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SENSO CRÍTICO
DO DIA-A-DIA ÁS CIENCIAS HUMANAS
CIP-Braoll. Cataloga<;:ao-na-Publlc a~ao

Colmara Brasllelra do Llvro, SP

Cn.rraher, David 1-/illiam .


C?99s Scnso crÍt i co : do dia- a - dia as ciencias hu-
r.1anas / David Willi am Carraher . Sao Paulo :
Pioneira , 1983.
(Manuais de e~tudo)

lliblior,rafia .

1 . Comunica<; ao 1ingllí: stica 2. Motodologia


3 . Pcnsamento 4 . Racioc i nio I. Titulo.

CDD- OC.L . 51f


- 001 . 42
-160
83- 1102

In dices para catálogo sistemático:


1 . Comunica<; ao lingU ist ica 001. 54
2 . Linguagem : Comunica<;ao 001.)!f
3 . ~1e tod ologia 001.42
4 . Pensamento : L~gica 160
5 · Raciocinio : L~ gi ca 160
O bom senso é, entre todas as qu.alidad~>S bw nanas. aqueta
distribuida mais por igual, pois todo murzdo se acbct táo dowdo dele
que mé ~ pessoas mais e..Yigentes nos demais assuntos geralmenle niio
desejam ter urna por<;iio maior des/a qualidade clo que já possuem.

R. Descartes. Discurso Sobre Métoclo.

FOR OUTRO LAID/


Nk) ME PREOCUFO
CON'i JMP05TO DE 1
RENDA, INPC, IS5
1
ARGUMENTANDO NA VIDA DIÁRIA E NAS
ORTN, !NPS ...
CIENCIAS HUMANAS
~
Poucos dias depois de vir morar no Brasil, enrrei num dos grandes super-
mercados em Belo Horizome, procurei a lanchonere e esrudei curiosa!Tlente o
cardápio colocado na parede. Quando enconrrei vitamina de aveia na lista,
minha curiosidade foi despertada. Será que é uma vitamina de alguma fruta
tropical exótica? - perguntei-me. Quando questio nei a moc;a da lanchonete, ela
respondeu rapidamente:
- É urna vitamina que usa aveia. Acabou a vitamina de frutas. Só tem de aveia.
- Bom. Mas o que é vitamina de aveia? Eu nao sei o que é aveia. Voce pode
explicar?
- É um negócio que vem numa lata, que se usa para fazer vitamina de aveia.
- Mas é a palavra "aveia" que eu nao entendo. O que é aveia?
- Eu já disse. Voce quer?

Muiras vezes, no dia-a-dia, respondemos a perguntas sem esclarecer nada,


igual aqueta moc;a da lanchonete. Apergunta "Por que os prec;os estao subindo
tanto?", é comum respondermos que "é por causa da inflac;ao··_ Joao se com-
porta de uma maneira irritante "po rque ele é assim mesmo". " Por que eu
gosro tanto de sorvete de flocos? Claro, porque é gosroso". A última resposra
faz-nos lembrar da a<¡serriva: " Pessoas que gostam desee tipo de coisa vao achar
que isso é exatameme o tipo de coisa de que elas gostam".
Inicialmenre, gestaríamos de esclarecer que esses exemplos nao sao apre-
senrados aquí com o objetivo de levar o leitor a inibir-se na vida cotidiana,
como os convidados de uma fesra, em que um analista respondía as piadas
com o comentário: "Voce sabe por que voce está realmente rindo?". Na vida
cotidiana é comum e b.em apropriado expressarmo-nos informalmente, sem
esclarecer ou defender rodas as nossas opinióes. O exernplo da lanchonete tal-

