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XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no


Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

MODELO PARA AVALIAÇÃO DE


RISCOS FÍSICOS EM LOCAIS DE
PRODUÇÃO: UM ESTUDO DE CASO
Cristiane Alves Anacleto (UFSC)
cristianeanacleto@yahoo.com.br
Edson Pacheco Paladini (UFSC)
paladini@floripa.com.br

O presente trabalho propõe um modelo que possibilite a avaliação dos


fatores térmicos, lumínicos e acústicos de modo a propor ações que
melhorem a condição ambiental de uma empresa. A aplicação do
modelo foi realizada em uma serralheria de uma instituição pública. O
ambiente de trabalho foi caracterizado por observação local de
trabalho e medições das variáveis ambientais temperatura, ruído e
iluminação por meio de equipamentos especiais. A temperatura nos
turnos não ultrapassou os limites recomendados pelas normas
regulamentadoras, o nível de ruído variou de 66 a 113 dB(A),
excedendo o limite de tolerância estabelecido pela NR 15 de 85 dB(A).
Em relação ao nível de iluminação, foi considerada excessiva devido à
intensa iluminação solar. Com a realização deste trabalho, conclui-se
que as condições ambientais de um local influenciam diretamente na
saúde do trabalhador, interferindo diretamente no seu desempenho e
conseqüentemente na qualidade do produto final.

Palavras-chaves: riscos físicos, saúde e desempenho do trabalhador,


local de produção
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

1. Introdução
Aspectos relacionados ao processo produtivo bem como à matéria-prima são considerados
relevantes para alcançar determinado padrão de qualidade avaliado como ideal para um
produto ou serviço. Assim, a maior parte das organizações cuida rigorosamente no controle
destes aspectos. Porém, o mesmo não ocorre em relação às condições de conforto e segurança
dos trabalhadores.
Para o alcance de um bom desempenho, as organizações não devem somente buscar o
aumento da lucratividade, mas também a interação de todas as partes envolvidas no processo
produtivo, incluindo a preocupação com as condições ambientais dos seus locais de trabalho.
O bem-estar do trabalhador dentro de uma organização é essencial para que este realize as
suas atividades com decência e com o mínimo de erros possível. Quando um trabalhador está
exposto a condições ambientais mínimas, ou até mesmo precárias, ele reduz o seu
desempenho e fica exposto a uma série de riscos de acidentes. Desta forma passou-se a ver as
condições do ambiente de trabalho como fator que pode contribuir para exposição a doenças e
a desconfortos aos trabalhadores de uma empresa.
Assim, a organização do ambiente de trabalho e o controle das variáveis que interferem
diretamente no seu equilíbrio são essenciais para manter o ritmo de produção do trabalhador,
e consequentemente, manterem o fluxo de matéria-prima e de materiais em conjunto com a
isenção de erros do produto final.
Neste contexto, este trabalho tem como objetivo propor um modelo que possibilite a avaliação
dos fatores térmicos, lumínicos e acústicos de modo a propor ações que melhorem a condição
ambiental de uma empresa. As questões que compõe a problemática da construção do modelo
são: os fatores lumínicos, acústicos e térmicos oferecem as condições propícias para a criação
de um ambiente favorável ao desenvolvimento do trabalho dos funcionários? Quais fatores
físicos interferem diretamente no desempenho dos funcionários de uma serralheria? Quais
riscos físicos devem ser priorizados nas ações corretivas?
2. Delineamento metodológico
Quanto aos objetivos, este trabalho classifica-se como exploratório, pois segundo Gil (1991) a
pesquisa exploratória proporciona uma visão geral sobre o tema em estudo, levantando
questões e hipóteses para futuros estudos e assume, em geral, as formas de pesquisas
bibliográficas e estudos de caso.
As bases lógicas à investigação científica foram proporcionadas pelo método indutivo. Esta
pesquisa tem cunho qualitativo, sendo adotado o estudo de caso como procedimento de
investigação, pois segundo Yin (2001) o estudo de caso é “uma investigação empírica que
pesquisa um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente
quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”.
Quanto à natureza esta pesquisa classifica-se com aplicada, pois segundo Silva e Menezes
(2001), gera conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de problemas
específicos. Os dados para caracterização e análise do ambiente em estudo foram coletados
em campo seguindo a metodologia de observação sistematizada, pois segundo Silva e
Menezes (2001) este tipo de coleta tem planejamento e realiza-se em condições controladas
para responder propósitos pré-estabelecidos.

