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brasileiro, ele tem grande dificuldade de se afirmar, por não conseguir conter esses
grandes proprietários de terra.
Nos últimos 15 anos tratar da ideia de se produzir apenas bens primários. Começa com a
colonização portuguesa. É o modelo monoagroexportador, desde a colonização
adotado no Brasil.
Nossa economia desde sempre foi exportar gêneros com baixo valor agregado em razão
da não industrialização. Estamos nessa posição no capitalismo mundial desde 1532.
A legislação florestal antes do Código Florestal impunha algumas barreiras para esse
desenvolvimento desenfreado do setor agropecuário. O Código (2012) foi um primeiro
passo para retirar essas barreiras. Inclusive, no bojo da reforma trabalhista, existe uma
reforma trabalhista rural.
Do ponto de vista de uma moldura jurídica, o direito agrário aparece positivado (com
essa nomenclatura) na nossa legislação numa emenda constitucional à CF de 1946 (EC
10/1964). Mas a ideia de direito agrário, as noções que inspiram o direito agrário, eles
aparecem muito antes, desde a legislação medieval portuguesa que é adotada no Brasil.
Até a CF 46 havia dois tipos de desapropriação positivadas, através do Decreto Lei
3365/41: a desapropriação por utilidade pública e a desapropriação por
necessidade pública. Isso ocorreu na gestão Vargas, que era desenvolvimentista, pois
as apostas macroeconômicas estavam voltadas para dinamizar iniciativa privada a partir
de investimentos públicos. Investia-se em infraestrutura básica: portos, ferrovias,
aeroportos, hidrelétricas, etc. Então, esse decreto visava garantir poder ao Estado para
intervir na propriedade privada para poder instalar esses equipamentos públicos e
manter o desenvolvimentismo.
Apesar da positivação, até 64 não há nenhuma medida efetiva do ponto de vista estatal
no sentido de dar concretude a essa ideia de desapropriação por interesse social, salvo
uma lei na gestão de João Goulart em 63 em que ele prevê alguns elementos deste tipo
de desapropriação. Essa lei inclusive foi decisiva para o golpe de 64.
A EC 10/64 trata do conteúdo dessa desapropriação por interesse social, já após o golpe,
trazendo expressamente: “É competência exclusiva da União legislar sobre direito
agrário”. Isso ocorreu pois em 1959, o Governo de Pernambuco promoveu a primeira
desapropriação por interesse social do brasil.
Até hoje, na CF 88, é competência exclusiva da União legislar sobre direito agrário.
Cabe ressaltar que os Estados também legislam sobre direito agrário. A CF se refere à
direito agrário para se limitar a competência legislativa em relação à desapropriação por
interesse social. O uso e ocupação de terras públicas estaduais, por exemplo, é legislado
em âmbito estadual, e por vezes ainda em âmbito municipal, quando se trata de terras
municipais.
Em 2014, o TJ-BA assumiu, via Instrução Normativa (nº 2/2014) a função que o artigo
126 lhe atribuiu ainda em 2004, criando finalmente as varas especializadas. O TJ define
que serão criadas 6 (seis) varas, que terão competência territorial semelhante à da
Justiça Federal (em regiões e seções judiciárias). Até agora, só 1 funciona, que é a vara
de Barreiras.
O índice de GINI, que mede a concentração fundiária no Brasil, era em 1920, em uma
escala de 0 a 1, 0,8. Em 2006, data do ultimo levantamento, era também de 0,8. Nota-se
manutenção da alta concentração fundiária no Brasil ao longo das décadas/séculos.
É esse instituto jurídico que será importado para o Brasil pela empresa colonial. Antes
desse instituto aparecer na legislação, ele teve uma origem fora do âmbito estatal.
Surgiu pelos costumes. Os próprios camponeses da Idade Média pensaram nesse
costume, com vista a permitir acesso e distribuição da terra. Atrela-se ao conceito de
“communalia”.
Segundo esse ultimo conceito, as terras de lavrar serão partilhadas entre a comuna. Essa
terra será necessariamente compartilhada com todos os membros daquela coletividade.
Cada um dos membros do grupo terá acesso a uma fração da terra, chamada de sexmo.
Sobre esse sexmo incide a obrigação de lavrar.
