Você está na página 1de 74

WBA0842_V1.

BARRAGENS DE TERRA E
ENROCAMENTO
2

Marcio Fernandes Leão

BARRAGENS DE TERRA E ENROCAMENTO


1ª edição

São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2021
3

© 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser


reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização,
por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A.

Head de Platos Soluções Educacionais S.A


Paulo de Tarso Pires de Moraes

Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Turchetti Bacan Gabiatti
Camila Braga de Oliveira Higa
Giani Vendramel de Oliveira
Gislaine Denisale Ferreira
Henrique Salustiano Silva
Mariana Gerardi Mello
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo

Coordenador
Nirse Ruscheinsky Breternitz

Revisor
Petrucio José Santos Junior

Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Carolina Yaly
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


_____________________________________________________________________________________
Leão, Marcio Fernandes
L437b Barragens de terra e enrocamento / Marcio Fernandes
Leão. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A.,
2021.
43 p.

ISBN 978-65-89965-75-6

1. Topografia. 2. Estabilidade de taludes. 3. Parâmetros


de resistência. I. Título.
CDD 711.4
____________________________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB-8 SP-010289/O

2021
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
4

BARRAGENS DE TERRA E ENROCAMENTO

SUMÁRIO

Tipologia e classificação de barragens________________________ 05

Projeto de barragens de aterro_______________________________ 21

Investigações e Monitoramento Geotécnico em barragens___ 37

Manual de Operação e Gestão de Risco_______________________ 53


5

Tipologia e classificação
de barragens
Autoria: Marcio Fernandes Leão
Leitura crítica: Petrucio Santos Junior

Objetivos
• Compreender a tipologia das barragens de aterro.

• Classificar as barragens de aterro conforme suas


características.

• Estabelecer critérios para definição da tipologia e


classificação das barragens.
6

1. Introdução

Barragens de aterro têm sido usadas desde


​​ o início dos tempos
para reter e desviar águas. Elas compreendem os tipos de terra e
enrocamento, as quais veremos com maiores detalhes mais adiante.
De maneira geral, são estruturas compactadas de maneira simples que
dependem de sua massa para resistir ao deslizamento, deformação e
percolação, sendo o tipo de barragem mais comum em todo o mundo.
Os métodos modernos construtivos, bem como a evolução dos métodos
de investigação e ensaios associados aos conceitos de mecânica do solo,
desde o final do século XIX, aumentaram muito a segurança e a vida útil
dessas estruturas. Vamos compreender a tipologia dessas barragens,
bem como as características que as definem e são importantes para que
ocorra seu dimensionamento correto.

Dentre as principais vantagens relacionadas ao método construtivo das


barragens de aterro podemos mencionar:

• A utilização ampla de materiais naturais in situ, principalmente em


regiões de clima tropical.

• Metodologia mais simples para o design dos projetos.

• Instalações e uso de equipamentos comparativamente menores,


quando comparamos com barragens de concreto.

• Requisitos de fundação menos rigorosos do que para outros tipos


de barragem, tendo em vista que a ampla base de uma barragem
de aterro distribui a carga sobre a fundação.

• Barragens de terra resistem melhor a deformações e esforços


dinâmicos se comparadas a estruturas mais rígidas, podendo ser
mais adequadas onde essas condições são identificadas.
7

Também podemos elencar algumas desvantagens quanto à adoção


dessas soluções de barragens de aterro, como:

• Uma barragem de terra é mais susceptível a problemas


relacionados à água, havendo danos ou mesmo destruição caso
a água flua sob ela, sobre ou contra ela. Assim, um vertedouro
e uma proteção adequada a montante são essenciais para que
qualquer barragem de aterro possa garantir a estabilidade em
função das etapas de vida do projeto (construção, primeiro
enchimento, operação e rebaixamento rápido do nível d’água).

• Barragens exigem projetos e a construção de vertedouros


adequados, sendo geralmente a parte tecnicamente mais difícil
de qualquer projeto de construção de barragem. Assim, os
vertedouros são posicionados nas ombreiras, tendo em vista que
se posicionados na parte central da barragem, igual em barragens
de concreto, haveria necessidade de reforço da fundação.

• Se o aterro da barragem não for compactado adequadamente


durante a construção, a barragem oferecerá integridade estrutural
fraca, apresentando possíveis caminhos para infiltração e fluxo
preferencial.

• Barragens de terra requerem manutenção contínua para evitar


erosão, crescimento de árvores, subsidência, ação contra insetos e
infiltrações, entre outras intercorrências.

Historicamente, as primeiras barragens de terra foram construídas


com base na disposição de materiais naturais, construindo um sólido
monolito de terra composto por uma mescla de matérias, sem uma
permeabilidade conhecida ou controlada, buscando reter a água.
Quando construídos corretamente, esses aterros homogêneos se
mostraram baratos e tecnicamente confiáveis.
8

Entretanto, os projetos são distintos quando comparamos com as


barragens de terra que são zonadas (CRUZ, 2004). Nesse caso, as
barragens zonadas apresentam configurações distintas, como:

• Zona a montante e núcleo relativamente impermeável;

• Núcleo central ou com porção central de material altamente


impermeável (vedará efetivamente a barragem contra infiltração);
e

• Zona a jusante de material mais rochoso e grosseiro que permite


uma drenagem mais livre da estrutura. Além disso, devido ao peso
garante que o aterro resista a subpressões, facilitando a dissipação
da poropressão.

As Figuras 1A e 1B apresentam a seção esquemática de uma barragem


de terra homogênea e zonada, respectivamente.

Figura 1 – Exemplos típicos de seções transversais de barragens


de terra homogênea e zonada

(A)

(B)
Fonte: elaborada pelo autor.
9

2. Tipologia de barragens

As barragens de terra podem ser subdivididas em função de


características dos materiais utilizados, bem como dos métodos
construtivos (Figura 2). Basicamente, a maior parte do aterro é
construída em sucessivas camadas compactadas mecanicamente.

Figura 2 – Em (a), exemplo de barragem de terra. Em (b), exemplo de


barragem de enrocamento

(b)
(a)
Fonte: (a) https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Lochan_with_Earth_Dam_-_geograph.
org.uk_-_1079939.jpg e (b) https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Summersville_Dam-
27527.jpg. Acesso em: 14 jun. 2021.

O material a ser compactado é espalhado sobre o aterro já construído


em uma camada de espessura limitada. É adicionada água para que
seja obtido o teor de umidade correto. Este teor de umidade também
contribui para a pressão inicial dos poros na barragem. Os materiais
terrosos (finos) e arenosos (grosseiros) são, então, completamente
compactados e aderidos à camada anteriormente compactada por
rolos operados, por energia de compactação e peso adequados. Cabe
ressaltar que é fundamental fazer um controle tecnológico dos materiais
que estão sendo lançados e compactados no aterro para verificação
quanto ao atendimento aos projetos. A seguir são apresentados os três
tipos de barragens de terra e suas características.
10

2.1 Barragem do tipo diafragma

Na barragem do tipo diafragma, a maior parte do aterro é construída


com material permeável (areia, cascalho ou rocha) e um fino diafragma
de material impermeável, responsável pelo barramento da água. A
posição do diafragma impermeável pode ser em qualquer lugar, desde
uma pequena cobertura na face de montante até um núcleo vertical
central. O material do diafragma pode ser solo, cimento, concreto,
concreto betuminoso ou qualquer outro material impermeável à água.
Será denominada barragem do tipo diafragma somente se o fino
diafragma ou núcleo de terra tiver menos de três metros de largura ou
se sua largura em qualquer elevação for menor que a altura do aterro
acima dela. Caso contrário, a barragem é classificada como um tipo de
barragem zoneada, a qual veremos mais a seguir.

As barragens do tipo diafragma não são muito comuns, e são


construídas somente se houver escassez de material impermeável nas
proximidades.

2.2 Barragem homogênea

Uma barragem de aterro puramente homogênea é composta por um


único tipo de material, exceto pelo “rip rap” usado para proteção de
taludes. Além disso, pode ser usada uma mescla de materiais para que a
massa a ser utilizada no aterro fique com aspecto homogêneo.

O material usado em uma barragem homogênea é bastante


impermeável, buscando fornecer uma barreira hidráulica suficiente,
ou mesmo permitir que ocorra certa permeabilidade conhecida devido
ao processo de compactação. Os espaldares em ambos os lados são
mantidos razoavelmente planos para estabilidade. Para uma barragem
completamente homogênea, é inevitável que a infiltração surja no
espaldar de jusante, independentemente de sua inclinação, bem como
11

a permeabilidade do material que compõe o aterro. Essa condição é


garantida no caso de a manutenção do nível do reservatório ser mantida
por um período suficientemente grande (período operacional).

O talude de jusante será eventualmente afetado por alguma infiltração


a uma altura de aproximadamente um terço da altura da água no lago
(Figura 3). Em outras palavras, isso significa que, eventualmente, a
porção com uma altura de aproximadamente h/3 no lado de jusante
ficará completamente saturada com água, resultando em lama e
condições semelhantes a pântanos. A linha freática, que representa a
pressão zero da água, marca o topo da zona de infiltração e termina
no talude de jusante. Esta não é uma boa situação, tendo em vista
que abaixo deste nível a pressão da água é sempre positiva. Essa
condição faz com que as partículas de solo no espaldar de jusante
sejam empurradas para fora em certos pontos mais vulneráveis, devido
à pressão positiva, resultando na formação de um canal ou processo
erosivo tubular. Esse tubo ou canal pode se estender progressivamente
para o lado montante com o tempo, formando, assim, um caminho
livre para a água do lado montante para o lado jusante. Esse processo
é denominado piping ou erosão tubular, sendo muito perigosa para
uma barragem porque a água flui através desses caminhos em alta
velocidade, ou seja, com um gradiente crítico elevado.

Figura 3 – Barragem de aterro homogênea com ausência


de sistema de drenagem

Fonte: elaborada pelo autor.


12

No processo de piping, o fluxo carrega materiais do aterro de maneira


progressiva, resultando no alargamento cada vez maior do canal tubular
formado. Para sanar essa situação, um dreno de fundo de material
rochoso ou uma manta de drenagem de solo permeável pode ser
inserida no corpo da barragem homogênea, conforme mostrado nas
Figuras 4 e 5.

Figura 4 – Barragem de terra homogênea com dreno de pé

Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 5 – Barragem de terra homogênea com filtro horizontal

Fonte: elaborada pelo autor.

Ambas as ações supramencionadas permitem que a linha freática desça


até essas interfaces drenantes ou mesmo na fundação da barragem,
reduzindo ou quase eliminando a possibilidade de qualquer piping.
Diante dessas soluções, a inclinação da barragem no paramento de
jusante pode ser aumentada com a inclinação quase plana, inserindo
bermas e resultando em economias importantes ao projeto.

Seja a barragem homogênea ou homogênea modificada (com a


inserção de elementos drenantes e mesclas de solos), ambas devem
ser construídas em uma área onde o solo seja facilmente disponível,
13

mostre pouca variação na permeabilidade, ou mesmo quando as jazidas


de solo apresentem permeabilidades distintas, que exista vantagem
técnico-comercial para sua utilização, ou seja, estejam disponíveis para
explotação a um custo justificável.

