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A amnésia infantil esconde à maioria das pessoas (não a todas) os primeiros anos da infância,
até os 6 ou 8 anos de idade.
“As mesmas impressões que esquecemos deixam, todavia, os mais profundos traços
em nossa vida psíquica, e se tornaram determinantes para todo o nosso
desenvolvimento posterior. Não pode se tratar, então, de um verdadeiro
desaparecimento das impressões da infância, mas sim de uma amnésia semelhante à
que observamos nos neuróticos em relação a vivências posteriores, cuja essência
consiste num mero afastamento da consciência (repressão).”
“Acho que a amnésia infantil, que torna a infância do indivíduo uma espécie de tempo
pré-histórico, escondendo-lhe os primórdios de sua vida sexual, é responsável pelo
fato de geralmente não se dar valor ao período da infância no desenvolvimento da
vida sexual”.
Durante esse período de latência total ou parcial são formados os poderes psíquicos que
depois se colocarão como entraves no caminho do instinto sexual e, ao modo de represas,
estreitarão seu curso (nojo, sentimento de vergonha, ideais estéticos e morais).
Essas construções são construídas provavelmente à custa dos impulsos sexuais infantis, que
não cessaram nesse período de latência, mas cuja energia é desviada do emprego sexual e
dirigido para outros fins. Dá-se o nome de sublimação a esse processo em que as forças
instintuais sexuais das metas sexuais são desviadas para novas metas.
“Os impulsos sexuais desses anos de infância seriam, por um lado, inutilizáveis, já que
as funções reprodutivas estão adiadas; por outro lado, seriam perversos em si,
partindo de zonas erógenas e sendo carregados por instintos que, dada a orientação
do desenvolvimento individual, só poderiam provocar sensações desprazerosas.
Despertam, por isso, forças psíquicas contrárias (impulsos reativos), que, para a
supressão eficaz desse desprazer, edificam as represas psíquicas mencionadas: nojo,
vergonha e moral”.
Autoerotismo: o instinto não está dirigido para outras pessoas; ele se satisfaz no próprio
corpo. O ato da criança que chupa é determinado pela busca de um prazer, já vivido e agora
lembrado. Ela acha então satisfação sugando ritmicamente numa parte da pele ou da mucosa.
Os lábios da criança se comportam como uma zona erógena.
“Já pudemos ver, no ato de chupar ou sugar com deleite, as três características essenciais de
uma manifestação sexual infantil. Ela surge apoiando-se numa das funções vitais do corpo,
ainda não tem objeto sexual, é autoerótica, e sua meta sexual é dominada por uma zona
erógena.”
Zona erógena: é uma parte da pele ou mucosa em que estímulos de determinada espécie
provocam uma sensação de prazer de certa qualidade.
A necessidade de repetição da satisfação se revela de duas formas: por uma peculiar sensação
de tensão, que possui antes o caráter de desprazer, e por uma sensação de comichão ou
estímulo centralmente condicionada, que é projetada na zona erógena periférica.
É possível formular a meta sexual da seguinte maneira: “seria questão de substituir a sensação
de estímulo projetada, na zona erógena, pelo estímulo externo que anula a sensação de
estímulo, ao gerar a sensação de satisfação”.
As diferenças mais claras entre uma zona erógena e outra dizem respeito ao procedimento
necessário à satisfação.
Assim como a zona labial, a localização da zona anal a torna adequada para favorecer um
apoio da sexualidade em outras funções do corpo. As crianças que utilizam a excitabilidade
erógena da zona anal se revelam no fato de reter a amassa fecal até que esta, acumulando-se,
provoque fortes contrações musculares e, na passagem pelo ânus, exerça um grande estímulo
na mucosa.
Entre as zonas erógenas do corpo da criança, há uma que certamente não desempenha o
papel principal, nem pode ser a portadora dos mais antigos impulsos sexuais, mas que está
destinada a grandes coisas no futuro. As atividades sexuais dessa zona erógena, que pertence
aos órgãos sexuais propriamente ditos, são o começo da futura vida sexual “normal”.
É instrutivo dizer que a criança, sob a influência da sedução, possa se tornar polimorficamente
perversa, ser induzida a todas as extensões possíveis. Isso mostra que ela é
constitucionalmente apta para isso; a realização encontra poucas resistências, porque as
barragens psíquicas para extensões sexuais – vergonha, nojo e moral – ainda não foram
erguidas ou se acham em construção, segundo a idade da criança.
Na mesma época em que a vida sexual da criança atinge seu primeiro florescimento, dos três
aos cinco anos de idade, também começa a aparecer aquela atividade que se atribui ao
instinto de saber ou de pesquisa, que é atraído, desde cedo e intensamente, pelos problemas
sexuais.
O primeiro problema que a criança se ocupa não é a questão da diferença entre os sexos, mas
sim este enigma: de onde vêm as crianças? A existência de dois sexos é algo que a criança
apreende sem maior oposição ou reflexão. Para o menino, é natural pressupor que todas as
pessoas que conhece têm um genital como o seu.
O garoto mantém essa convicção, defende-a contra as objeções e a abandona somente após
duras lutas interiores (o complexo da castração). A menina, quando enxerga o genital
diferente do menino, dispõe-se imediatamente a reconhecê-lo e é vencida pela inveja do
pênis, que culmina no desejo de ser também um garoto.
Se crianças de tenra idade presenciam o intercurso sexual entre adultos, não podem deixar de
conceber o ato sexual como uma espécie de mau tratamento ou sujeição, isto é, num sentido
sádico.
“Até agora assinalamos, como características da vida sexual infantil, que é essencialmente
autoerótica (encontra seu objeto no próprio corpo) e que seus instintos parciais se empenham
na obtenção do prazer, em geral, sem conexão entre si e de forma independente. O resultado
do desenvolvimento é a chamada vida sexual normal do adulto, na qual a obtenção de prazer
ficou a serviço da função reprodutiva e os instintos parciais, sob o primado de uma única zona
erógena, formaram uma organização sólida para alcançar a meta sexual num objeto sexual
externo.”
Já na infância se realiza, com frequência ou com regularidade, uma escolha de objeto que
apresentamos como característica da fase de desenvolvimento da puberdade: em que todos
os empenhos sexuais se dirigem para uma só pessoa, na qual buscam atingir suas metas. Essa
é, então, a maior aproximação à forma definitiva da vida sexual após a puberdade que é
possível na época da infância. A única diferença está em que na infância a reunião dos instintos
parciais e sua subordinação, sob o primado dos genitais, ou não são obtidas ou o são muito
imperfeitamente. O estabelecimento desse primado a serviço da reprodução é, portanto, a
última fase percorrida pela organização sexual.
A escolha de objeto ocorre em dois tempos. A primeira tem início entre as idades de dois e
cinco anos e o período de latência a interrompe ou faz regredir; distingue-se pela natureza
infantil de suas metas sexuais. A segunda vem com a puberdade e determina a configuração
definitiva da vida sexual.
A excitação sexual surge a) imitando uma satisfação experimentada com outros processos
orgânicos, b) pela adequada estimulação periférica de zonas erógenas, c) como expressão de
alguns "instintos” cuja procedência ainda não nos é inteiramente compreensível, como o
instinto de olhar e o instinto de crueldade.
Outras fontes: excitações mecânicas, atividade muscular, estímulo térmico, processos afetivos,
trabalho intelectual.