As terras comunais, que são essas que seguem a lógica da communalia, continuam
existindo em alguns locais, como nas terras tradicionalmente ocupadas por quilombolas,
índios, entre outras comunidades tradicionais. Também subsiste na Europa. O CC/16
tratava das terras comunais, que era o instituto do compáscuo, mas o de 2002 se calou.
Há tratamento em Convenções, leis extravagantes e na própria CF.
Em 1348 em Portugal, ocorre a Grande Peste. Com a queda demográfica, ocorre queda
também no abastecimento, já que eram os atingidos pela praga que produziam os
gêneros alimentícios.
Em 1375, o Rei de Portugal, Dom Fernando I, edita o que ficou conhecido como Lei
de Sesmarias. Isso ocorreu, para muitos, por conta dos efeitos da Grande Peste. Dom
Fernando teria incorporado esse costume numa norma jurídica para que todos aqueles
que se assenhorassem de determinado terreno/imóvel tivessem a obrigação de lavrar.
A Coroa Portuguesa, ao definir essa positivação do uso da terra, também define valor
pelo uso da terra, que seria então de 1/10 (dízimo). A razão social da Coroa Portuguesa
era “mestrado de cristo”, justamente para trazer uma fundamentação divina à atuação
do monarca. Assim, justificava-se (religiosamente) o pagamento do dízimo sobre o uso
da terra.
No Código Justiniano havia o instituto do usucapio pro agro deserto. Segundo este, se o
titular do imóvel não executasse as obrigações decorrentes da titularidade daquele bem
em 2 anos, ele perderia o bem. É o que se chama hoje de prescrição aquisitiva.
Outra função do sesmeiro era de (2) defesa, devendo edificar fortificações em seu
território visando evitar invasões de outros europeus.
Mas a principal obrigação dos sesmeiros era (3) utilizar mão de obra de escravizados
(as) de varias etnias diferentes provenientes do continente africano. Era fundamental
para o funcionamento da empresa mercantil e do capitalismo mercantil como um todo.
o (4) dízimo. No século 18, esse dizimo sofre transformação, por conta de nova
legislação portuguesa.
Desde essa legislação colonial, dessas concessões de sesmarias, aquelas terras onde se
encontrasse presença originária indígena, seriam considerados não suscetíveis de ser
concedidas em sesmarias. Eram os chamados indigenatos. Isso, como se sabe, não
ocorreu bem dessa forma. A determinação de indigenatos foram muito descumpridas.
Entre 1822 e 1850 vingou o chamado regime das posses. Aqui, não se concede mais
sesmaria, e em seu lugar não temos mais nada. O Estado se isenta de ditar como será a
ocupação das terras brasileiros.
Se mantem a denominação de “terras tributárias da coroa portuguesa”. Temos como
regulamentação apenas a Constituição Imperial Portuguesa de 1824, influenciada pela
legislação europeia marcada pelas revoluções liberais da época. O chamado espírito
proprietário, oriundo do pensamento de John Locke, segundo o qual o homem já nasce
proprietário do próprio corpo, e por isso devia ter acesso a outras propriedades.
Essa ocupação primária vai gerar direitos. Mas esse direito não é gerado como no
direito romano, quando bastava ver a terra inocupada e toma-la para si. Ou seja, não
bastava o animus domini. Aqui, esse ânimo de se apossar, de ter a terra para si, deve
estar associado ao cultivo da terra. A posse-trabalho tem supremacia em relação ao
direito de propriedade, situação que continua no direito agrário até hoje. Consequência
disso é que, se o ocupante primário que cultiva for prejudicado por uma concessão a
sesmeiro, a posse de ocupante (também chamado de posseiro ou possuidor) prevalecerá
sobre a do sesmeiro. Ocorre a chamada legitimação da posse, positivada apenas em
1850.
Essa forma foi fracassada, pois ele não conseguiu ser competitivo adotando esse
modelo. O que aconteceu depois foi o custeio, pelo Estado, da imigração de europeus
para o país. E a solução para custear essa imigração foi a venda de terras públicas,
originada com a Lei nº 601/1850, a Lei de Terras. É o ano também, não por acaso, da
lei que extinguiu o tráfico negreiro (Lei Eusébio de Queiroz) e do Código Comercial.