1
vez seja mais a exce¡;;ao do que a regra pois, geralmente, diante de comunica- gasta das idéias de Piaget e, por isso, as considera "válidas" , enguanto seu cole-
<;óes imprecisas, maiores informa<;óes nao sao necessárias. Imagine os aborre- ga, joao, discorda de Piaget e parte lago para urna reoria que é "válida" para
cimentos que voce iria causar se respondesse a pergunta "Como vai?", literal- ele. Um rapaz na me~ma turma gasta de algumas idéias que sáo consistentes
mente, descrevendo todas as suas preocupa<;óes e acontecimentos recentes. Na com sua maneira ele pensar, rejeitando as demais e ficando satisfeito por ter
vida diária é natural a comunica<;áo ser informal e, por isso, informacional- demonstrado seu senso crítico. Podemos até imaginar que um clia ocorra o
mente incompleta ou imprecisa. seguime diálogo entre os tres na sala de aula:
Por outro lado, nossos estilos informais de comunica<;ao e raciocínio (ou
Professor: Mas qual é a importancia das observa~óes de Piaget sobre o egocen-
modo de pensar) habitualmente imerferem como trabalho na ciencia, ondeas
trismo da crianc;a no estágio operacional (entre aproximadamente 2
regras do jogo sáo diferentes. As questóes sao resolvidas de maneiras diversas e 6 anos)? Voces se lembram de que a grande quantidade de evi-
na vida cotidiana e na ciencia e, por isso, muitos iniciames passam por fases de dencias mostra a dificuldade que a crian~a tem em assumir a pers-
frustra<;ao enguanto es tao sendo ressocializados. Nas ciencias· humanas nor- pectiva do outro. Por exemplo, num estudo, Piaget perguntou a
malmente apenas os alunos de pós-gradua<;ao recebem esta reeduca~ao e, urna crian~a nesta fase se ela linha irmáos. Ela res'pondeu que sim,
mesmo assim, somente quando elaboram suas disserta<;óes. tinha um. Mas quando Piaget perguntou se o irmáo dela tinha
O presente livro visa essa reeduca<;ao. Partiremos do pressuposto de que irmao, a crian~a respondeu que náo.
o aluno precisa aprender cenas regras que geralmente náo sáo respeitadas na Maria: Gostei demais deste exemplo, porque eu sempre achei que as cri·
vida cotidiana. Pressupomos, também, que a melhor maneira de iniciar esta anc;as sáo egocemricas. Numa escota onde eu trabalhava com crian-
~as excepcionais, vi muitos exemplos de egocentrismo, até em cri-
reeduca<;áo é conscientizarmos o aluno das diferen<;as entre o raciocínio de
an~as de 15 anos. É realmente impressioname. Eu concorclo plena-
leigos e aquele de ciemistas. Tentaremos mostrar que tais divergencias nao sao .
mente com Piaget.
apenas urna questao de conven<;ao, como as divergencias de etiqueta social em joao: Mas essa n~ao ele egocentrismo nao é nada mais do que um termo
países diferentes. As divergencias sao importantes porque refletem diferen<;as que os adulros inventaram para dominar a nova gera~ao. Quando
entre as funr;óes da comunica<;ao, do raciocínio e da argumenta<;ao na vida ·-1 voce pensa sobre o assunto, voce ve que a crian~a se comporta
cotidiana e na ciencia. naturalmente, inocentemente, e nenhum desses rótulos serve. A cri·
Salientemos que essa reeduca<;áo é mais difíCil para alunos das c1encias an~a nao é egocentrica, nem o comrário. Também voce nao pode
humanas do que para alunos das ciencias exatas, principalmente devido ao fato saber o que a crian~a está realmente pensando. Só ela mesma sabe,
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de que o aluno das ciencias humanas trabalha numa área em que ele já tem \ 1 e, as vezes, nem ela.
um vasto conhecimemo como leigo, mesmo ames da primeira aula na univer- ~. 1 Pedro: Concorde com voces dois. Claro, a crianc;a é egocentrica. Voce nem
precisa fazer um esrudo para saber disso. É só e ntrevistar algumas
sidade, em virtude de sua panicipa<;ao na vida. Quem acabou de passar no ves-_
maes. Afínal de comas, elas conhecem seus filhos muiro nielhor que
tibular de Psicología já tem suas idéias sobre atitudes, tipos de personalidade, ··' qualquer psicólogo. Entáo, vamos dar ra~o a Piagec a respeito des-
comunica<;áo, adapta<;áo e percep<;áo. Até alguns termos outrora considerados se negócio de egocentrismo. Todo mundo sabe que as crian~as sao
"técnicos" - como crise de identidade, fixa<;ao, defesa- já aparecem comu- ~ assim. Mas o que eu nao posso aceitar, pessoalmente, é a idéia que
mente em conversas de nao-psicólogos. Também o jovem iniciante do curso _ esse egocentrismo é ligado ao desenvolvimento intelectual. Para
de Sociología certamente tem no<;óes e opinióes sobre classes, estratifica<;áo e-~ ..· mim, o egocentrismo é um tipo de impulsividade. É que o ego náq
soCial, grupos de referencia, burocracia e anomia muito antes de ler Marx, desenvolveu o suficiente para-controlar os desejos do id.
Weber e Durkheim, em oposi<;ao ao aluno de Informática que, mesmo tendo Entao, joáo também tem razao quando cliz que nossa descric;áo da
conhecimemo de álgebra booleana, árvores binárias e feedback loops, prova- crianc;a é uma questao de rótulos inventados pelos adu ltos. Eu pre-
velmeme na? defende suas opinióes com o mesmo vigor que seu colega da firo, como eu já disse, explicar o egocentrismo em termos de
impulsividade, mas eu estou vendo que o assumo é muito relativo:
Sociologia. E precisamente esse tipo de conhecimento superficial que pode
depende muiro do seu pomo de vista.
acarretar urna falsa autoconfian<;:a no aluno das ciencias humanas e que, por
sua vez, irá dificultando o seu progresso intelectual e, além disso, sua verdadei-
ra forma<;ao profissional.
A primeira vista, esse diálogo entre os alunos é perfeitamente produtivo,
e, se continuar assim, talvez os participantes (e até o professor) Yao achar que
Os tópicos nas ciencias humanas sao relevantes a vida do aluno e familia-
o intercambio de icléias foi um sucesso. Mas, neste caso, as aparencias enga-
res a ele ; por isso mesmo, muitas vezes ele se sente plenamente justificado em
nam. Sem falar dos sentimenros dos participantes no debate, podemos concluir
aceitar ou rejeitar idéias de acordo com suas cren<;:as ou sua "intui<;:ao". Maria
3
2 11
que tal discussao é sem utilidade na forma<;:ao profissional - a nao ser que ser-
visse apenas para oferecer a oportunidade de falar diante de grupos - e até Podemos definir como argumento qualquer conjunto de afirma<;:6es que
prejudicial, se os professores, ao considerarem positivas rais discuss6es, trans- inclua, pelo menos, uR'Ia conclusa6. Quem apresenta um argumento seja un:a
mitirem aos alunos a falsa impressao de que estas atividades esclarecem pro- crian<;:a, um professor universitário, pedreiro ou filósofo, usa premissas, _as
blemas e promovem a educa¡;:ao do aluno. vezes chamadas evidencias, para defender ou fundamentar sua conclusao.
Todos os n·es debatedores apresentam seus pomos de vista como se a Pressup6e-se que o ouvinte deve também aceitar a conclusao se levar as evi-
ciencia fosse s implesmeme urna quesrao de opiniao pessoal. Nenhum dos tres dencias em considera<;:ao.
discutiu a evidencia (ou falta da mesma) apresemada por Piaget para defender Um argumento pode ser apresentado sob forma de urna frase, como no
o uso do termo "egocenrrico", e nenhum dos tres se senriu abrigado a justifi- exemplo: "As popula<;:oes das cidades abaixo da represa de Tres Marias estao
car sua opiniao. Maria concorda com Piaget e apenas expressa sua satisfa¡;:ao em perigo porque a chuva continua e, se continuar até amanha, as autoridades
com o fato de que Piager e ela comparrilham da mesma ídéia. A referencia ao terao que abrir as comportas da barragem". Neste caso, a primeira_parte. da fra-
rrabalho com crian<;:as excepcionais nada mais é do que urna afirma<;:ao de que se, isto é, até a palavra "perigo", pode ser considerada um conclusao, cu¡a vera-
sua experiencia anterior corresponde a sua opiniao; mas esta informa<;:ao em si cidade é presumivelmente indicada pela outra metade da frase, ou seja, pela
nao constituí evidencia que possa apoiar sua opiniao. Do mesmo modo, ]oao informa¡;:ao sobre a chuva e a necessidade de abrir a barragem. Em outros
evita urna considera<;:ao sérja das virtudes e falhas da idéia de egocel'l.trismo de casos, o argumento poderia estender-se por vários parágrafos, capítulo~ ou até
Piaget, preferindo afirmar, também sem evidencia, que o egocentrismo é ape- vol u mes. No livro, A Interpreta<;áo dos Sonhosi, Freud dedica um capitulo ao
nas um rótulo, e como qualquer pessoa pode ver- quando pensa - os rótulos argumento de que os sonhos expressam nossos desejos reprimidos. Um .argu-
nao servem para nada. O estilo de Pedro é mais suti l, mais convincente. Ele, mento de tal complexidade consiste de urna série de subargumentos Inter-
diplomaticamente, concorda com os dois lados e mostra urna boa combina<;:ao -relacionados e outras idéias que sao apresentadas sem maiores justifiGativas,
de respeito para com os outros e de convic<;:ao ("mas, eu nao posso aceitar, ou porque sao consideradas evidentes ou porque foram demonstradas anteri-
pessoalmenre ... estou vendo que o assunto é muito relativo"). Embora sua opí-
niao possa parecer mais elaborada devido ao seu estilo, suas coloca¡;:oes sao
l. ormente. Os subargumentos contribuem aos argumentos maiores como evi-
dencias.
tao primitivas e sem justificativa como as dos ourros dois. Panindo dessa no<;:ao de argumento, todo relatório de pesquisa constituí
Será que estou defendendo a idéia de que as pessoas nao devem apresen- um argumento complexo com suas p róprias conclusóes e evidencias. As con-
tar suas qpini6es em debates? Que nossas opini6es nao tem valor algum? Em clusóes sao justamente as idéias que o investigador julga justificadas pelos
hipótese alguma. Todo mundo te m direito a opini6es. Mas o simples fato de
termos urna opiniao, por mais firme que seja, nao deve levar-nos a aceitá-la
1 dados colhidos e pelo conhecimento existente no campo de estudo.

