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ight © FiloCzar 1016 Copyright © 2016 by a waite César Mendes da Costa e Monica Aiub da Costa Onganizagdo: Liana Gottlieb e Sergio Perazzo Revisio: Liana Gottlieb e Monica Aiub da Costa Projeto Grifico: Fernanda Aiub Dados Internacionais de Catalogacao na Publicacio (CIP) (eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG) p974 Psicodrama. apontamentos e criagéo / Anna Maria Knobel... fet al.] ; organizadores Liana Gottlieb, ‘Sérgio Perazzo. ~ Sao Paulo (SP): FiloCzar, 2016, 200 p.: 14x 21 em Inclui bibliografia. ISBN 978-85-66249-16-3 |. Psicodrama. I. Gottlieb, Liana, II Perazzo, Sérgio. II1. Titulo CDD-616.891. FiloCzar Rua Duryay 5ni Sio Pau Gera de Azevedo, 511 — Parque Santo Antonio CEP: 05852449 Tel Emad 8512-1110. 985246009 = in tBeditorafiloczar com. br “editoraloczarcom py ne Digitalizado com CamScanner Sumario Criagio Sergio Perazzo 01. Cores e tintas da tela psicodramatica: onde Moreno e Jung se encontram Cybele Maria Rabelo Ramalho Passageiros da impermanéncia: a construcao do sujeito Devanir Merengué - Velho que te quero velho Elisabeth Sene-Costa - Psicodrama e Educacio Publica: sonho vivido numa ilha GeorgiaVassimon e Maria Christina de Magalhies Silvestre Terapia Social no Brasil Heloisa Junqueira Fleury, Marlene Magnabosco Marra e Anna Maria Knobel MAFALDA e a comunicagao dialégica de Moreno e Buber Liana Gottlieb A dramatizacio de um delirio Luis Altenfeder da Silva Filho e Marcelo Altenfeder da Silva 08. A protagonizagiio do desejo Luis Falivene Roberto Alves 09. O lugar psicolégico Luis Russo Alice o Gato Risonho e a magia do psicodrama Mara E. C. Sampaio - Criagdo e metodologia no psicodrama Mariangela Pinto da Fonseca Wechsler 12. A sociometria no cenario psicodramatico: Um olhar Rosa Lidia Pacheco Pontes 13. O homem que sé chorava: realidade suplementar Sergio Perazzo 14. Os fantasmas na psicotera Vera Rolim 02. 0. 0 & 0: Oo a 0 a S um intermezzo para a pia psicodramatica bi-pessoal 07 09 19 33 59 69 91 101 n3 121 133 Capitulo 1 Cores e tintas da tela psicodramatica: onde Moreno e Jung se encontram Cybele Maria Rabelo Ramalho Introducaio Neste capitulo discorro sobre alguns caminhos que apro- ximam duas abordagens e dois autores, aparentemente dispares. ‘Tento responder ao simples questionamento: como 0 psicodrama melhor se articula com a psicologia analitica de C. G. Jung? Para Zerca Moreno’, este encontro se da no trabalho com os sonhos. Para mim, o cenario deste encontro est no enfrentamento da re- alidade primeira da nossa caverna interior (nossas sombras, labi- rintos, complexos, fantasmas, mitos), que pode compor uma tela psicodramatica, onde ambos propdem um trabalho que comega com 0 jogo criativo, com a imagem (onirica ou nao) e com a arte. Defendo a possibilidade de realizarmos a busca do enfren- tamento de nés mesmos, através do Jogo criativo com imagens visuais (observadas, escolhidas, criadas, coloridas ou recriadas, com a nossa imaginagiio). Fazendo uso de iniciadores visuais, no psicodrama, nao buscamos um ideal estético: temos a intencado de buscar a ressignificagao e a tecriacdo de papéis, para trazer o conhecimento novamente 4 luz, ou seja, uma re-orientagao mais integrada de aspectos alienados ou desconhecidos. No psicodrama, este salto revelador do ser & Possibilitado pela agdo, pelo insight dramatico e pela catarse de integracao, promovendo uma ampliagao da consciéncia e um salto transfor- mador no desempenho de papéis. Através do didlogo com a lin- guagem junguiana, aproxima-se do fendmeno de integragdio de complexes a consciéncia e do encontro com as sombras — o des- conhecido em nés ¢ nas nossas