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O levantamento dos dados sobre a estrutura física e arquitetônica do local foi realizado por
observação direta dos recursos formadores dos postos de trabalho (quando?? Onde??). As
medições de ruído, iluminação e temperatura seguiram as recomendações das Normas
Regulamentadoras tomadas como referência para a realização deste trabalho. Assim, foi feita
uma mensuração do ambiente bem como dos equipamentos presentes no local de estudo.
O ruído foi medido na fonte causadora, na altura do ouvido do trabalhador, utilizando um
decibilímetro digital. Os resultados foram confrontados com os parâmetros estabelecidos na
NR-15 – Atividades e Operações Insalubres. Os limites de tolerância para temperatura
também foram analisados segundo a NR-15, com medição através do equipamento Índice de
Bulbo Úmido - Termômetro de Globo – IBUTG, sendo considerado para o cálculo do índice
um ambiente interno sem carga solar.
No caso do nível de iluminação, as medições foram realizadas com um luxímetro digital, com
valores tomados no campo de trabalho onde se realizava a tarefa visual. Já a umidade relativa
do ar foi medida através de um psicômetro. As medições ocorreram em único dia em
diferentes horários, contemplando todo o turno de trabalho do local.
3. Suporte teórico
No ambiente de trabalho existem diversas oportunidades de danos à integridade ou à saúde do
trabalhador chamadas de riscos ambientais. Segundo a NR-9 do Ministério do Trabalho e
Emprego, riscos ambientais são agentes físicos, químicos e biológicos. Os agentes físicos são:
ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, bem como o
infra-som e o ultra-som. Neste estudo, os riscos físicos analisados se resumem a umidade,
iluminação, ruído e temperatura. Considerações sobre estes agentes são descritas nos tópicos a
seguir.
3.1 Aspectos sonoros
Segundo Santana (1996), a faixa de intensidade sonora percebida pelo ouvido humano vai de
próximo de zero até 130 decibéis. Um ruído é segundo Iida (1990, p.?) um “estímulo auditivo
que não contém informações úteis para a tarefa em execução”. De acordo com Strank (1971)
ruídos de alta intensidade por afetar a audição, a comunicação, a eficiência ou desempenho do
ser humano em suas atividades produtivas. A Tabela 1 apresenta os limites de tolerância para
ruído contínuo ou intermitente.
Para Iida (2003), dentro de certos limites, parece que não é propriamente o ruído, mas a
intermitência dos mesmos que provocam alterações do desempenho do trabalhador. Também
afirma que em geral, ruídos mais agudos são mentos tolerados. Um projeto acústico pode ser
utilizado para diminuir o incômodo provocado por ruídos em um local. Segundo Santiago
(2005), é realizado com o intuito de controlar ecos ou reflexões nocivas, as suas espécies de
ressonância e seu tempo de reverberação, por meio da redução da capacidade de reflexão das
paredes, com a utilização de materiais absorventes de som.

Nível de Máxima exposição Máxima exposição


Nível de ruído
ruído diária permissível diária permissível
85 8 horas 105 30 minutos
90 4 horas 110 15 minutos
95 2 horas 115 7 minutos
100 1 hora 120 3,5 minutos
Fonte: NR-15, Ministério do Trabalho e Emprego
Tabela 1 - Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente

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3.2 Conforto térmico: temperatura, umidade e ventilação


