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12/10/2021
Os atos de poder público só são suscetíveis de reação contrária no CAT.
O CAT permite que os particulares se defendam da Administração Pública, isto é, tutela os seus
direitos de forma eficaz e plena face à AP.
Blog: pelo menos 2, sob a forma comentário de acórdãos » 10 de dezembro.
Simulação de julgamento
15/10/2021
No seu manual, o
professor Vieira de Andrade procede à distinção de dois modelos de justiça: o modelo
objetivista e um modelo subjetivista, sendo que, no entendimento do professor, numa perspetiva
A distinção dos mesmos tem por base dois critérios fundamentais: a função do contencioso
(enquanto que para o modelo objetivista a função consiste na defesa da legalidade e o interesse
público; para o modelo subjetivista releva a tutela dos direitos dos particulares) e o objeto do
processo (enquanto que para o primeiro, está em causa a verificação da legitimidade do
exercício do poder administrativo, para o segundo julga-se a alegada lesão das posições
jurídicas subjetivas do administrado.
Na história do contencioso administrativo, distinguiram-se três modelos básicos de organização.
Ora, um dos modelos básicos de organização consistia no modelo administrativista: chamado de
“administrador-juiz” ou “jurisdição reservada” ou autotutela, em que, no fundo, a decisão final
dos litígios administrativos competia aos órgãos superiores da Administração (daí a expressão
“julgar a administração é ainda administrar”) – o modelo baseava-se em conceções de separação
de poderes.
Assim, nesta primeira fase, dos primórdios do contencioso administrativo, fixou-se um regime
processual de natureza fundamentalmente objetivista: o recurso de anulação era visto como um
processo feito a um ato, destinado a fiscalizar a legalidade do exercício autoritário de poderes
administrativos.
O professor Marcello Caetano, ao afirmar que o contencioso administrativo “não se trata de um
julgamento de órgão que praticou o ato ou da pessoa coletiva que pertence, estando sim em
causa é a legalidade do ato e não o comportamento das pessoas, aponta para a adoção do
modelo objetivista, reforçando tal ideia ao afirmar cabe ao processo administrativo “emitir
afinal não uma condenação ou absolvição do pedido, mas um juízo de confirmação ou de
anulação, meramente declaratório”, não sendo o mesmo encarado como um litígio entre pessoas
ou uma questão contra a autarquia ou contra o Estado.
No entanto, segundo o professor Vieira Andrade, a realidade mostra que, nos países da Europa
continental, os modelos mais recentes de justiça administrativa oscilam entre os que são mistos,
com características objetivistas e subjetivistas, e os que apresentam características
predominantemente subjetivistas, estando ultrapassados os modelos objetivistas puros.
A evolução da generalidade dos sistemas aponta claramente no sentido de uma subjectivização
da justiça administrativa, tendo em conta a comprovada insuficiência dos modelos objetivistas
para assegurar uma proteção judicial efetiva dos direitos e interesses legalmente protegidos dos
particulares.
Há que perceber entã o qual o tribunal em que B pode intentar a açã o. Segundo o art
3º/1 e 2, Decreto-Lei nº325/2003, de 29 de dezembro, a á rea de jurisdiçã o dos
tribunais administrativos de círculo consta do mapa anexo ao referido diploma. No mapa
anexo, o município de Tondela tem como referência a sede Viseu.
Assim, B pode intentar a açã o junto do Tribunal Administrativo de Círculo de Viseu.
Atos administrativos fiscais e municipais sobre imóveis, há sempre uma confusão
entre o art 17º e o 20º/1, CPTA.
l) L, pretende impugnar a coima que lhe foi aplicada pela inspeção geral da
agricultura, do mar, do ambiente e do ordenamento do território (IGAMAOT),
por violação de normas relativas à conservação e tratamento de resíduos.
Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais.
Torna-se, entã o necessá rio verificar se a açã o em causa pode ser intentada perante os
tribunais administrativos (competência em relação à jurisdição).
Ora, neste caso, L pretende impugnar a coima que lhe foi aplicada por violaçã o de
normas relativas à conservaçã o e tratamento de resíduos. De acordo com o disposto no art
1º, DL nº23/2012, o IGAMAOT é um serviço pú blico administrativo (faz parte da
Administraçã o Direta do Estado).
Nos termos dos arts 55º e 59º, DL nº433/82, de 27 de outubro (ilícito de mera
ordenação social), o ilícito de mera ordenaçã o social tem natureza administrativa.
Contudo, para se aplicar o art 4º/1/l), ETAF, a aplicaçã o da coima tem de se fundar na
violaçã o de normas em matéria de urbanismo – com a revisã o de 2015, o legislador
reconheceu o carácter administrativo dos litígios sobre o ilícito de mera ordenaçã o social,
atribuindo aos tribunais administrativos o poder de fiscalizaçã o ter legalidade desses atos;
porém, nã o lhes conferiu poderes amplos, já que estes nã o têm competência genérica na
matéria.
Assim, o art 4º/1/l), ETAF atribui-lhes competência para as impugnaçõ es de decisõ es que
apliquem coimas no âmbito do ilícito de mera ordenaçã o, mas apenas quando a aplicaçã o
dessas coimas de se fundar na violaçã o de normas em matéria de urbanismo.
Desta forma, esta açã o nã o poderia ser intentada perante os tribunais administrativos.
m) M, residente em Beja, pretende impugnar a coima que lhe foi aplicada pela Divisão
de Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa ao abrigo do disposto na alínea b)
do nº1 do art 98º, RJUE, por alegadamente ter realizado, no seu apartamento de
Campo de Ourique, obras em desconformidade com o projeto oportunamente
aprovado; e se a infração em causa violar simultaneamente o PDM de Lisboa?
Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais.
Torna-se, entã o necessá rio verificar se a açã o em causa pode ser intentada perante os
tribunais administrativos (competência em relação à jurisdição).
Ora, neste caso, M pretende impugnar a coima que lhe foi aplicada pela Divisã o de
Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa, pela realizaçã o de obras em desconformidade
com o projeto oportunamente aprovado.
De acordo com o disposto nos arts 235º/1 e 236º, CRP, as Autarquias Locais sã o
constituídas pelas freguesias, municípios e regiõ es administrativas, sendo que para o
nosso caso, importa focarmo-nos nos municípios – trata-se de PC cujos ó rgã os sã o a
Assembleia Municipal (deliberativo – 251º) e a Câmara Municipal (executivo – 252º). A
Divisã o de Urbanismo da CML constitui um serviço pú blico administrativo da CML
(organizaçã o humana criada com a finalidade de desempenhar atribuiçõ es da PC, através
de funçõ es de apoio, colaboraçã o, prestaçã o e execuçã o, sempre sobre a iniciativa e
comando dos ó rgã os).
Nos termos dos arts 55º e 59º, DL nº433/82, de 27 de outubro (ilícito de mera
ordenação social), o ilícito de mera ordenaçã o social tem natureza administrativa.
Contudo, para se aplicar o art 4º/1/l), ETAF, a aplicaçã o da coima tem de se fundar na
violaçã o de normas em matéria de urbanismo – que neste caso se verifica, já que M violou
o disposto no art 98º/1, RJUE. Encontramo-nos, assim, no âmbito da jurisdiçã o
administrativa.
No que toca à competência em relação à hierarquia, nã o se tratando de matéria
reservada aos tribunais superiores, isto é, ao STA (art 24º, ETAF) ou ao Tribunal Central
Administrativo (art 37º, ETAF), nos termos do art 44º/1, ETAF, a açã o intentada por M
deve ser proposta no Tribunal Administrativo de Círculo (isto porque incide sobre matéria
administrativa e além disso, nã o há uma reserva de competência para os tribunais
superiores).
Por fim, quanto à competência territorial, estando perante um processo respeitante
à prá tica de normas administrativas das Autarquias locais (neste caso de entidades por
elas instituídas), por força do art 20º/1, CPTA, M deve intentar a açã o no tribunal da á rea
da sede da entidade demandada – neste caso, em Lisboa.
Há que perceber entã o qual o tribunal em que M pode intentar a açã o. Segundo o art
3º/1 e 2, Decreto-Lei nº325/2003, de 29 de dezembro, a á rea de jurisdiçã o dos tribunais
administrativos de círculo consta do mapa anexo ao referido diploma. No mapa anexo, o
município de Lisboa tem como referência a sede Lisboa.
Assim, M pode intentar a açã o junto do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa.
Com efeito, o art 4º/1/o), ETAF inclui as hipó teses que dizem respeito à atribuiçã o de
indemnizaçõ es devidas em virtude da imposiçã o de sacrifícios por razõ es de interesse
Pú blico – todavia, esta regra é derrogada por disposiçõ es especiais, designadamente no
có digo das expropriaçõ es, que confere aos tribunais judiciais a competência para atribuir
as indemnizaçõ es devidas por expropriaçõ es, servidõ es e requisiçõ es administrativas.
Se o ato de declaraçã o de utilidade pú blica se insere num procedimento de expropriaçã o,
estamos no â mbito da jurisdiçã o judicial.