Como este tipo de barramento é o mais antigo, o acúmulo de


poropressões excessivas no interior do aterro e a infiltração podem ser
grandes problemas, especialmente para um reservatório com níveis de
água elevados ou apresentando variações (flutuações) rápidas e por
longos períodos. Outro grande problema está relacionado quando as
fundações são impermeáveis.

Se a infiltração for excessiva, isso pode levar à instabilidade e eventual


falha de toda ou parte da face de jusante.

Assim, tanto uma fundação rochosa quanto uma camada drenante


de cascalho ou material semelhante ajudará a aliviar os problemas de
infiltração nas áreas a jusante de um aterro em fundações impermeáveis
(COSTA, 2012). Por exemplo, o dreno de pé rochoso deve ser coberto
por areia grossa e cascalho para evitar que materiais de aterro sejam
carreados para ele, uma situação que poderia, em última análise, reduzir
a permeabilidade do dreno de pé e causar a deformação do aterro
da barragem. Já em fundações mais permeáveis ​​(geralmente existem
onde barragens são construídas próximas a leitos de rios), a instalação
sobre uma camada drenante natural pode ter o mesmo efeito quanto a
aliviar a infiltração que uma camada construída artificialmente para esta
finalidade.

Qualquer estrutura que tenha o objetivo de reduzir a infiltração deve


apenas estar subjacente à seção a jusante da barragem e não deve se
estender para áreas do aterro que possam permitir a percolação ou a
infiltração direta de montante.
14

Geralmente, barragens homogêneas devem ter inclinações


relativamente suaves (1:3 a montante e 1:2 a jusante) como garantia
contra possível instabilidade. Um espaldar mais suave a montante,
exigido por todas as barragens de terra, permite que a seção saturada
abaixo do nível da água resista a deformações excessivas. Além disso,
o peso da água armazenada acima exerce uma força descendente
que, quando combinada com o peso da barragem, iguala ou excede o
empuxo horizontal exercido pela profundidade da água contra o aterro.
Observe que este último ponto depende da profundidade, não do
volume da água, e que o empuxo horizontal aumenta de acordo com
o quadrado da profundidade da coluna de água. Portanto, construir
barragens mais altas torna-se mais crítico, pois, por exemplo, dobrar a
profundidade da água de uma barragem de 2 m para 4 m aumentaria o
empuxo quatro vezes.

Cabe ainda ressaltar que, nos projetos de barragens homogêneas, não


deve ser permitido que os níveis da água sejam reduzidos ou elevados
rapidamente, especialmente se o material do aterro e principalmente
o espaldar de montante for impermeável. Isso ocorre porque um
rápido rebaixamento do reservatório pode levar à deformação (devido
ao desconfinamento) da face de montante ou, se o espaldar tiver
secado, um rápido aumento do nível pode levar à erosão por meio de
rachaduras e fissuras desenvolvidas em períodos longos de estiagem.
Ambos podem eventualmente resultar em erosão, perda de material e,
na pior das hipóteses, uma ruptura.

2.3 Barragem de aterro zonada

O tipo mais comum de barragem de aterro zonada é aquele em que


um núcleo central impermeável é flanqueado por zonas de materiais
consideravelmente mais permeáveis, que são os espaldares. Essas zonas
permeáveis envolvem,
​​ apoiam e protegem a zona impermeável. Em
caso de drenagem rápida (remoção rápida de água) do reservatório, a
zona permeável a montante fica esgotada de água muito rapidamente.
15

Isso evita qualquer aumento de pressão na superfície a montante,


garantindo a estabilidade em vez de ser empurrado para fora devido
à pressão da água. A zona permeável a jusante atua como um dreno
para controlar a linha de infiltração. Para um controle mais eficaz da
infiltração através de uma barragem e redução da infiltração, é bastante
desejável, na medida do possível, ter um aumento progressivo na
permeabilidade do centro para cada espaldar.

A Figura 6 mostra a posição da linha freática no momento do


enchimento inicial do reservatório, em uma posição intermediária no
tempo. Considerando o tempo operacional da barragem, em que as
condições de infiltração são estabelecidas, a linha freática encontra-se
em estado estacionário.

Figura 6 – Mudança da linha freática em uma barragem de aterro


zonada ao longo de um período

Fonte: elaborada pelo autor.

Uma barragem é considerada um aterro zonado caso a largura da


zona impermeável em qualquer elevação seja sempre maior que três
metros e maior que a altura do aterro sobre essa elevação. Barragens
de aterro zonadas resultam em economias de custo se os materiais
necessários para sua construção estiverem prontamente disponíveis
nas proximidades do local da barragem. Tal barragem, limitada pela
resistência da fundação, pode ter espaldares mais íngremes do que
barragem homogênea (SCOTT, 2011).
16

A Figura 7 mostra linhas equipotenciais, em condições de estado


estacionário em uma barragem de aterro zonada com a zona
impermeável no lado a montante. Já a Figura 8 mostra o efeito do
rebaixamento rápido e a poropressão desenvolvida na barragem acima.

Figura 7 – Linhas equipotenciais em uma barragem


de aterro zonada

Fonte: elaborada pelo autor.

O rebaixamento rápido é um período muito crítico para uma barragem


de aterro zonada porque, à medida que o nível da água diminui, a
pressão dos poros no núcleo impermeável não reage tão rápido
quanto ao espaldar de montante. Isso resulta em alta pressão no limite
das zonas permeáveis e ​​ impermeáveis ​​a montante. Esse fenômeno
pode resultar na ruptura ou instabilidade no lado a montante ou no
desenvolvimento de piping. Como o rebaixamento rápido pode resultar
em uma situação perigosa, devem ser tomadas providências durante os
estágios de projeto e construção da barragem, para que seu efeito seja
mínimo. Fornecer uma zona semipermeável entre a zona permeável e
impermeável pode ser uma solução.
17

Figura 8 – Linhas equipotenciais, apresentadas na Figura 7, sob


condições de rebaixamento rápido

Fonte: elaborada pelo autor.

Essa é uma alternativa melhor, particularmente para barragens maiores


e que permitam prontamente o uso de maquinário para a construção.
Com este tipo de barragem, os possíveis riscos de infiltração são
reduzidos ao mínimo. Em comparação com aterros homogêneos,
os custos são provavelmente mais elevados, principalmente porque
o material de terraplenagem é dividido em três categorias, ou seja:
permeável para a seção a jusante, impermeável para o núcleo e
semipermeável para a seção a montante, todas as quais devem ser
obtidasem áreas de empréstimo separadas (de preferência dentro da
área do reservatório), aumentando, assim, os custos de escavação e
movimentação.

Inclinações, no entanto, podem ser reduzidas a cerca de 1:2 a montante


e 1:1,75 a jusante (ou 1:2,25 a montante e 1:2 a jusante para locais onde
apenas material impermeável relativamente pobre está disponível), e o
material escavado na construção do núcleo pode ser utilizado no aterro,
economizando na utilização de terraplenagem.

Em alguns casos, a utilização de materiais rochosos pode ser necessária


para a estabilidade e drenagem da seção a jusante (drenos de cascalho
podem ser necessários) e a inclinação a montante preenchida por esses
materiais que, neste caso, são necessários para a proteção do espaldar
18

contra ação das ondas geradas pelo vento no reservatório. Quando


colocado corretamente, o lançamento desses materiais rochosos
pode ser um meio de proteção barato (se disponível localmente) e
eficiente, mas não deve ser usado nas extremidades de aterros e ao
longo das laterais dos vertedouros. Essas áreas de uma barragem são
extremamente sensíveis à erosão e podem precisar ser concretadas ou
protegidas por gabiões para proteção máxima.

Materiais impermeáveis ​​artificiais, como geossintéticos resistentes,


têm sido usados com
​​ sucesso em muitas partes do mundo como uma
alternativa aos núcleos de argila. Nos trópicos, entretanto, descobriu-
se que tais materiais atraem cupins e roedores; foram enterrados por
animais e não resistiram ao recalque do aterro após a construção. Da
mesma forma, o material proveniente de formigueiros e cupinzeiros,
frequentemente usado por causa de seu conteúdo relativamente alto
de argila, está perdendo a preferência por causa de seus indesejáveis ​​
constituintes orgânicos e minerais; sua variabilidade dentro de uma
pequena área e, uma vez utilizada, sua atração subsequente por cupins
(e seus predadores), são pontos negativos. É necessário cuidado no
uso de inseticidas que podem contaminar cursos de água quando
absorvidos por infiltração ou outra água.

Quando o material de núcleo adequado não estiver disponível dentro


dos limites econômicos, esse material pode ter que ser usado, mas deve
ser analisado, se possível, bem antes da escavação, e tratado ao ser
instalado.

2.4 Barragens de enrocamento

Barragens de enrocamento são aterros formados por fragmentos


de rocha de vários tamanhos para fornecer suporte e resistência a
processo erosivos oriundos da água represada. Apresentam um leito
de transição no espaldar de montante, buscando atuar como um filtro
19

coletor e suporte para o terceiro componente. Este consiste em uma


membrana (geossintético, concreto asfáltico, por exemplo) que garante
a impermeabilidade. As barragens de enrocamento provaram ser
econômicas quando existe qualquer uma das seguintes condições a
seguir:

• Abundância de rocha disponível nas proximidades do local.

• Obtenção de solos difícil ou que requer muito processamento.

• Prevalecimento de um curto período para a construção das obras.

• Condições climáticas muito úmidas que limitam o uso de


preenchimento do solo.

• Barragem que pode ser alteada no futuro.

Outro aspecto que favorece a seleção de barragens de enrocamento


é a eliminação de fatores como erosão interna e subpressões que
não conseguem se desenvolver em materiais granulares com essas
características. Um fator de grande importância para barragens de
enrocamento é que, uma vez que não há subpressões e existem as
condições para que o leito permaneça seco, os movimentos sísmicos
não podem produzir pressões ou poropressões.

Entre os tipos de barragens de enrocamento podem ser distinguidos


três tipos principais em função da existência de determinado elemento:

1. Membrana impermeabilizante de concreto armado em toda


a face do talude de montante, com a função fundamental de
impermeabilizar a barragem e prevenir a infiltração de água. Tem
a vantagem de que, quando o nível da água desce, é possível
verificar o seu funcionamento e eventuais reparações.
2. Leito de transição entre o corpo de materiais rochosos e a
membrana impermeável, para atuar como um leito de suporte
20

uniforme e efetuar a transmissão da carga para o núcleo. Esta


área também inclui um filtro que coleta a infiltração através da
membrana impermeável.
3. A rocha compactada, que constitui a maior parte da barragem
e fornece o suporte para a força exercida pela água represada.
A rocha, quando compactada por rolos lisos e pesados, reduz
os recalques e aumenta o ângulo de atrito interno do corpo da
barragem, bem como sua resistência ao cisalhamento.

