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- O número total de Deslocados Internos (IDPs) na Província de Cabo Delgado atingiu mais de 732.000,
de acordo com as estimativas feitas pelas agências humanitárias. Aproximadamente 46% deste número
são crianças. O conflito no Norte de Moçambique deixou dezenas de milhares de mortos ou feridos.
Os civis foram expostos a uma variedade de questões ligadas a protecção, incluindo agressão física,
sequestros, assassinato de familiares e Violência Baseada no Gênero (VBG). Além disso, o conflito
resultou na separação de famílias e, em muitos casos, sendo deslocadas várias vezes em busca de
segurança.
- A situação, que tornou-se numa crise de protecção, piorou consideravelmente após os ataques de
grupos armados não estatais na cidade de Palma, em 24 de Março deste ano. Os actores humanitários
testemunham uma crescente taxa de deslocamentos, paralela a um aumento proporcional das pessoas
deslocadas que diretamente sofreram violações de direitos humanos. Por outro lado, o número de
pessoas vulneráveis entre os deslocados internos tende a aumentar consideravelmente, abarcando
idosos, crianças desacompanhadas e separadas de suas famílias, mulheres grávidas, bem como aqueles
com necessidade urgente de abrigo, alimentação e acesso as estruturas de saúde.
- A sensação permanente de insegurança obrigou milhares de famílias a buscar refúgio no sul das
províncias de Cabo Delgado e Nampula em particular, bem como nas províncias de Niassa e Zambézia.
Em Cabo Delgado, os distritos de Ancuabe, Balama, Chiure, Ibo, Mecufi, Metuge, Montepuez, Mueda,
Namuno, Nangade e Pemba continuam a registar novas chegadas todos os dias.
- Apesar dos esforços das autoridades e da comunidade humanitária, as necessidades dos deslocados
superam consideravelmente a capacidade de assistência disponível por parte do Governo e das
agências humanitárias. Isto se deve ao rápido aumento no número de deslocados internos relacionado
aos baixos níveis de financiamento para a resposta humanitária (15,2% dos requisitos analisados de
acordo com fts.unocha.org). O financiamento do ACNUR para a resposta no Norte de Moçambique é
actualmente de 28% (em 22 de junho de 2021).
- Os desafios do acesso humanitário também têm um grande impacto na resposta. De momento, sete dos
16 distritos da Província de Cabo Delgado são inacessíveis aos actores humanitários devido as
preocupações relacionadas a segurança e desafios logísticos. De acordo com a Convenção para a
Protecção e Assistência aos Deslocados Internos na África (Convenção de Kampala), os Estados têm
o dever de permitir que aqueles que prestam assistência humanitária tenham acesso aos deslocados
internos, e de facilitar o seu trabalho.
- Numa avaliação recente em aspectos de protecção efectuada pela equipa de protecção em cinco
distritos do Norte de Moçambique, 45% dos deslocados internos afirmaram não ter acesso à
documentação legal. Este facto se verifica principalmente por motivos relacionados ao conflito e à
fuga repentina, que os força a deixar todos os bens para trás. A falta de documentação legal afecta não
apenas o acesso dos deslocados internos aos serviços essenciais, mas também prejudica sua liberdade
de movimento. Para garantir o acesso aos serviços essenciais, incluindo saúde e educação, bem como
para garantir a liberdade de movimento dos deslocados internos, as autoridades devem continuar a
explorar alternativas para a emissão de documentação civil para todos os deslocados internos, de
acordo com (Artigo XIII (2) e (3) da Convenção de Kampala.
- Muitas pessoas em situação de deslocamento interno em Moçambique tentaram cruzar o rio que marca
a fronteira com a Tanzânia, em busca de proteção internacional, mas as autoridades tanzanianas
continuam a impedir sua entrada e a forçar retornos sistemáticos a Moçambique. Entre Janeiro e Junho
de 2021, mais de 9.700 moçambicanos que fugiam do conflito na província de Cabo Delgado e que
procuraram asilo na Tanzânia foram retornados à força para Moçambique, sem uma avaliação das suas
necessidades de protecção internacional.
- Apesar de vários pedidos feitos ao Governo da Tanzânia, o ACNUR não conseguiu acessar a região
sul da fronteira da Tanzânia com Moçambique, para avaliar a situação ou oferecer assistência de acordo
com seu mandato. Os poucos requerentes de asilo moçambicanos que conseguem atravessar a fronteira
internacional não receberam qualquer assistência humanitária na Tanzânia, tais como alimentos,
medicamentos ou abrigo. Este retorno forçado seria o resultado da cooperação entre os dois governos.
- Além dos pontos acima, o Artigo 12 (3) da Carta Africana reconhece o direito de requerer e obter asilo
em outros países, de acordo com a legislação vigente nesses países e as convenções internacionais. O
retorno forçado de pessoas à situações de perigo, bem como o tratamento indevido de alguns indivíduos
antes ou durante o retorno forçado, também pode estar em desacordo com o Artigo 5 da Carta Africana,
que proíbe o tratamento desumano ou degradante de todo e qualquer indivíduos.
15 Julho de 2021