Havia forte pressão internacional oriunda da Inglaterra para o fim do escravismo, como
visto. No Brasil, por tudo isso, os cafeicultores, em especial do sul e sudeste, vão
tentando encontrar alternativas para enfrentar essa pressão internacional. Há iniciativas
tomadas por particulares, como a do Senador Vergueiro, já trazida acima. O preço do
escravizado subia com o fim do tráfico, e os cafeicultores tinham que importar
trabalhadores europeus. A ideia também era embranquecer a população.
Na Europa isso também produz repercussões, já que esses trabalhadores que aqui
chegavam muitas vezes eram submetidos a condições de trabalho degradantes. Há
vários registros de governos europeus pedindo informações e ameaçando aplicar
sanções ao Estado Brasileiro por conta da insalubridade a que os trabalhadores europeus
eram submetidos.
Tudo isso contribuiu para a edificação da Lei de Terras de 1850. O primeiro projeto de
lei que trata dessa matéria foi aquela elaboração da Câmara de Comercio Exterior do
Império. É proposto na primeira Casa Legislativa, mas fica engavetado por vários anos.
Com a proibição do tráfico negreiro pela Inglaterra através da Bill Aberdeen, o projeto
ganha força e começa a tramitar de novo no Senado, para resolver o problema. Já havia
a péssima experiência do Senador Vergueiro, que gerou prejuízo para seus negócios.
O primeiro artigo do texto da Lei diz que “ficam proibidas as aquisições de terras
devolutas que não seja a titulo de compra”. Ou seja, até 1822 as terras eram concedidas
em sesmaria. Agora, elas só serão obtidas por meio de compra, assim como prevê a tese
wakefieldiana do preço suficiente. Logo, ficaram excluídos da propriedade da terra os
escravizados e os imigrantes pobres da Europa. Aqui temos mais um passo para garantir
a concentração fundiária. A própria lei de terras impede, mesmo que o imigrante
europeu consiga reunir dinheiro suficiente para tanto, que ele compre terras nos 3 anos
imediatamente subsequentes à sua chegada no país. Ele é obrigado a participar da
lavoura nesse período inicial.
A Lei de Terras repete o que já aparecia nas Cartas Régias. O governo deve garantir
terras devolutas para garantir a presença do indigenato. O governo organizará ainda, por
freguesias (hoje chamadas de “bairros”) o registro de propriedades.
Depois da Lei de Terras, tivemos outro diploma legislativo importante, que foi a Lei nº
1237 de 1864. Ela instituiu o primeiro registro geral imobiliário e de hipotecas do
Brasil. A lei de terras já tinha instituído o registro paroquial (as propriedades deveriam
ser comunicadas ao pároco). Mas esse registro não tinha fins imobiliários, mas
meramente fins cadastrais. Foi somente com esse registro de 1864 que se adotou o
registro com o fito de garantir a segurança das operações de crédito, a dar transparência.
É o Estado que passa a se responsabilizar por esse registro. As hipotecas também eram
registradas, de modo a inibir as hipotecas ocultas.
Contudo, já estávamos no fim do século 19, e algumas ideia já abalavam essa ideia de
do direito de propriedade absoluto. No plano religioso, alguns papas escreveram as
chamadas encíclicas papais asseverando que direito de propriedade deveria ser
concebido considerando também o bem comum, da coletividade. Começa a aparecer a
doutrina social da Igreja Católica. Exemplo clássico foi a encíclica chamada “Rerum
Novarum”, de 1893. Advém da chamada teologia da libertação, ramo filosófico da
Igreja.
No inicio do século XX, o cientista político e sociólogo francês Leon Duguit cria a
ideia de função social da propriedade, o que também contribui para o
enfraquecimento da ideia de direito de propriedade absoluto.
Tudo isso contribui para o novo texto da Constituição Federal de 1934. A CF dispunha
que “é garantido o direito de propriedade, que não poderá ser exercido sem observar ou
contra o interesse social ou coletivo”. Assim, não se trata mais de direito absoluto.
Porém, não há instrumentos jurídicos de operacionalização dessa mudança radical
em relação ao texto de 1891. Um instrumento jurídico só aparece nos anos de 1960, a
desapropriação por interesse social.
Esse regime de intervenção da propriedade vai começar a ser bem definido após a CF.
