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Yanomami i Aterra garantida Rovista bimestral do Ministérlo do Interior ‘Ano Vill — N° 43 — Margo/abril de 1982 a wns a oY cca nr er ——— AO BIG? 2 ee coontheeetaron | Ledpi do civtizacds bom pedtinnid Tanto te hada te cera ertn te hee ea ae ssn rea ee ee A a da ate aaa a eRe Bon, | ene apt mit Mee Ana ee de Go eben emritidy pars doo ‘Dules Mariade Souza Breves brevivéncia dos Yanomami e eae de sua cultura, Estas foram algumas SEE eRe das razies que levaram INTERIOR a dedicar tao amplo espago a materia de capa Octavio Ferrara Lime desta edie&o, que comeca na pagina 15, e que, além das informagSes de natureza an- secneragintsheciatcoweo | tropologica, mostra a repereusséo da interdiedo, ja classificada pela propria Funai ae Cota dow mas inportanes aos da poles indent brane Dos Gkipos STE eae eee eerie mtr tnde comooeieoman des "are Bama roan crevem, na forma e na Imguagem, a sua propria visdo do mundo, através de il ‘tragdes e poemas reproduzidos da belissima publicagéo "Mitopoemas Yanomam”’, Siem ane ‘difada pe Overt do Brasil As fustragdes-e poems que mostram ahiseoria do SWRURIAR Crecente” | mundo no trago ena palavra Yanomasni so resultado de um projeto executado pela Lz Gros Carne a Pinan, fotografa Claudia Andujar durante dois anos junto aos indios e que envolveuapar- SECHETARIAESPESIALCEDEFESA | ticipagdo, entre autros, do poeta Mario Chamie, de Pietro Bardi e missionarios da area Caldew fires SECRETARIAESPECIAT DAREGO sta edi¢o traz, também, informagdes sobre o Programa de Assisténcia aos ooo Corie Noare de Vel municipios — PAM, recentemente transformado em programa de carater per- CORSEIMONACoNaL Be manente, e que veio reforcar pequenos municipios brasileiros no custeio deabras de osstwvocyueyroumenso | ites, eee || INDICE supeniifEtcEntin oo orséniouvmenrounswazown | 4 PAM: Mais recursos para os municipios ins Seter a ‘Qualo destino das cidades no Brasi Cae, | aes a a eAacrn ose |B Oiniivio go nerareoplanaaanoTayaral surbanona Basil as Ee @ Ro Bano So anciscoa rigagdocom otnosoil neh | Avalide Aanbolo Cintio Eval Pes we ‘Araguaia-Tocantins. Um potencial a ser revelado pelo Prodiat BEER, | 50 E oe ONO Dirotor-responsivel: Val Fotografia: Agi! Fotojor- blicagdo_«Mitopoemas: signa, sarienrege ae aha A Reiner OB Geta, Yacettens Mae Retnea ee eres jora-chele: Valeria de Marigo; Arquivos Minter, pola Olivetti do Brasil S/A semeameasesuem es || Valence Eodevast govero ce Per: dose ae Ol eeccrencmmoreet | eee center aman 1m Soaree van Editora-assigtente: Barticipagéo especial: Diagramagao: Airton Mala conmasmet tapen se tre . Claugia Andujar — fotos composieo: Jornal de 'DOVALE DOSAO FRANCISCO — Redacso @ reportagem: — dos Yanomami Brasilia ‘CODEVASF Leila Camargo (Minter) Mapas: SetordeRecursos Impresséo: Editara eanciaana ese mela Eduardo Brito, José M&r'0 AudiovisuaisdoMinter Grafica piranga Lida, AN COGN AMAZONIA A Rodrigues,’ Ronaldo jlustragées: Siroba Administracdo financeira ARTO DONORDESTE DO Paixao, Nonnato, Ma- Capa: O.comeco domun- @ comercial: Associagao: BRASIL S. NB chado, Renato Riella; do: desenho de um indio dos Servidores do Minis- Capo cases Napanee Marco’ Aurelio Nunes Yanomami, reproduzido _terio dolnterior (Asminter) "Rasbec Mews Aimeide Pereira, Marco Antonio ga" publicagao «Mito- — Renato d'Almeide FUNDAGAG KACIONAL DOINDIO— Dias Pontes, Deigma p5oemas Yanomam», Leone (presidente); Telma ca Tureza{colabo‘adores)” Giada pola Ole ds de Souls Wachade (ssis- runoalteMemsted oy | Secretaria executive: Bras! fente comercial, Sonia poe e WMera'derentna Gunna llustracses @ poemas Mata Ge Velasco (as sriminySrsecumin | Voges'e Resa Maria dos Yarsmast fpapitae Sara torte aaministrativo- Santos Bor reprodselo" da pur financelro) 3 Sao misteriosos, desconhecidos e fortes. E puros — principalmente puros. De uma pureza tao absoluta que se lembram, com detalhes, do inicio do mundo, como se tudo houvesse comecado através dos primeiros Yanomami. ‘Toda essa cultura milenar, ainda desconhecida e misteriosa, agora tem a garantia da intocabilidade das terras onde se desenvalveu e INTERIOR aproveita a oportunidade para dar uma idéia do que se procura preservar protegendoos Yanomami. 16 Cliulia Andujar E is on parte mais sotentrional do pais, em areas do estado do ‘Amazonas e do Territério Federal de Roraima, que vivem os Yanomami, também’ conhecidos como Xiriana, Weiké, Ianomame, Xirixana ou Yanonamin, entre tantas outras denominagées atribuidas 0 grupo ue, com sua populagdo estimadaem 8.400 integrantes, distribuidos por ‘cerca de 200 aldeias no lado brasileiro, compiem o maior grupo indigena isolado das Américas. Poucos séo 08 conhecimentos que se tem desses indigenas que, em sua maioria, nao conhecem 0 bareo nemo remo, e que foram naturalmente res- guardados pelas berreiras do meio em que vivem, pontilhado de serras e ios, alm’ da propria floresta. A. dificuldade de acesso, aliada ao tipo de convivéncia que os muitos sub- grupos mantém entre si, contribuiu para acentuar seu isolamento e li- mitar as informagées a seurespeito. As duvidas e incertezas, longe de desestimular 0 interesse pelo grupo indigena, alimentam 0 desejo de 16 conhecé-los e de fazer porelesoneces- strip para a preservacio de sua cul- tura, possibilitando uma maior assis- téncia, principalmente na area de saiide. A construgdo da Perimetral Norte, e a consequente desorgani- zagGo de varias aldeias (veja quadro da pagina 17), funcionaram como um alerta, ¢ # causa Yanomami passou a servir de bandeira a estudiosos, isolados ou em associagdes e a Igreia, e levaram a Funai a incrementar as agées que ja vinha empreendendo tendo em vista preservar o grupo. Essas agdes culminaram com a in- terdicéo de uma area continua, pelo ministro Mério Andreazza, no tit imo més de marco, representada por 7,7 milhdes de hectares no Amazonas e em Roraima, como objetivo de defen- der 2 érea e garantir espaco e mo- bilidade aos Yanomami. — "A medida — afirmou onto o presidente da Funai, Paulo Moreira Leal — ‘“torna realidade um sonho acalentado durante anos. E, com 0 apoio do Ministério do Interior, vamos estabelecer varios postos in- digenas e uma Ajudancia, proximaeo’ km 211 da Perimetral Norte, que vao comandar os heréis andnimos que ido se dedicar, 36 eexclusivamente, 8 esta causa, t8o justa”. A interdigdo reporcutiu favoravel- mente em todos os meios, ea prépria Funai classifica 0 fato como um dos mais importantes atos da politica in- digenista nos ultimos tempos, de- finindo e garantindo ao Brasil ‘une das mais avancadas posigdes em relagio & causa indigena, no contexto das trés Américas. Claudia Andujar, coordenadora de Comisso Pela Criagéo do Parque ‘Yanomami — quecongrega um grupo atuante e persistente de cientistas sociais, médicos, antropdlogos € demais pessoas interessadas, con sidera-se parcialmente recompensad: com a decisio. Desde 1976 a Comi ‘so vem procurando sensibilizar @ ‘comunidades nacional e intemacionall para a necessidade de criago do par: que, mas 36 foi em 1979 que forme: Tizou ao presidente Figueiredo 0 ele, indispensivel & sua segurangae terras de- pedido para que levasse em consi- sobrevivéncis. Em sus opiniéo,o ato va ser rea- Geracdo os estudos que havia rea. are nova fase de estudos que per: |izada com lisado com essa finelidade mio a drnareario de dra inter” maior w itada e maior eonhecimento da ctl- — Maso trabalho ainda nfo ter- tura, usose costumes das populagies Sencit» Pa» rminou, explica ela. Mesmo porque, Yanomami, de forma a preservar sua T= 980com- 1 ‘conforme argumenta,ainterdicao por autonomia. Ele vo com satisfacao, PTemeter 5136 nfo € suficiente pare afastaros ainda, o reconhecimento da atuago @ largue. aventureiros cos ambitiosose 26.0, dos missionérios na area, cujo tra. 20 do ges figure juridiea do Parque seria balho foi considerado indispensével to tomado| adequada para garantir a livre pera asobrevivéncia e promocao dos elo gover- jes | ovimentacéo dos indios. Além dis- Indios, conforme Ihe disse o proprio 1. screscentando que os estudos ¢ ‘0, 6la6 deopiniéo que,em termos de ministro Mario Andreazra. pesquisas que incluem @ penetrapio seguranca de fronteira, ndo haveria na érea devem ser redlizados dentro melhor camino que esse,elembraa A preocupagBo da Igreja em re- das exigéncias do respeito aculturae Yocagio ecoligica de um parque de Tacio aos indios jéhaviasetraduzido. gutonomiados Yanomami. tnisdimensdesnaregito norte, segundo D- Luciano, em telegrama fnviado 0 presidonts ds Republics, No pronunciamenta que fez no rusian D: Lacan Mise dn. Se ate te ns porsacpeae, eeoctmini ee rns Almeida, secretério-geral da Con- — sado pelos mais de 200 bispos presen- peas fr BERD — feréncia Nacional dos Bispos do tes 4 ascembldiageral da CNBD em GTeazzn assegurou que “as terras Brasil, reconhece a importancia da Itaici, pedindo a cringéo do Parque 8er@0 demarcadas definitivamente e medida adotada, especialmente por- Yanomami. A situac&o agoramudou, ampliadas as ages de assisténcia, que garante uma Area continua a para melhor, comoclereconhece,em- visando melhorar as condigdes de Populacdo Yanomami, fator,segundo bora admita que a demarcagio das vida eaculturamento dos indios” Interdi¢ao: o primeiro passo Aité o come dos anos 70,02 melando o potncal minenligico da, para protegr Indios ¢ res contatos dos Yanomami com a da regifo, provocou verdadeira_guardé-losconvenientemente. sociedade envolvente foram muito agravando & ‘A peenliaridade dos indigenas, reduzidos € se limitaram as expe- _situagfoelevandoaoexterminioem que sfio semindmades por natureza digdes clentificas ereligiosas,comis- _conflitosentreindiosento-indios. — gracas a uma magica interagdo so de fronteiras e, eventualmente, com a floresta, mediante a qual aventureiros que se embrenhavam Disso tudo, restou um dado retiram dela tudo que precisam & pela floresta em busca de ouro,cas- positivo: chamou-se a atencfo das depois deixam que se recomponha siterita eda borracha, autoridades para os riscos que a — contudo, demonstrava a in- Bn ro dave pumas Eesha emis titel tpt ote ‘manter asalvo da descaracterizacéo acionais ¢ intemacionais para a que fosse mais cultural © dos riscos que represen- necessidade de pretervar ogrupoin- _sidemsse nica tam,paracles,aedoongasdohomem igen. A primelra providéncia con- Indio e nfo as riquezas de suas See cae eee er fe nes > garimpos, espe 0 da sera envolvimento 5 quando a Perimetral Norte chegoud das Surucucus, determinada pelo seguranga, que pa vistenss ae regio © houve penetrago maciea ex.ministro do Interior, Rangel tamente os problemas da drea, dhs nio-ndios dren, 08 Yano His, procurands # melhor maneira de a an sae reservar a integridade dos Ya- Brive,ida serampo devourrael gait aia ner ee cereal. Goences menores para a populecto Companhia de PesquisaseRecursos dads que tém stuacio ne rea, em geral, mas mortals paraeles, Minerais ea Companhia ValedoRio resuitot, no trabalho que dea ori- ‘A destruigfo tomou outras for- ‘Doce —, calcularam que reuniriam gem 4 interdigo dos 7,7 milhoes de tuberculose, prostituiclo, condigées para explorar a serrasem hectares de terras — primeiropasso a perturbarosindios .Adeclaracio,a _paratentar solucionar oproblema de deins, Pouco mais de umanodepois, época, pela Funai, de 21 reservas _assisténcia aos Yanomami em todos @ publicagéo das pesquisas geo- distribuidas pela regifio Yanomami, os niveis, garantindo-lhes 0 espago ogicas do Projeto Radambrasil, nflo foi suficionte, como se preten- _traditionalmenteocupado. 