dos tribunais
administrativos de círculo consta do mapa anexo ao referido diploma. No mapa anexo, o
município de Lisboa tem como referência a sede Lisboa.
Assim, M pode intentar a açã o junto do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa.

n) N, sociedade gestora de um conjunto alargado de hospitais e clínicas privadas,


pretende impugnar a coima que a comissão nacional de proteção de dados lhe
aplicou por violação de diversas disposições do RGPD quanto ao tratamento de
dados pessoais de saúde de utentes de uma clínica sita em Leiria.
Não é subsumível ao art 4º/1/l), ETAF.

o) O, residente em Leiria, pretende impugnar o ato de declaração de utilidade


pública (inserido num procedimento de expropriação) praticado pelo município de
Viseu em relação a um imóvel aí sito, assim como contestar o valor da
indemnização que lhe foi atribuída na sequência da expropriação.
Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais.
Torna-se, entã o necessá rio verificar se a açã o em causa pode ser intentada perante os
tribunais administrativos (competência em relação à jurisdição).
Ora, neste caso, O pretende impugnar o ato de declaraçã o de utilidade pú blica
praticado pelo município de Viseu, relativamente a um imó vel aí sito, e contestar o valor
da indemnizaçã o atribuída na sequência da expropriaçã o.
De acordo com o disposto nos arts 235º/1 e 236º, CRP, as Autarquias Locais sã o
constituídas pelas freguesias, municípios e regiõ es administrativas – os municípios sã o
pessoas coletivas constituídas pela Assembleia Municipal (deliberativo – 251º) e Câmara
Municipal (executivo – 252º).
No entendimento do professor Mário Aroso de Almeida, uma relaçã o jurídica é
qualificada como administrativa se lhe for aplicá vel um conjunto de normas que atribuem
prerrogativas de deveres ou impõ em deveres, sujeiçõ es ou limitaçõ es especiais
todos/alguns intervenientes, por razõ es de interesse pú blico. Alguma doutrina, em
discordâ ncia do professor, acrescenta ainda um critério estatutá rio, que define as normas de DA
pelo simples facto de disciplinar a AP (o prof entende que se deve ter em conta um critério
teleoló gico).

Com efeito, o art 4º/1/o), ETAF inclui as hipó teses que dizem respeito à atribuiçã o de
indemnizaçõ es devidas em virtude da imposiçã o de sacrifícios por razõ es de interesse
Pú blico – todavia, esta regra é derrogada por disposiçõ es especiais, designadamente no
có digo das expropriaçõ es, que confere aos tribunais judiciais a competência para atribuir
as indemnizaçõ es devidas por expropriaçõ es, servidõ es e requisiçõ es administrativas.
Se o ato de declaraçã o de utilidade pú blica se insere num procedimento de expropriaçã o,
estamos no â mbito da jurisdiçã o judicial.

p) P, proprietário de um pequeno Hostel, pretendia impugnar o ato do município de


Lisboa de liquidação da “taxa turística”; mais tarde e noutra ação, pretende ainda
deduzir um pedido indemnizatório por conta dos danos sofridos por essa
liquidação, que reputa de ilegal.
Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais.
Torna-se, entã o necessá rio verificar se a açã o em causa pode ser intentada perante os
tribunais administrativos (competência em relação à jurisdição).
Ora, neste caso, P pretende impugnar o ato de liquidaçã o da taxa turística, por parte
do Município de Lisboa. De acordo com o disposto nos arts 235º/1 e 236º, CRP, as
Autarquias Locais sã o constituídas pelas freguesias, municípios e regiõ es administrativas –
os municípios sã o pessoas coletivas cujos ó rgã os sã o a Assembleia Municipal (deliberativo
– 251º) e a Câmara Municipal (executivo – 252º). Como estamos perante a fiscalizaçã o da
legalidade de um ato jurídico emanado por um ó rgã o da AP, encontramo-nos no âmbito de
jurisdiçã o administrativa (art 4º/1/b), ETAF).
No que toca à competência em relação à hierarquia/matéria, nã o se tratando de
matéria reservada aos tribunais superiores, isto é, ao STA (art 24º, ETAF) ou ao Tribunal
Central Administrativo (art 37º, ETAF), a açã o intentada por P deveria ser proposta no
Tribunal Administrativo de Círculo, ao abrigo do art 44º/1, ETAF. Contudo, nã o parece
que estejamos perante matéria administrativa, pelo que este artigo nã o seria de aplicar.
Por força do disposto no art 49º/1/a)/i), ETAF, a matéria em causa é tributá ria, sendo
por isso da competência dos tribunais tributá rios.
Assim, nos termos do art 14º/1, CPTA, o processo tem de ser oficiosamente remetido ao
tribunal tributá rio competente.
TEMA DE ANÁLISE Nº2
Explique se e em que medida são verdadeiras ou falsas as seguintes afirmações:
a) A composição do Tribunal de Conflitos é fixa e invariável;
A afirmaçã o em causa está incorreta.
Nos termos do art 2º/1, Lei nº91/2019, de 4 de setembro, o Tribunal de conflitos é
composto por um Presidente e por dois juízes, sendo que, de acordo com o nº2, pode ser
presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça ou pelo Presidente do Supremo
Tribunal administrativo, consoante o local onde a decisã o recorrida foi proferida, ou a
consulta foi submetida.
Relativamente a composiçã o dos juízes, nos termos do nº3, o vice-presidente do STJ é
eleito de acordo com o critério da antiguidade no exercício do cargo, e o vice-presidente
do STA é selecionado consoante o pedido, o recurso ou a consulta digam respeito a
matéria administrativa ou tributá ria.
Com efeito, a composiçã o do tribunal de conflitos é variá vel, dependendo de diversos
critérios – no que toca ao Presidente, a escolha está relacionada com fatores intrínsecos à
causa (isto é, o local onde a decisã o foi proferida ou onde a consulta foi submetida),
enquanto que no caso dos juízes, está relacionado com a experiência profissional e o
exercício naquele cargo.

b) É ao tribunal de conflitos que compete resolver os conflitos de competência que se


gerem entre tribunais administrativos e tribunais tributários;
É ao Tribunal dos Conflitos que compete resolver os conflitos de competência que se
gerem entre tribunais administrativos e tribunais tributá rios;
Tal afirmaçã o é falsa, uma vez que o Tribunal dos conflitos compete apenas conhecer dos
conflitos de competência gerados entre tribunais de diferentes jurisdiçõ es – Artigo 3º, Lei
nº 91/2019.
No que respeitas à s situaçõ es de incompetência que se gerem no â mbito da pró pria
jurisdiçã o administrativa e fiscal, vale o disposto no nº1 do artigo 14º, do CPTA segundo o
qual, se uma açã o que deveria ser proposta perante um tribunal for proposta perante
outro diferente, deve o processo ser oficiosamente remetido para o tribunal competente.

c) O Tribunal de Conflitos apenas intervém na resolução de efetivos conflitos de


jurisdição que se gerem perante decisões contraditórias de tribunais judiciais e tribunais
da jurisdição administrativa e fiscal.
O Tribunal dos Conflitos apenas intervém na resoluçã o de efetivos conflitos de jurisdiçã o
que se gerem perante decisõ es contraditó rias de tribunais judiciais e tribunais da
jurisdiçã o administrativa e fiscal.
Como estabelece o art 14º, CPTA, a decisã o que declare os tribunais administrativos
incompetentes em razã o da jurisdiçã o implica a absolviçã o da instâ ncia, com a
possibilidade da remessa do processo para o tribunal competente, a requerimento do
interessado, ou a propositura de uma nova açã o noutro tribunal.
Se, no entanto, o tribunal administrativo e fiscal ou o tribunal judicial, para o qual o
processo tenha sido remetido, ou perante o qual tenha sido, de novo, proposta a açã o, vier
igualmente a declarar-se incompetente, configura-se um conflito, que deve ser
solucionado mediante recurso para o Tribunal de Contas.
No entanto, ainda que, de facto, o Tribunal dos Conflitos intervenha na resoluçã o de
efetivos conflitos de jurisdiçã o que se gerem perante decisõ es contraditó rias, existem mais
duas vias de acesso ao Tribunal, sem ser a via de conflito efetivo:
- A via do recurso de decisõ es – 3º, c), diploma já referido.
- Consultas prejudiciais dirigidas ao Tribunal dos Conflitos por qualquer tribunal sobre
questõ es de jurisdiçã o, que sã o alvo de pronú ncia vinculativa imediata por parte desta
instâ ncia – 3º, b).
O diploma regula também a articulaçã o a estabelecer entre o regime da resoluçã o dos
conflitos de jurisdiçã o tribunais judiciais/TAF e o mecanismo de resoluçã o de conflitos de
jurisdiçã o consagrado na Lei de Organizaçã o e Processo do Tribunal de Contas. Assim, o
Tribunal dos Conflitos terá competência para dirimir os conflitos de jurisdiçã o entre o
Tribunal de Contas e o Supremo Tribunal Administrativo.

TEMA DE ANÁLISE Nº3


Analise e comente, sob a perspetiva do âmbito da jurisdição administrativa, o acórdão do Pleno
da Secção do Supremo Tribunal Administrativo de 22/02/2018, proc. 01289/16, cujo sumário é
o seguinte:
I – Podendo a função política materializar-se em disposições normativas, designadamente
legislativas, é importante nelas identificar, para efeitos de controlo judicial, o que ainda é
decisão política e o que já é concretização normativa da mesma.
II – Deve considerar-se que preceitos, como os impugnados nos presentes autos, que antecipam
a entrada em vigor do Acordo Ortográfico para determinados destinatários e para certas
situações possuem natureza normativa.
Art 4º/2/a) – a impugnaçã o de atos e normas que executam as grandes escolhas políticas e
legislativas feitas pelos ó rgã os legitimados pela maioria (AR e Governo). As pró prias
decisõ es de ó rgã os políticos nã o podem ser impugnadas por via da jurisdiçã o
administrativa (só por via da fiscalizaçã o()).
TEMA DE ANÁLISE Nº4
Analise e comente, sob a perspetiva do âmbito da jurisdição administrativa, o acórdão do STA
de 02-07-2015, no qual se asseverou a respeito de uma providência cautelar de suspensão da
eficácia dos atos, que aprovou o processo de reprivatização indireta do capital social da TAP –
Transportes Aéreos Portugueses, SA, o seguinte:
Os atos contidos nos preceitos suspendendo não são apenas atos de natureza legislativa por ter
sido essa a forma escolhida para a sua exteriorização, mas também porque contêm previsões
jurídicas com caracter inovador, que exprimem uma opção política primária definem em
função do que se assume ser o interesse geral da comunidade nacional. Por não estarmos
perante o exercício da função administrativa, pode de igual modo concluir-se que não estamos
perante “normas administrativas”.
Os juízes da secçã o de Contencioso Administrativo declararam incompetência
absoluta em razã o da matéria do STA, o que obsta ao conhecimento do mérito da causa,
absolvendo-se os requeridos da instâ ncia, nos termos do art 278º/1/a), CPC.
O art 4º, ETAF, que concretiza o art. 212º/3 CRP, trata do âmbito de jurisdiçã o dos
tribunais administrativos e fiscais. O nú mero 3 daquele artigo exclui do âmbito da
jurisdiçã o administrativa e fiscal a impugnaçã o, e por isso, o conhecimento de processos
cautelares que tenham por objeto atos praticados no exercício da funçã o política e
legislativa, ou seja, apenas sã o passíveis de impugnaçã o em sede cautelar os atos
emanados do exercício da funçã o administrativa.
Para o caso importa distinguir entre atos políticos e legislativos, de um lado, e atos
administrativos, de outro, sendo igualmente relevante a caracterizaçã o rigorosa dos “atos
materialmente administrativos sob a forma legislativa”.
O conceito de ato administrativo resulta do 148º CPA – sã o as decisõ es que, no exercício
de poderes jurídico-administrativos, visem produzir efeitos jurídicos externos numa
situaçã o individual e concreta. Conclui-se, entã o, que para um ato ser administrativo nã o
basta ser individual e concreto, tendo de ser emanado do exercício da funçã o
administrativa.
Quanto à distinçã o entre atos políticos e legislativos de atos administrativos, esta nã o se
afigura fácil, sendo que a diferenciaçã o passa por distinguir as funçõ es política e legislativa
da funçã o administrativa. A funçã o política e a funçã o legislativa sã o qualificadas como
funçõ es primá rias, tendo em comum a realizaçã o das opçõ es sobre a definiçã o e
prossecuçã o do interesse pú blico, tendo cará ter tendencialmente inovador. A funçã o
administrativa está subordinada à quelas funçõ es primá rias, possuindo cará ter secundá rio,
existindo uma necessidade de que as suas decisõ es encontrem fundamento em tais
escolhas e de que nã o as contrariem.
No caso tratado no acó rdã o, a suspensã o de eficácia requerida, tinha por objeto os arts.
1º/1, 2º/1 e 8º/1 e 2 todos do DL 181-A/2014.
Nos termos do 112º/1 CRP, um DL é um ato legislativo (formalmente). Para que este possa
ser suscetível de impugnaçã o terá de ser materialmente administrativo, pois a
impugnabilidade dos atos administrativos nã o depende da respetiva forma – 52º CPTA.
Entã o, ainda que o DL se refira a um processo de reprivatizaçã o que se materializava num
só caso e que tinha destinatá rios determinados, o que importa é aferir se o DL em questã o
procede do exercício da funçã o administrativa.
O DL está subordinado à LQP (11/90 alterada pela 50/2011), pois esta tem valor
reforçado. No entanto, isto nã o é suficiente para dizer que os atos sã o materialmente
administrativos.
A LQP abriu a porta à iniciativa de privatizar o capital das empresas do setor publico
empresarial do Estado, no entanto, nã o impô s tal soluçã o para a TAP, tendo sido o DL a
determinar fazê-lo – representa uma decisã o política com cará ter inovató rio, tendo a sua
fonte na CRP.
O Governo atuou na sua veste de legislador, invocando o 198º/1/a) e c) (competência
legislativa) da CRP e nã o o 199º (competência administrativa) e introduzindo na OJ uma
opçã o primá ria e inovadora, nã o se limitando a concretizar uma decisã o previamente
tomada.
É de concluir que nã o é possível impugnar atos legislativos nos tribunais administrativos,
excetuando os casos em que esses atos sã o materialmente administrativos, o que aqui nã o
se verificava.

TEMA DE ANÁLISE 6 – PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS


Analise e comente, à luz das regras sobre legitimidade ativa e interesse em agir, o Acórdão do
STA de 29/10/2009, de cujo sumário consta:
TEMA DE ANÁLISE 7
Analise e comente, à luz das regras sobre legitimidade ativa e passiva e do interesse em agir, o
Acórdão do STA de 14/07/2015, através do qual se julgou uma providência cautelar destinada a
bloquear o processo de subconcessão do Metro de Lisboa e da Carris e cujo sumário é:

• Primeiramente, relativamente aos factos:


• Sabemos que o Conselho de Ministros aprovou em 26 de Fevereiro de 2015 a
Resoluçã o do Conselho de Ministros que dispunha que:
o Iria ser iniciada a abertura ao mercado da exploraçã o dos serviços pú blicos de
transporte de passageiros prestados pelas empresas Carris e ML, através da subconcessã o
destes serviços.
Seriam os conselhos de administraçã o das mesmas a preparar e aprovar as peças do
procedimento de concurso pú blico destinado à subconcessã o e da conduçã o do mesmo.
o Tanto a Ministra de Estado e das Finanças e no Ministro da Economia seriam
delegados, com a faculdade de subdelegaçã o, os poderes para proceder à atualizaçã o dos
contratos de concessã o de serviço pú blico celebrados com a CARRIS e o ML.
• Seguidamente, foi publicado no Diá rio da Repú blica o anú ncio de procedimento
para a celebraçã o de dois contratos de subconcessã o:
o “Um, relativo à subconcessã o do serviço pú blico de transporte por metropolitano
de passageiros na cidade de Lisboa e nos concelhos limítrofes da Grande Lisboa e;
o Outro, relativo à subconcessã o do serviço pú blico de transporte pú blico coletivo de
superfície de passageiros na cidade de Lisboa, atualmente concessionado à Companhia
Carris de Ferro de Lisboa, S.A., ligaçã o entre a cidade de Lisboa e os municípios adjacentes,
• O autor e demais, no exercício do direito de açã o popular, instauraram:
o uma providência cautelar de suspensã o de eficá cia da Resoluçã o do Conselho de
Ministros
o A intimaçã o da Ministra de Estado e das Finanças, o Ministro da Economia, o
Conselho de Administraçã o da Companhia Carris de Ferro de Lisboa, S.A. e o Conselho de
Administraçã o do Metropolitano de Lisboa, E.P.E., para que se abstenham de executar
quaisquer atos que visem executar a identificada Resoluçã o do Conselho de Ministros
o Indicando como Contra-Interessados o Município de Lisboa e a Autoridade
Metropolitana de Transportes de Lisboa.

• A presente providência deu entrada neste tribunal em 13/5/2015, sendo que em


28/5/2015, o Conselho de Ministros requereu juntar a resoluçã o fundamentada, que
afirmava que:
o O lançamento do Concurso teve como desiderato fundamental dar consecuçã o à s
reformas estruturais delineadas pelo Governo no Plano Estratégico dos Transportes
o Era um compromisso assumido pelo Estado no contexto do memorando de
Entendimento relativo ao Programa de Assistência Econó mica e Financeira (PAEF)
celebrado com a Comissã o Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetá rio
Internacional.
o Que as empresas pú blicas de transportes tinham acumulado uma dívida global que
ascendia a mais de €16.800 milhõ es de euros
o A abertura ao mercado irá gerar poupanças estimadas na ordem dos 170 milhõ es
ao longo do período de vigência das sobreditas concessõ es.
o Sendo que os prazos estabelecidos nos contratos de concessã o vigentes entre o
Estado e as sobreditas empresas pú blicas sã o de cerca de oito anos, uma eventual
suspensã o do Concurso implicaria inevitavelmente a reduçã o dos referidos prazos das
concessõ es, o que obrigaria a uma alteraçã o radical do racional econó mico-financeiro e
consequentemente, do modelo financeiro que foi preparado e que estã o subjacentes ao
concurso
Neste sentido, o tribunal apreciou diversas questõ es que passarei a apresentar
separadamente.

A Carris e o ML vieram deduzir a sua oposiçã o suscitando as exceçõ es de falta de interesse


processual e de ilegitimidade ativa dos Requerentes requerendo que seja decretada a
absolviçã o da instâ ncia e, caso assim se nã o entenda a improcedência do processo
cautelar.