como se fosse um fato evidente. 1


2. A PRAGMÁTICA DA COMUNICA(:AO
1
O debate apresenrado acima é, até cerro pomo, representativo da natureza
das discussoes entre iniciantes nas ciencias humanas, sejam esres pessoas mais As fun<;:6es de argumentos sao tao diversas quanto os motivos que nos
ou menos dotadas intelectualmente. Tal s itua<;:ao só se torna assunro de preo- levam a nos comunicar·com os ourros. Argumentos bem apresentados podem
cupa<;:ao por parte dos educadores se os alunos nao mudarem durante sua for- ajudar-nos a receber vantagens materiais, passar em provas, fundamentar as
ma<;:ao profissional. Ponanro, o suces_so da forma<;:ao do aluno como ciemista conclusóes de urna investiga<;:áo, iludir um fregues, racionalizar nossos erras,
social dependerá, em grande parte, do grau em que ele desenvolva urna nova ridicularizar um oponente. Em cerros casos, o próprio conteúdo do argumento
forma de pensar e apresentar suas idéias. revela as raz6es pelas quais o argumento foi formulado, como no caso de urna
defesa judiciál: o advogado apresema evidencias que pretendem justificar a
l. ARGUMENTA(:AO conclusao ou o julgamento do réu como inocente para evitar para seu cl1ente
urna pena e a desgra<;:a de ser encarado e tratado como criminoso. Em outros
Quando uma pessoa apresema e defende idéias dianre de curros el~ está casos, precisamos entender melho r o contexto no qua! o argumento foi apre-
fazendo argumentac;ao. Em vista da grande importancia da argu menta<;:ao no sentado para compreender sua fun¡;:ao. Urn relatório de urna invesriga<;:ao
trabalho dos cientistas sociais, consideraremos cletalhadamenre o papel da ar- interna de corrup<;:áo numa firma pode aparentar uma ::~nálise fria e objetiva ele
gumenta<;:ao na vida cotidian::~ e na ciencia e analisaremos as características de transar;oes finance iras enquanro, na realidacle, pode ser urna tárica para inocen-
argumentos, forres e fracos . rar os diretores, tranqüilizar os acionisras e convencer o público ele que repor-
tagens anteriores nos jornais eram falsas.
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5
Na vida cotidiana, as pessoas formulam argumentos para realizar seus pla- Esta orienta<;áo aos aspectos pragmáticos, a utilidade das idéias, ao invés
nos. Um homem aponta as vantagens ou desvantagens de materiais de constru- da verdade das mesmas, pode nos levar a confundir explicac:;óes com afirmati-
<;áo e sistemas de fínanciamento para convencer sua esposa de que vale ou náo vas apenas convenient~s ou agradáveis. A tendencia manifesta-se freqüente-
vale a pena comprar urna determinada casa. Um vendedor de frutas mostra a mente em áreas de conhecimento que apelam especialmente ao leigo. Veja-
p~ma ~e urna penca de bananas ao consumidor para comprovar que a fruta mos, no seguinte exemplo, como o autor defende a Astrología por causa de
nao fo1 tratada com carbonew. Políticos e pona-vozes de todas as naturezas alegadas conseqüencias favoráveis decorrentes da aceita<;áo da mesma. Ora, a
preparam reportagens, memorandos, palestras e boletins informativos para questáo de se os horóscopos descrevem, de fato, os acontecimentos de nossas
apresentar conclusoes e decisoes ao público, através de informac:;oes organiza- vidas e se existem evidencias científicas que apóiem os princípios da Astrología
das para convencer, e nao apenas informar, de que tais conclusoes de decisoes nao é levantada, como se fosse irrelevante para julgar a validade das idéias.
sáo carretas e justificáveis. O senso comum, testemunhos, estatísticas e depoi-
mentos de especialistas sao seletivameme apresemados ao público como evi- Parece-me que se pode dizer duas coisas sobre a Astrología que sugerem que
dencia da validade de cenas idéias e planos de ac:;áo. ela ganhou sua aceita<;ao honestamente, por ser mais competente, mais sofisti-
Podemos chamar esses tipos de atividades pragmáticos, no sentido de cada, mais "útil", no sentido pragmático da palavra, na rradi<;iio de William
James, do que seus competidores intelecruais. Primeiro, a Astrología é um
que a comunicac:;áo é instrumental, ao invés de ser apenas urna forma de
instrumento incomparável para orientar as pessoas quanto aqueles detalhes ele
representar ou de desenvolver conhecimento. A pragmática trata das fun<;óes caráter, personalidade e biografía pessoal em outros indivíduos. Essa oríenta-
·,
e dos significados da linguagem no contexw social. A afirmativa "Eu completei '· <;ao conduz muitos de nós a conversa<;oes mais ínteressames e significativas.
meus estudos para o doutoramemo na Franc:;a em apenas dais anos" provavel- Segundo, a Astrología fornece- urna teoría de agrupa memos humanos- virtual-
meme constituiría urna tentativa do autor de ser encarado pelos ouvimes como mente a única que remos - em que os membros de cada grupo sao simulta-
competente, intelectualmente. Após pisar no pé de urna outra pessoa inadverti- neamente diversos dos, iguais aos e inter-relacionados com membros dos de-
damente, a frase "Uai, eu náo sabia que voce estava aí" seria interpretada como mais grupos2 .
urna negac:;áo de intencionalidade, por parte do autor, e urna tentativa de redu-
zir a tensáo sentida pelas duas partes em func:;ao do incidente. A linguagem lJrecisamos mamer, na medida do possível, urna distinc:;áo clara entre a
promove tnteresses e desernpenha func:;oes sociais, como demonstra o seguinte conveniencia e o valor explicativo das nossas idé ias. Pode ser conveniente um
diálogo: professor acreditar que, se o aluno náo progredir, é porque ele nao tem a
inteligencia necessária; e se progredir, é por causa da habilidade do professor
Lady Astor: Winston, se vocé fosse meu marido, eu iria temperar seu em estimular o desenvolvimento do aluno. Porém, tuda indica que a explica-
café com veneno. <;áo do sucesso/fracasso escolar exige a considerac:;ao de muitos outros aspec-
Winston Churchill: Madame, se eu fosse seu marido. eu iria bebé-lo. tos da aprendizagem e do raciocínio e integrac:;áo destes aspectos em análises
coerentes e inteligentes. Urna explicac:;áo presumivelmente válida, do ponto de
Náo se deve interpretar a conversa literalmente como inten<;óes de exter- vista do pro fessor, é contaminada pelos interesses· práticos do mesmo em rela-
~ínio m~tuo. Ao invés de representar verdades, a linguagem oeste exernplo <;áo ao assunto.
expressa msulto. O significado social das afirmativas nao é o conteúdo literal
das frases mas, sim, a interpretac:;ao que os participantes iriarn oferecer as
expressóes. O significado depende dafum;áo social que a afirmativa serve no
3. A ARGUMENTA(;AO PSICOLÓGICA
momento. Por isso, a mesma afirmativa poaeria assumir diversas func:;oes,
dependendo do contexto em que for emitida e da maneira que for apresen- Quando um argumento é especialmente e laborado para apelar ao ouvinte,
rada. Com as entonac:;óes cenas, a frase "Uai, eu náo sabia que voce estava aí" a argurnenta<;áo resultante é chamada "psicológica". A argumenta~ao psi-
pode ter diversos significados, transmitindo até ironía e sarcasmo. cológica tem duas características básicas:
~uitas vezes, tratamos idéi:ts como se fossem verdadeiras ou válidas p or-
l. Comprometimento forte: o importante é defender urna ou mais conclu-
que s~o convenientes. Assim, um estudante poderia acreditar que urna prava
soes, mesmo que implique numa distor<;ao dos fatos;
de mulnpla escolha seja mais "válida" que urna prova de resposras livres; na
2. Emocionalidade: a evíd~ncia escolhida especialmente para convencer o
realidade, suas afirmativas provavelmeme expressam mais como e le queria que
ouvime da validade das conclusoes é normalmente emocional ou psicoló-
o professor encarasse pravas de múltipla escolha do que represenram a reali- gica.
dade em si.
¡· 7
6 11
É fácil entender a narureza da argumema<;ao psicológica se pensarmos
num exemplo fam iliar, como as verbaliza<;óes de um correwr que ganha urna o nene que mama no peito até cresce de maneira diferente do nene que usa
mamadeira, o qua! desenvolve ossos maiores e mais pesados durante o pn-
comissao nos apanamemos que vende. Quando um casal chega no plantao de
meiro ano de v~a - provavelmente devido a quantidades relativamente maJo-
vendas para es[Udar os apanamemos, a infra-esrrutura da vizinhan<;a e as condi- res de cálcio no leite de vaca. Algumas pessoas acham que os nenes alimenta-