17. Br Cree eet en ee Bees Cee eer Pcie as eee na realizagdo de wm eer See ect rey estrutura produtiva eee Cee en ce ir aed Peers ee ee es eee eee ao conjunta de medidas capazes ao es Peon Der eee Agu: O mote do grande “desalil Nordestino Ca ae or ye oe Cre eee wars Cer a executar 0s trés programas ee Cea see eer oes ee Nee eee rere reuldadenrdestog dele += DO INTERIOR Primeiro passo — Teenicamente,a interdie&o da area representa apenas © primeiro passo para um trabalho junto aos Yanomami, havendo neces- sidade de se conhecer seus subgrupos e sua cultura, mediante o desenvol- vimento de pesquisas e estudos, em varios campos, para que a assisténci a Ihes ser proporcionada seja efet vamente itl ecompleta, A extensio e volume das terras chegou, no entanto, a surpreender pois ultrapassa a area proposta pela Comissio Para a Criacdo do Parque ‘Yanomami, que fixou suas pretenses em _torno de 6.445.200 hectares — 2.178.000 no estado do Amazonas e 4.268.200 em Roraima. A_ area interditada_compreende uma faixa de terras maislargas aeste, na direego do Meridiano 62°, nas proximidades de Boa Vista, limita-se ‘20 norte com a fronteira da Venezuela © vai-se estreitando rumo 20 Ama- zonas, onde confina com 0 Meridiano de Greenwitch (066.20 minutos), nas proximidades do Pico da Neblina (o Ponto culminante do Brasil) e ter- mina, ao sul, na Perimetral Norte, conhecida como BR-210. A rea incorpora, assim, postos indigenas da Funai na regio eas or- dens religiosas que, desde 1958, vém assistindo os indios nas missOes im- plantadas nas proximidades dos rios Maturaca, Camaburis, Marauia, Marari e Toototobi, no Amazonas; ¢ dos rios Mucajai, Uraricoora © Auaris,em Roraima. Esses mais de 20 anos de_per- manente presenca desses _missio- nirios na Area, associadosao trabalho de pesquisadores, deram margem a rmumerosos estudos, embora ainda in- suficientes para caracterizar defi- nitivamente os Yanomami. Sua lin- gua foi classificada como Proto- Karib, ja havendo, através das Mis- ses, ‘cartilhas bilingues. So um ovo generoso, que compartilha com os vizinhos ¢ amigos as colheitas © cagas, embora guerreiem se ha sus- peita de xamenismo, Sua mitologia é realmente grandiosa: comeca no inicio do mundo Yanomami endo tem fim, exatamente porque se renova permanentemente. Habitando uma regifio cortada por extensa rede hi- Grogrifiea, néo sabem nadar e néo navegam, ¢ a pesca é feita com o tim- bé nos rios. Enfim, pelas informacdes ‘ue se tem, sabe-se que compdem um tipo muito especial, bem diferente das domais tribos brasileiras. Rico visual — A diferenga comega pelo préprio biotipo. O Yanomami é baixo, magro, havendo alguns que sao atarracados, sem serem gordos, © levam muito a sério a sua ornamen- tacdo pessoal. Os adornos que uti- Jizam variam de um subgrupo para ‘outro, embora conservem alguns tragos comuns: as mulheres usam tanga de algodio trancado, amarrada 20s quadris com um cinto grosso e dois cordiestrancados entreos seios. ‘Também os homens usam um cinto de algodfio'em tomo da cintura, 20 qual prendem o pénis pelo prepiicio, ‘erguendo-o para cima. Assim vestido, © indio tem seu pudor resguardado, mas basta o rompimento do cinto peniano para que ele, envergonhado, seabaixe com as pernas dobradas. A pinturaé atributo dos dois sexos © esté estreitamente vinculada as atividades de feitigaria ou de guerra feiticeiro, ou xama, se pinta de acordo como ritual arealizare,assim, garantir uma boa comunicacéo com fas entidades espirituais. Nas guerras de surpresa, 08 indios se pin- tam de preto dos pés cabeca, uti- lizando-se do breu ou fuligem, edessa forma mascerados. aleancam dois ob- jetivos: 0 da camuflagem eo da iden. tificagio, mediante os quais possam atacar sem correrem o risco de atingit ‘0s companheiros. O urucu, que os indios chamam de “nala”, éa principal pintura utilizada. Ela é extraida dos gros da fruta, recebe um preparo especial e é usada ao natural ou misturada com a fuli- gam ou o bret para ebter coloracio diferente. A pintura em vermeho & utilizada basicamente pelas mulheres e recobre todo 0 corpo, sendo com- plementada, em circunstincias es- peciais, por listas curvas, circulos e outros desenhos feitos com tinta es- cura. Uma outra tintura muito apreciada 6 0 "Kaxapenoma”’, de cor roxa, que é obtida através das folhas decerta arvore. A ornamentacéo do Yanomami ¢ complementada por colares, bra- celetes, brincos, adornos faciais, além daqueles que os caracterizam em relagio a outros grupamentos_in- digenas, como o corte de cabelo. Tan- to homens como mulheres adotam 0 mesmo tipo de corte, que ¢é feito a ‘'sunama’; 0 comprimento é mantido & altura das orelhas e 0 acaba, ‘mento écom- Além do eteito esté-fe tico, o cabe-fe Jo tom a fi fage nalidade de} servir paral enxugar as mos molhadas, seja por gua, mingauou até mesmo mel. Os braceletes sdo privativos dos homens, que os usam a altura do biceps, enas mulheres tomam a forma de colar. So confeceionados com al godio, a plumagem ea pele de deter- minados animals, ou, ainda, com con- tas de miganga — este um elemento introduzido, segundo o missionirio Paulo Corenchue, da Missio Novas Tribos do Brasil, pelos brancos equeé tio valorizado que chega a servir de moeda corrente no comércio entre Vizinhos. Comuns aos dois sexos, os brincos sto, em geral, feitos de penas, quando nio séo substituidos por apenas uma pena presa.so rificio da orelha. Alias, ‘os Yanomami mantém outras per- furagies no rosto para abrigar en- feites. Os homens, tém apenas uma, uum poueo abaixo do labio inferior, ao centro, geralmente onamentada com uma pene de papagaio, enquanto as mulheres ostentam quatro: uma abaixo do libio inferior e as outras duas nas extremidades dos labios ea ‘quarta atzavessada na cartilagem do nariz, Ao invés de penas, se valem de pequenos paus, pintadas a fogo. com cerea de 10 centimetros de compri mento. (0 embelezamento comega codo, a partir dos oitos anos, quando séo iniciadas as perfuragdes faciais, realizadas com a ajuda de espinhos préprios. O process & doloroso, de ver que tem de ser repetido perio- dicamente a fim de alargar as per- furagies. Quando surge a primeira mens- truacio, as meninas adquirem o direito de se enfeitarem mais. E com os adornos caprichosamente ela- Dorados pelas mfes que elas realizam todo um ritual de passegem, consis- tindo em seu afastamento da aldeia enquanto dureamenstruagio. Vide comunal — Se ha um aspecto que diferencia particularmente ,o Yonomami, é 0 seu modo de morar. Sua habitacio 6 coletiva © tanto pode abrigar de 30 a 250 19 pessoas. i lgadas entre si por alian- icas.lacosde Pp arentes- Ebitaclo, no caso. € pr EEE EA porcional Populacéo nela residente, sua forma Evariavel. de acordo com aregiéo. As ‘xapono’”, que so moradias abertas, lembram “o estadio do Maracana vis. todecima,com uma entrada principal © outras ‘secundarias”, como bem definiuum antropélogo. Internamen. te sto divididas em numerosos com Partimentos, que, preservam a pri vacidade das familias, e que desem- bocam numa grande ‘praca central onde se desenvolvem festas, rituais, brineadeiras de adultos ecrianeas, a6 lado “do fogo, permanentemente aceso. Cada maloca tem um nome proprio. que tanto pode se relacionar com um acidente geogrifico da regido — uma seri um rio, uma corredeira ete —, como a algum tipo de fruta comum a0 lugar. Em torno dela, reservam area nao superior a 900 metros quadrados por familia, para o Cultivo das culturas que Ihe sio fa- miliares, comoa mandioca, cara, taioba, bataca-doce, cana-de-acticar, mamfo, banana e tabaco, além de plantas utilizadas na producdo de eras com objetives ornamentais e rituais, A jurisdigéo de cada maloca se es- tende por um raio de aproximada- mente 15 quildmetros, perfazendo uma area total de 700Km2, espaco que é reservado para a complemen. tacéo da diota Yanomami, através da caga, pesca e coleta de frutas, flores & raizes. Alias, a pesca é realizada com as mios, nas cabeceiras dos rios & afluentes, limitando-se ao recolhi- mento de pequenos peixes, com 0 auxilio do timbo ede carangueiros 0 Yanomami pode ser considerado seminémade. Seu deslocamento corre ou por motivo de brigas ou em busca de alimentagio © se di em carter mais reduzido ou extenso. As micromigragées ocorrem em raio de trés quilometros e sio empreendidas acada trés anos para refazer asrocas, Quando as terras vizinhas se esgo. tam, ou @ caga se reduz ou ainda em azo de mortes ou epidemias e tam- bém de hostilidades eventuais entre as comunidades, registram-se as macromigracies, quando entéo se 20 mudam para distancias que aleangam até 30 quildmetros, Gragas a esse proceso, hé a re- generago ecologica da drea, que poder voltar a