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Legislação Trabalhista,

Empresarial e Consumerista
Profª. Tatiana C. dos Reis Filagrana
Profª. Sônia Adriana Weege

Indaial – 2019
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:
Profª. Tatiana C. dos Reis Filagrana
Profª. Sônia Adriana Weege

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

F478l

Filagrana, Tatiana Conceição dos Reis


Legislação trabalhista, empresarial e consumerista. / Tatiana Conceição
dos Reis Filagrana; Sônia Adriana Weege. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.

185 p.; il.


ISBN 978-85-515-0355-3

1. Legislação trabalhista. - Brasil. 2. Legislação empresarial. – Brasil. 3.


Legislação consumerista. – Brasil. I. Weege, Sônia Adriana. II. Centro
Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 342.14

Impresso por:
Apresentação
Prezado acadêmico! O presente livro didático foi escrito para que
você possa entender e se aperfeiçoar nas disciplinas de Direito Empresarial,
Direito do Consumidor e Direito do Trabalho.

A Unidade 1 deste livro apresenta temas relevantes do Direito


Empresarial, referentes aos fundamentos históricos e constitucionais,
fontes, teorias, princípios e conceitos fundamentais, atividade empresarial.
Trataremos também sobre conceito de empresa, empresário, estabelecimento,
os registros dos comércios e os tipos de sociedades.

A Unidade 2 apresenta temas referentes ao Direito do Consumidor,


tendo como pontos centrais: base constitucional; princípios; conceitos
básicos; direitos básicos do consumidor, responsabilidade pelo fato, do
produto e do serviço; responsabilidade por vício do produto e do serviço;
da desconsideração da personalidade jurídica; práticas comerciais; oferta.
publicidade; as práticas abusivas; proteção comercial; cláusulas abusivas e
contratos de adesão.

Por fim, na Unidade 3 deste livro iremos analisar temas de suma


importância no Direito do Trabalho, tais como: conceito, origens e evolução;
fontes e princípios do direito do trabalho; direito do trabalho e direitos
fundamentais do trabalhador; relação de emprego; contrato de trabalho;
empregado e empregador; jornada de trabalho, duração e intervalos; férias;
alteração, suspensão e interrupção do contrato de trabalho e prescrição e
decadência.

Temos certeza de que sua leitura será enriquecedora e satisfatória!

Boa leitura e bons estudos!

Tatiana C. dos Reis Filagrana

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – DIREITO EMPRESARIAL.......................................................................................... 1

TÓPICO 1– EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL....................................... 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL.......................................................... 5
2.1 CONCEITO DE DIREITO COMERCIAL (EMPRESARIAL)...................................................... 8
3 TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO.............................................................................................. 11
4 TEORIA DA EMPRESA....................................................................................................................... 14
5 FONTES FORMAIS DO DIREITO EMPRESARIAL...................................................................... 17
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 19
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 20

TÓPICO 2 – CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO....................................................................... 21


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 21
2 O MENOR COMO EMPRESÁRIO.................................................................................................... 22
3 IMPEDIMENTOS E INCAPACIDADE............................................................................................. 24
3.1 INCAPACIDADE SUPERVENIENTE........................................................................................... 27
4 NOME EMPRESARIAL........................................................................................................................ 27
4.1 FIRMA................................................................................................................................................ 29
4.2. DENOMINAÇÃO............................................................................................................................ 29
5 ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL............................................................................................ 30
6 REGISTRO EMPRESARIAL............................................................................................................... 31
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 33
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 34

TÓPICO 3 – SOCIEDADE...................................................................................................................... 35
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 35
2 HISTÓRICO............................................................................................................................................ 36
3 CONCEITO............................................................................................................................................. 37
4 CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES........................................................................................... 39
5 SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS....................................................................................... 40
5.1 SOCIEDADE EM COMUM............................................................................................................. 40
5.2 SOCIEDADE EM COMUM (IRREGULAR OU DE FATO)......................................................... 41
6 LEGITIMIDADE PASSIVA E RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS....................................... 43
7 A CAPACIDADE DE SER TITULAR DE DIREITOS E DEVERES DAS SOCIEDADES
DE FATO E A QUESTÃO DA LEGITIMIDADE PROCESSUAL ATIVA................................... 44
8 SOCIEDADES EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO.......................................................................... 45
9 SOCIEDADES PERSONIFICADAS.................................................................................................. 46
9.1 SOCIEDADES SIMPLES.................................................................................................................. 46
9.1.1 Sociedades simples (em sentido estrito)............................................................................... 47
9.1.2 Cooperativas............................................................................................................................. 47
10 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS........................................................................................................ 50
11 SOCIEDADE EM NOME COLETIVO............................................................................................ 50

VII
12 SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES.................................................................................. 51
13 SOCIEDADES LIMITADAS............................................................................................................. 52
14 SOCIEDADES POR AÇÕES.............................................................................................................. 53
15 SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES............................................................................ 53
16 SOCIEDADES ANÔNIMAS............................................................................................................. 54
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 55
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 57
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 58

UNIDADE 2 – LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA............................................................................ 59

TÓPICO 1 – CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, ........................................................ 61


PRODUTOS E SERVIÇOS...................................................................................................................... 61
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 61
2 DIFERENÇAS ENTRE OS SUJEITOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO.................................... 62
2.1 RELAÇÃO SOCIAL E RELAÇÃO JURÍDICA.............................................................................. 62
2.2 RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO ........................................................................................ 63
2.3 CONCEITO DE CONSUMIDOR.................................................................................................... 64
3 CONCEITO DE FORNECEDOR........................................................................................................ 68
4 CONCEITO DE PRODUTOS E SERVIÇOS.................................................................................... 71
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 76
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 77

TÓPICO 2 – PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA................................................ 79


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 79
2 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA............................................................................................. 79
3 PROTEÇÃO À VIDA, SAÚDE E SEGURANÇA ............................................................................ 82
4 PROTEÇÃO E NECESSIDADE ......................................................................................................... 82
5 TRANSPARÊNCIA................................................................................................................................ 83
6 HARMONIA........................................................................................................................................... 84
7 VULNERABILIDADE........................................................................................................................... 84
8 INTERVENÇÃO DO ESTADO........................................................................................................... 85
9 BOA-FÉ.................................................................................................................................................... 85
10 DEVER DE INFORMAR.................................................................................................................... 86
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 87
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 90
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 91

TÓPICO 3 – RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA.............................. 93


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 93
2 PELO FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO................................................................................. 94
3 POR VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO............................................................................... 100
4 OFERTA E PUBLICIDADE................................................................................................................ 103
5 OFERTA ................................................................................................................................................ 104
6 PUBLICIDADE..................................................................................................................................... 105
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 107
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 108

TÓPICO 4 – DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA................................. 109


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 109
2 TEORIAS: MAIOR E MENOR.......................................................................................................... 110

VIII
3 PROTEÇÃO COMERCIAL................................................................................................................ 111
4 PRÁTICAS COMERCIAIS ABUSIVAS.......................................................................................... 111
5 CLÁUSULAS ABUSIVAS.................................................................................................................. 113
6 CONTRATOS DE ADESÃO.............................................................................................................. 114
RESUMO DO TÓPICO 4...................................................................................................................... 115
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 116

UNIDADE 3 – LEGISLAÇÃO TRABALHISTA................................................................................ 117

TÓPICO 1 – CONCEITO: DIREITO DO TRABALHO E PRINCÍPIOS TRABALHISTAS..... 119


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 119
2 CONCEITO E FUNÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO.......................................................... 120
3 PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO............................................................................... 120
4 DISTINÇÃO DE TRABALHADOR E EMPREGADO................................................................. 122
5 CONCEITO DE EMPREGADOR..................................................................................................... 123
6 CRITÉRIOS DE CARACERIZAÇÃO DA RELAÇÃO EMPREGATÍCIA................................. 124
7 MODALIDADES ESPECIAIS DE TRABALHO............................................................................ 126
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 128
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 129

TÓPICO 2 – CONTRATOS TRABALHISTAS.................................................................................. 131


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 131
2 CARACTERÍSTICAS DO CONTRARO DE TRABALHO.......................................................... 131
2.1 CONTRATO POR TEMPO DETERMINADO............................................................................ 132
2.2 CONTRATO POR TEMPO INDETERMINADO....................................................................... 132
2.3 CONTRATO DE TRABALHO TEMPORÁRIO.......................................................................... 133
2.4 CONTRATO DE TRABALHO EVENTUAL............................................................................... 134
3 SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO...................................... 135
3.1 INTERRUPAÇÃO........................................................................................................................... 135
3.2 SUSPENSÃO.................................................................................................................................... 137
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 140
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 141

TÓPICO 3 – REMUNERAÇÃO X SALÁRIO.................................................................................... 143


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 143
2 REMUNERAÇÃO................................................................................................................................ 144
3 SALÁRIO............................................................................................................................................... 144
3.1 SALÁRIO MÍNIMO........................................................................................................................ 146
4 EQUIPARAÇÃO DE SALÁRIO........................................................................................................ 150
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 151
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 152

TÓPICO 4 – VERBAS TRABALHISTAS............................................................................................ 153


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 153
2 FÉRIAS................................................................................................................................................... 154
2.1 PERÍODO AQUISITIVO................................................................................................................ 155
2.2 DA PERDA DO DIREITO ÀS FÉRIAS......................................................................................... 155
2.3 PERÍODO CONCESSIVO.............................................................................................................. 156
2.4 DO PRAZO PARA PAGAMENTO............................................................................................... 157
2.5 DAS FÉRIAS COLETIVAS............................................................................................................. 157

IX
3 AVISO PRÉVIO.................................................................................................................................... 158
3.1 AVISO PRÉVIO TRABALHADO.................................................................................................158
3.2 AVISO PRÉVIO INDENIZADO....................................................................................................159
4 DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO......................................................................................................159
5 FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO – FGTS...................................................160
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................167
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................172
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................173

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................175

X
UNIDADE 1

DIREITO EMPRESARIAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• ampliar a compreensão referente aos aspectos do Direito Empresarial;

• compreender a nova estrutura do Direito Empresarial, mediante as


alterações jurídicas;

• adquirir uma visão geral a respeito dos temas do Direito Empresarial.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL

TÓPICO 2 – CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO

TÓPICO 3 – SOCIEDADE

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! No presente tópico será apresentada a evolução histórica
do Direito Comercial. Traçaremos uma linha do tempo e analisaremos os motivos
pelos quais o Direito que antes era denominado exclusivamente de Direito
Comercial, passou a ser citado como Direito Empresarial.

Analisaremos as alterações da legislação empresarial, ao longo dos anos e


suas peculiaridades, em decorrência desta “transformação” de nomenclaturas. É
de suma importância que nós saibamos e tenhamos claro que não foram somente
feitas alterações de nomenclaturas, mas também a forma como se passou a
“negociar”, no âmbito comercial.

Verificaremos que os atos comerciais praticados inicialmente eram através


de escambo (troca de mercadorias) o que, muito tempo depois, com a criação da
moeda, na Lídia (atualmente Turquia), passou a ser através de pecúnia.

Do mesmo modo, constataremos que, embora tenha havido uma alteração


de parte do Código Comercial, através da edição da Lei nº 10.406/02, este ainda
está em vigor, no que tange ao Direito Marítimo, contudo não visto mais como
Código, mas sim, uma lei complementar que trata de tal assunto.

Em relação ao terceiro livro do Código Comercial, Lei nº 556, de 1850,


Das Quebras, esse foi derrogado pela primeira Lei Falimentar de 1890. Assim, se
questionarmos hoje se existe um Código Comercial, podemos responder que sim,
mas que ele não está unificado em um livro (objeto físico) somente, mas sim,
esparso no Código Civil (Direito da Empresa) e Leis Extravagantes.

Em 1850, quando foi editado o Código Comercial, Lei nº 556, havia uma
divisão clara entre o que eram considerados atos de natureza comercial, e os
atos de natureza eminentemente civis. Esta divisão era em decorrência da Teoria
dos Atos de Comércio, teoria esta reafirmada no Regulamento 737, editado no
mesmo ano do Código Comercial Brasileiro, que em seu Art. 19, delineava quais
seriam os atos especificamente comerciais. Esta Teoria dos Atos de Comércio foi
trazida pelo Código Francês, de 1808, que serviu de influência ao nosso Código
Comercial brasileiro.

3
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Porém, em decorrência da Teoria dos Atos de Comércio não abarcarem


determinadas atividades negociais, com o passar dos anos, acaba tornando-
se obsoleta, não atendendo mais ao fim a que se destinava anteriormente, na
edição do Código Comercial brasileiro. Essa teoria passa a ser questionada e
insustentável, frente à nova realidade comercial que estava se abrindo junto à
sociedade. Os juristas começam então a manifestarem-se a favor da unificação
dos atos de comércio e civis, não os distinguindo mais, pois já não fazia mais
sentido, esta distinção conceitual.

Mamede (2013, p. 3) faz referência a tal posicionamento jurídico:

Desde cedo surgiram juristas defendendo a reunificação do Direito


Privado brasileiro; já em 1859, o grande professor baiano Teixeira de
Freitas, a quem se pediu a elaboração de um projeto de Código Civil,
afirmava que a distinção entre as duas disciplinas não se sustentava,
pois, o ato civil e o ato comercial mantinham a mesma submissão à
Parte Geral do Código Civil, ao Direito das Obrigações e Contratos. A
distinção estava limitada aos costumes do comércio, que orientavam as
práticas mercantis, mas não os atos civis. Não havia uma especialidade
que justificasse a coexistência de duas disciplinas jurídicas, vez que o
respeito aos costumes de cada área social é elemento comum de todas
as disciplinas, orientando a atuação individual nos espaços em que não
se tenha norma expressa. Muitas dessas práticas e dos institutos delas
decorrentes, ademais, foram sendo assimiladas por não comerciantes,
a exemplo da emissão de títulos de crédito.

Neste sentido, surge a necessidade dos atos negociais serem vistos sob
outro ângulo e protegidos legalmente de forma diferente. Assim, com a alteração
do Código Civil, pela Lei nº 10.406/02, os atos negociais passam a não ser
diferenciados como atos de comércio ou atos civis, mas sim, atos que fazem parte
do Direito Empresarial. O Código Civil, alterado, traz a Teoria da Empresa.

Com o advento da Teoria da Empresa tem-se uma visão mais ampla sobre
atividades comerciais, que agora são denominadas de empresariais. O empresário
passa a ser o centro das negociações, o objeto da legislação empresarial volta-se
para a atividade empresarial em si, ou seja, a forma como o empresário lida com
suas atividades e seus negócios.

O pilar principal da Teoria da Empresa, segundo Mamede (2013, p. 35),

é a atividade, a ação organizada na esfera econômica, o que a doutrina


convencionou chamar de empresarialidade ou elemento de empresa,
que pode ser definida como sendo a organização racional dos fatores
de produção. E a atividade assim desenvolvida, tenderá a não
guardar vinculo de pessoalidade com seu titular, imprimindo certa
impessoalidade ao seu exercício.

Assim, nesta Unidade 1 identificaremos o foco atual da legislação


empresarial e as consequências desta alteração para o Direito Empresarial, antes
denominado Direito Comercial.

4
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL


Vamos analisar o que se passou com nossa legislação empresarial até os
dias atuais? Embarque nesse túnel do tempo...

O Direito Empresarial, anteriormente denominado de Direito Comercial,


passou por inúmeras transformações ao logo dos tempos, embora a propriedade
e as atividades negociais sempre foram controladas juridicamente através das leis
e regulamentos.

No século XXV a.C. foi realizada uma reforma jurídica, onde se coibia
a usura e os monopólios, na cidade de Lagash, na Suméria (Iraque), outrossim,
temos como uma das legislações mais antigas e conhecidas, as Leis de Ur Nammu,
século XXI a.C., que vigia na Suméria (que conhecemos atualmente como Iraque),
na cidade de Ur, proibiam o cultivo em terras de propriedade alheia, limitavam
juros e tabelavam os preços, no mesmo sentido, posteriormente, as Leis de Lipt
Ishtar, século XX a.C., as Leis de Eshnunna e as Leis de Hamurábi, estas do século
XVIII a.C.

Observamos que a atividade negocial passou por inúmeras alterações.


Inicialmente, tínhamos a prática do escambo (troca de bens por outros bens)
e, depois de muitos anos, com a criação da moeda, os bens passam a ser
comercializados através de pecúnia.

FIGURA 1 - ESCAMBO

FONTE: <http://twixar.me/7fJ1>. Acesso em: 19 mar. 2019.

5
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

FIGURA 2 - CRIAÇÃO DA MOEDA

FONTE: <http://twixar.me/qfJ1>. Acesso em: 19 mar. 2019.

ATENCAO

“Surgem, então, no século VII a.C., as primeiras moedas com características das
atuais: são pequenas peças de metal com peso e valor definidos e com a impressão do cunho
oficial, isto é, a marca de quem as emitiu e garante o seu valor.
As moedas refletem a mentalidade de um povo e de sua época. Nelas podem ser
observados aspectos políticos, econômicos, tecnológicos e culturais. É pelas impressões
encontradas nas moedas que conhecemos, hoje, a efígie de personalidades que viveram há
muitos séculos. Provavelmente, a primeira figura histórica a ter sua efígie registrada numa
moeda foi Alexandre, o Grande, da Macedônia, por volta do ano 330 a.C.” Disponível em:
<http://portaldaeconomia.com.br/moedas/dinheironomundo.shtml>. Acesso em: 22 fev. 2019.

Segundo Coelho (2013, p. 25), “Alguns povos da Antiguidade, como


os fenícios, destacaram-se intensificando as trocas e, com isto, estimularam a
produção de bens destinados à venda”.

Na Idade Média, temos duas situações: o feudalismo, caracterizado


pela divisão das propriedades rurais em grandes estruturas políticas, atraindo
uma atenção especial. E, o comércio que trazia uma força considerável para o
crescimento das cidades que ali eram formadas.

Nas cidades da Idade Média, considerando o crescimento considerável


do comércio, começam a ser formadas as corporações de ofício de artesãos e
comerciantes, com o intuito de proteger e regulamentar a atividade mercantil.
Nessa fase ocorre a consolidação dos costumes, que passa a denominar-se de
Consuetudos.

6
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL

Gomes (2013, p. 34) ressalta que,

nas antigas corporações de ofício existentes sobretudo na Europa


Ocidental no final da Idade Média e início da Idade Moderna, as
normas comerciais, representadas pelos regulamentos internos dessas
corporações, aplicavam-se exclusivamente aos seus inscritos conforme
as respetivas categorias profissionais, possuindo nítido caráter
subjetivo.

De acordo com Mamede (2013, p. 2), “essas consolidações marcam o início


do Direito Mercantil, na medida em que são as primeiras normas integralmente
dedicadas ao comércio”.

As consolidações dos costumes foram de suma importância para o Direito


Mercantil, tanto é assim que passaram a ser referências para o que denominamos
hoje de Códigos Comerciais. Aponta-se que o Código Comercial francês, de 1808,
foi o mais influente, sendo um marco para as demais legislações mercantis.

NOTA

“Exemplos de normas dedicadas ao comércio provenientes dos Consuetudos:


Consulato Del Mare (Espanha, século X), as Consuetudines (Gênova, 1056), O Constitutum
usus (Pisa, 1161), o Liber consuetudinum (Milão, 2016), as decisões da Rota Genovesa sobre
comércio marítimo, o Capitulare Nauticum (Veneza, 1255), a Tabula Amalfitana, também
chamada de Capitula et Ordinationes Curiae Maritimae Nobilis Civilitatis Amalphe (Amalfi,
século XIII), Ordinamenta et Consuetudo Maris Edita per Consules Civitatis Trani (Trani, século
XIV) e Guidon de la Mer (Rouen, século XVI)” (MAMEDE, 2013, p. 2).

Observa-se que o comércio sempre esteve em posição de destaque perante


as civilizações, tendo em vista que as atividades negociais serviram de crescimento
econômico para as nações que estavam em formação.

Como menciona Gomes (2013, p. 29):

[...] O comércio baseia-se na produção em excedente gerado para essa


finalidade e assim denominado mercadoria, e que inicialmente era
objeto de troca por outras mercadorias, em prática conhecida como
escambo tendo sido posteriormente adotado um padrão objetivo de
trocas – a moeda.
[...] por ser baseado na troca, o comércio é uma atividade tipicamente
social, que exige a interação entre as partes envolvidas. Essa interação
somente pode ser proporcionada pela vida em sociedade.

7
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

E
IMPORTANT

Comércio é sinônimo de civilização e vida em sociedade (GOMES, 2013).

O Código Comercial francês, em 1808, trazia em seu escopo uma teoria que
distingue os atos propriamente comerciais e os atos de natureza civil, selecionando
assim, a legislação a ser utilizada em cada caso, ou seja, ao tratarmos de um ato
negocial de natureza comercial, utilizaríamos o Código Comercial para dirimir
eventuais litígios, se o ato tivesse natureza civil, a legislação civil seria utilizada,
neste caso. Esta teoria serviu de base para o Código Comercial brasileiro, editado
em 1850, por D. Pedro II, que deixou de ser aplicado, em 2003, quando entrou em
vigor o Código Civil, alterado pela Lei nº 10.406/02.

Mamede (2013, p. 3) expõe:

Nos alvores do século XXI, com a edição da Lei 10.406/02, em 10 de


janeiro de 2002, a unificação foi enfim concretizada. Reconheceu-
se que os atos jurídicos civis e comerciais têm a mesma natureza,
estando submetidos à Parte Geral do Código Civil, bem como às
regras ali dispostas sobre as Obrigações e os Contratos. Isso implicou
a necessidade de se substituir a antiga teoria do ato de comércio por
uma nova referência para as relações negociais. A opção escolhida foi
a teoria da empresa.

Dessa forma, a Lei nº 10.406/02 unificou os atos de comércio e atos civis,


pois chegou-se à conclusão de que ambas tinham a mesma natureza jurídica.
Surgiu, então, a Teoria da Empresa.

2.1 CONCEITO DE DIREITO COMERCIAL (EMPRESARIAL)


Vamos analisar a questão conceitual e as características do Direito
Empresarial?

Primeiramente, necessário explicarmos que o Direito antes era somente


denominado Comercial, pois seu foco era nos atos comerciais, tanto é assim, que
dividia estes atos dos atos civis, fundamentando tal distinção na Teoria dos Atos
de Comércio.

Importante frisarmos que o Direito Comercial surge através dos usos e


costumes e era aplicável aos membros de determinada corporação de comerciantes.

Coelho (2013, p. 27) ressalta:

8
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL

No início do século XIX, em Franca, Napoleão, com a ambição de


regular a totalidade das relações sociais, patrocina a edição de dois
monumentais diplomas jurídicos: o Código Civil (1804) e o Comercial
(1808). [...] A delimitação do campo de incidência do Código Comercial
era feita, no sistema francês, pela teoria dos atos de comércio. Sempre
que alguém explorava atividade econômica que o direito considera
ato de comércio (mercancia) submetia-se às obrigações do Código
Comercial (escrituração de livros, por exemplo) e passava a usufruir
da proteção por ele liberada (direito à prorrogação dos prazos
de vencimento das obrigações em caso de necessidade, instituto
denominado concordata).

De acordo com o Código Comercial brasileiro de 1850, Lei nº 556, o objeto


do Direito Comercial era o exercício efetivo do comércio, ou seja, a mercancia
deveria ser a atividade fim daquela pessoa, tendo como seu fundamento a Teoria
dos Atos de Comércio.

Referenciando o notável saber jurídico de Gomes (2013, p. 35), a respeito


da Teoria dos Atos de Comércio, temos que:

Sob a vigência da Teoria dos Atos de Comércio, prevalecia o caráter


objetivo do ato econômico em si, de modo que se a atividade econômica
que constituía o objeto adotado pelo comerciante estivesse elencada
no rol normativo dos atos de comércio, a sua inscrição no registro de
comércio seria obrigatória e a sua submissão às normas do Direito
Comercial, absoluta, sendo de pouca importância as proporções
econômicas de seu negócio ou o modo como estivesse organizado.

E, mais, assinala Gomes (2013, p. 35):

Assim, constata-se que o comércio podia ser praticado por qualquer


pessoa capaz, desde que não expressamente proibida por lei, fosse
ela pessoa natural ou pessoa jurídica, e atendesse a certos requisitos
legais de ordem objetiva. No primeiro caso, tínhamos o comerciante
individual (que, como veremos adiante, foi substituído pelo empresário
individual); no segundo, a sociedade comercial (que, em sentido
genérico, foi substituída pela sociedade empresarial), tendo ainda e,
posteriormente, surgido a empresa individual de responsabilidade
limitada, não existente naquela ocasião.

Porém, observou-se uma fragilidade tangente ao conceito de comércio,


sob a ótica da teoria dos atos de comércio, pois existiam práticas negociais
que não estavam inseridas no Código Comercial, mas que, pela sua natureza
deveriam estar inseridas: prestação de serviços, negociação de imóveis,
agricultura ou extrativismo.

Assim, surge a Teoria da Empresa, normatizada no Código Civil brasileiro,


alterado pela Lei 10.406/02, que altera o fundamento da atividade econômica e
sua organização, este Direito passa a ser denominado de Direito Empresarial,
onde o foco é a empresa que é mais abrangente que o objeto do Direito Comercial,
nos moldes do Código Comercial brasileiro, Lei nº 556/1850.
9
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Mister transcrevermos o entendimento doutrinário de Gomes (2013, p. 35):

Conceitua-se empresa como toda atividade econômica, exercida de


forma organizada, que visa à produção ou à circulação de bens ou de
serviços, em uma mudança de foco em relação ao conceito tradicional
de comércio, na medida em que a Teoria da Empresa abrange também
parte da atividade de prestação de serviços, até então restrita ao
âmbito do direito civil.

Temos que o Direito Empresarial se caracteriza por ser um ramo do direito


privado, entretanto, impende salientarmos que o mesmo é autônomo em relação
ao Direito Civil. Tem-se que o Direito Empresarial, como é visto atualmente, é
uma especialização do Direito Civil, no sentido de que se dedica a regulamentar
as relações comerciais e suas implicações jurídicas.

Cabe invocarmos a lição de Fran Martins (2001, p. 23):

Ramo do direito privado, apesar de conter certas normas do direito


público (nas sociedades, na falência, no direito dos transportes),
o direito comercial não se confunde com o civil, não obstante os
números pontos de contato existentes entre ambos. Regulando as
atividades profissionais do comerciante e os atos por lei considerados
comerciais, ficam fora do âmbito do direito mercantil as relações
jurídicas relativas à família, à sucessão e ao estado da pessoa, que são
regidas pela lei civil. Afigura-se, assim, o direito comercial como um
direito de tendências profissionais, enquanto o civil é de tendência
individualista, procurando reger as relações jurídicas das pessoas
como tais e não como profissionais.

Inicia-se uma nova fase no Direito Comercial, que passa a ser denominada
Direito Empresarial, trazendo em seu escopo, a Teoria da Empresa.

ATENCAO

Evolução das Consolidações Mercantis


Teoria dos Atos de Comércio Teoria da Empresa

DICAS

Vídeo: Direito empresarial, direito comercial e direito de empresa, disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=evFAPNms8pU. Acesso em: 22 fev. 2019.

10
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL

3 TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO


Vamos analisar juntos quais as teorias que serviram de base para o Código
Comercial brasileiro de 1850?

A Teoria dos Atos de Comércio, positivada no Código Comercial francês,


de 1807, mencionava para que determinada pessoa fosse considerada comerciante
teria que realizar a atividade negocial de forma habitual e profissional, o que se
denominava de Mercancia.

Citamos o entendimento de Teixeira (2014, p. 30):

[...] atos de comércio ou mercancia pressupunham habitualidade,


atuação contínua no exercício da atividade comercial. Conforme o art.
19 do então vigente Decreto (Regulamento) nº 737/1850, considerava-
se mercancia: a compra e venda ou troca com o fim de revender por
atacado ou a granel na mesma espécie ou manufaturados ou com o
objetivo de alugar; as operações bancárias, de corretagem e de câmbio;
as empresas de fábrica, de comissão, de depósito, de expedição, de
consignação, de transportes de mercadorias e de espetáculos públicos;
os seguros, fretamentos e demais contratos do comércio marítimo;
armação e expedição de navios.

O objetivo do Direito Comercial era regulamentar a atividade dos


comerciantes, as negociações de quem comprava para revender.

Gomes (2013, p. 34), assinala as determinações dos Atos de Comércio:

[...] a Teoria dos Atos de Comércio determinava a aplicação de normas


comerciais aos atos legalmente definidos como atos de comércio,
atribuindo assim, um caráter objetivo ao direito comercial. Desse modo,
uma pessoa (natural ou jurídica) se encontrava submetida às regras
do direito comercial pela Teoria dos Atos de Comércio se exercesse
determinadas atividades específicas, no caso do Brasil, relacionadas
no art. 19 do já revogado Regulamento 737/185, correspondendo à
chamada Mercancia, que podia ser definida como a prática reiterada
dos atos de comércio.

Assim, identificamos que os atos de comércio, também denominado de


mercancia, eram aquelas negociações feitas de forma habitual e profissional.
A Teoria dos Atos de Comércio, positivada de forma expressa pelo Código
Comercial francês, em 1807, serviu de base para nosso Código Comercial, Lei nº
556, editado em 1850.

O Código Comercial francês, em 1807, conceituava de forma expressa


o que eram atos de comércio, em seu Art. 110-1 (TEIXEIRA, 2014): Art. 110-1,
Código Comercial francês (1807): ato de comércio é a compra com intenção de
revender.

11
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Posteriormente, o Decreto nº 737/1850, em seu art. 19, conceituou a


mercancia:

Art. 19. Considera-se mercancia:


§ 1º A compra e venda ou troca de efeitos moveis, ou semoventes para os
vender por grosso ou a retalho, na mesma espécie ou manufaturados,
ou para alugar o seu uso;
§ 2º As operações de câmbio, banco e corretagem;
§ 3º As empresas de fabricas; de comissões; de depósitos; de expedição,
consignação, e transporte de mercadorias; de espetáculos públicos;
§ 4º Os seguros, fretamentos, risco, e quaisquer contratos relativos ao
comércio marítimo;
§ 5º A armação e expedição de navios (BRASIL, 1850).

Cumpre citarmos que, doutrinariamente, os atos de comércio classificavam-


se em três grupos: atos de comércio por natureza; atos de comércio por força de lei
e atos de comércio por conexão. Conceitualmente, nos explica Cometti (2013, p. 19),

Atos de comércio por natureza são aqueles que decorrem diretamente


da atividade mercantil, por exemplo, a compra e venda.
Atos de comércio por força de lei são atos que não seriam de natureza
comercial, mas, por imposição legal, são considerados atos de comércio.
É o caso das operações de banco ou transporte de mercadoria, que
consistem na prestação de serviços.
Os atos de comércio por conexão são atos não comerciais, mas por
estarem relacionados a uma atividade comercial, são considerados
comerciais.

Outrossim, o Código Comercial Brasileiro, de 1850, mencionava que, seria


necessário que o comerciante tivesse efetuado sua matricula perante o Tribunal
do Comércio para que pudesse ter uma proteção legal, considerando que a
mercancia era sua profissão habitual (TEIXEIRA, 2014).

No mesmo sentido, conceitua Franco (2012, p. 40): “O ato de comércio é ato


jurídico, qualificado pelo fato particular de consubstanciar aqueles destinados à
criação e circulação da riqueza mobiliária e, como tal, conceitualmente voluntário
e dirigido a produzir efeitos no âmbito regulado pelo direito comercial”.

Relevante registrarmos que, inicialmente o Direito Comercial era baseado


nos usos e costumes dos povos. Conforme expõe Cometti (2013, p. 17):

Nesta primeira fase, o direito comercial caracterizou-se como um


direito:
a) costumeiro, em que os usos e costumes geralmente observados
pelos mercadores constituíam a sua principal fonte;
b) internacional, uma vez que os usos e costumes mercantis eram
aplicados geralmente em toda Europa, nas grandes feiras; e
c) corporativo, pois suas normas eram aplicadas pelo tribunal das
corporações (juízo consular) no julgamento de controvérsias
existentes entre seus próprios membros. O direito comercial é,
nesse momento, um direito de classe.

12
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL

E
IMPORTANT

O comerciante, de acordo com a definição tradicional, era toda pessoa que


praticava – profissionalmente – atividades de produção de bens ou atos de intermediação na
venda e compra de mercadorias, com intuito de lucro, ou seja, que executava atos definidos
pela lei como atos de comércio (GOMES, 2013).

Porém, ao passar dos anos, percebeu-se a insuficiência e fragilidade


da Teoria dos Atos de Comércio, no sentido de que não se consegue distinguir
claramente os atos de comércio e atos civis, como determinava a legislação
francesa e, posteriormente, a legislação brasileira. Até porque surgem “novas
formas” de comercialização, por exemplo a prestação de serviços. Impulsionando
assim, uma nova teoria, a Teoria da Empresa.

Mencionamos o entendimento de Franco (2012, p. 37), a esse respeito:

No conjunto encontram-se outros atos e atividades que, embora


pertencentes a setores econômicos distintos daqueles destinados ao
comércio, pelo fato de concorrerem para a realização de operações
comerciais, são assim considerados submetidos à normatividade
especifica deste direito.

A debilidade da Teoria dos Atos de Comércio se encontra na classificação


de tais atos. Mamede (2013, p. 4) exemplifica de forma muita concisa apontando
o porquê desta teoria não ter sido reafirmada nas legislações posteriores sobre o
assunto:

Assim, quem montasse uma pequena birosca à beira mar para vender
latinhas de cerveja e lucrar poucas centenas de reais por mês era
comerciante e estava submetido ao Direito Comercial: compra e venda
de efeitos moveis. Em contraste, uma grande imobiliária, que faturasse
milhões por mês, não era considerada comerciante, pois sua atuação
não estava incluída na relação do art. 19 do Regulamento.

Assim, com o surgimento da Teoria da Empresa, fundamento do Direito


Empresarial, após a alteração do Código Civil, pela Lei nº 10.406/02, a empresa
passa a ser vista sob um ângulo mais significativo e mais abrangente, pois abarca
atividades negociais que antes não eram tratadas como tais, como por exemplo,
a prestação de serviços.

13
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

ATENCAO

TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO: analisa-se os atos em si, a venda e revenda


de mercadorias (mercancia), como pratica habitual e profissional.
TEORIA DA EMPRESA: analisa-se a forma como os produtos são produzidos e
colocados em circulação. A empresa dissocia-se da figura do empresário, há a impessoalidade.

4 TEORIA DA EMPRESA
O que muda com a Teoria da Empresa?

A Teoria da Empresa surge na Itália, com o Código Civil de 1942 e, ao


contrário da Teoria dos Atos de Comércio, onde o foco era o fato de exercer o
comércio de forma habitual e profissional, esta teoria de origem italiana tem
como fundamento regulamentar o Direito Comercial, que passa a denominar-se
Direito Empresarial, através da atividade econômica organizada exercida pelas
empresas. No Brasil, com a alteração do Código Civil, pela Lei nº 10.402/02, adota-
se a Teoria da Empresa, por influência do Código Civil italiano.

Importante frisar que, para a Teoria da Empresa não há um vínculo entre o


empresário e sua atividade econômica. Existe uma separação, clara entre a pessoa
do empresário e da atividade econômica que este exerce. De acordo com Gomes
(2013, p.35), “Conceitua-se empresa como toda atividade econômica, exercida de
forma organizada, que visa a produção ou à circulação de bens ou de serviços”.

Mamede (2013, p. 4) destaca, a respeito da empresa:

[...] enquanto isso, um novo fenômeno ganhava importância no mundo:


a empresa, uma nova forma de atuação no mercado, suplantando o que
antes se tinha por comércio, percebendo oportunidades, identificando
demandas, organizando recursos diversos e, com isso, auferindo
vantagens econômicas significativas.

Observamos que o art. 966 do Código Civil brasileiro conceitua empresário


como aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para
a produção de bens ou serviços.

Analisamos que há um contraste em relação ao objetivo da Teoria dos Atos


de Comércio e da Teoria da Empresa, eis que, nesta última, o foco não é somente na
venda e revenda de produtos, mas na produção e circulação de mercadorias. Na
Teoria da Empresa, a forma que são produzidas e circulam as mercadorias é que
merecem proteção e regulamentação por parte da legislação empresarial. Além
disso, é de suma relevância citarmos que assegurar a continuidade da atividade

14
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL

empresarial é o objetivo primordial para Teoria da Empresa, encontrando tal


objetivo embasado no Princípio da Preservação da Empresa. Por este princípio, a
atividade empresária não deve cessar, nem mesmo quando quem a fundou tenha
se afastado ou sido afastado da empresa ou tenha morrido.

TUROS
ESTUDOS FU

A continuidade da empresa e a substituição de sócios será abordada na


Unidade 3, no tópico referente à dissolução, liquidação e extinção das sociedades.

Identificamos que a atividade econômica e a forma como se dá a produção


e circulação de mercadorias é que norteia a Teoria da Empresa. Como destaca
Gomes (2013, p. 36):

Está clara a inovação conceitual promovida pela Teoria da Empresa,


na medida em que não se mais se considera o ato jurídico em si, se
mercantil ou civil, como fator norteador da incidência das normas,
respectivamente, do direito comercial ou do direito civil, mas a função
ou atividade econômica desenvolvida pelo empresário e a própria
organização dos meios de produção característica da empresa e
atribuída pelo empresário aos meios de produção.

Para que pudéssemos compreender melhor a respeito da atividade


empresarial, jurista italiano Alberto Asquini dividiu em quatro perfis o exercício
desta atividade, analisando a empresa, perante o direito civil italiano, sob os
seguintes aspectos: perfil subjetivo, perfil objetivo, perfil funcional e perfil
corporativo.

Para Asquini (1996, p. 103) “empresa é um negócio econômico que se


apresenta de diversas maneiras”.

Passamos a analisá-los:

a) Perfil subjetivo: a empresa é o empresário, sendo este titular de direitos e


obrigações.

Cabe fazermos um apontamento a respeito da palavra empresário,


conceituado no art. 966 do Código Civil, pois temos o empresário individual e o
sócio quotista, que não se confunde com o conceito de empresário.

Transcrevemos as observações de Mamede (2013, p. 5) sobre tal assunto:

15
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

É preciso redobrado cuidado com a palavra empresário, colocada


no artigo 966 do Código Civil, pois se aplica tanto àquele que,
individualmente, se registra na junta comercial para o exercício de
uma empresa, quanto à sociedade empresária, isto é, à pessoa jurídica
que foi constituída para o exercício da empresa. No primeiro caso,
é comum falar-se em empresário individual, expressão redundante
que, todavia, afasta as dúvidas de que resultam do uso coloquial da
palavra empresário, erroneamente identificado com a figura do sócio
quotista ou acionista de uma sociedade. O sócio, no entanto, não é,
juridicamente, um empresário; é apenas um titula de um direito
pessoal com expressão patrimonial econômica: uma ou mais frações
ideais do patrimônio social, frações essas que são chamadas de quotas,
nas sociedades contratuais e na sociedade cooperativa, e de ações, nas
sociedades anônimas e nas sociedades em comandita por ações.

De acordo com o Art. 966 do Código Civil (2002), considera-se empresário


aquele profissional que, efetivamente exerce “atividade econômica organizada
para a produção de bens ou de serviços”.

É importante citar o entendimento de Coelho (2013, p. 31-32) a respeito da


atividade empresarial:

[...] A noção do exercício profissional de certa atividade é associada,


na doutrina, a considerações de três ordens. A primeira diz respeito à
habitualidade. Não se considera profissional quem realiza tarefas de
modo esporádico. Não será empresário, por conseguinte, aquele que
organizar episodicamente a produção de certa mercadoria, mesmo
destinando-a à venda no mercado. Se está apenas fazendo um teste,
com o objetivo de verificar se tem apreço ou desapreço pela vida
empresarial ou para socorrer situação emergencial em suas finanças,
e não se torna habitual o exercício da atividade, então ele não é
empresário. O segundo aspecto do profissionalismo é a pessoalidade.
O empresário, no exercício da atividade empresarial, deve contratar
empregados. São estes que, materialmente falando, produzem ou
fazem circular bens ou serviços. O requisito da pessoalidade explica
porque não é o empregado considerado empresário. Enquanto este
último, na condição de profissional, exerce atividade empresarial
pessoalmente os empregados, quando produzem ou circulam bens ou
serviços, fazem-no em nome do empregador.