<;6es de pagamemo, o vendedor já rem a conclusao de sua argumenta<;áo dos no peito sao deficientes em cálcio, mas parece mais plausível qu: o nene
pronta: isro é, que o casal nao pode fazer melhor negócio do que comprar que usa mamadeira exibe um padrao artificial de crescimento - mwto pare-
agora. Ele já havia memorizado as principais vanragens da compra (o aparra- cido com aquele dos gansos tipo Strasbourg, cuja alimentac;ao é forc;ada 3 .
memo é bonito, barato, bem localizado, ere.) e rem alguns comra-argumemos
preparados em amecipa<;áo de críticas por parte de possíveis compradóres. Se Para a mae que com tanto carinho e ternura cuida do seu nene, a insinua-
o cliente disser que gostou do apanamemo mas que prefere esperar, o corre- <;áo de que quem dá mamadeira está for<;ando alimenta<;ao no nene, como se
ror mostra urna lista de compradores que já fecharam urna compra no mesmo fosse um bicho a ser criado para o mercado, agirá no sentido de favorecer a
prédio e menciona que alguém já está muiro interessado no apartamento em ado<;áo da amamenta<;áo materna.
quesrao. Se o apanamento é considerado caro, o correror menciona ourros O fato de urna pessoa usar um argumento psicológico·nao implica em q~e
apartamentos de qualidade inferior a este com pre<;os mais e levados. De qual- ela e~reja necessariamente defendendo um pomo de vista e rrado ou que nao
quer modo, um corr~ror raras vezes fica sem informa<;óes que comprovem, considera fatos relevantes. O problema é que o argumento é de tal forma que
segundo e le, que o imóvel representa urna órima oponunidade para o cliente. o ouvinte- ou, pelo menos, o ouvinre ingenuo- concorda comas conclusóes
O bom correror pode acompanhar o cliente a diversos lugares, sempre em fun<;ao do poder persuasivo do argumento, e náo por razó~s mais dir:ra-
achando mais vamagens para o imóvel que ele está mais interessado em ven- mente relacionadas com sua validade. Considere, a este respetto, a segumre
der (desde que o imóve! esreja dentro dos limites do poder aquisirivo do di- discussáo do tratamento. médico de problemas conside rados psicológicos:
eme). Um apartamento no cenrro da cidade é ótimo (muiro conveniente) e um
apanamemo afasrado do centro também (rranqüilo); de modo semelhame, um A perspectiva médica dos hábitos ve a narureza do "problema" c~mo logica-
apartamento pequeno pode ser chamada "urna gracinha" ou "apenado", de- mente situada no órgáo afetado- e nao na pessoa que os extbe, seJa o proble-
pendendo do interesse de quem o está descrevendo. E se for necessário, o ma de masturbac;áo ou abuso de alimentac;ao sob forma de gula. Este modo de
correwr critica alguns aspectos da constru<;áo (preferivelme nte detalhes de pensar assemelha-se a idéia de que urna pessoa que faJe ingle.s com sotaque
estrangeiro, por ter vivido em outro país quando crianc;a, sena submettd_a a
apartamentos que náo interessam ao cliente) só para aumentar sua credibili-
dade e a impressáo ·de sinceridade. urna "cirurgia reconstrutiva" da boca, língua e dentes para corngtr seus habJ-
tos de faJa deficiente. O tremendo absurdo de urna cirurgia como esta e o sa-
A finalidade da argumenta<;áo psicológica é vencer, conquistar ou provo- dismo ainda maior dos cirurgióes que a fazem, assim como a enorme creduli-
car o ouvinte, e a evidencia constituí a arma do ataque. Se o ouvinte demons- dade dos pacientes que a ela se submetem, nao diminuíram o entusiasmo
trar que a evidencia nao tem valor, de seu pomo de vista, o falanre procura renovado por todas as novas "curas" deste tipo. Assim, no século 19, clit:ro-
lago outras evidencias. Quem apresema um argumento psicológico geralmeme dectomia em meninas e circuncisao em meninos eram aJétodos reconheetdos
nao está interessado em induzir contempla<;ao e reflexao racional no ouvinte; para o tr:namento da masturbac;ao. A ampura~áo do pen i~ !oi defend~da, ai~da
muito pelo contrário, a finalidade é influenciar o outro, surpreende-Jo, atacá-lo em 1891, por um dos presidentes da Real Faculdade Bntantea de Ctrurgtoes.
inesperadame nte, comunicar urgencia, rrabalhar os semimemos do outro para No século 20, os cirurgióes continuam a mutilar um órgao perfeiramente
dominar a questáo e, assim, saliemar cenos aspectos e menosprezar outros de sadio o cérebro, para tratamemo de certos "maus hábitos·· do pensamento,
modo que as defesas do ouvime nao possam entrar em a<;áo. faJa ~ conduta chamados ''esquizofrenia". O inventor do "tratamento", Egas
Moniz, recebeu pela descoberta.deste traramento o Premio Nobel. O próprio
Para o falanre, as conclusóes náo sáo o resultado de urna avalia<;ao das evi- tratamemo, chamado lobotomia ou leucotomia, também tem sido usado em
dencias, por mais que se insista que o sejam, mas, sim, o próprio ponto de par- viciados em drogás 4 .
tida do argumento. Observa<;óes que possivelmenre iriam colocar urna conclu-
sao em perigo sáo ignoradas ou ativamente menosprezadas de diversas
mane iras. O autor parte deste argumento para atacar o uso de técnicas citúrgicas ~?
O seguinre exemplo de argumenra<;ao psicológica aparece num livro que controle da obesidade. E quem poderia discordar de Szasz, enfrentando as dift-
objetiva informar sobre e incentivar a amamema<;áo mate rna: culdades resu ltantes da natureza psicológica do argumento? O oponente tena,
primeiro, que cleixar claro que náo está a favor da clirerodectomia, ~a loboto-
mia ou da decisao do Comite Nobel ele dar o premio para Egas Mo ntz - todas
8
9
essas idéias que dificilmente poderiam ser defendidas. Szasz vincula suas colo-
1 sentimos a necessidade de campará-las e conrrastá-las deralhadamenre.
Imagine esta situa<;ao: um psicólogo indusrnal acaba de reprogramar o
ca<;óes contra o tratamento cirúrgico da o besidade a argumenta<;ao altamente · ento de novos empregados num grande frigorífico e leva sua proposta
emocional e persuasiva apresentada acima. tre!Oam - das mod 1·r·tca<;oes,
- anteCipa
.
ao dtretor gera1. o pst·co' logo , ao explicar
· ' a"~ razoes •
Mas o argumento de Szasz náo é apenas emocional, pois cenas idéias sao urna cena resis~ncia a proposta por parte do seu ch~fe. lntere~sado :m por
claramente apresentadas e defendidas. Sua análise pode ser resumida da em prática a nova idéia, 0 psicólogo entende que preCis: comumcar, nao ape-
seguinte forma: "A perspectiva médica da natureza dos hábitos é absurda, por-
nas para 1.nformar o d'tretor , mas rambém para convence-lo das vantagens do
que é baseada na no<;ao de que os maus hábitos constituem problemas médi- seu plano. Isso significa que ele torna-se defens~r das idéias apresentadas na
cos cujo controle reside nos órgaos fisiológicos". Os tratamentos de casos cita- proposta. Para conseguir sua aceita<;ao, e le preCisa defender a pr~posta . com
dos documentam, sem maiores explica<;óes, a extensao do erro cometido, argumentos que influenciern 0 diretor de modo positivo. As s~_gumtes lmhas
quando se pensa que problemas comportamentais e sociais sao devidos a defi- de argumenta<;áo representam alguns temas que ele pode enfauzar:
ciencias de órgaos específicos e que o rratamento destes problemas consiste
de interven<;óes cirúrgicas radicais. Evidentemente o leitor nao pode avaliar, Exemplo Tema Subjacente
com as informac;óes apresentadas, a representatividade dos casos citados;
porém, se esse tipo for característico, Szasz realmente teria um argumento "Eu estava pensando sobre a conver- A proposta é apresentada como se
muito forte, panque seria muito difícil negar a relevancia das cirurgias mencio- sa que tivemos na semana passada so- fosse uma extensao de uma iuéia do
nadas para a conclusao geral. bre os problemas de desempenho próprio diretor. Essa estratégia pode
dos empregados recém-chegados e conquistar a simpatia dele. Se a pro-
Devemos ver, portanto, que o argumento de Szasz é um argumento psi-
cheguei a conclusao de que voce posta fo r boa, o cliretor pode assumir
cológico e também um argumento racionaL O aspecto psicológico tem for<;a, uma parte do mérito.
ou é convincente, em virtude da repulsa e ho rror que o leitor sente ao conhe- colocou uma coisa muito impor-
cer os casos de abuso citados. O aspecto racional depende do grau em que as tante..."
evidencia-; apresentadas sao relevantes a conclusao e servem para auténtica- "O veterinário, Dr. Gusmao, achou Um especialista concorda com o
menee justificá-la. que cenas idéias poderiam melhorar plano .
as condi¡;oes de higiene no labora-
4. CRIA{:ÁO E DEFESA DE IDÉIAS tório. Ele disse que... "