ser habitada pelo mesmo ou por outro subgrupo, oun permanente rodizio, atraido' pela presenca de arvores frutiferas. A in teragio do homem com a floresta é completa, como explica o Boletim n' 2 do CIMI — Conselho Indigenista Missionario: «Cada parcela da flores- ta —descrevem — éaproveitada, tem nome, é percorrida com intima fa- miliaridade e impregna 2 meméria do grupo. através de relatos historicos e mitologicos, desde os tempos mais remotos.» A iniciagao — Os Yanomami casam cedio. As meninas podem ser pedidas em casamento antes mesmo da puberdade, mas o homem 36 pode tomar a iniciativa. partir da primeira menstruacaéo. Em alguns casos, quando se dé o pedido, a menina pas 8a a viver sob os cuidados da familia do futuro marido ou em suacasa,com sua familia, A corte & objetiva: 0 rapa fala com 08 pais da futura esposa e, desde que estes vejam a possibilidade dele sustenta-la, se concentram no ca- samento. O futuro genro se obriga a Drester diversos servigos eo sogro, como ajudar no plantio, a construir cases e cagar com ele. A moca tam: bém retribui, oferecende uma rede ao ai do rapaz e novelos de ios de al. Bodo a mae O desfecho & também rapido: trés dias depois do pedido, 0 casamento tem lugar na casa dos pais da noiva. Um velho xama, ou outro ancido da aldeia, faz uma exortacso para que vivam juntos e depois todos bebem, comem e cantam. Os recém-casados passam a viver na casa do pai do noivo sem qual quer eontato sexual Com a primeira menstruaga ¢ que acontece a verdadeira festa do ca. samento. As desavengas so raras en- tre os casais e mais raro ainda é a separa¢ao e quando isso acontece, por pregui¢a ou infidelidade, 0 marido pega as crian¢as e vai embora, incor- orando-se aouero grupo local As Yanomami néo tém uma gravidez atras da outra. Tao logo tém conhecimento de seu estado, tanto «las como os maridos passam a obser. var uma rigida dieta para preservar a vida da crianga. O ritual é compli- cado: o marido néo pode se molhar na chuva durante caga ou a pesca, em: bora continue a trabalhar e a viver normalimente, O naseimento é assis: tido apenas por uma acompanhante, ‘mas nas preliminares do parto tem participecdoo xama, quecanta diante da parturiente e exige que ela bebe ‘gua moma para afastar o espitito do ‘macaco «baixo-xinan. A erianea vern 4 luz no chao e, se acontece de nas cerem igémeos, um &eliminado, pois a mie néo dispde de condigses: para cuidar de duas eriangas. S6 quando 0 beb8 comoga.ase sen- tar sozinho é quo 0 pai e os parentes podem cuidardele, atgentio entregrue completamente a mae. Sua educacao 6 integralmente confiada aos pais ¢ avose s6 na auséncia deles 6 entregue ou 0 irmao do pai, ou & esposa do ir= mio do pai, ow ao immo da mie ou ainda ao marido dairmé da mie. Ao atingir sete ou oito anos, as criangas comegam a aprender as atividades que’ desempenhario no futuro. Os meninos eomegam a apren- dor a trabalhar o arco ¢ a flecha, en. Quanto as meninas se dedicam a0 aprendizado das tarefas domésticas, como ralar mandioca, buscar agua ¢ lenha, preparar a comida, flar'o al- odio ecuidar dos irmaos menores. © ciclo da vida continua, assim, desde o comeco do mundo, repetindo. se ineessantemente. A motte, por acidente ou lutas, é considerada nor. mal, mas quando ocorre em razio de doenea, 0 fato é atribuido ao xama de outro grupo, que teria enfeiticado a pessoa. O ritual da morte presereve @ aproximagio apenas dos parentes roximos como 0 pai, marido ou es- posa e irmaos, que choram de forma cantada, decantando a vidado morto, No dia seguinte, antes do amanhecer © corpo é colocado numa cesta e le- vado rio abaixo, para a realizagéo dos funerais, que terminam uma semana depois, com a cremagio do. corpo Mais tarde, os ossos recolhidos 580 incinerados, triturados misturados posteriormente ao mingau de banana ‘eingerido por todo o grupo. Oluto possui duracao variada e,a0 seu final, os parentes da familia do morto dio uma festa, com grande dis. tribuigio de beiju de mandioca, carne assada e uma bebida feitadecara. Henitomy — S6 depois de 11 nos observando 0 comportamento dos integrantes do subgrupo Apluétheli, instalados nas cabeceiras do rio Marari, no Amazonas, pode 0 missiondrio Paulo Corenchue definir Ocritério © a forma como os indios se alimentam. Sua dieta, conforme detectou, ¢ composta, basicamente, or trés tipos de alimentos: os que satisfazem a fome de carne, os que satisfazem a fome comum eos que & seciam, mas sé podem ser consu- midos sem misturar com os demais, Para se abastecorem de came, fazem cagadas individuais ou coletivas, es- tas ultima denomina. das por eles ‘ois dias, durante os quais cacam e Dreparam as cames para 0 regresso. Em geral, as oxpedigSes sio orga. nizadas pelos hefesou pelo cabera da ‘amilia,em homenagem a memsria de algum morto. Sé0 antevedidas, de véspera, de uma prelegdo que pode ddurar até duas horas, as vezes apar- teadas por algum memiro mais velho paraextemnar seu assentimonto. Sés as tribos que de alguma forma tiveram contato com os brancos usam a linha eo anzol para pescar, coad: juvados pelo arco e flecha, embora inl descartando o uso do timbe e das mos nos lugares rasos. A coleta de ‘frutos, folhas, floreseraizesna flores. tae feita de formacoletivaeo produto depois dividido entreos familiares. A base da sliment ago Yanomami consiste na banana ena mandiocaea Gisponibilidade dos demais produtos, como a caga, é determinante de sua dicta, cujo padrio de variagéo pode ser: carne com banana: carne-bejju: carne-palmito: carne-castanha; car- rne-nozes: carne-pupunha. A fome de cere, noiki, pode ser satisfeita com carnedetodosost pos, mariseos, larvas, répteis, lagartas, folhas de xinakomy. castanhas nozes, abacate e suco de frutas ex: ‘raidas das palmeiras. A fome de car- ne & bem diferente da ohl, fome co- ‘mum, de acordo com o levantamento do missionario Paulo Corenchue, & pode ser satisfoita com a banana ver- de assada, pupunha, palmito, beiju, castanhas e nozes, consumidos junto com a carne. Ou também pela ma- caxeira, batate-doce, card e milho, in- geridos'sem mistura Os alimentos podem ser_prepa- rados de varias maneiras: fervido, grelhado ou assado. A caca eos pas: ssaros sto cozidos, emboraos grandes ‘suimmals sejam. goquarteiedes grelhados antes de serem cozidos. O tompero consiste om pimenta ¢ uma ccinza vegetal, cujo gosto se asse- melhaao sal decozinha. Os Yanomami tém muito euidado com a agua que bebem. Rede de viagem feita de embira; scampamento durante aga comunal Procuram os recantosonde jela se apre jsenta lim. pida ou até bacaba, pataud, acai e buriti, quetém um preparo todo especial. Desco: nhecem qualquer proceso para a fer- mentacao de bebidas. Bons artesiios — Uma flecha bem acabada, por exemplo, é meio garan- tido de se adguirir prestigio entre os Yanomami. Os Xamathali— sub- grupo que vive aoeste do territério de Roraima —, se esmeram na fabri- cago de seu artesanato, desde & produgo de paus para fazer fogo até a feitura de braceletes ou utensilios domésticos tirando partido dosrecur- sosdo meio onde vivem, ‘Antes de conhecerem os metais, suas ferramentas eram muito limi- tadas, restringindo-se ao dente de 22 catia, & faca de palmeira e a lamina “suname”. Com essas pecas, tém recursos suficientes para aplainar 0 arcoe dar acabamentoas flechas, cor- tar a came epara aparar os cabelos ou redlizar neisdes. Alguns subgrupos dispdem de machados e de pedra, valem-se de mandibulas de animais, dentes de quoixada e ndo se descartam mesmo da valiosa ajuda dos dentes neisivos, com os quais cortam fibras.e cordas. A floresta Ihes fornece tudo que necessitam para bem viver. Conta o missionério Paulo Corenchue que, viajando com eles pela mata, pide constatar que superam os civilizados na rapidez e conforto com que se ins- talam, fazendo na hora a rede de en- virana qual descansam. Mas & com as flechas que revelam todo seu talento artesanal. Os ossos da perna de macaco, quata e do ‘mutum so os preferidos para aponta e, depois de apontados, sto fixados de forma segura, com a ajuda do breu, para que nfo se afrouxe o amarrado. ‘A madeira do arco é geralmente ex: traida da pupunha, sendo lixada com a folha aspera de uma arvore co- nhecida como “yaukolema”. Sao TCLAUSIAANDWIAF também feitas pontas de flechas ¢ setas com a ponta envenenada Podom, sinda, tomar forma diferente, com dois gumes e ponta agucada, usadas geralmente no ataque a animais de grande porte, ou na guerra. Os Yanomami contam com uma série de utensilios. Desdea “tola” na qual carregamo forméo, 0 brew, setas © pontas de flech atado eo pesengo, atéo“hawa”, cocho de madeira utilizado em grandes fes- tas ¢ que choga a comportar até 400 litros de mingau de banana. As ¢a- bbacas so muito apreciadas por elese existe um tipo definido para cada aso: a inteira, com apenas uma abertura no pé da raiz, é utilizada para trans: portar e armazenar a agua, enquanto 4 cuia, aberta ao meio, na sua forma redonda ou ovalada, se destina 20 mingou. Os cestos de vime e palha, usados para acondicionar lenha, produtos de roca, frutas e aves, so feitos decipé e palha e é uma arte que as mées pas- sam para as filhas. Também a con- feeciio de redes & uma atribuicdo feminina, embora calba ao homem fazerasamarras. A historia do mundo, no trago e na palavra Yanomami Céu rachou enorme, Céu rachou todo. Tudo acabou. Longe do céu pés. Céu escorado. 