Nos termos do art 212º/3, CRP, compete aos tribunais administrativos e fiscais o
julgamento das açõ es e recursos contenciosos que tenham por objeto dirimir os litígios
emergentes das relaçõ es jurídicas administrativas e fiscais. Assim, de modo a concretizar
tal artigo, no que toca ao â mbito de jurisdiçã o, importa articulá-lo com o art 4º, ETAF.
A Liga Portuguesa de Futebol é uma associaçã o de direito privado, sem fins lucrativos. No
entanto, o Regime Jurídico das Federaçõ es Desportivas e as Condiçõ es de Atribuiçã o do
Estatuto de Utilidade Pú blica Desportiva, no seu art 11º, prevê que têm natureza pú blica
os poderes das federaçõ es desportivas exercidos no â mbito da regulamentaçã o e
disciplina da respetiva modalidade que, para tanto, lhe sejam conferidos por lei.
Por ú ltimo, em razã o do territó rio, o artigo 20º, do CPTA prevê que, os processos
respeitantes à prá tica de atos das pessoas coletivas de utilidade pú blica (seria o caso) sã o
intentados no tribunal da á rea da sede da entidade demandada. No artigo 4º, dos seus
Estatutos, estabelece-se que a Liga tem sede na cidade do Porto. No caso, portanto, seria
competente o Tribunal Administrativo do Círculo do Porto.
Quanto ao pedido de indemnizaçã o por conta das mais do que certas perdas de receitas de
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O artigo 4º, nº1, h), do ETAF prevê, precisamente, que compete aos tribunais da jurisdiçã o
administrativa apreciar questõ es relativas à responsabilidade civil extracontratual dos
demais sujeitos aos quais seja aplicá vel o regime específico da responsabilidade do Estado
e demais pessoas coletivas de direito pú blico. O regime previsto na Lei nº67/2007, de 31
de dezembro prevê, no seu artigo 1º, nº5, 2ª parte, que as disposiçõ es do mesmo sã o
aplicá veis à responsabilidade civil de pessoas coletivas de direito privado, que seria o caso,
por açõ es ou omissõ es que adotem no exercício de prerrogativas de poder pú blico – tal
como já vimos, é precisamente isso que está em causa. Assim, estamos perante o âmbito de
jurisdiçã o administrativa.
Por ú ltimo, em razã o do territó rio, o artigo 18º, nº2, do CPTA prevê que, sendo o facto
constitutivo da responsabilidade a prá tica de um ato administrativo, a pretensã o deverá
ser deduzida no tribunal competente para se pronunciar sobre a legalidade da atuaçã o.
Isto porque, nestes casos, o pedido principal é o da impugnaçã o do ato praticado, sendo
portanto, no tribunal territorialmente competente para a apreciaçã o desse pedido
principal que deve ser deduzido o pedido dirigido à obtençã o da reparaçã o de danos.
Como já referido anteriormente, nos termos do artigo 20º, nº1, seria, entã o, competente o
Tribunal Administrativo do Círculo do Porto.
A legitimidade pode ser ativa (art 9º, CPTA) – correspondência com o autor da açã o (quem
alega a titularidade de uma situaçã o) – ou passiva (art 10º, CPTA) – configura a
pessoa/entidade que deve ser demandada com o objeto configurado pelo autor.
O regime geral da legitimidade ativa consta do art 9º, CPTA, sendo que o nº1
estabelece um critério comum de aplicabilidade residual (circunscreve-se aos tipos de litígios
cuja estrutura se aproxima do direito processual civil, nã o sendo os mais representativos no
processo administrativo – corresponde apenas aos casos que nã o sã o objeto de um regime
especial). Importa, primeiramente, verificar as disposiçõ es especiais sobre a legitimidade.
Ora, nos termos dos arts 148º, CPA (decisã o que, no exercício de poderes jurídico-
administrativos, visa produzir efeitos jurídicos externos numa situaçã o individual e concreta) e
50º/1, CPTA, estamos perante a impugnaçã o de um ato administrativo, pelo que a
legitimidade tem de ser aferida de acordo com o art 55º, CPTA.
De acordo com o disposto no art 55º/1/a), CPTA, quem alegue ser titular de um interesse
direto e pessoal tem legitimidade para impugnar um ato administrativo – na interpretaçã o
do professor Mário Aroso de Almeida, a legitimidade individual para impugnar atos
administrativos nã o tem de se basear na ofensa de um direito ou interesse legalmente
protegido, mas apenas com a circunstâ ncia de o ato, no momento em que é impugnado,
provocar consequências desfavorá veis na esfera jurídica do autor.
No que toca ao regime que o CPTA estabelece a respeito da legitimidade ativa, este nã o se
esgota no artigo 9º. O nº1 desse mesmo artigo estabelece um critério que é derrogado por
um amplo conjunto de soluçõ es especiais que o CPTA estabelece em funçã o de diversos
tipos especiais de pretensõ es (55º, 57º, 68º,73º e 77º-A), tendo assim este artigo uma
aplicabilidade residual.
Uma dessas soluçõ es especiais é a que se encontra prevista no artigo 55º, que regula,
precisamente, a impugnaçã o de um ato administrativo, que seria o caso. Nos termos do
nº1, b) desse mesmo artigo, tem legitimidade para impugnar um ato administrativo o
Ministério Pú blico, cumprindo a sua funçã o prevista no artigo 51º, do ETAF de defender a
legalidade democrá tica e promover a realizaçã o do interesse pú blico.
Para que uma pessoa esteja em posiçã o de figurar como parte num processo
administrativo, tem de ter personalidade e capacidade judiciá rias (art 8º-A, CPTA), tem
de constituir mandatá rio – patrocínio judiciá rio (art 11º, CPTA) – e por fim, a
pessoa/entidade tem de ser configurada como parte na açã o concreta, devido ao
preenchimento dos pressupostos da legitimidade processual.
A legitimidade pode ser ativa (art 9º, CPTA) – correspondência com o autor da açã o (quem
alega a titularidade de uma situaçã o) – ou passiva (art 10º, CPTA) – configura a
pessoa/entidade que deve ser demandada com o objeto configurado pelo autor.
Na presente hipó tese, uma claque organizada do clube pretende reagir judicialmente,
invocando a tutela do interesse pú blico da verdade desportiva.
O regime geral da legitimidade ativa consta do art 9º, CPTA, sendo que o nº1 estabelece
um critério comum de aplicabilidade residual (circunscreve-se aos tipos de litígios cuja
estrutura se aproxima do direito processual civil, nã o sendo os mais representativos no processo
administrativo – corresponde apenas aos casos que nã o sã o objeto de um regime especial) .
Importa, primeiramente, verificar as disposiçõ es especiais sobre a legitimidade.
Ora, nos termos dos arts 148º, CPA (decisã o que, no exercício de poderes jurídico-
administrativos, visa produzir efeitos jurídicos externos numa situaçã o individual e concreta) e
50º/1, CPTA, estamos perante a impugnaçã o de um ato administrativo, pelo que a
legitimidade tem de ser aferida de acordo com o art 55º, CPTA, mais concretamente de
acordo com a alínea f), que por sua vez nos remete para o art 9º/2, CPTA.
O art 9º/2, CPTA reconhece à s associaçõ es (caso da claque – art 3º/i) e 14º/1, DL
nº39/2009, de 30 julho considera-a como um grupo organizado de adeptos, que é
integrado na AP como uma Associaçã o) o direito de lançar mã o de todo e qualquer meio
processual (principal ou cautelar) existente no contencioso administrativo para defesa dos
valores que enuncia – este artigo confere legitimidade ativa para a defesa de interesses
difusos (correspondem aos direitos fundamentais que a CRP estabelece – estã o em causa bens
pú blicos) à s associaçõ es, desde que preencham os requisitos do art 3º, Lei nº83/95, sendo
uma forma de açã o popular admitida no contencioso administrativo (extensão
legitimidade).
Como referido, está em causa uma das modalidades da açã o popular – trata-se de uma
açã o proposta na defesa de valores que interessam à comunidade, sendo que o art 9º/2,
CPTA apresenta o conjunto de açõ es que podem ser intentadas em defesa de valores e
bens constitucionalmente protegidos » concretizaçã o do art 52º/3, CRP.
Interessa perceber se a defesa do interesse pú blico da verdade desportiva poderia ser
enquadrada no art 9º/2, CPTA ou se poderia até servir de fundamento no nosso caso.
Ora, no âmbito da CRP, o disposto nos arts 64º/2/b) e 79º/2, CRP consagram a
promoçã o da cultura física e desportiva. Além dos preceitos constitucionais, atendendo à
Lei nº13/2017, de 2 de maio (Regime Responsabilidade Penal por Comportamentos
suscetíveis de afetar a verdade, a lealdade e a correçã o da competiçã o), a mesma
estabelece um novo regime de responsabilidade penal por comportamentos suscetíveis de
afetarem a verdade, da lealdade e da correçã o da competiçã o.