Relativamente à FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL DOS REQUERENTES

• Alegaram as requeridas Carris e Metropolitano de Lisboa que:


o a Resoluçã o aqui em causa determina o início do processo de abertura ao mercado
da exploraçã o dos serviços pú blicos de transporte assegurados pela Carris e pelo ML,
o Tendo sido já iniciado o processo com a aprovaçã o da indicada Resoluçã o e
lançamento do concurso pú blico com a aprovaçã o de todas as peças do Concurso, e por se
terem esgotado todos os efeitos da referida resoluçã o
o Ocorre falta de interesse em agir dos aqui requerentes.
Concluindo pela impossibilidade de suspensã o do Concurso, e inaplicabilidade do art. 129º
do CPTA.
• Primeiramente, há que destrinçar o que é o interesse processual
o Como refere Manuel de Andrade, o interesse em agir consiste no facto de o direito
do demandante estar carecido de tutela judicial. Isto é, diferentemente do que
consideramos ser legitimidade, onde só será Parte legítima todo aquele que retire da
anulaçã o do ato impugnado um benefício concreto - patrimonial ou moral - nã o contrá rio à
lei, que directa e imediatamente se reflecte na sua esfera jurídica pessoal.
o Se olharmos para o acó rdã o TRP 15-10-2002, ainda que o autor seja parte legítima,
pode nã o ter necessidade de recorrer à tutela do tribunal para satisfaçã o do seu direito,
quer porque nã o foi violado, quer porque nã o se encontra sequer ameaçado. Há uma
necessidade de tutela judicial que a leva a tribunal concretiza-se no interesse em obter
uma pronú ncia judicial que proporcione a obtençã o do ato pretendido. Essa é a pronú ncia
do tribunal que assegura a tutela efetiva da posiçã o do autor.
o Na legitimidade o que está em causa é saber se a parte é titular da relaçã o material
controvertida, se existe um interesse directo ou pessoal, enquanto que no interesse
processual tem que existir necessidade de tutela jurisdicional, ou seja, o autor tem que
retirar uma vantagem. Dito de outra forma, no interesse processual nã o se procura saber
se aquela parte é titular ou nã o da situaçã o material controvertida, o que se procura saber
é se há necessidade efectiva de tutela judiciá ria e, portanto, de factos objectivos que
tornem necessá rio o recurso à via judicial. Esta exigência tem como objectivo dificultar o
recurso a tribunal quando estejam em causa açõ es inú teis das quais a parte nã o irá retirar
qualquer utilidade ou benefício.

o Manuel Andrade e Antunes Varela sustentam que o interesse em agir constitui um


pressuposto processual. Na jurisprudência, a opiniã o dominante é também no sentido de
que o interesse em agir constitui um pressuposto processual (vide entre outros, os acs. STJ
de 30/10/84, ainda que haja acó rdã os que disponham em sentido contrá rio, o ac. da
Relaçã o de É vora, de 20.01.77, critica o uso da figura do interesse em agir na ausência de
regulamentaçã o expressa, porque se daria a possibilidade que todos devem ter de recurso
aos tribunais em defesa dos seus direitos.
o Na formulaçã o originá ria, encontram-se presentes dois traços da “infâ ncia
difícil”do contencioso: por um lado, a pressuposiçã o da ligaçã o necessá ria entre processo
gracioso (O processo administrativo gracioso - diversamente do contencioso, que apenas
contempla questõ es de legalidade -, corresponde a uma determinada forma de actuaçã o
dos ó rgã os da administraçã o, aquela forma que se caracteriza pela observâ ncia de
determinadas formalidades que ao mesmo tempo constituem o suporte da formaçã o de
uma decisã o justa, ú til e oportuna, e, também, a garantia de defesa contra a arbitrariedade
e precipitaçã o das resoluçõ es administrativas) e processo contencioso; por outro, a
conformaçã o global do sistema como orientado para a defesa da legalidade e nã o para
tutela dos direitos dos particulares. Tudo isso está hoje ultrapassado; neste novo quadro, a
referência a um interesse “directo” é lida ora pressupondo uma ideia de imediatividade
entre a impugnaçã o do acto e os benefícios dela decorrentes ora como actualidade e
efectividade em solicitar essa impugnaçã o. Desta ú ltima leitura decorreria que, afinal, tal
característica do interesse teria que ver, já nã o com a legitimidade, mas sim com outro
pressuposto processual: o interesse processual (ou interesse em agir).

o Ainda que o CPTA nã o consagre, em termos gerais, o interesse em agir como um


pressuposto processual, existem três locais nos quais o CPTA, directa ou indirectamente,
reconhece a relevâ ncia do interesse processual.
 o primeiro é o art. 39º, relativo à s acçõ es de simples apreciaçã o. A sua
admissibilidade terá que passar, sempre, pelo crivo da incerteza que rodeia a existência do
direito ou facto e que, portanto, legitima o acesso a juízo (no que se manifestaria o
elemento de utilidade do interesse processual).
 o segundo local no qual o Có digo se refere ao interesse processual é o do art.
51.o/4: aí se fixa que, quanto a actos de indeferimento, deverá ser formulada uma acçã o de
condenaçã o à prá tica do acto devido. Pela razã o essencial de ser esse, de entre os
possíveis, o meio mais adequado, no sentido de mais operativo para a realizaçã o das
pretensõ es do A. Ou seja, o meio adequado à pretensã o do A é a acçã o de condenaçã o à
prá tica do acto devido, já que apenas através dela se obterá , do Juiz, uma condenaçã o da
Administraçã o. A simples declaraçã o (e constituiçã o) da ilegalidade do indeferimento de
nada serviria.
 o terceiro diz respeito ao requisito da nã o aceitaçã o do acto administrativo
impugnado, conforme previsto no art. 56.o. Uma outra questã o que é tratada pelo
Professor Vasco Pereira da Silva, é a da aceitaçã o do ato administrativo previsto no artigo
56.º do CTPA.Para este autor há uma correlaçã o entre o interesse processual e a aceitaçã o
do acto, uma vez que o particular ao aceitar, expressa ou tacitamente, o ato administrativo,
perdeu o interesse processual na impugnaçã o do mesmo, com ressalva dos casos em que é
feita uma aceitaçã o com reserva.

• Assim, o interesse que os requerentes vêm invocar é um interesse


perfeitamente útil já que apesar de iniciado o processo com a aprovação da indicada
Resolução e lançamento do concurso público, não se esgotaram todos os efeitos da
referida resolução na medida em que, desde logo, não resulta dos autos que o
procedimento do concurso tenha terminado nem tenham sido celebrados quaisquer
contratos.
Pelo que, não podemos dizer que o deferimento do pedido de suspensão da
deliberação e demais pedidos formulados seja inútil para os interesses que se visam
proteger.
Pelo que, nã o se pode concluir pela inexistência de interesse em agir nesta parte.
Improcede, pois, a questã o prévia suscitada.

Relativamente à ILEGITIMIDADE DOS REQUERENTES


• Por outro lado, invocam os requeridos Carris e Metropolitano que os requerentes
carecem de legitimidade ativa por nã o estar aqui em causa a defesa de valores e bens
constitucionalmente protegidos que ancorem a instauraçã o de qualquer açã o popular.
o Neste caso, referem que nem a CRP, nem a Lei da Açã o Popular (lei 83/95), nem o
CPTA, qualificam a “garantia constitucional da autonomia local” como um interesse
susceptível de ser tutelado em sede de açã o popular e, nã o estaria invocado de que forma a
subconcessõ es poderiam afetar a qualidade de vida dos habitantes de Lisboa
o Mais, concluem que o Município de Lisboa seria o (ú nico) ente legítimo para
sindicar judicialmente a titularidade das concessõ es outorgadas ao ML e à Carris pelo que
os requerentes sã o partes ilegítimas
 Nos termos do disposto no art. 89º, n.º 1, alínea d. do CPTA e no art. 278º, n.º 1,
alínea d. do CPC, aplicá vel ex vi do art. 1º do CPTA, deve ser declarada a absolviçã o da
instâ ncia das Requeridas.
• Neste sentido, a açã o popular é um meio previsto no art. 52º, n.º 3 da CRP, arts. 1º,
nºs 1 e 2 e 12º, n.º 1 da Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto (“Lei da Açã o Popular”) e, no art. 9º,
n.º 2 do CPTA.
• O artigo 9º do CPTA estipula, sob a epígrafe legitimidade ativa o seguinte:
“1- (...) o autor é considerado parte legítima quando alegue ser parte na relaçã o material
controvertida;
2- (...) qualquer pessoa (...) têm legitimidade para propor e intervir (...) em processos
principais e cautelares destinados à defesa de valores e bens constitucionalmente
protegidos, como a saú de pú blica, o ambiente, o urbanismo, o ordenamento do territó rio, a
qualidade de vida, o patrimó nio cultural e os bens do Estado, das Regiõ es Autó nomas e das
autarquias locais.”
• Neste caso, temos de verificar se podemos enquadrar o pretendido pelos
requerentes nesta disposiçã o

o Pretendem os requerentes “(i) Assegurar a defesa de bens e direitos do Município


de Lisboa;” “(ii) Promover a perseguiçã o judicial de atos administrativos que ofendam o
conteú do da garantia constitucional da autonomia local” e “(iii) Assegurar a qualidade de
vida dos habitantes de Lisboa, evitando alteraçõ es negativas no serviço pú blico de
transporte de passageiros”.
• Neste caso, podemos considerar que está em causa a garantia constitucional da
autonomia local assim como a defesa do patrimó nio do Município como valores difusos,
que asseguram a participaçã o política dos respetivos eleitores, num plano de autonomia
relativamente à s tomadas de decisã o de cará ter nacional, onde se pode incluir a Resoluçã o
do Conselho de Ministros aqui em causa relativamente ao Município de Lisboa e direitos
de participaçã o política dos cidadã os recenseados no Município de Lisboa.
• Neste sentido, pelo disposto no artº 26º nº 3 do CPC, a legitimidade processual
afere-se pela relaçã o jurídica controvertida tal como é apresentada pelo autor.
o Sendo a relaçã o jurídica apresentada pelos requerentes, a falta de intervençã o do
Município de Lisboa enquanto concedente, nã o pode proceder a exceçã o de ilegitimidade
processual ativa dos requerentes com esse fundamento.

• Têm, pois, os aqui requerentes legitimidade ativa independentemente de qualquer


lesã o específica na sua esfera jurídica, patrimó nio ou demonstraçã o de benefícios diretos e
imediatos que derivariam da anulabilidade ou suspensã o do ato, por estar em causa a
defesa de “interesses difusos” gerais e unitá rios da comunidade quanto à regularidade de
um concreto desempenho por parte da Administraçã o.

• A Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa, (AMTL) na qualidade


de contra-interessada, veio deduzir a sua oposição, aderindo à oposição
apresentada pelo Metropolitano de Lisboa, E.P.E. e pela Carris, S.A., arguindo ainda a
sua ilegitimidade, e consequente absolvição da instância.
• É nestes termos que surge a figura do "contra-interessado"2, prevista nos
artigos 57 e 68/2 do Código de Processo nos Tribunais Administrativos, doravante
desigando por CPTA. Daqui retira-se que constituem contra-interessados, devendo
ser demandados, aqueles que sejam titulares de interesses contrapostos aos do
autor, nos processos de impugnação de actos administrativos e nos processos de
condenação à prática de actos administrativos, em situação de litisconsórcio
necessário passivo, ou seja, são pessoas que podem ser prejudicadas através da
procedência da acção ou que têm um interesse em manter determinada situação
que é trazida a juízo pelo autor. Na acção administrativa comum, os contra-
interessados são chamados ao processo nos termos do artigo 10/1 do CPTA.
• Os contra-interessados são titulares de direitos subjectivos que podem ser
lesados em actuações processuais de outras pessoas, o que implica uma garantia da
tutela jurisdicional efectiva, prevista nos artigos 20 e 268/4 da Constituição da
República Portuguesa. Deste modo, encontramos um fundamento jurídico-
constitucional para que haja chamamento ao processo dos contra-interessados,
assegurando assim a possibilidade de participarem no processo em causa e,
respeitando então o princípio do contraditório e o princípio da igualdade das
partes.
É debatido na doutrina se os contrainteressados são verdadeiras partes no processo
ou apenas terceiros, questão que nos parece que tem vindo a convergir.
O Professor Vasco Pereira da Silva entendeu desde sempre que, os
contrainteressados são, nas suas palavras, verdadeiros "sujeitos principais da
relação jurídica multilateral, enquanto titulares de posições jurídicas de vantagem
conexas com as da Administração, intervindo nesses termos no processo". Como
argumentos para esta qualificação, refere a interpretação sistemática do CPTA, bem
como o facto de as referidas posições de vantagem serem juridicamente protegidas
e ainda, a questão das relações administrativas do moderno contencioso
administrativo assentar em moldes multilaterais, implicando uma revalorização da
posição daqueles "terceiros".
A relação material tal como configurada pelos requerentes consiste na intervenção
do Conselho de Ministros (enquanto órgão autor da Resolução suspendenda) e os
conselhos de administração do METROPOLITANO DE LISBOA, E.P.E. e da CARRIS, S.A
(enquanto órgãos responsáveis pela preparação e condução do procedimento
concursal desencadeado por essa Resolução) para além das entidades a quem
cumpre a execução da mesma.
Pelo que, de acordo com os termos da petição não se vê de onde resulta a
legitimidade processual como contra-interessada da AMT no processo cautelar.
o Ora, a eventual procedência deste pedido de suspensão do procedimento
para a formação dos contratos de subconcessão dos serviços públicos de transporte
de passageiros explorados pelo METROPOLITANO DE LISBOA, E.P.E. e pela CARRIS,
S.A. não se repercute diretamente na esfera jurídica da AMTL uma vez que esta
entidade não assume a posição de entidade adjudicante responsável por esse
procedimento.
o A AMTL não é, pois, uma “entidade diretamente prejudicada” pela adoção das
providências cautelares requeridas, pelo que não preenche o requisito previsto no
artigo 114.º, n.º 3, alínea d) do CPTA, devendo ser absolvida da instância, nos
termos do disposto no artigos 576.º, n.º 2 e 577.º, alínea d) do Código do Processo
Civil, aplicável ex vi do artigo 1.º do CPTA.

HIPÓTESE Nº4 – PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS RELATIVOS ÀS PARTES


Na sequência da aplicação de uma sanção disciplinar de descida de divisão pela Comissão
disciplinar da liga portuguesa de futebol ao clube FC Axadrezados, os respetivos jogadores
pretendem impugnar a referida decisão, alegando para o efeito a perda de visibilidade e de
estatuto a que ficarão sujeitos como “meros” jogadores da 2ªLiga. Sentindo-se igualmente
prejudicados com a decisão da Comissão Disciplinar, os principais patrocinadores do clube
preparam também uma reação judicial, que incluirá igualmente um pedido de indemnização por
conta das mais do que certas perdas de receitas de publicidade.

a) Questão prévia: em que tribunal deveriam ser propostas estas ações?

Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais. Assim, de modo a concretizar
tal artigo, no que toca ao â mbito de jurisdiçã o, importa articulá-lo com o art 4º, ETAF.

A Liga Portuguesa de Futebol é uma associaçã o de direito privado, sem fins lucrativos. No
entanto, o Regime Jurídico das Federaçõ es Desportivas e as Condiçõ es de Atribuiçã o do
Estatuto de Utilidade Pú blica Desportiva, no seu art 11º, prevê que têm natureza pú blica
os poderes das federaçõ es desportivas exercidos no â mbito da regulamentaçã o e
disciplina da respetiva modalidade que, para tanto, lhe sejam conferidos por lei.

Assim, as federaçõ es desportivas, embora sejam entidades de direito privado, participam


na organizaçã o e gestã o do serviço pú blico desportivo, através da concessã o do estatuto
de utilidade pú blica desportiva. A finalidade desta atribuiçã o é a de proporcionar meios e
formas de atuaçã o que revistam de interesse e utilidade para a comunidade em geral no
âmbito do desporto. Para isso, sã o atribuídas à s federaçõ es desportivas um conjunto de
prerrogativas de autoridade para o cabal exercício das suas competências legais, ou seja,
sã o investidas dos poderes pú blicos, designadamente, de regulamentaçã o e disciplina.

O artigo 2º no mesmo diploma estabelece, ainda, que as federaçõ es desportivas sã o as


pessoas coletivas constituídas sob a forma de associaçã o sem fins lucrativos que,
englobando, nomeadamente ligas profissionais, (seria o caso) preencham,
cumulativamente, os seguintes requisitos:

a) Se proponham, nos termos dos respetivos estatutos, prosseguir, entre outros, os


seguintes objetivos gerais:

1. Promover, regulamentar e dirigir a nível nacional a prá tica de uma modalidade


desportiva ou de um conjunto de modalidades afins ou associadas;

2. Representar perante a Administraçã o Pú blica os interesses dos seus filiados;

3. Representar a sua modalidade desportiva, ou conjunto de modalidades afins ou


associadas, junto das organizaçõ es desportivas internacionais, bem como assegurar
a participaçã o competitiva das seleçõ es nacionais;

b) Obtenham o estatuto de pessoa coletiva de utilidade pú blica desportiva.

Assim, quanto à pretensã o de impugnar a decisã o de aplicaçã o de sançã o disciplinar: nos


termos do artigo 148º, do CPA, estamos perante um ato administrativo (as decisõ es que,
no exercício de poderes jurídico-administrativos, visem produzir efeitos jurídicos externos
numa situaçã o individual e concreta), e portanto, a pretensã o enquadra-se na alínea d), do
nº1, do artigo 4º, do ETAF, uma vez que, como já vimos, a ato foi praticado no exercício de
poderes pú blicos. Portanto, estamos perante o â mbito de jurisdiçã o administrativa.

Quanto à competência em razã o da hierarquia, nã o estando em causa matérias que o ETAF


reserva para os tribunais superiores conhecerem em primeiro grau de jurisdiçã o
(Tribunais Centrais Administrativos – 37º, ETAF e Supremo Tribunal Administrativo –
24º, ETAF), compete, entã o, aos tribunais de primeira instâ ncia (Tribunais
Administrativos de Círculo) conhecer, em primeiro grau de jurisdiçã o, de todos os
processos em matéria administrativa, nos termos do artigo 44º, nº1, ETAF.

Por ú ltimo, em razã o do territó rio, o artigo 20º, do CPTA prevê que, os processos
respeitantes à prá tica de atos das pessoas coletivas de utilidade pú blica (seria o caso) sã o
intentados no tribunal da á rea da sede da entidade demandada. No artigo 4º, dos seus
Estatutos, estabelece-se que a Liga tem sede na cidade do Porto. No caso, portanto, seria
competente o Tribunal Administrativo do Círculo do Porto.