De maneira geral, os projetos de barragens de aterro envolvem muitas


considerações que devem ser examinadas antes de serem iniciadas as
análises de estabilidade detalhadas. Após as explorações geológicas
de superfície e subsuperfície, os materiais naturais de construção
disponíveis devem ser cuidadosamente estudados. O estudo deve
incluir a determinação das quantidades de vários tipos de materiais que
estarão disponíveis e a sequência em que eles se tornarão disponíveis,
sendo necessário um entendimento completo de suas propriedades
físicas. A não realização deste estudo pode resultar em suposições
errôneas que devem ser revisadas posteriormente, aumentando o custo
do projeto ou mesmo necessitando de futuros tratamentos.

Referências
COSTA, W. D. Geologia de Barragens. São Paulo: Oficina de Textos, 2012.
CRUZ, P. T. 100 barragens brasileiras. São Paulo: Oficina de Textos, 2004.
SCOTT, G. A. The practical application of risk assessment to dam safety. Georisk
2011, ASCE 2011, p. 129-168.
21

Projeto de barragens de aterro


Autoria: Marcio Fernandes Leão
Leitura crítica: Petrucio Santos Junior

Objetivos
• Verificar como os projetos e a construção de
barragens de aterro são desenvolvidos.

• Definir o papel dos elementos filtrantes nos projetos


de barragem.

• Perceber a importância do controle construtivo das


barragens de aterro.
22

1. Introdução

Os métodos atualmente utilizados para projetar uma barragem de terra


e enrocamento são o resultado da experiência, baseada principalmente
na observação do comportamento deste tipo de estrutura. A origem
deste resultado é desconhecida. No entanto, alguns dados históricos
relatam que os chineses já estavam construindo barragens de aterro
por cerca de 2 mil anos. Desde então, até ao início deste século,
o projeto era puramente empírico. Em muitos casos, como ficou
demonstrado pelo estudo de algumas falhas ocorridas, notou-se quase
total desconhecimento das características dos materiais envolvidos
na construção, bem como dos vários fenômenos responsáveis pela
instabilidade.

Tal situação resultou em um número considerável de falhas desastrosas


e gerou a impressão de que uma barragem de terra e enrocamento não
eram estruturas confiáveis do ponto de vista de segurança geotécnica.
Com o surgimento da Mecânica dos Solos, os projetos das barragens de
aterro entraram em uma fase em que o empirismo foi substituído pelo
conhecimento das propriedades dos solos e pela análise das causas
que provocaram as falhas ocorridas. Com o passar do tempo, vários
modernos métodos de avaliação das instabilidades e metodologias
construtivas definidas permitiram ao geotécnico realizar esse tipo de
construção com tanta ou maior segurança do que uma barragem de
concreto. Isso é particularmente verdade nos casos em que as condições
da fundação não permitiriam a construção de uma barragem de
concreto segura.
23

2. Projetos e Construção de Barragens de


Aterro

2.1 Dados para o projeto

Os dados mínimos necessários para um projeto de barragem de


terra são discutidos com maior detalhe a seguir, contemplando
principalmente estudos de fundação e fontes de materiais de
construção. Os detalhes necessários e a precisão dos dados serão
regidos pela natureza do projeto e sua finalidade imediata, por exemplo,
se o projeto for usado como base para um levantamento de custos e
viabilidade, se o projeto for para obtenção de dados construtivos, ou se
servirá para alguma alternativa distinta.

Cabe ressaltar que a extensão dos estudos de fundações e cubagem


das fontes de materiais de construção também será definida pela
complexidade de cada situação.

2.2 Base para o projeto

O princípio básico do projeto de uma barragem de aterro é construir


uma estrutura satisfatória e funcional com um custo total mínimo.
Devida consideração deve ser dada às necessidades de manutenção
para que a economia no custo inicial de construção não resulte em
custos de manutenção excessivos. Os últimos casos variarão: devido
ao tipo de proteção de taludes a montante e a jusante, dispositivos de
drenagem e pelo tipo de estruturas complementares e equipamentos
mecânicos utilizados. Para manter o custo ao mínimo, o barramento
deve ser projetado para o aproveitamento máximo dos materiais
mais econômicos disponíveis, incluindo os materiais que devem ser
escavados para suas fundações e os das estruturas auxiliares.
24

As barragens de terra e enrocamento devem ser seguras e estáveis ​​


durante todas as fases de construção e operação. Para conseguir isso, os
seguintes requisitos devem ser atendidos:

• O aterro deve ser protegido contra transbordamento durante as


cheias do projeto, fornecendo capacidade suficiente no vertedouro
de transbordamento e nas obras de captação.

• Os taludes do aterro devem ser estáveis durante


​​ a construção
e nas condições que surjam durante o funcionamento da
bacia, incluindo drenagem rápida no caso de barragens de
armazenamento.

• O aterro deve ser projetado de forma que a fundação não sofra


esforços excessivos, ou seja, níveis de tensão e deformação
elevados.

• A infiltração/percolação deve ser controlada através do aterro,


fundações e espaldares, para que não ocorra erosão interna e,
portanto, não haja deslizamentos. A quantidade de água perdida
por infiltração deve ser controlada para que não interfira nas
funções projetadas para a obra.

• O aterro deve ser protegido contra o efeito de galgamento das


águas do reservatório.

• A encosta a montante deve ser protegida contra a erosão das


ondas geradas no reservatório, e a crista e o talude a jusante
devem ser protegidas contra a erosão (vento e chuva).

É muito importante destacar que as condições serão permanentemente


seguras desde que sejam empregados métodos de construção e
controle corretos.
25

3. Regras construtivas gerais

O processo de construção de uma barragem de aterro compreende as


seguintes etapas:

1. Limpeza das fundações e desvio do rio.


2. Escavação de valas, por meio de depósitos permeáveis, quando
necessário.
3. Tratamento da fundação, quando necessário.
4. Colocação dos materiais que compõem o corpo da barragem.

Os procedimentos construtivos seguidos em cada uma das etapas


devem atender a todos os requisitos de projeto previamente estudados.
É conveniente, portanto, discutir brevemente alguns aspectos
relacionados à construção, estabelecendo os critérios a serem seguidos
em cada uma de suas etapas.

3.1 Limpeza da fundação

O objetivo dessa etapa é garantir um bom contato entre as áreas


impermeáveis da​​ barragem e a fundação, eliminando, por meio de
escavação, a camadas pouco competentes na superfície (solo ou rocha
alterada ou fraturada na superfície).

A profundidade da escavação na rocha intemperizada deve ser


determinada exclusivamente de acordo com as condições locais,
sejam estas descobertas durante o estudo geológico anterior ou
manifestadas no início das escavações. Uma escavação mínima de
1,50 m é geralmente especificada. Até 3 m já pode ser considerada
uma escavação profunda, para remover rochas soltas ou fortemente
fissuradas que estão na área de contato dos materiais impermeáveis.
Embora, às vezes, seja necessário atingir maiores profundidades para
encontrar a rocha sã, em algumas áreas torna-se difícil, principalmente
em regiões de clima tropical (COSTA, 2012). É importante ressaltar que
26

as especificações técnicas não são inflexíveis e, mesmo no caso de haver


extensos estudos prévios, o geotécnico deve estar sempre atento às
condições geológicas.

3.2 Desvio do rio

É comum que simultaneamente às operações de limpeza das fundações


sejam iniciadas as obras necessárias para desviar a vazão do rio,
devido à preparação para as subsequentes escavações que deverão
ser realizadas. A obra de desvio geralmente consiste em um ou mais
túneis através da encosta, que podem posteriormente ser utilizados
para abrigar a obra de captação, ou em valas a céu aberto cavadas no
sopé de uma encosta, permitindo a construção de um canal de desvio
localizado em rocha sã, por exemplo. Esse canal é frequentemente
utilizado para alojar os condutos forçados. Em todas essas obras
de escavação em rocha, o uso de dinamite deve ser restringido ao
máximo, uma vez que o uso não dimensionado de explosivos resulta no
aumento significativo de descontinuidades, piorando as condições de
permeabilidade da fundação. Uma vez que todos os túneis ou valas de
desvio foram concluídos, as ensecadeiras a montante e a jusante são
construídas para conduzir a água do rio através do trabalho de desvio
e manutenção do local seco, para que as operações de limpeza possam
ser realizadas. As referidas ensecadeiras são pequenas barragens
construídas de rocha ou cascalho e areia e impermeabilizadas com uma
camada de argila ou material siltoso, no lado úmido correspondente.
Muitas vezes as ensecadeiras tornam-se parte dos espaldares ou zonas
permeáveis da​​ barragem a ser construída.

Cabe ressaltar que uma ensecadeira (Figura 1) é uma construção


temporária executada no interior ou sob um corpo d’água, de forma
a permitir isolamento da porção de água, ou simplesmente desviando
a água do rio que será represado. Essas ensecadeiras são tipicamente
uma barragem de aterro convencional de terra e rocha, mas concreto ou
27

algumas estacas-pranchas também podem ser usadas. Normalmente,


após a conclusão da barragem e estruturas associadas, a ensecadeira é
removida ou pode ser incorporada ao corpo da barragem.

Figura 1 – Exemplo de ensecadeira isolando parte do reservatório


para permitir a exposição de porção seca para intervenção

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:JFP_Cofferdam_Fill_(24629705666).jpg.
Acesso em: 16 ago. 2021.

4. Utilização de materiais no aterro e


controle construtivo

Assim que a fundação estiver nas condições desejadas, são colocados


os materiais que vão constituir o aterro da barragem. Nesta etapa, é
importante certificar-se de que esses materiais sejam colocados nas
condições especificadas pelo projetista, a fim de que suas propriedades
geotécnicas, principalmente de resistência, sejam da mesma ordem de
grandeza que as previstas no projeto.

De maneira geral, para a colocação de materiais impermeáveis ​​e


semipermeáveis é necessário que seja alcançado um grau mínimo de
compactação de 95% e uma umidade igual à ótima. Essas premissas
28

podem ser corroboradas por ensaios, como Proctor ou Hilff, tendo em


vista que os materiais que podem ser lançados tenham uma umidade
distinta da ótima. Ambos os parâmetros devem ser referenciados aos
ensaios de compactação dinâmica realizado de acordo com a norma
especificada. Até o momento, essas especificações têm produzido
resultados satisfatórios, uma vez que o teor de umidade com o
qual esses materiais são colocados é alto o suficiente para facilitar
a acomodação aos recalques diferenciais sem fissuras, e o grau de
saturação, que geralmente é inferior a 85%, garante que a maioria
dos recalques, devido à compressão dos materiais de aterro, sejam
produzidos pelo processo de construção.

As pressões dos poros que se desenvolvem nos materiais impermeáveis ​​


durante a construção são antecipadamente consideradas nas análises
de estabilidade para as condições iniciais, com base nos resultados de
ensaios triaxiais do tipo rápido. Diante disso, podemos ter as seguintes
condições a serem avaliadas nos ensaios triaxiais:

• Ensaios não drenados: não há drenagem ou dissipação da


poropressão durante qualquer estágio do ensaio (muitas vezes
chamado de “quick” ou não adensado e não drenado).