Dessa forma, analisamos que o empresário é aquele que exerce suas


atividades negociais de forma pessoal e profissional, frente à sua empresa, de
forma organizada, sendo que o mesmo tem sua personalidade dissociada de
tal empresa.

b) Perfil objetivo: entende-se empresa como um conjunto de bens (estabelecimento


comercial). Quando falamos de bens, devemos entender tanto os bens materiais
como os imateriais, incorpóreos e corpóreos.

Refere-se ao patrimônio, isto é o estabelecimento comercial, conceituado no


Art.1142 da Lei nº 10.406/2002 do Código Civil Brasileiro (2002, s.p.): “Considera-

16
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL

se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa,


por empresário, ou por sociedade empresária”.

c) Perfil funcional: a empresa é vista sob o ponto de vista da atividade que realiza
(produção e circulação de bens e serviços). Teixeira (2014, p. 48), conceitua: “A
empresa significa a atividade empresarial, sendo uma organização produtiva
a partir da coordenação pelo empresário dos fatores de produção (capital,
trabalho, matéria-prima e tecnologia) para alcançar sua finalidade (que é o
lucro)”.

d) Perfil corporativo: analisa-se a empresa sob o aspecto institucional, formada


por todos que compõem a empresa (empresário, colaboradores e prestadores
de serviço).

Assim, consoante à Teoria da Empresa resta claro que as atividades


consideradas e regulamentadas pela legislação empresarial são as que se referem
a produção de bens, circulação de bens, sem esquecermos, da prestação de
serviços. Por fim, temos, segundo entendimento de Teixeira (2014, p. 48) que:

[...] a palavra empresa significa atividade, que por sua vez é exercida
pelo empresário. Essa atividade é o conjunto de atos coordenados
pelo empresário. Mas, modernamente, a expressão empresa, como
atividade econômica, contempla a soma de todos os perfis apontados
por Asquini.

5 FONTES FORMAIS DO DIREITO EMPRESARIAL


As fontes são as bases do Direito, onde ele nasce, ou como aponta Teixeira
(2014, p. 35): “Fontes do Direito são as maneiras pelas quais se estabelecem as
regras jurídicas. [...] é a origem das normas jurídicas”.

Da mesma forma, definimos que as fontes formais do direito são aquelas


que dão origem ao regramento jurídico (GOMES, 2013). As fontes formais do
Direito Empresarial são divididas em primárias e secundárias, antes da alteração
do Código Civil, pela Lei nº 10.406/02 (FRANCO, 2012):

a) Fontes primárias ou diretas: o Código Comercial brasileiro, as leis


suplementares, regulamentos baixados pelo Poder Público e tratados e
convenções internacionais.
b) Fontes subsidiárias, secundárias ou indiretas: leis civis, os usos comerciais e
a jurisprudência.

Após a revogação de grande parte do Código Comercial em decorrência


da alteração do Código Civil, feita pela Lei nº 10.406/02, temos como fontes:

17
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

a) a Constituição Federal de 1988;


b) a Legislação Extravagante;
c) as Leis Civis, contudo estas deveram ser utilizadas de forma subsidiaria,
conforme preconiza o Art. 291 do Código Comercial, ou seja, somente perante
a omissão das leis comerciais, referente as matérias especificas;
d) a Jurisprudência;
e) a Analogia;
f) os Usos e práticas comerciais;
g) os princípios gerais de direito;
h) os Tratados e Convenções Internacionais.

ATENCAO

Os usos e costumes já foram a principal fonte do Direito Empresarial, aliás, esses


foram a base para tal Direito.

18
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• As normas jurídicas de controle dos empreendimentos são tão antigas quanto


o Direito.

• A legislaçao mais antiga conhecida: Leis de Ur Nanmu, século XXI a.C., vigentes
na Suméria, na cidade de Ur. Trazem normas que proíbem o cultivo em terras
de propriedade alheia, limitam juros e tabelam preços.

• Houve uma reforma jurídica realizada na cidade de Lagash, na Suméria (hoje


Iraque), no século XXV a.C., na qual o soberano, chamado Ur Uinim Enmigina
(Urukagina), limitava a usura e os monopólios.

• A USURA está intimamente ligada à cobrança excessiva de juros.

• MONOPOLIO trata-se de uma única empresa deter o mercado de um


determinado produto ou serviço, conseguindo portanto influenciar o preço do
bem que comercializa.

• A moeda foi inventada pelos lídios. Lidia ficava onde hoje é o planalto central
da Turquia.

• Na Idade Média, a atenção social voltou-se para o campo, onde a divisão da


propriedade rural em grandes estruturas políticas caracterizou o feudalismo.

• As cidades continuram a existir e o comércio também. Para a mútua proteção,


artesãos e comerciantes organizaram-se em corporações de ofício. Elas tomaram
para si a função de regulamentar a atividade mercantil, o que fizeram por meio
de consolidação de costumes, chamadas de consuetudos.

• Essas consolidações marcaram o início do Direito Mercantil, pois foram as


primeiras normas dedicadas ao comércio.

• Quando o feudalismo foi superado, tais normas serviram de base para os


Códigos Comerciais.

19
AUTOATIVIDADE

1 Segundo o art. 966 do Código Civil, é considerado empresário:

a) ( ) Quem é sócio de sociedade empresária dotada de personalidade jurídica.


b) ( ) Quem é titular do controle de sociedade empresária dotada de
personalidade jurídica.
c) ( ) Quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou serviços.
d) ( ) Quem exerce profissão intelectual de natureza científica, literária ou
artística.
e) ( ) Quem assume a função de administrador em sociedade limitada ou
sociedade anônima.

2 Diferencie a Teoria da Empresa, adotada pelo Código Civil Brasileiro e a


Teoria dos Atos de Comércio, adotada pelo Código comercial brasileiro.

3 Com relação ao estabelecimento empresarial, assinale a alternativa incorreta:

a) ( ) É o complexo de bens organizado para o exercício da empresa, por


empresário ou por sociedade empresária.
b) ( ) Refere-se tão somente à sede física da sociedade empresária.
c) ( ) Desponta a noção de aviamento.
d) ( ) Inclui, também, bens incorpóreos, imateriais e intangíveis.
e) ( ) É integrado pela propriedade intelectual.

20
UNIDADE 1
TÓPICO 2

CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO

1 INTRODUÇÃO
No presente tópico iremos analisar o que, de acordo com a legislação
empresarial, denominados de empresário e o motivo de sua atividade ser
observada sob outro ângulo.

O empresário, com a Teoria da Empresa, passa a ser visto em conjunto com


a atividade que exerce. Observamos que, “o exercício de atividade econômica de
forma organizada é que encerra toda a essência conceitual da empresa” (GOMES,
2013, p. 41).

No mesmo sentido, iremos analisar a capacidade jurídica de ser


empresário. E, assim, temos que, “o exercício da capacidade empresarial por
pessoa natural, em seu próprio nome, como regra geral, exige que ela tenha
capacidade civil plena e não esteja legalmente impedida, conforme art. 972, do
CC/2002” (GOMES, 2013, p. 45 ).

Outro assunto importante a ser trabalhado neste tópico é a respeito do


nome empresarial, como este é protegido, perante a legislação empresarial e as
implicações dessas normas frente à atividade empresarial.

Em relação ao estabelecimento e registro da empresa iremos observar


quanto esses aspectos são importantes, até mesmo no que se refere à definição
do tipo societário e quais as obrigações intrínsecas a tais tipos societários. “A
Constituição Federal assegura, de forma inequívoca, proteção ao empresário e à
atividade empresarial, primeiramente por meio do disposto no art. 5º, XIII: É livre
o exercício de qualquer trabalho, oficio ou profissão, atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer” (GOMES, 2013, p. 45).

Essas reflexões serão de suma importância para que possamos entender


as alterações trazidas pela Lei nº 10.406/02, do Código Civil Brasileiro, que,
revogando parte do Código Comercial, inseriu em um de seus livros, o Direito
Empresarial.

21
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

2 O MENOR COMO EMPRESÁRIO


E a capacidade para ser empresário? Todos temos? Os menores de idade
podem ser empresários?

A capacidade empresarial está intrinsecamente ligada à capacidade civil,


entretanto, existirão algumas exceções, que veremos neste tópico, que, mesmo não
sendo plenamente capaz, determinada pessoa poderá ser empresário, seguindo
algumas determinações legais.

“Qualquer pessoa pode exercer a atividade empresarial, desde que esteja


em pleno gozo da sua capacidade civil, e não esteja impedida por lei – art. 972
do Código Civil” (TEIXEIRA, 2014, p. 68). “O Art. 966 do Código Civil brasileiro
de 2002 é reflexo do Art. 2.082 do Código Civil italiano de 1942, que dispõe:
“É empreendedor quem exerce profissionalmente uma atividade econômica
organizada para o fim da produção ou da troca de bens e serviços” (TEIXEIRA,
2014, p. 45). Portanto, podemos assinalar que, inclusive a Constituição Federal
protege o empresário e sua empresa, contudo, ele deverá respeitar a legislação
vigente a respeito, principalmente no que tange ao registro, tendo em vista ser
uma atividade profissional e organizada.

“A Constituição Federal assegura, de forma inequívoca, proteção ao


empresário e à atividade empresarial, primeiramente por meio do disposto no Art.
5º, XIII: “É livre o exercício de qualquer trabalho, oficio ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer” (GOMES, 2013, p. 45).

O mesmo autor sintetiza: “[...] a atividade empresarial exige


profissionalidade, representada pelo registro de empresário, da empresa
individual de responsabilidade limitada e da sociedade empresária no Registro
de Empresas” (GOMES, 2013, p. 45).

ATENCAO

“[...] O empresário pode ser tanto uma pessoa física, como também uma pessoa
jurídica. Sendo uma pessoa física, o empresário é chamado de empresário individual; sendo
uma pessoa jurídica, o empresário pode ser tanto uma empresa individual de responsabilidade
limitada (EIRELI), como uma sociedade empresária” (COMETTI, 2013, p. 20).

Ao tratar de capacidade civil temos, segundo Teixeira (2014, p. 55),


“a capacidade civil ocorre quando a pessoa atinge a maioridade (18 anos) e a
sanidade mental (interpretação dos arts. 1º a 5º do CC”.

22
TÓPICO 2 | CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO

Assim, assinalamos que, em regra, para que possamos ser empresários,


temos que ter alcançado a maioridade plena, “[...] o mesmo Código estabelece em
seu art. 5º que a capacidade civil plena é adquirida, como regra geral, a parir dos
dezoito anos completos” (GOMES, 2013, p. 45).

ATENCAO

“[...] no caso de uma sociedade empresaria, sendo esta sempre uma pessoa
jurídica, quem exerce a atividade é a própria sociedade, e não os sócios que a integram, daí o
fato de não ser necessária a capacidade civil plena para tornar-se sócio, sendo-a exigida tão
somente para o exercício da administração social” (GOMES, 2013, p. 45).

Todavia, observando as citações referendadas acima sobre maioridade,


temos que existem exceções, vejamos:

“Uma exceção à maioridade, para efeitos de capacidade empresarial,


está prevista no art. 5º, inc. V, do Código Civil (quando trata das
hipóteses de emancipação), que apenas acontece quando menor, com
16 anos completos, tiver um estabelecimento comercial/empresarial,
com economia própria. Assim, a incapacidade do menor com 16
anos cessará, pois será emancipado em razão do seu estabelecimento
empresarial” (TEIXEIRA, 2014, p. 68).

E
IMPORTANT

“[...] se o menor tem autonomia econômica, o juiz deve reconhecer essa


autonomia para que uma situação de fato passe a ser de direito, devendo assim ser levado a
registro” (FERREIRA, 1962, p. 109-113, apud TEIXEIRA, 2014, p. 68).

Assim, apontamos que, mesmo menor, ele poderá ser empresário, tendo
em vista a sua emancipação e também em outras hipóteses:

[...] ou ainda: a) pela concessão dos pais, ou de um deles na falta


do outro, mediante instrumento público, independentemente de
homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se
o menor tiver dezesseis anos completos; b) pelo casamento; c) pelo
exercício de emprego público efetivo; d) pela colação de grau em curso
de ensino superior (GOMES, 2013, p. 45).

23
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Entretanto, havia uma preocupação em relação ao menor empresário


pertinente ao de se este viesse a praticar atos negociais e, que, porventura
prejudicasse terceiros. Neste sentido, o Código Civil estabeleceu que, se este
menor tivesse sido autorizado por quem de direito pudesse autorizar, os atos
deste menor seriam considerados.

Cuidar-se-ia aqui de incapacidade relativa (art. 4º do CC). Porém,


se exercer a empresa com autorização do progenitor que estiver no
exercício da guarda e do poder familiar, desde que provada por
escritura pública, responderá integralmente pelos atos praticados (art.
5º, parágrafo único, V, do CC), não podendo alegar, como se admitia
antes, o benefício da restituição (FRANCO, 2012, p. 69).

E, ainda continua a autora :

“Da mesma forma, a par disto, se dolosamente ocultou sua idade,


declarando-se maior, independentemente do fato de exercer ou não o comércio
com economia própria, será responsabilizado (Art. 180 do Código Civil apud
FRANCO, 2012, p. 69).

Neste sentido, temos que o menor poderá sim ser empresário, podendo
inclusive sofrer as sanções previstas na legislação empresarial, sendo responsável
por seus atos negociais, essa responsabilização ocorre tendo em vista ao Princípio
da Boa Fé contratual que menciona que os terceiros devem ser resguardados,
quando estes forem terceiros de boa-fé.

DICAS

Vídeo: Capacidade e Impedimentos do Empresário. Disponível em: https://www.


youtube.com/watch?v=dU5lzGBDlaM.
Vídeo: Direito Empresarial 1/5. Empresário - Caracterização e Inscrição. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=PnTeggqAwX8.

3 IMPEDIMENTOS E INCAPACIDADE
Os impedidos de exercer atividade empresarial diferem dos impedimentos
civis, eis que uma pessoa poderá ser considerada plenamente capaz, mas não
pode atuar frente às atividades empresariais.

Vamos analisar quem são estas pessoas impedidas de exercer atividade


empresarial, embora plenamente capazes?

24
TÓPICO 2 | CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO

• falido não reabilitado;


• funcionário público;
• militar;
• devedor do INSS.

a) Falido não reabilitado: Lei nº 11.101/2005, Art. 102, caput, cc art. 181, § 1º
A decisão que decreta a falência já impossibilita o devedor de exercer
qualquer atividade empresarial.
Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005
Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e
da sociedade empresária.
Art. 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade
empresarial a partir da decretação da falência e até a sentença que extingue suas
obrigações, respeitado o disposto no § 1o do art. 181 desta Lei.
Parágrafo único. Findo o período de inabilitação, o falido poderá requerer
ao juiz da falência que proceda à respectiva anotação em seu registro.
Art. 181. São efeitos da condenação por crime previsto nesta Lei:
I - a inabilitação para o exercício de atividade empresarial;
II - o impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de
administração, diretoria ou gerência das sociedades sujeitas a esta Lei;
III - a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de negócio.
§ 1º Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença, e perdurarão até 5 (cinco) anos após a
extinção da punibilidade, podendo, contudo, cessar antes pela reabilitação penal.
§ 2º Transitada em julgado a sentença penal condenatória, será notificado
o Registro Público de Empresas para que tome as medidas necessárias para
impedir novo registro em nome dos inabilitados.

Esse impedimento refere-se ao fato de que devem ser resguardados


o patrimônio que o falido ainda tenha e que servirá para pagamento de suas
dívidas.

b) Funcionário Público: Lei nº 8.112/90, Art. 117, inc. X.


RJU - Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990
Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União,
das autarquias e das fundações públicas federais.
Art. 117 Ao servidor é proibido: (Vide Medida Provisória nº 2.225-45, de
4.9.2001)
X - participar de gerência ou administração de sociedade privada,
personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na qualidade de
acionista, cotista ou comanditário; (Redação dada pela Lei nº 11.784, de 2008.

Esse impedimento advém para coibir os “favorecimentos” que poderiam


ocorrer para a empresa deste funcionário público, em detrimento de outras
empresas, porém o funcionário público poderá ser sócio quotista, desde que não
exerça a administração da empresa.

25
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

“[...] o funcionário público pode até ser acionista ou cotista de uma


sociedade, mas não pode ser administrador (de sociedade com personalidade
jurídica ou não), bem como não pode exercer atividade empresarial como
empresário individual. Ou seja, não pode estar à frente do negócio” (TEIXEIRA,
2014, p. 70).

c) Militar: Código Penal Militar – Decreto-lei nº 1.001/69, Art. 204

CPM – Decreto-lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969


Art. 204 Comerciar o oficial da ativa, ou tomar parte na administração
ou gerência de sociedade comercial, ou dela ser sócio ou participar, exceto como
acionista ou cotista em sociedade anônima, ou por cotas de responsabilidade
limitada:
Pena – suspensão do exercício do posto, de seis meses a dois anos, ou
reforma.

Como podemos observar, caso um militar venha a exercer atividades


empresariais, o mesmo incorrerá em crime, respondendo pela legislação atinente
ao caso.

d) Devedor do INSS: Lei nº 8.212/91, Art. 95, § 2º, alínea d


LOSS - Lei nº 8.212 de 24 de Julho de 1991
Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de
Custeio, e dá outras providências.
Art. 95. Caput. Revogado. (Redação dada pela Lei nº 9.983, de 2000).
[...]
§ 2º A empresa que transgredir as normas desta Lei, além das outras
sanções previstas, sujeitar-se-á, nas condições em que dispuser o regulamento:
[...]

e) à interdição para o exercício do comércio, se for sociedade mercantil ou


comerciante individual.

Quanto aos devedores do INSS o impedimento ocorre na participação de


licitações, bem como o encerramento da atividade empresarial, de forma legal.

E
IMPORTANT

“Os estrangeiros podem exercer atividade empresarial, salvo nos casos


excepcionados pela Constituição Federal de 1988, que estabelece impedimentos. A
Constituição Federal, por exemplo, fixa impedimentos aos estrangeiros quanto à exploração
de recursos minerais (CF, Art. 176, § 1º) ou ser proprietário de empresa jornalística (CF, Art. 222).
(TEIXEIRA, 2014, p. 71).

26
TÓPICO 2 | CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO

3.1 INCAPACIDADE SUPERVENIENTE


A incapacidade abordada neste item refere-se àquela que, durante o
exercício da atividade empresarial, o empresário passa a ser incapaz.

Este empresário poderá continuar no exercício de suas funções


empresariais?

O empresário poderá continuar exercendo sim, suas atividades


empresariais, mesmo passando a ser incapaz, cumprindo determinados requisitos
legais, que se referem à sua representação.

Incapacidade superveniente do empresário (aquela que ocorre


posteriormente ao início da atividade, pois até então ele era capaz) não
impede a continuidade do exercício da empresa pelo agora incapaz.
Para tanto, é necessária uma autorização judicial com a nomeação
de um representante, no caso seus pais ou autor da herança (Código
Civil, Art. 974, caput) (TEIXEIRA, 2014, p. 71).

ATENCAO

“Quanto à incapacidade de sócio de uma sociedade empresária, a Junta


Comercial deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva
sócio incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os seguintes requisitos: o sócio
incapaz não pode exercer a administração da sociedade; o capital social deve ser totalmente
integralizado; e o sócio relativamente incapaz deve ser assistido, se absolutamente incapaz,
deve ser representado por seus representantes legais” (TEIXEIRA, 2014, p. 71).

Porém, importante mencionarmos que, caso o representante ou


assistente ficar impossibilitado de exercer a atividade empresarial para qual
foi designado, poderá nomear um gerente para lhe substituir, com a aprovação
judicial, sem que fique imune às suas responsabilidades, conforme Art. 975 CC,
caput. (TEIXEIRA, 2014).

4 NOME EMPRESARIAL
O nome de uma empresa é sua identificação social e para tanto, precisa ser
protegida, bem como, possui obrigações atinentes à sua atividade empresarial.

O empresário, seja pessoa física ou jurídica, tem um nome empresarial,


que é aquele com que se apresenta nas relações de fundo econômico.
Quando se trata de empresário individual, o nome empresarial pode
não coincidir com o civil; e, mesmo, quando coincidentes, têm o nome

27
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

civil e o empresarial naturezas diversas. A pessoa jurídica empresária,


por sua vez, não tem outro nome além do empresarial. O Código Civil
reconhece no nome, civil ou empresarial, a manifestação de um direito
da personalidade da pessoa física ou jurídica (Artigos. 16, 52 e 1.164)
(COELHO, 2013, p. 98).

E
IMPORTANT

“Como elemento de identificação do empresário, o nome empresarial não


se confunde com outros elementos identificadores que habitam o comércio e a empresa,
os quais têm, também, proteção jurídica, assim a marca, o nome de domínio e o título de
estabelecimento. Enquanto o nome empresarial identifica o sujeito que exerce a empresa,
o empresário, a marca identifica, direta ou indiretamente, produtos ou serviços, o nome de
domínio identifica a página na rede mundial de computadores e o título do estabelecimento,
o ponto” (COELHO, 2013, p. 98).

O nome empresarial é protegido pela legislação empresarial, sendo que o


mesmo deve ser único, não podendo haver duas ou mais empresas com o mesmo
nome. Ademais, o nome identifica o tipo societário e o objeto social da empresa.
“[...] é considerado crime de concorrência desleal usar indevidamente nome
empresarial alheio (Lei nº 9.279/96, art. 195, inc. V)” (TEIXEIRA, 2014, p. 83).

E, ainda, para complementar: “[...] o nome empresarial não pode ser igual
a outro já inscrito (CC, art. 1.163). Nos casos em que isso acontecer, será necessário
realizar alguma alteração para se obter distinção” (TEIXEIRA, 2014, p. 83).

ATENCAO

“Pela regra geral, a proteção ao nome empresarial é válida no território do


Estado-membro em que foi registrado. Em casos excepcionais, previstos a legislação, a
proteção ao nome empresarial pode ter caráter nacional e, inclusive, internacional (CC, Art.
1.166 apud TEIXEIRA, 2014, p. 83).

Dessa forma, vamos analisar as espécies de nomes empresariais: firma e


denominação social.

28
TÓPICO 2 | CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO

4.1 FIRMA
A firma é constituída pelo nome civil do empresário individual ou pelo
nome dos sócios da empresa, ex.: João da Silva ME.

A firma tem por base o nome civil do empresário ou dos sócios da


sociedade; aí falar-se em razão social, pois dá a conhecer, ao menos
em parte, a composição societária. É o que ocorre com empresário,
que deverá adotar firma individual baseada no seu nome civil,
expressando uma razão empresarial. Também a firma social deverá
expressar a razão social: deve refletir a realidade da composição
societária, compondo-se do nome de um ou mais sócios responsáveis
pela sociedade, no todo ou em parte, hipótese que deverá constar
o patronímico (sobrenome). Trata-se do princípio da veracidade
(MAMEDE, 2013, p. 53).

Importante mencionarmos que o nome da pessoa física deverá constar na


inscrição, perante a Junta Comercial. E, ainda, a firma deverá ser utilizada por
sócios de responsabilidade ilimitada, sempre constando o nome de pelo menos
um deles.

4.2. DENOMINAÇÃO
A denominação é utilizada quando se quer identificar o objeto da empresa
em seu nome empresarial. Ex.: Macedônia Indústria de Calçados Ltda. “[...] a
denominação deve designar o objeto da empresa e pode adotar por base o nome
civil ou qualquer outra expressão linguística (que a doutrina costuma chamar de
elemento fantasia)” (COELHO, 2013, p. 99).

Dessa forma, verificamos que as funções da firma e denominação são


diferentes, eis que a firma é utilizada em casos de empresa individual ou nome de
dos sócios que compõem a empresa; já a denominação é utilizada para determinar
o objeto social da empresa.

DICAS

Vídeo: Nome Empresarial: Denominação e Firma Social.


Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RjyRLTBBBus.

Vídeo: Qual é a diferença entre Marca e Nome Empresarial?


Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RsHKrtRp8tY.

29
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

5 ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL
Como mencionamos e de acordo com o artigo 1.142 da Lei nº 10.406/02
da legislação empresarial, “Considera-se estabelecimento todo complexo de
bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade
empresária” (Código Civil Brasileiro, 2002, s.p.)

Importante mencionarmos que os bens são divididos em corpóreos/


materiais e incorpóreos/imateriais.

E
IMPORTANT

“[...] o estabelecimento é o instrumento para o empresário exercer sua atividade;


é a base física da empresa (mas pode ser virtual, ...). Normalmente, é o local onde os clientes
do empresário se dirigem para realizar negócios (TEIXEIRA, 2014, p. 77).

Os bens corpóreos ou materiais são os bens tangíveis, ou como a doutrina


menciona, corporificados. “Os bens materiais/corpóreos são aqueles que se
caracterizam por ocupar espaço no mundo exterior, por exemplo, as mercadorias,
as instalações, as máquinas, entre outros” (TEIXEIRA, 2014, p. 77).

Pertinente aos bens incorpóreos ou imateriais são os bens de natureza


abstrata, intangíveis.

“Os bens imateriais/incorpóreos são coisas que não ocupam lugar no


mundo exterior, sendo resultado da elaboração abstrata humana, como os
títulos dos estabelecimentos, as marcas, as patentes, os desenhos industriais etc.”
(TEIXEIRA, 2014, p. 77).

ATENCAO

“A empresa é uma atividade exercida pelo empresário. Para ele poder exercer sua
atividade, é necessário um estabelecimento em que estarão conjugados bens na intenção
de alcançar o lucro (mas pode-se dizer que, para o exercício de uma atividade intelectual,
também se requer um estabelecimento)” (TEIXEIRA, 2014, p. 77).

30
TÓPICO 2 | CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO

DICAS

Leia o artigo: Estabelecimento Empresarial, de autoria de Emerson Souza


Gomes. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_
artigos_leitura&artigo_id=5383.

6 REGISTRO EMPRESARIAL
Para que possamos considerar que uma empresa está atuando no mercado
devidamente, necessário que a mesma esteja registrada nos órgãos competentes,
dependendo do tipo societário.

Uma das obrigações elementares para o exercício da empresa é


o registro do empresário (pessoa natural, física) ou da sociedade
empresária (pessoa jurídica). Esse registro é regulado pelos artigos
967 a 970 do Código Civil e pela Lei nº 8.934, de 18 de novembro
de 1994, que disciplinam o chamado Registro Público de Empresas
Mercantis, que está a cargo das Juntas Comerciais que atuam sob a
supervisão, orientação e coordenação do Departamento Nacional do
Registro do Comércio (DNRC), órgão integrante do Ministério do
Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior, responsável pelo
controle e pelas normas do Sistema Nacional de Registro de Empresas
Mercantis (Sinrem) (MAMEDE, 2013, p. 8).

Para as empresas que possuem como objeto atividades eminentemente


empresariais, o registro é feito na Junta Comercial. Já as empresas que se dedicam
às atividades intelectuais, estas deverão ser registradas no Registro Civil de
Pessoas Jurídicas (TEIXEIRA, 2014).

Colacionamos o Art. 1150, do Código Civil:


O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público
de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade
simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer
às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar
um dos tipos de sociedade empresária (BRASIL, 2002, s.p.).

E
IMPORTANT

“Quanto ao prazo, para apresentação dos documentos para a realização do


registro deve ser feita em 30 dias a partir da assinatura do ato constitutivo, sob pena de
responsabilidade por perdas e danos” (C.C, art. 1.151, §§ 1º e 3º apud TEIXEIRA, 2014, p. 73).

31
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Compete às Juntas Comerciais, de acordo com o art. 8º, da Lei nº 8.934/94:

Art. 8º Às Juntas Comerciais incumbe:


I - executar os serviços previstos no art. 32 desta lei;
II - elaborar a tabela de preços de seus serviços, observadas as
normas legais pertinentes;
III - processar a habilitação e a nomeação dos tradutores públicos e
intérpretes comerciais;
IV - elaborar os respectivos Regimentos Internos e suas alterações, bem
como as resoluções de caráter administrativo necessárias ao fiel
cumprimento das normas legais, regulamentares e regimentais;
V - expedir carteiras de exercício profissional de pessoas legalmente
inscritas no Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades
Afins;
VI - o assentamento dos usos e práticas mercantis.
Art. 9º A estrutura básica das juntas comerciais será integrada pelos
seguintes órgãos:
I - a Presidência, como órgão diretivo e representativo;
II - o Plenário, como órgão deliberativo superior;
III - as Turmas, como órgãos deliberativos inferiores;
IV - a Secretaria-geral, como órgão administrativo;
V - a Procuradoria, como órgão de fiscalização e de consulta jurídica.
§ 1º As juntas comerciais poderão ter uma assessoria técnica, com a
competência de preparar e relatar os documentos a serem submetidos
à sua deliberação, cujos membros deverão ser bacharéis em Direito,
Economistas, Contadores ou Administradores.
§ 2º As juntas comerciais, por seu plenário, poderão resolver pela
criação de delegacias, órgãos locais do registro do comércio, nos
termos da legislação estadual respectiva (BRASIL, 1994, s.p.).

Neste sentido, compete ao DNRC, fiscalizar, supervisionar, estabelecer


normas, solucionar dúvidas, atuando Junto às Juntas Comerciais (TEIXEIRA,
74). Outrossim, referente ao Registro Civil de Pessoas Jurídicas, este possui seu
embasamento legal na Lei nº 6.015/73.

Art. 114 Lei nº 6.015/73: No Registro Civil de Pessoas Jurídicas serão


inscritos:
I - os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das
sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias,
bem como o das fundações e das associações de utilidade pública;
II - as sociedades civis que revestirem as formas estabelecidas nas leis
comerciais, salvo as anônimas.
III - os atos constitutivos e os estatutos dos partidos políticos. (Incluído
pela Lei nº 9.096, de 1995).
Parágrafo único. No mesmo cartório será feito o registro dos jornais,
periódicos, oficinas impressoras, empresas de radiodifusão e agências
de notícias a que se refere o art. 8º da Lei nº 5.250, de 9-2-1967 (BRASIL,
1973, s.p.)

32
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• NOME EMPRESARIAL é o nome protegido por lei, é o nome sob o qual a


empresa mercantil exerce sua atividade e se obriga nos atos a ela pertinentes,
compreendendo os seguintes tipos:

° Firma ou razão social;


° Denominação social.

Serve também para identificar o tipo jurídico da empresa.


 
• Para formar o nome empresarial, a sociedade por cotas de responsabilidade
limitada  poderá  adotar  RAZÃO SOCIAL  ou  DENOMINAÇÃO
SOCIAL, sempre seguidas, qualquer delas, da expressão "limitada', por extenso
ou abreviadamente.

• A RAZÃO SOCIAL é constituída pelo nome civil completo ou abreviado de


um, de alguns – nesses casos acrescida a expressão "e companhia" ou "e Cia.",
para indicar a existência de outros sócios –,  ou de todos os sócios, além da
palavra "limitada", por extenso ou abreviada.

• A DENOMINAÇÃO SOCIAL é formada por  expressões de fantasia


incomuns  (termos criados) e/ou por palavras de uso comum ou
vulgar  livremente escolhidas pelo sócios, seguidas da palavra "limitada",
abreviada ou por extenso. Omitida a palavra "limitada", os sócios passam a
responder ilimitadamente pela empresa.

33
AUTOATIVIDADE

1 Quanto ao direito de empresa, assinale a alternativa correta:

a) ( ) A obrigatoriedade de inscrição do empresário no Registro Público de


Empresas Mercantis da respectiva sede só se torna efetiva após o início
de sua atividade.
b) ( ) A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao
pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes.
Está excluído de tais benefícios o empresário rural.
c) ( ) Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
serviços.
d) ( ) Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros,
ainda que tenham se casado no regime da comunhão universal de bens,
ou no da separação obrigatória.

2 Assinale a alternativa correta no que se refere ao estabelecimento


empresarial:

a) ( ) É definido como o local em que o empresário exerce seu comércio.


b) ( ) É sinônimo de fundo de comércio e se caracteriza como conjunto de
bens de que se utiliza o empresário para exercer sua atividade.
c) ( ) É integrado por bens corpóreos e incorpóreos do patrimônio da empresa
e de seus sócios;
d) ( ) Goza de proteção nacional, uma vez registrado no Instituto Nacional
da Propriedade Intelectual.
e) ( ) É pessoa jurídica de direito privado, distinta da pessoa do comerciante
individual.

34
UNIDADE 1
TÓPICO 3

SOCIEDADE

1 INTRODUÇÃO

No presente tópico iremos analisar os tipos societários em si: suas


semelhanças e diferenças.

As sociedades diferem-se em relação às atividades e sua forma de


constituição.

A sociedade simples é a pessoa jurídica que realiza atividade


intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda que
com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício
da profissão constituir elemento de empresa (§ único do artigo 966).
Exemplo típico de sociedade econômica não-empresária é aquela
constituída por profissionais do mesmo ramo como, por exemplo, a dos
advogados, médicos ou engenheiros, configurando-se como sociedade
simples (artigos 966 e 981) cujo contrato social é inscrito no Registro
Civil das Pessoas Jurídicas, salvo quando se tratar de sociedade de
advogados que se inscreve apenas na OAB (artigo 16 da Lei 8.906/94).

E, ainda:

Cabe salientar que, nos termos do artigo 983, as sociedades simples, assim
como as sociedades empresárias, poderão ser constituídas sob qualquer tipo
societário (nome coletivo, comandita, limitada).

No mesmo sentido, iremos analisar a forma como ocorre a desconsideração


da personalidade jurídica de tais sociedades, com embasamento nas teorias,
maior e menor, inclusive de forma inversa.

Por fim, iremos tratar a respeito da dissolução dos tipos societários frente
ao Princípio da Preservação da Empresa.

35
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

2 HISTÓRICO
Mas, afinal, o que é sociedade perante a legislação empresarial atual?

Incialmente, faremos um breve apanhado histórico para entendermos


as alterações trazidas pela legislação, comercial e empresarial. Temos que todos
somos livres para nos “associarmos” a outrem para constituir uma “sociedade”,
dentro dos limites legais, obviamente.

Entre nós vige o princípio da livre iniciativa: estamos livres para


ações econômicas e jurídicas, respeitando os limites entre o que a lei
proíbe (o que não se deve fazer) e o que a lei determina (o que se
deve fazer). Assim, cotidianamente, estabelecemos relações jurídicas,
designadamente contratos, constituindo vínculos jurídicos para com
os quais estamos obrigados (MAMEDE, 2013, p. 30).

Mas será que foi sempre assim? Havia esse respeito ao Princípio da Livre
Iniciativa? É o que veremos.

Historicamente, em Roma, quando o “pater familias” (pai: dono da família)


falecia, não havia divisão de bens, mas os herdeiros reuniam-se para cuidar
daqueles bens deixados.

[...] os primeiros documentos que tratam de sociedades podem ser


encontrados na Antiguidade, sobretudo no direito romano, em que a
morte do pater famílias não ocasionava necessariamente a divisão de
seus bens entre seus herdeiros. Pelo contrário, os herdeiros se uniam e,
em conjunto, passavam a administrar e explorar os bens do de cujus.
Criavam, assim, a societas fratrum, que unia os herdeiros do pater
famílias na exploração de seus bens, mas sem que esse contrato desse
origem a uma pessoa jurídica. A societas romana vinculava somente
seus sócios, não produzindo efeitos perante terceiros (COMETTI,
2013, p. 62).

DICAS

Pater Familias: “Primitivamente, a vida familiar é dominada pela onipotência do


pai que se exerce legalmente sobre os escravos da casa, e também sobre a mulher e os
filhos. O pater familias pode, a seu bel-prazer, reconhecer os filhos que a mulher lhe dá (neste
caso, no momento do nascimento, pega na criança e levanta-a num gesto que lhe confere
legitimidade), ou expô-los fora de casa, abandonando-os a quem os queira, o que, na prática,
equivalia a condená-los à morte ou, quando muito, à escravatura”. (Civilização romana/
Paterfamilias. Saiba mais, acessando: https://pt.wikibooks.org/wiki/Civiliza%C3%A7%C3%A3o_
romana/Paterfamilias.

36
TÓPICO 3 | SOCIEDADE

A societas, formada pelos herdeiros de cujus, em romana, não era uma


sociedade como conhecemos atualmente, mas era uma forma organizada de
“comunhão” ou “copropriedade”.

Importante mencionar que a societas não possuía personalidade jurídica,


por esse motivo, os sócios contratavam terceiros independentemente, sem que a
responsabilidade por tais contratos fosse da sociedade. Até porque esse somente
obrigava a esses sócios.

A doutrina situa sua origem no consortium ercto non cito (forma de


copropriedade comum indivisa) e em experiências associativas ligadas
à práxis das relações internacionais da iurisdictio peregrina (século II
a.C.) mediante recurso à iudicia bona fidei. Elemente essencial era
a fraternitas, resultante do vínculo familiar. [...] este era “o consorcio
que se instalava entre os herdeiros quando o pai falecia intestato e se
apresentava como uma legitima natural sociedade (Gaio) (FRANCO,
2012, p. 178).

Era uma “sociedade” baseada em colaboração, cooperação em busca de


um fim comum: cuidar dos bens de cujus, sem grandes investimentos. Poderiam
comprar ou alienar bens, mas, em caso de compra, estes eram mantidos para
todos, em copropriedade.

Entretanto, com o passar dos anos, tal sociedade foi perdendo o sentido,
pois já havia a necessidade de dividir aquele bem em quotas partes, para que
também, cada um de seus herdeiros pudesse administrar sua parte, visando
sempre a um bem comum. O foco não é mais o vínculo natural familiar, mas a
affectio societatis.

Por fim, de suma importância sabermos que a primeira sociedade regular


criada foi a sociedade anônima, que efetivamente, possuía e ainda possui
personalidade jurídica. Ocorreu na Inglaterra, século XVIII, para empreendimentos
de vulto (exploração de petróleo e a criação de ferrovias) (TEIXEIRA, 2014).

3 CONCEITO
Vamos analisar o conceito de sociedade? Podemos afirmar que sociedade
nada mais é que uma união entre pessoas através de uma relação contratual,
formando assim, um ente que possui personalidade jurídica, que é capaz de
contratar com terceiros, sendo que traz uma demanda de responsabilidades
e direitos. “Sociedade é um ente que tem natureza contratual, ou seja, é um
contrato” (TEIXEIRA, 2014, p. 224).

Vamos distinguir pessoa física e jurídica, inicialmente:

37
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Pessoa física ou natural: sinteticamente, é o ser humano, detentor de


direitos e deveres (personalidade jurídica). “Art. 2o Código Civil: A personalidade
civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro”.

Pessoa jurídica: denominada de pessoa moral ou coletiva (MONTEIRO


apud GARCIA, 2015, p. 82). Esta pessoa também possui direitos e deveres, por ser
imbuído de personalidade jurídica.

As pessoas jurídicas surgem com esse desiderato, de conjugação


de esforços para realizar objetivos inatingíveis individualmente,
decorrendo, ainda, da tendência natural do ser humano para o
convívio em sociedade. Podem ser entendidas como entes formados
para a realização de certos fins, sendo reconhecidas pelo ordenamento
jurídico como sujeitos de direito (GARCIA, 2015, p. 82).

E
IMPORTANT

“[...] as pessoas jurídicas podem ser de direito pulico (interno e externo, por
ex., União, Estados, Municípios, Autarquias, ONU etc.) e de direito privado (associações,
fundações, partidos políticos entidades religiosas, empresas individuais de responsabilidade
limitada, sociedades) (TEIXEIRA, 2014, p. 224).

E, pertinente ao contrato, este é um acordo de vontades entre duas ou


mais pessoas (físicas ou jurídicas), com o objetivo de constituir uma relação
jurídica. “Contrato significa o acordo (ato) de duas ou mais partes para constituir,
regular ou extinguir entre elas uma relação jurídica de direito patrimonial”
(TEIXEIRA, 2014, p. 225). E, ainda, de acordo com o art. 981 do Código Civil: “Art.
981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam
a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a
partilha, entre si, dos resultados”.

ATENCAO

“[...] quando trata da partilha dos resultados, está se referindo aos resultados
decorrentes da exploração da atividade econômica. Esses resultados podem ser lucros ou
prejuízos” (TEIXEIRA, 2014, p. 225).

38
TÓPICO 3 | SOCIEDADE

Dessa forma, podemos sintetizar que o contrato possui por finalidade


auferir lucros entre os sócios que se obrigam perante o mesmo, para isso, as partes
desenvolvem atividades específicas, devendo sempre ter um condão licito, para
que possa ser um objeto aceito juridicamente.