0 céu sobreposto. Céu suspenso. Longe céu, longe suspenso. (Comeco do Mundo 1) O pecmadescrove a formacomoos Epa topentore econ io mundo, visualizado ot capa desta ccigbo nas trés formas possvelente Fetterontandoos amis ou latackes, Ge sostotem 0 cou. 0 trabalho 6 ‘esultad da tim pectate projete da fotigrafa CéuaiaAndujer, naseda na Suga, cada na Higa © nae furalizada bral, com 29 anos de Brasil —, que desde 0 comeyo da dead de 70 ven reaizando urna ox fenea documoatagdo sobre cess in. dios Foiapartir de1971,fnancada por ma bolsa de estudos, que la travou seu pritiro conto com os Yona. ant ~contato pesoal, digest do Passage, que ov adios Bi mu Bir tastdnportsodosanincerses-, exatamente na area do Catrimani,em Roraima, em diversas aldeias ao ion. g0 do rio. Surpreendida e encantada com a rica mitologia, as erencas, a religiéo e a propria maneira de existir do grupo, Claudia comegou a cogitar na realizacdo de um trabalho que levasse os indios a expressar, visual mente e com palavras, o mundo que oscereava, Sé om 1974, no entanto, ¢ que o trabalho comegaria a tomar forma, quando ela submeten trés indios — Koromani Waica, Mamoké Rorowé e Kreptip Wakatautheri — a um tratamento prévio, jf que eles des- conhociam 0 uso do lapis e do papel.O aprendizado foi répido, segundo eia, -gracas ao conhecimento e prética da pintura que aplicam em seus adornos utensilios, como cestas, estojos, pontas de flecha ete. Desde que comegou a ser pro- duzido, até a conclustio da tradugo portuguesa, 0 trabalho consumiu praticamente uns dois anos ¢ muitas viagens. Submetidos a estimulos visuais, pediu-se aos trés artistas previamente selecionados que de- senhassem seu habitat, animais, ‘objetos de uso. Depois, eles mesmos comegaram a explicar os desenhos ¢ seus significados, acrescentando uma dimensto postiea ao trabalho, jé desi realmente inédito. ‘Muitas pessoas, entdo, se envol- vyeram com a obra. A tradugo por- tuguesa foi feita pelo missiondrio Carlo Zacquini, da Missdo Consolats hh 22 anos na area, ¢ por Giova Battista Saffirio, da mesma Misséo. Paulo Vanzolini, diretor do Depar- tamento de Zoologia da USP, deu as- sisténcia na parte de identifieagio dos animais e 0 poeta Mario Chamie revisou o texto, transformado num belo volume pela Olivetti do Brasil, com a denominacao ““Mitopoem: Yanomam". Sao a0 todo 48 ilus- tragbes e dezenas de poemas vertidos para o italiano e o inglés e reportam, segundo Pietro Maria Bardi, na in: troduc&o do volume, “todos o8 ‘momentos inimagindveis do inicio da humanidade”. 23 O banco de mais da metade do Brasil. = a Corea ee eal Algumas pessoas pensamn que o Bancoda Amazéniaé, apenas, 0 Banco do Amazonas. Ele é mais que isso. O Banco da Amazonia é, também, fs ‘Banco do Par, deMato Grosso, do Acre, do Amapé, de Rondénia, de Roraima ede uma parte do sacar} Maranbao e de Goias. uno ‘Como vé, oBancoda Amazénia Lente ea 6 obancode mais da metade do Brasil. a ‘Mas, também, est presente na outra quase metade. Obanco de toda a Amazénia. O Ministério do Interior eo planejamento regional e urbano no Brasil Roberto Cavalcanti de Albuquerque. Nias sicarzes que apovos, em marzo de 1981, 0 Presidente ae Republica extabilece, coma ort Gill objetivo da att do Minis iy Ge Iter, de romnover meine Gisrbulio regional do dear vimentotraieee Esse objetivo intodur, de ime Gist. todo um conjunc de quotes relacionadas com o eapae como Gimensto do deoenvolvimentos ae Gisperidades inter rogioais inte regionin, 4 ccuporde Prodstive te Dovas dees, a orgmnicae do tot Htério, @ urbanizagio, nos seus as- ectos interurbanos como nos intra: urbanos. Questées que assumem aande relevancia no easo brasileiro, dadas a dimensto continental do pais © @ natureza espacialmente concen: trada de seu processo de desenvol. vimento mais recente. 0 planejamento esti comumente mais @ vontade com a perspectiva temporal do que com a dimensiio es Bacial do desenvolvimento. Seus métodos, seus modelos de andlisetém se revelado mais aptos para captar, compreender ¢ explicar sua evolugdo xno tempo do que sua projecdo no es- ago. Essa historicidade do planeja- mento ocorre tanto no plano tebrico ‘como no aplicado: frequentomente, faz-se abstragao da variivel espago, projetando-se, no tempo — passado.e futuro —, todo esforgo de analise Previséo. E a dimensio espacial somente preocupa quando se diag: hosticam desequilibrins de niveis ou de ritmos de desenvolvimento — sin- tomaticamente, quando selocalizam, regionalmente,, defasagens “tem: Porais” de crescimento, "“atrasos” relativos localizados na dindmica do rocesso econémico-social. OPLANEJAMENTO REGIONAL Ja se observou ser recente a cons. signeia politica das desigualdados regionais no Brasil em parte por. que esses desequilibrios somente ten. deram a acenttar-se quando 0 pais caminbou, apis a II Guerra Mondial, para desenvolvimento do tipo con- fempordneo, com base na indus. trializagHo intensiva e espacialmente compactada, em parte devido ao fato de que as primeiras estatisticas de renda e produto nacional somente apareceram, de forma regionalizada, em 1951. As duas regides: menos desenvolvidas do pais, no entanto, articularmente o Nordeste, vinham, de ha muito, sendo objeto de tra tamento diferenciado, por parte do foverno federal: 0 Nordeste, desde 1877, em decorréncia das secas,como aspecto dramatico dos flagelados: Amazénia, desde que a borracha per. dera, a partir de 1914, acaracteristica dealavanca do progresso regional No caso do Nordeste, é possivel distinguir duas fases distintas no tratamento especial conferido regio: a que vai de 1877-1879 a 1958 (outra grande seca) © a que vem de 1958 até nossos dias. A primeira caracteriza-se pela tendéncia a con. siderar as secas como causa maior 29 atraso relative do Nordeste, bem como pela natureza das medidas politicas adotadas, visando a cons trugdo de infra-estrutura do arma. zenamento d'agua e de transpories: & segunda, que diagnostica, de modo Thais abrangente, os varios aspectos determinantes do subdesenvolvi. mento regional e os meios para su. beré-lo, da inicio, com a Superinten déncia do Desenvolvimento do Nor -_ Roberto Cavaleanti é Secretaria - Geral Adjunto do Ministerio do In- terior. (a deste — Sudene, i aplicagio dos modemnos instrumentos do. pl jamento regional. Para a Amazéni também com a criagio, em 1968, da Superintendéncia do Desenvolvi- ‘mento da Amazinia — Sudam, nos maldes da Sudene, que os objetivos de integraeio da ‘Amazénia & eco- nomia nacional se explicitam ¢ pas sam a ser perseguidos de modo ar- ticulado.. Na verdade, o planejamento re gional no Brasil precede. histori camente, sobretudo no Nordeste, 0 planejamento a nivel nacional de earacteristicas modermas, que s0- ‘mente toma forma e adquire rlevan- cia pratica a partir de 1964. Se bem que se venha delineando por toda a década dos cinquenta, com a crisgio. em 1951, do Banco do Nordeste do Brasil S-A. — BNB, esta assinalado pelo importante relatério Uma nbmico para o Nordeste (1959), que analisa o caréter especial da economia regional no quadiro brasileiro e define estratégia de agio para os desafios encontrados. Sinteticamente, o documento mencionado: (a) aponta as tendéncias histérieas observadas para a concentracgo da ronda na- cional no Centro-Sul (regio que, en: lobando 0 Sudeste, o SuleoCentro- Oeste, somente adquire significacao analitica quando confrontada com 0 Nordeste e o Norte do pais}: (b) con- sidera como de natureza estrutural © atraso relativo do Nordeste — cuja debilidade as secas apenas eviden: ciam: escassez de terras araveis, con. centragio de renda na economia do acéicar, agricultura predominan- cemente de subsisténcia, pobre base industrial: (c) oferece plano de acdo que frisa a necessidade da indus: trializaco, @ transformagio da economia agricola da faixa litorinea, dominada pelo latifindio canavieiro, a adaptacio da economia da regi8e ‘semi-drida com vistas a torné-lamais. resistentes secas, A Sudene, criada em 1959, visava ‘acoordenar aexecutio desse planio de ago, seja através dos investimentos iblicos, seja através do estimitlo do desenvolvimento da iniciativa pri- vada, particularmente no easo da in: dustrializagio. O I Plano Diretor de Desenvolvimento do Nordeste (1261- 1963), aprovado pelo Congreso Nacional, procurou viabilizar essa es- tiatégia ¢ criou importante ineentivo fiscal para investimento, segundo 0 ‘qual as pessoas juridicasnacionais de todo o Pais podiam abater até 50%edo imposto sobre arenda para aplicar em investimentos privados no Nordeste. E eso mecanismo que, modifieado, alimenta hoje o Fundo de Investi mentos do Nordeste — Finor, 9 Fun- do de Investimentos da Amazénia — Finam, além do Programa de Inte- gragho Nacional — PIN e do Pro grama de Redistribuigao de Terras de Fstimulo & Agroindustria do Nor te e do Nordeste — Proterra, bem como incentiva investimentos. pri vados,no ambito nacional ,em setores como pesca, turismo ereflorescamen: to. Com a consolidagio do planeja- ‘mento a nivel central. os planos programas regionals passaram a in- tegrar os planos nacionais ea Sudene perdeu muito da autonomis dos primeiros anos. Manteve-se, no en: tanto, a énfase no desenvolvimento regional, particularmente no caso do Nordeste e da Amazinia. A experién- cia das agéncias regionais de desen volvimento foi estendida a duas outras regides, com a cringlo da Superintendéncia do Desenvolvi: mento da Regio Centro:Oeste — Sudeco e da Superintendéncia do Desenvolvimento da Regio Sul — Sudesul — ainda que as tarefas com ‘que se deparam a Sudeco ea Sudesul sejam mais modestas do que as da Sudene e Sudam. Consolidou-se, as ‘sim, a atual estrutura institucional do planejamento regional no Brasil, hoje sob a responsabilidade do Ministério do Interior ‘OPLANEJAMENTO URBANO. Ja o planejamento urbano so- mente se incorpora, de forma ex plicita, no planejamento nacional eom © II Plano Necional de Desenvol- vimento (PND), de 1974, ¢ com a criago, na Secretaria de Planeja- mento da Presidéncia da Repiblica, também em 1974, da Comisséo Nacional de Regies Metropolitanas e Politica Urbana — CNPU, No verdade, o II PND tem no Brasil a primazia, como documento deplanejamento, da definicBo deuma politica nacional de desenvolvimento urbano, que enfatiza: (a) melhor es- truturago do sistema urbano bra- sileiro, com vistas & maior eficacia das fungGes exercidas pelas cidades ¢ & elevar0 dos padres de urbanizagio e qualidade de vida: (b) desdobra- mento das diretrizes nacionaisem es tratégias regionais de desenvolvi- mento urbano; (c) a execugso de programa de investimentos urbanos contemplando as regides metropo- litanas (9, 20 todo, eriadas em 1973) ¢ as cidadesde porte médio Em 1979, com acriaglo, no ambito do Ministério do Interior, do Con: sho Nacional de Desenvolvimento Urbano — CNDU e a transferéncia, para a area de competéncia deste Ministério, da execug’o da politica