Quanto ao pedido de indemnizaçã o por conta das mais do que certas perdas de receitas de
publicidade:

O artigo 4º, nº1, h), do ETAF prevê, precisamente, que compete aos tribunais da jurisdiçã o
administrativa apreciar questõ es relativas à responsabilidade civil extracontratual dos
demais sujeitos aos quais seja aplicá vel o regime específico da responsabilidade do Estado
e demais pessoas coletivas de direito pú blico. O regime previsto na Lei nº67/2007, de 31
de dezembro prevê, no seu artigo 1º, nº5, 2ª parte, que as disposiçõ es do mesmo sã o
aplicá veis à responsabilidade civil de pessoas coletivas de direito privado, que seria o caso,
por açõ es ou omissõ es que adotem no exercício de prerrogativas de poder pú blico – tal
como já vimos, é precisamente isso que está em causa. Assim, estamos perante o âmbito de
jurisdiçã o administrativa.

Quanto à competência em razã o da hierarquia, nã o estando em causa matérias que o ETAF


reserva para os tribunais superiores conhecerem em primeiro grau de jurisdiçã o
(Tribunais Centrais Administrativos – 37º, ETAF e Supremo Tribunal Administrativo –
24º, ETAF), compete, entã o, aos tribunais de primeira instâ ncia (Tribunais
Administrativos de Círculo) conhecer, em primeiro grau de jurisdiçã o, de todos os
processos em matéria administrativa, nos termos do artigo 44º, nº1, ETAF.

Por ú ltimo, em razã o do territó rio, o artigo 18º, nº2, do CPTA prevê que, sendo o facto
constitutivo da responsabilidade a prá tica de um ato administrativo, a pretensã o deverá
ser deduzida no tribunal competente para se pronunciar sobre a legalidade da atuaçã o.
Isto porque, nestes casos, o pedido principal é o da impugnaçã o do ato praticado, sendo
portanto, no tribunal territorialmente competente para a apreciaçã o desse pedido
principal que deve ser deduzido o pedido dirigido à obtençã o da reparaçã o de danos.
Como já referido anteriormente, nos termos do artigo 20º, nº1, seria, entã o, competente o
Tribunal Administrativo do Círculo do Porto.

b) Independentemente da resposta à questão anterior, e assumindo que as respetivas ações


seriam propostas e correriam termos perante um tribunal administrativo do círculo:
i. Pronuncie-se sobre a legitimidade processual dos jogadores e dos patrocinadores
do FC Axadrezados.
Para que uma pessoa esteja em posiçã o de figurar como parte num processo
administrativo, tem de ter personalidade e capacidade judiciá rias (art 8º-A, CPTA), tem
de constituir mandatá rio – patrocínio judiciá rio (art 11º, CPTA) – e por fim, a
pessoa/entidade tem de ser configurada como parte na açã o concreta, devido ao
preenchimento dos pressupostos da legitimidade processual.

Enquanto que a personalidade e capacidade judiciá rias constituem pressupostos


processuais que se reportam a atributos pró prios que, em abstrato, sã o necessá rios para
que uma pessoa/entidade possa ser considerada como parte em qualquer processo
administrativo, a legitimidade processual afere-se em funçã o da concreta relaçã o que se
estabelece entre as partes e uma concreta açã o, com um objeto determinado.

A legitimidade pode ser ativa (art 9º, CPTA) – correspondência com o autor da açã o (quem
alega a titularidade de uma situaçã o) – ou passiva (art 10º, CPTA) – configura a
pessoa/entidade que deve ser demandada com o objeto configurado pelo autor.

No presente caso, os jogadores pretenderam impugnar a aplicaçã o de uma sançã o


disciplinar devido à descida de divisã o pela Comissã o Disciplinar da Liga Portuguesa de
Futebol. No seguimento desta sançã o, os principais patrocinadores do clube requereram
uma indemnizaçã o pelas perdas de receitas de publicidade. Há que perceber se tanto os
jogadores como os patrocinadores do clube têm legitimidade ativa, isto é, se têm
legitimidade para propor a açã o.

O regime geral da legitimidade ativa consta do art 9º, CPTA, sendo que o nº1
estabelece um critério comum de aplicabilidade residual (circunscreve-se aos tipos de litígios
cuja estrutura se aproxima do direito processual civil, nã o sendo os mais representativos no
processo administrativo – corresponde apenas aos casos que nã o sã o objeto de um regime
especial). Importa, primeiramente, verificar as disposiçõ es especiais sobre a legitimidade.

Ora, nos termos dos arts 148º, CPA (decisã o que, no exercício de poderes jurídico-
administrativos, visa produzir efeitos jurídicos externos numa situaçã o individual e concreta) e
50º/1, CPTA, estamos perante a impugnaçã o de um ato administrativo, pelo que a
legitimidade tem de ser aferida de acordo com o art 55º, CPTA.

De acordo com o disposto no art 55º/1/a), CPTA, quem alegue ser titular de um interesse
direto e pessoal tem legitimidade para impugnar um ato administrativo – na interpretaçã o
do professor Mário Aroso de Almeida, a legitimidade individual para impugnar atos
administrativos nã o tem de se basear na ofensa de um direito ou interesse legalmente
protegido, mas apenas com a circunstâ ncia de o ato, no momento em que é impugnado,
provocar consequências desfavorá veis na esfera jurídica do autor.

Na perspetiva do professor Mário Aroso de Almeida, só o carácter pessoal é que diz


respeito à legitimidade processual – desta forma, o interesse é pessoal porque a
anulaçã o/declaraçã o de nulidade do ato impugnado tem utilidade pessoal (autor é titular
do interesse em nome do qual se move no processo).

 Quanto ao carácter direto, o professor considera que estamos perante a questã o de


saber se o alegado titular do interesse tem efetiva necessidade de tutela judiciá ria,
isto é, se há interesse em agir – estaríamos, assim, perante outro pressuposto
(interesse processual) que nã o a legitimidade processual.
 Ainda no que diz respeito a este ponto, o STA tem um entendimento diverso.
Considera que o cará cter direto se encontra preenchido se o impugnante alegar, no
conteú do da petiçã o inicial, que há utilidades/vantagens que podem advir da
anulaçã o do ato (neste caso, a anulaçã o do ato evitaria a descida de divisã o para os
jogadores e a perda das receitas de publicidade, por parte dos patrocinadores).
Com efeito, entende que tem legitimidade para impugnar quem espera obter da
anulação do ato impugnado um certo benefício e se encontra em condições de o poder
receber.

Seguindo o entendimento do STA, tanto os jogadores, como os patrocinadores têm


legitimidade ativa para impugnar o ato administrativo.

ii. Imagine que o MP pretende igualmente impugnar a decisão, imputando à Comissão


Disciplinar da Liga diversíssimas ilegalidades na tramitação do procedimento que
lhe esteve subjacente. Pode fazê-lo?

A legitimidade processual consiste num pressuposto processual, cuja titularidade se afere


por referência à s alegaçõ es produzidas pelo autor: possui, assim, legitimidade ativa quem
alegue a titularidade de uma situaçã o cuja conexã o com o objeto da açã o proposta o
apresente como em condiçõ es de nela figurar como autor e possuir legitimidade passiva
quem deve ser demandado na açã o, com o objeto configurado pelo autor.

Deste modo, pretendendo o Ministério Pú blico impugnar a decisã o, importa averiguar se o


mesmo possui legitimidade ativa.

O pressuposto processual da legitimidade nã o é um pressuposto que se reporta, em


abstrato, à pessoa do autor ou do demandado, mas um pressuposto cujo preenchimento se
afere em funçã o da concreta relaçã o que alegadamente se estabelece entre essas pessoas e
uma açã o com um objeto determinado.

No que toca ao regime que o CPTA estabelece a respeito da legitimidade ativa, este nã o se
esgota no artigo 9º. O nº1 desse mesmo artigo estabelece um critério que é derrogado por
um amplo conjunto de soluçõ es especiais que o CPTA estabelece em funçã o de diversos
tipos especiais de pretensõ es (55º, 57º, 68º,73º e 77º-A), tendo assim este artigo uma
aplicabilidade residual.

Uma dessas soluçõ es especiais é a que se encontra prevista no artigo 55º, que regula,
precisamente, a impugnaçã o de um ato administrativo, que seria o caso. Nos termos do
nº1, b) desse mesmo artigo, tem legitimidade para impugnar um ato administrativo o
Ministério Pú blico, cumprindo a sua funçã o prevista no artigo 51º, do ETAF de defender a
legalidade democrá tica e promover a realizaçã o do interesse pú blico.

O alargamento da legitimidade ativa nesta matéria deve-se ao facto de estas pretensõ es


dizerem respeito ao exercício de poderes de autoridade da Administraçã o, matéria que,
embora relacionada com situaçõ es jurídicas individuais, se reveste de um significado
muito vasto, por envolver a disposiçã o de interesses pú blicos, respeitando, assim, a toda a
comunidade e cuja garantia está institucionalmente a cargo de um conjunto de entidades
pú blicas.
iii. Imagine também que uma claque organizada do clube pretende reagir
jurisdicionalmente, invocando para o efeito a tutela do “interesse Público da
verdade desportiva”. Pode fazê-lo?

Para que uma pessoa esteja em posiçã o de figurar como parte num processo
administrativo, tem de ter personalidade e capacidade judiciá rias (art 8º-A, CPTA), tem
de constituir mandatá rio – patrocínio judiciá rio (art 11º, CPTA) – e por fim, a
pessoa/entidade tem de ser configurada como parte na açã o concreta, devido ao
preenchimento dos pressupostos da legitimidade processual.

Enquanto que a personalidade e capacidade judiciá rias constituem pressupostos


processuais que se reportam a atributos pró prios que, em abstrato, sã o necessá rios para
que uma pessoa/entidade possa ser considerada como parte em qualquer processo
administrativo, a legitimidade processual afere-se em funçã o da concreta relaçã o que se
estabelece entre as partes e uma concreta açã o, com um objeto determinado.

A legitimidade pode ser ativa (art 9º, CPTA) – correspondência com o autor da açã o (quem
alega a titularidade de uma situaçã o) – ou passiva (art 10º, CPTA) – configura a
pessoa/entidade que deve ser demandada com o objeto configurado pelo autor.

Na presente hipó tese, uma claque organizada do clube pretende reagir judicialmente,
invocando a tutela do interesse pú blico da verdade desportiva.

O regime geral da legitimidade ativa consta do art 9º, CPTA, sendo que o nº1 estabelece
um critério comum de aplicabilidade residual (circunscreve-se aos tipos de litígios cuja
estrutura se aproxima do direito processual civil, nã o sendo os mais representativos no processo
administrativo – corresponde apenas aos casos que nã o sã o objeto de um regime especial) .
Importa, primeiramente, verificar as disposiçõ es especiais sobre a legitimidade.

Ora, nos termos dos arts 148º, CPA (decisã o que, no exercício de poderes jurídico-
administrativos, visa produzir efeitos jurídicos externos numa situaçã o individual e concreta) e
50º/1, CPTA, estamos perante a impugnaçã o de um ato administrativo, pelo que a
legitimidade tem de ser aferida de acordo com o art 55º, CPTA, mais concretamente de
acordo com a alínea f), que por sua vez nos remete para o art 9º/2, CPTA.

O art 9º/2, CPTA reconhece à s associaçõ es (caso da claque – art 3º/i) e 14º/1, DL
nº39/2009, de 30 julho considera-a como um grupo organizado de adeptos, que é
integrado na AP como uma Associaçã o) o direito de lançar mã o de todo e qualquer meio
processual (principal ou cautelar) existente no contencioso administrativo para defesa dos
valores que enuncia – este artigo confere legitimidade ativa para a defesa de interesses
difusos (correspondem aos direitos fundamentais que a CRP estabelece – estã o em causa bens
pú blicos) à s associaçõ es, desde que preencham os requisitos do art 3º, Lei nº83/95, sendo
uma forma de açã o popular admitida no contencioso administrativo (extensão
legitimidade).

Como referido, está em causa uma das modalidades da açã o popular – trata-se de uma
açã o proposta na defesa de valores que interessam à comunidade, sendo que o art 9º/2,
CPTA apresenta o conjunto de açõ es que podem ser intentadas em defesa de valores e
bens constitucionalmente protegidos » concretizaçã o do art 52º/3, CRP.
Interessa perceber se a defesa do interesse pú blico da verdade desportiva poderia ser
enquadrada no art 9º/2, CPTA ou se poderia até servir de fundamento no nosso caso.

Ora, no âmbito da CRP, o disposto nos arts 64º/2/b) e 79º/2, CRP consagram a
promoçã o da cultura física e desportiva. Além dos preceitos constitucionais, atendendo à
Lei nº13/2017, de 2 de maio (Regime Responsabilidade Penal por Comportamentos
suscetíveis de afetar a verdade, a lealdade e a correçã o da competiçã o), a mesma
estabelece um novo regime de responsabilidade penal por comportamentos suscetíveis de
afetarem a verdade, da lealdade e da correçã o da competiçã o.

Contudo, a verdade é que no caso em apreço, foi aplicada uma sançã o que implicou
uma descida de divisã o dos jogadores – o fundamento da claque nã o parece vá lido, já que
nã o estava em causa qualquer problema de verdade ou lealdade. Além disso, como o art
9º/2, CPTA é uma extensã o de legitimidade, teriam de estar verificados os pressupostos
do art 3º, Lei nº83/95 – que nã o ocorre. Por isso, nã o parece que lhes seja concedida
legitimidade ativa.

A claque não é uma associação de classe, da proteção do interesse difuso da verdade desportiva,
não tem qualquer conexão com o interesse difuso da verdade desportiva – só poderia entrar se
alegasse interesses próprios – só podia alegar a defesa dos próprios membros e não a defesa de
interesses dos jogadores.

Jogadores e patrocinadores podem juntar-se? » coligação, litisconsórcio e


legitimidade plural

Podem existir situaçõ es de pluralidade de partes em processo administrativo, sob a forma


de coligação ou sob a forma de litisconsórcio (ativo/passivo, necessá rio/voluntá rio).

 Coligaçã o – situaçã o de pluralidade de partes, que assenta numa pluralidade de


relaçõ es jurídicas. Permite que vá rios autores desencadeiem um ú nico processo
contra um ou vá rios demandados (coligaçã o de autores) ou que o autor
desencadeie um ú nico processo conjuntamente contra vá rios demandados
(coligaçã o de réus), por pedidos diferentes, com fundamento em relaçõ es jurídicas
intercorrentes entre uns e outros. Se cada um dos pedidos for formulado por cada
um dos autores » coligaçã o.

 Litisconsó rcio – pressupõ e a cotitularidade da relaçã o jurídica entre os


litisconsortes, ou seja, a existência de uma ú nica relaçã o material, como se
houvesse um ú nico autor (litisconsó rcio ativo) ou um ú nico demandado
(litisconsó rcio passivo). Se os pedidos deduzidos forem formulados por todas as
partes ou contra todas as partes » litisconsó rcio.

Neste caso, temos uma pluralidade de autores (jogadores e patrocinadores) e um


demandado (Comissã o disciplinar da liga portuguesa de futebol). Há também uma
pluralidade de pedidos – a impugnaçã o da decisã o (por parte de ambos) e um pedido de
indemnizaçã o (por parte dos patrocinadores).

Nã o existe uma ú nica relaçã o material, pelo que parece que estamos perante uma
coligaçã o.

Nos termos do art 12º/1/a), in fine, CPTA, podem coligar-se vá rios autores contra um
demandado quando os pedidos estejam entre si numa relaçã o de prejudicialidade ou de
dependência, nomeadamente por se inscreverem no â mbito da mesma relaçã o jurídica
material.

Parece, assim, que os jogadores e patrocinadores se podem juntar na mesma açã o,


existindo uma coligaçã o de autores.

Como é que o pedido de indemnização se junta ao ato impugnatório? » cumulação


de pedidos

É possível que a coligaçã o de demandados ocorra quando o autor cumula um pedido de


anulaçã o de um ato administrativo com o reconhecimento de uma situaçã o subjetiva, no
caso em que a prá tica do ato administrativo, por parte de uma certa entidade, constitui
impedimento ao reconhecimento de direitos/interesses legítimos existentes na esfera
jurídica do particular.

É ainda admissível que vá rios autores se coliguem para impugnarem uma mesma norma
ou deduzirem pedidos de indemnizaçã o por ilegalidade praticada no â mbito de uma
mesma atuaçã o jurídica ou material da Administraçã o.

Cumulaçã o pedidos – art 4º/1/a) + 2/f), CPTA

HIPÓTESE Nº5
120 dos “lesados do papel comercial do BES” pretendem impugnar a medida de resolução
adotada pelo Banco de Portugal no dia 3/08/2014. Não sabem, no entanto, se o devem fazer
individualmente, em coligação, ou se, para o efeito, devem constituir uma associação defensora
dos seus interesses. O que lhes sugeriria?

O que está aqui em questã o já́ nã o é o problema do alargamento da legitimidade para
intentar uma açã o pró pria em juízo, mas sim o de fazer intervir, num processo iniciado por
outrem, os demais sujeitos da relação multilateral controvertida.

Com a Coligaçã o e o Litisconsó rcio há uma abertura do processo aos sujeitos da relaçã o
jurídica multilateral, permitindo-se que eles intervenham no CAT para a proteçã o conjunta
dos respetivos direitos.

A existência de situaçõ es de pluralidade de partes pode ocorrer em processo


administrativo, seja sob a forma de Coligaçã o, seja sob a forma de Litisconsó rcio, ativos ou
passivos e necessá rios ou voluntá rios.
COLIGAÇÃO – situaçã o de pluralidade de partes que assenta numa pluralidade de
relações jurídicas, havendo vá rios autores a desencadear um ú nico processo contra um
ou vá rios demandados (coligaçã o ativa) ou um autor desencadeia um ú nico processo
conjuntamente contra vá rios demandados, por pedidos diferentes, com fundamento em
diferentes relaçõ es jurídicas intercorrentes entre uns e outros (coligaçã o passiva).

➢ Se cada um dos pedidos for formulado por cada um dos autores ou contra cada um dos
demandados, é Coligação.

LITISCONSÓRCIO – situaçã o de co-titularidade da mesma relação jurídica, como se


houvesse um ú nico autor (litisconsó rcio ativo) ou um só demandado (litisconsó rcio
passivo).

➢ Se o pedido ou pedidos deduzidos forem formulados por todas as partes ou contra todas
as partes, é Litisconsórcio.