4 CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES


Neste tópico iremos analisar os tipos societários, como são formados, seus
atos constitutivos, o comportamento dos sócios dessas sociedades, a divisão de
suas cotas, nas sociedades:

• sociedades em comum;
• sociedades em conta de participação;
• sociedades simples empresárias;
• sociedade em nome coletivo;
• sociedade em comandita simples;
• sociedades Limitadas;
• sociedades por ações.

Vamos aprimorar nossos conhecimentos obtidos até aqui?

TABELA 1 - ESQUEMA DE DIVISÃO DE SOCIEDADES

Contrato de Sociedade (em sentido estrito)


Sem personalidade jurídica Sociedade em Comum
Sociedade em Conta de Participação

Sociedade Simples (em sentido estrito)


Sociedade em Nome Coletivo
Sociedade Simples Sociedade em Comandita Simples
Sociedade Limitada
Sociedade Cooperativa
Sociedade
Personificada

Sociedade em Nome Coletivo


Sociedade em Comandita Simples
Sociedade Empresária Sociedade Limitada
Sociedade Anônima
Sociedade em Comandita por Ações

FONTE: Mamede (2013, p. 40)

39
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

5 SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS


As sociedades não personificadas são as sociedades que não possuem
personalidade jurídica, tendo em vista que não foram registradas nos órgãos
competentes. São elas: Sociedades em Comum e Sociedades em Conta de
Participação.

5.1 SOCIEDADE EM COMUM


A Sociedade em comum refere-se ao início dos trâmites para que uma
sociedade possa ser constituída, ou seja, é o período em que oficialmente, ainda
não há sociedade (não possui registro, portanto, sem personalidade jurídica), mas
que já há intenção das partes em formar uma sociedade.

A sociedade em comum foi pensada pelo legislador como um


momento anterior à personificação da sociedade, pois, logo no início
da norma, usa uma oração subordinada: enquanto não inscritos os atos
constitutivos (artigo 986 do Código Civil). Portanto a aplicação dos
artigos 986 e 990 aos contratos de sociedade que foram ajustados para
existirem sem personificação, isto é, quando os contratantes não têm
intenção imediata ou remota de constituírem pessoa jurídica, exige
alguma cautela, evitando enganos: trata-se da interpretação analógica
e extensiva, fora da situação especifica que foi visada pelo legislador
(MAMEDE, 2013, p. 32).

E
IMPORTANT

“A contratação da sociedade antecede o registro. Desde quando as partes


ajustaram entre si que irão constituir uma pessoa jurídica para explorar uma atividade
negocial, já há um contrato de sociedade: a sociedade em comum” (MAMEDE, 2013, p. 32).

Dessa forma, temos que a sociedade em comum é a fase inicial do acordo


de vontades entre as partes em querer efetivamente constituir uma sociedade,
devidamente registrada nos órgãos competentes.

40
TÓPICO 3 | SOCIEDADE

NOTA

ESQUEMA DE ESTUDO:

SOCIEDADE EM COMUM: enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a


sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto nestas regras, observadas,
subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples.

PROVA: Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar
a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo.

PATRIMÔNIO: Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios


são titulares em comum.

BENS SOCIAIS: Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer
dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o
terceiro que o conheça ou deva conhecer.

RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS: Na sociedade em comum, todos os sócios respondem


solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto
no Art. 1.024 do Código Civil, aquele que contratou pela sociedade.
Base: artigos 986 a 990 do Código Civil. Disponível em: <http://www.normaslegais.com.br/
guia/sociedade-em-comum.htm>. Acesso em: 25 fev. 2019.

5.2 SOCIEDADE EM COMUM (IRREGULAR OU DE FATO)


A partir do Art. 986 o Código Civil de 2002 passa a tratar, com outra
denominação, da sociedade de fato ou sociedade irregular.

A questão terminológica não é totalmente tranquila, e talvez daí tenha


vindo à preferência do legislador pelo termo sociedade em comum. Primeiro,
poderíamos indagar o porquê de se falar em sociedades de fato e não em
associações de fato. Será que também essas figuras sem personalidade, por falta
de registro, não seriam irregulares ou de fato? Claro que sim. Vale dizer: a rigor,
o termo sociedade aqui não é usado de forma técnica, e sim em seu sentido mais
amplo ou genérico.

Ainda na mesma seara, há quem diferencie as sociedades de fato, nas


quais não há contrato social, dos irregulares, onde existem os contratos, mas não
o registro.

A distinção, porém, é despicienda. Mesmo sem contrato social pode haver


uma reunião de pessoas trabalhando para a consecução de objetivos lícitos. Logo,
o fator realmente importante para separar os dois momentos cruciais na existência
desses entes é o registro. Sem ele, não há personalidade jurídica.

41
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Embora a existência jurídica não esteja plenamente reconhecida, a


existência fática pode ser facilmente demonstrada pelos terceiros que se
relacionarem com esses entes. Através de qualquer meio de prova – qualquer
documento, ou mesmo por intermédio de testemunhas – o interessado poderá
demonstrar a existência da sociedade em comum. Já para os sócios, nas relações
internas e externas, a única prova admitida para o mesmo fim é a escrita (de
acordo com o Art. 987).

A partir daqui, começamos a perceber que a lei não só reconhece a existência


fática das sociedades em comum como pressupõe que elas irão se relacionar com
terceiros, ou mesmo que haverá relações humanas – entre os sócios – em seu
seio. Interessante, pois, avaliar qual o significado da já proclamada ausência de
personalidade jurídica.

Com a revitalização do termo personalidade pelo NCC, inclusive com o


destaque dos direitos da personalidade no Capítulo II do Código Civil, referente
às pessoas naturais, a palavra precisa ser corretamente dimensionada em cada
um de seus sentidos.

Tradicionalmente, personalidade jurídica vem sendo entendida como


a aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. Para guardar similitude
com o novo texto do art. 1º, melhor seria falar de uma possibilidade genérica
de adquirir direitos e contrair deveres. Afinal, o termo obrigação tecnicamente
é mais bem empregado com o significado de relação, nexo ou liame.
Enfim, ter personalidade significa, resumidamente, poder ser sujeito de direitos;
figurar no polo ativo ou passivo de uma relação obrigacional..

Noutro aspecto, entretanto, a personalidade está intimamente relacionada


ao Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana (art. 1º, III, da CF),
é que irão surgir os direitos da personalidade, ligados diretamente às pessoas
naturais. Dentro desse segundo contexto é que o NCC inseriu o art. 52, mandando
aplicar às pessoas jurídicas, no que couber, as normas protetivas do direito da
personalidade.

Traçadas as duas vertentes principais atinentes ao sentido de personalidade


jurídica, é de se perguntar se em algum dos dois aspectos as sociedades de
fato são efetivamente atingidas por não terem registro. Ou, para esmiuçar
o questionamento: as sociedades de fato são sujeitas de direitos e deveres?
Podem gozar da proteção dada às pessoas jurídicas no tocante aos direitos de
personalidade?

Para procurarmos responder a essas perguntas é necessária uma incursão


no terreno da responsabilidade civil e mesmo no direito processual. Vejamos.

42
TÓPICO 3 | SOCIEDADE

6 LEGITIMIDADE PASSIVA E RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS


Indubitavelmente, as sociedades comuns não personificadas possuem
responsabilidade perante terceiros. Isso quer se trate de responsabilidade
contratual ou de culpa aquiliana. Tal assertiva, até certo ponto óbvia, serve para
destacar que o fato de não ter personalidade jurídica não afeta a possibilidade de
as sociedades irregulares serem sujeitos de direito, ao menos no polo passivo. Em
outras letras, ninguém questiona que elas são capazes de deveres, na ordem civil.

Para afastar qualquer dúvida quanto à responsabilidade desses entes nas


relações consumeristas, a Lei nº 8.078/90, ao conceituar a figura do fornecedor,
também os incluiu na norma do “caput”, do art. 3º.

Responderá pelos ilícitos civis, e de forma objetiva nas relações de consumo,


o chamado patrimônio especial, a que faz menção o art. 988, do NCC. A correta
exegese do artigo é aquela que entende como patrimônio especial o formado
por uma “comunhão de interesses dos sócios, ou uma forma de propriedade
condominial no que se refere a este patrimônio, de tal forma que os sócios se
tornem proprietários condominiais de coisa comum”. Claro está, portanto, que
o termo especial não significa autônomo em relação aos bens dos sócios. Ainda
assim, temos a formação de uma universitas iuris, já que os bens em comum estão
agregados por força de lei e são compostos da parte ativa e também do passivo.

Cabe, a esta altura, indagar se a responsabilidade dos sócios seria, além


de ilimitada, subsidiária ou não. Invocava-se, como apoio legal a esta tese, o art.
350 do Código Comercial, que trazia norma semelhante à do art. 1.024 do NCC.

O art. 990, também do Código de 2002, faz referência à norma do 1.024, não
com a clareza que seria de se esperar. Pela atual redação, pode se dar a impressão
de que apenas o sócio que contratou com a sociedade está impedido de invocar
o benefício de ordem. Contudo, a parte inicial do art. 990 não deixa dúvida do
contrário, “na medida em que sendo solidária e ilimitada a responsabilidade de
todos os sócios, a todos os sócios deveria ser negado o benefício de ordem, e, não
somente o que tenha representado a sociedade na transação com terceiros”.

Desta feita, nada obstante a existência de um acervo de bens pertencente


à sociedade de fato, claro está que os sócios não podem exigir que sejam eles
excutidos antes de seus bens particulares. Afinal, não vigora aqui a distinção
patrimonial típica das pessoas jurídicas. E pela falta de diferenciação entre o
patrimônio particular dos sócios e o patrimônio especial, o fato é que todos os
sócios devem responder de forma solidária, inclusive com bens particulares.
Isso inclusive em nome dos princípios da socialidade e da boa-fé objetiva, que
nortearam toda a codificação.

A crítica – de lege ferenda – aqui consignada é no sentido de se excluir a


parte final da norma, a fim de eliminar qualquer confusão na sua exegese.

43
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

7 A CAPACIDADE DE SER TITULAR DE DIREITOS E DEVERES


DAS SOCIEDADES DE FATO E A QUESTÃO DA LEGITIMIDADE
PROCESSUAL ATIVA
Já deixamos firmada a possibilidade de as sociedades irregulares
contraírem deveres, uma das facetas da personalidade enquanto aptidão para ser
sujeito de relação jurídica.

Indaga-se, agora, se essas sociedades também podem figurar no polo


ativo de uma relação jurídica obrigacional, ou seja, como titulares de direitos
subjetivos, por exemplo, de um direito de crédito.

O questionamento aparece em função do § 2º, do art. 20, do Código de


1916, não repetido no Código de 2002. A norma da legislação antiga trazia uma
limitação ao exercício do direito de ação por parte das sociedades em comum e era
assim comentada: “não estando registrada, a sociedade não tem personalidade
jurídica, nem personalidade própria. E se não tem personalidade, como poderá
figurar em juízo para acionar seus membros ou terceiros? Não é possível”.

Ao aplicar o citado § 2º, estaríamos impedindo, por exemplo, que uma


sociedade irregular pudesse acionar um fornecedor que descumprisse a entrega
de determinado produto, ou um consumidor seu que não lhe pagasse.

A limitação não implicaria, de qualquer modo, a inexistência do direito


subjetivo material. Por uma questão lógica, se as sociedades de fato podem ser
sujeitos de relação jurídica, podem ocupar, em termos de relação obrigacional
– decorrente da lei ou do contrato – qualquer um dos dois polos. Não é aqui,
na definição de personalidade como aptidão de ser capaz de direitos e deveres,
que a ausência de personalidade repercute. Tanto assim que nunca se cogitou
na possibilidade de alguém retomar o que voluntariamente tivesse pago a uma
sociedade irregular.

O ponto em que a norma revogada verdadeiramente atingia as


sociedades em comum era naquele outrora previsto no art. 75 do Código de
1916, também não repetido no Código atual. Portanto, partindo da premissa de
que as sociedades de fato podiam ser titulares de direitos subjetivos, no caso
de violação destes seus direitos surgiria, logicamente, a pretensão. Entretanto,
por expressa vedação legal, elas estariam proibidas de obter a atuação do
poder jurisdicional para deduzir sua pretensão em juízo. Em resumo: a falta de
personalidade jurídica trazia uma limitação ao exercício do direito de ação, por
expressa determinação legal.

Com o Código de Processo Civil de 1973, a questão ganhou outro


contorno. Isso porque o seu art. 12, VII, fez referência à representação em juízo
das sociedades sem personalidade jurídica, tanto na forma passiva como na forma
ativa. Ora, tal dispositivo passou a contemplar de forma explícita a legitimidade
ativa daquela espécie de sociedade para atuar em juízo.

44
TÓPICO 3 | SOCIEDADE

O aparente conflito de normas já era, outrora, solucionado em favor da


legitimidade ativa:

O aludido art. 20 do Código Civil de 1916, hoje revogado, já não podia


prevalecer diante do disposto no supracitado art. 12, inciso VII, do
Código de Processo Civil, uma vez que ambos emanam de legislação
ordinária e a lei posterior revoga a anterior quando seja com ela
incompatível, conforme preceitua o art. 2º, § 1º, da Lei de Introdução
ao Código Civil (BRASIL, 2016).

Pois bem, com a revogação do § 2º, do art. 20 do Código de 1916, não


pode haver mais dúvida acerca da legitimidade ativa. Somente a lei pode limitar
algum direito. Mesmo para aqueles que entediam que a norma limitativa de
direito material havia subsistido em face da regra processual, hoje não existe mais
motivo para se sustentar a impossibilidade de as sociedades de fato acionarem
seus membros ou terceiros.

Afinal, como sujeitos de relação jurídica, embora não possuam


personalidade, são titulares de direitos e deveres e, até mesmo por deferência
constitucional (art. 5º, XXXV), têm o direito de invocar a proteção estatal quando
do surgimento de uma pretensão.

Consequentemente, se a pretensão surgir pela violação de um direito


de personalidade extensível às pessoas jurídicas – ofensa ao nome, v.g. – não
haverá óbice ao ajuizamento de ação embasada no art. 52, do NCC. Vale dizer: as
sociedades de fato também gozam, como as suas congêneres registradas, no que
couber de proteção aos direitos da personalidade.

8 SOCIEDADES EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO


A Sociedade em Conta de Participação, assim como a sociedade em
comum, também é um tipo societário que não possui personalidade jurídica,
exonerando-se de responsabilidade, perante terceiros, em seu próprio nome. São
pessoas que se unem para realizar um empreendimento comum.

Mas como é formada a Sociedade em Conta de Participação? Na


Sociedade em Conta de Participação existem dois tipos de sócios: ostensivo e
oculto (participante). O sócio ostensivo é quem efetivamente atua na sociedade,
respondendo ilimitadamente perante as obrigações contraídas com terceiros, isso
quer dizer, que seus bens respondem por quaisquer “danos” que esse tipo de
atividade produtiva vier a causar.

Pertinente aos sócios participantes, estes somente respondem de forma


limitada o ilimitadamente perante os sócios ostensivos, caso haja um acordo por
escrito entre eles, e não em relação aos terceiros. A responsabilidade do sócio
oculto ou participante é em relação ao sócio ostensivo.

45
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Outro ponto importante é que o contrato realizado entre sócio ostensivo


e oculto não será registrado na Junta Comercial, eis que para esse tipo societário
não há a caracterização de personalidade jurídica, contudo, as partes poderão
registrá-lo no Registro de Títulos e Documentos, será uma garantia para os
envolvidos.

E
IMPORTANT

“[...] a sociedade em conta de participação, disciplinada pelos


arts.991 a 996 do CC/2002, destaca-se por não apresentar
personalidade jurídica, traduzindo-se em uma típica “conta de
participação”, destinada à realização de determinada atividade
especifica a partir de recursos financeiros disponibilizados por
um ou mais sócios capitalistas” (GOMES, 2013, p. 99).

9 SOCIEDADES PERSONIFICADAS
As sociedades personificadas são as sociedades que possuem personalidade
jurídica, que advém do registro da sociedade nos órgãos responsáveis.

As sociedades personificadas dividem-se em sociedades simples e


empresarias. Vamos analisar cada uma?

DICAS

Assista ao vídeo: Sociedades personificadas. Disponível em: <https://www.


youtube.com/watch?v=mwl4_9GLDok>.

9.1 SOCIEDADES SIMPLES


A Sociedade Simples é o tipo societário que possui personalidade
jurídica, entretanto não exerce atividade empresarial. “A sociedade simples é
a espécie de sociedade personificada que explora sua atividade de modo não
empresarial, não se submetendo ao regime jurídico do direito empresarial”
(COMETTI, 2013, p. 76).

46
TÓPICO 3 | SOCIEDADE

9.1.1 Sociedades simples (em sentido estrito)


As sociedades simples em sentido estrito referem-se a um tipo societário
onde profissionais se “associam” para desenvolverem atividades intelectuais de
natureza cientifica, literária ou artística.

Nesse sentido conceitua o art. 966, § único do Código Civil (2002, s.p.):
“Art. 966 [...] Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de
auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento
de empresa”.

Assim, por não ter essa personalidade jurídica, também não possui o
direito de requerer a recuperação de empresas, prevista na legislação empresarial.

E
IMPORTANT

“O vocábulo “simples” tem o sentido de ser uma sociedade


menos complexa, haja vista seu objeto social estar relacionado
à atividade intelectual (artística literária ou cientifica), portanto,
negócios que envolveriam cifras menores. Isto é, seria um tipo
societário simplificado, o que não é uma verdade absoluta tendo
em vista que certas atividades intelectuais muitas vezes gozam
de ampla estrutura organizacional e/ou com inúmeros sócios,
como, por exemplo as sociedades de auditorias” (TEIXEIRA, 2014,
p. 244).

9.1.2 Cooperativas
Outro tipo de sociedade simples são as cooperativas. As cooperativas
visam satisfazer os interesses dos cooperados, os lucros são divididos entre os
cooperados, buscando sempre proporcionar vantagens econômicas aos mesmos.

Uma associação de pessoas que se organizam com o propósito de se


ajudarem mutuamente e que tem por finalidade a prestação de serviços
a seus associados, de tal modo que possibilite o exercício de atividade
econômica comum, que, na oferta de bens e serviços, minimize custos,
elimine o intermediário etc. (VERÇOSA apud FRANCO, 2012, p. 238).

E, ainda, o mesmo autor afirma: “As cooperativas não têm objeto econômico
próprio, pois são destinadas à viabilização das atividades de seus associados”,
podendo “prestar-se tanto ao interesse dos produtores como dos consumidores
(cooperativas de compra)” (VERÇOSA apud FRANCO, 2012, p. 238).

47
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

NOTA

ESQUEMA DE ESTUDO: COMO FUNCIONAM AS COOPERATIVAS?

Júlio César Zanluca

As Sociedades Cooperativas estão reguladas pela Lei Nº 5.764, de 16 de dezembro


de 1971, que definiu a Política Nacional de Cooperativismo e instituiu o regi­me jurídico das
Cooperativas.

Cooperativa é uma associação de pessoas com interesses comuns, economicamente


organizada de forma democrática, isto é, contan­do com a participação livre de todos e
respeitando direitos e deveres de cada um de seus cooperados, aos quais presta serviços,
sem fins lucrativos.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DA SOCIEDADE COOPERATIVA 


A Sociedade Cooperativa apresenta os seguintes traços característicos: 
1) É uma sociedade de pessoas.
2) O objetivo principal é a prestação de serviços.
3) Pode ter um número ilimitado de cooperados.
4) O controle é democrático: uma pessoa = um voto.
5) Nas assembleias, o “quórum” é baseado no número de cooperados.
6) Não é permitida a transferência das quotas-par­te a terceiros, estranhos à sociedade, ainda
que por herança.
7) Retorno proporcional ao valor das operações.
8) Não está sujeita à falência.
9) Constitui-se por intermédio da assembleia dos fundadores ou por instrumento público, e
seu atos constitutivos devem ser arquivados na Jun­ta Comercial e publicados.
10) Deve ostentar a expressão “cooperativa” em sua denominação, sendo vedado o uso da
expres­são “banco”.
11) Neutralidade política e não discriminação religiosa, social e racial.
12) Indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda que em caso de dissolução da
sociedade.

Saliente-se que a cooperativa existe com o intuito de prestar serviços a seus


associados, de tal forma que possibilite o exercício de uma atividade comum econômica,
sem que tenha ela fito de lucro.

FORMAÇÃO DO QUADRO SOCIAL E ASSOCIADOS 


O ingresso nas Cooperativas é livre a todos que desejarem utilizar os serviços
prestados pela mesma, desde que adiram aos propósitos sociais e preencham as condições
estabelecidas no estatuto (art. 29 da Lei nº 5.764/71).

CAPITAL SOCIAL 
O capital social será fixado em estatuto e dividido em quotas-parte que serão
integralizadas pelos associados, observado o seguinte: 
a) o valor das quotas-parte não poderá ser superior ao salário mínimo; 
b) o valor do capital é variável e pode ser consti­tuído com bens e serviços; 
c) nenhum associado poderá subscrever mais de 1/3 (um terço) do total das quotas-parte, salvo
nas sociedades em que a subscrição deva ser diretamente proporcional ao movimento
finan­
ceiro do cooperado ou ao quantitativo dos produtos a serem comercializados,
beneficiados ou transformados ou ainda, no caso de pessoas jurídicas de direito público
nas Cooperativas de eletrificação, irrigação e telecomunicação; 
d) as quotas-parte não podem ser transferidas a terceiros estranhos à sociedade, ainda que
por herança.

48
TÓPICO 3 | SOCIEDADE

DENOMINAÇÃO SOCIAL 
Neste tipo societário será sempre obrigatória a ado­ção da expressão “Cooperativa”
na denominação, sen­do vedada a utilização da expressão “Banco”.

ADMINISTRAÇÃO 
A Sociedade Cooperativa será administrada por uma diretoria ou conselho de
administração ou ainda outros órgãos necessários à administração previstos no esta­tuto,
composto exclusivamente de associados eleitos pela assembleia geral, com mandato nunca
superior a quatro anos sendo obrigatória a renovação de, no míni­mo, 1/3 do conselho de
administração.

FORMA CONSTITUTIVA 
A Sociedade Cooperativa constitui-se por deliberação da assembleia geral dos
fundadores, constantes da respectiva ata ou por instrumento público.

OBRIGATORIEDADE DE ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL 


As Normas Brasileiras de Contabilidade e a legislação determinam que a escrituração
contábil é obrigatória, para qualquer tipo de cooperativa. Portanto, mesmo uma pequena
cooperativa (por exemplo, uma cooperativa de pescadores), deve escriturar seu movimento
econômico e financeiro.

COOPERATIVA DE TRABALHO
Considera-se Cooperativa de Trabalho a sociedade constituída por trabalhadores para
o exercício de suas atividades laborativas ou profissionais com proveito comum, autonomia e
autogestão para obterem melhor qualificação, renda, situação socioeconômica e condições
gerais de trabalho. A regulamentação das Cooperativas de Trabalhos é determinada pela Lei
12.690/2012.

COOPERATIVAS SOCIAIS 
A Lei nº 9.867/1999 dispõe sobre a criação e o funcionamento de Cooperativas
Sociais, constituídas com a finalidade de inserir as pessoas em desvantagem no mercado
econômico, por meio do trabalho, fundamentadas no interesse geral da comunidade em
promover a pessoa humana e a integração social dos cidadãos.

COOPERATIVAS DE CRÉDITO 
As Cooperativas de Crédito têm por objetivo fomentar as atividades do cooperado
via assistência creditícia. É ato próprio de uma cooperativa de crédito a captação de recursos, a
realização de empréstimos aos cooperados bem como a efetivação de aplicações financeiras
no mercado, o que propicia melhores condições de financiamento aos associados.

TRIBUTAÇÃO
IRPJ
Os resultados (sobras) decorrentes dos atos cooperativos não são tributáveis pelo IRPJ,
conforme Lei 5.764/71, art. 3.

SOCIEDADES COOPERATIVAS DE CONSUMO – TRIBUTAÇÃO INTEGRAL DOS


RESULTADOS 
As Sociedades Cooperativas de consumo, que tenham por objeto a compra e
fornecimento de bens aos consumidores, sujeitam-se, a partir de 1998, às mesmas normas
de incidência dos impostos e contribuições de competência da União, aplicáveis às demais
pessoas jurídicas, mesmo que suas vendas sejam efetuadas integralmente a associados (art.
69 da Lei 9.532/97).

COOPERATIVAS DE CRÉDITO – OPÇÃO OBRIGATÓRIA PELO LUCRO REAL


As Cooperativas de Crédito, cuja atividade está sob controle do Banco Central do
Brasil, são obrigatoriamente tributadas pelo Lucro Real, conforme Lei 9.718/98, art. 14.

Disponível em: http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/cooperativas.htm.


Acesso em: 25 fev. 2019.

49
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

10 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS
As sociedades empresárias são as que exercem atividade empresarial, de
forma organizada, com fins lucrativos e profissionalismo.

A sociedade empresária, como espécie de sociedade personificada,


adquirirá personalidade jurídica com a inscrição de seus atos
constitutivos no Registro Público de Empresas Mercantis, isto é,
na Junta Comercial de sua respectiva sede. Para ser constituída, a
sociedade empresária deverá obrigatoriamente adotar um dos tipos
societários regulados pelo Código Civil, nos arts. 1039 a 1092, com
exceção da cooperativa (CC, art. 982, parágrafo único, apud COMETTI,
2013, p. 77).

ATENCAO

“[...] a sociedade será da espécie empresária sempre que explorar atividade com
profissionalismo, fins lucrativos e de modo organizado” (COMETTI, 2013, p. 77).

11 SOCIEDADE EM NOME COLETIVO


A Sociedade em Nome Coletivo está regulamentada no Código Civil,
nos artigos 1039 a 1044, entretanto, poderão ser regulamentadas também pelas
determinações legais das sociedades simples, na omissão dos artigos citados
acima. Importante mencionar que esse tipo societário é um tanto quanto raro em
nossa vida cotidiana.

Os sócios respondem de forma solidaria e ilimitada perante terceiros


com quem contratam, tangente às obrigações desse tipo societário. Outro ponto
importante é que a administração somente poderá ser exercida por sócios.

Pertinente ao nome empresarial, este será sempre vir acompanhado da


expressão “e companhia”, conforme artigo 1157, do Código Civil (2002, s.p.)

Art. 1.157. A sociedade em que houver sócios de responsabilidade


ilimitada operará sob firma, na qual somente os nomes daqueles
poderão figurar, bastando para formá-la aditar ao nome de um deles a
expressão "e companhia" ou sua abreviatura.
Parágrafo único. Ficam solidária e ilimitadamente responsáveis pelas
obrigações contraídas sob a firma social aqueles que, por seus nomes,
figurarem na firma da sociedade de que trata este artigo.

50
TÓPICO 3 | SOCIEDADE

E
IMPORTANT

Definição de Sociedade em Nome Coletivo

Sociedade em nome coletivo é aquela em que todos os sócios devem ser,


necessariamente, pessoas físicas e respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações
sociais, entretanto, poderão estipular limites de responsabilidade pelas obrigações sociais
entre si, mas que não terão qualquer eficácia perante credores.
A administração da sociedade cabe exclusivamente aos sócios, sendo vedada a
nomeação de terceiros para tal função.
A sociedade em nome coletivo deve adotar firma social, não sendo permitido o uso
de denominação social.

12 SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES


As sociedades em Comandita Simples estão regulamentadas nos artigos
1045 a 1051 do Código Civil, entretanto, em caso de lacuna nestes artigos, as
determinações a serem utilizadas deverão ser as mesmas da sociedade em nome
coletivo.

Neste tipo societário, os sócios ao divididos em duas categorias: sócio


comanditado e sócio comanditário. Mas qual a diferença entre eles?

Ao sócio comanditado caberá a responsabilidade subsidiaria, solidaria


e ilimitada. Já ao sócio comanditário, a sua responsabilidade será subsidiária,
limitada ao valor de suas quotas e solidaria. Podendo este ser pessoa física ou
jurídica, ao contrário do sócio comanditado que poderá ser somente pessoa física
(COMETTI, 2013).

De suma importância ressaltarmos que, quanto ao nome empresarial,


este deverá ser firma ou razão social, composto apenas pelo nome civil dos
sócios comanditários. “Artigo 1.047. Sem prejuízo da faculdade de participar das
deliberações da sociedade e de lhe fiscalizar as operações, não pode o comanditário
praticar qualquer ato de gestão, nem ter o nome na firma social, sob pena de ficar
sujeito às responsabilidades de sócio comanditado” (BRASIL, 2002, s.p.).

51
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

ATENCAO

Definição de Sociedade em Comandita Simples

Sociedade em comandita simples é aquela constituída por sócios que possuem


responsabilidade ilimitada e solidária pelas obrigações sociais e sócios que respondem apenas
pela integralização de suas respectivas cotas, sendo estes denominados de comanditários e
aqueles de comanditados.
A sociedade deve ser administrada por sócio comanditado. Na ausência de sócio
que detenha a qualidade de comanditado, os sócios comanditários deverão nomear um
administrador provisório, que não assumirá a condição de sócio, para realizar os atos de
administração, durante o prazo de cento e oitenta dias. O sócio comanditário que praticar
atos de gestão e fizer uso da firma social estará sujeito às responsabilidades de sócio
comanditário, ou seja, solidária e ilimitadamente.

13 SOCIEDADES LIMITADAS
A Sociedade Limitada é a mais comum em nosso cotidiano. Anterior a
alteração do Código \civil pela Lei nº 10.406, em 2002, esse tipo societário era
conhecido como: “Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada”,
conforme assim determinava o Decreto nº 3.708/19.

A expressão limitada nesse tipo societário refere-se ao fato de que os


sócios possuem responsabilidade perante terceiros, de forma limitada ao valor de
suas cotas, contudo, respondem de forma solidaria pela integralização do capital
social. Art. 1.052, do Código Civil: “Na sociedade limitada, a responsabilidade de
cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente
pela integralização do capital social”.

E
IMPORTANT

“Alguns situam a origem mais remota das sociedades limitadas


nas private companies do direito inglês, cuja origem data de
meados dos 1800 (a partir de 1844). A característica básica
destas companhias, reconhecidas como legais pelo Comapnies
Act de 1.900 e regulamentada em seguida pelo Companies Act
de 1.907 (em vigor a partir de 1908), a par de não terem aceso ao
mercado de capitais era a de não poderem ultrapassar o número
máximo de 50 (cinquenta) sócios. Porém, a modalidade nada
mais era que uma sociedade anônima fechada, faltando-lhe a
maleabilidade e a presença do affectio societatis, própria das
sociedades limitadas” (FRANCO, 2012, p. 245).

52
TÓPICO 3 | SOCIEDADE

14 SOCIEDADES POR AÇÕES


As sociedades por ações são classificadas em: Sociedade em Comandita
por Ações e Sociedades Anônimas.

Independentemente de seu objeto, as sociedades por ações são sempre


sociedades empresarias (art. 2º, § 1º, Lei 6.404/1976), sendo que tal
classificação decorre da força de lei, não havendo nenhum respaldo
quanto ao objeto social que possa ser invocado para amparar tal
sistemática. Assim, uma sociedade que tenha por objeto a prestação de
serviços (exceto as sociedades uni profissionais), desde que constituída
sob a forma de sociedade anônima, terá a natureza de sociedade
empresária, devendo, por conseguinte, seus atos constitutivos serem
arquivados na Junta Comercial (GOMES, 2013, p. 140).

ATENCAO

SOCIEDADE POR AÇÕES


Trata-se de sociedade empresária que existe nas espécies anônimas e comandita por
ações. Possui capital social dividido em ações, estando a responsabilidade de cada acionista
(sócio) limitada ao preço de emissão da ação. Possui legislação especial (Lei nº 6.404/76) que
trata de suas particularidades, como a constituição, requisitos, funcionamento etc.
Fundamentação:
• Artigo 982, parágrafo único, do Código Civil
• Lei nº 6.404/76
REFERÊNCIA: SANCHES, Alessandro. Prática jurídica empresarial. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2012.

15 SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES


A Sociedade em Comandita por Ações está prevista nos artigos 1090 à
1092 do Código Civil e na Lei nº 6.404/76, nos artigos 280 a 284.

Nesse tipo societário a responsabilidade do gerente (acionista diretor) é


ilimitada perante terceiros, tangente às obrigações assumidas pela sociedade.

Pertinente ao nome empresarial, o artigo 1.161 do Código Civil (BRASIL,


2002, s.p.) determina que esta sociedade poderá adotar firma ou denominação.
Sendo que em caso de firma, o nome civil será do diretor acionista: “Art. 1.161. A
sociedade em comandita por ações pode, em lugar de firma, adotar denominação
designativa do objeto social, aditada da expressão ‘comandita por ações". E, ainda:

53
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Art. 1.091, Código Civil: Somente o acionista tem qualidade para


administrar a sociedade e, como diretor, responde subsidiária e
ilimitadamente pelas obrigações da sociedade.
§ 1º Se houver mais de um diretor, serão solidariamente responsáveis,
depois de esgotados os bens sociais.
§ 2º Os diretores serão nomeados no ato constitutivo da sociedade, sem
limitação de tempo, e somente poderão ser destituídos por deliberação
de acionistas que representem no mínimo dois terços do capital social.
§ 3o O diretor destituído ou exonerado continua, durante dois anos,
responsável pelas obrigações sociais contraídas sob sua administração”.
Art. 1.092, Código Civil: Nos contratos bilaterais, nenhum dos
contraentes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o
implemento da do outro.
Se, depois de concluído o contrato sobrevier a uma das partes
contratantes diminuição em seu patrimônio, capaz de comprometer
ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a parte, a
quem incumbe fazer prestação em primeiro lugar, recusar-se a esta,
até que a outra satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de
satisfazê-la.
Parágrafo único. A parte lesada pelo inadimplemento pode requerer a
rescisão do contrato com perdas e danos (BRASIL, 2002, s.p.).

16 SOCIEDADES ANÔNIMAS
As sociedades anônimas são regulamentadas por lei própria, Lei nº
6.404/76, conhecida por Lei das S.A. Este tipo societário sempre será sociedade
empresária.

A sociedade anônima é sempre empresária, mesmo que seu objeto seja


atividade econômica civil (CC, art. 982, parágrafo único; LSA, art. 2º,
§ 1º). Uma companhia constituída só por dentistas para a prestação de
serviços de odontologia pelos próprios acionistas, embora tenha por
objeto uma atividade não empresarial (CC, art. 966, parágrafo único),
será empresária e estará sujeita ao regime jurídico-comercial, pela
só adoção do tipo societário, o que, salvo no caso das cooperativas,
não ocorre com as demais sociedades tipificadas em lei que podem,
em função da natureza de sua atividade, ser simples ou empresárias
(COELHO, 2013, p. 221).

E
IMPORTANT

“Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob denominação designativa do objeto


social, integrada pelas expressões "sociedade anônima" ou "companhia", por extenso ou
abreviadamente.
Parágrafo único. Pode constar da denominação o nome do fundador, acionista, ou pessoa
que haja concorrido para o bom êxito da formação da empresa” (BRASIL, 2002, s.p.).

54
TÓPICO 3 | SOCIEDADE

LEITURA COMPLEMENTAR

SOCIEDADES EMPRESÁRIAS

Angelo Mestriner

A  Sociedade Empresária  se caracteriza pela reunião de duas ou mais


pessoas para exercer uma atividade econômica. Estas pessoas podem ser
tanto  físicas  quanto  jurídicas. Fábio Ulhoa nos alerta quanto à utilização da
palavra “empresária”:
 
Sociedade empresária é a pessoa jurídica que explora uma empresa.
Atente-se que o adjetivo “empresária” conota ser a própria sociedade
(e não os seus sócios) a titular da atividade econômica. Não se trata,
com efeito, de sociedade empresarial, correspondente à sociedade de
empresários, mas da identificação da pessoa jurídica como o agente
econômico organizador da empresa. Essa sutiliza terminológica, na
verdade, justifica-se para o direito societário, em razão do princípio
da autonomia da pessoa jurídica, o seu mais importante fundamento.
Empresário, para todos os efeitos de direito, é a sociedade, e não
os seus sócios. É incorreto considerar os integrantes da sociedade
empresária como os titulares da empresa, porque essa qualidade é a
da pessoa jurídica, e não dos seus membros (CURSO DE DIREITO
EMPRESARIAL Vol. 2, 2010,  p. 23).
 
No Direito Empresarial, é importante observar que o termo empresa refere-
se à  atividade  e o termo  empresário  refere-se a própria sociedade. Nas palavras de
Fábio Ulhoa:
A pessoa jurídica empresária é cotidianamente denominada
"empresa", e os seus sócios são chamados "empresários". Em termos
técnicos, contudo, empresa é a atividade, e não a pessoa que a explora;
e empresário não é o sócio da sociedade empresarial, mas a própria
sociedade. É necessário, assim, acentuar, de modo enfático, que o
integrante de uma sociedade empresária (o sócio) não é empresário;
não está, por conseguinte, sujeito às normas que definem os direitos
e deveres do empresário Curso de Direito Comercial Vol. 1, 2006 (p.
62-63).
 
A caracterização da  pessoa do Empresário  está prevista no art. 966 do
Código Civil, que diz:

   Art. 966  -  Considera-se empresário quem exerce profissionalmen­te


atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou
de serviços.
 
A palavra  PROFISSIONALISMO e ORGANIZADO  do art. 966
merece nossa atenção, pois, para ser considerado empresário é obrigatório

55
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

haver profissionalismo, ou seja, deve haver a perda da pessoalidade e a inclusão


da habitualidade, pois, através dela, a atividade econômica é exercida de forma
reiterada, constante. Por exemplo, o fato de eu ter um carro e querer vendê-
lo, não faz de mim a  pessoa do Empresário, pois, não há habitualidade, nem
profissionalismo neste ato, diferentemente de uma loja especializada em vender
veículos usados, cuja principal função é vender carros no seu dia a dia, de forma
reiterada e profissional.

Já a palavra  organizada,  refere-se à Atividade Organizada, que para


o Direito Empresarial é aquela que conjuga  quatro fatores de produção,  a
saber: capital, mão de obra, insumos e tecnologia.

O capital refere-se ao patrimônio da empresa. Hoje uma sociedade sem a


formação do capital é inadmissível. A mão de obra caracteriza-se pela contratação
dos empregados, são estes profissionais que vão exercer a atividade diretamente.
Os insumos  são tudo aquilo que é necessário para um processo produtivo, ou
seja, tudo aquilo que eu emprego no exercício da atividade econômica para
produzir alguma coisa é insumo. A tecnologia refere-se ao empresário, pois ele
quem detém o monopólio das informações, os meios necessários para a produção
de um produto ou serviço.
 
A sociedade empresária constitui seus próprios direitos e obrigações, e
estes, diferem-se dos direitos e obrigações dos sócios. As sociedades empresárias
são sempre personalizadas, no entanto, isso não significa que o sócio sempre
responderá limitadamente, pois, em alguns casos, como por exemplo, a
sociedade empresária em  nome coletivo, os sócios respondem ilimitadamente
pelas obrigações sociais. Já na sociedade empresária Limitada ou de Sociedade
Anônima (SA), os sócios ou acionistas têm suas responsabilidades limitadas, salvo
em casos excepcionais (responsabilização tributária do administrador de uma
sociedade limitada). Então, se a sociedade empresária não pagar seus credores,
eles deverão entrar com uma ação judicial contra a Pessoa Jurídica, será o nome
dela que estará na petição inicial e dependendo do tipo de sociedade, os sócios
poderão responder de forma limitada ou ilimitada.
[...]
FONTE: <http://eueodireito.blogspot.com/2013/02/direito-empresarial-sociedade.html>. Acesso
em: 20 mar. 2019.

56
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Sociedade é um ente que tem natureza contratual, ou seja, é um contrato.

• A societas não possuíam personalidade jurídica, por esse motivo, os sócios


contratavam com terceiros independentemente, sem que a responsabilidade
por tais contratos fosse da sociedade.

• A finalidade deixa de ser aquela de gerir bens em regime de copropriedade,


sendo substituída por aquela de atingir um objetivo ou uma finalidade em
comum. O vínculo natural familiar “fraterno” dá lugar à affectio societatis,
resultante da vontade de colaboração na realização de um objetivo comum
(FRANCO, 2012, p. 179).