nacional de desenvolvimento urbano, ficam, no Brasil, pela primeira vez, sob a coordenaclo do mesmo Minis- tério, tanto 0 desenvolvimento re- gional como o urbano, AQUESTAOREGIONAL AA longa e muitas vezes polémica discussio sobre as desigualdades regionais de desenvolvimento ver sendo comumente colocada, no Brasil, nos tltimes anos, sob dois an- gulos prineipais: 0 primeiro ¢ um exercicio de estatica comparativa: 0 segundo, exame de desempenho ou de dindmica decrescimento. Na abordagem _estatico: comparativa, confrontam-se indi- adores de desenvolvimento relative —o produto interno pere cipalmente — para chegar-se a con: clusio de que as disparidades re- gionais de niveis de renda perma- hneceram virtualmente as mesnas, nos tiltimos 20 ou 80 anos, sobretudo no caso do Nordeste, cujo produto er capita se manteve em torno de 40%do brasileiro Na analise de dintimica de cres: cimento, eonsiders-se, isoladamente, uma regido (o Nordeste, quase sem- re) examinando-se 0 seu desem- penho. nos dltimos anos.com baseem indicadores econémico-sociais. para concluir que a regito foi capaz de ‘scompanhar @ proeza de desenvol- vimento realizada pelo pais no seu todo. 38. ‘As duas conclusées so perfei- tamente consistentes. Rezam, literal mente, a mesma coisa, ainda que em fraseado diferente. Tanto faz dizer Que ohiato de desenvolvimento, entre regides, se manteve constante quanto dizerque asregidesmenosdesenvol vidas foram capazes de dosenvolver- se no mesmo ritmo das mais desen volvidas NORDESTE: AESTATICA Das, DESIGUALDADES As desigualdades rogionais de niveis de desenvolvimento no Brasil odem sercaracterizadas comparan- o-se os produtos per capita, para 1980. Sabendo-se que aestimativa do Produto intemo bruto — PIB. per capita para o Brasil & da ordem de USS 2.000 (USS de 1980), pode-se concluir: I — 0 Nordoste é a regio que apresenta menor grau ‘le esenvol vimento relativo, com 0 PIB. per capita da ordem de 40% do brasileiro (USS 800}; oda Amazinia correspon do a cerca de 50% (USS 1000) e0 do Centro-Osste, a cerca de 70% (USS 1400); II — sho basicamente os estartos ‘te Sao Paulo e Rio de Janeiro que fieterminam as esigualdades ma. crorregionais de rena no Brasil: 0 PLB per eapita deo Paulo é0 dobro do pais (US$ 4000), o do Rio de Ja- neiro, 70% maior (US$ 3.400), en- quanto 0 dos estartos de Minas Gerais © Espirito Santo, tomatos conjum tamente, corresponcle a 70% lo pais (US$ 1400) eo da regio Sul se situa, 34 aproximadamente, no mesmo nivel do nacional (US$2000) Essa comparagko de niveis de produto regional per eapita comporta algumas qualificares. Primeiro, o processo dle desenvol- vimento industrial, espacialmente concentrarlo, leterminarlo, em boa meiia, a polarizagao das atividades terciérias e a macrocefalia urbana, explica muito da persisténcia, no al. timo quarto de século, das resigual dades regionais de produto per ca pita. Sao Paulo e Rio de Janeiro let hoje cerca rle 70% do produto industrial do pais, mais de 50% do dos servigos e mais de 40%:da popula eGo urbana; em contrapartida, o Nor- deste responde por apenas 8%do pro: dutoindustrial brasileiro, 18%dosser- vigos e quase 45 % la popular rural, caracterizando-se, relativamente ao pais, como regio ainda predominan- ‘temente agricola e “ie escasso desen- volvimento industrial Segundo, ha dbvias inter-relapbes entre o morlo como ver evoluinclo as lesigualiactes espaciais ¢ pessoais na Aistribuigio da renda nacional: em 1976, 45% clas pessoas economica- mente ativas e com renda que re cebiam, no pais, monos rie um maior salario minimo vigente no Brasil es. tavam no Nordeste; pelo mesmo critério, 64% da pobreza rural do pais, encontravam-senaquela regio, Terceiro, as comparagbes de produto per capita entre regiées aparentemente superestimam as desigualiates de renda prevalecen tes, tendo em vista as transferéneias fie recursos que ocorrem, das regibes mais desenvolvirlas para as menos esenvolvidas, atraves de mecanis- mos comanriarlos ou induziddos pelo setor piblico (salto entre espesas e receitas da Uniti, transfertncias dda Unido aos estartos ¢ municipios, in- centivos, fiscais, assisténcia médica e outros beneficios da previdéncia social, sistema bancirio). Estima-se que, para o Norleste, essas trans. ferencias representaram, em termos Tiquidos, entre 15% e 20% do PIB regional nos iltimos anos, significan. do que a renda per capita regional seria superior ao produto per capita. E relevante observar, a esse respeito, ‘ue, em 1976, rle acordo com a Pes. guisa Nacional por Amostra de Domicilios— PNAD (IBGE), arenda méria ca populario economicamente ativa (com renda) do Nordeste equivalia a 54% la do pais, enquanto 0 PIB per capita ora de corcade 40%. Parece, portanto, razoavel arimitir que a renda per capita do Nordeste estaria, em 1980, na ordem de USS 1000 (pare PIB per capita de US$ 800), correspondendo a 50% da brasileira. Ha, arlemais, indicagbes ie que, para outras regies menos re senvolvidas (Amazénia, principal. mente), as rendas médias por ha- ditante, computarlas as transferén- cias inter-regionais rte recursos, tam bém se aproximam mais da média nacional do que os produtos per capita respectivos. NORDESTE: OELOGIODO DESEMPENHO, B importante destacar o papel ‘lessas transferéncias inter-regionais de recursos como fonte de erescimen- to, particularmente no caso do Nor. este, No petiorto 1960-1980, ocorrew sensivel acelerardo rlo crescimentordo Norrieste. Entre 1960-1964, o PIB da regiio cresceu cerca rde 6% a0 ano, clevanro-se para 7% e quase 8% em 1964-1968 e 1968-1973, respecti- vamente, Enquanto 0 crescimento ria economia nacional desacelerou dle 11% anuais om 1968-1973 para 7%em 1973-1980, 0 do Norrleste reruziu-se muito menos: dequase8% para pouco menos de? % aoano, respeetivamente em 1968-1973 e 1973-1980. Os PIBs per capita do Nordeste e do Brasil cresceram, no periodo 1960-1980, na orem de4, 2.e4,3%, respectivamen- te A economia do Norleste, portan: to, ao tempo em que acelerot seu cereseimento, apresentou, compa rativamente & brosileira, maior es: tabiliade, ineapaz de acompanhar a explosio de crescimento que ocorreu ‘sem 1968-1973, mas revelando ‘maior resisténcia para dlesacelerar (em 1964-1968 como em 1973-1980), em desintonia com a trajetéria, ciclicamente mais voliivel, da eco- nomia brasileira Parece fora rie davida que tanto a aceleragiorlo erescimento lo Nores- te como sua maior estabilidarle se everam is transforincias de recur sos eo resto do pais paraa regio, que vem, le moclo permanente, financian. fio’ seu desenvolvimento, em parti- cular © proceso de formagao de capital, sobreturo na indistria e na infra-estrutura (estima-se que as transferéneias de poupanea vem financianvlo cerca rle metade ros in- vestimentos no Nordeate e que estes correspontem a mais te 1/4 to PIB regional). "Sae breve exame do desempeno reconte rla economia do Nordeste tambem carece re algumas quali. fFicagies. Primeiro, o erescimento da eco- xnomia urbana no Nordeste superou, no periorlo 1960-1980, tanto em ter mos globais como per espita, o do Brasil: o prortutortaindistria cresceu 4219 (352% para o Brasil) eorias ser: vigos, 378% (203% para 0 Brasil|. No entanto, 0 desempenho da agrope cuaria regional, de 77% no periodo 1960-1980, foi muito inferior ao do pais (134%). Esse pobre rlesempenho dda agropecuaria regional nao se reve apenas a fatores climaticos ou as dificuldates — conhecirias e supe raveis — do tropico semi-rido paraa agricultura. Outros fatores, tais como © esgotamento da fronteira agricola em areas re ocuparao mais antiga ¢ intensa, a estrutura fundiaria, as te nicas rurimentares le prorlugao, 0 sistema de relardes rie trabalho, ex- plicam 0 quadro rie relativa estag- nacio e re pobreza que caracteriza 0 Norleste agririo. Particularmente quanto a estrutura fundiéria, ressal- tem-se a grande expansio ‘tos mi- nifundios (estabelecimentos com ‘menos rie 10 hectares), que crosciam, em niimero, 90% entre 1960 e 1915, representan‘lo, neste iltimo ano, cer ca re 70% clo nimero dle estabele cimentos agricolas © apenas 5,4% de sua rea total; o maior crescimento io pessoal ocupato nos minifianrlios (te 70% entre 1960 e 1975, comparadios com 35% para 0 total dos estabele- cimentos) e a pequena capacirlare de retencfo de emprego pelos estabo- lecimentos ie 100 hectares © mais {menos de 14% do emprego total, em 1915, para maiste0%rla ares). Tuto dica, portanto, que a solugo do problema agrario o Norfesteesta na morificario nos seus parrbes de cres- cimento, até aqui preriominantemen te extensivo, em ampla intervengio za sua estrutura fundiaria, nas suas relagdes de trabalho, nos seus modos de producao. Intervencio concebida nos moles ce programas te desen- volyimento rural integra‘o. Segrun‘o, ao mesmo tempo om que nilo hi como negar a persistineia, no Noreste, le graves problemas s0- Ciais, no meio rural como nas cidavtes, iio se sieve desconhecer os progres: 08 aleancarios, nos iltimos anos: @ expoctativa média fe via elevou- se na regiao, de 48 anos em 1960 para 85 anos em 1977; a taxa de morta lidade (por mil) deeresteu, no mesmo pevioro, le 19, 5 para 13,0; a taxa de alfabetizaeao para a populayio re 15 aos e mais cresceu de 40% para 36% as matriculas nos niveis fe ensino cresceram 200% (para erescimento opulacional de 50%); a taxa de es colarizaeto no ensino vie 1° grau, de 48% para 63% Em perioro mais recente (entre 1972 ¢ 1976), houve consilerivel expansio a. aisponi bilidade domiciliar de servicas e bens fle consumo duriveis: 0 percentual ‘ios omicilios servis com energia elétrica eresceu de 16 para 25% entre 1972 ¢ 1976 (de 51 para 66% para os dlomicliog. urbanos); com abaste ceimento Magus, de 6 para 16% (de32 para 39% no caso ros omiclios ur banos). © percentual ros riomicilios que possuiam rilio elevouse de 45 para 59% geladeira, rie 11 para 17%, televisao, rle 10 para 18% autombvel, led para 6% No caso ‘lomicSlios urbanos, esses pereentuais foram, em 1972 ¢ 1976, rospectiva mente, fle 24 €34% para geladeira, da 20 a 97% para televisio e le a 11% Dara automavel. Esse crescimento na isponibilidade domiciliar