Assim, como no Processo Civil, é possível assistir-se a pluralidades de partes, tanto da


parte ativa como da parte passiva, dentro do Contencioso Administrativo.
A esta situaçã o de pluralidade de partes chamamos litisconsó rcio e este poderá ser ativo
ou passivo visto que, dentro de um processo, podemos assistir um autor e vá rios
demandados (litisconsó rcio passivo), vá rios autores e apenas um demandado
(litisconsó rcio ativo) ou vá rios autores e vá rios demandados (litisconsó rcio ativo e
passivo).
O litisconsó rcio é necessá rio no Contencioso Administrativo porque o autor poderá ter
necessidade de abranger mais de uma parte com aquele pedido. Podemos dizer que o tema
litisconsó rcio tem ligaçã o com o princípio da economia processual, por exemplo, que o
autor X pede a indemnizaçã o ao demandado Z, nas mesmas circunstâ ncias pedirá a mesma
indemnizaçã o ao demandado Y, vemos que o autor abriu dois processos para o mesmo fim,
abriu dois processos porque havia duas partes diferentes mas, o fim pretendido, seria o
mesmo ou seja, o pedido seria o mesmo. 

O nosso Có digo do Processo dos Tribunais Administrativos (CPTA) nã o prevê esta figura,
no entanto tal, como dissemos, esta figura é aplicada dentro do Contencioso
Administrativo. O Contencioso Administrativo quando se vê perante a necessidade de
formar litisconsó rcio terá de recorrer à s normas do Có digo do Processo Civil (CPC), tal
como acontece com outras normas nã o previstas no CPTA, e havendo necessidade de as
aplicar terá de se recorrer aos arts 27º e 28º, CPC.
O CPC divide esta figura em litisconsó rcio voluntá rio (quando há vá rias partes no processo
mas, no entanto, nã o haveria necessidade, visto que nã o haveria ilegitimidade se uma
delas faltasse pois nã o seria obrigató rio) e litisconsó rcio necessá rio (a falta de uma das
partes levaria à ilegitimidade, visto haver obrigatoriedade).
Nã o aconselharia à constituiçã o de um associaçã o, mas antes à utilizaçã o do regime
jurídico do litisconsórcio voluntário ativo, ex vi art. 32º, CPC aplicado supletivamente ex
vi art 1º CPTA, pois o CPTA só faz referência ao litisconsó rcio necessá rio passivo no art.
10.o/1 – porque neste caso estamos perante uma cotitularidade da mesma relaçã o
jurídica entre os litisconsortes , e por isso a existência de uma ú nica relaçã o material como
se houvesse um ú nico autor: (impugnaçã o da medida de resoluçã o adotada pelo Banco de
Portugal em relaçã o ao BES).

Por fim, podemos concluir dizendo que, dentro do Contencioso Administrativo, há duas
figuras que permitem a existência de pluralidade de partes dentro dos processos:
litisconsó rcio e cumulaçã o (nã o sã o figuras exclusivas do Contencioso Administrativo). A
diferença está em que o litisconsó rcio permite que, na parte ativa, haja mais de um autor
ou, na parte passiva, haja mais de um réu ou, na parte ativa, existam vá rios autores e, na
parte passiva, vá rios réus. No entanto, temos que ter em conta que, no litisconsó rcio, há
apenas a formulaçã o de um pedido. Conquanto, na cumulaçã o, há pluralidade de partes, tal
como no litisconsó rcio mas também há a pluralidade de pedidos. Assim, podemos dizer
que esta figura vai de encontro com o princípio da economia processual e faz com que haja
uma maior rapidez por parte do tribunal na decisã o dado que, os processos, estã o juntos
numa mesma açã o.

Nota: Ao contrá rio do litisconsó rcio , que supõ e a co-titularidade da mesma relaçã o
jurídica, a coligaçã o permite, assim, que vá rios autores desencadeiem um ú nico processo
contra um ou vá rios demandados (coligaçã o de autores) ou que um autor desencadeie um
ú nico processo conjuntamente contra vá rios demandados (coligaçã o de réus), por pedidos
diferentes com fundamento em diferentes relaçõ es jurídicas intercorrentes entre uns e
outros (a coligaçã o é admitida em termos gerais pelo art 12º, aplicá vel a todo âmbito do
processo administrativo).

O interesse pessoal é dos lesados – será que uma associação volunera o interesse pessoal de
cada um dos 120 lesados?

HIPÓTESE Nº6
A pretende impugnar o Regulamento de Avaliação da FDUL. propõe, para o efeito, ação contra
o Conselho pedagógico da faculdade, órgão responsável pela aprovação do referido
regulamento. Fez bem?
A legitimidade processual consiste num pressuposto processual, cuja titularidade se
afere por referência à s alegaçõ es produzidas pelo autor: possui, assim, legitimidade ativa
quem alegue a titularidade de uma situaçã o cuja conexã o com o objeto da açã o proposta o
apresente como em condiçõ es de nela figurar como autor e possuir legitimidade passiva
quem deve ser demandado na açã o, com o objeto configurado pelo autor.
Deste modo, pretendendo A impugnar o Regulamento, propondo para o efeito açã o contra
o Conselho Pedagó gico da faculdade, importa averiguar se o pressuposto relativo à
legitimidade processual passiva se encontra verificado.
O pressuposto processual da legitimidade nã o é um pressuposto que se reporta, em
abstrato, à pessoa do autor ou do demandado, mas um pressuposto cujo preenchimento se
afere em funçã o da concreta relaçã o que alegadamente se estabelece entre essas pessoas e
uma açã o com um objeto determinado.
Quanto à legitimidade passiva, o regime aplicá vel à mesma consta essencialmente do
artigo 10º, do CPTA. Nos termos do seu nº1, a legitimidade passiva corresponde à
contraparte na relaçã o material controvertida, tal como esta é configurada pelo autor,
devendo, portanto, o autor demandar em juízo quem alegadamente estiver colocado, no
âmbito dessa relaçã o, em posiçã o contraposta à sua.
No entanto, tal como vimos acontecer em sede de legitimidade ativa, a este critério tendem
a sobrepor-se soluçõ es de alargamento da legitimidade. Importa, assim, atender ao nº2 do
artigo 19º, segundo o qual, nos processos intentados contra entidades pú blicas, parte
demandada é a pessoa coletiva de direito pú blico. Ou seja, ainda que o Conselho
Pedagó gico da Faculdade seja titular da legitimidade passiva, nos termos em que a relaçã o
material controvertida é configurada pelo autor, tratando-se de um processo intentado
contra entidade pú blica, a legitimidade passiva corresponde à pessoa coletiva, isto é, à
Faculdade de Direito, e nã o a um ó rgã o que dela faça parte (Conselho Pedagó gico).
No entanto, ainda que A tenha configurado o Conselho Pedagó gico enquanto titular da
legitimidade passiva, o artigo 10º, nº4 estabelece que, ainda assim, nã o obsta a que se
considere regularmente proposta a açã o quando na petiçã o tenha sido indicado como
parte demandada um ó rgã o pertencente à pessoa coletiva de Direito Pú blico,
considerando-se citada a pessoa coletiva, nos termos do nº5.
Artigo 135.º, CPA - Para efeitos do disposto no presente Có digo, consideram-se regulamentos
administrativos as normas jurídicas gerais e abstratas que, no exercício de poderes jurídico-
administrativos, visem produzir efeitos jurídicos externos.

HIPÓTESE Nº7
A CIMA – Centro de Inspeção Mecânica em Automóveis, SA –, propôs junto do Tribunal
Administrativo de Círculo de Lisboa uma ação de responsabilidade civil extracontratual contra
o Ministério do Planeamento e das Infraestruturas, alegando ser ilícita a falta de aprovação de
uma Portaria que habilite, como previsto na lei, a realização de inspeções periódicas a
motociclos. Consultado sobre o caso, um reputado especialista comenta: a ação deveria ter sido
proposta contra o estado, não contra o Ministério do Planeamento e das Infraestruturas, o que
significa também que deveria ter sido citado, para assumir a respetiva representação em juízo,
o Ministério Público. Concorda?
No presente caso temos um pedido de responsabilidade civil contra o Ministério do
Planeamento e das Infraestruturas.
Para que alguém esteja em posiçã o de figurar como parte num processo administrativo
tem de ser pessoa ou entidade que, em si mesma, se apresenta dotada de personalidade e
capacidade judiciá ria; apresentando-se em posiçã o de poder figurar como parte na
concreta açã o em presença por estabelecer com o objeto da açã o uma conexã o que
satisfaça os requisitos legalmente exigidos para ser reconhecida como parte legítima.
Nos termos do art 8º-A, CPTA a personalidade e a capacidade judiciá ria consistem na
suscetibilidade de ser parte e na de estar por si em juízo, respetivamente. O nº3 deste
artigo diz-nos que os ministérios têm personalidade judiciá ria correspondente à
legitimidade ativa e passiva que lhes é conferida pelo Có digo.
A legitimidade processual nã o se reporta à pessoa do autor ou do demandado mas afere-se
da concreta relaçã o que (alegadamente) se estabelece entre as partes e uma concreta açã o,
com um objeto determinado.
Em causa está a legitimidade passiva do Ministério do Planeamento e Infraestruturas
para ser demandado na açã o. A legitimidade passiva é tema do art 10º, CPTA. Sendo o
Ministério uma entidade pú blica (Ministérios sã o departamentos do Governo – ó rgã o do
Estado - organizados em funçã o da matéria) a regra é de que a legitimidade passiva
corresponde à pessoa coletiva de direito pú blico, que neste caso é o Estado, no entanto,
como entende o professor Vasco Pereira da Silva, esta regra tem muitas exceçõ es que já nã o
vale como regra.
O art 10º/2 tem exceçã o quanto aos Ministérios, podendo estes ter legitimidade passiva.
Mais ainda se acrescenta no nú mero 4 ainda deste artigo. Este preceito permite concluir
que só existe ilegitimidade passiva quando se cita um ó rgã o que nã o pertença à pessoa
coletiva, ao Ministério ou à Secretaria Regional no qual se integra o ó rgã o ao qual a açã o
ou omissã o é imputá vel – isto resulta também do art 78º/3, CPTA (o professor Mário
Aroso de Almeida considera que onde se lê “Ministérios” se podem incluir outras
realidades como o Conselho de Ministros, a PCM, Ministros sem Ministérios, Primeiro
Ministro e etc).
O art 10º/4 salvaguarda o Autor.
Segundo o professor VPS a Pessoa Coletiva Pú blica nã o está em condiçõ es de poder
continuar a funcionar como ú nico sujeito de imputaçã o de condutas administrativas em
razã o da complexidade da organizaçã o administrativa e da natureza multifacetada das
modernas relaçõ es administrativas multilaterais
Conclui-se assim que a primeira parte do comentário do especialista não está
correto, podendo o Ministério ser demandado, por ter legitimidade passiva.

Relativamente ao MP ter de ser citado para representar o Estado:


No Acó rdã o do Tribunal Central Administrativo Norte, de 22.01.2021, o MP invocou a
inconstitucionalidade material do conjunto formado pelas normas constantes do art
11º/1, in fine, CPTA e do art 24º/5, CPTA por violaçã o do art 219º/1 e 2, CRP.
A professora Alexandra Leitão explica que o art 219º tem sido alvo de interpretaçã o
restritiva no que diz respeito à representaçã o do Estado, no sentido de limitar a
representaçã o à defesa dos interesses patrimoniais do Estado (como consta do Estatuto do
MP – 53º/a)).
Também o professor Mário Aroso de Almeida, que foi citado neste acó rdã o, vem dizer que
conjugando os arts 11º/1 e 10º/2 e 7, CPTA resulta a existência de um regime dualista
quanto à representaçã o processual do Estado: por um lado, as açõ es cujo pedido principal
se reporte à açã o ou omissã o de ó rgã os integrados em ministérios nã o sã o propostas
contra o Estado, mas contra o Ministério cujos ó rgã os estejam em causa, pelo que neste
caso, a representaçã o já nã o cabe ao MP.
Assim, no âmbito do patrocínio judiciá rio é necessá rio distinguir entre açõ es propostas
contra o Estado em que de facto vigora o regime da representaçã o processual através do
MP, e as açõ es que sã o propostas contra Ministérios, em que o representante pode ser
advogado ou licenciado em Direito com funçõ es de apoio jurídico.
É de referir, que neste caso, trata-se de uma açã o de responsabilidade civil – até 2015
existia uma referência expressa no artigo 11º/1 à representaçã o do Estado pelo MP nestas
açõ es. Mas com a revisã o essa referência foi suprimida pelo que tornou o preceito neutro
neste assunto.
Assim, neste caso, tendo a açã o sido proposta contra o ministério, e tendo este
legitimidade passiva, a representaçã o do Estado pelo MP nã o é necessá ria.
http://www.dgsi.pt/jtcn.nsf/
89d1c0288c2dd49c802575c8003279c7/01cd8359f80debe8802586700067f7fb?OpenDocument

O MP não é citado, nos termos do 25º/4 » é citado o CM.


A Constituição da República Portuguesa determina no n.º 1 do artigo 219.º que compete ao
Ministério Público representar o Estado e defender os interesses que a lei determinar.
◊ Quanto ao artigo 11º, do CPTA, e as suas diferentes versões:
Versão Original de 2002
2 - Sem prejuízo da representação do Estado pelo Ministério Público nos processos que tenham
por objeto relações contratuais e de responsabilidade, as pessoas coletivas de direito público ou
os ministérios podem ser representados em juízo por licenciado em Direito com funções de
apoio jurídico, expressamente designado para o efeito, cuja atuação no âmbito do processo fica
vinculada à observância dos mesmos deveres deontológicos, designadamente de sigilo, que
obrigam o mandatário da outra parte.
Artigo 11º - Versão de 2015
1 - Nos tribunais administrativos é obrigatória a constituição de mandatário, nos termos
previstos no Código do Processo Civil, podendo as entidades públicas fazer-se patrocinar em
todos os processos por advogado, solicitador ou licenciado em direito ou em solicitadoria com
funções de apoio jurídico, sem prejuízo da representação do Estado pelo Ministério Público.
Na sua versão atual
1 - Nos tribunais administrativos é obrigatória a constituição de mandatário, nos termos
previstos no Código do Processo Civil, podendo as entidades públicas fazer-se patrocinar em
todos os processos por advogado, solicitador ou licenciado em direito ou em solicitadoria com
funções de apoio jurídico, sem prejuízo da possibilidade de representação do Estado pelo
Ministério Público.
◊ Simultaneamente também o artigo 25º do CPTA foi modificado.
Na versão de 2015
1 - Salvo disposição em contrário, as citações editais são realizadas mediante a publicação de
anúncio em página informática de acesso público, nos termos a definir em portaria do membro
do Governo responsável pela área da justiça.
2 - Em todas as formas de processo, todos os articulados e requerimentos autónomos e demais
documentos apresentados após a notificação ao autor da contestação do demandado são
notificados pelo mandatário judicial do apresentante ao mandatário judicial da contraparte nos
termos da lei processual civil.
3 - A notificação determinada no número anterior pode realizar-se por meios eletrónicos, nos
termos de portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça.”
Na versão atual - com a modificação da redação dos nºs 3 e 4, os quais passaram a dispor o
seguinte:
3 - A notificação determinada no número anterior realiza-se por via eletrónica, nos termos a
definir por portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça.
4 - Quando seja demandado o Estado, ou na mesma ação sejam demandados diversos
ministérios, a citação é dirigida unicamente ao Centro de Competências Jurídicas do Estado, que
assegura a sua transmissão aos serviços competentes e coordena os termos da respetiva
intervenção em juízo.”