• “É um acordo de vontades entre duas ou mais pessoas (físicas ou jurídicas),


com o objetivo de constituir uma relação jurídica. “Contrato significa o acordo
(ato) de duas ou mais partes para constituir, regular ou extinguir entre elas
uma relação jurídica de direito patrimonial” (TEIXEIRA, 2014, p. 225).

57
AUTOATIVIDADE

1 É correto afirmar que nas sociedades limitadas:

a) ( ) A responsabilidade da sociedade é limitada ao valor total do capital


social.
b) ( ) Os sócios respondem solidariamente pelas dívidas da sociedade, ainda
que o capital social esteja integralizado.
c) ( ) A sociedade simples que adotar a forma de limitada será considerada
sociedade empresária.
d) ( ) A responsabilidade dos sócios é solidária e limitada ao valor das quotas
não integralizadas.
e) ( ) A responsabilidade dos sócios é solidaria e limitada ao valor que faltar
a ser integralizado no capital social.

2 Como surgiu a affectio societatis. Explique.

58
UNIDADE 2

LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a base constitucional, os conceitos e direitos básicos do


consumidor;

• analisar os princípios que norteiam a legislação consumerista, bem como


sua aplicação perante o Código de Defesa do Consumidor;

• adquirir uma visão geral a respeito dos temas: responsabilidade pelo


fato do produto e do serviço, responsabilidade por vício do produto e
do serviço, desconsideração da personalidade jurídica, práticas comer-
ciais e cláusulas abusivas, proteção comercial, contratos de adesão, oferta
e publicidade.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E


SERVIÇOS

TÓPICO 2 – PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA

TÓPICO 3 – RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA

TÓPICO 4 – DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

59
60
UNIDADE 2
TÓPICO 1

CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR,


PRODUTOS E SERVIÇOS

1 INTRODUÇÃO
Na presente Unidade 2 analisaremos os conceitos primordiais que
perfazem a legislação consumerista, tais como: consumidor, fornecedor, produto
e serviço. Serão apontadas a base constitucional que ensejou a promulgação do
Código de Defesa do Consumidor.

Salutar mencionar que o conceito de consumidor passou por inúmeras


mudanças através dos entendimentos legais e jurisprudenciais até a consolidação
no Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990.
Assim, haverá relação jurídica de consumo sempre que se puder identificar num
dos polos da relação ao consumidor, no outro, o fornecedor, ambos transacionado
produtos e serviços (NUNES, 2015).

No mesmo sentido, analisaremos os princípios que embasam a relação


consumerista, sendo os principais: dignidade, proteção à vida, saúde e segurança,
proteção e necessidade, transparência, harmonia, vulnerabilidade, liberdade
de escolha, intervenção do estado, boa-fé, igualdade nas contratações, dever
de informar, proteção contra publicidade enganosa ou abusiva, proibição de
práticas abusivas e cláusulas abusivas, princípio da conservação, modificação
de cláusulas que estabeleçam prestações desproporcionais, direito de revisão,
prevenção e reparação dos danos materiais e morais e, acesso à justiça.

Outro assunto importante a ser trabalhado nesta unidade é a respeito


da responsabilidade na legislação consumerista que, difere do entabulado pelo
Código Civil, eis que, em regra, a responsabilidade é objetiva, como será visto no
decorrer desta Unidade 2.

Outrossim, será abordada a desconsideração da personalidade jurídica,


que sofreu inovações perante o Código de Processo Civil, alterado em 2015, mas
que já vinha sendo este instituto aplicado pelo Código de Defesa do Consumidor,
desde sua promulgação, em 1990.

61
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

Por fim, serão analisadas as questões referentes às abusividades contratuais,


bem como os conceitos de oferta e publicidade e suas implicações legais.

Essas reflexões serão de suma importância para que possamos entender o


que preconiza o Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078, de 11 de setembro
de 1990.

2 DIFERENÇAS ENTRE OS SUJEITOS DA RELAÇÃO DE


CONSUMO
As relações de consumo são baseadas primordialmente no Princípio da
Boa Fé, principio que norteia todos os ramos do Direito. Analisa-se que as relações
de consumo têm o cunho profícuo de “circulação”, não somente de mercadorias,
mas também serviços disponibilizados neste grande mercado de consumo.

Para tanto, é importante que saibamos as diferenças e as ligações existentes


entre as pessoas que compõem as relações consumeristas, bem como, o que faz
com que tais relações existam, quais sejam: consumidor, fornecedor, produto e
serviço.

Passamos a estudar cada uma delas!

2.1 RELAÇÃO SOCIAL E RELAÇÃO JURÍDICA


O consumo em si, surge com força maior a partir da Revolução Industrial
do aço e do carvão, eis que, a população passa a migrar da zona rural para urbana.
E, sendo assim, residindo em centros urbanos maiores, as pessoas passam a ter
“mais necessidades materiais”, consequentemente, consumindo mais.

Salienta-se que, anteriormente a grande preocupação era o aspecto


quantitativo e, não qualitativo.

ATENCAO

“Ao vulnerável da relação apresentada cabe:


• aderir ao contrato previamente elaborado pelo fornecedor – contrato de adesão, ou
• adquirir produto confeccionado com material de origem e qualidade desconhecidas na
maioria das vezes” (BOLZAN, 2015, p. 31).

62
TÓPICO 1 | CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E SERVIÇOS

Importante observar que o Direito Civil, anterior à edição do Código


de Defesa do Consumidor não protegia o consumidor, eis que
suas diretrizes eram: autonomia das vontades, pacta sunt servanda
e responsabilidade subjetiva; entretanto, com o Código de Defesa
do Consumidor, tem-se como base: normas de ordem pública e
de interesse social, intervenção estatal e responsabilidade objetiva
(BOLZAN, 2015, p. 31).

2.2 RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO


Antes de iniciarmos nossos estudos pertinentes aos conceitos de
consumidor, fornecedor, produtos e serviços é de suma importância que saibamos
distinguir uma relação social e uma relação jurídica.

Tem-se que as relações sociais são as relações que não possuem implicações
jurídicas.

Para sua conceituação, parte-se da atividade social do homem.


Vivendo em sociedade, necessariamente nos relacionamentos com
nossos semelhantes, ensejando relações sociais. Muitas dessas relações
são de natureza afetiva, cultural, religiosa, recreativa, vale dizer,
sem relevância jurídica; outras, entretanto, têm natureza econômica,
familiar, funcional, pública, etc., exigindo, pela relevância social,
disciplina jurídica. As relações sociais reguladas pelo Direito tornam-
se relações jurídicas. [...] Podemos, então, conceituar relação jurídica
como toda relação social disciplinada pelo Direito. Preferem outros
defini-la como toda relação da vida social que produz consequências
jurídicas (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 57).

Portanto, uma relação social apenas se tornará jurídica quando


efetivamente gerar consequências jurídicas.

E, quanto às relações de consumo, como surgem?

As relações de consumo surgem a partir do momento em que os elementos


formadores de tal relação estiverem presentes, quais sejam: consumidor e
fornecedor (elementos subjetivos) visando a um objeto – aquisição de um produto
ou serviço (elementos objetivos).

Assim, salutar mencionar que “consumidor e fornecedor, além de


produto ou serviço, são conceitos relacionais e dependentes, ou seja, só existira
um consumidor se também existir um fornecedor, bem como um produto ou
serviço” (MIRAGEM, 2010, p. 84).

Dessa forma, tem-se que os elementos da relação de consumo concentram-


se nos sujeitos, ou seja, consumidor e fornecedor e; no objeto, quais sejam,
produtos e serviços. Colaciona-se o entendimento de Denari (1996, p. 189-190) a
respeito da elação jurídica de consumo

63
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

No polo ativo da relação jurídica de consumo figura o fornecedor,


assim entendido o operador econômico, pessoa física ou jurídica, que
participa do ciclo produtivo-distributivo, desenvolvendo atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação
de serviços (cf. art. 3º). No polo passivo da mesma relação se encontra
o consumidor, pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto
ou serviço como destinatário (cf. art. 2º).

TUROS
ESTUDOS FU

Iremos estudar, no decorrer deste livro didático, a respeito da desconsideração


da personalidade jurídica e suas implicações na legislação consumerista.

2.3 CONCEITO DE CONSUMIDOR


Até aqui analisamos os pilares que embasam a relação social, quando ela
passa a interessar o “mundo jurídico”, transformando-a em relação jurídica e, por
fim, como ocorre a relação de consumo.

Vejamos agora o que é consumidor para legislação. O Código de Defesa


do Consumidor define consumidor, em seu art. 2º.

Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou


utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas,
ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de
consumo.

Do conceito trazido pelo Código de Defesa do Consumidor temos que,


incialmente, destacar alguns pontos, tais como: o que seria destinatário final e
a diferença entre bens de consumo e bens de produção. E, por fim, quem são os
consumidores equiparados.

“Os bens de consumo são adquiridos para o consumo final e os bens de


produção integram a cadeia produtiva” (BOLZAN, 2015, p. 88). Assim, a legislação
consumerista protege somente os direitos dos consumidores os que adquirem
produtos ou utilizam serviços como destinatários finais, desde que sejam bens de
consumo. E, tratando-se de aquisições de bens de produção, a legislação aplicada
será o Código Civil.

64
TÓPICO 1 | CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E SERVIÇOS

ATENCAO

TEORIAS SOBRE O CONCEITO DE CONSUMIDOR


a) Teoria Finalista
Pela teoria Finalista, o destinatário final é todo aquele que utiliza o bem como
consumidor final fático e econômico.
Consumidor final fático é quem adquire bem ou serviço para o seu uso pessoal; o
aspecto econômico indica que o bem ou serviço adquirido não será utilizado em qualquer
finalidade produtiva, tendo o seu ciclo econômico encerrado na pessoa do adquirente.
Claudia Lima Marques e Antônio Herman V. Benjamim explicam a teoria finalista
definindo o conceito de “destinatário final” do art. 2º do CDC:
“O destinatário final é o consumidor final, o que retira o bem do mercado ao adquirir
ou simplesmente utilizá-lo (destinatário final fático), aquele que coloca um fim na cadeia
de produção (destinatário final econômico) e não aquele que utiliza o bem para continuar
a produzir, pois ele não é consumidor final, ele está transformando o bem, utilizando o
bem, incluindo o serviço contratado no seu, para oferecê-lo por sua vez ao seu cliente, seu
consumidor, utilizando-o no seu serviço de construção, nos seus cálculos do preço, como
insumo da sua produção.” (em, “comentários ao código de Defesa do Consumidor”, 2º Ed.,
São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 83/84).
Para os finalistas, consumidor seria apenas aquele que adquire o bem para utilizá-
lo em proveito próprio, satisfazendo uma necessidade pessoal e não para revenda ou então
para acrescentá-lo à cadeia de produção.
De tal modo, aquele que poderia ser considerado “fornecedor/produtor” pelo art.
3º do CDC, também poderia ser considerado “consumidor”, quando da relação jurídica
caracterizarem-se os elementos acima mencionados.
Neste prisma, o conceito de “vulnerabilidade” cravado na lei consumerista não se
aplica.
A crítica a esta definição se dá em relação ao modo de aplicação ao Código quando
o consumidor é pessoa jurídica.
Embora este efetivamente seja destinatário final, acabaríamos desconsiderando
o objetivo do lei consumerista, ou seja, a defesa da parte vulnerável, que se encontra em
patamar de desvantagem diante das relações do mercado de consumo.
A adoção da teoria finalista supõe entendimento que despreze o princípio de defesa
à parte vulnerável (art. 4º, I, CDC).
b) Teoria Maximalista
Pela teoria Maximalista, destinatário final é todo aquele consumidor que adquire o
produto para o seu uso, independente de destinação econômica conferida ao mesmo.
Tal teoria confere uma interpretação abrangente ao artigo 2º do CDC, podendo
o consumidor ser tanto uma pessoa física que adquire o bem para o uso pessoal, quanto
uma grande indústria, que pretende conferir ao bem desdobramentos econômicos, ou seja,
utilizá-lo nas suas atividades produtivas.
Com efeito, Jorge Alberto Quadros de Carvalho Silva ao tratar da corrente
maximalista, apresenta as seguintes considerações:
“Consumidor é quem adquire no mercado de consumo o produto ou serviço;
aquele em razão de quem é interrompida a cadeia de produção e circulação de certos bens
e serviços, para usufruir ele mesmo, ou terceiro a quem os ceda, das respectivas funções
– ainda que esses bens e serviços possam ser empregados, indiretamente, no exercício de
sua empresa ou profissão, isto é, ainda que venham a ser interligados, acessoriamente, à
sua atividade produtiva ou profissional, coletiva ou individual, voltada ou não para o lucro
(destinatário final fático)”.
Se comparada com a teoria anteriormente explicada, percebemos que a Maximalista
considera consumidor aquele que adquire produto ou serviço, ainda que sejam integrados
em sua cadeia produtiva.

65
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

Cláudia Lima Marques faz importantes exemplificações em sua obra sobre a


amplitude da teoria maximalista:
“A definição do art. 2º (CDC) deve ser interpretada o mais extensamente possível,
segundo esta corrente, para que as normas do CDC possam ser aplicadas a um número
cada vez maior de relações no mercado. Consideram que a definição do art. 2º é puramente
objetiva, não importando se a pessoa física ou jurídica tem ou não fim de lucro quando
adquire um produto ou utiliza um serviço. Destinatário final seria o destinatário fático do
produto, aquele que retira do mercado e o utiliza, o consome, por exemplo, a fábrica de
toalhas que compra algodão para transformar, a fábrica de celulose que compra carros para
o transporte de visitantes, o advogado que compra uma máquina de escrever para seu
escritório, ou mesmo o Estado quando adquire canetas para uso nas repartições e, é claro, a
dona de casa que adquire produtos alimentícios para a família”.
Neste trecho percebemos que para a autora, a interpretação do Artigo 2º do Código
de Defesa do Consumidor deve ser para entender consumidor final, entendido como quem
utiliza o produto adquirido para articulação dos seus meios de produção, seja qual for a
modalidade.
Entende-se que de tal modo haveria fim à cadeia de consumo daquele (bem ou
serviço adquirido), sendo que o surgimento de um novo não representa continuidade.
Ao que parece, a aquisição de produto para revenda no mercado de consumo é
única hipótese que desclassificaria o sujeito da relação jurídica como consumidor para fins
de aplicação da Lei aqui abordada.
Nesta interpretação desconsidera-se também o conceito de vulnerabilidade.
Atualmente há entendimento do STJ sobre quem é “Destinatário final fático” –
conhecido como Teoria Finalista Mitigada – e o acesso é possível pelo: (Resp. 476.428, 3ª
Turma e Resp. 660.026, 4ª Turma).

FONTE: GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor –


comentado pelos autores do anteprojeto. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011.

FIGURA 1 - ESTRUTURA DO CONCEITO DE CONSUMIDOR

Física

Pessoa

Jurídica

Consumidor

Adquire
* CORRENTES:
* Finalista Produto/Serviço
* Maximalista
Utiliza

FONTE: <http://twixar.me/0My1>. Acesso em: 8 mar. 2019.

66
TÓPICO 1 | CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E SERVIÇOS

E
IMPORTANT

CONSUMIDOR

Paulo Cesar Pinto

O Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 2º, define consumidor como toda pessoa
física ou jurídica que adquire produto ou utiliza serviço como destinatário final.
O que é ser destinatário final?
É a pessoa que adquire o produto para consumo próprio ou de sua família.
Neste sentido, está excluída a pessoa que adquire produto como insumo para implementar
em seu ramo de trabalho.
Exemplo 1 – “uma cabelereira que adquire um secador de cabelos para utilizar em seu salão
de belezas não é considerada consumidora, pois ela não é destinatária final, o destinatário
final será o cliente do salão, o secador não será para seu uso pessoal ou de sua família, mas
sim para ser utilizado como ferramenta de seu trabalho”.
Exemplo 2 – “uma cabelereira que tendo seu secador no salão de beleza, adquire outro
secador para seu uso pessoal ou de sua família, neste caso, como comprou o aparelho para
uso pessoal, ela é consumidora, porque é destinatária final”.

CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO

O Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 2º parágrafo único, artigo 17 e artigo 29,
prevê mais uma forma de consumidor, é o consumidor por equiparação.
Consumidor por equiparação é toda coletividade, ainda que indetermináveis, que haja
intervindo nas relações de consumo. Vamos exemplificar:
Exemplo 1 - “uma empresa de água não toma os cuidados necessários para garantir a
qualidade do produto, pondo em risco toda a coletividade”.
Não se sabe quantas pessoas foram atingidas, nem quem pode estar sendo lesado pela má
qualidade da água, assim mesmo toda essa coletividade está amparada pelo código.
Exemplo 2 – “uma empregada doméstica que ao ligar o liquidificador da patroa (que é a
consumidora) perde um dedo devido um acidente com o aparelho”.
A empregada neste caso também está protegida pelo CDC, pois, apesar de ter sido a patroa
quem adquiriu o liquidificador o defeito do produto a atingiu, tornando-a consumidora por
equiparação.
Exemplo 3 – “uma imobiliária de uma cidade litorânea anuncia pela imprensa a venda de um
loteamento cujos lotes ficam de frente para o mar, mas na realidade somente alguns poucos
lotes tem essa característica, pois os demais ficam de frente para um morro”.
Está claro que a imobiliária fez propaganda enganosa, assim, toda a coletividade é
consumidora por equiparação, pois o número de pessoas atingidas por essa publicidade
é indeterminável. Desta forma todos que ajuizarem ação contra a imobiliária estarão no
exercício de um legítimo direito por serem consumidores por equiparação.
Exemplo 4 – “uma pessoa compra maionese, faz uma salada e serve para alguns amigos. A
maionese estava estragada e todos passam mal”.
Todos os amigos são consumidores por equiparação, pois foram atingidos pelo defeito do
produto.
Exemplo 5 - “uma pessoa compra uma televisão e a dá de presente a um amigo, este amigo,
feliz da vida, recebe a televisão e a leva pra casa, porém ao ligar o aparelho este não funciona”.
Esse amigo que recebeu o aparelho de TV é consumidor por equiparação e pode pleitear
junto ao fornecedor providências para que conserte o aparelho ou o substitua.

FONTE: <https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/7852/Relacoes-de-consumo>. Acesso


em: 8 mar. 2019.

67
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

DICAS

LIVROS - Vamos ler um pouco mais sobre Direito do Consumidor!

3 CONCEITO DE FORNECEDOR
Consoante ao que estudamos até aqui, temos que o fornecedor é uma das
partes de suma importância na relação consumerista, eis que ele tem o condão de
compor tal relação. A análise que se faz para conceituarmos fornecedor, refere-se
à atividade que ele exerce dentro da relação consumerista.

O art. 3º do Código de Defesa do Consumidor, conceitua fornecedor como:

Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados,
que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.

No mesmo sentido, grandes doutrinadores conceituam fornecedor.


Miragem (2009, p. 98) preleciona:

68
TÓPICO 1 | CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E SERVIÇOS

Com relação ao elemento dinâmico da definição (desenvolvimento


de atividade), o CDC buscou relacionar ampla gama de ações, com
relação ao fornecimento de produtos e à prestação de serviços. Neste
sentido, é correto indicar que são os fornecedores, para os efeitos
do CDC, todos os membros da cadeia de fornecimento, o que será
relevante ao definir-se a extensão de seus deveres jurídicos, sobretudo
em matéria de responsabilidade civil.

E, ainda, Cavalieri Filho (2012, p. 73) menciona: “Fornecedor é gênero –


quer no que respeita ao sujeito em si (pessoa física e jurídica; pública ou privada;
nacional ou estrangeira), quer no que se refere às atividades que desenvolve – e
não por acaso”.

Da mesma forma, um ícone no Direito do Consumidor, Marques (2002,


p.103) aduz:

O art. 3º do CDC bem especifica que o sistema de proteção do


consumidor considera como fornecedores todos os que participam da
cadeia de fornecimento de produtos e da cadeia de fornecimento de
serviços [...], não importando sua relação direta ou indireta, contratual
e extracontratual, com o consumidor.

ATENCAO

Verifica-se, em suma, que o fornecedor é aquele que fornece produtos e presta


serviços a terceiros, sendo que nossos tribunais têm entendido que a finalidade de lucro está
intrínseca. Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI61403,61044-+consu
midor+e+o+fornecedor+no+Codigo+de+Defesa+do+Consumidor>. Acesso em: 8 mar. 2019.

Importante ressaltar que o profissional liberal pode ser considerado


fornecedor, eis que estão presentes os requisitos conceituais, quais sejam: pessoa
que atua com habitualidade e possui finalidade de lucro. Ex.: prestador de serviço
– encanador, eletricista etc.

Da mesma forma, o CDC especificou as pessoas jurídicas que podem ser


consideradas fornecedoras, isto é: pessoa jurídica privada, pessoa jurídica pública,
pessoa jurídica nacional, pessoa jurídica estrangeira e entes despersonalizados.

Com relação aos entes despersonalizados, são aquelas sociedades que não
possuem personalidade jurídica (pessoas jurídicas de fato), ou seja, aquelas que
não possuem seus atos constitutivos registrados no cartório oficial competente. A
lei não quis também afastar tais entidades, pois em não havendo personalidade

69
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

jurídica, em regra, estas não poderiam ser sujeitos de direitos nem obrigações e,
com isso, não poderiam ser demandadas em juízo no caso de futuros danos ao
consumidor. O CDC afastou esse problema incluindo-as no rol de fornecedor
(PORTAL DA EDUCAÇÃO, 20-?).

Assim, tem-se que, as pessoas físicas, desde eu sejam profissionais


liberais também podem ser consideradas fornecedoras, bem como os entes
despersonalizados, desde que estejam presentes os requisitos ensejadores desta
relação (consumidor – fornecedor), ou seja, habitualidade e finalidade de obtenção
de lucro. Além das pessoas jurídicas.

Por fim, não menos importante, temos que analisar a teoria criada por
Leonardo Roscoe Bessa referente ao fornecedor equiparado.

Segundo Bessa (2011, p. 1024), “o CDC ao lado do conceito genérico de


fornecedor (caput, art. 3º), indica e detalha, em outras passagens, atividades que
estão sujeitas ao CDC. Talvez, o melhor exemplo seja o relativo aos bancos de
dados e cadastros de consumidores (art. 43, CDC). E, exemplifica ainda, o mesmo
autor, o anunciante no caso é um fornecedor equiparado e está sujeito, portanto,
à disciplina do CDC”.

E, Marques (2010, p. 104) complementa definindo fornecedor equiparado


como

Aquele terceiro na relação de consumo, um terceiro apenas


intermediário ou ajudante da relação de consumo principal, mas que
atua frente a um consumidor (aquele que tem seus dados cadastrados
como mau pagador e não efetuou sequer uma compra) ou a um grupo
de consumidores (por exemplo, um grupo formado por uma relação
de consumo principal, como a de seguro de vida em grupo organizado
pelo empregador e pago por este), como se o fornecedor fosse
(comunica o registro no banco de dados, comunica que é estipulante
no seguro de vida em grupo etc.).

E
IMPORTANT

O STJ (Superior Tribunal de Justiça) discorda dessa teoria. Entende que o veículo
de comunicação que veicula publicidade enganosa ou abusiva e, nos termos da teoria em
comento, seria um exemplo de fornecedor equiparado, não vem sendo responsabilizado,
conforme entendimento expresso no REsp 1.157.228: “A responsabilidade pela qualidade
do produto ou serviço anunciado ao consumidor é do fornecedor respectivo, assim
conceituado nos termos do art. 3º da Lei n. 8.078/1990, não se estendendo à empresa de
comunicação que veicula a propaganda por meio de apresentador durante programa de
televisão, denominada ‘publicidade de palco’” (REsp. 1.157.228, Rel. Ministro Aldir Passarinho
Junior, 4ª T., DJe 27-4-2011).

70
TÓPICO 1 | CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E SERVIÇOS

4 CONCEITO DE PRODUTOS E SERVIÇOS


A relação jurídica de consumo é formada pelos elementos objetivo e
subjetivo. Sendo o elemento subjetivo formado pelo consumidor e fornecedor e;
o elemento objetivo, formado por produtos e serviços. “A ideia de produto está
ligada aos bens, resultado da produção no mercado de consumo das sociedades
capitalistas contemporâneas” (NUNES, 2015, p. 137).

O Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990) preleciona em seu


§1º, art. 3º que “Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial”.

Outros grandes autores conceituaram de forma ampla e clara o que é


produto e, por consequência, para elucidar melhor nosso estudo, devemos
citá-los.

Na visão de Filomeno (2010, p. 52), “produto (entenda-se ‘bens’) é qualquer


objeto de interesse em dada relação de consumo, e destinado a satisfazer uma
necessidade do adquirente, como destinatário final”. Para Cavalieri Filho (2011,
p. 74), “produto é utilizado em seu sentido econômico e universal, isto é, aquilo
que resulta do processo de produção ou fabricação”.

E, para complementar, Marques (2010, p. 100) define produto como


“qualquer bem, consumível fisicamente ou não, móvel ou imóvel, novo ou usado,
material ou imaterial, fungível ou infungível, principal ou acessório”.

ATENCAO

Produto gratuito ou amostra grátis

O recebimento, mesmo que autorizado da amostra grátis subordina o fornecedor


tal qual em uma relação de consumo, pois este é um dos casos em que surge a figura do
consumidor por equiparação, nos termos do art. 2º, parágrafo único, da citada lei: “Art. 2º […]
Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja
intervindo nas relações de consumo. ”
Logo, a relação que se estabelece com o fornecedor por qualquer pessoa que
recebeu uma amostra grátis, então, está sujeita às regras relativas aos vícios, defeitos, prazos de
garantias e demais disposições da legislação consumerista em virtude do produto recebido.

FONTE: <https://jusday.jusbrasil.com.br/artigos/485608129/direito-do-consumidor-amostra-
gratis>. Acesso em: 8 mar. 2019.

E, serviços, o que seria de acordo com o Código de Defesa do Consumidor?

Pertinente aos serviços, estes, em linhas gerais são definidos como qualquer
atividade fornecida ou prestada no mercado de consumo (NUNES, 2015 p. 142).

71
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

O Código de Defesa do Consumidor conceitua serviços, em seu §2º,


art. 3º, sendo “serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”.

Devemos analisar o conceito de serviço sob três aspectos: exigência de


remuneração, exclusão das relações trabalhistas e rol exemplificativo de serviços,
com destaque para a inclusão dos serviços bancários.

No que tange à remuneração, esta não necessariamente precisa ser de


forma direta, mas também pode ser indiretamente. Ex.: estacionamento gratuito
em shopping center (na verdade não é gratuito, pois sua remuneração está
embutida nos diversos produtos vendidos nesses centros de compras).

ATENCAO

O Superior Tribunal de Justiça também acolheu a tese da remuneração


indireta como requisito suficiente para caracterizar o serviço objeto da relação de consumo,
conforme posicionamento inserto no Recurso Especial 566.468, no qual entendeu que
“para caracterização da relação de consumo, o serviço pode ser prestado pelo fornecedor
mediante remuneração obtida de forma indireta” (Ministro Relator Jorge Scartezzini, 4ª T., DJ
17-12-2004).

Portanto, os serviços podem ser: remunerado diretamente; remunerado


indiretamente e gratuito sem qualquer onerosidade. Um exemplo de serviço
prestado de forma gratuita seria quando um “médico que atenda uma pessoa
que está passando mal na rua e nada cobre por isso enquadra-se na hipótese legal
de não recebimento de remuneração” (NUNES, 2000 p. 102).

E, o serviço público é ou não objeto da relação de consumo?

BOLZAN (2015, p. 103) enquadra a figura dos concessionários ou


permissionários de serviços públicos no conceito de fornecedor.

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados,
que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Ainda com base no artigo 3º, II do CDC, é possível enquadrar o serviço


público no conceito de serviço: “Art. 3º § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida

72
TÓPICO 1 | CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E SERVIÇOS

no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza


bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de
caráter trabalhista”.

Basicamente, exige ser um serviço remunerado, tal como é o serviço


público.

Partindo do artigo quarto do Código de Defesa do Consumidor, temos


menções expressas da incidência do CDC aos serviços públicos:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo


o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à
sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a
transparência e harmonia das relações de consumo [...].

Já o artigo sexto fala sobre os direitos básicos do consumidor:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados
por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados
perigosos ou nocivos;
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

Interação entre o Código de Defesa do Consumidor e a Lei 9.897:


Art. 22 Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias,
permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são
obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto
aos essenciais, contínuos.

BOLZAN (2015, p. 105) explica que, por força do artigo 22 do Código


de Defesa do Consumidor, doutrinadores consumeristas renomados entendem
que o serviço público não pode ser interrompido. Porém, há um conflito quando
comparados o artigo 22 do CDC e a Lei nº 9.897, sobre a prestação de serviços
públicos.

A Lei nº 9.897/95 dispõe sobre o regime de concessão e permissão da


prestação de serviços públicos, previsto no art. 175 da Constituição Federal.

Seu artigo sexto contradiz o artigo 22 do CDC e admite a interrupção do


serviço público em alguns casos, por exemplo:

Art. 6º § 3º - Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua


interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando:
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das
instalações;
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da
coletividade.

73
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

Bolzan (2015, p. 105) diz que é muito comum, no nosso país, que os
prestadores de serviço ignorem o artigo sexto no que diz respeito à descontinuidade
do serviço sem aviso prévio, menciona o autor, que “O STJ, apesar de admitir a
interrupção por força do inadimplemento, não admite em alguns casos, como por
exemplo se afetar a dignidade da pessoa humana ou unidades públicas essenciais,
como hospitais ou escolas”.

O STJ também não admite a interrupção de serviços se essa afetar direitos


inadiáveis da coletividade, como a segurança pública. “Há casos em que municípios
não pagam a conta de energia e a operadora suspende a iluminação em determinado
bairro, o que não é permitido pois afeta um direito inadiável da coletividade, como
é o caso da segurança pública” exemplifica Bolzan (2015, p. 105).

O professor Fabrício Bolzan (2015, p. 98) defende uma posição


intermediária em seus livros ‘Direito do Consumidor Esquematizado’ e ‘Direito
Administrativo para Concurso’.

Apesar de já ter defendido que, por ser essencial o serviço público


não poderia ser interrompido, passamos a analisar e perceber que
nenhuma empresa se habilitaria a um procedimento licitatório para
participar de uma concessão de serviço público se não tivesse esse
poder de barganha, ou seja, poder interromper o serviço público como
forma de forçar o pagamento daquela conta.

Cumpre observar que é importante que tenhamos claro, os direitos e


deveres dos consumidores frente aos serviços públicos e a forma como são
disponibilizados e cobrados.

O meio termo que nós defendemos é que o concessionário do serviço


público não pode interromper o serviço até demonstrar que o número
de inadimplentes foi tamanho que afetou o equilíbrio econômico-
financeiro do contrato, ou seja, quando a Lei 8.987 diz que é possível
interromper o serviço por inadimplemento do usuário, ela fundamenta
a interrupção considerado o interesse da coletividade. Então, na nossa
visão, a partir do momento em que a empresa concessionária comprova
que o número de inadimplentes foi tamanho a ponto de comprometer
a boa prestação de serviço público para essa coletividade, aí sim é
permitido interromper esse serviço do consumidor inadimplente.
Antes disso, na nossa visão, não há fundamentação para interromper
(BOLZAN, 2017, s.p.).

DICAS

VÍDEO: O Consumidor e Serviços Públicos – Serviços Públicos e CDC. Disponível


em:<http://www.conteudojuridico.com.br/aula-em-video,o-consumidor-e-servicos-
publicos-servicos-publicos-e-cdc-lindonjon-bezerra-aula-3-saber-direito,39191.html>.

74
TÓPICO 1 | CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E SERVIÇOS

E
IMPORTANT

O CONCEITO DE DESTINATÁRIO FINAL PARA FINS DE APLICAÇÃO DO CDC

Marcos Boechat

O artigo 2º, "caput", do Código de Defesa do Consumidor dispõe que: "consumidor


é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário
final". Acerca da expressão "destinatário final" nesse conceito, formaram-se na doutrina duas
teorias, quais sejam: a Maximalista e a Finalista.
Pela Teoria Maximalista, destinatário final é todo aquele consumidor que adquire o
produto para o seu uso, independente da destinação econômica conferida ao mesmo. Tal
teoria confere uma interpretação abrangente ao artigo 2° do CDC, podendo o consumidor
ser tanto uma pessoa física que adquire o bem para o seu uso pessoal quanto uma grande
indústria, que pretende conferir ao bem adquirido desdobramento econômico, ou seja,
utilizá-lo nas suas atividades produtivas.
Pela Teoria Finalista (ou subjetivista), destinatário final é todo aquele que utiliza
o bem como consumidor final, de fato e econômico. De fato, porque o bem será para o
seu uso pessoal, consumidor final econômico porque o bem adquirido não será utilizado
ou aplicado em qualquer finalidade produtiva, tendo o seu ciclo econômico encerrado na
pessoa do adquirente.
Cláudia Lima Marques e Antônio Herman V. Benjamim defendem a teoria finalista,
definindo o conceito de "destinatário final" do art. 2º do CDC: "O destinatário final é o
consumidor final, o que retira o bem do mercado ao adquirir ou simplesmente utilizá-lo
(destinatário final fático), aquele que coloca um fim na cadeia de produção (destinatário
final econômico) e não aquele que utiliza o bem para continuar a produzir, pois ele não
é consumidor final, ele está transformando o bem, utilizando o bem, incluindo o serviço
contratado no seu, para oferecê-lo por sua vez ao seu cliente, seu consumidor, utilizando-o
no seu serviço de construção, nos seus cálculos do preço, como insumo da sua produção."
(In: "Comentários ao Código de Defesa do Consumidor", 2. ed., São Paulo, Editora Revista do
Tribunais, 2006, p. 83/84).
Ambas as teorias, contudo, não são indenes de críticas. A teoria maximalista é
criticada pela sua excessiva abrangência, uma vez que o CDC se destinaria à defesa dos
consumidores hipossuficientes e vulneráveis, e a teoria finalista é atacada por ser muito
restritiva, excluindo de sua incidência figuras da relação de consumo que também poderiam
ser consideradas hipossuficientes, como a pequena empresa e o profissional liberal.
Neste aspecto, cumpre esclarecer que se define a vulnerabilidade analisando-se
todos os aspectos da relação estabelecida e não somente o aspecto econômico. O adquirente
do produto ou serviço pode ser vulnerável em relação ao fornecedor pela dependência
do produto; pela natureza adesiva do contrato imposto; pelo monopólio da produção do
bem ou sua qualidade insuperável; pela extremada necessidade do bem ou serviço; pelas
exigências da modernidade atinentes à atividade, dentre vários outros fatores.
O STJ, em geral, tem manifestado o entendimento pela Teoria Finalista Mitigada,
ou seja, considera-se consumidor tanto a pessoa que adquire para o uso pessoal quanto os
profissionais liberais e os pequenos empreendimentos que conferem ao bem adquirido a
participação no implemento de sua unidade produtiva, desde que, nesse caso, demonstrada
a hipossuficiência, sob pena da relação estabelecida passar a ser regida pelo Código Civil.
Logo, importa dizer que uma pessoa jurídica, para postular em juízo na qualidade
de consumidora, deverá comprovar o seu estado de hipossuficiência e vulnerabilidade ao
adquirir um bem ou serviço e desde que estes não tenham ligação direta com os insumos
ou matérias-primas necessárias à efetivação de seus produtos, segundo a teoria finalista
mitigada.

FONTE: <http://www.esinf.com.br/texto-de-apoio-detalhes/?id=5>. Acesso em: 8 mar. 2019.

75
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os conceitos e as diferenças entre os sujeitos da relação de consumo:


Consumidor, fornecedor, produtos e serviços.

• As teorias a respeito do conceito de consumidor: Teoria Maximalista; Finalista


e Mitigada.

• Diferenciamos Relação Social e Relação Jurídica.

• Observamos os conceitos de fornecedor equiparado.

76
AUTOATIVIDADE

1 Pertinente ao conceito de consumidor, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Consumidor  é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza


produto ou serviço como destinatário final.
b) ( ) Consumidor  é somente a pessoa jurídica que adquire produto ou
serviço como destinatário final.
c) ( ) Consumidor  é somente a pessoa física que adquire produto como
destinatário, não necessariamente, final.
d) ( ) Consumidor  é toda pessoa física ou pessoa jurídica que somente
adquire produto , não incluindo os serviços.

2 De acordo com a legislação consumerista, como caracterizamos fornecedor


por equiparação? Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Aquele que não está mencionado como parte na relação jurídica


consumerista.
b) ( ) Aquele que efetivamente, de forma direta faz parte da relação jurídica
consumerista.
c) ( ) Aquele terceiro na relação de consumo que atua frente a um consumidor
ou a um grupo de consumidores, como se o fornecedor fosse.
d) ( ) Aquele que, mesmo sendo terceiro envolvido, assume toda
responsabilidade.

77
78
UNIDADE 2 TÓPICO 2

PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA

1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior mencionamos a respeito dos conceitos de consumidor,
bem como analisamos as teorias que ensejaram este referido conceito, quais
sejam: Teoria Maximalista, Finalista e Mitigada.

Verificamos que a teoria utilizada pelo STJ é a Teoria Mitigada, que


conceitua consumidor aquele que “[...] considerando que a pessoa jurídica ou
pessoa empresária pode ser considerada consumidora, mesmo na hipótese de
adquirir produto ou serviço e emprega-lo com insumo ou reemprega-lo no
mercado de consumo, ou seja, sem ser destinatário final” (BELACHE, 2015, s.p.).

Observamos que, assim como existem consumidores por equiparação,


temos também os fornecedores por equiparação.

E, por fim, analisamos as diferenças conceituais de produtos e serviços, de


acordo com o Código de Defesa do Consumidor.

Nesse Tópico 2 vamos estudar a respeito dos princípios norteadores da


legislação consumerista. Sendo importante ressaltar que, princípios são a base de
todo e qualquer ramo do Direito e, assim, não poderíamos deixar de analisar tais
princípios sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor.

2 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


A dignidade da pessoa humana, mais especificamente no âmbito da
legislação consumerista, é um princípio que irradia para todos os ramos do
Direito, tamanha é a sua importância.

O princípio da dignidade, no Direito do Consumidor (BRASIL, 1990, s.p.),


está elencado no art. 4º, do Código de Defesa do Consumidor.

Colaciona-se:

79
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo


o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à
sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a
transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os
seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de
consumo;
II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o
consumidor:
a) por iniciativa direta;
b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações
representativas;
c) pela presença do Estado no mercado de consumo;
d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de
qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.

O princípio da dignidade da pessoa humana foi sendo “construído” ao


longo dos anos, eis que, na antiguidade, apenas as pessoas com o status social
elevado é que seriam dignos, ou seja, a dignidade estava atrelada à comunidade
a qual o cidadão estava inserido. Com o passar dos anos, este conceito foi sendo
modificado, tornando-se a base da nossa Carta Magna, elencado no art. 1º, III.

O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana remonta à ideia de proteção,


sendo a base atualmente, de todo o sistema constitucional brasileiro. Salutar
mencionar que o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana está intrinsecamente
ligado aos direitos fundamentais, tendo em vista que estes também conquistaram
seu espaço de acordo com a evolução da sociedade e, consequentemente das leis.

Ressalta-se que a dignidade remonta um valor supremo do ser humano,


ou seja, é a base para o Direito moderno.

ATENCAO

Dworkin (1998, p. 307-310) ao tratar do conteúdo da dignidade da pessoa


humana, menciona que o ser humano não poderá jamais ser tratado como objeto, isto é,
como mero instrumento para realização dos fins alheios, eis que as pessoas nunca poderão
ser tratadas de tal forma que se venha a negar a importância distintiva de suas próprias vidas.

Assim, temos que a dignidade da pessoa humana, apesar de não existir


um conceito definitivo, mas trata-se de um princípio que norteia todos os demais,
eis que é a base, inclusive para nossa Constituição Federal de 1988.