• Ensaio adensado não drenado: a amostra é primeiro adensada,


com toda poropressão dissipada sob uma pressão de
adensamento, e a ruptura ocorre durante uma fase drenada.

• Ensaio drenado: mostra drenada e com a poropressão totalmente


dissipada em todos os estágios do ensaio.

Quando existem fundações compressíveis das quais são esperadas


deformações pós-construção e existe o risco de recalque transversal do
núcleo impermeável, é desejável obter materiais capazes de se adaptar
às deformações diferenciais que ocorrerão no futuro, sem desenvolver
fissuras. Para isso, é conveniente aumentar o teor de água colocando os
materiais do núcleo impermeável em valores que excedam a umidade
29

ótima de 2 a 4%. Nas áreas permeáveis do


​​ aterro, formadas por cascalho
e areia, deve-se atingir uma compactação relativamente superior a 70%
para garantir que os recalques nessas porções sejam mínimos e que os
problemas de liquefação não sejam desenvolvidos.

No caso de barragens de enrocamento, para que não ocorram


desmoronamentos de blocos de rocha, esses devem ser colocados de
maneira imbricada (garantindo uma maior resistência ao cisalhamento),
garantindo que a rocha contenha o mínimo de finos possíveis. Desta
forma, recomenda-se, caso o acúmulo de rochas esteja contaminado
com sedimentos e argilas, que a rocha seja submetida a uma lavagem
prévia antes de ser depositada nos espaldares.

4.1 Metodologia construtiva

As barragens de aterro são classificadas conforme a altura, ou seja: de


pequenas alturas (não ultrapassando 10 m), médias alturas (de 10 a
50 m) e grandes alturas (maiores que 50 m). Além disso, elas podem
ser concebidas conforme os materiais utilizados e disposição desses
materiais na seção do aterro (SCOTT, 2011). Assim:

• Barragens de terra: possuem o corpo formado por areia, argila-


siltosa, argila-arenosa, com o núcleo argiloso a argilo-siltoso.

• Barragens de enrocamento: possuem o corpo predominantemente


composto por blocos de rocha e pedregulhos, com o núcleo
argiloso a silto-argiloso.

• Barragens mistas: possuem o corpo composto por rocha e solos


argilosos, com o núcleo em concreto-asfáltico (polímeros, por
exemplo).

Em barragens em que o material terroso (mais fino) é utilizado, essas


devem cumprir os seguintes requisitos de projeto:
30

O vertedouro deve garantir a evacuação total dos excessos de volume


de água de acordo com as características de projeto para o período de
retorno correspondente.

O projeto da seção transversal da barragem, bem como os drenos


e filtros, devem garantir estabilidade em todas as circunstâncias de
armazenamento, e devem ser projetados e calculados considerando
todas as tensões produzidas (armazenamento, sismicidade, infiltração,
cargas etc.), conforme Figura 2.

Figura 2 – Dimensionamento da seção por meio da infiltração

Fonte: elaborada pelo autor.

O projeto deverá prever a proteção dos espaldares de montante


e jusante e coroamento, devido às ondas geradas do reservatório,
infiltrações e intemperismo, conforme Figura 3. Além disso, o núcleo e
os drenos devem garantir a dissipação da energia de infiltração no corpo
da barragem e evitar deformações.
31

Figura 3 – Exemplo de proteção dos espaldares da barragem

Fonte: elaborada pelo autor.

O desafio do projeto para uma barragem de aterro é desenvolver


uma seção transversal segura que possa ser construída com materiais
disponíveis no local com custos mínimos de construção e manutenção.
Um dos requisitos mais críticos de um projeto seguro é o fornecimento
de filtragem interna adequada e drenagem para controlar o nível de
saturação e a pressão de infiltração em um nível seguro para evitar
a remoção de partículas finas de solo das zonas críticas no aterro e
fundação. O design econômico requer o uso de materiais que protegem
contra falhas, embora sejam facilmente construídos. Uma vez que os
materiais de filtro são alguns dos materiais mais caros usados em
​​ uma
barragem, é feito um esforço para minimizar a quantidade de material
usado. Portanto, custo, construtibilidade e confiabilidade caminham lado
a lado para fornecer uma estrutura economicamente segura.

4.2 Determinação da altura da barragem

A altura total de uma barragem de terra ou enrocamento é determinada


considerando os seguintes pontos:

• O nível de montante normal ou máximo normal (Figura 4).


32

• A altura média da onda produzida pela ação do vento no


reservatório (Figura 5).

• A altura da quebra da onda no paramento de montante


considerando a velocidade máxima do vento.

• Altura de segurança contra o galgamento (passagem de água por


cima do aterro da barragem).

Figura 4 – Dimensionamento da altura da barragem em


função do nível do reservatório.

Fonte: elaborada pelo autor.


33

Figura 5 – Detalhe “A” apresentado na Figura 4

Fonte: elaborada pelo autor.

Além das expressões apresentadas na Figuras 4 e 5 é necessário


determinar “h0”. Para tal, podemos usar as equações de Stevenson e
Adrianov a depender do valor de “Lp”, conforme Quadro 1.

Quadro 1 – Equações para dimensionamento da altura de barragens


de terra e enrocamento

Fonte: adaptado de Cruz (2004).


34

4.3 Determinação da inclinação dos espaldares

Além da altura, a inclinação dos espaldares é de suma importância


para a estabilidade da barragem. Desta forma, podemos determinar
a inclinação dos espaldares conforme demonstrado na Figura 6 e no
Quadro 1.

Figura 6 – Dimensionamento da inclinação dos


espaldares da barragem

Fonte: adaptada de Cruz (2004).

Quadro 2 – Valores de inclinação do talude considerando


a altura da barragem

Valores
Altura da
barragem
m1 Com dreno Sem Dreno (m2)

5-10 2,00 2,00 2

10-15 2,50 2,50 2.25

15-20 3,00 2,75 2.5

20-30 3.25 3,00 2.75

> 30 3,50 3,50 3.0

Fonte: adaptado de Cruz (2004).


35

5. Filtros e drenos

Filtros e drenos são reconhecidos como elementos utilizados para


controlar e direcionar o fluxo da água de escoamentos através das
barragens há centenas de anos.

Filtros são usados para


​​ evitar o movimento de partículas de
solo entre várias zonas e fundações de barragens de aterro. Tal
movimentação, se não controlada, pode resultar no desenvolvimento
de erosões que podem levar a graves consequências e, em casos
extremos, ao rompimento de uma barragem de aterro. Na verdade,
aproximadamente 50% de todas as falhas em barragens são atribuídas
ao excesso de infiltração. Essas falhas são de natureza progressiva
e começam com a erosão de alguns grãos de solo geralmente não
detectada. A perda desses grãos do solo leva a uma infiltração maior, o
que leva a uma erosão maior do solo. Este processo continua até que
seja notado, mas geralmente nesta fase é tarde demais, e a ruptura
completa da barragem não pode ser evitada.

Muitas barragens com bom desempenho foram construídas sem filtros.


No entanto, sabe-se que muitas barragens fissuram por terem sido mal
construídas, utilizando, por exemplo, materiais construtivos altamente
erodíveis ou mesmo sob condições de fundação que permitem grandes
quantidades de perdas por fluxo. Essas condições são conhecidas por
produzirem o potencial para graves problemas que podem levar ao
eventual rompimento das barragens. Portanto, elementos de projeto,
como filtros, são usados como
​​ uma medida defensiva para proteger as
barragens das condições menos desejáveis, que
​​ podem existir ou se
desenvolver ao longo da vida da estrutura.

A principal função dos filtros é evitar o movimento de partículas de solo


devido ao fluxo de água no interior e abaixo de barragens. O movimento
das partículas do solo pode ocorrer por meio de dois mecanismos
básicos: overtooping (galgamento) e piping (erosão interna tubular). Os
36

filtros fornecem proteção contra essas duas anomalias que progridem


em direção ao desenvolvimento de um vazamento concentrado
(grande), o que pode causar perda excessiva de água ou eventual falha
da estrutura.

Referências
COSTA, W. D. Geologia de Barragens. São Paulo: Oficina de Textos, 2012.
CRUZ, P. T. 100 barragens brasileiras. São Paulo: Oficina de Textos, 2004.
SCOTT, G. A. The practical application of risk assessment to dam safety. Georisk
2011, ASCE 2011, p. 129-168.
37

Investigações e Monitoramento
Geotécnico em barragens
Daniele Marcio Fernandes Leão
Leitura crítica: Petrucio Santos Junior

Objetivos
• Compreender o papel das investigações geotécnicas
para projetos de barragens.

• Avaliar o papel das análises tensão-deformação.

• Verificar o papel da instrumentação e o


acompanhamento geotécnico de barragens.
38

1. Introdução

As barragens de terra são estruturas de engenharia muito importantes,


tanto pela complexidade técnica quanto pelos investimentos envolvidos.
Dada a complexidade, é também uma das obras de engenharia,
principalmente barragens de aterro, em que a Mecânica dos Solos é
fortemente utilizada.

Como sabemos, barragens de aterro são estruturas que podem ser


constituídas por solos e rochas, devido à grande variedade de materiais
existentes na natureza, à quantidade destes materiais disponíveis para
construção, às condições dos reservatórios e à diversidade topográfica,
por exemplo.

Há, então, uma necessidade crescente de estudos geológico-geotécnicos


levando em consideração o maior número de fatores que influenciam
esse sentido. Assim, é fundamental executar o desenvolvimento
desses estudos buscando a compreensão do comportamento dessas
estruturas, fornecendo métodos e metodologias para enfrentar os
desafios na projeção e construção de barragens de aterro. Nesta
unidade veremos os principais aspectos relacionados às investigações
geotécnicas, a análise de estabilidade por meio de estudos de análises
tensão-deformação e a instrumentação e acompanhamento geotécnico.

2. Investigações Geotécnicas

A investigação geotécnica do local é o processo pelo qual todas


as informações relevantes a respeito de um determinado projeto
são coletadas. A investigação geotécnica é o processo que envolve
a aquisição de informações acerca das condições de superfície e
subsuperfície no local de interesse e próximo a ele dentro e ao redor de
um local. É importante ter em mente que os requisitos para a prática
39

bem-sucedida da engenharia geotécnica são muitos, mas podemos


definir os principais a seguir:

• Conhecimento das condições precedentes: é importante


construir um banco de dados de registros de casos para que se
tenha conhecimento do estado da arte existente relacionado ao
problema em consideração. Por exemplo, é possível, a partir da
previsão de deformações particulares na fundação, haver uma
comparação com deformações observadas em outras estruturas
e que apresentem condições de subsolo parecidas, buscando um
fim prático para tal? Caso contrário, uma abordagem distinta é
indicada, o que pode determinar que uma forma alternativa de
investigação do local seja necessária. Um exemplo prático se refere
à investigação da estabilidade de taludes.