Para Iida (1990), a temperatura e a umidade ambiental influem diretamente no trabalho de
uma pessoa tanto sobre a produtividade, como sobre os riscos de acidentes, contribui também
para a saúde e bem estar dessas. Devido às diferenças metabólicas entre os indivíduos é
impossível especificar uma condição ótima de conforto térmico que satisfaça a todas as
pessoas ao tempo (SANTANA, 1996). A ventilação adequada fornece certo grau de conforto
térmico, indispensável à realização de qualquer atividade porque renova o ar (SANTANA,
1996).
Para Kazarian (1989) a umidade relativa deve estar entre 40 e 60%, já que uma umidade mais
alta ocasiona desconforto térmico, e menor pode causar ressecamento da pele e das cavidades
nasais. Segundo Iida (2003) a medida da umidade relativa do ar é substituída pela medida de
duas temperaturas, sendo uma com o bulbo seco e da outra com o bulbo molhado. Se o ar
estiver saturado, as duas medidas deverão coincidir, e quanto mais seco for o ar, maiores
deverão ser as diferenças entre essas duas temperaturas.
3.3 Iluminação e cores no ambiente de trabalho
Para Iida (1990), luzes e cores artificiais rodeiam o homem tanto no ambiente de trabalho
quanto em seu lar. Assim, o aumento da satisfação no trabalho, a produtividade, a diminuição
da fadiga e dos acidentes são influenciados por um apropriado planejamento da iluminação e
cores do ambiente de trabalho. Para se realizar um projeto de iluminação e cores de um
determinado ambiente de trabalho é imprescindível o conhecimento das principais variáveis
utilizadas em iluminação.
De acordo com Laville (1977) a dificuldade do trabalho é determinada pelas condições em
que as informações visuais são disponibilizadas a ele. Segundo Santiago (2005), deve-se aliar
métodos naturais e artificiais para se obter uma boa iluminação. Quando a iluminação natural
não é o suficiente, utiliza-se a iluminação artificial.
Uma ideal iluminação artificial oportuna, em termos de quantidade e qualidade da luz e sua
repartição no ambiente, são beneficiadas pela correta escolha de sistemas de luminárias e
lâmpadas baseadas no padrão ideal de iluminação recomendados para determinadas tarefas e
pelas características construtivas das superfícies da edificação (BARBOSA FILHO, 2001;
IIDA, 1990). Segundo Iida (1990) um dos fatores mais importantes na difusão de informações
é a sensação de cor e luz junto à forma dos objetos o que proporciona a melhora do
desempenho e do bem estar dos trabalhadores.
Para Santiago (2005) utiliza-se no teto e paredes acima da altura dos olhos, cores de alto
índice de reflexão; na parte de baixo da altura dos olhos pinta-se as paredes com cores de
índice de reflexão entre 55 e 70%; para as bases dos demais objetos, cores com poder de
reflexão entre 15 e 50%. Segue-se a tabela com os índices de reflexão das cores.
Os equipamentos de um ambiente não devem ser pintados de uma única cor. O corpo do
equipamento deve ser de cor clara como verde claro, azul claro, verde-azul claro e cinza claro.
Para evitar reflexos que prejudiquem a visão e possibilite a distração do trabalhador devem-se
usar cores foscas em vez de cores brilhantes e para reduzir acidentes, quebrar a monotonia e
aumentar a concentração do trabalhador são ideais uma combinação adequada de cores (IIDA,
1990).
4. Suporte prático
O modelo proposto para avaliação dos fatores térmicos, lumínicos e acústicos da serralheria é
composto por sete etapas que são descritas seguir:

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1ª) Caracterização da empresa: descrever o tipo de serviço, horário de funcionamento, número


de funcionários e algumas características do espaço ocupado pelas operações.
2ª) Classificação e descrição do processo produtivo: a caracterização do processo produtivo
permite o conhecimento dos equipamentos envolvidos, das atividades que os trabalhadores
devem desempenhar e qual o resultado final que deve ser esperado.
3ª) Definição dos requisito ambientais: pela normas NBR 5413/92 e NR-15 definir quais os
padrões dos fatores físicos, sonoros e lumínicos para as atividades que são realizadas na
empresa.
4ª) Análise dos fatores lumínicos: medir a iluminância de cada posto de trabalho em períodos
diferentes envolvendo todos os turnos de trabalho. Avaliar a iluminação natural e artificial do
local.
5ª) Análise dos fatores térmicos: avaliar as fechaduras horizontais e verticais. Medir a
umidade utilizando o bulbo seco e úmido nos setores que compõe o local. A temperatura dos
setores também deve ser medida em horários diferentes.
6ª) Análise dos fatores sonoros: medir o ruído emitido por cada maquinário por meio de um
decibelímetro. Identificar que fatores, além do maquinário, podem contribuir para o aumento
do ruído no local.
7ª) Proposta de soluções: propor soluções para os problemas encontrados no diagnóstico
4.1 Desdobramento do modelo
O modelo foi aplicado em uma serralheria de uma instituição pública localizada na Zona da
Mata Mineira. O que motivou a implantação do modelo nesta organização foram as
reclamações dos funcionários dos funcionários quanto às condições ambientais do local como
justificativa para o atraso das encomendas realizadas a serralheria. O desdobramento do
modelo para a situação descrita é descrito a seguir.
A) Caracterização da empresa
A serralheria realiza manutenções e produz utensílios para todos os setores da instituição
pública. O quadro de funcionários é composto por trinta e três pessoas, sendo que vinte e sete
são funcionários da própria instituição e seis pessoas são de uma empresa terceirizada. O
horário de funcionando é de sete às onze da manhã e de uma às cinco da tarde, sendo que os
funcionários têm duas horas para almoço.
O espaço ocupado pela serralheria foi construído recentemente e apresenta sistema de
suprimento de energia elétrica, de água e de esgoto, sistema de comunicação interna (telefone
e internet) e coleta de lixo regular.
B) Processo produtivo
O processo desenvolvido no local de estudo é o por encomenda, pois segundo Slack (2002)
esse tipo de processo possui alta variedade de produtos e baixo volume de demanda. Os
setores que compõem a serralheria são:
 Funilaria: nesse setor são fabricados ou reparados objetos que contenham dobras.
 Pintura: todos os objetos que devem receber como acabamento determinada cor de tinta é
direcionado a esse setor.
 Serralheria: todos os objetos que não contenham dobras são reparados ou confeccionados
nesse setor como.