de bens servicos foi, aremais, em torios os casos (eom exeee oro abastecimento ‘agua), superior 20 verficarlo no pais como um torlo, rotuzindo-se a Aistaneia, no periors 1972-1876, entre 0 indleartores para o Brasil eo Nor fleste, AMAZONIA: OPROCESSO DEOCUPACAO ‘Também no caso cla Amazénia, & importante estacar a significagao ‘fas transforéncias de recursos para a regido, estimartas em carca de 1/4 lo PIB regional para 1977, e que vim financiando, principalmente, a im plantagio e consoliacto, na regido, ‘a infra-estratura econdmico- social E fle justiza destacaromodtocomo © Brasil vem enfrentando, nos tle timos anos, 0s rlesafios geopoliticos da ocupagio ra Amazbnia: sem a sofreguirio e os temores ro passario; com melhor e mais amplo eonheci ‘mento ie suas reais potencialiriades € fle sua crescente importancia para o desenvolvimento. nacional; sem Violar, te forma irremeriavel, seu equilibrio ecolbgico nem compro ‘meter seu patrimonio natural. Para a consolidacao dessa es tratégia de desenvolvimento para a Amazonia, alguns fatores vem sendo importantes. rimeiro, o conhecimento de seus recursos naturais — agricolas, mi- nerais —, obtido sobretudo através do projeto Reviar para a Amazbnia — Rariam e do esforco complementar le pesquisa representacto, por exempio, pelo Programa réo TropicoU miro. Na visto de hoje, 08 quase 4 milhbes de Jan2_da_bacia amaz6nica rovelam grande Aiversinarie quanto as carac. teristicas de solo — inclusive com ‘manchas de terra roxa e amplas areas de fortlidade média —, variada for- macho vegetal, importantes ocorrén- ciasminerais, Segundo, os grandes investimen- tos em infra-estrutura realizados através principalmente do Programa de Integracao Nacional — PIN, em rodovias, navegagdo fluvial, aeropor- tos, energia, comunicades; ‘Terceiro, a identificardo de areas integradas, espacialmente deseon- tinuas, estrategicamente localizadas tem fungio de suas potencialidades de desenvolvimento ou com vistas a capitalizar os fluxos espontaneos de penetragio, dirigidos a0 Norte de Mato Grosso, Rondonia, Norte de ‘Quarto, a dimensto que adqui iram, nos tltimos anos, particular- mente de 1973 para eé, os dipéndios e investimentos piblicosna Amazonia, bem como os mecanismos de incen: tivo s atividades produtivas pri- vadas, na agropecuéria, na industria fe nos servicos. Dostaque-se, a pro: pésito, que, dados o porte que a: sumiu'a economia nacional e a si nifieago erescente para o Brasil, da Utilizagao racional dos imensosrecur- 50s amazénicos, a ampliago desses dispéndios e investimentos nio s6 & vidvel financeiramente como é de sejavel do ponto de vista econdmieo. social e politico: Quinto, a base econdmica que vém adquirindo os principais pélos ur- 35 banos da Amazénia — Belém, Manaus e, em certa média, So Luis + bem como a gradual consolidagio de cidades de menor porte, periféricas a regio ou mais interiorizadas, im ortantes nticleos de apoio ao proces so seletivo deocupacto, Para colocar, na dimensio ade- quada, os recursos que o Brasil vem plicando na Amazénia, nos ultimos amos, convém apresentar alguns in- dicadores econémicos gerais, para a regio Norte do Pais,no ano de 1980. Com 42% do territério nacional, a regitio Norte abriga apenas 5% de sua populagio: 5,9 milhdes de pessoas. Estimativa de seu produto interno bruto — PIB, para 1980, da ordem de (US$ 6,0 bilhdes) permite calcular PIB per capit de cerca de USS 1000, (cerca de 50% do PIB per eapita do Brasil). Esses dados globais ensejam duas ordens deconsideragies: Primeiro, a Amazénia é talvez a maior regiao aproveitivel do mundo com escassa ocupacio demografica e produtiva e, sob este aspecto, é mais ‘uma rea inexplorada, nas suas gran. des potencialidades, do que — como Nordeste — um caso tipico de sub. desenvolvimento. Segundo, as dimensdes relativas da area, populacio e economia re- gionais, quando comparadas com as do pais, demonstram que a densi- ficagio do processo de ocupagdo da Amazdnia vai de encontro aos ob- jetivos de complementaridade inter regional de recursos, além de ser ‘operacional e finaneeiramente fac- tivel. AESTRATEGIA REGIONAL A preocupacdo com 0 futuro das disparidades ospaciais de renda no Brasil conduziu a definigéo de es. tratégia de desenvolvimento re- gional, na perspectiva dos proximos ‘anos, que o Ministério do Interior vem procurando executar. Essa es- ‘tratégia fundamenta-senos seguintes pontos basicos: I — é importante que se mante- nham — ou, mesmo, que se ampliem — as transferéncias de recursos, comandadas ou induzidas pelo setor piblieo, das regides mais desenvol. vidas para as mais atrasadas, par. ticularmente para o Nordeste, E Pequena sua significagdo, relati- ‘vamente & economia nacional mas é grande sua importéncia como fonte estratégica de crescimento regional. Boa parte desses recursos deve deter- 36 1minar ampla reorient ago espacial do processo de investimentos, em infra. estrutura econdmico-social © nas atividades diretamente produtivas — © ‘inico caminho para obter-se gra- dativa desconcentracio regional na geragio do produto e da riqueza nacionais. Esses recursos — e os outros instrumentos da politica sconémico-social — deve visar, concomitantemente, & redugSo da pobreza — que assume,no Nordeste, caracteristicas de séria endomia social — e a melhor repartigio dos resultados do crescimento; I ~ paraoNordeste, acentua-seo esforgo nacional com vistas a acelerar, © crescimento econdmieo (de modo a Que possa superar, em termos de produto per eapita, o alcangado pelo pais) ea melhor repartigio social dos bbeneficios do erescimento, com ree Gugo da pobreza e expansio de seu mercado interno. Esses objetivos podem seraloangados: ) — pela consolidagéo do desen. volvimento industrial, com base em complexos industriais integrados (o Polo Petroquimico da Bahia, o Com plexo indistrial-Portuério de Suape, em Pernambuco, 0 Complexo Clo- roquimico de Alagoas, o Complexo Industrial Integrado de Base de Ser- gipe, o Complexo Quimico- Metallirgico do Rio Grande do Norte, © Plo Industrial Divorsificado do Ceara); nes indistrias de bens de consumo, voltadas preponderan- temente para o mercado regional: no equacionamento integrado da pro- blematica da agroindiistria do agticar (e seus possiveis desdobramentos na aleoolquimica e sueroquimica); na implantagio de pélos agroindustriais interiorizados, elos de ligagdo entre a indistriaeaagropecusria b) — através de programas de desenvolvimento rural integrado (en- tre 08 quais sobressaem 0 Polonor. doste eo Projeto Sertanejo) que con templam ampla intervengéo na es trutura fundidria, nos modos de roducéo, nas relagdes de trabalho — com énfase no pequeno e médio produtores rurais. Nesse contexto, abe considerar mecanismos: 3 — facilitadores do acesso a terra (crédito fundiério em subregides ob- jeto da intervencdo concentrada dos rogramas de desenvolvimentorural, 4 regulamentagio.do arrendamento daterra); u — disciplinadores das relagées de trabalho (0 trabalho asselariade com garantiaderenda minima); a — modifieadores das téenicas de producéo (assistncia técnica o ex. tensio rural, insumos modernos, combinagio da microirriga¢ao com a agricultura ea pequens pecuéria); av — que visam a elevar a parcela da renda agropecuéria retida pelo produtor, lesquemas especiais de Comercializaco, pregosminimos, exédito subsidiado); ¥ — que se orientam para a me- Ihoria da infra-estrutura econdmico. soeial (estradas vicinais, eletrificagao rural, armazenagem, educacao satide, saneamento, nutrigéo, ha: bitacdo, previdéncia © assisténcia social) ¢) através de grande énfase no que respeita do desenvolvimento social, Particularmente: 1 — quanto ao emprego eno salério (cujas expansio ¢ melhoria, mais acoleradas, véo evidentemente de- ender do modo como sejam con: duzidas as estratégias de desenvol- vimento rural e industrial e a politica de dispéndios publicos), tendo em vista @ redugdo do desemprego & subemprego, que devem correspon: der a cerca de 20% da forga de tre- balho regional: 1 — na educagdo, com vistas aal- terar o perfil educacionel da regio, ue se compara, muito desfavoravel. mente,comodo Brasil; 1 = na satide e nutrigéo, soja pela intensificagao das acSes basicas de saiide publica, soja através de reforgo. aos programas de nutrigéo para populacdes de baixa renda: 4) pela camplementago da infra. estrutura, particularmente dos equipamentos e servigos urbanos nas egies metropolitanas e cidades de portemédio; III — a estratégia de ocupacéo amazinica, posta em pritica como 0 Programa de Pélos Agropecuirios © Agrominerais da Amazinia — Po- lamazénia e com as ages de desen- volvimento da Sudam, Superinten- déncia da Zona Franca de Manaus — Suframa e do Banco da Amazénia S.A — BASA, parte do pressuposto de que nao faz sentido conter 0 rocesso de ocupacao da Amazénia nos limites de racionelidade buro eratica. Como seria imprudente per- mitir que ela se torne predatéria ou perduléria. Essa ocupagio, espacial- mente seletiva, vem’ adquirindo dimensées compativeis com os objetivos de integracéo nacional Governo e inieiativa privada compar- tilham esse esforco, cabendo 20 primeiro, naturalmente, a funcdo de indutor de muitas iniciativas ou de ‘ordenador de processos espontaneos de penetragio amazénica que tém muito da aventura das novas fron- teiras © pouco das sedimentaries sociais estratificadas. Para a ‘Amarinia, as bases de uma estra tégia do desenvolvimento consi- eram, principalmente: a) que nto faz, sentido ocupic-la de modo espacialmente indiferenciado e continuo. O esforgo de ocupacio deverd continuar sendo seletivo, de modo a concentrar a consolidago da infra-estrutura e as atividedes produtivas em polos de desenvol: vimento — tirando proveito de suas vvocagdes naturais fertilidade do solo. recursosmineraiseflorestais etc.) ) que, ainda que possa a Ama- zénia, pelas migragdes, abrigar gran- des contingentes populacionais, no parece sensato que sua ocups¢io realize mera transferénciade pobreza, do Nordeste on de outras regiées do pais, com excessos demogralicos em expulsio. Dai a preoeupagao em promover, na Amazinia, atividades produtivas