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O trecho acima não é obra de algum governante branco europeu planejando o destino dos
negros alforriados. Trata-se de uma carta escrita em 1851 por um ex-escravo e endereçada
às autoridades britânicas. Joaquim Nicolau de Brito pleiteava, para si e para uma centena
de outros libertos, a oportunidade de viajar de volta à África e lá empreender uma nova
colonização, inspirada em formas “civilizadas” de governo
Era este o grande compromisso que assumiam na petição: não se envolverem no comércio
negreiro, nem utilizarem trabalho escravo, nem permitirem que seus descendentes o
fizessem. Tomaram o cuidado de “jurar sobre a Bíblia” que jamais haviam sido
proprietários de escravos no Brasil. Declaravam-se cristãos, e, por isso, conscientes de
que o direito de propriedade era exclusivo sobre coisas, não se estendendo às pessoas.
Outras transações também ocorriam entre os portos dos dois lados do Atlântico Sul. Em
1784, um poderoso chefe de Cabinda, o Manfuca Franque Kokelo, entregou seu filho de
oito anos a um capitão de navio negreiro para que ele fosse educado no Rio de Janeiro.
Quinze anos depois, o jovem Francisco Franque voltava para casa levando na bagagem
contatos pessoais e comerciais com a capital do Brasil. Quando a família real se transferiu
para cá, em 1808, muito provavelmente Francisco Franque retornou ao Rio de Janeiro
com uma delegação que veio firmar acordos de intensificação do tráfico de escravos. O
filho do chefe cabinda tornava-se um importante fornecedor de cativos da costa africana.
Bibliografia:
GURAN, Milton. Agudás: os “brasileiros” do Benim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2000.
PINTO, Alberto de Oliveira. Cabinda e as construções de sua história (1783-1887).
Lisboa: Dinalivro, 2006.