Assim, na atual versão dos dispositivos dos artigos 11º e 25º do CPTA resulta que a presentação
do ESTADO nas ações em que este seja parte demandada (por a ele lhe pertencer a legitimidade
passiva nos termos do artigo 10º do CPTA) fica agora apenas garantida a possibilidade da sua
representação em juízo ser assegurada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO, e não já, como acontecia
anteriormente, que essa representação a si lhe pertença.
Simultaneamente, a citação do ESTADO deixou de se operar «na pessoa do magistrado do
Ministério Público» na usual fórmula utilizada, e passou a ser dirigida ao Centro de
Competências Jurídicas do Estado, serviço central da administração direta do Estado, dotado de
autonomia administrativa, que se integra na Presidência do Conselho de Ministros e está sujeito
ao poder de direção do Primeiro-Ministro ou do membro do Governo em quem aquele o
delegar.
Ω Cumpre, então, perceber de que representação se trata e se a citação dirigida ao Centro
de Competências Jurídicas do Estado, nos termos do nos termos atualmente previstos no artigo
25º nº 4 do CPTA (e não ao MINISTÉRIO PÚBLICO, como acontecia na solução legal
anterior), fere ou não o artigo 219º nº 1 da CRP.
Na representação, um sujeito atua em nome de outrem, realizando atos jurídicos em seu nome,
quer a representação seja legal — por imposição da lei —, quer seja voluntária — por
manifestação de vontade do representado. Por sua vez, a representação orgânica ocorre quando
esta é assumida por um órgão do representado.
Sabendo-se que a citação é o ato pelo qual se dá conhecimento ao réu de que foi proposta contra
ele determinada ação e se chama ao processo para se defender (cfr. artigo 219º nº 1 do CPC, ex
vi do artigo 1º do CPTA). A resposta à segunda pergunta tem que ser negativa.
A questão é a de saber se ocorre nulidade (falta) de citação (enquanto nulidade processual), se
ao abrigo do artigo 25º nº 4 do CPTA, na sua versão atual, a citação for dirigida ao CENTRO
DE COMPETÊNCIAS JURÍDICAS DO ESTADO, por dever ser recusada a aplicação dessa
norma com fundamento em inconstitucionalidade. E se, assim, deve ser anulado todo o
processado, e determinada a citação do ESTADO através do MINISTÉRIO PÚBLICO.
Nos termos do artigo 188º nº 1 alínea b) do CPC, aplicável ex vi do artigo 1º do CPTA, há falta
de citação “…quando tenha havido erro de identidade do citado”.
É sabido que o conceito «ESTADO» tem várias aceções. Mas neste âmbito, a que essencial
releva é a pessoa coletiva ESTADO, em especial na sua vertente Estado-administração,
fazendo-o distinguir-se das outras pessoas coletivas públicas dotadas de personalidade jurídica
(e, por conseguinte, também, judiciária).
Sendo que a qualificação do ESTADO como pessoa coletiva decorre da própria Constituição,
designadamente dos seus artigos 3º nº3, 5º nº 3, 18º nº 1, 22º, 27º nº 5, 38º nº 2, 41º nº 4, 204º nº
1 alínea b) e nº 2, 269º nºs 1 e 2, 271º nºs 1 e 4 ou 276º nº 4.
Na versão anterior do CPTA o chamamento do ESTADO à ação sobre contrato ou relativa a
responsabilidade civil que contra ele tivesse sido instaurada fazia-se através da citação dirigida
ao MINISTÉRIO PÚBLICO, que era também, quem atuava na ação em sua representação legal.
Como refere Alexandra Leitão, tratava-se aí de uma representação legal e não propriamente,
como representação orgânica, como vinha sendo entendido em alguma doutrina “(…) enquanto
a representação orgânica decorre da própria natureza das coisas — é, por assim dizer, lógica e
ontológica —, a representação legal decorre de uma opção do legislador. Por outras palavras:
seria possível optar-se por não cometer ao Ministério Público a representação em juízo do
Estado, mas seria impossível determinar que a pessoa coletiva deixasse de ser representada por
um ou mais dos seus órgãos, pela simples razão que as pessoas coletivas são entidades
imateriais que carecem sempre de um ou mais órgão(s) e do(s) seu(s) titular(es) para manifestar
a sua vontade. Este é o cerne da distinção entre representação orgânica e legal.”
Mas será que o artigo 219º nº 1 da CRP ao determinar, sob a epígrafe “Funções e Estatuto” que
“ao Ministério Público compete representar o Estado”, lhe reserva a ele a representação legal do
ESTADO nessas mesmas ações?
As justificações para a solução infra-constitucional adoptada pela Lei n.º 118/2019, de 17 de
setembro podem ser muitas. Mas uma delas advirá, com certeza, da circunstância aos dois meios
processuais principais - a «ação administrativa comum» e a «ação administrativa especial»,
cujos respetivos âmbitos e regras processuais eram distintas (cfr. artigos 35º, 37º, 42º e 46º do
CPTA, na versão original) – com a revisão operada pelo DL. nº 214-G/2015, ter resultado o
abandono daquele modelo dualista de meios processuais principais não urgentes, através do
estabelecimento de uma única forma de processo declarativo não urgente, a «ação
administrativa», na qual passaram a poder ser cumulados pedidos que anteriormente pertenciam
a cada uma daquelas distintas formas de processo. Daí emergindo múltiplas dificuldades ao
nível da determinação da legitimidade passiva, resultando, não raras vezes, em decisões de
forma, com absolvição da instância, e sem possibilidade de aproveitamento do ato de citação,
nem da respetiva interrupção da prescrição ou da caducidade, a verificar-se. Podendo, até, raiar
em situações de denegação de justiça, com prejuízo dos direitos e interesses legalmente
protegidos dos cidadãos.
Assim se explicará que a citação deva ser dirigida uma única citação ao Centro de
Competências Jurídicas do Estado quando numa na mesma ação sejam demandados diversos
ministérios, quando numa ação seja demandado o ESTADO, ou quando na mesma ação sejam
demandados E com essa citação, que o ESTADO (e/ou os Ministérios que sejam também
demandados) é chamado à ação, e a instância fixada, nos termos do artigo 260º do CPC, ex vi
do artigo 1º do CPTA (sem prejuízo das eventuais modificações que possam vir a ocorrer nos
termos que processualmente sejam admitidos) diversos ministérios e o ESTADO.
Desde logo, segundo GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA pode dizer-se que "A
representação do Estado significa, em termos jurídico-constitucionais e simbólicos que lhe
incumbe a tarefa de defesa dos interesses da comunidade (isto é, da República)” Comenta
SÉRVULO CORREIA o mesmo artigo 219º CRP da seguinte forma: "A enunciação de uma
competência de representação é extremamente genérica. O texto não diz quais as matérias a que
respeitará a representação, nem quais as circunstâncias- nomeadamente os tipos de processo- em
que esta se desenvolverá.".

Problema da inconstitucionalidade do art 11º/1, in fine, conjugado com o 25º/4, CRP. Quer o art
219º/1, CRP, quer o estatuto do MP, conferem ao MP a competência de representação do Estado
em juízo. Na verdade, gera-se uma situação de inconstitucionalidade material, que poderá dar
azo a não citação do representante em juízo. O prof MAA tem feito uma interpretação conforme
ao art 25º/4, CRP, no sentido de não se excluir a citação do MP (cita-se o MP e o juizado). Mas
não é isso que consta desse artigo.
Entendimento conduzido ao art 25º/4 – o art 219º/1 apenas consagra uma representação
simbólica do MP, ou seja, uma representação naqueles processos como a família, em que o
Estado não é pago.

HIPÓTESE Nº8
B, SA, empresa ordenada em terceiro lugar num concurso público promovido pela Secretaria
geral do Ministério da economia e nos termos do qual foi adjudicada a proposta de C, Lda e
ordenada em segundo lugar a proposta de D, Lda, propõe ação de contencioso pré-contratual
destinada a impugnar o ato adjudicatório praticado. Demanda, para o efeito, apenas o
Estado português e C.
Quid iuris?
De acordo com a remissã o do art 97º/1/c), CPTA para o capítulo II e III, nos termos
do art 100º/1, CPTA, tem legitimidade para propor açõ es de contencioso pré-contratual
qualquer das pessoas ou entidades referidas no art 55º e 68º/1, CPTA.
Assim, o regime especial do contencioso pré-contratual urgente compreende as açõ es de
impugnaçã o relativas à formaçã o de contratos de empreitada de obras pú blicas, de
concessã o de obras pú blicas, de concessã o de serviços pú blicos, de aquisiçã o ou locaçã o de
bens mó veis e de aquisiçã o de serviços. O nº2 acrescenta que sã o considerados atos
administrativos os atos praticados por quaisquer entidades adjudicantes ao abrigo das
regras de contrataçã o pú blica.
Sendo a B, SA uma sociedade anó nima e, portanto, uma empresa privada, nos termos do
art 55º/1/a), CPTA, tem legitimidade ativa para intentar a açã o.
Relativamente a B só ter demandado o Estado português e C, ficando em falta D,
primeiramente há que referir que estamos perante um dos casos paradigmá ticos de
litisconsó rcio necessá rio passivo (pluralidade subjetiva subsidiá ria do lado passivo), uma
vez que existe ú nica relaçã o material (como se só existisse um ú nico demandado).
Contudo, os pedidos nã o foram formulados contra todas as partes (falta D) – subsiste uma
dú vida razoá vel e fundada sobre a titularidade da relaçã o material controvertida,
permitindo-se que o autor deduza, subsidiariamente, contra réu diverso do que é
demandado a título principal (arts 9º, 10º e 39º, CPTA).
A figura dos contrainteressados decorre do disposto nos arts 57º e 68º/2, CPTA,
estabelecendo que nos processos de impugnaçã o de atos administrativos, além da
entidade que praticou ou que se pretende que pratique o ato em causa, também devem ser
demandados os titulares de interesses contrapostos aos do autor.
Trata-se de situaçõ es em que a açã o é proposta contra a entidade que
praticou/omitiu/recusou o ato administrativo, mas em que também há sujeitos privados
envolvidos no litígio, já que os seus interesses coincidem com os da Administraçã o, ou
entã o podem ser diretamente afetados na sua consistência jurídica com a procedência da
açã o.
A falta de citaçã o desencadeia ilegitimidade passiva, que obsta ao conhecimento da
causa (art 89º/4/e), CPTA) e inoponibilidade da decisã o judicial que porventura venha a
ser proferida à revelia dos contrainteressados (art 155º/2, CPTA).

a) – Empresas privadas
c) – Associações privadas

HIPÓTESE Nº9
E, residente e eleitor em Lisboa, pretende impugnar a deliberação da Câmara Municipal através
da qual se atribuiu a F um subsídio tendente à publicação da tese de mestrado deste último,
simplesmente por considerar que a mesma não possui relevo científico digno do patrocínio do
Município, sendo por isso ilegal. Poderá fazê-lo?
O art 55º/2, CPTA prevê a açã o popular corretiva, que pode ser exercida por qualquer
eleitor, no gozo dos seus direitos civis e políticos, para a impugnaçã o de deliberaçõ es dos
ó rgã os autá rquicos na circunscriçã o em que se encontre recenseado. Diferentemente do
direito de açã o popular, previsto no art 52º, CRP e na Lei n.º 83/95, de 31 de maio, que
visa a tutela de interesses difusos, o direito de açã o popular corretiva constitui uma
faculdade emergente de um status político, de cidadania, visando o controlo objetivo da
legalidade dos atos praticados pelos ó rgã os das autarquias locais. Para utilizar a açã o
popular corretiva basta invocar a qualidade de eleitor, recenseado na circunscriçã o em
causa. Resulta do disposto no n.º 2 do artigo 55.º do CPTA que a legitimidade conferida
pela açã o popular corretiva diz respeito à propositura de açõ es administrativas
impugnató rias. A utilizaçã o da açã o popular corretiva pode incidir também sobre os atos
praticados pelos ó rgã os «das entidades instituídas por autarquias locais ou que destas
dependam» (parte final do n.º 2 do artigo 55.º do CPTA).

O interesse em agir traduz-se, por conseguinte, na reaçã o jurisdicional contra a ilegalidade


cometida, independentemente de se tratar de vício formal ou de vício de violaçã o de lei, e
de o vício ter ou nã o influência no sentido da decisã o a proferir, e a utilidade concreta da
iniciativa processual é realizada através da sentença anulató ria que sancione a ilegalidade.
Nã o releva aqui o princípio da economia de meios ou da eficiência administrativa porque o
fundamento do exercício da açã o pú blica é a pró pria legalidade objetiva que surge
associada ao princípio democrático e ao princípio de prossecução do interesse público 17.
A Constituiçã o configurou a açã o popular como uma forma de legitimidade processual
ativa dos cidadã os, que poderá́ ser exercitada p4serante qualquer tribunal —
individualmente ou por intermédio de associaçõ es representativas —,
independentemente do interesse pessoal ou da existência de uma relaçã o específica com
os bens ou interesses difusos que estejam em causa. A lei estendeu, entretanto, essa
garantia institucional à s autarquias locais com base num princípio de territorialidade,
permitindo que estas possam atuar no exercício da açã o popular em relaçã o a interesses
de que sejam titulares residentes na respetiva á rea de circunscriçã o (artigo 2º/2, da Lei
nº83/95, de 31 de agosto)

O acó rdã o do TCA 16-02-2018 refere que o nº 2 do mencionado artigo 55º do CPTA, prevê,
pois, a acçã o popular correctiva exercitá vel por qualquer eleitor, no gozo dos seus direitos
civis e políticos, para a impugnaçã o das decisõ es e deliberaçõ es adoptadas por ó rgã os das
autarquias locais sediadas na circunscriçã o onde se encontre recenseado.

Lê-se, e aqui se acolhe totalmente, em Má rio Aroso de Almeida et al, op. cit. pá g. 387-388:
«Trata-se de um meio de fiscalizaçã o cívica da gestã o das autarquias, que visa unicamente
as situaçõ es ilegais praticadas sob a forma de ato administrativo, em vista à reposiçã o da
legalidade objetiva, e que, por isso, surge enquadrada como uma modalidade de
legitimidade ativa típica da açã o impugnató ria [(468) Assim se justifica, como antes se
assinalou, que não tenha sido feita referência à acção popular corretiva na disposição geral
do artigo 9.º, ao contrário do que sucede com a acção popular destinada à defesa de
interesses difusos, tida como uma forma de legitimidade de caráter heterogéneo] (…).

A legitimidade radica apenas na qualidade de cidadã o — e representa, por isso, a


manifestaçã o de um direito político —, e nã o na invocaçã o de um interesse individual ou
de um interesse difuso, pelo que a posiçã o do ator popular acaba por ser aná loga à do
Ministério Pú blico, quando intervém no exercício da açã o pú blica, no sentido de que nada
mais se lhe exige do que invocar um juízo de ilegalidade relativamente ao ato
impugnado. Neste fator reside o principal traço distintivo em relaçã o à açã o popular
dirigida à defesa de interesses difusos, a que se o artigo 9.º, n.º 2. Neste ú ltimo caso, nã o
basta a invocaçã o de um direito político, é necessá rio invocar a lesã o do interesse difuso
que se pretende proteger.»

Ora, no caso presente, em face do disposto no nº 2 do artigo 55º do CPTA, importa saber
se (i) estamos perante um processo impugnató rio de ato administrativo, (ii) se esse ato
consubstancia decisã o ou deliberaçã o (iii) adotada por ó rgã os de autarquia local, ou
entidades instituídas por autarquia local ou que desta dependa, (iv) sediadas na
circunscriçã o onde o autor se encontra recenseado e se (v) este (o autor) é um eleitor no
gozo dos seus direitos civis e políticos.

Neste caso prá tico, o requerente nã o alega nenhuma ilegalidade quanto à deliberaçã o da
Câ mara Municipal, apenas alega para tal que a publicação da tese de mestrado deste
último, simplesmente por considerar que a mesma não possui relevo científico digno
do patrocínio do Município, pois como refere o PROF. SÉRVULO CORREIA, esta é uma
ação popular de controlo jurídico objetivo, ou uma ação de reinstaurarão da
legalidade objetiva.

Art 3º/1, CPTA -

HIPÓTESE Nº10
G, empresa do setor da construção, pretende anular o contrato de empreitada celebrado entre a
OA e a empresa F, alegando que o mesmo não corresponde, sob o ponto de vista dos trabalhos a
realizar, aos previstos no Caderno de Encargos. E se se tratasse de um contrato de prestação de
serviços informáticos celebrado entre a OA e uma empresa do setor, e fosse H, Advogado
beneficiário desses serviços, a querer propor uma ação destinada a garantir a sua boa execução?
A legitimidade processual consiste num pressuposto processual, cuja titularidade se
afere por referência à s alegaçõ es produzidas pelo autor: possui, assim, legitimidade ativa
quem alegue a titularidade de uma situaçã o cuja conexã o com o objeto da açã o proposta o
apresente como em condiçõ es de nela figurar como autor e possuir legitimidade passiva
quem deve ser demandado na açã o, com o objeto configurado pelo autor.
Deste modo, pretendendo G anular o contrato celebrado entre a Ordem dos Advogados e a
empresa F., importa averiguar se o pressuposto relativo à legitimidade processual ativa e
passiva se encontra verificado.
No que toca ao regime que o CPTA estabelece a respeito da legitimidade ativa, este nã o
se esgota no art 9º. O nº1 desse mesmo artigo estabelece um critério que é derrogado por
um amplo conjunto de soluçõ es especiais que o CPTA estabelece em funçã o de diversos
tipos especiais de pretensõ es (55º, 57º, 68º, 73º e 77º-A), tendo assim este artigo uma
aplicabilidade residual.
Uma dessas soluçõ es especiais é a que se encontra prevista no art 77º-A, CPTA, que
regula a legitimidade no que toca à propositura da alguns dos tipos de açõ es relativas a
contratos, prevendo, nesse domínio, um conjunto de situaçõ es de extensã o da legitimidade
processual a quem nã o alegue ser parte na relaçã o contratual em causa.
Assim, nos termos do seu nº1, para além das partes na relaçã o contratual (alínea a), as
açõ es dirigidas à invalidaçã o dos contratos (seria o caso), também podem ser propostas
pelas pessoas e entidades enunciadas.
No caso, uma vez que nã o sabemos se G participou ou nã o no procedimento que precedeu
a celebraçã o do contrato, tendo em conta que o mesmo alega que o contrato celebrado nã o
corresponde, sob o ponto de vista dos trabalhos a realizar, aos previstos no Caderno de
Encargos (compreende as cláusulas a incluir no contrato a celebrar), importa abrir 2
hipó teses:

 Tendo sido participante no procedimento (porventura, através de concurso), ao


alegar desconformidade entre o clausulado do contrato e os termos resultantes da
adjudicaçã o, é lhe atribuída legitimidade processual pela alínea e), do referido
artigo.
(É de notar que, no entanto, os eventuais ajustamentos do conteú do do contrato em relaçã o
aos termos da adjudicaçã o nã o sã o ilegítimos, desde que se mantenham dentro dos limites
hoje previstos no artigo 99º, CCP)

 Nã o tendo sido participante no procedimento pré-contratual, ao alegar que o


clausulado do contrato nã o corresponde aos termos que tinham sido inicialmente
estabelecidos e que justificadamente o tinham levado a nã o participar no mesmo,
embora preenchesse os requisitos para o efeito, é lhe atribuída legitimidade
processual pela alínea f), do referido artigo.
Quanto à legitimidade passiva, o regime aplicá vel à mesma consta essencialmente do
art 10º, CPTA. Nos termos do seu nº1, a legitimidade passiva corresponde à contraparte
na relaçã o material controvertida, tal como esta é configurada pelo autor, devendo,
portanto, o autor demandar em juízo quem alegadamente estiver colocado, no â mbito
dessa relaçã o, em posiçã o contraposta à sua.
No entanto, tal como vimos acontecer em sede de legitimidade ativa, a este critério tendem
a sobrepor-se soluçõ es de alargamento da legitimidade. Importa, assim, atender ao art
19º/2, segundo o qual, nos processos intentados contra entidades pú blicas, parte
demandada é a pessoa coletiva de direito pú blico. Assim, sendo a Ordem dos Advogados
uma pessoa coletiva de direito pú blico (artigo 1º, nº2, dos seus Estatutos), é a mesma a
parte demandada, sendo, portanto, titular da legitimidade passiva.

Quanto à empresa F.:


Por aplicaçã o subsidiá ria do regime do CPC, nos termos do artigo 1º, do CPTA, o
litisconsó rcio é necessá rio quando a lei ou contrato exijam a intervençã o de vá rios
interessados ou quando, pela pró pria natureza da matéria controvertida, essa intervençã o
seja forçosa para que a decisã o a proferir produza o seu efeito ú til normal (33º, CPC).
Nas açõ es de impugnaçã o de contratos propostas por terceiros em relaçã o ao contrato,
para que a procedência da açã o possa produzir o seu efeito ú til normal, é necessá rio que
ela se projete na esfera jurídica de ambas as partes no contrato. Deste modo, a empresa F.
e a Ordem dos Advogados, sendo ambas partes no contrato em causa, têm de ser
demandadas na açã o, em regime de litisconsó rcio necessá rio passivo.
(nã o se aplica o estatuto jurídico dos contrainteressados, 57º e 68º, nº2, CPTA, pois nã o
está em causa um ato administrativo).