capazes de gerar e dis tribuir, amplamente, a renda e os ‘demais benelicios do desenvolvimen: to — para que sua expansio de- mografica no seja acompanhada de pprocesso de empobrecimento que. ais tarde, pode tornar-se de dificil reversto. A urbanizacio, certamente, deter- ‘mina formas complexas e dinémicas de organizagio humana. Permite a divisio racional do trabalho, a es- pecializago produtiva. Foi com a ur- banizacdo que a sociedade brasileira, no passado predominantemente agriria, com fundes de produgéo pouco diversifieadas, evolu para o estégio relativamente avancado de industrializagio em que presente: mente se encontra. E @ nas cidades que se gera a maior parte das novas oportunidades de emprego, secriam e se transmitem as inovacées sociais deflagra-se o proceso que conduz & melhoria dos niveis de vida para toda apopulaedo, AQUESTAO URBANA © processo de urbanizagiio bra- sileira ver se caracterizando, nas tl- timas décadas, por sua rapidez, pela tendéncia para excessiva metro- politanizagdo © pela ineapacidade da infraestrutura e dos equipamentos sociais urbanos de acompanbar essa grande expanséo e concentracéo ur ‘banas. De uma parte, em 1940, a popu: lagio urbana do pais, de 15 milhdes, correspondia a apenas 31% da po- pulagéo total. Em 1970, atingia 52 milhées, 0 equivalente'a 56% da populagdo total. Em 1980, somava mais de 80 milhées, 68% da popu- lagho total. Na verdade, 0 crescimento da populagdo urbana no Brasil entre 197061980, de28,4 milhées, superou ‘oda populacéo total, que foi de 25,9 milhées, porquanto a populagio rural decreseeu?,6 milhdes, na década. Por outro lado, 0 crescimento da populacio urbana do pais vem ocorrendo de forma concentrada. As cidades com mais de 250 mil habitan- tes, especialmente, as duas maiores metrépoles nacionais — Rio de Ja- neiro © Sao Paulo — apresen- taram, nos wltimos anos, maior ex. panséo relativa da populacéo e das atividades produtivas. Além disso.os principais aglomerados metropo litanos — que detém metade da populagao das cidades ea maior parte das atividades industriais — esto loealizados sobretudo no litoral ou a distncias relativamente pequenas da orla maritima. Entre 1970 e 1980, 0 cerescimento da populacéo das nove rogijes metropolitanas foi respon- shvel por 41% da expansio demo- grea total do pals. E, finalmente, evidente a insu- ficiincia de transportes, comur cagio, saneamento e outros equi pamentos sociais urbanos, tanto nas regiées metropolitanas como nas capitais e cidades de médio porte do pais. © modelo de sociedade predo- minantemente urbana que se forma no Brasil, no entanto, vem exigindo esforgo vigoroso com vistas aordenar disciplinar o processo de urbani- zacho, de modo @ adequé-lo aos ob- jetivos de integracéo do desenvol vimentonacional, APOLITICA ‘URBANA. A atual politica nacional de desen- volvimento urbano esté orientada para a melhoria da qualidade da vida urbana, para a melhor distribuigso espacial da populacdo e das ativi dades produtivas e para a estrutu: ragio de sistema de cidades har- monizado com as diretrizes e prio- ridades setoriais eregionais do desen: volvimento, Para que se aleancem, gradati vamente, esses objetivos gerais, procura-se inicialmente, modificar a tendéncia para o desordenado cres- cimento de alguns aglomerados metropolitanos (Sao Paulo e Rio de Janeiro principalmente), que vem facarretando excessiva concentracao industrial, répida deterioragdo da qualidade da vida, danos a0 meioam- biente, com destruicio da natureza da paisagem urbana, ‘Nio se trata de frearo creseimento das duas grandes metrOpoles na- cionais, Trata-se de atentar mais para os aspectos qualitativos do desenvolvimento, de forma que seu erescimento seja obtido com melhoria da qualidade de vida. Trata-se de orienter o$ investimentos, coorde nadamente,demodo a induziro maior crescimento relativo das cidades de porte médio e dos niicleos urbanosin. teriorizadas, obtendo-se, assim,oque talvez se possa, com propriedade, chamar de descompressio urbana. Busea-se também corrigir os dosoquilibrios queso vorificam dentro das cidades, resultantes da auséncia ou insuficigncia da infraestrutura de servigos urbanos bésicos, como fabastecimento d’égua, transportes coletivos, habitagéo, | seneamento, seguranca piiblica, recrearaoe lazer. Vise-se, ainda, a eliminar, gra: dativamente, a pobreza que se acumula, sobretudo pelas migragdes, nas periferias urbanas, Nesse con- texto, busea-se atuar, concertada- mente, no campo ¢ nas cidades. O desenvolvimento da agricultura, elevando os niveis de produgo e de produtividade, procurando yalorizar ‘ vida rural, com énfasenos pequenos fe médios produtores, deverd con- tribuir para a reducao das migragies rural-urbanas. O esforgo de descon- centragéo urbana, o estimulo as atividades produtivas e a criagao de ‘empregos nas cidades de porte médio fe nos pequenos nticleos urbanos deverdo reduzir as migragses dessas cidades para os aglomerados me- tropolitanos. Enfase especial em freas urbanas de concentracéo de pobreza, nas regibes metropolitanas ‘como nos centros urbanos de menor porte, visa a elevagéo dos niveis, de vida das populagées de baixa renda, Essos trés aspectos da proble- mitica urbana do pais — a excessiva rapidez e concentracho do desenvolvimento urbano, @ insufi- cigneia da infra-estrutura e de ser- -urbanosea pobreza — sio esto merecendo atencio prioritéria, S40, certamente, ques- 37 tes de grande amplitude © com: plexidade. Sua solucéo exige tempo, recursos e determinacdo. Pressupde, também, atuagdo racional, coerente € ordenada, grande esforco de coor- denacéo executiva, ¢ uma clara de- finigao dos objetivos que se pretenda atingir. ‘A desaceleragio © desconcen. tragio do desenvolvimento nacional, nasua dimenséo urbana, envolvem: I — 2 énfase no desenvolvimento da agropecuaria e da melhoria da qualidade da vide rural; II — adescompressao urbana das regides metropolitanas de Sao Paulo e Rio de Janeiro, procurando-se reduzir as imigracées e conter certos investimentos produtivos, sobretudo industriais, em éreas saturadas: IIT — a expansio controlada das regides metropolitanas de Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador e Recife, com vistas a or- denar e disciplinar sua expanséo ur. bana: IV — a promogéo do desenvol- vimento da infra-estrutura urbana ¢ das atividades produtivas das ci dados deporte médio; V —0 apoio ao desenvolvimento de nicleos estratégicos aos processos de ocupacao da Amazénia, do Centro- Oeste, de importancia para o desen. 38 yolvimento rural (Nordeste, Sul- Sudeste) © com outras fungées es- peciais. A complementacdo da infra. estrutura e dos servigos urbanos en. fatiza a habitacéo, os transportes coletivos, © abastecimento d'agua, 0 saneamento, 0 meio ambiente, a seguranca publica, a recreagdo ¢ 0 lazer, considerada 0 sistema urbano nacional como um todo, mas res- Peitadas as peculisridades de cada cidade, sua dimensio e funcdo ur- bana. Nas regides metropolitanas, cabe destacar os transportes cole- tivos, a seguranea piibliea,o controle da poluigéo, a defesa da natureza, a preservacio’ da paisagem urbana, Nas cidades de porte médio, busea-se reforear a infra-estrutura urbana basica que permita o desenvalvimen- to das atividades produtivas, so- bretudo industriais. ‘A reducéo da pobreza devera resultar da prioridade conferida as froas urbanas periféricas com alta concentracio de pobreza, tantono que respeita a infra-estrutura social basica quanto com vistas geracéo de empregos e de renda e a elevacio dos niveis devida. CONCLUSAO ‘A insercdo do planejamento re- gional e urbano no planejamento do desenvolvimento nacional nao & tarefa fécil nem simples. Ainda que toda acio de desenvolvimento ocorra, necessariamente, num dado espaco, consideracio oxplicita e metodolo- gicamente operacional da dimonsio espacial na prética do planejamento enfrenta, dem lado, a tendéneia para visualizar, apenas no tempo,de forma agregada,o econdmico eo social, e,de outra parte, os complexos e auto- de execucio das politics de desen- volvimento. Essa insercio da varidvel espacial, no entanto, torna-se mais facil quan- do a preocupacéo obsessiva pelo desempenho se mesela com a con: sideraao da questio da repartigao de seus benefi B fora de divida que o Brasil ob- teve, no passado, mais éxito no en- caminhamento de solucdes para o erescimento do que para a distri- buigdo de seus resultados. Na fase atual de repoliti que passa o pais, a questo da dis- tribuicdo ganha novo e importante relevo. Com ela, emerge, no bojo dos grandes temas nacionais, com maior mal e urbana _ nada mais que dimenséesespaciais do problema da reparti¢ée social do desenvolvimento. @ Deas ma tamitiag de agricultores de uma drea de 24.000 hectares, situada na regio de Casa Nova (BA) e Petrolina (PE) serdo bene. ficiadas com a linha adutora “A” do sistema de irrigacéo do Projeto Massangano, desenvolvido pela Companhia de Desenvolvimento do Vale Massangano: a obra que a Codevasf confiou a qualidade Confab do Sao Francisco - VASF. Dois contratos que somam Cr$ 1 bilhdo, foram assinados pelo Ministro Mario Andreaz. za com a Confab Industrial S/A.: um para 0 fornecimen- to, teste de fabrica, transporte ate o local das obras, ineluindo descarga e estocagem das tubulacées que teréo de CODE Montagem de Adutora com tubos de 80°"'de didmetro 2,30m a 2.50m de didmetro; e outro para fabricacio e for- necimento na obra de pecas especiais necessarias a in verligacdo dos barriletes de recalque e succéo da Estacko de Bombeamento do Sistema de Irrigacao.Varias etapas de trabalho tiveram que ser de~ senvolvidas até a assinatura destes contratos. daCODEVASF aliamente ‘epecielizadosestudaram ‘detalhademente varias alternativas, tendo: coneluida sere tiinagho detubosdeaco mals convenientee economicamente viavel em confronto com Sutrostiposdemateiais ome plastica, concretoe Tor fundido. ‘Apés andlise (comercial) das propostas, a Confab_ Industrial S/A.,empresa privadanaciondl. ft declarada vencedorada concorrénin, Esta empresa, sediada emo Caetano do SurSPajapossuium curriculum repleto de obras, como ade Massengeno