1'
Quando um autor apresenta argumentos, como fez Szasz, isto é, com mui-
ta convic<;ao e for<;a, com a finalidade de persuadir o ouvinte, ele está agindo
como cientista ou como leigo? Os dentistas sociais devem aprender a argu-
i "Como voce sabe, nossa matriz em
Sao Paulo vai mandar urna equipe
para cá para avaliar a fir ma, e um dos
critérios que se usa muito é a eviden-
O diretor se preocupa muitO com a
imagem que o escritório central tem
do seu trabalho. Implementar a pro-
posta poderia significar ganhar aceita-
menta<;áo psicológica ou evitá-la, mantendo sempre um ponto de vista mais cia de f\exibilídade po r parte da filial. <;áo da matriz.
1
1
objetiVO\ e racional? Qua! é, por exemplo, o papel de um pesquisador que rea-
liza estudos sobre a aprendizagem nas escalas? Ele eleve apenas fazer os seus
1 Isto é, se a filial implementar novas

esrudos, deixando a tarefa de defender métodos ou programas educacionais


f idéias ... "

para educadores e políticos; ou deve, ele próprio, comprometer-se defen- "Com a reorganiza<;áo do setor, Vantagem pessoal para o diretor; ele
como nós propomos, vocé teria mais nao precisa preparar relatórios sobre
dendo suas conclusóes e fazendo sugestóes? Um sociólogo eleve estudar a
tempo disponível para resolver pro- os empregados.
sociedade ou trabalhar para mudá-la? As duas arividades sao compatíveis ou
nao? blemas mais importantes da firma,
Propomos que as duas atividades competem aÓ cientista social. Por um la- pois os relatórios mensais seriam
preparados pelos psicólogos ...
do, e le trabalha para obter informa<;óes sobre os fenómenos sociais, para
entende-los independentemente de suas preferencias pessoais. Neste sentido, Nota-se que os argumentos apresentados náo sao direramenre rela~iona­
o cientista é um criador de conhecimento e, em princípio, exerce essa .t:unc;ao dos a validade da proposta, embora representem meios de convencer _o .dtret~r
quando se engaja em pesquisa e teoriza<;ao. Por outro lado, ele é também um da validade da mesma. Em outras áreas das ciencias humanas o prmCipto s~na
defensor ele cenas idéias, valores e a<;óes. Estas fun<;óes distintas sao táo fre- me~mo: para persuadir o outro, necessita-se de argumentos e temas aos
0
qüentemente confundidas, tanto por leigos como por cientistas eminentes, que
11
10
·~j
quais. o outro é sensível. Se o interlocutor citar autoridades quando apresenta procedimentos que nao sao habituais na vida cotidiana. Entre essas atitudes
suas ~dé1as, ele provavelmente tenderá a aceitar argumentos que apelam a incluímos o pressuposto de que é desejável o uso explícito da linguagem, por
auron~ade do autor. Se, por outro lado, ele for descreme de especialistas, tal- exemplo. # ·
vez se¡a melhor desprezar autoridades para que o outro se identifique com o
proponente, como no seguinte exemplo: Experiencia
Muitas pessoas citariam a experiencia do cientista como a característica
Muita geme acha que eles ensinam muita coisa nas escoJas, mas nao é ver- essencial que o distingue dos leigos. Pode-se mencionar os anos de observac;ao
dade. Tem muita gente saindo das faculdades com menos na cabec;a do que
do psicólogo infantil, ou sua grande prática em lidar com os p roblemas de cri-
quando entrou...

Ao apresemar tais exemplos, nao estamos defendendo o uso indiscrimi-


1 anc;as, como indicac;ao de sua qualifica<;ao. Entretanto, se o critério essencial de
qualificac;áo fosse a experiencia, teríamos que indicar as máes com o maior
nado da argumentac;ao psicológica, sem considerac;ao do bem-estar de nosso número de filhos criados o u maior número de anos de trabalho materno
semelhante. Porém, a natureza humana é tal que as pessoas aceitam idéias e como grandes autoridades na área da psicología infantil. Do mesmo modo, o
planos de ac;ao por razoes emocionais e pessoais, por questoes de valores professor com mais anos de servic;o seria um grande especialista em ensino e
conveniencia ou preferencia, muito mais do que por razoes puramente racio~ educac;áo e o eletricista com mais experiencia seria considerado o mais sábio
na1s. Enquanro essa for' a natureza do ser humano, os cientistas sociais terao ou competente especialista em eletricidade. Os cientisras certamente precisam
que aprender a ser persuasivos, reconhecendo que tal atividade nao é ineren- de experiencia e convivencia, mas nao é essa a característica que os distingue
ter::ente científica, ainda quando se aceite que a func;ao de defender e propor dos leigos. Ora, se o leitor pensar que é a natureza ou qualidade da experien-
Ide1as também cabe ao ciemista social. Como proponentes de idéias e planos cia que importa, ao invés da quanridade, teremos virtualmente o mesmo pro-
de .ac;~o, os ciemistas nao devem confundir suas técnicas de argumentar e blema que tínhamos a esclarecer ames, pois restaría explicar justamente em
rac1ocmar com as técnicas utilizadas no desenvolvimemo do conhecimento. que sentido a experiencia do ciemisra é superior aqueJa do le igo.

Fatos
5. DIFEREN~AS ENTRE LEIGOS E CIENTISTAS Talvez o ingrediente mais importante seja o conhecimento dos fatos na
área de especializac;áo. Pode-se argumentar que ó ciemista social é cientista em
. Toda pessoa, além de ser um ser emocional, espiritual e social, é um ser virtude da grande quantidade de informac;oes de que ele disp6e. Cenas pes-
rac10nal, e essa característica suposrameme engloba tanto leigos como cientis- soas até expressam sua aceitac;ao deste critério através de comentários do
tas, quer se trate de urna sociedade tradicional ou moderna. O ser humano seguime tipo: "Ele é urna verdadeira enciclopédia" ou "Ele sabe muiea coisa
classifica suas experiencias, planeja para o futuro, estabelece associac;6es entre sobre ... " ou "Fulana sabe mais Sociología do que Fulano". Sem dúvida o espe-
eventos e ativamente procura explicac;6es para os eventos que o envolvem cialista leva vamagem sobre o leigo nesre aspecto, porque seu trabalho forne-
reconhecendo, as vezes, que cenas explicac;oes sao superiores a outras. Nest~ cerá muitas informac;6es que o leigo dificilmeme encontrará. Quem quiser.
sentido, há grand.es semelhan<;as entre os leigos e os ciemistas. Sabemos que entender as razoes para o hábito de barer em crianc;as, por exemplo, deve
erros .e confusoes nao sao domínio particular dos leigos. Os cientistas podem saber que a maior parte dos país que espancam seus filhos "apanharam"
errar - e en·am. Discordam uns dos outros e, como as comunica<;oes entre quanclo crianc;as. Na área da sociología do trabalho, é importante saber que os
ciemistas em congressos profissionais nos revelam, as vezes, muitas vezes, ape- estudos em muitas regioes indicam náo haver nenhuma relac;áo sistemática
gam-se te1mosamenre a suas teorías e interpretac;oes, apesar de evidencias con- entre salário recebido e smisfac;ao com o emprego. No desenvolvimemo
trárias. Os cientistas sao muito falíveis. ·intelectual, os estudos clássicos de Piaget sobre o raciocínio da crianc:;a revela-
Estas conside rac;oes nos levam a pergunrar: quais,.entao, sao as diferenc;as raro navidades tao surpreendemes que o próprio Albert Einstein achou incri-
entre o leigo e o cientista, e em que sentido o conhecimento dos cientistas so- vel que a crianc;a pequena nao tenha noc:;áo de conservac;ao5 e que gradaciva-
ciais é superior aquele dos leigos? mente adquira a mesma sem instruc;áo formal sobre o assumo. Mesmo em
Reconhec;amos, de início, que o "ciemista socia!" ao qual nós nos re feri- escudos menos dramáticos, os dados revelam muitos fatos imponames que
mos constituí um tipo ideal nao e ncontrado facilmeme na realidade. Mesmo normalmente sáo desconhecidos pelo leigo. .
assim, parece-nos razoável discutir a questao nestes termos, porque a fo rmac;áo Familiaridade com os fatos numa determinada área de conhecimemo é
de ctemistas sociais tende a incentivar o desenvolvimento de certas atitudes e um requisito para quem nela q uiser atuar, mas nao é suficiente. O conheci-
12
13
1