Contudo, a verdade é que no caso em apreço, foi aplicada uma sançã o que implicou
uma descida de divisã o dos jogadores – o fundamento da claque nã o parece vá lido, já que
nã o estava em causa qualquer problema de verdade ou lealdade. Além disso, como o art
9º/2, CPTA é uma extensã o de legitimidade, teriam de estar verificados os pressupostos
do art 3º, Lei nº83/95 – que nã o ocorre. Por isso, nã o parece que lhes seja concedida
legitimidade ativa.
A claque não é uma associação de classe, da proteção do interesse difuso da verdade desportiva,
não tem qualquer conexão com o interesse difuso da verdade desportiva – só poderia entrar se
alegasse interesses próprios – só podia alegar a defesa dos próprios membros e não a defesa de
interesses dos jogadores.
Nã o existe uma ú nica relaçã o material, pelo que parece que estamos perante uma
coligaçã o.
Nos termos do art 12º/1/a), in fine, CPTA, podem coligar-se vá rios autores contra um
demandado quando os pedidos estejam entre si numa relaçã o de prejudicialidade ou de
dependência, nomeadamente por se inscreverem no â mbito da mesma relaçã o jurídica
material.
É ainda admissível que vá rios autores se coliguem para impugnarem uma mesma norma
ou deduzirem pedidos de indemnizaçã o por ilegalidade praticada no â mbito de uma
mesma atuaçã o jurídica ou material da Administraçã o.
HIPÓTESE Nº5
120 dos “lesados do papel comercial do BES” pretendem impugnar a medida de resolução
adotada pelo Banco de Portugal no dia 3/08/2014. Não sabem, no entanto, se o devem fazer
individualmente, em coligação, ou se, para o efeito, devem constituir uma associação defensora
dos seus interesses. O que lhes sugeriria?
O que está aqui em questã o já́ nã o é o problema do alargamento da legitimidade para
intentar uma açã o pró pria em juízo, mas sim o de fazer intervir, num processo iniciado por
outrem, os demais sujeitos da relação multilateral controvertida.
Com a Coligaçã o e o Litisconsó rcio há uma abertura do processo aos sujeitos da relaçã o
jurídica multilateral, permitindo-se que eles intervenham no CAT para a proteçã o conjunta
dos respetivos direitos.
➢ Se cada um dos pedidos for formulado por cada um dos autores ou contra cada um dos
demandados, é Coligação.
➢ Se o pedido ou pedidos deduzidos forem formulados por todas as partes ou contra todas
as partes, é Litisconsórcio.
O nosso Có digo do Processo dos Tribunais Administrativos (CPTA) nã o prevê esta figura,
no entanto tal, como dissemos, esta figura é aplicada dentro do Contencioso
Administrativo. O Contencioso Administrativo quando se vê perante a necessidade de
formar litisconsó rcio terá de recorrer à s normas do Có digo do Processo Civil (CPC), tal
como acontece com outras normas nã o previstas no CPTA, e havendo necessidade de as
aplicar terá de se recorrer aos arts 27º e 28º, CPC.
O CPC divide esta figura em litisconsó rcio voluntá rio (quando há vá rias partes no processo
mas, no entanto, nã o haveria necessidade, visto que nã o haveria ilegitimidade se uma
delas faltasse pois nã o seria obrigató rio) e litisconsó rcio necessá rio (a falta de uma das
partes levaria à ilegitimidade, visto haver obrigatoriedade).
Nã o aconselharia à constituiçã o de um associaçã o, mas antes à utilizaçã o do regime
jurídico do litisconsórcio voluntário ativo, ex vi art. 32º, CPC aplicado supletivamente ex
vi art 1º CPTA, pois o CPTA só faz referência ao litisconsó rcio necessá rio passivo no art.
10.o/1 – porque neste caso estamos perante uma cotitularidade da mesma relaçã o
jurídica entre os litisconsortes , e por isso a existência de uma ú nica relaçã o material como
se houvesse um ú nico autor: (impugnaçã o da medida de resoluçã o adotada pelo Banco de
Portugal em relaçã o ao BES).
Por fim, podemos concluir dizendo que, dentro do Contencioso Administrativo, há duas
figuras que permitem a existência de pluralidade de partes dentro dos processos:
litisconsó rcio e cumulaçã o (nã o sã o figuras exclusivas do Contencioso Administrativo). A
diferença está em que o litisconsó rcio permite que, na parte ativa, haja mais de um autor
ou, na parte passiva, haja mais de um réu ou, na parte ativa, existam vá rios autores e, na
parte passiva, vá rios réus. No entanto, temos que ter em conta que, no litisconsó rcio, há
apenas a formulaçã o de um pedido. Conquanto, na cumulaçã o, há pluralidade de partes, tal
como no litisconsó rcio mas também há a pluralidade de pedidos. Assim, podemos dizer
que esta figura vai de encontro com o princípio da economia processual e faz com que haja
uma maior rapidez por parte do tribunal na decisã o dado que, os processos, estã o juntos
numa mesma açã o.
Nota: Ao contrá rio do litisconsó rcio , que supõ e a co-titularidade da mesma relaçã o
jurídica, a coligaçã o permite, assim, que vá rios autores desencadeiem um ú nico processo
contra um ou vá rios demandados (coligaçã o de autores) ou que um autor desencadeie um
ú nico processo conjuntamente contra vá rios demandados (coligaçã o de réus), por pedidos
diferentes com fundamento em diferentes relaçõ es jurídicas intercorrentes entre uns e
outros (a coligaçã o é admitida em termos gerais pelo art 12º, aplicá vel a todo âmbito do
processo administrativo).
O interesse pessoal é dos lesados – será que uma associação volunera o interesse pessoal de
cada um dos 120 lesados?
HIPÓTESE Nº6
A pretende impugnar o Regulamento de Avaliação da FDUL. propõe, para o efeito, ação contra
o Conselho pedagógico da faculdade, órgão responsável pela aprovação do referido
regulamento. Fez bem?
A legitimidade processual consiste num pressuposto processual, cuja titularidade se
afere por referência à s alegaçõ es produzidas pelo autor: possui, assim, legitimidade ativa
quem alegue a titularidade de uma situaçã o cuja conexã o com o objeto da açã o proposta o
apresente como em condiçõ es de nela figurar como autor e possuir legitimidade passiva
quem deve ser demandado na açã o, com o objeto configurado pelo autor.
Deste modo, pretendendo A impugnar o Regulamento, propondo para o efeito açã o contra
o Conselho Pedagó gico da faculdade, importa averiguar se o pressuposto relativo à
legitimidade processual passiva se encontra verificado.
O pressuposto processual da legitimidade nã o é um pressuposto que se reporta, em
abstrato, à pessoa do autor ou do demandado, mas um pressuposto cujo preenchimento se
afere em funçã o da concreta relaçã o que alegadamente se estabelece entre essas pessoas e
uma açã o com um objeto determinado.
Quanto à legitimidade passiva, o regime aplicá vel à mesma consta essencialmente do
artigo 10º, do CPTA. Nos termos do seu nº1, a legitimidade passiva corresponde à
contraparte na relaçã o material controvertida, tal como esta é configurada pelo autor,
devendo, portanto, o autor demandar em juízo quem alegadamente estiver colocado, no
âmbito dessa relaçã o, em posiçã o contraposta à sua.
No entanto, tal como vimos acontecer em sede de legitimidade ativa, a este critério tendem
a sobrepor-se soluçõ es de alargamento da legitimidade. Importa, assim, atender ao nº2 do
artigo 19º, segundo o qual, nos processos intentados contra entidades pú blicas, parte
demandada é a pessoa coletiva de direito pú blico. Ou seja, ainda que o Conselho
Pedagó gico da Faculdade seja titular da legitimidade passiva, nos termos em que a relaçã o
material controvertida é configurada pelo autor, tratando-se de um processo intentado
contra entidade pú blica, a legitimidade passiva corresponde à pessoa coletiva, isto é, à
Faculdade de Direito, e nã o a um ó rgã o que dela faça parte (Conselho Pedagó gico).
No entanto, ainda que A tenha configurado o Conselho Pedagó gico enquanto titular da
legitimidade passiva, o artigo 10º, nº4 estabelece que, ainda assim, nã o obsta a que se
considere regularmente proposta a açã o quando na petiçã o tenha sido indicado como
parte demandada um ó rgã o pertencente à pessoa coletiva de Direito Pú blico,
considerando-se citada a pessoa coletiva, nos termos do nº5.
Artigo 135.º, CPA - Para efeitos do disposto no presente Có digo, consideram-se regulamentos
administrativos as normas jurídicas gerais e abstratas que, no exercício de poderes jurídico-
administrativos, visem produzir efeitos jurídicos externos.
HIPÓTESE Nº7
A CIMA – Centro de Inspeção Mecânica em Automóveis, SA –, propôs junto do Tribunal
Administrativo de Círculo de Lisboa uma ação de responsabilidade civil extracontratual contra
o Ministério do Planeamento e das Infraestruturas, alegando ser ilícita a falta de aprovação de
uma Portaria que habilite, como previsto na lei, a realização de inspeções periódicas a
motociclos. Consultado sobre o caso, um reputado especialista comenta: a ação deveria ter sido
proposta contra o estado, não contra o Ministério do Planeamento e das Infraestruturas, o que
significa também que deveria ter sido citado, para assumir a respetiva representação em juízo,
o Ministério Público. Concorda?