E se se tratasse de um contrato de prestação de serviços informáticos celebrado entre


a Ordem dos Advogados e uma empresa do sector, e fosse H., Advogado
beneficiário desses serviços, a querer propor uma ação destinada a garantir a sua boa
execução?
A legitimidade processual consiste num pressuposto processual, cuja titularidade se
afere por referência à s alegaçõ es produzidas pelo autor: possui, assim, legitimidade ativa
quem alegue a titularidade de uma situaçã o cuja conexã o com o objeto da açã o proposta o
apresente como em condiçõ es de nela figurar como autor e possuir legitimidade passiva
quem deve ser demandado na açã o, com o objeto configurado pelo autor.
Deste modo, pretendendo H. propor uma açã o destinada a garantir a boa execuçã o do
contrato celebrado entre a Ordem dos Advogados e uma empresa do setor., importa
averiguar se o pressuposto relativo à legitimidade processual ativa e passiva se encontra
verificado.
No que toca ao regime que o CPTA estabelece a respeito da legitimidade ativa, este nã o
se esgota no artigo 9º. O nº1 desse mesmo artigo estabelece um critério que é derrogado
por um amplo conjunto de soluçõ es especiais que o CPTA estabelece em funçã o de
diversos tipos especiais de pretensõ es (55º, 57º, 68º,73º e 77º-A), tendo assim este artigo
uma aplicabilidade residual.
Uma dessas soluçõ es especiais é a que se encontra prevista no artigo 77º-A, CPTA, que
regula a legitimidade no que toca à propositura da alguns dos tipos de açõ es relativas a
contratos, prevendo, nesse domínio, um conjunto de situaçõ es de extensã o da legitimidade
processual a quem nã o alegue ser parte na relaçã o contratual em causa.
O nº3, do referido artigo, estabelece por quem podem ser propostas açõ es dirigidas a
obter a execuçã o de contratos. Sendo H Advogado beneficiá rio desses serviços, enquadra-
se na alínea b) do nº3, do art 77º-A, CPTA.
Quanto à legitimidade passiva, o regime aplicá vel à mesma consta essencialmente do
artigo 10º, do CPTA. Nos termos do seu nº1, a legitimidade passiva corresponde à
contraparte na relaçã o material controvertida, tal como esta é configurada pelo autor,
devendo, portanto, o autor demandar em juízo quem alegadamente estiver colocado, no
âmbito dessa relaçã o, em posiçã o contraposta à sua.
No entanto, tal como vimos acontecer em sede de legitimidade ativa, a este critério tendem
a sobrepor-se soluçõ es de alargamento da legitimidade. Importa, assim, atender ao nº2 do
artigo 19º, segundo o qual, nos processos intentados contra entidades pú blicas, parte
demandada é a pessoa coletiva de direito pú blico. Assim, sendo a Ordem dos Advogados
uma pessoa coletiva de direito pú blico (artigo 1º, nº2, dos seus Estatutos), é a mesma a
parte demandada, sendo, portanto, titular da legitimidade passiva.
Quanto à empresa do setor:
Possível aplicaçã o do regime dos contrainteressados?

HIPÓTESE Nº11
A Assembleia Municipal de Sintra pretende impugnar uma deliberação da Câmara Municipal de
Sintra, por entender que este último órgão, ao deliberar sobre alteração da toponímia de diversas
ruas da cidade, decidiu sobre matérias para as quais não dispunha de qualquer competência.
Pode fazê-lo?
HIPÓTESE Nº12 – AÇÃO ADMINISTRATIVA: IMPUGNAÇÃO DE ATOS
ADMINISTRATIVOS
Em 11 de setembro de 2019, foi publicado no Diário da República, um DL através do qual o
Governo determinou que todos os atuais funcionários públicos do setor dos transportes da
área metropolitana de Lisboa ficaram sujeitos a um horário semanal de 50h em vez das atuais
40h semanais, medida justificada em função do objetivo de garantir a melhoria da prestação
de serviços de transportes na região.
Perante isto, o Sindicato dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro decidiu-se a impugnar
aquele que considerava ser um ato administrativo totalmente ilegítimo, violador dos direitos
dos trabalhadores no artigo 59º, da Constituição, do princípio da igualdade, do princípio
da proporcionalidade, do direito à audiência prévia – uma vez que nenhum Sindicato tinha
sido ouvido antes ou durante a adoção desta medida – e do dever de fundamentação.
Sob a forma de ação administrativa de impugnação de ato administrativo contra o Primeiro-
Ministro, a petição inicial deu entrada no Tribunal Central Administrativo no dia 17 de
dezembro de 2019.
Na contestação que apresentou 40 dias após ter sido citado, o PM invocou:
i) Falta de legitimidade passiva do Sindicato, por não representar todos os
funcionários públicos do setor dos transportes da área metropolitana de Lisboa, mas
apenas os maquinistas da CP sindicalizados;
ii) A ilegitimidade passiva do PM para esta ação;
iii) A incompetência do Tribunal Central administrativo Sul;
iv) A impropriedade do meio processual escolhido, tendo em conta que o que estava
em causa naquele DL era uma norma geral e abstrata, não qualquer ato
administrativo.
Já após a produção de alegações por ambas as partes, o Sindicato dos Trabalhadores da Carris
veio a constituir-se como assistente no processo.
No acórdão, o Tribunal Central Administrativo Sul, que não houvera proferido despacho
saneador, acabou por absolver o réu da instância por intempestividade da ação.
Quid iuris?
Comecei por verificar os argumentos invocados pelo Primeiro-Ministro, uma vez que
considero que depois se torna mais fá cil de perceber se a contestaçã o foi ou nã o
apresentada dentro do prazo.
Quanto ao 1ºArgumento (falta de legitimidade passiva do sindicato, por nã o representar
todos os funcioná rios pú blicos do setor dos transportes da á rea metropolitana de Lisboa)
Um dos pressupostos para que uma pessoa/entidade esteja em posiçã o de figurar
como parte num processo administrativo é a sua configuraçã o como parte na açã o
concreta, devido ao preenchimento dos pressupostos da legitimidade processual.

De acordo com o disposto nos arts 55º e 56º, CRP e 440º/1 e 442º/1/a), CT, o
Sindicato dos Maquinistas é uma pessoa coletiva de tipo associativo de direito privado,
que promove a defesa dos interesses dos trabalhadores por si representados. Nos termos
dos art 444º/1, CT e 55º/2/b), CRP, vigora a liberdade de inscriçã o/associaçã o, isto é, os
trabalhadores nã o sã o obrigados a filiar-se nos sindicatos, pelo que nã o teriam de
representar todos os funcioná rios pú blicos do setor dos transportes da á rea metropolitana
de Lisboa.
Com efeito, conforme previsto no art 55º/1/c), CPTA, o Sindicato dos Maquinistas têm
legitimidade ativa, por estarem a defender os direitos e interesses dos trabalhadores
sindicalizados. A acrescer a isto, nos termos do art 8º-A/2, CPTA, os sindicatos têm personalidade e
capacidade judiciá rias.

Este argumento nã o procede.

Quanto ao 2º Argumentos (ilegitimidade passiva do PM)


Relativamente à legitimidade passiva, de acordo com o disposto no art 10º/2,
2ªparte, CPTA, nos processos intentados contra o Estado que se reportem à açã o de
ó rgã os integrados nos respetivos ministérios, em que a parte demandada deve ser o
pró prio ministério, a cujos ó rgã os sejam imputá veis os atos praticados.
O professor Mário Aroso de Almeida crê que, no conceito de “ministério” devemos incluir a
Presidência do Conselho de Ministros, quando esta possa servir como centro de imputaçã o
dos atos e comportamentos do PM e dos membros do Governo na dependência direta do
PM.
Contudo, neste caso está vamos perante a impugnaçã o de um ato administrativo emanado
por DL do Governo, pelo que nã o parece que se trate de uma questã o a tratar pelo
Conselho de Ministros???
Contrapor Estado e CM!!
Neste caso, a açã o foi apenas demandada contra o PM, o que nos levaria a crer que
estaríamos diante de uma ilegitimidade. Porém, segundo o previsto no art 10º/4, CPTA,
nã o obsta a que se considera regularmente proposta a açã o quando na petiçã o tenha sido
indicado como parte demandada um ó rgã o pertencente ao ministério que deve ser
demandado.
Desta forma, o argumento invocado pelo PM nã o procede.
Tendo legitimidade, o CPTA reconhece personalidade e capacidade judiciá rias aos ministérios (8º-A/4, CPTA).
Patrocínio Judiciário:

Nos termos do art 11º/1, in fine, CPTA, nos tribunais administrativos é obrigató ria a constituiçã o de
mandatá rio, podendo as entidades pú blicas fazer-se patrocinar em todos os processos por advogado,
solicitador ou licenciado em Direito ou em solicitadoria com funçõ es de apoio jurídico, sem prejuízo da
possibilidade de representaçã o do Estado pelo MP.

Segundo o professor Má rio Aroso de Almeida, atendendo ao estatuto de magistratura autó noma que
corresponde ao MP na nossa ordem constitucional, os seus agentes nã o sã o, nem têm de ser os advogados do
Estado. No seu entendimento, deveria ser criado um corpo pró prio de advogados do Estado, submetido a
estatuto disciplinar e deontoló gico similar ao dos advogados, com a exclusiva funçã o de exercer o patrocínio
do Estado.

Quanto ao 3º Argumento (incompetência do Tribunal central administrativo sul)


Primeiramente, há que perceber se a açã o em causa pode ser intentada perante os
tribunais administrativos (competência em relação à jurisdição).
Ora, neste caso, o Sindicato dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro decide impugnar um
ato administrativo que considerava ilegítimo, contra o Primeiro-Ministro, invocando a
violaçã o dos direitos dos trabalhadores (art 59º, CRP), dos princípios da igualdade, da
proporcionalidade, do direito à audiência prévia e do dever de fundamentaçã o. Sendo o
Primeiro-Ministro um ó rgã o da AP, nos termos do art 4º/1/b), ETAF, encontramo-nos no
âmbito de jurisdiçã o administrativa.
No que toca à competência em relação à hierarquia, de acordo com o disposto no
art 24º/1/a)/inciso iii), ETAF, como se trata de um processo em matéria administrativa
relativo a um DL emanado pelo Governo, mais concretamente pelo Conselho de Ministros
(ó rgã o colegial), a competência caberia aos tribunais superiores, isto é, ao STA.
Neste sentido, de acordo com o previsto no art 14º/1, CPTA, o Tribunal Central
Administrativo Sul deve remeter a petiçã o para o STA, sendo que, para efeitos de
tempestividade da sua apresentaçã o, a petiçã o considera-se apresentada na data do
primeiro registo da entrada (nº3) » 17 dezembro 2019.
Portanto, o argumento do PM nã o procede.

Quanto ao 4ºArgumento (impropriedade do meio processual escolhido, tendo em conta


que o que estava em causa naquele DL era uma norma geral e abstrata, nã o qualquer ato
administrativo)
O Sindicato intentou esta açã o administrativa, optando pela impugnaçã o do ato
administrativo.
O art 50º/1, CPTA diz-nos que a impugnaçã o de um ato administrativo tem por objeto a
anulaçã o ou declaraçã o de nulidade desse ato. Segundo o art 51º/1, CPTA, as pretensõ es
impugnató rias, por regra, têm como objeto um ato administrativo (significa isto que a
impugnabilidade depende da verificaçã o do conceito e dos respetivos elementos do ato administrativo) – que
sã o decisõ es que, no exercício de poderes jurídico-administrativos, visam produzir efeitos
jurídicos externos numa situaçã o individual e concreta (148º, CPA).
 Natureza entidades que praticam Atos Administrativos (sempre que um sujeito, independentemente
da sua natureza pú blica pu privada, pratique atos jurídicos concretos ao abrigo de normas de Direito
Administrativo, que permitam que esses atos projetem unilateralmente os seus efeitos no
ordenamento jurídico geral, esses atos sã o atos administrativos);
 É preciso que contenha conteú do decisó rio;
 Produçã o de efeitos externos, afetando direitos ou interesses de entidades exteriores à quela que os
pratica.

O ato visa produzir efeitos jurídicos externos (uma vez que afeta direitos e interesses dos
funcioná rios pú blicos do setor dos transportes do metropolitano de Lisboa) e concretos
(está em causa a regulaçã o do horá rio semanal dos funcioná rios).
O que se questiona é se efetivamente estamos perante um ato individual, sendo
reconduzido a um ato administrativo, ou geral. O DL é aplicá vel a “todos os atuais
funcionários públicos do setor dos transportes da área metropolitana de Lisboa ”, que nos
parece ser um conceito indeterminá vel, já que nã o conseguimos aferir os sujeitos
abrangidos pelo DL – tanto pode abranger os trabalhadores que exercem funçõ es no
presente, como no futuro.
Nã o estaríamos entã o perante um ato administrativo, pelo que a escolha do meio
processual foi impró pria (argumento do PM procede), devendo, nos termos do art 72º/1,
CPTA, optar-se pela impugnaçã o de normas.
Açã o de impugnaçã o de normas (PRAZO) – nos termos do art 74º/1, CPTA, a declaraçã o
de ilegalidade de normas poderia ser pedida a todo o tempo; sendo que o nº2 especifica
que nos casos de ilegalidade formal ou procedimental da qual nã o resulte
inconstitucionalidade, só pode ser pedida no prazo de 6 meses, contado da data de
publicaçã o.
Caso fosse Ato Administrativo:

Art 58º/1 – atos anulá veis: 1 ano (promovida pelo MP); 3 meses (restantes casos).

Atos nulos – nã o estã o sujeitos a prazo.

Quanto aos primeiros prazos e à apresentação da contestação:


Nos termos do art 78º/1, CPTA, a instâ ncia constitui-se com a propositura da açã o,
considerando-se esta proposta assim que a petiçã o inicial seja recebida na Secretaria do
Tribunal ao qual é dirigida. Como referido anteriormente, de acordo com o nº3 do art 14º,
CPTA, a petiçã o considera-se apresentada na data do primeiro registo da entrada, isto é, a
17 dezembro de 2019.
O art 82º/1, CPTA diz-nos que os demandados dispõ em de 30 dias, a contar da citaçã o,
para contestar a PI, podendo o demandado beneficiar de um prazo suplementar de 15
dias, caso exista um erro na PI, que desencadeie a citaçã o de um ó rgã o diferente daquele
que praticou ou devia ter emitido a norma ou o ato administrativo.
Como vimos, a ilegitimidade é sanada, por isso este erro continua a existir??? Se sim,
ele beneficia dos 15 dias, se não, não beneficia!!!

Quanto à constituição do Sindicato dos Trabalhadores da Carris como assistente do


processo, após a produção das alegações das partes:
O art 10º/10, CPTA, diz-nos que cabe à entidade demandada promover a respetiva
intervençã o no processo quando tal se justifique (aplicando-se o disposto na lei processual
civil em matéria de intervençã o de terceiros), ou quando a satisfaçã o de uma ou mais
pretensõ es deduzidas contra uma entidade pú blica exija a colaboraçã o de outra/s
entidades.
Neste caso parece que estamos perante a primeira hipó tese, devendo aplicar-se o disposto
nos arts 326º e 327º/1 e 2 , CPC.

Artigo 326.º (art.º 335.º CPC 1961)


Conceito e legitimidade da assistência
1 - Estando pendente uma causa entre duas ou mais pessoas, pode intervir nela como assistente, para auxiliar
qualquer das partes, quem tiver interesse jurídico em que a decisão do pleito seja favorável a essa parte.
2 - Para que haja interesse jurídico, capaz de legitimar a intervenção, basta que o assistente seja titular de uma
relação jurídica cuja consistência prática ou económica dependa da pretensão do assistido.

  Artigo 327.º (art.º 336.º CPC 1961)


Intervenção e exclusão do assistente
1 - O assistente pode intervir a todo o tempo, mas tem de aceitar o processo no estado em que se encontrar.
2 - O pedido de assistência pode ser deduzido em requerimento especial ou em articulado ou alegação que o
assistido estivesse a tempo de oferecer.
3 - Não havendo motivo para indeferir liminarmente o pedido de intervenção, ordena-se a notificação da parte
contrária à que o assistente se propõe auxiliar; haja ou não oposição do notificado, decide-se imediatamente, ou
logo que seja possível, se a assistência é legítima.

Por fim, quanto ao facto de o Tribunal Central Administrativo Sul, não proferir despacho
saneador e absolver o réu da instância por intempestividade da ação:
O despacho saneador é proferido quando se deva conhecer as exceçõ es dilató rias e
nulidades processuais que tenham sido suscitadas pelas partes, ou que, em face dos
elementos constantes do autor, o juiz deva apreciar oficiosamente (art 88º/1/a), CPTA).
No fundo, só há lugar a prolaçã o de despacho saneador quando seja necessá rio tomar uma
decisã o, de forma ou de mérito, destinada a formar caso julgado formal em relaçã o à s
questõ es prévias suscitadas ou, sendo caso disso, caso julgado material em relaçã o ao
mérito da causa, no todo em parte (88º/4, CPTA).
Neste caso, o tribunal absolveu o réu da instâ ncia por intempestividade da açã o – esta, nos
termos do art 89º/4/k), CPTA, constitui uma exceçã o dilató ria, dando lugar à absolviçã o
da instâ ncia, como resulta do art 89º/2, 2ªparte, CC.
Com base no referido no nº2 do art 88º, CPTA, as questõ es prévias da alínea a) que nã o
tenham sido apreciadas no despacho saneador (como era o caso da intempestividade da
açã o), nã o poderiam ser suscitadas nem decididas em momento posterior do processo.