80
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA

UNI

DIREITOS FUNDAMENTAIS

Os direitos fundamentais foram sendo reconhecidos à medida em que o Estado


também foi evoluindo, formando um Estado Democrático. A evolução dos direitos
fundamentais seguiu alinhada ao reconhecimento da dignidade da pessoa humana.
Sarlet (2015, p. 36-37) observa que as gerações (ou dimensões) passam a ser
analisadas com uma maior relevância a partir da consagração dos direitos fundamentais pelas
primeiras Constituições, tendo em vista às transformações geradas pelo reconhecimento de
novas necessidades básicas, de modo especial em virtude da evolução do Estado Liberal
(Estado formal de Direito) para o moderno Estado de Direito (Estado social e democrático
[material] de Direito), bem como as mutações decorrentes do processo de industrialização
e seus reflexos, pelo impacto tecnológico e científico, pelo processo de descolonização e
tantos outros fatores direta ou indiretamente relevantes neste contexto e que poderiam ser
considerados.
Na tentativa de conceituar direitos fundamentais, Martínez (1995) leciona que os
direitos fundamentais são representantes de um sistema de valores concreto, de um sistema
cultural que deve orientar o sentido de uma vida estatal contida em uma Constituição.
Nessa linha de raciocínio, Dimoulis e Martins (2007, p. 54) exprimem que, direitos
fundamentais são direito público-subjetivos de pessoas (física ou jurídicas), contidos em
dispositivos constitucionais e, portanto, que encerram caráter normativo supremo dentro
do Estado, tendo como finalidade limitar o exercício do poder estatal em face da liberdade
individual.
Na Constituição Federal de 1988 são encontradas em diversas partes do texto
constitucional, destacando-se o título II: “Dos direitos e garantias fundamentais”, que
regulamenta direitos individuais, coletivos, sociais e políticos.
Assim, tem-se que direitos fundamentais são direitos de suma importância para vida
em sociedade, cabendo ao Estado respeitá-los e protegê-los.
Conforme aponta Sarlet (2007, p. 56), os direitos fundamentais traduzem valores que
o Estado deve respeitar, mas, acima de tudo, promover e proteger para que assim, alcance
todo o ordenamento jurídico – público e privado – deixando de ser conceituados como
sendo direitos subjetivos públicos, isto é, direitos oponíveis pelos seus titulares (particulares)
apenas em relação ao Estado.
Ressalta-se que, a religião e a filosofia do mundo antigo influenciaram no
entendimento de que o homem possui direitos inalienáveis e naturais, tais como, os valores
da dignidade da pessoa humana, da liberdade, da igualdade (SARLET, 2015, p. 38).
A Reforma Protestante foi de suma importância no surgimento dos direitos
fundamentais, eis que, a partir deste fato histórico houve a reivindicação da liberdade religiosa
e de culto em diversos países da Europa.

FONTE: FILAGRANA, Tatiana C. dos Reis. O princípio da dignidade da pessoa humana frente
aos direitos fundamentais elencados na Constituição Federal de 1988. Revista Humus, v. 7,
n. 22, 2018.

81
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

3 PROTEÇÃO À VIDA, SAÚDE E SEGURANÇA


A proteção à vida, saúde e segurança são direitos que emanam do
Princípio da Dignidade. Salutar mencionarmos que o art. 4º do Código de Defesa
do Consumidor assegura de forma expressa a sadia qualidade de vida com saúde
do consumidor e sua segurança.

Importante citar Nunes (2017, p. 175), quando menciona, a respeito da


legislação consumerista, vejamos:

Quando se refere à melhoria de qualidade de vida, está apontando não


só o conforto material, resultado do direito de aquisição de produtos e
serviços, especialmente os essenciais (serviços públicos de transporte,
agua e eletricidade, gás, os medicamentos e mesmo imóveis etc.), mas
também o desfrute de prazeres ligados ao lazer (garantido no texto
constitucional – art. 6º, caput) e ao bem estar moral ou psicológico.

E
IMPORTANT

“Tem-se dito que se a Lei nº 8.078/90 se tivesse limitado a seus primeiros sete
artigos, ainda assim o consumidor poderia receber uma ampla proteção, pois eles refletem
concretamente os princípios constitucionais de proteção ao consumidor e bastaria aos
interpretes compreender seus significados. Isso é verdade e mais: ver-se-á que as normas
posteriormente estipuladas no CDC concretizam mais ainda esses princípios e direitos
básicos” (NUNES, 2017, p. 174).

4 PROTEÇÃO E NECESSIDADE
A legislação consumerista surge exatamente para proteger o consumidor,
sendo que o art. 1º contempla esse caráter protecionista e de interesse social.
Transcrevemos: “Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e
defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°,
inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições
Transitórias” (BRASIL, 1990, s.p.).

A necessidade do consumidor ser protegido se dá em razão de que o


Código Civil trata as relações contratuais como se todos estivessem no mesmo
patamar, o que não condiz com a realidade, tendo em vista que o consumidor
é vulnerável à vontade do fornecedor (lato sensu), sendo hipossuficiente nas
relações consumeristas. Assim, surge a necessidade de proteção a essas pessoas
para que consigam realizar seus contratos com segurança e de acordo com a lei.
Exemplificamos:

82
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA

Nos casos de medicamentos únicos para doenças graves, nos serviços


públicos, no suprimento de alimentos básicos etc., justifica-se a
intervenção direta para garantir o suprimento ao consumidor. Até no
aumento exagerado de preços isso ode acontecer, desde que se trate de
caso de necessidade (NUNES, 2017, p. 175).

ATENCAO

“Esse princípio da garantia do suprimento das necessidades do consumidor está


em consonância com o princípio maior básico que lhe dá sentido, que é o da liberdade
de agir e escolher, garantido no texto constitucional (art. 1º, III, art. 3º, I, art. 5º, caput, entre
outros)” (NUNES, 2017, p. 175).

5 TRANSPARÊNCIA
O princípio da transparência interliga-se diretamente ao da informação,
tendo em vista que é direito do consumidor conhecer os produtos e serviços que
lhe são oferecidos.

Pelo princípio da transparência, positivado em nosso ordenamento


jurídico no art. 6°, III, da Lei 8078/90, assegura-se ao consumidor a plena ciência
da exata extensão das obrigações assumidas perante o fornecedor. Assim, deve
o fornecedor transmitir efetivamente ao consumidor todas as informações
indispensáveis à decisão de consumir ou não o produto ou serviço, de maneira
clara, correta e precisa.

Elucida Coelho (1996, p. 55), “de acordo com o princípio da transparência,


não basta ao empresário abster-se de falsear a verdade, deve ele transmitir ao
consumidor em potencial todas as informações indispensáveis à decisão de
consumir ou não o fornecimento”.

O princípio da transparência é “inovação no sistema jurídico brasileiro”,


especificamente no CDC, pois a parte ao negociar tem que demonstrar clareza,
tendo o fornecedor ou prestadores de serviços, que exibir idoneidade nos negócios,
e na capacitação técnica, ademais, a transparência deve integrar-se com outros
princípios como a boa-fé, embora haja inibição na aplicação da transparência,
o paradigma mercadológico deve ser a concorrência para melhor satisfação do
consumidor (MARQUES, 2002).

83
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

6 HARMONIA
O princípio da harmonização encontra-se de forma explicita no art. 4º,
III CDC, tendo como objetivo primordial a compatibilização dos interesses e
direitos dos consumidores com o desenvolvimento econômico e tecnológico dos
fornecedores.

E
IMPORTANT

“O que torna o referido princípio mais dinâmico e interessante é o fato de


estar previsto no Capítulo atinente à Política Nacional das Relações de Consumo, a qual
engloba todo o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, composto por Órgãos de
defesa do Consumidor como o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor e os
diversos PROCON estaduais e municipais. Isso significa que essas entidades devem observar,
respeitar, implementar, promover e viabilizar a harmonização das relações de consumo entre
consumidores e fornecedores” (GUBEISSI, 2011, s.p.).

Outrossim, importante observar que os princípios, por sua vez, são normas
dotadas de alto grau de abstração e alta carga valorativa, regendo todo o sistema
jurídico. A dinâmica de aplicação dos princípios é diferente da observada nas
regras, pois havendo conflito entre princípios, um não excluirá o outro; apenas
afastará sua incidência a fim de regular determinado caso concreto. Isso importa
em dizer que um princípio apenas preponderará sobre o outro, sem, contudo,
anulá-lo. (GUBEISSI, 2011).

7 VULNERABILIDADE
Consoante os princípios que estamos estudando, passamos a analisar um
princípio de suma importância que é o da vulnerabilidade. A vulnerabilidade
refere-se à fragilidade do consumidor, sendo tal fragilidade decorrente de dois
aspectos: um de ordem técnica e outro de cunho econômico. Nunes (2015, p. 106)
corrobora:

[...] o consumidor é a parte fraca da relação jurídica de consumo. Essa


fraqueza, essa fragilidade, é real, concreta, e decorre de dois aspectos:
um de ordem técnica e outro de cunho econômico. O primeiro está
ligado aos meios de produção, cujo conhecimento é monopólio do
fornecedor. E quando se fala em meios de produção não se está apenas
referindo aos aspectos técnicos e administrativos para a fabricação de
produtos e prestação de serviços que o fornecedor detém, mas também
ao elemento fundamental da decisão: é o fornecedor que escolhe o
que, quando e de que maneira produzir, de sorte que o consumidor
está à mercê daquilo que é produzido.

84
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA

8 INTERVENÇÃO DO ESTADO
A intervenção do Estado se faz necessária, tendo em vista a proteção do
consumidor para lhe assegurar o acesso aos produtos e serviços essenciais, mas
garantir a qualidade e adequação de tais produtos e serviços.

Está previsto nos artigos 5º, XXXII, e 170, ambos da Constituição Federal,
que determina que o Estado tem o dever de promover a defesa do consumidor, e
no artigo 4º, II, e alíneas do CDC. Com base neste princípio o Estado tem obrigação
de atuar nas relações de consumo coma finalidade de proteger a parte mais fraca,
a saber, o consumidor, por meios legislativos e administrativos, e para garantir o
respeito aos interesses deste.

ATENCAO

“O Estado não pode, ao promulgar norma de caráter geral e abstrato, vedar,


limitar ou dificultar o desenvolvimento da atividade econômica ou mesmo interferir na livre
iniciativa sob o pretexto da proteção do consumidor. O ferir dos direitos dos consumidores
não deve ser respeitado, entretanto a promulgação das leis não deve ser um obstáculo ao
crescimento das sociedades empresariais.
A limitação do agir do Estado não significa que este vai deixar de atuar, ou mesmo
que o consumidor vai ficar desprotegido, mas sim que outros princípios também devem ser
observados pelo ente no momento que busca a proteção ou a preservação dos direitos”.

FONTE: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php/principal.php?n_link=revista_
artigos_leitura&artigo_id=17716>. Acesso em: 8 mar. 2019.

9 BOA-FÉ
O princípio da boa-fé, no Código de Defesa do Consumidor, previsto no art.
4º, visa viabilizar os ditames constitucionais da ordem econômica equilibrando os
interesses tangentes à proteção do consumidor e o desenvolvimento econômico
e psicológico.

Outro ponto importante, é distinguirmos boa-fé objetiva e subjetiva. Para


Plínio Lacerda Martins (2002, p. 132), “a noção de boa-fé objetiva constitui novo
princípio a conduta dos contraentes nos contratos atuais”, pois, não só no direito
do consumidor, como em todo o direito obrigacional, são nesses instrumentos
de negociação que se vislumbra com maior facilidade o desequilíbrio entre os
contraentes.

Em matéria consumerista, a aplicação desse princípio se torna ainda mais


evidente, porquanto é inegável que a maioria das relações entre consumidores e

85
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

fornecedores se firma através de contratos, e o Código de Defesa do Consumidor


veio a consagrar o princípio da boa-fé objetiva, até mesmo antes do Novo Código
Civil, como cláusula geral, visando a otimizar o comportamento contratual dos
contraentes, principalmente o do fornecedor de produtos e serviços, que com o
crescente desenvolvimento tecnológico, o crescimento da demanda do mercado de
consumo e a falta de cultura jurídica da população de um modo geral, a cada dia se
torna parte mais forte nesse tipo de relação, o que, via de consequência, resulta no
desequilíbrio da relação jurídica que se forma (VILELA GUGLINSKI, 2011).

10 DEVER DE INFORMAR
Observamos que o princípio da informação reza que todas as informações
a respeito dos produtos e serviços deverão ser prestadas ao consumidor de forma
clara e precisa, conforme preconizado no art. 31, da legislação consumerista.

Colaciona-se:

Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem


assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em
língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade,
composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros
dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança
dos consumidores.
Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos produtos
refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma
indelével (Incluído pela Lei nº 11.989, de 2009).

MARQUES (2006, p. 715) identifica o princípio da transparência, no art.


4º, caput, do CDC. Define o mesmo como, “informação clara e correta sobre o
produto a ser vendido, sobre o contrato a ser firmado. Trata-se de lealdade e
respeito nas relações entre fornecedor e consumidor”. (Contratos no Código de
Defesa do Consumidor: o novo regime das relações contratuais. 5 ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2006).

E
IMPORTANT

O dever de informação deve ser apreendido, antes de mais nada, como uma
premissa principiológica da hermenêutica contratual brasileira. Aqui invoco a contribuição de
José Reinaldo de Lima Lopes, para quem no art. 6º, II e III do CDC, temos direitos básicos. O
inciso II, por exemplo, traz a educação como direito básico. A educação como direito básico,
conforme o art. 6º, II, se constitui em um pressuposto de interpretação para a aplicação do
direito. O inciso III traz o direito à informação. Pressupondo que o consumidor tem direito
à educação e à informação, em caso de conflito deve-se indagar se o fornecedor lhe deu a
educação/informação para o consumo.

86
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA

LEITURA COMPLEMENTAR

A BOA-FÉ NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Vitor Vilela Guglinski


 
Prescreve o art. 4º do diploma consumerista in verbis:

“Art. 4º - A Política Nacional de Relações de Consumo tem por objetivo


o atendimento das necessidades dos consumidores, a respeito à sua dignidade,
saúde e segurança, a proteção de sua qualidade de vida, bem como a transferência
e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:

I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;


III – harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo
e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de
desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios
nos quais se funda a ordem econômica (art. 170 da Constituição Federal),
sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e
fornecedores.”

Da simples leitura do dispositivo legal supratranscrito, percebe-se, logo


no inciso I, que o Código de Defesa do Consumidor consagrou o princípio da
vulnerabilidade, reconhecendo o consumidor como a parte mais frágil na relação
de consumo. Na verdade, isso ocorreu em conformidade com a Resolução
da ONU 39/248 de 1985, que estabeleceu em seu art. 1º que o consumidor é a
parte mais fraca, denotando, então, tal reconhecimento em âmbito mundial. A
explicação para tanto se verifica no fato de que o consumidor é aquele que acaba
por submeter-se ao poder de controle dos titulares dos bens de produção, ou seja,
dos empresários, pois não tem, aquele, os conhecimentos técnicos necessários
a elucidar quaisquer questões que envolvam o produto adquirido ou o serviço
prestado, sejam elas referentes à produção, vícios, oferta, modo de execução do
serviço etc., tendo em vista a especificidade que lhes é inerente. O que se objetivou
com o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor foi, antes de qualquer
coisa, a facilitação de sua defesa.

No tocante ao inciso III, nota-se que a preocupação primária do legislador


foi a de harmonizar os interesses de consumidores e fornecedores, isso porque a
harmonia e o equilíbrio são fatores indispensáveis para que haja a tão esperada
justiça. Não há como negar que o Código Brasileiro de Defesa do Consumidor
mostra-se altamente protecionista, se comparado à legislação consumerista
francesa, por exemplo, que, aliás, lá possui a denominação de Código do
Consumo (Code de la Consomation), pois tutela não somente os interesses

87
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

dos consumidores, como também os interesses dos fornecedores. Da mesma


forma, pode se notar que o legislador pátrio não se preocupou tão somente com
os interesses dos consumidores, mas sim de todos os fatores que propiciam o
desenvolvimento do mercado de consumo. Tal conclusão é no mínimo lógica,
uma vez que, para que haja desenvolvimento econômico e tecnológico, é preciso
que haja quem consuma, ou seja, quem diga se os produtos e serviços colocados
no mercado de consumo estejam atendendo a demanda de forma satisfativa,
ou seja, a crítica do consumidor aos produtos e serviços acaba por obrigar as
empresas a investirem em novas técnicas de produção, técnicas de marketing,
merchandising etc..

Todavia, como já foi visto anteriormente, a estática da lei codificada


nem sempre permite que a justiça seja sentida. E é essa mentalidade que
o nosso Código de Defesa do Consumidor procurou incorporar, pois a
experiência pós-Revolução Industrial mostra que as transformações sociais
se tornaram tão grandes e sequenciais que o Estado, em seu labor jurídico,
acaba por quedar-se diante das mesmas, pois as demais ciências, que não a
jurídica, pelo menos em sua devastadora maioria são despidas da burocracia,
tão característica do direito.

Por isso é que a boa-fé objetiva veio, na lei consumerista brasileira, como
cláusula geral, regra padrão de conduta, um princípio ao qual se pode socorrer na
falta da lei, porquanto é ele maior que a norma, é um princípio, um mandamento
nuclear, cujo respectivo desrespeito colocará todo um sistema em xeque, posto
que lhe é o norteador.

Como já dito anteriormente, nos contratos é que se torna ainda mais


evidente a aplicação desse princípio, pois a cláusula geral de boa-fé foi adotada
pelo Código do Consumidor, implicitamente, devendo reputar-se inserida e
existente em todas as relações jurídicas de consumo, mesmo que não inserida de
forma expressa no contrato. Nesse sentido, vale aqui citar o art. 51, inciso IV do
diploma legal acima referido, que diz in verbis:

“Art. 51 – São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais


relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o


consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a
boa-fé ou a equidade.”

Segundo os autores do anteprojeto do código, a verificação da presença


de boa-fé na conclusão do negócio jurídico cabe ao magistrado, no intuito
de constatar se determinada cláusula contratual é ou não válida perante o
dispositivo supra transcrito. Já no que diz respeito à equidade, esta constitui

88
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA

regra de julgamento apenas nos casos prescritos em lei, consoante prescrição


do art. 127 do Código de Processo Civil. Sendo assim, nesses casos o juiz não
julgará com base na equidade, mas tão somente observará o que está de acordo
com a equidade e a boa-fé.

Traço interessante encontrado no Código de Defesa do Consumidor


brasileiro, intimamente ligado ao princípio aqui estudado, diz respeito ao direito
à informação previsto no artigo 6º, III do diploma legal acima citado. Nesse
sentido, ensina Tereza Negreiros que “o mais típico dever acessório derivado do
princípio da boa-fé é o dever de informar”. Na verdade isso se verifica porque em
uma relação de consumo não só a obrigação principal é objeto de tutela, mas sim
o interesse global, ou seja, ao adquirir um produto ou serviço o consumidor tem
o direito de acesso a todas as informações acerca do que está adquirindo.

89
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Analisamos os princípios basilares da relação de consumo:


° Dignidade.
° Proteção à vida, saúde e segurança.
° Proteção e necessidade.
° Transparência.
° Harmonia.
° Vulnerabilidade.
° Intervenção do Estado.
° Boa-fé.
° Dever de informar.

90
AUTOATIVIDADE

1 Considerando os princípios e direitos básicos que regem o Código de Defesa


do Consumidor, assinale a alternativa correta:

a) ( ) O conceito de hipossuficiência consumerista restringe-se a análise


da situação socioeconômica do consumidor perante o fornecedor,
permitindo, inclusive, a inversão do ônus probatório.
b) ( ) A boa-fé objetiva é uma causa limitadora do exercício, antes lícito, hoje
abusivo, dos direitos subjetivos, e, ainda caracteriza-se por ser fonte de
deveres anexos contratuais.
c) ( ) Por ser os princípios da hipossuficiência e da vulnerabilidade
conceitos jurídicos pode-se afirmar que todo consumidor vulnerável é,
logicamente, hipossuficiente.
d) ( ) A regra do pacta sunt servanda se aplica as relações de consumo e
encontra-se prevista expressamente no CDC.

2 Acerca das relações consumeristas, pode-se afirmar:

a) ( ) “Serviço", para o direito do consumidor, significa toda e qualquer


atividade oferecida no mercado de consumo, mediante remuneração.
b) ( ) O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os
tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como
por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes
da oferta ou mensagem publicitária.
c) ( ) O Código de Defesa do consumidor consagrou a teoria do risco integral
para fundamentar a responsabilidade civil objetiva dos fornecedores
pelos danos causados aos consumidores.
d) ( ) O consumidor dispõe de 7 (sete) dias para desistir ou trocar o produto
comprado, desde que tenha ocorrido no estabelecimento físico do
fornecedor.
e) ( ) A reparação por danos materiais por vício oculto do produto pelo
fornecedor exclui, automaticamente, eventual reparação por dano
moral.

91
92
UNIDADE 2 TÓPICO 3

RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, convidamos você, acadêmico, a analisar todas as implicações
jurídicas referentes à responsabilidade na legislação consumerista.

Consoante o crescente consumo após a Revolução Industrial, quando se


onde passou a priorizar a qualidade em detrimento da qualidade dos produtos
e serviços fornecidos no mercado, surge a necessidade de definir um modelo de
responsabilização do fornecedor. Assim, surge a responsabilidade objetiva na
legislação consumerista, que independe de dolo ou culpa.

Filomeno (2010, p. 192-193) preleciona:

A eleição da responsabilidade objetiva como a regra no Código de


Defesa do Consumidor deveu-se, em suma, aos seguintes fatores: a
produção em massa; a vulnerabilidade do consumidor; a insuficiência
da responsabilidade subjetiva; o fornecedor há de responder pelos
riscos que seus produtos acarretam; em decorrência de antecedentes
legislativos.

E
IMPORTANT

“A responsabilidade pelo risco é uma imputação mais intensa desde o ponto de


vista social a respeito de uma determinada esfera de riscos, de uma distribuição de riscos
de danos inerentes a uma determinada atividade segundo os padrões ou medidas, não dá
imputabilidade de culpa, senão da assunção de risco àquele que o cria ou domina, ainda que
somente em geral” (LARENZ, 2011, p. 354).

93
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

2 PELO FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO


A responsabilidade elo fato do produto encontra-se no art. 12, do Código
de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990).

Segue:
Art. 12, CDC. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional
ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente
da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou
acondicionamento de seus produtos, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

Importante ressaltarmos que a responsabilidade dos fornecedores é


solidária, tendo em vista a cadeia de fornecedores que contribuiu para a ocorrência
do dano.

Ademais, o art. 25, §1º do Código de Defesa do Consumidor preleciona essa


responsabilidade solidária dos fornecedores: “Havendo mais de um responsável
pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista
nesta e nas seções anteriores” (BRASIL, 1990, s.p.).

Assim, destacamos que ao tratarmos de responsabilidade de fornecedores,


havendo mais de um responsável pelo dano ocorrido ao consumidor, todos são
responsáveis, de forma solidaria.

E
IMPORTANT

Exemplo: A montadora de veículos é responsável pelo carro que montou.


Entretanto, se houver dúvida sobre quem inseriu indevidamente determinada peça no
veículo adquirido – montadora ou concessionaria -, o consumidor que sofreu um acidente
de consumo poderá acionar qualquer um dos dois fornecedores dessa cadeia ou até mesmo
ambos, sob o fundamento do princípio da responsabilidade solidaria” (BOLZAN, 2015, p. 314).

O mesmo art. 12 (BRASIL, 1990, s.p.) define o que é produto defeituoso,


vejamos:

§ 1º O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele


legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias
relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.

94
TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA

Assim, temos que, defeito, para o Código de Defesa do Consumidor,


refere-se à quando o produto não oferece a segurança esperada pelo mesmo.

ATENCAO

Circunstâncias relevantes do produto defeituoso: a apresentação; o uso e


os riscos que razoavelmente dele se esperam; época em que foi colocado em circulação
(BOLZAN, 2015, p. 315).

DICAS

O Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), ao tratar da


responsabilidade civil do fornecedor pelos defeitos de produtos (art. 12) e de serviços (art.
14), prevê expressamente que a responsabilidade de reparação pelos danos causados aos
consumidores, em face dos produtos ou serviços colocados no mercado de consumo,
independe da existência de culpa, logo trata-se de responsabilidade objetiva. Para saber a
respeito da reparação dos danos causados e dos excludentes de responsabilidade, leia o texto
a seguir.

EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE EM FACE DO CÓDIGO DE DEFESA


DO CONSUMIDOR

Nehemias Domingos de Melo


[...]
Das excludentes expressamente previstas no Código

Como expresso alhures, o Código de Defesa do Consumidor previu, de maneira


expressa, as eximentes elencadas em seu corpo normativo (art. 12, § 3°, no que diz
respeito produtos e art. 14, § 3°, no que diz respeito serviços). Em face desta expressa
determinação legal, diversos doutrinadores entendem que não cabe perquirir sobre
outras possíveis causas excludentes da responsabilidade do fornecedor. Outros defendem
que não se pode ir além das eximentes expressamente tratadas na lei consumerista
porque a responsabilidade civil definida pelo Código de Defesa do Consumidor abraçou
a teoria do risco integral, com o que, com a devida vênia, não concordamos.
De toda sorte, abordaremos cada uma das excludentes expressamente prevista
no Código de Defesa do Consumidor, sua amplitude e compreensão dentro do contexto
da moderna doutrina consumerista brasileira.

Não colocação do produto no mercado

É importante destacar inicialmente que há uma presunção legal de que o


produto colocado em circulação foi introduzido na cadeia de consumo pelo fornecedor,
contudo, esta presunção pode ser ilidida pela contraprova.

95
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

A toda evidência que, se o fornecedor enquanto fabricante, construtor,


produtor ou importador, não introduziu no mercado de consumo o produto viciado ou
defeituoso, não poderá ser responsabilizado pelos danos dele decorrente.
Situações que podem ser excepcionadas são aquelas decorrentes de roubo
ou furto de produto defeituoso, desde que não se possa culpar o fornecedor em
virtude da culpa in vigilando ou in eligendo. Outra situação possível de exemplificar
como excludente é a que se refere a produtos falsificados, em que marca e sinais são
adulterados e colocados em produtos que são comercializados em detrimento, tanto
do fornecedor quanto do consumidor.
Ao fazer suas considerações sobre as causas de exclusão da responsabilidade
ora em comento, Antônio Herman de Vasconcelos e Benjamin preleciona que “é
até supérfluo dizer que inexiste responsabilidade quando os responsáveis legais não
colocaram o produto no mercado”, porque não haveria nexo causal entre o prejuízo
sofrido pelo consumidor e a atividade do fornecedor, concluindo ao depois, que esta
regra fica mais evidente quando se trata de “produtos falsificados que trazem a marca
do responsável legal ou, ainda, para os produtos que, por ato ilícito (roubo ou furto, por
exemplo), foram lançados no mercado”.
O magistrado Rizzatto Nunes considera que no primeiro exemplo não haveria
excludente porquanto sempre seria possível enquadrar o fato na culpa in vigilando ou
in eligendo, quando então, não caberia indagar sobre a culpa já que a responsabilidade
é objetiva. Para aquele mestre, a única exceção é no que diz respeito aos produtos
falsificados, até por tornar o fornecedor parte ilegítima para figurar no polo passivo,
porquanto é o vendedor quem deve ser responsabilizado, tanto na órbita do direito
penal quanto civil.
Nosso entendimento segue na direção de que, se o fornecedor não colocou
o produto no mercado de consumo, não poderá ser responsabilizado pelos eventuais
danos causados a consumidores porquanto a lei é clara ao fixar que o fornecedor
poderá ser exonerado se provar que “não colocou o produto no mercado” (art. 12, § 3°,
I, da lei 8.078/90). Logo, se o produto foi colocado no mercado de consumo à revelia
do fornecedor, seja por ter sido furtado ou roubado, seja por ser produto falsificado ou
pirateado, e depois venha a causar danos à consumidores, a toda evidência, não haverá
de ser responsabilizado o fornecedor que em nada contribuiu para o evento danoso
que se procure reparar.

Inexistência do defeito apontado

O dever de indenizar, quando falamos do fato do produto ou de serviço, tem


como pressupostos a existência de um “defeito” e a ocorrência de um “dano” relacionado
ao defeito apontado. Por conseguinte, se o produto não apresentar nenhum defeito
que possa diminuir-lhe as qualidades ou quantidades, não causando nenhum dano ao
consumidor, não se poderá falar em indenização.
Preleciona o jovem desembargador Paulo de Tarso Vieira Sanseverino que
“não basta que os danos sofridos pelo consumidor tenham sido causados por um
determinado produto ou serviço. É fundamental ainda que esse produto ou serviço
apresente um defeito, que seja a causa dos prejuízos sofridos pelo consumidor”, para
depois concluir que “o defeito do produto ou do serviço aparece como um dos principais
pressupostos da responsabilidade do fornecedor por acidentes de consumo”.
Conforme o escólio de Fábio Ulhoa Coelho, no caso de inexistência de
defeitos, caberia ao “empresário demonstrar que o produto fornecido ao mercado não
apresentava qualquer impropriedade, seja na concepção, execução ou comercialização”.
Significa dizer que, à luz do Código de Defesa do Consumidor, principalmente
em se tratando de fato do produto ou do serviço, a responsabilização do fornecedor
é objetiva. Consequentemente, o consumidor, em ação de responsabilidade civil
decorrente de acidente de consumo, somente precisará provar a existência do dano e
o nexo causal que o liga ao produto ou serviço que adquiriu.

96
TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA

Da culpa exclusiva da vítima ou de terceiro

As hipóteses assinaladas no inciso III, § 3° do artigo 12, da Lei n° 8.078/90, assim


como no inciso II, § 2° do artigo 14, exclui a responsabilidade do fornecedor, se ficar
provado que o acidente de consumo se deu em razão da culpa exclusiva da vítima ou
por ação exclusiva de terceiro, porquanto não haveria nexo de causalidade entre o dano
sofrido pelo consumidor e a atividade do fornecedor do produto ou serviço.
Neste caso o que o Código prevê é a possibilidade de exclusão de
responsabilidade decorrente do uso inadequado de produto seja pelo próprio adquirente,
seja por terceira pessoa. Mas não é somente o uso inadequado que poderá exonerar o
fornecedor do dever de indenizar, pois poderão ocorrer também outras hipóteses, tais
como: o consumidor ser negligente ao manusear o produto; não seguir as instruções de
uso; entregar o produto para uso a pessoa não recomendada; consumir o produto com
validade vencida, dentre outras.
Conta-se que nos Estados Unidos da América, uma senhora, após dar banho
em seu gatinho, o teria colocado para secar dentro do forno micro-ondas. Resultado
da experiência: o gatinho teria explodido. Nestas circunstâncias, resta evidente a
irresponsabilidade do fornecedor pelo ocorrido, que somente aconteceu em face do uso
do produto para fins que não é recomendado.
Com relação aos serviços vejamos a relação de transportes. A responsabilidade
do transportador é objetiva, secundo o art. 734 do Código Civil. Além disso, a relação
entre o transportado e o transportador é uma relação de consumo logo se aplica,
subsidiariamente, o Código de Defesa do Consumidor que prevê que a responsabilidade
é objetiva em face de danos ocorridos por falha na prestação dos serviços. Apesar de não
haver dúvidas quanto ao fato da responsabilidade ser objetiva com relação às empresas
de transportes, não se pode responsabilizar, por exemplo, as empresas ferroviárias pelos
acidentes ocorridos com os chamados “surfistas ferroviários”.
Nos dois exemplos apresentados é forçoso reconhecer que, se o usuário por
moto próprio resolve exacerbar os riscos, expondo-se a acidentes que, em condições
normais, o produto ou serviço não ofereceria, não se pode responsabilizar o responsável
pela atividade na exata medida em que, tendo ocorrido acidente, o mesmo não decorreu
dos riscos da atividade oferecida, mas sim em face do uso inadequado promovido pelo
próprio acidentado.
Já fizemos este alerta, porém cabe repetir: O Código de Defesa do Consumidor
não proíbe o fornecimento ou comercialização de produtos ou serviços perigosos,
apenas exige do fornecedor que sejam ofertadas ao consumidor, de forma clara, correta,
ostensiva, precisa e em língua portuguesa, com todas as informações de uso adequado
do produto ou serviço (art. 31 do CDC). Se o consumidor é negligente, não se pode
premiar sua falta de diligência, responsabilizando que não contribuiu para o evento
danoso.
No que diz respeito ao terceiro, necessário se faz que seja pessoa estranha à
relação de consumo, entabulada entre o consumidor e o fornecedor. Isto é, não pode ser
enquadrado como terceiro o empregado, o preposto ou o representante autônomo; Da
mesma forma o comerciante varejista ou atacadista de que trata o Código de Defesa do
Consumidor (art. 13), não poderá ser considerado terceiro porque é parte integrante do
ciclo de fornecimento do produto ou do serviço.
Esclareça-se por fim que, pelo disposto no art. 34, do mesmo diploma legal,
o fornecedor de produtos ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus
prepostos ou representantes autônomos, assim como, a norma do art. 7°, § único e o art.
25, § 1° estipula que, na eventualidade de mais de um causador do dano, todos deverão
responder solidariamente. Assim, também por este prisma, o comerciante não pode ser
considerado terceiro.

FONTE: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=186&n_
link=revista_artigos_leitura>. Acesso em: 1 abr. 2019.

97
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

Pertinente à responsabilização dos fornecedores pelo fato do serviço,


temos que o art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, preconiza:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente


da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos (BRASIL, 1990).

O mesmo Art. 14 (BRASIL, 1990) define o que é serviço defeituoso,


vejamos:

Art. 14, § 1º CDC: O serviço é defeituoso quando não fornece a


segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.

Assim, como o produto defeituoso, o serviço também defeituoso também


está atrelado à falta de segurança que este deveria oferecer e não ofereceu.

ATENCAO

Circunstâncias relevantes do serviço defeituoso: a apresentação; o uso e os


riscos que razoavelmente dele se esperam; época em que foi colocado em circulação
(BOLZAN, 2015, p. 334).

Uma observação de suma importância é em relação as inovações


tecnológicas, tendo em vista que ao serem utilizadas, os serviços não são
considerados defeituosos. Como informado no Art. 14, § 2º da Lei nº 8.078,
(BRASIL, 1990) “o serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas
técnicas”.

Com relação às excludentes de responsabilidade, temos que:

Art. 14, § 3º CDC: O fornecedor de serviços só não será responsabilizado


quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros.
§ 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada
mediante a verificação de culpa (BRASIL, 1990).

98
TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA

DICAS

Sugerimos a leitura de “O fato do produto e do serviço e o acidente de consumo”,


de Rizzatto Nunes, para avançarmos nossa compreensão a respeito do estabelecimento da
responsabilidade de indenizar.

A BASE DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA NO CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR: O FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO E O ACIDENTE DE
CONSUMO

Rizzatto Nunes
[...]
Registro, por fim, e apenas corroborando tudo o que foi dito, que o CDC intitula
a seção que cuida do tema como "Da responsabilidade pelo fato do produto e do
serviço", porque a norma, dentro do regramento da responsabilidade objetiva, é dirigida
mesmo ao fato do produto ou serviço em si.
É o "fato" do produto e do serviço causadores do dano o que importa.
Costuma-se também falar em “acidente de consumo” para referir ao fato do produto ou
do serviço. Algumas observações são necessárias a respeito disso.
A expressão "acidente de consumo", muito embora largamente utilizada, pode
confundir, porque haverá casos de defeito em que a palavra "acidente" não fica muito
adequada. Assim, por exemplo, fazer lançamento equivocado no cadastro de devedores
do Serviço de Proteção ao Crédito é defeito do serviço, gerando responsabilidade pelo
pagamento de indenização por danos materiais, morais e à imagem. Porém, não se
assemelha em nada a um "acidente"; comer algum alimento e depois sofrer intoxicação
por bactéria que lá estava gera, da mesma maneira, dano, mas ainda assim não se
assemelha propriamente a acidente.
De outro lado, a lei fala em "fato" do produto. A palavra fato permite uma conexão
com a ideia de acontecimento, o que implica, portanto, qualquer acontecimento.
Lembro, de todo modo, que se tem usado tanto "fato" do produto e do serviço
quanto "acidente de consumo" para definir o defeito. Porém, o mais adequado é guardar
a expressão "acidente de consumo" para as hipóteses em que tenha ocorrido mesmo
um acidente: queda de avião, batida do veículo por falha do freio, quebra da roda-
gigante no parque de diversões, etc., e deixar fato ou defeito para as demais ocorrências
danosas. Em qualquer hipótese, aplica-se a lei.
O estabelecimento da responsabilidade de indenizar nasce, portanto, do nexo
de causalidade existente entre o consumidor (lesado), o produto e/ou serviço e o dano
efetivamente ocorrido. Fica, assim, demonstrada, a teoria — e a realidade — fundante
da responsabilidade civil objetiva estatuída no CDC, assim como as amplas garantias
indenizatórias em favor do consumidor que sofreu o dano — ou seus familiares ou,
ainda, o consumidor equiparado e seus familiares.

FONTE: <https://www.migalhas.com.br/ABCdoCDC/92,MI244495,51045-A+base+da+resp
onsabilidade+objetiva+no+Codigo+de+Defesa+do+Consumidor>. Acesso em: 1 abr. 2019.

99
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

3 POR VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO


Considerando tudo o que estudamos até aqui, iremos agora analisar a
respeito do que o Código de Defesa do Consumidor considera vício do produto
e serviço.

Vamos lá, foco nos estudos!

A responsabilidade dos fornecedores pelo vício do produto ou serviço


encontra-se no art. 18 do Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990, s.p.).
Segue:

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não


duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou
quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo
a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles
decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente,
da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as
variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir
a substituição das partes viciadas.

Ressaltamos que, no vício do produto e serviços, a análise é feita sobre


dois aspectos: a) vício de qualidade e; b) vício de quantidade.

Observa-se que os vícios de qualidade tornam impróprios ou inadequados


os produtos.

E
IMPORTANT

VICIOS DE QUALIDADE:

• Tornar o produto impróprio para consumo.


• Tornar o produto inadequado ao consumo.
• Diminuir o valor do produto.
• Produto em desacordo com as informações da oferta.

Sendo produtos impróprios ao consumo, Art. 18, §6º CDC:

Art. 18, § 6º CDC: São impróprios ao uso e consumo:


I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados,
falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde,
perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas
regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;
III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao
fim a que se destinam (BRASIL, 1990).

100
TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA

Outro ponto importante é a respeito das opções concedidas pelo Código


de Defesa do Consumidor, diante do vício de qualidade do produto, elencado no
art. 18, §1º.

§ 1º Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o


consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em
perfeitas condições de uso;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
§ 2º Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo
previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem
superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula
de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de
manifestação expressa do consumidor.
§ 3º O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1º
deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição
das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características
do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.
§ 4º Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do §
1º deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá
haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos,
mediante complementação ou restituição de eventual diferença de
preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1º deste artigo
(BRASIL, 1990).

Dispõe-se que, ao consumidor é facultado escolher quaisquer das opções


mencionadas no Art. 18, §1º, sem que tenha que “obedecer” a uma ordem.

E, agora, vamos estudar sobre a responsabilidade pelos vícios no serviço.


O Art. 20 do Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990) elenca essa
responsabilidade:

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade


que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor,
assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações
constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor
exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.

O §2º do art. 20 do Código de Defesa do Consumidor define o que é serviço


improprio, sendo:

§ 2º São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os


fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não
atendam as normas regulamentares de prestabilidade (BRASIL, 1990).

101
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

Da mesma forma que a responsabilidade pelo vício do produto é objetiva,


assim também ocorre com os vícios dos serviços: “Art. 23 CDC. A ignorância do
fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços
não o exime de responsabilidade” (BRASIL, 1990, s.p.).

E
IMPORTANT

A RESPONSABILIDADE CIVIL DE SITES INTERMEDIADORES

Mariana Antunes Vieira


[....]