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 Torno: nesse setor são realizadas atividades de confecção ou acabamento em peças de


formas cilíndricas ou quadradas.
 Depósito de matéria-prima: nesse local são armazenados todos os tipos de matéria-prima
utilizados no setor serralheria.

A solicitação de algum serviço ou produção de algum utensílio proveniente de algum órgão


da instituição desencadeia o início do processo. Quando esta solicitação chega à serralheria,
verifica-se se é fabricação ou manutenção de produtos. Se for fabricação, a matéria-prima é
solicitada e a produção só inicia quando o material chega até a serralheria. Então, verifica-se
para qual setor a ordem deve ser encaminhada para a serralheria ou funilaria. Como a
variedade de produtos é muito grande os processos citados abaixo foram determinados de uma
maneira geral.
Na serralheria basicamente ocorrem as seguintes atividades: moldagem, corte, soldagem,
montagem e acabamento. Se o produto deve ser pintado, ele é encaminhado à pintura. Na
funilaria ocorrem as seguintes atividades: moldagem, corte, dobramento e acabamento e
montagem do produto final. Caso o produto necessite ser pintado, ele é levado ao setor de
pintura para que isso ocorra. Na pintura o produto recebe a cor de tinta indicada na ordem de
serviço e recebe o acabamento final de maneira que ao final desse processo ele é encaminhado
ao órgão solicitante. Quando a ordem de serviço é reparo de produtos, a serralheria fica
responsável pela aquisição da matéria-prima e realiza as séries de atividades descritas acima.
C) Requisitos ambientais
De acordo com as normas regulamentadoras NR 5413/92 e NR-15 definiram-se os requisitos
ambientais para as atividades desempenhadas pelos funcionários no local. Estes requisitos
podem ser visualizados na Tabela 2.

Tipo de IBUTG (°C) Acústico


Atividade atividade Térmico 1 Lumínico 2 (dB) 3
Bancada - Trabalho manual em pé Leve Até 30,00 200 a 500
Máquinas - Trabalho manual em pé Leve Até 30,00 500 a 1000 100
Funilaria Suporte - Trabalho manual em pé Leve Até 30,00 200 a 500
Bancada - Trabalho manual em pé Moderado Até 26,7 200 a 500
Máquinas - Trabalho manual em
pé Moderado Até 26,7 500 a 1000 100
Montagem - Trabalho manual em
pé ou agachado Moderado Até 26,7 200 a 500
Serralheria Soldagem - Trabalho manual em pé Moderado Até 26,7 500 a 1000
Bancada - Trabalho manual em pé Leve Até 30,00 200 a 500 105
Pintura- Trabalho em pé ou
Pintura agachado Leve Até 30,00 5000 a 1000 90
Fonte: NBR 5413/92 e NR-15
Notas: 1- Dados extraídos da NR-15
2- Iluminância em lux (NBR 5413/92)
3- Níveis de exposição ao ruído (NR-15)
Tabela 2 – Requisitos ambientais da serralheria
Todos os dados obtidos nessas análises foram colhidos no dia 21 de junho quando ocorre o
solstício de inverno.
D) Análise dos fatores lumínicos
A medida da iluminância foi realizada utilizando um luxímetro digital, durante um dia de

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trabalho em quatro períodos diferentes. Os valores encontrados nos postos de trabalho variam
de acordo com cada setor e podem ser visualizados na Tabela 3.