HIPÓTESE Nº13
a) INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO | ART. 85 CPTA
Segundo GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA "O Ministério Público é um dos
órgãos constitucionais integrados na organização dos tribunais que mais dúvida oferece
quanto à sua posição constitucional. Tendo em conta a sua evolução histórica (primeiro,
representante do rei junto da autoridade judiciária, depois, órgão dos tribunais dependente do
Governo, e, por último, magistrados independentes e autónomos) é seguro afirmar que o
paradigma de Ministério Público acolhido pela Constituição de 1976 é o de um órgão da
justiça independente e autónomo, subtraído à dependência do poder executivo, e erguido à
categoria de magistratura, com garantias próprias aproximadas das dos juízes."
Assim, a intervenção do Ministério Público na discussão de julgamento foi eliminada, mas a sua
função como auxiliar do tribunal continua a assumir alguma relevância, designadamente nos
seguintes momentos: pode pronunciar-se sobre o mérito da causa, em defesa dos direitos
fundamentais dos cidadãos, de interesses públicos especialmente relevantes ou de algum dos
valores e bens referidos no nº 2 do artigo 9º; nos processos impugnatórios, pode invocar
causas de invalidade diferentes das que tenham sido arguidas na petição, assim como
solicitar a realização de diligências instrutórias (nos 2 e 3 do artigo 85º CPTA) ; e
pronunciar-se em sede de recurso quando não tenha sido parte na ação (artigo 146º/1 CPTA).
Para MÁRIO AROSO DE ALMEIDA a intervenção do artigo 85º "...visa contribuir para
o melhor esclarecimento dos factos ou a melhor aplicação do direito...".
Intervenção em processos intentados por outros sujeitos processuais:
Ao Ministério Público cabe também coadjuvar o tribunal na realização do Direito; não
comparticipa no poder judicial porque não lhe compete julgar mas age de forma tão imparcial
como o juiz, procurando que o desenvolvimento do processo respeite os dispositivos legais.
Pretende-se, assim, a satisfação do interesse público da paz jurídica e de interesses públicos
conexos, como a qualidade e eficácia da decisão.
Esta intervenção está prevista no artigo 85º do CPTA, estabelecendo-se que é fornecida cópia da
petição inicial ao Ministério Público aquando da citação dos demandados para que se possa
pronunciar sobre o mérito da causa, em defesa dos interesses fundamentais dos cidadãos, de
interesses públicos especialmente relevantes ou de algum dos valores ou bens referidos no
artigo 9º/2 CPTA. Nos processos impugnatórios é dada a possibilidade ao Ministério Público de
invocar causas de invalidade diversas das que tenham sido arguidas pelo autor e solicitar a
realização de diligências instrutórias para a respetiva prova.
Esta possibilidade de emitir parecer sobre o mérito da causa existe ainda em sede de recurso,
como presente no artigo 146º CPTA, estando, também neste caso, assegurado o direito de
resposta às partes, que o devem exercer no prazo de 10 dias, nos termos do número segundo do
mesmo artigo.
Está função é, assim, de extrema importância uma vez que dá um lugar de destaque ao
Ministério Público enquanto guardião da legalidade e da justiça, pois que, ainda que não
impugne a norma ou o acto administrativo, que pode não estar tout court ferida de vícios, pode
obstar a que seja aplicada e/ou interpretada de uma forma que viole o direito e/ou interesses
públicos prevalecentes.

Tal como referido anteriormente, nos termos do art 85º, CPTA sempre que num processo se
diga a forma da ação administrativa não seja intentado pelo MP no exercício da ação pública,
logo que a petição é inicial é recebida, e desse modo se considera constituída a instância (art
78º/1) , desse facto deve ser dado de imediato conhecimento ao MP através de remessa, pela
secretaria de cópia da petição, bem como os documentos que a instruem.
Discutível se o MP se poderia pronunciar, ao abrigo do art 85º, CPTA, sobre pressupostos
processuais, como a () – seria NULO.
Mesmo se se pudesse pronunciar, o art 85º/4, CPTA, os poderes de intervenção só podem
ser exercidos 30 dias após a notificação da junção do processo administrativo aos autos ou,
da apresentação da última contestação.

Portaria n.º 280/2013, de 26 de Agosto


TRAMITAÇÃO ELETRÓNICA DOS PROCESSOS JUDICIAIS(versão actualizada)

Artigo 28.º
Peças processuais e documentos em suporte físico
1 - Do suporte físico do processo apenas devem constar as peças, os autos e os termos
processuais que, sendo relevantes para a decisão material da causa, sejam indicados pelo juiz,
em despacho fundamentado em cada processo, considerando-se como não sendo relevantes,
designadamente:
a) Requerimentos para alteração da marcação de audiência de julgamento;
b) Despachos de expediente e respetivos atos de cumprimento, que visem atos de mera gestão
processual e respostas obtidas, tais como:
i) Despachos que ordenem a citação ou notificação das partes;
ii) Despachos de marcação de audiência de julgamento;
iii) Despachos de remessa de um processo ao Ministério Público;

Assim fica em condições de avaliar da relevância dos interesses nele alegadamente envolvidos,
para os feito de formular um primeiro, juízo sobre a atenção que o processo parece merecer.
O prazo limite para a intervenção é de 30 dias, contando, da apresentação das contestações ou
da junção do processo administrativo aos autos quando esta tenha disso (tardiamente) lugar em
momento ulterior (art 85º/4) por forma a poderem ser considerados o teor das contestações e dos
documentos relevantes (art 85º/4). E a intervenção deve ser fundamentada no facto, de no
prcoesso, estarem em causa valores e bens constitucionalmente protegidos, como a saúde
pública, o ambiente, o ordenamento do território (...).

Relativamente ao recurso hierárquico:


O recurso hierárquico consiste num modo de impugnação administrativa por via do qual os
interessados solicitam, junto de um órgão da Administração Pública, a revogação, anulação,
modificação ou substituição de um ato administrativo ou, em alternativa e sendo caso disso,
reagem contra a omissão ilegal de atos administrativos em incumprimento do dever de decisão
solicitando a emissão do ato pretendido. O recurso hierárquico distingue-se dos restantes meios
de impugnação administrativa por ser o único meio de impugnação que deve ser dirigido ao
mais elevado superior hierárquico do autor do ato ou, se for caso disso, do superior hierárquico
daquele que alegadamente incumpriu o dever de decisão, pelo que a sua admissibilidade
depende da existência de uma relação de hierarquia entre o autor do ato ou da omissão ilegal e o
órgão a quem se pede a nova apreciação da situação jurídica. Este meio de impugnação
administrativa deve ser deduzido por meio de requerimento (a apresentar ao autor do ato ou da
omissão ou à autoridade a quem esteja dirigido que, neste caso, o remete ao primeiro no prazo
de 3 dias), no qual o interessado deve expor os fundamentos que invoca, podendo juntar os
elementos probatórios que considere convenientes.
Contudo, de referir que perde a faculdade de recorrer aquele que, sem reserva, tenha aceitado,
expressa ou tacitamente, um ato administrativo depois de praticado. Quanto a prazos, o recurso
hierárquico contra a omissão alegadamente ilegal de ato administrativo pode ser apresentado no
prazo de um ano, o qual é contado da data do incumprimento do dever de decisão, e o recurso
hierárquico de ato expresso pode ser apresentado no prazo de 30 dias, no caso de recurso
hierárquico necessário, e no prazo de impugnação contenciosa do ato em causa, no caso de
recurso hierárquico facultativo. Em qualquer dos casos, o prazo para a interposição dos recursos
hierárquicos é contado da data da notificação do ato, mesmo quando este tenha sido objeto de
publicação obrigatória. Finalmente, salvo se a lei estipular prazo diferente, o prazo para o órgão
competente apreciar e decidir o recurso hierárquico é de 30 dias, o qual pode ser elevado até 90
dias quando haja lugar à realização de nova instrução ou de diligências complementares. O
regime geral deste meio de impugnação administrativa vem regulado nos artigos 184.º a 190.º
do Código do Procedimento Administrativo, enquanto as normas que especificamente regulam
o recurso hierárquico constam dos artigos 193.º a 198.º do mesmo Código.

As impugnações administrativas necessárias não caducaram.

b) Na contestação, o IPJ invoca, entre outras exceções, a falta de constituição de advogado


por parte de A. Sem mais, o Tribunal profere despacho saneador através do qual “julga
procedente a exceção de falta de constituição de advogado da parte da A., absolvendo o IPJ da
instância”.
Entende-se por contestação a peça processual (ou articulado) na qual o réu de uma ação,
chamado a juízo para se defender, responde à petição inicial apresentada pelo autor. A palavra
contestação pode apresentar diversos sentidos. Num sentido material, a contestação é o ato pelo
qual o demandado responde à pretensão formulada pelo autor ou demandante. Num sentido
mais usual, o termo contestar significa negar, contrariar, desdizer, discutir. Finalmente, numa
acepção formal, como ato de resposta escrita à petição do autor, a contestação pode adotar duas
formas distintas conforme o seu conteúdo, com grande relevância para a definição do seu
regime – contestação-defesa e contestação-reconvenção.
Na contestação-defesa, o réu limita-se a negar, direta ou indiretamente, a pretensão do autor,
nos termos em que esta é deduzida. Por exemplo, numa ação de condenação existirá
contestação-defesa se o réu se limitar a alegar que o crédito invocado pelo autor nunca chegou a
constituir-se validamente ou que se extinguiu por pagamento. Esta forma de contestação pode
consistir na negação dos factos articulados pelo autor ou do efeito jurídico que o autor deles
pretende extrair, caso em que se fala de defesa por impugnação. No entanto, a contestação-
defesa pode consistir igualmente na alegação de factos novos com o objetivo de contrariar a
pretensão do autor, falando-se então de defesa por exceção.
A contestação-reconvenção pressupõe já um contra-ataque por parte do réu. O réu deduz aqui
uma pretensão autónoma contra o autor, diferente do simples pedido de improcedência da ação
ou de não conhecimento do mérito da ação, como, por exemplo, o pedido do réu de condenação
do autor no pagamento da indemnização devida pelas benfeitorias que introduziu no imóvel em
causa, no âmbito de uma ação de despejo. Pode ainda distinguir-se entre a contestação
articulada, a contestação por negação e a contestação por mera junção de documentos.
Na contestação articulada, admitida expressamente pela lei, o réu alega discriminadamente, sob
a forma de artigos, as razões de facto e de direito que servem de fundamento à sua defesa ou
reconvenção. Na contestação por negação, não admitida pela lei, o réu nega em bloco,
indiscriminadamente, a matéria de facto constante da petição.
A contestação por simples junção de documentos assenta unicamente no oferecimento da prova
documental, desacompanhada de qualquer alegação escrita sobre os próprios factos a que o
documento se refere. Ainda que esta forma de contestação não esteja expressamente consagrada
na lei, tem-se entendido que estará incluída no espírito da lei como forma válida de contestação.
Quando à contestação e o seu conteúdo, temos de atender ao art. 83.o CPTA: os demandados
devem: Individualizar a ação: não o fizeram; Expor as razões de facto e de direito por que se
opõem à pretensão do autor;Expor os factos essenciais em que se baseiam as exceções
deduzidas, especificando-as separadamente – apenas apresentaram uma exceção dilatória, nos
termos do art. 89/3/h) CPTA;
Sendo que se impõe aos demandantes o ónus de contestarem e , na contestação, procedem à
impugnação especificada dos factos alegados pelo autor
De acordo com artigo 574º do CPC, o ónus de impugnação consiste na necessidade de o réu
tomar posição definida perante os factos articulados na petição inicial, sob pena de os mesmos
poderem ser admitidos por acordo.
II- Numa acção em que esteja em causa a impugnação de actos administrativos a falta de
contestação ou a falta na contestação de impugnação especificada, não acarreta necessariamente
a confissão dos factos articulados, mas o tribunal aprecia livremente essa conduta para efeitos
probatórios (83º, n.º 4, do CPTA aprovado pela Lei n.º 15/2002, de 22 de Fevereiro).
§ Despacho Saneador:
Nos nossos dias, o despacho saneador tem o inegável mérito de centrar num único momento
processual o saneamento das questões de índole adjetiva processual. Por isso, o nº. 1 do art. 88
do CPTA, refere que: “ Quando, no cumprimento do dever de suscitar e resolver todas as
questões que possam obstar ao conhecimento do objeto do processo, verifique que as peças
processuais enfermam de deficiência ou irregularidades de caráter formal, o juiz deve procurar
corrigi-las oficiosamente.”, ou seja, o juiz tem o dever de suscitar e resolver todas as questões
que possam obstar ao conhecimento do objeto do processo, formando-se caso formal julgado
sobre a sua

Neste caso prático, o juiz não deveria ter emitido o despacho saneador, de imediato, deveria ter-
se socorrido ao mecanismo processual do despacho pré-saneador
O despacho pré-saneador, nos termos do artigo 87º CPTA, corresponde à decisão judicial
proferida após a fase dos articulados através da qual o tribunal visa,
i) Suprir as exceções dilatórias que possam ser sanadas (quer tenham sido suscitadas pelas
partes ou devam ser conhecidas pelo tribunal);
ii) Aperfeiçoar os articulados, concedendo às partes a possibilidade de corrigirem as
respetivas irregularidades, designadamente quanto aos requisitos legais, bem como de
corrigirem insuficiências ou imprecisões da matéria de facto alegada (matéria que está sujeita a
contraditório pela parte contrária)
iii) Ordenar a junção aos autos de documentos que permitam conhecer e apreciar a matéria
de exceções dilatórias ou, sendo possível, o mérito da ação no despacho saneador e, assim,
resolver logo a questão jurídica que originou a ação.
Diz-nos o art. 87º, CPTA que existe a possibilidade de proferir despacho pré-saneador,
destinado a providenciar pelo suprimento de exceções dilatórias ou pelo aperfeiçoamento dos
articulador (alíneas a e b). Neste caso, segundo o artigo 89º/2 e 4 alínea h) 2 - As exceções
dilatórias são de conhecimento oficioso e obstam a que o tribunal conheça do mérito da causa,
dando lugar à absolvição da instância ou à remessa do processo para outro tribunal. E, neste
caso, a falta de constituição de advogado é uma exceção dilatória.
Por outro lado, o despacho de aperfeiçoamento é destinado a convidar as partes a corrigir as
irregularidades dos articulados, o juiz fixa um prazo para o suprimento ou correção do vício,
designadamente por faltarem requisitos legais, como neste caso prático não ser sido constituído
o mandatário do autor, de que faça depender o prosseguimento da causa (art. 87/2.o). Caso o
autor não proceda ao suprimento ou correção dentro do prazo que lhe foi fixado para o efeito, há
lugar à absolvição da instância (art. 87º/7,do CPTA). Contudo, nada nos caso nos diz que foi
preterido este prazo até porque o juiz procedeu logo à absolvição da instância.

➢ Mas se o juiz determinar a absolvição da instância sem ter previamente emitido despacho de
aperfeiçoamento, o art. 87/8.o admite que:
A Absolvição da instância sem prévia emissão de despacho de aperfeiçoamento não impede o
autor de, no prazo de 15 dias contado da notificação da decisão, apresentar nova petição, com
observância das prescrições em falta, a qual se considera apresentada na data em que o tinha
sido a primeira, para efeitos da tempestividade da sua apresentação.”

c) Imagine, na sequência do caso anterior, que, na pendência do processo, o Presidente do


Conselho Diretivo do IPJ viria a anular o ato que determinou a suspensão de A., praticado pelo
Diretor de Serviços. No saneador, o Tribunal vem a extinguir a instância, por inutilidade
superveniente.
Mais tarde, porém, o Presidente do Conselho Diretivo vem a emitir despacho no qual “substitui
a anterior sanção aplicada a A. por suspensão por 20 dias”. A. pretende reagir de novo, mas
ouve de um seu Colega, um jurista consagrado, que já não podia fazer nada, designadamente
por, ao não ter reagido logo no dia após aquele último despacho, já ter aceitado o ato. O
Presidente do Conselho Diretivo, por sua vez, alega que o ato desse último despacho não havia
sido sequer notificado ou publicado, pelo que nada haveria a impugnar. Quid iuris?

Primeiramente, está contemplada a hipótese de emissão, na pendência do processo


impugnatório, de um ato de anulação administrativa do ato impugnado (no sentido hoje previsto
no art. 165/2.o CPTA), acompanhado ou sucedido de nova regulação da situação, permitindo
que o impugnante requeira que o processo prossiga contra o novo ato, com a faculdade de
alegação de novos fundamentos e do oferecimento de diferentes meios de prova.
A inutilidade e a impossibilidade supervenientes da lide estão previstas como causas de extinção
da instância no artigo 277.º, alínea e), do CPC, aplicável ex vi do artigo 1.º do CPTA.
A lide torna-se inútil/impossível quando sobrevêm circunstâncias relacionadas com a
impossibilidade ou desnecessidade adjectiva de o Autor lograr o objectivo pretendido com a
acção proposta, por o mesmo ter-se tornado impossível ou já o ter atingido por outro meio – cf.
Alberto dos Reis e Lebre de Freitas
Ou, noutra formulação, a extinção da instância por inutilidade superveniente da lide – como
sucedeu nos autos – pressupõe que, na pendência da acção instaurada, ocorra um facto ou
circunstância que claramente retire ao autor o interesse em agir, deixando este de obter da lide
qualquer utilidade, por a eventual procedência da acção não originar nenhuma modificação da
situação concreta sujeita à apreciação do tribunal – Acórdão do TCAN, de 15/07/2014.
A utilidade da lide está, pois, correlacionada com a possibilidade de obtenção de efeitos úteis,
pelo que a sua extinção, com base em inutilidade superveniente, só deverá ser declarada quando
se possa concluir que o prosseguimento da acção não trará quaisquer consequências benéficas
para o autor. Tal declaração exige, assim, que o juiz esteja em condições de fazer um juízo
apodíctico acerca da total inutilidade superveniente da lide. Assim, a inutilidade superveniente
da lide, como causa de extinção da instância, dá-se quando por facto ocorrido na pendência da
instância, a pretensão do autor não possa subsistir por motivos atinentes ao sujeito ou ao objecto
do respectivo processo, consubstanciando aquilo que na doutrina se designa por modo anormal
de extinção da instância, visto que a causa normal é a sentença de mérito (Alberto dos Reis e
Lebre de Freitas)