mento do ciemista nao se reduz ao conhecimento dos fatos, pois é preciso ver dade quanto na quantidade de explica~óes que e le pode desenvolver para
um significado subjacente a eles. Urna dona de casa q ue decora urna lista de fenómenos, sejam eles da Educa~ao, Sociología. Antropología, Psicología ou
qualquer outra ciencia. Certameme o leigo também desenvolve conhecimento,
passos numa receita culinária tem muitas informa~óes sobre o preparo de um
prato, mas se nao entender o sentido dos mesmos vai te r dificuldade na falta
f mas um conhecimenfo nao integrado, com mais inconsistencias, do que o
de seus instrumentos ou de cen os ingredientes. Da mesma forma, o conheci- desenvolvido pelo ciemista social, pois este tem interesse e m aprimorar e refi-
mento nas ciencias humanas precisa ser fundamentado e nao constituir meras
"receitas de bolo". No a!emao, o termo humorístico Fachidiot (literalmente,
1 nar suas idéias cada vez mais, através de investiga~óes e da reflexao. Enquamo
um ciemista procura conhecimento que servirá para uma gama de situa~óes e
idiota bem informado, em contraste com Fachmann, ou especialista) ridícula- condic;:óes diferentes, o leigo, freqüememente, busca explica~óes para eliminar
riza os especialistas que, apesar de possuírem muitas informa~óes, apresentam dúvidas na hora, para "quebrar o galho".
urna total falta de perspectiva ou conhecimento mais amplo.
O homem na sua vida diária está apenas parcialmeme, e ousamos dizer excep-
Observafii.O cionalmente, interessado na clareza entre os e lementos de seú conhecimento,
isto é, num amplo insight nas relat;óes entre os elementos de seu mundo e os
AJém de ser mais bem informado, pode-se também citar o método de
princípios gerais que regem aquetas relat;óes. Ele está satisfeito pelo fato de
observa~ao como um r.onto em que o cienrista tende a levar vantagem com
que um bom servic;:o telefónico está a seu dispar e, geralmente, náo pergunta
relac;:ao ao leigo. O cienrista social tende a fazer urna grande distin~ao entre ·· sobre o funcionamento técnico do aparelho, nem sobre as leis da Física que
suas observac;:óes e aquilo que foi inferido a partir deias6 . Ele tende a reconhe- possibilitam tal funcioname~to. Ele compra sua mercadoria na loja, sem saber
cer, em contraste com o leigo, a facilidade com que pode enganar-se e tema como a mesma foi produzida e paga com dinheiro, embora tenha urna vaga
estabelecer meios para evitar várias fontes de erro nas suas observa~óes. Ao noc;:áo do que é o dinheiro! Ele gratuitamente pressupoe q ue os outros
mesmo tempo, ele procura evitar ambigüidades e confusóes nas suas comuni- homens entenderáo seu pensamento se expresso em linguagem clara e res-
ca~óes sobre as observa~óes, evitando imprec;isóes e vaguezas e insistindo na ponderáo apropriaclameme, sem se preocupar em saber como esta perfor-
clareza de seus conceitos e afirmac;:óes sempre que possível. mance poderia ser explicada ... Seu conhecimento, finalmente , náo é consis-
tente. Ao mesmo tempo ele pode considerar como igualmente válidas afirma-
Senso Crítico c;:oes que sáo de fato incompatíveis urna com a outra. Como pai, cidadáo,
empregado e membro da igreja, ele pode ter as opinioes mais diversas e
Finalmente, sugerimos que uma característica essencial do cientista bem
menos incongruentes sobre questoes morais, políticas e económicas8
preparado é seu senso crítico. Além de adquirir conhecimenros na sua área de
) especializa~ao, a pessoa com senso crítico levanta dúvidas sobre aquilo em que O investigador, no papel de criador de conhecimenro, estuda as eviden-
se comumenre acred ita, explora rigorosamenre alternativas através da reflexao cias que poderiam esclarecer cenas questóes, as vezes obtendo oeste processo
e avalia~ao de evidencias, com a curiosidade ele quem nunca se comenta com novos dados ou informa<;óes relevantes. Ele estuda as evidencias precisamente
o seu estado atual de conhecimemo. Assim, ela tende a ser produtora ao invés porque nao sabe as respostas de antemao e, freqüentemente, nem conhece
de apenas consumido ra do conhecimemo, nao podendo aceitar passivamenre bem o problema. Neste sentido, ele parte de urna posi~ao humilde em rela~áo
as idéias dos outros. Em grande parte, esta ori enra~ao decorre de uma curiosi- ao se u próprio conhecimento. Talvez ele tenha urna opiniao, talvez muitos
dade insaciável que !he permite encontrar questóes de interesse em fenóme- especialistas concordem com ele. Talvez ele possa até justificar suas expectati-
nos que os outros nao julgam necessário explicar. Enquanto Newton se preo- vas. Mas, no decorrer dos seus esrudos esses farores nao pesam muito, pois as
cupava muito com a explicac;:ao da simples queda de urna mac;:a, a maioria dos questóes serao esclarecidas com base nas evidencias e náo com base em ape-
seus (e nossos) comemporaneos nao percebia o problema. Para eles, "tudo nas opinióes ou preferencias. Os dados serao interpretados sempre obede-
que sobe tem que descer". A chave da mentalidade científica - que muitos cendo a duas qualifica~óes importantes:
1cientistas nao tem e alguns leigos tem - consiste na habilidade de encontrar
1 em fenómenos aparenreme'2re nao-problemáticos questóes que merecem des-
l. Fundamentafiio: O autor precisa justificar suas conclusóes, indicando os
' taque, retlexao e explica~ao '. pressupostos dos quais ele partiu e como se chega destes pressupostos as
1
O leigo, por sua vez, tende a nao saber criar e avaliar as evidencias apro- conclusoes. Assim as conclusóes podem ser avaliadas mais facilmente, náo
priadas para desenvolver seu conhecimemo, ace itando seletivamente eviden- sendo apenas afirmat;óes soltas no ar.
cias ambíguas ou contradirórias simplesmente para defender pontos de vista já 2. Pluralismo 9 : O autor deve avaliar e apresentar outros pontos de vista de
aceitas ele amemao - processo que interfere constantemente tamo na quali- urna maneira náo parcial, mesmo se náo os aceitar; a exclusao de outras

14 15
1
possíveis imerpretac;oes iría caracterizar as conclusoes como tendenciosas e
j c;ao dos fenómenos de modo pouco crítico, precisa analisar suas idéias e as de
diminuir nossa confianc;a na honestidade ou na esperceza do autor. outras pessoas para poder melhorar o conhecimento em sua área de tra~~lh~.
J Ser ciemista eJ portanto, pensador crítico envolve mamer em eqmhbno
O indivíduo que nao observa esse modo de proceder coloca o leitor em duas mentes 10 - urna J>ara análise e reflexáo, que exige comprovac;ao e nao·se
tal posic;ao que ele nao tem condic;oes de acompanhar o raciocínio em que as satisfaz com evidencias fracas - e ourrá, urna mente criadora, artística, pronta
conclusoes se baseiam e nao pode, po r isso mesmo, avaliar a sua validade. para ver implicac;oes, ser inspirada, ver significancias e relacionar o presente
com seus conhecimentos e as suas experiencias anteriores. Saber trabalhar
como dentista e nvolve o discernimento de saber quando uma ou outra mente
6. AS DUAS MENTES é apropriada a situac;ao.
No próximo capítulo, comec;aremos o desenvolvimento da primeira des-
Devemos reconhecer que a importancia do conhecimemo obtido através sas mentes, aqueJa que é analítica e disciplinada. Consideraremos alguns erros
de pesquisas depende do escopo ou abrangencia dos problemas que preten- cometidos por leigos que constituem pomos cegos geralmente indetectáveis
demos esclarecer. Infelizme nte, o cientista social de formac;ao rigorosa as para o observador náo-treinado, a fim de alertar o leitor sobre sua existencia e
vezes seme um ceno receio de considerar problemas muito complexos, pois sobre os problemas que tais erros acarretam para os cientistas sociais.
nestas investigac;oes há grandes riscos de cometer erros de inclusao (isto é, de
tirar conclusóes nao fundamentadas) e de se oferecer interpretac;oes erradas.
O rigor leva-o a limitar-se aos fatos, aos dados, ao observável, ao cen o, ao invés Exercícios - Capítulo 1:·
de defender um pomo de vista que extrapole informac;oes precisas. Conse- Argumentando na Vida Diária e nas Ciencias Hum anas
qüentememe, este tipo de pesquisador preferirá selecionar um problema res-
trito, que possa ser escudado muito cuidadosamente, usando instrumentos pa- l. Escolha a melhor resposta entre as alternativas:
dronizados e quamificando sempre, e tudo, que possível. * 1. A "argumemac;ao psicológica"
Esse mesmo cuidado, tao necessário em escudos, pode limitar fundamen- (a) Envolve a defesa de cenas conclusóes, mesmo em face de informa-
talmente a capacidade do pesquisadot de contribuir para o desenvolvimemo c;oes comrárias a elas.
da ciencia se ele adquirir medo de controvérsias e problemas metodológicos (b) Nao deve ser utilizada por dentistas sociais e m seu trabalho com
e, por isso, evitar áreas de escudo em que as conclusoes sedi.o possivelmeme \ .. leigos, pois nao é ética.
questionáveis. Essa timidez intelectual constituí um problema nao menos \) ' (e) É essencial ao trabalho do dentista social no papel de criador de
sério que a impulsividade intelectual, a qual o leigo é susceptíve l. o pensador (J
conhecimemo.
,.crítico precisa, além de clareza e rigor no seu pensarnento, da coragem de (d) Todas as res postas acima.
IJ adatar urna perspectiva ampla dos problemas que ele está escudando. Os gran- (e) Nenhuma das respostas acima.
des pensadores nas ciencias humanas -James, Freud e Piaget na Psicología,
Durkheim, Weber e Marx na Sociología, e Dewey na Educac;ao - sao notáveis 2. Evidencia
em parte porque ofereceram análises abrangentes de diversas áreas de conhe- (a) É aquilo que se tema comprovar.
cimento, integrando suas observac;oes em sistemas explicativos que visam (b) Refere-se a um conjunto de números que descrevem um grupo de
esclarecer questoes amplas e que tem relevancia para todas as gerac;oes. objetos, situac,;:oes ou aspectos .
Fazer ciencia envolve essas duas memes. Por um lado, a pessoa precisa . .(e) É aquilo que supostameme justifica certas conclusoes.
mamer sempre urna perspectiva ampla dos problemas que ela estuda, precisa ( d) Todas as respostas acima.
estabelecer associac;oes, usar sua intuic;ao, formular idéias novas, ver semelhan- (e) Nenhuma das respostas acima.
c;as entre eventos e áreas de conhecimento aparentemente nao relacionadas,
explorar implicac;oes, sugerir ·novas investigac;oes, olhar os fenómenos de * 3. "Na vida cotidiana, os argumentos tendem a ser pragmáticos." Esta afir-
novas mane iras - em urna palavra: criar. Por o utro lado o cientista precisa de- mativa significa que:
senvolver rigor na comunicac;áo de suas idéias e em seu próprio raciocínio.
Ele precisa desenvolver a capacidade de refletir sobre suas próprias idéias e
• ¡,
observac;oes, controlando o impulso de aceitar sua imuic;áo ou primeira.avalia- • Itens com • tem respostas no fim do livro.