• O problema deve ser analisado em termos de tensão total, ou uma


abordagem em termos de tensão efetiva seria mais adequada?
No segundo caso, um projeto pode ser baseado em parâmetros
de pico ou valores residuais ou, como às vezes adota-se, em
parâmetros intermediários entre pico e residual, bem como
valores no estado crítico? Tais decisões só podem ser adotadas
com segurança técnica com base em registros de casos de sucesso
e falha confiáveis, aliados a investigação do local, planejada para
fornecer os valores corretos necessários. A contribuição de um
profissional experiente é essencial.

• Familiaridade com os procedimentos de mecânica dos solos:


requer conhecimento dos métodos computacionais disponíveis
para o profissional sanar problemas de engenharia (cálculos
de pressão da terra, capacidade de suporte, adensamento,
estabilidade de taludes, infiltração etc.).

• Compreensão da geologia: é vital que seja desenvolvida uma


avaliação sólida da geologia do local. Qual a origem dos materiais
encontrados no local? Como eles chegaram lá? As propriedades
40

foram alteradas desde a deposição? Os solos são residuais ou


transportados? Qual é a distribuição da pressão da água dos poros
dos materiais geológicos? As atividades de engenharia a serem
realizadas alterarão as propriedades geotécnicas?

• Identificar todos os mecanismos de falha possíveis: além dos


problemas corriqueiros a ​​serem considerados (como capacidade
de suporte, recalque, pressão de terra, estabilidade de taludes
e infiltração), haveria qualquer perigo potencial não identificado
que poderia gerar a instabilidade da estrutura? É crucial que,
em cada estágio de uma investigação do local, a possibilidade
da identificação de perigos potenciais seja sempre levada em
consideração. Se um perigo potencial existe e foi negligenciado,
pode ocorrer um grande desastre. Por exemplo, o colapso de um
muro de contenção existente devido a chuvas anormais, a falha de
uma encosta próxima, ou deformações do solo devido à presença
de um vazio subterrâneo não detectado podem ter consequências
graves. A busca por perigos potenciais deve se estender aos locais
adjacentes. Tente antecipar o inesperado.

• Desenvolva uma abordagem pessimista crítica: Nunca se esqueça


da “Lei de Murphy”: Se algo pode dar errado, vai dar! Verifique
todas as informações disponíveis e cruze todas as informações
disponíveis. Nada é certo e garantido.

• Avaliação dos parâmetros de projeto e campo: ao lidar com


um problema geotécnico, o melhor que podemos fazer é
modelar, da melhor forma possível, as condições de campo
em nossos procedimentos de ensaios e cálculos de projeto. A
correspondência nunca é perfeita. Sempre haverá diferenças
no campo e no comportamento previsto em projeto. É dever do
profissional adotar os mais altos padrões possíveis para manter
essas diferenças as menores possíveis.
41

Um dos maiores problemas da engenharia geotécnica é o risco de


se encontrar condições geológicas inesperadas. A falha em antecipar
tais condições é geralmente devido a uma compreensão geológica
inadequada do local.

As condições do solo em qualquer local são um produto de sua história


geológica e geomorfológica, que inclui: a estratigrafia, as estruturas
geológicas, os processos geomorfológicos e condições climáticas
pretérita e presente, por exemplo.

Assim, nas Figuras 1 e 2 podemos resumir os objetivos das investigações


geotécnicas nas fases dos projetos de barragens e o papel da
investigação geológico-geotécnica, respectivamente.

Figura 1 – Objetivos das investigações nas fases de


projetos de barragens

Fonte: elaborada pelo autor.


42

Figura 2 – Investigações geológico-geotécnicas específicas para as


fases dos projetos de barragens.

Fonte: elaborada pelo autor.

3. Análise Tensão/Deformação

Por muitos anos, os métodos mais usados para


​​ calcular os recalques do
solo têm sido aqueles baseados em modelos lineares. Esse responde
ao comportamento linear do solo, garantindo que a tensão de atuação
seja menor que a tensão limite de linearidade para cargas de trabalho.
O cálculo de recalques por métodos lineares é o mais aplicado pela
generalidade dos engenheiros geotécnicos.

O conhecimento da distribuição de tensões e deformações na barragem


e fundação é de considerável importância em muitos casos, visto que
esta problemática influência de forma decisiva vários aspectos essenciais
para o comportamento da obra, como: as pressões intersticiais da água
43

durante e no final da construção, e consequentemente a estabilidade


neste momento de vida da barragem; os movimentos gerais pós-
construção e especialmente do seu coroamento, determinantes da
conservação do barramento; previsão de áreas em que pode haver
fissuras e piping; movimentos nos planos ou áreas próximas às telas de
impermeabilização, de forma a antecipar o seu comportamento; ações
no contato das obras anexas com a terraplenagem.

Em barragens longas em relação à altura, a zona central apresenta um


estado de tensões que pode ser considerado bidimensional (deformação
plana). Entretanto, se a barragem for curta, ou se pretende-se analisar as
áreas próximas às ombreiras em qualquer caso, especialmente se forem
relativamente íngremes, o efeito das deformações na direção normal do
rio é importante, e sua influência não pode ser negligenciada.

As ações (Figura 3) fundamentais envolvidas nas análises tensão/


deformação são o peso da própria obra, e o reservatório que
gera movimentos importantes para uma avaliação qualitativa e
quantitativamente à segurança da estabilidade da obra. Os fatores que
influenciam predominantemente o espectro de tensões e deformações
são: os materiais do corpo da barragem e sua fundação, sua relação
tensão-deformação e suas propriedades reológicas, a morfologia, a
altura da barragem, a sequência e velocidade de construção.
44

Figura 3 – Exemplo de forças que atuam na barragem: Peso próprio


(P), Altura do reservatório a montante (HM), altura de água a
jusante (Hj) e subpressão (U)

Fonte: elaborada pelo autor.

Os movimentos devidos ao peso próprio estão relacionados à forma


como a barragem é construída, geralmente em camadas ou camadas
com largura decrescente em direção à crista. Consequentemente, a
trajetória que segue um ponto no espaço integral das deformações
da massa de solo localizado abaixo é vertical no início, variando
gradualmente em direção ao talude mais próximo à medida que a
construção avança. Nota-se que na maioria dos casos o movimento
45

máximo corresponde a um ponto localizado um pouco abaixo do centro,


com valores variando entre 0,7 e 1,2% da altura total.

Na estimativa da deformação pós-construção como necessidade de


antecipar a elevação do reservatório, ao final da construção, expressões
empíricas têm sido obtidas por diversos pesquisadores; elas são o
resultado da interpretação dos dados fornecidos pelas medições feitas
em barragens de terra. É necessário aproveitar essas experiências, e
propõe-se realizar a avaliação de medições geodésicas.

Os movimentos da barragem devido à compressibilidade da fundação


refletem-se em toda a obra, principalmente no coroamento. As
pequenas barragens, fundadas em solos compressíveis, aos quais pouca
atenção tem sido dada devido à sua baixa importância, apresentam
fissuras de grande escala que tornam a obra instável.

Uma das primeiras situações analisadas pela modelagem de elementos


finitos da barragem é a reprodução do processo de construção. A
Figura 4 mostra um exemplo da avaliação de tensões ao final da
construção e considerando o primeiro enchimento do reservatório.
Tem-se em consideração que a construção do aterro é efetuada por
meio da colocação e compactação de sucessivas camadas de material,
cuja espessura dependerá, entre outros fatores, do tipo de solo e do
equipamento de compactação. Este processo construtivo tem influência
marcante nas deformações sofridas pelo aterro e, em menor proporção,
nas tensões existentes no final da construção. Ambos seriam diferentes
se a análise da barragem fosse feita em uma única etapa. Esta última
suposição tem sido frequentemente usada em análises de estabilidade e
estudos de deformações de barragens.
46

Figura 4 – Distribuição das tensões verticais totais no aterro


da barragem considerando o período final construtivo (a) e
enchimento do reservatório (b)

(a)

(b)
Fonte: Dias (2010, p. 55).

4. Instrumentação e acompanhamento
geotécnico

Os meios e métodos disponíveis para monitorar fenômenos que podem


levar ao rompimento de barragens incluem um amplo espectro de
instrumentos e procedimentos, que variam de muito simples a muito
complexos. Qualquer programa de instrumentação de segurança de
barragens deve ser adequadamente projetado e consistente com outros
componentes do projeto. Deve ser baseado nas condições geotécnicas
prevalecentes na barragem e deve considerar os fatores hidrológicos
e hidráulicos presentes antes e depois do projeto entrar em operação.
Cada instrumento deve ter um propósito específico e uma resposta de
projeto esperada.
47

Instrumentos projetados para monitorar deficiências potenciais em


barragens existentes devem levar em consideração a ameaça à vida
e à propriedade que a barragem apresenta. Assim, a extensão e a
natureza da instrumentação dependem não apenas da complexidade
da barragem e do tamanho do reservatório, mas também do potencial
de perda de vidas e propriedades a jusante. Um programa de
instrumentação deve envolver instrumentos e métodos de avaliação tão
simples e diretos quanto o projeto permitir. Além disso, o proprietário
da barragem deve se comprometer definitivamente com um programa
de monitoramento contínuo, ou a instalação de instrumentos
provavelmente será perdida. O envolvimento de pessoal qualificado
no projeto, instalação, monitoramento e avaliação de um sistema
de instrumentação é de fundamental importância para o sucesso do
programa.

4.1 Razões para Instrumentação

Instrumentação, monitoramento e avaliação adequada de


procedimentos de acompanhamento geotécnico são extremamente
valiosos para determinar o desempenho de uma barragem. Os motivos
específicos para a instrumentação incluem:

• Aviso de um problema: frequentemente, os instrumentos podem


detectar mudanças incomuns, como flutuações na poropressão
dentro da barragem, que não são visíveis. Em outros casos,
mudanças graduais e progressivas no fluxo de infiltração, que
passariam despercebidas visualmente, podem ser monitoradas
regularmente. Este monitoramento pode alertar a respeito do
desenvolvimento de um sério problema de infiltração.

• Analisando e definindo um problema: os dados de instrumentação


são frequentemente usados ​​para obter informações de engenharia
necessárias para analisar e definir a extensão de um problema.
Por exemplo, o movimento a jusante de uma barragem devido
48

à alta pressão da água do reservatório deve ser analisado para


determinar se o movimento está uniformemente distribuído ao
longo da barragem; se o movimento é na barragem, na fundação
ou em ambos; e se o movimento é constante, crescente ou
decrescente. Essas informações podem então ser usadas para
projetar medidas corretivas.

• O comportamento avaliado é o esperado: os instrumentos


instalados em uma barragem podem raramente (ou mesmo
nunca) mostrar qualquer anomalia ou problema. Essa é uma
informação valiosa porque mostra que a barragem está
funcionando conforme o planejado. Além disso, embora um
problema possa existir, as leituras do instrumento podem mostrar
que a deficiência (por exemplo, infiltração aumentada) é normal
(meramente um resultado do nível do reservatório mais alto do
que o normal) e foi prevista no projeto da barragem.