Nesse sentido, o Decreto-Lei nº 3365/41 institui a desapropriação nos casos de
utilidade pública e por necessidade pública.
O Estatuto da Terra foi editado apenas alguns meses após o golpe militar. Por exemplo,
a “fruit company”, atual Kibon, tinha e tem diversos imóveis rurais na América Latina,
e estava preocupada com o acontecimento (Revolução) de Cuba em 1959, uma vez que
ocorreu a estatização dos seus imóveis. Ela, então, financiou a ditadura militar, para
garantir a manutenção de sua propriedade.
Num contexto maior, criou-se uma aliança chamada de aliança para o progresso, que
se deu entre os EUA, corporações transnacionalizadas (como a Fruit Co.) e setores
políticos da América Latina para evitar novas revoluções socialistas na região. Nesse
contexto, o presidente do Chile foi assassinado e João Goulart renunciou.
A ideia era então esmaecer a possiblidade de reforma agrária naqueles termos propostos
pelas Ligas Camponesas, que envolvia a extinção dos latifúndios e a redistribuição
direta da terra, cominadas com políticas públicas para melhorar as condições de vida
dos camponeses. Os setores patronais rurais acharam que se poderia resolver o
problema com a modernização do latifúndio arcaico, atrasado, até então
predominante. Assim, não seria necessário extinguir o latifúndio, mas apenas
modernizá-lo.
A reforma agrária do Estatuto da Terra tem caráter residual, pois ocorreu apenas em
alguns imóveis, que estavam “em zonas críticas de tensão e conflito social”. Se deu
ainda de imóvel por imóvel, ou seja, o Estado tinha que observar qual imóvel está em
condições de ser desapropriado. É ainda reforma agrária onerosa, pois deve haver justa
indenização.
O latifúndio arcaico terá então que se transformar na chamada empresa rural, adotando
as ideia da revolução verde.
Como se vê, o Estatuto da Terra, ao invés de contribuir para a melhor distribuição das
terras, ajudou apenas a aumentar a concentração fundiária no Brasil.
1
O texto dos anos 60 tratando do tema foi o “Plano Nacional de Desenvolvimento dos Defensivos
agrícolas”. Nos anos 80, temos a “Lei de Agrotóxicos”.
A Constituição de 1934 traz que “será respeitada a posse de terra de silvícolas”.
Prevê então o modelo tutelar, que determina que os índios não são proprietários, mas
apenas possuidores de forma permanente da terras que ocupam. Na CF atual esse
instituto da posse das terras indígenas não desaparece, apenas adiciona-se o adjetivo
“permanente” a posse. Assim, do ponto de vista jurídico, as terras indígenas são bens
públicos da União.
A União, quando demarca a terra indígena, não pode anular essa demarcação.
Essa é a ideia da posse permanente.
O modelo da CF atual traz outra ideia, mais ampla, que é o da terra tradicionalmente
ocupada, englobando não apenas as terras em que se encontram indígenas vivendo.
Existem locais que eram de indígenas, mas estes foram expulsos. Esses locais também
podem ser considerados tradicionalmente ocupados.
Esse modelo difere do modelo do Estatuto da Terra, pois não interessa se no terreno há
algo funcionando. Se houver interesse público na desapropriação, desapropria-se. No
Estatuto da Terra primeiro avaliava-se o terreno para ver se estava cumprindo função
social, para só depois, se não estivesse, desapropriá-lo.
No Estatuto da Terra temos ainda a definição do que se entende por função social da
propriedade da terra. A função social acontece quando a propriedade (1) favorece o
bem estar dos proprietários e dos trabalhadores (entenda-se como da coletividade, e
não só dos trabalhadores do estabelecimento), (2) com níveis satisfatórios de
produtividade (uso adequado e racional, no texto constitucional atual), que (3)
assegura a conservação dos recursos naturais (respeito ao meio ambiente e
atendimento da legislação ambiental, na CF/88. A nova CF traz a ideia não só de função
social, mas função socioambiental) e (4) respeita a legislação trabalhista.