16 17
(a) O usuário de argumentos freqüente rnente nao acredita naquilo que 1
está defendendo. (e) Deixa de levar em considerac;ao aquilo que os ourros defendem.
(d) Todas as resposras acima.
(b) Que os argumentos servem para a realiza~ao das finalidades e
necessidades práticas do usuário. (e) Nenhuma ~as resposta.c; acima.
(e) Que nada pode ser definitivamente comprovado o u refutado na vida
8. Um Fachidiot
real pois, como Einstein demonsrrou, rudo é relativo. l"
( d) Todas as res postas acima. ¡.-fl-; (a) Geralmente já nasce com suas aberra~óes mentais. , .
(e) Nenhuma das resposras acima. (b) Tem uma visao resrrita da área de conhecimento em que e consi-
derado especialista.
~ (e) Tem dificuldade em se lembrar dos faros em seu campo de arua~ao
4. Por que as pessoas tem, em geral, mais dificuldade em pensar critica-
) profissional.
mente sobre problemas nas ciencias humanas do que nas ciencias exa-
tas e biológicas?
:r: ( d) Todas as res postas acima.
(e) Nenhuma das respostas acima.
(a) Devido a for~a de 'suas convic~óes sobre questóes das ciencias Jij.
humanas.
9. A imuic;ao . ..
(b) Porque as pes~oas tendem a confiar nas suas intui~óes e impressóes
irrefletidas. (a) Geralmente constirui a evidencia mais válida para defender oentift-
camenre as idéias.
(e) Porque as escoJas nao estimulam muita reflexao crítica sobre as
idéias comumeme aceitas. (b) Significa a mesma coisa que bom senso, com a diferenc;a de que o
(d) Todas as respostas acima. bom senso é voluntário enguanto a inruic;ao é automática.
(e) Nenhuma das respostas acima. (e) É o atributo principal que distingue o leigo do cientista social.
(d) Todas as resposras acima.
5. Os argumentos (e) Nenhuma das respostas acima.
(a) Sempre comem pelo menos urna conclusao e algo que presumivel-
mente a justifica. 1O. O indivíduo intelectualmente tímido
(a) Prefere nao concluir nada ao invés de concluir algo duvidoso.
(b) Apresemados em relatórios de pesquisa sempre devem ser funda-
mentados. (b) Tende a restringir su a visao a problemas peque nos e simples -
"limpos" - nas ciencias.
(e) Psicológicos podem rambém ser, ao mesmo tempo, racionais.
(d) Todas as resposras acima. (e) Evita controvérsias.
(e) Nenhuma das resposras acima. ( d] Todas as respostas acima.
·· (é) Nenhuma das respostas acima.
6. Segundo o principio do pluralismo
11. As "duas mentes" do cienrista consideradas nesre capítulo referem-se
(a) Toda.c; as maneiras de pensar rem o mesmo valor na explicac;ao de
problemas. (a) A patología da personalidade múltipla que o rrabalho nas ciencias
humanas causa em pessoas de caráter fraco.
(b) A democracia deriva do socialismo, e vice-versa.
(b) A oposi~ao entre as mentalidades ocidemal e oriental no trabalho
(e) É OJelhor confiar nas idéias da maioria dos cíemistas do que nas de
um só. -:-'l científico.
.(.cJ A rensao entre o carárer criativo e o carárer cético ou descreme do
(d) Todas as res postas acima.
fe) Nenhuma das resposras acima. cientista.
(d) Todas as respostas acima.
(e) Nenhuma das respostas acima.
* 7. Como defensor de idéias e planos de ac;áo, o ciemista
(a) Deixa de ser um agente neutro e passa a ser um agente envolvido
com relac;áo a esta'> idéias e planos de ac;áo.
1 II. Análise de argumentos.
(b) Perde roda sua credibilidade. \ * 12. "PAU AMARELO - Papai, compre um terreno a beira-mar.
- Meu filho, o dinheiro nao dá.
18
19
"
Por acaso voce já procurou saber como anda a barra na Imobiliária
Gomes, bicho? Entáo, náo cause um trauma em 'seu filho. Bote a Na sua opi~iao, a autora defende bem esta idéia?
cucuruta para funcionar e chegue a seguinte conclusáo: fazer os gos- ( Observa~ao: Nao se trata de indagar se voce aceita a idéia. A questao
tos dos filhos é obriga~áo." é: voce acha que a idéia foi bem defendida?)
· Por que?
Secc;ao de anúncios classificados. Diário de Pernambuco, 14.07.80.
IJI. O seguime problema trata da análise de urna reponagem intitulada "Se-
O autor do anúncio afirma que a conclusao a ser tirada é de que os guran~a nas estradas evita a mone de 8 mil pessoas" (Jornal do Brasil,
pais deveriam fazer os gastos dos filhos. Na sua opiniao, qua! a idéia 08.02.80, p. 7). Leia o texto e responda as perguntas referentes as informa-
principal a qua! ele de~eja que o leitor chegue ao citar essa "con- <;óes comidas nele e nos gráficos.
clusao"?
(a) Que o leitor deveria comprar um terreno a beira-mar para os "Oito mil pessoas que estavam marcadas para morrer em acidemes
filhos pela Imobiliária Gomes. nas estradas federais, na década que passou, continuam vivas. Escaparam
(b) Que os pais nao deveriam causar trauma nos filhos. devido a urna série de medidas... adoradas em meados de 70, quando o
(e) Que "a barra anda boa" na Imobiliária. Brasil caminhava no sentido de manter a lideran~a mundial de desastres
ed) Que o investimenta em imóveis oferece urna boa rentabilidade. rodoviários ...
O DNER, que coligiu os dados da década, mostrando que o país está
Como o autor pretende influenciar o leitor? agora em posic;áo invejável pelos baixos índices alcanc;ados, ·prefere náo
(a) Despertando seu semimento de obriga<;ao paterna. isolar urna causa para a reversáo, mas várias causas simultaneas. Na
(b) Pela linguagem simpática do anúncio. década, morreram em acidentes 33 mil pessoas e 238 mil ficaram feridas;
(e) (a)e(b). se a tendencia se mantivesse, além das 8 mil martes, projetadas em gráfi-
cos, haveria hoje urna lista de mais de 46 mil feridos...
(d) Nenhuma das respostas.
A fiscaliza~áo de um limite máximo de velocidade - 80 km/h - ... é
um fator para a reversáo. Para o DNER, seguramente influiu para diminuir
13. "É um erro supor que um interlocutor possa desembara~ar-se facil- a gravidade de muitos acidemes, mas fo i adotado em novembro de 1977,
mente de urna crian<;:a de 6 anos. O que voce nao !he disser, ela des- quando a tendencia já estava revenida. Na prática, este. limite vem
cobrirá por si mesma. demonstrando sua decisiva influencia na queda da gravidade dos aci-
É preferível, por exemplo, que ela saiba que urna cabe~a de fósforo é dentes.
urna.mistura de fósforo e enxofre, que se inflama a menor fric<;ao, do No período, a frota brasileira de veículos mais do que dobrou. Dados
que descobrir por sua própria coma ... " de 1973, quando foi criada a Taxa Rodoviária Única (e com ela um cadas-
t.ro confiável), indicam que 4 milhóes de veículos circulavam no país; em
C. Aubry. Prefácio do livro Por que? Rio de Janeiro: Editora Liceu. 1980 este número atingia 9,5 mi!hóes de veículos. Com dados como este,
além de séries históricas de acidentes, foi possível projetar em gráficos os
números prováveis de monos e feridos, em acidentes, na época. Em 1979,
Qua! a conclusao ou idéia principal que a aut.o ra está querendo por exemplo, se a tcndCncia de 1973 e anos anteriores fosse mantida, 7
defender acima? (Escolha urna só alternativa.) mil pessoas deveriam morrer e m acidentes - o número real, no ano, foi
(a) Que a crian<;:a é muito espena, de modo geral. de 4 mil e 272 moncs." (Ver os gráficos.)
(b) Que é difícil desembara<;ar-se de urna crian<;a quando ela quer
saber urna coisa.
* 14. Qua! a conclusao principal do anigo acima?
(e) Que nao devemos deixar fósforos a mao das crian<;as. (a) Que nao há urna causa clara para as mudan<;as no índice de aci-
ed) Que devemos explicar as coisas claramente as crian<;as, quando dentes cm rodovlas rcctcrais durante a década passada.
e las querem saber algo.
(b) Qu' ~s t.:Slr,¡da.'l k:d ·ra!s no Brasil sao muito seguras.
(e) Que devemos tratar as crian<;:as com respeito, pois elas sao seres (e) Qu~: as t>.SII :td;ls ft.:c.krais no Brasil se tornaram mais seguras na
humanos como os adultos, mesmo que nao saibam as mesmas d0c~tc:la pas.~.1tla.
coisas.
(d) Nc.:nhunu t1.1-. rc.;spostas acima.
N
N REDE RODOVIÁRIA FEDERAL 196911979