No presente caso temos um pedido de responsabilidade civil contra o Ministério do
Planeamento e das Infraestruturas.
Para que alguém esteja em posiçã o de figurar como parte num processo administrativo
tem de ser pessoa ou entidade que, em si mesma, se apresenta dotada de personalidade e
capacidade judiciá ria; apresentando-se em posiçã o de poder figurar como parte na
concreta açã o em presença por estabelecer com o objeto da açã o uma conexã o que
satisfaça os requisitos legalmente exigidos para ser reconhecida como parte legítima.
Nos termos do art 8º-A, CPTA a personalidade e a capacidade judiciá ria consistem na
suscetibilidade de ser parte e na de estar por si em juízo, respetivamente. O nº3 deste
artigo diz-nos que os ministérios têm personalidade judiciá ria correspondente à
legitimidade ativa e passiva que lhes é conferida pelo Có digo.
A legitimidade processual nã o se reporta à pessoa do autor ou do demandado mas afere-se
da concreta relaçã o que (alegadamente) se estabelece entre as partes e uma concreta açã o,
com um objeto determinado.
Em causa está a legitimidade passiva do Ministério do Planeamento e Infraestruturas
para ser demandado na açã o. A legitimidade passiva é tema do art 10º, CPTA. Sendo o
Ministério uma entidade pú blica (Ministérios sã o departamentos do Governo – ó rgã o do
Estado - organizados em funçã o da matéria) a regra é de que a legitimidade passiva
corresponde à pessoa coletiva de direito pú blico, que neste caso é o Estado, no entanto,
como entende o professor Vasco Pereira da Silva, esta regra tem muitas exceçõ es que já nã o
vale como regra.
O art 10º/2 tem exceçã o quanto aos Ministérios, podendo estes ter legitimidade passiva.
Mais ainda se acrescenta no nú mero 4 ainda deste artigo. Este preceito permite concluir
que só existe ilegitimidade passiva quando se cita um ó rgã o que nã o pertença à pessoa
coletiva, ao Ministério ou à Secretaria Regional no qual se integra o ó rgã o ao qual a açã o
ou omissã o é imputá vel – isto resulta também do art 78º/3, CPTA (o professor Mário
Aroso de Almeida considera que onde se lê “Ministérios” se podem incluir outras
realidades como o Conselho de Ministros, a PCM, Ministros sem Ministérios, Primeiro
Ministro e etc).
O art 10º/4 salvaguarda o Autor.
Segundo o professor VPS a Pessoa Coletiva Pú blica nã o está em condiçõ es de poder
continuar a funcionar como ú nico sujeito de imputaçã o de condutas administrativas em
razã o da complexidade da organizaçã o administrativa e da natureza multifacetada das
modernas relaçõ es administrativas multilaterais
Conclui-se assim que a primeira parte do comentário do especialista não está
correto, podendo o Ministério ser demandado, por ter legitimidade passiva.
Assim, na atual versão dos dispositivos dos artigos 11º e 25º do CPTA resulta que a presentação
do ESTADO nas ações em que este seja parte demandada (por a ele lhe pertencer a legitimidade
passiva nos termos do artigo 10º do CPTA) fica agora apenas garantida a possibilidade da sua
representação em juízo ser assegurada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO, e não já, como acontecia
anteriormente, que essa representação a si lhe pertença.
Simultaneamente, a citação do ESTADO deixou de se operar «na pessoa do magistrado do
Ministério Público» na usual fórmula utilizada, e passou a ser dirigida ao Centro de
Competências Jurídicas do Estado, serviço central da administração direta do Estado, dotado de
autonomia administrativa, que se integra na Presidência do Conselho de Ministros e está sujeito
ao poder de direção do Primeiro-Ministro ou do membro do Governo em quem aquele o
delegar.
Ω Cumpre, então, perceber de que representação se trata e se a citação dirigida ao Centro
de Competências Jurídicas do Estado, nos termos do nos termos atualmente previstos no artigo
25º nº 4 do CPTA (e não ao MINISTÉRIO PÚBLICO, como acontecia na solução legal
anterior), fere ou não o artigo 219º nº 1 da CRP.
Na representação, um sujeito atua em nome de outrem, realizando atos jurídicos em seu nome,
quer a representação seja legal — por imposição da lei —, quer seja voluntária — por
manifestação de vontade do representado. Por sua vez, a representação orgânica ocorre quando
esta é assumida por um órgão do representado.
Sabendo-se que a citação é o ato pelo qual se dá conhecimento ao réu de que foi proposta contra
ele determinada ação e se chama ao processo para se defender (cfr. artigo 219º nº 1 do CPC, ex
vi do artigo 1º do CPTA). A resposta à segunda pergunta tem que ser negativa.
A questão é a de saber se ocorre nulidade (falta) de citação (enquanto nulidade processual), se
ao abrigo do artigo 25º nº 4 do CPTA, na sua versão atual, a citação for dirigida ao CENTRO
DE COMPETÊNCIAS JURÍDICAS DO ESTADO, por dever ser recusada a aplicação dessa
norma com fundamento em inconstitucionalidade. E se, assim, deve ser anulado todo o
processado, e determinada a citação do ESTADO através do MINISTÉRIO PÚBLICO.
Nos termos do artigo 188º nº 1 alínea b) do CPC, aplicável ex vi do artigo 1º do CPTA, há falta
de citação “…quando tenha havido erro de identidade do citado”.
É sabido que o conceito «ESTADO» tem várias aceções. Mas neste âmbito, a que essencial
releva é a pessoa coletiva ESTADO, em especial na sua vertente Estado-administração,
fazendo-o distinguir-se das outras pessoas coletivas públicas dotadas de personalidade jurídica
(e, por conseguinte, também, judiciária).
Sendo que a qualificação do ESTADO como pessoa coletiva decorre da própria Constituição,
designadamente dos seus artigos 3º nº3, 5º nº 3, 18º nº 1, 22º, 27º nº 5, 38º nº 2, 41º nº 4, 204º nº
1 alínea b) e nº 2, 269º nºs 1 e 2, 271º nºs 1 e 4 ou 276º nº 4.
Na versão anterior do CPTA o chamamento do ESTADO à ação sobre contrato ou relativa a
responsabilidade civil que contra ele tivesse sido instaurada fazia-se através da citação dirigida
ao MINISTÉRIO PÚBLICO, que era também, quem atuava na ação em sua representação legal.
Como refere Alexandra Leitão, tratava-se aí de uma representação legal e não propriamente,
como representação orgânica, como vinha sendo entendido em alguma doutrina “(…) enquanto
a representação orgânica decorre da própria natureza das coisas — é, por assim dizer, lógica e
ontológica —, a representação legal decorre de uma opção do legislador. Por outras palavras:
seria possível optar-se por não cometer ao Ministério Público a representação em juízo do
Estado, mas seria impossível determinar que a pessoa coletiva deixasse de ser representada por
um ou mais dos seus órgãos, pela simples razão que as pessoas coletivas são entidades
imateriais que carecem sempre de um ou mais órgão(s) e do(s) seu(s) titular(es) para manifestar
a sua vontade. Este é o cerne da distinção entre representação orgânica e legal.”
Mas será que o artigo 219º nº 1 da CRP ao determinar, sob a epígrafe “Funções e Estatuto” que
“ao Ministério Público compete representar o Estado”, lhe reserva a ele a representação legal do
ESTADO nessas mesmas ações?
As justificações para a solução infra-constitucional adoptada pela Lei n.º 118/2019, de 17 de
setembro podem ser muitas. Mas uma delas advirá, com certeza, da circunstância aos dois meios
processuais principais - a «ação administrativa comum» e a «ação administrativa especial»,
cujos respetivos âmbitos e regras processuais eram distintas (cfr. artigos 35º, 37º, 42º e 46º do
CPTA, na versão original) – com a revisão operada pelo DL. nº 214-G/2015, ter resultado o
abandono daquele modelo dualista de meios processuais principais não urgentes, através do
estabelecimento de uma única forma de processo declarativo não urgente, a «ação
administrativa», na qual passaram a poder ser cumulados pedidos que anteriormente pertenciam
a cada uma daquelas distintas formas de processo. Daí emergindo múltiplas dificuldades ao
nível da determinação da legitimidade passiva, resultando, não raras vezes, em decisões de
forma, com absolvição da instância, e sem possibilidade de aproveitamento do ato de citação,
nem da respetiva interrupção da prescrição ou da caducidade, a verificar-se. Podendo, até, raiar
em situações de denegação de justiça, com prejuízo dos direitos e interesses legalmente
protegidos dos cidadãos.