Os imóveis serão classificados pelo Estatuto da Terra em: (a) minifúndios, que são
aqueles que não atendem as condições de manutenção de uma família. Assim,
nacionalmente se instituem padrões para saber qual será a fração mínima de
parcelamento de terra que garante o sustento de uma família. Essa fração mínima é a
propriedade familiar. Os minifúndios, para o estatuto, deveriam ser banidos,
desapropriados, para que no processo de remembramento se tornem ao menos
propriedades familiares; (b) propriedade familiar, que corresponde a 1 (um) modulo
rural. Esses módulos são definidos regionalmente e municipalmente através do INRA,
considerando condições ambientais, solo, clima, etc; (c) latifúndios, que podem ser por
extensão ou por exploração. Por extensão é aquele imóvel que excede em 600 vezes a
média dos imóveis rurais da região em que se localiza, devendo o INRA localizar esses
imóveis, independemente de haver produção em todo o terreno. Por exploração é o
latifúndio que, independemente da extensão (só não pode ser 1 modulo, porque ai vai
ser propriedade familiar), não atinge níveis satisfatórios de produtividade, está sendo
explorado em desconformidade com a legislação ambiental e trabalhista, etc. O
latifúndio, assim como o minifúndio, também deve ser banido por interesse social ; e
(d) empresas rurais, que são aqueles imóveis explorados tanto por pessoa jurídica
como por pessoa física, sendo explorado racionalmente e garantindo níveis de
produtividade. A ideia da modernização era, portanto, transformar os latifúndios
arcaicos em empresas rurais. Por isso não se atinge o problema central, que é a
concentração fundiária.
Se pensamos numa ótica civilística a posse está fundamentada numa teoria clássica da
posse, qual seja, a teoria objetiva da posse. Para Ihering, formulador original dessa
teoria, a posse decorria do direito de propriedade. Posse e propriedade não eram
autônomos entre sim, sendo a posse exteriorização da propriedade. Já Savigny,
formulador da teoria subjetiva entendia que a posse decorria de 2 elementos: animus
domini (intenção de ser dono) e corpus (a relação de fato do dono com o objeto). Essa
teoria é subjetiva porque depende da intenção. 2
No âmbito agrarístico, por sua vez, o elemento de distinção que caracteriza a posse é o
trabalho. A posse toma concretude não mais da mera transcrição do cartório de registro
de imóveis, mas numa relação fática com muito mais concretude, que é a ideia de
trabalho. Alguns autores trazem a distinção dizendo que na posse agrária há
efetividade, pois se verifica se há existência de atividade agrária e quem a exerce, sendo
ela que determina a posse agrária. Por atividade agrária se entende tudo que for
2
A Teoria Subjetiva (de Savigny ) entende que a posse se configura quando houver a apreensão física
da coisa ( corpus ), mais a vontade de tê-la como própria ( animus domini ). Segunda teoria, por sua
vez, a Teoria Objetiva (de Ihering ), indica que a posse se configura com a mera conduta de dono,
pouco importando a apreensão física da coisa e a vontade de ser dono da mesma. Basta ter a coisa
consigo, mesmo sem ter a intenção de possuí-la. Exemplo: comodato.
Nosso Código Civil adotou a Teoria Objetiva de Ihering , pois não trouxe como requisito para a
configuração da posse a apreensão física da coisa ou a vontade de ser dono dela. Exige-se tão somente
a conduta de proprietário.
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum
dos poderes inerentes à propriedade.
desempenhado no terreno com continuidade, como a agricultura, pecuária, extrativismo,
artesanato, etc.
Importante notar que não se pode falar de posse agrária para os empregados, pois o
vínculo empregatício impossibilita isso. No caso de arrendamento, apesar de não ter
vinculo empregatício, também não pode constituir-se posse agrária.
3
O Código Florestal define a área não aproveitável de um terreno como Reserva Legal, cuja percentagem
varia de acordo com o bioma (Amazonia-80%; Cerrado- 35%; Restante do Brasil-20%)
5. TERRAS DE USO COMUM (POSSE E RECONHECIMENTO DE TERRAS
INDIGENAS, QUILOMBOS E FUNDOS E FECHOS DE PASTO)
Quanto à posse, o vinculo entre o bem (terra ou outro bem ambiental) e o sujeito não é
mais a partir de um individuo, mas a partir de uma comunidade, de uma coletividade,
que mantem um vínculo de pertencimento com a terra ou outro bem, e o que vai
fundamentar esse vinculo é o aspecto cultural. A posse sobre a terra de uso comum,
chamada de posse tradicional (também chamada de posse imemorial, étnica) depende
desse aspecto cultural, da cultura.