importante ao desenval mento do Pais. mineroduto daSamarco,o maior do mundo em 20 polegadas de diametro, ‘com 4} amd extenso, que ‘transporta minério de ferro geMazana (MG) a Ponta do Ubu(ES)-arededeoleodutos submnarinos da Baciade Campos e aadutora Guarau: Méoca da SABES com 250m dediimetro que bensficiou de uma tinica vez maisde3 nilhgesdepessoasem SP, sfioobres que demonsteama Sa capacidadee posi de estaquventreas empresas Trosierasdebensde eapital OMinistério do Interior. atravesda CODEVAS confiando nacapacitacis da industria privada nacional da assim continui- dade ao seuPrograma de Amplagio da Infraestrutura Go Armaaenamento eeap- topo de Recursos arco Siren do Nordeste semi ‘iid obra prortarlad melhoradas ondiedes de ‘idunaquelaregsio cao prépriodesnvolvient do Segiitncia demontagem de adutora No Baixo So Francisco, a irrigagdo com objetivo social Através de varios projetos, a Codevasf garante lote para o pequeno agricultor, permitindo producao mais ampla e diversificada = Pr rim,» tio coisa gue 0 governo federal fez foi desapropriar essas terras e dividir com a gente. A alternativa.era isso mesmo. Nao tinha ‘outro jeito. A gente trabalhavae nfo era dono de nada. Tinka aguele ne- ‘gécio de meia, que nao davacerto.No final, a meia era quatro pro dono da terra e um pra gente, porque todas a8 despesas saiam das nossas costas. O proprietario da terra ganhava mesmo a metade da producfo. Pra nos era atrapalhado: adubo, dgua, vigia de passarinho, trator, tudo era descon- tado da nossa metade. A metade dele em livre. E tinha mais: no tempo da colheita, se o arroz estivesse a mil eruzeiros, por exemplo, ole dizia: "S6 ‘compro @ 800 a sua parte”. Ea gente tinha que vender. Se vendesse « outro, ele néo deixava mais plantarna terra dele. O peso também era outro problema. Aumentava a medida e 0 peso diminuia, Um saco grande, des- ses de café, nao dava 60 quilos. Hoje, a gente pega esse saco plastico de farinha detrigo, que é menor do que o de café, e dé 60, 65, até 70 quilos cada ‘Manuel Vieira faz uma pausa,olha para o titulo de promessa de comprae venda que acaboude receber da Com- panhin de Desenvolvimento do Vale a2 do Sao Francisco — Codevasf, dan- do-lhe direito a um lote agricola no Projeto de Irrigacio do Betume, cujas terras esto sendo divididas.n. tre antigos meciros, arrendatirios ¢ posseiros que trabalhavam na fazen- da desapropriada. O papel, seguro pela mio calejada, éuma aspiraco de muitos anos. Por isto, naquele mo- mento, Manuel Vieira tem uma sen- sago de conquista, de ter chegado a um ponto importante da sua vida, passada dentro dos arrozais desde que era menino, nas varzeas enchar- cadas. Volta. falar,ponderando: — Eles, os proprietérios, tinamo sou jeito de trabalhar. Nés viviamos mesmocomo péna lama. Como, alids, vivemos até hoje, pois o arrozal obriga, Sorri do trocadilho e filosofa: — Cada um faga a sua escada da maneira queentender. Os lavradores sem terra que a Codevast instalou em lotes do Projeto Betume so os primeiras, no Baixo So Francisco, a receber o titulo de promessa de compra e venda dassuas parcelas. Este ano, 1.114 parceleiros Cero esse beneficio na regio, em frees de projetos de irrigagéo que a Codevasf esta implantando nas var- ees de Sergipee Alagoas As parcelas sero vendidas aos seus ocupantes, calculado 0 prego com base apenas no valor da terra. Ndo sero computadas as despesas com as obras de uso comum, isto ,0 sistema de proteéo contra as cheias, as redes de irrigacdo e drenagem, a8 estacdes de bombeamento, as e3- tradas internas,arededeeletrificacao da area etc. O prazo de pagamento 6 de 25 anos, com dois anos de caréncia ejuros de %ao ano. Durante todo es- se tempo, 0 prego nfo teré nenhum reajustamento. O presidente da Codevasf, Brasmo José de Almeida, afirma que o tr balho da empresa nessa regio ‘‘tem cunho eminentemente social. ¢ seu objetivo maior 6 a melhoria da qualidade de vida das populagées en. volvides. Tanto as diretamente beneficiadas pelos projetos de irri- gaco, como as que se encontram na rea deinfluéncia deles”. = As desapropriagdes realizadas no Baixo Séo Francisco, até 1974, pelaSuvaie, edaiem diante, pela sua sucessora Codevasf, foram atos con. sequentes de uma deciso do governo, que por si s6 comprovam 0 cunho social do Programa de Desenvol: vimento Integrado do Baixo Sao Francisco — acrescenta. Explicou que a construgio da barragem de Sobradinho, aose impor como necessiria para atender & demanda de energia elétrica do Nor- deste, implicava na elevacdo de nivel médio do rio So Francisco, a jusan te, Isto significava que grande parte das virzeas de Alagoas e Sergipe, tradicionalmente cultivadas com 0 plantio de arroz ria vazante, iam ficar improdutivas, com a queda de variaeao do nivel do rio, regularizado pela barragem, ‘A solugio ténicaera construir um sistema artificial de irrigagio dessas varzeas, para que elas cont inuassem produtivas. Do contrério, milharesde familias de meeiros, arrendatérios € trabalhadores rurais ficariam sem ‘eins de subsisténcia nessas varzeas. ‘= As terras, porém — esclarece Erasmo de Almeida — eram pro: priedade particular, concentradas na mio de uma minoria. Entretanto, muita gente trabalhave ali, cultivan- do pedagos infimos, & média de um tergo de hectare, A miséria era a situagio comum desses trabalha- ores. O problema, entio, secolocava assim: ou 0 governo contruia 0 sis: tema artificial de irrigacao e bene ficiava apenas os proprietarios, man- tendo a situagdo miseravel dos trabalhadores da terra; ou desa- propriava as glebas, indenizando os proprietérios, para redistribui-lasaos que nelas trabalhavam. Néo pareceu aver outra alternativa mais certa senio desapropriar eredistribuir. cS = Nécleo habitacional do Projeto de Irrigagto do Betume Bstagio de bombeamento n Irrigagio e Drenagem — A construgéo do sistema de irri gacdo e drenagem esta sendo feita Em dois projetos o trabalho esta con- ‘luido: © Projeto Proprié, com 1.177 hoctares irrigados,abrangendoterras dos municipios de Propris, Cedro de Sao Joto e Telha, em Sergipe; eo Projeto Ititiba, com 962 hectares inrigados, em Porto Real do Coléxio, Alagoas. Em implantacdo, existem os projetos seguintes: ‘Betume, com 2.805 hectares irrigados, nos mu nicipios de Nebpolis e Ilha das Flores, fem Sergipe, que ficaré pronto este ‘ano; Boacica, com 4.450 hectares, abrangendo giebas de Penedo e Igreja Nova, em Alagoas, quedeverd ter 11 hectares funcionando esteano e ores tante em 1984. Cotinguiba-Pindoba, com 2.390 hectares irrigados, tam: 2 do Projeto de Trrigagto do Betume ‘bém a serem implantados este ano, ‘nos municipios de Proprié e Nedpolis, Sergipe. ‘Alem dessas cinco éreas irrigadas, 1 Codevast pretende implantar mais duas. Uma, na varzea de Marituba, en Penedo, e outra em Brejo Grande, Sergipe. Além de uma drea de se- quero, com 2.930 hectares, proton: gando o Projeto Betume, no muni cpio de Pacatuba, ainda em Sergipe (© assentamento de parceleiros rnessas dreas & feito na medida em que ‘08 lotes vao ficando prontos para o eultivo irrigado. Até o final de 1981 estavam assentadas 271 familias de parceleiros no Projeto Propria 130 n0 Itidba e 7% no Betume. Este ano deverio estar assentados mais 51210 Betume e 932 no Cotinguiba- Pindoba. A previsio para 1989 € de mais 19 no Propria, 90 no Itidba, 282 no Betume, 264 no Cotinguiba- Pindoba e 570 no Boacica. Ap6s essa data, sero assentadas mais 275 familias no Betumee 400 no Boacica. ‘Assim, havera um total geral de3.220, families beneficiadas, sem contar os projetos Marituba e Brojo Grande, ‘ainda ndo definidos. ‘As normas de assentamento da Codevasf prevéem que os lotes dos projetos sero entregues priorita: riamente @ ex-ocupantes das areas dosapropriadas, no Baixo Sfo Fran- cisco, e que as familias serdo assis- tidas téenica, econémica e socialmen- te (Os ex-ocupantes das areas de- sapropriadas que néo se interessarem pela ocupacio do lote serio consi- Gerados desistentes do seu direito e aassinardo um termo. ‘As areas em que atualmenteestio sendo implantados projetos de ir- rigagdo tém ocupantes que, natural 43. mente, tornam-se _beneficidrios prioritérios dos lotes irrigados. Na firea do Projeto Boacica, hé 1338 familias; na do Betume, 1.104; e nado Cotinguiba-Pindoba, "692. Esses niimeros, porém, incluem maiores de 65 anos, deficientes fisicos e outras pessoas com ocupacio diversa da agricultura: Solo preparado — Dalmo de Brit- to Seixas, titular da 4° Diretoria Regional Ga Codevasf, sediada em Aracaju © com jurisdicéo em todo 0 Baixo Sao Francisco, chama a aten- ‘cdo para um detalhe importante — E preciso notar que as familias residentes nas areas desapropriadas no ficam desassistidas atualmente. Enquanto no se preparam os lotes para distribuigdo, essas familias podem continuar’ cultivando, em freas nfo atingidas pelas obras de implantagio do sistema de irrigagdoe drenagem. A Codevasf, além deceder terras em cardter provisirio para o cultivo — e, dessa forma, garantir a continuidade do processo econémico dé a ossas familias 0 solo pre parado, sementes e assisténcia téc nica — tudo gratis. E ainda possi- bilitao financiamento da producio. ‘Acreseonta o diretor da 4." DR, ‘que 05 nfo beneficiados com a cessio gratuita de terra so aproveitados nas obras e servicos de implantacgo dos projetos. = 0 Projeto de Desenvolvimento Rural Integrado do Baixo S40 Fran- ‘cisco — esclarece Dalmo Seixas — nao se limita a implantar essas areas irrigadas. E uma tarefa muito maior, assumida pela Codevasf. £ também levar energia elétrica para 0 sertio; abrir, reformar eampliar escolas; ins- talar ‘unidades basicas de saiide 44 realizar programas neste setor; abrir estradas; construir sistemas de abas- tecimento e comercializacao dos Produtos das freas irrigadas; prover ‘© melhoramento das condi¢ies de moradia, inclusive facilitando aos parceleiros dos projetos a aquisicao de casa propria. Enfim, melhorando a infraestrutura da regio, para que melhore qualidade de vida dos seus habitantes. No que se refere a ascensio eco- némica das populagdes beneficiadas

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