Medições de Iluminância (Lux)


1ª 2ª 3ª 4ª
Local 8:30 h 11h30min 14 h 16h30min
Furadeira 306 210 240 140
Morsa 123 120 130 120
Frisadeira 129 120 160 140
Mesa 162 170 340 180
Viradeira 100 120 130 120
Suporte 143 160 180 170
Calanda 131 160 190 170
Calanda 105 170 350 200
Policorte 208 570 700 910
Furadeira 102 1200 1640 1820
Serra Elétrica 716 2800 4800 2200
Picotadeira 294 550 2290 1520
Morsa 342 650 400 820
Tesoura 294 1210 1000 1020
Tesoura 249 5670 110 1450
Policorte 457 480 220 370
Talha 240 2850 2100 510
Morsa 238 500 2400 290
Tesoura 417 800 290 190
Policorte 457 760 5650 380
Morsa 238 450 860 270
Esmeril 431 330 550 350
Mesa 119 240 470 310
Cano para molde 208 210 250 140
Mesa 164 480 2530 3200
Compressor 890 2000 - ** 3000
Misturador 345 820 2350 840
Furadeira 465 250 480 660
Mesa 336 3900 - ** 3500
Fonte: Autor
Notas: *Luzes do local acesas durante todas as medições
** sensor do luxímetro com insolação incidindo diretamente
***Condições do céu/sol: 1ª medição: céu sem nuvens e com sol.
2ª medição: céu com nuvens e sol, vento leve.
3ª medição: céu com nuvens e pouco sol, vento leve.
4ª medição: céu com nuvens e sol.
Tabela 3 - Medições de Ilumininância

Os valores baixos de iluminâncias são dos locais onde não existe incidência solar como no
caso de alguns postos de trabalho da funilaria e da serralheria, que se localizam na parte
posterior do local e valores bastante elevados onde existe a incidência direta dos raios solares.
Os raios solares atingem, durante todo o dia, quase todos os postos de trabalho de trabalho
que se localizam na parte frontal do local. A iluminação artificial utilizada também é um
agravante do índice de iluminância, pois existe uma longa distância vertical entre estas e os
postos de trabalho do local.

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E) Análise dos fatores térmicos


As temperaturas internas do local foram sempre menores que a temperatura externa como
mostra a tabela 3 e podem aumentar em média 5 °C durante o verão. Problemas relativos à
temperatura e umidade nesse local são causados principalmente pela inconformidade dos
materiais, tipos de revestimentos e fechamentos adotados. A partir dos dados obtidos acerca
das temperaturas calculou-se o Índice de Bulbo Úmido – Termômetro de Globo que permitiu
definir o regime de trabalho dos setores analisados. Assim, os funcionários podem realizar
suas atividades em regime de trabalho contínuo a cada hora de trabalho. As tabelas 4 e 5
mostram os valores medidos para a umidade e temperatura.

Umidade
Horário Local Temp. Bulbo Seco (°C) Temp. Bulbo úmido (°C) (%)
08:00 Funilaria 16 15 91
08:00 Serralheria 17 16 92
08:00 Pintura 18 16,5 85
11:30 Funilaria 21 18 72,5
11:30 Serralheria 23 18 66
11:30 Pintura 22,5 19 71
14:00 Funilaria 25 18 50
14:00 Serralheria 23,5 18,5 61
14:00 Pintura 23,5 19 66
16:30 Funilaria 22,5 18,5 68
16:30 Serralheria 23 18,5 67
16:30 Pintura 23,5 19,5 69,5
Fonte: Autor
Tabela 4 – Dados sobre umidade

Temp. Bulbo Temp. Bulbo


Horário Local Negro (°C) Horário Local Negro (°C)
08:00 Funilaria 14 14:00 Funilaria 20
08:00 Serralheria 15 14:00 Serralheria 22,8
08:00 Exterior 19 14:00 Exterior 29,5
11:30 Funilaria 19,5 16:30 Funilaria 20
11:30 Serralheria 22,5 16:30 Serralheria 23,5
11:30 Exterior 26 16:30 Exterior 24
Fonte: Autor
Tabela 5 – Dados sobre temperatura

F) Análise dos fatores sonoros


O ambiente em estudo é considerado extremamente ruidoso e segundo os funcionários este é
o pior aspecto quanto às condições de conforto térmico. Os dados obtidos sobre os níveis de
ruído emitidos pelas máquinas e outras condições podem ser vistos nas tabelas 6 e 7.
As principais causas para o alto índice de ruído do local são: o maquinário utilizado, o tipo de
telha utilizada que provoca altos níveis de ruído quando ocorrem chuvas, a grande extensão
do galpão e o pé-direito que é muito grande e o revestimento interno das superfícies que são
de materiais pouco absorventes de som. De acordo com a tabela 4, as máquinas hachuradas
(em cinza) emitem ruídos acima do permitido diariamente, considerando que os funcionários