relagdes interpessoais, Ambos, quando ocorrem, acarretam uma no‘ va experiéncia para aqueles que os vivenciam. Uma nova visio da realidade, mais alarga- 1cerca Moreno afitma que pode haver uma convergéncia entre Jung e Moreno: “O psico- drama € aesséncia do sonho. E a esfera do sonho ¢ aquela em que lung e More se encontram” (GASSEAU e GASCA, 1991, p 10) i ieee Digitalizado com CamScanner No psicodrama, ao privilegiar 0 trabalho em grupo (ou mesmo no campo bipessoal), com maior ou menor possibilidade de expresso corporal, trabalhamos em especial com a emergén- cia simbélica e com a sensibilidade. Observamos a emergéncia da trama co-inconsciente, mas também do inconsciente coletivo © universal (IORIO-QUILICI, 2002). Assim, no didlogo com a abordagem junguiana, colorimos a cena psicodramiatica com outras cores. Trabalhamos com 0 re- curso do jogo criativo, que é comum a estas abordagens. Através das imagens criadas e coloridas, assim como vivenciadas, encon- tramos a emergéncia de uma ampla variedade de vivencias. Os aspectos sombrios, se anteriormente foram considerados como algo a ser escondido, tem agora a chance de serem revelados e experimentados em suas miltiplas cores, formas e intensidades, como contetidos que trazem equilibrio e incluso, de forma hidi- Ca, sorrateira e relativa, como € peculiar a arte. Diante de uma imagem reveladora, espontanea e sur preendente, produzida entre tintas, cores e telas (podemos dizer que no contexto dramatico espontaneo), os participantes tem a chance de vivenciar este contetdo simbdlico emergente. E dai criar personagens/papéis diversos, como se pudessem “brincar de ser” alguma outra coisa, além do seu papel social e identi- dade conhecida; ou, numa linguagem junguiana, para além da sua persona. Pois a cena psicodramatica geralmente coloca em questo a persona habitual, de modo que se tem a possibilida- de de exercer novas personas, a partir dos personagens que so criados e das imagens que brotam do inconsciente, levando a novas possibilidades de personagens, novas movimentagées de papéis, um novo devir. Ao se deparar com as estranhas e desconhecidas ima- gens que brotam em cores e telas, podemos utilizar, inclusive, a técnica do duplo e da inversio de papéis no psicodrama, que permitem revelar aspectos da nossa sombra. O contato também. € permitido através da revelagdo da sombra do outro. Segundo Gasseau e Scategni (2007), ao invertermos papéis e encontrar- mos parte da sombra de alguém (com quem estamos em conflito), podemos descobrir conexées entre estas sombras e partes de nos i Digitalizado com CamScanner minologia psicodramatica), s6 assim sendo possivel a expressiio livre do inconsciente e a responsabilizagao pelo crescimento do Processo de individuagao. Defendia, tal como Moreno, o carater mais poético do que légico-cientifico da psicoterapia. Demons- traram, ambos, a importancia da intuigao, do sentimento e do ser co-criador, acolhedor e aberto neste vinculo. Segundo Maroni (1999), o processo de individuagao junguiano pressupde a emancipagao do individuo das regras co- letivas, o n&o submetimento a moralidade coletiva, 4 persona, € © respeito a sua propria lei (sua ética), Portanto, para ele, aquele que se encontra no processo acelerado de individuagao e de di- ferenciagao do coletivo oferece a este coletivo sua criatividade, novos valores, um pensat-agir em prol da humanidade. No dizer psicodramitico, esta busca da singulariza- go e da construgao de novos valores também esta implicita nos conceitos de conserva cultural e de espontaneidade. Preocupado com a tensao individuo-sociedade, Moreno desenvolveu o con- ceito de espontaneidade (ou fator E) como “localizado entre a hereditariedade e as forgas sociais, caracteristico da espécie hu- mana, garantidor da sua sobrevivéncia, a partir da capacidade do individuo dar respostas diferentes a antigas e novas situagdes” (RAMALHO, 2002, p. 108). Moreno articulou espontaneidade com criatividade, “a forma mais elaborada de inteliggncia que conhecemos”, ¢ reconheceu que ambas “sao foreas primarias da conduta humana” (MORENO, 1983, p. 157). No dizer junguiano, sdo forgas arquetipicas. O homem saudavel, para Moreno, € 0 capaz de tele -relagdes, que vive 0 aqui e agora, transformando suas formas de existir de modo criativo, catalizando sua imaginagao para a transformagao da realidade, recriando papéis e valores, a partir das conservas culturais (NAFFAH NETO, 1979). Sabemos que a cultura € os contextos sociais invadem e constituem a subjetivida- de, através das conservas culturais, influenciando e cristalizando nossos papéis, cerceando nossa espontaneidade e liberdade. Mas € por meio da arte e das agdes espontaneas que estes autores de- fendem que se pode produzir criativamente novas posturas, rom- per estas conservas e denunciar as alienagdes do coletivo. 13 Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner No psicodrama, temos por objetivo nao sé o esclarecimen- to e a dissolugao de conflitos interpessoais, mas desenvolver as “sementes criativas” inerentes ao individuo, renovar o esponta- neo-criativo em seus diferentes papéis. Moreno privilegiou o tra- balho com 0 corpo para expressar estas sementes, enquanto Jung Privilegiou o trabalho com as mos, revelando que, quando ha um alto grau de crispagdio do consciente, muitas vezes s6 as maos so capazes de fantasiar, expressar o desconhecido. Por acredi- tarem ambos numa concepeio de homem espontaneo-criativo e ha infinita criatividade do inconsciente, desenvolveram técnicas que privilegiavam o acesso nao verbal a este, que envolvessem também um campo lidico, do “como se”, para permitir um aces- So ds imagens invisiveis e desconhecidas (RAMALHO, 2002). Se na perspectiva junguiana foi desenvolvida a técnica da imaginagao ativa para apreender tais imagens, no psicodra- ma, Moreno desenvolveu a realizacdo simbélica, a dramatizagao internalizada, e os psicodramatistas brasileiros desenvolveram © psicodrama interno (FONSECA. FILHO, 2000). Estas técnicas em muito se aproximam, pois tomam como ponto de partida uma imagem de sonho ou fantasia, e a partir dai solicita-se que se desenvolva livremente 0 tema trazido pela imagem, utilizando nao somente a palavra (0 dialogo, o confronto), mas também a dramatizagao, a danga, a escrita, a Pintura, a modelagem etc. Assim, conjugando imagem e agdo, o importante é promover o desdobramento do processo inconsciente, em seus liames indivi- duais, grupais ou arquetipicos. Finalmente, crescemos com core: nossa vida cotidiana e sao metaforas de e vessam. A realidade humana ¢ multiplicid: que varia da acao dramatica as imagens ciar olhares diversos que Possam se atrever a encontrar-se em alguns pontos, ou na mesma diregao, acompanhou este trabalho escrito. Escreve-se como se vive, pinta-se como se vive. Talvez Por ter atravessado minha vida pintando, criando imagens e co- Tes que revelam os sentidos da minha historia, fazendo da arte parte constitutiva de minhas aprendizagens, tenha chegado ao psicodrama e 4 psicologia analitica. Elas me permitiram conti- nuar pintando novas cenas, novas telas, novos sentidos, na busca incansvel do criador interior que nos habita. S que fazem parte da ‘Moges que nos atra- lade, movimento e cor, © vice-versa. O asso- 7 Digitalizado com CamScanner

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