Assim se explicará que a citação deva ser dirigida uma única citação ao Centro de
Competências Jurídicas do Estado quando numa na mesma ação sejam demandados diversos
ministérios, quando numa ação seja demandado o ESTADO, ou quando na mesma ação sejam
demandados E com essa citação, que o ESTADO (e/ou os Ministérios que sejam também
demandados) é chamado à ação, e a instância fixada, nos termos do artigo 260º do CPC, ex vi
do artigo 1º do CPTA (sem prejuízo das eventuais modificações que possam vir a ocorrer nos
termos que processualmente sejam admitidos) diversos ministérios e o ESTADO.
Desde logo, segundo GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA pode dizer-se que "A
representação do Estado significa, em termos jurídico-constitucionais e simbólicos que lhe
incumbe a tarefa de defesa dos interesses da comunidade (isto é, da República)” Comenta
SÉRVULO CORREIA o mesmo artigo 219º CRP da seguinte forma: "A enunciação de uma
competência de representação é extremamente genérica. O texto não diz quais as matérias a que
respeitará a representação, nem quais as circunstâncias- nomeadamente os tipos de processo- em
que esta se desenvolverá.".
Problema da inconstitucionalidade do art 11º/1, in fine, conjugado com o 25º/4, CRP. Quer o art
219º/1, CRP, quer o estatuto do MP, conferem ao MP a competência de representação do Estado
em juízo. Na verdade, gera-se uma situação de inconstitucionalidade material, que poderá dar
azo a não citação do representante em juízo. O prof MAA tem feito uma interpretação conforme
ao art 25º/4, CRP, no sentido de não se excluir a citação do MP (cita-se o MP e o juizado). Mas
não é isso que consta desse artigo.
Entendimento conduzido ao art 25º/4 – o art 219º/1 apenas consagra uma representação
simbólica do MP, ou seja, uma representação naqueles processos como a família, em que o
Estado não é pago.
HIPÓTESE Nº8
B, SA, empresa ordenada em terceiro lugar num concurso público promovido pela Secretaria
geral do Ministério da economia e nos termos do qual foi adjudicada a proposta de C, Lda e
ordenada em segundo lugar a proposta de D, Lda, propõe ação de contencioso pré-contratual
destinada a impugnar o ato adjudicatório praticado. Demanda, para o efeito, apenas o
Estado português e C.
Quid iuris?
De acordo com a remissã o do art 97º/1/c), CPTA para o capítulo II e III, nos termos
do art 100º/1, CPTA, tem legitimidade para propor açõ es de contencioso pré-contratual
qualquer das pessoas ou entidades referidas no art 55º e 68º/1, CPTA.
Assim, o regime especial do contencioso pré-contratual urgente compreende as açõ es de
impugnaçã o relativas à formaçã o de contratos de empreitada de obras pú blicas, de
concessã o de obras pú blicas, de concessã o de serviços pú blicos, de aquisiçã o ou locaçã o de
bens mó veis e de aquisiçã o de serviços. O nº2 acrescenta que sã o considerados atos
administrativos os atos praticados por quaisquer entidades adjudicantes ao abrigo das
regras de contrataçã o pú blica.
Sendo a B, SA uma sociedade anó nima e, portanto, uma empresa privada, nos termos do
art 55º/1/a), CPTA, tem legitimidade ativa para intentar a açã o.
Relativamente a B só ter demandado o Estado português e C, ficando em falta D,
primeiramente há que referir que estamos perante um dos casos paradigmá ticos de
litisconsó rcio necessá rio passivo (pluralidade subjetiva subsidiá ria do lado passivo), uma
vez que existe ú nica relaçã o material (como se só existisse um ú nico demandado).
Contudo, os pedidos nã o foram formulados contra todas as partes (falta D) – subsiste uma
dú vida razoá vel e fundada sobre a titularidade da relaçã o material controvertida,
permitindo-se que o autor deduza, subsidiariamente, contra réu diverso do que é
demandado a título principal (arts 9º, 10º e 39º, CPTA).
A figura dos contrainteressados decorre do disposto nos arts 57º e 68º/2, CPTA,
estabelecendo que nos processos de impugnaçã o de atos administrativos, além da
entidade que praticou ou que se pretende que pratique o ato em causa, também devem ser
demandados os titulares de interesses contrapostos aos do autor.
Trata-se de situaçõ es em que a açã o é proposta contra a entidade que
praticou/omitiu/recusou o ato administrativo, mas em que também há sujeitos privados
envolvidos no litígio, já que os seus interesses coincidem com os da Administraçã o, ou
entã o podem ser diretamente afetados na sua consistência jurídica com a procedência da
açã o.
A falta de citaçã o desencadeia ilegitimidade passiva, que obsta ao conhecimento da
causa (art 89º/4/e), CPTA) e inoponibilidade da decisã o judicial que porventura venha a
ser proferida à revelia dos contrainteressados (art 155º/2, CPTA).
a) – Empresas privadas
c) – Associações privadas
HIPÓTESE Nº9
E, residente e eleitor em Lisboa, pretende impugnar a deliberação da Câmara Municipal através
da qual se atribuiu a F um subsídio tendente à publicação da tese de mestrado deste último,
simplesmente por considerar que a mesma não possui relevo científico digno do patrocínio do
Município, sendo por isso ilegal. Poderá fazê-lo?
O art 55º/2, CPTA prevê a açã o popular corretiva, que pode ser exercida por qualquer
eleitor, no gozo dos seus direitos civis e políticos, para a impugnaçã o de deliberaçõ es dos
ó rgã os autá rquicos na circunscriçã o em que se encontre recenseado. Diferentemente do
direito de açã o popular, previsto no art 52º, CRP e na Lei n.º 83/95, de 31 de maio, que
visa a tutela de interesses difusos, o direito de açã o popular corretiva constitui uma
faculdade emergente de um status político, de cidadania, visando o controlo objetivo da
legalidade dos atos praticados pelos ó rgã os das autarquias locais. Para utilizar a açã o
popular corretiva basta invocar a qualidade de eleitor, recenseado na circunscriçã o em
causa. Resulta do disposto no n.º 2 do artigo 55.º do CPTA que a legitimidade conferida
pela açã o popular corretiva diz respeito à propositura de açõ es administrativas
impugnató rias. A utilizaçã o da açã o popular corretiva pode incidir também sobre os atos
praticados pelos ó rgã os «das entidades instituídas por autarquias locais ou que destas
dependam» (parte final do n.º 2 do artigo 55.º do CPTA).
O acó rdã o do TCA 16-02-2018 refere que o nº 2 do mencionado artigo 55º do CPTA, prevê,
pois, a acçã o popular correctiva exercitá vel por qualquer eleitor, no gozo dos seus direitos
civis e políticos, para a impugnaçã o das decisõ es e deliberaçõ es adoptadas por ó rgã os das
autarquias locais sediadas na circunscriçã o onde se encontre recenseado.
Lê-se, e aqui se acolhe totalmente, em Má rio Aroso de Almeida et al, op. cit. pá g. 387-388:
«Trata-se de um meio de fiscalizaçã o cívica da gestã o das autarquias, que visa unicamente
as situaçõ es ilegais praticadas sob a forma de ato administrativo, em vista à reposiçã o da
legalidade objetiva, e que, por isso, surge enquadrada como uma modalidade de
legitimidade ativa típica da açã o impugnató ria [(468) Assim se justifica, como antes se
assinalou, que não tenha sido feita referência à acção popular corretiva na disposição geral
do artigo 9.º, ao contrário do que sucede com a acção popular destinada à defesa de
interesses difusos, tida como uma forma de legitimidade de caráter heterogéneo] (…).
Ora, no caso presente, em face do disposto no nº 2 do artigo 55º do CPTA, importa saber
se (i) estamos perante um processo impugnató rio de ato administrativo, (ii) se esse ato
consubstancia decisã o ou deliberaçã o (iii) adotada por ó rgã os de autarquia local, ou
entidades instituídas por autarquia local ou que desta dependa, (iv) sediadas na
circunscriçã o onde o autor se encontra recenseado e se (v) este (o autor) é um eleitor no
gozo dos seus direitos civis e políticos.
Neste caso prá tico, o requerente nã o alega nenhuma ilegalidade quanto à deliberaçã o da
Câ mara Municipal, apenas alega para tal que a publicação da tese de mestrado deste
último, simplesmente por considerar que a mesma não possui relevo científico digno
do patrocínio do Município, pois como refere o PROF. SÉRVULO CORREIA, esta é uma
ação popular de controlo jurídico objetivo, ou uma ação de reinstaurarão da
legalidade objetiva.
HIPÓTESE Nº10
G, empresa do setor da construção, pretende anular o contrato de empreitada celebrado entre a
OA e a empresa F, alegando que o mesmo não corresponde, sob o ponto de vista dos trabalhos a
realizar, aos previstos no Caderno de Encargos. E se se tratasse de um contrato de prestação de
serviços informáticos celebrado entre a OA e uma empresa do setor, e fosse H, Advogado
beneficiário desses serviços, a querer propor uma ação destinada a garantir a sua boa execução?