Feridos
45.000
....
,. ;
40.000 ;
40.000 ,. ... ....
... ....
36.800 .......
-
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33.009 ....
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... ... ..... -
30.000 , .... ...
29.400 ... , 1

26.000
- 28.663 ~ 28.760

1~27.644 ~
v.28.939

L ~
24.379 24.432
20.000

y ~8.624
-
10.000
~ 13.828

----
t-
8.7?0
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69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79

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.. Atendencia: - --- - ---- - - - A realidade:

A proje~ao dava 45 mil feridos e 7 mil mortos no ano de 79. Na realidade,


N ficaram feridos 28 mil e .760 e morreram 4 m il e 272.
(jJ
Na década, 8 m il pessoas foram salvas.
l

15. Durante quais anos o número de ferimentos diminuiu, isto é, a


¡ 22. "Ó doutor, eu estava passando em frente de sua casa e vi esse muro
seguran<;a nas estradas aumentou? (Oihe o gráfico.) de arrimo rachado. Esse rapaz aqui é meu filho. Ele é pedreiro." Por
(a) 1969-72 que o falante teria dito o que disse?
~
(b) 1973-75
(e) 1975-77 23. "Voce disse que lembrou de trancar a porta quando voce saiu. Mas
(d) 1977-79 sua chave estava na mesa quando eu entrei na casa."
O que poderia ter motivado este comentário? Explique.
16. Avalie, com base nas evidencias apresentadas, a afirma<;ao de que a
24. "Aí, fiquei por aqui mesmo, com vergonha de voltar. A gente é pobre,
fixa<;ao de um limite máximo de velocidade foi um fato r no aumento mas tem vergonha, nao é ? Nao quería cair na vida na minha terra ...
da seguran<;a das estradas. (Oihe o gráfico.) Os dados apóiam esta Meu pai era homem conceituado, formou até meu irmao em doutor
análise? Explique. médico." ]. Amado, Mar M orto. O que a locutora está querendo dizer?
Explique com suas palavras.
* 17. O Brasil tem poucos quilómetros de estradas federais. Como este fato
poderia dar a falsa impressao de que as rodovias brasileiras sejam * 25. "Sim, eu vi o pre<;o do carro no anúncio. Mas o carro do senhor está
mais segu~as que as estradas em outros países? Explique. com ferrugem no pára-choque. E os pneus estao gastos. Quer dizer, é
um bom carro, mas tá com alguns defeitos, né?"
18. O número de brasileiros monos por ano nas estradas federais O que o locutor está fazendo? Ele está interessado no carro ou nao,
aumentou ou diminuiu entre 1973 e 1979? na sua opiniao? Ele acha o pre<;o alto?

19. Em 1973, o número de veículos registrados no país era 4 milhóes e 26. "Escute, Sr. Sargento. Eu nao vi que o sinal estava fechado. Meu olho
houve 3.256 pessoas monas nas estradas. Em 1979, havia 9 milhóes estava doendo um pouco e nao dava para enxergar direito. Mas talvez
de veículos e 4.272 ma rtes. As estradas federais ficaram mais seguras? eu possa pagar urna comissao direto ao senhor para nao ter que
Explique. pagar a multa na cidade. Está entendendo o que eu quera dizer?"
O que o motorista está querendo dizer?
20. A curva de mortes por ano nao continuou apresentando a tendencia
ascendente dos primeiros anos da década de 70. É possível que isto Questóes para discussáo.
tenha acontecido sem que as medidas de seguran<;a sejam a causa da
mudan<;a? Explique. Na sua opiniáo, por que muitas pessoas gostam de ler livros sobre os horós-
copos?
(a) Para ser informadas e satisfazer sua curiosidade inte lectual.
IV. Na yida cotidiana, a linguagem desempenha urna gama de fun<;óes sociais.
Usamos a comunica<;ao verbal para criticar, expressar nossas dúvidas, con- (b) Para poder tomar decisóes de acordo com os conselhos dados.
tar vantagem, insinuar, ironizar, negociar, sondar, etc. Baseado em seu bom (e) Para se sentir bem e reduzir ansiedades.
senso, que tipo de significado social voce atribuiría as seguimes comunica-
<;óes? Em sua opiniao, por que o falante teria dito o que disse? A leitura dos horóscopos assemelha-se mais a
Exemplo: (a) leitura de fotonovelas.
"No que concerne a nossas férias do ano que vem, eu tenho apenas uma (b) leitura de relatórios cientítkos.
coisa a dizer: Porto Alegre é muito longe daqui!"

Explica<;ao: O locutor está expressando relurancia com rela<;ao a sugestao


l De urna olhada nos horóscopos de um livro ou jornal recente. Eles tendem a
empregar palavras vagas ou palavras precisas? Adivinhe por que.
de passar as férias em Porto Alegre. Provavelmente, ele prefere passar as
férias num lugar mais peno de onde mora. As descri<;óes da personalidade das pessoas de diversos signos, em livros de
astrología, tendem a ser bas icameme positivas - salieruando habilidades e vir-
21. "Talvez voce ache que a arrumadeira merece mais que um salário tudes - ou negativas, com énfase em defeitos e problemas?
mínimo porque voce nao sabe como elas sao. Deixa eu te contar urna Por que isso ocorre , na sua opiniao?
estória... " Que tipo de estória provavelmente seguirá? As pessoas que leemos horóscopos querem saber a verdade sobre si próprias]

24 ~~)

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