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1. Introdução
Iremos, nesta primeira aula, estudar a forma, ou melhor,
as várias formas pelas quais se fixam os preços das mercado
rias e, depois, as teorias que explicam por que certas merca
dorias são mais caras do que outras. Estas são as chamadas
“ teorias do valor” , que poderão ser melhor entendidas quan
do vocês já tiv >rem algum conhecimento dos mecanismos de
formação de preço.
Antes de mais nada é preciso deixar claro que todo o
nosso estudo se refere a “ economias de mercado” , ou seja, a
economias (como a brasileira) em que a maior parte da pro
dução é dividida em unidades especializadas — fábricas,
fazendas, usinas hidrelétricas, lojas, companhias de trans
porte etc. — que vendem o que produzem sob a forma de
mercadorias. Uma mercadoria é, portanto, um produto que
não se destina ao consumo do próprio produtor mas à venda.
Jabuticabas colhidas no quintal para serem comidas pela
família proprietária do pé e, eventualmente, para serem dadas
aos vizinhos não são mercadorias, mas as mesmas frutas,
quando levadas à feira para serem vendidas, sim, o são.
Outra característica essencial de uma economia de mer
cado é que cada unidade de produção, cada empresa tem
liberdade para decidir o que vai produzir, quanto vai fazer de
cada bem ou serviço e quanto vai cobrar por eles. Ao mesmo
tempo os consumidores têm liberdade para decidir quanto
desejam comprar de cada mercadoria. Quando o governo fixa
os preços ou estabelece quotas de produção ou de consumo
(racionamento), as regras básicas de funcionamento da eco-
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3. Tipos de mercadorias
Essas são as regras mais gerais do funcionamento dos
mercados numa economia de mercado. Para a gente entender
como é que funciona a formação de preços, é preciso distin
guir dois tipos de mercadorias diferentes. Um tipo é o que a
gente chamaria de mercadorias elásticas aos preços, ou de
produção elástica aó preço, que significa, em última análise,
que são mercadorias cuja produção pode ser aumentada na
medida em que o consumo cresce. Esse tipo de mercadoria é
em geral constituído por produtos industriais e serviços. Por
exemplo, automóveis. Se o consumo de automóveis cresce 5
ou 10% ao ano, a indústria automobilística em geral tem
possibilidade de expandir a sua produção em 5 ou 10%. A
maior parte dos produtos industriais é dessa natureza, ou
seja, sua produção pode aumentar ou diminuir conforme a
procura. Os serviços, em geral, também têm essa flexibili
dade. Trata-se de serviços pessoais, como os prestados em
hotéis, restaurantes, hospitais, cinemas etc. Todos eles, que
são vendidos como mercadorias, têm essa elasticidade de se
ajustar a flutuações da procura.
Existe um outro tipo de mercadorias que são inelásticas,
de produção inelástica aos preços. Isto quer dizer que, a cada
momento, a sua quantidade é dada e não pode ser facilmente
alterada. Esse tipo de produto é basicamente o produto agrí
cola. O produto agrícola depende da colheita, que costuma
acontecer uma vez por ano, e seu tamanho depende, em
grande medida, das condições de tempo. A quantidade de
soja que vamos ter em 1980, por exemplo, depende, de um
14 DOS PREÇO S AO VALOR
6. Os preços políticos
Acontece algumas vezes — e isso é exceção — que a
formação do preço seja inteiramente política, isto é, que
dependa das relações de força entre os Estados compradores
e os Estados vendedores. É o caso do petróleo. Supor que o
preço do petróleo, hoje, reflita os custos de produção não
tem nenhum sentido. Os custos de produção de petróleo são
os mais diferentes possíveis: o petróleo custa muito pouco
nos campos mais antigos em terra, no Oriente Médio, nos
Estados Unidos ou na Venezuela, e tem um custo extrema
mente elevado quando é explorado no mar, como já começa
a acontecer no Brasil, no mar do Norte (na Europa) e em
outros lugares. Então, o preço realmente tem muito pouco a
ver com o custo de produção. Ele depende de decisões poli-
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18 DOS PREÇOS AO VALOR
10. O vaíor
Vamos agora discutir o valor. De que maneira os conhe
cimentos gerais de como se formam os preços são interpre
tados por diferentes escolas de pensamento econômico que se
fundamentam em diferentes teorias do valor? Primeiro, exa
minemos o que a gente entende por valor. Valor é, no fundo,
o preço relativo. O preço que estamos acostumados a encon
trar é o preço cotado numa moeda — em cruzeiros, em dóla
res, em libras. A moeda é uma unidade de medida dos preços,
cujas peculiaridades vamos examinar mais tarde. O valor é o
preço de cada produto em relação aos outros. Se, por exem
plo, um automóvel custa 150 mil cruzeiros e se uma caneta
Bic custa 5 cruzeiros, eu posso dizer que um automóvel vale
30 mil canetas. Posso exprimir o valor do automóvel em cane
tas esferográficas, em sanduíches, em diárias de hotéis ou em
qualquer outra mercadoria. O que a teoria do valor pretende
fazer é explicar, em última análise, por que o automóvel custa
o equivalente a 30 mil canetas esferográficas, e não a 20 mil, a
5 mil ou a 200 mil.
A teoria do valor pretende dar um princípio explicativo
geral dos preços relativos das mercadorias e isso é fundamen
tal para a economia, porque os salários são preços, os juros
são preços, as rendas em geral tomam a forma de preços.
Assim, através da teoria do valor pretende-se explicar a distri
buição da renda, por que determinadas economias acumulam
capital e se industrializam e outras economias, pelo contrá
rio, estagnam e decaem etc. Enfim, o conjunto dos fenôme
nos que em geral interessa à análise econômica tem um princí
pio explicativo geral através das teorias do valor. Vamos
enunciar as teorias do valor a partir dos preços, a partir da
idéia de que o valor é algo subjacente aos preços. Sabendo-se
os preços das mercadorias, sabe-se o valor delas também, na
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Gráfico 1
Gráfico 2
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