A legitimidade processual consiste num pressuposto processual, cuja titularidade se
afere por referência à s alegaçõ es produzidas pelo autor: possui, assim, legitimidade ativa
quem alegue a titularidade de uma situaçã o cuja conexã o com o objeto da açã o proposta o
apresente como em condiçõ es de nela figurar como autor e possuir legitimidade passiva
quem deve ser demandado na açã o, com o objeto configurado pelo autor.
Deste modo, pretendendo G anular o contrato celebrado entre a Ordem dos Advogados e a
empresa F., importa averiguar se o pressuposto relativo à legitimidade processual ativa e
passiva se encontra verificado.
No que toca ao regime que o CPTA estabelece a respeito da legitimidade ativa, este nã o
se esgota no art 9º. O nº1 desse mesmo artigo estabelece um critério que é derrogado por
um amplo conjunto de soluçõ es especiais que o CPTA estabelece em funçã o de diversos
tipos especiais de pretensõ es (55º, 57º, 68º, 73º e 77º-A), tendo assim este artigo uma
aplicabilidade residual.
Uma dessas soluçõ es especiais é a que se encontra prevista no art 77º-A, CPTA, que
regula a legitimidade no que toca à propositura da alguns dos tipos de açõ es relativas a
contratos, prevendo, nesse domínio, um conjunto de situaçõ es de extensã o da legitimidade
processual a quem nã o alegue ser parte na relaçã o contratual em causa.
Assim, nos termos do seu nº1, para além das partes na relaçã o contratual (alínea a), as
açõ es dirigidas à invalidaçã o dos contratos (seria o caso), também podem ser propostas
pelas pessoas e entidades enunciadas.
No caso, uma vez que nã o sabemos se G participou ou nã o no procedimento que precedeu
a celebraçã o do contrato, tendo em conta que o mesmo alega que o contrato celebrado nã o
corresponde, sob o ponto de vista dos trabalhos a realizar, aos previstos no Caderno de
Encargos (compreende as cláusulas a incluir no contrato a celebrar), importa abrir 2
hipó teses:
HIPÓTESE Nº11
A Assembleia Municipal de Sintra pretende impugnar uma deliberação da Câmara Municipal de
Sintra, por entender que este último órgão, ao deliberar sobre alteração da toponímia de diversas
ruas da cidade, decidiu sobre matérias para as quais não dispunha de qualquer competência.
Pode fazê-lo?
HIPÓTESE Nº12 – AÇÃO ADMINISTRATIVA: IMPUGNAÇÃO DE ATOS
ADMINISTRATIVOS
Em 11 de setembro de 2019, foi publicado no Diário da República, um DL através do qual o
Governo determinou que todos os atuais funcionários públicos do setor dos transportes da
área metropolitana de Lisboa ficaram sujeitos a um horário semanal de 50h em vez das atuais
40h semanais, medida justificada em função do objetivo de garantir a melhoria da prestação
de serviços de transportes na região.
Perante isto, o Sindicato dos Maquinistas dos Caminhos de Ferro decidiu-se a impugnar
aquele que considerava ser um ato administrativo totalmente ilegítimo, violador dos direitos
dos trabalhadores no artigo 59º, da Constituição, do princípio da igualdade, do princípio
da proporcionalidade, do direito à audiência prévia – uma vez que nenhum Sindicato tinha
sido ouvido antes ou durante a adoção desta medida – e do dever de fundamentação.
Sob a forma de ação administrativa de impugnação de ato administrativo contra o Primeiro-
Ministro, a petição inicial deu entrada no Tribunal Central Administrativo no dia 17 de
dezembro de 2019.
Na contestação que apresentou 40 dias após ter sido citado, o PM invocou:
i) Falta de legitimidade passiva do Sindicato, por não representar todos os
funcionários públicos do setor dos transportes da área metropolitana de Lisboa, mas
apenas os maquinistas da CP sindicalizados;
ii) A ilegitimidade passiva do PM para esta ação;
iii) A incompetência do Tribunal Central administrativo Sul;
iv) A impropriedade do meio processual escolhido, tendo em conta que o que estava
em causa naquele DL era uma norma geral e abstrata, não qualquer ato
administrativo.
Já após a produção de alegações por ambas as partes, o Sindicato dos Trabalhadores da Carris
veio a constituir-se como assistente no processo.
No acórdão, o Tribunal Central Administrativo Sul, que não houvera proferido despacho
saneador, acabou por absolver o réu da instância por intempestividade da ação.
Quid iuris?
Comecei por verificar os argumentos invocados pelo Primeiro-Ministro, uma vez que
considero que depois se torna mais fá cil de perceber se a contestaçã o foi ou nã o
apresentada dentro do prazo.
Quanto ao 1ºArgumento (falta de legitimidade passiva do sindicato, por nã o representar
todos os funcioná rios pú blicos do setor dos transportes da á rea metropolitana de Lisboa)
Um dos pressupostos para que uma pessoa/entidade esteja em posiçã o de figurar
como parte num processo administrativo é a sua configuraçã o como parte na açã o
concreta, devido ao preenchimento dos pressupostos da legitimidade processual.
De acordo com o disposto nos arts 55º e 56º, CRP e 440º/1 e 442º/1/a), CT, o
Sindicato dos Maquinistas é uma pessoa coletiva de tipo associativo de direito privado,
que promove a defesa dos interesses dos trabalhadores por si representados. Nos termos
dos art 444º/1, CT e 55º/2/b), CRP, vigora a liberdade de inscriçã o/associaçã o, isto é, os
trabalhadores nã o sã o obrigados a filiar-se nos sindicatos, pelo que nã o teriam de
representar todos os funcioná rios pú blicos do setor dos transportes da á rea metropolitana
de Lisboa.
Com efeito, conforme previsto no art 55º/1/c), CPTA, o Sindicato dos Maquinistas têm
legitimidade ativa, por estarem a defender os direitos e interesses dos trabalhadores
sindicalizados. A acrescer a isto, nos termos do art 8º-A/2, CPTA, os sindicatos têm personalidade e
capacidade judiciá rias.
Nos termos do art 11º/1, in fine, CPTA, nos tribunais administrativos é obrigató ria a constituiçã o de
mandatá rio, podendo as entidades pú blicas fazer-se patrocinar em todos os processos por advogado,
solicitador ou licenciado em Direito ou em solicitadoria com funçõ es de apoio jurídico, sem prejuízo da
possibilidade de representaçã o do Estado pelo MP.
Segundo o professor Má rio Aroso de Almeida, atendendo ao estatuto de magistratura autó noma que
corresponde ao MP na nossa ordem constitucional, os seus agentes nã o sã o, nem têm de ser os advogados do
Estado. No seu entendimento, deveria ser criado um corpo pró prio de advogados do Estado, submetido a
estatuto disciplinar e deontoló gico similar ao dos advogados, com a exclusiva funçã o de exercer o patrocínio
do Estado.
O ato visa produzir efeitos jurídicos externos (uma vez que afeta direitos e interesses dos
funcioná rios pú blicos do setor dos transportes do metropolitano de Lisboa) e concretos
(está em causa a regulaçã o do horá rio semanal dos funcioná rios).
O que se questiona é se efetivamente estamos perante um ato individual, sendo
reconduzido a um ato administrativo, ou geral. O DL é aplicá vel a “todos os atuais
funcionários públicos do setor dos transportes da área metropolitana de Lisboa ”, que nos
parece ser um conceito indeterminá vel, já que nã o conseguimos aferir os sujeitos
abrangidos pelo DL – tanto pode abranger os trabalhadores que exercem funçõ es no
presente, como no futuro.
Nã o estaríamos entã o perante um ato administrativo, pelo que a escolha do meio
processual foi impró pria (argumento do PM procede), devendo, nos termos do art 72º/1,
CPTA, optar-se pela impugnaçã o de normas.
Açã o de impugnaçã o de normas (PRAZO) – nos termos do art 74º/1, CPTA, a declaraçã o
de ilegalidade de normas poderia ser pedida a todo o tempo; sendo que o nº2 especifica
que nos casos de ilegalidade formal ou procedimental da qual nã o resulte
inconstitucionalidade, só pode ser pedida no prazo de 6 meses, contado da data de
publicaçã o.
Caso fosse Ato Administrativo:
Art 58º/1 – atos anulá veis: 1 ano (promovida pelo MP); 3 meses (restantes casos).
Por fim, quanto ao facto de o Tribunal Central Administrativo Sul, não proferir despacho
saneador e absolver o réu da instância por intempestividade da ação:
O despacho saneador é proferido quando se deva conhecer as exceçõ es dilató rias e
nulidades processuais que tenham sido suscitadas pelas partes, ou que, em face dos
elementos constantes do autor, o juiz deva apreciar oficiosamente (art 88º/1/a), CPTA).
No fundo, só há lugar a prolaçã o de despacho saneador quando seja necessá rio tomar uma
decisã o, de forma ou de mérito, destinada a formar caso julgado formal em relaçã o à s
questõ es prévias suscitadas ou, sendo caso disso, caso julgado material em relaçã o ao
mérito da causa, no todo em parte (88º/4, CPTA).