TRADIÇÃO VIVA
CULTURA (P/
Roberto da
Matta)
CONSCIENTEMENTE
Quando a CF faz referencia a essas terras de uso comum, é no capítulo que se refere aos
ELABORADA
A principal critica dos grupos indígenas em relação aos textos constitucionais anteriores
era a perspectiva assimilacionista que existia neles. Segundo essa perspectiva,
deveriam ser reconhecidos direitos aos indivíduos na medida em que eles abdicassem de
sua diversidade, de sua tradição.
Mas como definir o grupo? Quem é índio, não índio, tribal ou não tribal? A Convenção
nº 169 traz a ideia de auto identificação para definir isso. Não se trata hétero-
identificação, não é um terceiro que identifica, mas o próprio individuo e sua
coletividade que vão se identificar como pertencente a um determinado grupo.
AULA 14 – 11/07/2017
A ideia aqui é abarcar não apenas o aspecto econômico da posse da terra, mas também o
aspecto religioso, cultural, etc. Ex. Um cemitério de indígenas deve ser protegido, pois
envolve tradição religiosa, devendo ser considerado também como terra
tradicionalmente ocupada. Todos os lugares onde ocorre reprodução física, material,
imaterial, cultural, econômica, religiosa, esportiva e educacional do grupo étnico devem
ser abarcados pela ideia de terra tradicionalmente ocupada.
O STF sempre interpretou dessa forma, mas a 2º turma do STF, a partir do que se
infere de seus julgados (e em especial após o julgamento do caso Fazenda Raposa Serra
do Sol), quer romper com essa noção diacrônica de terra tradicionalmente ocupada,
mantendo a ideia sincrônica tão somente de “terra ocupada”.
A Convenção nº 169 da OIT traz a noção de território, mas traz outras ideias muito
importantes. Diz que as normas se aplicam aos povos “indígenas e tribais”. Aqui no
Brasil, essa ideia de tribal está vinculada aos povos tradicionais. Ex. quilombolas,
fundos e fechos de pasto, ciganos, seringueiros do acre, pescadores artesanais: a todos
4
A luta de Chico Mendes e os seringueiros para possibilitar o uso das florestas de modo sustentável para
o extrativismo deu origem a uma espécie de unidade de conservação chamada “Reserva Extrativista”.
Essas reservas são destinadas às comunidades tradicionais.
eles se aplica essa Convenção, pois todos eles seriam “povos tribais”, no conceito
trazido pela Convenção.
Além disso, estabelece que esses povos tradicionais não devem ser retirados de seus
territórios tradicionais. Contudo, ressalva a possibilidade excepcional de deslocamento
dos povos de seu território temporariamente, e caso não seja possível voltar, o
pagamento de indenização. Isso acaba enfraquecendo bastante essa ideia de terra
tradicionalmente ocupada na Convenção.
Posteriormente, temos a Carta Régia de 1680 enviada pelo Rei de Portugal, e que
proibia a tomada de propriedade pelos sesmeiros dos territórios ocupados pelos
indígenas.
O Estatuto do Índio trazia gradação entre as terras indígenas: (i) Terras Ocupadas; (ii)
Terras Reservadas; (iii) Propriedade Particular.
Nessa ideia de terra reservada, estão abrangidas quatro modalidades: parque, reserva,
colônia agrícola e território federal indígena. As que mais proliferaram foram os
parques e as reservas.
A ideia de terra ocupada dialoga mais com a ideia de terras tradicionalmente ocupadas.
Já a propriedade particular é a terra de domínio das comunidades indígenas, ou
mesmo de um só determinado indivíduo indígena.
Depois, esses laudos antropológicos serão submetidos à FUNAI, que então efetuará
analise. Há o prazo de 15 dias do recebimento dos estudos para que sejam publicados os
estudos. Após esse prazo, possíveis interessados podem ...
Quilombo é o movimento efetuado por negros nos primeiros séculos da experiências
brasileira, no sentido de sair das áreas de plantation, fora das zonas de escravização.
