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IDEAL
(Antero de Quental)
O título do poema é “Ideal”, isto é, o seu assunto não será da esfera material, mas sim
pertencente a um outro plano, superior. Assim, e ligando ao primeiro verso, vê-se que
evocará “aquela, que eu adoro”, e que será associada, na sequência, a três figuras do
universo feminino, num jogo de negações.
A terceira é uma amazona (com maiúscula, para indicar que é uma personificação),
denominação das mulheres guerreiras da mitologia grega. Em sua coragem nos
combates e no cavalgar encontra a “satisfação”. Mas, como se aponta no verso 7,
“Aquela” também não é uma amazona.
O poeta, diante desse impasse em uma definição, chega ao meio do soneto com o
autoquestionamento: como compreender tal visão? Isso passa por dar-lhe um nome,
pois nomear é criar uma referencialidade, trazer-lhe ao campo do concreto. Como isso
não é possível, “Aquela, que eu adoro” mostra-se, então, como uma entidade que
possui nas mãos o destino do poeta.
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O tema é a mulher ideal, mas a sua descrição surge por antítese daquilo que
"não é", Em confronto com figuras mitológicas, aparece como um ser divino e sublime,
ideia pura: nem mulher sensual como a "Vénus de cintura estreita", com "formas
lânguidas, divinas"; nem mulher fatal e traiçoeira como a Circe que "compõe filtros
mortais entre ruínas"; nem mulher corajosa e dominadora como a Amazona, que
"combate satisfeita…”.
Esta mulher, retratada à maneira petrarquista, é uma "visão" que "ora amostra
ora esconde o meu·destino…", levando o sujeito lírico ao Desejo, ou seja, ao amor, à
aspiração do Ideal. Apresenta-se como uma "miragem", "nuvem", "sonho impalpável
do Desejo".