Neste caso, o tribunal absolveu o réu da instâ ncia por intempestividade da açã o – esta, nos
termos do art 89º/4/k), CPTA, constitui uma exceçã o dilató ria, dando lugar à absolviçã o
da instâ ncia, como resulta do art 89º/2, 2ªparte, CC.
Com base no referido no nº2 do art 88º, CPTA, as questõ es prévias da alínea a) que nã o
tenham sido apreciadas no despacho saneador (como era o caso da intempestividade da
açã o), nã o poderiam ser suscitadas nem decididas em momento posterior do processo.
HIPÓTESE Nº13
a) INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO | ART. 85 CPTA
Segundo GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA "O Ministério Público é um dos
órgãos constitucionais integrados na organização dos tribunais que mais dúvida oferece
quanto à sua posição constitucional. Tendo em conta a sua evolução histórica (primeiro,
representante do rei junto da autoridade judiciária, depois, órgão dos tribunais dependente do
Governo, e, por último, magistrados independentes e autónomos) é seguro afirmar que o
paradigma de Ministério Público acolhido pela Constituição de 1976 é o de um órgão da
justiça independente e autónomo, subtraído à dependência do poder executivo, e erguido à
categoria de magistratura, com garantias próprias aproximadas das dos juízes."
Assim, a intervenção do Ministério Público na discussão de julgamento foi eliminada, mas a sua
função como auxiliar do tribunal continua a assumir alguma relevância, designadamente nos
seguintes momentos: pode pronunciar-se sobre o mérito da causa, em defesa dos direitos
fundamentais dos cidadãos, de interesses públicos especialmente relevantes ou de algum dos
valores e bens referidos no nº 2 do artigo 9º; nos processos impugnatórios, pode invocar
causas de invalidade diferentes das que tenham sido arguidas na petição, assim como
solicitar a realização de diligências instrutórias (nos 2 e 3 do artigo 85º CPTA) ; e
pronunciar-se em sede de recurso quando não tenha sido parte na ação (artigo 146º/1 CPTA).
Para MÁRIO AROSO DE ALMEIDA a intervenção do artigo 85º "...visa contribuir para
o melhor esclarecimento dos factos ou a melhor aplicação do direito...".
Intervenção em processos intentados por outros sujeitos processuais:
Ao Ministério Público cabe também coadjuvar o tribunal na realização do Direito; não
comparticipa no poder judicial porque não lhe compete julgar mas age de forma tão imparcial
como o juiz, procurando que o desenvolvimento do processo respeite os dispositivos legais.
Pretende-se, assim, a satisfação do interesse público da paz jurídica e de interesses públicos
conexos, como a qualidade e eficácia da decisão.
Esta intervenção está prevista no artigo 85º do CPTA, estabelecendo-se que é fornecida cópia da
petição inicial ao Ministério Público aquando da citação dos demandados para que se possa
pronunciar sobre o mérito da causa, em defesa dos interesses fundamentais dos cidadãos, de
interesses públicos especialmente relevantes ou de algum dos valores ou bens referidos no
artigo 9º/2 CPTA. Nos processos impugnatórios é dada a possibilidade ao Ministério Público de
invocar causas de invalidade diversas das que tenham sido arguidas pelo autor e solicitar a
realização de diligências instrutórias para a respetiva prova.
Esta possibilidade de emitir parecer sobre o mérito da causa existe ainda em sede de recurso,
como presente no artigo 146º CPTA, estando, também neste caso, assegurado o direito de
resposta às partes, que o devem exercer no prazo de 10 dias, nos termos do número segundo do
mesmo artigo.
Está função é, assim, de extrema importância uma vez que dá um lugar de destaque ao
Ministério Público enquanto guardião da legalidade e da justiça, pois que, ainda que não
impugne a norma ou o acto administrativo, que pode não estar tout court ferida de vícios, pode
obstar a que seja aplicada e/ou interpretada de uma forma que viole o direito e/ou interesses
públicos prevalecentes.
Tal como referido anteriormente, nos termos do art 85º, CPTA sempre que num processo se
diga a forma da ação administrativa não seja intentado pelo MP no exercício da ação pública,
logo que a petição é inicial é recebida, e desse modo se considera constituída a instância (art
78º/1) , desse facto deve ser dado de imediato conhecimento ao MP através de remessa, pela
secretaria de cópia da petição, bem como os documentos que a instruem.
Discutível se o MP se poderia pronunciar, ao abrigo do art 85º, CPTA, sobre pressupostos
processuais, como a () – seria NULO.
Mesmo se se pudesse pronunciar, o art 85º/4, CPTA, os poderes de intervenção só podem
ser exercidos 30 dias após a notificação da junção do processo administrativo aos autos ou,
da apresentação da última contestação.
Artigo 28.º
Peças processuais e documentos em suporte físico
1 - Do suporte físico do processo apenas devem constar as peças, os autos e os termos
processuais que, sendo relevantes para a decisão material da causa, sejam indicados pelo juiz,
em despacho fundamentado em cada processo, considerando-se como não sendo relevantes,
designadamente:
a) Requerimentos para alteração da marcação de audiência de julgamento;
b) Despachos de expediente e respetivos atos de cumprimento, que visem atos de mera gestão
processual e respostas obtidas, tais como:
i) Despachos que ordenem a citação ou notificação das partes;
ii) Despachos de marcação de audiência de julgamento;
iii) Despachos de remessa de um processo ao Ministério Público;
Assim fica em condições de avaliar da relevância dos interesses nele alegadamente envolvidos,
para os feito de formular um primeiro, juízo sobre a atenção que o processo parece merecer.
O prazo limite para a intervenção é de 30 dias, contando, da apresentação das contestações ou
da junção do processo administrativo aos autos quando esta tenha disso (tardiamente) lugar em
momento ulterior (art 85º/4) por forma a poderem ser considerados o teor das contestações e dos
documentos relevantes (art 85º/4). E a intervenção deve ser fundamentada no facto, de no
prcoesso, estarem em causa valores e bens constitucionalmente protegidos, como a saúde
pública, o ambiente, o ordenamento do território (...).
Neste caso prático, o juiz não deveria ter emitido o despacho saneador, de imediato, deveria ter-
se socorrido ao mecanismo processual do despacho pré-saneador
O despacho pré-saneador, nos termos do artigo 87º CPTA, corresponde à decisão judicial
proferida após a fase dos articulados através da qual o tribunal visa,
i) Suprir as exceções dilatórias que possam ser sanadas (quer tenham sido suscitadas pelas
partes ou devam ser conhecidas pelo tribunal);
ii) Aperfeiçoar os articulados, concedendo às partes a possibilidade de corrigirem as
respetivas irregularidades, designadamente quanto aos requisitos legais, bem como de
corrigirem insuficiências ou imprecisões da matéria de facto alegada (matéria que está sujeita a
contraditório pela parte contrária)
iii) Ordenar a junção aos autos de documentos que permitam conhecer e apreciar a matéria
de exceções dilatórias ou, sendo possível, o mérito da ação no despacho saneador e, assim,
resolver logo a questão jurídica que originou a ação.
Diz-nos o art. 87º, CPTA que existe a possibilidade de proferir despacho pré-saneador,
destinado a providenciar pelo suprimento de exceções dilatórias ou pelo aperfeiçoamento dos
articulador (alíneas a e b). Neste caso, segundo o artigo 89º/2 e 4 alínea h) 2 - As exceções
dilatórias são de conhecimento oficioso e obstam a que o tribunal conheça do mérito da causa,
dando lugar à absolvição da instância ou à remessa do processo para outro tribunal. E, neste
caso, a falta de constituição de advogado é uma exceção dilatória.
Por outro lado, o despacho de aperfeiçoamento é destinado a convidar as partes a corrigir as
irregularidades dos articulados, o juiz fixa um prazo para o suprimento ou correção do vício,
designadamente por faltarem requisitos legais, como neste caso prático não ser sido constituído
o mandatário do autor, de que faça depender o prosseguimento da causa (art. 87/2.o). Caso o
autor não proceda ao suprimento ou correção dentro do prazo que lhe foi fixado para o efeito, há
lugar à absolvição da instância (art. 87º/7,do CPTA). Contudo, nada nos caso nos diz que foi
preterido este prazo até porque o juiz procedeu logo à absolvição da instância.
➢ Mas se o juiz determinar a absolvição da instância sem ter previamente emitido despacho de
aperfeiçoamento, o art. 87/8.o admite que:
A Absolvição da instância sem prévia emissão de despacho de aperfeiçoamento não impede o
autor de, no prazo de 15 dias contado da notificação da decisão, apresentar nova petição, com
observância das prescrições em falta, a qual se considera apresentada na data em que o tinha
sido a primeira, para efeitos da tempestividade da sua apresentação.”
Por outro lado, a aceitação do acto administrativo está prevista nos artigos 56.º do CPTA e
53.º/4 do CPA. A positivação da aceitação como um instituto próprio de Direito Administrativo
ocorreu com o Código Administrativo de 1940 e, posteriormente, com o Regulamento do
Supremo Tribunal de Justiça de 1957, onde nos artigos 827.º e 47.º se previa que não podia
recorrer quem tivesse aceitado, expressa ou tacitamente a decisão ou deliberação/acto
administrativo proferida/praticado. Estas disposições deram origem aos artigos supra citados.