• Avaliação do desempenho das ações corretivas: muitas barragens,


principalmente as mais antigas, são modificadas para permitir o
aumento da capacidade ou para corrigir um problema construtivo.
As leituras do instrumento antes e depois da alteração permitem a
análise e avaliação do desempenho da modificação. A frequência
das leituras do instrumento ou de fazer observações em uma
barragem depende de vários fatores, incluindo o perigo relativo à
vida e propriedade que representa, sua altura ou tamanho geral, a
quantidade relativa de água envolvida, o risco sísmico relativo no
local, sua idade e a frequência e a quantidade de flutuação do nível
da água no reservatório.

Em geral, conforme cada um dos fatores citados aumenta, a frequência


do monitoramento deve aumentar. Por exemplo, leituras muito
frequentes (mesmo diárias) devem ser feitas durante o primeiro
enchimento de um reservatório, e leituras mais frequentes devem
ser feitas quando os níveis de água estão altos e após tempestades e
terremotos significativos. Como regra geral, observações visuais simples
49

devem ser feitas durante cada visita à barragem e não menos que
mensalmente. Devem ser feitas leituras diárias ou semanais durante
o primeiro enchimento, leituras imediatas devem ser feitas após
eventos extremos (tempestade ou terremoto) e leituras significativas
de infiltração, movimento e tensão-deformação devem ser feitas pelo
menos mensalmente.

4.2 Acompanhamento geotécnico

Uma das formas mais eficazes de garantir a “saúde” geotécnica da


barragem é a inspeção. Cabe ainda destacar que os profissionais devem
examinar outras áreas ao redor da barragem e reservatório enquanto
realizam revisões de rotina. A conscientização de todo o ambiente da
barragem ajudará o proprietário a mantê-la e poderá fazer melhorias
se as condições permitirem. As seguintes características e áreas devem
ser examinadas durante cada inspeção de rotina da barragem: acesso,
linha de inundação, área do reservatório, áreas submersas, bacias
hidrográficas e canais tributários, sistemas mecânicos e elétricos,
instrumentação, estruturas de contenção, riscos a jusante, obstruções
do canal a jusante, barragens a montante e a jusante, integridade do
aterro e possíveis recalques, recursos naturais (nascentes, sumidouros,
afloramentos rochosos), por exemplo. Os profissionais devem
examinar esses recursos e áreas, registrando quaisquer alterações ou
preocupações no relatório de inspeção.

Devem ser tiradas fotografias de condições problemáticas, podendo


ser necessárias medições de alguns problemas, como escorregamentos
nas encostas da costa ou trincas nas estradas de acesso. Medições
e fotografias permitirão que um inspetor monitore as mudanças de
uma inspeção para a outra. Fotografias aéreas recentes são úteis
na avaliação das condições de mudança nas bacias hidrográficas a
montante e a jusante. O proprietário da barragem deve ser alertado
a respeito de quaisquer condições que possam representar um risco
50

potencial à segurança. Estradas de acesso deterioradas, atividades


não autorizadas, grandes deslizamentos de terra, desenvolvimento a
montante e a jusante e forte acúmulo de sedimentos são preocupações
potencialmente perigosas.

O acesso à barragem, ao reservatório e às obras correspondentes é


importante por vários motivos, incluindo manutenção da barragem,
inspeções de barragens, emergências na barragem e uso da barragem e
do reservatório para os fins pretendidos. Os inspetores devem verificar
visualmente todas as estradas adjacentes e estradas de acesso à
barragem e crista e avaliá-los para o potencial de acesso de emergência.
Eles devem observar qualquer deterioração e obstruções que possam
estar presentes e registrá-las no relatório de inspeção. Fotografias
devem ser tiradas para seções de estradas danificadas e medidas
corretivas recomendadas.

A área do reservatório deve ser verificada quanto à erosão,


deslizamentos de terra, rachaduras, detritos, atividade de animais,
acúmulo de sedimentos e ações antrópicas. Deslizamentos de terra no
reservatório podem reduzir a capacidade de armazenamento que, no
pior caso, pode fazer com que a barragem seja transbordada durante
grandes enchentes. Os sinais de deslizamentos de terra incluem
rachaduras no aterro, escarpas e declives. Encostas íngremes ao longo
da costa são particularmente vulneráveis a​​ deslizamentos. A erosão ao
longo da costa resultará em mais sedimentos entrando no reservatório
e preenchendo o espaço de armazenamento de água, além de reduzir a
área disponível do reservatório.

As áreas submersas do reservatório devem ser verificadas quanto a


mudanças nos perfis de sedimentação e possível formação de ilhas
constituídas por detritos e crescimento vegetal excessivo, incluindo
algas. A sedimentação de áreas a montante é um problema contínuo
na maioria dos reservatórios, e é de difícil mitigação. Quando a
deposição de sedimentos se torna crítica, deve ser prevista a dragagem.
51

Apesar do acúmulo de sedimentos ser uma preocupação, o uso do


reservatório, nessas condições, normalmente, não afeta a capacidade
de armazenamento de águas pluviais da barragem, a menos que os
níveis de sedimentos aumentem acima do nível normal de água. As algas
normalmente não são uma preocupação de segurança, mas tornam
o reservatório pouco estético. Elas são frequentemente causadas
pelo excesso de nutrientes do solo, que são transportados para o
reservatório pelo escoamento de águas pluviais, geralmente de campos
agrícolas e gramados.

Se a barragem ou reservatório incluir elementos mecânicos e elétricos


(comportas de vertedouro, comportas ou válvulas, stoplogs, flashboards,
poços de alívio e sifões etc.), devem ser inspecionados quanto a
quaisquer danos e deterioração. Inclui também fontes de energia de
emergência, grades de proteção ao longo das estradas, sinalização,
cabos enterrados e utilitários, tubos emissários e conduítes que entram
no reservatório. Todos os equipamentos mecânicos e elétricos devem
ser operados pelo menos uma vez por ano; de preferência, com mais
frequência. Os testes devem ser conduzidos pelo proprietário ou
operador da barragem e devem incluir toda a faixa operacional do
equipamento nas condições reais de operação.

Cada dispositivo operacional deve ser marcado permanentemente para


fácil identificação, e todo o equipamento operacional deve ser mantido
acessível. Todos os controles devem ser verificados quanto à segurança
adequada para evitar vandalismo, e todas as instruções de operação e
manuais devem ser verificados quanto à clareza e mantidos em um local
seguro, mas facilmente acessível.

Os inspetores devem sempre verificar a instrumentação que pode


ser usada para monitorar o desempenho da barragem ou questões
de segurança da barragem. Isso inclui itens como piezômetros,
inclinômetros, medidores de inclinação, barragens, calhas e medidores
52

de fluxo. Este equipamento deve ser inspecionado para garantir que


está em boas condições e não que está deteriorado ou danificado.

O desenvolvimento urbano na bacia hidrográfica pode aumentar o


tamanho dos picos de inundação e o volume do escoamento, tornando
um vertedouro anteriormente aceitável inadequado.

As análises hidrológicas e hidráulicas da barragem podem ter que


ser atualizadas se o desenvolvimento a montante for significativo,
ou se uma nova barragem for construída a montante. Melhorias nas
instalações adjacentes à barragem, como tamanho do vertedouro,
forros de emissário e elevação do topo do aterro, podem ter que ser
implementadas se o desenvolvimento criar um aumento significativo
no fluxo para o reservatório. Já o desenvolvimento a jusante pode criar
riscos de segurança para o proprietário da barragem se a barragem ruir.
Novas casas, estradas e outros edifícios ocupados por pessoas podem
alterar a classificação de perigo da barragem se essas características
estiverem dentro da área que seria inundada se a barragem rompesse.
Novos recursos devem ser informados ao proprietário da barragem
assim que forem encontrados.

Referências
COSTA, W. D. Geologia de Barragens. São Paulo: Oficina de Textos, 2012.
CRUZ, P. T. 100 barragens brasileiras. São Paulo: Oficina de Textos, 2004.
DIAS, J. do Ó M. P. Efeitos do Clima no Comportamento de Barragens de Terra-
Enrocamento. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Técnica
de Lisboa, Instituto Superior Técnico, Lisboa, 2010.
SCOTT, G. A. The practical application of risk assessment to dam safety. Georisk
2011, ASCE 2011, p. 129-168.
53

Manual de Operação e
Gestão de Risco
Autoria: Marcio Fernandes Leão
Leitura crítica: Petrucio Santos Junior

Objetivos
• Avaliar o papel do manual de operação para o
controle de barragens.

• Compreender o uso das cartas de risco como


subsídio à gestão de risco em barragens.

• Verificar como são elaborados os planos de ação


de emergências.
54

1. Introdução

Barragens são estruturas complexas sujeitas a várias forças que podem


resultar em falhas. Essas forças são ativas durante toda a vida da
barragem, e o fato de uma barragem ter permanecido em segurança
por anos não é necessariamente uma indicação de que ela não vai
romper. Uma das forças que induzem a falha é a infiltração, pela
barragem ou sua fundação. Todas as barragens sofrem infiltração, mas
se a infiltração for muito elevada na barragem, pode resultar em falha
estrutural (“deslizamento” dos materiais na barragem). Se a infiltração
chegar à superfície da fundação sobre ou abaixo da barragem e percolar
com velocidade excessiva, pode carrear materiais da barragem ou
fundação, causando erosão interna ou piping. Outra maneira pela qual
uma barragem pode sofrer instabilização é o galgamento, resultado
da capacidade inadequada do vertedouro ou do entupimento desse
(COSTA, 2012).

Assim, questiona-se o quão importante é a manutenção. Se projetadas


e construídas de maneira adequada, não deveriam todas as barragens
dispensar manutenção? As respostas a essas perguntas podem parecer
óbvias, mas várias pequenas barragens todos os anos sofrem falhas
devido à falta de manutenção em tempo útil. Na maioria dos casos,
a falha poderia ter sido evitada se essas estruturas tivessem sido
mantidas de maneira adequada. As barragens devem ser tratadas
como estruturas antrópicas, que devem ser projetadas, inspecionadas,
operadas e mantidas conforme legislação (SCOTT, 2011).

A reabilitação principal de uma barragem normalmente não é


necessária se a barragem foi projetada de acordo com as boas práticas
de engenharia, projetada usando bons padrões construtivos, sendo
operada e mantida de forma adequada. Os engenheiros geralmente
concordam que o projeto de uma barragem não está completo até que
a barragem seja construída e o reservatório seja enchido com água. Os
55

engenheiros de projeto devem inspecionar as barragens periodicamente


após a construção, garantindo que o projeto esteja funcionando e a
estrutura seja operada e mantida adequadamente (CRUZ, 2004).

2. Manual de Operações

A operação de uma barragem inclui atividades relacionadas ao


transporte, descarga e armazenamento permanente de sedimentos,
água ou ambos, por exemplo e, quando apropriado, água de processo,
efluentes e resíduos, e reciclagem de água de processo. O termo
“operação” se aplica a todas as fases do ciclo de vida de uma instalação
da barragem e não se limita à fase de construção e operação em
andamento do ciclo de vida. Como resultado, a operação também inclui
atividades de recuperação e outras atividades relacionadas.