Contudo, existiu também presença quilombola dentro da área de plantation. Outro nome
dado para quilombo é mocambo.
Temos como referencia a CF de 1988, pois antes não tivemos nenhuma menção, na
legislação fundiária e agrária, a presença quilombola no Brasil. A CF é um marco
significativo nesse sentido.
Os sujeitos aqui são representados por uma pessoa jurídica, que é uma associação civil.
Essa associação representa os quilombolas como titular desse direito de propriedade
coletivo. Cada quilombo tem sua associação civil.
A questão quilombola, todavia, já era discutida muito antes disso. Já havia uma
comunicação, no Conselho Ultramarino de 1740, tratando sobre grupos quilombolas. A
definição dada por esse conselho é restrita aos quilombos fora da área de plantation.
Definiu quilombo como: “Toda habitação de negros fugidos, que passem de 5, em
parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados, nem se achem pilões
neles.”
Essa concepção do Conselho Ultramarino foi replicada através dos séculos, para nos
trazer a definição do que é quilombo. Assim, há dificuldade, inclusive na seara
jurisprudencial, de aceitar aquele grupo que não fugiu, que se formou dentro da própria
área de plantation, como quilombo.
O quilombo se constitui, para a ABA e a CF, a partir de suas formas de viver e criar
partilhadas pelo grupo. O que define quilombo hoje, também para a ABA, é a auto
atribuição.
Até 2001, tivemos alguns instrumentos normativos tratando da matéria, mas sem definir
procedimento de estabelecimento de como se daria essa propriedade coletivo. Assim,
tivemos uma lei que estabelece as obrigações da Fundação Cultural Palmares (que é
vinculada ao MinC). Uma das matérias que ela deve se dedicar é a efetivação dos
direitos territoriais dos quilombolas, mas sem especificar o procedimento administrativo
necessário para tanto.
Feita essa análise, podemos identificar duas situações: (i) o imóvel é, de fato, particular,
não havendo vícios na cadeia sucessória do imóvel (como o comisso da sesmaria).
Nesse caso, a consequência é a desapropriação por interesse social, com indenização
pelas benfeitorias úteis e necessárias e terras nuas. Além de desapropriados, devem ser
desintruídos, o que significa dizer que serão desocupados. Esses desapropriados terão
preferência na aquisição de terras da reforma agrária, podendo inclusive escolher o lote
da sede do imóvel; (ii) se não for imóvel particular, é terra pública devoluta (também
chamada de terra pública indeterminada), de propriedade dos Estados. Nesse último
caso, o INCRA enviará o RTID para o órgão de terras estadual, e é esse órgão que vai
titular a terra para o quilombo, já que o INCRA só pode titular terras federais. Ou a
Comissão de Desenvolvimento Agrário estadual utiliza a ação discriminatória, ou o
Tribunal de Justiça procede ao cancelamento do registro de matricula do imóvel; (iii)
por fim, pode ser terra pública determinada: são de propriedade do Estado, União ou
Município, sendo essa propriedade decorrente da lei ou do fato da entidade federativa
ter efetuado algum procedimento de definição, medição, demarcação, discriminação ou
registro da terra.
No que diz respeito aos corpos hídricos, terreno marginal e terreno de marinha, tem que
ver se é terra pública federal (ex. zona costeira, mar territorial, que são zonas da
marinha; rio São Francisco, que atravessa mais de um Estado), ou terra pública estadual
(ex. Rio Vaza Barris, que passa tão somente pelo Estado da Bahia). Se for federal, o
INCRA não pode titular essa terra, pois bens dominicais, devendo então notificar a
Secretaria de Patrimônio da União. A SPU então vai emitir concessão de direito real de
uso para a comunidade quilombola pleiteante. O corpo hídrico estadual também deverá
ser concedido com direito real de uso pela autoridade estadual.
Fato é que sesmeiro desses locais era absenteísta em relação aos terrenos mais
interioranos, onde a agricultura era mais difícil. Quem acabou ocupando essa terras,
então, foram esses tropeiros/vaqueiros. Assim, nessas regiões, sobretudo de
caatinga/cerrado, o que ocorreu foram ocupações comunitárias, na medida que um
grupo de tropeiros compartilhava vasta extensão territorial soltando o rebanho, sem
dizer qual parte era de quem, e sem cerca-la. Apenas decidiram compartilhar. Isso
ocorreu por necessidade, já que os bois/cabras/bodes/ovelhas precisam de extensão
territorial razoável para poder sobreviver.