A aceitação traduz-se numa manifestação de vontade do sujeito aceitante isto é, a sua atuação
consiste num comportamento com um determinado conteúdo comunicativo através do qual se
exprime uma vontade do agente que é valorada pelo Direito.
Em relação à natureza jurídica desta figura a doutrina diverge. Rui Machete considera que a
mesma se consubstancia num requisito negativo de legitimidade activa. Porém, Vasco Pereira
da Silva e Vieira de Andrade entendem, diferentemente, que a aceitação do acto não se pode
reconduzir apenas a uma questão de legitimidade. Deste modo o primeiro defende que se trata
de uma falta de interesse de agir, sendo a sua inserção no âmbito da legitimidade fruto de um
trauma de infância
Contudo, há que atender ao número 3 deste artigo 56º que refere que a execução ou acatamento
por funcionário ou agente não se considera aceitação tácita do ato executado ou acatado.
Assim, a Autora tinha de facto ainda possibilidade de impugnar este ato nos termos gerais sob o
art. 58:o/1/b) CPTA (dispondo de 3 meses). Sendo que, no relativo à notificação, o prazo de
impugnação só conta a partir da sua notificação, nos termos do art. 59/1 e 2 do CPTA.
HIPÓTESE Nº14
B., caloiro da Faculdade de Artes e Letras da Universidade de Lisboa, solicita ao Diretor uma
diminuição do valor da propina. Pronunciando-se sobre o requerimento apresentado, o Diretor
limita-se a “indeferir, por falta de fundamento legal”. B. pretende agora impugnar este ato, mas
respondem-lhe que o não poderia fazer, porque ao decidir daquele modo o Diretor teria
simplesmente confirmado a proposta que recebeu dos Serviços Académicos, pelo que, ex vi nº1,
do artigo 53º, do CPTA, o ato não seria impugnável.
Quid Iuris?
Apesar de B pretender impugnar o ato de indeferimento, considera-se que deva, na
verdade, impor açã o de condenaçã o à prá tica de atos administrativos, nos termos do art
66º/1, CPTA.
Por regra, e nos termos do art 67º/1, CPTA, o primeiro pressuposto exigido para que
possa ser deduzido um pedido de condenaçã o à prá tica de um ato administrativo é que o
interessado, ou seja, B, tenha começado por apresentar um requerimento que tenha
constituído o ó rgã o competente no dever de decidir – é esse o caso, uma vez que B
apresenta um requerimento ao Diretor, constituindo-o no dever de decidir. Assim, a
apresentaçã o de requerimento, no fundo, representa um requisito de cuja observâ ncia
depende a existência de uma situaçã o de necessidade de tutela judicial e, portanto, a
constituiçã o de um interesse em agir em juízo.
Nã o basta, no entanto, a apresentaçã o do requerimento. Estamos perante a situaçã o
prevista na alínea b) do referido artigo, sendo que acresce ao requisito já mencionado o
indeferimento por parte da Administraçã o (neste caso do Diretor) da pretensã o que
perante ela foi deduzida, através da apresentaçã o de requerimento. Assim, tendo o Diretor
indeferido a pretensã o de B, a mesma enquanto requerente nã o tem de deduzir contra
esse ato de indeferimento um pedido de anulaçã o ou de declaraçã o de nulidade, nos
termos do art 66º/2, CPTA.
Aliá s, importa atender ao previsto no art 51º/4, CPTA, segundo o qual, estando em causa
um ato de indeferimento e se quanto ao mesmo nã o tiver sido deduzido o adequado
pedido de condenaçã o à prá tica do ato, deve o tribunal convidar o autor a substituir a
petiçã o.
(Importa, no entanto, referir, que o ato de indeferimento nã o deixa de ter natureza de um
verdadeiro ato administrativo, nos termos do art 148º, CPA. Com isto, nã o é, no entanto,
colocada em causa a circunstâ ncia de a reaçã o contra os atos de indeferimento nã o passar
por um processo de anulaçã o ou de declaraçã o de nulidade, mas sim por um processo de
condenaçã o. No fundo, a eliminaçã o do ato da ordem jurídica passa para um plano
secundá rio, pois o que se discute verdadeiramente é a questã o sobre a qual o ato se
pronunciou)
O ato do reitor nã o é um ato confirmativo.
MAS,
Se considerarmos que, ainda que esteja em causa um ato interno, o mesmo se insere no
âmbito de um procedimento administrativo com relevâ ncia externa, praticado ao longo de
procedimentos que, ainda que parcialmente, definem situaçõ es jurídicas dos interessados,
tratando-se de “pré-decisõ es”, entã o estamos perante um ato administrativo.
Segundo um Acó rdã o do Tribunal Central Administrativo Norte, o ato confirmativo será ,
entã o, aquele que emanado da mesma entidade e dirigido ao mesmo destinatá rio repete,
perante os mesmos pressupostos de facto e de direito, o conteú do e a fundamentaçã o do
ato definitivo lesivo anterior, sem nada acrescentar ou retirar ao conteú do deste.
Prazo
Como estabelece o art 58º/1, CPTA, a deduçã o do pedido de declaraçã o de nulidade de
atos administrativos nã o está, de modo geral, sujeita a prazo. No entanto, este caso nã o
parece preencher nenhuma das alíneas do art 161º, CPA (talvez a d), mas ainda assim nã o
parece ser o caso).
Logo, segundo o disposto no art 58º/1/b), que é aplicá vel à impugnaçã o fundada em
anulabilidade, quando deduzida por particulares, o prazo-regra é de 3 meses (a contar a
partir do início da produçã o de efeitos do mesmo – 59º/1, CPTA.
HIPÓTESE Nº21 – CONDENAÇÃO À PRÁTICA DE ATOS ADMINISTRATIVOS
A, requereu à Câmara municipal de Lisboa uma licença de construção para finalmente
concretizar o seu sonho: construir uma marquise, ao estilo barroco, em pleno Bairro Alto.
Tendo sabido das pretensões de A, logo se juntam ao procedimento administrativo B e C,
comerciantes que detinham espaços comerciais no rés-do-chão do prédio de A e que
frontalmente se opunham àquela que julgavam ser uma “pirosice” da pior espécie.
Mais de 90 dias volvidos, e sem resposta alguma da parte da Câmara Municipal, A
pretende agora reagir, tendo sido aconselhado pelo seu Advogado a:
i) Propor uma “ação administrativa comum de condenação à prática de
comportamentos”;
ii) Contra a Câmara Municipal de Lisboa;
iii) Sendo certo que o deveria fazer no prazo de 3 meses contados desde o termo daqueles
90 dias.
Quanto ao prazo da propositura da ação (3 meses contados desde o termo dos 90 dias)
Nos termos do art 69º/1, CPTA, em situaçõ es de inércia da Administraçã o, o direito de
açã o caduca no prazo de 1 ano desde o termo do prazo legal estabelecido para a emissã o
do ato ilegalmente obtido » assim, A teria mais do que 3 meses.
Sendo este um requerimento para uma licença de construção, de acordo com o art 111º/a), RJUE:
Decorridos os prazos fixados para a prática de qualquer ato especialmente regulado no presente diploma sem
que o mesmo se mostre praticado, observa-se o seguinte:
a)Tratando-se de ato que devesse ser praticado por qualquer órgão municipal no âmbito do procedimento de
licenciamento, o interessado pode recorrer ao processo regulado no artigo 112.º.
Importa referir, ainda, que nos termos do art 68º/2, CPTA, devem ser demandados os
contrainteressados a quem a prá tica do ato pretendido possa diretamente prejudicar ou
que tenham interesse legítimo em que nã o seja praticado – neste caso, B e C.
b) Imagine que é o MP que pretende propor uma ação tendente a resolver a situação de A.
E se fosse a Assembleia Municipal de Lisboa?
Legitimidade MP
O art 68º/1/b), CPTA confere legitimidade ao MP para pedir a condenaçã o à prá tica de
atos administrativos quando o dever de praticar o ato resulte diretamente da lei (pode
reagir contra situaçõ es objetivas de inércia no cumprimento da lei).
Este poder conferido ao MP nã o depende da apresentaçã o de qualquer requerimento,
como resulta do art 67º/4/a), CPTA, nã o sendo por isso necessá rio o preenchimento dos
pressupostos do nº1 do art 67º, CPTA.
Ou seja, o MP nã o tem de apresentar um requerimento dirigido à prá tica do ato
objetivamente devido, nem de aguardar por uma resposta a esse requerimento para poder
pedir a condenaçã o da Administraçã o ao cumprimento do seu dever objetivo de agir.
Todavia, nã o se encontra preenchido o disposto no art 68º/1/b), CPTA, já que nã o está
em causa a ofensa de direitos fundamentais.
Dúbio que existisse um dever de praticar o ato devido. Além disso, dúbio a ofensa de direitos
fundamentais. Quanto muito, estaria a tutelar um interesse pessoal e direito, mas não um direito
fundamental.