2.1 Objetivos de Desempenho do Manual de Operações

Os objetivos de desempenho são metas gerais que decorrem da política


e do compromisso do proprietário da barragem, e sempre que possível,
são quantificadas. Os objetivos de desempenho são estabelecidos com
base no seguinte: a intenção do projeto da instalação da barragem;
requerimentos ambientais; avaliação de risco e nível aceitável de
impacto; o plano de gerenciamento de risco e o plano de fechamento
e uso final do material reservado após o fechamento. Os objetivos
de desempenho devem ser desenvolvidos em colaboração com o
Engenheiro de Registro (EoR), a(s) pessoa(s) responsável(eis) e outro
pessoal-chave. O Quadro 1 fornece exemplos de possíveis controles
operacionais que devem ser tratados por objetivos de desempenho.
Os indicadores de desempenho (controles de desempenho) surgem de
objetivos de desempenho e são requisitos mensuráveis e ​​ quantificáveis, ​​
que devem ser definidos e atendidos. Os critérios de desempenho
56

especificam a faixa de desempenho esperada ou aceitável para cada


indicador e as faixas de desempenho que podem exigir que certas
ações corretivas sejam tomadas. Esses critérios variam conforme as
características do projeto.

Quadro 1 – Exemplos de controles operacionais (indicadores de


desempenho) que devem ser tratados por objetivos de desempenho

Etapa Controles

Planejamento e calibração da descarga.

Desempenho dos sistemas de drenagem.

Características dos materiais reservados (por


exemplo, tamanho de partícula, conteúdo de
água, propriedades químicas, densidade seca
dos rejeitos, resistência etc.).
Transporte e
descarga de Desempenho dos sistemas de transporte
sedimentos, água etc. de rejeitos (por exemplo, dutos, correia
transportadora).

Desempenho de sistemas elétricos e mecânicos


associados (por exemplo, bombas, motores).

Requisitos de descarga (por exemplo,


compactação, conteúdo de água,
trafegabilidade).
57

Especificações da fundação.

Especificações de construção.

Disponibilidade de materiais de construção


e planejamento de expansão (por exemplo,
proteção de estacas, aumento na elevação da
barragem, novas células).

Contenção de rejeitos Encostas do reservatório.

Atividades de compactação.

Medidas de controle de erosão.

Medidas de controle de poeira.

Medidas para prevenir o acesso de animais


selvagens.

Auditorias e calibração do balanço hídrico.

Borda livre e ampla da praia.

Descarga, volume e qualidade da água


Gerenciamento de
(em condições normais de operação e
águas
circunstâncias especiais).

Controle e coleta de vazamentos.

Gestão de água recuperada.

Requisitos de monitoramento para indicadores


de desempenho operacional.
Monitoramento
Limites de critérios de desempenho que
acionam ações predefinidas.
58

Procedimentos de resposta a condições


operacionais incomuns (por exemplo, frio
Outros extremo, chuvas intensas, seca, ventos fortes).

Atividades de recuperação progressiva.

Fonte: elaborado pelo autor.

2.2 Procedimentos operacionais

A gestão de cada instalação de rejeitos deve seguir uma série de


procedimentos operacionais padrão (POPs) que melhor reflitam as
características das instalações e apoiem ​​os objetivos de desempenho e o
plano de gerenciamento de risco. Uma abordagem típica é desenvolver
um conjunto de POPs que sirvam como base para um projeto bem
gerenciado. Os POPs dependerão da fase do ciclo de vida da instalação
de rejeitos.

Um procedimento operacional padrão (POP) é um ​​ conjunto de métodos


estabelecidos ou prescritos que devem ser seguidos rotineiramente
para melhorar o desempenho das operações designadas ou nas
situações indicadas. Eles podem incluir procedimentos, padrões,
práticas, protocolos, instruções, regras etc. O uso de POPs tem como
objetivo obter resultados de qualidade e desempenho consistente, ao
mesmo tempo que reduz o potencial de mal-entendidos e falhas de
comunicação. Para serem eficazes, os POPs devem ser aplicados de
forma consistente por todo o pessoal envolvido. Além disso, quaisquer
alterações feitas aos POPs devem ser claramente comunicadas e
documentadas.

Os POPs descrevem indicadores de desempenho e medidas predefinidas


que devem ser tomadas se os critérios de desempenho associados se
desviarem dos intervalos definidos. Os POPs incluem uma descrição das
59

ramificações potenciais quando um desvio é identificado e não tratado,


variando de local a local.

3. Cartas de Risco

A partir da publicação da Lei Federal n. 12.334/2010, alterada pela Lei n.


14.066, de 30 de setembro de 2020 (BRASIL, 2020), o órgão fiscalizador
teve como objetivo implantar o cadastro das barragens sob sua
jurisdição em um prazo máximo de dois anos. Da mesma forma, tornou
mandatória a identificação dos empreendedores e responsáveis pelas
barragens, o cadastramento e atualização das informações relativas a
essas estruturas.

Ainda de acordo com a Lei Federal n. 14.066 (BRASIL, 2020), é


considerada barragem qualquer estrutura em um curso permanente
ou temporário de água para fins de contenção ou acumulação de
substâncias líquidas ou de misturas de líquidos e sólidos. A lei,
entretanto, não é aplicada para todos os tipos de barramento, mas
para aquelas que apresentarem pelo menos uma das seguintes
características:

• Altura do maciço, contada do ponto mais baixo da fundação à


crista, maior ou igual a 15 m;

• Capacidade total do reservatório maior ou igual a 3.000.000 m3;

• Reservatório que contenha resíduos perigosos conforme normas


técnicas aplicáveis;

• Categoria de dano potencial associado – (DPA), médio ou alto,


em termos econômicos, sociais, ambientais ou de perda de vidas
humanas.
60

Deste modo, as barragens deverão ser classificadas por categoria


de risco e dano potencial associado, com base nos critérios gerais
estabelecidos pelo extinto Departamento Nacional de Produção Mineral
(DNPM) e atual Agência Nacional de Mineração (ANM), na Portaria n.
70.389, de 17 de maio de 2017 (DNPM, 2017).

De acordo com esses critérios, a categoria de risco é definida de acordo


com as características técnicas, do estado de conservação e do plano de
segurança da barragem, ressaltando-se que o estado de conservação
da estrutura pode ser preponderante para classificação como risco
alto e necessidades de providências imediatas. A classificação do
dano potencial, por sua vez, é definida de acordo com o volume do
reservatório, existência de população a jusante e do impacto ambiental
e socioeconômico no caso de uma ruptura.

3.1 Categoria de Risco

As Matrizes de Classificação quanto à Categoria de Risco são divididas


em: avaliação das Características Técnicas (Quadro 2), incluindo
parâmetros como altura, comprimento, vazão de projeto, método
construtivo e auscultação; Estado de Conservação (Quadro 3), que
incluem confiabilidade das estruturas extravasoras, percolação,
deformações e recalques e deterioração dos taludes/paramentos; e do
Plano de Segurança da Barragem (Quadro 4), que inclui documentação
de projeto, estrutura organizacional e qualificação dos profissionais na
equipe de segurança da barragem, manuais de procedimentos para
inspeções de segurança e monitoramento, plano de ação emergencial
(PAE) e relatórios de inspeção e monitoramento da instrumentação e de
análise de segurança.

Na sequência são apresentadas as matrizes de classificação


padronizadas de acordo com a Portaria DNPM n. 70.389, em que
as características aplicadas à barragem em análise encontram-
61

se destacadas; entre parênteses a pontuação atribuída a cada um


dos elementos avaliados. Tais matrizes incluem a avaliação das
Características Técnicas (Quadro 2), incluindo parâmetros como altura,
comprimento, vazão de projeto, método construtivo e auscultação,
Estado de Conservação (Quadro 3), que incluem confiabilidade das
estruturas extravasoras, percolação, deformações e recalques e
deterioração dos taludes/paramentos, e do Plano de Segurança da
Barragem (Quadro 4), que inclui documentação de projeto, estrutura
organizacional e qualificação dos profissionais na equipe de segurança
da barragem, manuais de procedimentos para inspeções de segurança
e monitoramento, plano de ação emergencial (PAE) e relatórios
de inspeção e monitoramento da instrumentação e de análise de
segurança.

Quadro 2 – Matriz de Classificação quanto à Categoria de Risco –


Características Técnicas

Características Técnicas (CT)

Vazão de Método
Altura Comprimento Auscultação
Projeto Construtivo
(a) (b) (e)
(c) (d)

CMP (Cheia
Existe instrumentação
Altura ≤ Comprimento ≤ Máxima
Etapa única de acordo com o
15m 50m Provável) ou
(0) projeto técnico
(0) (0) Decamilenar
(0)
(0)
62

Existe instrumentação
em desacordo com
15m ≤ 50m <
Alteamento a o projeto, porém em
Altura ≤ Comprimento < Milenar
jusante processo de instalação
30m 200m (2)
(2) de instrumentos para
(1) (1)
adequação ao projeto
(2)

Existe instrumentação
30m ≤ em desacordo com o
200 ≤
Altura ≤ Alteamento por projeto sem processo
Comprimento ≤ TR = 500 anos
60m linha de centro de instalação de
600m (5)
(5) instrumentos para
(2)
(4) adequação ao projeto
(6)

Alteamento a
montante ou
TR Inferior a
desconhecido Barragem não
500 anos ou
Altura > Comprimento > ou que já tenha instrumentada em
Desconhecida/
60m 600m sido alteada a desacordo com o
Estudo não
(7) (3) montante ao projeto
confiável
longo do ciclo de (8)
(10)
vida da estrutura
(10)

Fonte: DNPM (2017).


63

Quadro 3 – Matriz de Classificação quanto à Categoria de Risco –


Estado de Conservação

Estado de Conservação (EC)

Confiabilidade
Deformações e Deterioração
das Estruturas Percolação
Recalques dos Taludes /
Extravasoras (g)
(h) Paramentos (i)
(f)

Estruturas civis Não existem


bem mantidas Percolação deformações e
Não existe
e em operação totalmente recalques com
deterioração
normal/barragem controlada pelo potencial de
de taludes e
sem necessidade sistema de comprometimento
paramentos
de estruturas drenagem da segurança da
(0)
extravasoras (0) estrutura
(0) (0)

Estruturas com Umidade ou


Existência Falhas na proteção
problemas surgência nas
de trincas e dos taludes e
identificados áreas de jusante,
abatimentos com paramentos,
e medidas paramentos, taludes
medidas corretivas presença de
corretivas em e ombreiras estáveis
em implantação vegetação arbustiva
implantação e monitorados
(2) (2)
(3) (3)
64

Erosões
Umidade ou
Estruturas com superficiais,
surgência nas Existência
problemas ferragem exposta,
áreas de jusante, de trincas e
identificados e presença de
paramentos, taludes abatimentos sem
sem implantação vegetação
ou ombreiras sem implantação das
das medidas arbórea, sem
implantação das medidas corretivas
corretivas implantação das
medidas corretivas necessárias
necessárias medidas corretivas
necessárias (6)
(6) necessárias
(6)
(6)

Surgência nas áreas


Depressões
de jusante com
Estruturas com Existência acentuadas
carreamento de
problemas de trincas, nos taludes,
material ou com
identificados, abatimentos ou escorregamentos,
vazão crescente
com redução escorregamentos, sulcos profundos
ou infiltração do
de capacidade com potencial de de erosão, com
material contido,
vertente e comprometimento potencial de
com potencial de
sem medidas da segurança da comprometimento
comprometimento
corretivas estrutura da segurança da
da segurança da
(10) (10) estrutura
estrutura
(10)
(10)

Fonte: DNPM (2017).