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ficam expostos ao ruído emitidos por estas máquinas em média entre 50 minutos e 1 hora por
dia.
Máquina1 Voltagem (volts) Ruído (dB)2
Furadeira 110 80
Furadeira 220 66
Serra Elétrica 110 100
Lixadeira 110 104
Policorte ( próxima ao Torno) 220 105
Policorte (próxima ao depósito de matéria-prima) 220 112
Policorte ( próxima a entrada) 220 113
Esmeril ( próximo ao depósito de matéria-prima) 110 112
Esmeril de Escova 110 75
Compressor, a 50 cm 220 98
Fonte: Autor
Notas: 1- Tempo típico de exposição por tarefa é por volta de 5 minutos
2- Dados coletados a cada 15 segundos na posição “max hold” à distância de 20 cm do ouvido
do operador da máquina.
Tabela 6 – Nível de ruído emitido pelas máquinas

Local Condição Ruído(dB)


Pintura 2 exaustores ligados, a 2 metros 88
Funilaria 1 exaustor ligado, a 3 metros 86
Pintura Compressor, a 4 metros 82
Fonte: Autor
Tabela 7 – Nível de ruído em condições típicas

G) Propostas de soluções
As paredes da fachada principal e as telhas que existem no local devem ser pintadas externa e
internamente com cores claras para aumentar a reflexão lumínica nos ambientes. As
luminárias existentes devem ter a sua altura diminuída, se possível, para 2,5 m, pois a altura
atual a que estão colocadas prejudica a distribuição da luz. As telhas que estão colocadas na
vertical na fachada principal devem ser substituídas por telhas translúcidas.
Uma coifa deve ser colocada na seção de pintura de modo a evitar que substâncias sólidas
provenientes da tinta fiquem em suspensão no ambiente. Para colocá-la, deve-se restringir e
delimitar a área para pintura. Quatro ventiladores eólicos para uma vazão total de 15000m3 na
serralheria e na funilaria e dois ventiladores eólicos para uma vazão total de 2200m3 na
pintura.
Devido às dimensões, à geometria, ao volume e às características acústicas das superfícies dos
materiais de construção desse local de trabalho, faz-se necessário melhorar o seu
condicionamento acústico, para mitigar a reverberação. Uma forma de controlar esse efeito
consistiria na instalação de barreiras acústicas absorventes para auxiliar tanto na absorção
quanto no controle da propagação do ruído. Outra medida para solucionar o problema com
altos níveis de ruídos seria a utilização de biombos em torno das máquinas de forma que estes
possam absorver os ruídos por eles gerados.
Nas visitas ao local constatou-se durante todos os processos realizados grande ociosidade dos
funcionários e muitas ordens de serviço atrasadas. Para minimizar esses problemas, propõe-

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se avaliar periodicamente a gestão desse setor de trabalho e o estabelecimento de índices de


produtividade para os funcionários.
Também se constatou que os funcionários não têm o hábito de usar equipamentos de proteção
individual (EPI). Para isso há recomenda-se um estudo para verificar os reais motivos de não
usá-los, sendo essencial a mudança de cultura dos funcionários de forma que entendam a
importância do uso de EPIs e passem a utilizá-los.
5 Considerações finais
Este estudo permitiu uma maior compreensão sobre os impactos dos aspectos sonoros,
lumínicos e térmicos no desempenho dos funcionários. A partir da aplicação do modelo foi
possível constatar que as condições ambientais alinhadas aos aspectos considerados neste
estudo influenciam diretamente na saúde do trabalhador e no seu desempenho,
principalmente, pelo ruído em excesso e iluminação deficiente. Assim, o risco acústico deve
ser o priorizado no processo de implantação das melhorias. Portanto, a organização e o
conforto ambiental influenciam diretamente na produtividade dos funcionários.
O objetivo proposto foi atingido já que os fatores térmicos, lumínicos e acústicos podem ser
identificados pelo modelo proposto que tem efeito multiplicador, ou seja, pode ser utilizado
para realizar o diagnóstico das condições ambientais em outras empresas. Reforça-se a
necessidade de criação de normas e/ou procedimentos a serem adotados na estruturação
serralherias, visando a eliminação de riscos aos trabalhadores deste setor.
Como sugestão para trabalhos futuros recomenda-se a aplicação do modelo em outras
serralherias para comparar o diagnóstico entre elas e propor uma estrutura que normatizar as
condições ambientais neste tipo de empreendimento.
Referências Bibliográficas
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