É muito comum, no contexto do e-commerce, a atuação de sites intermediadores,


que se intitulam como meros aproximadores dos consumidores e fornecedores, facilitando
a compra e venda virtual. Um site intermediador muito utilizado pelos brasileiros em suas
negociações é o Mercado Livre.
De acordo com o conceito trazido pelo site wikipédia.org (2015) “o Mercado Livre é uma
empresa de tecnologia que oferece soluções de comércio eletrônico para que pessoas e
empresas possam comprar, vender, pagar, anunciar e enviar produtos por meio da Internet”,
ou seja, ele atua possibilitando a compra e venda virtual em sua totalidade e em troca aufere
lucro com a sua utilização como intermediador.
Percebe-se que o site ocupa uma posição de intermediador, auxiliando tanto os
consumidores quanto os fornecedores para que a relação de consumo seja efetivada.
Esses sites intermediadores, em tese, geram uma maior segurança aos consumidores
e fornecedores, por se tratarem de sítios eletrônicos que submetem seus usuários à um
processo mais burocrático de efetivação de cadastros.
Entretanto, mesmo com os benefícios trazidos por esses tipos de site, são comuns
as situações em que consumidores se acham lesados, enfrentando prejuízos como a não
entrega dos produtos adquiridos ou o recebimento de algo diverso do ofertado, a demora e
até mesmo a entrega de produtos ou serviços com vícios de qualidade ou quantidade.
Isto posto, é importante averiguar se a empresa intermediadora terá alguma responsabilidade
por tais inconvenientes, e caso a resposta seja positiva, como se dará a responsabilização.
Nos termos e condições gerais de uso do site Mercado Livre, é determinado que:
O Mercado Livre não é fornecedor de quaisquer produtos ou serviços anunciados no site […] O
Mercado Livre não se responsabiliza, por conseguinte, pela existência, quantidade, qualidade,
estado, integridade ou legitimidade dos produtos oferecidos, adquiridos ou alienados pelos
Usuários, assim como pela capacidade para contratar dos Usuários ou pela veracidade dos
dados pessoais por eles inseridos em seus cadastros.
O termo tenta eximir o site de qualquer responsabilidade civil, no entanto, por
se tratar de um contrato de adesão (os contratos eletrônicos interativos são contratos de
adesão) não pode trazer cláusulas restritivas ou exclusivas de direito.
O próprio Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 25 determina que é
vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação
de indenizar por vícios e fatos dos produtos ou serviços, sendo inadmissíveis as cláusulas que
afirmam a não responsabilização do sítio eletrônico intermediador. Assim, fica evidente que
a cláusula retratada não é válida, não tendo nenhuma aplicabilidade prática.
É fácil perceber que os sites intermediadores, como o Mercado Livre, se enquadram
perfeitamente no conceito de fornecedor de serviços e os seus usuários no de consumidores,
ficando sujeitos às regras do CDC quanto á responsabilização pelos serviços prestados.

102
TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA

Com tudo isso, é evidente que o posicionamento majoritário recentemente


adotado pelos tribunais superiores consiste em afirmar a legitimidade passiva dos sites
intermediadores em ações de indenização por danos sofridos pelo consumidor, uma vez
que são fornecedores de serviço, respondendo objetivamente segundo o Código de Defesa
do Consumidor.

FONTE:<http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-responsabilidade-civil-e-o-
comercio-eletronico,591157.html>. Acesso em: 1 abr. 2019.

4 OFERTA E PUBLICIDADE
Agora iremos analisar a respeito da oferta e da publicidade, ou seja, a
ligação que existe entre elas.

A oferta refere-se aos métodos utilizados para colocar os produtos ou


serviços no comercio.

Benjamin (1991, p. 273) define a oferta como “sinônimo de marketing,


significando todos os métodos, técnicas e instrumentos que aproximam o
consumidor dos produtos e serviços colocados à sua disposição no mercado
pelos fornecedores. Qualquer dessas técnicas, desde que suficientemente precisa,
pode transformar-se em veículo eficiente de oferta vinculante”.

Rocha (1992, p. 55) menciona que a oferta poderá manifestar-se por


algumas espécies:

a) Oferta determinada pode ser dirigida a uma única pessoa,


chamada, então, de oferta individual, ou, a várias pessoas,
facilmente identificadas por uma relação jurídica base (v.g., a todos
os portadores de um determinado cartão de credito, ou a todos os
professores de uma dada universidade), denominada de oferta
coletiva.
b) Oferta indeterminada é aquela feita ao público e o seu traço
característico é, justamente, a indeterminação dos destinatários.
A oferta indeterminada interessa-nos mais do que outras espécies
porque ela seria o principal ato pré-contratual nos contratos de
consumo”.

A publicidade é a manifestação da oferta, com o objetivo precípuo de


promover comercialmente os produtos e serviços disponibilizados no mercado
de consumo.

Os elementos que definem a publicidade são: necessidade de veicular a


informação e objetivo comercial da publicidade.

Vamos estudar todos esses pontos?

103
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

5 OFERTA
A oferta está elencada no Art. 30 do Código de Defesa do Consumidor
(BRASIL, 1990, s.p.), sendo:

Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa,


veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação
a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor
que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a
ser celebrado.

Observa-se que o Art. 30 do CDC menciona que “a oferta poderá ser


veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação” (BOLZAN, 2015, p. 444).

Assim, temos que os requisitos da oferta caracterizam-se pela precisão da


informação ou publicidade e veiculação da oferta.

Um ponto de suma importância a ser analisado é quando afirmamos que


a oferta vincula, ou seja, o que é exteriorizado através da publicidade, deverá ser
cumprido, sob pena de sanção pela legislação consumerista.

Benjamin (1991, p. 2015) preleciona as maneiras que os produtos e serviços


podem ser vinculados: “a) primeiro, obrigando o fornecedor, mesmo que se
negue a contratar; b) segundo, introduzindo-se (e prevalecendo) em contrato
eventualmente celebrado, inclusive quando seu texto o diga de modo diverso,
pretendendo afastar o caráter vinculante”.

ATENCAO

No caso de descumprimento da oferta por parte do fornecedor, o consumidor


tem as seguintes alternativas: I) exigir o seu cumprimento forçado; II) aceitar outro produto
ou serviço equivalente; III) rescindir o contrato, com a devolução atualizada do que pagou
com direito a perdas. Saiba mais, acessando: http://www.advogadosdosul.adv.br/site/index.
php/artigos-jornais/sobre-a-oferta-no-cdc.html. Acesso em: 5 abr. 2019.

Pertinente à responsabilidade que norteará a oferta, temos que se trata da


responsabilidade objetiva, respeitando-se primordialmente, o princípio da boa-
fé, por ser o regulamentador das relações de consumo.

104
TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA

6 PUBLICIDADE
A publicidade tem por objetivo primordial promover os produtos e
serviços comercialmente. Sendo seus elementos: necessidade de veicular a
informação e objetivo comercial da publicidade.

O Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990, s.p.) define


publicidade em:

Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o


consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal.
Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos
ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos
interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação
à mensagem.

ATENCAO

Publicidade e propaganda são institutos distintos que tem como única


semelhança o fato de se utilizarem de meios de divulgação em massa, como televisão, rádio,
jornais, revistas e portais de internet. Enquanto a propaganda teria como objetivo a difusão
de uma ideia ou de uma ideologia a publicidade faz a divulgação comercial direta ou indireta
de produtos ou serviços.

FONTE:http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_
leitura&artigo_id=1082.

Importante observarmos que a publicidade ilícita poderá ser dividida em:


enganosa e abusiva.

O Art. 37, do Código de Defesa do Consumidor define tais tipos de


publicidade:

Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.


§ 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação
de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por
qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em
erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade,
quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados
sobre produtos e serviços.
§ 2º É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer
natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição,
se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança,
desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o
consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua
saúde ou segurança.

105
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

§ 3º Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão


quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço
(BRASIL, 1990).

Assim, temos que, de acordo com a legislação consumerista, publicidade


enganosa por comissão é quando se afirma ou se mostra algo inexistente. E,
publicidade enganosa por omissão é quando se deixa de informar dado essencial.

Em contrapartida, a publicidade abusiva é aquela que traz informações


que ferem valores da coletividade.

Segundo Nunes (2017, p. 482): “O caráter da abusividade não tem


necessariamente relação direta com o produto ou serviço oferecido, mas sim com
os efeitos da propaganda que possam causar algum mal ou constrangimento ao
consumidor”.

Portanto, a publicidade abusiva é aquela que se realiza com fins


contrários à ordem pública, ao direito, à ética e à moral. Ela procura aparentar
obediência às normas tradicionais da comunicação social, mas, sob a sua
camuflagem, é realmente prejudicial aos interesses dos consumidores e do
meio social em que vivem.

DICAS

VÍDEO: PUBLICIDADE ENGANOSA E ABUSIVA NO CDC – Disponível em: http://


fatojuridico.com/2015-2/.

106
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• A importância primordial sobre a responsabilidade dos fornecedores pelo fato


do produto e serviço.

• Definição de produtos e serviços impróprios.

• Responsabilidade solidaria dos fornecedores.

• A responsabilidade pelo vício do produto e serviço.

• Definição de vício diante do Código de Defesa do Consumidor.

• Responsabilidade objetiva dos fornecedores.

• Excludentes de responsabilidade dos fornecedores.

• Oferta.

• Vinculação da oferta.

• O que poderá ser exigido quando a oferta não é cumprida.

• Publicidade.

• Enganosa.

• Por comissão.

• Por omissão.

• Abusiva.

107
AUTOATIVIDADE

1 Em caso de vicio do produto, o consumidor poderá exigir sua substituição


por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso, se o fornecedor
não resolver o problema em:

a) ( ) 15 dias.
b) ( ) 30 dias.
c) ( ) 5 anos.
d) ( ) 10 anos.

2 Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A ignorância do comerciante sobre os vícios de qualidade por


inadequação dos produtos o exime de reponsabilidade.
b) ( ) A garantia contratual de adequação do serviço depende de termo
expresso e deverá ter em destaque clausula limitativa da garantia legal.
c) ( ) O abuso de direito praticado em detrimento do consumidor é fundamento
para que o juiz desconsidere a personalidade jurídica do fornecedor.
d) ( ) Os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de
componentes e peças de reposição pelo período de cinco anos contados
da data de fabricação do produto.

108
UNIDADE 2
TÓPICO 4

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

1 INTRODUÇÃO
Importante observarmos que a pessoa jurídica é distinta da pessoa de seus
sócios e, sendo assim, os bens da pessoa jurídica não devem confundir-se com os
bens dos sócios.

A Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica (Disregard of Legal


Entity), teve origem no direito alemão, sintetizada por Rolf Serick.

A doutrina define:

A teoria da desconsideração da personalidade jurídica legitima,


portanto, a retirada do manto protetor que a personalidade de uma
empresa possui para atingir o patrimônio do sócio fraudador em caso
de eventual ação proposta em razão de prejuízos causados em nome
da entidade “fraudadora (BOLZAN, 2015, p. 423).

Em nossa legislação, o Código de Defesa do Consumidor contempla tal


desconsideração no Art. 28.

Vejamos:

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da


sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de
direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação
dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será
efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento
ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração”
(BRASIL, 1990, s.p.).

E, no Código Civil, encontra-se no Art. 50:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado


pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz
decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe
couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos
administradores ou sócios da pessoa jurídica (BRASIL, 2002).

109
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

E, quais seriam os requisitos para requerermos a desconsideração da


personalidade jurídica?

Vamos a eles:

• Abuso da personalidade jurídica, em decorrência do desvio de finalidade e


confusão patrimonial.
• Requerimento da parte ou Ministério Público.

Portanto, toda vez que a personalidade jurídica for obstáculo ao


ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores, requeremos a
desconsideração da personalidade jurídica.

2 TEORIAS: MAIOR E MENOR


As teorias maior e menor nos informam os aspectos do instituto da
desconsideração da personalidade jurídica.

Doutrinadores definem as teorias maior e menor:

A teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica possui


duas formulações, a objetiva e a subjetiva. A primeira delas trata da
confusão patrimonial, situação que possui maior facilidade de ser
comprovada. Já a formulação subjetiva pressupõe a fraude e o abuso de
direito, elementos estes com maior dificuldade de serem comprovados,
pois a intenção que o sócio possui em frustrar os interesses do credor
deve ser demonstrada. Para esta teoria, o simples inadimplemento de
obrigações para com os credores não configura a desconsideração.
A teoria maior não pode ser aplicada com a mera demonstração de estar
a pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de suas obrigações.
Exige-se, aqui, para além da prova de insolvência, ou a demonstração
de desvio de finalidade, ou a demonstração de confusão patrimonial
(NEVES, p. 145, 2015).

Em contrapartida, a definição de teoria menor:

A teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica é muito


menos ordenada do que a teoria maior, pois a seu bom emprego
pressupõe o simples inadimplemento para com os credores, sem ao
menos analisar os reais motivos que levaram a sociedade a deixar de
se obrigar perante terceiros.
Também é aplicada a teoria menor nos casos de insolvência ou
falência da pessoa jurídica, pouco importando se o sócio utilizou
fraudulentamente o instituto, se houve abuso de direito, tampouco se
foi configurada a confusão patrimonial; a preocupação maior é não
frustrar o credor da sociedade (AMARAL, 2016. p. 205).

110
TÓPICO 4 | DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

E
IMPORTANT

O Código Civil adotou a teoria maior da desconsideração nas modalidades


subjetiva e objetiva, em seu art. 50.
O Código de Defesa do Consumidor adotou a teoria menor, bastando a insolvência
do fornecedor para legitimar a desconsideração da personalidade jurídica.

3 PROTEÇÃO COMERCIAL
As relações contratuais, anterior ao surgimento do Código de Defesa do
Consumidor eram tuteladas pelo Código Civil, onde havia uma bilateralidade
nas obrigações assumidas.

Com o consumismo crescente passaram a existir várias modalidades


de contratos de consumo e, com isso a necessidade de uma maior proteção ao
consumidor, surge assim, em 1990, o Código de Defesa do Consumidor.

4 PRÁTICAS COMERCIAIS ABUSIVAS


As práticas comerciais abusivas referem-se ao comportamento que estiver
em desacordo com a boa-fé.

Benjamim (1991, p. 375) define, como sendo “a desconformidade com os


padrões mercadológicos de boa conduta em relação ao consumidor”.

No mesmo sentido, Cavalieri Filho (2012, p. 149):

Práticas abusivas são ações ou condutas do fornecedor em


desconformidade com os padrões de boa conduta nas relações de
consumo. São práticas que, no exercício da atividade empresarial,
excedem os limites dos bons costumes comerciais e, principalmente,
da boa-fé, pelo que caracterizam o abuso do direito, considerando
ilícito pelo art. 187 do código civil. Por isso são proibidas.

O Código de Defesa do Consumidor, em seu Art. 39 preconiza:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras


práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao
fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa,
a limites quantitativos;

111
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata


medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade
com os usos e costumes;
III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer
produto, ou fornecer qualquer serviço;
IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo
em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para
impingir-lhe seus produtos ou serviços;
V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;
VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e
autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de
práticas anteriores entre as partes;
VII - repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo
consumidor no exercício de seus direitos;
VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço
em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais
competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo
Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial (Conmetro);
IX - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou
deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério;
IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente
a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento,
ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais;
(Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
X - (Vetado).
X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços. (Incluído
pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
XI - Dispositivo incluído pela MPV nº 1.890-67, de 22.10.1999,
transformado em inciso XIII, quando da conversão na Lei nº 9.870, de
23.11.1999
XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou
deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério. (Incluído
pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou
contratualmente estabelecido. (Incluído pela Lei nº 9.870, de 23.11.1999)
XIV - permitir o ingresso em estabelecimentos comerciais ou de
serviços de um número maior de consumidores que o fixado pela
autoridade administrativa como máximo. (Incluído pela Lei nº 13.425,
de 2017) (BRASIL, 1990).

ATENCAO

As práticas abusivas não estão disciplinadas somente no Art. 39 do CDC, mas


em todo o código. São práticas abusivas: a colocação no mercado de produto ou serviço
com alto grau de nocividade ou periculosidade (artigo 10); a falta de componentes e peças
de reposição adequadas (artigo 21); a comercialização de produtos ou serviços impróprios
(artigo 18, parágrafo 6º, e 20, parágrafo 2º); a cobrança irregular de dívidas de consumo
(artigo 42); a utilização de cláusula contratual abusiva (artigo 51); dentre outras.
FONTE: <https://www.conjur.com.br/2018-mai-12/julio-oliveira-relacao-cliente-fornecedor-
conceito-justa-causa>. Acesso em: 1 abr. 2019.

112
TÓPICO 4 | DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

5 CLÁUSULAS ABUSIVAS
As cláusulas abusivas são aquelas clausulas que oneram de forma excessiva
o consumidor e, por esse motivo devem ser declaradas nulas pelo magistrado.

O Art. 51 do Código de Defesa do Consumidor traz em seu escopo um rol


exemplificativo de cláusulas abusivas:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do
fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços
ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações
de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a
indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga,
nos casos previstos neste código;
III - transfiram responsabilidades a terceiros;
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;
V - (Vetado);
VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;
VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;
VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio
jurídico pelo consumidor;
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato,
embora obrigando o consumidor;
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do
preço de maneira unilateral;
XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem
que igual direito seja conferido ao consumidor;
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua
obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo
ou a qualidade do contrato, após sua celebração;
XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;
XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias
necessárias (BRASIL, 1990, s.p.).

A doutrina preleciona:
São cláusulas abusivas as que caracterizam lesão enorme ou violação
ao princípio da boa-fé objetiva, funcionando estes dois princípios
como cláusulas gerais do Direito, a atingir situações não reguladas
expressamente na lei ou no contrato. Norma de Direito Judicial impõe
aos juízes torná-las operativas, fixando a cada caso a regra de conduta
devida (AGUIAR JR, 1994, s.p.).
E, ainda:

No regime jurídico do CDC, as cláusulas abusivas são nulas de pleno


direito porque contrariam a ordem pública de proteção ao consumidor.
Isso quer dizer que as nulidades podem ser reconhecidas a qualquer
tempo e grau de jurisdição, devendo o juiz ou tribunal pronunciá-las
ex officio, porque normas de ordem pública insuscetíveis de preclusão
(NERY JR, s.d., s.p.).
113
UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA

ATENCAO

A legislação consumerista objetiva a proteção do consumidor em todas as fases


da relação de consumo, expressamente garantindo a sua posição de vulnerabilidade perante
o fornecedor. Nos contratos de consumo, a lei proíbe que ao consumidor sejam impostas
cláusulas consideradas abusivas, que o coloquem em situação de desvantagem perante o
fornecedor contratante. A abusividade decorre da afronta ao princípio da boa-fé objetiva,
norma fundamental que permeia as relações firmadas entre consumidores e fornecedores.

FONTE:<http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_
id=11277&revista_caderno=10>. Acesso em: 1 abr. 2019.

6 CONTRATOS DE ADESÃO
Salutar mencionarmos que o contrato de adesão é um instrumento
cujas cláusulas são preestabelecidas unilateralmente pelo parceiro contratual
economicamente mais forte, ou seja, o fornecedor. Não existe um “acordo de
vontades”, por isso tais contratos tem uma atenção especial por parte da legislação
consumerista.

Nos contratos de adesão não há espaço para negociação tangente


aos termos do contrato. O fornecedor elabora o contrato como um todo, e o
consumidor, representando a parte vulnerável do negócio, pode apenas aceitar
este contrato ou não, sendo que o ato de aceitá-lo é representado através da sua
adesão ao contrato.

Os contratos de adesão estão elencados no Art. 54 do Código de Defesa


do Consumidor.

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham


sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas
unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que
o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu
conteúdo (BRASIL, 1990).

E
IMPORTANT

O Contrato de adesão pode se mostrar bastante perigoso, haja vista que, por
inexistir discussão para elaboração do contrato, o fornecedor acaba que inserindo cláusulas
manifestamente vantajosas ao seu favor e desvantajosas para o consumidor, por exemplo:
cláusula que desonerem o fornecedor de uma responsabilidade pelo fato ou vício do produto
ou serviço, cláusula de juros abusivos, cláusula de eleição de foro em favor do estipulante e
dentre outros (MIRAGEM, 2009, p.122).

114
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• A desconsideração da personalidade jurídica surge no direito alemão.

• O patrimônio da pessoa jurídica é distinto do patrimônio dos sócios.

• Em algumas situações requeremos a desconsideração da personalidade


jurídica.

• Teorias que embasam o pedido de desconsideração da personalidade jurídica:


teoria maior e menor.

° Proteção comercial.
° Práticas comerciais abusivas.
° Cláusulas abusivas.
° Contratos de adesão.

115
AUTOATIVIDADE

1 São vedadas as práticas comerciais consideradas abusivas pelo art. 39 do


CDC e as práticas previstas no artigo podem ser tanto contratuais, como
pré-contratuais e pós contratuais.

a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.

2 No sistema protetivo do consumidor:

a) ( ) Os serviços públicos são excluídos, já que o objeto de leis próprias.


b) ( ) O acesso ao poder judiciário é sempre gratuito aos consumidores, para
facilitação da defesa de seus interesses.
c) ( ) Haverá, sempre, a inversão do ônus probatório em benefício do
consumidor, em face de sua presumida hipossuficiência, que é absoluta.
d) ( ) As cláusulas de eleição de foro são tidas por inexistentes em qualquer
hipótese, não gerando efeitos jurídicos.
e) ( ) É garantido o direito de modificação das cláusulas contratuais que
estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de
fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas.

3 Ao tratar da desconsideração da pessoa jurídica, o CDC estabelece que as


sociedades integrantes dos grupos societários, as sociedades controladas e
as consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações previstas
no código.

a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.

4 Acerca dos direitos do consumidor, julgue os itens seguintes:


Segundo a jurisprudência do STJ, a toeira menor da desconsideração da
personalidade jurídica incide com a mera prova de insolvência da pessoa
jurídica para o pagamento de suas obrigações, independentemente da
existência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial.

a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.

116
UNIDADE 3

LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a base constitucional, os conceitos e direitos básicos do


direito do trabalho;

• analisar os princípios que norteiam a legislação trabalhista, bem como


sua aplicação perante a Consolidação das Leis Trabalhistas;

• adquirir uma visão geral a respeito dos conceitos: empregado, empre-


gador, trabalhador, vínculo trabalhista, contrato de trabalho e direitos
trabalhistas;

• conhecer as verbas rescisórias que o empregado tem direito ao ter seu


contrato de trabalho rescindido.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – CONCEITO DO DIREITO DO TRABALHO E PRINCÍPIOS


TRABALHISTAS

TÓPICO 2 – CONTRATOS TRABALHISTAS

TÓPICO 3 – REMUNERAÇÃO x SALÁRIO

TÓPICO 4 – VERBAS TRABALHISTAS

117
118
UNIDADE 3
TÓPICO 1

CONCEITO: DIREITO DO TRABALHO E PRINCÍPIOS


TRABALHISTAS

1 INTRODUÇÃO
No presente tópico analisaremos os conceitos primordiais que perfazem a
legislação trabalhista. Serão examinadas, também, a área do Direito em que ela se
situa e a divisão interna que caracteriza o ramo justrabalhista.

O trabalho durante a evolução da humanidade foi caminhando para o


que temos hoje. Antes um trabalho desonroso, sem qualquer benefício para o
trabalhador, hoje regras de proteção para evitar que o trabalhador, sendo a parte
mais fraca dessa relação, seja prejudicado.

O Direito do Trabalho, como sistema jurídico coordenado, tem na relação


empregatícia sua categoria básica, a partir da qual se constroem os princípios,
regras e institutos essenciais desse ramo jurídico especializado, demarcando
sua característica própria e distintiva perante os ramos jurídicos correlatados”
(DELGADO, 2017).

Portanto, analisaremos, além do seu conceito, os princípios do Direito


do Trabalho e sua natureza jurídica, que é um ramo jurídico especializado, que
regula a relação laborativa da sociedade, é necessário que se tenha a compreensão
de suas características essenciais.

Passamos a estudar!

119
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

2 CONCEITO E FUNÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO


A Justiça do Trabalho foi efetivamente criada no dia 1º de maio do ano de
1941, pelo Decreto-lei nº 1.237. Antes disso, porém, já existiam no país as Juntas
de Conciliação e Julgamento, criadas em 1932, porém foi apenas em 1946 que a
Justiça do Trabalho passou a integrar o Poder Judiciário.

O Direito do Trabalho é ramo que cuida das relação trabalhistas, relações


entre empregado e empregador. Não engloba todos os trabalhadores, por
exemplo, os trabalhadores eventuais, estagiários, autônomos, além dos servidores
públicos. Esses terão regras próprias.

“O direito do Trabalho visa à realização de valores sociais, não econômicos,


com o objetivo de preservar um valor universal, que é a dignidade da pessoa
humana” (GURGEL, 2010, s.p.), princípio previsto da nossa Constituição Federal.

A caracterização da relação empregatícia é, portanto, procedimento


essencial ao Direito do Trabalho, à medida que propiciará o encontro
da relação jurídica básica que deu origem e assegura desenvolvimento
aos princípios, regras e institutos justrabalhistas e que é regulada por
esse ramo jurídico especial (DELGADO, 2017, p. 289).

Porém, é preciso saber a diferença entre trabalhador e empregado,


portanto, estudaremos adiante. Antes vamos analisar os princípios que regem o
Direito do Trabalho.

3 PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO


Os princípios têm a ideia de começo, de onde vem algo. No direito, os
princípios facilitam a interpretação das normas, auxiliando o legislador e o
aplicador das normas postas.

O doutrinador Francisco de Amaral (2005, p .445) leciona que “os


princípios são norteadores para uma regulamentação jurídica, isto é, são critérios
para ação e, também, constituição de normas jurídicas, visando unificar o sistema
de normas”. Em resumo, são diretrizes básicas a serem seguidas.

Os princípios têm natureza normativa, ou seja, são capazes de regular


um caso concreto, servindo de base para uma decisão judicial. Entre
uma norma e um princípio, este último deve prevalecer. A CLT, em
sua ascendência visionária, já diz isso desde 1943, no parágrafo único
do art. 8º. A moderna doutrina (pós-positivista) chega a classificar as
normas em duas categorias: normas-princípio e normas-disposição
(CISNEIROS, 2016, p. 25).

Temos diversos princípios que regem o Direito do Trabalho. Trataremos


dos principais.

120
TÓPICO 1 | CONCEITO: DIREITO DO TRABALHO E PRINCÍPIOS TRABALHISTAS

a) PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO OPERÁRIO OU PRO MISERO

Sabemos que o empregado em relação ao empregador sempre será a parte


mais fraca dessa relação. Portanto, esse princípio nos traz que, se houver alguma
dúvida, a interpretação que deve prevalecer é a mais favorável ao empregado.

b) PRINCÍPIO DA NORMA MAIS FAVORÁVEL

Amauri Mascaro (1977, p. 235, apud OLIVEIRA JÚNIOR, 2017, s.p.) revela
que,
ao contrário do direito comum, o direito do trabalho, quando houver
muitas normas sobre a mesma matéria, a pirâmide para se chegar à
conclusão de qual norma aplicar, não serão a Constituição Federal,
leis federais, convenções coletivas ou regulamento da empresa,
obrigatoriamente, mas, sim, aquela norma que forma mais favorável
dentre as várias diferentes em vigor.

Mais uma vez o princípio busca beneficiar o empregado nas relações


empregatícias, por ser a parte que é mais fraco nessa relação.

c) PRINCÍPIO DA IRRENUNCIABILIDADE DAS GARANTIAS LEGAIS DO


TRABALHADOR

Esse princípio afirma que o trabalhador não pode renunciar direitos


durante o contrato de trabalho. Podemos citar como exemplo o direito às férias
que está previsto na nossa legislação. O trabalhador não poderá renunciar a
esse direito. “O empregado não pode, em regra, “negociar” individualmente a
diminuição ou eliminação de um direito, tampouco “renunciar”. A negociação é
fruto de uma transação (concessões recíprocas), enquanto que a renúncia deriva
de um ato unilateral” (CISNEIROS, 2016, p. 30).

Para se ter garantia, o Ministério do Trabalho fiscaliza para que não haja
coação por parte dos empregadores.

d) PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE SALARIAL

“O salário é alvo de garantias legais, que vão desde a impenhorabilidade


(art. 833, IV, do CPC/2015, correspondente ao art. 649, IV, do CPC/1973 c/c OJ
153 da SDI-2) e a proteção de descontos patronais (art. 462 da CLT), até a própria
irredutibilidade (art. 7º, VI, da CF)” (CISNEIROS, 2016, p. 33).

Portanto, o empregador não pode reduzir o salário do empregado, por ser


uma garantia constitucional. O salário tem caráter alimentar, assim o empregado
não pode ter prejuízo caso venha ser diminuído o valor de seus rendimentos
mensais.

121
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

e) PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DA RELAÇÃO DE EMPREGO

Esse princípio busca proteger o contrato de trabalho, que em regra devem


ser feitos por prazo indeterminado.

f) PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA REALIDADE

“O contrato de trabalho é um “contrato realidade” (expressão consagrada


pelo saudoso Orlando Gomes), podendo ser pactuado expressa ou tacitamente –
art. 442 da CLT. A sua existência não depende de forma específica. O princípio da
primazia da realidade reina soberano no Direito do Trabalho, sempre na proteção
do obreiro” (CISNEIROS, 2016, p. 34).

É a busca da verdade em benefício do empregado.

UNI

Um bom exemplo do princípio da primazia da realidade se encontra na Súmula


437, IV, do TST, que trata dos empregados com jornada de 6 horas, mas que realizam horas
extras. Ora, quem trabalha 6 horas tem direito a apenas 15 minutos de intervalo intrajornada,
diferentemente daquele que labora mais de 6 horas, que tem direito a no mínimo 1 hora de
intervalo. A concessão do intervalo, diz a referida Súmula, deve levar em conta a jornada real.
ITEM IV DA SÚMULA 437 TST – Ultrapassada habitualmente a jornada de seis horas
de trabalho, é devido o gozo do intervalo intrajornada mínimo de uma hora, obrigando o
empregador a remunerar o período para descanso e alimentação não usufruído como extra,
acrescido do respectivo adicional, na forma prevista no art. 71, caput e § 4º da CLT.
Observe-se que empregador e empresa são conceitos que guardam entre si uma
relação de gênero e espécie, uma vez que empregador é uma qualificação jurídica ampla, e
empresa é uma das formas, a principal, dessa qualificação, ao lado de outras, que abrangem
instituições sem fins lucrativos – evidentemente não empresariais – (CISNEIROS, 2016, p. 34).

4 DISTINÇÃO DE TRABALHADOR E EMPREGADO


Todo empregado é um trabalhador, mas nem todo trabalhador é um
empregado, ou seja, o trabalhador somente será empregado quando preencher
os quatro requisitos a saber: pessoalidade, não eventualidade, subordinação e
remuneração, que será estudado no próximo tópico.

Com relação ao conceito de empregado, a Consolidação das Leis do


Trabalho traz em seu artigo 3º, vejamos: "toda pessoa física que prestar serviços
de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante
salário", portanto, empregado é o trabalhador subordinado, que recebe ordens,
é pessoa física que trabalha todos os dias ou periodicamente, ou seja, não é um

122
TÓPICO 1 | CONCEITO: DIREITO DO TRABALHO E PRINCÍPIOS TRABALHISTAS

trabalhador que presta seus serviços apenas de vez em quando (esporadicamente)


e é assalariado.

Desta forma, EMPREGADO é toda pessoa física que prestar serviços de


natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.

ATENCAO

Imaginemos uma fazenda (que passaremos a chamar de propriedade rural)


em que um animal do rebanho bovino apresente certo comportamento indicando que
possivelmente está com a saúde debilitada.
Para tentar resolver a situação, o proprietário contrata um médico-veterinário para
examinar animal e fazer o diagnóstico e definir o tratamento. Sabendo que o tratamento
durará alguns dias, o peão que trabalha na propriedade rural cuidará diariamente do animal
conforme orientação do médico-veterinário.
Este simples caso permite-nos visualizar a diferença entre trabalhador e empregado.

Portanto, com o exemplo prático fica mais simples fazer a diferença


entre os dois conceitos. Analisaremos agora os requisitos citados acima para ser
enquadrado no termo “empregado”.

5 CONCEITO DE EMPREGADOR
A Consolidação das Leis do Trabalho dispõe que “considera-se
empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da
atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços”
(art. 2º).

A empresa é comumente conceituada como uma atividade organizada para


a produção ou circulação de bens ou serviços destinados ao mercado, com objetivo
de lucro. No âmbito do Direito do Trabalho, a CLT expressamente estabelece a
exigência de que ela assuma os riscos do negócio. Assim, a empresa deve assumir
tanto os resultados positivos quanto os negativos do empreendimento, não
podendo estes últimos serem transferidos ao empregado.

O conceito legal de empregador abarca, ainda, as autarquias que


não estejam submetidas a regime próprio (art. 7º, alínea d, da CLT),
as empresas públicas, as sociedades de economia mista e “outras
entidades que explorem atividade econômica”, pessoas jurídicas de
direito privado, mas com participação majoritária do Estado (art. 173,
parágrafo 1º, da CF). Entre essas outras entidades enquadram-se as
fundações públicas, inclusive de direito público, que adotam regime
da Consolidação das Leis do Trabalho (CAMINO, 2004, p. 213).

123
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

ATENCAO

Observe-se que empregador e empresa são conceitos que guardam entre si


uma relação de gênero e espécie, uma vez que empregador é uma qualificação jurídica
ampla, e empresa é uma das formas, a principal, dessa qualificação, ao lado de outras, que
abrangem instituições sem fins lucrativos –evidentemente não empresariais – (NASCIMENTO,
NASCIMENTO, 2014, p. 504).

Temos ainda no parágrafo 1º do Art. 2º da CLT os equiparados aos


empregadores, vejamos:

Art. 2º ...
§ 1º Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relação
de emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficência,
as associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos,
que admitirem trabalhadores como empregados.

Portanto, não serão empregadores somente as empresas, mas também os


profissionais liberais, associações, entidades etc. Todos esses poderão empregar.

6 CRITÉRIOS DE CARACERIZAÇÃO DA RELAÇÃO


EMPREGATÍCIA
Agora que já sabemos o conceito de empregado e empregador vamos
aprender o que é uma relação de emprego. Romar (2018, p. 128) descreve muito
bem esse conceito:

A relação de emprego é uma espécie de relação de trabalho, que se


baseia no nexo entre empregador e empregado, caracterizado pela
prestação pessoal de serviços, de forma não eventual e subordinada,
mediante o pagamento de salário. É a relação jurídica que tem
como fato social original o trabalho subordinado, prestado com
pessoalidade, mediante remuneração, e que tem como disciplina
jurídica o conjunto humano não eventual e de normas que compõem
o Direito do Trabalho.

Para que fique claro o entendimento da relação de emprego devemos


analisar primeiramente as suas características:

a) Pessoalidade
O trabalho prestado deve ser pessoal, ou seja, a própria pessoa deve
desenvolver, não poderá terceirizar o serviço para que outro o execute. Assim,
podemos afirmar que o que se contrata não é o serviço como resultado, mas o
serviço prestado pessoalmente por alguém.

124
TÓPICO 1 | CONCEITO: DIREITO DO TRABALHO E PRINCÍPIOS TRABALHISTAS

b) A não eventualidade
O serviço prestado deve ser contínuo, não eventual. “As obrigações das
partes se prolongam no tempo, com efeitos contínuos” (ROMAR, 2018, p. 131).

Importante esclarecer que o serviço não precisa ser prestado todos os dias.
Apenas que ele tenha um caráter de permanência, não importando o tempo de
duração, não podendo ser um trabalho esporádico.

c) A subordinação
A subordinação nada mais é do que “a sujeição do empregado às ordens
do empregador, é o estado de dependência do trabalhador em relação ao seu
empregador” (ROMAR, 2018, p. 133).

ATENCAO

Após a entrada em vigor da Lei 12.551/2011, o legislador passou a reconhecer que


não se distingue entre trabalho realizado no estabelecimento do empregador, o executado
no domicílio do empregado, e o realizado a distância, desde que estejam caracterizados os
pressupostos da relação de emprego, prevendo que os meios telemáticos e informatizados
de comando, controle e supervisão se equiparam, para fins de subordinação jurídica, aos
meios pessoais e diretos de comando, controle e supervisão do trabalho alheio (art. 6º,
parágrafo único, CLT) (ROMAR, 2018, p. 134).

d) Onerosidade (ou remuneração)


Todo trabalho prestado deve ser pago, não importando o quanto a ser
pago, porém para caracterizar a relação de emprego é necessário que haja uma
contraprestação. De um lado se tem o trabalho prestado e de outro o pagamento
(remuneração).

Mauricio Delgado (2017, p. 322) acrescenta:

À medida que se sabe que o salário pode ser pago em dinheiro ou


parcialmente em utilidades 9art. 458, CLT), pode ser pago por dia,
semana, quinzena ou mês (art. 459, CLT), pode ser calculado segundo
modalidade fica ou formula variável de computo (art. 483, “g”, CLT),
à medida que, assim, a contraprestação econômica do empregador
ao empregado pode assumir formas distintas e variadas na prática
empregatícia concreta, percebe-se, que, do ponto de vista objetivo, a
onerosidade dificilmente se oculta em uma dada relação de trabalho
investigada: de uma forma ou de outra, a contraprestação onerosa
despontará ao longo da prestação do trabalho.

Veja que o trabalho na relação de emprego, é de natureza produtiva,


portanto, não há que se falar em gratuidade.

125
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

e) Alteridade
A alteridade nada mais é do que o risco pertencer apenas ao empregador.
Muitos doutrinadores não consideram a alteridade como um requisito, porém
de acordo com Renzeti Filho (2015, p. 22) “está previsto no caput do artigo 2º da
CLT que determina que o empregador é aquele que assume os riscos da atividade
econômica”.

7 MODALIDADES ESPECIAIS DE TRABALHO


Prezado acadêmico, está pronto para seguir adiante com nossos estudos
acerca de legislação? Se sim, vamos lá!

A seguir vamos estudar as modalidades de trabalho que não são


considerados empregados pela nossa legislação, portanto, são apenas
trabalhadores, mas não empregados.

a) TRABALHO AUTÔNOMO
O trabalhador autônomo não possui o critério de subordinação, que é um
dos elementos essenciais para se estabelecer vínculo de emprego. “O prestador
de serviços desenvolve o serviço ou obra contratada, de forma autônoma, com
profissionalidade e habitualidade, atuando por conta e risco próprio, assumindo
o risco da atividade desenvolvida” (RENZETTI, 2015, p. 24).

b) TRABALHO EVENTUAL
[...] podemos dizer que o trabalho eventual tem a ver com a necessidade
ocasional da atividade do trabalhador para o empreendimento.
Nesta hipótese, em regra, não há fixação do trabalhador para o
empreendimento. Nesta hipótese, em regra, não há fixação do
trabalhador a um único tomador, e a natureza do trabalho corresponde
a eventos ocasionais, certos determinados e de curta duração
(RENZETTI, 2015, p. 24).

c) TRABALHO AVULSO
“Com a intermediação do sindicato ou do Órgãos de Gestão de Mão de
Obra (Ogmo), o trabalhador avulso presta serviços a diversos tomadores, sem
se fixar especificamente a nenhum deles. O trabalhador avulso é comumente
encontrado no setor portuário” (RENZETTI, 2015, p. 24).

ATENCAO

Muito embora o inciso XXXIV do art. 7ª da CF/1988 assegure a igualdade de direitos


entre trabalhador com vínculo permanente de emprego e o avulso, este não é empregado. A
intenção do constituinte foi simplesmente assegurar ao avulso os mesmos direitos concedidos
ao empregado com vínculo permanente de emprego” (RENZETTI, 2015, p. 24).

126
TÓPICO 1 | CONCEITO: DIREITO DO TRABALHO E PRINCÍPIOS TRABALHISTAS

d) TRABALHO VOLUNTÁRIO
O trabalho voluntário possui uma legislação própria, a Lei nº 9.608/1988,
que disciplina todas as garantias e direitos dos trabalhadores dessa categoria.
Em 2016, alguns artigos sofreram alterações, dentre eles estão os três primeiros
artigos que são de suma importância para o entendimento. Vejamos:

Art. 1º Considera-se serviço voluntário, para os fins desta Lei, a


atividade não remunerada prestada por pessoa física a entidade
pública de qualquer natureza ou a instituição privada de fins não
lucrativos que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais,
científicos, recreativos ou de assistência à pessoa.
Parágrafo único. O serviço voluntário não gera vínculo empregatício,
nem obrigação de natureza trabalhista previdenciária ou afim.
Art. 2º O serviço voluntário será exercido mediante a celebração de
termo de adesão entre a entidade, pública ou privada, e o prestador
do serviço voluntário, dele devendo constar o objeto e as condições de
seu exercício.
Art. 3º O prestador do serviço voluntário poderá ser ressarcido
pelas despesas que comprovadamente realizar no desempenho das
atividades voluntárias.
Parágrafo único. As despesas a serem ressarcidas deverão estar
expressamente autorizadas pela entidade a que for prestado o serviço
voluntário.