65

Quadro 4 – Matriz de Classificação quanto à Categoria de Risco –


Plano de Segurança da Barragem

Plano de Segurança da Barragem (PS)

Estrutura Relatórios de
Plano de Ação
Organizacional Manuais de inspeção e
Emergencial –
e Qualificação Procedimentos monitoramento
Documentação PAE (quando
dos Profissionais para Inspeções da
de Projeto exigido
na Equipe de de Segurança e instrumentação
(j) pelo órgão
Segurança da Monitoramento e de Análise de
fiscalizador)
Barragem (l) Segurança
(m)
(k) (n)

Emite
Possui unidade regularmente
Possui
administrativa relatórios de
manuais de
Projeto executivo com profissional inspeção e
procedimentos
e “como técnico qualificado Possui PAE monitoramento
para inspeção,
construído” responsável pela (0) com base na
monitoramento
(0) segurança da instrumentação
e operação
barragem e de Análise de
(0)
(0) Segurança
(0)

Possui profissional
técnico qualificado Possui apenas Emite
Não possui PAE
Projeto executivo (próprio ou manual de regularmente
(não é exigido
ou “como contratado) procedimentos apenas relatórios
pelo órgão
construído” responsável pela de de Análise de
fiscalizador)
(2) segurança da monitoramento Segurança
(2)
barragem (2) (2)
(1)
66

Possui unidade
administrativa Emite
Possui apenas
sem profissional regularmente
Projeto “como manual de PAE em
técnico qualificado apenas relatórios
está” procedimentos elaboração
responsável pela de inspeção e
(3) de inspeção (4)
segurança da monitoramento
(4)
barragem (4)
(3)

Não possui unidade Não possui


Não possui Emite
administrativa manuais ou
PAE (quando regularmente
e responsável procedimentos
Projeto básico for exigido apenas relatórios
técnico qualificado formais para
(5) pelo órgão de inspeção
pela segurança da monitoramento
fiscalizador) visual
barragem e inspeções
(8) (6)
(6) (8)

Não emite
regularmente
relatórios de
Projeto conceitual inspeção e
- - -
(8) monitoramento
e de Análise de
Segurança
(8)

Fonte: DNPM (2017).

3.2 Dano Potencial Associado

O Quadro 5 presenta a classificação da estrutura quanto ao seu


Dano Potencial Associado, que está associado ao volume total do
67

reservatório, à existência de população a jusante, ao impacto ambiental


e ao impacto socioeconômico.

Quadro 5 – Classificação quanto ao Dano Potencial Associado

Dano Potencial Associado (DPA)

Volume Existência de
Impacto
Total do população a Impacto ambiental
socioeconômico
Reservatório jusante

INSIGNIFICANTE (área
afetada a jusante da
INEXISTENTE (não
barragem encontra-
existem pessoas
se totalmente INEXISTENTE (não
permanentes/
descaracterizada existem quaisquer
Muito Pequeno residentes ou
de suas condições instalações na área
< = 500 mil m³ temporárias
naturais e a estrutura afetada a jusante da
(1) transitando na área
armazena apenas barragem)
afetada a jusante da
resíduos Classe II B (0)
barragem)
– Inertes segundo a
(0)
NBR 10.004 da ABNT)
(0)
POUCO
SIGNIFICATIVO (área BAIXO (existe
afetada a jusante pequena
POUCO FREQUENTE
da barragem não concentração
(não existem
apresenta área de de instalações
pessoas ocupando
interesse ambiental residenciais,
Pequeno 500 permanentemente
relevante ou áreas agrícolas, industriais
mil a 5 milhões a área afetada
protegidas em ou de infraestrutura
m³ a jusante da
legislação específica, de relevância
(2) barragem, mas
excluídas APPs, e socioeconômico-
existe estrada
armazena apenas cultural na área
vicinal de uso local)
resíduos Classe II B afetada a jusante da
(3)
– Inertes segundo a barragem)
NBR 10.004 da ABNT) (1)
(2)
68

FREQUENTE
(não existem
SIGNIFICATIVO (área
pessoas ocupando MÉDIO (existe
afetada a jusante da
permanentemente moderada
barragem apresenta
a área afetada concentração
área de interesse
a jusante da de instalações
ambiental relevante
barragem, mas residenciais,
Médio 5 ou áreas protegidas
existe rodovia agrícolas, industriais
milhões a 25 em legislação
municipal ou ou de infraestrutura
milhões m³ específica, excluídas
estadual ou federal de relevância
(3) APPs, e armazena
ou outro local e/ou socioeconômico-
apenas resíduos
empreendimento cultural na área
Classe II B – Inertes,
de permanência afetada a jusante da
segundo a NBR
eventual de pessoas barragem)
10.004 da ABNT)
que poderão ser (3)
(6)
atingidas)
(5)

ALTO (existe alta


EXISTENTE (existem concentração
MUITO
pessoas ocupando de instalações
SIGNIFICATIVO
permanentemente residenciais,
(barragem armazena
Grande 25 a área afetada agrícolas, industriais
rejeitos ou resíduos
milhões a 50 a jusante da ou de infraestrutura
sólidos classificados
milhões m³ barragem, portanto, de relevância
na Classe II A–Não
(4) vidas humanas socioeconômico-
Inertes, segundo a
poderão ser cultural na área
NBR 10004 da ABNT)
atingidas) afetada a jusante da
(8)
(10) barragem)
(5)
69

MUITO
SIGNIFICATIVO
AGRAVADO
Muito Grande (barragem armazena
> = 50 milhões rejeitos ou resíduos
- -
m³ sólidos classificados
(5) na Classe I–Perigosos
segundo a NBR
10004 da ABNT)
(10)

Fonte: DNPM (2017).

3.3 Matrizes de Classificação

Os Quadros 6 e 7 apresentam um resumo das pontuações obtidas nas


matrizes de classificação de risco e do dano potencial associado.

Quadro 6 – Classificação de Risco (CRI)

Categoria de Risco CRI = CT + EC + PS


FAIXAS DE CLASSIFICAÇÃO

Alto > = 65 ou EC = 10*


Médio 37 a 65

Baixo < = 37

*Pontuação (10) em qualquer coluna de Estado de Conservação (10) implica


automaticamente CATEGORIA DE RISCO ALTA e necessidade de providências imediatas
pelo responsável da barragem.

Fonte: DNPM (2017).


70

Quadro 7 – Classificação do Dano Potencial Associado (DPA)


FAIXAS DE CLASSIFICAÇÃO
Dano Potencial Associado DPA

Alto > = 13

Médio 13 > DPA > 7

Baixo <=7

Fonte: DNPM (2017).

3.4 Classificação da Barragem

O Quadro 8 apresenta a classificação final da barragem, através de um


cruzamento entre a Categoria de Risco e o Dano Potencial Associado.

Quadro 8 – Classificação da Barragem VI, segundo


Portaria DNPM n. 70.389/2017

Dano Potencial Associado


Categoria de
Risco
Alto Médio Baixo

Alto A B C

Médio B C D

Baixo B C E

Fonte: DNPM (2017).


71

4. Planos de Ação de Emergência e Gestão de


Risco em Barragens

Os proprietários e equipe operacional devem estar preparados para agir


de forma rápida e eficaz quando uma barragem começar a apresentar
sinais de falha. A identificação precoce de uma situação perigosa pode
fornecer tempo adicional para alertar e evacuar os residentes a jusante
e implementar medidas para prevenir ou retardar o rompimento da
barragem. Como o rompimento de uma barragem pode levar apenas
minutos ou horas, é imperativo ter um plano de ação detalhado pronto
para uso. Este plano, o plano de ação de emergência (PAE), deve incluir:
procedimentos para notificação e coordenação com a aplicação da lei
local e outras agências governamentais, informações de áreas potenciais
de inundação, planos de alerta e evacuação e informações de recursos e
procedimentos para fazer reparos de emergência.

A identificação prévia de condições perigosas em uma barragem


permitirá a implementação imediata de ações e procedimentos de
emergência. Os proprietários e operadores de barragens devem estar
familiarizados com os principais tipos de falha e seus sinais indicadores.
Se qualquer uma das seguintes condições apresentadas na Figura 1
for observada, o PAE deve ser implementado imediatamente, com os
respectivos atores envolvidos (Figura 2).
72

Figura 1 – Exemplo de situações em que o PAE deve ser


implementado

Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 2 – Ações relacionadas a planos de emergência e atores


envolvidos

Fonte: elaborada pelo autor.

Em suma, extremo cuidado deve ser exercido pelos profissionais que


atuam na barragem durante as condições de emergência, quando há
fluxo descontrolado de água. Os proprietários não devem permitir
que ações temporárias se tornem reparos permanentes. Essa prática
é perigosa porque há chance de uma falha rápida e catastrófica ser
73

potencializada caso os reparos não sejam adequados. Desta forma, um


profissional qualificado deve ser contratado para recomendar medidas
corretivas permanentes apropriadas.

Referências
BRASIL. Atos do Poder Legislativo. Lei n. 14.066, de 30 de setembro de 2020. Altera
a Lei n. 12.334, de 20 de setembro de 2010, que estabelece a Política Nacional de
Segurança de Barragens (PNSB), a Lei n. 7.797, de 10 de julho de 1989, que cria o
Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), a Lei n. 9.433, de 8 de janeiro de 1997,
que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, e o Decreto-Lei n. 227, de 28 de
fevereiro de 1967 (Código de Mineração). D.O.U–01/10/2020 | Edição: 189 | Seção:
1 | Página: 3.
COSTA, W. D. Geologia de Barragens. São Paulo: Oficina de Textos, 2012.
CRUZ, P. T. 100 barragens brasileiras. São Paulo: Oficina de Textos, 2004.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL – DNPM. Portaria n. 70.389,
de 17 de maio de 2017. Cria o Cadastro Nacional de Barragens de Mineração,
o Sistema Integrado de Gestão em Segurança de Barragens de Mineração
e estabelece a periodicidade de execução ou atualização, a qualificação dos
responsáveis técnicos, o conteúdo mínimo e o nível de detalhamento do Plano de
Segurança da Barragem, das Inspeções de Segurança Regular e Especial, da Revisão
Periódica de Segurança de Barragem e do Plano de Ação de Emergência para
Barragens de Mineração. Brasília, 2017.
SCOTT, G. A. The practical application of risk assessment to dam safety. Georisk
2011, ASCE 2011, p. 129-168.
74

BONS ESTUDOS!

Você também pode gostar