Esse tipo de ocupação primária foi a mais comum no nordeste brasileiro. Na Bahia,
o próprio Estado escolheu uma designação para essas ocupações: fundos e fechos
de pasto.
O art. 178, parágrafo único da CE trata do tema. Faz referencia à destinação que o
Estado da Bia deve dar as terras que são de seu patrimônio. O Parágrafo único faz
referencia às terras que são de patrimônio da Bahia e que estão tradicionalmente
ocupadas por fundos e fechos de pasto. (COPIAR ARTIGO)
Segundo essa norma, na conveniência do Estado, pode ele conceder com direito real
de uso a terra aos fundos e fechos de pasto. Ele define as condições, prazo, forma de
rescisão, etc. Isso porque se trata de contrato administrativo.
Nos anais da Assembleia Constituinte Estadual está a razão para essa tratamento
diferente ao dado no âmbito federal aos indígenas/quilombolas. Os deputados
consideravam que esses indivíduos eram atrasados, refratários à adoção de novas
tecnologias, e tenderiam a vender essas terras tão logos tivessem a propriedade
delas, passando então a inchar a massa urbana de miseráveis.
Apesar da previsão da concessão de direito real de uso para FFP, o Estado, até 2007,
ignorou essa previsão, concedendo a essas comunidades titulo de propriedade
coletiva, cuja titularidade é atribuída a uma associação civil, nos moldes
quilombolas. Tatiana acredita que isso se deu em decorrência de estratégia
eleitoreira, para não de indispor com certos grupos. Após 2007, quando o PT passou
a ocupar a gestão do governo do Estado, houve mudanças no instrumento, o que
travou a concessão de FFP.
AULA 20 – 08/08/2017
Vamos agora tratar dos artigos 184-191 (Política agrícola, fundiária e da reforma
agrária), 243 e 225.
O art. 184 trata da hipótese de desapropriação por interesse social para fins de reforma
agrária. Prevê a competência de desapropriar por interesse social apenas para a União.
Isso decorre do episódio da Fazenda Galiléia.
O imóvel que será desapropriado é aquele que não atende à chamada “função social da
propriedade”. Perceba que não há mais aquela restrição de desapropriação apenas para
zonas de tensão e conflito social.
Haverá indenização não mais em títulos da dívida pública, mas em títulos da dívida
agrária. É titulo específico, com orçamento específico, também emitido pelo Tesouro
Nacional. A ideia é sancionar, por isso não se paga em dinheiro. Esse título remunera
apenas a terra nua, e podem ser emitidos no prazo de 2 a 20 anos após a desapropriação.
Benfeitorias úteis e necessárias serão remuneradas em dinheiro
A fase judicial tem rito sumário. Nessa ação judicial não há possiblidade do
desapropriado discutir o mérito da desapropriação. Ele apenas pode discutir se houver
divergência quanto aos valores pagos a titulo de indenização.
O art. 185, por sua vez, trata das modalidade de imóveis que não são suscetíveis de
desapropriação. A CF abandonou a tipologia do Estatuto da Terra. Aqui ela trata com a
tipologia de “pequena propriedade”, “media propriedade” e “propriedade produtiva”. A
pequena é a propriedade com 1 a 4 Módulos Fiscais. A média possui de 4 a 15 módulos
fiscais. A propriedade produtiva não traz critério dimensional, mas outros critérios.
O Módulo Fiscal de cada município é encontrado na Instrução Normativa 20/80 do
INCRA, e é definido de forma diferente para cada município brasileiro.
O art. 186 diz que se considera função social da propriedade quando, simultaneamente,
o imóvel demonstra o cumprimento dos seguintes requisitos: (a) aproveitamento
adequado e uso racional; (b) utilização adequada dos recursos naturais e preservação do
meio ambiente; (c) observância da legislação trabalhista e; (d) respeito ao bem estar dos
proprietários e dos trabalhadores.
Hoje em dia, ao invés de função social, deve ser lido como “função socioambiental” da
propriedade, articulando essas disposições com o as previsões do art. 225 da CF.