Portanto, o trabalhador dessa categoria não recebe remuneração por seus


serviços, apenas pode ser ressarcido das despesas que eventualmente tenha.
Dentre essas modalidade temos outras, como o estágio. Este também possui lei
própria disciplinando (Lei nº 11.788/08) e nada mais é do que a preparação do
estudante ao mercado de trabalho. “Somente são estagiários alunos matriculados
em instituições ou de ensino público ou particular, podendo ser de nível superior
ou nível médio (MINUCI, 2014, s.p.)”. O estágio deve ser compatível com o curso
que o estudante está cursando, não podendo ser em áreas distintas.

127
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Empregados, empregadores e trabalhadores possuem conceitos diferentes.

• Temos vários princípios que norteiam o Direito do Trabalho.

• Existem alguns critérios para a caracterização da relação empregatícia.

• Ainda temos modalidades de trabalho que não estão dentro do conceito de


empregado.

128
AUTOATIVIDADE

1 Os salários devem ser pagos ao empregado, independentemente de a


empresa ter auferido lucros ou prejuízos, uma vez que os riscos da atividade
econômica pertencem única e exclusivamente ao empregador. Tal assertiva
baseia-se no requisito caracterizador da relação de emprego denominado:

a) ( ) Pessoalidade.
b) ( ) Alteridade.
c) ( ) Não eventualidade.
d) ( ) Onerosidade.
e) ( ) Subordinação.

2 A relação de trabalho é diversa da relação de emprego, visto que essa


última deve conter requisitos previstos na legislação trabalhista para sua
configuração. Segundo esses requisitos, haverá relação de emprego, na
situação de:

a) ( ) Contrato de estágio.
b) ( ) Empreiteiro de construção civil autônomo.
c) ( ) Trabalho voluntário para instituição de caridade.
d) ( ) Acompanhante de idoso, remunerado e com trabalho diário.
e) ( ) Associado de cooperativa.

129
130
UNIDADE 3
TÓPICO 2

CONTRATOS TRABALHISTAS

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico. Seguiremos com nosso estudo acerca de legislação.
No tópico anterior mencionamos os conceitos básicos do direito do trabalho, bem
como os conceitos de empregado, empregador e as suas relações.

Verificamos como se dá a relação entre empregado e empregador e ainda


aprendemos o que são os princípios e quais são os principais no Direito do
Trabalho. Neste Tópico 2 estudaremos os contratos de trabalho, de que forma
devem ser confeccionados e quais as modalidade que a lei permite.

2 CARACTERÍSTICAS DO CONTRARO DE TRABALHO


O contrato de trabalho é o documento feito entre empresa e empregado que
contém as regras e direitos trabalhistas. Nele se estipula a função do trabalhador,
carga horária e demais direitos. O artigo 442 disciplina o conceito de contrato de
trabalho:

Art. 442 - Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso,


correspondente à relação de emprego.

O comportamento dos sujeitos dos contratos de trabalho deve respeitar


um conjunto de deveres previstos pelo direito positivo, tanto o empregado como
o empregador, e boa-fé, tanto no período pré-negocial como na constância de
contratos e na fase da extinção dos contratos, e o comportamento que contrariar
o princípio estará em desacordo com o direito.

Não é por outra razão que nos contratos individuais de trabalho é nulo todo
ato destinado a desvirtuar, impedir ou fraudar as disposições da lei (CLT, art. 9º),
nenhum interesse de classe ou particular deve prevalecer sobre o interesse público
(CLT, art. 8º, parágrafo único), as relações contratuais de trabalho podem ser objeto
de livre estipulação das partes em tudo que não contravenha às disposições de
proteção ao trabalho (CLT, art. 444), e nos contratos individuais de trabalho só é
lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, ainda assim

131
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob


pena de nulidade da cláusula infringente esta garantia (CLT, art. 468). É o motivo,
também, pelo qual constitui justa causa para a rescisão justificada do contrato
uma série de atos subjetivos do empregado (CLT, art. 482) e do empregador (CLT,
art. 463)” (NASCIMENTO; NASCIMENTO, 2014, p. 440).

A legislação trabalhista prevê diversos tipos de contrato, e no momento


da contratação a empresa deve analisar qual é a sua necessidade e escolher o que
mais lhe convier.

Falaremos agora sobre os quatro tipos mais usados.

2.1 CONTRATO POR TEMPO DETERMINADO


Esse contrato de trabalho deve ser uma exceção à regra. O parágrafo 2º do
artigo 443 traz as hipóteses em que esse contrato deve ser pactuado:

§ 2º O contrato por prazo determinado só será válido em se tratando


a) de serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a
predeterminação do prazo;
b) de atividades empresariais de caráter transitório;
c) de contrato de experiência.

Ao lado desse conjunto específico, pode-se arrolar uma quarta hipótese


normativa de pactuação, consistente nos contratos de duração prefixada
tipificados por legislação extravagante à CLT, como ocorre com os contratos de
atleta profissional de futebol, artista profissional e outros.

“A partir da Lei nº 9.601/98 surgiu uma quinta hipótese de pactuação a


termo, abrangente de qualquer profissão ou categoria profissional e não submetida
às restrições do art. 443 da CLT: trata-se do contrato provisório, dotado de direitos
trabalhistas ainda mais restritos do que os característicos aos demais contratos a
termo” (DELGADO, 2017, p. 613).

2.2 CONTRATO POR TEMPO INDETERMINADO


Nascimento e Nascimento (2014) afirma que o contrato por prazo
indeterminado é o mais comum, sendo aquele em que o empregado comparece em
dias e horários pré-determinados à empresa, até que ocorra a rescisão contratual.
Ele pode, ainda, ser acordado sob a forma de regime de tempo parcial, que é o
contrato em que a jornada de trabalho é reduzida.

Essa modalidade de contrato de trabalho deve prevalecer no ordenamento


jurídico pelo princípio da continuidade de empregado que já falamos no tópico
anterior. Portanto, sempre que possível, a empresa opta por essa modalidade.

132
TÓPICO 2 | CONTRATOS TRABALHISTAS

QUADRO 1 - CONTRATO DE TRABALHO

Prazo Trata-se da modalidade contratual mais comum entre empregado e empregador.


Indeterminado Nesse caso não existe evento previsível a pôr termo a relação contratual,
facultando a qualquer uma delas mediante prévio aviso a rescisão do contrato

Prazo CLT Lei 9.601/98 Temporário Experiência


Determinado
2 anos 2 anos 3 meses 90 dias

Nos serviços Não necessita Necessidade Não é


cuja natureza ou justificativa, transitória de necessário
transitoriedade salvo substituição de justificar a
justifiquem; determinação em pessoal regular contratação.
Atividades de contrato coletivo e permanente;
de trabalho. Acréscimo
caráter transitório.
extraordinário
de serviço.

Direta entre Direta entre Por meio Direta entre


empregado e empregado e de empresa empregado e
empregador empregador interposta empregador
(terceirização)

Uma prorrogação, Mais de uma Uma  Uma


desde que não prorrogação, prorrogação prorrogação
ultrapasse 2 anos desde que autorizada pelo desde que não
no total observado o TEM ultrapasse 90
limite de 2 anos dias no total

Não há Contrato escrito Contrato escrito Não há


formalidade formalidade

FONTE: Rodrigues (2017, s.p.)

2.3 CONTRATO DE TRABALHO TEMPORÁRIO


Os contratos de trabalho temporário são sempre feitos por uma empresa
intermediária, portanto, temos nessa relação a empresa que está contratando, a
empresa intermediadora e o trabalhador, diferente dos outros tipos de contrato.

O prazo normal do contrato pode ser de 180 dias, sendo eles


consecutivos ou não. Mas, quando necessário também se pode
prorrogar o contrato por no máximo mais 90 dias. Para ser feita a
prorrogação, a empresa deve comprovar o motivo, e a se realmente é
necessária essa prolongação (FERNANDES, 2019, s.p.).

Geralmente, esses contratos são efetuados em datas comemorativas,


como Páscoa ou Natal em que o movimento de clientes aumenta e a empresa
contrata para atender a essa demanda. Porém, nada impede que sejam feitos em
outras datas.

133
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

2.4 CONTRATO DE TRABALHO EVENTUAL


Trabalho eventual é aquele que não possui caráter de permanência, sendo
esporádico. Também chamado de ocasional, é exigido em caráter absolutamente
temporário ou transitório, cujo exercício não se integra à finalidade da empresa.

A principal diferença do contrato de trabalho eventual para o temporário


é que nesse último gera vínculo de emprego, ou seja, o trabalhador possui carteira
profissional devidamente assinada pela empresa, já no trabalho eventual não
gera vínculo de emprego.

Como podemos verificar temos diversas modalidade de contrato de


trabalho. Estudamos os mais usados pelos empregadores. Por fim, é importante
sabermos ainda que a Reforma Trabalhista de 2017 incluiu mais alguns modelos
de contratos como, por exemplo, o teletrabalho e o contrato intermitente.

ATENCAO

Teletrabalho

Uma prestação de serviços pode ser considerada teletrabalho quando, na maior


parte do tempo, o trabalho é realizado num local diferente das dependências do empregador.
Para isso, devem ser utilizadas tecnologias de informação e de comunicação (Skype, Google,
Hangouts, Zoom, etc.) que não possam se caracterizar como trabalho externo.
O comparecimento presencial ocorrido eventualmente, não descaracteriza o regime
de teletrabalho. É comum que estes profissionais, uma vez ou outra, tenham a necessidade
de participar de reuniões presenciais.
A prestação de serviços em regime de teletrabalho deve constar expressamente no
contrato individual de trabalho. Existindo acordo entre as partes, a alteração entre o regime
presencial e o teletrabalho pode ocorrer, precisando ficar registrado em aditivo contratual.

Contrato de trabalho intermitente

Existindo subordinação e quando a prestação de serviços não é contínua, o regime


de trabalho é considerado intermitente. A alternância de períodos de trabalho e inatividade,
podem ser determinados em horas, dias ou meses. Independentemente do tipo de atividade
(com exceção para os aeronautas, que possuem legislação própria).
Neste caso, é necessário ser especificado o valor da hora de trabalho no contrato de
trabalho. Este valor não pode ser inferior ao valor hora do salário mínimo vigente ou ao valor
hora do salário de empregados com a mesma função, em regime intermitente ou não.
A convocação feita pelo empregador deve ser notificada com três dias de
antecedência. O empregado tem um dia útil para responder. A ausência de resposta será
considerada uma recusa.
Além das formas comuns de rescisão, o contrato de trabalho intermitente pode
ser rescindido caso não ocorram solicitações de prestação de serviço por um período de 12
meses.

FONTE:<https://www.todacarreira.com/tipos-contratos-trabalho-modalidades-criadas-
alteracoes-reforma-trabalhista/ > Acesso em: 7 jun. 2017.

134
TÓPICO 2 | CONTRATOS TRABALHISTAS

Acadêmico, agora que já conhecemos os principais tipos de contratos,


passaremos a analisar de que forma o contrato pode ser suspenso ou interrompido.

3 SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO


Por causa do princípio da continuidade do trabalho que vimos acima,
existem determinadas vezes em que o contrato continua em vigor, porém não
há prestação de serviços por parte do trabalhador. Nesses casos chamamos de
interrupção ou suspensão.

Cisneiros (2016, p. 75), assim define:

Suspensão – Durante a suspensão do contrato, as principais obrigações


das partes ficam paralisadas, sustadas, sem efeito. O empregado não
presta serviços, não se coloca à disposição do empregador. Este, por
sua vez, não paga salário.
Interrupção – Durante a interrupção do contrato, apenas a principal
obrigação do empregado fica paralisada, sustada, sem efeito. O
empregado não presta serviços, não se coloca à disposição do
empregador. Este, contudo, tem que pagar salário.

Veja que a principal diferença entre a suspensão e a interrupção do


contrato de trabalho se dá em relação ao pagamento ou não do salário.

3.1 INTERRUPAÇÃO
Como já mencionado, no caso da interrupção, o trabalhador não presta
serviço, mas recebe salário e o período conta como serviço prestado para fins de
aposentadoria.

Cessado o motivo ensejador da interrupção, o empregado retornará


ao serviço, de imediato, com a garantia de receber todas as vantagens
que tenham sido atribuídas à sua categoria. Durante o período em que
o contrato estiver interrompido, o empregador só poderá dispensar o
empregado por justa causa, bastando que este pratique um ato faltoso
(RENZETTI, 2015, p. 89).

Sabendo como se dá a interrupção, precisamos saber agora em que casos


isso poderá acontecer. Vejamos algumas hipóteses:

a) Hipóteses do art. 473 da CLT;

Art. 473 CLT.O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço


sem prejuízo do salário:
I- até 2 (dois) dias consecutivos, em caso de falecimento do cônjuge,
ascendente, descendente, irmão ou pessoa que, declarada em sua
carteira de trabalho e previdência social, viva sob sua dependência
econômica;

135
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

II- até 3 (três) dias consecutivos, em virtude de casamento;


III- por um dia, em caso de nascimento de filho no decorrer da primeira
semana;
IV- por um dia, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de
doação voluntária de sangue devidamente comprovada;
V- até 2 (dois) dias consecutivos ou não, para o fim de se alistar eleitor,
nos têrmos da lei respectiva.
VI- no período de tempo em que tiver de cumprir as exigências do
Serviço Militar referidas na letra "c" do art. 65 da Lei nº 4.375, de 17 de
agosto de 1964 (Lei do Serviço Militar).
VII- nos dias em que estiver comprovadamente realizando provas de
exame vestibular para ingresso em estabelecimento de ensino superior.
VIII- pelo tempo que se fizer necessário, quando tiver que comparecer
a juízo.
IX- pelo tempo que se fizer necessário, quando, na qualidade de
representante de entidade sindical, estiver participando de reunião
oficial de organismo internacional do qual o Brasil seja membro.
X- até 2 (dois) dias para acompanhar consultas médicas e exames
complementares durante o período de gravidez de sua esposa ou
companheira;
XI- por 1 (um) dia por ano para acompanhar filho de até 6 (seis) anos
em consulta médica.
XII- até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de
realização de exames preventivos de câncer devidamente comprovada.

b) licença paternidade;

NOTA

O art. 10, parágrafo 1º do ADCT dispõe que o prazo da licença paternidade é de


cinco dias. Este prazo também se aplica nos casos de adoção (RENZETTI, 2015, p. 94).

c) encargos públicos, como por exemplo jurado, mesário...;


d) Art. 142 CLT;

Art. 142 CLT. O empregado perceberá, durante as férias, a remuneração


que lhe for devida na data da sua concessão
§ 1º - Quando o salário for pago por hora com jornadas variáveis,
apurar-se-á a média do período aquisitivo, aplicando-se o valor do
salário na data da concessão das férias.
§ 2º - Quando o salário for pago por tarefa tomar-se-á por base a média
da produção no período aquisitivo do direito a férias, aplicando-se o
valor da remuneração da tarefa na data da concessão das férias.
§ 3º - Quando o salário for pago por percentagem, comissão ou viagem,
apurar-se-á a média percebida pelo empregado nos 12 (doze) meses
que precederem à concessão das férias.
§ 4º - A parte do salário paga em utilidades será computada de acordo
com a anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social

136
TÓPICO 2 | CONTRATOS TRABALHISTAS

§ 5º - Os adicionais por trabalho extraordinário, noturno, insalubre ou


perigoso serão computados no salário que servirá de base ao cálculo
da remuneração das férias.
§ 6º - Se, no momento das férias, o empregado não estiver percebendo
o mesmo adicional do período aquisitivo, ou quando o valor deste
não tiver sido uniforme será computada a média duodecimal
recebida naquele período, após a atualização das importâncias pagas,
mediante incidência dos percentuais dos reajustamentos salariais
supervenientes. (grifo nosso)

e) repouso semanal remunerado, feriados civis e religiosos;


f) intervalos remunerados para repouso durante a jornada de trabalho;
g) licença concedida pelo empregador;
h) período em que não houver serviço, por culpa ou responsabilidade da empresa:
i) interrupção dos serviços na empresa, resultante de causas acidentais ou de
força maior;
j) período de redução da jornada durante o aviso prévio;
k) tempo necessário para a gestante realizar consultas médicas;
l) licença maternidade;
m) aborto não criminoso;
n) acidente de trabalho ou doença nos primeiros 15 dias.

Importante percebermos que são hipóteses muito comuns no dia a dia do


trabalhador, e na maioria das vezes são períodos curtos. Agora vejamos os casos
de suspensão.

3.2 SUSPENSÃO
Renzetti (2016, p. 99) afirma que:

Durante a suspensão, praticamente todas as cláusulas perdem a


eficácia, logo, não se prestam serviços, não se recebe salário, não
de computa o tempo de serviço e não se efetuam o recolhimento
relacionados ao contrato. Cessado o motivo ensejador da suspensão,
o empregado deverá reapresentar-se ao empregador, sob pena de
configurar abandono de emprego. Ao retornar, o empregado terá
direito a todas as vantagens que tenham sido atribuídas à sua categoria.

Vamos agora a algumas das hipóteses mais comuns de suspensão do


contrato de trabalho:

a) acidente de trabalho ou doença, a partir do 16º dia;

Art. 476 Em caso de seguro-doença ou auxílio-enfermidade, o


empregado é considerado em licença não remunerada, durante o
prazo desse benefício.

137
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

UNI

No caso acima apresentado, o trabalhador fará jus a dois benefícios


regulamentado pelo Direito Previdenciário: o auxílio doença e o auxílio acidentário.

b) prestação de serviço militar obrigatório;

Art. 472 - O afastamento do empregado em virtude das exigências do


serviço militar, ou de outro encargo público, não constituirá motivo
para alteração ou rescisão do contrato de trabalho por parte do
empregador.

c) greve;

d) eleição de empregado para o cargo de dirigente sindical;

Art. 543 O empregado eleito para cargo de administração sindical


ou representação profissional, inclusive junto a órgão de deliberação
coletiva, não poderá ser impedido do exercício de suas funções, nem
transferido para lugar ou mister que lhe dificulte ou torne impossível
o desempenho das suas atribuições sindicais.
§ 2º - Considera-se de licença não remunerada, salvo assentimento
da empresa ou cláusula contratual, o tempo em que o empregado
se ausentar do trabalho no desempenho das funções a que se refere
este artigo.

e) prisão do empregado por ato não relacionado com seu trabalho;

UNI

Caso o empregado seja condenado por sentença com trânsito em julgado,


permanecendo preso, poderá ser demitido por justa causas (RENZETTI, 2016, p. 98).

138
TÓPICO 2 | CONTRATOS TRABALHISTAS

f) faltas injustificadas;

g) participação em curso de qualificação profissional;

Art. 476-A. O contrato de trabalho poderá ser suspenso, por um período


de dois a cinco meses, para participação do empregado em curso ou
programa de qualificação profissional oferecido pelo empregador,
com duração equivalente à suspensão contratual, mediante previsão
em convenção ou acordo coletivo de trabalho e aquiescência formal
do empregado, observado o disposto no art. 471 desta Consolidação.

h) aposentadoria por invalidez.

Para compreendermos bem a distinção entre a interrupção e a suspensão


do contrato de trabalho segue o quadro:

QUADRO 2 – INTERRUPÇÃO E SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO

INTERRUPÇÃO SUSPENSÃO
Sem trabalho/com salário Sem trabalho/ sem salário
Não há prestação de serviço Não há prestação de serviço
Há contagem de tempo de serviço Não há contagem de tempo de serviço
Há recolhimento do FGTS Não há recolhimento do FGTS
FONTE: Renzetti (2015, p. 90)

139
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem diversos tipos de contrato de trabalho e conheceu mais a fundo os


mais utilizados.

• Temos a suspensão e a interrupção do contrato de trabalho, termo utilizado


quando o trabalhador não está desempenhando suas funções na empresa.

• Podemos suspender ou interromper o contrato de trabalho de formas diferentes.

140
AUTOATIVIDADE

1 Considere as seguintes hipóteses:

I- Falta ao serviço não justificada por cinco dias corridos em razão do


matrimônio.
II- Falta ao serviço não justificada por até três dias consecutivos em razão do
falecimento de irmão.
III- Gozo de férias.
IV- Licença de empregado para atuação como conciliador em Comissão de
Conciliação Prévia.

Caracterizam hipóteses de interrupção do contrato de trabalho, as


indicadas APENAS em:

a) ( ) I e II.
b) ( ) I, III e IV.
c) ( ) III e IV.
d) ( ) II e IV.
e) ( ) I, II e III.

2 Em algumas situações, os contratos de trabalho podem ser considerados


interrompidos, em outras, suspensos. Haverá suspensão em se tratando de:

a) ( ) Férias anuais.
b) ( ) Licença remunerada por duas semanas em caso de aborto criminoso.
c) ( ) Aposentadoria por invalidez.
d) ( ) Auxílio doença até o 15º dia.
e) ( ) Licença paternidade.

141
142
UNIDADE 3
TÓPICO 3

REMUNERAÇÃO X SALÁRIO

1 INTRODUÇÃO
Já sabemos os conceitos de empregado, empregador, trabalhador, bem
como como se estabelece os vínculos entre eles. No tópico anterior estudamos
os contratos, como eles se formam e de que forma podem der interrompidos ou
suspensos.

Agora no Tópico 3 vamos diferenciar salário de remuneração, que na


verdade é a contraprestação que o empregado recebe do empregador pelos seus
serviços prestados.

Ter um salário para prover às necessidades mínimas de subsistência


é uma questão de dignidade do ser humano. O salário vital é um
direito fundamental porque corresponde a uma renda mínima.
Tendência, essa, necessária para que numa sociedade justa as pessoas
desfavorecidas tenham um mínimo necessário que permita fazer
frente aos gastos indispensáveis para a sua manutenção e da sua
família (NASCIMENTO, NASCIMENTO, 2014, p. 612).

O artigo 457 da Consolidação das Leis Trabalhistas assim menciona:


“Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos
legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como
contraprestação do serviço, as gorjetas que receber”. (grifo nosso)

Portanto, se faz necessário entender qual é a diferença entre salário e


remuneração, o que estudaremos agora.

143
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

2 REMUNERAÇÃO
Sabendo agora o que significa salário, vamos analisar o que é a remuneração.

Remuneração é o conjunto de parcelas pagas ao empregado. A


remuneração representa o somatório das parcelas contraprestativas
pagas diretamente pelo empregador com as parcelas contraprestativas
pagas diretamente por terceiros para o empregado. Essas parcelas
pagas por terceiros possuem caráter estritamente remuneratório.
O exemplo mais clássico de parcela remuneratória são as gorjetas
(RENZETTI, 2015, p. 71).

O artigo 457, em seu parágrafo 3º da Consolidação das Leis do Trabalho


define o conceito de gorjeta, portanto, podemos afirmar que faz parte da
remuneração. Vejamos a seguir:

Art. 457, § 3º CLT. Considera-se gorjeta não só a importância


espontaneamente dada pelo cliente ao empregado, como também o
valor cobrado pela empresa, como serviço ou adicional, a qualquer
título, e destinado à distribuição aos empregados.

A distribuição das gorjetas se dá conforme critérios definidos em


Acordo Coletivo de Trabalho e/ou Convenção Coletiva de Trabalho.
Isso significa que sua distribuição aleatória é proibida. Ocorre,
contudo, que, ausente instrumento coletivo, sua distribuição se dá
conforme determinação da Assembleia Geral dos Trabalhadores
(CAVALCANTI, 2017, p. 103).

3 SALÁRIO
Ter um salário é um direito fundamental instituído pela Constituição
Federal, pois não há outra forma de subsistência para com o indivíduo. “Salário é o
principal direito do empregado. É o conjunto de parcelas contraprestativas pagas
diretamente pelo empregador ao empregado pelos serviços por ele prestado”
(RENZETTI, 2015, p. 71). O parágrafo 1º do artigo 457 da CLT assim define:
§ 1º Integram o salário a importância fixa estipulada, as gratificações
legais e as comissões pagas pelo empregador.

Nesse ponto, importa frisar o seguinte:

• ’importância fixa estipulada’ = salário contratual;


• ‘gratificações legais’ = diferentemente das gratificações ajustadas, as
gratificações legais são aquelas disciplinadas na própria lei celetista, tais como
adicionais, gratificação de função decorrente de promoção e outros;
• ‘comissões pagas pelo empregador’ = as comissões estão associadas ao conceito
de salário tarefa, que é o salário percebido pelo empregado decorrente de sua
produtividade.

144
TÓPICO 3 | REMUNERAÇÃO X SALÁRIO

Assim, não integram salário: as ajudas de custo; o auxílio alimentação


(desde que não pago em dinheiro); diárias para viagem (independentemente do
valor); prêmios e abonos” (CAVALCANTE, 2017).

O salário é o valor fixo pago ao empregado, que normalmente se calcula


com base no tempo trabalhado e no tipo de trabalho exercido por ele. Importante
deixar claro que o salário pode ser variável, como é no caso dos vendedores e/ou
representantes, que recebem apenas comissão pelo serviço prestado.

Como se vê, a adoção do conceito de salário é associada à noção de


salário regular, normal, periódico, portanto a obrigação salarial
principal... Se o adicional de horas extras é incluído no cálculo
do salário-hora do empregado será salário, não diferente daquele
que remunera horas normais apenas com um valor mais elevado
(NASCIMENTO; NASCIMENTO, 2014, p. 615).

Importante ainda mencionarmos o artigo 462 da CLT que traz as proibições


do empregador fazer qualquer desconto no salário do empregado. Vejamos:

Art. 462 - Ao empregador é vedado efetuar qualquer desconto nos


salários do empregado, salvo quando este resultar de adiantamentos,
de dispositivos de lei ou de contrato coletivo.
§ 1º - Em caso de dano causado pelo empregado, o desconto será lícito,
desde de que esta possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrência
de dolo do empregado.
§ 2º - É vedado à empresa que mantiver armazém para venda de
mercadorias aos empregados ou serviços estimados a proporcionar-
lhes prestações "in natura" exercer qualquer coação ou induzimento
no sentido de que os empregados se utilizem do armazém ou dos
serviços
§ 3º - Sempre que não for possível o acesso dos empregados a
armazéns ou serviços não mantidos pela Empresa, é lícito à autoridade
competente determinar a adoção de medidas adequadas, visando a
que as mercadorias sejam vendidas e os serviços prestados a preços
razoáveis, sem intuito de lucro e sempre em benefício das empregados.
§ 4º - Observado o disposto neste Capítulo, é vedado às empresas
limitar, por qualquer forma, a liberdade dos empregados de dispor
do seu salário.

DICAS

Importante fazer a leitura dos artigos 457 ao 467 da CTL, pois estes trazem as
regras da remuneração do empregado.

145
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

3.1 SALÁRIO MÍNIMO


O salário mínimo é uma base do que o empregado deve ganhar. Os valores
são atualizados a cada ano e é definido por lei através de decreto. Atualmente, o
salário foi instituído em R$ 998,00 (novecentos e noventa e oito reais). “O salário
mínimo representa, para o direito do trabalho, uma ideia básica de intervenção
jurídica na defesa de um nível de vida abaixo do qual será impossível ao homem
que trabalha uma existência digna e compatível com as necessidades elementares
de sobrevivência humana (NASCIMENTO; NASCIMENTO, 2014, p. 625).

O artigo 7º, VII da Constituição Federal (1988) assim transcreve: “garantia


de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração
variável”. E a CLT também vai nesse mesmo sentido no artigo 78. Veja que mesmo
não recebendo todos os meses o mesmo valor, ainda assim o empregado deverá
receber o mínimo instituído por lei.

Para ficar ainda mais completo o seu estudo trouxemos o que é salário in
natura. Leia:

O que é salário in natura ou salário utilidade e quais benefícios


o compõe?

Blog do RH

Segundo a legislação trabalhista, salário é o conjunto de vantagens


devido pelo empregador ao trabalho prestado pelo empregado. De forma
constitucional, a remuneração do empregado nunca pode ser inferior a um
salário-mínimo e deve ser paga, primordialmente, em dinheiro. Contudo,
a própria Lei contempla hipótese de pagamento de parcela do salário por
outros meios que não o pecuniário, como acontece com o chamado salário
in natura ou salário utilidade.

No texto de hoje, nós, da Metadados – empresa que desenvolve


sistemas para a gestão de RH – vamos abordar do que se trata esse tipo de
remuneração e quais benefícios entram nessa definição. Acompanhe:

Conceito

Salário in natura ou salário utilidade, como o próprio nome sugere,


é a parcela do salário do empregado que a empresa paga por meio do
fornecimento de bens ou utilidades diversas do dinheiro. Ou seja: é o
pagamento feito por meio de outras coisas como alimentação, moradia,
vestuário, e outras prestações in natura, como por exemplo a gorjeta.

Esse tipo de remuneração tem como objetivo solucionar alguns


inconvenientes de empregados que prestam seu serviço em locais distantes

146
TÓPICO 3 | REMUNERAÇÃO X SALÁRIO

ou de difícil acesso, dificultando a compra de bens, o aluguel de casas,


dentre outras coisas essenciais.

A legislação permite que o empregador forneça algumas utilidades


aos seus empregados e as compute como salário para todos os efeitos legais
– acréscimo decorrente de férias, 13º salário, aviso prévio, etc. Assim, fala-se
do salário in natura ou salário utilidade.

Características do salário in natura

Natureza retributiva

O Direito do Trabalho determina que, para que uma parcela


remuneratória seja considerada salário, ela deve consistir na contraprestação
de uma atividade realizada pelo empregado, destinando-se a recompensar
o trabalho prestado.

Portanto, somente se considera salário a efetiva retribuição do trabalho


executado, sendo uma parcela desvinculada de qualquer necessidade da
empresa. Em outras palavras, o empregado recebe o seu salário por causa do
trabalho prestado, e não para executar o seu trabalho. Se a utilidade fornecida
pelo empregador se destinar a aperfeiçoar as tarefas a cargo do obreiro, não
se trata de salário, mas sim de uma ferramenta de trabalho.

Parcela paga com regularidade

Outra característica necessária para que se fale em salário in natura é


que essa remuneração seja paga ao trabalhador com habitualidade, ou seja,
não pode consistir numa prestação eventual ou excepcional ocasionada por
uma situação específica da empresa, como horas extras.

Não pode ser custeada pelo empregado

Outra observação importante a ser feita a respeito do salário in natura


é o fato de que essas utilidades não podem ser custeadas pelo empregado. Se
o trabalhador arcar com uma parcela — ainda que ínfima — das utilidades
fornecidas pela empresa, elas perdem a característica de salário, não sendo
computadas no cálculo de outros benefícios como férias, 13º, aviso prévio
indenizado etc.

Utilidades que podem integrar o salário in natura

O artigo 458 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelece


como salário, além das prestações em dinheiro, algumas utilidades
como habitação, alimentação, vestuário e outras parcelas in natura, que
o empregador pode oferecer aos seus empregados por costume ou por
previsão no contrato de trabalho.

147
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

A partir dessa previsão legal, os profissionais do Direito consideram


que a lei permite o fornecimento de outras utilidades além das exemplificadas
no citado artigo, desde que – como o próprio nome indica – sejam úteis ao
trabalhador.

A CLT dispõe em seu artigo 82, que o empregador que fornecer


parte do salário mínimo como salário utilidade ou in natura, terá esta parte
limitada a 70% (setenta por cento), ou seja, será garantido ao empregado
o pagamento em dinheiro de no mínimo 30% (trinta por cento) do salário
mínimo.

Podemos concluir que tal regra deverá ser aplicada proporcionalmente


aos empregados que tiverem salário contratual superior ao salário mínimo.
Estão limitados a 20% e 25% do salário respectivamente, a alimentação e a
habitação fornecidas como salário utilidade.

Para o trabalhador rural, o artigo 9º da Lei nº 5.889/73 estabelece que


os descontos do salário utilidade terão como base o salário mínimo, sendo
limitado em 20% pela ocupação de moradia e de 25% pelo fornecimento de
alimentação, atendidos os preços vigentes na região.

Portanto, a lei não proíbe o pagamento do salário utilidade, mas


limita este pagamento conforme demonstrado acima. Tais valores, deverão
ser expressos em recibo de pagamento, bem como sofrerão todas as
incidências trabalhistas e previdenciárias, resguardadas algumas exceções.

A lei proíbe ainda que, em caso de fornecimento de habitação coletiva


aos empregados, mais de uma família resida na mesma unidade residencial,
sob pena de a comodidade deixar de ser computada como salário utilidade.

Utilidades não consideradas como salário in natura

A Convenção nº 95 da Organização Internacional do Trabalho – OIT,


a lei nº 10.243 de 20 de junho de 2001 deu nova redação ao § 2º do artigo 458
da CLT, não considerando como salário, desde que compreendido a todos
os empregados, as seguintes utilidades:

- vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos aos empregados


e utilizados no local de trabalho, para a prestação do serviço;
- educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros,
compreendendo os valores relativos a matrícula, mensalidade, anuidade,
livros e material didático;
- transporte destinado ao deslocamento para o trabalho e retorno, em
percurso servido ou não por transporte público;
- assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada diretamente ou
mediante seguro-saúde;

148
TÓPICO 3 | REMUNERAÇÃO X SALÁRIO

- seguros de vida e de acidentes pessoais;


- previdência privada;
- valor correspondente ao vale-cultura.

Com esta lei, o legislador procurou estimular o empregador a


proporcionar melhores condições de trabalho ao empregado, desonerando
vários itens que até então, eram considerados como salário utilidade.

Como já foi dito, o que caracteriza o salário in natura, além da


essencialidade das prestações – alimentação, habitação, vestuário etc. –, é
o fato de que ele é pago em razão do trabalho e não para que seja possível
executá-lo.

Logo, verifica-se que a Lei foi coerente ao excluir da categoria do


salário utilidade todas as prestações de interesse do empregador, necessárias
para a execução dos serviços dos empregados, e das quais os trabalhadores
e sua família não retirariam qualquer proveito pessoal, como Equipamento
de Proteção Individual (EPI), transporte, fardamento etc.

Também não são considerados salário utilidade os benefícios


fornecidos pelo empregador como forma de premiar seus funcionários
ou motivá-los, e aqueles custeados pelo empregado, ainda que de forma
parcial, como os benefícios de plano de saúde, previdência privada, gastos
com educação etc.

Vedações legais

Mais recentemente, o Tribunal Superior do Trabalho editou o


enunciado 367 da súmula de sua jurisprudência (julgados repetidos),
reafirmando essa proibição e esclarecendo que a habitação, energia elétrica
e veículo fornecidos ao empregado, quando indispensáveis à realização de
suas atividades (mesmo que também seja usado em atividades particulares
do empregado), não se caracterizam como salário.

Como foi visto, o salário in natura é um direito do empregado


conquistado com o trabalho prestado. Logo, deve consistir numa comodidade
para ele, e não numa utilidade para o empregador.

FONTE: <https://www.metadados.com.br/blog/o-que-e-salario-in-natura-ou-salario-
utilidade-e-quais-beneficios-o-compoe/>. Acesso em: 17 jun. 2019.

149
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

4 EQUIPARAÇÃO DE SALÁRIO
O artigo 461 da CLT trata da equiparação de salário, ou seja, quando os
empregados possuem a mesma função e mesma carga horária, dentro de uma
empresa não poderão receber remuneração diferente.

Equiparação salarial é a figura jurídica mediante a qual se assegura


ao trabalhador idêntico salário ao do colega perante o qual tenha
exercido, simultaneamente, função idêntica, na mesma localidade,
para o mesmo empregador. A esse colega comparado dá-se o nome de
paradigma (ou espelho) e ao trabalhador interessado na equalização
confere-se o epíteto de equiparando. Designam-se, ainda, ambos pelas
expressões paragonados ou comparados (DELGADO, 2017, p. 926).

Podemos afirmar que temos quatro requisitos da equiparação salarial, “...


construídos pela comparação entre as situações empregatícias reais vivenciadas
por equiparando e paradigma: identidade de função exercida; identidade de
empregador; identidade de localidade de exercício das funções; simultaneidade
nesse exercício” (DELGADO, 2017, p. 926). (grifo do autor)

Portanto, com isso concluímos o terceiro Tópico. Passaremos agora ao


último conteúdo.

150
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• O conceito de salário e remuneração são diferentes.

• O salário mínimo é o que a Constituição Federal de 1988 prevê ser o mínimo


para um trabalhador receber por seu trabalho desempenhado na empresa.

• A equiparação salarial é quando um trabalhador desempenha a mesma função


de outro colega, porém recebe menos que este.

151
AUTOATIVIDADE

1 Considerando as disposições legais sobre salários e remuneração, assinale a


alternativa CORRETA:

a) ( ) Ao empregador é vedado efetuar qualquer tipo de desconto nos salários


do empregado, inclusive quando resultar de adiantamentos.
b) ( ) O pagamento de comissões e percentagens só é exigível depois de
ultimada a transação a que se referem.
c) ( ) Haverá equiparação de salários em razão de trabalhos prestados com
igual valor, com igual produtividade e com a mesma perfeição técnica,
entre pessoas cuja diferença de tempo de serviço não seja superior a três
anos.
d) ( ) O pagamento de salário não deve ser estipulado por período superior
a um mês, inclusive no que concerne a comissões, percentagens e
gratificações.
e) ( ) As prestações “in natura” que o empregador fornece habitualmente
ao empregado, mediante contrato, tais como alimentação, habitação,
vestuário, entre outras, não se compreendem no salário para efeitos
legais.

2 Nos termos da Consolidação das Leis do Trabalho, integram o salário do


empregado

a) ( ) As diárias para viagem e os prêmios pagos habitualmente pelo


empregador.
b) ( ) os prêmios e abonos pagos habitualmente pelo empregador.
c) ( ) As diárias que excedem a 50% da remuneração e os abonos pagos
habitualmente pelo empregador.
d) ( ) Os abonos e as gratificações legais pagas com habitualidade pelo
empregador.
e) ( ) As gratificações legais e as comissões pagas pelo empregador.

152
UNIDADE 3
TÓPICO 4

VERBAS TRABALHISTAS

1 INTRODUÇÃO
Já sabemos os conceitos de empregado, empregador, trabalhador, bem
como se estabelecem os vínculos entre eles. Estudamos ainda os contratos, como
eles se formam e de que forma podem der interrompidos ou suspensos.

E no tópico anterior tratamos da diferença entre salário e remuneração.


Agora no Tópico 4 trataremos das verbas trabalhistas, que são as que o empregado
tem direito na vigência do contrato, e as rescisórias, que são as verbas de que o
empregado tem direito de receber caso seu contrato de trabalho seja interrompido.

O empregado ao ser dispensado sem justa causa terá direito trabalhista


as seguintes verbas rescisórias:
- Aviso prévio (que pode ser trabalhado ou indenizado quando a
dispensa é imediata.
- 13º salário proporcional (correspondente aos meses trabalhados);
- Férias vencidas (quando houver);
- Férias proporcionais (contando-se sempre do mês que o empregado
começou a trabalhar);
- Adicional de 1/3 sobre férias;
- Comissões, DSR, horas extras, prêmios, gratificações, adicionais, etc.
(quando houver)
- Saldo de salários (correspondente aos dias trabalhados do mês);
- FGTS, 8% sobre os dias trabalhados e 13º salário;
- 40% sobre o total dos valores referentes ao F.G.T.S., inclusive os
depositados no banco;
- TRCT na forma do código 01, para fins de liberação do FGTS.
- Fornecimento da Comunicação de Dispensa, preenchido e assinado
pelo empregador para recebimento do Seguro Desemprego
(RUGGIERO, 2019, s.p.).

Trataremos agora das principais verbas.

153
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

2 FÉRIAS
Todo empregado tem direito às férias a cada ano trabalhado. Esse direito
está previsto em nossa Constituição Federal, portanto, não poderá ser suprimido.
“Elas têm por objetivo que o empregado desfrute de um tempo de descanso para
reestabelecer as suas energias físicas, o seu equilíbrio emocional, o seu convívio
com a família, dentre outros aspectos” (RENZETTI, 2015, p. 101).

Art. 7º, XVII, da CF/88: “gozo de férias anuais remuneradas com, pelo
menos, um terço a mais do que o salário normal”.