Por outro lado, a aceitação do acto administrativo está prevista nos artigos 56.º do CPTA e
53.º/4 do CPA. A positivação da aceitação como um instituto próprio de Direito Administrativo
ocorreu com o Código Administrativo de 1940 e, posteriormente, com o Regulamento do
Supremo Tribunal de Justiça de 1957, onde nos artigos 827.º e 47.º se previa que não podia
recorrer quem tivesse aceitado, expressa ou tacitamente a decisão ou deliberação/acto
administrativo proferida/praticado. Estas disposições deram origem aos artigos supra citados.
A aceitação traduz-se numa manifestação de vontade do sujeito aceitante isto é, a sua atuação
consiste num comportamento com um determinado conteúdo comunicativo através do qual se
exprime uma vontade do agente que é valorada pelo Direito.
Em relação à natureza jurídica desta figura a doutrina diverge. Rui Machete considera que a
mesma se consubstancia num requisito negativo de legitimidade activa. Porém, Vasco Pereira
da Silva e Vieira de Andrade entendem, diferentemente, que a aceitação do acto não se pode
reconduzir apenas a uma questão de legitimidade. Deste modo o primeiro defende que se trata
de uma falta de interesse de agir, sendo a sua inserção no âmbito da legitimidade fruto de um
trauma de infância
Contudo, há que atender ao número 3 deste artigo 56º que refere que a execução ou acatamento
por funcionário ou agente não se considera aceitação tácita do ato executado ou acatado.
Assim, a Autora tinha de facto ainda possibilidade de impugnar este ato nos termos gerais sob o
art. 58:o/1/b) CPTA (dispondo de 3 meses). Sendo que, no relativo à notificação, o prazo de
impugnação só conta a partir da sua notificação, nos termos do art. 59/1 e 2 do CPTA.
HIPÓTESE Nº14
B., caloiro da Faculdade de Artes e Letras da Universidade de Lisboa, solicita ao Diretor uma
diminuição do valor da propina. Pronunciando-se sobre o requerimento apresentado, o Diretor
limita-se a “indeferir, por falta de fundamento legal”. B. pretende agora impugnar este ato, mas
respondem-lhe que o não poderia fazer, porque ao decidir daquele modo o Diretor teria
simplesmente confirmado a proposta que recebeu dos Serviços Académicos, pelo que, ex vi nº1,
do artigo 53º, do CPTA, o ato não seria impugnável.
Quid Iuris?
Apesar de B pretender impugnar o ato de indeferimento, considera-se que deva, na
verdade, impor açã o de condenaçã o à prá tica de atos administrativos, nos termos do art
66º/1, CPTA.
Por regra, e nos termos do art 67º/1, CPTA, o primeiro pressuposto exigido para que
possa ser deduzido um pedido de condenaçã o à prá tica de um ato administrativo é que o
interessado, ou seja, B, tenha começado por apresentar um requerimento que tenha
constituído o ó rgã o competente no dever de decidir – é esse o caso, uma vez que B
apresenta um requerimento ao Diretor, constituindo-o no dever de decidir. Assim, a
apresentaçã o de requerimento, no fundo, representa um requisito de cuja observâ ncia
depende a existência de uma situaçã o de necessidade de tutela judicial e, portanto, a
constituiçã o de um interesse em agir em juízo.
Nã o basta, no entanto, a apresentaçã o do requerimento. Estamos perante a situaçã o
prevista na alínea b) do referido artigo, sendo que acresce ao requisito já mencionado o
indeferimento por parte da Administraçã o (neste caso do Diretor) da pretensã o que
perante ela foi deduzida, através da apresentaçã o de requerimento. Assim, tendo o Diretor
indeferido a pretensã o de B, a mesma enquanto requerente nã o tem de deduzir contra
esse ato de indeferimento um pedido de anulaçã o ou de declaraçã o de nulidade, nos
termos do art 66º/2, CPTA.
Aliá s, importa atender ao previsto no art 51º/4, CPTA, segundo o qual, estando em causa
um ato de indeferimento e se quanto ao mesmo nã o tiver sido deduzido o adequado
pedido de condenaçã o à prá tica do ato, deve o tribunal convidar o autor a substituir a
petiçã o.
(Importa, no entanto, referir, que o ato de indeferimento nã o deixa de ter natureza de um
verdadeiro ato administrativo, nos termos do art 148º, CPA. Com isto, nã o é, no entanto,
colocada em causa a circunstâ ncia de a reaçã o contra os atos de indeferimento nã o passar
por um processo de anulaçã o ou de declaraçã o de nulidade, mas sim por um processo de
condenaçã o. No fundo, a eliminaçã o do ato da ordem jurídica passa para um plano
secundá rio, pois o que se discute verdadeiramente é a questã o sobre a qual o ato se
pronunciou)
O ato do reitor nã o é um ato confirmativo.

Prazo de propositura da ação


Uma vez que houve emissã o de um ato de indeferimento, a açã o deve ser proposta, como
determina o art 69º/2, CPTA dentro do prazo de 3 meses, previsto pelo art 58º/1/b),
CPTA.
Ω Quanto ao que lhe foi dito, referente ao art 53º/1, CPTA:
De modo a concluirmos se o ato é ou nã o impugná vel, é necessá rio atendermos aos
pressupostos processuais de cujo reconhecimento depende a deduçã o em juízo da
impugnaçã o de atos administrativos.
O primeiro desses pressupostos consiste, precisamente, na impugnabilidade do ato
administrativo.
Nos termos do art 51º/1, CPTA, as pretensõ es impugnató rias têm por objeto um ato
administrativo. Assim, uma vez que, na verdade, todos os atos administrativos sã o
impugná veis, a sua impugnabilidade depende apenas do preenchimento do conceito, ou
seja, da reuniã o dos respetivos elementos constitutivos. Assim, segundo o previsto no art
148º, CPA, o ato administrativo consiste na decisã o que, no exercício de poderes jurídico-
administrativos, visa produzir efeitos jurídicos externos numa situaçã o individual e
concreta.
Um primeiro aspeto a verificar é, assim, a natureza das entidades que praticam os atos
administrativos. No caso, o ato foi praticado pelo Diretor, ou seja, um ó rgã o pertencente à
pessoa coletiva de direito pú blico Faculdade de Artes e Letras, logo, o ato foi praticado no
exercício de poderes jurídico-administrativos.
Um segundo aspeto a ter em conta é o conteú do decisó rio desse mesmo ato, uma vez que o
mesmo é elemento determinante da definiçã o de ato administrativo. Assim, para que um
ato concreto possa ser qualificado como um ato administrativo, é necessá rio que ele seja
uma decisã o que possua conteú do decisó rio, exprimindo uma resoluçã o que determine o
rumo de acontecimentos ou o sentido de condutas a adotar, sem se esgotar na expressã o
de uma declaraçã o de ciência, um juízo de valor ou uma opiniã o – parece ser o caso uma
vez que o Diretor indefere um requerimento.
E, por ú ltimo, importa que o ato em causa vise produzir efeitos externos, afetando,
portanto, os direitos ou interesses de entidades exteriores à quela que os pratica, que se
encontra também verificado, uma vez que o ato afeta os interesses de B.
Apesar destes requisitos se encontrarem preenchidos, o art 53º/1, CPTA consagra a regra
de que nã o sã o impugná veis os atos jurídicos através dos quais a Administraçã o se limite a
reiterar, com os mesmos fundamentos, decisõ es jurídicas introduzidas por atos
administrativos anteriores – inimpugnabilidade dos atos meramente confirmativos.
A regra vale para os atos que se limitem a reconhecer que sobre determinada questã o já
foi tomada anteriormente uma decisã o e que, portanto, nã o envolvam o reexercício do
poder de decidir.
No entanto, é necessá rio estar em causa um ato administrativo anterior, logo, importa
perceber se a proposta dos Serviços Académicos ao Diretor é um ato administrativo.
Quanto à natureza das entidades que praticam os atos administrativos, os Serviços
Académicos integram a pessoa coletiva de direito pú blico Faculdade, sendo, portanto, esse
ato praticado no exercício de poderes jurídico-administrativos.
Quanto ao conteú do decisó rio, parece-me que se encontra verificado, exprimindo uma
resoluçã o que determina o sentido de conduta a adotar pelo Diretor.
E, por ú ltimo, importa que o ato em causa vise produzir efeitos externos, afetando,
portanto, os direitos ou interesses de entidades exteriores à quela que os pratica – este
requisito parece-me dú bio quanto ao seu preenchimento.
No entendimento do professor Má rio Aroso de Almeida, este requisito tem como sentido e
alcance a exclusã o dos atos praticados no âmbito de relaçõ es intra-administrativas, que
parece ser o caso.
Logo, assim sendo, nã o sendo a proposta feita pelos Serviços um verdadeiro ato
administrativo, B poderia impugnar o ato de indeferimento, uma vez que o mesmo nã o
constituiria um ato meramente confirmativo.

MAS,
Se considerarmos que, ainda que esteja em causa um ato interno, o mesmo se insere no
âmbito de um procedimento administrativo com relevâ ncia externa, praticado ao longo de
procedimentos que, ainda que parcialmente, definem situaçõ es jurídicas dos interessados,
tratando-se de “pré-decisõ es”, entã o estamos perante um ato administrativo.
Segundo um Acó rdã o do Tribunal Central Administrativo Norte, o ato confirmativo será ,
entã o, aquele que emanado da mesma entidade e dirigido ao mesmo destinatá rio repete,
perante os mesmos pressupostos de facto e de direito, o conteú do e a fundamentaçã o do
ato definitivo lesivo anterior, sem nada acrescentar ou retirar ao conteú do deste.

No caso, parecem estar preenchidos os requisitos em causa:

 Quanto à identidade de sujeitos – o destinatá rio em ambos os atos é B, sendo que,


apesar de provir de ó rgã os diferentes, ambos constituem parte da mesma
entidade.
 Quanto aos pressupostos de facto e direito, o conteú do e fundamentaçã o,
presumimos que sejam os mesmos.
No entanto, ainda que esteja em causa um mero ato confirmativo, B nã o foi constituído no
ó nus de impugnar o ato anterior (nada nos diz que B foi notificado ou sequer que o ato
anterior terá sido publicado), logo, nos termos do art 53º/2, CPTA, B poderia impugnar o
ato.

Prazo
Como estabelece o art 58º/1, CPTA, a deduçã o do pedido de declaraçã o de nulidade de
atos administrativos nã o está, de modo geral, sujeita a prazo. No entanto, este caso nã o
parece preencher nenhuma das alíneas do art 161º, CPA (talvez a d), mas ainda assim nã o
parece ser o caso).
Logo, segundo o disposto no art 58º/1/b), que é aplicá vel à impugnaçã o fundada em
anulabilidade, quando deduzida por particulares, o prazo-regra é de 3 meses (a contar a
partir do início da produçã o de efeitos do mesmo – 59º/1, CPTA.
HIPÓTESE Nº21 – CONDENAÇÃO À PRÁTICA DE ATOS ADMINISTRATIVOS
A, requereu à Câmara municipal de Lisboa uma licença de construção para finalmente
concretizar o seu sonho: construir uma marquise, ao estilo barroco, em pleno Bairro Alto.
Tendo sabido das pretensões de A, logo se juntam ao procedimento administrativo B e C,
comerciantes que detinham espaços comerciais no rés-do-chão do prédio de A e que
frontalmente se opunham àquela que julgavam ser uma “pirosice” da pior espécie.
Mais de 90 dias volvidos, e sem resposta alguma da parte da Câmara Municipal, A
pretende agora reagir, tendo sido aconselhado pelo seu Advogado a:
i) Propor uma “ação administrativa comum de condenação à prática de
comportamentos”;
ii) Contra a Câmara Municipal de Lisboa;
iii) Sendo certo que o deveria fazer no prazo de 3 meses contados desde o termo daqueles
90 dias.

a) Pronuncie-se sobre a estratégia preconizada pelo Advogado de A.


Quanto à proposta de uma ação administrativa comum de condenação à prática de
comportamentos
De acordo com o previsto no art 37º/1/b), CPTA, a condenaçã o à prá tica de atos
administrativos devidos segue a forma da açã o administrativa. Em concordâ ncia, dispõ e o
art 66º/1, CPTA que esta açã o pode ser utilizada para obter a condenaçã o da entidade
competente à prá tica de um ato administrativo ilegalmente omitido ou recusado, dentro
de determinado prazo.
No entanto, nos termos do art 67º/1, CPTA, para que seja pedida a condenaçã o à prá tica
de um ato administrativo, exige-se a apresentaçã o prévia de um requerimento que tenha
constituído o ó rgã o competente no dever de decidir (existência de uma situaçã o que necessita
de tutela jurídica, constituindo-se um interesse em agir - falta requerimento, quando for obrigató rio
» falta de interesse processual), e este nã o se tenha pronunciado, tenha indeferido ou
recusado o requerimento.
No nosso caso, passados os 90 dias sem qualquer resposta da CM, o Advogado de A sugere-
lhe que proponha uma açã o deste teor, nos termos da alínea a) do art 67º/1, CPTA (por
inércia da CM). A previsã o deste artigo tem como objeto as situaçõ es de incumprimento,
por parte da Administraçã o, do dever de decisã o perante requerimentos que lhe tinham
sido apresentados e que a tenham constituído no dever de decidir.
Esta situaçã o corresponde à anterior figura do indeferimento tácito, consagrada no art
109º, CPA, que confere ao requerente a faculdade de presumir indeferida a pretensã o por
si deduzida, para o efeito de lançar mã o do respetivo meio legal de impugnaçã o. Na
verdade, está vamos perante uma ficçã o legal criada para que o interessado lançasse mã o
do ú nico meio de tutela contenciosa que lhe era disponibilizado (recurso contencioso).
Com a revisã o de 2015, deixou de ser necessá rio ficcionar, em situaçõ es de inércia ou
omissã o, a existência de um indeferimento tácito passível de impugnaçã o. O
incumprimento, no prazo legal, do dever de a Administraçã o decidir os requerimentos que
lhe forem apresentados, passou a ser encarado como uma omissã o pura e simples – mero
facto constitutivo do interesse em agir e decidir por parte da Administraçã o.
Os arts 128º e 129º, CPA conferem a possibilidade de A utilizar os meios de tutela
administrativa e jurisdicional adequados, isto é, de se aplicar o art 67º/1/a), CPTA ao
caso concreto, já que, de acordo com o art 128º, CPA, a AP tem 60 dias para decidir acerca
destes procedimentos de iniciativa particular, podendo estender-se até aos 90 dias, em
circunstâ ncias excecionais e devidamente fundamentadas.
Os procedimentos de iniciativa particular devem ser decididos no prazo de 60 dias, salvo se outro prazo
decorrer da lei, podendo o prazo, em circunstâncias excecionais devidamente fundamentadas, ser prorrogado
pelo responsável pela direção do procedimento, por um ou mais períodos, até ao limite máximo de 90 dias,
mediante autorização do órgão competente para a decisão final, quando as duas funções não coincidam no
mesmo órgão.

Art 68º/1/a), CPTA – confere legitimidade a A, já que é titular de um direito ou


interesse legalmente protegido, dirigido à emissã o de um ato.
De acordo com o disposto nas alíneas a) e c) do art 87º, CPA, os prazos começam a
correr independentemente de quaisquer formalidades, havendo uma suspensã o dos
mesmos aos sá bados, domingos e feriados.

Quanto à ação ser proposta contra a Câmara Municipal de Lisboa


Relativamente à legitimidade passiva, de acordo com o disposto no art 10º/2,
1ªparte, CPTA, nos processos intentados contra entidades pú blicas, a parte que deve ser
demandada é a pessoa coletiva de direito pú blico. Como sabemos, a Câ mara Municipal é o
ó rgã o executivo das autarquias locais (art 235º, 236º e 252º, CRP), pelo que se deveria
demandar a AL.
Mas segundo o previsto no art 10º/4, CPTA, esta situaçã o nã o obsta a que se considere
regularmente proposta a açã o quando na petiçã o tenha sido indicado como parte
demandada um ó rgã o pertencente à pessoa coletiva de direito pú blico.

Quanto ao prazo da propositura da ação (3 meses contados desde o termo dos 90 dias)
Nos termos do art 69º/1, CPTA, em situaçõ es de inércia da Administraçã o, o direito de
açã o caduca no prazo de 1 ano desde o termo do prazo legal estabelecido para a emissã o
do ato ilegalmente obtido » assim, A teria mais do que 3 meses.

Sendo este um requerimento para uma licença de construção, de acordo com o art 111º/a), RJUE:

Decorridos os prazos fixados para a prática de qualquer ato especialmente regulado no presente diploma sem
que o mesmo se mostre praticado, observa-se o seguinte:

a)Tratando-se de ato que devesse ser praticado por qualquer órgão municipal no âmbito do procedimento de
licenciamento, o interessado pode recorrer ao processo regulado no artigo 112.º.

Art 112º, RJUE


1- No caso previsto na alínea a) do artigo anterior, o interessado pode deduzir junto dos tribunais
administrativos um pedido de intimação dirigido à interpelação da entidade competente para o cumprimento
do dever de decisão.
2- O requerimento de intimação deve ser instruído com cópia do requerimento apresentado.
3- O prazo para a contestação da entidade requerida é de 14 dias e, apresentada a contestação ou decorrido o
respetivo prazo, o processo é concluso ao juiz para decisão no prazo de 5 dias.

Importa referir, ainda, que nos termos do art 68º/2, CPTA, devem ser demandados os
contrainteressados a quem a prá tica do ato pretendido possa diretamente prejudicar ou
que tenham interesse legítimo em que nã o seja praticado – neste caso, B e C.

b) Imagine que é o MP que pretende propor uma ação tendente a resolver a situação de A.
E se fosse a Assembleia Municipal de Lisboa?
Legitimidade MP
O art 68º/1/b), CPTA confere legitimidade ao MP para pedir a condenaçã o à prá tica de
atos administrativos quando o dever de praticar o ato resulte diretamente da lei (pode
reagir contra situaçõ es objetivas de inércia no cumprimento da lei).
Este poder conferido ao MP nã o depende da apresentaçã o de qualquer requerimento,
como resulta do art 67º/4/a), CPTA, nã o sendo por isso necessá rio o preenchimento dos
pressupostos do nº1 do art 67º, CPTA.
Ou seja, o MP nã o tem de apresentar um requerimento dirigido à prá tica do ato
objetivamente devido, nem de aguardar por uma resposta a esse requerimento para poder
pedir a condenaçã o da Administraçã o ao cumprimento do seu dever objetivo de agir.
Todavia, nã o se encontra preenchido o disposto no art 68º/1/b), CPTA, já que nã o está
em causa a ofensa de direitos fundamentais.

Dúbio que existisse um dever de praticar o ato devido. Além disso, dúbio a ofensa de direitos
fundamentais. Quanto muito, estaria a tutelar um interesse pessoal e direito, mas não um direito
fundamental.

Legitimidade Assembleia Municipal de Lisboa


O art 68º/1/d), CPTA, confere legitimidade aos ó rgã os administrativos relativamente a
condutas de outros ó rgã os da administraçã o pú blica, que alegadamente comprometam as
condiçõ es do exercício de competências para a prossecuçã o de interesses pelos quais estes
ó rgã os sejam diretamente responsá veis – neste caso, a Assembleia Municipal é o ó rgã o
deliberativo e atuaria relativamente a uma conduta da Câ mara Municipal (ó rgã o
executivo), mas nã o está em causa uma conduta que compromete as condiçõ es do
exercício de competências para a prossecuçã o de interesses pelos quais estes ó rgã os
sejam diretamente responsá veis.
c) Imagine agora que, tendo já sido proposta a ação, a Câmara Municipal responde
finalmente ao requerimento de A, indeferindo-o com fundamento na falta de previsão
daquele tipo de marquises no plano especial de conservação do Bairro Alto.
Nos termos do art 70º/1, CPTA, se a pretensã o do interessado for indeferida na
pendência do processo intentado em situaçã o de inércia, o autor pode alegar novos
fundamentos e oferecer diferentes meios de prova em favor da sua pretensã o, sendo que,
de acordo com o art 68º/1/b), CPTA, terá de ser apresentado novamente requerimento.
66º/2

Você também pode gostar