O artigo 138 da CLT prevê: “Durante as férias, o empregado não poderá


prestar serviços a outro empregador, salvo se estiver obrigado a fazê-lo em
virtude de contrato de trabalho regularmente mantido com aquele”. Portanto o
objetivo do legislador foi justamente fazer com que o empregado usufrua das
férias para descansar e não para prestar serviço a outro empregador.

Lembrando que já mencionamos no tópico anterior que o período em que


o empregado estiver de férias o contrato de trabalho fica interrompido.

As férias, em nosso ordenamento, classificam -se: a) quanto ao


número de empregados, em individuais e coletivas; b) quanto ao
vencimento do período aquisitivo, em férias vencidas e proporcionais;
c) quanto à duração, em férias de 30, 24, 18 ou 12 dias, conforme o
número de faltas injustificadas no período aquisitivo; d) quanto à
remuneração, em simples ou em dobro; e) quanto à utilização, em
integral e fracionada, esta quando dividida em mais de um período,
um dos quais não poderá ser inferior a 10 dias; f) quanto ao regime
jurídico, em geral, aplicável a todo empregado, e especial, aplicável
a uma categoria (ex., marítimos); g) quanto ao direito de ação, em
férias prescritas e não prescritas, aquelas as reclamadas após o prazo
de 5 anos contados a partir do fim do período aquisitivo. Como se
vê, há diversos aspectos a serem examinados no estudo das férias,
cada qual apresentando ângulos de estudo dos mais interessantes
(NASCIMENTO, NASCIMENTO, 2014, p. 604).

A duração das férias vai depender do número de faltas que o empregado


tiver, faltas essas que devem ser injustificadas. Veja a seguir:

QUADRO 3 - EXEMPLIFICATIVO

Dias de férias Número de faltas injustificadas


30 dias Até 5
24 dias De 6 a 14
18 dias De 15 a 23
12 dias De 24 a 32
Não se concede férias A partir de 33
FONTE: Pereira (2017)

154
TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS

2.1 PERÍODO AQUISITIVO


O período aquisitivo é o tempo que o empregado deve trabalhar para
poder usufruir das férias, este corresponde a 12 meses de prestação de serviços.

Art. 130 CLT. Após cada período de 12 (doze) meses de vigência do


contrato de trabalho, o empregado terá direito a férias, na seguinte
proporção
I- 30 (trinta) dias corridos, quando não houver faltado ao serviço mais
de 5 (cinco) vezes;
II- 24 (vinte e quatro) dias corridos, quando houver tido de 6 (seis) a
14 (quatorze) faltas;
III- 18 (dezoito) dias corridos, quando houver tido de 15 (quinze) a 23
(vinte e três) faltas;
IV- 12 (doze) dias corridos, quando houver tido de 24 (vinte e quatro)
a 32 (trinta e duas) faltas;
§ 1º- É vedado descontar, do período de férias, as faltas do empregado
ao serviço.
§ 2º- O período das férias será computado, para todos os efeitos, como
tempo de serviço.

Veja que o artigo em questão menciona casos em que o empregador perde


o direito de usufruir integralmente das suas férias, ou seja, os trinta dias corridos.
Vamos tratar agora das hipóteses em que o empregado perde esse direito.

2.2 DA PERDA DO DIREITO ÀS FÉRIAS


Iniciamos com o artigo que trata das hipóteses da perda do direito às
férias:

Art. 133 - Não terá direito a férias o empregado que, no curso do


período aquisitivo:
I- deixar o emprego e não for readmitido dentro de 60 (sessenta) dias
subsequentes a sua saída;
II- permanecer em gozo de licença, com percepção de salários, por
mais de 30 (trinta) dias;
III- deixar de trabalhar, com percepção do salário, por mais de 30
(trinta) dias, em virtude de paralisação parcial ou total dos serviços
da empresa;
IV- tiver percebido da Previdência Social prestações de acidente de
trabalho ou de auxílio-doença por mais de 6 (seis) meses, embora
descontínuos
§ 1º- A interrupção da prestação de serviços deverá ser anotada na
Carteira de Trabalho e Previdência Social
§ 2º- Iniciar-se-á o decurso de novo período aquisitivo quando o
empregado, após o implemento de qualquer das condições previstas
neste artigo, retornar ao serviço.
§ 3º - Para os fins previstos no inciso lIl deste artigo a empresa
comunicará ao órgão local do Ministério do Trabalho, com antecedência
mínima de 15 (quinze) dias, as datas de início e fim da paralisação total
ou parcial dos serviços da empresa, e, em igual prazo, comunicará, nos
mesmos termos, ao sindicato representativo da categoria profissional,
bem como afixará aviso nos respectivos locais de trabalho.
155
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

Veja que mesmo sendo um direito garantido constitucionalmente,


ainda assim o empregado pode perder esse direito. Agora trataremos do
período concessivo.

2.3 PERÍODO CONCESSIVO


Após os doze meses trabalhado o empregado adquire o direito as férias, e
nesse momento começa a fluir o prazo para o empregador conceder esse direito
ao trabalhador.

Art. 134 - As férias serão concedidas por ato do empregador, em um só


período, nos 12 (doze) meses subsequentes à data em que o empregado
tiver adquirido o direito.
§ 1º Desde que haja concordância do empregado, as férias poderão ser
usufruídas em até três períodos, sendo que um deles não poderá ser
inferior a quatorze dias corridos e os demais não poderão ser inferiores
a cinco dias corridos, cada um
§ 3º É vedado o início das férias no período de dois dias que antecede
feriado ou dia de repouso semanal remunerado.

Ou seja, após o empregado adquirir o direito a férias o empregador tem


mais doze meses para conceder. Veja o esquema prático:

FIGURA 1 - PERÍODO DE FÉRIAS


Admissão 12 Meses
Início Período Término Período
Aquisitivo Aquisitivo

Início Período 12 Meses


Concessivo Término Período
Concessivo
Início do 2º
Período Aquisitivo 12 Meses
Término do 2º
Período Aquisitivo

FONTE: Blog Guia Trabalhista (2016, s.p.)

Importante mencionar que após a Reforma Trabalhista de 2017, as férias


podem ser fracionadas em até três períodos.

Veja o que diz o parágrafo primeiro do artigo 134: "§ 1º Desde que haja
concordância do empregado, as férias poderão ser usufruídas em até três períodos,
sendo que um deles não poderá ser inferior a quatorze dias corridos e os demais
não poderão ser inferiores a cinco dias corridos, cada um".

156
TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS

2.4 DO PRAZO PARA PAGAMENTO


Como mencionado acima, a Constituição Federal prevê o pagamento das
férias com um acréscimo de 1/3 do salário. Esse valor deve ser pago ao empregado
antes no início das férias.

Art. 145 - O pagamento da remuneração das férias e, se for o caso, o


do abono referido no art. 143 serão efetuados até 2 (dois) dias antes do
início do respectivo período.
Parágrafo único - O empregado dará quitação do pagamento, com
indicação do início e do termo das férias.

Portanto, se o pagamento não for efetuado no prazo correto o empregador


deverá pagar em dobro.

Art. 137 - Sempre que as férias forem concedidas após o prazo de


que trata o art. 134, o empregador pagará em dobro a respectiva
remuneração.

Importante ainda mencionar que o empregado também terá direito às


férias caso seu contrato seja extinto, tornando-a uma verba rescisória.

2.5 DAS FÉRIAS COLETIVAS


As férias que tratamos acima são chamadas de individuais, porém temos
também as férias coletivas, que Martinez (2016, p. 740) assim define:

As férias coletivas, ao contrário das individuais, são impostas aos


empregados, não por conta da necessidade de um descanso anual,
mas por conveniência dos empregadores, notadamente nas situações
em que seja evidenciado excesso de produção ou diminuição da
demanda. Elas não respeitam o interstício de doze meses e podem, por
isso, ser concedidas a empregados recém-contratados (MARTINEZ,
2016, p. 740).

Portanto, as férias coletivas ficam a encargo do empregador concedê-las


ou não.

157
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

ATENCAO

“Os empregados contratados há menos de doze meses gozarão, na


oportunidade, férias proporcionais, iniciando-se, então, novo período aquisitivo (vide o
art. 140 da CLT). Em outras palavras, independentemente da dimensão (em dias) das férias
proporcionais a que tenham direito, os empregados contratados há menos de doze meses
gozarão das férias coletivas e, terminadas estas, iniciarão a contagem de novo período de
aquisição de férias individuais. Veja-se o seguinte exemplo: Um empregado contratado há
quatro meses pode ser compelido a gozar férias coletivas. Nesse caso, se o empregador
entender que tais férias devem ter a dimensão correspondente a trinta dias, o referido
empregado as fruirá, independentemente do fato de, em rigor, ter direito a apenas dez dias
de férias (se for considerada a proporcionalidade dos meses de serviço). Observe-se que,
nessa situação, o mencionado empregado receberá o salário correspondente aos trinta
dias de paralisação dos serviços, uma vez que esta decorreu de iniciativa do empregador. O
acréscimo constitucional de um terço sobre as férias, entretanto, somente lhe será atribuído
em relação à proporcionalidade de dias de férias que efetivamente teria (1/3 sobre 10 dias de
férias). O restante dos dias sem trabalho lhe será concedido como hipótese de interrupção
contratual, observada a regra contida no art. 131, IV, da CLT” (MARTINEZ, 2016, p. 770).

3 AVISO PRÉVIO
O aviso prévio é o tempo que um funcionário precisa trabalhar quando
pede demissão, e que também é um direito dele ao ser mandado embora. Esse
período corresponde a no mínimo 30 dias, e o empregado receberá o pagamento
destes dias trabalhados em sua rescisão.

De acordo com o tipo de demissão, existem duas possibilidades: aviso


prévio trabalhado ou aviso prévio indenizado. No geral, o que muda entre elas
são os pagamentos a que você tem direito e a necessidade de trabalhar ou não nos
30 dias seguintes à dispensa.

3.1 AVISO PRÉVIO TRABALHADO


Nesse caso o empregado trabalha por 30 dias após o pedido de demissão
ou o demissão feita pela empresa. Pode trabalhar duas horas a menos por dia ou
então trabalhar normalmente e ao final descontar sete dias, ou seja, trabalhar por
23 dias e não 30.

Importante mencionar que o empregado receberá por esses trinta dias


normalmente. A rescisão deve ocorrer no 1º dia subsequente ao término desse
período.

158
TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS

3.2 AVISO PRÉVIO INDENIZADO


No aviso prévio indenizado o empregado não trabalha, mas recebe por
esses 30 dias. Na verdade é uma escolha do empregador, e normalmente quando
demite o funcionário prefere pagar sem que o empregado trabalhe.

O pagamento da rescisão, nesse caso, ocorre até 10 dias após a dispensa.

A partir de outubro de 2011, os trabalhadores demitidos sem justa causa


têm direito ao aviso prévio proporcional, que garante, além dos 30 dias de aviso,
um acréscimo de três dias por cada ano completo trabalhado na empresa, limitado
a 90 dias. Ou seja, o funcionário que completar um ano trabalhado, terá direito a
mais três dias além dos 30 dias do aviso prévio.

4 DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO

“O décimo terceiro, também conhecido como gratificação de Natal, foi


instituído em 1962. Ele surgiu com o hábito que alguns empregadores tinham
de pagar um salário a mais no final do ano como forma de recompensar os
trabalhadores que prestaram um bom trabalho durante o ano. Depois de um
tempo, o décimo terceiro salário passou a ser obrigatório, com a criação da
Lei nº 4.090. Esse encargo é pago pela empresa ao funcionário com carteira
assinada (CLT), com o valor corresponde a um salário a mais no final do ano.

Mais que uma forma de reforçar o orçamento das famílias em uma época
repleta de comemorações especiais, esse dinheiro extra também representa
um papel importante na economia do país. O valor extra movimenta grande
quantidade de recursos, pois aumenta as vendas nos comércios, gera maior
demanda nas indústrias e, ambos, também contribuem para a geração de novos
empregos. Só em 2016, segundo o Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o pagamento do décimo terceiro foi
responsável por injetar R$ 197 bilhões na economia, o que equivale a 3% do
Produto Interno Bruto (PIB)” (TAFNER, 2018, s.p.).

Portanto, todo trabalhador tem direito ao 13º salário. O valor é pago


geralmente no final do ano e em duas parcelas. Porém, a Lei nº 4.749 determina
que a primeira parcela deve ser paga entre o dia 1º de fevereiro até o dia 30 de
novembro, já a segunda parcela deve ser dada ao funcionário até o dia 20 de
dezembro.

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UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

5 FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO – FGTS


O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço consiste em recolhimentos
pecuniários mensais, em conta bancária vinculada em nome do
trabalhador, conforme parâmetro de cálculo estipulado legalmente,
podendo ser sacado pelo obreiro em situações tipificadas pela ordem
jurídica, sem prejuízo de acréscimo percentual condicionado ao tipo
de rescisão de seu contrato laborativo, formando, porém, o conjunto
global e indiferenciado de depósitos um fundo social de destinação
legalmente especificada (DELGADO, 2017, p. 1440).

Portanto, é um direito do empregado enquanto estiver com seu contrato


de trabalho ativo. No momento em que for dispensado ele saca esse valor, e o
empregador deve pagar uma multa de 40% se a dispensa for sem justa causa.

ATENCAO

“A chamada ‘demissão sem justa causa’ é uma modalidade de cessação do


contrato de trabalho – por iniciativa do empregador – quando este não tem mais interesse
na continuidade da prestação de serviços do empregado” (BORGES, 2017).

Além do empregado poder sacar o FGTS quando for dispensado temos


ainda mais algumas hipóteses em que poderá sacar sem ter sido dispensado.
Vejamos quais são elas.

Essas condições especiais se resumem a emergências ou necessidades


financeiras que o trabalhador pode apresentar em algum momento. Sendo
assim, ele poderá sacar o FGTS desde que se qualifique nas seguintes condições
(BORGES, 2017):

• desastre natural;
• após 3 anos sem registro em carteira;
• aposentadoria;
• idade igual ou superior a 70 anos;
• falecimento do trabalhador;
• doença grave ou em estágio terminal, câncer e portadores de HIV;
• financiamento de casa própria ou quitação de dívida imobiliária.

E, por fim, devemos ainda mencionar que o governo atual estuda uma
forma de liberar o FGTS para os empregados mesmo não estando em nenhuma
das condições acima, para poder movimentar a economia.

160
TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS

Liberação do FGTS à vista? A queda de braço pelos bilhões dos


trabalhadores

Governo estuda liberar o saque de dinheiro dos trabalhadores em


contas do fundo para estimular economia; mas a medida funciona?

No dia em que foi divulgada a retração de 0,2% da economia brasileira


no primeiro trimestre de 2019, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou
que o governo estuda liberar o saque de dinheiro dos trabalhadores no Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço, o FGTS.

Também com a intenção de dar estímulo à economia, medida semelhante


foi tomada no governo anterior: em dezembro de 2016, o então presidente
Michel Temer anunciou liberação para saque de contas inativas, o que totalizou
R$ 44 bilhões.

A discussão recorrente sobre o uso de recursos do fundo desperta não


só o debate pontual sobre os reais efeitos desses saques "fora de época", mas
também sobre o papel do FGTS, criado há mais de 50 anos, no contexto atual
da economia brasileira.

Em 6 perguntas, a BBC News Brasil explica o que está em estudo pelo


governo, quem é contra a liberação de recursos do fundo e como o FGTS
funciona hoje:

1 Qual é o plano do governo?

O ministro Paulo Guedes declarou, no fim de maio, que o governo


estuda liberar recursos do FGTS após a aprovação da reforma da Previdência,
mas não deu detalhes sobre a medida.

A equipe do ministério trabalha com o cenário de uma liberação de


pouco mais de R$ 20 bilhões. Ainda não está fechado, contudo, qual será o
"desenho" - por exemplo, se a regra de liberação será para contas ativas
(contratos em andamento), inativas (contratos que já terminaram), ou mesmo
se terá algum tipo de limite.

Há inclusive quem defenda que a liberação poderia acontecer antes do


fim da tramitação da reforma da Previdência no Congresso - que hoje está no
início da tramitação na Câmara e também precisa de aprovação do Senado.

A avaliação da equipe de Guedes é que, no governo Temer, a medida


foi bem-sucedida. O atual governo também vê com bons olhos a distribuição
de 50% do lucro do fundo no ano anterior para os trabalhadores com contas no
FGTS, prevista em lei sancionada por Temer em 2017.

161
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

Procurada, a assessoria de imprensa do Ministério da Economia


informou apenas que o saque de contas do FGTS "está em estudo".

2 Liberar recursos do fundo ajuda a economia?

A injeção de recursos na economia por meio da liberação de recursos do


FGTS pode ajudar a economia, mas apenas no curto prazo, dizem especialistas.
A economista Vivian Almeida, professora do Ibmec, diz que a liberação de
novos saques do FGTS tem efeito limitado se for pensada de forma isolada.

"Se você liberar (o saque do FGTS) sem junção com outras reformas,
isso vai ter um efeito limitado, com renda transitória, que vai responder àquele
momento, com aquelas demandas pontuais e isso não vai se refletir em aumento
de renda permanente das famílias", diz.

O economista Pedro Fernando Nery, consultor do Senado, também diz


que se trata de uma medida de curto prazo. "O essencial é que a gente saiba que
não existe pote de ouro ao fim do arco-íris em qualquer lugar. O caminho para
o crescimento é mesmo o caminho das reformas."

Professora do Curso de Ciências Contábeis da UnB, Lorena Campos


explica que a ideia por trás dessa medida é a de que, com mais verba disponível,
as famílias ficariam propensas a um consumo maior, o que geraria estímulo à
produção e, como consequência, haveria o aumento de empregos e salários.

Ela lembra, no entanto, que não é possível ter certeza do que cada
família fará com o dinheiro. "Uma vez que há a disponibilidade desse recurso
para as famílias, acredita-se que a 'renda extra' seja destinada para consumo,
pagamento de dívidas e investimento", diz.

Em 2017, durante o governo Temer, 25,9 milhões de trabalhadores


fizeram o saque de cerca de R$ 44 bilhões de contas inativas do FGTS.

Vivian Almeida aponta que a medida "foi responsável por um


dinamismo maior no ano de 2017", mas que a experiência mostra que, com
medidas muito pontuais, "os efeitos tendem a se dissipar muito rapidamente".

3 Quem é contra liberar o saque de contas do FGTS?

A principal voz contra a liberação de saques, que diminui a verba do


FGTS, é o setor da construção civil, já que os recursos do fundo são usados para
financiar programas de habitação - como o Minha Casa, Minha Vida -, além de
saneamento e infraestrutura, com juros menores do que as taxas de mercado.

"O FGTS é uma fonte barata de crédito para quem pega os recursos
emprestados. Em tese, isso deveria favorecer políticas de habitação e saneamento.
Na prática, é como se o trabalhador financiasse empreiteiras", diz Nery.

162
TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS

O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção


(CBIC), José Carlos Martins, transmite a posição do setor a respeito de uma
nova liberação de saques: "Nós não concordamos e não é por corporativismo.
Entendemos que foi uma medida que já na vez passada não foi boa."

Martins argumenta que os recursos do FGTS estão, na verdade,


concentrados em poucas contas e, por isso, a medida não é eficiente para
estimular o consumo da população. "Você pega um monte de dinheiro que
está em poucas contas e aí não vai pro consumo, mas sim para a aplicação
financeira. O que acontece é que não surte o efeito desejado, como não
surtiu."

Segundo a CBIC, 45% do saldo das contas inativas do FGTS está


concentrado em apenas 2% das contas, que têm valores acima de um salário
mínimo. Os outros 98% das contas inativas têm até um salário mínimo cada. "O
governo sempre acaba atacando o fundo de garantia", reclama Martins, para
quem "o grande problema do FGTS é ser bem administrado".

Nery também aponta que também interessa à Caixa, por ser o agente
operador do FGTS, que não haja uma grande diminuição nos recursos do fundo.
"Como está, quem defende mesmo é o setor da construção civil e a Caixa, que
tem o monopólio da administração dos recursos e cobra taxas altas para fazer
isso. São centenas de milhões de contas."

Como agente operador do FGTS, a Caixa recebe taxa de administração


de 1% do total do ativo do fundo no ano. É responsável por controlar as contas
ativas e inativas, os saques, gerir aplicações financeiras, entre outros. Em 2017,
o banco recebeu mais de R$ 4,9 bilhões para desempenhar essa função.

Por meio da assessoria de imprensa, a Caixa informou que "cumpre as


determinações contidas na legislação, conforme o que lhe compete no papel de
Agente Operador do FGTS", após questionamento sobre se o banco é favorável
à liberação de novos saques de contas do fundo.

4 Por que o FGTS foi criado e como funciona hoje?

O FGTS foi criado em 1966, durante a ditadura militar, e hoje está


previsto como um direito dos trabalhadores na Constituição Federal. O fundo
foi criado como alternativa à chamada estabilidade decenal, que previa que o
empregado com mais de 10 anos de serviço na mesma empresa não poderia
ser despedido se não fosse por "falta grave ou circunstância de força maior,
devidamente comprovadas".

A ideia era compensar a mudança nas regras que acabaram com


essa estabilidade com uma proteção financeira ao trabalhador, criando essa
poupança forçada para momentos de necessidade.

163
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

Com a criação do FGTS, as empresas passaram a pagar, mensalmente, o


equivalente a 8% do valor do salário do trabalhador para a conta dele no fundo.
A ideia é criar uma reserva para momentos de necessidade (leia na pergunta 5
as situações em que o trabalhador pode sacar seus recursos).

A quantidade de contas supera 780 milhões e o total de ativos do FGTS


somava R$ 496,85 bilhões no fim de 2017, segundo o relatório mais recente. De
acordo com a Caixa, 84% das contas com saldo têm um valor de até um salário
mínimo (R$ 998). O trabalhador tem uma conta para cada emprego formal que
tem ou teve.

Como os recursos dos trabalhadores depositados no fundo são usados


para financiar a juros baixos obras de habitação, saneamento e infraestrutura, o
retorno também é menor que o de outras aplicações. O rendimento é de 3% ao
ano, mais a Taxa Referencial (TR), calculada pelo Banco Central.

Além de ser operado pela Caixa, o fundo é administrado por um


conselho tripartite - ou seja, composto ​por representantes dos trabalhadores,
dos empregadores e representantes do governo federal.

5 Quando o trabalhador pode sacar o FGTS, segundo as regras atuais?

Os momentos mais conhecidos de saque do FGTS são a aposentadoria -


quando o trabalhador pode tirar toda a verba que tem no fundo - e a demissão
sem justa causa. Neste caso, o trabalhador recebe o valor que foi depositado por
aquele empregador, com os rendimentos e uma multa de 40% sobre esse valor.

A reforma trabalhista sanciona por Michel Temer também criou a


possibilidade de rescisão por acordo entre o trabalhador e a empresa. Nesse
caso, ele tem direito de sacar 80% do saldo da conta do FGTS e a multa do
empregador é de 20% sobre esse valor.

Outras situações em que é permitido o saque são: para compra de


imóvel; quando o trabalhador fica afastado do regime do FGTS por três anos
consecutivos; além de casos em que o trabalhador ou dependentes forem
portadores do vírus HIV, de câncer ou quando estiverem em estágio terminal
devido a uma doença grave.

6 As regras do FGTS podem mudar?

Pelo menos 165 projetos de lei propõem mudanças na Lei nº 8.036, de


1990, que traz as regras para o FGTS, segundo levantamento feito por Nery. A
maioria deles propõe permissão para que os trabalhadores usem os recursos
do FGTS em outras situações.

164
TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS

Entre as propostas, estão a execução de projeto de acessibilidade em


imóvel próprio; custeio de despesas com educação e qualificação profissional;
pagamento de cirurgias essenciais à saúde; casos de adoção ou nascimento de
filho e mãe trabalhadora responsável pelo sustento da família.

Também estão entre as propostas levantadas o pagamento de


dívidas inscritas em cadastros de inadimplentes; utilização na geração de
energia elétrica com base em fontes renováveis; custeio de tratamento para
infertilidade; mulher trabalhadora que estiver em situação de violência
doméstica, entre outros.

Para que qualquer mudança entre vigor, precisa ser aprovada pelo
Congresso e, depois, sancionada pelo presidente.

Além da possibilidade de mudanças mais pontuais, tem aumentado


a discussão sobre a estrutura do FGTS. A equipe econômica do governo,
inclusive, avalia a função do fundo para eventualmente propor mudanças -- e
o atual governo, em geral, defende o discurso de que as pessoas devem ter mais
liberdade para administrar o próprio dinheiro.

Pedro Nery diz que o FGTS "foi perdendo importância" como


mecanismo de proteção nos últimos anos e que, quando foi criado, ainda não
havia o seguro-desemprego. Ele diz que a baixa remuneração do fundo "gera
uma série de problemas, como as tentativas de sacar os recursos antes que se
desvalorizem (alta rotatividade)".

Para Vivian Almeida, uma eventual mudança significativa no modelo


do FGTS é uma alteração na "lógica" do que o trabalhador brasileiro conhece.
"A poupança mudar de mão é uma mudança de paradigma, porque é uma
população acostumada a ter uma poupança forçada e de repente ela gerencia
esse dinheiro", diz. "A gente pode ter impacto que não necessariamente dá para
prever, porque estamos falando de um perfil que ainda não é o do trabalhador
brasileiro."

FONTE: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/06/14/liberacao-do-fgts-a-vista-a-queda-
de-braco-pelos-bilhoes-dos-trabalhadores.ghtml> Acesso em: 17 jun. 2019.

Por fim é importante mencionarmos ainda a Medida Provisória nº 889,


de 24 de julho de 2019, que recentemente estabeleceu regras diferenciadas para o
saque do FGTS, conforme calendário anunciado pela Caixa Econômica Federal:

165
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

UNI

Calendário de saques para quem tem conta poupança da Caixa

Mês de nascimento Data de saque


janeiro, fevereiro, março e abril a partir de 13/09/2019 até 31/3/2020
maio, junho, julho e agosto a partir de 27/09/2019 até 31/3/2020
setembro, outubro, novembro e dezembro a partir de 09/10/2019 até 31/3/2020

Calendário para quem não tem conta poupança na Caixa


Data de nascimento Início do saque
Janeiro a partir de 18/10/2019 até 31/3/2020
Fevereiro a partir de 25/10/2019 até 31/3/2020
Março a partir de 08/11/2019 até 31/3/2020
Abril a partir de 22/11/2019 até 31/3/2020
Maio a partir de 06/12/2019 até 31/3/2020
Junho a partir de 18/12/2019 até 31/3/2020
Julho a partir de 10/01/2020 até 31/3/2020
Agosto a partir de 17/01/2020 até 31/3/2020
Setembro a partir de 24/01/2020 até 31/3/2020
Outubro a partir de 07/02/2020 até 31/3/2020
Novembro a partir de 14/02/2020 até 31/3/2020
Dezembro a partir de 06/03/2020 até 31/3/2020
FONTE: LIS (2019)

Com essa medida provisória o trabalhador poderá sacar até R$ 500,00 reais
de suas contas ativas ou inativas junto ao FGTS. Além do que, poderá agendar um
saque a cada ano nesse mesmo valor no mês de seu aniversário. Porém apenas
para o trabalhador que tiver interesse. Vejamos:

A mudança é opcional. Os interessados em migrar para a sistemática


do saque aniversário poderão comunicar à Caixa, a partir de 1º de
outubro de 2019, nos canais a serem divulgados pelo banco. Caso
o titular de conta do FGTS não comunique ao banco o interesse em
migrar, permanecerá na regra do saque rescisão (LIS, 2019).

Portanto, as regras do FSTS podem ser alteradas a qualquer momento,


como foi no caso exposto acima.

Acadêmico, esperamos que você tenha compreendido um pouco mais


sobre a legislação trabalhista e suas implicações.

Ficamos à disposição para ajudá-lo no que for necessário. Um grande


abraço.

166
TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS

LEITURA COMPLEMENTAR

Como complementação sugerimos a leitura do artigo “Mesmo com


mudanças na CLT, aviso prévio e verbas rescisórias ainda lideram pedidos na
Justiça do Trabalho”, de Marta Cavallini, para finalizarmos o tópico em questão.

MESMO COM MUDANÇAS NA CLT, AVISO PRÉVIO E VERBAS


RESCISÓRIAS AINDA LIDERAM PEDIDOS NA JUSTIÇA DO TRABALHO

Ao contrário de 2016 e 2017, pedido de indenização por dano moral não


apareceu entre os 20 temas mais recorrentes em 2018; nova lei trabalhista trouxe
risco financeiro a quem entra ação e inibiu pedidos sem procedência.

Por Marta Cavallini

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) divulgou o balanço dos assuntos


mais recorrentes nas Varas de Trabalho do país em 2018. Ou seja, os principais
temas dos processos novos que chegam à 1ª instância da Justiça do Trabalho.
Mesmo com a reforma trabalhista, que entrou em vigor em novembro de 2017,
não houve grandes mudanças nos assuntos tratados nos processos, segundo
advogados trabalhistas ouvidos pelo G1.

O aviso prévio figura em primeiro lugar nos últimos três anos. No aviso
prévio, é definido se o funcionário terá de trabalhar por 30 dias ou se será
indenizado pelo período em caso de pedir demissão ou ser demitido sem justa
causa. A nova lei trabalhista trouxe a demissão por acordo entre empregador e
empregado e, com ela, a possibilidade de o aviso prévio ser reduzido pela metade,
ou seja, pago pelo período de 15 dias.

Nos últimos três anos, outros cinco assuntos ficaram no topo do ranking:
multa de 40% do FGTS, férias proporcionais, 13º salário proporcional, multa do
artigo 467 da CLT (50% de acréscimo sobre o valor das verbas rescisórias devidas
e não pagas perante a Justiça) e multa do artigo 477 da CLT (pagamento do valor
do salário em caso de o empregador não anotar a dispensa do empregado na
Carteira de Trabalho nem pagar as verbas rescisórias no prazo).

167
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

Assuntos mais recorrentes nas Varas de Trabalho, em ordem decrescente


2018 2017 2016
Aviso prévio Aviso prévio Aviso prévio
Multa de 40% do FGTS Multa do artigo 477 da CLT Multa do artigo 477 da CLT
Multa do artigo 477 da CLT Multa de 40% do FGTS Multa de 40% do FGTS
Férias proporcionais Multa do artigo 467 da CLT Multa do artigo 467 da CLT
Multa do artigo 467 da CLT Férias proporcionais Férias proporcionais
13º salário proporcional 13º salário proporcional 13º salário proporcional
Horas extras/adicional de Horas extras/adicional de horas Intervalo intrajornada/
horas extras extras adicional de hora extra
Intervalo intrajornada/adicional
Saldo de salário Horas extras/reflexos
de hora extra
FGTS/depósito/diferença de
Adicional de insalubridade Horas extras
recolhimento
Intervalo intrajornada/
Horas extras/reflexos Adicional de insalubridade
adicional de hora extra
Verbas rescisórias Saldo de salário Saldo de salário
Carteira de trabalho: anotação/ Horas extras/adicional de
Horas extras
baixa/retificação horas extras
FGTS/depósito/diferença de FGTS/depósito/diferença de
Adicional de insalubridade
recolhimento recolhimento
Carteira de trabalho: anotação/ Carteira de trabalho:
Horas extras/reflexos
baixa/retificação anotação/baixa/retificação
Indenização/dobra/terço Indenização/dobra/terço
Verbas rescisórias
constitucional constitucional
Indenização/dobra/terço
Horas extras Verbas rescisórias
constitucional
FGTS Indenização por dano moral Indenização por dano moral
Rescisão de contrato/rescisão Sucumbência - honorários
FGTS
indireta advocatícios
Sucumbência - honorários
FGTS/levantamento/liberação FGTS/levantamento/liberação
advocatícios
Honorários advocatícios/
FGTS/levantamento/liberação FGTS
contratuais
Fonte: Tribunal Superior do Trabalho (TST)

168
TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS

SAIBA MAIS SOBRE A NOVA LEI TRABALHISTA

O especialista em direito e processo do trabalho e sócio do Baraldi


Mélega Advogados, Danilo Pieri Pereira, explica que a maioria das pessoas que
ingressam na Justiça do Trabalho são ex-empregados demitidos sem justa causa.
"Por isso, é natural que as parcelas ligadas à rescisão, como aviso prévio, férias e
13º proporcionais e multa do artigo 477 da CLT, figurem como líderes, ao lado da
multa do artigo 467", diz.

Para ele, a nova lei trabalhista mexeu em um ponto dentro do ranking. A


indenização por dano moral não aparece entre os 20 temas mais recorrentes em
2018. "Certamente deixou de ser tão reivindicada pois, com a reforma trabalhista,
a litigância de má-fé passou a ser tratada com maior rigor, além do fato de os
autores de ações infundadas virem a ser condenados a pagar honorários de
sucumbência ao advogado da parte contrária em razão de pleitos infundados",
explica.

Ou seja, se o juiz entender que o empregado agiu de má-fé, ele poderá ser
multado e terá ainda de indenizar a empresa e pagar honorários do advogado
da parte contrária. Antes esse risco financeiro não existia e o trabalhador poderia
ganhar um valor ou nada, mas não tinha custos previstos.

A nova lei trabalhista estipula ainda  tetos nas indenizações por danos
morais, dependendo da gravidade das ofensas. O teto varia de 3 a 50 vezes o
último salário contratual do ofendido.

Segundo Pereira, as empresas também podem vir a ser indenizadas por


ofensas praticadas por seus funcionários, hipótese em que a indenização será
calculada com base no salário recebido pelo empregado.

Para o professor da PUC-SP, Ricardo Pereira de Freitas Guimarães, os cinco


primeiros pedidos possuem relação direta com direitos mínimos do trabalhador.

"As multas dos artigos 477 e 467 identificam o não pagamento de verbas
rescisórias, e aviso prévio, férias e 13º salários são direitos mínimos constitucionais.
Esse quadro demonstra que grande parte dos empregadores não paga verbas
rescisórias do contrato de trabalho", diz.

"Seria necessário compreender o excesso de pedidos relacionados às


verbas rescisórias, ou seja, garantias mínimas do contrato, para que se realizasse
alterações legislativas que fossem de encontro aos pedidos das verbas rescisórias.
O remédio chamado reforma trabalhista foi dado sem um diagnóstico”, completa.

Cai nº de processos recebidos

O balanço do TST mostra que houve redução de 34% no recebimento de


processos em 2018 – foram 1,75 milhão de processos, contra 2,65 milhões em 2017.

169
UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA

E queda de 10,8% nos processos julgados – foram 2,44 milhões entre janeiro e
dezembro de 2018 ante 2,74 milhões em 2017.

O total de processos pendentes de solução era de 1,18 milhão em 31 de


dezembro, queda de 35% em relação a 2017.

Na fase de execução, foram iniciadas 798,9 mil execuções e encerradas 729,4


mil. Estavam pendentes em 31 de dezembro de 2018, 2,7 milhões de execuções. As
iniciadas tiveram uma redução de 5,3%, as encerradas, um aumento de 7,5%. Já
as execuções pendentes tiveram um aumento de 0,8% em comparação ao mesmo
período do ano anterior.

Movimentação
Processual
1º Grau

Recebidos Resíduos
1.748.074 2.700.965
Fase de Fase de
Conhecimento Execução

Pendentes Encerradas
Solucionados
de Iniciadas 729.437
2.446.389
Julgamento 798.910
1.180.773

Movimentação processual no 1º Grau da Justiça do Trabalho, no período


de janeiro a dezembro de 2018 – Foto: Reprodução

A nova lei trabalhista trouxe mudanças para o trabalhador que entra com
ação na Justiça contra o empregador. Na prática, o processo pode ficar mais caro
para o empregado e inibe pedidos sem procedência.

• Nova lei trabalhista traz mudanças para trabalhador que entrar na Justiça
• Número de ações judiciais dispara na véspera da mudança da lei trabalhista

Segundo Pereira, a diminuição dos processos provavelmente está


relacionada à introdução de honorários de sucumbência no processo e pela maior
restrição do benefício da Justiça gratuita.

170
TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS

A nova lei estabelece que quem perder a ação terá de pagar entre 5% e 15%
do valor da sentença para os advogados da parte vencedora, que são os chamados
honorários de sucumbência. Além disso, para ter acesso à Justiça gratuita, o
reclamante tem de provar que o salário dele equivale a 40% do limite máximo
dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, que hoje corresponde a R$
5.645,80.

E, mesmo sendo beneficiário da Justiça gratuita, o reclamante deverá


pagar as custas judiciais e honorários periciais caso receba créditos no processo
capazes de suportar esses encargos.

Pereira explica que, com a diminuição de casos novos, a Justiça do Trabalho


acabou concentrando o trabalho nas execuções, o que resultou no aumento dos
encerramentos dos processos.

"Até que as cortes superiores firmem posicionamento sobre esses


novos pontos da reforma, é natural que haja maior cautela antes de ingressar
na Justiça do Trabalho, o que leva naturalmente a essa retração na quantidade
de novos processos distribuídos”, diz. Para ele, conforme a jurisprudência for
se consolidando e criando maior segurança jurídica, haverá estabilização nos
números.

Para o advogado Erick Magalhães, sócio do escritório Magalhães &


Moreno Advogados, a queda no número de ações ocorreu não somente por
causa da reforma trabalhista, mas outros fatores podem ter influenciado, como
o  crescimento do desemprego no período de 2015 e 2017  e o  "boom" de ações
trabalhistas pouco antes da reforma, que entrou em vigor no dia 11 de novembro
de 2017, para garantir a aplicação da legislação anterior.

Magalhães lembra que o trabalhador tem prazo até dois anos para entrar
com processo contra o ex-empregador.

Para Ricardo Pereira de Freitas Guimarães, professor de direito do trabalho


da PUC-SP, as razões para a queda no número de ações são que entre outubro
e novembro de 2017 ocorreu um recorde de distribuições da ações devido ao
temor pela nova interpretação da lei e o pagamento de honorários advocatícios
ao empregador em caso de derrota na Justiça.

FONTE: <https://g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/noticia/2019/02/22/mesmo-
com-mudancas-na-clt-aviso-previo-e-verbas-rescisorias-ainda-lideram-pedidos-na-justica-do-
trabalho.ghtml>. Acesso em: 11 ago. 2019.

171
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você aprendeu que:

• As diversas verbas trabalhistas/rescisórias que a legislação prevê para o


trabalhador que possui um contrato de trabalho com determinada empresa.

• As férias a que o trabalhador tem direito a usufruir, desde que cumpra certos
requisitos.

• O aviso prévio a que o empregado tem direito ao término do seu contrato de


trabalho poderá ser indenizado ou trabalhado.

172
AUTOATIVIDADE

1 Iris foi admitida na empresa Centurião Alado em 10/04/2008. No período


aquisitivo das férias 2013/2014 ela ausentou-se por oito dias úteis para
celebrar seu casamento e viagem de lua de mel; quatro dias úteis para
doação voluntária de sangue, todas no ano de 2013; cinco dias úteis por luto
em razão de falecimento do seu genitor, dois dias úteis para alistamento
eleitoral e quatro dias sem nenhuma justificativa. No período concessivo
respectivo das férias de 2013/2014, Iris poderá usufruir destas férias por

a) ( ) 30 dias corridos.
b) ( ) 24 dias corridos.
c) ( ) 18 dias corridos.
d) ( ) 12 dias corridos.
e) ( ) 7 dias corridos.

2 De acordo com o Regime Jurídico Único (RJU) e a Consolidação de Leis do


Trabalho (CLT), julgue os itens subsequentes. O colaborador deve trabalhar
doze meses consecutivos para ter direito a um período completo de férias,
em condições normais de trabalho, conforme preveem tanto o RJU quanto a
CLT.

( ) Certo.
( ) Errado.

173
174
REFERÊNCIAS
AGUIAR JR., Ruy Rosado. Cláusulas abusivas no Código do Consumidor.
In: Estudos sobre a proteção do consumidor no Brasil e no MERCOSUL. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 1994. Disponível em: http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11277&revista_
caderno=10. Acesso em: 7 mar. 2019.

ALMEIDA, João Batista de.  A proteção jurídica do consumidor. São Paulo:


Saraiva, 1993.

AMARAL JÚNIOR, Alberto do. Proteção do consumidor no contrato de compra


e venda. São Paulo: RT, 1993.

AMARAL, Francisco. Direito Civil. Introdução. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar,


2005.

AMARAL, Guilherme Rizzo. Comentários às alterações do novo CPC. 2. ed. São


Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.

ASQUINI, Alberto. Profili dell’ impresa. Tradução Fábio Konder


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